O Argumento Ontológico e a noção de existência
Isabel Cristina Dalmoro
Organizadores: Rodrigo Ulhôa Canto Reis, Daiane Faust e Isabel Dalmoro
1. Duração: 01 hora e 30 minutos
2. Recursos didáticos: texto impresso e quadro negro.
3. Justificativa: A noção de existência, além de ser amplamente discutida em Filosofia, é uma
noção básica em nosso dia-a-dia e na Ciência, na medida em que esta investiga objetos aos quais
atribui realidade. Assim, a questão que se coloca diz respeito à necessidade de um esclarecimento
da noção de existência dada a amplitude de sua aplicação.
4. Objetivo: Desenvolver no aluno a capacidade de compreender o problema envolvido na noção de
existência, bem como a capacidade de analisar argumentos e saber posicionar-se de forma crítica
diante desta questão.
5. Desenvolvimento
5.1 Perguntas simples sobre a existência de objetos em geral e de seres fictícios, visando debater o
conceito de existência.
5.2 Apresentação e leitura do “Argumento Ontológico” de Santo Anselmo.1
5.3 Análise do argumento de Santo Anselmo, buscando sua tese e razões juntamente com os alunos.
Exposição das ideias no quadro negro.
Sugestão 1:
Tese: Deus existe.
Razão 1: Deus é aquilo do qual não se pode pensar nada maior.
Razão 2: Deus existe no intelecto de quem compreende.
Sugestão 2:
Razão 1: Deus é aquilo em relação ao qual não se pode pensar algo maior.
Razão 2: Aquilo do qual não se pode pensar algo maior existe no pensamento e na
realidade.
Conclusão: Logo, Deus existe no pensamento e na realidade.
5.4 Descrição dos alunos de um objeto (por exemplo: uma jaqueta de couro) para caracterizar a
noção de existência:
a) Caracterização do objeto. Ex: a jaqueta: cor, tamanho, material de que é feita (couro, tecido),
estado geral: nova, velha, rasgada.
b) Posso vê-la e tocá-la sem ser somente na imaginação? Posso senti-la?
c) A jaqueta existe?
1
ANSELMO, Santo. Proslógio. Santo Anselmo- Abelardo-Coleção os Pensadores. Tradução: Ângelo Ricci, Rui Afonso da Costa Nunes. 4ª Ed.
São Paulo- Nova Cultural- 1988. P.93-94
Sugestão de definição da noção de existência:
De acordo com o dicionário Oxford de Filosofia2, o termo existência deve ser
entendido como uma propriedade de segunda ordem, o que significa dizer que ele é
uma propriedade que atribuímos à outra propriedade, e não a um objeto, diretamente. A
existência não serve para descrever um objeto, apenas para "caracterizar" certo tipo ou
propriedade de um objeto. É muito semelhante aos números: por exemplo, se eu penso
no objeto "cadeira", uma referência direta a este objeto é dizer que possui "pernas",
mas se faço referência ao número de "pernas" que uma cadeira normalmente possui
(quatro), estou atribuindo uma propriedade às "pernas" da cadeira, não a ela, em
primeira instância.
5.5 Apresentação e leitura do “Argumento da Ilha Perdida” de Gaunilo de Marmoutiers 3, refutação
ao argumento de Santo Anselmo.
Alguns afirmam, por exemplo, que há uma ilha num ponto qualquer do oceano e que
pela dificuldade, ou melhor, pela impossibilidade de achá-la, pois não existe,
denominam de Perdida. Contam-se dela mil maravilhas, mais do que se narra das Ilhas
Afortunadas: que, devido a inestimável fertilidade, ela está repleta de todas as riquezas
e delícias e que, apesar de não haver lá nem proprietário nem habitantes, supera em
fartura de produtos todas as outras terras habitadas pelos homens.
Venha qualquer pessoa a dizer-me que tudo isso existe e eu compreenderei facilmente,
pois suas palavras não apresentam para mim nenhuma dificuldade. Mas se ainda essa
pessoa quisesse acrescentar como consequencia: tu não podes mais duvidar que esta
ilha, a melhor de todas que há na terra, exista de verdade nalguma parte, porque
conseguiste formar uma ideia clara da mesma na tua inteligência; e como é melhor que
uma coisa exista na inteligência e na realidade do que apenas na inteligência, ela
necessariamente existe, porque, se não existisse, qualquer outra terra existente na
realidade seria melhor do que ela e, assim ela, que tu pensas a melhor de todas, não
seria mais a melhor. Ao dizer que essa pessoa presuma que eu, com semelhante
raciocínio, devesse admitir a existência real daquela ilha, eu acreditaria que ela
estivesse brincando, ou eu não saberia distinguir qual de nós dois eu deveria julgar
mais tolo: se a mim, que prestei fé em suas palavras, ou se a ela, caso estivesse
convencida de ter colocado sobre bases sólidas a existência da ilha sem primeiro
constatar se essa superioridade é verdadeiramente e, sem sombra de dúvida, real, de
modo que não suscite na minha inteligência uma ideia falsa ou incerta.
6. Atividade:
Considerando o argumento de Santo Anselmo e a discussão sobre a noção de existência, analise a
objeção de Gaunilo. Procure extrair a tese do argumento de Gaunilo e mostre como ele pretende
refutar o argumento de Santo Anselmo.
2
3
BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Tradução de Desidério Murcho. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997, p.133.
MARMOUTIERS, Gaunilo de. Livro em favor de um insipiente. Santo Anselmo- Abelardo- Coleção os Pensadores. Tradução: Ângelo Ricci,
Rui Afonso da Costa Nunes. 4ª Ed. São Paulo- Nova Cultural- 1988. P.115
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