Perspectivas Médicas
ISSN: 0100-2929
[email protected]
Faculdade de Medicina de Jundiaí
Brasil
Rocha Machado, Itibagi; Cappi Maia, Edna Marina; Rossi Ferragut, Lia Mara; A. Bandeira, Ricardo E.;
Silva, Renato S.; Labatut, Ben-Hur; Cassaro, Adriana; Fernandes, Luciana C.; Ferreira Moreira,
Cléber; Fernandes Barry, Rachel; Cardoso de Oliveira, Maria Luisa
Influência da ovarectomia e da reposição hormonal sobre a massa óssea de ratas.
Perspectivas Médicas, vol. 11, enero-diciembre, 2000, pp. 12-15
Faculdade de Medicina de Jundiaí
São Paulo, Brasil
Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=243218229004
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ARTIGO ORIGINAL
Influência da ovarectomia e da reposição hormonal
sobre a massa óssea de ratas.
The influence of the ovariectomy and hormone replacement
on bone mass of female rats.
Palavras-chave: ratos; ovarectomia; estrogênio; menopausa; estudo comparativo.
Key words: rats; ovariectomy; estrogens; menopause; comparative study.
Itibagi Rocha Machado*
Edna Marina Cappi Maia**
Lia Mara Rossi Ferragut***
Ricardo E. A. Bandeira****
Renato S. Silva****
Ben-Hur Labatut****
Adriana Cassaro*****
Luciana C. Fernandes*****
Cléber Ferreira Moreira******
Rachel Fernandes Barry******
Maria Luisa Cardoso de Oliveira******
*Professor adjunto da Disciplina de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina de Jundiaí, SP.
**Professora adjunta da Disciplina de Ginecologia da
Faculdade de Medicina de Jundiaí, SP.
***Professora assistente da Disciplina de Histologia e
Embriologia da Faculdade de Medicina de Jundiaí, SP.
****Ex-residentes da Disciplina de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina de Jundiaí, SP.
*****Ex-alunas do Curso de Graduação da Faculdade
de Medicina de Jundiaí, SP.
******Alunos do Curso de Graduação da Faculdade
de Medicina de Jundiaí, SP.
Contatos com o autor: Av. Brás Leme, 2322 Apto. 64 Santana.
São Paulo, SP. CEP 02022-020. Fone: (0xx11) 6973-8065.
Instituição: Faculdade de Medicina de Jundiaí – Rua
Francisco Telles, 250. Caixa Postal 1295. Vila Arens.
Jundiaí, SP. CEP 13202-550. Fone: (0xx11) 4587-1095.
Artigo apresentado no IV Congresso Médico Acadêmico
da Faculdade de Medicina de Jundiaí, SP como tema
livre e no VI Congresso de Ginecologia e Obstetrícia da
Região Sudeste da FEBRASGO-SOGESP como pôster.
O acadêmico Cléber Ferreira Moreira recebeu auxílio
à iniciação científica da Faculdade de Medicina de
Jundiaí, SP.
Artigo ainda não publicado.
Resumo
O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito da
ovarectomia bilateral e da reposição hormonal utilizando-se estrogênios conjugados eqüinos isoladamente ou
em associação com acetato de medroxiprogesterona, so-
bre a massa óssea em 35 ratas. Trinta animais foram submetidos a ovarectomia e 5 utilizados como grupo controle.
Dez animais receberam estrogênios conjugados durante
4 semanas, 10 receberam estrogênios conjugados e
acetato de medroxiprogesterona durante 4 semanas, 5
receberam solução salina durante 4 semanas e 5 animais
não foram manipulados após a ovarectomia. A massa
óssea foi avaliada em balança de precisão. O teste estatístico foi realizado através da análise de variância.
Observou-se que as ratas ovarectomizadas que não receberam reposição hormonal tiveram perda óssea maior, quando comparadas com as que foram suplementadas
com estrogênios conjugados eqüinos isolados ou associados a acetato de medroxiproges-terona, embora estatisticamente não significativa.
Summary
The objective of this study was to evaluate the
effects of bilateral ovariectomy and hormone
replacement therapy with equine conjugated estrogens
isolated or associated with medroxyprogesterone
acetate on bone mass of 35 female rats. Thirty animals
were submitted to bilateral ovariectomy and 5 were
utilized as a control group. Ten animals received equine
conjugated estrogens during 4 weeks, ten received
equine conjugated estrogen and medroxyprogesterone
acetate for 4 weeks, 5 received saline solution for 4
weeks and 5 were not manipulated after ovariectomy.
Bone mass was evaluated by precision scales. Statistics
analysis was realized by variance analysis, showing
that ovariectomized animals that didn’t receive hormone
replacement therapy had decreased bone mass while
animals that received hormone replacement therapy
had support of bone mass, isolated or associated with
Revista Perspectivas Médicas, 11: 12-15, jan/dez 2000.
Machado, I. R. e cols. - Influência da ovarectomia e da reposição hormonal....
the medroxyprogesterone acetate. There was no
significant statistical difference.
Introdução
A osteoporose é definida como uma diminuição
de massa óssea em relação à massa corporal total (1,2,3,4,5,6,7).
Esta diminuição de massa óssea leva a uma fragilidade
óssea generalizada(8) e conseqüente suscetibilidade a fraturas (2,9,10) em vários locais, tais como: coluna vertebral,
rádio distal e fêmur proximal (11,12,13). Dentre as várias causas da osteoporose, as mais comumente encontradas são a
pós-menopausa e a senil (1,7), ou seja, as que atingem mais
freqüentemente a população idosa.
Com o aumento da expectativa de vida(2) e o
conseqüente aumento da população idosa torna-se
importante, sob o ponto de vista sócioeconômico, a
prevenção das fraturas e, conseqüentemente, redução
tanto da morbidade como da mortalidade decorrente
dessas fraturas e suas complicações, através da prevenção e tratamento da osteoporose.
Albright et al., há mais de 50 anos, sugeriram uma
ligação entre osteoporose e deficiência de estrogênio, o
que foi demonstrado, a partir de estudos pioneiros produzindo osteoporose após ovarectomia em ratas(5,7,14).
Atualmente, tem-se utilizado terapêutica
hormonal à base de estrogênio na tentativa de manutenção de massa óssea em pacientes após a menopausa.
O presente estudo procura avaliar o efeito da
terapêutica hormonal e da ovarectomia sobre a massa
óssea em ratas.
Material e Método
Foram utilizadas 35 ratas, Wistar, com idade de
12 meses, peso médio de 300g, mantidas em gaiola
padrão, recebendo ração balanceada e água à vontade.
Os animais foram divididos em ovarectomizados
bilateralmente e grupo controle. A ovarectomia foi realizada em 30 animais sob anestesia intraperitoneal com
Ketamina/Cloridrato de 2- (2,6- xilidina)- 5,6 – dihidro4- H- 1,3- tiazina, solução 1:1, na dose de 50mg/Kg, por
via dorsal, sendo, a seguir, divididos em 5 grupos:
GI → 10 animais que no 31º dia após ovarectomia
receberam uma dose diária de 0,0124mg/Kg de estrogênios
conjugados eqüinos, intraperitoneal, durante 30 dias.
GII → 10 animais que a partir do 31º dia após
ovarectomia receberam 0,0124mg/Kg de estrogênios conjugados eqüinos e 0,0496mg/Kg de acetato de medroxiprogesterona, intraperitoneal, durante 30 dias.
GIII → 5 animais que a partir do 31º dia após
ovarectomia receberam solução fisiológica intraperitoneal
durante 30 dias.
GIV → 5 animais que não sofreram manipulação
após ovarectomia.
GV → 5 animais que não sofreram ovarectomia.
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Todos os animais foram sacrificados 8 semanas
após o início do experimento e tiveram a tíbia esquerda
extraída livre dos tecidos moles e preparadas para estudo de massa óssea. As tíbias foram colocadas em água a
85º C durante uma semana. A seguir, foram desidratadas
e deixadas livres de gorduras por meio de solução gradual
100% álcool, 50% álcool – éter, 100% éter, 50% éter –
acetona, 100% acetona e, finalmente, secas a vácuo.
Utilizou-se uma balança de precisão Mettler
Toledo modelo AB204, para mensuração de massa óssea.
Resultados
As ratas ovarectomizadas apresentaram significativa redução da massa óssea, em relação ao grupo
controle. Os animais submetidos a reposição hormonal
dos grupos GI e GII, mostraram menor perda da massa
óssea quando comparados com os grupos GIII e GIV,
embora estatisticamente não significativa.
Os resultados estão expressos na tabela 1.
Tabela 1 - Comparações do peso ósseo seco (miligramas)
entre os grupos.
Grupo
GI
G II
G III
G IV
GV
Média
329,42
324,61
294,54
290,86
411,84
F = 11,37
±
±
±
±
±
±
D.P. Mediana Mínimo Máximo
31,43 325,1
295,7
400,1
44,76 314,9
264,5
395,6
21,35 296,8
262,5
316,4
10,83 292,8
274,5
302,1
23,45 407,7
390,9
447,7
N
10
10
5
5
5
P < 0,0001 * ( G 1 = G 2 = G 3 = G 4 ) ≠ G 5
O teste estatístico utilizado foi análise de Variância
(F) e o nível de significância adotado 0,05 (α = 5%). Níveis
descritivos (P) inferiores a esse valor foram considerados
significantes e representados por *.
Discussão
Atualmente, nos países desenvolvidos, a expectativa de vida da mulher situa-se ao redor dos 75 anos.
No entanto, o último período menstrual que caracteriza a menopausa ocorre em média entre os 50 e 54 anos,
fazendo com que as mulheres vivam cerca de um terço
de suas vidas, ou seja, um período de 20 a 30 anos em
estado de total deficiência hormonal. Nos Estados Unidos, a idade média de vida passou de 47 anos em 1900,
para aproximadamente 75 anos em 1990 e, enquanto
havia três milhões de pessoas com idade superior a 65
anos em 1900, hoje esse número alcança 32 milhões(15,16).
No Brasil, a idade média atingiu 66 anos. Dados
mais recentes demonstram que a esperança de vida ao
nascer, mudou de 33,7 anos no início do século, para
66,5 anos em 1993. Estima-se que, no ano 2020, o brasileiro viva em média 72 anos (15).
O osso normalmente está sujeito a dois processos contínuos: formação e reabsorção óssea(1,17). A queda da produção hormonal no início da menopausa
14
Machado, I. R. e cols. - Influência da ovarectomia e da reposição hormonal....
interfere neste equilíbrio levando ao aumento da
reabsorção óssea(8,10,18,19,20) numa proporção de diminuição da massa óssea de 1 a 6% ao ano(3,4,9,20,21,22,23,24).
Albright et al., em 1941, foram os primeiros a relacionar
a deficiência hormonal pós-menopausa e o surgimento
de osteoporose num estudo envolvendo 42 pacientes.
Lindsay et al. (1976) , em estudo envolvendo 120 pacientes submetidos a ooforectomia demonstraram manutenção de massa óssea com o uso de mestranol(22). O mesmo foi observado por outros autores utilizando estradiol(3,21).
Em estudo experimental pioneiro, Saville (1969)
produziu osteoporose em ratas após ovarectomia(5), sendo
que o mesmo foi reproduzido por estudos posteriores(7,14).
Vários autores (6,9,18,23,25), têm demonstrado o efeito
do estrogênio sobre o metabolismo ósseo, revelando ser
um agente efetivo na modulação da atividade
osteoclástica, diminuindo assim, a reabsorção óssea, seja
a nível sistêmico (2,8,10,26) ou local. De fato, os hormônios
têm sido prescritos para um grande número de mulheres
pós-menopausa com o objetivo de prevenir a perda óssea(27).
Os primeiros ensaios clínicos, utilizando
estrogênio no tratamento de osteoporose, mostraram uma
grande incidência de hiperplasia endometrial e tumores
de endométrio e de mama , o que pode ser satisfatoriamente controlado com a adição de progestagênios ao
tratamento(26,28). Isto, no entanto, não interferiu com o
efeito estrogênico sobre o metabolismo ósseo.
A importância de se desenvolver um regime
terapêutico para manutenção e ganho de massa óssea
não precisa ser salientada. Estudos em humanos são
demorados e envolvem uma questão ética importante
no teste de novas drogas.
Existem algumas diferenças nos efeitos da deficiência estrogênica sobre o esqueleto humano e de
ratas(6), entretanto, existem, também, similaridades suficientes nas respostas das duas espécies, para que a
osteoporose induzida em ratas possa ser utilizada como
modelo de estudo preliminar (6,29) .
Em nosso estudo, utilizamos a tíbia de ratas para
medição da massa óssea por ser o local mais precocemente acometido(29). Observamos uma redução significativa da massa óssea após a ovarectomia, conforme foi
observado por outros autores(5,7,19,29,30,31). Os animais que
receberam estrogênios conjugados eqüinos isolados ou
associados a acetato de medroxiproges-terona apresentaram, de modo similar, uma perda de massa óssea menor
em relação aos animais que não receberam reposição
hormonal, embora estatisticamente não significativa.
Acreditamos que este fato se deva ao curto período de
administração hormonal.
Conclusões
Através da avaliação de nossos resultados e sua
comparação com a revisão de literatura concluímos:
1) A ovarectomia produz diminuição da massa óssea
em ratas.
2) O uso de estrogênios conjugados eqüinos diminui a
perda da massa óssea.
3) Não há diferenças entre o uso de estrogênios conjugados eqüinos isolados ou associados a medroxiprogesterona sobre a massa óssea de ratas.
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COMENTÁRIOS BREVES
O mau uso da palavra PATOLOGIA
* Edmir Américo Lourenço
Editor-chefe
A palavra patologia provém do grego e significa estudo (logos) da moléstia (pathos), podendo ser definida
como uma ciência que estuda as alterações estruturais e funcionais que acompanham as moléstias, bem como suas
possíveis causas. A essa tríade correspondem respectivamente as seguintes áreas da patologia: anatomia patológica, fisiologia patológica e etiologia.
Não devemos e nem podemos substituir a anatomia patológica pela simples palavra patologia, hábito extremamente freqüente e incorreto do cotidiano, devendo-se à influência dos Estados Unidos na medicina brasileira.
Correto é dizermos lesões, alterações, moléstias ou mesmo doenças ao invés de patologias. Aliás a palavra patologia
não pode ser usada no plural, não equivale a anatomia patológica e seu uso deve ser abolido definitivamente de
nosso linguajar cotidiano ou científico.
Revista Perspectivas Médicas, 11: 12-15, jan/dez 2000.
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