02 a 05
setembro 2013
Faculdade de Letras UFRJ
Rio de Janeiro - Brasil
SIMPÓSIO - Linguagem em uso: cognição,
mudança e história
INDÍCE DE TRABALHOS
(em ordem alfabética)
A gramaticalidade da expressão foi quando e seus padrões de uso
Alexsandra Ferreira da Silva
Aspectos micro, meso e macroestruturais da correlação aditiva
Ivo da Costa do Rosário
Conceitualização de eventos e codificação gramatical
Maria Angélica Furtado da Cunha
Construções VLoc - o papel dos elementos verbais de movimento e de percepção
na composição de mesoconstruções
Ana Cláudia Machado Teixeira
Desenvolvimento de verbos volitivos no português a partir da perspectiva da gramaticalização de construções
Nathália Felix de Oliveira e Patrícia Fabiane Amaral da Cunha Lacerda
Enquadramentos semânticos para verbos de movimento transitivo direto
Alan Marinho César e Maria Angélica Furtado da Cunha
Gramaticalização da construção ter que + infinitivo na modalidade falada da variedade carioca
Elzimar de Castro Monteiro de Barros
Mente de antigamente
Julia Oliveira Costa Nunes
O esquema construcional verbo de percepção visual em configuração imperativa
no desenvolvimento dos marcadores discursivos: uma análise a partir da
gramaticalização de construções
Lauriê Ferreira Martins e Patrícia Fabiane Amaral da Cunha Lacerda
O uso de SNs Complexos e o gênero notícia
Lorena Cardoso dos Santos e Vera Lúcia Paredes Pereira da Silva
Ordenação de advérbios temporais e aspectuais no português dos séculos XVIII e XIX
Maria Maura Cezario
Página 04
Página 06
Página 07
Página 09
Página 10
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Página 14
Página 16
Página 18
Página 20
Página 21
Padrões de uso da expressão de repente
Sirley Ribeiro Siqueira
Processos de construcionalização do daí que como operador de conclusão – contextos
e padrões de uso
Ana Beatriz Arena
Subjetivização e intersubjetivização no desenvolvimento de pois e pois que
em português
Maria da Conceição de Paiva e Maria Luíza Braga
Ter ou haver? Mudança linguística, gramaticalização e ensino
Rebeca Louzada Macedo
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A GRAMATICALIDADE DA EXPRESSÃO “FOI QUANDO” E
SEUS PADRÕES DE USO
Alexsandra Ferreira da Silva
O trabalho que propomos analisa os diferentes graus de gramaticalidade da expressão “foi quando”
através da observação de seus padrões de uso.Estudando os diversos meios através dos quais se
articulam orações e períodos, chamou-nos a atenção o uso recorrente de “foi quando”, principalmente
em sequências tipológicas narrativas. Tal expressão apresenta padrões de uso distintos, sendo utilizada,
na maioria dos casos, como um mecanismo de coesão sequencial, com funções sintático-semânticas e
discursivo-pragmáticas específicas. Verificamos que o uso da expressão “foi quando” como elemento
de coesão parece estar se fixando na língua como uma microconstrução, nos termos de Traugott
(2008), em função da automação de seu uso.
Desta forma, adotando os pressupostos da teoria funcionalista de linguagem –que estuda os usos
linguísticos em seus contextos efetivos de uso – na linha de Heine e Kuteva (2006), Traugott (2008,
2010), Traugott e Dasher (2005), Givón (2001), Haspelmath (2004), entre outros, bem como em
princípios cognitivistas, conforme Goldberg (1995, 2006) e Croft (1990, 2001), partimos da hipótese de
que a expressão “foi quando”, em viés sincrônico, apresenta graus distintos de gramaticalidade em que
o uso mais gramatical dessa expressão se configura de maneira bastante integrada na língua, como
uma microconstrução que funciona como um conector.
Procura-se comprovar os diferentes graus de gramaticalidade da expressão “foi quando”, a partir
da atuação dos mecanismos de reanálise e de analogia, estritamente relacionados aos processos de
inferência metonímicos e metafóricos. Observamos que, de um lado, a foricidade de “foi quando” cria
condições para que a expressão seja analisada, na maioria dos casos, como um conector; e, de outro,
a transferência metafórica e a reinterpretação contextual determinam a emergência de um uso mais
integrado, construcional.
Desse modo, com base no reconhecimento da importância de se abordar os fenômenos linguísticos em
seu contexto efetivo de uso, procedemos a uma pesquisa na qual são analisadas notícias publicadas no
site: www.g1.globo.com, tendo em vista a recorrência de uso da expressão “foi quando” nesse gênero
textual. Analisamos um corpus constituído por 115 notícias publicadas pelo portal Globo.
Assim, dedicamo-nos, nesta comunicação, a apresentação da expressão “foi quando” em seus
diferentes graus de gramaticalidade, em que o uso mais recorrente dessa expressão apresenta uma
leitura bastante integrada de seus constituintes, formando um tipo de microconstrução, que funciona
como um conector. Salientamos, ainda, a maneira como a referida expressão é utilizada no processo
4
de articulação textual, atentando, especialmente, para o uso de “foi quando” como elemento de coesão.
Nesse caso, o processo de articulação é estabelecido por meio de uma microconstrução, fato que
demonstra que os conectores listados pela tradição não são exclusivos para o estabelecimento de
relações de sentido. Nosso trabalho mostra que há outras formas, como é o caso de “foi quando”,
que estão se configurando no contexto de articulação textual para atender as mais diversas funções
discursivo-pragmáticas.
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Aspectos micro, meso e macroestruturais da
correlação aditiva
Ivo da Costa do Rosário
Grande parte dos gramáticos, por influência da NGB, não incluiu em suas obras a correlação, apesar
de esta apresentar especificidades bem particulares em relação aos processos mais canônicos de
estruturação sintática. Segundo Hopper & Traugott (1997), “todas as línguas têm dispositivos para
interligar as cláusulas no que chamamos de períodos complexos”. Esses mecanismos de ligação
intersentencial diferem radicalmente de uma língua para outra, desde construções justapostas
razoavelmente independentes até construções retóricas dependentes e complexas.
Os autores propõem a existência de três pontos de aglomeração: a parataxe, a hipotaxe e a subordinação.
Esses três processos, segundo grande parte dos funcionalistas, expressam um crescendum de
integração, e, certamente, envolvem entre um ponto e outro variadas formas de integração clausal
constatadas nas diversas línguas do mundo. Quanto à correlação, verificamos asserções esparsas na
literatura linguística funcionalista, o que de per si já justificaria um estudo mais aprofundado sobre
o assunto. Castilho (2004), Módolo (1999), Rodrigues (2007), entre outros autores, se debruçam sobre
essa questão, filiando-se às ideias de Oiticica (1952). Na correlação, segundo esses autores, a cada
elemento gramatical na primeira oração corresponde outro elemento gramatical na segunda, sem o
quê o arranjo sintático seria inaceitável. Sob essa ótica, a definição apresentada, de caráter genérico, já
seria suficiente para contrapor a correlação aos outros dois processos mais clássicos de estruturação
do chamado período composto.
Assim, rompendo com a tradição gramatical e ainda com a força do paradigma formal estruturalista,
intentamos analisar a correlação como um processo distinto dos demais à luz da linguística funcional
centrada no uso. Em termos metodológicos, nossa pesquisa persegue, em um primeiro momento, um
viés estritamente teórico. Em um segundo momento, aplicaremos o instrumental teórico adotado ao
corpus, que é formado por textos políticos, extraídos do site da Assembleia Legislativa do Estado do
Rio de Janeiro. O diálogo a ser travado entre correlação e gramática das construções permitirá uma
tipologização das correlatas aditivas em micro, meso e macro-construções (cf. Traugott, 2010). Nossos
resultados apontam para um uso bastante especializado das construções correlatas, inseridas em
contextos com alta carga de argumentatividade, como no seguinte exemplo: Das estatais está sendo
exigido não apenas mais comedimento na fixação dos preços e tarifas como maior transparência
nos negócios. Nosso objetivo, em síntese, é descrever e analisar essas construções, buscando suas
especificidades e peculiaridades.
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Conceitualização de eventos e codificação gramatical
Maria Angélica Furtado da Cunha
O objetivo deste trabalho é traçar relações entre processos comunicativos (GIVÓN, 1979), processos
cognitivos de domínio geral (BYBEE, 2010) e codificação linguística. Para tanto, adoto os pressupostos
teórico-metodológicos da Linguística Funcional Centrada no Uso, a qual postula que a categorização
conceptual e a categorização linguística são análogas, ou seja, o conhecimento do mundo e o
conhecimento linguístico seguem, essencialmente, os mesmos padrões. De acordo com essa visão, a
língua constitui um mosaico complexo de atividades comunicativas, cognitivas e sociais estreitamente
integradas a outros aspectos da psicologia humana (TOMASELLO, 1998). A gramática é, pois,
entendida como resultado da estruturação de aspectos comunicativos e cognitivos da linguagem que
desempenham um papel crucial na mudança linguística, na aquisição e no uso da língua. Para ilustrar
a interação complexa de princípios cognitivos e interacionais e codificação gramatical, focalizo, neste
trabalho, a construção de estrutura argumental transitiva. De acordo com Goldberg (1995), algumas
construções de estrutura argumental correspondem aos tipos oracionais mais básicos e, em seu sentido
central, codificam cenas (situações) que são fundamentais à experiência humana. As construções
também devem restringir as classes de verbos que podem ser integradas nelas (por exemplo, verbos
de movimento, transferência etc.), e deve especificar o modo como o tipo de evento verbal se relaciona
ao tipo de evento da construção. A construção transitiva é prototipicamente formada em torno de um
verbo que se relaciona com dois argumentos: um Sujeito/Agente (participante que intencionalmente
realiza a ação) e um Objeto Direto/Paciente (participante que sofre uma mudança de estado ou de
localização). A investigação que realizei comprovou que o padrão estrutural e o enquadre semântico
da construção transitiva estão diretamente relacionados à expressão do evento transitivo prototípico.
Contudo, como pretendo mostrar, por meio de processos de extensão semântica e metafórica, o
padrão SVO também é utilizado para codificar situações que não correspondem ao evento transitivo
prototípico. A fonte dos dados é o Corpus Discurso & Gramática: a língua falada e escrita na cidade
do Natal (FURTADO DA CUNHA, 1998).
Referências
BYBEE, J. Language, usageandcognition. Cambridge: Cambridge University Press, 2010.
FURTADO DA CUNHA, Maria Angélica (org.) Corpus Discurso & Gramática – a língua falada e
escrita na cidade do Natal. Natal: EDUFRN, 1998.
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GIVÓN, T. Onunderstanding gramar. New York: Academic Press, 1979.
GOLDBERG, A. A construction grammar approach to argument structure. Chicago: University of
Chicago Press, 1995.
TOMASELLO, Michael (ed.) The new psychologyoflanguage. New Jersey: Lawrence Erlbaum, 1998.
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Construções VLoc: o papel dos elementos verbais de movimento e
de percepção na composição de mesoconstruções
Ana Cláudia Machado Teixeira
Este trabalho investiga a construção locativa de base verbal VLoc a partir das instanciações em que
figuram verbos de movimento, tais como: chegar lá, vá lá, vamos lá, vem aí, vem cá e de percepção,
como: escuta aqui, olha aqui, olha lá, vê lá, no que se refere à composição de mesoconstruções (Traugott,
2008) e seus padrões de uso no português contemporâneo. Nesse sentido, objetiva-se examinar: i) o
papel dos elementos verbais que constituem a construção, ii) a importância da perspectivização espacial
fina e vasta (Batoréo, 2000), iii) os padrões de uso e seus contextos preferenciais e iv) a influência da
estrutura sintático-semântica, pragmática e discursiva na mudança linguística.
Parte-se da hipótese de que os elementos verbais e locativos são dependentes e tornam-se uma
construção, uma unidade de sentido e forma, nos termos de Croft (2001), classificadas como
microconstrução, de acordo com Traugott (2008). O esquema VLoc têm origem em contextos de frame
espacial em que o verbo integra categoria lexical e o pronome locativo atua como advérbio, ainda
no nível do predicado. Já como microconstruções, tais elementos encontram-se entrincheirados, via
ritualização, motivados por inferências sugeridas (Traugott e Dasher, 2005), forjadas em ambientes
interacionais específicos e articulam um terceiro e distinto sentido.
Estas instanciações cumprem função de marcação discursiva na expressão de crenças, valores,
modalidade, entre outros. A pesquisa embasa-se na Linguística Funcional Centrada no Uso (LFCU)
na qual se compatibiliza as vertentes funcionalista (Bybee, Traugott, Heine, Hopper, Givón, entre
outros) e cognitivista (Croft, Goldberg, Lakoff, Fillmore, entre outros), postulando que os usos
linguísticos são modelos convencionalizados, construídos a partir da interrelação linguagem, cognição
e ambiente sócio-histórico. O corpus selecionado compreende os séculos XIII a XX, retirados do
site “corpusdoportugues.org”. Nas ocorrências, foca-se a análise nas sequências tipológicas, em que
se percebe a atuação de pressões metonímicas e metafóricas em nível stricto. Tais sequências estão
inseridas em artigos de opinião, blogs, textos de ficção entre outros gêneros que, nesse caso, atuariam
em nível lato. Em ambos os níveis, essas pressões contribuiriam para fixação das microconstruções,
na medida em que padrões de uso são rotinizados em contextos específicos.
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DESENVOLVIMENTO DE VERBOS VOLITIVOS NO PORTUGUÊS A PARTIR DA
PERSPECTIVA DA GRAMATICALIZAÇÃO DE CONSTRUÇÕES
Nathália Felix de Oliveira e Patrícia Fabiane Amaral da Cunha Lacerda
Com o intuito de investigar a gramaticalização dos verbos “buscar”, “esperar”, “procurar” e “tentar”
como volitivos na língua portuguesa, assume-se, neste trabalho, a perspectiva da gramaticalização
de construções (TRAUGOTT, 2003, 2008a, 2008b, 2009, 2012), focalizando, primordialmente,
a possibilidade de se estabeler uma rede construcional, a qual relacionaria os diferentes padrões
construcionais de cada verbo em torno de um esquema abstrato comum (TRAUGOTT, 2008a, 2008b;
NOËL, 2007). Tal esquema ainda poderia ser observado nos verbos “almejar”, “desejar”, “pretender”
e “querer”, os quais possuem a noção de volição em seus usos mais basilares.
Comungando com a proposta do Simpósio “Linguagem em uso: cognição, mudança e história”,
consideramos o desenvolvimento de novas construções a partir do uso da língua, bem como
os aspectos estruturais, interacionais e cognitivos envolvidos no processo. Assim sendo, sob a
perspectiva adotada nesta pesquisa, compreende-se a gramaticalização como “a mudança pela qual,
em certos contextos linguísticos, os interlocutores usam (partes de) uma construção com uma função
gramatical ou designam uma nova função para uma construção já existente” (TRAUGOTT, 2009, p.
91). No que se refere ao estabelecimento de uma rede construcional, procura-se, portanto, identificar
os quatro níveis que sistematizariam o processo de gramaticalização dos verbos “buscar”, “esperar”,
“procurar” e “tentar”, a saber: construtos, micro-construções, meso-construções e macro-construções
(TRAUGOTT, 2008a, 2008b, 2009).
A partir desses níveis, também buscamos averiguar a atuação dos mecanismos – frequência
(TRAUGOTT, 2011; BYBEE, 2003, 2010, 2011; MARTELOTTA, 2009), reanálise (TRAUGOTT, 2011;
HOPPER & TRAUGOTT, 2008 [1993]) e analogia (TRAUGOTT, 2011; FISCHER, 2011; GISBORNE &
PATTEN; 2011) – que propulsionariam a gramaticalização dos verbos em análise. A fim de cumprir
os objetivos estabelecidos acima, realizamos uma análise qualitativa, considerando a distribuição dos
verbos “buscar”, “esperar”, “procurar”, “tentar”, “almejar”, “desejar”, “pretender” e “querer” desde
o século XIII até o português contemporâneo. Os dados diacrônicos foram selecionados do corpus
do projeto “CIPM – Corpus Informatizado do Português Medieval” e do corpus do projeto “Tycho
Brahe”. Os dados sincrônicos, por sua vez, foram coletados em três corpora distintos: o corpus do
projeto “Mineirês: a construção de um dialeto”, o corpus do projeto “PEUL - Programa de Estudos
sobre o Uso da Língua” e o corpus do projeto NURC/RJ - Projeto da Norma Urbana Oral Culta do Rio
de Janeiro. Nesse sentido, esta pesquisa considera a possibilidade de se pensar o desenvolvimento de
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verbos volitivos no português de uma maneira integrada. Em vez de se pautar somente em construções
individuais, parte-se da possibilidade de se projetar um esquema abstrato que permite a emergência
de novos padrões construcionais, os quais, mesmo possuindo especificidades de uso, seguem uma
determinada regularidade.
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Enquadramentos Semânticos para Verbos de Movimento
Transitivo Direto
Ana Claudia Abrantes Moreira
Comumente, os verbos de movimento são tratados pelas Gramáticas Tradicionais como intransitivos,
acompanhados de um Sintagma Preposicionado (SPrep) que pode indicar a origem ou o destino do
movimento. Contudo, constatamos,ao observar dados reais da língua em uso, que alguns verbos de
movimento podem ser acompanhados de um Objeto Direto (OD) que codifica o participante afetado
pela ação verbal. Assim, os verbos de movimento no português podem codificar o Sintagma Nominal
(SN) objeto que se move, designando um evento de movimento. Conclui-se, então, que todos os verbos
de movimento têm um participante afetado que identifica a pessoa ou coisa que se move, codificado
sintaticamente como sujeito ou objeto direto.
Diante disso, direcionamos anossa análiseaos verbos de movimentos que necessitam de um OD como
complemento devido a sua condição menos prototípica e por considerarmos que esses verbosnão
podem ser excluídos numa abordagem que prevê um tratamento escalar de transitividade.Para o
simpósio em tela, dentro de uma perspectiva cognitiva da língua em uso, discutiremos acerca dos
possíveis frames ou enquadramentos semânticos a que esses verbos podem pertencer. Essa abordagem
faz parte de um recorte sobre pesquisas acerca de construções de estrutura argumental envolvendo
verbos de movimento transitivo direto, assunto com origem em projeto de iniciação científica.
Consideramos framesexperiências de ordem cognitiva que permitem ao falante ou ouvinte
agrupar determinados elementos por um elo de dependência ou de semelhança. Para Dirk (2006),
osframesverbaispodem ser integrados com a gramática de construções, já que diferentes construções
refletem diferentes modos de realçar o frame. Borba (1996) trata os verbos de movimento como um
conjunto bastante heterogêneo ao agrupá-los em subclasses, seja do ponto de vista sintático e/ou
semântico. Assim, diante de tal dimensão, buscamoscompreender que motivações cognitivas, em
termos de propósitos do falante e necessidades e expectativas do ouvinte, atuam para o enquadramento
desse tipo verbo em frames. A análise segue o aporte teórico da Linguística Cognitivo-Funcional, que
concebe a língua como um conjunto complexo de atividades cognitivas e sociocomunicativas e toma
como dados para a análise linguística enunciados que ocorrem no discurso natural. A pesquisautiliza
como fonte de dados o Corpus Discurso & Gramática: a língua falada e escrita na cidade do Natal
(FURTADO DA CUNHA, 1998). Diferentes tipos textuais narrativos são analisados, como narrativas
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de experiência pessoal e narrativas recontadas, nas modalidades falada e escrita, produzidos por
estudantes de diversos níveis educacionais, a fim de selecionar os verbos de movimento subcategorizados
por OD. Após discussão do material teórico, reunimos os verbos coletado em molduras semânticas, a
fim de identificar os seus valores informacionais no texto.
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Gramaticalização da construção ter que + infinitivo na
modalidade falada da variedade carioca
Elzimar de Castro Monteiro de Barros
Com o objetivo de contribuir para discussões acerca da gramaticalização de construções perifrásticas
para a expressão de significados no domínio da modalidade, investigamos a emergência de novas
estratégias pragmático-discursivas no uso de orações com a construção ter que + infinitivo. No PB
contemporâneo, observamos que o verbo ter pleno, com o significado original de posse, associado ao
elemento que seguido de um infinitivo ([V1terfin. + que + V2inf.]) desenvolve novos usos no domínio
da modalidade. Há evidências sugestivas de que a construção ter que + infinitivo, inicialmente
gramaticalizada com os valores de obrigação e de necessidade, pode deslocar-se, no estágio atual
da variedade carioca, dos domínios deôntico e extrínseco para o domínio epistêmico [+subjetivo]
(TRAUGOTT, 2003, 2010; KRUG, 2000), assim como deste domínio para um uso interacional, que
pode ser interpretado como uma etapa final de um processo que envolveria a intersubjetivização
dessa construção (TRAUGOTT, 2003, 2010; TRAUGOTT & DASHER, 2005), ou seja, constituiria o
último estágio de uma trajetória [-subjetivo>+subjetivo>intersubjetivo], como mostram os seguintes
exemplos:
(1)
Daqui uns dia, tenho que servir o exército mesmo! (CEN-80/02)
(2)
Eu tenho que saí mermo, que eu tenho um compromisso. (CEN-00/15)
(3)
Tenho esperança no homem, tenho esperança, tenho esperança no que ...vem pela frente,
porque do jeito que tá, que tá não dá pra ficar, tem que melhorar... pra frente, sempre pra frente, sempre
melhor. (CEN-00/09)
(4)
Se a gente estiver muito pintada, ele fala que já quer se mostrar, sabe? É cheio de coisa, tem que
ver meu pai, minha filha. Não é fácil. (CEN-80/40)
A fim de comprovar empiricamente essa trajetória no uso de ter que + infinitivo, apresentamos alguns
resultados de um estudo em tempo real de curta duração (tipo tendência), focalizando a correlação entre
domínio e alvo (OLBERTZ, 1998; HENGEVELD, 2004) em que opera esta construção modal e o seu
uso como um recurso interacional ou interpessoal, nos termos de Halliday (1985). Comparamos dados
de fala das amostras do PEUL-UFRJ: Censo 1980 (592 ocorrências) e Censo 2000 (706 ocorrências)
conciliadas no que se refere às variáveis sexo, idade e escolaridade. Os resultados evidenciaram
algumas diferenças na distribuição da construção ter que + infinitivo nas duas sincronias: enquanto,
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na Amostra Censo 1980, predomina o uso de ter que + infinitivo nos domínios extrínseco e deôntico
com alvo no participante, na Amostra Censo 2000, por outro lado, aumenta o emprego de ter que +
infinitivo no domínio deôntico com alvo no evento, o que pode ser interpretado como um cline de
força, instanciando um continuum entre necessidade/obrigação [+forte] > [-forte] (COATES, 1983).
Quanto ao uso interacional da construção ter que + infinitivo, além da identidade no número de
ocorrências nas duas sincronias (10 em cada uma das amostras), há predominância absoluta com o
infinitivo ver, sugerindo uma cristalização de formas, como tem que vê/tinha que vê, que se aproxima
do que Bybee (2010) denomina expressões formulaicas.
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Mente de antigamente
Julia Oliveira Costa Nunes
O presente trabalho é parte da pesquisa de doutorado, cujo objetivo é investigar as possíveis motivações
na ordenação dos advérbios de tempo e aspecto com o sufixo –mente(como frequentemente e
atualmente), numa visão diacrônica da mudança desses elementos. Para tanto, coletamos e analisamos
as ocorrências de advérbios em cartas pessoais e oficiais dos séculos XVI ao XX (PE e PB).
Utilizamos os pressupostos teóricos da Linguística funcional centrada no uso para fundamentar a
pesquisa sobre os mencionados itens adverbiais, um tipo de abordagem que considera haver estreita
relação entre a estrutura linguística e o uso que os falantes fazem dela em contextos reais de comunicação,
não sendo limitada à observação de aspectos formais, ou da difusão das formas pela estrutura social,
incorporandodados semânticos, pragmáticos e discursivos.No quadro da linguística funcional, ao
relacionarmos a posição do adverbial com a semântica do mesmo, utilizamos o princípio icônico da
proximidade (subprincípio da integração): conteúdos mais próximos cognitivamente também estão
mais integrados sintaticamente; e ainda, o que está mais afastado cognitivamente também estará
separado na estrutura.Um outro aspecto a ser abordado diz respeito à gramaticalização.
Os objetivos destetrabalho foram: (i) analisar os advérbios de acordo com sua função semânticopragmática; (ii) observar até que ponto a base adjetiva de um item influencia sua posição; e (iii)
relacionar a função discursiva dos advérbios e sua posição na oração, assim como o papel (inter)
subjetivo do contexto na mudança do item.
Uma questão a ser abordada é de que o advérbio em -mente perdeu analisabilidade, mas não
composicionalidade. O advérbio então mantém as propriedades semânticas da base até o início do
século XX. Se a base é monossêmica, o advérbio também será. A recíproca se torna verdadeira, uma vez
que se a base for plurissêmica, o advérbio terá o mesmo comportamento. Não consideramos o advérbio
como um composto morfossintático, mas sim elemento derivado com vestígios de composição.
Em referência à posição do item adverbial, acreditamos que o papel semântico exercido pelo advérbio
influencia na posição que este ocupa na frase, principalmente na medida em que está relacionado
ao grau de integração entre o item e o verbo ou entre o item e a cláusula. Com isso, esperamos que:
(a) os advérbios se apresentem nas posições imediatas ao verbo, principalmente no que diz respeito
aos aspectuais e aos polissêmicos (aspecto + modo), sendo estes elementos semanticamente ligados à
ação verbal; (b) os elementos tidos como conectivos (que mais se identificam com o aspecto coesivo)
ocorram sempre topicalizados, na margem esquerda da oração; e (c) em relação aos advérbios
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temporais, podemos dizer que estes seriam elementos mais livres no que diz respeito à sua posição,
no entanto, esperamos que estes ocorram mais às margens (tanto direita, quanto esquerda) por serem
elementos adjuntivos, ou seja, fazem referência ao evento como um todo.
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O esquema construcional verbo de percepção visual em
configuração imperativa no desenvolvimento dos marcadores
discursivos: uma análise a partir da gramaticalização de
construções
Lauriê Ferreira Martins e Patrícia Fabiane Amaral da Cunha Lacerda
Este trabalho tem como objeto de estudo os marcadores discursivos (doravante, MDs) derivados dos
verbos de percepção visual “olhar” e “ver”, que, em sua configuração construcional, apresentem a forma
imperativa. Dessa maneira, em comunhão com o Simpósio “Linguagem em uso: cognição, mudança e
história”, nos baseamos nos pressupostos teóricos da gramaticalização de construções (TRAUGOTT,
2003, 2008a, 2008b, 2009, 2010, 2011, 2012; FISCHER, 2011; GISBORNE & PATTEN; 2011; NOEL,
2007; BYBEE, 2010, 2011). Nossos objetivos são verificar se há regularidade entre as microconstruções
de MDs derivados dos verbos de percepção visual “olhar” e “ver”, bem como identificar as meso
e macroconstruções entre os MDs analisados, de modo a evidenciar o papel fundamental dos
mecanismos de reanálise (TRAUGOTT, 2011; HOPPER & TRAUGOTT, 2008 [1993]) e de analogia
(TRAUGOTT, 2011; FISCHER, 2011; GISBORNE & PATTEN; 2011) na mudança linguística
(TRAUGOTT, 2003, 2008a, 2008b, 2009). Realizamos, para tanto, uma abordagem sincrônica a partir
de amostras do português falado contidas em três corpora distintos: o corpus do “Projeto Mineirês:
a construção de um dialeto”, o corpus do projeto “PEUL – Programa de Estudos sobre o Uso da
Língua” e o corpus do NURC/RJ – Projeto da Norma Urbana Oral Culta do Rio de Janeiro”. Também
realizamos uma análise diacrônica a partir de dados levantados no corpus do projeto “CIPM – Corpus
Informatizado do Português Medieval” e no corpus do projeto “Tycho Brahe”. Nossa análise conta com
o levantamento da frequência (VITRAL, 2006; BYBEE, 2003, 2011; MARTELOTTA, 2009), que nos
permite definir o processo de gramaticalização dos marcadores, e com uma análise qualitativa, para
a descrição e interpretação dos contextos específicos de uso de cada um dos tipos de MDs analisados.
Os resultados apontam que: (i) o domínio funcional em que os MDs atuam é o da chamada de atenção
do interlocutor; (ii) há uma tendência à fixação dos MDs derivados de “olhar” e “ver”, em configuração
imperativa, na segunda pessoa do discurso (P2) e no modo indicativo dos verbos; (iii) os MDs
derivados do verbo “olhar” estão mais avançados no processo de gramaticalização, se comparados
aos MDs derivados do verbo “ver”. Portanto, o trabalho por nós realizado visa a incluir os marcadores
discursivos no âmbito da abordagem da gramaticalização de construções, mais especificamente nos
níveis de esquematicidade propostos por Traugott (2008a, 2008b). Nesse sentido, defendemos que
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uma macroconstrução, através do mecanismo da analogia, atrai formas ou funções já padronizadas
a estruturas já existentes, sendo responsável, assim, pela emergência de novos usos, bem como pelo
estabelecimento de redes construcionais disponíveis para o falante.
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O uso de SNs Complexos e o gênero notícia
Lorena Cardoso dos Santos e Vera Lúcia Paredes Pereira da Silva
Esta comunicação pretende apresentar os resultados do estudo do uso de Sintagmas Nominais
complexos em notícias de diferentes tipos de jornal da cidade do Rio de Janeiro. O estudo fez uma
análise comparativa dos SNs encontrados em jornais que possuem um público-alvo diversificado,
indo de jornais de cunho mais popular até os ditos não populares. Com isso, é possível contribuir
não só para a análise e descrição dos SNs complexos, mas também para a caracterização, no que diz
respeito à forma e a função, do gênero notícia jornalística.
Os Sintagmas Nominais considerados complexos são aqueles que apresentam em sua constituição
mais elementos do que o determinante e o nome-núcleo, ou seja, foram analisados os sintagmas
nominais com 3 ou mais constituintes. Constata-se que há uma gradiência de complexidade entre os
SNs, que vai dos que apresentam encaixes de um sintagma preposicional ou oração adjetiva até os
múltiplos encaixes.
Do ponto de vista teórico, foram utilizados os conceitos da análise de Gêneros Textuais ( cf. Marcuschi,
2005 e Paredes Silva, 2010) e do funcionalismo norte-americano (cf. Chafe, 1987 e Prince, 1981 e 1992 ).
De acordo com as pesquisas que vem sendo conduzidas por Paredes Silva (2008, 2012 ), observamos
que muitos gêneros do domínio jornalístico são constituídos por estruturas nominais extensas (
SNs Complexos) , próprias da escrita mais planejada ( Cf. Chafe, 1987 )e que tem a sua ocorrência
favorecida pela presença de nominalizações, que são estruturas com alta carga informacional, por
isso, levamos em conta também na pesquisa o status informacional dos sintagmas analisados ( Cf.
Prince, 1981 e 1992 ). O estudo procurou correlacionar aspectos estruturais ( formais ) e funcionais
dos SNs. Desse modo, também foram analisados aspectos como a densidade informacional e os
encaixes de Spreps, além da presença das nominalizações, e relacionamos estes aspectos com a função
sintática e discursivo-pragmática ( do ponto de vista informacional ) por eles desempenhada.
Após análise criteriosa dos sintagmas nominais dentro do gênero notícia , evidenciou-se que as
notícias dos jornais de cunho mais popular tendem a ter uma complexidade estrutural menor se
comparadas às notícias dos jornais não populares, conforme os critérios utilizados.
20
ORDENAÇÃO DE ADVERBIAIS TEMPORAIS E ASPECTUAIS NO PORTUGUÊS
DOS SÉCULOS XVIII E XIX
Maria Maura Cezario
Conforme sabemos, a classe dos advérbios é a menos homogênea, tanto do ponto de vista semântico
quanto do morfossintático. Essa heterogeneidade é evidenciada pelo fato de os advérbios funcionarem
num plano de utilização da língua que oscila entre o campo do léxico e a área da gramática, normalmente
composta de elementos que assumem funções voltadas para a organização interna do texto ou para a
orientação argumentativa que se quer dar a ele. O presente trabalho investiga as locuções adverbiais
temporais e aspectuais quanto à ordem que podem assumir nas orações do português escrito,
segundo a teoria da Linguística Centrada no Uso, também chamada Linguística Funcional Centrada
no Uso. Essa teoria leva em consideração fatores cognitivos, discursivos e pragmáticos ao estudar as
construções das línguas.
As intenções comunicativas, o conhecimento de mundo partilhado entre falante e ouvinte e a visão
subjetiva do falante a respeito do assunto ou fato apresentado não são deixados de lado na pesquisa
dessa corrente. Os dados que analisamos foram retirados de cartas pessoais dos séculos XVIII e XIX,
fase do chamado português clássico ou moderno, quando a língua portuguesa estabiliza padrões
ortográficos e tende à maior regularização morfossintática e gramatical. O corpus foi montado
a partir do Corpus Histórico do Português TychoBrahee do Laboratório de História do português
brasileiro, da UFRJ. Além da ordenação, são estudadas a função semântica de cada locução, segundo
Ilari (2001) e Martelotta (1994), e sua função discursiva, conforme Paiva (2008) e Cezario, Machado
e Soares (2009) e a relação entre continuidade do referente-sujeito e a posição da locução adverbial
temporal. O levantamento e cruzamento dos resultados são realizados com a ajuda do programa SPSS
(StatisticalPackage for the Social Sciences), um software aplicativo de tratamento estatístico de dados.
Essa proposta de análise tem como objetivo observar de que forma esses itens motivam a ordenação
em que as locuções aparecem nas orações do corpus selecionado. BIBLIOGRAFIA: ILARI, Rodolfo.
A Expressão de Tempo em Português. São Paulo: Contexto, 2001; MARTELOTTA, Mário Eduardo T.
Os Circunstanciadores Temporais e sua Ordenação: Uma Visão Funcional. Rio de Janeiro: UFRJ (Tese
de Doutorado), 1994; PAIVA, Maria da Conceição de. Ordem não-marcada de circunstanciais locativos
e temporais. In: Anthony Julius Naro e a Lingüística no Brasil: uma homenagem acadêmica. Rio de
Janeiro: 7Letras, 2008. RIOS DE OLIVEIRA, M; CEZARIO, M.M.Adverbiais: aspectos gramaticais e
pressões discursivas. Niterói: EDUFF, 2012.
21
PADRÕES DE USO DA EXPRESSÃO DE REPENTE
Sirley Ribeiro Siqueira
Buscamos investigar a expressão de repente com base nos pressupostos da Linguística Centrada no
Uso (Traugott, 2008; Bybee, 2011) rastreando, mediante uma investigação de natureza pancrônica,
os condicionamentos envolvidos no processo de mudança por gramaticalização de nosso objeto de
estudo. Nossa hipótese central é que de repente seja uma expressão polissêmica, em processo de
gramaticalização motivado por mecanismos como reanálise (ligada à subjetivação, com atenção a
fatores contextuais envolvidos na interpretação da expressão), analogia (relacionada ao processo de
metaforização) e aumento na frequência (token e type). Dentre tais mecanismos, contudo, notamos
a relevância do papel da reanálise, uma vez que o falante, ao enunciar seu ponto de vista sobre
determinado assunto, recruta de repente como modalizador epistêmico de possibilidade e o ouvinte
se dá conta deste fato com base em pistas do entorno da expressão.
Alguns de nossos objetivos são determinar todas as ocorrências da construção pesquisada,
organizando-as simultaneamente por padrões funcionais e contextos de uso, numa pesquisa de
caráter histórico; observar a ordem da construção na oração (P1 - iniciando a sentença; P2 - fechando
a sentença; P3 - entre o sujeito e o verbo e P4 - entre o verbo e o objeto); investigar uma possível relação
entre os diferentes usos de de repente e as sequências tipológicas em que se encontra inserido e propor
uma escala sincrônica de usos a partir da abstratização das acepções. Os dados de língua escrita,
por ora pesquisados, são provenientes do site Corpus do Português (http://www.corpusdoportugues.
org). Também buscamos dados da modalidade oral no acervo do projeto do grupo de estudos Peul,
denominado Amostra Censo, hospedado no site www.letras.ufrj.peul/amostras. Os dados demonstram
que a expressão evidencia um caráter polissêmico, justificado pelas macrofunções arroladas: advérbio
de modo, modalizador epistêmico de possibilidade e marcador discursivo.
O primeiro dos usos, abonado pelos estudos tradicionais, configura-se como forma não-marcada, mais
recorrente nos dados, ligado a sequências narrativas; as duas últimas acepções, mais abstratizadas,
aparecem, com mais prioridade, em sequências argumentativas. Acreditamos que este estudo possa
contribuir com as discussões realizadas durante o simpósio, uma vez que privilegia a visão de língua
moldada a partir de usos efetivos na sociedade.
22
PROCESSO DE CONSTRUCIONALIZAÇÃO DO “DAÍ QUE” COMO OPERADOR
DE CONCLUSÃO: CONTEXTOS E PADRÕES DE USO
Ana Beatriz Arena
Concluir não só é um processo cognitivo subjacente à elaboração do conhecimento e, como tal,
pertinente à condição humana, como também é uma ação argumentativa, codificada linguisticamente
por meio de diferentes formas. Uma delas é a expressão “daí que”, objeto deste estudo, para a qual
se defende que segue uma trajetória diacrônica de gramaticalização, assumindo sincronicamente o
estatuto de operador argumentativo de conclusão.
Seguimos os pressupostos teóricos do Funcionalismo Linguístico no que diz respeito à gramaticalização
de construções, nos termos principalmente de Traugott (2008) e Bybee (2010), em articulação com a
Gramática de Construções, de perspectiva cognitivista, segundo Croft (2001). Entendem-se construções
como expressões formadas por duas ou mais palavras, constituindo estruturas relativamente fixas. No
caso em estudo, à contração da preposição “de” com o locativo “aí”, soma-se a conjunção subordinativa
integrante “que”, formando um todo sintático-semântico de valor conclusivo. Nossos achados iniciais
indicam que “daí que” é uma inovação linguística bastante recente, remontando provavelmente ao
início do século XX, cujo lócus preferencial de ocorrência são as sequências argumentativas.
A análise diacrônica aponta para instanciações de construções possivelmente participantes na gênese
do operador “daí que”: “de aí se infere que” (século XVII), “Daí se seguirá que” (século XVIII) – em
estruturas linguísticas que Diewald (2006) chama de “contextos atípicos”; “seguiu-se daí que” (século
XVIII), “Concluir daí que” (século XIX) e “Não se infira daí que” (século XX) – “contextos críticos”,
segundo a mesma autora. Em análise sincrônica, verificamos que “daí que” sofre reanálise, sendo
empregado como operador de conclusão, apresentando perda de fronteira e de composicionalidade
entre seus componentes, pareando forma e sentido: “A leitura do mundo precede a leitura da palavra,
daí que a posterior leitura desta não pode prescindir da continuidade da leitura daquele” (Paulo Freire,
1981). Com este estudo, objetivamos investigar a ontogênese do operador “daí que”, consultando textos
escritos de base argumentativa dos períodos arcaico, moderno e contemporâneo da língua portuguesa.
Por meio do levantamento das frequências type e token (Bybee, 2003), objetivamos, ainda, verificar
a produtividade da expressão sob investigação e reconhecer padrões de uso determinantes na sua
fixação como operador de conclusão.
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SUBJETIVIZAÇÃO/INTERSUBJETIVIZAÇÃO NO DESENVOLVIMENTO DE POIS
E POIS QUE EM PORTUGUÊS?
Maria da Conceição de Paiva e Maria Luíza Braga
O surgimento e desenvolvimento de novos conectores nas línguas naturais constituem um campo
fértil para a compreensão da forma como operam as mudanças por gramaticalização. Uma hipótese
frequentemente aventada é a de que elementos de ligação inter-oracional, embora apresentem
particularidades posicionais e suprassegmentais, se submetem a processos mais gerais como o de
subjetivação e o aumento na sua frequência de uso (Hopper e Traugott, 2003, Bybee e Thompson, 1997,
Traugott, 2003, 2010, Bybee 2010). Novos conectores ampliam, gradativamente, seus contextos de uso
seguindo uma direcionalidade que vai de empregos [-subjetivo] para [+ subjetivo] e [intersubjetivo].
Diversas evidências permitem, porém, problematizar esta hipótese, mostrando trajetórias de mudança
em direção contrária (Evers-Vermeuil, 2005, Gunthner, 2010)
É nesta perspectiva que se insere este trabalho no qual focalizamos o desenvolvimento dos conectores
causais/explicativos pois e pois que do português. Derivados do advérbio latino post, pois e pois que
se inserem, no português moderno, no conjunto dos conectores explicativos, instanciando relações no
domínio epistêmico ou no domínio dos atos de fala. Uma hipótese plausível é a de que este emprego
[+subjetivo] tenha derivado de usos no domínio referencial. Para verificar esta hipótese, procedemos
a uma análise diacrônica, através de um levantamento dos contextos de pois e pois que em textos
representativos do português do século XIII ao século XXI. A análise permite mostrar, em primeiro
lugar, que a trajetória de pois advérbio > pois/pois que conector causal é intermediada por um estágio
em que os dois conectores instanciam relação temporal. Em segundo lugar, permite encontrar
evidências contrárias à hipótese de crescente subjetivização e posterior intersubjetivização. Os
contextos predominantes dos dois conectores, desde os seus primórdios, se caracterizam pela expressão
de justificativas para atos de fala e avaliações/atitudes do locutor em relação aos estados de coisas
descritos, sugerindo, portanto, que aumento de frequência de uso e subjetivização/intersubjetivização
constituem mecanismos independentes de mudança linguística.
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Ter ou haver?
Mudança linguística, gramaticalização e ensino
Maria da Conceição de Paiva e Maria Luíza Braga
A presente pesquisa tem como objetivo principal analisar as mudanças diacrônicas e a variação atual
dos verbos ter e haver, com o intuito de abordar a diacronia desses dois verbos, traçando os processos
de mudança pelos quais passaram. Além disso, neste trabalho, pretendemos abordar como o ensino
da língua abrange estes dois verbos e quais usos destes são realizados por alunos em suas produções
textuais.Ao observar a língua portuguesa no Brasil e seus caminhos no decorrer dos anos, podemos
notar que muitas mudanças ocorreram, nos trabalhos realizados no Projeto Para História do Português
Paranaense visamos estudar estas mudanças.
Dos objetos de estudo que observamos nos corpora do projeto, as mudanças que agiram sobre os
verbos ter e haver despertaram grande interesse devido à divergência entre as recomendações da norma
padrão e do uso corrente da língua.Tais divergências foram estudadas, pela autora deste projeto, em
documentos do século XIX de Paranaguá e os resultados foram comparados com um corpus retirado do
projeto Atlas Linguístico do Brasil, dados do século XXI a fim de constatar as mudanças que se deram
no espaço entre as duas sincronias estudadas e relacionar as mudanças realizadas com o processo de
Gramaticalização (CASTILHO, 1997; HEINE, B. e TRAUGOTT, E. C., 1991; MARTELOTTA, 2003).
A partir das mudanças constatadas nos trabalhos realizados, nasceu o interesse de observar a presença
dos dois verbos em textos escolares, pois, como as recomendações da norma estão muito distantes do
uso, é preciso adequar esta divergência às atividades educacionais.
A união do interesse pela história dos dois verbos, pelo processo de mudanças pelo qual passaram e pela
adequação do ensino da língua portuguesa nas escolas quanto às variações e mudanças linguísticas,
motivou a comparação entre textos de Paranaguá, do século XIX e textos escolares atuais a fim de
analisar como a mudança linguística e o ensino da variação está presente nas escolas.
25
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