Desempenho da pecuária leiteira de base ecológica, com média intensidade de
produção, na região Oeste do Paraná1
Luiz Moreira Coelho Junior, Economista, DSc., Pesquisador do IAPAR, Cx. Postal
02, CEP 85.825-000, Santa Tereza do Oeste – Paraná, [email protected];
Dimas Soares Junior, Eng. Agrônomo, Doutorando em Agronomia pela UEL,
Pesquisador do IAPAR, [email protected];
Rafael
Fuentes
Llanillo,
Eng. Agrônomo,
DSc.,
Pesquisador
do
IAPAR,
[email protected];
Márcio Miranda, Eng. Agrônomo, MSc. Diretor Técnico do CPRA, [email protected];
Ronaldo Juliano Pavlak, Graduando em Biologia pela PUC – Toledo, Agente de
Ciência e Tecnologia do IAPAR, [email protected]
1
Parte dos resultados do projeto “Geração de referências para consolidação da
agricultura orgânica no Oeste do Paraná”.
Resumo
Agricultura familiar produz 2/3 do leite no Paraná e 1/4 da produção estadual é da
região oeste. Este estudo mostrou o desempenho social, técnico e econômico dos
produtores de leite, com média intensidade de produção, no oeste do Paraná, de bases
ecológicas. Utilizou-se o método das “Redes de Referências para agricultura familiar”.
Para as condições em que foi desenvolvido este estudo conclui-se que: cerca de 80% das
famílias estão enquadradas na Produção de Simples Mercadoria Nível 3; a pontuação
final média de qualidade de vida foi de 7,53; a margem bruta apresentou-se superior a
R$ 3.000,00 e inferior a R$ 13.000,00 na safra 2008/09; cerca de 2/3 da área do
estabelecimento é constituída por superfície forrageira principal e 1/3 de pastagem
perene de verão; a produção média de leite por vaca é de 2.100 litros por ano.
Palavras -Chave: agroecologia, agricultura familiar, indicadores de desempenho, redes
sociais.
Abstract
1
Family farming produces 2/3 of the milk in Parana and one quarter of the state
production is in the west. This study showed the social performance, technical and
economical milk producers, with an average intensity of production in western Paraná,
based on ecology. We used the method of "Reference networks for family farming". For
the conditions in which this study was designed we concluded that: about 80% of
families are framed in the Production of Simple Commodity Level 3, the average final
score of quality of life was 7.53, the higher gross margin was R$3,000.00 and lesser
R$13,000.00 in the 2008/09 seasonal crop, about 2/3 of the establishment of the area
consists of main forage area, and third grazing perennial summer, the average milk
production per cow is 2,100 liters per year.
Key Words: agroecology, family agriculture, performance indicators, social networks
Introdução
As políticas públicas incentivaram a atividade leiteira a elevados níveis
tecnológicos nos processos de produção, alavancadas pela globalização. O setor leiteiro
prega sistemas intensivos de alta produtividade desenvolvidos no Brasil nos últimos 30
anos, enquanto a agricultura familiar busca alternativas eficientes e competitivas, porém
sustentáveis (VILELA et al., 1996).
A agricultura familiar, entendido pela Lei 11.326/2006, tem importante parcela
na agropecuária brasileira. No Paraná, 81,6% dos estabelecimentos rurais são familiares,
em decorrência dos processos de ocupação e colonização, e ocupa menos de 1/3 da área
agricultável do Estado (IBGE, 2006).
Das atividades rurais no Paraná, a pecuária leiteira é típica familiar de onde
provém 67,56% da produção do leite do Estado e a região oeste se destaca com 26,2%
do que é produzido. Desse total, a produção de leite orgânico certificado ainda é
inexpressiva, pois o incremento produtivo depende do uso de técnicas ecológicas
comprovadas, mercado e os benefícios relacionados à saúde e ao meio ambiente
(DERAL/SEAB-PR, 2008).
A oferta e o acesso a tecnologia é um dos fatores que os atores sociais
envolvidos tem buscado ações conjuntas de P & D em estrutura organizacional de redes,
influenciada pela sua importância e imbuído pela competitividade do mercado
(SOARES JUNIOR et al., 2010).
2
O projeto “Redes de Referências para Agricultura Familiar”, criado em 1998,
também conhecido apenas como “Redes”, é desenvolvido pelo IAPAR com uma
parceria de outras instituições, a fim de apoiar a melhoria de sistemas de produção para
a agricultura paranaense. Tem como base uma metodologia de pesquisa e
desenvolvimento adaptada a partir da experiência do Institut de l’Elevage da França,
visando a validação e transferência de tecnologias viáveis para os sistemas de produção
estudados (MIRANDA et al., 2001).
As Redes sugere uma reformulação dos métodos, técnicas e procedimentos de
pesquisa e extensão rural para gerar referências, que utiliza os parâmetros técnicos e
econômicos, a fim de subsidiar a agricultura familiar aos arranjos de sistemas que
permita proporcionar melhores ganhos de renda e de qualidade de vida (SOARES
JUNIOR et al., 2010).
Inicialmente, as “Redes” foram implantadas no Norte, Noroeste, Oeste e
Sudoeste do Estado do Paraná e, mais recentemente, foram expandidas para as regiões
Centro-Norte e Centro-Sul. Em 2002, na região Oeste paranaense o projeto “Redes” foi
integrado ao Programa Cultivando Água Boa, coordenado pela Itaipu Binacional,
surgindo as “Redes Orgânicas”. De 2004 a 2007, o desenvolvimento das atividades das
“Redes Orgânicas” esteve paralisado por falta de recursos humanos e financeiros.
Em 2008, foram retomadas as ações das “Redes Orgânicas” com o projeto
“Geração de referências para consolidação da agricultura orgânica no Oeste do Paraná”
com recursos do Programa Universidade Sem Fronteiras da Secretaria de Estado da
Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Coordenado pelo IAPAR, as instituições
parceiras envolvidas foram EMATER, Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor - CAPA,
Cooperativa de Trabalho e Assistência Técnica do Paraná - Biolabore, UNIOESTE
campus de Marechal Cândido Rondon e Itaipu Binacional.
Visto que a pecuária leiteira em bases ecológicas tem importância significativa
para o desenvolvimento da agricultura familiar no oeste paranaense. Este trabalho tem
como objetivo mostrar o desempenho técnico, econômico e social dos produtores de
leite com média intensidade de produção no oeste do Paraná, nos moldes ecológicos.
Metodologia
O desenvolvimento deste trabalho se apresenta em um estudo multicaso com
3
enfoque sistêmico. Tem como aporte uma abordagem metodológica das redes de
unidades produtivas voltadas ao desenvolvimento territorial rural. A instalação das
Redes envolve diferentes etapas conforme mostra a Figura 1. As etapas para
implantação da rede de propriedades são:
1. Estudo prévio: a partir da caracterização do território tem por objetivo fornecer
informações para permitir a tipologia dos agricultores das regiões do estudo;
Figura 1 – Principais etapas para a implantação das redes de propriedades.
Fonte: Miranda e Oliveira (2005).
2. Escolha dos sistemas: feita com base no resultado do estudo prévio, deverá
contemplar as situações mais importantes, seja pela freqüência com que ocorrem ou
pelo potencial na viabilização da produção familiar;
3. Seleção de propriedades: serão selecionadas pelo menos cinco propriedades para cada
um dos sistemas a serem estudados. Esta escolha deverá levar em conta o
enquadramento da propriedade no sistema eleito, a disposição do agricultor em fazer
registros, fornecer informações e expor sua unidade no processo de difusão, além de
outros aspectos práticos, tais como facilidade de acesso e aceitação do agricultor na
comunidade;
4
4. Diagnóstico dos sistemas de produção: consiste na descrição e análise do sistema de
produção quanto à sua estrutura e dinâmica organizacional e o itinerário técnico dos
agrossistemas. Será realizado em duas etapas: diagnóstico expedito, em visita de campo
e utilizando-se questionário semi-estruturado e técnicas de diagnóstico rural
participativo, logo no início dos trabalhos; e diagnóstico por acompanhamento, durante
o primeiro ano, período em que também são implantadas as alterações previstas no
plano de coerência que será descrito a seguir;
5. Plano de melhoria do sistema: consiste na elaboração de um projeto de melhoramento
do sistema de produção, levando em conta os objetivos e recursos dos agricultores e
contemplando um processo de transição. Também se dá em duas fases e de duas formas
distintas: plano de coerência, realizado após a análise do diagnóstico expedito, com a
função de estancar perdas, propor medidas para relaxamento das restrições mais
evidentes e corrigir as distorções mais claras entre a forma que o sistema está
organizado e os objetivos estratégicos do agricultor; e plano de longo prazo, feito em
seqüência ao diagnóstico por acompanhamento, visa o planejamento das intervenções
para ajustar o sistema de produção da forma pretendida pelo agricultor. A execução
destes planos contará com a participação dos técnicos das Redes e pesquisadores e
especialistas das instituições responsáveis pelo projeto em cada estado e de outras
instituições que possam trazer uma contribuição em temas relevantes levantados por
ocasião do diagnóstico;
6. Acompanhamento das propriedades (fase de intervenções e registros) – o
extensionista acompanha e orienta a implementação dos projetos e faz o registro dos
resultados obtidos nas propriedades, que servirão para a elaboração das referências. Os
dados serão processados através do CONTAGRI, software de gestão de propriedades
rurais desenvolvido pela EPAGRI;
7. Elaboração das referências – as referências serão apresentadas através da descrição
dos sistemas de produção, os “sistemas de referência”;
8. Difusão das referências – os resultados do trabalho serão levados ao conjunto de
agricultores representados por aqueles que integram as Redes, através de métodos
adequados à agricultura familiar.
No projeto “Geração de referências para consolidação da agricultura orgânica no
Oeste do Paraná” participaram 23 famílias de agricultores de base ecológica ou
5
orgânica, de 13 municípios do Oeste Paranaense. Os sistemas de produção envolvidos
foram: pecuária leiteira, grãos (milho e soja), café e olericultura.
Para este trabalho, o tipo de amostragem foi intencional e não-probabilística para
o sistema leite como média intensidade de produção. Foram escolhidas 5 famílias cuja
atividade principal é o leite.
O período estudado foi da safra 2008/09, ou seja, outubro de 2008 a setembro de
2009, a fim de realizar um diagnóstico no processo produtivo visando à melhoria de
resultados técnicos e econômicos em sistemas de produção em estudo.
A tipologia de sistemas de produção utilizada pelas Redes de Referências
identifica os produtores entre produtores patronais e familiares nas suas mais diversas
condições, sejam eles proprietários, arrendatários, assentados, posseiros, parceiros ou
meeiros.
A Tabela 1 mostra como pode ser classificados as unidades produtivas que
compreende em cinco categorias sociais. Quatro categorias de produtores familiares e
uma categoria de empresário rural. As categorias de produtores familiares se desdobram
em três categorias de Produtores Simples de Mercadorias (PSM), distribuídos nos níveis
1, 2 e 3, e a categoria de Empresário Familiar (EF). Os PSM são produtores familiares
em condições de produção simples, em diferentes distâncias do estágio de acumulação
de capital e os EF são produtores familiares capitalizados no estágio de produção
ampliada. A quinta categoria é a dos produtores patronais capitalizados classificados
como Empresário Rural (ER).
Os critérios de tipificação e enquadramento são apresentados na Tabela 1.
O diagnóstico busca descrever e analisar o sistema quanto à sua estrutura,
dinâmico organizacional e itinerário técnico dos sistemas de produção. Os diagnósticos
foram obtidos através de visita de campo, utilizando-se questionário semi-estruturado e
técnicas de diagnóstico rural participativo coma as seguintes etapas:
1) diagnóstico inicial com levantamento de dados da propriedade e objetivo do
produtor (curto prazo);
2) Tabulação e estudo do sistema de produção com o objetivo de construir um
projeto de melhoria do sistema em longo prazo, contemplando os objetivos do produtor
e seus recursos produtivos;
3) Reunião participativa com técnicos de ATER e especialistas para consolidação
6
do diagnóstico e formulação de propostas. Nesta etapa foram efetuadas as primeiras
intervenções.
Tabela 1 – Categorias Sociais nas Redes de Referências
Capital
Benfeitorias
Máquinas e
(R$)
Equipamentos (R$)
Uso da mão-deobra familiar
(%)
Categoria social
Área (ha)
Produtor Simples de Mercadoria
Nível 1 (PSM1)
≤ 15
≤ 12.150,00
≤ 9.720,00
≥ 80
Produtor Simples de Mercadoria
Nível 2 (PSM2)
≤ 30
≤ 29.160,00
≤ 29.160,00
≥ 50
Produtor Simples de Mercadoria
Nível 3 (PSM3)
≤ 50
≤ 97.200,00
≤ 87.480,00
≥ 50
Empresário Familiar (EF)
≥ 50
≥ 97.200,00
≥ 87.480,00
≥ 50
Empresário Rural (ER)
≥ 50
≥ 97.200,00
≥ 87.480,00
≤ 50
Fonte: Miranda e Oliveira (2005).
Foram realizados acompanhamentos mensais das receitas e despesas para gerar
os índices de desempenho financeiros como a margem bruta e custo de produção do
leite. Nestes acompanhamentos, também, foram mensurados os coeficientes técnicos
para produção de leite em bases agroecológicas. A partir do acompanhamento das
propriedades, elaborou os sistemas de produção adaptados à região e com potencial de
adoção por outros agricultores. Os sistemas de produção são analisados em seu conjunto
(produções animal, vegetal, florestal; e recursos naturais, financeiros e humanos),
avaliando-se sua viabilidade e sustentabilidade a partir dos resultados alcançados.
Nas Redes é possível compreender como funcionam e evoluem os sistemas de
produção no curto e médio prazos e também fazer os ajustes e análises de sistemas
inovadores. As propriedades de referências têm ainda como função servirem como local de
teste e validação de tecnologias desenvolvidas em estações experimentais. Problemas
relevantes detectados, e para os quais ainda não se desenvolveu tecnologia para solução,
poderão alimentar os programas de pesquisa de diferentes instituições.
Resultados e discussão
A região Oeste Paranaense sempre foi reconhecida pela elevada tecnologia em
7
termos de agricultura convencional, favorecida por solos de alta fertilidade natural e
disponibilidade hídrica, bem como condição térmica adequada durante o ano todo.
Como consequência disso a região tornou-se grande produtora de grãos e pecuária
especializada em gado de leite e suínos e recentemente frango. Essas características
regionais, também, perpetuam para produção de bases ecológicas.
O sistema de pecuária leiteira de média intensidade se caracteriza por produção
superior a 25.000 L leite/ano e inferior a 80.000 L. Neste sistema as vacas apresentam
melhor potencial genético de produção. A infraestrutura é típica de fazenda
especializada em produção de leite e apresenta forte dependência de insumos modernos.
A mão-de-obra é predominantemente familiar. A ordenha, realizada duas vezes ao dia, é
mecânica e as crias são manejadas em esquema de aleitamento artificial, com a criação
somente de fêmeas. A alimentação volumosa, de melhor qualidade e em maior
quantidade, é composta por forrageiras de inverno, pastagens perenes, e silagem de
milho. A dieta é suplementada com ração concentrada e sal mineral durante todo o ano.
A Tabela 2 apresenta a caracterização das unidades produtivas familiares e a
classificação da tipologia dos sistemas de produção de leite em bases agroecológicas de
média intensidade de produção segundo o critério das “Redes”. Os sistemas de
produção envolvidos neste estudo são leite + grãos e leite.
Tabela 2 – Caracterização e tipificação das unidades produtivas de leite, em bases
agroecológicas, de média intensidade de produção.
Área (ha)
Produtores
PFL12
Total SAL1
37,50 34,0
Capital (R$)
Maq. e
Benfeitorias
Equip.
129.369,38
26.220,88
Mão-de-obra (EqH3)
Animais Familiar Temporária
18.907,79
2,50
0,37
Categoria
Social
PSM3 Leite +
Grãos
7,26 6,3
15.262,00
34.590,00 30.470,00
2,33
0,00
PFL2
PSM3 Leite
7,83 5,4
36.834,47
8.277,99 37.677,34
1,50
0,10
PFL3
PSM3 Leite
12,47 11,4
70.198,66
29.222,16 74.414,76
1,00
0,10
PFL4
PSM3 Leite
6,05 5,8
60.630,50
54.919,88 35.304,36
2,00
0,05
PFL5
PSM3 Leite
1
SAU = Superfície Agrícola Útil; 2 PFL = Produtor familiar de leite; 3 EqH = Equivalente Homem (300
dias trabalhando 8 horas/dia).
Observa-se que os estabelecimentos rurais estudados se enquadraram em sua
plenitude na Produção de Simples de Mercadoria Nível 3 (PSM3), que apresentam área
inferior a 50 hectares (ha), capital (Benfeitorias ≤ R$ 97.200,00 e máquinas e
8
equipamentos agrícolas ≤ R$ 87.480,00) e uso da mão-de-obra familiar superior a 50%.
Esta classificação se deve, principalmente, pelo capital da unidade produtiva
(benfeitorias, máquinas e equipamentos agrícolas) e uso da mão de obra familiar.
A área totais das unidades produtivas em estudos, representam bem a região
oeste paranaense, apresentaram áreas entre 6 (seis) a 37,5 ha, sendo que 1/5 das
familiares são áreas superiores a 15 ha. O uso da mão de obra em torno de 2,00 Eq.H.,
ou seja, o produtor, sua esposa e o(a) filho(a) e mais mão de obra temporária. A mão de
obra familiar foi superior a 80% da força de trabalho nestas unidades e cerca de 80%
das famílias usam mão de obra temporária em épocas distintas, principalmente, nos
períodos de colheita e silagem.
O Capital dessas famílias foi de R$ 80,32 mil a R$ 174,5 mil, sendo que 3/5 são
superiores a R$ 150 mil. A participação das benfeitorias é em média de 43,64% do
capital, em determinados estabelecimentos chegaram ao limite máximo de 74,14% e
mínimo de 19,00%, sendo que 60% das unidades produtivas giram em torno dos 42%
de benfeitorias do capital. As máquinas e equipamentos variaram entre R$ 8,3 mil a
R$ 54,92 mil, correspondendo de 10% a 43% da participação do capital, onde 3/5 dos
estabelecimentos este componente ficou entre 12% do capital. Ainda a respeito do
capital, tem-se o componente “animais” que valores R$ 18,9 mil a R$ 74,4 mil
representando entre 10% a 45% do capital. Devido a sua especialização da produção em
leite, cerca de 3/5 dos produtores em estudo apresentam elevada participação de deste
componente superior a 1/3 do capital investido no estabelecimento rural.
A Tabela 3 mostra os aspectos sociais e de qualidade de vida dos produtores de
leite em bases agroecológicas, de média intensidade de produção no oeste paranaense.
De modo geral, as famílias apresentam boa qualidade de vida com o consumo de
alimento oriundos da propriedade, tais como: hortaliças, frutas, mel, produtos
transformados e derivados de carne e leite. A pontuação (Escore) final de qualidade de
vida variou de 7,18 a 8,76, gerando uma média de 7,93 e apenas 2/5 destes
estabelecimentos apresentaram escores inferiores a 8.
As variáveis dos aspectos sociais e de qualidade de vida que apresentaram
comportamentos similares foram o saneamento com água potável de rede comunitária e
fossa séptica, a questão lixo apresenta coleta publica para o lixo seco e o orgânico é
enterrado ou feito composteira e a integração social mostra que todos participam de
9
forma ativa na sociedade como em cooperativas, associações, igrejas, sindicatos, etc.
Os índices de habitação variaram de 68,72 a 87,54, mostrando que a maioria dos
produtores possuem casas de madeira, muito das vezes mista, porém atende todas as
necessidades da família e com muito conforto. Todos os produtores dispõem de energia
elétrica, telefones celulares.
Tabela 3 – Aspectos sociais e de qualidade de vida dos produtores de leite, em bases
agroecológicas, de média intensidade de produção.
Produtores Habitação Saneamento Lixo Locomoção Serviços Lazer
PFL1
PFL2
PFL3
PFL4
PFL5
83,77
83,76
73,62
68,62
87,54
91,67
91,66
91,67
91,67
91,67
87,5
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
75,0
25,0
62,5
100,0
75,00
75,00
87,50
68,75
62,50
75
50
25
25
25
Integração
social
Escore
final
100
100
100
100
100
8,76
8,22
7,18
7,38
8,10
O acesso aos serviços como saúde, educação e odontológico são público e
público privado. A locomoção destas famílias a maioria dos serviços são por meio de
veículo próprio para seu translado até a cidade e o transporte escolar que é público. As
estradas de acesso apresentam-se em bom estado para a maior parte das propriedades,
dispondo de calçamento com pedras irregulares e para alguns até asfalto.
A Tabela 4 apresenta os coeficientes técnicos dos produtores de leite, em bases
ecológicas, com média intensidade de produção no oeste paranaense. A composição do
plantel de vacas variou entre 13 a 21 cabeças, com um plantel predominante de 13
vacas. A produção de leite anual variou de 40.934 a 75.091 litros, gerando uma média
anual para o grupo de 56.923,60 litros. A produção anual leite por vaca variou das vacas
por 2.923,86 a 4.635,92 litros/ano, com uma média de 3.794,53 litros/ano.
A produção média por dia do plantel foi de 158,12 litros que variou entre 113,7 a
208,6 litros/dia. Cerca de 3/5 das unidades produtivas foram superiores a 165 litros/dia.
A produtividade de cada vaca ficou entre 8,12 a 12,88 litros/dia, o que vale destacar o
PLF4 que atingiu este valor máximo e o PLF2 o valor mínimo, mas a média das vacas
foi 10,4 litros/dia.
A disponibilidade de oferta de pastagem para os animais apresentou de duas
formas: a Superfície de Forragem Principal que alastrados entre 3,49 a 9,09 ha e a
10
Pastagem Perene de Verão que disseminados adentre 2,49 e 3,64 ha. Consequentemente,
a lotação dos animais foi em média 3,21 vaca/ha para superfície forrageira principal e
5,10 vaca/ha para pastagem perene de verão. Os produtores mais eficientes na oferta de
pastagem da superfície forrageira principal foi PFL2 e o PFL3 com 4,0 vaca/ha e 4,1
vaca/ha, respectivamente. Para pastagem perene de verão as unidades produtivas mais
eficientes foram o PFL5 e PFL2 com 5,8 vaca/ha e 5,6 vaca/ha, concomitantemente.
Tabela 4 – Composição dos indicadores de desempenho técnico dos sistemas de leite
em bases ecológicas com média intensidade de produção e suas relações.
Produtores
Vacas
o
(n )
Leite
total (L)
Área
SFP4
Área
PPV5
Vacas /
SFP
Vacas /
PPV
Leite /
Vaca
(ha)
(ha)
(no/ha)
(no/ha)
(L/no)
(L/ha)
(L/ha)
4.615
2.924
3.222
4.636
3.576
18.462
10.204
11.695
25.729
32.504
20.000
16.439
17.573
20.089
20.629
13
60.000
4,00
3,00
3,3
4,3
PFL1
14
40.934
3,49
2,49
4,0
5,6
PFL2
15
48.326
3,63
2,75
4,1
5,5
PFL3
13
60.267
5,55
3,00
2,3
4,3
PFL4
21
75.091
9,09
3,64
2,3
5,8
PFL5
4
SFP = Superfície Forrageira Principal; 5 PPV = Pastagem Perene de Verão.
Leite /
SFP
Leite /
de PPV
As relações entre o leite e a oferta de pastagem ficaram da seguinte forma:
considerando a produção de leite com a superfície forrageira principal expôs valores
mínimos de 10.204,26 L/ha e máximos de 32.503,68 L/ha e provocando uma média de
19.718,75. Ponderando a produção de leite com a pastagem perene de verão que
proporcionou valores mínimos de 16.439,36 e máximos de 20.629,40 e acendendo uma
média de 18.946,17. Para ambas as relações os estabelecimentos rurais que mais se
destacaram foram PFL5 e PFL4, concomitantemente.
A Tabela 5 apresenta os indicadores de desempenho econômico dos produtores
de leite, em bases ecológicas, com média intensidade de produção no oeste paranaense.
O PLF5 foi que apresentou melhor desempenho financeiro. Os indicadores
apresentaram uma margem bruta superior R$ 12,9 mil e inferior a R$ 26,0 mil na safra
2008/09, predominando uma média de R$ 17.712,46 no ano agrícola.
A margem bruta com relação à área produtiva e área destinada ao sistema leiteiro
mostraram os seguintes resultados. A margem bruta com a superfície agrícola útil
ofereceram ganhos médios de R$ 2.276,18 (R$/ha), distribuídos entre R$ 380,06
(R$/ha) a R$ 3.460,28 (R$/ ha), sendo que 80% das unidades produtivas chegaram a
valores superiores a R$ 2,2 mil (R$/ha). O PFL4 foi que apresentou um excelente
11
desempenho neste indicador.
A relação da margem bruta com a superfície forrageira principal deram ganhos
médios de R$ 3.631,11 (R$/ha), distribuídos entre R$ 2.828,73 (R$/ha) a R$ 4.473,64
(R$/ ha), em que os PFL2 e PFL3 apresentaram resultados superiores a R$ 4 mil
(R$/ha).
Tabela 5 – Composição dos indicadores de desempenho econômicos dos sistemas de
leite em bases ecológicas com média intensidade de produção e suas relações.
Produtores
MB (R$)
PFL1
PFL2
PFL3
PFL4
PFL5
12.922,00
15.613,02
15.109,60
19.204,54
25.713,12
MB/vaca MB/SAU MB/SFP MB/PPV MB/MO MB/Leite Cv/Leite
(R$ / no)
(R$/ha)
(R$/ ha)
(R$/ ha)
(R$/ EqH)
(R$/L)
(R$/L)
994,00
1.115,22
1.007,31
1.477,27
1.224,43
380,06
2.494,09
2.792,90
3.460,28
2.253,56
3.230,50
4.473,64
4.162,42
3.460,28
2.828,73
4.307,333
6.270,289
5.494,4
6.401,513
7.064,043
4.502,44
6.700,87
9.443,50
9.368,07
2.3375,56
0,22
0,38
0,31
0,32
0,34
0,34
0,21
0,35
0,27
0,24
A margem bruta com a pastagem perene de verão despontou ganhos médios de
R$ 5.907,52 (R$/ha), alastrados entre R$ 4.307,33 (R$/ha) a R$ 7.064,04 (R$/ ha), onde
60% das unidades familiares estudadas proporcionaram resultados superiores a R$ 6 mil
(R$/ha).
O remuneração média anual da mão de obra (EqH/ano) foi de R$ 10.678,09, que
teve valores mínimos de R$ 4.502,44 por EqH e máximos de R$ 23.375,56 EqH. As
unidades produtivas familiares que mais remuneraram a mão de obra foram o PFL3 e
PFL4, devido a baixa concentração de mão de obra disponível.
A margem bruta média por litro de leite de R$ 0,31, em que variou de R$ 0,22
(R$/L) a R$ 0,38 (R$/L), cerca de 80% dos estabelecimentos rurais estudados
apresentaram ganho no leite superior a R$ 0,30. Os produtores com maiores ganhos
foram PFL2 e PFL3.
O custo variável por litro de leite de R$ 0,28, em que variou de R$ 0,21 (R$/L) a
R$ 0,35 (R$/L), cerca de 60% dos produtores rurais estudados apresentaram o custo do
leite inferior a R$ 0,28 o litro. O custo do leite mais baixo foi do PFL2 com R$ 0,22 o
litro.
12
Conclusão
Para as condições em que foi desenvolvido este estudo conclui-se que:
Todas das famílias estão enquadradas na Produção de Simples de Mercadoria
Nível 3;
As famílias apresentam boa qualidade de vida, com uma pontuação final média
de 7,93;
O produtor familiar de leite 4 apresentou produção de 12,88 litros/vaca/dia, mas
com baixa lotação na área de pastagem comparado com os demais produtores em
estudo.
A margem bruta apresentou-se superior a R$ 12.000,00 mil e inferior a R$
26.000,00 mil na safra 2008/09;
O produtor familiar de leite 2 foi que apresentou o melhor desempenho
econômico na produção de leite, em bases ecológicas, com média intensidade de
produção.
Agradecimentos
Agradecemos da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI)
por meio do Programa Universidade Sem Fronteiras (USF) e as instituições apoiadoras
e colaboradores como EMATER-PR, Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor - CAPA,
Cooperativa de Trabalho e Assistência Técnica do Paraná - Biolabore, UNIOESTE
campus de Marechal Cândido Rondon e Itaipu Binacional.
Bibliografia Citada
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agricultura e do abastecimento do estado do Paraná. Produção agropecuária. 2008.
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Desempenho da Pecuária Leiteira de Base Ecológica, com Média