II WORKSHOP SOBRE GRAMATICALIZAÇÃO Universidade Federal Fluminense, 7 e 8 de maio de 2014 CADERNO DE RESUMOS Organização Maria da Conceição de Paiva Ivo do Rosário Equipe de Revisão Jocinéia Andrade Sirley Ribeiro Siqueira Tharlles Lopes Gervasio II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. APRESENTAÇÃO Repetindo a história da sua primeira edição, o II WORKSHOP SOBRE GRAMATICALIZAÇÃO realiza-se graças à ação solidária, ao esforço e ao desejo de um grupo de pesquisadores em dar continuidade à discussão e trocas de experiências com respeito aos processos, mecanismos e problemas envolvidos nos estudos de gramaticalização. Promovido, este ano, por iniciativa da Universidade Federal Fluminense e da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o evento chega à sua segunda edição, impulsionado pelas mesmas motivações que orientaram sua criação: promover um encontro de pesquisadores interessados na reflexão e discussão acerca de questões afetas ao fenômeno da gramaticalização e, ainda, na troca de experiências e socialização de suas pesquisas. O II WORKSHOP SOBRE GRAMATICALIZAÇÃO compreende palestras, minicursos, mesa-redonda e grupos de trabalhos temáticos que abrigam estudos e resultados de pesquisas cujos resumos encontram-se nas páginas seguintes. Refletindo a forma como o evento foi organizado, os resumos estão agrupados por grupo de trabalho e, a seguir, por autores, em ordem alfabética. A Comissão Organizadora do II WORKSHOP SOBRE GRAMATICALIZAÇÃO, esperando que os objetivos que nortearam a realização deste evento sejam plenamente atingidos, agradece a participação de todos. COMISSÃO ORGANIZADORA Prof. Dra. Jussara Abraçado – Presidente Prof. Dra. Maria Luiza Braga – Vice Presidente Prof. Dra. Maria Conceição Paiva –1ª- Secretária Prof. Dr. Ivo do Rosário – 2º. Secretário Prof. Dra. Nilza Barrozo Dias – Tesoureira II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. SUMÁRIO GT1 – Gramaticalização: processos e fenômenos Agora: o funcionamento de um item linguístico Andréia Prado Lima, Jorge Augusto A. da Silva ,Valéria Viana Souza e Vânia R. S. Amorim A evolução do particípio presente em português Elaine Ferreira Dias Construções perifrásticas com o verbo passar em uma perspectiva de gramaticalização Geisa Maria J. Jordão A construção Xmente do latim ao português Júlia O. C. Nunes e Júlia L Campos A gradiência da construção quer dizer no português coetâneo brasileiro Luana Nascimento Cunha Entretanto e no entanto: a emergência de dois conectores no Português Medieval Priscilla T. Medeiros Gramaticalização de estar em espanhol e em português brasileiro Telma Aparecida F. da Matta Cori GT2- Gramaticalização e gramática de construções Gramaticalização da microconstrução “foi quando” Alexsandra Ferreira da Silva Construcionalização do conector “daí que”: uma abordagem centrada no uso Ana Beatriz Arena O papel dos elementos verbais e locativos na composição da hierarquia construcional VLoc Ana Cláudia M. Teixeira O papel da analogia na emergência ou extensão das construções Angélica Rodrigues e Carolina Coelho II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. Gramaticalização da construção de espaço/tempo aproximado: “lá para” em contextos narrativos Eder Nicolau Alves Venâncio Marcadores discursivos no âmbito da abordagem da gramaticalização de construções Lauriê Ferreira Martins e Patrícia F. da Cunha Lacerda SnLoc: um processo de gramaticalização e lexicalização Milena Torres de Aguiar Instanciações da macroconstrução verbal conectiva LocV Rossana Alves GT3- Gramaticalização e cognição Gramaticalização e construções encaixadas na aquisição da linguagem Carmelita Minello da Silva Amorim Gramática e cognição: um estudo das construções binominais Caroline P. Martins Santos Manchetes de jornais online: extensão de sentidos do presente do indicativo em referência ao passado recente Caroline Soares da Silva Construção optativa V-RA no português: perda de esquematicidade e chunking ellen Cozine Martins e Maria da Conceição de Paiva Gramaticalização do verbo dar: de sentido pleno a verbo suporte Luana Carvalho Coelho,Valéria V, Souza e Jorge Augusto Alves Evidências sobre a polissemia e a gramaticalização do verbo “ver” Priscilla Teixeira M. Simonis Processo de gramaticalização da construção dice que/diz que: uma abordagem cognitiva Thayssa Taranto Ramires Marcas de subjetividade, construções e gramaticalização Vânia Casseb Galvão GT4- Gramaticalização e Sociolinguística Gramaticalização e variação: perífrases terminativas/cessativas no português brasileiro e europeu Rubens Lacerda Loiola (UFRJ) II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. Variação e gramaticalização no uso de preposições em contextos de verbos de movimento no português brasileiro Marcus Luiz Wiedemer PARA: processos de variação e de gramaticalização? Odete Menon Aí, daí e então em Campo Grande (MS) e São Paulo (SP) Marília Vieira A partícula lá e seus usos nos diversos comunicativos Dalva Barreto de Araújo e Almirene Santana O processo de gramaticalização do verbo ir Leila Maria Tesch Gramaticalização, sociolinguística estrangeira Luis Alejandro e Susana Caribaux e português como língua GT5- Gramaticalização e abordagens formais Gramaticalização de “que” em exclamativas Bruna Karla Pereira Podem construções de baixa frequência se gramaticalizar? Um estudo das construções segundo e conforme no período arcaico . Cassiano dos Santos Construções causativas do português brasileiro: gramaticalização e reanálise Dalmo Vinicius C. Borges e Heloísa Salles Prepositions as complementizers and modal markers in Brazilian Portuguese Daniel Machado e Heloísa Sales Gramaticalização e mudança de ordem nas perguntas-Q Mary Kato Aspectos sintáticos do modo imperativo no português brasileiro Moacir Natércio Ferreira Júnior Gradualismo do processo de gramaticalização e princípio da persistência: indício de uma hierarquia de traços. Sueli Maria Coelho II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. GT6- Gramaticalização e modelos baseados no uso Chunking, constructions e constructionalization: equivalentes em gramaticalização? André Luiz Rauber fenômenos The grammaticalization of the Spanish modal periphrasis tener que + infinitive: a functional discourse grammat view Hella Olbertz A gramaticalização dos verbos modais abordagem sincrônica Marize Dall’ Aglio Hattnher e Kees Hengeveld em português: uma Gramaticalização de orações encaixadas subjetivas: uma perspectiva construcionista Marcela Zambolim de Moura e Patrícia A, da Costa Lacerda Construções com verbo suporte: percepção e uso no Brasil Márcia Vieira Machado De repente: rumo à gramaticalização? Sirley Ribeiro Siqueira Os conectores condicionais em português Taísa Peres de Oliveira Afixação do clítico te no português brasileiro Thiago Laurentino de Oliveira e Célia R. Lopes GT7- Gramaticalização e mecanismos de implementação Gramaticalização de verbos no contexto morfossintático de segunda pessoa do singular e processos metafóricos Cristina Carvalho Estrutura informacional e gramática de construções: análise das construções de foco no português brasileiro contemporâneo Felipe Aleixo Gramaticalização: análise do locativo he em Xipaya Flávia de Freitas Berto Genesis of an evidential category: revelation from the noisy situation Kristine Stenzel II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. A expressão da condicionalidade no sistema verbal do português brasileiro: um estudo diacrônico, sincrônico e comparado Luiz Queriquelli As construções verbais paratáticas Patrícia Bomtorin Gramaticalização da construção de movimento com propósito em português Patrícia Orefice Instabilidade gramatical dos clíticos Tauanne Tainá Amaral GT8- Gramaticalização e projetos em andamento A construcionalização de “A GENTE” no português brasileiro: uma abordagem da linguística centrada no uso Bruna das Graças Soares Aceti Gramaticalização da construção “pois não” Célia Márcia G. N. Lobo Orações encaixadas com os verbos QUERER, PRETENDER E DESEJAR: uma proposta a partir da abordagem construcionista da gramaticalização Fernanda Cunha Souza O pretérito-mais-que-perfeito simples já não é mais o mesmo. Joalede Gonçalves “Não” como prefixo na história da língua portuguesa Lucas Campos Santos Gramaticalização de TMA fora de verbos: quando a palavra “tempo” tempo tem. Marcus Lira O desenvolvimento do uso volitivo de buscar e esperar: uma proposta a partir da abordagem construcionista da gramaticalização Nathália Félix de Oliveira e Patrícia Lacerda GRAMATICALIZAÇÃO E VARIAÇÃO: NÃO OBSTANTE ~ EMBORA; NÃO OBSTANTE ~ NO histórico Pamela Pereira e Maria do Carmo Viegas OBSTANTE ~ APESAR DE~ NÃO ENTANTO – estudo em corpus II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. GT9 - Gramaticalização e novas propostas de pesquisa: interfaces A funcionalidade das expressões cristalizadas no dialeto goiano: uma hipótese de gramaticalização Déborah Magalhães de Barros Gramaticalização e subjetividade no estudo do futuro perifrástico (verbo ir no presente + infinitivo) no português brasileiro Jussara A. de Almeida Categorias cognitivas em novas perspectivas – Renata Barbosa Vicente Recursividade, analogia, e consciência: evolução e evolução filogenética Maria Célia Lima-Hernandes Categorias cognitivas em novas perspectivas Renata Barbosa Vicente A gramaticalização das orações completivas impessoais com ser + nome Nilza Barrozo Dias Mudança gramatical, história social e tradição discursiva: um olhar interfacetado sobre as formas tratamentais tu-você em cartas pessoais pernambucanas dos séculos XIX e XX Valéria S. Gomes Mecanismo de especificação gramaticalização e lexicalização Vanda Cardoso de Menezes (UFF) referencial Usos de tipo no PB Violeta Rodrigues e Heloise V. G. Thompson em processos de II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. GT1- GRAMATICALIZAÇÃO: PROCESSOS E FENÔMENOS Coordenadora: Maria Luiza Braga (UFF) AGORA: O FUNCIONAMENTO DE UM ITEM LINGUÍSTICO Andréia Prado Lima Jorge Augusto A. da Silva Valéria Viana Souza Vânia Raquel Santos Amorim Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) O presente trabalho tem por objetivo analisar, à luz da Teoria Funcionalista, o processo de Gramaticalização do item agora que, na Tradição Gramatical, é comumente classificado como um advérbio de tempo presente e, em uma abordagem sincrônica, observa-se, no entanto, que tal elemento pode ser categorizado em outras funções. Nessa perspectiva, foram selecionados e analisados os padrões funcionais do agora, encontrados em 24 (vinte e quatro) entrevistas do Corpus de Português Popular de Vitória da Conquista – BA, constituído pelo Grupo de Pesquisa em Linguística Histórica e pelo Grupo de Pesquisa em Sociofuncionalismo – CNPq. Neste trabalho, inicialmente, apresentamos uma sucinta abordagem sobre o Funcionalismo cujo propósito principal é observar a língua do ponto de vista do uso. Descreveremos o processo de Gramaticalização, a partir dos postulados de Hopper (1991) e Gonçalves (2007), que discutem como um item que ocupa a classe dos advérbios pode migrar para uma função de conector. Demonstramos que tal processo vem ocorrendo com o item linguístico agora e, para constatação, trazemos, antes da análise de dados, a história desse item e como ele é exposto em compêndios gramaticais e em dicionários etimológicos do português. Em seguida, observamos como esse elemento linguístico é tratado em trabalhos recentes, especialmente, em Rodrigues (2009) e Duque (2009) e, finalmente, analisamos as ocorrências da unidade e as categorizamos segundo a função no corpus supracitado. Os resultados da pesquisa nos sinalizam que o item agora transita por classes além dos advérbios e que, em consonância à Neves (2001), parte de uma função mais concreta, advérbio de tempo, para, em funcionamento na língua em uso, ser realizado com uma função mais abstrata, conjunção adversativa ou introdutor discursivo, depois de sofrer o processo de Gramaticalização. Além desses resultados, na amostra do Corpus analisado, podemos afirmar que o item agora enquadra-se no arranjo linear ESPAÇO > TEMPO > TEXTO e que tem o seu espectro temporal ampliado, ocupando um nível de abstração ainda mais alto. Referências Bibliográficas II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. BECHARA, E. Moderna Gramática Portuguesa. 37 ed., São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2004. CÂMARA JR. Joaquim Mattoso. História e estrutura da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Padrão, 1976. CUNHA, A. F. Funcionalismo. In: MARTELOTTA, M. E. (Org.) et. al. Manual de Linguística. São Paulo: Contexto, 2008. DUQUE, P. H. O elemento agora, sob o enfoque da gramaticalização. Rio de Janeiro: URFJ, Fac. de Letras, 2002. 139 fl. Mimeo. Dissertação de Mestrado. GONÇALVES, S. C. L. et al. Introdução à gramaticalização: princípios teóricos e aplicação. São Paulo: Parábola, 2007. HOPPER, P.; TRAUGOTT, E. Grammaticalization.Cambridge: CUP,1993. MACHADO, J. P. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. Lisboa: Editorial confluência. 2.ed. 1967. NEVES, M. H. de M. A Gramática Funcional. São Paulo: Martins Fontes, 2001. PERINI, M. A. Para uma nova gramática do Português. 10. ed. São Paulo: Ática, 2000. RODRIGUES, F. C. D. Padrões de uso e gramaticalização de agora e então. 309 f.; 2 v. Tese (Doutorado). Universidade Federal Fluminense, Instituto de Letras, 2009. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_actio n=&co_obra=148767>. Acesso em julho de 2012. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ A EVOLUÇÃO DO PARTICÍPIO PRESENTE EM PORTUGUÊS Elaine Ferreira Dias Pontíficia Universidade Católica (PUC-Minas) Com vistas a contribuir para o estudo dos processos de mudança linguística, este trabalho tem por objetivo apresentar uma discussão geral sobre a evolução do particípio presente. Para tanto, realiza-se um estudo diacrônico, levando-se em consideração os diferentes estágios dessa forma participial desde a sua proto-forma, o particípio presente latino. Como ésabido, a mudança do particípio presente ocorreu desde o latim, e se estendeu inevitavelmente ao português, com importantes consequências, que fazem dele uma forma produtiva. A pesquisa se fundamenta nos estudos da linguística funcional, especificamente os estudos de gramaticalização e lexicalização, tanto do ponto de vista sincrônico, quanto diacrônico. Como principal contribuição, este trabalho, além de apresentar e discutir a gênese dos nomes departicipiais, o adjetivo e o substantivo, faz uma descrição sintático-semântica dessas formas, isto é, são analisados a estrutura sintática e os papeis semânticos que essas construções desempenham, a partir do estudo dos dados do corpus diacrônico do português. II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. Referências Bibliográficas BRANDÃO, Cláudio.O particípio presente e o gerúndio em português. Belo Horizonte:[Imprensa Oficial], 1933. BRINTON, L. J.; TRAUGOTT, E. C. Lexicalization and Change.Cambridge University Press (United Kingdom), 2005. Language DIXON, R.; M.W. & AIKHENVALD, A. Y. (edts.) Adjective classes.Acrosslinguistic typology. Oxford: Oxford University Press (Explorations in LinguisticTypology, 1), 2004. EPIFÂNIO DIAS, A. da S. Sintaxe Histórica Portuguesa. Lisboa: Livraria Clássica,1918. HEINE, B.; CLAUDI, U.: HÜNNEMEYER, F. Grammaticalization: a conceptual Framework.Chicago: The University of Chicago, 1991. LEHMANN, Christian. Grammatikalisierung und Lexikalisierung.Zeitschrift für Phonetik, Sprachwissenschaft und Kommunikations forschung (42), 1989, p.1119. LURAGHI, Silvia.Il suffisso –ante/-ente in italiano: fra flessione e derivazione. In A. Mionie L. Vanelli, a cura di, Atti d XXXI Congresso SLI, Roma, Bulzoni, 1999, 261-272. ------------------------------------------------------------------------------------- CONSTRUÇÕES PERIFRÁSTICAS COM O VERBO PASSAR EM UMA PERSPECTIVA DE GRAMATICALIZAÇÃO Geysa Maria Jayme Jordão Universidade Federal Fluminense (UFF) Este trabalho apresenta pesquisa sobre perífrases verbais com o verbo passar, nas quais o verbo aparece ora como verbo pleno ora como verbo auxiliar, conforme os dois exemplos destacados do Corpus do Português: (1) “... que reclamava afeto e apoio incondicional dos que nem sequer suspeitavam de sua existência. Sabia passar por entre todos que a cercavam como um fantasma...”. (2) “Foi a partir do século XVII que as mulheres passaram a fazer parte das atuações teatrais na Inglaterra e na França.” O enfoque teórico dá prioridade à língua em uso, cuja natureza heterogênea abriga a variação e a mudança. Segundo Martelotta (2011, p. 73), “As pesquisas sobre mudança em linguística de uso têm refletido, predominantemente, uma preocupação com os processos de gramaticalização e com a relação entre esse fenômeno de mudança e o desenvolvimento das construções gramaticais, que refletem as regularidades de uma língua.” Apresentamos duas abordagens nesse estudo, a primeira uma abordagem tradicional das perífrases verbais referenciadas nas II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. gramáticas tradicionais, conforme Bechara (2004), Cegalla (2005), Cunha e Cintra (1985) e a segunda, uma abordagem funcionalista com as contribuições da linha cognitivista nos processos de gramaticalização. Destacamos os estudos de Bybee (2010), Dias (2007), Heine (2008), Hopper (1991), Martelotta (2010, 2011), Oliveira (2012), Travaglia (2002, 2003), Traugott (2008), Traugott&Dasher (2002), Goldberg (1995), Raposo (2013), Silva (2011) e outros. Esse estudo faz parte das pesquisas relativas à Tese de Doutorado, que investe nas construções com o verbo passar em uma perspectiva de gramaticalização. Para essa apresentação três hipóteses foram levantadas: 1) O uso do verbo passar pleno é mais recorrente e prototípico; 2) as perífrases com o verbo passar podem ser analisadas em seus usos aspectuais e modais e 3) o verbo passar como auxiliar tem uso mais restrito e apresenta-se não só como perífrase simples, mas também como perífrase complexa. Para comprovar essas hipóteses, os seguintes objetivos foram traçados: 1) Investigar a função aspectual e modal do verbo passar; 2) detectar a diluição de fronteiras entre verbo pleno e verbo auxiliar e 3) analisar toda construção textual e não apenas a locução verbal. Como metodologia de pesquisa, selecionamos construções em que o verbo passar se apresenta como pleno e como auxiliar e o critério de seleção foi identificar os dez primeiros casos encontrados para cada uso, totalizando um corpus de vinte casos. Foram pesquisadas três fontes: o corpus do D&G; o Corpus do Português e notícias veiculadas pela Internet. Selecionado o corpus, propôs-se um estudo de gradiência dos casos, partindo de usos lexicais para usos gramaticais e usos mais gramaticais, entendendo-se que, nesse processo de gramaticalização, a mudança vai ocorrer na direção do final de um continuum. Referências Bibliográficas BYBEE, Joan. Language, Usage and Cognition. Cambridge: Cambridge University Press, 2010. BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. Rio de Janeiro: Lucena, 2004. CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Ed Nacional. , 2005. CUNHA, C.; CINTRA, L. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. DIAS, N. B; SIGILIANO, N. S. Mudança semântica e polissemia verbal nas construções do pegar no discurso. In: Estudos da língua em uso – Da gramática ao texto. Universidade Federal de Minas Gerais, 2010, 17-40. GOLDBERG, Adele E. Constructions: a construction approache to argument structure. Chicago: The University of Chicago Press, 1995. HEINE, B. Grammaticalization. In: J.; J. (editors). The Handbook of Historical Linguistics. Balckwell Publising, 2008, 575-601. II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. HOPPER, P. J. On some principles of grammaticalizationinTRAUGOTT, E. C. e HEINE, Bernd (eds.). Approaches to grammaticalization, volI – Focus on theoretical and methodological issues. Amsterdam / Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 1991: 17-36. MARTELOTTA, M. E. Mudança linguística: uma abordagem baseada nouso. São Paulo: Cortez, 2011. ________. Categorias cognitivas e unidirecionalidade. In: LIMA-HERNANDES et al (org.). Gramaticalização em Perspectiva Cognição, Textualidade e Ensino. São Paulo: Paulistana, 2010. OLIVEIRA, M. R. de. Tendências atuais da pesquisa funcionalista. In: Funcionalismo Linguístico /Novas Tendências Teóricas. Rio de Janeiro: Contexto, 2012. RAPOSO, E. et al. (org). Gramática do Português. Vol II. Lisboa: Fundação CalousteGulbenkian, 2013. SILVA, Augusto Soares da. (Inter)subjetificação na linguagem e na mente. In Revista Portuguesa de Humanidades/ Estudos Linguísticos. Vol. 15-1. Universidade Católica Portuguesa: Braga, 2011, 93-110. TRAUGOTT, Elizabeth C. Constructions in grammaticalization. In: J.; J. (edts). The Handbook of Historical Linguistic. Balckwell Publising, 2008,pp. 624-648. TRAUGOTT, Elizabeth C. & Dasher, R. B. Regularity in Semantic Change. Cambridge, Cambridge University Press, 2002, 19-23. TRAVAGLIA, L. C..Gramática Ensino Plural. São Paulo: Cortez, 2003. _________ Gramaticalização de verbos – Relatório de pesquisa. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras / UFRJ, Relatório de Pós-Doutorado em Linguística, 2002. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- A CONSTRUÇÃO XMENTE DO LATIM AO PORTUGUÊS Júlia O. C. Nunes e Júlia L. Campos Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Esta pesquisa visa analisar a construção Xmente, produtiva na formação de advérbios na maioria das línguas românicas, desde sua origem no latim até o século XX. Utilizamos os pressupostos teóricos da Linguística Funcional Centrada no Uso, na qual, tendo em vista que a linguagem é um instrumento de interação social, se considera que a investigação linguística está além da estrutura gramatical, contemplando as motivações para os fatos da língua no contexto discursivo. A formação do padrão construcional Xmente é o resultado da gramaticalização de um contexto discursivo originado no latim, como ex: devota mente, em que mente designa estado mental e é modificado por um adjetivo em acordo semântico com ele. Uma vez que construções são pareamento de forma e sentido e o valor semântico não é predizível pelas partes que as compõem, acreditamos que, nas sincronias do latim, esta forma II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. apresentava ainda um valor semântico composicional. Já no início das línguas românicas, o padrão Xmente, mais abstrato e não-composicional, era bastante produtivo, o que nos leva a crer que a gramaticalização desta estrutura tenha ocorrido na fala, no latim vulgar, berço das línguas românicas. Um dos objetivos desta pesquisa é mostrar de que maneira ocorreu a gramaticalização desse contexto inicial até a perda da composicionalidade dessa estrutura e sua reanálise propiciando a formação da construção Xmente. Além disso, trabalhamos com a premissa de que a construção Xmente, uma vez formada e com a produtividade aumentando no português, perdeu analisabilidade, mas ainda é parcialmente composicional. Mente não pode mais ser recuperado como o substantivo, mas a construção ainda mantém as propriedades semântico-morfológicas da base adjetival. Se a base é monossêmica, o advérbio também será. Os advérbios de base polissêmica são mais propensos à mudança semântica do que aqueles considerados monossêmicos. Para o estudo da mencionada construção, trabalhamos com as noções propostas por Bybee (2003; 2010) de frequência, analogia, categorização e chunking. Além disso, tomaremos por base algumas das questões abordadas em trabalhos anteriores, mas com a aplicação de um viés teórico mais recente, como a questão da construcionalização e mudanças construcionais abordada principalmente em Traugott & Trousdale (2013). Referências Bibliográficas BYBEE, J. Cognitive processes in grammaticalization. In: TOMASELO, M. (ed). The New Psychology of Language. New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates Inc, volume II, p. 145 – 167, 2003. BYBEE, J. Language, usage and cognition.Cambridge: C. U. P., 2010. CAMPOS, J. L. A gramaticalização da construção Xmente: uma história do latim ao português. Rio de Janeiro: dissertação de mestrado, UFRJ, 111 fl, 2013. COSTA N.; J. O. Mente de Antigamente. Rio de Janeiro: tese de doutorado, UFRJ, 178 fl., 2013. TRAUGOTT, E. C. & TROUSDALE, G. Constructionalization and Constructional Changes.Oxford: Oxford University Press, 2013. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- A GRADIÊNCIA DA CONSTRUÇÃO QUER DIZER NO PORTUGUÊS COETÂNEO BRASILEIRO Luana Silva do Nascimento Cu nha Universidade Federal Fluminense (UFF) II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. Este trabalho consiste numa análise do padrão construcional do português composto pelo verbo volitivo querer seguido do verbo dizer em textos jornalísticos argumentativos. Assim, examinamos a construção quer dizer em editoriais, cartas do leitor e textos de opinião do jornal Folha de São Paulo. Embasados nos conceitos de Bybee (2001, 2010), Traugott (2008), Traugott e Dasher (2005), Croft (2001) e outros autores, buscamos analisar a gradiência dessa construção nas relações texto e contexto, focalizando a interação entre os participantes de um evento comunicativo, tendo em vista a importância do ambiente situacional e cultural para os sentidos construídos pela língua em uso. O objetivo é demonstrar que essa expressã o constitui padrão construcional em uso no português do Brasil a caminho da gramaticalização. Referências Bibliográficas BYBEE, J. (2010). Language, usage and cognition. Cambridge: Cambridge University Press. BYBEE, J.; HOPPER, P. (org.) Frequency and the emergence of linguistic structure . Amsterdam: John Benjamins, 2001. CROFT, W . Radical construction grammar: syntactic theory in typological perspective . Oxford: Oxford University Press, 2001. TRAUGOTT, E. (2008). Grammaticalization, constructions and the incremental development of language: Suggestions from the development of degree modifiers in English. In: Eckard, R. et al (eds) Variation, Selection, Development – Probing the Evolutionary Model of Language Change . Berlin/New York: Mouton de Gruyter, 219-250. TRAUGOTT, E. C; DASHER, R. change.Cambridge : C. U. P., 2005. B. Regularity in semantic ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- ENTRETANTO E NO ENTANTO: EMERGÊNCIA DE DOIS CONECTORES NO PORTUGUÊS MEDIEVAL Priscilla Thaís Medeiros Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Estudos de gramaticalização têm sido de fundamental importância para explicar a formação de conectores oracionais que introduzem orações adverbiais, presumivelmente a partir de uma trajetória de [- subjetivo]>[+ subjetivo] (Traugott e König, 1991; Traugott 1995, Lee 2006, Traugott 2003, Traugott 2010). É nesta perspectiva que focalizamos, nesta comunicação, a gramaticalização dos conectores adversativosentretanto e no entanto, ambos II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. originados da base “tanto”. Limitamo-nos ao período arcaico do português, com o objetivo de identificar as construções que teriam permitido o desenvolvimento do uso adversativo destes elementos. A hipótese central que norteia o estudo é a de que ambos seguiram uma trajetória de subjetivização gradativa, investindo-se de valores que podem ser distribuídos numa escala conector temporal > conector causal > conector adversativo. Através da análise de textos dos séculos XIII a XV, digitalizados pelo projeto Corpus Informatizado do Português Medieval, procuramos identificar as construções que autorizaram a emergência do sentido adversativo. A análise permite mostrar que a abstratização deentretanto e no entanto já pode ser atestada no português arcaico, em construções ambíguas que, além do sentido temporal, permitem a emergência de valores como contraste ou contra-expectativa. A possibilidade de interpretação adversativa está associada a determinadas propriedades modo-temporais, destacando-se as orações que codificam estados de coisas [realis]. Destaca-se, ainda, a relevância de considerar a relação entre as orações ligadas por estes dois elementos. Referências Bibliográficas HOPPER, P and TRAUGOTT, E. C. Grammaticalization. 2. ed. Cambridge: C. U. P., 2003. LEE, Binna. A Corpus-based Approach the Development of Conjunction While.SNU Working Papers in English Linguistics and Language 5, 2006. p. 7489. Disponívelem: <http://hdl.handle.net/10371/2052>. Acesso em: 29 de julho de 2012. TRAUGOTT, E. C. and König, Ekkehard. The Semantics-Pragmatics of Grammaticalization Revisited. In: TRAUGOTT, E.C. and HEINE, B. Approaches to grammaticalization. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins. 1991. p. 189 – 218. TRAUGOTT, E. C. Subjectification in Grammaticalization. In: STEIN, D. and WRIGHT, S. (eds.) Subjectivity and Subjectivisation. Cambridge: University Press. 1995. p. 31 – 54. ______. From subjectification to intersubjectification. In: HICKEY, Raymond. (ed) Motives for language change. Cambridge: C. U. P., 2003, p. 124-142. ______. (Inter)subjectivity and (inter)subjectification: a reassessment. In: DAVIDSE, Kristin et alii (org), Subjetification, intersubjetification and grammaticalisation.Berlin/New York: Mouton de Gruyter, 2010, p. 29-74 ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- GRAMATICALIZAÇÃO DE 'ESTAR' EM ESPANHOL E EM PORTUGUÊS BRASILEIRO Telma Aparecida Félix da Matta Cori Universidade de São Paulo (USP) II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. O trabalho ora apresentado visa a uma discussão a respeito dos processos de gramaticalização do verbo copulativo estar do espanhol e do português brasileiro, oriundos da forma latina stare. Na proposta de análise a ser apresentada, considera-se que a cópula, em cada uma das línguas moderna sem questão especializou-se no cumprimento de uma função específica, correspondente a um dos traços do feixe presente no verbo latino. Conforme observado por Batllori & Roca (2011) em espanhol o verbo estar é o verbo locativo por excelência, sendo empregado em variados contextos, alguns dos quais, em PB requeririam a cópula ser: ''La panaderia está al otrolado (de la calle)''/ ''A padaria é do outro lado (da rua)''. Em um contexto como este, o uso e de estar em PB, conforme notado por Kewitz (2002) apenas ocorreria mediante a intenção de informar-se uma localização relativa, por exemplo em uma situação na qual, desde um automóvel se procura um ponto de referênçia para a própria localização no espaço. Em espanhol, diferentemente, estar também aparece em construções com particípio, em que o PB só aceitaria o verbo ser: El prémio está patrocinado por uma fundación benéfica/ O prêmio é patrocinado por uma fundação beneficiente. Partindo dos significados do verbo originário stare do latim, 'estar de pé', 'ainda estar de pé', 'permanecer em posição de pé', 'levantar-se rigidamente' (Batllori & Roca, 2011:79), podemos considerar que em espanhol a verbo estar reteve os componentes semânticos da origem aos quais nos referiremos como <<persistência de uma dada configuração. Nossa hipótese é consoante com a análise de Ruiz (1963:73, apud Cardoso & Battaglia, p. 176, 2005) quem analisa estar como um ''verbo atributivo de permanência''. Também se argumentará em favor da ideia de que, em português brasileiro, o verbo estar conserva a interpretação eventiva do stare latino, razão pela qual, nesta língua moderna, estar tenderia mais à expressão de estados dinâmicos do que naquela. Referências Bibliográficas BATLLORI, M.; ROCA. F. Gramaticalisation of Ser and Estar in Romance In JONAS, D. (Ed.). Gramatical Change: Origins, Nature, Outcomes, Oxford, Oxford University Press, 2011, p 73-92 BELINE, R.A gramaticalização de estar + gerúndio no português falado.1999, 112 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Instituto de Estudos da Linguagem, UniversidadeEstadual de Campinas, Campinas, 1999. CARDOSO, M.; BATAGLIA, M. H. V. Os verbos ser e estar do português em oposição ao verbos ein do alemão. In: Pandaemonium Germanicum. São Paulo, v. 1, n. 5,p. 169-192, 2001. KEWITZ, V. A gramaticalização de ser e estar no período medieval e no século XIX.2002, 123 f. Dissertação (Mestrado em Letras) - Departamento de LetrasClássicas e Vernáculas, FFLCH-USP, 2002 MARÍN, R.El componente aspectual de la predicación.2001, 291 f. Tese (DoutoradoemFilologiaEspanhola) - Departament de Filología Espanyola, Universitat Autònoma de Barcelona, Barcelona, 2001 RAMOS, J.; VITAL, L. Algumas diretrizes para uma abordagem formal da II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. gramaticalização In RAMOS, J. ; ALKMIN, M. (orgs.) Para a História do Português Brasileiro, v 5, Belo Horizonte, FALE/UFMG, 2007, p 317-328. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- GT2 - GRAMATICALIZAÇÃO E GRAMÁTICA DE CONSTRUÇÕES Coordenadora: Mariângela Rios de Oliveira (UFF) GRAMATICALIZAÇÃO DA MICROCONSTRUÇÃO “FOI QUANDO” Alexsandra Ferreira da Silva Universidade Federal Fluminense (UFF) O presente trabalho tem como objetivo analisar as possibilidades de mudança por gramaticalização da microconstrução “foi quando”, nos termos de Traugott (2008). Adotamos pressupostos teóricos da Linguística Centrada no Uso, que congrega conceitos da teoria funcionalista – na linha de Heine e Kuteva (2006), Traugott (2008, 2010), Traugott e Dasher (2005), entre outros – e princípios cognitivistas, conforme Goldberg (1995, 2006) e Croft (2001). Partimos da hipótesede que “foi quando”, em viés sincrônico, apresenta graus distintos de gramaticalidade em que seu uso mais gramatical se apresenta de maneira integrada na língua, como uma microconstrução. Hipotetizamos, ainda, que os diferentes graus de gramaticalidade de “foi quando” sejam decorrentes de um processo de gramaticalização, como resultado de mudança diacrônica. A gramaticalização da microconstrução “foi quando” é estudada através da análise dos contextos de micromudanças, conforme Heine (2002), na perspectiva de construcionalização gramatical proposta por Traugott (2012). Observamos, também, a atuação dos mecanismos de reanálise e de analogia, estritamente relacionados aos processos de inferência metonímicos e metafóricos. Para esse estudo, procedemos, inicialmente, a uma pesquisa sincrônica na qual são analisadas notícias publicadas nos sites: www.g1.globo.com e www.odia.ig.com.br, haja vista a recorrência de uso de “foi quando” nesse gênero textual. Posteriormente, pesquisamos dados diacrônicos em textos narrativos no Corpus do Português. Verificamos que “foi quando”, em perspectiva sincrônica, apresenta-se em três padrões de uso: I – [foiverb.ligação(+)] e [quandoadv.integrante]; II – [foiverb.ligação(-) + quandoadv.relativo]; III – [foiquandoconector]. Ressalta-se que o padrão III, em que “foi quando” atua como um conector, representa a maioria dos dados. Esse padrão de uso construcional mostrou-se recente na língua, de acordo com nossa pesquisa em dados diacrônicos. Assim, dedicamo-nos, nesta comunicação, a apresentação de “foi quando” em seus diferentes graus de gramaticalidade, enfatizando que seu uso como mecanismo coesivo apresenta uma leitura holística de seus constituintes, formando uma microconstrução. Salientamos que os diferentes graus de gramaticalidade podem ser vistos como resultado de mudança diacrônica, por meio de um processo de gramaticalização. II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. Referências Bibliográficas CROFT, W. Radical Construction grammar: syntactic theory in typological perspective. Oxford: Oxford University Press, 2001. GOLDBERG, A. Constructions: a construction approach to argument structure. Chicago: The University of Chicago Press, 1995. ________ Constructions at work: the nature of generalization in language. Oxford: Oxford University Press, 2006. HEINE, B. & KUTEVA, T.The genesis of grammar: A reconstruction. Oxford: Oxford University Press, 2006. HEINE, B. On the role of context in grammaticalization. IN: Wisher and Diewald (eds.), 2002. TRAUGOTT, E. C. & DASHER, R. B. Regularity in semantic change. Cambridge: Cambridge University Press, 2005. TRAUGOTT, E. C. The status of onset contexts in analysis of micro-changes. IN: KYTÖ, Merja (ed.), English Corpus Linguistics: Crossing Paths. Amsterdam: Rodopi, 2012. ________. Revisiting subjetification and intersubjetification. IN: CUYCKENS, H., DAVIDSE, K. and VANDELANOTTE, L. eds., Subjetification, Intersubjetification and Grammaticalization. Berlin: Mounton de Gruyter, 2010. ________. Grammaticalization, constructions and incremental development of language: suggestions from development of Degree Modifiers in English. IN: ECKARDT, Regine; JÄGER, Gerhard and VEENSTRA, Tonjes (eds.). Variation, Selection, Development – Probing the Evolutionary Model of Language Change.Berlin/New York: Mouton de Gruyter, 2008. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- CONSTRUCIONALIZAÇÃO DO CONECTOR CONCLUSIVO “DAÍ QUE”: UMA ABORDAGEM CENTRADA NO USO Ana Beatriz Arena Universidade Federal Fluminense (UFF) Concluir é não só um processo cognitivo subjacente à elaboração do conhecimento e, como tal, pertinente à condição humana, como também uma ação lógico-argumentativa, codificada linguisticamente por meio de diferentes formas. Uma delas é a expressão “daí que”, objeto deste estudo, para a qual se defende que segue uma trajetória diacrônica de gramaticalização, assumindo sincronicamente o estatuto de conector conclusivo. Seguimos os pressupostos teóricos da Linguística Funcional Centrada no Uso, que conjuga o Funcionalismo Linguístico, especialmente no que diz respeito à gramaticalização de construções, nos termos, principalmente, de Traugott (2010, 2012), Trousdale (2008) e Bybee (2010), e princípios da perspectiva cognitivista no que tange à Gramática de Construções, com foco nos estudos de Croft (2001). Entendem-se construções como expressões complexas, constituindo estruturas relativamente fixas. No caso em estudo, à contração da preposição “de” com o locativo “aí”, soma-se a conjunção subordinativa II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. integrante “que”, formando um todo sintático-semântico de valor conclusivo. A análise diacrônica, que remonta ao século XIII, aponta para instanciações de, pelo menos, dois grupos de estruturas linguísticas possivelmente participantes na gênese do conector “daí que”: 1) “daí se infere que”, “Daí se seguirá que”; e 2) “seguiu-se daíque”, “Não se infira daíque”, que Diewald (2006) chama, respectivamente, de “contexto atípico” e “contexto crítico”. Os dados da análise sincrônica indicam que o conector “daí que” é uma inovação linguística bastante recente, remontando provavelmente ao início do século XX, com ocorrência predominante nas sequências narrativas e argumentativas. Verificamos que, após passar por sucessivas neoanálises (Traugott, 2012), “daí que” é empregado como conector conclusivo a partir do século XX, apresentando perda de fronteira e de composicionalidade entre seus componentes, pareando forma e sentido: “A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não pode prescindir da continuidade da leitura daquele” (Trecho de discurso proferido por Paulo Freire em 1981). Com este estudo, objetivamos investigar a origem do operador “daí que”, consultando textos escritos de diferentes gêneros e tipologias textuais dos períodos arcaico, moderno e contemporâneo da língua portuguesa. Por meio do levantamento das frequências type e token (Bybee, 2003), objetivamos, ainda, verificar a produtividade da expressão sob investigação e reconhecer padrões de uso determinantes na sua fixação como conector conclusivo. Referências Bibliográficas Bybee, Joan. Language, Usage and Cognition. New York: Cambridge University Press, 2010. CROFT, William. Radical Construction Grammar.Syntatic theory in typological perspective. New York: Oxford University Press, 2001. DIEWALD, Gabriele. Context types in grammaticalization as constructions. Constructions, SV1-9 2006. TRAUGOTT, Elizabeth C. Toward a coherent account of Grammatical Construcionalization. Draft for a volume on historical construction grammar edited by Elena Smirnova, Jóhanna Barðdal, Spike Gildea, and Lotte Sommerer. March 2nd, 2012. _____ Gradience, gradualnesse and grammaticalization. In: Traugott, Elizabeth C. & Trouseale, Graeme (eds).Typological Studies in Language, 90.Amsterdam: John Benjamins Publishing Company: 2010, pp 19-44. TROUSDALE, Graemme. Constructions in grammaticalization and lexicalization: evidence from the history of a composite predicate construction in English. In: TROUSDALE, G. & GISBORNE, N. (orgs.) Constructional Approaches to English Grammar.Berlin: Mouton de Gruyter, 2008. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- O PAPEL DOS ELEMENTOS VERBAIS E LOCATIVOS NA COMPOSIÇÃO DA HIERARQUIA CONSTRUCIONAL VLoc II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. Ana Cláudia Machado Universidade Federal Fluminense (UFF) Este trabalho investiga a composição da hierarquia construcional (Trousdale, 2008) VLocMD a partir do papel dos elementos verbais e locativos. Busca-se demonstrar que a interação entre esses elementos promove um elo de correspondência simbólica (Croft, 2001) que permite distribuir diferentes instanciações em distintos padrões de uso. Nesse sentido, objetiva-se examinar: i) o papel dos elementos verbais de base locativa e perceptiva na formação de mesoconstruções (Traugott, 2008), ii) a importância da perspectivização espacial fina e vasta (Batoréo, 2000) na identificação de particularidades das microconstruções (Traugott, 2008), iii) a relação entre os tipos de contextos e os micropassos da mudança e iv) a atuação dos mecanismos que levam a mudanças construcionais e à construcionalização (Traugott & Trousdale, 2013). Parte-se da hipótese de que a construção marcadora discursiva VLoc tem origem em contextos de frame espacial em que o verbo integra categoria lexical e o pronome locativo atua como advérbio, ainda no nível do predicado. Em uma trajetória de abstratização, os elementos tornam-se amalgamados, motivados por inferências sugeridas (Traugott e Dasher, 2005), forjadas em ambientes interacionais específicos, e passam a articular um terceiro e distinto sentido em instanciações, tais como: vem cá, está aí, espera aí, vê lá, entre outras que cumprem função de marcação discursiva na expressão de crenças, valores, modalidades em que se percebe a presença mais explícita do falante/autor. A pesquisa embasa-se na Linguística Funcional Centrada no Uso na qual se compatibilizam as vertentes funcionalista e cognitivista, postulando que os usos linguísticos são modelos convencionalizados, construídos a partir da inter-relação linguagem, cognição e ambiente sócio-histórico. O corpus selecionado compreende os séculos XIII a XX, retirados do site “corpusdoportugues.org”. A análise focaliza sequências tipológicas, em que se percebe a atuação de pressões metonímicas levando à metaforização e fixação de padrões de uso. Os resultados parciais demonstram que as instanciações formam esquemas mentais situados contextualmente, o que implica menor esforço cognitivo e maior efetividade nas práticas comunicativas; apontam para “vem cá” como um type específico funcionando como exemplar da hierarquia; esse exemplar motiva novas instanciações compostas por verbos de base locativa e perceptiva através de processos de gramaticalização por redução e expansão e de analogização (Traugott & Trousdale, 2013). Referências Bibliográficas BATORÉO, H. “Expressão do Espaço no Português Europeu. Contributo Psicolinguístico para o Estudo da Linguagem e Cognição”, Textos Universitários de Ciências Sociais e Humanas.Lisboa: FCT e Fund. C. Gulbenkian, 2000. CROFT, W. Radical Construction Grammar: Syntactic Theory in Typological Perspective. Oxford: Oxford University Press, 2001. TRAUGOTT, E. C. “Grammaticalization, constructions and the incremental development of language: Suggestions from the development of degree II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. modifiers in English", Variation, Selection, Development-Probing the Evolutionary Model of Language Change. Berlin/New York: Mouton de Gruyter, 219-250, 2008. TRAUGOTT, E. C. & DASHER, R. B. Regularity in semantic change. Cambridge: Cambridge University Press, 2005. TRAUGOTT, E. C. & TROUSDALE, G. Constructionalization and Constructional Changes. UK: Oxford University Press, 2013. TROUSDALE, G. Constructions in grammaticalization and lexicalization: evidence from the history of a composite predicate in English. Constructional approaches to English grammar. Berlin/New York: Mouton de Gruyter, 33-67, 2008. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- O PAPEL DA ANALOGIA NA EMERGÊNCIA OU EXTENSÃO DE CONSTRUÇÕES Angélica Rodrigues Universidade Estadual de São Paulo (UNESP) Carolina Medeiros Coelho Universidade Federal de Uberlândia (UFU) O modelo da gramática das construções, com base em Goldberg (1995), pressupõe uma relação de herança entre as construções da língua de modo que uma construção A, por exemplo, motiva a construção B se B é herança de A (GOLDBERG, 1995, p. 67). As relações de herança entre construções, no entanto, suscitam discussões quando aplicadas à análise empírica. Bybee (2010), por exemplo, salienta que a similaridade (fonológica ou semântica) representa uma motivação importante que atua na formação ou na extensão de modelos construcionais. Segundo a autora, essa relação de similaridade corrobora a hipótese de que a analogia funciona como fonte para novas construções. Bybee (2010, p. 57) utiliza o termo analogia para se referir ao “processo pelo qual os falantes passam a usar um novo item em uma construção”. Nosso objetivo é discutir a partir dos conceitos de herança de Goldberg (1995), de analogia de Bybee (2010) e de produtividade de Barddal (2008) a relação entre as construções transitivas, com verbo suporte, paratáticas e subordinadas envolvendo os verbos agarrar, catar e pegar no português brasileiro e europeu. Consideramos que essas construções estão interligadas por uma rede de herança motivada pelo esquema imagético de movimento evocado pelos verbos, em que os verbos agarrar, catar e pegar passam de verbos lexicais a verbos gramaticais, evidenciando um processo de gramaticalização. Referências Bibliográficas BARDAL, Jóhanna. 2008. Productivity: Evidence from Case and Argument Structure in Icelandic. Amsterdam: John Benjamins. II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. BYBEE, J. Language, Usage e Cognition. New York: Cambridge University Press, 2010. GOLDBERG, A.Constructions: A Construction Grammar Approach to Argument Structure. Chicago: The University of Chicago Press, 1995. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- GRAMATICALIZAÇÃO DA CONSTRUÇÃO DE ESPAÇO/TEMPO APROXIMADO “LÁ PARA” EM CONTEXTOS NARRATIVOS Eder Nicolau A. Venâncio Universidade Federal Fluminense (UFF) Este trabalho insere-se às pesquisas do grupo Gramaticalização e gramática de construções (GT II) com objetivo de acrescer informações concernentes ao estudo da linguística funcional centrada no uso (Martelotta, 2011), que concebe a gramaticalização como fenômeno contextual (Croft, 2006 apud Traugott, 2008), divergindo das propostas clássicas que visavam ao estudo de elementos gramaticais isolados. Por descategorização e variação funcional, certas construções, frutos de combinações de unidades formais fixas (Batoréo e Silva, 2008), são naturalmente formadas, expandindo o sentido de determinado padrão linguístico em contextos específicos a fim de oferecer novas possibilidades de expressão comunicativa ao usuário da língua que, como diz Fried (2008), é incentivado pela força de fatores externos. A mudança, então, passa pela criação e aceitação, nos discursos, desses padrões (Noël, 2007), que são qualquer estrutura que faça referência entre forma e significados (Batoréo e Silva, 2008). Na pesquisa, destacar-se-á o uso do padrão construcional formado com “lá para” em contextos narrativos nos quais essa construção esteja indicando lugar/tempo aproximado; diferenciandose, assim, dos sentidos expressos pelos vocábulos que a formam, analisados separadamente. Em “[...] minha avó pegou [o passarinho morto]... aí jogou lá pro meio do mato... [...] (Corpus D&G Rio de Janeiro), por exemplo,o locativo “lá” e a preposição “para” (“pra”) juntam-se e passam a funcionar como construção de indefinição espacial, introduzindo um padrão circunstancial mais abstrato. Posteriormente, por projeção de domínio (Traugott e Dasher, 2005), como acontece em “[...] nós fomos passear...lá para as onze horas... [...]” (Corpus D&G Rio de Janeiro), a temporalidade apresenta-se como forma aceitável uma vez que, cognitivamente, existe a naturalidade do uso de formas locativas para expressar tempo. Independente da categoria em si, observa-se que as noções de advérbio e preposição fundem-se, em perspectiva mais ampla, não permitindo a caracterização padrão dessas classes. Uma vez formados novo sentido e forma indissolúvel, passando a cumprir nova função, justifica-se a mudança gramatical, mesmo que não haja uma especificação categorial. Referências Bibliográficas II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. BATORÉO, H. J.; SILVA, A.S. Gramática Cognitiva: estruturação conceptual, arquitectura e aplicações. In: BRITO, A. M. (Org.). Gramática: Histórica, Teorias e Aplicações. Porto: Faculdade de Letras do Porto, 2008. FRIED, M. Constructions and constructs: mapping a shift between predication and attribution. Princeton University. In: BERGS, A.; DIEWALD, G. (eds) Constructions and language change, p.47-79. Mouton de Gruyter, 2008. MARTELOTTA, M. E. Mudança linguística: uma abordagem baseada no uso. São Paulo: Cortez, 2011. NOËL,D. Diachronic construction Grammar and grammaticalization theory. In: Functions of Language. John Benjamins, 14:2, p. 177-202, 2007. TRAUGOTT, E. C. The status of onset contexts in analysis of micro-changes. In: KYTO, M.English Corpus Linguistics: Crossing Paths. Rodopi, Amsterdam, p.221-255, 2008. TRAUGOTT, E. C; Dasher, R. B..Regularity in semanticchange. Cambridge: Cambridge University Press, 2005. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- MARCADORES DISCURSIVOS NO ÂMBITO DA ABORDAGEM DA GRAMATICALIZAÇÃO DE CONSTRUÇÕES Lauriê Ferreira Matins Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Patrícia Fabiane Amaral da Cunha Lacerda Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) O presente trabalho tenciona discutir a pertinência de se abordar o desenvolvimento de marcadores discursivos (MDs) a partir da abordagem da gramaticalização de construções (TRAUGOTT, 2008, 2011; BYBEE, 2011; TRAUGOTT & TROUSDALE, 2013). Dessa maneira, o trabalho encontra-se em comunhão com o GT2 do Workshop de Gramaticalização, denominado Gramaticalização e gramática de construções. Embora o desenvolvimento de MDs envolva aumento de escopo estrutural e de liberdade sintática – características que violam os parâmetros formais da variabilidade sintagmática e do escopo, propostos Lehmann (1995[1982]) –, há, ainda, a articulação de características fundamentais à abordagem da gramaticalização de construções, como aumento em esquematicidade e em produtividade e decréscimo em composicionalidade (TRAUGOTT, 2011; TEIXEIRA & OLIVEIRA, 2012). É nesse contexto que realizaremos a sistematização de MDs derivados dos verbos “olhar” e “ver” em configuração imperativa a partir dos quatro níveis de esquematicidade estabelecidos por Traugott (2008) – macroconstrução, mesoconstrução, microconstrução e construto. Para tanto, adotaremos uma abordagem pancrônica, mediante amostras do português falado e da modalidade escrita da língua. O corpus sincrônico oral é composto pelos seguintes corpora: “Projeto Mineirês: a construção de um dialeto”, “PEUL – Programa de Estudos sobre o Uso da Língua” e “NURC/RJ – Projeto da Norma Urbana Oral Culta do Rio de Janeiro”. Quanto ao corpus diacrônico escrito, este é composto pelos projetos “CIPM – Corpus Informatizado do Português II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. Medieval” e “Corpus Histórico do Português Tycho Brahe”. Os resultados apontam que o esquema construcional verbo de percepção visual em configuração imperativa e em P2, que atua na chamada de atenção do ouvinte, configura a macroconstrução, que, juntamente com as mesoconstruções, seria responsável pelo surgimento de novas construções e pelo estabelecimento de uma rede construcional. Identificamos, também, os seguintes contextos de atuação discursiva destes MDs, que, cada qual com seu padrão construcional, comporiam as mesoconstruções: prefaciação, opinião/sustentação, discursoreportado, interjeição e contraexpectativa. Sendo assim, no presente trabalho, parte-se da possibilidade de se projetar um esquema abstrato que seja responsável pela emergência de novos padrões construcionais, ao mesmo tempo em que seja por eles afetado. Referências Bibliográficas BYBEE, J. Usage-based theory and grammaticalization In: NARROG, H.; HEINE, B. (eds.). The Oxford Handbook of Grammaticalization. New York: Oxford University Press, 2011, p. 69-78. LEHMANN, C. Thoughts on grammaticalization.Munich: Lincom Europa, 1995 [1982]. TEIXEIRA, A. C. M.; OLIVEIRA, M. R. de. Por uma tipologia funcional dos marcadores discursivos com base no esquema construcional Verbo Locativo. Revista Veredas. v. 16, n. 2. Juiz de Fora, 2012, p. 19-35. TRAUGOTT, E. C. Grammaticalization, constructions and the incremental development of language: suggestions from the development of degree modifiers in English. In: ECKARDT, R.; JÄGER, G.; VEENSTRA, T. V. (eds.). Variation, Selection, Development: Probing the Evolutionary Model of Language Change. Berlin/New York: Mouton de Gruyter, 2008, p. 219-250. ______. Toward a coherent account of grammatical constructionalization, Slightly revised version of powerpoint presentation at Societas Linguistica Europea (SLE) 44, Spain, September 8th-11th, 2011b. ______.; TROUSDALE, G. Constructionalization and Constructional Changes.Oxford: Oxford University Press, 2013. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- SNLOC: UM PROCESSO DE GRAMATICALIZAÇÃO E LEXICALIZAÇÃO Milena Torres de Aguiar Universidade Federal Fluminense (UFF) Baseados na Linguística Funcional Centrada no Uso, estudamos os locativos aí, lá, aqui e ali pós Sintagma Nominal, constituindo a construção SNloc. Percebemos que o locativo pós SN foge de seu uso normal (Heine, 2002) segundo as gramáticas normativas. De acordo com as nossas pesquisas, tais locativos passaram por uma trajetória de gramaticalização, partindo de um uso mais concreto e original como padrão dêitico; que, por conta de pressões de natureza metonímica e metafórica migrou para referências fóricas, atuando na II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. organização do texto como advérbio catafórico e posteriormente, anafórico, sendo assim contextos-ponte (Heine, 2002) para o último uso, o mais abstratizado, o qual acreditamos ser um estágio já gramaticalizado do locativo, desempenhando uma função nova: a de clítico. Nesse último padrão, como contexto de mudança (Heine, 2002), o locativo passa a funcionar como um morfema gramatical que atua sintagmaticamente e está preso fonologicamente ao SN anterior formando uma construção fixa SNloc, segundo Traugott (2003, 2007), a qual nomeamos como construção nominal atributiva SNloc. Tal construção possui realizações bastante recorrentes pelos usuários da língua, como observamos em: “a reunião estava marcada às sete e meia... eu fui convidado e tinha um... um rapaz... que... saiu devido a uns problemas lá... questão de disciplina... não sei que questão...”, em que nela não podemos perceber tão claramente a ideia de lugar própria do pronome locativo em seu uso primitivo e original como um item lexical isolado. Ao olhar a vinculação de SNloc, percebemos que a construção como um todo está passando por um processo de lexicalização, segundo Brinton e Traugott (2005), Brinton (2011) e Lehmann (1989, 2002), já que se torna progressivamente mais fixada e fossilizada, perdendo sua composicionalidade semântica e entrando para o inventário da língua. Baseados no Corpus Discurso & Gramática e no Corpus do Português, realizamos um levantamento qualitativo e quantitativo em textos orais e escritos. Referências Bibliográficas BRINTON, L. J.; TRAUGOTT, E. C. Research Surveys in Linguistics: Lexicalization and Language change. New York: Cambridge University Press, 2005. BRINTON, L.J. The Grammaticalization of Complex Predicates. In: HEINE & NARROG (eds). The Oxford Handbook of Grammaticalization. Oxford: Oxford University Press, 2011. HEINE, Bernd. On the role of context in grammaticalization.In Wischer and Diewald, Eds., 83-101, 2002. LEHMANN, C. Grammaticalization and lexicalization. Journal of Phonetics, Linguistics and Communication Research 42:11-19, 1989. __________. New reflections on grammaticalization and lexicalization. Wischer, Ilse & Diewald, Gabriele (eds.), New reflections on grammaticalization.Amsterdam & Philadelphia: J. Benjamins (TSL, 49); p. 1-18, 2002. TRAUGOTT, E. C. Constructions in Grammaticalization. In: JOSEPH, B.; JANDA, R. D. (orgs.). The Handbook of Historical Linguistics. Oxford: Blackwell, 2003. __________. The concepts of constructional mismatch and type-shifting from the perspective of grammaticalization. In: DABROWSKA, E. (org.) Cognitive Linguistics. v. 18-4. New York: Mounton de Gruyter, 2007. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. INSTANCIAÇÕES DA MACROCONSTRUÇÃO VERBAL CONECTIVA LOCV Rossana Alves Universidade Federal Fluminense (UFF) Esta pesquisa insere-se no projeto Pronomes locativos em construções nominais e verbais do português contemporâneo: ordenação, polissemia e gramaticalização (Oliveira, 2010) e investigapadrões de uso da macroconstrução verbal conectiva LocV por meio de instanciações de microconstruções como “aí vem”e “aí está” no banco de dados do siteCorpus do Português. Embasados na orientação teórica de Bybee (2010), Traugott (2008), Traugott e Dasher (2005), Traugott &Troudale (2013), Diewald (2002), Croft (2001), entre outros, partimos das seguintes hipóteses: (i) construções verbais em torno de locativos são, em contextos específicos, instanciações da macroconstrução LocV, uma unidade de sentido e forma que atua como elemento de conexão sintática ou textual; (ii) contextos atípicos e críticos motivam, via neoanálise e analogização, mudança linguística gradual; (iii) microconstruções envolvem redução e aumento de dependência (GR) e expansão de frequência de uso como elementos de conexão (GE), resultantes de processos de gramaticalização que são complementares; (iv) membros exemplares da classe das instanciações da construção LocV atuam como base para o surgimento e para a fixação de novos padrões de uso. Assumindo que fatores de ordem pragmática e cognitiva interagem para a criação das microconstruções, analisamos suas propriedades semântico-sintáticas e discursivo-pragmáticas, via modelo topdown, quando o sistema linguístico é afetado descendentemente, promovendo assim o surgimento dessas expressões e, via bottom up,quando a fixação de seus usos afeta o sistema, ampliando sua representação. Levamos em conta, ainda, mecanismos dominantes de mudança como a metáfora e a metonímia: esta relacionada às pressões estruturais, numa relação de superfície em que a contiguidade conceitual reflete associação e indexicalidade, atuando, assim, no nível sintagmático; e aquela se referindo à transferência de domínios, sendo a consequência, o resultado das relações metonímicas, atuando no nível paradigmático. Relacionamos, também, o processo de gramaticalização ao que Traugott e Dasher (2005) chamam de “inferência sugerida”, já que o emissor lança mão de elementos originalmente do nível da gramática, como o pronome locativo e o verbo de movimento, para a articulação de outro sentido, com vistas à adesão e anuência de seu interlocutor. Nessa trajetória ascendente de gramaticalização, está envolvida a alteração do estatuto categorial dos elementos, atribuindo funções gramaticais aos materiais lexicais, e, se já gramaticais, como o verbo e o locativo, funções ainda mais gramaticais, como a função de elemento de conexão, em contextos morfossintáticos e semânticopragmáticos altamente restritos (Traugott, 2003). Em virtude do que foi mencionado, esse estudo visa a contribuir para o maior conhecimento dos aspectos funcionais envolvidos no uso das “construções com locativos” em língua portuguesa e, em âmbito maior, para a investigação dos mecanismos que marcam o processo de gramaticalização de construções, na interface mais II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. recente dos estudos funcionalistas e cognitivistas. Referências Bibliográficas BYBEE, J. Language, usage and cognition.Cambridge: Cambridge University Press, 2010. CROFT, W. Radical Construction Grammar: Syntactic Theory in Typological Perspective. Oxford: Oxford University Press, 2001. DIEWALD, G. A model of relevant types of contexts in grammaticalization. In: WISCHER, I.; DIEWALD, G. (Ed.). New reflections on grammaticalization.Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 2002. OLIVEIRA, M. R. de. Pronomes locativos em construções nominais e verbais do português contemporâneo: ordenação, polissemia e gramaticalização.Rio de Janeiro: 2010. Projeto de pesquisa enviado ao CNPq. TRAUGOTT, E. C. “Grammaticalization, constructions and the incremental development of language: Suggestions from the development of degree modifiers in English", Variation, Selection, Development-Probing the Evolutionary Model of Language Change. Berlin/New York: Mouton de Gruyter, 219-250, 2008 TRAUGOTT, E. C. & DASHER, R. B. Regularity in semantic change. Cambridge: Cambridge University Press, 2005. TRAUGOTT, E. C. & TROUSDALE, G. Constructionalization and Constructional Changes.UK: Oxford University Press, 2013. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- GT3 – GRAMATICALIZAÇÃO E COGNIÇÃO Coordenador: Tiago Torrenti (UFF) MANCHETES DE JORNAIS ONLINE: EXTENSÃO DE SENTIDOS DO PRESENTE DO INDICATIVO EM REFERÊNCIA AO PASSADO RECENTE Caroline Soares da Silva Universidade Federal Fluminense (UFF) O tema do estudo é o uso do tempo presente do indicativo em manchetes de jornais online, em referência ao passado recente. Isso ocorre, em geral, em manchetes que destacam fatos ocorridos há poucos instantes ou que ainda estão em processo de realização. A Internet, com suas novas ferramentas e tecnologias, tem provocado algumas transformações no modo de transmitir a informação, há uma tentativa de aproximar dois momentos opostos em uma cadeia temporal, o instante do surgimento do acontecimento do instante do consumo da notícia (Charaudeau, 2007). A análise se baseia em dados extraídos de corpus composto por manchetes dos jornais online O Globo, II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. Jornal do Brasil (JB), O Dia e O Extra, selecionadas da editoria de Capa, no período de fevereiro a julho de 2012 (SILVA, 2013).Na fase em que se encontra a pesquisa, buscamos descrever a forma de organização das informações dessas manchetes, seu valor expressivo e a extensão de sentidos do tempo presente. Com base na Linguística Cognitivo-Funcional, nos moldes de Goldberg (1995); Langacker (1991; 2000); Croft (2001; 2004), entre outros, pretendemos discutir o mecanismo de extensão metafórica, a partir do modelo da gramática de construções, como um dos fatores que motivam a polissemia de sentidos de um padrão gramatical (LUCENA; CUNHA, 2011). Resumindo, o foco é a investigação dos verbos empregados no presente do indicativo, referindo-se ao passado recente, como uma construção formada via extensão de sentido relacionada ao passado padrão e à noção de instantaneidade. Referências Bibliográfica CHARAUDEAU, Patrick. Discurso das Mídias. 1. ed., 1ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2007. CROFT, W. Radical Construction Grammar.Syntactic Theory in Typological Perspective. New York: Oxford University Press, 2001. CROFT, W.; CRUSE, A. Cognitive linguistics. Cambridge: Cambridge University Press, 2004. GOLDBERG, A. E. A construction grammar approach to argument structure.Chicago: University of Chicago Press, 1995. LANGACKER, R. Foundations of cognitive grammar. V.1. Stanford: Stanford University Press, 1991. LANGACKER, R. A dynamic usage-based model. In: BARLOW, M.; KEMMER, S. Usage-based model of language. Stanford: SLI, Publication, 2000. LUCENA, Nedja Lima de; CUNHA, Maria Angélica Furtado da.Relações de herançaemoraçõestransitivas: o mecanismo de extensãometafórica. RevistaLetras e Letras. V. 27, n. 1, p 86-95, Uberlândia: UFU, jan-jun, 2011. SILVA, Caroline Soares da.O tempo presente em manchetes online: o uso do presente do indicativo para referência ao passado recente. Dissertação (Mestrado em Letras). Instituto de Letras. Universidade Federal Fluminense, Niterói: 2013. JORNAIS ONLINE JORNAL DO BRASIL. Disponível em: <www.jb.com.br>. Acesso em: fevereirojulho de 2012. JORNAL O GLOBO. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/>. Acesso em: fevereiro-julho de 2012. JORNAL O DIA. Disponível em: <http://odia.ig.com.br/portal/>.Acesso em: fevereiro-julho de 2012. JORNAL O EXTRA. Disponível em: <http://extra.globo.com/>. Acesso em: fevereiro-julho de 2012. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- EVIDÊNCIAS SOBRE A POLISSEMIA E A GRAMATICALIZAÇÃO DO VERBO “VER” II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. Priscilla Teixeira Matos Simoni Este trabalho investiga a polissemia e a gramaticalização do verbo “ver”, buscando identificar seus diferentes usos. Além disso, procuramos estabelecer o padrão construcional que caracteriza cada um dos usos identificados. Durante a pesquisa, operamos com as hipóteses de que (i) “ver” desenvolveria, no decorrer do tempo, funções discursivas que percorreriam um caminho de crescente (inter)subjetivização (FINEGAN, 1995; TRAUGOTT, 1995, 2010; TRAUGOTT & DASHER, 2005); e que (ii) os diferentes usos do verbo estariam relacionados semanticamente, revelando polissemia. A fim de comprovar essas hipóteses, foi realizada uma pesquisa sincrônica, que considerou a distribuição e a frequência de uso (BYBEE, 2003; VITRAL, 2006; MARTELOTTA, 2009) do verbo “ver” no português contemporâneo, mais especificamente no dialeto mineiro. Para isso, utilizamos o corpus do projeto Mineirês: a construção de um dialeto, que recobre as cidades de Belo Horizonte, Arceburgo, Mariana, Ouro Preto, Piranga e São João da Ponte. A partir da análise dos dados, foi comprovado que “ver” desenvolveu-se de um uso [- subjetivo], baseado na percepção sensorial, para usos [+ subjetivos], relacionados à percepção cognitiva. Foram, ainda, identificados outros usos [+ (inter)subjetivos], dentre os quais se destacam marcadores discursivos. Referências Bibliográficas BYBEE, J. Mechanisms of change in grammaticalization: the role of frequency. In: JOSEPH, B. D.; JANDA, J. (eds.). The handbook of Historical Linguistics. Oxford: Blackwell, 2003. FINEGAN, E. Subjectivity and subjectification. In: STEIN, D.; WRIGHT, S. Subjectivity and subjectification. New York: Cambridge University Press, 1995. MARTELOTTA, M. E. T. Funcionalismo e metodologia quantitativa. In: OLIVEIRA, M.; ROSÁRIO, I. (org). Pesquisa em linguística funcional: convergências e divergências. Rio de Janeiro: Léo Christiano Editorial, 2009. p. 1-20. TRAUGOTT, E. C. Subjectification in grammaticalization. In: STEIN, D.; WRIGHT, S. Subjectivity and subjectification. New York: Cambridge University Press, 1995. ______. (Inter)subjectivity and (inter)subjectification: a reassessment. In: DAVIDSE, K.; VANDELANOTTE, L.; CUYKENS, H. (org.). Subjectification, intersubjectification and grammaticalization. Berlim/New York: De GruyterMouton, 2010. ______. & DASHER, R. Regularity in semantic change. New York: Cambridge University Press, 2005. VITRAL, L. O papel da frequência na identificação de processos de gramaticalização. Scripta, vol. 9, n. 18. Belo Horizonte, 2006. p. 149-177. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. GRAMÁTICA E COGNIÇÃO: UM ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES BINOMINAIS Caroline P. Martins Santos Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Este estudo tem por objetivo geral investigar a flutuação de sentido quantidadequalidade licenciada pelo uso de construções binominais do tipo N1 de N2 no português do brasil. Nesse sentido tomando-se um exemplo como xícara de chá, podem se depreender pelo menos dois sentidos: i) tipo de xícara, ou seja, uma xícara específica para tomar chá (valor qualitativo) e ii) quantidade de chá, isto é, percebemos uma relação parte-todo entre xícara e chá, em que xícara se refere à parte de vinho, que representa o todo (valor quantitativo). Defendemos que essa dupla possibilidade de interpretação das construções binominais se deve à relação parte-todo estabelecida entre N1 e N2. Com base na combinação do arcabouço teórico da Linguística Centrada no Uso(Bybee, 2010; Barlow &Kemmer, 2000; Tomasello, 2003, Traugott, 2008) e da Linguística Cognitiva (Goldberg, 1995), buscamos descrever as propriedades morfossintáticas e semântico-pragmáticas dos usos das construções que favorecem uma leitura ora qualitativa, ora quantitativa no que se refere à relação entre N1 e N2. Tomaremos também como referencial teórico os estudos em gramática das construções, por entendermos que a gramática de uma língua não consiste de um conjunto de regras, mas é caracterizada por uma série de construções entrelaçadas no formato de uma rede em que construções mais básicas gerariam construções mais complexas. Entendemos por construção gramatical a unidade que associa forma e função e que se constitui parte do nosso conhecimento sobre a língua. Partimos do princípio de que o sentido da construção não pode ser analisado fora do contexto, já que este é responsável por orientar a leitura, quantitativa ou qualitativa. A hipótese geral é, portanto, a de que essas estruturas binominais podem ser tratadas em termos de construções gramaticais e que, com isso, é possível estabelecer os fatores tanto em termos de sua forma quanto de seu sentido que as caracterizam. Como procedimento metodológico, coletamos e analisamos as construções binominais a partir de exemplos retirados do livro de crônicas intitulado Em algum lugar do Paraíso, de Luis Fernando Veríssimo. Apesar de entendermos que o fenômeno estudado é amplamente encontrado em diferentes gêneros textuais, concentramos nossa análise nesse gênero, pelo fato dele apresentar como conteúdo temático fatos do cotidiano e possuir marcas típicas da oralidade. Referências Bibligráficas BARLOW, M., KEMMER, S. (Org.). Usage based models of language. Stanford, California: CSLI Publications, 2000. BYBEE, J. Language, usage, and cognition. Cambridge, UK: CUP, 2010. GOLDBERG, A. E. Constructions: A II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. construction grammar approach to argument structure. Chicago: University of Chicago Press, 1995. TOMASELLO, Michael. Origens culturais da aquisição do conhecimento humano. São Paulo: Martins Fontes, 2003. TRAUGOTT.E. C. Grammaticalization, constructions and the incremental development of language: Suggestions from the development of degree modifiers in English. In: ECKARDT, R.; JÄGER G.; VEENSTRA, T. (Eds.). Variation, Selection, Development--Probing the Evolutionary Model of Language Change.Berlin/New York: Mouton de Gruyter, 2008. p. 219-250. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- PROCESSO DE GRAMATICALIZAÇÃO DA CONSTRUÇÃO DICE QUE/DIZ QUE: UMA ABORDAGEM COGNITIVA Thayssa Taranto Ramirez Universidade Federal Fluminense (UFF) O presente trabalho visa a analisar o emprego da construção dice que/diz que na variedade de espanhol peruano com base no conceito de chunk. De acordo com Bybee (2010), quando duas ou mais palavras são utilizadas juntas com frequência, elas acabam por desenvolver uma relação sequencial, cuja força é determinada pelo número de vezes que essas palavras aparecem juntas. No caso de chunks que possuem frequência de ocorrência muito alta, poderá ocorrer gramaticalização. Esse fenômeno se dá quando uma construção adquire outros usos, sofre redução fonética, mudança semântica e começa a não ser analisada considerando suas partes, mas como uma unidade independente. Em situações padrão de uso, dice que atua como predicador, a partir do qual se estabelece o argumento externo (sujeito), com sentido pleno de verbo de elocução (Ex.: “Maria dice que no viene”), porém no caso examinado, têm-se contextos em que as características elocutórias do verbo “dizer” perdem força e o referente não pode mais ser recuperado na frase (Ex.:“Dice que/Diz que a Juan le gusta emborracharse”). De acordo com Kany (1944), o emprego de dice que/diz que como expressão apareceu primeiramente no espanhol antigo, e embora tenha caído em desuso na Espanha, permanece entre falantes americanos. De acordo o DPD (2005), esta expressão possui a mesma função do advérbio “supostamente”, podendo ser empregada ainda como adjetivo invariável, anteposto ao substantivo, com o sentido de “suposto” (Ex.: “El diz que doctor me ha examinado”). Segundo Olbertz (2005), essa função é reportativa, pois realiza a descrição de um evento não presenciado pelo autor, introduzindo uma informação de segunda mão. Assim, um de seus objetivos é expressar o não comprometimento do falante com a veracidade do dito. De acordo com o corpus observado (uma coluna de fofocas de um jornal popular peruano), o uso de dice que/diz que com função reportativa permanece ativo entre os falantes daquela variedade. Em ambos os casos, temos formas gramaticalizadas, haja vista sua frequência (registramos treze ocorrências de diz que no material citado durante o período de trinta dias) e a mudança gramatical/semântica sofrida (a função elocutória dá lugar à reportativa, II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. passando a forma a ser empregada como advérbio). No caso específico da forma diz que, observamos ainda uma redução fonética (“diz” é uma apócope da forma “dice”). No registro oral, que parece privilegiar a forma dice que, desempenha inclusive a função de marcador discursivo, uma vez que amarra as partes do discurso tanto no plano linguístico quanto cognitivo. Referências Bibliográficas BYBEE, Joan. Chunking and degrees of autonomy. In: BYBEE, Joan. Language, usage, and cognition.Cambridge: CUP, 2010. DIZQUE. In: DICCIONARIO PANHISPÁNICO DE DUDAS. 2005. Disponível em: <http://lema.rae.es/dpd/srv/search?key=dizque>. Acesso em: 29 jan. 2014. KANY, Charles. Impersonal dizque and its variants in American Spanish.HispanicReview, 12/2, p. 168-177, 1944. OLBERTZ, Hella. Dizque en el español andino ecuatoriano: conservador e innovador. In: OLBERTZ, Hella; MUYSKEN, Pieter (Eds.). Encuentros y conflictos: bilingüismo y contacto de lenguas. Madrid / Frankfurt: Iberamericana / Vervuert, 2005, p. 77-94. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- GRAMATICALIZAÇÃO E CONSTRUÇÕES ENCAIXADAS NA AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM Carmelita Minelio da Silva Amorim Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) O fenômeno da aquisição da linguagem é um tema que chama a atenção de estudiosos interessados em compreender como se processam as informações adquiridas nos primeiros anos de vida da criança. Intriga aos cientistas o fato de que, embora as capacidades mentais de uma criança pareçam, em muitos aspectos, bastante limitadas, a capacidade específica de dominar a estrutura extremamente complexa de sua língua nativa, por volta dos três ou quatro anos de idade, é bastante significativa. As crianças adquirem a língua a partir do que ouvem e são criativas em relação ao que adquirem desde o nascimento, e, cognitivamente, é possível que tenham expectativas claras sobre a maneira como os objetos irão se comportar. Antes de completarem o primeiro aniversário, são capazes de formar categorias de objetos com base na forma e, em certa medida, na função. Dentre todas as conquistas alcançadas pelas crianças no início da aquisição da linguagem, interessa-nos investigar aspectos morfossintáticos no que se refere à aquisição da construção verbo + verbo não finito, especialmente verbo querer + verbo não finito, construção aparentemente complexa, a fim de confirmar o uso do primeiro verbo como um auxiliar, mostrando que esse tipo de estrutura é adquirido pela criança em bloco, como uma unidade constituída, via processo de gramaticalização. Analisamos situações reais de uso da língua, considerando aspectos II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. estruturais e pragmáticos, a partir de amostras de fala de crianças na faixa etária entre um ano e sete meses a seis anos de idade. Como orientação teórica, adotamos a perspectiva funcionalista e contribuições dos modelos baseados no uso, principalmente com base nos pressupostos que fundamentam os trabalhos de Givón (1979, 1995), Heine et al. (1991), Heine (1993, 2006) e Bybee (1994, 2001, 2006), Tomasello (1992; 2006), Slobin (1994). Referências Bibliográficas ABRAÇADO, J. A unidirecionalidade e o caráter gradual do processo de mudança por gramaticalização. SCRIPTA, Belo Horizonte: Editora PUCMinas, v. 9, n. 18, 1º sem. 2006, p. 130-148. AMORIM, C. M. S. Construções encaixadas na linguagem infantil: emergência e uso. Dissertação (Mestrado). Niterói-RJ: Universidade Federal Fluminense, 2007. BYBEE, J. et al. Mechanisms change in grammaticalization: the role of frequency. In: JOSEPH, B. D.; JANDA, R. D. (Eds.). The handbook of historical linguistics.2.ed. USA: Blackwell Publishing Ltd, 2006 (2003). GIVÓN, T. From discourse to syntax: grammar as a processing strategy. In: GIVÓN, T. (Ed.). Syntax and Semantics.New York, Academic Press, v. 2, 1979. ______. Functionalism and grammar.Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 1995. HEINE, B. Auxiliaries: cognitive forces and grammaticalization. New York/Oxford: Oxford University, 1993. ______. Grammaticalization. In: JOSEPH, B. D.; JANDA, R. D. (Eds.). The handbook of historical linguistics. 2. ed. USA: Blackwell Publishing Ltd, 2006 (2003). SLOBIN, D. I. Talking perfectly. Discourse origins of the present perfect. In: PAGLIUCA, W. (Ed.). Perspectives on grammaticalization. Amsterdam: Benjamins. 1994. p. 119-133. TOMASELLO, M. First verbs: A case study of early grammatical development. USA: Cambridge: Cambridge University Press, 1992. ______. Constructiongrammar for kids, 2006. Disponível em: <www.constructions-online.de>. Acesso em 09 de set. 2009. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- CONSTRUÇÃO OPTATIVA V-RA NO PORTUGUÊS: PERDA DE ESQUEMATICIDADE E CHUNKING Kellen Cozine Martins Maria da Conceição de Paiva Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) A desinência -ra para a indicação de pretérito mais-que-perfeito (mandara) praticamente desapareceu do português brasileiro falado contemporâneo, suplantada pela forma perifrástica com ter (tinha mandado) (Mattoso Câmara II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. Jr., 1984; Coan, 1997). Sobrevive, no entanto, em construções como quem me dera, tomara, quisera, pudera (eu), utilizadas para expressão de um desejo, como nos exemplos a seguir: (1) F: Eu às vezes fico até achando: “Tomara que eu... seja contratada da Globo!...” Aí que eu... de repente eu seje uma correspondente no exterior!... Ou então até por aqui mesmo, porque... eu gosto. Mas... Tomara que eu ganhe bem... Essa é minha meta: ganhar bem, muito bem. (Censo - RJ, Amostra 2000) (2) F: Cheguei lá a professora começou falar comigo, eu endoidei ("com ela"), xinguei ela, aí ganhei outra advertência. "Só entra na escola com responsável!" Aí eu falei: "não vou voltar, amanhã, à escola." (…) Nunca mais eu voltei na escola para nada. Mas eu tenho vontade de estudar ainda. Quem dera se eu pudesse acabar meu estudo todo. (Censo- RJ, Amostra 80) Estas construções são focalizadas nesta comunicação em uma perspectiva diacrônica que busca depreender, por um lado, a perda da produtividade da desinência V-ra e, por outro, os movimentos que permitiram sua cristalização em construções optativas. Sustentamos a hipótese de que estas construções se originam em mudanças que atingiram a desinência -ra, dentre elas, seu uso para a expressão de estados de coisas [-realis], como o imperfeito do subjuntivo e o futuro do pretérito. Através da análise de textos representativos de diferentes estágios do português, destacamos os contextos que autorizaram esse deslocamento funcional. Mostramos que os valores semânticos [-realis] emergem em contextos particulares, como o da condicionalidade e de verbos epistêmicos. Em estágios anteriores do português, a construção V-ra era mais esquemática e de significativa produtividade, podendo a posição V ser preenchida por uma diversidade de verbos. Ao longo dos cinco últimos séculos, o emprego de V-ra em contextos [-realis] declina sensivelmente, reduzindo sua esquematicidade. As construções optativas, por sua vez, vão, gradativamente, se restringindo ao modal poder, ao desiderativo querer e, ainda, aos verbosdar e tomar. Nos termos de Bybee (2010), estas construções se tornam chunks que, à força de repetição, se investem de funções comunicativas específicas. Referências Bibligráficas BECKER, Martin. From temporal to modal: divergent fates of the Latin synthetic pluperfect in Spanish and Portuguese. In: Detges, Ulrich and Richard Waltereit (eds). The Paradox of Grammatical Change: perspectives from romance. Vi, 252, 2008, p. 147-180. BYBEE, Joan. Language, usage and cognition.Cambrigde, UK: CUP, 2010. COAN, Márluce. Anterioridade a um ponto de referência passado: pretérito (mais-que) perfeito. 1997. 177f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Universidade Federal de Santa Catarina: Florianópolis, 1997. MATTOSO CAMARA JR., Joaquim. Estrutura da língua portuguesa. 14. ed. Petrópolis: Vozes, 1984. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. MARCAS DE INTERSUBJETIVIDADE, CONSTRUÇÕES E GRAMATICALIZAÇÃO Vânia Cristina Casseb Galvão Universidade Federal de Goiás (UFG/CNPq) A noção de intersubjetividade envolve o reconhecimento de que locutor e interlocutor contribuem efetivamente e na mesma proporção para o sucesso de um ato de fala e deixam marcas desse empreendimento dialógico no discurso ao se constituírem sujeitos de linguagem, base do que se conhece por subjetividade. A interação, portanto, o uso da língua contribui para a constituição de subsistemas linguísticos. Em consonância com Traugott e Dasher (2002) e Traugott (2010), reconheço a intersubjetividade como um amplo domínio, relativo à organização da interação, e, por isso mesmo, um campo fértil para arranjos no nível semântico e reanálise no nível sintático, envolvendo significados relativos tanto às manifestações do falante quanto do ouvinte. Esse reconhecimento me leva a identificar e descrever os usos que integram um provável contínuo de gramaticalização de expressões do tipo Pra mim, que eu saiba, se não me falha a memória; mensurar seu grau de gramaticalidade, mostrar os deslizamentos discursivo-funcionais que os usos de uma mesma forma apresentam na transposição do léxico para a gramática ou, numa visão mais ampla, para a o discurso (visto como uma unidade interpessoal), e, também, descrever a funcionalidade dessas expressões no português falado em Goiás. Os postulados da Teoria (Clássica) da Gramaticalização (TCG) seriam suficientes para se atingir esses objetivos não fosse por um relevante detalhe: a constituição estrutural dessas expressões. Nos usos mais abstratos de Pra mim; Que eu saiba e Se não me falha,os elementos estruturais aparentemente perderam suas propriedades composicionais e, tudo indica, constituem uma unidade semântico-discursiva. Além disso,“Pra mim”, “Que eu saiba”, “Se não me falha a memória” em sua acepção mais conceitual funcionam, respectivamente, como dativo, predicado encaixado e oração condicional. A ideia é recorrer aos parâmetros clássicos para aferir a gramaticalização e para descrever seus desencadeadores, seguindo, especialmente, os postulados de Heine; Claudi e Hünnemeyer (1991), e recorrer às postulações cognitivo-funcionais da Teoria das Construções (TC) para mostrar a reconfiguração subsistêmica, o que permite, até mesmo, a ampliação da concepção de léxico como repertório representativo das categorias da língua. Um exemplo de trabalho dessa natureza é assinado por Braga e Paiva (no prelo), que estudam as orações complexas de causa no tempo real afim de mostrar a evolução dessas construções no português entre os séculos XVIII a XX, e de relacionar essas mudanças entre si, de forma a evidenciar a reorganização do conjunto de construções causais ao longo desse período. Goldberg (1995, 2006) são trabalhos fundamentais para a TC, pois oferecem postulações relevantes quanto a uma definição coerente de construção, aos princípios cognitivos que orientam a propositura dessa perspectiva de análise e II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. aos parâmetros de análise dos valores semânticos e funcionais das construções, além de oferecerem base epistemológica para se traçar o contínuo de mudança que levou ao desenvolvimento de construções nas línguas. Para Goldberg (2006), determinado padrão é uma construção na medida em que algum de seus aspectos formais ou funcionais não seja previsível dos seus elementos composicionais ou de construções préexistentes. Pretende-se, nesta comunicação, mais especificamente apresentar reflexões acerca de alguns princípios da TC e sua aplicabilidade à descrição do possível processo de gramaticalização dos usos anteriormente mencionados. Constituem a base teórica da pesquisa, além das obras de Heine; Claudi e Hünnemeyer (1991), Traugott (1989, 2003, 2003a), Bybee, Perkins e Pagliuca (1994) etc, básicas para a TC; Goldberg (1995, 2006), Heine; Kuteva (2004, 2005, 2006), além de outras obras de referência na Linguística Cognitiva, como Langacker (2008) e Croft (2001), e da teoria da (inter)subjetividade, desenvolvida especialmente por Traugott (2010). Referências Bibliográficas BRAGA, M. L; PAIVA, M. C. gramaticalização e gramática de construções: estabilidade instabilidade no uso de orações complexas de causa em tempo real (no prelo). BYBEE, J.; PERKINS, R.; PAGLIUCA, W.The evolution of Grammar.Tense, aspect, and modality in the languages of the world.Chicago: The Universityof Chicago Press, 1994. CROFT, W. Radical Construction Grammar: Syntactic Theory in Typological Perspective. Oxford: Oxford University Press, 2001. GOLDBERG, A. E.Constructions: a construction grammar approach to argument structure. Chicago: The University of Chicago Press, 1995. ________.Constructions at work.The nature of generalization in language.Oxford: Oxford University Press, 2006. HEINE, B.; CLAUDI, U.; HÜNNEMEYER, F. Grammaticalization: a conceptual framework. Chicago: Chicago University Press, 1991 HEINE, B; KUTEVA, T. World lexicon of grammaticalization.Cambridge: Cambridge University Press, 2004. _________. Language contact and grammatical change.Cambridge: Cambridge University Press, 2005. _________. T. The changing languages of Europe. Oxford: Oxford University Press, 2006. LANGACKER, R. Cognitive Grammar. A basic introduction. Oxford: Oxford University Press, 2008. TRAUGOTT, E. C. On the rise of epistemic meanings in English: an example of subjectification in semantic change. Language, 57, p.33-65, 1989. ______. Constructions in grammaticalization. In: JOSEPH, B. D.; JANDA, J. (Ed.). The handbook of historical linguistic. Oxford: Blackwell, 2003a. p.624647. ______. From subjectification to intersubjectification. In: HICKEY, R. Motives for language change.Cambridge:Cambridge University Press, 2003, p. 124-139. ______. (Inter)subjectivivity and intersubjectification: a reassessment. In: CUYCKENS, H.; DAVIDSE, K.; VANDELANOTTE, L. (Ed.). Subjectification, II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. intersubjectification and grammaticalization.Berlin: Walter de Gruyter, 2010. p. 29-71. (Topics in English Linguistics, 66). _____; DASHER, Richard. Regularity in semantic change. (Cambridge Studies in Linguistics 97). Cambridge: Cambridge University Press, 2002. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- GRAMATICALIZAÇÃO DO VERBO DAR: DE SENTIDO PLENO A VERBO SUPORTE Luana Carvalho Coelho Vâléria Viana Souza Jorge Ausguto A. da Silva Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) O verbo dar, a rigor, tem sido apresentado pela tradição gramatical da língua portuguesa como responsável por atribuir papel temático aos argumentos, visto apenas com valor semântico básico de transferência. No entanto, observando o seu uso na língua, em diversos contextos de fala, é possível verificar a descentralidade do verbo dar fazendo surgir novas categorias gramaticais com as quais este verbo se relaciona configurando-se, assim, a sua polifuncionalidade. Conforme Salomão (1999), o verbo dar tem um sentido básico capaz de irradiar muitos outros. A partir dessa perspectiva, tenciona-se com esse estudo (i) refletir sobre a natureza polissêmica do verbo darno português brasileiro àluz da teoria funcionalista a fim de investigar as alterações sofridas por esse verbo e (ii) averiguar as características que afastam esse item da categoria lexical e o aproximam do caráter gramatical ou, em outras palavras, investigar as características que afastam o verbo dar do seu sentido pleno e o aproxima de verbo suporte constituído como um substantivo. Para análise dos dados, selecionamos cinco entrevistas extraídas do Corpus de Português Popular da Comunidade de Vitória da Conquista (projeto Estudos de Fenômenos Linguísticos na Perspectiva Sociofuncionalista), localizamos as ocorrências que continham esse verbo e realizamos a categorização em: verbo auxiliar, verbo predicador não pleno, noção de transferência, de causa e em casos em que o sujeito sofre a ação em vez de provocá-la.Para isso, historiamos suas origens e os sentidos que acumulou desde sua base histórica de acordo com os estudos de Neves (1997), Silva (2005) e Esteves (2008). Nesse estudo, constatamos que o processo de gramaticalização é o responsável pela capacidade categorial desse verbo. Além disso, percebemos a potencialidade e produtividade do verbodarquer seja através do comportamento polissêmico, quer seja através do seu comportamento sintático e semântico no corpus em análise. Referências Bibliográficas SALOMÃO, M. M. M. Polysemy. Aspect and modality in Brazilian Portuguese. The case for a cognitive explanation of grammar. Tese de doutorado.University of California at Berkeley, 1990. II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. Scher, A. P. As construções com o verbo leve "dar" e as nominalizações em ada no português do Brasil / Ana Paula Scher. - Campinas, SP : [s.n.], 2004. SILVA, Liliane. Construções Lexicais Complexas com o verbo dar: estruturas de significados ou instrumentos de Construção de sentidos. Estudos Linguísticos, p. 563-568, 2005. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- GT4 - GRAMATICALIZAÇÃO E SOCIOLINGUÍSTICA Coordenadora: Odete Menon A PARTÍCULA LÁ E SEUS USOS NOS DIVERSOS CONTEXTOS COMUNICATIVOS Dalva Pereira B. de Araújo Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) Almirene Santana Universidade Estadual de Feira de Santana A variação e a mudança linguísticas são processos inerentes às línguas, pois estas são sistemas dinâmicos, heterogêneos e que funcionam de acordo com as necessidades comunicativas dos seus usuários. O uso linguístico, normalmente, não se restringe ao modo como as gramáticas tradicionais descrevem a língua. Ao analisar o uso dos advérbios em determinados contextos discursivos, percebe-se que a função dessa classe de palavras é ampliada além do que é instituído pela Gramática Tradicional. O advérbio é uma classe de palavras que desempenha na língua variadas funções, as quais, normalmente, não são consideradas pela tradição gramatical. A abordagem tradicional, encontrada nos dicionários e gramáticas, restringe a função do advérbio sem levar em conta a heterogeneidade típica dos locativos. Já os estudos funcionalistas, ao tratar dessa classe de palavras, fazem uma abordagem ampla através do estudo e análise dos contextos comunicacionais e atestam a diversidade de funções que os advérbios podem exercer, comprovando seu caráter heterogêneo e multifacetado. Neste trabalho será feita uma análise comparativa entre os diversos usos que a partícula lá, tradicionalmente classificada como advérbio de lugar, apresenta nas variedades do português brasileiro culto e rural e do português de Angola, com o propósito de descrever as novas funções assumidas por essa partícula, a partir do processo de gramaticalização, nos diversos contextos comunicativos e observar se esses novos usos ocorrem nas três variedades do português em análise. Para tanto, utilizamos os pressupostos teóricos da teoria laboviana e dos estudos funcionalistas, com o objetivo de ampliar a perspectiva da proposta tradicional de classificação categorial singular e passar a considerar o advérbio, em especial a partícula lá, como um item lexical que se gramaticaliza e que, a depender do contexto comunicacional em que ocorra, pode II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. desenvolver e exercer funções diferentes da sua original, tendo em vista que a língua representa social e culturalmente o falante e a comunidade de fala à qual ele pertence, pois carrega as marcas sociais e culturais que constituem tal comunidade. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- O PROCESSO DE GRAMATICALIZAÇÃO DO VERBO IR Leila Maria Tesch Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) Esta pesquisa pretende descrever e interpretar as circunstâncias discursivas em que são construídas as perífrases com ir para indicar futuro, considerando tanto as ocorrências de ir no futuro do presente (irei estudar), como no presente do indicativo (vou estudar). Para isso, analisaram-se essas perífrases em corpora de língua escrita – jornal A Gazeta nas décadas 1930, 1970 e em 2008 – e de língua falada – PortVix. Para a realização deste trabalho, partimos do quadro teórico proposto por Hopper & Traugott (1993) e Heine (1991). Pode-se constatar o processo de gramaticalização com o verbo ir a partir do parâmetro de frequência. Para Bybee (2003), a frequência não é resultado do processo, mas contribui para que ocorra uma força que instiga a mudança. A linguista apresenta dois tipos de frequência para se analisarem os processos de gramaticalização: a) frequência de ocorrência que, como diz o próprio nome, analisa a frequência de ocorrência de uma unidade e b) frequência de tipo, a qual se refere a um tipo de estrutura em particular. A perífrase ir + verbo no infinitivo é uma estrutura mais gramaticalizada, basta comparar construções como Vou à escola amanhã e Vou estudar amanhã. Espera-se que esse segundo tipo seja mais frequente, observando a frequência de ocorrência. A hipótese relacionada à frequência de tipo é que esse verbo se apresenta com tipos de verbos mais variados e para isso utilizaremos a classificação de Halliday (1994). Ao analisar esses corpora, constataram-se usos do verbo ir expressando futuro em diversos valores semânticos. Para explicitá-los, exemplificam-se esses usos a partir de alguns esquemas de frases, por meio dos traços gramaticais que apresentam, com a finalidade de expor a estrutura dessas orações. O verbo ir apresenta, em situações reais de interação social, diferentes funções e sentidos, caracterizados como um processo de mudança semântica, em que de uma categoria lexical (verbo pleno) passa a ser usada também como uma categoria gramatical (verbo auxiliar). Por isso, este estudo segue os pressupostos da gramaticalização. A partir da análise dos dados, pode-se constatar que quase não se encontra a forma plena do verbo ir, com o significado de movimento, principalmente nos corpora mais recentes – A Gazeta 2008 e PortVix. O maior número desses dados é na modalidade escrita na década de 1930, o que comprova que o processo de gramaticalização se dá de maneira gradativa. Ao mesmo tempo, vale ressaltar que não foi constatada na fala capixaba a ocorrência do tipo irei/vou ir à escola, demonstrando, aparentemente, que os falantes ainda não dissociaram totalmente a noção de movimento do auxiliar ir, como já fizeram os falantes do inglês, ao dizer i’m goingo to go. II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. Referências Bibliográficas BYBEE, Joan. Mechanisms of change in gramaticalization: the role of frequency. In: JOSEPH, Brian & Janda, Richards (eds). A handbook of historical linguistics.Blackweel, 2003. HALLIDAY, M.A.K.An Introduction to Functional Grammar.London: Edward Arnold, 1994 HEINE, Bernd et al. Grammaticalization: a conceptual framework. Chicago: University Chicago Press, 1991. HOPPER & TRAUGOTT.Grammaticalization. Cambridge: Cambridge University Press, 1993. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- GRAMATICALIZAÇÃO, SOCIOLINGUÍSTICA E PLE Luis Alejandro Ballesteros Universidad Nacional de Córdoba (UNC) Susana Caribaux Universidade Nacional de Córdoba) Esta comunicação apresenta conclusões de pesquisas que vimos desenvolvendo desde 2010 até o momento atual na Universidade Nacional de Córdoba (Argentina) sobre as propriedades sintáticas do português brasileiro (PB) e a importância da sua inclusão na formação docente em português como língua estrangeira (PLE) na Argentina. Nosso marco teórico está conformado pela ecolinguística (Couto, 2009) em sua relação com a sociolinguística (Scherre, 2005) desenvolvida no Brasil nos últimos anos e as pesquisas mais atuais sobre o PB já apresentadas em forma de gramáticas orgânicas (Perini, 2010; Castilho, 2010; Bagno, 2012). Quanto às diferentes linhas teóricas em torno da gramaticalização, partimos de considerar, segundo Hopper & Traugott (1993), que há relação entre os fatores motivadores da mudança linguística e aqueles que operam na gramaticalização. Entre esses fatores, os diferentes tipos de contato linguístico estudados pela sociolinguística. Hopper & Traugott (id.: 36) destacam a necessidade de marcar a diferença entre "mudança" e "extensão da mudança". Assim, em nosso trabalho o foco é a gramaticalização de estruturas sintáticas ou “sintatização” (Castilho op. cit.) de ampla extensão no PB. Sabemos que há enormes conflitos terminológicos dentro do campo teórico da gramaticalização (Sánchez Marco, 2008). Porém, com base no já exposto, consideramos que no (PB) atual acontece a convivência (e a concorrência) de duas formas de marcação do plural no sintagma nominal (SN) (Perini op. cit.; Castilho op. cit.), bem como três formas de construção das orações relativas (Perini id.; Castilho id.). Isto é, 1) no (SN) plural no PB acontece tanto a concordância plena, quanto a marcação apenas em algun(s) de seus itens léxicos, com forte tendência no PB para a segunda das possibilidades (de acordo com regras estudadas v. gr. por Scherre op. cit. e por Castilho op. cit.); 2) nas relativas ocorrem (e concorrem) três estruturas no PB: a) a relativa tal como descrita (e prescrita) nas gramáticas tradicionais; b) a relativa cortadora (v. gr. Perini op. cit.; Castilho op. cit.); c) a relativa copiadora II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. (v. gr. Perini id.; Castilho id.).Segundo os estudos sociolinguísticos e gramaticais do PB, as mudanças no SN e nas relativas têm mais vitalidade do que seus correlatos descritos pela prescrição gramatical. Isto sem negar a avaliação social de cada uso nem a avaliação social do falante de acordo com esse uso. Nosso interesse é salientar que a nova gramática do PB está quase ausente do ensino de (PLE) na Argentina. Enfatizamos o necessário questionamento do modelo de língua a ensinar e os conteúdos gramaticais e meta-gramaticais a serem incluídos nos cursos de formação docente em PLE. Concluímos que os traços definidores do PB não podem ficar fora dessa formação se aspiramos a propiciar um conhecimento da língua fundado no compromisso empírico da linguística (Fiorin, 2003) e respeitoso ao mesmo tempo de diferenças linguísticas que se correlacionam com diferenças sociais (v. gr. Bagno, 2003; Scherre op. cit.) e, além do mais, inserido na realidade geopolítica e linguística latino-americana. Referências Bibliográficas BAGNO, M. A norma oculta. Língua & poder na sociedade brasileira. São Paulo: Parábola, 2003. -------------. Gramática pedagógica do português brasileiro. São Paulo, Parábola: 2012. CASTILHO, A. T. Nova gramática do português brasileiro. São Paulo, Contexto: 2010. COUTO, H. H. Linguística, ecologia e ecolinguística. Contato de línguas. São Paulo: Contexto, 2009. FIORIN, J. J.. “José Luiz Fiorin”, em Xavier, C. A. & S. Cortez. 2003. Conversas com linguistas. São Paulo: Parábola, 2009. 71-76. HOPPER, P. & E. C. TRAUGOTT. Grammaticalization. Cambridge: Cambridge University Press, 1993. PERINI, M. A. 2010. Gramática do português brasileiro. São Paulo: Parábola, 2010. SÁNCHEZ, M. C.2008. “La diversidad metalingüística de la gramaticalización”, em http://www.lllf.uam.es/clg8/actas/pdf/paperCLG106.pdf, 10-01-2014. SCHERRE, M. M. P. Doa-se lindos filhotes de poodle. Variação linguística, mídia e preconceito. São Paulo: Parábola, 2008. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- VARIAÇÃO E GRAMATICALIZAÇÃO NO USO DE PREPOSIÇÕES EM CONTEXTOS DE VERBOS DE MOVIMENTO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO Marcos Luiz Wiedemer Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ-FFP) Esta comunicação tem como objetivo apresentar, a partir dos resultados da minha tese de doutorado (WIEDEMER, 2013), a variação e a mudança, via II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. gramaticalização, envolvendo as preposições a/para/em que introduzem complementos locativos de verbos de movimento (caminhar, chegar, entrar, ir, levar, mudar, partir, sair, voltar). Embasam, portanto, esta investigação postulados da Gramaticalização (HOPPER; TRAUGOTT, 1993, LEHMANN, 2002) e da Sociolinguística (WEINREICH; LABOV; HERZOG, 1968). Investigamos amostras do português brasileiro (PB) provenientes de duas sincronias: amostra de fala do século XXI, proveniente do português falado na região noroeste do estado de São Paulo (Projeto ALIP: GONÇALVES, 2007), e amostra de escrita do século XIX, proveniente de textos escritos, com o objetivo de mapear os aclives de mudanças por que passam as preposições ligadas ao complemento locativo de verbos de movimento no PB. Em relação aos resultados, no português contemporâneo, constatamos o processo de variação estável das preposições em e para com maior abstratização de significado, fato que explica a inserção de novos tipos de complementos e a atuação de fatores sociais e linguísticos na seleção de uma determinada preposição, e um processo de recuo gradativo da preposição a. Além disso, evidenciamos que há um processo de generalização por especificação, com indicadores de contextos particularizados para as três preposições: a preposição a associa-se mais a locativo objeto, para, mais a espaço geográfico, e em, mais a evento, corroborando que o funcionamento das preposições que introduzem complemento locativo dos verbos de movimento apresenta-se num continuum de variação/gramaticalização. A partir da análise da amostra do PB do século XIX, evidenciamos três tipos de mudança, via gramaticalização, em relação às preposições: (a) gramaticalização por generalização da preposição para; (b) gramaticalização por especialização da preposição em; (c) lexicalização da preposição a. Por fim, os resultados ratificam que a mudança semântica envolvida na gramaticalização das preposições é geralmente uma extensão de significado muito regular entre um significado básico e um significado genérico e do aumento gradual da pragmatização (inferência) e abstratização (estratégias metafóricas) no uso dessas preposições. Referências Bibliográficas GONÇALVES, S. C. L. O português falado na região de São José do Rio Preto: constituição de um banco de dados anotado para o seu estudo: relatório científico final à FAPESP. São José do Rio Preto, Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, UNESP, 2007. HOPPER, P. J.; TRAUGOTT, E. Grammaticalization. Cambridge: Cambridge University Press, 1993. LEHMANN, C. New reflections on grammaticalization and lexicalization.WISCHER; I.; DIEWALD (Ed.).New reflections on grammaticalization. Amsterdam: John Benjamins (TSL, 49), p. 1-18, 2002. WEINREICH, U.; LABOV, W.; HERZOG, M. Empirical foundations for a theory of language change. In: LEHMANN, W. P.; MACKIED, Y. (Ed.). Directions for historical linguistics.Austin: University of Texas Press, p. 97-195, 1968. WIEDEMER, M. L. Variação e gramaticalização no uso de preposições em contextos de verbos de movimento no português brasileiro. 2013. 250p. Tese II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. (Doutorado em Estudos Linguísticos) – Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas. UNESP-São José do Rio Preto, 2013. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. AÍ, DAÍ e ENTÃO EM CAMPO GRANDE (MS) e SÃO PAULO (SP) Marília Vieira Universidade de São Paulo (USP) Com base em uma amostra de 48 entrevistas, realizadas nas capitais Campo Grande (MS) e São Paulo (SP), analisa-se o uso variável de AÍ, DAÍ e ENTÃO como articuladores de orações. A partir dos postulados de Traugott e Heine (1991) acerca da gramaticalização de operadores argumentativos,pressupõese que tais elementos tenham percorrido o trajeto espaço > (tempo) > texto, alcançando, ainda, um estágio posterior, o do discurso. Desse modo, AÍ, DAÍ e ENTÃO atuam como advérbios (“o mundão está AÍ, né?”; “a gente sente fragilizado nisso DAÍ”; “saí do bairro e, desde ENTÃO, não fui mais na casa dela”), como conectores e partículas anafóricas. Para Traugott e Heine (1991), no processo dêitico-discursivo, ocorre transferência do contexto situacional externo ou referencial para o contexto discursivo interno, resultante do conhecimento compartilhado por falante e ouvinte. Este trabalho pretende demonstrar, nos termos da Sociolinguística Variacionista (Labov, 2001) e de teorias sobre gramaticalização (Givón, 1995), a intercambialidade desses itens em cinco contextos linguísticos: 1) Sequenciação ordenativa (“eu estava no ônibus aí/daí/então sentou um moleque... (...) do meu lado”); 2) Sequenciação não-ordenativa (“trabalho por conta aí/daí/então quando tem o serviço eu vou e faço, quando não tem eu fico em casa”); 3)Causa e efeito (“elefalava que eu era de Campo Grande aí/daí/então ficava difícil as pessoas não saberem isso”); 4)Repetição de tópico discursivo (“jáfui pra Americana, mas só fui a trabalho, que teve uma feira né? da Darling aí/daí/entãoeu peguei e fui”); e 5)Síntese (“não sei, acho que São Paulo tem muita contradição, aí/daí/então é isso”).Nos três primeiros contextos, AÍ, DAÍ e ENTÃO atuam como juntivos; nos últimos dois, como marcadores discursivos. De acordo com Braga & Paiva (2003), quando comparados aos juntivos, os marcadores discursivos são formas mais gramaticalizadas; consequentemente, têm carga semântica enfraquecida e apresentam menor mobilidade sintática. Desse modo, a análise qualitativa dos dados dirige à sua organização em dois envelopes de variação, que se definem não só pelas especificidades desses dois conjuntos, mas também pela necessidade de discutir, teórica e metodologicamente, os limites funcionais de AÍ, DAÍ e ENTÃO nos pontos focais (juntivo e marcador discursivo) e contextos considerados. Atentando para a existência de correlações entre esses itens, os contextos discursivos elencados e os fatores estruturais e sociais, as análises quantitativas do Goldvarb X (Sankoff et al., 2005) identificarão convergências e divergências no uso de tais elementos em Campo Grande e São Paulo. Referências Bibliográficas BRAGA, M. L; PAIVA, M. C. Do advérbio ao clítico é isso aí. In: RONCARATI, C; ABRAÇADO, J. (org). Português brasileiro – contato linguístico, heterogeneidade e história. Rio de Janeiro: 7Letras, 2003. p.206-212. II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. GIVÓN, Talmy. Functionalism and Grammar. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 1995. LABOV, W. Principles of linguistic change: social factors. Oxford: Blackwell, 2001. SANKOFF, D.; TAGLIAMONTE, S. & SMITH, E. Goldvarb X: A variable rule application for Macintosh and Windows.Department of Linguistics, University of Toronto, 2005. TRAUGOTT, Elizabeth Closs; HEINE, Bernd.Approaches to Grammaticalization. Amsterdam: Benjamins, 1991. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- PARA: PROCESSOS DE VARIAÇÃO E DE GRAMATICALIZAÇÃO Odete Pereira da Silva Menon Universidade Federal do Paraná (UFPR/ CNPq) No português, assim como no espanhol, a preposição para, proveniente de per ad [pe’rad] com reforço da preposição, pois ambas indicam “movimento em direção a” (BARBOSA, 1875; MAURER, 1959) teve um percurso histórico envolvendo tanto variação quanto gramaticalização. Da primeira redução (perda da consoante final) pera, encontramos em documentos antigos uma forma variante, pora (também em espanhol). A partir do final do século XVI, começa a aparecer a forma escrita para (a alternância se observa no manuscrito, considerado autógrafo, da história de Portugal, de Fernão de Oliveira, existente na Biblioteca Nacional da França), ao mesmo tempo em que se registra a forma gráfica apostrofada p’ra, como em Camões. Temos, assim,1. processos de variação: (i) pera/pora; (ii); pera/p’ra; (iii) pera/para, (iv) pra/pa, ao lado de 2. (i) do primeiro processo de gramaticalização, com perda de substância fonética: per ad>pera>pra (atualmente, também pa, com perda do [r] do ataque da sílaba, processo românico comum, conforme francês quatre>quat [‘kat], embora mais frequente em português quando há outra líquida, como em listra/lista, fralda/falda; registro/registo; rostro/rosto); acompanhando somente nomes; assim como (ii) de um segundo (?), em que essa preposição, como outras (com, por, sem), passa a funcionar como conjunção, com verbos no infinitivo (orações reduzidas de infinitivo) e, ainda no período arcaico, recebendo o subordinador que: pera/para que, integra-se num paradigma já produtivo na língua (como em: por, pero, empero, pois, posto, dado, visto, ainda, já, primeiro, uma vez, como quer + QUE) e passa a ter como concorrente a fim de que. Tanto a variação como a gramaticalização de para têm que ser relacionadas com outros processos coetâneos: (i) a confluência per/por (este proveniente do latim pro e que até hoje mantém o significado latino: “fazer algo por alguém”, i.e, em benefício de alguém; diferente de “algo ser feito por alguém”, com significado agentivo), que perdura até o século XVII no inicialmente composto per lo/la: pello/pollo (DIAS, 1970; MATTOSO II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. CÂMARA, 1979); (ii) a alternância vocálica mais generalizada entre e/a (entre/antre)e e/o (fermoso/formoso); assim como (iii) a síncope da vogal da pretônica (dreto), queda que não se restringia, aparentemente, só à das postônicas das proparoxítonas; (iv) a produção de novas conjunções por gramaticalização, com adjunção de que, ainda vigente (enquanto que; sendo que); (v) processos de gramaticalização da ordem dos constituintes (prótase/apódose). Como se vê, há um largo espectro de variação e gramaticalização ao longo de um período estendido – do séc. XII, com pera/pera que, ao XX ou XXI, com pa. Devemos estudar separadamente cada um dos processos? Eles se acavalam em certos períodos: como então delimitar onde começa a variação e onde se situa a gramaticalização nessa sequência de mudanças? O que é mais gramaticalizado: a preposição ou a conjunção? Referências Bibliográficas BARBOSA, Jeronymo Soares. Grammatica philosophica da lingua portugueza. 6. ed. Lisboa: Acad. Real das Sciencias. 1875. DIAS, Epiphanio Silva. Syntaxe historica do portuguez. 5. ed. Lisboa: Clássica. 1970. MATTOSO CÂMARA JR., J. História e estrutura da língua portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Padrão. 1979. MAURER, Theodoro H. Gramática do latim vulgar. Rio de Janeiro: Acadêmica. 1959. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- GRAMATICALIZAÇÃO E VARIAÇÃO: PERÍFRASES TERMINATIVAS/CESSATIVAS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO E EUROPEU Rubens Lacerda Loiola Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Esta comunicação tem como objetivo discutir alguns aspectos relativos ao processo de gramaticalização das construções perifrásticas indicativas de aspecto terminativo-cessativo que se enquadram no esquema [V1 acabado prep. V2 não finito], como em acabar de + infinitivo, deixar de + infinitivo, terminar de + infinitivo, cessar de + infinitivo, parar de + infinitivo, largar de + infinitivo (CASTILHO, 1968; TRAVAGLIA, 2006, 2010). Mais especificamente, queremos discutir questões ligadas à seleção das formas que figuram na posição V2, imposta pela forma que figura na posição V1 (COELHO E VITRAL, 2011). Uma questão que pode ser colocada com relação a estas perífrases diz respeito à intercambialidade entre as diferentes formas verbais focalizadas, ou seja, à possibilidade de que elas ocorram no mesmo contexto e à forma como algumas restrições ligadas a características semânticas de V2 podem explicar o grau de gramaticalização diferenciado destas perífrases. Uma primeira II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. observação dos fatos permite constatar que nem sempre é possível a substituição de uma das formas verbais pelas demais. Consideremos o exemplo seguinte, extraído das Cartas do Pe. Antônio Vieira: “Eu até agora o fiz como capelão em meus sacrifícios; e porque no ano passado, em espaço de oito dias, perdi totalmente a vista e acabeideperder o ouvir, o farei daqui por diante como o faço em todas as minhas orações.” (CP, Cartas, Pe Antônio Vieira, XVII). No exemplo citado, acabei de perder apresenta aspecto pontual, pois perder é télico e acabei apresenta uma ação decursa. Essas características impedem a substituição de V1 acabar por cessar, terminar, deixar, largar ou parar (*perdi totalmente a vista e cessei deperder o ouvir; *perdi totalmente a vista e terminei deperder o ouvir; *perdi totalmente a vista e deixei deperder o ouvir; *perdi totalmente a vista e larguei deperder o ouvir; perdi totalmente a vista e parei deperder o ouvir),pelo menos no contexto em questão. Na perífrase em análise, o V1 passou por transformações que o levaram a se gramaticalizar, mas cada verbo que ocupa a posição V1 deve estar em estágio de gramaticalização diferente. Análises posteriores irão apresentar novos dados para confirmar ou refutar essa hipótese. Referências Bibliográficas CASTILHO. Ataliba Teixeira de. Introdução ao estudo do aspecto verbal na língua portuguesa. Alfa, Marília, v.12, p.7-135, 1968. COELHO, Sueli Maria, VITRAL, Lorenzo Teixeira. Seleção da forma nominal no interior da perífrase verbal: resultado de uma restrição sintática da gramaticalização de auxiliares. Rev. Let. & Let. Uberlândia-MG, v. 27 n. 1 pp. 179-200 jan./jun. 2011. DAVIES, Mark; FERREIRA, Michael. Corpus do Português: 45 million words, 1300s-1900s. Disponível em http://www.corpusdoportugues.org, 2006. TRAVAGLIA, Luiz Carlos. O aspecto verbal no português: a categoria e sua expressão verbal. – 4ª Ed. Uberlândia: EDUFU, 2006. _______. Uma gramaticalização em cadeia para indicação de aspectos? In. VITRAL, Lorenzo; COELHO, Sueli (org.). Estudos de processos de gramaticalização em português: metodologias e aplicações. Campinas, São Paulo: Mercado de Letras, 2010. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- GT5 - GRAMATICALIZAÇÃO E ABORDAGENS FORMALISTAS Coordenadora: Jânia Ramos (UFMG) GRAMATICALIZAÇÃO DE ‘QUE’ EM EXCLAMATIVAS Bruna Karla Pereira Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. Este trabalho tem como objetivo investigar se ‘que’ sofre gramaticalização em exclamativas do português não padrão, que, diferentemente de (1a), podem ser realizadas como (1b), especialmente no dialeto mineiro. (1) a. Que meninas bonitas! b.Ques menina bonita! Em (1b), observa-se que o pronome ‘que’ recebe uma marca de flexão ‘-s’ e precede o SN “menina bonita”. Este estabelece concordância em número, de forma não redundante, por meio de uma variante zero de plural (SCHERRE, 1997). Por esta regra, a forma explícita de plural aparece apenas no primeiro item da estrutura nominal, que é o determinante (D). Exatamente isso parece acontecer com ‘ques’, em (1b), que, ao receber marca de flexão, atuaria também como D. A partir dessas observações, podem ser feitas as seguintes perguntas: i) Qual o estatuto categorial de ‘ques’ (C ou D)? ii) Como explicar o aparecimento de um morfema de plural em ‘que’? iii) O fenômeno indicaria uma mudança em processo? iv) Qual o teor desta mudança? Na tentativa de respondê-las, pontua-se inicialmente que ‘ques’, em (1b), pronunciado como ‘quis’, é homófono ao pronome interrogativo ‘quais’, em (3b). (2) a. Quais meninas bonitas você conhece? b.Quesmenina bonita você conhece? Esta constatação nos leva a três hipóteses. Primeira: por analogia, o falante entenderia que, se ‘quis’ (‘quais’) é a forma plural do item WH em (2b), uma interrogativa, então a forma plural do item WH é também ‘quis’ (‘que+s’) em (1b), uma exclamativa. Há muitas semelhanças entre interrogativa e exclamativa: uma delas fica evidente em (3), em que a mesma estrutura sintática apresenta força sentencial de interrogação e força ilocucional de exclamação (ZANUTTINI & PORTNER, 2003). (3) Ques menina bonita é essas? Ocorre, porém, que, além da analogia, parece se evidenciar em (1b) uma reanálise de ‘que’ como D, para permitir a presença da flexão. Esta seria a segundahipótese. Segundo Roberts & Roussou (2003, p. 16), a gramaticalização envolve a criação de novo material funcional tanto pela reanálise de material lexical quanto pela reanálise de material funcional já existente. Este parece ser o caso de (1b), pois estão sendo licenciadas propriedades de duas categoriasfuncionais: C e D. Além disso, segundo Vitral &Ramos (2006, p. 157), o processo de gramaticalização ocorre não apenas pela criação de uma categoria funcional, mas também pela mudança de estatuto de XP para X. Surge então a terceira hipótese: tanto em (1a) quanto em (1b), a exclamativa nominal, que é um DP, ocupa a posição Spec,CP. Contudo, internamente, em (1a), ‘que’ seria um XP em Spec,DP [ DPSpecQue [Dø [NPcoisas interessantes]]], e em (1b), ‘quis’ seria o núcleo de DP [ DP [Dquis [NPcoisa interessante]]]. Trata-se, portanto, de hipóteses, aindaincipientes, lançadas comoumprimeiropassoparaque se possa empreender uma investigaçãosobre o fenômeno. Referências Bibliográficas ROBERTS, I; ROUSSOU, A. Syntactic change: a minimalist approach to grammaticalization. Cambridge: C.U.P., 2003. II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. SCHERRE, M. Concordância nominal e funcionalismo. In: ALFA, v.41, n. esp., p.181-206, São Paulo, 1997. VITRAL, L.; RAMOS, J. Gramaticalização: uma abordagem formal. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro; BeloHorizonte: FaLe/UFMG,2006. ZANUTTINI, R.; PORTER, P. Exclamative clauses: at the syntax-semantics interface. In: Language, v.79, n.1, p.39-81, March, 2003. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- PODEM CONSTRUÇÕES DE BAIXA FREQUÊNCIA SE GRAMATICALIZAR? UM ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES SEGUNDO E CONFORME NO PORTUGUÊS ARCAICO Cassiano dos Santos Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Dentre os processos que se inserem na mudança linguística, o processo de gramaticalização recebe papel de destaque. Denomina-se gramaticalização o processo de acordo com o qual uma construção (ou partes dela) é utilizada com uma função gramatical, ou uma construção já gramatical é empregada com função ainda mais gramatical (Traugott, 2009). Costuma-se admitir que, para haver gramaticalização, a construção apresentealta frequência de ocorrência. Esta alta frequência funcionaria como uma espécie de “gatilho” para que os fenômenos associados ao processo ocorressem: habituação, automatização, redução de formas e emancipação, Bybee (2003). Por exemplo, porque uma construção apresenta alta ocorrência textual, ela poderá apresentar redução fonético-fonológica, isto é, sobreposição de seus gestos articulatórios. Esta sobreposição, por sua vez, levará ao desbotamento semântico, pois com a perda de partes da construção, haveria uma gradativa desassociação do significado das partes com o significado do todo, que por sua vez levaria a outros processos, configurando-se um caso de gramaticalização. Entretanto, uma proposta alternativa advoga que a alta frequência textual não é essencial para haver gramaticalização (em Swahili, por exemplo, nenhum dos 15 itens mais frequentes serviu como fonte de gramaticalização, além disso, itens de alta frequência podem ser “resistentes” ao processo, (Hoffmann 2005: 147)). Hoffmann (2005) demonstra que itens de baixa de frequência podem também se gramaticalizar, como é o caso das preposições complexas do inglês. Assim, confrontando estas duas propostas, discutirei o papel da frequência na gramaticalizaçãodas construções segundo e conforme tomando como base corpora de português arcaico. Mostrarei o padrão construcional delas e distribuição ao longo dos séculos. Discutirei também a relação destas construções com o gênero textual. Provo que apesar de sua baixa frequência, estas construções também passam por um processo de gramaticalização. Referências Bibliográficas II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. BYBEE, J. Mechanisms of change in grammaticalization: the role of frequency. In: Joseph, B. & Janda, R. (edts). A handbook of historical linguistics.Blackwell, 2003. HOFFMANN, S. Grammaticalization and English complex prepositions: a corpus based study. London: Routledge, 2005. TRAUGOTT, E. C. Grammaticalization and construction grammar. In: CASTILHO, A. (org) p. 91 -102, 2009: ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- CONSTRUÇÕES CAUSATIVAS DO PORTUGUES BRASILEIRO: GRAMATICALIZAÇÃO E REANÁLISE Dalmo Vinícius Coelho Borges e Heloísa Salles Universidade de Brasília (UnB) Este trabalho investiga o fenômeno da perda das propriedades da preposição 'a' no licenciamento do causado em construções causativas do Português Brasileiro (PB), tendo em vista a hipótese de Torres Morais & Salles (2010) para a mudança linguística na codificação do objeto indireto no PB. Dessa perda, resulta o desaparecimento de (1), mas não de (2), na qual o causado é foneticamente nulo e tem interpretação arbitrária (Borges, 2008): (1) Maria fez lavar o carro ao João. (2) Maria fez lavar o carro. Enquanto o licenciamento pela preposição ‘a’ é associado a estruturas com verbo encaixado transitivo, com predicados encaixados intransitivos, o causado é licenciado pelo núcleo funcional ‘v’ na projeção do verbo causativo, ocorrendo posteriormente ao verbo encaixado (cf. 3). (3) Maria fez dormir acriança. Supõe-se que em (1) e (3) ocorre movimento de V encaixado para um núcleo funcional ASP na projeção estendida do VP (Wurmbrand, 2001), o que exclui a posição canônica de sujeito, possibilitando a reestruturação dos predicados. Nessa configuração, a pronominalização do causado é feita por meio de um núcleo funcional na estrutura do predicado causativo, seja pelo clítico dativo, seja pelo clítico acusativo, conforme (4a) e (4b). (4a) Maria [XP lhe [fez lavar o carro]]. (4b) Maria [XP a [fez dormir]]. Diante da perda do sistema de licenciamento do causado em (1), (3) e (4), o PB aciona a estratégia ECM (cf. Borges (2008), entre outros). Essa estratégia está vinculada a uma configuração em que a preposição ‘a’ e a reestruturação dos predicados não são acionadas, sendo o causado situado na posição de sujeito – provavelmente em specTP. Nessa configuração, a pronominalização é feita por meio do pronome forte (ele(s) / ela(s)), o qual é licenciado pelo núcleo ‘v’ na projeção do predicado causativo (5). (5a) Maria fez... [TP o João [lavar o carro]]. (5b) Maria fez... [TP ele [lavar o carro]]. A gramaticalização seria o processo pelo qual a categoria ‘a’ perde as propriedades de licenciadora do DP, sendo acionado uniformemente o núcleo II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. funcional ‘v’ na projeção do verbo causativo, a que se associa a perda do processo de reestruturação. Esse processo pode ser discutido na perspectiva da mudança sintática, de acordo com Roberts & Roussou (2003, p. 35), em que a “gramaticalização envolve a reanálise do conteúdo de uma categoria funcional”. Na presente análise, a gramaticalização consiste em ativar o núcleo funcional ‘v’, mediante a presença de um traço formal não-interpretável de Caso no domínio de busca dessa categoria – em particular a posição de specTP do predicado encaixado (indisponível na configuração de reestruturação). Referências Bibliográficas BORGES, D. Construções Causativas no Português do Centro-Oeste nos Séculos XVIII-XIX e no Português Atual. Brasília: UnB. Dissertação (Mestrado), 2008. ROBERTS, I. & ROUSSOU, A. Syntactic Change: A Minimalist Approach to Grammaticalization. Cambridge University Press, 2003. TORRES-MORAIS, M. A.; SALLES, H. Parametric change in the grammatical encoding of indirect objects in Brazilian Portuguese.Probus 22, p.181-209, 2010. WURMBRAND, S. Infinitives: Restructuring and Clause Structure. Berlin: Mouton de Gruyter, 2001. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- PREPOSITIONS AS COMPLEMENTIZERS AND MODAL MARKERS IN BRAZILIAN PORTUGUESE Daniel Machado e Heloísa Salles Universidade de Brasília (UnB) This paper discusses the grammaticalization of prepositions introducing infinitival clauses in Brazilian Portuguese (BP). Assuming that the C projection bears features of modality and finitness, as proposed whithin the CP exploded model (cf. RIZZI 1997; ROUSSOU 2000), we argue that prepositions introducing infinitival clauses in Brazilian Portuguese carry irrealis properties, further encoding obviation effects as well as lexical properties (cf. SALLES 2010). The irrealis feature that prepositional complementizers in BP bear can be attested when the finite counterpart of the infinitival clause may appear in a subjunctive form (see 1a-b). This is observed in infinitival clauses licensed by the preposition ‘para’ and a similar behavior is found with the prepositions ‘de’, ‘em’ and ‘com’ (which can be variants in this context, pointing to the neutralization of their lexical features) (see 2) (cf. MACHADO 2013). Besides, the preposition ‘para’ in BP carries the property of licensing the obviation effect, depending of the matrix verb (see 3). Another related fact is that it is possible to find grammatical examples in which the preposition varies with a null form (see 4). Moreover this phenomenon is found not only with complement (infinitival) clauses but also with subject clauses (see 5), and the so-called ergative adjectives with the copula verb to be (see 6) (cf. Cinque 1990). Accordingly the preposition may be grammaticalized as a licenser not only of complement II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. clauses but also of subject clauses. Given this pattern, it is possible to say that the preposition in fact is marking the reanalysis of the subject infinitival clause as a complement clause (see 7), as in the presence of the preposition, the embedded clause cannot be found in the first position. We take this restriction to interact with the SVO word order pattern of BP. (1a) Eu pedi a Maria para sair daqui (=Eu pedi a Maria que saísse daqui) (1b) Eu sugeri dela fazer o bolo (=Eu sugeri que ela fizesse o bolo) (2) Estou surpreso de/em/?com (Daniel) estar aqui (3) Eu disse a Maria para lavar o carro. (4) Eu defendi (d)o voto ser aberto. (5) Urge (d)ele aparecer aqui hoje. (6) É audácia demais (d)ela vir aqui hoje. (7) (*D)ela vir aqui hoje é audácia demais. Referências Bibliográficas CINQUE, G. Ergative Adjectives and the Lexicalist Hypothesis. In: Natural Language and Linguistic Theory, 8: 1 (1990). MACHADO, D. Preposições introdutoras de orações infinitivas. Dissertação de Mestrado, Universidade de Brasília, 2013. RIZZI, L. The fine structure of the left periphery. In Haegeman, L. Elements of Grammar: Handbook of Generative Syntax. Dordrecht: Kluwer, p. 281-337 ROUSSOU, A. On the left periphery: modal particles and complementizers. Journal of Greek Linguistics. 1, 65-94. SALLES, H. M. L. Para/For-infinitives in Brazilian Portuguese and English: similarities and contrasts in the grammatical encoding of modality. In: Tsangalidis, A. & R. Facchineti (orgs.). Studies on English Modality: in honour of Frank Palmer. Peter Lang, Bern, 2009, pp. 157-180, 2009. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- GRAMATICALIZAÇÃO E MUDANÇA DE ORDEM NAS PERGUNTAS-Q Mary Kato Universidade Estadual de Campinas(Unicamp) Kato e Ribeiro (2007) e Kato (2006, 2009) distinguem dois processos de mudança nas estruturas de focalização no Português Brasileiro (PB), a partir do Português Antigo (PA) e do Português Europeu (PE): Mudança de ordem: (1) a. Maravilhosas son estas cousas que contas, padre.(PA) (PE) b.São maravilhosas estas coisas que o senhor conta, padre (PB) Gramaticalização: II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. (2) a.Foi [o Pedro] que a Maria viu. b.É [o Pedro] que a Maria viu. c.[O Pedro]que a Maria viu. (PE) (PB) (PB) No presente estudo, vamos propor, usando perguntas-Q, assumidas como um tipo de estruturas de focalização, que a mudança de ordem também envolve gramaticalização. Lopes-Rossi (1996) e KatoDuarte (2002) mostraram que até o século XIX a ordem QVS era a norma nas perguntas-Q do PB, passando a existir apenas com verbos inacusativos e a cópula no século XX. (3) (4) a. Mas que tenho eu a temer? (1845) b.Mas o que tens tu? (1882) a. Onde você andou? (1995) b.Do que tu tá falando? (1992) c.Como nasceu esta paixão? (XX) d. E onde está o resto? (XX) Ao mesmo tempo, as formas em (3) começam a ter a competição das estruturas clivadas com é que, com a ordem preferencial SV, com exceção dos verbos inacusativos. (5) a. O que é que eu represento? (XIX) b.Quando é que acaba Antônio Alves taxista? (XX) A proposta a ser apresentada: a) a entrada de estruturas clivadas reduz a ocorrência de verbos temáticos na raíz a um só verbo, a cópula, um verbo de caráter funcional; b) a partir das clivadas, a cópula entra em processo de gramaticalização , primeiro tornando-se invariável em tempo, pessoa número, em seguida favorecendo o apagamento em forma fonética, e finalmente permitindo apagar o complementizador via a regra estilística da “haplologia.” A primeira mudança, que foi isolada como mudança de ordem e não de gramaticalização pode ser considerada como um processo de gramaticalização pelo fato da ordem envolver apenas uma categoría funcional: a cópula. Referências Bibliográficas KATO, M. A. 2006. Focus structures and VS order in Brazilian Portuguese. Revista do GELNE, 8: n. 1/2:7-16. KATO, M. A. 2009. Mudança de ordem e gramaticalização na evolução das estruturas de foco no Português Brasileiro. In: Revista do GEL.Vol. 38,1. 375385. KATO, M. A.; DUARTE, M. E. 2002. A diachronic analysis of Brazilian Portuguese wh-questions. In: Santa Barbara Portuguese Studies, vol. VI.326339. KATO, M. A.; RIBEIRO, I. 2009. Cleft sentences from old Portuguese to Modern Brazilian Portuguese. In: A. Dufter & D.Jacob (eds). Focus and Background in Romance Languages. 123-154. Amstrdam : John Benjamins. II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. ROSSI, M. A. 1996. A Sintaxe Diacrônica das Interrogativas-Q do Português. UNICAMP: PhD Dissertation. ASPECTOS SINTÁTICOS DO MODO IMPERATIVO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO Moacir Natércio Ferreira Júnior Universidade de Brasília (UnB) Este trabalho investiga características sintáticas do modo imperativo no português brasileiro (PB). O interesse na investigação do modo imperativo no PB se dá em razão das diferenças sintáticas apresentadas no contraste com a configuração de sentenças imperativas no português europeu (PE). A tradição gramatical classifica o PE como língua de imperativo verdadeiro, por possuir morfologia própria ao modo imperativo, a qual apresenta particularidades sintáticas que determinam a presença dessa forma verbal. Uma dessas particularidades diz respeito à impossibilidade de se realizar a negação, sendo utilizada nesse caso a forma 'supletiva', advinda do subjuntivo (Entra! (2p)/ Entre! (3p/ gramatical); *Não entra!/ Não entres (2p)/ Não entre! (3p/ gramatical)). Essa restrição é analisada em estudos prévios (cf. Rivero 1994). Pretende-se analisar a sintaxe das orações imperativas no português brasileiro (PB), tendo em vista as características observadas em relação à sintaxe da negação, uma vez que o PB não apresenta restrições quanto à realização das formas do imperativo, as quais ocorrem em três configurações com a negação (Não faz/faça isso; Não faz/faça isso não; Faz/Faça isso não). A hipótese a ser testada é a de que o modo imperativo no PB, sendo realizado por formas do indicativo e do subjuntivo sem restrição no que se refere à polaridade da sentença, não possui o chamado imperativo verdadeiro, fazendo uso de um paradigma supletivo, como proposto em Scherre etet al. (2007). Assumindo-se que o desenvolvimento do paradigma supletivo associado ao indicativo (em variação com as formas associadas ao subjuntivo) relaciona-se à reanálise do sistema pronominal e ao sincretismo morfológico decorrente dessa reanálise, propõe-se que as sentenças imperativas no PB ocorrem em uma configuração em que o núcleo C é marcado para o traço optativo (característico da subordinação), a qual se manifesta em virtude da neutralização da oposição indicativo vssubjuntivo no sistema verbal. A configuração marcada para o traço optativo, diferentemente da configuração com o imperativo verdadeiro, no PE, é compatível com as formas do subjuntivo, que não restringe a ocorrência de marcadores negativos, e também com as formas do indicativo, que, sendo sincrética com as formas do subjuntivo, manifesta propriedades idênticas em relação ao licenciamento da negação. Referências Bibliográficas RIVERO, M. (1994). Negation, imperatives and Wackernagel effects. In: Rivista di Linguistica. n.6. p. 39–66. II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. SCHERRE, M; CARDOSO, D. B. B. ; LUNGUINHO, M. V.; SALLES, H. M. M. L. A. (2007) Reflexões sobre o Imperativo em Português. In: DELTA. Documentação de Estudos em Lingüística Teórica e Aplicada, v. 23, p. 193241, 2007. 88 ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- GRADUALISMO DO PROCESSO DE GRAMATICALIZAÇÃO E PRINCÍPIO DA PERSISTÊNCIA: INDÍCIOS DE UMA HIERARQUIA DE TRAÇOS? Sueli Maria Coelho Universidade Federal de Minas Gerais(UFMG) O entendimento de que a mudança categorial resultante da gramaticalização de itens/construções envolve perda de traços é tão consensual entre os vários estudiosos do tema que algumas definições do fenômeno apoiam-se nesse princípio, conforme esta, proposta por Clements (2012): “gramaticalização = estágio A (item com + traços) > estágio B (item com – traços).” Tal perda de traços manifesta-se não apenas no plano semântico, em decorrência do processo metafórico de abstração da forma que se desliza do léxico para a gramática ou de um estágio menos gramatical para um mais gramatical, como também no plano da gramática, quando ocorre, segundo prevê o princípio da descategorização proposto por Hopper (1991), perda de propriedades gramaticais da forma-fonte relacionada à sua categoria lexical. Entretanto, a despeito da comprovada perda de traços da forma-fonte ao longo de seu percurso de mudança categorial, estudos mais recentes (cf. LOPES e RUMEU, 2007; LOPES, 2010) têm demonstrado que, além dos traços semânticos, alguns traços gramaticais também são mantidos no continuum linguístico da forma, podendo ser recuperados a partir de uma perspectiva diacrônica de estudo da mudança. Esse fato motivou-nos a empreender uma reflexão teórica, visando a comprovar a tese de que os traços definidores das categorias gramaticais são marcados hierarquicamente no sistema linguístico. Tal hierarquia, segundo estamos propondo, decorre de um gradualismo na marcação do traço, isto é, estamos assumindo que alguns traços são mais fortemente marcados, o que explicaria a persistência de uns e o desaparecimento de outros ao longo do processo de mudança. Metodologicamente, partimos da análise diacrônica de um conjunto de fenômenos de gramaticalização nos quais se atestam resquícios de traços morfológicos, sintáticos e funcionais mesmo em estágios bastante avançados do processo. Constitui, pois, objetivo de nossa exposição apresentar evidências em favor da conjetura da hierarquia de traços, bem como traçar o continuum gradual dessa hierarquia, em dois níveis, sendo um deles macro, tomando por parâmetro o estrato em que a mudança categorial se processa, e o outro micro, analisando-se os traços em cada estrato. Referências Bibliográficas II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. CLEMENTS, J. C. Congresso Internacional de Linguística Histórica, II, 2012, São Paulo. The development of key features in the Romance-Languages Sprachraum: an evolutionary approach. [Minicurso]. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2012. HOPPER, P. J. On some principles of grammaticalization. In.: TRAUGOTT, E. C.; HEINE, B. (orgs.) Approaches to grammaticalization.vol. 1.Filadélfia: John Benjamins, 1991. LOPES, C. R. dos S. A persistência e a decategorização nos processos de gramaticalização. In: VITRAL, L.; COELHO, S. M. (orgs.) Estudos de processos de gramaticalização em português: metodologias e aplicações. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2010, p. 275-314. LOPES, C. R. dos S.; RUMEU, M. C. de B. O quadro de pronomes pessoais do português: as mudanças na especificação dos traços intrínsecos. In: Descrição, história e aquisição do português brasileiro. 1. ed. São Paulo/Campinas: FAPESP/Pontes Editores, 2007, v. 1, p. 419-436. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- GT6 - GRAMATICALIZAÇÃO E MODELOS BASEADOS NO USO Coordenador: Sebastião Carlos Gonçalves (UNESP- São José do Rio Preto) CHUNKING, CONSTRUCTIONS E CONSTRUCTIONALIZATION: FENÔMENOS EQUIVALENTES EM GRAMATICALIZAÇÃO? UMA ANÁLISE CONCEITUAL E O CASO SENDO QUE André Rauber Universidade Federal do Mato Grosso ( UFMT ) Esta comunicação objetiva expor e analisar três conceitos relacionados à organização e à mudança linguística sob o escopo da relação forma-função em gramaticalização, com enfoque funcionalista. São eles: o conceito de chuking, discutido por Bybee (2010), de constructions (construções), segundo a proposta de Golberg (1995, 2006), e a perspectiva denominada constructionalization (construcionalização), de Trousdale (2008). A metodologia deste estudo divide-se em dois pontos principais: a análise de conceitos e a investigação empírica com base em corpus escrito da língua em uso. Nesse sentido, primeiramente, são citadas e comentadas as definições dos respectivos linguistas acerca dos conceitos que propõem. Em seguida, tais descrições são cotejadas a fim de constatar convergências e/ou divergências entre elas. Finalmente, essas definições serão correlacionadas aos usos da locução sendo que em dados do português brasileiro, organizado em sincronias do século XVI ao XX. Os resultados pretendem evidenciar se (e como) chunking, constructions e construcionalization são fenômenos II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. articuláveis num processo de mudança linguística no qual a gramaticalização é o domínio alvo. Referências Biliográficas BYBEE, Joan. Language, usage and cognition.United Kingdom: Cambridge University Press, 2010. GOLDBERG, Adele E. Constructions: A construction grammar approach to argument structure. Chicago: Chicago University Press, 1995. ______. Constructionatwork: The nature of generalization in language. Oxford: Oxford University Press, 2006. TROUSDALE, Graeme. Constructions in grammaticalization and lexicalization: evidence from the history of a composite predicate construction in English. In: TROUSDALE, Graeme; GISBORNE, Nikolas (eds.). Constructional approaches toenglishgrammar. Berlin: Mouton de Gruyter, 2008. p.33-67. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- THE GRAMMATICALIZATION OF THE SPANISH MODAL PERIPHRASIS TENER QUE + INFINITIVE: A FUNCTIONAL DISCOURSE GRAMMAR VIEW Hella Olbertz Universidade de Amsterdam The proposed paper discusses diachronic and synchronic aspects of the grammaticalization of the periphrastic expression of modal necessity tener que + infinitive in Peninsular Spanish. Consider the following examples, in which the construction expresses internal (1), circumstantial (2)-(3), and deontic (4)-(5) necessities: (1) (2) (3) (4) (5) claro que yotengo que comer también (AdH S16) ‘of course (even) I have to eat, too’ ya te digo/ no hetenido que/ trasladarme mucho/ muylejosni nada (AdH S05) ‘as I toldyou/ I didn’thavetotravel a lot/ farawayoranythingthelike’ [aboutanold piano] porque claro es que era de madera/ y conloscambios de tiempo conelverano se contrae// y cuando llegaelotoñotienes que volverlo a afinar (AdH S18) ‘because of course it was from wood/ and duetothe change of the weather in the summer it contracts// and when the autumn comes you have to tune it again’ tienes que llamarme de tú (AdH S16) ‘youhavetosaytúto me’ tiene que haberununa moral familiar (AdH S16) ‘thereshouldbe a- a moral norm in thefamilies’ II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. When taking a closer look at these examples, we find thatonly (1), (2) and (4) are directed to a person. Example (5) clearly concerns a state of affairs, and in (3), although seem ingly directed towards the addressee, the 2nd person singular is non-referential, i.e. (3) concerns a state of affairs as well. These examples show that there is reason to distinguish between participant-oriented and event-oriented modalities as done, amongstothers, in FunctionalDiscourse Grammar (FDG) as described by Hengeveld& Mackenzie (2008). Example (6) illustrates a further modal distinctionmade in FDG, i.e. subjective epistemic modality, which concerns the speaker’s beliefs concerning the truthof a propositional contentand is there foreclassified as proposition-oriented. (6) [on the necessity of young adults tostay withtheir parents] – hay gente casicontreintaaños que no se van nunca ¿no? – horrible [...] tiene que ser horrible (AdH M28) ‘– there are peopleofalmost 30 yearswhoneverleave, right? – horrible [...] that must behorrible’ The diachronic development of tener que + inf will be shown to pass through the followingstages (from lefttoright, where “<” meansincreasing scope): lexical<participant-oriented<event-oriented<proposition oriented This grammaticalization path oftener que + infcorresponds to the predictions on grammaticalization made in Hengeveld (2013). References HENGEVELD, Kees. 2013. “A hierchical approach to grammaticalization”. Paper read at the Workshop on the Grammaticalization Tense, Aspect, Mood and Modality. University of Amsterdam, 18-19 October. HENGEVELD, Kees & MACKENZIE, J. Lachlan. 2008. Functional Discourse Grammar. A typologically-based theory of language structure. Oxford: OUP. MORENO FERNÁNDEZ, Francisco et al. 2002-2007. La lengua hablada en Alcalá de Henares. Alcalá de Henares: Universidad de Alcalá. [AdH] ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- CONSTRUÇÕES COM VERBO SUPORTE: PERCEPÇÃO E USO NO BRASIL Márcia Machado Vieira Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Esta proposta de trabalho fundamenta-se em resultados de estudos sobre construções com verbo suporte desenvolvidos no âmbito do Projeto PREDICAR – Formação e expressão de predicados complexos (MACHADO VIEIRA, 2001; ALVES, 2011; ESTEVES, 2012). Objetiva tratar da descrição de predicadores complexos sob orientações mais recentes da perspectiva teórica da Linguística Funcional-Cognitiva que se volta para a gramática das construções (GOLDBERG, 1995 e 2006; BRINTON & TRAUGOTT, 2005; TRAUGOTT & TROUSDALE, 2013). E pretende fazê-lo com base em II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. informações obtidas segundo metodologia de constituição e análise de corpora a partir da coleta de dados do comportamento observável em textos orais e escritos brasileiros e segundo metodologia de registro e exame de atitudes linguísticas (FASOLD, 1987). Tratará de aspectos relativos aos processos de gramaticalização e lexicalização a que se sujeitam tais construções e de seus padrões de formação e funcionamento detectados a partir da pesquisa de usos e percepções no Brasil. Referências Bibliográficas ALVES, Olívia M. de M. Estudo sociofuncionalista da alternância entre predicadores pronominais simples e predicadores complexos. UFRJ, Faculdade de Letras, 2011. Dissertação de Mestrado. BRINTON, Laurel. J. & TRAUGOTT, Elizabeth C. Lexicalization and language change. Cambridge: Cambridge University Press, 2005. ESTEVES, Giselle A. T. A lexicalização de expressões DAR/FAZER + SN: fiz sacrifício, dei conta. UFRJ, Faculdade de Letras, 2012. FASOLD, Ralph. The Sociolinguistics of Society.vol. I. New York, USA: B. Blackwell, 1987. p.147-179. GOLDBERG, Adele A. 1995. Constructions: A Construction Grammar Approach to Argument Structure. Chicago: University of Chicago Press, 1995. Constructions at work.The nature of generalization in language. New York: Oxford University Press, 2006. MACHADO VIEIRA, Marcia dos S. Sintaxe e semântica de predicações com verbo fazer. UFRJ, Faculdade de Letras, 2001. Tese de Doutorado. TRAUGOTT, Elizabeth Closs. & TROUSDALE, Graeme. Constructionalization and Construction changes. UK, Great Britain: Oxford University Press, 2013 ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- DE REPENTE: RUMO À GRAMATICALIZAÇÃO? Sirley Ribeiro Siqueira Universidade Federal Fluminense (UFF) Com o intuito de firmar uma interlocução com os participantes do GT 6 “Gramaticalização e modelos baseados no uso”, buscamos apresentar os resultados de nossa pesquisa acerca da expressão de repente com base nos pressupostos da Linguística Funcional (Traugott, 2008; Bybee, 2011; Harder & Boye, 2011.) rastreando, mediante uma investigação de natureza pancrônica, os condicionamentos envolvidos no processo de mudança por gramaticalização de nosso objeto de estudo. Nossa hipótese central é que de repente seja uma expressão polissêmica, em processo de gramaticalização motivado por mecanismos como reanálise (ligada à subjetivação, com atenção a fatores contextuais envolvidos na interpretação da expressão), analogia (relacionada ao processo de metaforização) e aumento na frequência (token e type). Dentre tais mecanismos, contudo, notamos a relevância do papel da reanálise, uma vez que o falante, ao enunciar seu ponto de vista sobre determinado assunto, recruta de repente como modalizador epistêmico de possibilidade e o ouvinte II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. se dá conta deste fato com base em pistas do entorno da expressão. Alguns de nossos objetivos visam a demonstrar que: (i) em todas as sincronias estudadas, de repente é utilizado como circunstanciador; (ii) o processo de gramaticalização de de repente envolve mudança semântica relacionada à subjetivação, no que se refere ao seu emprego como modalizador epistêmico de possibilidade, detectado em dados referentes ao século XX; (iii) há evidências de que a mudança segue em direção à intersubjetivação, no que diz respeito ao seu uso mais recente como marcador discursivo. Os dados históricos (séculos XVI ao XIX) são provenientes do site Corpus do Português (http://www.corpusdoportugues.org). Os dados referentes aos séculos XX e XXI foram extraídos do acervo do projeto do grupo de estudos Peul, denominado Amostra Censo, hospedado no site www.letras.ufrj.peul/amostras e de entrevistas do programa Jô Soares, disponíveis em http://globotv.globo.com/rede-globo/programa-do-jo/t/videos, respectivamente. Os dados demonstram que a expressão evidencia um caráter polissêmico, justificado pelas macrofunções arroladas: circunstanciador, modalizador epistêmico de possibilidade e marcador discursivo. O primeiro dos usos, configura-se como forma não-marcada, mais recorrente nos dados, ligado a sequências narrativas; as duas últimas acepções, mais abstratizadas, aparecem, com mais prioridade, em sequências argumentativas. Acreditamos que este estudo possa contribuir com as discussões realizadas durante o workshop, uma vez que privilegia a visão de língua moldada a partir de usos efetivos na sociedade. Referências Bibliográficas BYBEE, J. Usage-based theory and grammaticalization. In: NARROG, H. and HEINE, B. (eds). The Oxford handbook of grammaticalization.Oxford: Oxford University Press, 2011. HARDER, P.; BOYE, K. Grammaticalization and functional linguistics. In: NARROG, H. and HEINE, B. (eds). The Oxford handbook of grammaticalization.Oxford: Oxford University Press, 2011. TRAUGOTT. E.C. Grammaticalization, constructions and the incremental development of language: Suggestions from the development of Degree Modifiers in English. In: Regine Eckardt, Gerhard Jagerand Tonyes Veenstra (eds.) Variation, Selection, Development-probing the evolutionary Model of Language Change. Berlim/ New York: Mounton de Gruyter, 2008. p.219-250. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- GRAMATICALIZAÇÃO DE ORAÇÕES ENCAIXADAS SUBJETIVAS: PERSPECTIVA CONSTRUCIONISTA Marcela Zambolim de Moura Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Patrícia A. da C. Lacerda Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. Este trabalho é parte da pesquisa de doutorado em andamento inserido na perspectiva da Gramaticalização das Construções. Tenciona-se analisar as orações encaixadas subjetivas a partir do processo da gramaticalização de construções e responder lacunas do trabalho de mestrado de Moura (2009). Moura (2009) analisa a ligação entre orações matrizes do tipo [verbo ser + predicativo] e suas encaixadas subjetivas na escrita mineira a partir do uso do Português contemporâneo em uma análise sincrônica. Os dados mostraram que algumas encaixadas subjetivas estão a caminho de uma independência sintática, visto que suas matrizes estão funcionando como quase-satélites. Propôs-se uma escala semântica que hierarquiza os usos das matrizes em relação ao grau de encaixamento: modalidade deôntica> avaliação > modalidade epistêmica. O cline, da esquerda para direita, apresenta orações menos encaixadas a mais encaixadas. Privilegiaram-se aspectos sintáticos e semânticos. Esse trabalho permite desdobramentos à luz da Gramaticalização das Construções, uma vez que se verificou que toda a construção matricial juntamente à realização da encaixada favorece estágios iniciais de mudança. A noção construcionista permeia o trabalho de Moura (2009) de forma assistemática. Pretende-se no doutorado pesquisar a possível abstratização que leva as encaixadas subjetivas a apresentarem, sincronicamente, desvinculação sintático-semântica e esquematizar o encaixamento das subjetivas em micro, meso e macro-construções, pautando-se nas crenças de que a gramaticalização atua em todos os níveis da gramática e de que existe um pareamento entre forma/sentido das unidades linguísticas. A análise diacrônica permitirá averiguar o cline através do tempo e instanciar quando os sentidos subjetivos/mais subjetivos passaram a concorrer no mesmo domínio funcional dos menos subjetivos. Os dados coletados pertencem aos corpora do século XIII ao XXI. Contemplam as modalidades escrita e oral da língua portuguesa no uso. Nos termos de Traugott (2009), a abordagem construcionista da gramaticalização apresenta três contribuições para esta pesquisa: alinhamento entre padrões de uso e gramaticais, estabelecimento de redes construcionais e redefinição do papel da frequência de uso na gramaticalização. Esta pesquisa tem perspectiva quantitativa e qualitativa, para responder: (i) a partir da análise diacrônica, as características morfossintáticas e funcionais seriam as mesmas encontradas na análise sincrônica das orações encaixadas subjetivas?; (ii) existe um alinhamento forma/sentido, a partir da observação diacrônica, que comprove a desvinculação sintático-semântica encontrada em dados sincrônicos?;(iii) quais construções são similares e quais inovam a esquematicidade das encaixadas subjetivas?; (iv) existe uma rede construcional para as encaixadas subjetivas no português brasileiro? Referências Bibliográficas NOËL, D. Diachronic construction grammar and gramaticalization theory. In: Functions of language. John Benjamins, 2007. TRAUGOTT, E. C. Constructions in grammaticalization. In: JOSEPH, B. D.; JANDA, R. D. (eds.). The handbook of historical linguistics. Oxford: Blackwell, 2003. _________.Grammaticalization and Construction Grammar.In: CASTILHO, A. T. (org.). História do Português Paulista. Campinas: Unicamp/Publicações IEL, 2009. II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. ______. Grammaticalization and mechanisms of change. In: NARROG, H.; HEINE, B. (eds.). The Oxford handbook of grammaticalization. New York: Oxford University Press, 2011a. ______. Toward a coherent account of grammatical constructionalization, Slightlyrevised version of powerpoint presentation at SocietasLinguisticaEuropea (SLE) 44, Spain, September 8th-11th, 2011c. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- OS CONECTORES CONDICIONAIS EM PORTUGUÊS Taísa Peres de Oliveira Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) Este trabalho tem como objeto de estudo a condicionalidade em português, concebida aqui como uma categoria, nos termos de Dancygier (1998) e Dancygier e Sweetser (2005). Como especificação, o objetivo central é descrever os padrões de transferência envolvidos na organização estrutural e conceitual dos conectores condicionais, identificando os princípios gerais que sistematizam a formação desses conectores em português. Reconhece-se aí, principalmente, que o significado dos conectores é formado a partir da interação entre determinações semântico-pragmáticas e cognitivoperceptivas.O significado de condição, que, de modo mais amplo, pode ser explicado pelo estabelecimento de causalidade não preenchida entre duas proposições, manifesta-se em nuances semântico-pragmáticas diversas (HAIMAN, 1978; TRAUGOTT, 1985, 1986; SWEETSER, 1990; DANCIGYER, 1998; SCHWENTER, 1999; NEVES, 1999; DANCYGIER, SWEETSER, 2005) que desembocam nos diferentes subtipos de condicional. Assim, este trabalho pretende investigar de que maneira os diferentes traços implicados na condicionalidade(predição, hipoteticidade, alternatividade, disanciamento epistêmico, não assertividade, contexto de fundo, topicalidade)podem estar ligados ao significado original dos conectores que introduzem a oração. Em outras palavras, como o significado condicional é considerado a partir de suas múltiplas possibilidades, o mapeamento dos domínios conceituais possibilita entender quais traços específicos dão origem a quais tipos de oração condicional. A proposição deste estudo orienta-se a partir da premissa básica de que o significado é concebido como uma estrutura flexível, instável e multifacetada, que se origina a partir de duas tensões principais. Tem uma base convencional, que emerge da padronização de usos regularizados na dimensão social e cultural, negociada e partilhada entre os indivíduos. Ao mesmo tempo, tem uma base cognitiva, já que emerge do conhecimento individualmente idealizado. A análise realizada leva em consideração princípios funcionalistas (BYBEE, 2010), pressupostos da Linguística Cognitiva (LAKOFF, 1987; SWEETSER, 1990; DANCYGIER, 1998; SWEETSER; DANCYGIER, 2005; GEERAERTS, 2005, 2006, 2008;) e da Teoria da Gramaticalização II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. (TRAUGOTT, DASHER, 2002; HOPPER; TRAUGOTT, 2003; TRAUGOTT, BRINTON 2005;). Os dados desta pesquisa serão coletados a partir de uma perspectiva diacrônica no Corpus do português (FERREIRA, DAVIES, 2005). Referências Bibliográficas BYBEE, J. et al The evolution of grammar: Tense, aspect and modality in the languages of the world. Chicago: The University of Chicago Press, 1994. DANCYGIER, B. Conditionals and predication (Cambridge Studies in Linguistics).Cambridge: Cambridge University Press, 1998. DANCYGIER, B.; SWEETSER, E. Mental Spaces in Grammar: Conditional Constructions. Cambridge Studies in Linguistics 108. Cambridge: Cambridge University Press, 2005. GEERAERTS, D. Lectal variation and empirical data in Cognitive Linguistics. In: RUIZ DE MENDOZA, F.; CERVEL, S. P (Eds.), Cognitive Linguistics. InternalDynamics and Interdisciplinary Interactions, Berlin/New York: Mouton de Gruyter, 2005, pp. 163-189. ______. Prototypes, stereotypes and semantic norms. In: KRISTIANSEN, G.; DIRVEN, R. (Eds.), Cognitive Sociolinguistics: Language Variation, Cultural Models, Social Systems, Berlin/New York: Mouton de Gruyter, 2008, pp. 21-44. LAKOFF, G. Women, fire and dangerous things: what categories reveal about the mind. Chicago, London: University of Chicago Press, 1987. SCHWENTER, S. Pragmatics of Conditional Marking: Implicature, Scalarity, and Exclusivity.New York: Garland. [Outstanding Dissertations in Linguistics], 1999. SWEETSER. E. E. From etymology to pragmatics: metaphorical and cultural aspects of semantic structure. (Cambridge Studies in Linguistics, 54). Cambridge: Cambridge University Press, 1990. TRAUGOTT, E. C.; BRINTON, L. Lexicalization and Language Change. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2003. TRAUGOTT, E. C.; HOPPER, P. Grammaticalization. Cambridge: Cambridge University Press (2ª ed), 2002. TRAUGOTT, E. C.; DASHER, R. B. Regularity in Semantic Change.Cambridge: Cambridge University Press, 2011. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- AFIXAÇÃO DO CLÍTICO TE NO PORTUGUÊS BRASILEIRO Célia Regina Lopes Thiago Laurentino de Oliveira Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Este trabalho discute de que forma a alta produtividade de uso do pronome clítico te no português brasileiro (PB) – seja como acusativo (ex.: Eu te vi), seja como dativo (ex.: Eu te liguei) – pode ser interpretada como um caso de gramaticalização. Analisamos os usos pronominais de segunda pessoa do II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. singular nas posições de complemento verbal acusativo e dativo em dados sincrônicos e diacrônicos do PB. Diversos resultados têm demonstrado que o te, forma relacionada ao paradigma do pronome tu, é bastante recorrente nas posições de complemento referidas, mesmo quando se emprega o pronome você na posição de sujeito. Construções como “Você leu o livro que eu te dei?” não geram estigma ou estranhamento ao falante do PB, o que pode ter facilitado a alta produtividade do clítico em questão. Outro uso, marcado socialmente,que tem se tornado produtivo no PB é a duplicação do complemento de 2ª pessoa em construções como “Eu te falei para você”. A partir dessas constatações, discutimos o estatuto gramatical do te nas construções cujo sujeito é o pronome você ou tu. Para tanto, recorremos aos pressupostos teóricos da gramaticalização, associando a versão mais clássica, que prevê a passagem do clítico para afixo, às discussões mais recentes, sobre o papel da frequência de uso das formas/construções no processo de gramaticalização (LEHMANN, 1985; BYBEE, 2001, 2003; COMPANY, 2008, 2010). Propomos, por hipótese, que a alta frequência de uso do te frente a outras formas utilizadas nas posições de complemento verbal favoreceu a automação da estrutura/construção como marca de segunda pessoa do singular. Seriam evidências dessa automação: i) a fixação do clítico em posição proclítica no PB, ii) a ocorrência, em dados atuais, da estrutura com duplicação do objeto, iii) a alta produtividade da construção com o clítico em detrimento de outras formas pronominais (você, lheetc). Acreditamos que essa automação, por um lado, está deslocando a forma te, no continuum de gramaticalização, da categoria dos clíticos para a categoria dos afixos (fato já observado em outras línguas) e, por outro lado, pode levar à sua opacidade semântica, gerando as construções com redobro. Referências bibliográficas BYBEE and HOPPER.Frequency and the emergence of linguistic structure. Amsterdam/ Philadelphia: John Benjamins, 2001. BYBEE, J. Mechanisms of Change in Grammaticization: the role of frequency. In: JOSEPH, B. & JANDA, R. D. (eds). The Handbook of HistoricalLinguistics. Oxford: Blackwell, 2003, p. 602-623. COMPANY, C. C. Gramaticalización, Género discursivo y otras variables em la difusión del cambio sintáctico. In: KABATEK, J. (ed.). Sintaxis histórica de le spañol y cambio lingüístico: Nuevas perspectivas desde las Tradiciones Discursivas. Madrid/Frankfurt: Iberoamericana/Vervuert (=Lingüística Iberoamericana 31), 2008b, p. 17-52. COMPANY, C. C. Reanálisis, ¿mecanismo necesario de la gramaticalización? Uma propuesta desde la diacronia del objeto indirecto em español. In: Revista de Historia de la lengua española, 5. Madrid: Editorial Arco/Libros, S.L. e AHLE, 2010b, p.35-66. LEHMANN, C. Grammaticalization: Synchronic Variation and Diachronic Change. In: Lingua e Stile a. XX, 3, 1985, p. 303-318. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. A GRAMATICALIZAÇÃO DE VERBOS MODAIS EM PORTUGUÊS DO BRASIL: UMA ABORDAGEM SINCRÔNICA Marize Dall’Aglio Hattnher Universidade Estadual de São Paulo (UNESP - São José do Rio Preto) Kees Hengeveld Universidade de Amsterdam O objetivo deste trabalho é investigar em que medida o processo de gramaticalização que envolve verbos modais em Português do Brasil pode ser explicado em termos da abordagem em camadas para categorias gramaticais da Gramática Discursivo-Funcional (GDF, HENGEVELD; MACKENZIE, 2008). Nesta abordagem, elementos gramaticais são definidos em termos de seu alcance semântico, e a gramaticalização é vista como um processo no qual elementos linguísticos alargam o seu escopo (Hengeveld, 2011). No caso de verbos modais, isto significaria que os elementos modais com escopo menor desenvolvem-se em elementos modais com escopo maior no seguinte percurso: proposição ← episódio ←estado-de-coisas ← conceito situacional. Essa predição diacrônica tem consequências sincrônicos: se um verbo modal tem múltiplos significados modais, esses significados devem ser de tipos de escopo contíguos em sua distribuição sincrônica. Para testar essas predições, a distribuição dos verbos modais em Português do Brasil em vários significados modais é estudada. Depois de fornecer algumas informações básicas sobre a GDF e seu tratamento das modalidade, elaboramos as predições decorrentes da abordagem da GDF. Em seguida, apresentamos os verbos modais incluídos no estudo (dever, poder, ter de/que e saber) e testamos as previsões usando exemplos retirados da internet. Com base nos resultados obtidos, concluímos que a predição é correta. Os quatro verbos modais investigados distribuem-se entre as várias camadas, ocupando porções contíguas do percurso previsto, com o verbo dever mostrando a mais ampla gama de usos e saber, a menor, com poder e ter de/que ocupando posições intermediárias. Além disso, os quatro modais mostram uma diferença sistemática no que pode ser classificado como uma etapa de cada vez no percurso, pela linha cheia na Figura 1, confirmando a predição: Figura 1 . Distribuição dos verbos modais entre as camadas Verbo modal Dever proposição episódio + + estado-decoisas + conceito situacional + II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. Poder + Ter de/ter que + + + + Saber + Referências bibliográficas Hengeveld, K.; Mackenzie, J.L. Functional Discourse Grammar: A typologicallybased theory of language structure. Oxford: Oxford University Press, 2008. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- GT 7- GRAMATICALIZAÇÃO E MECANISMOS DE IMPLEMENTAÇÃO Coordenadora: Angélica Rodrigues GRAMATICALIZAÇÃO DE VERBOS NO CONTEXTO MORFOSSINTÁTICO DE SEGUNDA PESSOA DO SINGULAR E PROCESSOS METAFÓRICOS Cristina Carvalho Universidade Estadual da Bahia (UNEB) Nas línguas humanas, alguns verbos têm apresentado usos gramaticalizados em diferentes contextos morfossintáticos. A depender do contexto em que se instancia a gramaticalização, parece haver uma influência no resultado da forma gramaticalizada dos pontos de vista discursivo-funcional e gramatical (CARVALHO, 2011). No português brasileiro (PB), um dos contextos morfossintáticos mobilizados é o da segunda pessoa do singular (P2). Nesse caso, com a gramaticalização da forma verbal, acentua-se a sua função interpessoal (HALLIDAY; HASAN, 1976), havendo uma reanálise em marcador discursivo (MD), como se observa nos usos de você vê (CARVALHO, 2009), veja e olha/olhe (ROST-SNICHELOTTO; GORSKI, 2011). Pesquisas sobre o PB e outras línguas românicas têm demonstrado que “verbos de percepção visual migram de categoria para atuar como MDs, situação em que funcionariam como elementos de chamamento da atenção do O [ouvinte] para um aspecto do texto do F [falante]” (ROST-SNICHELOTTO; GORSKI, 2011). Nessa mudança categorial, verifica-se um deslocamento semântico-pragmático motivado pela atuação da metáfora: transfere-se o foco de atenção do ambiente situacional para a informação a ser provida pelo falante direcionada para o ouvinte (ROST SNICHELOTTO, 2008), o que remete à expansão metafórica espaço físico > espaço discursivo (HEINE, CLAUDI; HÜNNEMEYER, 1991).Seguindo a esteira de Traugott (1997), neste trabalho, II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. considero que a abordagem da gramaticalização também abrange o desenvolvimento de marcadores discursivos. Assim, analiso, do ponto de vista semântico-pragmático, os usos gramaticalizados de verbos (VER, OLHAR, OUVIR, etc.) instanciados no contexto de P2, na fala popular de Salvador. Para tanto, utilizo, como amostra, inquéritos do Programa de Estudos sobre o Português Popular Falado de Salvador (PEPP). Tendo em vista a associação entre gramaticalização, contexto morfossintático e processos metafóricos, busco responder à seguinte questão: Que relação pode ser estabelecida entre o contexto morfossintático e os deslizamentos metafóricos ocorridos nas formas/construções gramaticalizadas? Referências Bibliográficas CARVALHO, Cristina dos Santos. Gramaticalização do verbo verem construções sintáticas complexas In: ROSAE – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA, Salvador, julho, 2009. _____. Gramaticalização de verbos e contextos morfossintáticos. Estudos Linguísticos, São Paulo, 40 (1), p. 82-91, jan/abr, 2011. Disponível em http://www.gel.org.br/estudoslinguisticos/volumes/40/Vol.40-n.1-Integra.pdf. Acesso em: 30 jan. 2014. HALLIDAY, Michael. A. K.; HASAN, Ruqaiya. Cohesion in English. Londres: Longman, 1976. p. 256-261. HEINE, Bernd; CLAUDI, Ulrike; HÜNNEMEYER, Friederike.From cognition to grammar – evidences from African languages. In: TRAUGOTT, E.; HEINE, B. (Ed.). Approaches to grammaticalization. Philadelphia: John Benjamins, 1991. p.149-187. ROST-SNICHELOTTO, Claudia Andrea. Variação dos marcadores discursivos de base verbal nas línguas românicas. Working Papersem Linguística., Florianópolis, 9 (2), p. 41-56, jul./dez., 2008. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/workingpapers/article/viewFile/19848420.2008v9n2p41/9353. Acesso em:30 jan. 2014. ______; GORSKI, Edair Maria. (Inter) Subjetivização de marcadores discursivos de base verbal: instâncias de gramaticalização. Alfa. São Paulo, 55 (2),p. 423-455, 2011. Disponível em: http://seer.fclar.unesp.br/alfa/article/viewFile/4735/4040. Acesso em: 30 jan. 2014. TRAUGOTT, Elizabeth C. The role of the development of discourse markes in a theory of grammaticalization.Paper from the ICHL XII, Manchester, 1995. Versão de 1997. Disponível em: <http://www.stanford.edu/~traugott/papers/discourse.pdf>. Acesso em: 2 mar. 2010. II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. ESTRUTURA INFORMACIONAL E GRAMÁTICA DE CONSTRUÇÕES: ANÁLISE DAS CONSTRUÇÕES DE FOCO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO Felipe Aleixo Universidade Estadual de São Paulo (UNESP – Araraquara) Esta pesquisa visa investigar a relação que se pode fazer entre a teoria da Gramática de Construções e a abordagem textual-discursiva relacionada à Estrutura Informacional. Com esse intuito, busca-se analisar como essa relação se dá em estruturas canônicas, não canônicas, topicalizadas e, sobretudo, em clivadas da sentença portuguesa brasileira contemporânea. Do ponto de vista funcional da presente investigação, o elemento principal da Estrutura Informacional é seu caráter de interface na organização do conhecimento linguístico. Assim, sendo a Estrutura Informacional um dos aspectos centrais com relação à organização do discurso, estando no centro da interação entre sintaxe, semântica e pragmática, busca-se analisar, sincronicamente, em corpus de língua escrita contemporâneo, como elementos relacionados à informação velha/ informação nova, tópico/foco, entre outros, estruturam, em situações reais de língua, a sentença do português brasileiro contemporâneo. A princípio, serão consideradas as construções de foco usualmente referidas como construções clivadas, as quais são caracterizadas como uma estrutura complexa formada por duas orações, em que uma é introduzida por um pronome relativo ou “palavra QU”, e a outra, pelo verbo “ser” (flexionado). Tradicionalmente, a literatura afirma que, em estruturas clivadas, as construções de foco veiculam informação nova. Levanta-se, então, a seguinte inquietação: seria impossível que estruturas de foco apresentem, também, informação dada/velha? A relevância desse tipo de pesquisa reside no fato de apresentar o atual quadro da sentença com relação à sua perspectiva funcional, discutindo a importância dos efeitos informacionais associados aos tipos de construções eleitos nesta pesquisa. Além disso, divulgam-se, com isso, as presentes teorias e suas relações, a fim de abrir espaço para que mais estudos surjam na área. Referências bibliográficas ILARI, Rodolfo. Perspectiva Funcional da Frase Portuguesa. 2. ed. Campinas: Editora da Unicamp, 1992. LAMBRECHT, Knud. Information Structure and Sentence Form: Topic, Focus, and the Mental Representations of Discourse Referents. Cambridge: Cambridge University Press, 1994. LEHMANN, Christian. Information Structure and Grammaticalization. In: LÓPEZ-COUSO, María José; POSSE, Elena Seoane (Eds.). Theoretical and empirical issues in grammaticalization. Amsterdam: J. Benjamins, 2008. (Typological Studies in Language, 77). II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. LONGHIN, Sanderléia Roberta. As construções clivadas: uma abordagem diacrônica. Campinas: Unicamp, 1999. (Dissertação de Mestrado). ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- GRAMATICALIZAÇÃO: ANÁLISE DO LOCATIVO HE EM XIPAYA Flávia de Freitas Berto Universidade Estadual de São Paulo (UNESP – Araraquara) Este trabalho apresenta algumas questões referentes à Teoria da Gramaticalização e sua contribuição para os estudos de mudança linguística nos trabalhos que descrevem e analisam línguas indígenas brasileiras (GILDEA, 1998). Os estudos de gramaticalização combinam perspectivas que consideram tanto as fontes de formas gramaticais e das suas mudanças quanto os processos de gramaticalização do ponto de vista sintático, como um fenômeno discursivo-pragmático. Ao se coletar dados de uma língua indígena, devemos antes utilizar uma abordagem dinâmica da língua, como um processo contínuo de mudanças do que uma distinção clara entre uma abordagem diacrônica ou sincrônica (Hopper & Traugott, 2003). Ao analisar o locativo heem Xipaya (RODRIGUES, 1995), língua da família Juruna, dentro da perspectiva de que a língua é um processo contínuo de mudanças, pudemos levantar algumas hipóteses desse morfema como estratégia de focalização, variação que pode evidenciar um possível processo de gramaticalização. Lambrech (1994), Heine & Kuteva (2002) e Lehmann (2008) são as principais fontes teóricas desse texto. Referências bibliográficas GILDEA, S. On reconstructing grammar: comparative Cariban morphosyntax. New York, N.Y.: Oxford University Press, 1998. HEINE, B. & KUTEVA, T. World Lexicon of grammaticalization.New York, N.Y.: Cambridge University Press, 2002. HOPPER, P. J. & TRAUGOTT, E. C. Grammaticalization. Cambridge: Cambridge University Press, 2003. LAMBRECHT, K. Information structure and sentence form: topic, focus, and the mental representations of discourse referents. Cambridge: Cambridge University Press, 1994. xvi, 388 p. (Cambridge studies in linguistics; v. 71). LEHMANN, C. “Information structure and grammaticalization”. In: María José López-Couso & Elena Seoane Posse (eds.), Theoretical and empirical issues in grammaticalization 3 (Typological Studies in Language 77), 207–229. Amsterdam & Philadelphia: John Benjamins, 2008. RODRIGUES, C. L. R. Etude morphosyntaxique de la langue xipaya (Bresil). Tese (Doutorado) – Universidade Paris VII, França, 1995. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. GENESIS OF AN EVIDENTIAL CATEGORY: REVELATION FROM THE ‘NOISY STREAM’ Kristine Stenzel Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) This paper discusses the structural properties, use, and origin of a category of NON-VISUAL sensory evidence in Kotiria, an Eastern Tukanoan language spoken in the Vaupés basin in northwestern Amazonia. The evidential systems of Tukanoan languages are known for their complexity and their obligatory nature, and are generally comprised of four basic categories: i. the most frequently-occurring category, which indicates direct sensory evidence and distinctions of person and tense or aspect; ii. INFERENCE, used to express conclusions based on directly observed, but after-the-fact, evidence; iii. ASSUMED/ASSERTION used to express generally known and shared information; and iv. HEARSAY, a less-commonly used category. A few languages have an additional NON-VISUAL category, used in situations involving other-than-visual sensory evidence, e.g. to refer to the physical sensations of the speaker (Barnes 1984; Malone 1988; Ramirez 1997; GomezImbert 2007). In Kotiria, evidentials occur on all finite verbs in realis statements, and the evidential system has five categories, including one indicating ‘direct’, but specifically NON-VISUAL, evidence, contrasting with the equally ‘direct’ VISUAL category as well as the ‘indirect’ category of INFERENCE (Stenzel 2008, 2013). However, unlike the HEARSAY, VISUAL, and ASSERTION categories, which are coded by suffixes, NON-VISUAL evidence is indicated by a more complex and ‘lexical-like’ construction involving serialized verb roots and a nominalized verbal complement, as shown in (1). (1) VISUAL, numia ña’aina taa nia koatara ~dubí-a ~ya’á-~ida tá-á woman- catchcomePL NOM.PL (3)PL ~dí-a be.PROG(3)PL koá-ta-ra NONVIS-comeVIS.IMPERF.2/3 ‘Women-kidnappers are coming.’ (the speaker hears them) Based on a corpus of primary data collected in over a decade of fieldwork as well as crosslinguistic comparison, I discuss the Kotiria NON-VISUAL construction as likely developed both recently—since no similar NON-VISUAL category exists in its most closely-related sister language, Wa’ikhana—and independently, based on contrasts with NON-VISUAL markers in other Tukanoan languages. My hypothesis is that the Kotiria NON-VISUAL has grammaticalized from a serial verb construction composed of the lexical roots koa, historically meaning ‘make noise’ and the movement verb ta ‘come’. While NON-VISUAL evidential markers more commonly develop from sensory verbs such as ‘hear’ (Anderson 1986, Aikhenvald 2004), than from verbal roots of the ‘make noise’ type, this latter path of grammaticalization has also been attested in Vaupés languages (Epps 2008) and may represent a shared areal trait. II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. Referências bibliográficas AIKHENVALD, Alexandra Y. 2004 Evidentiality. Oxford: Oxford University Press. ANDERSON, Lloyd B. 1986. Evidentials, Paths of Change, and Mental Maps: Typologically Regular Asymmetries. In Evidentiality: The Linguistic Coding of Epistemology, eds. Wallace Chafe and Johanna Nichols, 273-312. Norwood, NJ: Ablex. BARNES, Janet. 1984. Evidentials in the Tuyuca Verb. International Journal of American Linguistics 50:255-271. EPPS, Patience. 2008. A Grammar of Hup: Mouton Grammar Library 43. Berlin/New York: Mouton de Gruyter. MALONE, T. 1988. The Origin and Development of Evidentials.International Journal of American Linguistics 54:119-140. Tuyuca GOMEZ-IMBERT, Elsa. 2007. La vue ou l'ouïe: la modalité cognitive des langues Tukano orientales. In L'éonciation médiatisée, eds. Zlatka Guentchéva and Jon Landaburu, 65-86. Louvain: Peeters. RAMIREZ, Henri. 1997. A Fala Tukano dos Ye'pâ-Masa, Tomo I Gramática. Manaus: CEDEM. STENZEL, Kristine. 2008. Evidentials and clause modality in Wanano. Studies in Language 32:2:404-444. ——. 2013. A Reference Grammar of Kotiria (Wanano). Lincoln: University of Nebraska Press. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- A EXPRESSÃO DA CONDICIONALIDADE NO SISTEMA VERBAL DO PORTUGUÊS BRASILEIRO: UM ESTUDO DIACRÔNICO, SINCRÔNICO E COMPARADO Luiz Queriquelli Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Este estudo parte do modelo de Hengeveld (2011), sobre a gramaticalização de tempo e aspecto, para compreender o processo de gramaticalização das formas verbais do modo condicional no português brasileiro (PB). Nossa hipótese é a de que a imperfectividade (pelo menos enquanto aspecto verbal), dado o caráter inconcluso que ela imprime na ação verbal, pode originar condicionais pelo menos de duas maneiras: (1) por derivação semântica, sendo usado em contextos em que é clara a expressão da condicionalidade, sem alterações morfossintáticas de qualquer ordem; e (2) aplicando-se a auxiliares de futuro, produzindo primeiramente auxiliares especializados, mas podendo eventualmente envolver em desinências de um novo paradigma conjugacional. Atualmente no PB, existem pelo menos três formas que concorrem para expressar a condicionalidade: o futuro do pretérito, também chamado de condicional sintético (falaria); a perífrase formada pelo imperfeito do indicativo II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. do verbo ir mais infinitivo (ia falar); e o imperfeito do indicativo (falava). Nossa percepção é de que cada uma delas manifesta um dos possíveis estágios da gramaticalização do modo condicional. Assim, procedemos a um estudo pancrônico e comparado dessas três formas a fim de testar nossa hipótese principal. Referências bibliográficas HENGEVELD, K. “The Grammaticalization of Tense and Aspect.” In: NARROG; HEINE (eds.). The Oxford Handbook of Grammaticalization.Manchester: The University of Manchester, 2011. p. 580-594. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- AS CONSTRUÇÕES VERBAIS PARATÁTICAS: GRAMATICALIZAÇÃO EM ITALIANO Patrícia Bomtorin Universidade Estadual de São Paulo (UNESP – Araraquara) Neste trabalho propõe-se analisar a ocorrência, na língua italiana, das construções verbais paratáticas (CVPs, daqui em diante), que se formam a partir de dois ou mais verbos flexionados, V1 e V2, conectados ou não pela conjunção e, como em “se ne va e piange” e “prendo e me ne vado”. Nossa hipótese é a de que as CVPs tenham se originado a partir de construções coordenadas pelo processo de gramaticalização. Assim, as construções fonte teriam sido reanalisadas em contextos específicos até ocorrer a mudança e se chegar às construções alvo. Os verbos em posição de V1 nas CVPs partilham algumas propriedades em comum com verbos auxiliares – que também passaram pelo processo de gramaticalização –, na medida em que deixam de ser verbo pleno e tornam-se mais gramaticais. Porém, as CVPs apresentam propriedades incompatíveis com auxiliaridade. A principal delas, no que diz respeito à sintaxe, é a seguinte: nas CVPs, V1 e V2 compartilham as mesmas flexões verbais; sendo que os verbos principais em casos de auxiliaridade ficam no infinitivo, enquanto só o verbo auxiliar é flexionado. Há também uma diferença semântico-pragmática: propomos a interpretação do V1 de uma CVP como tendo a função de dar ênfase em V2, diferentemente de um verbo auxiliar, que tem a função de mostrar o tempo e o aspecto da construção. Nosso objetivo, portanto, é (1) demonstrar o continuum sincrônico de gramaticalização entre construções coordenadas e as CVPs a partir do mecanismo da reanálise, além de (2) tratar das diferenças entre as CVPs e as construções com verbo auxiliar. Sustenta nossas análises uma abordagem funcional da gramática, que leva em conta os estudos em gramaticalização e em gramática de construções. Referências bibliográficas GOLDBERG, A. E. Constructions. In: _____: A constructional grammar approach to argument structure. London: The University of Chicago Press, 1995. II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. HEINE, B. Auxiliaries: cognitive forces and grammaticalization. Oxford: Oxford University Press, 1993. HEINE, B. Grammaticalization. In: Brian D. Joseph & Richard D. Janda (eds.). The handbook of historical linguistics. Oxford: Blackwells, 2003; p. 575-601. HOPPER, P. J.; TRAUGOTT, E. C. Grammaticalization. (2. ed.). Cambridge: Cambridge University Press, 2003. NICHOLS, J. Functional theories of grammar. In: Annual Reviews Anthropol. 13:, 1984; p. 97-117. RODRIGUES, A. C. T. Eu fui e fiz esta tese: as construções do tipo foi fez no Português do Brasil. Campinas, 2006. Tese de doutorado, Unicamp. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- GRAMATICALIZAÇÃO DA CONSTRUÇÃO DE MOVIMENTO COM PROPÓSITO EM PORTUGUÊS Patrícia Orefice Universidade Estadual de São Paulo (UNESP – Araraquara) O objetivo deste trabalho é analisar construções do tipo 1 e 2, denominadas de construções de “movimento com propósito” (motion cum purpose), CMCP. Essas construções, segundo Lehmann (2001), são formadas por dois verbos, sendo o primeiro um verbo de movimento orientado e o segundo, um verbo que se apresenta sempre em sua forma não finita. Para a nossa análise, adotamos uma abordagem teórica que discute as principais linhas teóricas de gramaticalização (HEINE, 2003; HOPPER e TRAUGOTT, 1997, 2003). (1) “Mas o meu príncipe, que descera, enfiado, mandou buscar um engenheiro à Companhia Central de Eletricidade Doméstica. Por precaução, outro criado correu à mercearia comprar pacotes de velas” (CORPUS DO PORTUGUÊS: A casa do Ilustre Ramires: Eça de Queirós, 1900 – 18: Queirós: Ramires). (2) “Anônimo – Eu sou meio caseiro mais saio ver o movimento das ruas e o verde das praças. Sou bucólico, mas sou entusiasta que um dia iremos viver na Guarapuava que queremos e merecemos” (Disponível em: <http://www.orkut.com/Main#CommMsgs?c,,=93977255&tid=546961055 0569325604&na=4&nst=1&nid=93977255-54696105505693256045489395012699288357> Acesso em: 15 Set.2012). Lehmann (2011, p. 13) afirma que as construções de “movimento com propósito”, quando dadas com os verbos de movimento orientado mais básicos, estão na origem da gramaticalização do futuro perifrástico com ir. Pretendemos discutirCMCP’s que ocorrem com verbos diferentes dos básicos ire vir, procurando identificar os processos de gramaticalização sofridos por elas, além de compreender os mecanismos metafóricos que habilitam a finalidade nessas construções. II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. Referências bibliográfica HEINE, B. Grammaticalization. In JOSEPH, B. e JANDA, R. (org).A handbook of Historical Linguistics. Oxford: Blacwell, 2003. HOPEER, P.J. e TRAUGOTT, E.C. Grammaticalization.Cambridge: Cambridge University, 2003. LEHMANN, C. Gramática Funcional. 2011. Disponível em <http://www.christianlehmann.eu/publ/gramatica_funcional.pdf> Acesso em 14 Ago.2013. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- GT 8- GRAMATICALIZAÇÃO E PROJETOS EM ANDAMENTO Coordenador: Luiz Carlos Travaglia (UFU) A CONSTRUCIONALIZAÇÃO DE A GENTE NO PORTUGUÊS BRASILEIRO: UMA ABORDAGEM DA LINGUÍSTICA CENTRADA NO USO Bruna das Graças Soares Aceti Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) A tese explicitará o que determinou a construcionalização de “a gente” (artigo + substantivo) cristalizada na construção pronominal de primeira pessoa “a gente” no português brasileiro, sob o ponto de vista da Linguística Centrada no Uso, a partir de uma amostra composta por peças teatrais do século XVI ao XX na modalidade escrita da língua, e como se deram as mudanças construcionais até o último século. O estudo levará em conta a Linguística Centrada no Uso por concebermos que há fatores sintático-semânticos e discursivo-pragmáticos que, juntos com a cognição humana, atuam na mudança de “(a) gente” (categoria de substantivo) para “a gente” (categoria de pronome). Os objetivos serão: (i) realizar o percurso histórico da construção “(a) gente”(artigo + substantivo) para “a gente”; (ii) observar os contextos críticos do fenômeno; (iii) verificar as causas da pronominalização de “a gente”; (iv) investigar se “a gente” é um exemplo de construcionalização “pura” sem analogia ou se envolve analogia; (v) analisar a gramaticalização da construção como extensão semântico-pragmática; (vi) evidenciar o papel da frequência de uso no processo de mudança; (vii) relacionar os processos de mudanças envolvidos com os processos cognitivos gerais; e (viii) relacionar os resultados da análise do gênero “peçasteatrais” com outros gêneros. Os dados serão codificados e analisados qualitativa e quantitativamente. Utilizaremos o programa estatístico SPSS a fim de obtermos a frequência de ocorrência de “a gente”, bem como sua frequência de tipo, através dos fatores: (a) função sintática de “a gente”, (b) tempo verbal e (c) tipo verbal. Referências bibliográficas II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. BARLOW, M.; KEMMER, S. (Org.) Usage based models of language. Stanford, California: CSLI Publications, 2000. BYBEE, J. 2003. Mechanisms of change in grammaticization: The role of frequency. In: B. D. Joseph and J. Janda (eds.) The Handbook of Historical Linguistics. Oxford: Blackwell. p. 602-623. BYBEE, J. Language, usage and cognition. Cambridge: Cambridge University Press, 2010. CROFT, W. Radical Construction grammar: syntactic theory in typological perspective. Oxford: Oxford University Press, 2001. FERRARI, L.; FONTES, V. Dêixis e mesclagem: a expressão pronominalizada “a gente” como categoria radial. Revista LinguíStica. Revista do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Volume 6, número 2, dezembro de 2010. FISCHER, O. Grammaticalization as analogically driven change? Vienna English Working Papers 18(2): 3-23. 2009. GOLDBERG, A E. A construction grammar approach to argument structure. Chicago/London: The University of Chicago Press, 1995. HOPPER, P.; TRAUGOTT, E. Grammaticalization. Cambridge, Cambridge University Press. 1993. HOPPER, P.; TRAUGOTT E. Grammaticalization.Cambridge Textbooks in Linguistics, Cambridge University Press, 2003.xx – 276. LOPES, C. R. dos. Nós e a gente no português falado culto do Brasil. Dissertação de Mestrado em Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras, UFRJ, 1993. NÖEL, D. Diachronic construction grammar vs. Grammaticalization theory. 2006 Disponível em: <://htpp hub.hku.hk/handle/123456789/38694>. Acesso em abril de 2013. TRAUGOTT, E.; TROUSDALE, G. Gradience, Grammaticalization. Amsterdam: Benjamins. 2010a. Gradualness, and TRAUGOTT, E. Toward a Coherent Account of Grammatical Constructionalization. Draft for a volume on historical construction grammar. Edited by Elena Smirnova, JóhannaBardal, Spike Gildea, and LotteSommerer.March, 2, inédito. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- CATEGORIAS COGNITIVAS EM NOVAS PERSPECTIVAS Renata Barbosa Vicente Universidade de São Paulo (USP) Universidade Bandeirante Anhanguera (UNIAN) Esta pesquisa tem como objetivo descrever e analisar, a partir das construções linguísticas usadas para marcar a introdução de um texto II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. dissertativo-argumentativo, pela perspectiva da Gramaticalização e da Cognição, as categorias linguísticas mais frequentes. Para isso usamos um corpus que totaliza 1600 redações de vestibular da FUVEST (Fundação para o vestibular – USP), produzidas no período de 2004 a 2011, sendo 50% delas as melhores e as outras 50% as piores consideradas pela banca corretora. Teoricamente, fundamentamos esta pesquisa nos estudos sobre Cognição, a partir de Tomasello (2003), Damásio (2011), Del Nero (1997) e sobre Gramaticalização Heine, Claudi e Hünnemeyer (1991), Bybee (2010) LimaHernandes (2005, 2010, dentre outros). Todo o material analisado teve tratamento quantitativo e qualitativo e chegou-se à determinação de que a categoria espaço é a categoria cognitiva mais frequente na defesa de uma tese e difere da categoria lugar. Foi possível, assim, constatar que espaço, embora em vários contextos seja utilizado como sinônimo de lugar, sob o ponto de vista linguístico-cognitivo lugar tem caráter mais concreto,por determinar localização física, enquanto espaço situa-se mais à direitado continuum das categorias cognitivas propostas por Heine, Claudi e Hünnemeyer (1991), após a categoria tempo, apontando para maior grau de abstração metafórica. Também é foco deste trabalho evidenciar que o processamento cognitivo para a produção textual envolve vários fatores mentais como o protos self (condição básica ao indivíduo), self central (todo o conhecimento adquirido) e self autobiográfico (a forma de externalizar o conhecimento adquirido em texto escrito). Destacamos também, a forma como o candidato começa uma dissertação, procurando criar um espaço conjunto de atenção, que é resultado de todos esses selves trabalhando juntos para a (inter)subjetividade materializada via categorias cognitivas. Referências Bibliográficas BYBEE, Joan. Language, usage and cognition.Cambridge: University Press, 2010. DAMÁSIO, A. R. E o cérebro criou o homem. São Paulo: Companhia das letras, 2009. DEL NERO, H. S. O Sítio da Mente: Pensamento, Emoção e Vontade no Cérebro Humano.São Paulo. Editora Collegium Cognitio, 1997. HEINE, Bernd et alii. Grammaticalization: a Conceptual Framework. Chicago: The University of Chicago Press, 1991. LIMA-HERNANDES, M. C. A interface Sociolinguística/ Gramaticalização Estratificação de usos de tipo, feito, igual e como - sincronia e diacronia. Tese de doutoramento. Campinas: IEL/UNICAMP, 2005. ________________, M. C. Processos Sociocognitivos da Mudança Gramatical: Estrutura x-que do português. Tese de livre docência. São Paulo: FFLCH, 2010. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- GRAMATICALIZAÇÃO DE TMA FORA DE VERBO: QUANDO A PALAVRA “TEMPO” TEMPO TEM Marcus Lira Universidade de Brasília (UnB) II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. Não é costumeiro que as línguas apresentem morfologia relacionada a tempo, modo, ou aspecto fora de verbo. É comum que essa possibilidade seja ignorada, ainda que livros sobre o assunto, como Comrie (1985, p. 13), por vezes comente a possibilidade por alto. Japonês, por exemplo, possui uma vasta gama de morfemas de tempo, modo e aspecto que podem ser encontrados em uma das (sub)classes de adjetivos. Essa (sub)classe pode ser encontrada tanto em construções atributivas como em construções predicativas, não havendo qualquer tipo de limitação na possibilidade de uso desses morfemas em qualquer uma das construções. “Oishi-i udon o tabe-ta” (gostoso-Ñ.PSD macarrão.udon OBJ comer-PSD) [Comi udon gostoso] é tão grammatical quanto “Oishi-kattaudon o mainichiomoidas-u” (gostoso-PSD macarrão.udon OBJ todo.dia lembrar-Ñ.PSD) [Lembro todos os dias do udon (que era) gostoso], apesar da diferença da morfologia de tempo no adjetivo. Igualmente, “Udonwaoishi-i” [Macarrão.udon TOP gostoso-Ñ.PSD] (Udon é gostoso) e “Udonwaoishi-katta” [Macarrão.udon TOP gostoso-PSD] (O udon estava/era gostoso) são ambas perfeitamente gramaticais. Qualquer ceticismo quanto ao status dessa classe de palavras como “adjetivo” é inteiramente justificável com base nesse comportamento, já que a mesma morfologia ocorre nos verbos da língua, os quais também podem aparecer em construções atributivas e predicativas: “Tabe-taudonwaoishi-katta” [Comer-PSD macarrão.udon TOP gostoso-PSD] (O udon que eu comi era gostoso) é um exemplo de verbo numa construção atributiva, com a primeira oração exemplo desse resumo sendo um exemplo de verbo em construção predicativa. Isso também não quer dizer que os adjetivos do início são um tipo de verbo – eles apresentam características típicas de adjetivos, como a possibilidade de aparecer em comparações como “udonwa sushi yorioishi-i” [macarrão.udon TOP sushi ABL gostoso-Ñ.PSD] (Udon é mais gostoso do que sushi), e junto de intensificadores como “totemooishi-i” [muito gostoso-Ñ.PSD] (muito gostoso). Já Musqueam, uma língua Salish da costa oeste norte-americana, não só permite a presença de morfologia de tempo, modo e aspecto nos adjetivos, como em “kʷθə θí- ctwa məstəyəxʷ” [ART grande-PSD ESPECULATIVO pessoa] (Aquela grande pessoa, como ele deve ter sido) (SUTTLES, 2004, p. 65), mas também em substantivos, permitindo orações como “kʷθə nə-mən-ə ” [ART meu-pai-PSD] (Meu finado pai) (SUTTLES, 2004, p. 64). Por que a morfologia de tempo, modo e aspecto é restrita aos verbos na maior parte das línguas, mas em algumas outras ela ocorre em outras classes lexicais? O presente trabalho procura explicar essa diferença através de processos de gramaticalização e da hipótese de Harris (2008) e Harris (2010)de que isso se deve a uma soma de vários fatores de baixa probabilidade, esses e outros exemplos de morfologia fora do verbo (seguindo a definição de “verbo” utilizada na apresentação de categorias lexicais em Dixon(2010)), o presente trabalho faz parte de um levantamento funcional tipológico – ainda em andamento – que busca analisar e procurar por afinidades nas gramáticas de 75 línguas geneticamente não relacionadas, escolhidas de acordo com maior variabilidade possível seguindo Bakker(2011). II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. Referências Bibliográficas BAKKER, D. Language Sampling. In: SONG, J. J. The Oxford Handbook of Linguistic Typology. Oxford: Oxford University Press, 2011. p. 100-130. COMRIE, B. Tense. Cambridge: Cambridge University Press, 1985. DIXON, R. M. W. Basic Linguistic Theory - Volume 1: Methodology. Oxford: Oxford University Press, 2010. HARRIS, A. C. On The Explanation of Typologically Unusual Structures. In: GOOD, J. Linguistic Universals and Language Change. Oxford: Oxford University Press, 2008. p. 54-76. HARRIS, A. C. Explaining Typologically Unusual Structures: The Role of Probability. In: CYSOUW, M.; WOHLGEMUTH, J. Rethinking Universals: How Rarities Affect Linguistic Theory. Berlin/New York: Walter de Gruyter GmbH & Co. KG, 2010. p. 91-104. SUTTLES, W. Musqueam Reference Grammar. Vancouver, Toronto: UBC Press, 2004. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- GRAMATICALIZAÇÃO DE TMA FORA DE VERBO: QUANDO A PALAVRA “TEMPO” TEMPO TEM Marcus Lira Universidade de Brasília (UnB) Não é costumeiro que as línguas apresentem morfologia relacionada a tempo, modo, ou aspecto fora de verbo. É comum que essa possibilidade seja ignorada, ainda que livros sobre o assunto, como Comrie (1985, p. 13), por vezes comente a possibilidade por alto. Japonês, por exemplo, possui uma vasta gama de morfemas de tempo, modo e aspecto que podem ser encontrados em uma das (sub)classes de adjetivos. Essa (sub)classe pode ser encontrada tanto em construções atributivas como em construções predicativas, não havendo qualquer tipo de limitação na possibilidade de uso desses morfemas em qualquer uma das construções. “Oishi-i udon o tabe-ta” (gostoso-Ñ.PSD macarrão.udon OBJ comer-PSD) [Comi udon gostoso] é tão grammatical quanto “Oishi-kattaudon o mainichiomoidas-u” (gostoso-PSD macarrão.udon OBJ todo.dia lembrar-Ñ.PSD) [Lembro todos os dias do udon (que era) gostoso], apesar da diferença da morfologia de tempo no adjetivo. Igualmente, “Udonwaoishi-i” [Macarrão.udon TOP gostoso-Ñ.PSD] (Udon é gostoso) e “Udonwaoishi-katta” [Macarrão.udon TOP gostoso-PSD] (O udon estava/era gostoso) são ambas perfeitamente gramaticais. Qualquer ceticismo quanto ao status dessa classe de palavras como “adjetivo” é inteiramente justificável com base nesse comportamento, já que a mesma morfologia ocorre nos verbos da língua, os quais também podem aparecer em construções atributivas e predicativas: “Tabe-taudonwaoishi-katta” [Comer-PSD macarrão.udon TOP gostoso-PSD] (O udon que eu comi era gostoso) é um exemplo de verbo numa construção atributiva, com a primeira oração exemplo desse resumo sendo um exemplo de verbo em construção predicativa. Isso também não quer dizer que os adjetivos do início são um tipo de verbo – eles apresentam características típicas de adjetivos, como a possibilidade de II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. aparecer em comparações como “udonwa sushi yorioishi-i” [macarrão.udon TOP sushi ABL gostoso-Ñ.PSD] (Udon é mais gostoso do que sushi), e junto de intensificadores como “totemooishi-i” [muito gostoso-Ñ.PSD] (muito gostoso). Já Musqueam, uma língua Salish da costa oeste norte-americana, não só permite a presença de morfologia de tempo, modo e aspecto nos adjetivos, como em “kʷθə θí- ctwa məstəyəxʷ” [ART grande-PSD ESPECULATIVO pessoa] (Aquela grande pessoa, como ele deve ter sido) (SUTTLES, 2004, p. 65), mas também em substantivos, permitindo orações como “kʷθə nə-mən-ə ” [ART meu-pai-PSD] (Meu finado pai) (SUTTLES, 2004, p. 64). Por que a morfologia de tempo, modo e aspecto é restrita aos verbos na maior parte das línguas, mas em algumas outras ela ocorre em outras classes lexicais? O presente trabalho procura explicar essa diferença através de processos de gramaticalização e da hipótese de Harris (2008) e Harris (2010)de que isso se deve a uma soma de vários fatores de baixa probabilidade, esses e outros exemplos de morfologia fora do verbo (seguindo a definição de “verbo” utilizada na apresentação de categorias lexicais em Dixon(2010)), o presente trabalho faz parte de um levantamento funcional tipológico – ainda em andamento – que busca analisar e procurar por afinidades nas gramáticas de 75 línguas geneticamente não relacionadas, escolhidas de acordo com maior variabilidade possível seguindo Bakker(2011). Referências Bibliográficas BAKKER, D. Language Sampling. In: SONG, J. J. The Oxford Handbook of Linguistic Typology. Oxford: Oxford University Press, 2011. p. 100-130. COMRIE, B. Tense. Cambridge: Cambridge University Press, 1985. DIXON, R. M. W. Basic Linguistic Theory - Volume 1: Methodology. Oxford: Oxford University Press, 2010. HARRIS, A. C. On The Explanation of Typologically Unusual Structures. In: GOOD, J. Linguistic Universals and Language Change. Oxford: Oxford University Press, 2008. p. 54-76. HARRIS, A. C. Explaining Typologically Unusual Structures: The Role of Probability. In: CYSOUW, M.; WOHLGEMUTH, J. Rethinking Universals: How Rarities Affect Linguistic Theory. Berlin/New York: Walter de Gruyter GmbH & Co. KG, 2010. p. 91-104. SUTTLES, W. Musqueam Reference Grammar. Vancouver, Toronto: UBC Press, 2004. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- GRAMATICALIZAÇÃO DA CONSTRUÇÃO “POIS NÃO” Célia Márcia G. N. Lobo Universidade Federal de Goiás (UFG) Em princípio, é possível distinguir, pelo menos, duas possibilidades semânticas no uso depois não, no português do Brasil: a) Sob a forma afirmativa, II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. equivalente ao sentido de “sim” e/ou “claro”; b) Sob a forma interrogativa, equivalente ao sentido de “Em que posso ajudar?”. Em ambas as possibilidades, pois não possui função discursivo interativa, atuando como orientador da interação. Com base nos parâmetros de gramaticalização, propostos por Heine e Kuteva (2007) e na Teoria Construcional, de Goldberg (2006), esse projeto de pesquisa parte da hipótese de quepois não é uma construção e esse status é decorrente de um processo de gramaticalização de um uso mais básico, previsível como em “Pois não haveria de realizar seu pedido?”, por exemplo. Além disso, supõe-se uma relação com o mecanismo de intersubjetificação (TRAUGOTT, DASHER, 2005), pois o falante ao usarpois não passa a atentar-se às atitudes e necessidades do ouvinte. Logo, esse trabalho tem por objetivos: investigar, por meio de um estudo pancrônico, como ocorre o processo de construcionalidade e de gramaticalização depois não, nas diferentes nuanças de uso da língua falada como maneira de contribuir para a descrição do Português Brasileiro; pesquisar os possíveis valores semânticos de pois não e alocá-los em um cline de gramaticalidade; verificar seu status construcional; analisar a frequência de sentidos de acordo com os contextos de uso; e verificar as hipóteses de origem dessa forma. Os dados serão coletados do corpus do Projeto Fala Goiana, e/ou outras amostras que se fizerem necessárias. Pretende-se fazer uma análise quantitativa e qualitativa dos dados, considerando-se critérios sintáticos e semânticos, e os pressupostos da gramaticalização e da Teoria Construcional. Esta pesquisa fundamenta-se nos postulados teóricos da Gramática Funcional de Dik (1989; 1997) e Halliday (1985); no modelo teórico da Gramaticalização, entendida, conforme Gonçalves, Lima-Hernandes, Casseb-Galvão (2007), Heine e Kuteva (2007), Traugott e Dasher (2005); na Teoria das Construções (GOLDBERG, 2006); e em estudos cognitivistas (TOMASELLO, 2010; LANGACKER, 2013). Referências Bibliográficas DIK, S. C.The Theory of Functional Grammar.Dorderecht-Holland/ Providence RI-EUA: Foris Publications, 1989. ______. The theory of functional grammar.Part 2: Complex and derived constructions. Berlin: De GruyterMouton, 1997. GOLDBERG, A. Constructionatwork. The natureofgeneralization in Language. Oxford: Oxford Press, 2006. GONÇALVES, S. C. L.; LIMA-HERNANDES, M. C.; CASSEB-GALVÃO, V. C. (Org.). Introdução à gramaticalização. São Paulo: Parábola, 2007. HALLIDAY, M.An Introduction to Functional Grammar. Baltimore: Edward Arnold, 1985. HEINE, B.; KUTEVA, T.The Genesis of Grammar: A Reconstruction. Oxford: Oxford University Press, 2007. HEINE, B.et al. Grammaticalization: a conceptual framework. Chicago: The Universityof Chicago Press, 1991. LANGACKER, R. W.Essentials of CognitiveGrammar. Oxford: Oxford University Press, 2013. TOMASELLO, M. Origins of human communication. Cambridge: MIT Press, 2010. II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. TRAUGOTT, E. C., DASHER, R. B. Regularity in semanticchange. Cambridge: Cambridge University Press, 2005. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- GRAMATICALIZAÇÃO E VARIAÇÃO: NÃO OBSTANTE ~ APESAR DE; NÃO OBSTANTE ~ EMBORA; NÃO OBSTANTE ~ NO ENTANTO – ESTUDO EM CORPUS HISTÓRICO Pamela Pereira Universidade dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFBJM) Maria do Carmo Viegas Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) O presente projeto (GRAvar) objetiva pesquisar aspectos da mudança linguística, em especial o fenômeno de gramaticalização (Hopper & Traugott, 1993) envolvendo APESAR DE, EMBORA e NO ENTANTO na história do português e, ainda, objetiva a análise da variação de tais estruturas com a expressão NÃO OBSTANTE, conforme apontado em Pereira (2012). Para isso, serão constituídos três corpora, um com dados de APESAR DE, outro com dados de EMBORA, e outro com dados deNO ENTANTO, todos do século XIV ao XX, coletados do Corpus do Português, de Davies e Ferreira (2006-) – o mesmo corpus utilizado em Pereira (2012) para a análise da gramaticalização do NÃO OBSTANTE. Em Pereira (2012), verificou-se que a frequência de ocorrência dos diversos sentidos do NÃO OBSTANTE ao longo da história do português parece ter sido afetada pela competição dessas construções com outros itens e construções – EMBORA, APESAR DE eNO ENTANTO - o que parece ter determinado a queda no uso de NÃO OBSTANTE no século XX. Assim, a proposta deste projeto centra-se na pesquisa da variação NÃO OBSTANTE ~ APESAR DE, NÃO OBSTANTE ~ EMBORA e da variação NÃO OBSTANTE ~ NO ENTANTO, considerando a gramaticalização de APESAR DE, de EMBORA, de NO ENTANTO e de NÃO OBSTANTE no âmbito da gramática de construções. Justifica-se, portanto, a análise de tais estruturas utilizando um mesmo corpus para a análise simultânea de fenômenos de variação e gramaticalização. Pretendemos responder algumas questões como as seguintes: ocorreu um processo de sintatização dessas construções/itens? Caso positivo, como e quando se deu esse processo de sintatização? Eles foram simultâneos nas diversas construções/itens na mesma direção? Em qual veio primeiro? Ocorreu semantização dessas construções/itens? Caso positivo, como e quando se deu esse processo de semantização? Eles foram simultâneos nas diversas construções/itens na mesma direção? Em qual veio primeiro? Podemos falar em lexicalização? ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. “NÃO” COMO PREFIXO NA HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA Lucas Santos Campos Universidade Estadual do Sul da Bahia ( UESB) O projeto de pesquisa "A trajetória de gramaticalização dos prefixos na história da língua portuguesa" objetiva analisar o processo de derivação prefixal na história desse idioma, buscando investigar a trajetória de gramaticalização dos prefixos. Ficamos motivados para empreender a pesquisa quando verificamos que o não, em construções do tipo não-índio, nãoviolência, organização não-governamental, etc. apresentava-se com uma função diversa daquela explicada e descrita pela gramática tradicional, qual seja a de advérbio com sentido negativo, (Cf. Campos, 2001). O estudo justifica-se pela importância e necessidade um povo conhecer seu passado, a despeito de viver o presente, a fim de ter um claro e sólido conhecimento das suas origens, para bem poder transmitir a história e cultura a seus sucessores e programar seu futuro. A principal hipótese é a de que a maioria dos prefixos são oriundos de itens lexicais independentes que experimentaram o processo de gramaticalização. O principal procedimento metodológico tem sido o de (i) coleta, em documentos do português antigo e contemporâneo, de itens lexicais prefixados, (ii) análise tanto dos prefixos quanto das bases a eles adjungidas e (iii) interpretação da trajetória de gramaticalização desses elementos. O aporte teórico insere-se na Linguística Histórica, particularmente no Funcionalismo linguístico e especificamente nos estudos sobre gramaticalização. Alguns resultados já foram alcançados, a exemplo (i) do traçado da rota de gramaticalização do “não” como prefixo, a partir da exploração de um corpus, constituído de 123 exemplares de um jornal de grande circulação em uma capital brasileira (Cf. Campos 2001); (ii) da identificação de uma ocorrência do “não” com caráter prefixal em um documento do séc. XV. Com base em um corpus constituído por dez obras em prosa, do período compreendido entre os séculos XIII e XVI, emprego esse que até o momento pode ser considerado o primeiro dessa partícula, com caráter prefixal (Cf. Campos 2004) e (iii) do atestado de que o prefixo “não” ocupa um espaço próprio na estrutura da língua portuguesa, ou seja, esse prefixo não desempenha um papel de elemento complementar ou auxiliar no quadro da negação prefixal (Cf. Campos 2009). Consideramos importante socializar e discutir esses resultados com outros pesquisadores ligados ao processo de gramaticalização. Acreditamos que esse diálogo poderá trazer uma revitalização para nosso trabalho, assim como uma contribuição para outros estudiosos. Referências Bibliográficas CAMPOS, LUCAS. A gramaticalização do não como prefixo no português brasileiro contemporâneo. Dissertação de mestrado. Salvador: Instituto de Letras da UniversidadeFederal da Bahia, 2001. II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. CAMPOS, LUCAS. A negação prefixal na história da língua portuguesa. Tese de doutoramento. Salvador: Instituto de Letras da UniversidadeFederal da Bahia, 2004. CAMPOS, LUCAS. O desenvolvimento do prefixo “não”. In: OLIVEIRA, Klebson; CUNHA E SOUZA, Hirão; SOLEDADE, Juliana (orgs.). Do português arcaico ao português brasileiro: outras histórias. Salvador: EDUFBA, 2009. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- O DESENVOLVIMENTO DO USO VOLITIVO DE “BUSCAR” E “ESPERAR”: UMA PROPOSTA A PARTIR DA ABORDAGEM CONSTRUCIONISTA DA GRAMATICALIZAÇÃO Nathália Félix de Oliveira Patrícia Lacerda Universidade Federal de Juíz de Fora (UFJF) O presente trabalho tem como objeto de estudo os verbos “buscar” e “esperar”. Defendemos que esses verbos teriam passado por um processo de mudança semântico-pragmática, desenvolvendo um uso volitivo, o qual estaria vinculado a padrões construcionais específicos. Assumindo como perspectiva teórica a abordagem construcional da gramaticalização (TRAUGOTT, 2003, 2008a, 2008b, 2009, 2011), partimos do pressuposto de que a gramaticalização de “buscar” e “esperar” como volitivos consiste na emergência de construções gramaticalmente identificáveis que, no caso, indexam a vontade/o desejo do falante. Com a identificação dessas construções individuais, procuramos, ainda, obter indícios de um sistema hierárquico, com diferentes níveis de esquematicidade, que estaria envolvido no desenvolvimento de verbos volitivos (como “querer”, “tentar” e “procurar”) no português. Para tanto, observamos os quatro níveis propostos por Traugott (2008a, 2008b), a saber: construtos, microconstruções, mesoconstruções e macroconstruções. Assim sendo, realizamos uma análise pancrônica, considerando a distribuição do nosso objeto desde o século XIII até o português contemporâneo. Os dados diacrônicos foram selecionados do corpus do projeto “CIPM – Corpus Informatizado do Português Medieval” e do corpus do projeto “TychoBrahe”. Já os dados sincrônicos recobrem tanto a modalidade oral quanto a modalidade escrita da língua. Os dados orais foram coletados nos seguintes corpora: o corpus do projeto “Mineirês: a construção de um dialeto”, o corpus do projeto “PEUL - Programa de Estudos sobre o Uso da Língua” e o corpus do projeto NURC/RJ - Projeto da Norma Urbana Oral Culta do Rio de Janeiro. Já os dados sincrônicos escritos foram compostos por textos disponíveis na Internet retirados de blogs e de revistas de grande circulação nacional (Revista Veja, Revista Isto é, Revista Época, Revista Caras, Revista Cláudia e Revista Ana Maria). Referências Bibliográficas TRAUGOTT, E. C. Constructions in grammaticalization. In: JOSEPH, B. D.; JANDA, R. D. (eds.). The handbook of Historical Linguistics. Oxford: Blackwell, 2003. II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. ______. Grammaticalization, constructions and the incremental development of language: suggestions from the development of degree modifiers in English. In: ECKARDT, R.; JÄGER, G.; VEENSTRA, T. V. (eds.). Variation, selection, development: probing the evolutionary model of language change. Berlin/New York: Mouton de Gruyter, 2008a. ______. All that he endeavoured to prove was...: on the emergence of grammatical constructions in dialogic contexts. In: COOPER, R. & KEMPSON, R. (eds.) Language in flux: dialogue coordination, language variation, change and evolution . London: Kings College Publications, 2008b. ______. Grammaticalization and Construction Grammar. In: CASTILHO, A. T. (org.). História do PortuguêsPaulista. vol. 1. Campinas: Unicamp/Publicações IEL, 2009. ______. Toward a coherent account of grammatical constructionalization, Slightly revised version of powerpoint presentation at SocietasLinguisticaEuropea (SLE) 44, Spain, September 8th-11th, 2011. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- ORAÇÕES ENCAIXADAS COM OS VERBOS QUERER, PRETENDER E DESEJAR: GRAMATICALIZAÇÃO OU MOTIVAÇÃO EM COMPETIÇÃO? Fernanda Cunha Souza Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Neste trabalho, com base na teoria funcionalista, propomo-nos a estudar as orações completivas em que os auxiliares modais que indicam volição: querer, pretender e desejar introduzam as tradicionalmente denominadas orações subordinadas substantivas objetivas diretas – ou encaixadas. Com base em Givón (1990), segundo o qual as propriedades sintáticas das completivas estão relacionadas às propriedades semânticas do verbo da principal (ou matriz), acreditamos que os níveis de integração das orações completivas introduzidas pelos volitivos estão ligados a diferentes acepções que esses verbos possam apresentar. É possível, assim, traçar diferentes níveis de gramaticalização em completivas introduzidas por querer, com semântica e morfossintaxe que se aproximam ou mais ou menos de seu uso como verbo pleno. Já as completivas introduzidas por pretender e desejar não apresentam essa possibilidade; o que defendemos pode ser explicado pela proposta de “motivações em competição”. Segundo Dias (2010), as orações matrizes nas construções subjetivas podem apresentar tanto o processo de gramaticalização quanto as motivações em competição. Nossa hipótese é de que o mesmo pode considerado em relação às completivas com verbos volitivos: podem ser vistas como processo inicial de gramaticalização (HOPPER (1991), TRAUGOTT (2005), BYBEE, PERKINS & PAGLIUCA, 1994) – se introduzidas por querer, em diferentes configurações morfossintáticas – ou como forças que estabelecem motivações em competição (DU BOIS, 1987) – se compararmos as introduzidas por um tipo de querer específico às introduzidas por pretender e desejar. Para comprovar essa hipótese, partiremos de exemplos retirados de corpus pancrônico composto para tese de doutoramento (SOUSA, 2011). II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. Referências Bibliográficas BYBEE, Joan; PERKINS, Revere; PAGLIUCA, William. The evolution of Grammar.Tense, aspect and modality in the languages of the word.Chicago: University of Chicago Press, 1994. DIAS, Nilza Barrozo. Gramaticalização de Orações Matrizes. In: SEMINÁRIO DO GEL, 58., 2010, Programação. São Carlos (SP): GEL, 2010. Disponível em: <http://www.gel.org.br/?resumo=6522-10>. Acessoem: 14.02.2014. DU BOIS, John V - The discourse basis of ergativity. Language, vol 63, número 4, 1987. GIVÓN, T. Syntax. A Functional-Typological Introduction, volume 2. Amsterdam: Benjamins, 1990. HOPPER, Paul. On some principles of grammaticalization. In: Approaches to grammaticalization. Traugott & Heine (editors). Volume I. John Benjamins. 1991. TRAUGOTT, E. Constructions in Grammaticalization. In: Joseph e Janda (editors). The Handbook of Hisorical Linguistics.BalckwellPublising. 2005 SOUSA, Fernanda Cunha. Volição, futuridade, irrealis: gramaticalização nas construções com o verbo querer. 2011. 215 ff. Tese de doutorado (Linguística). Faculdade de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de fora, 2011. TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Um estudo textual-discursivo do verbo no Português do Brasil, Ano de Obtenção: 1991, Doutorado em Linguística. Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, Brasil. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- O PRETÉRITO MAIS QUE PERFEITO SIMPLES JÁ NÃO É MAIS O MESMO Joalede Gonçalves Universidade de Salvador (UNIFACS) Toda língua natural, por servir de veículo de comunicação para seres humanos, está em constante processo de mudança. As transformações que ocorrem, no entanto, não são imediatamente sentidas pelos falantes, tampouco esses mesmos falantes estão necessariamente conscientes de tais mudanças, que são por eles mesmos conferidas. Essa observação nos tem servido de mote para a realização de estudos ligados a esse campo. Neste trabalho, apresentamos notas interpretativas do processo de gramaticalização, sofrido pelo pretérito mais-que-perfeito simples. A forma acabou perdendo totalmente a noção de tempo verbal, tendo assumido o valor de uma interjeição, em orações optativas. O corpus se constitui de cartas pessoais e oficiais de portugueses e brasileiros, escritas nos séculos XVIII, XIX e XX. Optamos pelo gênero epistolar tendo em vista que é um dos mais antigos registros de escrita encontrados na história da humanidade, configurando-se como uma circunstância espontânea de comunicação verbal, cuja característica essencial é a relação que se estabelece entre o "destinatário" e o "remetente”. Por se tratar de um estudo que busca analisar a linguagem em uso, dá suporte à pesquisa a abordagem teórico-metodológica do Funcionalismo linguístico, cujo pressuposto principal é a concepção da língua como um instrumento de II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. comunicação, maleável à satisfação das necessidades do falante. No seio do Funcionalismo, desenvolvem-se os estudos sobre a gramaticalização, um tipo específico de mudança linguística. Esses estudos buscam analisar a trajetória de itens lexicais, desde sua atuação como forma plena, passando pelas alterações morfológicas, fonológicas e semânticas a que são submetidos, até deixar de se constituir uma forma livre. A abordagem dos conceitos da gramaticalização e os fenômenos a ela associados. Nesta análise lançamos mão dos seguintes autores: Heine (1991), Hopper (1991), Lehmann (1982), Bybee (1994), Neves (2004, 2006). A metodologia adotada foi a de (i) levantamento das ocorrências do pretérito mais-que-perfeito nos textos do corpus; (ii) classificação do mais-que-perfeito simples; (iii) interpretação da trajetória de gramaticalização desses elementos. Esperamos que nossa participação neste Workshop nos possibilite levar uma contribuição para os estudos de levantamento histórico da língua portuguesa, à luz do funcionalismo, como também nos enriquecermos de conhecimentos e informações que nos possibilite avançar em nossos estudos. Refêrencias Bibliográficas BANDEIRA, Joalêde Gonçalves. Carteando e dialogando com o pretérito maisque-perfeito:os caminhos trilhados do século XVI ao XX. Salvador: UFBA – Universidade Federal da Bahia, 2011. Tese de doutorado. HEINE, Bernd. Grammaticalization. In: JOSEPH, Brian D.; JANDA, Richard D. (eds.) The handbook of historical linguistics. Blackwell Publishing, 2003. HOPPER. P. On some principies of grammaticization. In: HOPPER, P.; TRAUGOTT, E. C. Grammaticalization. Cambridge: Cambridge University Press, 1991. LEHMANN, C. Thoughts on grammaticalization: a programmatic sketch. Arbeiten des Kõlmer Universalien - Prôjekts 48. Cologne: Universitat zu Koln, Institut für Sprachwissenchaf, 1982. NEVES, Maria Helena de Moura. A gramática funcional. São Paulo: Martins Fontes, 2004. ______ . Gramática de usos do português. São Paulo: Editora UNESP, 2006. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. GT 9 - GRAMATICALIZAÇÃO E NOVAS PROPOSTAS DE PESQUISA: INTERFACES Coordenadora: Maria Célia Lima Hernandes (USP) A FUNCIONALIDADE DAS EXPRESSÕES CRISTALIZADAS NO DIALETO GOIANO: UMA HIPÓTESE DE GRAMATICALIZAÇÃO Déborah Magalhães de Barros Universidade Estadual de Góias (UEG) Estudos funcionalistas, dentre eles Barros (2011), vêm atestando que no Português Brasileiro (PB), na língua falada, há um alto índice de não uso do pronome clítico em função reflexiva, conforme o que é prescrição da Gramática Tradicional (GT). Por outro lado, observa-se que o pronome aparece em outros contextos, como nas “expressões cristalizadas”, a saber: dane-se, se vire,se manda. Essas expressões, que podem ser analisadas como construções, sempre se apresentam com a presença do pronome clítico, e não é possível perceber ou analisar os seus constituintes (verbo e pronome) de modo isolado. O fato do pronome não ser empregado em outras situações e sempre ser empregado nessas construções, pode indicar uma hipótese de gramaticalização, uma vez que elas assumem novos significados discursivos que são produtivos e funcionais para a interação. Assim, esta pesquisa verificará se realmente existem indícios de gramaticalização nessas construções e qual a funcionalidade do emprego delas. Os pressupostos teóricos estão na Teoria de Gramaticalização, especialmente em Heine, Claudi e Hünnemeyer (1991), Traugott (2002, 2003), Bybee, Perkins e Pagliuca (1994), Hopper (1991, 1996) e na Gramática de Construções de Goldberg (1996, 2006), Croft e Cruse (2004) e Croft (2007) e Langacker (2013). O corpus é constituído de dados do Projeto “O português contemporâneo falado em Goiás - Fala goiana”. Estão em análise trechos de falas de homens e mulheres com até 7 anos de escolaridade. II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. Referências bibliográficas BARROS, D. M. Aspectos funcionais relativos ao (des)uso do reflexivo na fala goiana. Dissertação de mestrado. Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2011. BYBEE, J.; PERKINS, R.; PAGLIUCA, W.The evolution of Grammar.Tense, aspect, and modality in the languages of the world.Chicago: The Universityof Chicago Press, 1994. CROFT, William; CRUSE.D. A. Cognitive linguistics. New York: Cambridge, 2004. CROFT, W. Radical Construction Grammar: Syntactic Theory in Typological Perspective. Oxford: Oxford University Press, 2007. GOLDBERG, A. E. Constructions: a construction grammar approach to argument structure. Chicago: The University of Chicago Press, 1995. ________. Constructions at work.The nature of generalization in language.Oxford: Oxford University Press, 2006. HEINE, B.; CLAUDI, U.; HÜNNEMEYER, F. Grammaticalization: a conceptual framework. Chicago: Chicago University Press, 1991. HOPPER, Paul; TRAUGOTT, E. Grammaticalization. Cambridge: Cambridge University Press, 1993. _______. Gramaticalization.Cambridge: Cambridge University Press, 2003, 2nd edition. LANGACKER, R. W. Essentials of Cognitive Grammar. Oxford: Oxford University Pres, 2013. TRAUGOTT, E. C.; DASHER, R. B. Regularity in Semantic Change.(Cambridge Studies in Linguistics, 97). Cambridge: Cambridge University Press, 2002. TRAUGOTT, E. C. Constructions in grammaticalization. In: JOSEPH, B. D.; JANDA, J. (Ed.). The handbook of historical linguistic. Oxford, 2003. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- GRAMATICALIZAÇÃO E SUBJETIVIDADE NO ESTUDO DO FUTURO PERIFRÁSTICO (VERBO IR NO PRESENTE + INFINITIVO) NO PORTUGUÊS BRASILEIRO Jussara Abraçado Universidade Federal Fluminense (UFF) No português brasileiro, as formas mais comuns de expressar o tempo futuro são: (a) verbo ir no presente + infinitivo (vou fazer isso amanhã);b) futuro simples (Farei isso amanhã); e (c) presente do indicativo (Faço isso amanhã). Interessa-nos, particularmente, o futuro perifrástico, que melhor se encaixa na proposta desse trabalho: focalizar a relação entre gramaticalização e subjetividade, sob a perspectiva da Linguística Cognitiva. Como se sabe,ofuturo possui um valor temporal que não permite expressar uma modalidade factual, pois só aceita asserções segundo a avaliação que o falante II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. faz da possibilidade ou não da ocorrência de um estado de coisas. Tal particularidade permite afirmar que há sempre um valor modal ligado ao valor temporal e, por conseguinte, inerentemente a tudo isso está o fenômeno da subjetivização. Para Langacker (1990), subjetividade e subjetivação não se referem a expressões linguísticas, propriamente ditas, mas à maneira como um elemento de uma conceituação é perspectivamente construído, ou seja, se objetiva ou subjetivamente. Nesse viés, Langacker usa o termo subjetivização para se referir a um aumento na subjetividade, ou seja, um aumento na perspectivação conceptual de alguma noção, o que corresponde a um realinhamento de uma dada relação do eixo objetivo para o eixo subjetivo (LANGACKER 1990). Nesses termos, a subjetivação ocorre atrelada a um processo de desbotamento semântico (semanticbleaching) ou deatenuaçãoda concepção objetiva, o que se dá em virtude de o componente subjetivo (a perspectiva do conceptualizador) ser imanente à concepção objetiva, por fazer parte do próprio processo de conceptualização. Langacker ainda discorre sobre a relação entre subjetivização e gramaticalização, demonstrando-a através de relatos de diversos casos como, por exemplo, a evolução, no inglês, do sentido de futuro do verbo togo. A subjetivização, segundo o autor, é um fenômeno gradual e multifacetado que se relaciona aos seguintes parâmetros de mudança: (a) mudança de estatuto (atual > potencial; específico > genérico); (b) mudança de foco de atenção (perfilado > não perfilado); (c) mudança de domínio (interação física> interação experiencial ou social); (d) mudança de fonte de atividade (entidade “em cena” > entidade “fora de cena”). Com base dados de fala coletados da Amostra Censo (Projeto Censo da Variação Linguística no Rio de Janeiro, PEUL/UFRJ), pretendemos demonstrar que fenômeno semelhante ocorre com o futuro perifrástico (verbo ir no presente + infinitivo)no português do Brasil. Referência bibliográfica Langacker, Ronald W. Subjectification. In: Cognitive Linguistics 1(1), 1990, p.538. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- A GRAMATICALIZAÇÃO DE ORAÇÕES COMPLETIVAS IMPESSOAIS COM SER + NOMEB Nilza Barrozo Dias Universidade Federal Fluminense (UFF) Abordo, neste trabalho, a gramaticalização de construções completivas impessoais comverbo ser, na modalidade falada mineira e fluminense. Confronto as amostras de discurso institucional (PROCON/ Juiz de Fora/ Minas Gerais, e Audiências Criminais/ Ervália/ Minas Gerais) com as amostras de fala II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. mineira espontânea, Juiz de Fora e arredores, que constituem a Zona da Mata mineira, e com as amostras de fala fluminense espontânea, Itaocara e São Gonçalo. As completivas impessoais se realizam sintaticamente como oração matriz + oração completiva na função de sujeito. A hipótese de trabalho prevê que o espaço inicial da sentença complexa é o espaço de marcação de (inter)subjetividade, que se faz representar, semanticamente, pelas modalidades deôntica e epistêmica e pela avaliação do tipo apreciação, afeto e julgamento. Pode-se observar ainda a marcação da atitude do falante na ordem em que as orações se posicionam: a ordem não marcada é oração matriz + oração completiva, em que a oração matriz denota um dos valores semânticos acima especificados e se faz representar, morfologicamente, por adjetivos, mais raramente substantivos e verbos de particípio modalizadores e avaliativos. Os nossos resultados mostram a predominância das completivas impessoais avaliativas sobre as modalizadoras. Outrofator relevante na análise das completivas impessoais é a composição semântico-discursiva que se faz entre a construção completiva impessoal que representa uma informação de valor genérico, legal, passível de realização por qualquer falante, e o entorno, que é caracterizado por impressões ou experiências pessoais do falante, consumidor ou juiz. Observaremos ainda o controle do evento projetado na oração completiva por parte do falante, consumidor ou juiz. Se a completiva se realiza na forma de infinitivo, o controle por parte do falante pode ser maior do que nas formas de subjuntivo ou indicativo, quando o controle do falante pode não ser tão efetivo,já que o sujeito da oração completiva pode ser diferenciado. Mas, no caso dos dados do discurso institucional, os resultados mostram que o controle pode também se possível se for inferido o mundo das leis como suporte para o juiz na execução do conflito. Os pressupostos teóricos são do Funcionalismo Americano com contribuições da Semântica Cognitiva. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- USOS DE TIPO NO PB Heloise Vasconcellos Gomes Thompsoni Violeta Virginia Rodrigues Universidade Federal Rio de Janeiro (UFRJ) O item tipo, apesar de ser facilmente identificado entre os membros da classe dos substantivos, apresenta, na Língua Portuguesa, usos [+ gramaticais], caracterizando um caso de gramaticalização (cf. Traugott: 2009). Apesar de seus novos usos mostrarem-se recorrentes em contextos reais do Português do Brasil, são pouquíssimos os estudos abordando tal item. Lima-Hernandes (2005) ocupou-se em descrever alguns deslizamentos funcionais de tipo e de outros itens em processo de gramaticalização. No entanto, ainda percebemos a necessidade de uma descrição mais aprofundada de tipo, considerando, também, os processos de articulação de cláusulas em que ele pode se materializar. Assim, temos como objetivo descrever suas funções, além de II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. propor uma análise para as cláusulas em que é empregado. Para tanto, utilizaremos os pressupostos teóricos do Funcionalismo, partindo da premissa de que a língua é um sistema adaptativo, estando em constante reformulação. Dentre os principais autores funcionalistas a que recorremos, Halliday (2004) merece destaque. Partilhamos com o autor a ideia de que as cláusulas devem ser analisadas dentro de seu contexto de uso e para além de sua estrutura. Nesse sentido, buscamos, também, apresentar as relações semânticas que emergem da articulação de cláusulas e que são reforçadas por meio do item tipo no contexto linguístico. Os dados analisados provêm de quatro diferentes corpora — corpus D&G, corpus Varport, diferentes roteiros de cinema brasileiro e postagens da rede social Facebook — abarcando tanto dados de língua oral quanto de língua escrita. Segundo Thompson (2013), há três diferentes funções para o item tipo, as quais englobam nove usos: substantivo [genérico], substantivo [+ genérico], substantivo delimitador, articulador delimitador, articulador modificador, articulador de aproximação, articulador de comparação, articulador de adendo e marcador. A autora coletou um total de 520 dados, que nos ajudam a confirmar a hipótese da multifuncionalidade de tipo. Referências Bibliográficas HALLIDAY, M. A. K. An introduction to functional grammar. 3ª ed. NewYork: Oxford University Press Inc, 2004. LIMA-HERNANDES, M. C. A interface sociolinguística/gramaticalização: estratificação de usos de tipo, feito, igual e como. Tese de doutorado. Campinas: UNICAMP, 2005. TRAUGOTT, E. C. Grammaticalisation and construction grammar. In.: CASTILHO, Ataliba T. História do português paulista. Campinas: IEL/ Unicamp, 2009, p. 93-101. Série Estudos, v.1. THOMPSON, Heloise Vasconcellos Gomes. Do léxico à gramática: os diferentes usos de tipo. Rio de Janeiro, Faculdade de Letras/UFRJ, 2013. p. 118, mimeo. Dissertação de Mestrado em Língua Portuguesa. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- RECURSIVIDADE, ANALOGIA E CONSCIÊNCIA: EVOLUÇÃO LINGUÍSTICA E EVOLUÇÃO FILOGÊNICA Maria Célia Lima-Hernandes Universidade de São Paulo (USP-CNPq-FAPESP) Neste trabalho, originado num campo teórico cognitivo-funcionalista, assumo como objetivo retomar alguns pontos que considerei anteriormente pouco explanáveis em torno dos processos de gramaticalização e de construcionalização. Um desses pontos está situado na tensão estabelecida, ainda nos momentos iniciais dos estudos sobre gramaticalização, entre lexicalização e gramaticalização. A contribuição de Brinton e Traugott (2005) II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. consubstanciou-se como um passo importante para o apaziguamento dos humores dos que questionavam o princípio da unidirecionalidade à época. Mais recentemente, questões relativas ao estatuto da construção apareceram. Solidarizando-nos com Diewald (2002), passamos a voltar a atenção para tipos de contextos que guiam a construcionalização. Passamos a depositar grande interesse no que seria, na essência, a construção. É desse ponto, a meu ver irresolvido, que parto e, para tanto, necessariamente contarei com os mais recentes avanços das pesquisas desenvolvidas no campo da neurociência em busca de um diálogo produtivo. Essa decisão justifica-se no paralelo que costumeiramente traçamos entre ontogenia-filogenia e evolução linguística, o qual rendeu muitos debates, fazendo emergir alguns consensos também. Dentre esses citamos dois: o caráter analógico indissociável do indivíduo e sua habilidade recursiva apreensível nos usos linguístico. Grosso modo, recursividade refere-se a um processo de repetição e, tecnicamente, pode nomear variados tipos de respostas que replicariam, em algum nível, uma ideia essencial e analógica. Na área da linguagem, a recursividade tem sido demonstrada tanto na função quanto no método para a solução de problemas. Um ser analógico visa a replicar ações e comportamentos exitosos. Não é uma questão de falta de criatividade, mas de adaptação, sobrevivência, perícia e economia de energia. Funcionalistas têm tratado dessa questão toda vez que lidam com o princípio de iconicidade, por exemplo. Vários trabalhos (Oliveira, 2012; Martelotta, 2010; Lima-Hernandes, 2010; Furtado da Cunha, 2012; Romerito da Silva et alii, 2013; Defendi, 2013; Rauber & Ribeiro, 2012; Braga & Paiva, 2011; dentre outros), principalmente inspirados em Givón (2009), têm colocado a olhos nus que a sintaxe dobra-se sobre si mesma para revelar a essência do ser. A despeito de soar poético, devemos nos lembrar de que o indivíduo busca adaptar-se indefinidamente a ambientes e situações para sobreviver e perpetuar objetivos e interesses em forma de ações, comportamentos. E o melhor lugar para a visualização disso é o espaço da reverberação humana: a linguagem. A discussão que proponho desloca para o foco de atenção a teoria cognitiva elaborada por Damásio (2011), que permitiu, por imagem cerebral, em larga escala de testagem, verificar a correlação entre biofísica e graus de consciência humana. Feito isso, demonstro que todo coespecífico humano, via recursividade, desloca para fora do campo da perspectiva do outro (e de si mesmo) o que está totalmente adormecido na consciência. Inversamente, esse mesmo indivíduo é capaz de lançar para o ponto de atenção corrente o rema, o foco, num jogo interessante, controlado pela representação icônica. Somente o que está no foco de atenção, em níveis de consciência mais altos e de forma compartilhada, pode se prestar a participar desse jogo intersubjetivo que segue marcando graus de complexidade, níveis de importância e graus de integração cognitiva. Essa explanação será ilustrada por meio de uma protoconstrução aqui rotulada de prep-X presente nos usos da língua portuguesa. Por fim, demonstro que o que II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. temos desenvolvido no campo da gramaticalização e da construcionalização instaura-se no espaço de maior consciência, porém, por questões de perspectivização, pode ocupar uma posição marginal da atenção. A baixa percepção que carreiam não impede que essas construções não-marcadas continuem codificadas (e fossilizadas), como a denunciar a ancestralidade direta de processos gramaticais. Referências Bibliográficas BRINTON, L. J. & TRAUGOTT, Change. Cambridge: C. U. P., 2005. E. C..Lexicalization and Language DIEWALD, Gabriele. A model for relevant types of contexts in grammaticalization. In: WISCHER, Ilse& DIEWALD, Gabriele. New reflectionsongrammaticalization. Amsterdam: John Benjamins, 2002, pp. 103120. OLIVEIRA, M. R. de. Padrões construcionais formados por pronomes locativos no português contemporâneo do Brasil. In: Linguística (Rio de Janeiro), v. 8, p. 49-61, 2012. MARTELOTTA, Mário Eduardo. Categorias cognitivas e unidirecionalidade. In: LIMA-HERNANDES, Maria Célia. (Org.). Gramaticalização em perspectiva: cognição, textualidade e ensino. 1ed. São Paulo: Paulistana, 2010, v., p. 51-64. LIMA-HERNANDES, M. C. Discutindo o estatuto da mudança: amadurecendo o modo de conceber a gramaticalização em processo. In: ARJONILLA, E. O. & MARÇALO, M. J. (Org.). Linguística e tradução na sociedade do conhecimento. 1 ed. Granada (Espanha)/Évora: Centro de Estudos em Letras /EditoralAtrio, 2010, v. 1, p. 309-325. FURTADO DA CUNHA, M. A.. Complements of verbs of utterance and thought in Brazilian Portuguese narratives.Journal of Portuguese Linguistics, v. 11, p. 334, 2012. ROMERITO DA SILVA, José et alii. O adjetivo. In: CASTILHO, Ataliba T. de História do Português do Brasil, inédito, versão de 2013. DEFENDI, Cristina L."Portanto, conclui-se que": processos de conclusão em textos argumentativos. Tese de doutoramento. São Paulo: USP, 2013. RAUBER, André Luiz & RIBEIRO, Marcello. Chegou aqui...chega delirava! Alguns usos de chegar no português falado - indícios de gramaticalização. In: SANTIAGO-ALMEIDA, M.M.; LIMA-HERNANDES, M.C. (Org.). História do português paulista: modelos e análises. 1 ed. Campinas: Unicamp-Publicações IEL; FAPESP, 2012, v. 3, p. 235-247. BRAGA, Maria Luiza & PAIVA, Maria Conceição. Gramaticalização e gramática de construções: estabilidade e instabilidade das construções complexas de causa em tempo reall. Letras & Letras (UFU. Impresso), v. 27, p. 51-70, 2011. GIVÓN, T. The Genesis of Syntactic Complexity: Diachrony, Ontogeny, Neurocognition, Evolution. Amsterdam: John Benjamins Publishing, 2009. II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. DAMÁSIO, Antonio. E o cérebro criou o homem. São Paulo: Cia. Das Letras, 2011. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- CATEGORIAS COGNITIVAS EM NOVAS PERSPECTIVAS Renata Barbosa Vicente Universidade de São Paulo (USP) Universidade Bandeirante Anhanguera (UNIAN) Esta pesquisa tem como objetivo descrever e analisar, a partir das construções linguísticas usadas para marcar a introdução de um texto dissertativo-argumentativo, pela perspectiva da Gramaticalização e da Cognição, as categorias linguísticas mais frequentes. Para isso usamos um corpus que totaliza 1600 redações de vestibular da FUVEST (Fundação para o vestibular – USP), produzidas no período de 2004 a 2011, sendo 50% delas as melhores e as outras 50% as piores consideradas pela banca corretora. Teoricamente, fundamentamos esta pesquisa nos estudos sobre Cognição, a partir de Tomasello (2003), Damásio (2011), Del Nero (1997) e sobre Gramaticalização Heine, Claudi e Hünnemeyer (1991),Bybee (2010) LimaHernandes (2005, 2010, dentre outros). Todo o material analisado teve tratamento quantitativo e qualitativo e chegou-se à determinação de que a categoria espaço é a categoria cognitiva mais frequente na defesa de uma tese e difere da categoria lugar. Foi possível, assim, constatar que espaço, embora em vários contextos seja utilizado como sinônimo de lugar, sob o ponto de vista linguístico-cognitivo lugar tem caráter mais concreto,por determinar localização física, enquanto espaço situa-se mais à direitadocontinuum das categorias cognitivas propostas por Heine, Claudi e Hünnemeyer (1991), após a categoria tempo, apontando para maior grau de abstração metafórica. Também é foco deste trabalho evidenciar que o processamento cognitivo para a produção textual envolve vários fatores mentais como o protosself (condição básica ao indivíduo), self central (todo o conhecimento adquirido) e self autobiográfico (a forma de externalizar o conhecimento adquirido em texto escrito). Destacamos também, a forma como o candidato começa uma dissertação, procurando criar um espaço conjunto de atenção, que é resultado de todos esses selves trabalhando juntos para a (inter)subjetividade materializada via categorias cognitivas. Referências Bibliográficas BYBEE, Joan. Language, usage and cognition.Cambridge: University Press, 2010. DAMÁSIO, A. R. E o cérebro criou o homem; tradução Laura Teixeira Motta _ DEL NERO, H. S. O Sítio da Mente: Pensamento, Emoção e Vontade no Cérebro Humano. São Paulo. Editora CollegiumCognitio, 1997. HEINE, Bernd et alii. Grammaticalization: a Conceptual Framework.Chicago: The University of Chicago Press, 1991. II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. LIMA-HERNANDES, M. C. A interface Sociolinguística/Gramaticalização Estratificação de usos de tipo, feito, igual e como - sincronia e diacronia. Tese de doutoramento. Campinas: IEL/UNICAMP, 2005. ________________, M.C. Processos Sociocognitivos da Mudança Gramatical: Estrutura x-que do português. Tese de livre docência. São Paulo: FFLCH, 2010. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- MUDANÇA GRAMATICAL, HISTÓRIA SOCIAL E TRADIÇÃO DISCURSIVA: UM OLHAR INTERFACETADO SOBRE AS FORMAS TRATAMENTAIS TU-VOCÊ EM CARTAS PESSOAIS PERNAMBUCANAS DOS SÉCULOS XIX E XX Valéria S. Gomes Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) A presente proposta consiste em um estudo sócio-histórico dos casos do sistema tratamental tu-você em cartas pessoais pernambucanas dos séculos XIX e XX.Nessa perspectiva interfacetada de investigação, “os textos não são mais o objeto final da nossa investigação, mas o meio para distinguir as gramáticas dos falantes de português que os escrevem.” (GALVES, 2012, p. 66). Este tipo de análise coloca em evidência o debate acerca da mudança linguística e textual e das interpretações sobre a nossa formação históricosocial. Este é o objetivo de Lopes (2011, 2012) no processo de investigação do sistema pronominal de tratamento no português brasileiro. O presente estudo segue o mesmo propósito, com o intuito de verificar: se há variação entre as formas relacionadas ao paradigma de você e tu numa mesma carta; em que contextos morfossintáticos as formas relacionadas a você e/ou tu ocorre; e em que parte constitutiva da carta as formas tratamentais são empregadas.Nesse sentido, a análise parte de três eixos: a mudança gramatical; a história social; e as tradições discursivas. As cartas entre outros gêneros estão submetidas aos padrões pragmáticos como: a quantidade de interlocutores, o grau de familiaridade, o conhecimento partilhado, o grau de espontaneidade etc. (Jacob, 2001). As cartas pessoais apresentam alguns elementos constitutivos que se encarregam de evidenciar traços prototípicos do texto, mas que estão sujeitos a variações na estrutura composicional, são eles: data e local; saudação; contato inicial (captação de benevolência); núcleo da carta; seção de despedida; e assinatura.São encontrados nesses documentos temas da intimidade cotidiana das famílias e políticos, o que evidenciao elo entre o tema abordado nesses documentos e a relação que se estabelecia entre os interlocutores: se sãoamigos, familiares, amantes etc. Essa relação estabelecida entre os interlocutores interfere na escolha tratamental. II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. Referências Bibliográficas GALVES, C. Periodização e competição de gramáticas: o caso do português médio. In: LOBO, T. et. al. (Orgs.). Rosae: linguística histórica, história das línguas e outras histórias. Salvador: EDUFBA, 2012. JACOB, Daniel. Representatividad linguística o autonomia pragmática del texto antiguo. El ejemplo del pasado compuesto. In: Lengua Medieval y Tradiciones Discursivas em la Península Ibérica. Frankfurt amMain: Vervuert / Madrid: Iberoamericana, 2001, pp. 153-176. LOPES, C. R. dos S. Tradição discursiva e mudança no sistema de tratamento do português brasileiro: definindo perfis comportamentais no início do século XX. In: Alfa. São Paulo 55(2), 2011, p. 361-392. ________. Os caminhos trilhados por você em cartas cariocas (séculos XIX e XX). In: LOBO, Tânia et. al. (Orgs.). Rosae: linguística histórica, história das línguas e outras histórias. Salvador: EDUFBA, 2012. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- O MECANISMO DA ESPECIFICAÇÃO REFERENCIAL EM PROCESSOS DE GRAMATICALIZAÇÃO E LEXICALIZAÇÃO Vanda Cardozo de Menezes Universidade Federal Fluminense (UFF) Os mecanismos de generalização e metaforização, por serem tão amplamente exemplificados na gramaticalização, e também na lexicalização, podem ser equivocadamente tomados como únicos mecanismos semânticos condicionantes e caracterizadores desses dois processos (HOPPER & TRAUGOTT, 1993). A hipótese de unidirecionalidade na mudança linguística, no caso da gramaticalização, ao indicar uma trajetória para o mais abstrato, favoreceu a hipótese de uma trajetória unidirecional também para o maisgenérico. Neste trabalho, temos a intenção de mostrar, com base em Kuteva (2001), que o mecanismo de especificação, ao lado do de generalização, pode também estar envolvido nos processos de gramaticalização e de lexicalização. Tomam-se, para esta apresentação, casos de pesquisa sobre os fenômenos de redução de valência verbal e de nominalização, em que tanto construções derivadas infinitivas quanto nomes deverbais passam pelo mecanismo de especificação, ao avançarem no processo de gramaticalização ou de lexicalização (MACKENZIE, 1985). Algumas ocorrências no corpus para estudo das orações infinitivas iniciadas por para (MENEZES, 2001) mostram o predicado infinitivo em processo de redução de argumento, favorecendo a identificação da construção em um grau mais avançado denominalizaçãoe de generalização (cf. ... “aquele pessoal que tinha um status... pra receber... não é?...”), porém outras ocorrências (cf. “pessoas que tinham autorização para entrar no prédio”) mostram nomes deverbais na função de argumento do verbo ter em contexto em que devem ser II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014. considerados mecanismos semânticos aparentemente opostos: generalização na significação assumida pelo verbo ter; especificação/generalização na significação do nome deverbal autorização; e especificação na construção iniciada por para na função de argumento do nome. Cabe, portanto, nesta etapa dos estudos sobre gramaticalização, questionar definições rígidas de determinados pontos dos processos gramaticais e lexicais no uso e desenvolvimento das línguas. Cabe, ainda, discutir o estabelecimento de rigoroso paralelismo entre a mudança do que se considera sentido mais concreto para sentido mais abstratoe a mudança do que se considera sentido mais específico para mais genérico. Cabe, também, reler os estudos precursores sobre gramaticalização e lexicalização para verificar se, com base nesse paralelismo, não se estaria descartando mecanismos semânticos, como o da especificação ou da restrição de significado, também possivelmente atuantes nesses dois processos que conjugam estabilização desestabilização referencial. Referências Bibliográficas HOPPER, P. J.; TRAUGOTT, E. C. Grammaticalization. Cambridge: University Press, 1993. KUTEVA , T. Auxiliation. An enquiry into the nature of grammaticalization. New York: Oxford University Press, 2001. MACKENZIE, J. L. Nominalization and valency reduction.In: A. M. Bolkenstein, C. de Groot & J. L. Mackenzie (eds.) Predicates and terms on Functional Grammar.Dordrecht: Foris, 1985. 29-47. MENEZES, Vanda Cardozo de. Construções infinitivas iniciadas por para: oracionalidade e redução. 2001, 155p. Tese de Doutorado.Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. ___________. Referenciação e gramática: a redução de predicados. In: Atas Del XV Congreso Internacional da ALFAL, Montevideo: ALFAL, 2008. Home page: http://www.mundoalfal.org ___________. Expressões lexicalizadas no português brasileiro. In: Roncarat, C.; Abraçado, J. (org.) Português Brasileiro II. Niterói: EdUFF, 2008, p. 301310. II Workshop Internacional sobre Gramaticalização Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.