PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOCIÊNCIAS FORENSES
Identificação das substânciasapostas em impressõesdigitais latentes
Daniela Sant’Ana de Aquino1;
Selma Aparecida Souza Kückelhaus2;
1
Biomédica. Aluna da Pós-Graduação em Biociências Forenses, pela Universidade Católica de Goiás/IFAR
Orientadora: Bióloga. PhD. Ciências Médicas. UnB. Professora adjunta de Histologia e Embriologia - Área de
Morfologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília. Endereço: Universidade de Brasília,
Faculdade de Medicina, Área de Patologia - Laboratório de Imunologia celular. Campus Darcy Ribeiro/Asa
norte Brasília-DF CEP: 70910-900. E-mail: [email protected]
2
RESUMO
Em locais de crime é comum encontrar vestígios como impressões digitais latentes que resultam de substâncias
secretadas pelas glândulas da pele, quando esta toca uma determinada superfície, além dessas susbtâncias,
componentes exógenos como contaminantes, microrganismos e drogas de abuso podem ser encontradas em
impressões latentes. O conhecimento dos componentes formadores de latentes podem ser úteis em perícia
forense para determinar a idade das impressões e fornecer informações preciosas sobre a autoria de crimes.
Considerando que o conhecimento e o comportamento das substâncias deixadas emlatentes podem contribuir
para a elaboração de métodos mais eficientes e seguros de individualização humana, esse trabalho de revisão
teve como objetivo identificar e descrever os compostos apostos em impressões digitais latentes para contribuir
com a perícia forense.
Palavras chave: Impressão digital latente; Glândulas sudoríparas; Glândulas sebáceas; Componentes
exógenos.
Identification of substances in latent fingerprints
ABSTRACT
At crime scenes is common to find latent fingerprints that result from substances secreted by glands of the skin
when it touches a certain surface, beyond these substances, exogenous components as contaminants,
microorganisms and drugs of abuse can be found in latent fingerprints. The knowledge of the components
present in latent can be useful in forensics to determine the age of the latent and to provide valuable information
about the author of crimes. Whereas that the knowledge and behavior of the substances present in latent can
contribute to develop efficient forensic methods, this review work was aimed to identify and to describe the
compounds in latent fingerprints to contribute for forensic.
Keywords:Latent fingerprint; Sweat glands; Sebaceous glands; Exogenous compounds.
1
INTRODUÇÃO
As impressões digitais podem ser consideradas como evidências físicas de um crime,
isso ocorre porque, ao serem apostas em determinada superfície, são deixadasnessas
impressões as substâncias produzidas pelas glândulas da pele,formando um fragmento de
impressão
papiloscópica
latente
(RAMOTOWSKI,
2001;POLIMENI;SARAVO,
2004;RICHMOND-AYLOR et al, 2007;GARG; KUMARI; KAUR, 2011). Assume-se que
essas impressões são específicas para os diferentes indivíduos e permitem assim a
individualização civil e criminal no âmbito das ciências forenses (DIAS, 2011).
Os desenhos datiloscópicos presentes nas regiões de pele espessa, como palma das
mãos e planta dos pés, são formados ao sexto mês de gestação por interação entre o ectoderma
cutâneo e o mesoderma (MOORE; PERSAUD, 2008). A proliferação de células da camada
basal para a epiderme é responsável pela formação das cristas epidérmicas primárias que
invadem a derme e provoca a invasão da derme dentro da epiderme, formando assim as
papilas dérmicas; a interação entre esses dois tecidos proporciona maior adesão na sua
interface (KÜCKEN, 2007).
Considerada o maior órgão do corpo humano, a pele é fundamental para as diferentes
espécies, pois, além de proporcionar individualidade, protege o organismo contra agentes
infecciosos, regula a temperatura corporal, permite a excreção de várias substâncias e abriga
as terminações nervosas sensoriais (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2011).
As secreções são produzidas por glândulas presentes na pele, sudoríparas écrinas e
sebáceas. Nas palmas das mãos e nas plantas dos pés são encontradas somente as glândulas
écrinas, as quais secretam aproximadamente 99% da água presente no suor (RAMOTOWSKI,
2001; JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2011).Ressalta-se que as glândulas sebáceas não são
encontradas nas superfícies palmar e plantar, e sim em regiões do corpo onde o folículo piloso
está presente; a composição sebácea encontrada nas impressões digitais deve-se ao hábito
natural de levar as mãos às demais regiões do corpo.
Diferentes estudos mostram que uma grande variedade de compostos químicos
orgânicos e inorgânicos pode ser encontrada em impressões latentes, incluindo contaminantes
ambientais; além dessas substâncias glandulares, as impressões digitais podem conter células
epiteliais (RAMOTOWSKY, 2001; PINHEIRO; RAIMANN, 2011). Uma vez apostos, os
componentes químicos passam por uma série de transformações como a evaporação do
componente aquoso, o processo de decomposição da impressão, devido à oxidação e à
atividade de microrganismos, além de desgastes decorrentes do intemperismo. Essas
transformações podem influenciar a eficácia de algumas técnicas de revelação baseadas na
interação química com os componentes das impressões digitais (ARCHER et al, 2005) e pode
permitir inferir o período de tempo da aposição à degradação de uma impressão latente.
Fragmentos de impressões latentes são bastante comuns em locais de crime e
representam uma valiosa informação para o estabelecimento da autoria delitiva. Esses
fragmentos, uma vez revelados, são, na prática, utilizados exclusivamente para a
individualização sendo descartadas outras possíveis análises que forneçam dados sobre o
intervalo de tempo entre o toque e a revelação do respectivo fragmento de impressão digital
ou palmar. A obtenção dessas informações baseia-se na análise química dos componentes
apostos em impressões latentes, mas apesar da existência de estudos envolvendo as secreções
presentes na pele, pouco se sabe sobre a composição dos resíduos de impressões latentes que
são misturas complexas de substâncias secretadas pelas glândulas da pele (CROXTON et al,
2010).
Considerando que o conhecimento da composição de substâncias deixadas pelas
impressões e que o comportamento dessas substâncias em diferentes tipos de superfícies e em
função do tempo pode contribuir para a elaboração de métodos mais eficientes e seguros de
individualização humana,esse trabalho teve como objetivo identificar e descrever, pela
revisão da literatura, os compostos apostos em impressões digitais latentes.
2
MÉTODOS
Trata-se de uma revisão de literatura baseada em trabalhos científicos publicados
sobre papiloscopia, em especial, estudos sobre a identificação e caracterização de substâncias
presentes em impressões digitais latentes. O assunto foi pesquisado na base de dados
cintíficos do Google Acadêmico, Periódico Capes (Universidade de Brasília), PubMEd,
Scielo e Science Direct, utilizandoas seguintes expressões em português e inglês: impressões
digitais latentes, compostos de impressões digitais, resíduos de impressões digitais latentes,
microbiota da pele. Durante a pesquisa foram encontrados cerca de seis mil artigos para cada
expressão.
Para a delimitação da pesquisa bibliográfica utilizou-se como critério a inclusão de
artigos científicos publicados nos últimos 10 anos e em cujo título estava explícito, temas
sobre impressões digitais e secreção das glândulas da pele. Segundo esses critérios foram
selecionados 27 artigos científicos e três livros, entre revisões e estudos inéditos.
3
DISCUSSÃO
3.1Substâncias oriundas de glândulas sudoríparas
As glândulas sudoríparas são responsáveis pela produção de parte da secreção
integrante de um fragmento de impressão papiloscópica. Seus produtos são água, compostos
inorgânicos e orgânicos. Ver tabela 1 (RAMOTOWSKI, 2001; CHEMELLO, 2006).
Dentre os componentes inorgânicos,o mais abundante é a água, este constitui
aproximadamente 99% da secreção das glândulas sudoríparas écrinasapostas em impressões
latentes(RAMOTOWSKI, 2001; JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2011). A despeito do seu
grande volume a água rapidamente evapora de impressões digitais. Outros componentes
inorgânicos, como os sais minerais, cloretos, sódio, potássio, íons metálicos, sulfatos,
fosfatos, amônia e cálcio também são encontrados em impressões latentes decorrentes da
secreção das glândulas sudoríparas (RAMOTOWSKI, 2001; CHEMELLO, 2006).
O componente orgânico das glândulas sudoríparas, presente em impressões latentes é
representado por aminoácidos, ureia, ácido lático, açúcares, creatinina, colina e ácido úrico
(CHEMELLO, 2006).
Nos estudos de Croxtonet al (2010) foram encontrados diversos aminoácidos em
impressões latentes, dentre eles aglicina, valina, leucina, serina, asparagina, prolina, ácido
aspártico, ácido glutâmico, fenilalanina e cisteína foram identificados em todas as amostras
estudadas. Aminoácidos como a lisina, ornitina e tirosina estavam presentes em 99% das
impressões. A serina foi o aminoácido mais abundante seguido por glicina, ácido aspártico e
alanina.
As proteínas identificadas nos resíduos das impressões digitais foram catepsina-D,
queratina 1 e 10 (DRAPEL et al, 2009). Esse estudo demonstrou que as proteínas resultantes
da degradação de células epiteliais chegam a 130 mg nos resíduos liberados por glândulas
sudoríparas écrinas e 384 mg em resíduos de ambas as glândulas, sudoríparas e sebáceas. A
dermicidina que também foi encontrada entre os resíduos apostos em digitais, é um peptídeo
secretado por glândulas écrinas da pele e melanócitos, neurônios e células epiteliais da mama
e da placenta. Essa substância é um potencial antimicrobiano natural que é efetivo contra
microrganismos encontradosna pele(DRAPEL et al, 2009; MOREIRA, 2012).
3.2 Substâncias oriundas de glândulas sebáceas
O principal componente oleoso das impressões digitais são os lipídios produzidos
pelas glândulas sebáceas, desses, 30% são compostos de ácidos graxos livres, 33% são
glicerídeos, 22% ésteres de cera, 10% de esqualeno e 5% de hidrocarbonetos (KIMONE et al,
2010). Sabe-se que as glândulas sebáceas produzem em sua maior parte, ácidos graxos,
colesterol,
esqualeno,
ésteres
graxos
e
triglicerídeos
hidrocarbonetos
e
álcoois
(RAMOTOWSKI, 2001;CHEMELLO, 2006), mas também ácido tetradecanóico, ácido
palmítico, ácido esteárico, ácido palmitoleico, ácido oleico e esqualeno (ARCHER et al,
2011); todos esses compostos podem ser encontrados em impressões latentes.
O esqualeno que é um hidrocarboneto altamente insaturado, intermediário linear na
biossíntese de colesterol, e suscetível à oxidação tem sido reportado como um produto da
degradação do colesterol e sua presença em impressões latentes pode sugerir envelhecimento
da latente. Altos níveis desse intermediário foram encontrados em amostras de digitais
preparadas, onde os doadores passavam as mãos no rosto para transferência de produtos de
glândulas sebáceas, que são enormemente encontradas na face;já as amostras controle (em
que os doadores lavavam as mãos antes de doar as digitais) não havia presença do esqualeno
porque este é derivado de glândulas sebáceas e as tais não estão presentes nas palmas das
mãos (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2011; CROXTON et al, 2010).
Os lipídios encontrados nos resíduos de impressões digitais variam de acordocom a
idade e o sexo. Mudanças químicas podem ocorrer e as condições ambientais são importantes
nesse processo (CROXTON et al, 2010).
Segundo Williams, Brown e Bruker (2011) as mulheres depositam mais resíduos de
glândulas sebáceas que os homens da mesma idade. Esse achado pode ser explicado pelo uso
de cosméticos oleosos, como cremes hidratantes, que é hábito comum entre as mulheres
(WEYERMANN; ROUX; CHAMPOD, 2011).Asano et al (2002) mostraram que alguns
resíduos como o ácido palmítico, ácido palmitoleico e ácido oleico são encontrados em
maiores concentrações nas impressões latentes de homens, na comparação com as impressões
produzidas por mulheres, mas apesar de inconclusivo, esse estudo aponta para diferenças na
composição de impressões latentes em relação ao gênero.
Os estudos realizados por Kimone et al (2010) mostram diferenças na composição de
impressões latentes em função da idade. Impressões digitais de adultos possuemo dobro da
massa molecular de carbono quando comparada a impressões de crianças, isso pode ser
explicado pela presença de ésteres de ácido graxo de maior peso molecular e de baixa
volatilidade na secreção sebácea de indivíduos adultos (CHEMELLO,2006).Em contrapartida,
as impressões latentes de crianças mostram maior proporção de ésteres de ácidos graxos de
cadeia curta, que por serem voláteis tornam as latentes menos resistentes à degradação; isso
explica porque as impressões digitais de crianças desaparecem mais facilmente que
impressões de adultos(CHEMELLO, 2006; KIMONE et al, 2010).
Resíduos lipídicos das impressões digitais podem interagir com substâncias de metal,
por serem de carga positiva, os íons das substâncias metálicas, que são negativas, permitindo
a visualização das digitais ao serem reveladas com esses componentes (SAMETBAND et al,
2007).
3.3Microorganismos presentes em impressões latentes
A pele humana é um sítio de colonização por diferentes microorganismos como
bactérias, fungos e vírus. Sabe-se que os componentes formadores de impressões latentes
podem sofrer degradação decorrente de alterações físicas e/ou químicas causadas pela
microbiota oriunda da pele, em função do seu tempo de produção (ARCHER et al, 2011).
Segundo Ramotowski (2001) a maioria dos ácidos graxos livres presentes no suor é
oriunda de lipólise mediada por enzimas ou mesmo por atividade bacteriana. Logo o
conhecimento da microbiota presente em impressões latentes é importante para compreender
as transformações sofridas por impressões latentes ao longo do tempo e mesmo para
identificar o perfil dos componentes formadores de impressões latentes.
Fierer et al (2010) afirmam que a microbiota humana pode variar de acordo a região
geográfica, entre indivíduos e até mesmo em função de hábitos.
Dentre os microorganismos presentes na pele humana as bactérias são as mais
comuns. Comumente são encontradas bactérias residentes comoStaphylococcus coagulase,
Staphylococcus aureus, Micrococcus, Corynebacterinae, Bacteroidales, Parabacteroides,
Proprionibacterineae,
Ruminococcaceae,
Clostridiales,
Anaerococcus,
Peptoniphilus,
Pityrosporum e bactérias transitórias como as Pseudomonas(FIERER et al, 2010; LOCKS et
al, 2011).
Tabela 1: Substâncias e microorganismos encontrados em impressões latentes.
Origem
Componentes glandulares, substâncias
Referências
exógenas e microorganismos
Glândulas
sudoríparas
Inorgânicos
Orgânicos
Cloretos,
Íons metálicos,
amônia,
sulfatos,
fosfatos
água,
ferro.
Proteínas
Aminoácidos
Uréia
Ácido lático
Carboidratos
Creatinina
Colina
Ácido úrico
Orgânicos
Glândulas
Outros
CHEMELLO, 2006
___
Ácidos graxos
Glicerídeos
Hidrocarbonetos
Álcoois
Colesterol
Residentes
Transitórios
LOCKS et al, 2011;
Staphylococcus
coagulase
Micrococcus
Corinebactérias
Bacteroidales
Parabacteroides
Proprionibacterineae
Ruminococcaceae
Clostridiales
Anaerococcus
Peptoniphilus
Pseudomonas
Staphylococcus
aureus
Fungos
Vírus
FIERER et al; 2010
Vitaminas do
complexo B,
riboflavina
Drogas de abuso
Entorpecentes
Nicotina
Pólvora
Resíduos de
explosivos
CHEN et al, 2007;
HAZARIKA et al, 2008;
SHALHOUB et al,
2008;RONNIE NG et al,
2009;
PINHEIRO; RAIMANN,
2011
ABDELHAMID et al, 2011
GIROD; RAMOTOWSKI;
WEYERMANN, 2012
sebáceas
Microbiota
CHEMELLO, 2006
DNA
Acredita-se que a microbiota confira um caráter individual ao ser humano. Isso pode
ser constatado pelo baixo compartilhamento da microbiota entre duas pessoas e até mesmo
entre gêmeos univitelinos; assume-se que cerca de 13% da microbiota presente na palma da
mão é compartilhada entre dois indivíduos (LOCKS et al, 2011).
Apesar do baixo percentual de compartilhamento o perfil da microbiota não deve ser
suficiente para permitir a individualização no âmbito das ciências forense, mas a identificação
de linhagens bacterianas com distribuição geográfica restrita pode fornecer pistas importantes
sobre a origem de um determinado suspeito de crime, quando suas impressões digitais não
forem encontradas nos bancos de dados policiais ou mesmo quando evidências como o DNA
forem ausentes (TIMS et al, 2010).
3.4 Envelhecimento de impressões latentes x Degradação dos compostos secretados
Estabelecer a idade de uma impressão digital é relevante para provar a presença do
suspeito dentro do período em que ocorreu um determinado crime. Uma das formas de se
estimar a idade de uma latente é pela curva de degradação dos compostos apostos nessa
impressão que pode ser traduzida como o seu envelhecimento (WEYERMANN, ROUX,
CHAMPOD; 2011).
No entanto, a determinação da composição do resíduo da latente é complexa e
demanda a padronização dos tipos de resíduos e da sua quantificação em função do seu tempo
de aposição, do substrato de aposição e de variáveis ambientais (GIROD, RAMOTOWSKI,
WEYERMANN; 2012); como dito, alterações físicas, químicas e biológicas afetam os
resíduos deixados numa impressão latente.
Diversas são as variáveis que cooperam para a produção e degradação dos resíduos de
impressões latentes. De acordo com Girod,Ramotowski, Weyermann(2012) a composição dos
resíduos das latentes depende das características intrínsecas do doador, da dieta, idade, e sexo,
da forma como a impressão é produzidaquanto à pressão e o tempo de contato com a
superfíce e a natureza da superfície de aposição quanto à porosidade e textura.
Um exemplo de como a idade pode afetar a composição de uma latente vem dos
estudos de Williams, Brown e Bruker (2011) que, por microespectroscopia infravermelha
mostrou que é comum e estável a presença de cloreto de sódio e de ácido láctico nas
impressões latentes de crianças em função do tempo, enquanto que os níveis de ésteres eram
decrescentes.
Dentre as variáveis ambientais relacionadas à degradação dos compostos formadores
de impressões latentes a temperatura deve ser considerada, pois sabe-se que a exposição de
uma latente a altas temperaturas, entre 400°C a 500°C, podem causar a condensação de
aminoácidos como o ácido aspártico e a alanina formando 3,6-dimetilpiperazina-2, 5-diona e
maleimida e 2,5-furandiona, respectivamente; nessas condições assume-se que a latente
esteve sujeita a calor específico (RICHMOND-AYLOR et al, 2007).
A superfície em que as impressões digitais são apostas também influenciar na
concentração de certos compostos, como o cloreto, que pode variar com a porosidade da
superfície, que como mostrado é três vezes maior em superfícies porosas como o papel filtro
na comparação com folhas de alumínio (CROXTON et al, 2010).
Ensaios realizados por Weyermann, Roux e Champod (2011) revelaram que, ao
decorrer do tempo, o esqualeno era detectado em superfícies porosas depois de trinta dias. Já
em superfícies não porosas o mesmo composto não era encontrado depois de uma semana
tendo sido ligeiramente degradado.
Outra variável a ser considerada é a luz. Sabe-se que na presença de luz o processo de
degradação dos compostos de impressões latentes é acelerado e a presença do esqualeno pode
ser avaliada, em ensaios controlados, para a determinação de uma curva que associa sua
presença à degradação do colesterol, na presença ou não da luz. Ou seja, o esqualeno não é
encontrado após nove dias de incubação na presença de luz porque este acelera a sua
degradação(ARCHER et al, 2011).
A degradação de esqualeno gera produtos de oxidação como o esqualeno mono
hidroperóxido e epóxido de esqualeno que podem ser considerados como indicativos do
envelhecimento de impressões latentes (CROXTON et al, 2010).Sabe-se que o esqualeno,
colesterol e ácidos graxos sofrem degradações significativas em função do tempo, resultando
na produção de novos compostos que em sua maioria são moléculas oxidadas de menor peso
molecular (MONGet al, 1999; ARCHERet al, 2005; WEYERMANNet al, 2011). Um bom
exemplo são os ácidos graxos de cadeia curta, encontrados em maior abundância em
impressões envelhecidas; esses derivam de ácidos graxos de cadeia longa que são frequentes
em impressões recentes (ARCHERet al, 2005). O esqualeno pode ser degradado por microorganismos, resultando em produtos como epóxidos, cetonas, álcoois e hidro peróxidos por
reação com o oxigênio, mesmo em condições de baixa temperatura e luminosidade
(RAMOTOWSKI, 2001). De acordo com Croxton et al (2010) compostos insaturados como o
esqualeno, ácido oleico e ácido palmitoleico são predominantemente perdidos ao longo do
tempo, enquanto que os compostos saturados permanecem inalterados.
Existem outros fatores, ver tabela 2, que interferem na composição dos compostos
deixados pelas impressões digitais e que podem influenciar a composição inicial desses
resíduos (PEIXOTO; RAMOS, 2010; GIROD;RAMOTOWSKI; WEYERMANN,2012).
3.5 Outros componentes encontrados em impressões latentes
Como dito as impressões latentes são compostas por substâncias endógenas, mas
também pode apresentar outros compostos como o DNA e vitaminas até mesmo componentes
exógenos, como cosméticos e drogas de abuso.
A fonte de DNA para compor impressões latentes pode ser do mesmo indivíduo pela
descamação de células das glândulas sebáceas ou pela contaminação com células de outros
indivíduo. Estudos mostram que a quantidade de DNA presentes em impressões latentes é
sufuciente para permitir a identificação precisa do indivíduo do qual a célula originou, por
meio da técnica da PCR (Reação em Cadeia da Polimerase) (SHALHOUB et al, 2008;
PINHEIRO; RAIMANN, 2011).
Tabela 2: Fatores que podem influenciar a variabilidade da composição inicial dos resíduos
deixados pelas impressões digitais latentes.
Fatores que interferem na composição dos resíduos
deixados pelas digitais
Dieta
Características do doador
Idade
Referências
GIROD;RAMOTOWSKI;
WEYERMANN,2012
Sexo
Hábitos
Condições da produção
das latentes
Natureza da superfície
Ângulo de contato
PEIXOTO; RAMOS, 2010;
Pressão de contato
Duração do contato
GIROD;RAMOTOWSKI;
WEYERMANN,2012
Superfície porosa
PEIXOTO; RAMOS, 2010
Superfície semi-porosa
GIROD;RAMOTOWSKI;
WEYERMANN,2012
Superfície não porosa
Vitaminas do complexo B e riboflavina também foram encontradas nos resíduos
deixados por impressões digitais identificadas pela cromatografia a laser assistida (GIROD;
RAMOTOWSKI; WEYERMANN, 2012).
As drogas de abuso podem ser facilmente identificadas em impressões latentes. Dentre
as drogas encontradas agrupam-se os medicamentos como o diazepan, aspirina, opióides
como a metadona que é um fármaco sintético prescrito na terapia a pacientes
toxicodependentes de heroína e de outros opióides (HAZARIKA et al, 2008; RONNIE NG et
al, 2009). Da mesma forma foram identificados em latentes metabólitos da metadona (2etilideno-1,5-dimetil-3,3-difenilpirrolidina),
da
cocaína
(benzoilecgonina),
o
D9-
tetrahidrocanabinol (THC) que é o principal psicoativo presente na maconha (HAZARIKA et
al, 2008) e a cotinina que é um metabólito derivado da nicotina(CHEN et al, 2007).
Outros compostos exógenos como resíduos de explosivos e pólvora podem ser
identificados em impressões latentes pela técnica baseada em espectroscopia a laser induzida
com captura óptica(RONNIE NG et al, 2009;ABDELHAMID et al,2011).
4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As impressões latentes constituem evidências físicas de um crime e o seu caráter
específico permite a individualização civil e criminal no âmbito das ciências. A formação de
uma impressão latente depende de uma variedade de compostos endógenos e exógenos. Como
dito o perfil desses compostos depende de variáveis relacionadas à produção da impressão
latente, como as características intrínsecas do doador, a pressão e o tempo de contato com a
superfíce e a natureza da superfície de aposição. Uma vez produzida, a impressão latente sofre
processos de degradação que são dependente de variáveis ambientais como a temperatura,
umidade, luminosidade e etc.
Até o momentona prática forense, as impressões latentes tem sido utilizadas
exclusivamente para a individualização humana, no entanto, considerando a multiplicidade
dos compostos encontrados em latentes, as variáveis relacionadas à produção e à degradação
desses compostos inúmeras são as informações contidas nas latentes que podem contribuir na
investigação civil e criminal.
Apesar das potencialidades das impressões latentes no fornecimento de novas
evidências no âmbito das Ciência Forenses, novos estudos são necessários para determinar o
perfil dos componentes formadores de impressões latentes que considerem as variáveis
envolvidas na produção das latentes bem como as variáveis ambientais envolvidas na
degradação dos compostos. Considera-se que novos estudos são fundamentais para
estabelecer curvas que permitam a comparação com impressões questionadas, mas também
para permitir transpor dados amostrais para a população.
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