UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ VANESSA DUARTE CLAUDINO ESTUDO FITOQUÍMICO E AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIPARASITÁRIO E ANTITUMORAL DO EXTRATO CLOROFÓRMICO E DE MOLÉCULAS BIOATIVAS DE Drimys brasiliensis Miers (Winteraceae) Itajaí, 2011 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ PROGRAMA DE MESTRADO ACADÊMICO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM PRODUTOS NATURAIS E SUBSTÂNCIAS SINTÉTICAS BIOATIVAS VANESSA DUARTE CLAUDINO ESTUDO FITOQUÍMICO E AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIPARASITÁRIO E ANTITUMORAL DO EXTRATO CLOROFÓRMICO E DE MOLÉCULAS BIOATIVAS DE Drimys brasiliensis Miers (Winteraceae) Dissertação submetida à Universidade do Vale do Itajaí como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Mestre em Ciências Farmacêuticas. Orientadora: Profª. Dra. Angela Malheiros Co-orientador: Prof. Dr. Valdir Cechinel Filho Itajaí, Julho de 2011. ESTUDO FITOQUÍMICO E AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIPARASITÁRIO E ANTITUMORAL DO EXTRATO CLOROFÓRMICO E DE MOLÉCULAS BIOATIVAS DE Drimys brasiliensis Miers (Winteraceae) VANESSA DUARTE CLAUDINO “Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de Mestre em Ciências Farmacêuticas, Área de Concentração Produtos Naturais e Substâncias Bioativas e aprovada em sua forma final pelo Programa de Mestrado em Ciências Farmacêuticas da Universidade do Vale do Itajaí.” ____________________________________ Angela Malheiros, Dra. Orientadora ____________________________________ Valdir Cechinel Filho, Dr. Co-Orientador __________________________________________________________ Tânia Mari Bellé Bresolin, Dra. Coordenadora do Programa Mestrado em Ciências Farmacêuticas Apresentado perante a Banca Examinadora composta pelos Professores: ______________________________________ Profa. Dra. Angela Malheiros (UNIVALI) Presidente e Orientadora ______________________________________ Prof. Dr. Valdir Cechinel Filho (UNIVALI) Co-orientador ______________________________________ Prof. Dr. Rivaldo Niero (UNIVALI) Membro Interno ______________________________________ Prof. Dra. Rosi Zanoni da Silva (UEPG) Membro Externo Itajaí (SC), Julho de 2011 3 Dedico este trabalho aos meus pais que são o meu apoio e meu alicerce. À minha avó querida Malvina Filomena Duarte (in memorium) minha grande amiga e confidente. 4 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, por estar sempre presente e nas horas mais difíceis ter me ajudado a escolher o caminho certo. Agradeço aos meus familiares, em especial minha mãe Yvelise, meu pai José por serem à base de meus princípios e de minha formação. Um agradecimento em especial a minha avó Malvina ( in memorium) pelo apoio, dedicação, amizade, carinho, compreensão. Aos orientadores, Profa. Dra. Angela Malheiros e Prof. Dr. Valdir Cechinel orientação Filho, científica, agradeço sem eles pelo este apoio, incentivo trabalho não e poderia pela ser realizado. Aos professores da pré-banca, Prof. Dr. Clóvis Antônio Rodrigues e Prof. Dr. Rivaldo Niero, agradeço pelo apoio, incentivo e pelas dicas para a melhoria desta pesquisa científica, tornando-a melhor e mais elaborada. Aos professores do PMCF da UNIVALI pelo conhecimento passado até nós e pela amizade cultivada no decorrer do mestrado. Ao Prof Dr. Franco Delle Monache do Centro Chimica Recettori, Consiglio Nazionale delle Ricerche, Roma – Itália pelo auxílio na identificação das substâncias isoladas. Ao Dr. Alberto Giménez, Dr. Efraín Salamanca, Dra. Graice Ruiz, do Instituto de Investigaciones Fármaco Bioquímicas – IIFB/UMSA/La Paz – Bolívia pelos ensaios com Leishmannia e Plasmodium. Ao Gilberto Carlos Franchi Júnior e Alexandre Eduardo Nowill do Centro Integrado de Pesquisas Oncohematológicas da Infância – CIPOI/UNICAMP/SP pelos ensaios de atividade antitumoral. 5 Aos colaboradores que auxiliaram de forma direta ou indiretamente neste trabalho, em especial os colegas do Laboratório de Fitoquímica, dos Laboratórios de Farmacologia in vitro e in vivo, aos Pedros por terem ajudado nas análises e aos amigos cultivados ao longo dessa jornada: Joel, Maggie, Sheila, Ingrid, Bruna, Mariana, Simone, Marcelo, Kelly, Jéssica, Sabrina, Paola, Mariel, Mirela, Zhelmy, Marta, Lígia, Delair, e muitos outros. 6 “Não tenho um dom especial – Sou apenas apaixonadamente curioso.” (Albert Einstein 1879 - 1955) 7 ESTUDO FITOQUÍMICO E AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ANTIPARASITÁRIO E ANTITUMORAL DO EXTRATO CLOROFÓRMICO E DE SUBSTANCIAS ISOLADAS DE Drimys brasiliensis Miers (Winteraceae) VANESSA DUARTE CLAUDINO Julho / 2011 Orientadora: Angela Malheiros, Dra. Co-orientador: Valdir Cechinel Filho, Dr. Área de Concentração: Produtos Naturais e Substâncias Sintéticas Bioativas. Número de Páginas: 132 Há uma crescente necessidade de estudos com plantas medicinais para o tratamento de diversas doenças. Estudos realizados com a Drimys brasiliensis descrevem-na como possuidora de diversas propriedades medicinais, entre elas no tratamento do câncer. Este trabalho avaliou as ações citotóxicas e antiparasitárias dos diferentes extratos das cascas, caules e folhas bem como as substâncias isoladas das cascas de D. brasiliensis. O extrato foi fracionado por meio de cromatografia em coluna, utilizando como fase estacionária sílica gel e fase móvel hexano, acetato de etila e metanol. Foram isolados os sesquiterpenos drimanos poligodial, 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil-isodrimeninol, 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil-5αhidroxi-isodrimeninol, 1-β-(p-metoxicinamil)-poligodial, drimanial, 1-β-(pcumaroiloxi)-poligodial, o aromadendrano espatulenol, a lignana (-) hinoquinina, e outra em fase de identificação, além de ácidos graxos insaturados e um glicerídeo. As substâncias foram identificadas por ressonância magnética nuclear de 1H e 13C e suas estruturas foram confirmadas por comparação com dados de literatura. Os extratos das cascas, caules e folhas bem como as substâncias isoladas foram avaliadas em células tumorogênicas de leucemia mielóide (K562), linfóide aguda B (Nalm6), adenocarcinoma mamário humano (MCF-7) e melanoma murino (B16F10) “in vitro” nas concentrações entre 0,0001 e 1000 µg/mL. O extrato clorofórmico das cascas foi o mais ativo para todos os modelos celulares testados, com CI 50 entre 4 e 22 µg/mL. Nos mesmos modelos celulares foram testados quatro drimanos e um aromadendrano. Os drimanos foram seletivos para algumas células, com destaque para o 1-β-(p-metoxicinamil)-poligodial que foi o mais ativo para todas as linhagens testadas. Os extratos e as substâncias isoladas foram avaliados em duas formas promastigotas de Leishmania e uma forma trofozoíta de Plasmodium. O extrato também foi o mais ativo. Os drimanos apresentaram resultados bastante satisfatórios com CI50 entre 1 a 42 µM e dentre eles, o 1-β-(p-cumaroiloxi)poligodial foi o mais ativo, com CI 50 entre 1 a 6 µM. Os resultados indicam que os drimanos presentes nas cascas são os responsáveis pelas atividades atribuídas a D. brasiliensis, confirmando seu uso popular no tratamento de diversas patologias que acometem o homem e gerando perspectivas de futuros aprimoramentos como medicamento para o tratamento das patologias relacionadas. Palavras-chave: Drimys brasiliensis, sesquiterpenos drimanos, atividade citotóxica, atividade antiparasitária. 8 ABSTRACT PHYTOCHEMICAL ANALISYS AND EVALUATION OF THE ANTIPARASITIC AND ANTITUMOR POTENTIAL OF CHLOROFORM EXTRACT AND COMPOUNDS ISOLATED FROM Drimys brasiliensis MIERS (Winteraceae) Vanessa Duarte Claudino (Tese) July / 2011 Supervisor: Angela Malheiros, Dra. Co-supervisor: Valdir Cechinel Filho, Dr. Area of Concentration: Natural products and synthetic bioactive substances. Number of Pages: 132 There is a growing need for studies involving medicinal plants for the treatment of various diseases. Studies conducted with Drimys brasiliensis describe it as having various medicinal properties, making it potentially useful in the treatment of cancer. The study presented here evaluates the cytotoxicity and antiparasitic activities of different extracts of stem bark, branches and leaves, as well as compounds isolated from the stem bark of D. brasiliensis. The extract was fractionated by column chromatography using silica gel as stationary phase and hexane, ethyl acetate and methanol as mobile phase. The sesquiterpene drimanes polygodial, 1-β-O-pmethoxy-E-cinnamoyl-isodrimeninol, 1-β-O-p-methoxy-E-cinnamoyl-5α-hydroxyisodrimeninol, 1-β-(p-methoxycinnamoyl)-polygodial, drimanial and 1-β-(pcoumaroiloxy)-polygodial, the aromadendrane spathulenol, the lignan (-) hinokinin, and another still being identified, were isolated, as well as unsaturated fatty acids and a glyceride. The substances were identified by nuclear magnetic resonance of 1 H and 13C, and their structures were confirmed by comparison with the data in the literature. The extracts of the stem bark, branches and leaves, as well as the isolated compounds, were evaluated in vitro in tumorigenic cells of myeloid leukemia (K562), acute lymphoblastic B (Nalm6), mammary adenocarcinome (MCF7) and murine melanome (B16F10) at concentrations of between 0.0001 and 1.000 µg/mL. The chloroform extract of the stem bark was the most active for all the cell models tested, with IC50 of between 4 and 22 µg/mL. In the same cell models, four drimanes and one aromadendrane were also tested. The drimanes were selective for some cells, especially 1-β-(p-methoxycinnamyl)-poligodial, which was the most active for all strains tested. The extracts and isolated compounds were evaluated in two promastigote forms of Leishmmania and a trophozoite form of Plasmodium. The drimanes showed satisfactory results, with IC50 of between 1 and 42 µM and of these, 1-β-(p-cumaroiloxi)-poligodial was the most active, with IC50 of between 1 and 6 µM. The results indicate that the drimanes present in the stem bark are responsible for the activities attributed to D. brasiliensis, confirming its popular use in the treatment of various diseases affecting humans, and generating prospects for future improvements as a medicine for the treatment of related pathologies. Key words: Drimys brasiliensis, sesquiterpenes drimanes, cytotoxicity activity, antiparasitary activity. 9 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Gênese das células sanguíneas e linfócitos. (Adaptado de: INCA, 2010). ..........................................................................................................................28 Figura 2: Leishmania, (A) forma flagelada ou promastigota; (B) forma aflagelada ou amastigota (Adaptado de: BRASIL, 2007). ........................................................30 Figura 3: Ciclo biológico de Leishmania no vetor e no vertebrado. (Adaptado de: BRASIL, 2007)...................................................................................................31 Figura 4: Ciclo de vida da malária no vetor e no vertebrado (Adaptado de: BRASIL, 2005). ................................................................................................................33 Figura 5: Drimys brasiliensis: aspecto geral da planta adulta. (Fonte: Autora). .......35 Figura 6: Fluxograma dos procedimentos cromatográficos do extrato clorofórmico das cascas de D. brasiliensis. ...........................................................................52 Figura 7: Metabolização do MTT em sais de formazan em células viáveis. ............53 Figura 8: Fluxograma dos procedimentos cromatográficos do extrato clorofórmico de D. brasiliensis mostrando o isolamento do Espatulenol. ..............................62 Figura 9: Espectro de RMN ¹H (300 MHz, CDCl 3/TMS) do DBJ-70. .......................63 Figura 10: Ampliações do espectro de RMN ¹H (300 MHz, CDCl 3/TMS) do DBJ-70: a) de 7,5 a 3,5 ppm; b) de 2,5 a 1,5 ppm; c) de 1,4 a 0,4 ppm. .........................64 Figura 11: Espectro de RMN 13C (75 MHz, CDCl3/TMS) do DBJ-70. ......................65 Figura 12: Espectro de DEPT 135 (75 MHz, CDCl 3/TMS) do DBJ-70. ....................65 Figura 13: Esquema para obtenção dos principais grupos de sesquiterpenos gerados a partir do precursor farnesil pirofosfato (Adaptado de: DEWICK, 2009). ................................................................................................................67 Figura 14: Provável rota biossintética do sesquiterpeno Espatulenol. (Adaptado de CHAVES, et al., 2003). ......................................................................................68 Figura 15: Fluxograma dos procedimentos cromatográficos do extrato clorofórmico de D. brasiliensis mostrando o isolamento do Ácido Graxo Insaturado e do Glicerídeo. .........................................................................................................69 Figura 16: Ampliação do espectro de RMN de 1H do DBJ-100 (300 MHz, CDCl3/TMS) de 5,5 até 0,5 ppm. .......................................................................70 Figura 17: Espectro de RMN 13C (75 MHz, CDCl3/TMS) do DBJ-100. ....................71 Figura 18: a) Espectro de RMN 1H (300 MHz, CDCl3/TMS) do DBF-1; b) expansões de 6,0 a 3,5 ppm; c) expansões de 2,4 a 0 ppm. .............................................72 Figura 19: a) Expansão do espectro de RMN 13C (75 MHz, CDCl3/TMS) do DBF-1 de 120 a 14 ppm................................................................................................73 Figura 20: Espectro de DEPT 135 (75 MHz, CDCl 3/TMS) do DBF-1. .....................73 Figura 21: Biossíntese dos lipídeos através do precursor acetil CoA (Adaptado de: HORNSTRA, 2002; LENINGER; NELSON; COX, 2002)...................................75 Figura 22: Representação estrutural dos ácidos graxos ω-6 e ω-3 (Adaptado de: HORNSTRA, 2002; LENINGER; NELSON; COX, 2002)...................................76 Figura 23: Fluxograma dos procedimentos cromatográficos do extrato clorofórmico de D. brasiliensis mostrando o isolamento da (-) Hinoquinina e da lignana DBX09. .....................................................................................................................78 Figura 24: Espectro de RMN ¹H (300 MHz, CDCl 3/TMS) do DBK-29. .....................79 Figura 25: Espectro de RMN ¹3C (75 MHz, CDCl3/TMS) do DBK-29. .....................80 Figura 26: Espectro de DEPT 135 (75 MHz, CDCl 3/TMS) do DBK-29. ...................80 Figura 27: Biossíntese dos lignóides (Adaptado de: SIMÕES, et al., 2004). ...........83 Figura 28: Rota biossintética provável da hinoquinina (Fonte: DEWICK, 2002)......84 Figura 29: Espectro de RMN ¹H (300 MHz, CDCl 3/TMS) do DBX-09. .....................85 10 Figura 30: Espectro de RMN ¹3C (75 MHz, CDCl3/TMS) do DBX-09. .....................86 Figura 31: Espectro de DEPT 135 (75 MHz, CDCl 3/TMS) do DBX-09. ...................86 Figura 32: Fluxograma dos procedimentos cromatográficos do extrato clorofórmico de D. brasiliensis mostrando o isolamento dos sesquiterpenos drimanos Poligodial, 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil-isodrimeninol, 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil5α-hidroxi-isodrimeninol, 1-β-(p-metoxicinamil)-poligodial, drimanial e 1-β-(pcumaroiloxi)-poligodial, e o que está em fase de identificação o DBK-17. ........87 Figura 33: Espectro de RMN 1H (300 MHz, CDCl3/TMS) do DBI-11. ......................89 Figura 34: Espectro de RMN 13C (75 MHz, CDCl3/TMS) do DBI-11........................89 Figura 35: Espectro de DEPT 135 (75 MHz, CDCl 3/TMS) do DBI-11......................90 Figura 36: Rota biossintética provável do poligodial (Adaptado de: JANSEN e GROOT, 2004). .................................................................................................92 Figura 37: Espectro de RMN ¹H (300 MHz, CDCl 3/TMS) do DBK-17. .....................93 Figura 37: Espectro de RMN ¹H (300 MHz, CDCl 3/TMS) do DBP-44. .....................94 Figura 38: Espectro de RMN ¹3C (75 MHz, CDCl3/TMS) do DBP-44. .....................94 Figura 39: Espectro de DEPT 135 (75 MHz, CDCl 3/TMS) do DBP-44. ...................95 Figura 40: Rota biossintética provável do 1-β-(p-metoxicinamil)-poligodial (Adaptado de: JANSEN e GROOT, 2004).........................................................96 Figura 41: Espectro de RMN ¹H (300 MHz, CDCl 3/TMS) do DBP-11. .....................98 Figura 42: Espectro de RMN 13C (75 MHz, CDCl3/TMS) do DBP-11. .....................98 Figura 43: Espectro de DEPT 135 (75 MHz, CDCl 3/TMS) do DBP-11. ...................99 Figura 43: Rota biossintética provável do 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil-isodrimeninol. (Adaptado de: JANSEN e GROOT, 2004).........................................................99 Figura 44: Espectro de RMN ¹H (300 MHz, CDCl 3/TMS) do DBV-25. ................... 101 Figura 45: Espectro de RMN ¹3C (75 MHz, CDCl3/TMS) do DBV-25. ................... 102 Figura 46: Espectro de DEPT 135 (75 MHz, CDCl 3/TMS) do DBV-25. ................. 102 Figura 47: Rota biossintética provável do drimanial. (Adaptado de: JANSEN e GROOT, 2004). ............................................................................................... 103 Figura 48: Espectro de RMN ¹H (300 MHz, CDCl3/TMS) do DBP-21. ................... 105 Figura 49: Espectro de RMN ¹3C (75 MHz, CDCl3/TMS) do DBP-21. ................... 106 Figura 50: Espectro de DEPT 135 (75 MHz, CDCl3/TMS) do DBP-21. ................. 106 Figura 51: Rota biossintética provável do 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil-5α-hidroxiisodrimeninol. (Adaptado de: JANSEN e GROOT, 2004; ALOUCHE, et al., 2009). .............................................................................................................. 108 Figura 52: Espectro de RMN ¹H (300 MHz, CDCl3/TMS) do DBV-50. ................... 109 Figura 53: Espectro de RMN 13C (75 MHz, CDCl3/TMS) do DBV-50. ................... 109 Figura 54: Espectro de DEPT 135 (75 MHz, CDCl3/TMS) do DBV-50. ................. 110 Figura 55: Rota biossintética provável do 1-β-(p-cumaroiloxi)-poligodial (Adaptado de: JANSEN e GROOT, 2004). ....................................................................... 111 Figura 56: Biossíntese do pirofosfato de dimetilalila a partir do precursor ácido mevalônico (Adaptado de: GEISSMAN; CROUT, 1969; MAGRI, 1999).......... 113 Figura 57: Biossíntese dos sesquiterpenos pela formação do núcleo germacreno (Adaptado de: GEISSMAN; CROUT, 1969; MAGRI, 1999)............................. 113 Figura 58: Rearranjo drimano do precursor germacreno (Adaptado de: JANSEN e GROOT, 1991). ............................................................................................... 114 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Rendimentos das cascas, caules e folhas de D. brasiliensis Miers dos extratos CHCl3 e CH3OH em relação ao material vegetal utilizado. ............. 57 Tabela 2: Valores de deslocamentos químicos (δ) de RMN 1H e 13C para DBJ-70 comparando com dados da literatura para o Espatulenol. ........................... 66 Tabela 3: Valores de deslocamentos químicos (δ) de RMN 1H e 13C para DBK-29 comparando com os dados de literaturas para a Hinoquinina e para a (-) Hinoquinina. ................................................................................................. 81 Tabela 4: Valores de deslocamentos químicos () de RMN 1H e 13C para DBI-11 e dados da literatura para o Poligodial. ........................................................ 91 Tabela 5: Valores de deslocamentos químicos (δ) de RMN 1H e 13C para DBP-44 comparando com dados da literatura para o 1-β-(p-metoxicinamil)-poligodial. ..................................................................................................................... 96 Tabela 6: Valores de deslocamentos químicos (δ) de RMN 1H e 13C para DBP-11 comparando com dados da literatura para o 1-β-(p-metoxicinamil)-poligodial e o 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil-6α-hidroxi-isodrimeninol. ............................. 100 Tabela 7: Valores de deslocamentos químicos (δ) de RMN 1H e 13C para DBV-25 comparando com dados da literatura para o Drimanial. ............................. 103 Tabela 8: Valores de deslocamentos químicos (δ) de RMN 1H e 13C para DBP-21 comparando com dados da literatura para o drimanial e o 1-β-O-p-metoxi-Ecinamil-6α-hidroxi-isodrimeninol. ................................................................ 107 Tabela 9: Valores de deslocamentos químicos (δ) de RMN 1H e 13C para DBV-50 e dados da literatura para o 1-β-(p-cumaroiloxi)-poligodial. ....................... 111 Tabela 10: Avaliação da viabilidade celular de K562, Nalm6, MCF-7 e B16F10 em extratos brutos. ..................................................................................... 115 Tabela 11: Avaliação da viabilidade celular de K562, Nalm6, MCF-7 e B16F10 das substâncias isoladas............................................................................ 117 Tabela 12: Atividade leishmanicida dos extratos de Drimys brasiliensis in vitro nas formas promastigotas de Leishmania amazonensis e L. brasiliensis. . 119 Tabela 13: Atividade leishmanicida das substâncias isoladas das cascas de Drimys brasiliensis in vitro nas formas promastigotas de Leishmania amazonensis e L. brasiliensis. .................................................................... 120 Tabela 14: Atividade plasmodicida dos extratos, substâncias isoladas das cascas de Drimys brasiliensis in vitro nas formas trofozoítas de Plasmodium falciparum. .................................................................................................. 122 12 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AA – Ácido Araquidônico. AcOEt – Acetato de Etila. ACP – Proteína Carreadora de Acila. AITC – Alil Isotiocianato. ALA – Ácido Alfa-Linolênico. AO – Ácido Oléico. AS – Anisaldeído Sulfúrico. ATP – Trifosfato de Adenosina. ATPase – Enzima que hidrolisa o ATP. α-TOH – α-Tocoferol. BCRJ – Banco de Células da Universidade Federal do Rio de Janeiro. BK – Bradicinina. B16F10 – Melanoma Murino. CC – Cromatografia em Coluna. CCD – Cromatografia em Camada Delgada. CCDP – Cromatografia em Camada Delgada Preparativa. CF – Cromatografia Flash. CG – Cromatografia Gasosa. CGAR – Cromatografia Gasosa de Alta Resolução. CG/MS – Cromatografia Gasosa Acoplada a Espectroscopia de Massas. CHO – Célula Ovariana de Hamster. CIM – Concentração Inibitória Mínima. CIPOI – Centro Integrado de Pesquisa Oncológica da Infância. CI50 – Concentração citotóxica ou inibitória da viabilidade em 50% das células. CLAE – Cromatografia Líquida de Alta Eficiência. CLC – Cromatografia Líquida Clássica. δ – Deslocamento Químico. DBF-1 – Drimys brasiliensis Coluna F (coluna do extrato bruto) fração 9-21) identificada como Glicerídeo. DBI-11 – Drimys brasiliensis Coluna I (junção da coluna 4-8 da coluna G (26-30) fração 11-18) identificada como Poligodial. 13 DBJ-70 - Drimys brasiliensis Coluna J (fração 26-33 da coluna H (4-21 da coluna do extrato bruto) fração 70-71) identificada como Espatulenol. DBJ-100 - Drimys brasiliensis Coluna J (fração 26-33 da coluna H (4-21 da coluna do extrato bruto) fração 100-105) identificada como Ácido Graxo Insaturado. DBK-11 – Drimys brasiliensis Coluna K (fração 31-38 da coluna do extrato bruto) fração 8-11) identificada como Poligodial. DBK-17 - Drimys brasiliensis Coluna K (fração 31-38 da coluna do extrato bruto) fração 17-21) substância não identificada. DBK-29 - Drimys brasiliensis Coluna K (fração 31-38 da coluna do extrato bruto) fração 29-43) identificada como (-) Hinoquinina. DBP-11 - Drimys brasiliensis Coluna P (fração 48-55 da coluna do extrato bruto) fração 11-20) identificada como 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil-isodrimeninol. DBP-21 - Drimys brasiliensis Coluna P (fração 48-55 da coluna do extrato bruto) fração 21-30) identificada como 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil-5α-hidroxi-isodrimeninol. DBP-44 - Drimys brasiliensis Coluna P (fração 48-55 da coluna do extrato bruto) fração 44-47) identificada como 1-β-(p-metoxicinamil)-poligodial. DBV-25 - Drimys brasiliensis Coluna V (fração 56-59 da coluna do extrato bruto) fração 25-46) identificada como Drimanial. DBV-50 - Drimys brasiliensis Coluna V (fração 56-59 da coluna do extrato bruto) fração 50-55) identificada como 1-β-(p-cumaroiloxi)-poligodial. DBX-04 - Drimys brasiliensis Coluna X (fração 24-33 da coluna O (39-45 da coluna do extrato bruto) fração 4-5) identificada como (-) Hinoquinina. DBX-09 - Drimys brasiliensis Coluna X (fração 24-33 da coluna O (39-45 da coluna do extrato bruto) fração 9) substância não identificada. DCM – Diclorometano. d – Dubleto. dd – Duplo Dupleto. ddd – Dupleto de Dupleto de Dupleto. dddd – Dupleto de Dupleto de Dupleto de Dupleto. DEPT – Distorção por transferência de polarização. DMC – Distúrbios Mieloproliferativos Crônicos. DMEM – Dulbecco’s Modified Eagle’s Minimum Essential Medium. DMSO – Dimetilsulfóxido. DNA – Ácido Desoxirribonucléico. 14 EC50 – Concentração efetiva que causa 50% de inibição em relação ao controle. ED50 – Concentração efetiva que causa 50% de inibição em relação ao fármaco. EtOH – Etanol. GRI – Glóbulos Vermelhos Infectados. GRL – Glóbulos Vermelhos não-Infectados. HBR – Herbário Barbosa Rodrigues. HEK293 – Células Humanas Embrionárias de Rim. HELA – Adenocarcinoma Epitelial de Cérvix Humano. Hex – Hexano. EM – Espectrometria de Massas. HPV – Vírus Papiloma Humano. INCA – Instituto Nacional de Câncer. IP – Inositol Fosfato. J – Constante de Acoplamento. K562 – Leucemia Mielóide Crônica Humana. LA – Ácido Linoléico. LMA – Leucemia Mielóide Aguda. LTA – Leishmaniose Tegumentar Americana. L929 – Fibroblasto Murino. m – Multipleto. mAChR – Receptores Muscarínicos Agonistas de Acetilcolina Ativados. MCF-7 – Michigan Cancer Fondation – 7; Adenocarcinoma Mamário Humano. MTT – Sal de brometo de 3-(4,5 dimetil-2-tiazolil)-2,5-difenil-2H-tetrazolium. M2903 – Leishmania brasiliensis. NA – Ácido Nervônico. NADPH – Nicotinamida Adenina Dinucleotídeo Phosfato. Nalm6 – Leucemia Linfóide Aguda B. NIQFAR – Núcleo de Investigações Químico-Farmacêuticas da Universidade do Vale do Itajaí. NO – Óxido Nítrico. OMS – Organização Mundial de Saúde. PAF – Fator de Agregação Plaquetária. PE – Fosfatidiletanolamina. PH8 – Leishmania amazonensis. 15 PLC – Fosfolipase C. PPI – Fosfatidil Inositídeo. PS – Fosfatidilserina. PTX – Toxina Pertussis. q – Quarteto. Rf – Fator de Retenção. RMN – Ressonância Magnética Nuclear. RMN de 1H – Ressonância Magnética Nuclear de Hidrogênio. RMN de 13C – Ressonância Magnética Nuclear de Carbono Treze. ROS – Espécies Reativas de Oxigênio. RPMI – Instituto Roswell Park Memorial. s – Simpleto. sl – Simpleto Largo. SFB – Soro Fetal Bovino. SH-SY5Y – Células de Neuroblastoma Humano. SM – Síndrome Mielodisplásica. SP – Substância P. t – Tripleto. TMS – Tetrametilsilano. TRPA1 – Receptores Potenciais Vanilóides Transitórios 1. TRPV1 – Receptores Potenciais Vanilóides 1. Фi – Diâmetro Interno. %Inh. – Percentual de Inibição. 53 RP75 – Leishmania donovani. 16 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................18 2 OBJETIVOS .........................................................................................................20 2.1 Objetivo geral: ........................................................................................ 20 2.2 Objetivos específicos:........................................................................... 20 3 REVISÃO DA LITERATURA ...............................................................................21 3.1 Aspectos gerais sobre plantas medicinais ......................................... 21 3.2 Aspectos gerais sobre neoplasias....................................................... 23 3.3 Aspectos sobre doenças parasitárias ................................................. 29 3.3.1 Leishmaniose................................................................................................29 3.3.2 Malária ...........................................................................................................32 3.4 Aspectos botânicos do gênero Drimys ............................................... 34 3.5 Aspectos químicos e farmacológicos do gênero Drimys ................. 36 3.6 Técnicas de fracionamento, isolamento e identificação de produtos naturais ......................................................................................................... 45 4 MATERIAL E MÉTODOS ....................................................................................48 4.1 Coleta do material vegetal .................................................................... 48 4.2 Materiais e reagentes ............................................................................ 48 4.3 Equipamentos ........................................................................................ 49 4.4 Obtenção dos extratos de D. brasiliensis ........................................... 49 4.5 Fracionamento do extrato CHCl3 das cascas de D. brasiliensis ...... 50 4.6 Atividade biológica ................................................................................ 53 4.6.1 Avaliação da citotoxicidade ........................................................................53 4.6.2 Avaliação da atividade leishmanicida ........................................................54 4.6.3 Avaliação da atividade plasmodicida .........................................................55 4.7 Análise estatística ................................................................................. 56 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ...........................................................................57 5.1 Extração .................................................................................................. 57 5.2 Fracionamento do extrato CHCl 3 das cascas de Drimys brasiliensis58 5.3 Identificação das substâncias isoladas de D. brasiliensis ................ 59 17 5.3.1 Identificação do Espatulenol .......................................................................61 5.3.2 Identificação do Ácido Graxo Insaturado ...................................................69 5.3.3 Identificação do Glicerídeo ..........................................................................71 5.3.4 Identificação da (-) Hinoquinina ..................................................................77 5.3.5 Identificação do DBX-09 ..............................................................................84 5.3.6 Identificação dos Sesquiterpenos Drimanos .............................................87 5.3.6.1 Identificação do Poligodial .......................................................................88 5.3.6.2 Identificação do DBK-17 ...........................................................................92 5.3.6.3 Identificação do 1-β-(p-metoxicinamil)-poligodial ..................................93 5.3.6.4 Identificação do 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil-isodrimeninol .....................97 5,3.6.5 Identificação do Drimanial ...................................................................... 100 5.3.6.6 Identificação do 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil-5α-hidroxi-isodrimeninol. 104 5.3.6.7 Identificação do 1-β-(p-cumaroiloxi)-poligodial .................................... 108 5.4 Atividade biológica .............................................................................. 115 5.4.1 Avaliação da citotoxicidade ...................................................................... 115 5.4.2 Avaliação da atividade leishmanicida ...................................................... 119 5.4.3 Avaliação da atividade plasmodicida ....................................................... 121 6 CONCLUSÕES .................................................................................................. 123 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 124 18 1 INTRODUÇÃO A utilização de plantas medicinais, para tratamento, cura e prevenção de doenças, é uma das antigas formas de prática medicinal da humanidade. As observações populares sobre o uso e a eficácia de plantas medicinais contribuem de forma relevante para a divulgação das propriedades terapêuticas (BUTLER, 2008; KINGSTON, 2011). Muitas pessoas utilizam plantas para o tratamento de várias doenças, inclusive para o tratamento do câncer. Embora muitas das suposições quanto à eficácia possam ser vistas com certo ceticismo, devido ao fato de o câncer, por ser uma doença específica, muitos extratos ou substâncias isoladas de plantas vêm sendo testados a fim de confirmar as suposições atribuídas às plantas como possuidoras de atividades biológicas comprovando assim o seu uso (CRAGG; NEWMAN, 2009). Para tanto se podemos citar os alcalóides Vincristina e Vimblastina obtidos de Catharantus roseus, para linfomas e leucemia infantil, o diterpeno taxol de Taxus brevifolia, para o câncer ovariano, mamário e pulmonar, a camptotecina de Camptotheca acuminata, que atua no controle da proliferação celular, entre outros que ainda se encontram em fase experimental (GURIB-FAKIM, 2006). A busca por antiparasitários inovadores constitui outra área onde os produtos naturais podem contribuir, pois existem poucos medicamentos no mercado para o tratamento de diferentes doenças parasitárias (KYSER, KIDERLEN, CROFT, 2003). Como exemplos de agentes antimaláricos pode-se citar o sesquiterpeno lactona artemisinina de Artemisina annua e o alcalóide quinina isolado de Chinchona succirubra. A anfotericina B e ivermectina são antiparasitários importante isoladas de microorganismos como Streptomyces (CRAGG; NEWMANN, 2007; WAGNER, 2009; BARREIRO; BOLZANI, 2009). Considerando a necessidade presente em se descobrir novos e efetivos agentes medicinais o gênero Drimys surge como uma fonte de princípios ativos. Entre as indicações da medicina popular pode-se citar a sua utilização no tratamento do câncer (FORSBY; WALUM, 1996; FORSBY, et al., 1998; SILVA, 2009). Esta planta vem sendo estudada há alguns anos por pesquisadores do Núcleo de Investigações Químico Farmacêuticas da Universidade o Vale do Itajaí 19 (NIQFAR/UNIVALI) em colaboração com outros Grupos de Pesquisa. O potencial terapêutico tem sido comprovado em diversos modelos experimentais e vários artigos científicos foram publicados (MENDES, et al., 1998; 2000; CECHINELFILHO, 1998; ANDRE, et al., 1999; MALHEIROS, 2001; CUNHA, et al., 2001; SCHEIDT, et al., 2002; ANDRE, et al., 2004; MALHEIROS, et al., 2005; ANDRE, et al., 2006; MUNÕZ-CONCHA, et al., 2007). Porém o que motivou a escolha da D. brasiliensis foi á constatação em estudos preliminares da atividade em células tumorogênicas Hela do extrato das cascas e dos sesquiterpenos drimanos, drimanial e 1-β-(p-metoxiciamil)-poligodial (SILVA, 2009). Devido aos resultados promissores, o nosso trabalho propõe dar continuidade para esclarecer qual ou quais são os metabólitos responsáveis pelos efeitos apresentados, especialmente em relação à possível atividade antileucêmica, bem como avaliar o potencial antiparasitário desta espécie vegetal. 20 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral: Estudar fitoquimicamente o extrato clorofórmico das cascas de D. brasiliensis e as substâncias isoladas sobre linhagens de células tumorais K562, Nalm6, MCF-7 e B16F10, bem como as suas atividades antiparasitárias sobre as linhagens de Leishmania amazonensis, Leishmania brasiliensis e Plasmodium falciparum. 2.2 Objetivos específicos: Isolar e identificar as substâncias majoritárias presentes no extrato clorofórmico das cascas; Definir a concentração inibitória mínima 50 (CI 50) dos extratos clorofórmico e metanólico de cascas, caules e folhas e as substâncias isoladas em modelos celulares de leucemias mielóide (K562) e linfóide aguda B (Nalm6), adenocarcinoma mamário humano (MCF-7) e melanoma murino (B16F10); Determinar a concentração inibitória mínima 50 (CI 50) dos extratos e substâncias sobre a atividade leishmanicida e antimalárica in vitro nas formas promastigotas de L. amazonensis e L. brasiliensis e as formas trofozoítas de P. falciparum. 21 3 REVISÃO DA LITERATURA 3.1 Aspectos gerais sobre plantas medicinais O uso das plantas medicinais vem crescendo gradativamente ao longo dos últimos anos. Apesar da grande evolução da medicina alopática a partir da segunda metade do século XX, ainda existe obstáculos na utilização pelas populações carentes, que vão desde o acesso aos centros de atendimento hospitalar, à obtenção de exames e medicamentos. Estes motivos associados à fácil obtenção e a grande tradição do uso de plantas medicinais contribuem para a sua utilização pelas populações dos países em desenvolvimento (VERLI; BARREIRO, 2005). Para definir futuras pesquisas de plantas medicinais, deve-se enfatizar que, das cerca de 2000 doenças agudas e crônicas registradas, somente 30 a 40% são curáveis nos dias de hoje. O restante pode ser tratado somente sintomaticamente, com maior ou menor efeito, e algumas doenças ainda não tem tratamento. Portanto, existe uma grande necessidade de novos tratamentos, altamente eficientes e orientados, para os quais se espera que a fitoterapia contribua (WAGNER, 2009). É expressivo o número de medicamentos disponíveis na terapêutica moderna desenvolvida a partir de plantas medicinais. Os produtos naturais têm exercido um importante papel ao longo dos anos para a descoberta de novos fármacos, muitos deles são utilizados de forma pura ou associados a outras substâncias naturais ou sintéticas, servindo com ponto de partida para novas moléculas mais ativas e eficazes a partir de sua otimização estrutural (YUNES, CECHINEL FILHO, 2007; 2009). O diterpeno taxol ou Paclitaxel (Taxol ®) (1) isolado da Taxus brevifolia vem sendo utilizado para o tratamento de câncer ovariano, mamário, pulmonar, e também tem demonstrado eficácia contra sarcoma de Kaposi. Além de ser utilizado para o tratamento de esclerose múltipla, psoríase e artrite reumatóide. Um derivado semissintético do taxol, denominado Docetaxol (Taxotere ®) (2), é solúvel em água e cerca de duas vezes mais potente que a substância natural (MILLER, et al., 2008). 22 O O O NH O H HO O O O NH O H O OH O OH O O O H O H OH HO O O O OH O O O O Taxol® (1) Taxotere® (2) Outro importante agente anticâncer natural é a Camptotecina (3), da Camptotheca acuminata. Essa substância atua ao nível do ácido desoxirribonucléico (DNA) causando-lhe danos irreversíveis na estabilidade da fita dupla. O topotecan é utilizado para o tratamento do câncer de ovário e de pulmão, enquanto o Irinotecan (4) é utilizado para o tratamento de câncer de cólon-retal (LENINGER; NELSON; COX, 2002; NIERO, et al., 2003; 2009; CRAGG; NEWMAN, 2007; 2009). N N O N O O N O N N HO HO O O Camptotecina (3) Irinotecan (4) De Podophyllum peltatum tem-se a Podofilotoxina (5). A partir de sua estrutura foram obtidos os derivados semi-sintéticos Etoposídeo (Veperide®) (6) e Teniposídeo (Vumon®). Eles atuam também ao nível do DNA, impedindo o crossing over, portanto um mecanismo que atua diretamente na replicação do DNA (LENINGER; NELSON; COX, 2002; CRAGG; NEWMAN, 2009). 23 O O O HO HO O OH O O O O O O O MeO O OMe MeO OH OMe OH Veperide® (6) Podofilotoxina (5) O alvo dos alcalóides da vinca (Catharanthus roseus) é o aparelho mitótico, em particular, os microtúbulos. São agentes específicos do ciclo celular e bloqueiam a mitose celular. Alguns desses fármacos são a Vimblastina, e a Vincristina (7). Estes se ligam a tubulina, impedindo a sua polimerização, havendo assim um rompimento temporário dos microtúbulos do fuso matando preferencialmente muitas células que se dividem de forma anormal (YUNES, CECHINEL FILHO, 2007). N OH H N N H3CO2C MeO H OH N H OCOCH 3 R CO 2CH 3 Vimblastina (R=CHO) e Vincristina (R=H) (7) 3.2 Aspectos gerais sobre neoplasias O câncer é uma doença caracterizada pela multiplicação e propagação descontrolada no corpo de formas anormais das próprias células corporais. É uma das principais causas de morte nos países desenvolvidos e os dados dos últimos 100 anos mostram que há um aumento da incidência nesses países, mas é preciso se levar em consideração o fato de o câncer ser, em grande parte, uma doença que afeta os grupos etários mais avançados. Os termos “câncer”, “neoplasia maligna” e “tumor maligno” são sinônimos e distinguem-se dos tumores benignos pelas suas propriedades de desdiferenciação, poder de invasão e capacidade de 24 metastatizar-se (isto é, disseminar-se para outras partes do corpo) (ROBBINS, et al., 2008). As neoplasias são caracterizadas como um aumento descontrolado da proliferação celular. As neoplasias em geral ocorrem paralelamente ao aumento do crescimento e perda de diferenciação celular. Assim as células neoplásicas perdem as suas características originais de diferenciação e se tornam atípicas. Células em condições normais dependem de atuação coordenada de vários pontos regulatórios determinados por genes que orientam a resposta aos estímulos internos e externos. Já a célula neoplásica sofre alteração justamente nestes pontos que regulam a sua função, e dessa forma, adquirem autonomia de crescimento se tornando independente dos estímulos externos (BOGLIOLO; BRASILEIRO FILHO, 2004). Segundo o INCA (Instituto Nacional de Câncer) foram esperados para 2010 489.270 casos; em mulheres 192.590 (51,3%) e entre os homens 182.830 (48,7%). O mais incidente deve ser o câncer de pele não melanoma, com 113.850 casos. Em seguida estão os tumores de próstata com 52.350; mama feminina com 49.240; cólon e reto com 28.110 e pulmão com 27.630 casos (INCA, 2010). O Adenocarcinoma Epitelial de Cérvix Humano (Hela) mais conhecido como câncer do colo do útero, é uma doença de crescimento lento e silencioso. A detecção precoce do câncer do colo do útero ou de lesões precursoras é plenamente justificável, pois a cura pode chegar a 100% e em grande número de vezes, a resolução ocorrerá em nível ambulatorial. Alimentação saudável, sexo seguro e diminuição da exposição ao tabaco contribuem para se evitar o aparecimento da doença. A principal forma de detecção é através do exame preventivo (Papanicolau), com o objetivo de identificar aquelas que possam apresentar a doença em fase muito inicial, quando o tratamento pode ser mais eficaz. A detecção precoce, associada ao tratamento em estágios iniciais, tem resultado em uma diminuição de até 90% dos casos de câncer invasivo (INCA, 2010). Em muitos casos uma infecção decorrente do vírus papiloma humana (HPV) desencadeia o desenvolvimento do câncer do colo do útero. Existem 13 tipos de HPV reconhecidos como oncogênicos pela Agência internacional de pesquisa Sobre o Câncer. Destes os mais comuns são o HPV16 e o HPV18 (WHO, 2008; INCA, 2010). Ele está presente em mais de 90% dos casos de câncer cervical. 25 Esse contágio acontece pela falta de uso de preservativos, início precoce da atividade sexual e múltiplos parceiros. Além disso, outros fatores também podem desencadear o desenvolvimento deste câncer, como tabagismo e o uso prolongado de pílulas anticoncepcionais. É o segundo tipo de neoplasia mais freqüente entre mulheres, com aproximadamente 500 mil novos casos por ano no mundo, sendo responsável pelo óbito de aproximadamente 230 mil mulheres por ano (ROBBINS, et al., 2008). Dados mostram que a incidência de câncer do colo do útero já é evidenciada na faixa etária de 20 a 29 anos e o risco aumenta rapidamente até o seu pico máximo que está entre 45 a 49 anos. Segundo o INCA (2010), o número de novos casos de câncer do colo do útero esperado para o Brasil no ano de 2010 foi de 18.430, com um risco estimado de 18 casos a cada 100 mil mulheres. Para o tratamento do câncer do colo do útero, os mais comuns são a cirurgia e a radioterapia, salvo que, dependendo do estágio da doença, tamanho do tumor, idade e desejo de ter filhos por parte da paciente, irá determinar qual o melhor procedimento a ser realizado (ROBBINS, et al., 2008). O Adenocarcinoma Mamário Humano (MCF-7), mais conhecido como câncer de mama, é uma doença maligna onde há uma proliferação acelerada, desordenada e sem controle das células dos tecidos da glândula mamária. O tumor invade os tecidos vizinhos metastatizando para os órgãos distantes no corpo. Como outros tumores malignos, o câncer de mama é conseqüência de alterações na estrutura e função dos genes (ROBBINS, et al., 2008). Como principais sintomas têm-se abaulamentos e retrações inclusive dos mamilos, aspecto semelhante à casca de laranja, secreções no mamilo. O sintoma do câncer palpável é o nódulo ou caroço no seio acompanhado ou não de dor mamária. Também pode haver nódulos nas axilas (INCA, 2010). Os cânceres de pele podem ser definidos como um crescimento anormal e descontrolado das células que fazem parte da pele, podendo ser classificados em câncer de pele não melanoma (carcinoma basocelular e epidermóide) e melanoma (DE VITA; HELLMANN; ROSENBERG, 2005; FAURI, et al., 2010). O câncer de pele não melanoma é o câncer mais frequente no Brasil correspondendo a cerca de 25% de todos os tumores malignos registrados no país. O número de casos novos estimados no Brasil no ano de 2010 para este tipo de câncer foi de 53.410 entre homens e de 60.440 nas mulheres. De acordo com 26 estes dados o risco estimado foi de 56 novos casos a cada 100 mil homens e de 61 para cada 100 mil mulheres (INCA, 2010). O câncer de pele conhecido como Melanoma Murino (B16F10) é a forma mais agressiva de câncer de pele e que se expande mais rapidamente em termos de incidência mundial. O melanoma é um tumor de origem neuroectodérmica resultante da transformação dos melanócitos epidérmicos. Estes por sua vez, são células encontradas ao longo da camada basal da epiderme cuja principal função é a produção do pigmento melanina, importante para fotoproteção natural (DE VITA; HELLMANN; ROSENBERG, 2005). Apesar de o melanoma cutâneo representar apenas 4% de todos os tipos de câncer de pele, este possui um grande potencial de metastatização, mesmo no início de sua manifestação, razão pela qual se constitui numa das neoplasias mais agressivas dentre as lesões cutâneas oriundas de processo tumoral, com elevado índice de mortalidade, principalmente em casos de detecção tardia (INCA, 2010). A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que anualmente ocorram cerca de 132 mil novos casos deste câncer no mundo. Este aumento vem se tornando expressivo nos últimos 40 anos, em principalmente, populações de pele clara que apresentam uma maior susceptibilidade a este tipo de tumor. Quando detectado no início é potencialmente curável, embora dados mostrem que quando detectado tardiamente apresente letalidade elevada. A média mundial de sobrevida é de 69% (WHO, 2008). Geralmente este tipo de tumor apresenta duas fases distintas; na primeira a lesão se apresenta como um crescimento radial, plana e pequena, e seu comportamento é bem menos agressivo. Na segunda fase, o crescimento da lesão passa ser vertical, onde as células malignas se localizam mais internamente na derme reticular podendo, inclusive invadir a camada de tecido subcutâneo, apresentando um processo lesivo mais grave. Sua agressividade é proporcional à sua capacidade de se infiltrar na derme na transição de crescimento radial para crescimento vertical (ANGER, 2008). A leucemia se caracteriza por uma proliferação neoplásica generalizada ou acúmulo de células hematopoiéticas, com ou sem envolvimento periférico. Na maioria dos casos, as células leucêmicas extravasam para o sangue, onde podem ser vistas em grande número, podendo infiltrar-se no fígado, baço, linfonodos e outros tecidos. A leucemia pode ser classificada de acordo com o grau de 27 maturidade das células afetadas; leucemia mielóide aguda e crônica e leucemia linfóide aguda e crônica (HAMERSCHLAK, 2010). A Leucemia Mielóide (K562), começa pela produção cancerosa de células mielóides jovens na medula óssea e, a seguir, dissemina-se por todo o corpo, de modo que os leucócitos são produzidos em muitos órgãos extra-medulares, sobretudo nos linfonodos, no baço e no fígado (GUYTON; HALL, 2001). O processo canceroso, algumas vezes, produz células parcialmente diferenciadas, resultando em formas que poderiam ser denominadas leucemia neutrofílica, eusinofílica, basofílica ou monocítica. Em geral, quanto mais indiferenciada a célula mais aguda a leucemia, levando, freqüentemente, à morte dentro de poucos meses se não for tratada. Com algumas das células mais diferenciadas, o processo pode ser crônico, desenvolvendo-se algumas vezes, lentamente no decorrer de 10 a 20 anos. As células leucêmicas, particularmente as muito indiferenciadas, não costumam ser funcionais para proporcionar a proteção habitual associada aos leucócitos contra infecção (RANG, et al., 2007). Os tumores mielóides são tumores principalmente de adultos que se dividem em três grupos: Leucemias Mielóides Agudas (LMA), Distúrbios Mieloproliferativos Crônicos (DMC) e Síndrome Mielodisplásica (SM). Na LMA as células contém diversas lesões genéticas que freqüentemente levam a expressão de fatores de transcrição anormais que bloqueiam a diferenciação da célula mielóide. Compreendem em células imaturas de linhagem mielóide (mieloblastos), que substituem a medula óssea e suprimem a hematopoese normal (figura 1). No DMC os tumores são indolentes nos quais a produção de células está inicialmente aumentada, levando a contagens elevadas no sangue e hematopoese extramedular. Na SM os grupos de tumores mielóides caracterizados por hematopoese desordenada e ineficaz. A maior parte dos pacientes apresenta pancitopenia, e muitos progridem para um estado da doença que é idêntico a LMA (ROBBINS, et al., 2008). As Leucemias Linfóides Agudas B (Nalm6) são causadas pela produção cancerosa de células linfóides, que surgem, em geral, na medula ou nos blastos linfóides chamados de linfonodos, ou outro tecido linfóide e, a seguir, disseminamse para outras áreas do corpo (GUYTON; HALL, 2001). Já as neoplasias linfóides são classificadas com base na célula de origem e no estágio de diferenciação. Os tipos mais comuns nas crianças são as leucemias 28 linfoblásticas agudas e os linfomas, que são derivados de precursores das células B e T (figura 1). São tumores altamente agressivos que se apresentam com sintomas de falência da medula óssea, ou como massas de crescimento rápido. As células tumorais contêm lesões genéticas que bloqueiam a diferenciação, levando ao acúmulo de blastos imaturos que não podem atuar como células imunes. Os tipos mais comuns nos adultos são os linfomas não - Hodgkin, derivados das células B dos centros germinativos. Podem ser indolentes, como no caso do linfoma folicular, ou agressivo como no caso do linfoma difuso das grandes células B. Algumas vezes, interferem no sistema imune, desregulando a função normal das células B e T (ROBBINS, et al., 2008). Figura 1: Gênese das células sanguíneas e linfócitos. (Adaptado de: INCA, 2010). 29 3.3 Aspectos sobre doenças parasitárias As parasitoses continuam sendo responsáveis por elevadas taxas de mortalidade no Brasil e em diversos países latino-americanos. Embora consideráveis esforços destinados à pesquisa e desenvolvimento de vacinas tenham ocorrido na última década, ainda não houve uma implantação de uma imunoprofilaxia eficaz contra protozoários e parasitas. Além disso, programas de erradicação de doenças vetoriais, baseados em combate ao inseto vetor, freqüentemente são fadados ao fracasso devido ao elevado custo e resistência aos inseticidas utilizados (BRESOLIN, CECHINEL FILHO, 2010). As doenças parasitárias são consideradas como um problema de saúde pública, pois disponíveis para o tratamento há um limitado número de fármacos, e mesmo assim os que existem, apresentam significativos efeitos colaterais. Para tanto, faz-se necessário uma busca de novos agentes antiparasitários a partir de substâncias naturais que sejam menos nocivos ao organismo sadio e mais efetivo no tratamento da parasitose. Embora muitas substâncias naturais apresentem promissora atividade antiparasitária, o desenvolvimento de um novo medicamento aprovado em todos os testes clínicos ainda é uma realidade distante. Um levantamento realizado sobre os novos fármacos desenvolvidos entre 1975 e 1996 revelou que de 1.223 novos fármacos, somente 1% (11 novas substâncias e 2 formulações) foram destinados para o tratamento de doenças tropicais (BRASIL, 2007). 3.3.1 Leishmaniose A Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) tem ampla distribuição mundial e no continente Americano onde há registros de casos desde o extremo Sul dos Estados Unidos até o Norte da Argentina, com exceção do Chile e do Uruguai. Ela é um problema de saúde pública em 88 países distribuídos em quatro continentes (Américas, Europa, África e Ásia), com registro anual de 1 a 1,5 milhões de casos. É considerada pela OMS, como uma das seis mais importantes doenças infecciosas, pelo alto coeficiente de detecção e capacidade de produzir deformidades. No Brasil a LTA é uma doença com uma diversidade de agentes, de reservatórios e de vetores que apresenta diferentes padrões de transmissão e um 30 conhecimento ainda limitado sobre alguns aspectos, o que a torna de difícil controle (BRASIL, 2007). A LTA é uma doença infecciosa, não contagiosa, causada por diferentes espécies de protozoários do gênero Leishmania, que acomete pele e mucosas. Primariamente é uma doença de infecção zoonótica, afetando outros animais, e posteriormente vindo a afetar o ser humano. A Leishmania é um protozoário pertencente à família Trypanosomatidae, sendo um parasita obrigatório das células fagocíticas mononuclear, com duas formas principais: uma flagelada ou promastigota (figura 2 A), encontrada no tubo digestivo do inseto vetor, e outra aflagelada ou amastigota (figura 2 B), observada nos tecidos dos hospedeiros vertebrados (BRASIL, 2007). Figura 2: Leishmania, (A) forma flagelada ou promastigota; (B) forma aflagelada ou amastigota (Adaptado de: BRASIL, 2007). Nas Américas são conhecidas onze espécies de Leishmania causadoras da doença humana, e oito descritas apenas em animais. No entanto, no Brasil já foram identificadas sete espécies, sendo seis do subgênero Viannia e uma do subgênero Leishmania. Os vetores da LTA são insetos denominados flebotomíneos, pertencentes ao Gênero Lutzomyia, conhecidos como mosquito palha, tatuquira birigui entre outros. Como reservatórios silvestres algumas espécies de roedores, marsupiais, edentados e canídeos silvestres. Nos animais domésticos, os registros são numerosos, mas podem ser considerados hospedeiros acidentais da doença. As manifestações da LTA nesses animais são semelhantes as da doença humana, onde o parasitismo ocorre preferencialmente em mucosas das vias aerodigestivas superiores. O modo de transmissão (figura 3) é pela picada do inseto transmissor infectado. Não há transmissão de pessoa para pessoa. O período de incubação 31 varia em média de dois a três meses, podendo variar de duas semanas a dois anos (BRASIL, 2007). Figura 3: Ciclo biológico de Leishmania no vetor e no vertebrado. (Adaptado de: BRASIL, 2007). O tratamento das leishmanioses baseia-se em dois antimoniais pentavalentes, o estibogluconato de sódio (Pentostan®) (8) e o antimoniato de meglumina (Glucantime®) (9). Alternativamente, o antimicrobiano Anfotericina B (10) e a diamina aromática Pentamidina (11) são utilizados clinicamente no tratamento das formas mucocultâneas graves ou em casos não responsivos ao tratamento de antimoniais (McMURRY, et al., 2005). OH O H2N NH2 O NH 2 O O HO OH O COOH HO HO H2N NH2 HO O OH O Pentostan® (8) HO H OH O O 2Sb O COOH OH O O 2Sb O H OH O OH Glucantime® (9) 32 OH H HO OH O H O OH OH OH OH OH O O OH H O O HO H OH NH2 Anfotericina B (10) O O H2N NH2 NH NH Pentamidina (11) 3.3.2 Malária A malária é mundialmente um dos casos mais sérios de problemas de saúde pública, causada por protozoários do gênero Plasmodium e transmitida ao homem por fêmeas de mosquitos do gênero Anopheles, produzindo febre, além de outros sintomas. É considerada como uma importante doença parasitária conhecida por séculos em muitas partes do mundo, como impaludismo, febre palustre, maleita e sezão (figura 4). Dados da OMS mostram que o seu impacto sobre as populações humanas continua aumentando: ocorre em mais de 90 países, pondo em risco cerca de 40% da população mundial. No Brasil, o maior número de casos é registrado na região Amazônica, cujas condições ambientais e socioculturais favorecem a expansão de sua transmissão. Tradicionalmente o diagnóstico da doença é feito por visualização microscópica do plasmódio em exame da gota espessa de sangue, corada pela técnica de Giemsa ou de Walker. No Brasil devido à grande extensão geográfica da área endêmica e as condições climáticas, favorecem o desenvolvimento dos transmissores e agentes causais da malária (BRASIL, 2005). 33 Figura 4: Ciclo de vida da malária no vetor e no vertebrado (Adaptado de: BRASIL, 2005). Como tratamento para a malária tem-se fármacos que visam impedir às recidivas da infecção e eliminar os gametócitos, afetando deste modo a cadeia de transmissão da parasitose. Entre eles tem-se o alcalóide quinina (12) e o sesquiterpeno lactona artemisina (13) extraídas da Chinchona succirubra e Artemisia annua. Devido à resistência a estes fármacos foi necessário o desenvolvimento de novos análogos sintetizados, como é o caso da cloroquina (14) e da mefloquina (15) (McMURRY, et al., 2005). H H N H HO H3CO N Quinina (12) O O O HO H O Artemisina (13) 34 CF 3 Cl N HN N N Cloroquina (14) HO CF 3 H N Mefloquina (15) 3.4 Aspectos botânicos do gênero Drimys A família Winteraceae consiste de árvores e arbustos que são encontrados em toda a América Central e do Sul. Ela contém aproximadamente cem espécies com seis ou sete gêneros (WILLIANS; HARVEY, 1982). A Drimys seção wintera é nativa do sul do Brasil e de alguns outros países da América do Sul. Ela é conhecida como cataia, casca-d’-anta, caá-pororoca, canela-amarga, capororoca-picante, carne-d’-anta, melambo, melambó, para-tudo, pau-pra-tudo. A denominação winter é devido ao capitão Winter que utilizou as cascas da Drimys para tratar a sua tripulação de escorbuto. A casca das espécies de Drimys era comercializada como “Casca de Winter” ou “Cortex Winteranus” (TRINTA; SANTOS, 1997). Pio Correa (1931) relata que o nome vernáculo cascada-anta provém do folclore dos aborígenes Araucanos onde estes relatam que quando a anta (Tapirus americanus) se vê doente recorre a cascas desta espécie. A Drimys brasiliensis também conhecida como casca-da-anta é muito utilizada como substituto da pimenta do reino na culinária, além de ser utilizada na medicina tradicional como carminativa e estomáquica. Ela também é altamente recomendada para problemas gástricos e intestinais, incluindo dispepsia, disenteria, náuseas, dores intestinais e cólicas bem como febre e anemia. Ainda pode-se citar atividade antiespasmódica, aromática, contra hemorragia uterina e, algumas vezes no tratamento do câncer (ANDRÉ, et al., 1999; 2003; 2004; FORSBY; WALUM, 1996; FORSBY, et al., 1998; SILVA, 2009). A planta apresenta-se como uma árvore com 4 a 8 metros de altura, dotada de uma copa globosa e densa. O tronco é geralmente tortuoso, de 30 a 40 cm de diâmetro, com casca rugosa de cor cinza. Folhas simples, glabras, de coloração verde mais clara na face inferior, com 8 a 12 cm de largura. Inflorescências em panículas terminais, com flores brancas. Fruto do tipo baga subglobosa, contendo 2 35 a 5 sementes pretas. A sua ocorrência é em todo o Brasil, em várias formações florestais, porém principalmente em matas ciliares e na floresta semidecídua de altitude. Planta perenifólia, heliófita, seletiva e higrófita. Dependendo do local de ocorrência pode variar em porte avaliando-se de norte a sul do país, indo de 7 a 9 metros de altura (figura 5). Pode florescer até duas vezes por ano, porém com maior intensidade em julho a agosto. E os frutos amadurecem em outubro a novembro (LORENZI, 2002). O gênero Drimys em Santa Catarina ocorre duas espécies, D. winteri e D. brasiliensis, as quais são utilizadas na região do Planalto Catarinense como condimento para carnes, transformando-se suas cascas em pó e utilizando-o como substituto da pimenta-do-reino (SIMÕES, et al., 1986). Figura 5: Drimys brasiliensis: aspecto geral da planta adulta. (Fonte: Autora). 36 A Drimys possui a seguinte classificação taxonômica (BARROSO, 1991): Filo: Magnoliophyta (Angiosperma), Classe I: Magnolitae (Dicotiledônea), Subclasse: Magnoliidae, Ordem: Magnoliales, Família: Winteraceae, Gênero: Drimys, Espécie: Drimys brasiliensis. 3.5 Aspectos químicos e farmacológicos do gênero Drimys O gênero Drimys destaca-se por apresentar metabólitos secundários responsáveis por diversos efeitos farmacológicos comprovados cientificamente, incluindo atividades antiinflamatória, antibacteriana, antifúngica, citotóxica, moluscicida, piscicida, antihelmíntica e reguladora do crescimento de plantas. Entre as principais classes de substâncias encontradas são os sesquiterpenos drimanos, flavonóides e aromadendranos (MORTON, 1981; SIMÕES, et al., 1986; ANDRÉ, et al., 1999; 2003; 2004; JANSEN e GROOT, 2004). Mendes e colaboradores (1998), utilizando o extrato hidroalcoólico de cascas de D. winteri e o sesquiterpeno isolado poligodial (16), investigaram as propriedades antiiperalgésicas em modelo de contorções abdominais induzidas por três agentes químicos irritantes: ácido acético, zimosan e kaolin e o modelo de edema de pata causado por formalina e capsaicina. O extrato não exibiu efeito nos modelos analisados, mas o poligodial (16) produziu uma inibição dose-dependente das contorções abdominais provocadas pelos agentes químicos. O extrato das cascas e o poligodial (16) também foram avaliados em modelos experimentais afim de verificar as atividades antiinflamatórias e antialérgicas: o modelo de edema de pata induzido por agentes químicos (prostaglandina E2, bradicinina (BK), substância P (SP), dextrano, fator de ativação plaquetária (PAF) e carragenina); o modelo de pleuresia (SP, BK, des-Arg9-BK, histamina, carragenina e PAF); e o modelo de edema de orelha (ácido araquidônico, capsaicina e óleo de cróton), em camundongos. Nos três modelos o poligodial (16) exibiu resultados satisfatórios. Ele protegeu o tecido tratado com os agentes flogísticos evitando a extensão da lesão tanto no edema de orelha quanto 37 de pata. também evitou o choque anafilático provocado pela ovoalbumina no método de edema de pata. Para a pleuresia houve inibição significativa comprovada pela diminuição da exudação e influxo celular para a área lesionada do parênquima pulmonar e a resposta inflamatória foi reduzida, comprovando seu efeito antiinflamatório e antialérgico (CUNHA, et al., 2001). Cechinel Filho e colaboradores (1998) estudaram as frações diclorometano e acetato de etila obtidas do extrato metanólico das cascas de D. winteri. Neste estudo, verificou-se que o poligodial (16), o 1-β-(p-metoxicinamil)-poligodial (17), a taxifolina (18) e a astilbina (19) estavam presentes nas frações obtidas. As substâncias foram avaliadas em modelos de contorções induzidas por ácido acético. O poligodial (16) e o 1-β-(p-metoxicinamil)-poligodial (17) foram responsáveis pela ação antinociceptiva, sendo mais potentes que a aspirina e o paracetamol, utilizados como fármacos de referência. Em trabalho similar, André e colaboradores (2004), utilizando o poligodial (16) e o drimanial (20) em ratos neonatos, observaram uma pronunciada inibição da nocicepção e da hiperalgesia térmica quando adultos utilizando o modelo de indução por capsaicina. O CHO O CHO CHO CHO MeO H Poligodial (16) 1-β-(p-metoxicinamil)-poligodial (17) OH OH OH HO O OH HO O OH OH O Taxifolina (18) ORamnose OH O Astilbina (19) Considerando os resultados promissores obtidos para o poligodial (16), foi investigado o seu potencial de inibição de receptores muscarínicos agonistas de acetilcolina ativados (mAChR) na transdução de sinal em células de neuroblastoma humano SH-SY5Y. Este provocou uma inibição de carbacol e a produção de 38 inositol fosfato em 79 e 84%, respectivamente. Quando foi avaliada a sua ação comparando com a toxina pertussis (PTX), utilizada como modelo padrão de inibição, ele foi aproximadamente 50% mais potente que a toxina, em termos de diminuição do carbacol induzido por afluxo de Ca2+. Dessa forma conclui-se que o poligodial inibiu a transdução de sinal de mAChR em células SH-SY5Y e que o local de ação inibitória não está localizado na mAChR, mas no nível da proteína-G ou a jusante da via de transdução de sinal (FORSBY, et al., 1998). A ação vasorrelaxante do poligodial (16) foi avaliada sobre a ação mediada pela liberação de óxido nítrico (NO) ou por uma substância relacionada no endotélio vascular. Ele produz também relaxamento nos anéis da artéria pulmonar do coelho e na artéria pulmonar torácica da aorta e no endotélio da cobaia. Os resultados sugerem que os canais de Ca 2+ e K+ não estão envolvidos na ação vasorelaxante na artéria pulmonar nem na artéria torácica da aorta. Mas, no endotélio da cobaia os canais sensíveis ao trifosfato de adenosina (ATP) podem ser ativados, e dessa forma, pode-se explicar em parte a sua ação vasorelaxante (ANDRÉ, et al., 1999; 2004). Também foi testado a ação vasorrelaxante in vitro do poligodial (16) sobre a veia porta de ratos. Constatou-se que houve uma significativa diminuição das contrações sugerindo que houve um relaxamento muscular provavelmente associada ao influxo de cálcio dos canais sensíveis a voltagem e a interação dos mecanismos da proteína quinase-Ca dependente (EL SAYAH, et al., 2000). Também foi observada a ação sobre a enzima que hidrolisa o ATP (ATPase) mitocondrial do poligodial (16). Ele inibiu fortemente a síntese de ATP acoplado a oxidação de partículas de succinato submitocondriais do coração. Sendo assim, ele é um potente inibidor da síntese de ATP mitocondrial. Apesar dele não aumentar a permeabilidade da membrana mitocondrial interna aos prótons, o mais provável mecanismo de ação seria um desacoplamento na síntese de ATP na cadeia transportadora de elétrons, onde pode ser verificado e explicado pela mudança das propriedades elétricas da membrana, ou seja, há uma despolarização quando na presença da substância e, consequentemente, o colapso do potencial de membrana. Com isso há um desequilíbrio no pH interno com o pH transmembrana causando assim, a ruptura da célula (CASTELLI, et al., 2005). Outro drimano que merece destaque é o drimanial (20) isolado das cascas de D. winteri. Este apresentou ação antinociceptiva nos modelos de dor induzida 39 por ácido acético, formalina, capsaicina e glutamato. Comprovou-se sua ação em ratos ao nível local, periférico, espinhal e supra-espinhal, além de haver uma interação com os receptores de glutamato metabotrópicos, contribuindo assim para os mecanismos de ação antinociceptiva. O drimanial (20) e poligodial (16) inibiram a captação de glutamato pelos astrócitos, analisados em cortes histológicos do córtex, hipocampo e corpo estriado. Foi observado um aumento da liberação de glutamato por sinaptossomas. Estes efeitos simultâneos predispõem a um aumento da concentração do glutamato extracelular, levando a possíveis efeitos neurotóxicos (excitotoxicidade) destas substâncias. Por isso a necessidade de alguma cautela na sua aplicação terapêutica (MALHEIROS, et al., 2001; SCHEIDT, et al., 2002; MARTINI, et al., 2007). O O CHO CHO MeO OH Drimanial (20) Em preparações de membrana de córtex de camundongos o drimanial (20) inibiu o “binding” de [3H]Glutamato. Nos experimentos de nocicepção induzida por formalina, hiperalgesia térmica e edema de pata, hiperalgesia termal e extravasamento plasmático induzido por capsaicina e tratamento neonatal também foi verificado o efeito antiinflamatório e antinociceptivo desta substância (ANDRE, et al., 2004). Os sesquiterpenos drimanos, o drimanial (20) e poligodial (16) também foram avaliados sobre os receptores potenciais vanilóides transitórios 1 (TRPV1) em bexiga urinária isolada de ratos. Ambos produziram uma contração mediada por taquicinina que foi inibida pela combinação dos receptores antagonistas. Estas substâncias em conjunto com a capsaicina promoveram um aumento da captação de Ca2+ em sinaptossomas de medula espinhal, e em níveis intracelulares em culturas de neurônios trigêmeos de ratos. Em resumo, os resultados sugerem que estes drimanos parecem ser parcialmente mediados pela ativação direta e/ou indireta de TRPV1 (ANDRE, et al., 2006). 40 Witaicenis e colaboradores (2007) comprovaram a atividade antiulcerogênica de extratos etanólicos de cascas e folhas de D. angustifolia. Os extratos das cascas e folhas na dose de 250 mg/kg, apresentaram atividade antiulcerogênica no modelo de etanol/HCl. Eles inibiram a lesão em 81,42% e 76,50%, respectivamente, sendo maior que o fármaco de referência a carbenoxolona. Possivelmente a atividade antiulcerogênica pode estar relacionada com a presença dos sesquiterpenos drimanos. Em um estudo biodirecionado em plantas do gênero Tasmannia utilizando o extrato metanólico das folhas de T. lanceolata, Matsuda e colaboradores (2002), avaliaram o potencial inibitório contra úlcera gástrica induzida por etanol em ratos. Foram isoladas quatro substâncias: o poligodial (16), poligodial 12α-acetal (21), poligodial 12β-acetal (22) e metil isodrimeninol (23). Entre eles, o poligodial (16) se mostrou muito potente sobre o efeito gastroprotetor (ED50= 28 µg/kg, via oral). O trabalho sugere que a ação gastroprotetora do poligodial (16) é particularmente mediada pelas interações com neurônios sensoriais via receptores vanilóides. MeO MeO O OMe H 12α-acetal (21) MeO O O OMe H Poligodial 12α-acetal (22) H Metil isodrimeninol (23) A atividade antifúngica também é relatada no gênero Drimys. Malheiros e colaboradores (2005), realizaram um fracionamento biomonitorado do extrato clorofórmico das cascas. Foram isolados os sesquiterpenos poligodial (16), 1-β-(pmetoxicinamil)-poligodial (17), drimanial (20) e 1-β-(p-cumaroiloxi)-poligodial (24), que foram seletivamente ativos contra os dermatófitos Epidermophyton floccosum e Tricophyton rubrum. O poligodial (16) inibiu ativamente E. floccosum com valores de concentração inibitória mínima (CIM) de 3 µg/mL. O 1-β-(p-metoxicinamil)poligodial (17), o drimanial (20) e o 1-β-(p-cumaroiloxi)-poligodial (24), inibiram esses fungos em concentrações superiores ao poligodial (16), em torno de 25 µg/mL. Assim demonstrou-se que as três substâncias contribuem para a atividade atifúngica observada nas cascas. 41 O O HO CHO CHO 1-β-(p-cumaroiloxi)-poligodial (24) Investigando a depleção de glutationa em Saccharomyces cerevisiae, Machida e colaboradores (1999), utilizando a substância isolado poligodial (16), verificaram houve uma forte atividade fermentativa, e detectaram a produção de espécies reativas de oxigênio (ROS) em um nível mais significativo podendo ser identificados com uma sonda fluorescente. A produção de ROS em células tratadas com poligodial (16) foi confirmado pela sua eliminação e o acompanhado pelo processo protetor contra os efeitos fermentativos na presença de antioxidantes tais como ascorbato e α-tocoferol. Poligodial (16) poderia acelerar a produção de ROS apenas em células da linhagem Grande do tipo selvagem, mas não nas mutantes deficientes de respiração, indicando o seu papel interferente na cadeia mitocondrial de transporte de elétrons na produção de ROS. Diferentemente do caso com uma antimicina que acelera a produção de ROS por atacar diretamente o fluxo de elétrons mitocondriais, o poligodial (16) causa a depleção de glutationa citoplasmática e mitocondrial, que funciona em eliminar ROS inevitavelmente gerados durante o crescimento aeróbio. O esgotamento do poligodial (16) mediada pela glutationa intracelular pode, possivelmente, ser dependente de uma interação direta entre a sua porção enal e o grupo sulfidrila da cisteína em glutationa. Tentando descobrir como o poligodial (16) age como agente antifúngico, Fujita e Kubo (2005), realizaram um ensaio de atividade antifúngica com Saccharomyces cerevisiae. O poligodial (16) num primeiro momento atua como um agente de superfície (surfactante) e, em seguida, torna-se envolvido em processos bioquímicos. A capacidade de formar um derivado pirrol com um grupo de amina primária de fosfatidiletanolamina (PE) e fosfatidilserina (PS) na monocamada externa da membrana plasmática é provável que, em parte, seja um passo inicial para a ação antifúngica do poligodial (16). A ação primária fungicida do poligodial (16) vem de sua capacidade de agir como um surfactante que inespecíficamente interrompe a interface de proteínas, lipídios, proteínas integrais, desnaturando a 42 sua conformação funcional. Depois o poligodial (16) entra no citoplasma, destruindo a barreira de membrana, reagindo com L-cisteína contida no material citoplasmático, com uma pequena molécula de glutationa, e com a enzima álcool desidrogenase, para potencializar a ação antifúngica. Em estudo mais recente realizado por Silveira (2011), foi estudada a atividade antibacteriana, de diferentes extratos brutos, frações e substâncias de D. brasiliensis ultilizando a metodologia de diluição de ágar. Neste mesmo estudo foi avaliado o potencial citotóxico dos extratos brutos utilizando-se o microcrustáceo Artemia salina. Nos ensaios de bioautografia das frações, verificou-se as frações que continham as substâncias de interesses e que exerciam atividade biológica, guiando assim a parte fitoquímica para o isolamento. O extrato clorofórmico de cascas de D. brasiliensis e as substâncias isoladas espatulenol, poligodial e 1-β-(pmetoxicinamil)-poligodial apresentaram promissora atividade inibitória contra as bactérias Gram positivas com CIM entre 31,25 e 250 µg/mL, mas se mostraram inativos contra as Gram-negativas. O poligodial apresentou melhor atividade contra Helicobacter pylori, com CIM de 250 µg/mL. Tanto o extrato clorofórmico quanto as frações apresentaram elevada toxicidade sobre a Artemia salina, evidenciando que possam ter substâncias citotóxicas no extrato. Existem alguns estudos avaliando o potencial antitumoral de sesquiterpenos drimanos. A respeito da indução de inositol fosfato em linhagens de células de neuroblatoma humano (SH-SY5Y), Forsby e Walum (1996), investigaram o efeito do isoveleral (25), poligodial (16) e epipoligodial (26) sobre a formação de inositol fosfato (IP) supondo que poderia haver uma correlação entre a liberação de Ca 2+ intracelular e pungência das substâncias. Verificou-se que poligodial (16) induz a mobilização de IP de uma forma dependente da concentração, enquanto isoveleral (25) não teve efeito sobre a formação IP nas células SH-SY5Y. O volume de fosfoinositídeo (PPI) foi ativada por epipoligodial (26), mas apenas em concentrações 40 vezes superiores ao poligodial (16). Isto enfatiza a importância da correta esteriometria na configuração dialdeído para a atividade biológica do poligodial (16). A formação induzida do IP por poligodial (16) foi reduzida em 71% sob condições extracelulares livres de cálcio, o que sugere interações entre a formação IP e o aumento da [Ca 2+]i para esclarecer uma ativação periódica da fosfolipase C (PLC). 43 Num estudo mais recente realizado por Silva (2009), foi avaliada a ação citotóxica dos extratos clorofórmicos das cascas, caules e folhas da D. brasiliensis e os sesquiterpenos drimanos drimanial (20) e 1-β-(p-metoxicinamil)-poligodial (17), isolados do extrato clorofórmico das cascas, em células tumorais Hela (Adenocarcinoma Epitelial de Cérvix Humano) e não tumorogênica L929 (Fibroblasto Murino). Os resultados obtidos mostram que os extratos clorofórmicos das folhas e do caule não apresentam elevado grau de citotoxicidade nos modelos avaliados. O extrato clorofórmico das cascas apresentou um efeito tóxico em células não tumorogênicas de fibroblasto L929 somente em altas concentrações como a de 100,0 µg/mL com CI50 > 100,0 µg/mL sugerindo baixa citotoxicidade nos tempos de 24 e 48 horas de incubação. Nas células tumorais Hela observou-se um aumento na potência citotóxica com CI 50 de 61,2 e 18,0 µg/mL para os tempos de 24 e 48 horas, respectivamente. O drimanial (20) apresentou grau de citotoxicidade em células L929 com IC50 26,4 µg/mL e Hela 10,0 µg/mL para 24 horas de incubação. Houve um aumento na potência citotóxica com o tempo de 48 horas de incubação para células L929 e Hela com CI 50 de 16,7 e 8,8 µg/mL, respectivamente. O 1-β-(p-metoxicinamil)-poligodial (17) apresentou citotoxicidade em células L929 e Hela após 48 horas de contato com CI 50 de 10,1 e 7,7 µg/mL, respectivamente, sugerindo um potencial citotóxico para ambos os drimanos avaliados. CHO CHO CHO CHO Isoveleral (25) H Epipoligodial (26) Investigando a possível atividade antialimentar, Zapata e colaboradores (2009) investigaram os extratos da casca e do caule (hexano, acetona e metanol:água [80:20]) e os drimanos isolados drimendiol (27), isodrimenol (28), isotadeonal (29) e poligodial (16) isolados de D. winteri contra larvas e lagartas de Spodoptera littoralis (Noctuidae). O extrato hexano (5000 ppm) e o poligodial (16) (1000 ppm) apresentaram atividade antialimentar comprovada no crescimento e desenvolvimento das larvas. Já para o teste de toxicidade as substâncias isoladas 44 poligodial (16) e isodrimenol (28) apresentam efeitos tóxicos a níveis fisiológicos, sendo que o poligodial (16) foi o mais potente inibidor de crescimento de S. littoralis: CI50 = 708 ppm e EC50 = 198 ppm, respectivamente. HO OH O CHO CHO OH Drimendiol (27) H H H Isodrimenol (28) Isotadeonal (29) Também vale destacar no Gênero Drimys a presença de óleo essencial. Comparando o óleo essencial das folhas, cascas e frutos de D. brasiliensis Miers e D. angustifolia Miers por cromatrografia gasosa (CG) e cromatrografia gasosa acoplada a espectroscopia de massas (CG/MS), Limberger e colaboradores (2007), mostraram que há uma predominância de monoterpenos nas folhas, e que nas cascas, há predominância dos sesquiterpenos drimanos. Entre as substâncias majoritárias o biciclogermacreno (30) (20,0% nas folhas e 25,4% na casca do caule) e drimenol (31) (1,4% nas folhas e 26,2% na casca do caule) foram os mais abundantes na D. angustifolia, e ciclocolorenona (32) (de 16,0% para 32,3% em folhas frescas e secas e quase 50% na casca do caule) em D. brasiliensis. O óleo de frutos de D. brasiliensis também foi analisado e apresentou 31,0% de ciclocolorenona (32). A predominância deste sesquiterpeno incomum do tipo aromadendrano nos óleos essenciais de D. brasiliensis pode ser usado como um marcador quimiossistemático. Isto se deve ao fato de que este sesquiterpeno aparece apenas no gênero Drimys, tornando-se um diferencial químico das demais plantas. Apenas a sua concentração varia de espécie para espécie, servindo assim como um elemento de referência para a distinção dentro do gênero. OH O H Biciclogermacreno (30) Drimenol (31) Ciclocolorenona (32) 45 3.6 Técnicas de fracionamento, isolamento e identificação de produtos naturais Quando se destina a obtenção de substâncias bioativas numa planta, deve se priorizar a preservação de sua integridade química e farmacológica, garantindo a constância de sua ação biológica e a segurança de sua utilização, além de valorizar o seu potencial terapêutico (PETROVICK, et al., 2007). A preparação dos extratos brutos das plantas deve ser a etapa mais importante e a que precisa ter mais cuidado para se realizar. A escolha do solvente também é de grande importância para que a extração ocorra de forma a separar as substâncias presentes no extrato. (FALKENBERG; SANTOS; SIMÕES, 2004). Na investigação de constituintes presentes no extrato de uma planta, podese recorrer a um fracionamento do extrato total a fim de se separar as diferentes classes de substâncias presentes por meio de solventes que podem separar por diferença de polaridade. A separação e a purificação dos constituintes químicos são realizadas por técnicas cromatográficas, nas quais duas ou mais substâncias em uma mistura podem ser separados fisicamente por diferença de polaridade e as suas distribuições se dão entre duas fases: uma fase estacionária, que pode ser um líquido ou um sólido ou um líquido suportado num sólido e uma fase móvel, um gás ou um líquido, que flui continuamente pela fase estacionária (DI STASI, 1996). Na cromatografia líquida clássica (CLC), a fase móvel é arrastada através da coluna apenas por força da gravidade, enquanto que na cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) e na cromatografia flash (CF) se utilizam fases estacionárias de partículas menores, sendo necessário o uso de uma bomba de alta pressão para eluição da fase móvel. As separações também podem ser realizados por cromatografia gasosa simples (CG) e por cromatografia gasosa de alta resolução (CGAR). A diferença entre as duas reside nos tipos de colunas utilizadas. Enquanto na CGAR são utilizadas colunas capilares, nas quais a fase estacionária é um filme depositado na coluna, a outra tem uma fase estacionária formada por sílica. Já o cromatotron é uma cromatografia em camada delgada preparativa (CCDP) e acelerada centrifugamente. É composto por um sistema com uma placa circular de cromatografia em camada delgada inclinada, o que permite mais eficácia na coleta das substâncias ou frações. A cromatografia em camada delgada (CCD) é uma 46 técnica de adsorção líquido/sólido. Nesse caso, a separação dos componentes da mistura ocorre em função da migração diferencial sobre uma camada delgada de adsorvente, fixo numa superfície plana, por meio de uma fase móvel (um líquido ou misturas de líquidos) (AQUINO NETO, 2003). Entre as técnicas de identificação, a espectroscopia de infravermelho, é utilizada para identificação e comparação de substâncias orgânicas, verificação do grau de pureza e acompanhamento de reações (SILVERSTEIN; BASSLER; MORRIL, 1994; PAVIA, et al., 2010). É a técnica que abrange a faixa 4000 e 400 cm-1 no espectro eletromagnético, fornecendo informações sobre as características da molécula como um todo, de seus grupamentos funcionais, originando bandas que ocorrem na mesma frequência, independente da estrutura da molécula (SILVERSTEIN; BASSLER; MORRIL, 1994; NIERO et al., 2003; PAVIA, et al., 2010). O método destina-se tanto à análise qualitativa quanto à quantitativa, de sólidos, líquidos ou gases. A quantidade de analito usada é muito pequena, da ordem de miligramas e a amostra não é destruída no ensaio podendo ser recuperada após a medida do espectro. A interpretação do estado de absorção no infravermelho é uma ferramenta essencial para caracterizar grupamentos funcionais (COSTA NETO, 2004). A Ressonância Magnética Nuclear (RMN) ocorre com átomos quando as seguintes condições são atendidas: o átomo possuir um valor de spin nuclear maior do que zero; o átomo, na molécula, estar sujeito a um campo magnético externo; o sistema ser irradiado com radiação eletromagnética; ter relação entre valores do spin nuclear, campo magnético externo e frequência de irradiação (SILVERSTEIN; BASSLER; MORRIL, 1994; PAVIA, et al., 2010). Na Ressonância Magnética Nuclear de Hidrogênio RMN de 1 H, cada hidrogênio eletronicamente distinto em uma molécula normalmente possui sua própria absorção. Um dos usos da RMN de 1H é encontrar quantos tipos de hidrogênios não equivalentes estão presentes (McMURRY, 2005; PAVIA, et al., 2010). Três são as informações mais relevantes que o espectro de RMN de 1H fornece para fins de caracterização de cadeias hidrocarbônicas: o deslocamento químico, o desdobramento e a intensidade dos picos (COSTA NETO, 2004; PAVIA, et al., 2010). Os dados obtidos com esse método espectroscópico são muito 47 importantes para a elucidação estrutural de praticamente todas as classes de produtos naturais, incluindo metabólitos secundários vegetais. Na Ressonância Magnética Nuclear de Carbono RMN de 13 C é possível observar o número de diferentes átomos de carbono em uma molécula de estrutura desconhecida. O deslocamento químico de cada ressonância de carbono 13 depende do ambiente eletrônico do carbono na molécula (McMURRY, 2005). Os espectros de RMN de hidrogênio e carbono 13 são os mais utilizados e sua interpretação permite caracterizar o número e o tipo de átomos de hidrogênio e carbono, em correspondentes função a da localização absorção de e energia do desdobramento eletromagnética dos sinais (FALKENBERG; SANTOS; SIMÕES, 2004; PAVIA, et al., 2010). Outra técnica de identificação é a Espectrometria de Massas (EM). Ela fornece a massa molecular de uma molécula. Além disso, frequentemente é possível a informação estrutural a respeito de uma molécula, pela medida das massas dos fragmentos produzidos quando as moléculas são fragmentadas (McMURRY, 2005). A massa molecular permite estabelecer a fórmula molecular da substância, enquanto o padrão de fragmentação pode ajudar a caracterizar a presença, bem como a localização de certos grupos funcionais e de cadeias laterais (FALKENBERG; SANTOS; SIMÕES, 2004). Ele pode ser acoplado ao aparelho de cromatografia gasosa (CG/MS), que permite tanto a identificação como a quantificação de componentes de baixo peso molecular, mesmo com misturas complexas. É uma técnica muito utilizada para a análise de óleos voláteis (FALKENBERG; SANTOS; SIMÕES, 2004; PAVIA, et al., 2010). A espectroscopia de ressonância magnética nuclear de 1 H e 13 C complementa a espectrometria de massas e a espectroscopia na região do infravermelho, fornecendo um “mapa” do esqueleto carbono-hidrogênio de uma molécula orgânica. Juntas, as três técnicas possibilitam a determinação das estruturas de moléculas muito complexas (McMURRY, 2005). 48 4 MATERIAL E MÉTODOS 4.1 Coleta do material vegetal Drimys brasiliensis foi coletada em Rancho Queimado, localizado no estado de Santa Catarina em Maio de 2008. A identificação foi realizada anteriormente pelos botânicos Jasper José Zanco (UNISUL) e Prof. Dr. Ademir Reis (UFSC) e teve como resultado a espécie Drimys brasiliensis Miers subsp. sylvatica (Saint Hilaire) Ehrendofer L. Gott sb. Uma exsicata está depositada no Herbário Barbosa Rodrigues (HBR, Itajaí – SC) sob número HBR-2031. 4.2 Materiais e reagentes O perfil cromatográfico por CCD dos extratos e substâncias puras obtidas foi realizado utilizando-se placas de sílica gel 60 GF 254, de 20 µm de espessura preparada sobre folhas de alumínio da Merck. Diferentes sistemas de eluentes foram utilizados dependendo da polaridade das amostras. Após a eluição as cromatoplacas foram visualizadas sob luz ultravioleta antes da revelação destrutiva da amostra. Como revelador na CCD foi utilizado o anisaldeído sulfúrico (AS) (identificação de terpenos e esteróides). As cromatoplacas foram vaporizadas com AS e, em seguida, aquecidas à temperatura de 105°C. Nos procedimentos de cromatografia em coluna, foi utilizada como fase estacionária, sílica gel 60 (Merck) de granulometria 70-230 mesh ( = 0,063 – 0,20 mm). O diâmetro e altura das colunas foram selecionados de acordo com a quantidade do material a ser cromatografado. A eluição foi realizada com solventes orgânicos em ordem crescente de polaridade. Os solventes utilizados foram hexano (Hex), acetato de etila (AcOEt) e metanol (CH 3OH) provenientes dos Laboratórios Dinâmica, Quimex ou Vetec. As frações coletadas foram reunidas conforme as semelhanças de fator de retenção (Rf) identificadas na CCD. Para análise de RMN de 1H e RMN de 13 C foram utilizados solventes deuterados (acetona, clorofórmio e metanol), provenientes da Cambridge Isotope Laboratories Inc. 49 Além dos reagentes citados acima, foram utilizados acetona, clorofórmio, éter, metanol (CH3OH), diclorometano (DCM) e sulfato de sódio, provenientes comercialmente dos Laboratórios Dinâmica, Quimex e Vetec. 4.3 Equipamentos Para visualização da fluorescência das substâncias rastreadas por CCD, foi utilizada radiação ultravioleta Minerallight ( = 254 e 366 nm) em câmara de UVDIST. Os espectros de RMN de 1 H e RMN de 13 C foram realizados em espectrômetro BRUKER AC-300F em 300 MHz; tendo como referência interna o tetrametilsilano (TMS) ou o próprio solvente. Os deslocamentos químicos foram registrados em valores adimensionais (ppm). Os extratos foram concentrados em rotavapor TECNAL TE-2II com controle de temperatura, e pesados em balança analítica SHIMADZU LIBROR-AEG-220 e SHIMADZU LIBROR EB-33OD. 4.4 Obtenção dos extratos de D. brasiliensis As cascas de D. brasiliensis (774,33 g) foram secas em estufa a 40ºC por cinco dias, pulverizadas em um triturador, e posteriormente extraídas por maceração com clorofórmio (CHCl 3) e metanol (CH3OH) a temperatura ambiente por 10 dias cada. Optou-se por este tipo de extração, pois o particionamento não consegue separar as substâncias de interesse farmacológico presentes no material vegetal. Já quando se utiliza como solventes primeiramente o CHCl3 e após ele o CH3OH a separação é bem mais satisfatória. Os sesquiterpenos drimanos, principal classe de compostos presentes na casca e objeto de estudo de nosso trabalho, é extraído mais facilmente no extrato clorofórmico. Os extratos foram concentrados em rotavapor com pressão reduzida para eliminação do solvente, obtendo-se 31,2 e 62,6 g dos respectivos extratos. Os caules (cerca de 700 g), foram processados da mesma forma obtendo-se 17,6 e 14,8 g de extrato de CHCl 3 e CH3OH, respectivamente. 50 De 250 g de folhas foram obtidos similarmente rendendo 24,5 e 10,6 g de extrato de CHCl3 e CH3OH, respectivamente. 4.5 Fracionamento do extrato CHCl3 das cascas de D. brasiliensis Na figura 6 está apresentado o fluxograma dos procedimentos cromatográficos realizados com o extrato clorofórmico das cascas de D. brasiliensis Miers. Este extrato compreende a fração mais rica de substâncias que possuem atividades biológicas comprovadas em estudos anteriores. O extrato e as frações que foram submetidas ao processo cromatográfico foram eluídas com hexano (Hex) 100%, posteriormente misturas de Hex e AcOEt aumentando gradativamente a polaridade e finalizando com EtOH 100%. As frações de cada coluna foram reunidas de acordo com a semelhança observada por CCD e reveladas por anisaldeído sulfúrico (AS) sob aquecimento a 105°C. O extrato CHCl3 das cascas (24,73 g) foi submetido à coluna cromatográfica (CC) utilizando como fase estacionária sílica gel (238,62 g, int 5,4 cm). Esta coluna foi denominada coluna 1. Foram coletadas 70 frações. O volume de cada fração variou de 100 a 20 mL. Da fração 9-21 uma substância denominada de DBF-1 (100,80 mg) foi isolada. Com o sobrenadante da fração 4-21 (1,47 g) da coluna 1 foi realizado nova CC de sílica gel (86,61 g, int 3,5 cm), denominada coluna 2. Foram coletadas 105 frações com aproximadamente 15 mL cada. A coluna 3 foi realizada com a fração 26-35 (650,00 mg) proveniente da coluna 2. A coluna foi empacotada com sílica gel (20,00 g, int 2,5 cm). Foram coletadas 111 frações com aproximadamente 15 mL cada. Da fração 70-71 foi obtida uma substância denominada DBJ-70 (360,00 mg). Da fração 100-105 foi obtida uma substância denominada DBJ-100 (15,40 mg). A coluna 4 foi realizada com a fração 26-30 (1,29 g) da coluna 1, com sílica gel (33,72 g, int 3,0 cm). Foram coletadas 61 frações com aproximadamente 15 mL cada. A coluna 5 foi realizada com a fração 4-8 (690,30 mg) proveniente da coluna 4, com sílica gel (25,90 g, int 2,5 cm). Foram coletadas 48 frações com aproximadamente 15 mL cada. Da fração 11-18 foi obtida uma substância denominada DBI-11 (52,75 mg). 51 A coluna 6 foi realizada com a fração 31-38 (1,59 g) da coluna 1. A coluna foi empacotada com sílica gel (20,22 g, int 2,0 cm). Foram coletadas 135 frações com aproximadamente 15 mL cada. Foi obtida da fração 8-11 uma substância denominada DBK-11 (205,30 mg). Da fração 17-21 foi obtida uma substância denominada DBK-17 (48,10 mg). Da fração 29-43 foi obtida uma substância denominada DBK-29 (189,60 mg). A coluna 7 foi realizada com a fração 39-45 (1,75 g) da coluna 1. Como fase estacionária utilizou-se sílica gel (79,17 g, int 3,5 cm). Foram coletadas 70 frações com aproximadamente 15 mL cada. A coluna 8 foi realizada com a fração 24-33 (595,20 mg) da coluna 7, utilizando com fase estacionária sílica gel (54,19 g, int 2,5 cm). Foram coletadas 30 frações com aproximadamente 15 mL cada. Foi obtido da fração 04-05 uma substância denominada DBX-04 (39,30 mg) e da fração 09 uma substância denominada DBX-09 (41,40 mg). A coluna 9 foi realizada com a fração 48-55 (3,74 g) proveniente da coluna 1. Utilizou-se sílica gel (75,89 g, int 3,5 cm) para o empacotamento. Foram coletadas 91 frações com aproximadamente 15 mL cada. Foi obtido da fração 1120 uma substância denominada DBP-11 (204,00 mg), da fração 21-30 uma substância denominada DBP-21 (128,30 mg) e da fração 44-47 uma substância denominada DBP-44 (1,61 g). A coluna 10 foi realizada com a fração 56-59 (3,60 g) da coluna 1. Como fase estacionária utilizou-se sílica gel (138,70 g, int 5,4 cm). Foram coletadas 60 frações com aproximadamente 15 mL cada. Foi obtida da fração 25-46 uma substância denominada DBV-25 (2,00 g) e da fração 50-55 um substância denominada DBV-50 (175,34 mg). As substâncias isoladas nos diversos procedimentos foram analisadas por RMN para elucidação de sua estrutura. Outras colunas foram realizadas na tentativa do isolamento das substâncias de interesse farmacológico. No entanto, foram omitidas no presente trabalho por não ser possível obter nenhuma substância, com elevado grau de pureza. 52 Figura 6: Fluxograma dos procedimentos cromatográficos do extrato clorofórmico das cascas de D. brasiliensis. 53 4.6 Atividade biológica 4.6.1 Avaliação da citotoxicidade A citotoxicidade dos extratos e substâncias isoladas foram avaliadas nas células K562 (Leucemia mielóide / eritroleucemia Ph +), Nalm6 (Leucemia Linfóide Aguda B), MCF-7 (adenocarcinoma de mama humano (Homo sapiens) (BCRJ CR119)) e B16F10 (melanoma murino (Mus musculus C57BL/6J)). Utilizou-se o ensaio de redução do azul de tetrazólio ou 3-(4,5-dimetiltiazol-2-il)-2,5- difeniltetrazólio brometo (MTT) (Sigma) que permite avaliar a viabilidade celular daquelas que crescem aderidas à superfície das placas. Na figura 7 tem-se um esquema de redução do MTT, que em meio biológico, ocorre pela enzima mitocondrial succinato desidrogenase. N N N NH + N N Br - N S N N N S Figura 7: Metabolização do MTT em sais de formazan em células viáveis. Os testes de citotoxicidade das células K562, Nalm6, MCF-7 e B16F10 foram realizados tanto no Centro Integrado de Pesquisa Oncológica da Infância (CIPOI), UNICAMP sob a colaboração de Alexandre Nowill e Gilberto Carlos Franchi Júnior, como também foram realizado no Laboratório de Cultivo Celular Animal da UNIVALI sob a colaboração do Prof. Dr. Rilton Alves de Freitas. Neste teste, o sal de tetrazólio (MTT), sofre uma redução pela enzima desidrogenase nas mitocôndrias das células vivas, sendo convertido em sal de formazan, onde há formação de cristais de cor azulada, que após diluição por dimetilsulfóxido (DMSO), permite-se a quantificação da viabilidade celular em leitor de microplacas. A atividade enzimática mitocondrial e a viabilidade celular são 54 proporcionais a intensidade da cor, quanto mais cor mais atividade é gerada (MOSMANN, 1983). As células foram plaqueadas, em placas de 96 poços, a 2 x 10 4 células/poço e incubadas com 300 µL de meio Dulbecco’s Modified Eagle’s Minimum Essential Médium (DMEM) suplementado com soro fetal bovino (SFB) a 10% (SFB), 1% de aminoácidos não essenciais e 2 mM de L-glutamina, por 24h a 37ºC em 5% CO 2. A fim de manter todas as células em um mesmo estágio da divisão celular (Go), o meio DMEM com SFB foi substituído por 180 μL de meio DMEM sem SFB e incubado por 1h a 37ºC em 5% CO 2. Posteriormente, foram adicionadas 20 μL das substâncias testes nas diferentes concentrações (0,01; 0,1; 1,00; 10, 100 e 1000 μg/mL), do controle positivo DMSO e do controle negativo (meio DMEM sem SFB) e incubadas por 48h a 37ºC em 5% CO2. Após este tempo foi retirado o meio e adicionado 270 L de DMEM sem SFB e 30 µl de MTT (5 mg/mL) e incubadas por 4h a 37ºC em 5% CO 2. O meio juntamente com o MTT foi retirado, e os cristais de formazan insolúveis foram dissolvidos em 100 µL de DMSO. A determinação da absorbância foi realizada em leitor de microplaca a 570 nm (MOSMANN, 1983). A viabilidade relativa das células relacionadas ao controle sem as substâncias testes foi calculada conforme equação 1. A utilização de fármacos antitumorais na avaliação da viabilidade celular foi realizada para fins comparativos em relação aos extratos e substâncias isoladas. A Vincristina e o Paclitaxel foram testados em apenas células K562, Nalm6 e B16F10. O DMSO foi utilizado como controle interno positivo, enquanto o meio de cultura DMEM sem SFB foi utilizado como controle negativo, com viabilidade celular igual a 100%. Viabilidade relativa = Absorbância da amostra teste x 100 Equação 1 Absorbância do controle 4.6.2 Avaliação da atividade leishmanicida Os testes de atividade leishmanicida em culturas in vitro das linhagens das formas promastigotas de L. amazonensis (PH8), L. brasiliensis (M2903) e L. donovani (PP75) foram realizados no Instituto de Investigaciones Fármaco 55 Bioquímicas (IIFB/UMSA), La Paz, Bolívia sob a colaboração da equipe do Dr. Alberto Giménez, Dr. Efraín Salamanca e Dra. Graice Ruiz. As culturas in vitro dos parasitas foram cultivadas em 26ºC em meio Schineider suplementado com 5% de inativos (56ºC x 30 min) em SFB. Parasitas na fase logarítmica de crescimento, na concentração de 1 x 10 6 parasitas/mL, foram distribuídas em placas de 96 poços em diferentes concentrações das substâncias (100, 50 e 25 μg/mL) foram adicionados. Pentamidina e a Glucantime (50-100 μg/mL) foram utilizadas como fármacos de referência durante as avaliações que foram feitas em triplicata. A concentração inibitória CI50 das substâncias ativas foi determinado pela interpolação linear da curva típica obtida plotando o logaritmo da concentração versus o percentual de inibição, usando como programas de informática para o Logit, o Probit e análise da regressão polinomial. 4.6.3 Avaliação da atividade plasmodicida Os testes de atividade plasmodicida em culturas in vitro das linhagens das formas trofozoítas de Plasmodium falciparum (F32-Tanzânia, linhagem sensível a Cloroquina, gentilmente cedido pelo Dr. Fandeur T., do Instituto Pasteur, Kênia) foram realizados no Instituto de Investigaciones Fármaco Bioquímicas (IIFB/UMSA), La Paz, Bolívia sob a colaboração da equipe do Dr. Alberto Giménez, Dr. Efraín Salamanca e Dra. Graice Ruiz. Os parasitas foram cultivados em meio Instituto Roswell Park Memorial (RPMI) 1640 suplementado com 10% de soro humano e 4% de hematócrito (sangue do grupo O, RH+) a 37ºC em meio anaeróbico (TRAGER; JENSEN, 1976). Os parasitas foram sincronizados até 1% de parasistemia e 2% de hematócrito e foram distribuídos no volume de 100 μL em placas de 96 poços em duplicata. 100 μL de cada diluição da substância (em DMSO, com no máximo 0,1% na concentração final) foram adicionados nos poços. Em seguida os parasitas foram encubados a 37ºC por 48 horas. Um esfregaço foi fixado em CH3OH e corado com Giemsa. A atividade antiplasmodial foi determinada pela observação no microscópio expressos em percentual de inibição (% Inh.) de acordo com a equação 2: 56 % Inh. = (GRL - GRI) X 100 Equação 2 GRL GRL = glóbulos vermelhos não-infectados; GRI = células infectadas. A concentração de inibição de 50% em maturação esquizonte (CI50) foi realizada através do método gráfico usando o programa CRIKET GRAPH 1.3, sobre os ativos que apresentavam um CI50 < 10 μg/mL. 4.7 Análise estatística A CI50 foi determinada pelo método de linearização de PROBITOS das viabilidades celulares em função da concentração ou aproximada através da regressão sigmoidal utilizando o software Origin 5.0, para o experimento com células, utilizando-se em função do log das concentrações aplicadas. 57 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 Extração A extração dos metabólitos secundários das cascas, caules e folhas da D. brasiliensis, foi realizada por maceração, utilizando o clorofórmio como solvente para extrair as substâncias menos polares e, posteriormente, cada uma das partes foi submetida à nova extração com metanol. Neste procedimento foram extraídas as substâncias mais polares. Os rendimentos obtidos neste processo se encontram na tabela 1. Utilizou-se a maceração por utilizar solvente a frio, o que impede a decomposição dos metabólitos secundários extraídos. Outro cuidado importante foi à utilização do rotavapor com uma temperatura controlada (> 40 0C) e pressão reduzida evitando a formação de possíveis artefatos ou decomposição das substâncias comprometendo assim nos resultados obtidos no trabalho. Tabela 1: Rendimentos das cascas, caules e folhas de D. brasiliensis Miers dos extratos CHCl3 e CH3OH em relação ao material vegetal utilizado. Parte Quantidade Extrato Bruto Rendimento Rendimento da de (g) (%) Total Planta Material (g) (%) CHCl3 CH3OH CHCl3 CH3OH Cascas Caules Folhas 774,33 700,00 250,00 31,20 17,60 24,50 62,60 14,80 10,60 4,02 2,51 9,80 8,08 2,11 4,24 12,10 4,62 14,04 As cascas e as folhas apresentaram rendimentos semelhantes, porém nas cascas o maior rendimento foi de substâncias polares enquanto que nas folhas foi de substâncias apolares. Nos caules observou-se rendimentos similares entre substâncias apolares e polares. A porcentagem total de massa extraída nos caules foi de aproximadamente 1/3 das outras partes, em relação aos outros órgãos vegetais. Um dos fatores que pode ser considerado para justificar as diferenças de massa entre as partes analisadas é a rigidez dos tecidos que compõem cada órgão vegetal, facilitando ou não a penetração do solvente. As cascas são constituídas por tecido vegetal morto chamado felogênio que é constituído por substâncias de origem do desenvolvimento secundário das plantas. Estes substâncias atuam na proteção 58 da planta contra doenças e pragas bem como em processos alelopáticos. Os caules são os responsáveis pela passagem da seiva bruta e elaborada das raízes para as folhas, além de sustentação da árvore e produção de folhas. Tem como principal função o transporte dos nutrientes. Já as folhas são as responsáveis em captar a energia solar e utilizá-la na fotossíntese para a produção das mais variadas substâncias de que a planta precise. Desempenham importantes papéis antialimentares e alelopáticos (GLORIA e GUERREIRO, 2003). Quanto maior a fragmentação do material vegetal, maior será a superfície de contato e consequentemente maior será o poder de penetração do solvente para a dissolução dos princípios ativos vegetais, consequentemente maior será o rendimento do processo extrativo. 5.2 Fracionamento do extrato CHCl3 das cascas de Drimys brasiliensis Os extratos brutos das cascas, caules e folhas foram avaliados por CCD para a verificação dos seus respectivos perfis cromatográficos. Foi observado que o perfil cromatográfico dos extratos eram bem distintos entre si. Com base em estudos anteriores utilizando o extrato das cascas, foi detectada a presença dos sesquiterpenos drimanos, a principal classe de interesse, devido aos efeitos farmacológicos promissores (MORTON, 1981; SIMÕES, et al., 1986; CECHINEL FILHO, et al., 1998; MENDES, et al., 1998; CUNHA, et al., 2001; MALHEIROS, 2001; ANDRÉ, et al., 2004; JANSEN e GROOT, 2004; MALHEIROS, et al., 2005). Neste aspecto, o extrato CHCl3 das cascas foi o selecionado para os processos cromatográficos. Este então foi submetido a sucessivas colunas cromatográficas, e as substâncias puras foram analisadas em RMN 1H e RMN 13C. Para um melhor entendimento nos processos cromatográficos realizados, optou-se apresentar um breve resumo das colunas, bem como as substâncias isoladas, separando-as apenas por diferença de polaridade e classe estrutural. Nas figuras 8, 15, 23 e 32 nas páginas 61, 68, 77 e 87, respectivamente, estão demonstrados os procedimentos cromatográficos que foram realizados para o isolamento das moléculas bioativas pertencentes a diferentes classes de metabólitos secundários. 59 5.3 Identificação das substâncias isoladas de D. brasiliensis Os processos cromatográficos realizados com as cascas de D. brasiliensis levaram ao isolamento do aromadendrano DBJ-70 espatulenol (33), do ácido graxo insaturado DBJ-100 (34) e do glicerídeo DBF-1 (35) ambos ainda sem identificação, das lignanas DBK-29 e DBX-04 (-) hinoquinina (37) e DBX-09, não identificado (38), e os sesquiterpenos drimanos DBI-11 e DBK-11 poligodial (16), DBK-17, não identificado (36), DBP-11 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil-isodrimeninol (39), DBP-21 1-βO-p-metoxi-E-cinamil-5α-hidroxi-isodrimeninol (40), DBP-44 1-β-(p-metoxicinamil)poligodial (17), DBV-25 drimanial (20), DBV-50 1-β-(p-cumaroiloxi)-poligodial (24). H HO H H H Espatulenol (33) Dos compostos isolados, o espatulenol (33), é encontrado em apenas D. brasiliensis, que segundo Limberger e colaboradores (2007), a presença deste sesquiterpeno incomum da classe dos aromadendranos o transforma num biomarcador. H2 Me COOH n n Ácido graxo Insaturado (34) O H O H2 O O O O Me R n n R Glicerídeo (35) O DBJ-100 (34) e o DBF-1 (35) ambos pertencentes à classe dos ácidos graxos insaturados são relatados nas folhas e caules (BROWN, 1994). 60 O O O O HH O O (-) Hinoquinina (37) A (-) hinoquinina (37) está sendo reportada na D. brasiliensis pela primeira vez. Tanto na família Winteraceae quanto no gênero Drimys, foram isoladas a mistura de α e β-cubebina (BROWN, 1994; MALHEIROS, et al., 2001; NAKANO, et al., 1999). O DBX-09 (38), que também pertence à classe das lignanas, ainda está em fase de identificação. 11 15 2 3 1 4 CHO 10 5 12 CHO 9 6 8 7 H 13 14 Poligodial (16) H H O HO O MeO H O HO O O MeO O H 5 OH 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil- 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil-5α- isodrimeninol (39) hidroxi-isodrimeninol (40) 61 O O O O CHO CHO MeO CHO CHO MeO OH 1-β-(p-metoxicinamil)-poligodial (17) Drimanial (20) O O CHO CHO HO 1-β-(p-cumaroiloxi)-poligodial (24) Dos sesquiterpenos drimanos isolados, o poligodial (16), o 1-β-(pmetoxicinamil)-poligodial (17), o drimanial (20) e o 1-β-(p-cumaroiloxi)-poligodial (24) já haviam sido isolados das cascas de D. angustifolia e D. brasiliensis (CORTÉS; OYARZÚN, 1981; SIERRA, et al., 1986; BROWN, 1994; CECHINEL FILHO, et al., 1998; MALHEIROS, 2001). O DBK-17 (36) ainda não foi identificado. Os 1-β-O-pmetoxi-E-cinamil-isodrimeninol (39) e o 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil-5α-hidroxi- isodrimeninol (40) estão sendo relatados pela primeira vez na literatura. 5.3.1 Identificação do Espatulenol A substância DBJ-70 foi isolada da fração 70-71 da coluna 3, de D. brasiliensis, como um óleo fixo. Foi obtido 603,50 mg, com um rendimento equivalendo a 2,44% em relação ao extrato bruto. Este composto foi solúvel em clorofórmio e acetona. O fluxograma de obtenção do espatulenol está na figura 8. A sua estrutura foi confirmada através das análises espectroscópicas de RMN 1H e como Espatulenol (Figuras 9 a 12). 13 C 62 Figura 8: Fluxograma dos procedimentos cromatográficos do extrato clorofórmico de D. brasiliensis mostrando o isolamento do Espatulenol. O espectro de RMN 1H (Figura 9 e 10) mostra sinais característicos de anel ciclopropânico em δH 0,46 (dd, J = 11,3 e 9,6 Hz) referente ao H-6 e em δH 0,72 (m) referente ao H-7. Estes sinais são indicativos de esqueleto aromadendrano. Os sinais apresentam em regiões baixas devido ao efeito de blindagem exercido pelo anel ciclopropânico. O sinal em δH 4,68 (d, J = 7,2 Hz) é referente ao hidrogênio da dupla ligação ligado ao anel cicloheptânico H-14. Os hidrogênios ligados a uma ligação dupla (hidrogênio vinila) são desblindados pela anisotropia da ligação dupla adjacente. Os hidrogênios das metilas H-12, H-13 e H-15 estão em δH 1,25, 1,28 e 1,05, respectivamente. Os hidrogênios metilênicos encontram-se de δH 2,50 a 1,50. Estes se encontram desblindados devido à proximidade com o oxigênio e a dupla 63 ligação. Sinais do grupamento metila, em geral, são separados de outros tipos de hidrogênios, sendo encontrados em deslocamentos químicos mais baixos. Contudo, mesmo quando os hidrogênios metila estão dentro de um aglomerado não resolvido de sinais, os sinais referentes às metilas podem frequentemente ser reconhecidos como picos isolados agudos, dupletos ou tripletos que, com certeza, emergem das absorções de outros tipos de hidrogênios. No espectro de RMN 13 C com auxílio do DEPT 135 que diferencia carbonos ligados a 1, 2 ou 3 hidrogênios, (Figuras 11 e 12) foram detectados em δC 29,7 e 27,4 relativos aos carbonos do anel ciclopropânico C-6 e C7, respectivamente. Em δC 153,5 e em 106,3 atribuído aos carbonos oleifínicos C-10 e C-14, respectivamente. O C-10 é um carbono sem hidrogênio, por isso no espectro de DEPT o seu sinal não aparece. Em δC 28,6, 16,3 e 26,0 estão os sinais das metilas C-12, C-13 e C-15, respectivamente. Há também o sinal do carbono carbinólico em δC 81,1, atribuído a C-4. Este carbono possui um grupamento hidroxila que não pôde ser detectado no espectro de 1H, pois provavelmente houve a troca deste H por deutério do solvente. Na tabela 2 estão apresentados os dados de RMN para a substância isolada e a comparação com dados da literatura para o espatulenol (LAGO; ROQUE, 2009). 14 2 H 3 HO 15 1 4 10 9 5 H H 8 6 7 H 11 13 12 Figura 9: Espectro de RMN ¹H (300 MHz, CDCl3/TMS) do DBJ-70. 64 14 a) 2 H 3 HO 15 1 4 10 9 5 H H 8 6 7 H 11 13 12 b) c) Figura 10: Ampliações do espectro de RMN ¹H (300 MHz, CDCl 3/TMS) do DBJ-70: a) de 7,5 a 3,5 ppm; b) de 2,5 a 1,5 ppm; c) de 1,4 a 0,4 ppm. 65 14 2 H 3 HO 15 1 4 10 9 5 H H 8 6 7 H 11 13 12 Figura 11: Espectro de RMN 13C (75 MHz, CDCl3/TMS) do DBJ-70. Figura 12: Espectro de DEPT 135 (75 MHz, CDCl3/TMS) do DBJ-70. 66 Tabela 2: Valores de deslocamentos químicos (δ) de RMN 1H e comparando com dados da literatura para o Espatulenol. 13 C para DBJ-70 14 2 H 3 HO 1 4 10 9 5 8 6 H H 7 H DBJ-70 Espatulenol* 1 H (ppm) mult. J (Hz) H (ppm) mult. J (Hz) DBJ-70 13 C / DEPT Espatulenol* 13 C / DEPT 2,42, dd, (J= 14,1; 6,6) 53,4 / CH 26,7 / CH2 41,7 / CH2 81,1 / C 54,3 / CH 29,9 / CH 27,5 / CH 53,4 / CH 26,7 / CH2 41,8 / CH2 81,0 / C 54,4 / CH 29,9 / CH 27,5 / CH 24,8 / CH2 38,9 / CH2 153,5 / C 20,3 / C 28,7 / CH3 16,3 / CH3 106,3 / CH2 26,1 / CH3 CDCl3 75 MHz 24,8 / CH2 38,9 / CH2 153,5 / C 20,3 / C 28,7 / CH3 16,3 / CH3 106,3 / CH2 26,1 / CH3 CDCl3 50 MHz 1 11 13 12 Posição 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Solvente 2,39, dd, (J= 14,1; 6,3) 0,46, dd, (J = 11,3; 9,6) 0,46, dd, (J = 11,2; 9,5) 0,72, ddd, (J = 11,2; 9,5; 0,70, m 6,1) 1,25, s 1,28, s 4,69 / 4,68, d, (J = 7,2) 1,05, d, (J = 5,1) CDCl3 300 MHz 1,25, s 1,28, s 4,69 / 4,66, s 1,06, s CDCl3 200 MHz *(LAGO; ROQUE, 2009). Os aromadendranos derivam dos terpenóides. O precursor farnesil pirofosfato pode formar tanto sesquiterpenos lineares quanto cíclicos devido ao aumento da sua cadeia e das ligações duplas adicionais que realiza, permitindo assim um aumento na flexibilidade da cadeia e a formação de um maior número de esqueletos. Estas ciclizações podem dar origem a estruturas mono, di, ou tricíclicas. Também pode haver mudança na estereoquímica da dupla ligação, podendo esta adotar a configuração E (como no farnesil pirofosfato) ou Z por via da ionização como no caso do geranil/neril pirofosfato (DEWICK, 2009). Deste precursor diversos grupos são formados, de acordo com o tipo de ciclização dos anéis (figura 13). 67 Grupo Germacrano + + Grupo 14 Humulano + E 8 7 5 6 9 4 3 10 2 11 12 E 13 1 15 OPP Grupo Cariofilano + + + E OPP Grupo Cadinano Z + Grupo Bisabolano + + Grupo Carotano OPP Grupo Drimano Figura 13: Esquema para obtenção dos principais grupos de sesquiterpenos gerados a partir do precursor farnesil pirofosfato (Adaptado de: DEWICK, 2009). A estrutura do espatulenol foi confirmada pela presença do esqueleto hidroazulênico fundido ao anel ciclopropânico, peculiar de aromadendranos, com uma insaturação. O biciclogermacreno é um metabólito intermediário dos aromadendranos que ao ser oxidado transforma-se em espatulenol (Figura 14). 68 H OH H H H Germacreno-D H H Biciclogermacreno OH Macrocarp-11(15)-en-8-ol H HO H H H Espatulenol Figura 14: Provável rota biossintética do sesquiterpeno Espatulenol. (Adaptado de CHAVES, et al., 2003). Os aromadendranos apresentam diversas atividades biológicas como: antifúngica, antibacteriana e toxicidade (LIMA; BEATRIZ; RAMOS, 1997; MOREIRA, et al., 2003), antitripanocida, antiviral, regulação no crescimento de plantas e citotóxica (ATAWODI; ALAFIATAYO, 2007). Perez-Hernandez e colaboradores (2008) avaliaram o efeito espasmódico em útero de ratas e demonstraram que o espatulenol foi o terpeno mais potente. Ele possui um efeito relaxante direto sobre a contração tônica induzida por soluções despolarizantes da musculatura lisa do útero de forma dependente, impedindo a contração causada pelo acúmulo de Ca 2+. O efeito espasmolítico do espatulenol não depende de NO e/ou receptores adrenérgicos, pois ele atua diretamente nos canais de cálcio sensíveis a voltagemdependente. Tanto na família Winteraceae quanto no gênero Drimys são relatados substâncias contendo o esqueleto aromadendrano. O biciclogermacreno e a ciclocolorenona estão presentes no óleo essencial das folhas frescas e das cascas de D. angustifolia (LIMBERGER et al., 2007), no óleo essencial de cascas de D. winteri (CICCIÓ, 1997; BARRERO, et al., 2000) e no óleo das folhas e dos frutos de D. granadensis (CICCIÓ, 1997). O óleo das folhas de D. brasiliensis mostrou-se rico em ciclocolorenona, um sesquiterpeno incomum da classe dos aromadendranos (SCHMIDT, et al., 1999). A presença do espatulenol apenas na D. brasiliensis o transforma num candidato a biomarcador para o controle de matéria prima vegetal, 69 tendo em vista o alto rendimento em relação ao extrato bruto e sua excelente atividade farmacológica. 5.3.2 Identificação do Ácido Graxo Insaturado A substância DBJ-100 foi isolada da fração 100-105 da coluna 3, de D. brasiliensis, como um óleo fixo. Foi obtido aproximadamente 15,40 mg, com um rendimento equivalendo a 0,06% em relação ao extrato bruto. Este foi solúvel em diclorometano e acetona. O fluxograma de obtenção do ácido graxo está na figura 15. A estrutura foi identificada como um derivado de ácido graxo insaturado (Figuras 16 e 17). Figura 15: Fluxograma dos procedimentos cromatográficos do extrato clorofórmico de D. brasiliensis mostrando o isolamento do Ácido Graxo Insaturado e do Glicerídeo. 70 No espectro de RMN 1H (Figura 16) foi observado o hidrogênio da metila terminal do ácido graxo em δH 0,86 (m), os hidrogênios dos grupos metilenos estão entre δH 1,20 e 1,50. Em alcanos alifáticos ou hidrocarbonetos saturados, todas as absorções de CH são tipicamente encontradas em aproximadamente 0,7-1,7 ppm, e os hidrogênios olefínicos em δH 5,34 (d, J = 5,10 Hz). No espectro de RMN 13 C (figura 17) observam-se os sinais dos carbonos metílicos em δC 14,1, os carbonos metilênicos entre δ C 22,0 e 34,0. Entre δC 128,0 a 130,2 encontram-se cinco sinais característicos dos carbonos insaturados. Isto indica que pode ser uma mistura de ácidos mono ou poliinsaturados. O sinal característico do carbono da carboxila aparece em δ C 179,0. Me COOH n n Figura 16: Ampliação do espectro de RMN de CDCl3/TMS) de 5,5 até 0,5 ppm. 1 H do DBJ-100 (300 MHz, 71 Me COOH n n Figura 17: Espectro de RMN 13C (75 MHz, CDCl3/TMS) do DBJ-100. 5.3.3 Identificação do Glicerídeo A substância DBF-1 foi isolada da primeira coluna do extrato bruto clorofórmico, de D. brasiliensis, como um sólido branco amorfo. Foi obtido aproximadamente 100,80 mg, com um rendimento equivalendo a 0,40% em relação ao extrato bruto, solúvel em clorofórmio e acetona. O fluxograma de obtenção do glicerídeo está na figura 15. Os valores dos deslocamentos químicos de RMN (Figuras 18 a 20) indicam que a substância DBF-1 é um glicerídeo derivado de ácido graxo insaturado. No espectro de RMN 1H (Figura 18), observam-se os hidrogênios dos grupos metilas terminais dos ácidos graxos em δH 0,89 (t, J = 6,60 Hz), os hidrogênios dos grupos metilenos em δH 1,25 (s), bem como os multipletos em δH 1,60, 2,05 e 2,34. Os hidrogênios externos do glicerol estão entre δH 4,10 e 4,66; o hidrogênio interno do glicerol em δH 5,34 (m) e os hidrogênios ligados aos carbonos insaturados em δH 5,56 (m). 72 No espectro de 13 C e DEPT 135 (Figura 19 e 20), observam-se os sinais dos carbonos metílicos em δC 14,1; os carbonos metilênicos entre δC 22,7 e 34,1. Entre δC 60,0 e 70,0 encontram-se os sinais característicos do glicerol. Os sinais dos carbonos das carboxilas aparecem entre δC 174,0 e 179,0. Tanto na família Winteraceae quanto no gênero Drimys não são relatados os glicerídeos. a) H2 O H O H2 O O O O Me R n n R b) c) Figura 18: a) Espectro de RMN 1H (300 MHz, CDCl3/TMS) do DBF-1; b) expansões de 6,0 a 3,5 ppm; c) expansões de 2,4 a 0 ppm. 73 H2 O H O H2 O O O O Me R n n R Figura 19: a) Expansão do espectro de RMN 13C (75 MHz, CDCl3/TMS) do DBF-1 de 120 a 14 ppm. Figura 20: Espectro de DEPT 135 (75 MHz, CDCl3/TMS) do DBF-1. 74 Os lipídeos (óleos fixos, gorduras e ceras) são ésteres de ácidos graxos e alcoóis de cadeia longa, ou derivados afins. A principal diferença entre estas substâncias é o tipo de álcool; nos óleos fixos e nas gorduras, o glicerol combina-se com os ácidos graxos, já nas ceras o álcool tem um peso molecular diferente, influenciando no comportamento da molécula (HORNSTRA, 2002). Ambos são muito importantes, sendo utilizados principalmente para fins farmacológicos, industriais e nutricionais. Diferem apenas no ponto de fusão; os que, em temperatura ambiente são líquidos, recebem o nome de óleos fixos; os que são sólidos ou semi-sólidos recebem o nome de gorduras. Os óleos e as gorduras vegetais podem ocorrer em várias partes da planta, mas em vias de regras, as sementes contêm quantidades maiores de gorduras e óleos que outras partes da planta (LENINGER; NELSON; COX, 2002). Os óleos fixos e as gorduras são compostos predominantemente por triacilgliceróis, que tem ácidos graxos diferentes ou idênticos nas três posições hidroxila da molécula de glicerol. O nome ácido graxo designa qualquer um dos ácidos monocarboxílicos alifáticos que podem ser liberados por hidrólise de gorduras e óleos naturais. Os principais ácidos graxos podem ser saturados ou insaturados, com uma cadeia de carbono não ramificada de número par. Em geral, os triacilgliceróis dos ácidos graxos insaturados são líquidos, já os saturados com comprimento de cadeia suficiente são sólidos. A predominância de um tipo ou de outro num óleo determina se a mistura é líquida ou sólida. Além dos triglicerídeos, também existem em menores quantidades os monoacilgliceróis e os diacilgliceróis. Estes são intermediários na síntese dos triacilgliceróis (VALENZUELA; NIETO, 2001; 2003; GONZÁLES, 2002; HORNSTRA, 2002; SILVA, et al., 2007). Na biossíntese dos lipídeos (figura 21), as partes de ácido graxo são formadas a partir de Acetil-CoA e de Malonil-CoA através de várias reações, onde enzimas individuais catalisam a formação de ácidos graxos nos cloroplastos. Os intermediários da síntese são ligados covalentemente aos grupos sulfidrila de uma proteína carreadora de acila (ACP), que carreia todos os intermediários durante a síntese. A cadeia de ácidos graxos em crescimento é alongada pela adição consecutiva de duas unidades de carbono, derivadas da acetil-CoA, mas o doador ativado dessas unidades é a malonil-ACP. A energia que ativa o processo de alongamento está conjugada a carboxilação da acetil-CoA, dependente de ATP, 75 para formar malonil-CoA e a subseqüente descarboxilação do grupo malonil na reação de condensação (LENINGER; NELSON; COX, 2002). O O CoA ACP S Acetil-CoA Acetil-ACP + O O ATP CoA Acetil-CoA CO2 - O O - CoA O Malonil-CoA S ACP Malonil-ACP CO2 O O O O ACP S Acetoacetil-ACP NADPH H O S OH ACP -3 hidroxibutiril-ACP H2 O O H S H ACP Crotonil-ACP NADPH O S ACP Butiril-ACP 6 Ciclos Palmitoil-ACP Ácido Palmítico Figura 21: Biossíntese dos lipídeos através do precursor acetil CoA (Adaptado de: HORNSTRA, 2002; LENINGER; NELSON; COX, 2002). Nesta reação, forma-se uma unidade de quatro carbonos, acetoacetil-ACP, a partir de uma unidade de dois carbonos, acetil-ACP, e uma unidade de três carbonos, malonil-ACP, com liberação de CO2. Nas etapas seguintes ocorre uma redução, uma desidratação e uma segunda redução para converter o grupo ceto do 76 C-3 do acetoacetil-ACP num grupo metileno que produz butiril-ACP, que completa o primeiro ciclo de alongamento. Os ciclos de alongamento continuam até formar o palmitoil-ACP. Este intermediário não é o substrato para a enzima condensadora, por isso ele é hidrolisado para produzir o ácido palmítico e ACP. O ácido palmítico é o precursor dos ácidos graxos saturados e insaturados de cadeia mais longa, através de elongases e dessaturases. Esta ocorre pela inserção de sucessivas moléculas de malonil-CoA com acil-CoA. As reações são seguidas por reduções associadas ao Nicotinamida Adenina Dinucleotídeo Phosfato (NADPH) (VANZUELA; NIETO, 2001; 2003; GONZÁLES, 2002). Os ácidos graxos na sua grande maioria são os constituintes estruturais das membranas celulares, cumprindo com as funções energéticas de reservas metabólicas. Vários estudos apontam que sua utilização traz benefícios para a saúde humana, prevenindo enfermidades cardiovasculares, câncer de cólon, doenças imunológicas e favorecendo o desenvolvimento cerebral e da retina. (VALENZUELA; NIETO, 2001; 2003; GONZÁLES, 2002; HORNSTRA, 2002; SILVA, et al., 2007). O ω-6 e o ω-3 (Figura 22) são considerados precursores dos ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa: ácido araquidônico, ácido eicosapentaenóico, e ácido docosahexaenóico (HORNSTRA, 2002). O ácido araquidônico (série ω-6) tem grande importância nos primeiros meses de vida, sendo constituinte de estruturas celulares e precursores de mediadores inflamatórios (GONZÁLES, 2002). Como agentes terapêuticos, utilizam-se essas substâncias que, por estarem frequentemente deficientes na dieta, podem atuar em diversos desequilíbrios metabólicos. Figura 22: Representação estrutural dos ácidos graxos ω-6 e ω-3 (Adaptado de: HORNSTRA, 2002; LENINGER; NELSON; COX, 2002). 77 Alguns dos ácidos graxos essenciais com importância fisiológica são: Série ω-3: Ácido Alfa-Linolênico, Ácido Eicosapentaenóico e Ácido Docosahexaenóico. Série ω-6: Ácido Linoléico, Ácido Gama - Linolênico e Ácido Araquidônico. Série ω-9: Ácido Oléico e Ácido Nervônico. Os glicerídeos são definidos como produtos da reação de uma molécula de glicerol com até três moléculas de ácido graxo. Através da reação de esterificação, os ácidos graxos são incorporados à molécula de glicerol. A reação inversa é a reação de hidrólise, que provoca o desmembramento das moléculas de ácido graxo do glicerol. Os monoglicerídeos apresentam uma molécula de ácido graxo incorporado à molécula de glicerol. Di e triglicerídeos apresentam duas e três moléculas de ácido graxo incorporados ao glicerol, respectivamente Os glicerídeos insaturados convertem-se em maior ou menor grau em glicerídeos saturados, que são estáveis e se solidificam em temperatura ambiente (LENINGER; NELSON; COX, 2002). 5.3.4 Identificação da (-) Hinoquinina A (-) hinoquinina foi isolada da fração 29-43 (DBK-29) proveniente da coluna 6 e da fração 24-33 (DBX-04) da coluna 8, de D. brasiliensis, como um sólido amorfo. Foi obtido 228,90 mg, com um rendimento equivalendo a 0,92% em relação ao extrato bruto. Esta substância foi solúvel em acetona, clorofórmio, e metanol. O fluxograma de obtenção das (-) hinoquininas está na figura 23. A estrutura foi confirmada através das análises espectroscópicas de RMN 1H e 13 C como a lignana (-) hinoquinina (3,4-bis-(1,3-benzodioxol-5-ilmetill)-oxolan-2-ona) (Figuras 24 a 26). 78 Figura 23: Fluxograma dos procedimentos cromatográficos do extrato clorofórmico de D. brasiliensis mostrando o isolamento da (-) Hinoquinina e da lignana DBX-09. Os valores de deslocamentos químicos de RMN 1H e 13 C/DEPT 135 estão apresentados na tabela 3, e foram comparados com os dados da literatura para hinoquinina e (-) hinoquinina. No espectro de RMN 1H (Figura 24) em δH 6,46 encontra-se o sinal referente aos hidrogênios aromáticos H-2 e H-2’. Estes apresentam o acoplamento em meta com os H-6 e H-6’, porém o sinal apresenta-se como um simpleto largo. Os H-6 e H-6’ encontram-se em δH 6,70. Este sinal aparece como um tripleto devido à sobreposição dos sinais de H-6 e H-6’; aqui se observa um acoplamento em orto-meta, porém só é possível distinguir a constante de acoplamento de J = 8,0 Hz referente ao sistema orto. Em δH 6,58 está o sinal referente aos H-5 e H-5’. Devido à sobreposição não foi possível distinguir o desdobramento referente aos sistemas orto. Em δH 5,92 (s) aparecem sinais dos H- 79 10 e H-10’ do anel dioxaciclopentano. Entre δH 2,00 a 3,00 aparecem sinais referentes aos hidrogênios metilênicos H-7, H-7’ e metinos H-8 e H-8’. Em δH 3,74 (m) observa-se o sinal referente ao H-9. No espectro de RMN 13 C e DEPT 135 (Figuras 25 e 26) na região de δC 108,0 a 148,0 observam-se os carbonos aromáticos. Em δC 34,7 aparece o sinal do C-7’ e em δC 38,2 referente ao C-7. Em δC 41,1 e 46,4 aparecem sinais dos H-8’ e H-8, respectivamente. Em δC 71,1 aparece o sinal do C-9. Já o sinal de C-9’ aparece no espectro em δC 178,5 numa região característica de carboxila. Em δC 101,0 observam-se os sinais sobrepostos de C-10 e C-10’, respectivamente, compondo o anel dioxaciclopentano. Os valores para os carbonos foram atribuídos de acordo com o DEPT 135. Os valores de RMN para a substância DBK-29 estão mais próximos ao da (-) hinoquinina consultada na literatura (MEDOLA, et al., 2007), portanto sugere-se que a substância isolada no presente trabalho seja a (-) hinoquinina. Nos espectros, também aparecem sinais referentes a ácido graxo. Apesar de a substância não se encontrar totalmente pura sua identificação não foi comprometida podendo-se assim chegar à possível estrutura molecular. 10 O O O 2 O 4' 4 3 10' 5 5' 6 6' 1 8 2' 1' HH 7 3' 7' 8' 9 9' O O Figura 24: Espectro de RMN ¹H (300 MHz, CDCl 3/TMS) do DBK-29. 80 10 O O O 2 O 4' 4 3 10' 5 5' 6 6' 1 8 2' 1' HH 7 3' 7' 8' 9 9' O O Figura 25: Espectro de RMN ¹3C (75 MHz, CDCl3/TMS) do DBK-29. Figura 26: Espectro de DEPT 135 (75 MHz, CDCl3/TMS) do DBK-29. 81 Em trabalhos de Medola e colaboradores (2007) a hinoquinina é relatada como tendo promissoras atividades tripanocidas, cogitando-se assim um potencial fármaco antichagásico. Tanto no gênero Drimys quanto na família Winteraceae entre as lignanas isoladas estão a α e β-cubebina (MALHEIROS, et al., 2001, NAKANO, et al., 1999). Por outro lado, a (-) hinoquinina é a primeira vez que está sendo reportada nesta espécie. Tabela 3: Valores de deslocamentos químicos (δ) de RMN 1H e 13C para DBK-29 comparando com os dados de literaturas para a Hinoquinina e para a (-) Hinoquinina. 10 O O O 3 2 10' O 4' 4 5 5' 6 6' 1 1' HH 7 8 3' 2' 7' 8' 9 9' O O DBK-29 (ppm) mult. J (Hz) Hinoquinina* (ppm) mult. J (Hz) 6,46, sl 6,24, d, (J = 1,9) 6,62, d, (J = 7,2) 6,70, d, (J = 8,1) 2,53, m; 1,76, m 6,54, d, (J = 7,9) (-) Hinoquinina** (ppm) mult. J (Hz) DBK-29 Hinoquinina* 13 13 C / DEPT C / mult. (-) Hinoquinina** 13 C / mult. 131,2 / C 109,3 / CH 146,3 / C 147,7 / C 108,1 / CH 132,2 / C 109,2 / CH 146,9 / C 148,3 / C 108,4 / CH 131,4 / C 108,7 / CH 146,4 / C 147,9 / C 109,4 / CH 121,4 / CH 121,7 / CH 122,1 / CH 2,45, m 38,2 / CH2 38,1 / CH2 38,4 / CH2 3,00, dd, (J = 14,2; 5,1) 41,1 / CH 41,3 / CH 41,3 / CH 3,85, dd, (J = 9,1; 7,1) 5,90, sl 71,1 / CH2 70,5 / CH2 71,0 / CH2 100,9 / CH2 131,5 / C 108,7 / CH 146,2 / C 147,7 / C 108,2 / CH 100,9 / CH2 132,3 / C 108,4 / CH 146,7 / C 148,3 / C 109,9 / CH 100,9 / CH2 131,5 / C 108,7 / CH 146,4 / C 147,9 / C 109,4 / CH 121,1 / CH 122,6 / CH 122,5 / CH 2,85, dd, (J = 14,2; 7,3); 2,55, m 34,7 / CH2 34,9 / CH2 34,9 / CH2 2,40, m 46,3 / CH 46,4 /CH 46,5 / CH CDCl3 400 MHz 178,5 / C 100,9 / CH2 CDCl3 75 MHz 177,5 / C 100,9 / CH2 CDCl3 50 MHz 178,8 / C 100,9 / CH2 CDCl3 100 MHz Posição 1 2 3 4 5 6 8 2,10, m 9 3,74, m 10 1’ 2’ 3’ 4’ 5’ 5,93, sl 6,08, dd, (J = 7,9; 1,9) 2,05, dd, (J = 13,4; 5,8); 1,74, dd, (J = 13,4; 8,2) 1,92, ddddd, (J= 14,2; 8,2; 8,0; 7,5 e 5,8) 3,53, dd, (J = 9,0; 7,5) 5,30, d, (J = 1,2) 6,46, sl 6,56, d, (J = 1,9) 6, 62, d, (J = 7,2) 6,70, d, (J = 8,1) 2,96, dd, (J = 14,1; 4,8); 2,84, dd, (J = 13,8; 6,9) 2,44, m 6,57, d, (J = 7,9) 5,93,sl CDCl3 300 MHz 5,34, d, (J = 1,4) CDCl3 200 MHz 7 6’ 7’ 8’ 9’ 10’ Solvente 6,39, dd, (J = 7,9; 1,9) 2,76, dd, (J = 13,9; 5,0); 2,56, dd, (J = 13,9; 7,1) 1,96, ddd, (J = 14,2; 7,1; 5,0) *HELENO, et al., 2006. **MEDOLA, et al., 2007. 82 As lignanas e as neolignanas costumam ser encontradas como derivados fenilpropanoídicos, formados por duas unidades destes ligados através do carbono β. São provenientes da via do ácido chiquímico, passando pela fenilalanina que sofre desaminação enzimática pela fenilalanina-amonialiase ao ácido cinâmico correspondente. O ácido p-hidroxicinâmico formado é o principal precursor de todos os fenilpropanóides, inclusive as lignanas, ligninas, neolignanas e fenilpropenos. As lignanas e as neolignanas são formadas pela dimerização oxidativa das unidades de álcool coniferílico. Duas dessas unidades são unidas através de uma variedade de possíveis ligações covalentes dos átomos de carbono e de oxigênio presentes na cadeia lateral C-3. Reações subseqüentes levam a substituição dos anéis aromáticos e a produção de compostos policíclicos (HELENO, et al., 2006). Uma condição estrutural necessária para o acoplamento oxidativo resulta nos diferentes tipos de lignóides é a presença de uma hidroxila livre na posição para das unidades monoméricas. Outras oxigenações adicionais ocorrem freqüentemente nas posições C-3 e C-5 dos anéis aromáticos, e os substituintes em geral são do tipo hidroxi, metoxi e metilenodioxílico. A oxigenação do anel C ocorre após o acoplamento das unidades monoméricas (Figura 27). Devido às variações de níveis de oxidação, seu grau de substituições do anel, e sua complexidade estrutural a transforma numa classe de substâncias de origem natural com uma grande variedade estrutural (SIMÕES, et al., 2004). Formam uma classe de produtos naturais que incluem um grande número de estruturas conhecidas, mostrando uma grande variedade de atividades biológicas. São relatadas atividades tripanocida, antitumoral, anti-HIV, anticonvulsionante, antiespasmódica, sobre o fator de agregação plaquetária, antiinflamatória (HELENO, et al., 2006, SIMÕES, et al., 2004). antialérgica e 83 Figura 27: Biossíntese dos lignóides (Adaptado de: SIMÕES, et al., 2004). Gottlieb (1982) mostrou que um dos indicativos evolutivos em angiospermas são os lignóides desempenhando num importante papel na adaptação ecológica. Segundo ele, esta classe de substâncias pode estar relacionada com interações das plantas com fungos, insetos e com outras plantas. Como fonte de medicamentos tem-se a lignana podofilotoxina, extraída de Podophyllum. De acordo com a rota biossintética dos lignóides, pode-se sugerir a provável modificação para dar origem à hinoquinina (figura 28). Os lignóides são originados da via do ácido chiquímico e seu principal precursor é o ácido p-hidroxicinâmico. Este sofre uma oxidação no carbono 4 e se transforma no ácido caféico. O ácido caféico por sua vez é metilado na hidroxila do carbono 4, dando origem ao ácido ferúlico. Este por sua vez após uma série de modificações se transforma no ácido coniferílico. Na porção oxigenada ligada ao anel aromático ocorre a ciclização formando um anel metilenodioxifenil. Pela dimerização destas unidades formadas podemos propor que esta seja a rota de formação da hinoquinina. 84 O O OH OH O - OH HO Me OH HO HO OH OMe Ácido Caféico Ácido p-hidroxicinâmico Ácido Ferúlico SCoA- O OH - H+ OSCoA OH HO O O S CoA HO O OMe Ácido Coniferílico O O O O O O Feriloil-CoA + OH O O O O O O H+ HO HO HO HO HO O O O O HH O O Hinoquinina Figura 28: Rota biossintética provável da hinoquinina (Fonte: DEWICK, 2002). 5.3.5 Identificação do DBX-09 A substância DBX-09 foi isolada da fração 24-33 da coluna 8, de D. brasiliensis, como um sólido amorfo. Foi obtido 41,40 mg, com um rendimento equivalendo a 0,16% em relação ao extrato bruto. Esta substância foi solúvel em acetona, clorofórmio e metanol. A substância está em fase de purificação. No espectro de RMN 1H (figura 29) na região de δH 6,40 a 7,50 é possível observar os sinais dos hidrogênios aromáticos. Em δH 5,91 o simpleto é 85 característico de grupamento metilenodioxi. O simpleto em δH 3,84 (s) sugere um grupamento metoxi. Os resultados preliminares através de análises de espectro de RMN 13 C e com confirmação através do espectro de DEPT 135 (Figuras 30 a 31), podemos afirmar a presença de dois grupamentos piperonils (3,4-metilenodioxifenil). Os carbonos aromáticos estão em δC 134,0 (C-1 e C-1’), 109,2 e 108,8 (C-2 e C-2’), 147,5 (C-3 e C-3’), 145,7 (C-4 e C-4’), 108,1 e 108,0 (C-5 e C-5’); 121,7 e 121,4 (C-6 e C-6’) e em δC 100,8 está presente o sinal característico do carbono do grupamento metilenodioxi. Nos espectros, aparecem outros sinais que podem ser atribuídos a impurezas de ácidos graxos. O O 4 5 3 2 6 1 R Figura 29: Espectro de RMN ¹H (300 MHz, CDCl 3/TMS) do DBX-09. 86 O O 4 5 3 2 6 1 R Figura 30: Espectro de RMN ¹3C (75 MHz, CDCl3/TMS) do DBX-09. Figura 31: Espectro de DEPT 135 (75 MHz, CDCl3/TMS) do DBX-09. 87 5.3.6 Identificação dos Sesquiterpenos Drimanos Figura 32: Fluxograma dos procedimentos cromatográficos do extrato clorofórmico de D. brasiliensis mostrando o isolamento dos sesquiterpenos drimanos Poligodial, 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil-isodrimeninol, 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil-5α-hidroxi-isodrimeninol, 1β-(p-metoxicinamil)-poligodial, drimanial e 1-β-(p-cumaroiloxi)-poligodial, e o que está em fase de identificação o DBK-17. 88 5.3.6.1 Identificação do Poligodial O poligodial (16) (9--drim-7-en-11,12-dial) foi isolado das frações 11-18 da coluna 5 e da fração 8-11 da coluna 6. Eles foram identificados com os códigos DBI11 e o DBK-11, respectivamente. Foi obtido 73,28 mg, com um rendimento equivalendo a 2,96% em relação ao extrato bruto. Este foi solúvel em acetona, clorofórmio, diclorometano e etanol. A sua estrutura foi confirmada através das análises espectroscópicas de RMN 1H e 13 C/DEPT 135 (Figuras 33 a 35). Esta substância foi isolada anteriormente por Malheiros (2001) da D. brasiliensis e D. angustifolia. A tabela 4 mostra os valores de deslocamentos químicos de RMN 1H e 13 C para o poligodial, comparados com os valores obtidos para o DBI-11. No espectro de RMN 1H (figura 33), observa-se os hidrogênios referentes aos grupamentos aldeídicos. Em δH 9,54 está um dupleto (J = 4,5 Hz) referente ao H-12. Próximo a ele, está um simpleto em δ H 9,46, referente ao segundo grupamento aldeídico do poligodial o H-11. Em δH 7,13 há um multipleto, referente ao hidrogênio oleofínico H-7. O hidrogênio no carbono adjacente ao grupo aldeído δH 2,83 é desblindado por causa do grupo carbonila, mas por estar mais distante o efeito sobre ele é menor. Já entre δH 2,48 e 2,36 aparece um multipleto referente ao H-6. Os sinais referentes aos carbonos das três metilas estão em δH 0,92, 0,95 e 0,96. No espectro de 13 C/DEPT 135 (Figuras 34 e 35), os carbonos referentes aos grupamentos aldeídicos estão em δ C 202,0 (CH) para o C-11 e δC 193,2 (CH) para o C-12. Em δC 154,3 está o C-7 (CH) e em δC 138,3 está o C-8 (C) referentes aos carbonos olefínicos. O carbono C-9 adjacente ao grupo aldeídico está em δ C 60,3 (CH). Entre 15 e 50 ppm estão às metilas, metilenos e metinos, com destaque especial para as três metilas estão em δ c 33,2 (C-13), 22,0 (C-14) e 15,2 (C-15). 89 11 15 1 CHO 9 2 10 3 5 6 4 12 CHO 8 7 H 14 13 Figura 33: Espectro de RMN 1H (300 MHz, CDCl3/TMS) do DBI-11. Figura 34: Espectro de RMN 13C (75 MHz, CDCl3/TMS) do DBI-11. 90 11 15 1 CHO 9 2 10 3 5 6 4 12 CHO 8 7 H 14 13 Figura 35: Espectro de DEPT 135 (75 MHz, CDCl3/TMS) do DBI-11. No gênero Drimys é relatado em D. angustifolia e D. brasiliensis (MALHEIROS, 2001). Esta substância já havia sido isolada anteriormente de várias plantas dentre elas Polygonum, Drimys, Walburgia e Porella (JANSEN e GROOT, 2004; JACOBSSON; MUDDATHIR, 1992; MASHIMBYE; MAUMELA; DREWES, 1999; BASTOS; KAPLAN; GOTTLIEB, 1999). Ele não se restringe apenas ao reino Plantae, mas também está presente em outras espécies de organismos como fungos, moluscos e esponjas (JANSEN e GROOT, 2004). Há relatos na literatura de importantes atividades biológicas para o poligodial entre elas: atividade antihiperalgésica em modelos de contorções abdominais (MENDES, et al., 1998; 2000; CECHINEL-FILHO, et al., 1998); antiinflamatórias e antialérgicas no modelo de edema de pata (CUNHA, et al., 2001); nocicepção em ratos neonatos (ANDRÉ, et al., 2004); ação vasorrelaxante em artéria pulmonar de cobaias e coelhos (ANDRÉ, et al., 1999; 2004) e veia porta de ratos (EL SAYAH, et al., 2000); inibição da síntese de ATP (CASTELLI, et al., 2005); inibição da captação de glutamato pelos astrócitos (SCHEIDT, et al., 2002; MARTINI, et al., 2007); ação gastroprotetora via receptores vanilóides (MATSUDA, et al., 2002); atividade antifúngica para dermatófitos e leveduras (MALHEIROS, et al., 2005; FUJITA; KUBO, 91 2005); antitumoral em linhagens SH-SY5Y, Hela e L929 (FORSBY, et al., 1998; FORSBY; WALUM, 1996; SILVA, 2009); antialimentar de lagartas (ZAPATA, 2009). Tabela 4: Valores de deslocamentos químicos () de RMN 1H e dados da literatura para o Poligodial. 13 C para DBI-11 e 11 15 1 CHO 9 2 10 3 5 6 4 12 CHO 8 7 H 14 DBI-11 Poligodial* DBI-11 13 (ppm) mult. J (Hz) (ppm) mult. J (Hz) C / DEPT Poligodial* 13 C / mult. 13 Posição 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Solvente 1,49, m 2,48; 2.36, m 7,13, m 7,15, m 2,83, sl 2,85, m 9,54, d, (J= 4,5) 9,46, s 0,92, s 0,94, s 0,96, s CDCl3 300 MHz 9,55, d, (J= 4,4) 9,45, s 0,8, s 0,9, s 1,0, s CDCl3 200 MHz 39,5 / CH2 18,0 / CH2 41,7 / CH2 33,1 / C 48,9 / CH 25,2 / CH2 154,3 / CH2 138,3 / C 60,3 / CH 36,8 / C 202,0 / CH 193,2 / CH 33,1 / CH3 21,9 / CH3 15,2 / CH3 CDCl3 75 MHz 39,8 / t 18,0 / t 42,0 / t 33,0 / s 49,0 / d 25,3 / t 152,2 / d 138,0 / d 60,0 / d 37,0 / s 202,0 / d 194,0 / d 33,0 / q 22,0 / q 15,0 / q CDCl3 50 MHz *(MALHEIROS, 2001). De acordo com a rota biossintética dos drimanos, pode-se sugerir a provável modificação estrutural do esqueleto drimano para dar origem ao poligodial (figura 36). A metila do carbono 3 é retirada e posteriormente a dupla ligação do carbono 4 é rompida para estabilização do anel. Após isso, a estrutura sofre uma oxidação na metila do carbono 11 transformando-se em aldeído. Novamente ocorre uma segunda oxidação na metila do carbono 12 transformando-se em aldeído. 92 CHO +H2O CHO CHO +H2O H Poligodial Figura 36: Rota biossintética provável do poligodial (Adaptado de: JANSEN e GROOT, 2004). 5.3.6.2 Identificação do DBK-17 A substância DBK-17 foi isolada da fração 17-21 da coluna 6, de D. brasiliensis, como um sólido cristalino branco. Foi obtido 48,10 mg, com um rendimento equivalendo a 0,19% em relação ao extrato bruto, solúvel em clorofórmio e acetona. A substância está em fase de purificação. No espectro de RMN 1H (Figura 37) são encontrados dois simpletos em δH 9,72 e 9,41, referentes aos hidrogênios aldeídicos, demonstrando assim a presença de outro grupamento em C-9. Em 6,84 observa-se um sinal referente a hidrogênio oleifínico e o simpleto em δH 5,95 indica outra função oxigenada na molécula. Em δH 3,84 um simpleto é visível relativo a mais um grupamento oxigenado, talvez uma metoxila. Abaixo de 3,00 observam-se sinais referentes a metilas, metilenos e metinos. Esses sugerem que a substância DBK-17 pertence à classe dos drimanos. Porém fazem-se necessárias outras análises para a correta identificação, assim como a sua purificação. 93 1 15 1 2 3 R11CHO 12 CHO 9 6 4 H 14 8 10 5 13 R 7 2 Figura 37: Espectro de RMN ¹H (300 MHz, CDCl 3/TMS) do DBK-17. 5.3.6.3 Identificação do 1-β-(p-metoxicinamil)-poligodial A substância DBP-44 foi isolada da fração 44-47 da coluna 10, de D. brasiliensis, após cromatografia em coluna, como um sólido amorfo amarelo claro. Foi obtido 1,61 g, com um rendimento equivalendo a 6,52% em relação ao extrato bruto. Este foi solúvel em acetona, acetato e etanol. Sua estrutura foi determinada pelas análises espectrométricas de RMN 1H, como 13 C e DEPT. Esta substância foi identificada 1-β-(p-metoxicinamil)-9-β-drim-7-en-11,12-dial, (1-β-(p-metoxicinamil)- poligodial). Ele foi isolado anteriormente por Malheiros (2001) das cascas de D. winteri (D. angustifolia). Os valores de deslocamentos químicos de RMN 1H, 13 C e DEPT 135 (figuras 37 a 39) indicam que a substância possui sinais que podem ser atribuídos a dois grupos aldeídos em δH 9,80 (d, J = 2,7), δC 200,4 e δH 9,32 (s), δC 192,3. Os hidrogênios aromáticos e oleifínicos estão entre δH 6,00 a 8,00 e δC 113,0 a 166,0. Os 94 três simpletos em δH 1,06, 1,00 e 0,96 e δC 32,4, 22,0 e 10,4 indicam os três grupos metilas. Em δH 3,83 encontra-se um simpleto referente ao grupo oximetínico. As comparações com a literatura estão dispostas na tabela 5. O 5' 6' 3' 1' 4' 7' 2' 9' MeO 2 8' 11 O 15 CHO 9 1 10 3 5 6 4 12 CHO 8 7 13 14 Figura 37: Espectro de RMN ¹H (300 MHz, CDCl 3/TMS) do DBP-44. O 5' 6' 4' 7' MeO 3' 1' 2' 9' 8' 2 11 O 15 9 1 3 10 5 6 4 14 CHO 12 CHO 8 7 13 Figura 38: Espectro de RMN ¹3C (75 MHz, CDCl3/TMS) do DBP-44. 95 Figura 39: Espectro de DEPT 135 (75 MHz, CDCl3/TMS) do DBP-44. O 1-β-(p-metoxicinamil)-poligodial é relatado em cascas de D. winteri e D. brasiliensis (MALHEIROS, 2001). Poucos trabalhos referenciam sua atividade biológica com destaque a: atividade antihiperalgésica em modelos de contorções abdominais induzidas por ácido acético (CECHINEL-FILHO, et al., 1998); atividade antifúngica contra os dermatófitos Epidermophyton floccosum e Tricophyton rubrum (MALHEIROS, et al., 2005) e antibacteriana contra bactérias Gram positivas (SILVEIRA, 2011). Partindo do anel conhecido, o poligodial, pode-se deduzir como ocorre a formação do 1-β-(p-metoxicinamil)-poligodial. O poligodial sofre uma ligação no carbono 1 ao grupamento p-metoxicinâmico (figura 40). Este grupamento é originado da via do ácido chiquímico e é um derivado do ácido p-cumárico. Este ácido é metilado na posição para. O p-metoxicinâmico formado perde H+ na porção ácida e o carbono β se liga ao carbono 1 em orto. 96 O O -CH3 OH OH MeO HO O p-hidroxicinâmico H+ OH MeO p-metoxicinâmico p-metoxicinamil + O O CHO CHO CHO MeO CHO H 1--(p-metoxicinamil)-poligodial Poligodial Figura 40: Rota biossintética provável do 1-β-(p-metoxicinamil)-poligodial (Adaptado de: JANSEN e GROOT, 2004). Tabela 5: Valores de deslocamentos químicos (δ) de RMN 1H e 13C para DBP-44 comparando com dados da literatura para o 1-β-(p-metoxicinamil)-poligodial. O 5' 6' 7' MeO 3' 4' 1' 2' 9' 8' 2 11 O 15 3 10 5 6 4 14 CHO 9 1 12 CHO 8 7 13 Posição 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 1’ 2’ 3’ 4’ 5’, 9’ 6’, 8’ 7’ OMe Solvente 1-β-(pmetoxicinamil)DBP-44 13 poligodial* C / DEPT 1 H (ppm) mult. J (Hz) 4,90, dd, (J= 11,0; 4,0) 81,3 / CH 4,85, m 1,90; 1,70, m 1,90; 1,70, m 24,4 / CH2 1,55, m 1,58, m 39,1 / CH2 32,6 / C 1,39, dd, (J = 10,5; 1,40, dd, (J= 10,0; 6,2) 48,7 / CH 6,5) 2,45, m 2,45, m 24,0 / CH2 7,07, sl 7,08, sl 152,0 / CH 140,2 / C 3,32, sl 3,32, sl 59,1 / CH 42,2 / C 9,80, d, (J = 2,7) 9,79, d, (J = 3,0) 200,4 / CH 9,32, s 9,33, s 192,3 / CH 1,06, s 1,06, s 32,5 / CH3 1,00, s 1,01, s 22,0 / CH3 0,96, s 0,96, s 10,5 / CH3 166,3 / C 6,29, d, (J = 16,0) 6,26, d, (J = 16,0) 115,1 / CH 7,58, d, (J = 16,0) 7,54, d, (J = 16,0) 145,3 / CH 126,8 / C 7,47, d, (J = 8,7) 7,47, d, (J = 8,9) 129,9 / CH 6,91, d, (J = 8,7) 6,90, d, (J = 8,9) 114,2 / CH 161,4 / C 3,83, s 3,83, s 55,2 / CH3 CDCl3 CDCl3 CDCl3 300 MHz 200 MHz 75 MHz DBP-44 1 H (ppm) mult. J (Hz) *(MALHEIROS, 2001). 1-β-(pmetoxicinamil)poligodial* 13 C / DEPT 81,4 / CH 24,5 / CH2 39,2 / CH2 32,7 / C 48,8 / CH 24,1 / CH2 152,0 / CH 140,3 / C 59,2 / CH 42,3 / C 200,5 / CH 192,3 / CH 32,6 / CH3 22,2 / CH3 10,6 / CH3 166,4 / C 115,2 / CH 145,3 / CH 126,9 / C 130,0 / CH 114,3 / CH 161,5 / C 55,4 / CH3 CDCl3 50 MHz 97 5.3.6.4 Identificação do 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil-isodrimeninol A substância DBP-11 foi isolada da fração 11-20 da coluna 9, de D. brasiliensis, como um sólido amorfo. Foi obtido 204,00 mg, com um rendimento equivalendo a 0,82% em relação ao extrato bruto. Este foi solúvel em acetona, clorofórmio, acetato de etila e metanol. Pode-se sugerir que seja da classe dos sesquiterpenos drimanos sem a presença dos grupamentos aldeídicos, pois não foram detectados sinais entre 9,00 a 10,00 ppm no espectro de RMN 1H e entre 190,0 a 203,0 ppm no espectro de RMN 13 espectroscópicas de RMN 1H e C com o 1-β-(p-metoxicinamil)-poligodial, 1-β-O-E- C. A estrutura foi comparada através de análises 13 cinamil-6α-hidroxi-isodrimeninol e 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil-6α-hidroxi-isodrimeninol (MALHEIROS, 2001; ALOUCHE, et al., 2009). Os valores de deslocamentos químicos de RMN 1H e 13 C/DEPT 135 (Figuras 41 a 43), indicam que o 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil-isodrimeninol possui similaridade dos deslocamentos dos hidrogênios e carbonos do esqueleto drimano e o grupamento p-metoxicinamil com o 1-β-(p-metoxicinamil)-poligodial, onde observam-se os hidrogênios e carbonos aromáticos e olefínicos entre δH 6,00 a 8,00 e δC 114,0 a 168,0, respectivamente. Os três simpletos em δH 1,24, 1,17 e 0,98 e δC 32,8, 24,5 e 9,7, indicam os três grupos metilas. Em δH 3,81 encontra-se um simpleto referente ao grupo oximetínico. A ausência dos aldeídos nos carbonos 11 e 12 são as principais diferenças encontradas. Também destaca-se a mudança do sinal do carbono 1 para 81,3 ppm indicando a presença de outro substituinte no carbono 9. Utilizou-se uma série de substâncias relatadas na literatura que apresentavam ausência dos grupamentos aldeídos nos carbonos 11 e 12 e formação de um anel furano. Desta série de compostos analisados dois se destacaram o 1-β-O-E-cinamil-6α-hidroxi-isodrimeninol e o 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil-6α-hidroxi-isodrimeninol. O anel furano pode ser confirmado no DBP-11 pelos sinais dos hidrogênios 11 e 12 em δH 6,10, m e 4,54, s e carbonos δC 99,6 e 68,1, respectivamente. Na tabela 6 encontram-se os valores de deslocamentos químicos comparando o DBP-11 com o 1-β-(p-metoxicinamil)-poligodial, e 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil-6αhidroxi-isodrimeninol. Alguns sinais de impurezas de ácidos graxos também podem ser observados. Neste aspecto, será realizada a sua purificação e posteriormente a obtenção do 98 espectro de HETCOR para a confirmação da correta atribuição dos carbonos e seus respectivos hidrogênios. Está é a primeira vez que esta substância está sendo reportada na literatura. O 5' 6' 4' 7' MeO HO 3' 1' 2' 9' 8' 2 3 14 O 11 15 9 1 10 5 6 4 O 12 8 7 13 Figura 41: Espectro de RMN ¹H (300 MHz, CDCl 3/TMS) do DBP-11. Figura 42: Espectro de RMN 13C (75 MHz, CDCl3/TMS) do DBP-11. 99 O 5' 6' 4' 7' MeO HO 3' 1' 2' 9' 2 8' 3 14 O 11 15 9 1 10 5 6 4 O 12 8 7 13 Figura 43: Espectro de DEPT 135 (75 MHz, CDCl3/TMS) do DBP-11. Partindo do 1-β-(p-metoxicinamil)-poligodial, pode-se deduzir como ocorre a formação do 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil-isodrimeninol. A porção drimano do 1-β-(pmetoxicinamil)-poligodial sofre uma perda de H+ na porção do aldeído do carbono 11 (figura 43). Posteriormente, a dupla ligação do oxigênio do carbono 12 é rompida e ocorre a ciclização do anel furano. O O O O CHO CHO MeO H+ O + MeO O 1--(p-metoxicinamil)-poligodial O O HO O HO O O + OH + MeO MeO H 1--O-p-metoxi-E-cinamil-isodrimeninol Figura 43: Rota biossintética provável do 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil-isodrimeninol. (Adaptado de: JANSEN e GROOT, 2004). 100 Tabela 6: Valores de deslocamentos químicos (δ) de RMN 1H e 13C para DBP-11 comparando com dados da literatura para o 1-β-(p-metoxicinamil)-poligodial e o 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil-6α-hidroxi-isodrimeninol. O 5' 6' 4' 7' MeO HO 3' 1' 2' 9' 2 8' 3 14 O 11 15 9 1 10 5 6 4 O 12 8 7 13 Posição 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 1’ 2’ 3’ 4’ 5’, 9’ 6’, 8’ 7’ OMe 6-OH 11-OH Solvente 1-β-(pDBP-11 metoxicinamil)1 poligodial* H (ppm) 1 mult. J (Hz) H (ppm) mult. J (Hz) 4,78,dd (J= 11,1; 4,90, dd, (J= 11,0; 4,2) 4,0) 1,87, m 1,90; 1,70, m 1,44; 1,71, m 1,58, m 1-β-O-p-metoxi-Ecinamil-6α-hidroxiisodrimeninol** 1 H (ppm) mult. J (Hz) DBP-11 13 C / DEPT 4,83, dd (J= 11,4,2) 1,69 / 1,86, m 1,45 / 1,62, m 2,40, m 6,86, m 1,40, dd, (J= 10,0; 6,2) 4,40, dd (J= 8,7) 2,45, m 7,08, sl 5,61, m 3,82, sl 3,32, sl 2,46, sl 6,10, m 4,54, s 1,24, s 1,17, s 0,98, s 9,80, d, (J= 2,7) 9,33, s 1,06, s 1,01, s 0,96, s 5,57, m 4,46 / 4,20, d (J= 11,8) 1,19, s 1,12, s 1,06, s 6,32, d, (J= 16,2) 6,26, d, (J= 16,0) 7,60, d, (J= 16,0) 7,54, d, (J= 16,0) 6,30, d (J= 15,9) 7,62, d (J= 15,9) 7,48, d, (J= 8,4) 6,89, d, (J= 8,7) 7,47, d, (J= 8,9) 6,90, d, (J= 8,9) 7,48, d (J= 8,6) 6,92, d (J= 8,6) 3,81, s 3,83, s CDCl3 300 MHz CDCl3 200 MHz 3,85, s 1,97, m 2,63, m CDCl3 600 MHz 81,3 / CH 1-β-(pmetoxi cinamil)poligodial* 13 C/ DEPT 81,4 / CH 1-β-O-pmetoxi-Ecinamil-6αhidroxi-iso Drimeninol** 13 C / DEPT 80,3 / CH 24,7 / CH2 39,1 / CH2 32,8 / C 57,8 / C 24,5 / CH2 39,2 / CH2 32,7 / C 48,8 / CH 24,6 / CH2 40,6 / CH2 33,2 / C 57,7 / C 29,1/ CH2 135,1/ CH 128,1/ C 55,3 / CH 48,7 / C 97,7 / CH 60,1 / CH 32,8 / CH3 24,5 / CH3 9,7 / CH3 167,8 / C 115,9 / CH 145,4 / CH 135,8 / C 129,8 / CH 114,2 / CH 161,3 / C 55,3 / CH3 24,1 / CH2 152,0 / CH 140,3 / C 59,2 / CH 42,3 / C 200,5 / CH 192,3 / CH 32,6 / CH3 22,2 / CH3 10,6 / CH3 166,4 / C 115,2 / CH 145,3 / CH 126,9 / C 130,0 / CH 114,3 / CH 161,5 / C 55,4 / CH3 68,2 / CH2 120,0 / CH 139,9 / C 60,2 / CH 42,0 / C 99,6 / CH 68,1 / CH2 35,2 / CH3 22,3 / CH3 10,8 / CH3 166,4 / C 115,9 / CH 144,1 / CH 127,0 / C 129,7 / CH 114,3 / CH 161,4 / C 55,3 / CH3 CDCl3 75 MHz CDCl3 50 MHz CDCl3 150 MHz *(MALHEIROS, 2001; **ALOUCHE, et al., 2009) 5,3.6.5 Identificação do Drimanial A substância DBV-25 foi isolada da fração 25-46 da coluna 11, de D. brasiliensis, como um sólido amorfo amarelo claro. Foi obtido 2,00 g, com um rendimento equivalendo a 4,82% em relação ao extrato bruto. Ele foi solúvel em acetona, clorofórmio e metanol. Sua estrutura foi determinada pelas análises espectrométricas de RMN 1H, 13 C e DEPT. Esta substância foi denominada drimanial (1-β-(p-metoxicinamil)-5-ol-9-β-drim-7-en-11,12-dial). As atribuições de RMN 1 H e 13 C/DEPT 135 (Figuras 44 a 46), e as comparações com a literatura estão dispostas na tabela 7. Ele foi isolado 101 anteriormente por Malheiros (2001). A substância possui sinais que podem ser atribuídos a dois grupos aldeídos em δH 9,84 (d, J = 2,7), δC 201,4 e δH 9,35 (s), δC 192,2. Os hidrogênios aromáticos e oleifínicos estão entre δH 6,00 a 8,00 e δC 115,0 a 170,0. Os três simpletos em δH 1,23, 1,03 e 0,96 e δC 25,0, 27,2 e 13,6 indicam os três grupos metilas. Em 3,83 ppm encontra-se um simpleto referente ao grupo oximetínico. A principal diferença estrutural entre o drimanial e o 1-β-(pmetoxicinamil)-poligodial é a presença da hidroxila adicional no C-5. Esta pode ser observada pelo aparecimento do sinal em δ C 77,2. O 5' 6' 4' 7' MeO 3' 1' 2' 9' 8' 2 11 O 15 9 1 3 CHO 10 5 6 4 12 CHO 8 7 OH 14 13 Figura 44: Espectro de RMN ¹H (300 MHz, CDCl 3/TMS) do DBV-25. 102 Figura 45: Espectro de RMN ¹3C (75 MHz, CDCl3/TMS) do DBV-25. O 5' 6' 4' 7' MeO 3' 1' 2' 9' 8' 2 11 O 15 9 1 3 CHO 10 5 6 4 12 CHO 8 7 OH 14 13 Figura 46: Espectro de DEPT 135 (75 MHz, CDCl3/TMS) do DBV-25. 103 Partindo do 1-β-(p-metoxicinamil)-poligodial, pode-se supor como ocorre a formação do drimanial. A porção drimano do 1-β-(p-metoxicinamil)-poligodial sofre uma hidroxilação no carbono 5 (figura 47). O O O CHO O CHO MeO OH- CHO CHO MeO OH 1--(p-metoxicinamil)-poligodial Drimanial Figura 47: Rota biossintética provável do drimanial. (Adaptado de: JANSEN e GROOT, 2004). Tabela 7: Valores de deslocamentos químicos (δ) de RMN 1H e comparando com dados da literatura para o Drimanial. 13 C para DBV-25 O 5' 6' 7' MeO 3' 4' 1' 2' 9' 8' 2 11 O 15 3 CHO 9 1 10 5 6 4 12 CHO 8 7 OH 14 13 Posição 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 1’ 2’ 3’ 4’ 5’, 9’ 6’, 8’ 7’ OMe OH Solvente *(MALHEIROS, 2001). DBV-25 1 H (ppm) mult J (Hz) Drimanial* 1 H (ppm) mult J (Hz) DBV-25 13 C multi Drimanial* 13 C mult 5,30, m 2,04, m 5,49, dd, (J= 10,9, 4,0) 1,80; 1,70, m 1,90, m 6,88, q 2,80, 2,40, m 6,88 3,83, q 3,84 9,84, d, (J= 2,7) 9,35, s 1,03, s 1,23, s 0,96, s 9,84, d, (J= 2,5) 9,36, s 1,03, s 1,14, s 0,98, s 6,27, d, (J= 16,0) 7,63, d, (J= 16,0) 6,24, d, (J= 16,0) 7,60, d, (J= 16,0) 7,49, d, (J= 8,7) 6,91, d, (J= 8,7) 7,48, d, (J= 8,7) 6,89, d, (J= 8,7) 3,83, s 3,83 CDCl3 300 MHz 3,84, s 3,84 CDCl3 200 MHz 77,0 / CH 24,0 / CH2 34,4 / CH2 38,0 / C 78,1 / C 32,1 / CH2 148,2 / CH 141,3 / C 77,0 / CH 46,6 / C 201,4 / CH 192,2 / CH 27,2 / CH3 25,0 / CH3 13,6 / CH3 166,4 / C 115,2 / CH 145,4 / CH 126,9 / C 130,0 / CH 114,3 / CH 161,5 / C 55,3 / CH3 77,1 / CH 24,0 / CH2 34,4 / CH2 38,1 / C 78,1 / C 32,1 / CH2 148,2 / CH 141,3 / C 77,1 / CH 46,6 / C 201,4 / CH 192,2 / CH 27,2 / CH3 24,1 / CH3 13,6 / CH3 166,4 / C 115,7 / CH 145,4 / CH 126,9 / C 129,9 / CH 114,2 / CH 161,5 / C 55,3 / CH3 CDCl3 75 MHz CDCl3 50 MHz 104 O drimanial foi isolado anteriormente por Malheiros e colaboradores (2001), e várias atividades biológicas foram atribuídas a sua estrutura como: atividade antihiperalgésica em modelos de contorções abdominais (CECHINEL-FILHO, et al., 1998); antiinflamatórias e antialérgicas (CUNHA, et al., 2001); nocicepção em ratos neonatos (ANDRÉ, et al., 2004); inibição da captação de glutamato pelos astrócitos (SCHEIDT, et, al., 2002; MARTINI, et al., 2007); ação gastroprotetora via receptores vanilóides (MATSUDA, et al., 2002); mediador de receptores TRPV1 (ANDRÉ, et al., 2006); atividade antifúngica (MALHEIROS, et al., 2005) e antitumoral em linhagens de Hela e L929 (SILVA, et al., 2009). 5.3.6.6 Identificação do 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil-5α-hidroxi-isodrimeninol A substância DBP-21 foi isolada da fração 21-30 da coluna 9, de D. brasiliensis, como um sólido amorfo. Foi obtido 128,30 mg, com um rendimento equivalendo a 0,52% em relação ao extrato bruto. Este foi solúvel em acetona, clorofórmio, acetato de etila e metanol. Pode-se sugerir que seja da classe dos sesquiterpenos drimanos sem a presença dos grupamentos aldeídicos, pois não foram detectados sinais entre 9,00 a 10,00 ppm no espectro de RMN 1H e entre 192,2 a 201,4 ppm no espectro de RMN 13 espectroscópicas de RMN 1H e C com o 1-β-(p-metoxicinamil)-poligodial, 1-β-O-E- C. A estrutura foi comparada através de análises 13 cinamil-6α-hidroxi-isodrimeninol e 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil-6α-hidroxi-isodrimeninol (MALHEIROS, 2001; ALOUCHE, et al., 2009). Os valores de deslocamentos químicos de RMN 1H e 13 C/DEPT 135 (Figuras 48 a 50), indicam que o 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil-isodrimeninol possui similaridade dos deslocamentos dos hidrogênios e carbonos do esqueleto drimano e o grupamento p-metoxicinamil com o 1-β-(p-metoxicinamil)-poligodial, onde observam-se os hidrogênios e carbonos aromáticos e olefínicos entre δH 6,00 a 8,00 e δC 114,0 a 166,5, respectivamente. Os três simpletos em δH 1,21, 1,15 e 0,98 e δC 32,2, 24,4 e 9,4, indicam os três grupos metilas. Em δH 3,83 encontra-se um simpleto referente ao grupo oximetínico. A ausência dos aldeídos nos carbonos 11 e 12 são as principais diferenças encontradas. Também destaca-se a mudança do sinal do carbono 1 para 81,0 ppm 105 indicando a presença de outro substituinte no carbono 9. Utilizou-se uma série de substâncias relatadas na literatura que apresentavam ausência dos grupamentos aldeídos nos carbonos 11 e 12 e formação de um anel furano. Desta série de compostos analisados dois se destacaram o 1-β-O-E-cinamil-6α-hidroxi-isodrimeninol e o 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil-6α-hidroxi-isodrimeninol. O anel furano pode ser confirmado no DBP-21 pelos sinais dos hidrogênios 11 e 12 em δH 6,10, m e 4,54, s e carbonos δC 99,6 e 68,1, respectivamente. Na tabela 8 encontram-se os valores de deslocamentos químicos comparando o DBP-21 com o Drimanial, e 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil-6α-hidroxi-isodrimeninol. Alguns sinais de impurezas de ácidos graxos também podem ser observados. Neste aspecto, será realizada a sua purificação e posteriormente a obtenção do espectro de HETCOR para a confirmação da correta atribuição dos carbonos e seus respectivos hidrogênios. Está é a primeira vez que esta substância está sendo reportada na literatura. O 5' 6' 4' 7' MeO 1' 2' 9' 8' HO 3' 2 O 9 1 3 11 15 10 5 6 4 O 12 8 7 OH 14 13 Figura 48: Espectro de RMN ¹H (300 MHz, CDCl3/TMS) do DBP-21. 106 O 5' 6' 4' 7' MeO 1' 2' 9' 8' HO 3' 2 O 9 1 3 11 15 10 5 6 4 O 12 8 7 OH 14 13 Figura 49: Espectro de RMN ¹3C (75 MHz, CDCl3/TMS) do DBP-21. Figura 50: Espectro de DEPT 135 (75 MHz, CDCl3/TMS) do DBP-21. 107 Tabela 8: Valores de deslocamentos químicos (δ) de RMN 1H e 13C para DBP-21 comparando com dados da literatura para o drimanial e o 1-β-O-p-metoxi-Ecinamil-6α-hidroxi-isodrimeninol. O 5' 6' 7' MeO HO 3' 4' 1' 2' O 9' 8' 9 1 2 3 11 15 10 5 6 4 O 12 8 7 OH 14 13 Posição 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 1’ 2’ 3’ 4’ 5’, 9’ 6’, 8’ 7’ OMe 5-OH 6-OH 11-OH Solvente 1-β-O-p-metoxi-Ecinamil-6α-hidroxiisodrimeninol** 1 H (ppm) mult. J (Hz) 4,83, dd (J= 11,4,2) 81,0 / CH 77,1 / CH 1-β-O-p-metoxiE-cinamil-6αhidroxi-iso Drimeninol** 13 C / DEPT 80,3 / CH 24,6 / CH2 39,5 / CH2 32,6 / C 83,6 / C 67,2 / CH2 148,8 / CH 134,2 / C 55,2 / CH 48,8 / C 106,1 / CH 71,7 / CH 24,0 / CH2 34,4 / CH2 31,1/ C 78,1 / CH 32,1 / CH2 148,2 / CH 141,3 / C 55,1 / CH 46,6 / C 201,4 / CH 192,2 / CH 24,6 / CH2 40,6 / CH2 33,2 / C 57,7 / C 68,2 / CH2 120,0 / CH 139,9 / C 60,2 / CH 42,0 / C 99,6 / CH 68,1 / CH2 3,85, s 32,2 / CH3 24,4 / CH3 9,4 / CH3 166,5 / C 117,4 / CH 143,2 / CH 132,2 / C 129,5 / CH 114,1 / CH 161,0 / C 55,2 / CH3 27,2 / CH3 24,1 / CH3 13,6 / CH3 166,4 / C 115,7 / CH 145,4 / CH 126,9 / C 129,9 / CH 114,2 / CH 161,5 / C 55,3 / CH3 35,2 / CH3 22,3 / CH3 10,8 / CH3 166,4 / C 115,9 / CH 144,1 / CH 127,0 / C 129,7 / CH 114,3 / CH 161,4 / C 55,3 / CH3 1,97, m 2,63, m CDCl3 600 MHz CDCl3 75 MHz CDCl3 50 MHz CDCl3 150 MHz DBP-21 1 H (ppm) mult. J (Hz) Drimanial* 1 H (ppm) mult. J (Hz) 4,84,dd (J= 13,8; 4,5) 1,67 / 1,82, m 1,47; 1,67, m 5,49, dd, (J= 10,9; 4,0) 1,80; 1,70, m 1,90, m 4,31, m 6,87, m 2,80 / 2,40, m 6,88, 4,40, dd (J= 8,7) 5,61, m 3,82, sl 3,84, 2,46, sl 5,80, m 4,81, s 9,34, d, (J= 2,5) 9,36, s 1,21, s 1,15, s 0,98, s 1,03, s 1,14, s 0,96, s 5,57, m 4,46 / 4,20, d (J= 11,8) 1,19, s 1,12, s 1,06, s 6,40, d, (J= 15,9) 7,59, d, (J= 16,0) 6,24, d, (J= 16,0) 7,60, d, (J= 16,0) 6,30, d (J= 15,9) 7,62, d (J= 15,9) 7,48, d, (J= 8,4) 6,89, d, (J= 8,4) 7,48, d, (J= 8,7) 6,89, d, (J= 8,7) 7,48, d (J= 8,6) 6,92, d (J= 8,6) 3,83, s 3,82, 3,84, s 3,84, 4,62, m CDCl3 300 MHz CDCl3 200 MHz *(MALHEIROS, 2001; 1,69 / 1,86, m 1,45 / 1,62, m DBP-21 13 C / DEPT Drimanial* 13 C/ DEPT **ALOUCHE, et al., 2009). Partindo do 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil-isodrimeninol, pode-se deduzir como ocorre a formação do 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil-5α-hidroxi-isodrimeninol. A porção drimano do 1--β-O-p-metoxi-E-cinamil-isodrimeninol sofre uma hidroxilação no carbono 5 (figura 51). 108 O O HO O HO O MeO O OH- O MeO 1--O-p-metoxi-E-cinamil-isodrimeninol OH 1--O-p-metoxi-E-cinamil-5-hidroxi-isodrimeninol Figura 51: Rota biossintética provável do 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil-5α-hidroxiisodrimeninol. (Adaptado de: JANSEN e GROOT, 2004; ALOUCHE, et al., 2009). 5.3.6.7 Identificação do 1-β-(p-cumaroiloxi)-poligodial A substância DBV-50 foi isolada da fração 50-56 da coluna 11, de D. brasiliensis. Foi obtido aproximadamente, 175,34 mg, com um rendimento equivalendo a 0,71% em relação ao extrato bruto. Este foi solúvel em clorofórmio, acetato de etila, metanol e acetona. Sua estrutura foi confirmada como sendo 1-β-(pcumaroiloxi)-poligodial (1-β-(p-cumaroiloxi)-9-β-drim-7-en-11,12-dial). Ele havia sido isolado anteriormente das cascas de Drimys brasiliensis, e D. angustifolia (MALHEIROS, 2001). Os valores dos deslocamentos químicos de ¹H e ¹³C e DEPT 135 (Figuras 52 a 54) indicam que a substância DBV-50 é um sesquiterpeno drimano semelhante ao 1β-(p-metoxicinamil)-poligodial. Observam-se sinais para os dois grupos aldeídicos em δ 9,75 (d, J = 3,0) e 9,32 (s). O sinal para o metino adjacente ao aldeído é verificado em δ 3,29 (sl) e o próton oleofínico em δ 7,16 (sl). Porém não é observado no espectro de RMN ¹H o singleto em δ 3,83, o que caracteriza o grupamento OH em C7’. A tabela 9 mostra os valores e deslocamentos químicos de RMN de ¹H e ¹³C suportados pelo DEPT 135 para o DBV-50 e dados da literatura para 1-β-(pcumaroiloxi)-poligodial. 109 O 5' 3' 6' 1' 4' 7' 2' 9' HO CHO 15 9 1 2 8' 11 O 10 3 5 6 4 12 CHO 8 7 13 14 Figura 52: Espectro de RMN ¹H (300 MHz, CDCl 3/TMS) do DBV-50. O 5' 6' 4' 7' HO 3' 1' 2' 9' 8' 2 O 11 15 9 1 3 10 5 6 4 14 CHO 12 CHO 8 7 13 Figura 53: Espectro de RMN 13C (75 MHz, CDCl3/TMS) do DBV-50. 110 Figura 54: Espectro de DEPT 135 (75 MHz, CDCl3/TMS) do DBV-50. Há relatos na literatura de importantes atividades biológicas para o 1-β-(pcumaroiloxi)-poligodial entre elas: atividade antihiperalgésica em modelos de contorções abdominais (CECHINEL-FILHO, et al., 1998); nocicepção em ratos neonatos (ANDRÉ, et al., 2004); atividade antifúngica em dermatófitos, leveduras e bactérias Gram-negativas (MALHEIROS, et al., 2005; SILVEIRA, 2011); antitumoral para as linhagens Hela e L929 (SILVA, 2009). Partindo do anel conhecido, o poligodial, pode-se deduzir como ocorre a formação do 1-β-(p-cumaroiloxi)-poligodial. O poligodial sofre uma ligação no carbono 1 ao grupamento p-hidroxicinâmico (figura 55). Este grupamento é originado da via do ácido chiquímico. O p-hidroxicinâmico formado perde H+ na porção ácida ligando o carbono β ao carbono 1 em posição orto. 111 O O H+ OH OH HO HO p-hidroxicinâmico p-hidroxicinamil + O O CHO CHO CHO HO CHO H 1--(p-cumaroiloxi)-poligodial Poligodial Figura 55: Rota biossintética provável do 1-β-(p-cumaroiloxi)-poligodial (Adaptado de: JANSEN e GROOT, 2004). Tabela 9: Valores de deslocamentos químicos (δ) de RMN 1H e e dados da literatura para o 1-β-(p-cumaroiloxi)-poligodial. O 5' 6' 7' HO 3' 4' 1' 2' 9' 8' 2 O 11 15 9 1 3 CHO 10 5 6 4 14 13 Posição 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 1’ 2’ 3’ 4’ 5’, 9’ 6’, 8’ 7’ Solvente 12 CHO 8 7 DBV-50 1 H δ (ppm) mult. J (Hz) 4,88, dd, (J= 9,0; 3,0) 1,86; 1,85, m 1,57, m 1,43, dd, (J= 12,0, 6,0) 1-β-(pcumaroiloxi)poligodial)* 1 H δ (ppm) mult. J (Hz) 4,89, dd, (J= 10,5, 4,6) 1,82; 1,71, m 1,58, m 2,49, m 7,16, sl 1,44, dd, (J= 11,0, 6,0) 2,48, m 7,09, sl 3,29, sl 3,34, sl 9,75, d, (J= 3,0) 9,32, s 1,09, s 1,03, s 0,98, s 9,82, d, (J= 2,8) 9,35, s 1,09, s 1,03, s 0,98, s 6,26, d, (J= 16,0) 7,62, d, (J= 16,0) 6,23, d, (J= 16,0) 7,69, d, (J= 16,0) 6,85, d, (J= 8,7) 7,42, d, (J= 8,7) 6,87, d, (J= 8,8) 7,39, d, (J= 8,8) CDCl3/ MeOD 75 MHz CDCl3 200 MHz *(MALHEIROS, 2001). 13 C para DBV-50 DBV-50 13 C δ (ppm) 1-β-(pcumaroiloxi )poligodial)* 13 C δ (ppm) 81,5 / CH 81,9 / CH 23,3 / CH2 39,9 / CH2 33,4 / C 48,8 / CH 24,6 / CH2 39,6 / CH2 33,2 / C 49,2 / CH 24,9 / CH2 153,3 / CH 140,9 / C 58,9 / CH 42,3 / C 200,1 / CH 193,2 / CH 32,7 / CH3 22,2 / CH3 10,9 / CH3 166,6 / C 115,9 / CH 145,6 / CH 127,0 / C 131,0 / CH 116,6 / CH 160,6 / C CDCl3/ MeOD 300 MHz 25,2 / CH2 154,0 / CH 140,3 / C 59,8 / CH 42,8 / C 201,9 / CH 193,5 / CH 32,8 / CH3 22,3 / CH3 10,9 / CH3 167,5 / C 114,6 / CH 148,5 / CH 126,3 / C 130,7 / CH 116,3 / CH 160,2 / C CDCl3 50 MHz 112 Os sesquiterpenos drimanos derivam dos terpenóides. Esta classe de substâncias é conhecida por suas importantes funções biológicas e fisiológicas, fato este que justifica o seu uso na área farmacêutica. Acreditava-se que os terpenóides em plantas superiores eram sintetizados a partir da via do acetato-mevalonato a partir da conjugação de unidades do isopreno ligando-se orientados no sentido inverso (cabeça-cauda). Mais recentemente, com a descoberta da via do não mevalonato, o conceito de biossíntese passou por algumas modificações; a via principal, via do acetato-mevalonato, age ao nível citoplasmático, mais precisamente nas mitocôndrias sintetizando preferencialmente esteróides e sesquiterpenos. Já a via secundária, via do não mevalonato age nos plastídios sintetizando todas as outras classes de terpenos, incluindo os carotenóides e as clorofilas (DEWICK, 2009; DE LAS HERAS, et al., 2009). Até o momento são conhecidos cerca de 30.000 terpenos, que são classificados de acordo com o número de unidades isoprênicas: hemiterpenóides (C 5), monoterpenóides (C10), sesquiterpenóides (C15), diterpenóides (C20), triterpenóides (C30) e tetraterpenóides (C40) (DUBEY, et al., 2009). Nos vegetais eles apresentam diversas funções: os monoterpenos são os principais constituintes dos óleos voláteis, atuando na atração dos polinizadores; os sesquiterpenos atuam nos sistemas de defesa das plantas contra fungos, bactérias e insetos, com características deterrentes; e os diterpenóides originam os hormônios vegetais importantes para as mais variadas funções dentro da planta. Os triterpenos e os derivados esteroidais também atuam na proteção contra herbivoria, podendo alguns serem antimitóticos, influenciando na germinação de sementes e na inibição do crescimento da raíz, ou seja, possuem características alelopáticas (VICKERY; VICKERY, 1981; HARBONE; BAXTER, 1995; VERPOORTE, 2009; MAHMOUD; CROTEAU, 2009; GERSHENZON; DUDAREVA, 2009). A unidade isoprênica é produzida naturalmente, a partir do ácido mevalônico. Este é duplamente fosforilado por ATP levando ao ácido 5-pirofosfato-mevalônico. Sua desidratação e descarboxilação produzem o pirofosfato de isopentenila, que sofre isomerização ao pirofosfato de dimetilalila (figura 56) (GEISSMAN; CROUT, 1969; MAGRI, 1999). 113 O O OH HO OH ATP HO OH Ácido Mevalônico OPP 5-pirofosfato-mevalônico ATP -CO2 OPP OPP Pirofosfato de Dimetilalila Pirofosfato de Isopentenila Figura 56: Biossíntese do pirofosfato de dimetilalila a partir do precursor ácido mevalônico (Adaptado de: GEISSMAN; CROUT, 1969; MAGRI, 1999). O pirofosfato de dimetilalila reage com uma molécula de pirofosfato de isopentenila, gerando o pirofosfato de trans-geranila. Este por sua vez, reage novamente com uma molécula de pirofosfato de isopentenila levando ao pirofosfato de trans, trans-farnesila, precursor dos sesquiterpenos. O pirofosfato de trans, trans-farnesila sofre ciclização seguida de perda de H + levando ao germacreno (figura 57). OPP Pirofosfato de dimetilalila + OPP OPP Pirofosfato de Isopentenila OPP trans-geranila trans-geranila + OPP Pirofosfato de Isopentenila OPP Pirofosfato de trans, trans-farnesila -H+ -OPP + OPP Pirofosfato de trans, trans-farnesila Germacreno Figura 57: Biossíntese dos sesquiterpenos pela formação do núcleo germacreno (Adaptado de: GEISSMAN; CROUT, 1969; MAGRI, 1999). 114 O germacreno pode levar a formação de todos os outros esqueletos sesquiterpênicos por transformações diversas, com ciclização, rompimento do anel, rearranjo e migração do grupo metila (GEISSMAN; CROUT, 1969; MAGRI, 1999). O esqueleto drimano (figura 58) é formado pelo fechamento do anel do precursor germacreno. Logo após ocorre um rearranjo estrutural com a migração do grupamento metila do carbono C-4 para o C-3 e a ligação da dupla exocíclica permanece no C-4 (JANSEN e GROOT, 1991). Germacreno Rearranjo Drimano Figura 58: Rearranjo drimano do precursor germacreno (Adaptado de: JANSEN e GROOT, 1991). Os drimanos estão presentes em diversas famílias, dentre elas a Winteraceae, principalmente no gênero Drimys. Mas a ocorrência dos drimanos não está limitada apenas as plantas, pois, já foram encontradas também em outros organismos como os fungos, moluscos e esponjas (JANSEN e GROOT, 2004). Esta classe de substâncias vem sendo extensivamente estudadas para o tratamento de diversas doenças, inclusive o câncer (FORSBY; WALUM, 1996; FORSBY, et al., 1998; SILVA, 2009). Na literatura outras atividades biológicas comprovadas cientificamente são relatadas, incluindo atividades antiinflamatórias (MENDES, et al., 1998; CECHINEL FILHO, et al., 1998; EL SAYAH, et al., 2000; CUNHA, et al., 2001; MALHEIROS, et al., 2001; MATSUDA, et al., 2002; SCHEIDT, et al., 2002; ANDRÉ, et al., 1999; 2004; CASTELLI, et al., 2005; MARTINI, et al., 2007; WAITAINCENIS, et al., 2007), antibacterianas (MACHIDA, et al., 1999; FUJITA e KUBO, 2005; MALHEIROS, et al., 2005; SILVEIRA, 2011), molusculicida, piscicida, antihelmíntico e reguladora do crescimento (MORTON, 1981; SIMÕES, et al., 1986; JANSEN e GROOT, 2004). 115 5.4 Atividade biológica 5.4.1 Avaliação da citotoxicidade A ação citotóxica do extrato clorofórmico das cascas, caules e folhas da D. brasiliensis, bem como algumas substâncias isoladas, foram avaliados nas linhagens tumorais de células de leucemia mielóide (K562), de linfóide aguda B (Nalm6), de adenocarcinoma mamário humano (MCF-7) e de melanoma murino (B16F10). Na tabela 10 e 11 estão apresentados os resultados obtidos. Tabela 10: Avaliação da viabilidade celular de K562, Nalm6, MCF-7 e B16F10 em extratos brutos. Amostra Drimys brasiliensis DBCHCl3 Cascas DBCHCl3 Caules DBCHCl3 Folhas Vincristina Paclitaxel K562 CI50 (µg/mL) 21,36 ± 0,81 41,03 ± 1,56 67,66 ± 2,30 2,97 ± 0,66 --------- Nalm6 CI50 (µg/mL) 4,23 ± 0,20 16,04 ± 1,10 19,11 ± 0,95 0,123 ± 0,001 --------- MCF-7 CI50 (µg/mL) 23,60 ± 1,50 ------------------------0,98 ± 0,4 B16F10 CI50 (µg/mL) 9,35 ± 4,95 ---------------------0,31 +0,032 Todos os extratos avaliados apresentaram resultados promissores para a linhagens de células leucêmicas Nalm6 com CI50 entre 4 e 20 µg/mL e para K562 entre 20 e 70 µg/mL. Entre eles, o extrato clorofórmico das cascas apresentou os melhores resultados com CI50 de 4,23 µg/mL para Nalm6 e 21,36 µg/mL para K562. Os extratos foram menos ativos que o controle positivo, porém tratando-se de extratos, os resultados podem ser considerados bons a moderados. Segundo Cañedo (2005) a linhagem celular K562 é utilizada em experimentos que envolvem o mecanismo de diferenciação do câncer, ou seja, uma forma de avaliar o tratamento de células neoplásicas através de agentes indutores da diferenciação celular. Esta linhagem celular em especial apresenta defeitos nas vias de ativação das caspases, havendo um aumento nos níveis dos inibidores de caspase-8 (FLIP) e uma baixa nos níveis da APAF-1, quando comparadas com outras linhagens celulares, como, por exemplo, a Jurkat. Também é observado que esta linhagem também é sensível aos inibidores da COX-2, com ativação de células G0/G1 e da caspase-8 (PENG, et al., 2008). Devido os resultados obtidos para o extrato clorofórmico das cascas, estes foram avaliados para as linhagens de adenocarcinoma mamário humano (MCF-7) e 116 de melanoma murino (B16F10). Este também apresentou resultados significativos para estas células com valores de CI50 de 23,60 e 9,35 µg/mL, respectivamente. O câncer de pele melanoma cutâneo é resultante da modificação dos melanócitos que compõem a pele, cuja principal função é a produção de melanina, um pigmento natural muito importante para a fotoproteção da pele (DE VITA; HELLMANN; ROSENBERG, 2005). No geral é o tipo de câncer que apresenta grande potencial metastático, mesmo em fases iniciais de sua origem, fato este que constitui numa das patologias mais agressivas dentre todas as lesões de pele, incluindo um alto índice de mortalidade, quando diagnosticado tardiamente (INCA, 2010). A prevenção segundo o INCA (2010) inclui ações primárias, como proteção contra a luz solar, que são efetivas e de baixo custo. O auto-exame também é essencial para o diagnóstico precoce da patologia. No caso do portador o tratamento consiste em excisão cirúrgica, quimioterapia, imunoterapia, e uso de medicamentos, como por exemplo, vincristina, vimblastina, paclitaxel e docetaxol, que no geral são bastante agressivos e com efeitos adversos. Seu uso em longo prazo pode acarretar em danos ao sistema fisiológico (GOLDMANN; AUSIELLO, 2005). As substâncias isoladas, exceto as lignanas, foram testadas nas mesmas linhagens tumorais e sob as mesmas condições dos extratos. Todos apresentaram bons resultados frente às células testadas. Dentre as substâncias testadas o 1-β-(pmetoxicinamil)-poligodial apresentou os melhores resultados com CI 50 de 2,80; 0,22; 10,10 e 7,70 µM para as linhagens K562, Nalm6, MCF-7 e B16F10, respectivamente. Dentre os drimanos avaliados, quando a atividade é comparada entre o 1-β(p-metoxicinamil)-poligodial e o drimanial, verificou-se que a introdução do grupamento OH no carbono C-5 de drimanial, a atividade diminuiu ligeiramente. Já o 1-β-(p-cumaroiloxi)-poligodial possui um grupamento OH no carbono C-7’ e com a introdução deste grupamento tornou-se menos efetivo que os demais. É possível que o grupamento OH tanto na posição C-7’ quanto na posição C-5 afete na ligação da molécula ao receptor da célula e que o grupamento metoxi na posição C-7’ favoreça a ligação no receptor, e com isso, o efeito citotóxico se apresenta. 117 Tabela 11: Avaliação da viabilidade celular de K562, Nalm6, MCF-7 e B16F10 das substâncias isoladas. Amostra K562 CI50 (µM) Nalm6 CI50 (µM) MCF-7 CI50 (µM) B16F10 CI50 (µM) 1-β-(p-metoxicinamil)-poligodial 2,70 ± 1,70 0,22 ± 0,073 10,08 ± 0,07 7,69 ± 0,0009 4,57 ± 2,37 1,14 ± 0,42 40,68 ± 3,98 70,95 ± 4,69 7,81 ± 1,43 4,62 ± 1,008 63,11 ± 3,98 96,00 ± 6,09 0,30 ± 0,08 34,78 ± 1,74 ------- -------- 0,41 ± 0,06 205,58 ± 36,89 ------- -------- O O CHO CHO MeO 1-β-(p-cumaroiloxi)-poligodial O O CHO CHO HO Drimanial O O CHO CHO MeO OH Poligodial CHO CHO H Espatulenol H HO H H Vincristina Paclitaxel H 3,22 ± 0,71 --------- 0,01 ± 0,001 --------- --------1,15 ± 0,6 -------0,37 ± 0,04 Existem na literatura alguns ensaios com células tumorais para drimanos. O poligodial inibiu receptores muscarínicos agonistas de acetilcolina ativados (mAChR) na transdução de sinais em células de neuroblastoma humano. O mecanismo pelo qual ele atua está localizado no mAChR e também ao nível da proteína-G ou na proximidade da via de transdução de sinal (FORSBY, et al.; 1998). Em outro trabalho, Forsby e Walum (1996) investigaram o efeito de alguns drimanos (isovaleral, poligodial e epipoligodial) sobre a formação do inositol fosfato (IP) em células de neuroblastoma humano (SH-SY5Y) tentando estabelecer uma correlação com a liberação de Ca 2+ intracelular e a ação das substâncias. Como resultados obtiveram que o poligodial realmente induz a mobilização do IP, mas de forma dependente da concentração do Ca 2+ na linhagem testada. Mais 118 recentemente, Silva (2009), avaliou a ação citotóxica dos extratos clorofórmicos das cascas, caules e folhas, além dos sesquiterpenos drimanos drimanial, 1-β-(pmetoxicinamil)-poligodial, isolados do extrato clorofórmico das cascas, em células tumorais Hela (Adenocarcinoma Epitelial de Cérvix Humano) e não tumorogênica L929 (fibroblasto murino). O extrato clorofórmico das cascas e os compostos isolados mostraram-se citotóxicos para a linhagem tumoral. Além dos drimanos, neste trabalho, também foram isoladas do extrato clorofórmico das cascas aromadendranos e lignanas. Estes têm apresentado potencial citotóxico (ATAWODI; ALAFIATAYO, 2007; HELENO, et al., 2006). Para estas classes, destacam-se ainda atividades, antifúngica, antibacteriana (LIMA; BEATRIZ; RAMOS, 1997; MOREIRA, et al., 2003), antitripanocida, antiviral, antialérgica e antiinflamatória (ATAWODI; ALAFIATAYO, 2007; HELENO, et al., 2006; SIMÕES, et al., 2004). A partir do exposto, pode-se sugerir que os drimanos contribuam com os efeitos citotóxicos apresentados pelo extrato clorofórmico das cascas. Porém pode haver um sinergismo, pois de maneira geral o extrato foi mais efetivo do que os compostos isolados. As substâncias isoladas apresentam por vezes apenas um alvo molecular e são na grande maioria mais eficazes quando estão combinados, como por exemplo, no extrato bruto. Elas podem atuar em vários alvos simultaneamente, e dessa forma aumentam o potencial terapêutico. Fármacos monoalvos segundo Keith e Zimmermann (2004) não são capazes de combater de forma eficiente condições patológicas como o câncer e doenças infecciosas. Estratégias multialvo podem ser aplicadas no tratamento do câncer, por ele ser multigênico. O sinergismo com alvos múltiplos pode potencializar o efeito terapêutico. As substâncias testadas no presente estudo, isolados de D. brasiliensis, ainda não foram plenamente investigados para a atividade biológica antitumoral em outras linhagens de câncer, desta forma necessitando de maiores investigações a respeito disso. Alguns testes estão sendo realizados para sanar esta lacuna, com outras linhagens tumorais. Visto que os alvos celulares podem ser diferentes dependendo das células avaliadas, alguns resultados que podem ser representativos para algumas linhagens podem não ser tão significativos para outras e o inverso também é verdadeiro. Dessa forma faz-se necessário a continuidade destes estudos com diversas linhagens celulares para a verificação da especificidade e do grau de ação. 119 5.4.2 Avaliação da atividade leishmanicida Na busca por novos agentes antiparasitários os extratos clorofórmicos e metanólicos das cascas, caules e folhas, bem como os compostos isolados das cascas forma avaliados em linhagens celulares de Leishmania amazonensis e L. brasiliensis, comparando com padrões de referência e viabilidade celular foi determinada pelo método XTT. Os resultados de concentração inibitória mínima obtida estão na tabela 12 e 13. Tabela 12: Atividade leishmanicida dos extratos de Drimys brasiliensis in vitro nas formas promastigotas de Leishmania amazonensis e L. brasiliensis. Amostra Espécies Drimys brasiliensis DBCH3OH Cascas DBCHCl3 Cascas DBCH3OH Caules DBCHCl3 Caules DBCH3OH Folhas DBCHCl3 Folhas Extrato de Catharantus roseus L. amazonensis Lma CI50 (µg/mL) 83,8 ± 4,03 39,0 ± 0,28 85,0 ± 1,90 99,0 ± 6,90 >100 >100 25,8 ± 0,04 L. brasiliensis M2903 CI50 (µg/mL) >100 40,6 ± 1,40 78,0 ± 10,0 81,9 ± 9,40 >100 >100 27,8 ± 0,04 Dentre os extratos analisados no presente estudo, o extrato clorofórmico das cascas foi o mais ativo. Novamente sugerindo o fato de este extrato possuir atividade devido à presença de sua principal classe de substâncias, os sesquiterpenos drimanos; classe esta que possui inúmeros efeitos farmacológicos confirmado na literatura. Comparando-se com os resultados apresentados, o extrato clorofórmico das cascas foi similar ao extrato de Catharantus, usado como controle. 120 Tabela 13: Atividade leishmanicida das substâncias isoladas das cascas de Drimys brasiliensis in vitro nas formas promastigotas de Leishmania amazonensis e L. brasiliensis. Substâncias 1-β-(p-metoxicinamil)-poligodial L. amazonensis Lma CI50 (µM) 15,85 ± 0,41 L. brasiliensis M2903 CI50 (µM) 17,80 ± 0,68 5,55 ± 0,98 2,52 ± 0,78 20,42 ± 1,31 12,67 ± 1,15 41,45 ± 1,79 25,64 ± 1,12 81,82 ± 0,63 89,10 ± 0,90 0,21 ± 0,04 1,20 ± 0,04 O O CHO CHO MeO 1-β-(p-cumaroiloxi)-poligodial O O CHO CHO HO Drimanial O O CHO CHO MeO OH Poligodial CHO CHO H Espatulenol H HO H H Anfotericina-B H Todos os drimanos apresentaram uma alta seletividade contra as formas promastigotas, porém todos apresentaram CI50 bem superiores ao fármaco de referência anfotericina B. Entre os compostos, o 1-β-(p-cumaroiloxi)-poligodial apresentou a melhor atividade com CI 50 = 5,55 e 2,52 µM, respectivamente, contra as formas de Leishmania amazonensis e L. brasiliensis. Comparando a atividade de ésteres cinamílicos 1-β-(p-metoxicinamil)-poligodial, 1-β-(p-cumaroiloxi)-poligodial e o drimanial, nota-se que a mudança de um grupo metoxila em 1-β-(p-metoxicinamil)poligodial e drimanial por um grupo hidroxila no anel aromático em 1-β-(pcumaroiloxi)-poligodial, provocou um aumento da atividade leishmanicida contra as duas formas de Leishmania analisadas. O poligodial é um drimano sem o grupamento cinamílico e os resultados são semelhantes aos do drimanial. Esses 121 resultados indicam a importância do grupo p-hidroxicinamil à atividade leishmanicida dos drimanos analisados. 5.4.3 Avaliação da atividade plasmodicida Os extratos e os compostos 1-β-(p-metoxicinamil)-poligodial e o 1-β-(pcumaroiloxi)-poligodial também foram avaliados quanto à sua atividade antimalárica. Para a atividade plasmodicida foram realizados por incubação de uma suspensão de parasitas nas formas da cultura de trofozoítas de cepa de Plasmodium falciparum F32-Tanzânia (cepa cloroquina-sensível). A triagem inicial dos extratos mostrou atividade plasmodicida apenas para o extrato clorofórmico das cascas, com CI50 = 3,0 µg/mL e inibição de 97% (Tabela 14). Os compostos revelaram promissora atividade plasmodicida, com 100% de inibição e CI50 de 1,01 e 4,88 µM para o 1-β-(p-cumaroiloxi)-poligodial e 1-β-(pmetoxicinamil)-poligodial, respectivamente. A diferença estrutural entre os dois consiste na mudança do grupamento presente em C-7’. Enquanto em 1-β-(pcumaroiloxi)-poligodial o grupamento ligado é OH, no 1-β-(p-metoxicinamil)poligodial o grupamento metoxi está ligado. A presença do grupamento OH pode estar influenciando na alteração das atividades físico-químicas da molécula como hidrofilicidade, entre outras causando uma mudança na reatividade química. Em Drimys angustifolia Miers predominam os drimanos poligodial, 1-β-(pmetoxicinamil)-poligodial e o drimanial. Estes compostos apresentam potencial antifúngico (CASTELLI, et al., 2005; MALHEIROS, et al., 2005), antinociceptivo (EL SAYAH, et al., 1998; 2000), antiinflamatório (CECHINEL-FILHO, et al., 1998; MALHEIROS, et al., 2001; CUNHA, et al., 2001) e antihiperalgésico (MENDES, et al., 1998; MENDES, et al., 2000; MARTINI, et al., 2007). Estudos recentes indicaram que o extrato bruto hexânico de Drimys brasiliensis e o poligodial mostraram atividade contra Leishmania spp. na faixa entre 22 e 62 µg/mL (265 µM). O poligodial também apresentou uma excelente atividade alta seletividade parasitária para tripomastigotas de Trypanosoma cruzi (2 µg/mL; 8,5 µM) (CORREA, et al., 2011). 122 Tabela 14: Atividade plasmodicida dos extratos, substâncias isoladas das cascas de Drimys brasiliensis in vitro nas formas trofozoítas de Plasmodium falciparum. Amostra Drimys brasiliensis Substâncias DBCHCl3 Cascas DBCH3OH Cascas DBCHCl3 Caules DBCH3OH Caules DBCHCl3 Folhas DBCH3OH Folhas 1-β-(p-metoxicinamil)poligodial * % Inibição CI50 97 ± 3,0 0 0 0 40±6,0 0 100 3,00 ± 0,4 > 10 > 10 > 10 > 10 > 10 4,88 ± 0,97 P. falciparum FcR3 ATIVO INATIVO INATIVO INATIVO INATIVO INATIVO ATIVO 100 1,01 ± 0,10 ATIVO 100 0,1 ± 0,01 ATIVO O O CHO CHO MeO 1-β-(p-cumaroiloxi)poligodial O O HO Cloroquina CHO CHO * Os valores dos extratos estão em extratos estão em µg/mL. Já os valores das substâncias estão em µM. Nossos resultados, juntamente com os da literatura, sugerem que os drimanos podem ser agentes promissores contra as doenças causadas por protozoários. No entanto, outros estudos (in vitro e in vivo) devem ser realizados a fim de compreender os mecanismos de ação, bem como avaliar a toxicidade, visando seu uso como fármaco. 123 6 CONCLUSÕES Os resultados obtidos no presente trabalho mostram que o extrato clorofórmico das cascas de D. brasiliensis é uma importante fonte de sesquiterpenos drimanos e lignanas. Deste extrato foi possível isolar os drimanos poligodial, 1-β-(pmetoxicinamil)-poligodial, drimanial e 1-β-(p-cumaroiloxi)-poligodial. Outro drimano está em fase de identificação. Destes o 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil-isodrimeninol e o 1-β-O-p-metoxi-E-cinamil-5α-hidroxi-isodrimeninol estão sendo relatados pela primeira vez na literatura. Da classe das lignanas, foi isolada a (-) hinoquinina, que está sendo relatada pela primeira vez para o gênero Drimys. Outra lignana está em fase de identificação. Além destes, foi isolado um aromadendrano denominado espatulenol e também foram isolados um ácido graxo e um glicerídeo. Todas as substâncias foram identificadas por comparações de dados de ressonância magnética nuclear com valores da literatura. A ação citotóxica dos extratos clorofórmicos de cascas, caules e folhas e substâncias isoladas foi verificada em modelos celulares de leucemia mielóide (K562) e linfóide aguda B (Nalm6), adenocarcinoma mamário (MCF-7) e melanoma murino (B16F10). O extrato clorofórmico das cascas foi o mais ativo para todos os modelos celulares testados, e dentre os drimanos o 1-β-(p-metoxicinamil)-poligodial que foi o mais ativo para todas as linhagens testadas. Os extratos e as substâncias isoladas também foram avaliados em duas formas promastigotas de Leishmania e uma forma trofozoíta de Plasmodium. O extrato clorofórmico das cascas também foi o mais ativo. Os drimanos apresentaram resultados bastante satisfatórios dentre eles, o 1-β-(p-cumaroiloxi)-poligodial foi o mais ativo. Os resultados do presente trabalho mostram a importância química e medicinal da Drimys brasiliensis devido à presença dos sesquiterpenos drimanos nas cascas que contribuem para sua atividade, confirmando seu uso popular no tratamento de diversas patologias que acometem o homem. 124 REFERÊNCIAS ALOUCHE, N.; APEL, C.; MARTIN, M. T.; DUMONTET, V.; GUÉRITTE, F.; LITAUDON, M. Cytotoxic sesquiterpenoids from Winteraceae of Caledonian rainforest. Phytochemistry, v. 70, p. 546-553, 2009. ANDRÉ, E.; MALHEIROS, A.; CECHINEL FILHO, V.; CALIXTO, J. B.; YUNES, R. A. Mechanisms underlying the relaxation caused by the sesquiterpene polygodial in vessels from rabbit and guinea-pig. European Journal of Pharmacology, v. 386, p. 47-53, 1999. ANDRÉ, E.; MALHEIROS, A.; CECHINEL FILHO, V.; CALIXTO, J. B.; YUNES, R. A. Role of nitric oxide and K+ channels in the relaxation induced by polygodial in the rabbit corpus cavernosum in vitro. Journal Cardiovascular Pharmacology, v. 41, p. 300-306, 2003. 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