ISSN 1981-8289 ÓRGÃO OFICIAL DE PUBLICAÇÃO CIENTÍFICA DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE GERIATRIA E GERONTOLOGIA EDITORIAL Nutrição e atividade física, a combinação essencial para um envelhecimento.......................................................................304 Maysa Seabra Cendoroglo ARTIGOS ORIGINAIS Antropometria da pessoa idosa residente no Nordeste do Brasil..........................................................................................305 Ivone Freires de Oliveira Costa Nunes, Cecília Maria Resende Gonçalves de Carvalho, Apolônia Maria Tavares Nogueira, José Machado Moita Neto, Amanda Marreiro Barbosa A vacina anti-influenza e a morbimortalidade hospitalar por pneumonia em idosos, em Aracaju (SE), de 1998 a 2010..............314 Alyne Andrade Lima, Anna Klara Bohland, Lais Desidério de Souza, Samara de Oliveira Xavier, Stephanie Chagas Feitosa Perfil do idoso assistido pela Estratégia de Saúde da Família no Município de Botucatu-SP....................................................323 Caio Cavassan de Camargo, Aryana Baptista Pintscher, Selma Horie Arakaki, Wilza Carla Spiri Obesidade central e doenças não transmissíveis em servidores idosos de uma universidade federal.......................................332 Poliana Cristina de Almeida Fonsêca, Carolina Abreu de Carvalho, Soraia Pinheiro Machado, Alessandra Gaspar Sousa Densidade mineral óssea em idosos e presença de fatores de risco nutricionais para osteoporose..........................................341 Caroline Marangon Dourado, Tatiana Pizzato Galdino, Sônia Barbieri Coutinho, Maurício Sprenger Bassuino, Claus Dieter Stobäus Fatores associados a desfechos clínicos em idosos com fratura proximal de fêmur atendidos em hospital escola......................352 Fernanda Freire Fonseca, Leani Souza Máximo Pereira, Paula Maria Machado Arantes Equilíbrio e Medo de Cair em Idosos Comunitários..............................................................................................................361 Flávia Cristina da Silva, Celita Salmaso Trelha, Josiane Moreira Germano, Mariana Goeldner Grott Tarefa dupla em idosas da comunidade: comparação do desempenho no Timed Up and Go entre caidoras e não caidoras.........370 Adriana Netto Parentoni, Lygia Paccini Lustosa, Bárbara Oliveira Zambaldi, Letícia Soares Cavalieri, Nayara Campos Luiz, Rita de Cássia Guedes Associação entre desempenho físico muscular, força muscular respiratória e capacidade funcional de idosas da comunidade........378 Renata Helena Tiburcio, José Rubens Rebelatto, Karina Rabelo da Silva, Graziella França Bernardelli Cipriano, Karla Helena Coelho Vilaça Efeitos de diferentes tipos de treino de força na resposta muscular e funcional de mulheres idosas........................................386 Cleiton Silva Correa, Ronei Silveira Pinto Efeitos de diferentes protocolos de exercício na composição corporal em pessoas acima de cinquenta anos............................394 Juliana Hotta Ansai, Alessandra Paiva de Castro, Patrícia Greve, José Rubens Rebelatto Medicamentos inapropriados para idosos usados no tratamento de gripe e resfriado............................................................404 Vanessa Adelina Casali Bandeira, Marilei Uecker Pletsch ARTIGOS DE REVISÃO Benefícios da prática do Método Pilates sobre a aptidão física de idosos..............................................................................412 Letícia Sanches Deon, Eduardo Ramos da Silva Tratamento farmacológico para a osteoporose...................................................................................................................422 Priscila Rosendo da Mata, Paulo Andrade Martins, Leonardo da Gama Brito, Monique Meyer Pitta Ramos, Manoelito Coelho dos Santos Junior INSTRUÇÕES AOS AUTORES................................................................................................................................................... 432 VOLUME 6 • NÚMERO 4 • OUT/NOV/DEZ 2012 ISSN 1981-8289 ÓRGÃO OFICIAL DE PUBLICAÇÃO CIENTÍFICA DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE GERIATRIA E GERONTOLOGIA EDITORIAL Nutrição e atividade física, a combinação essencial para um envelhecimento.......................................................................304 Maysa Seabra Cendoroglo ORIGINAL ARTICLES Anthropometry of elderly people living in Northeast of Brazil.............................................................................................305 Ivone Freires de Oliveira Costa Nunes, Cecília Maria Resende Gonçalves de Carvalho, Apolônia Maria Tavares Nogueira, José Machado Moita Neto, Amanda Marreiro Barbosa Anti-influenza vaccine on morbimortality by pneumonia in elderly, in Aracaju (SE), from 1998 to 2010...................................314 Alyne Andrade Lima, Anna Klara Bohland, Lais Desidério de Souza, Samara de Oliveira Xavier, Stephanie Chagas Feitosa The profile of the elderly assisted by the Family Health Strategy in Botucatu-SP...................................................................323 Caio Cavassan de Camargo, Aryana Baptista Pintscher, Selma Horie Arakaki,Wilza Carla Spiri Central obesity and non transmitted diseases in elderly servers from an university..............................................................332 Poliana Cristina de Almeida Fonsêca, Carolina Abreu de Carvalho, Soraia Pinheiro Machado, Alessandra Gaspar Sousa Bone mineral density in elderly and the presence of nutritional risk factors for osteoporosis.................................................341 Caroline Marangon Dourado, Tatiana Pizzato Galdino, Sônia Barbieri Coutinho, Maurício Sprenger Bassuino, Claus Dieter Stobäus Clinical outcomes related factors in elderly with hip fracture assisted in an university hospital.............................................352 Fernanda Freire Fonseca, Leani Souza Máximo Pereira, Paula Maria Machado Arantes Balance and Fear of Falling in Elderly Community..............................................................................................................361 Flávia Cristina da Silva, Celita Salmaso Trelha, Josiane Moreira Germano, Mariana Goeldner Grott Dual task in dwelling-elder women: analysis of the Timed Up and Go between fallers and non fallers....................................370 Adriana Netto Parentoni, Lygia Paccini Lustosa, Bárbara Oliveira Zambaldi, Letícia Soares Cavalieri, Nayara Campos Luiz, Rita de Cássia Guedes Association between physical muscle performance, respiratory muscle strength and functional capacity of elderly individuals in the community...............................................................................................................................378 Renata Helena Tiburcio, José Rubens Rebelatto, Karina Rabelo da Silva, Graziella França Bernardelli Cipriano, Karla Helena Coelho Vilaça Effects of different types of strength training on muscle response and functional response in elderly women.......................386 Cleiton Silva Correa, Ronei Silveira Pinto Effects of different physical exercises on body composition in individuals over fifty years......................................................394 Juliana Hotta Ansai, Alessandra Paiva de Castro, Patrícia Greve, José Rubens Rebelatto Inappropriate medicines for elderly used in the treatment of influenza and cold..................................................................404 Vanessa Adelina Casali Bandeira, Marilei Uecker Pletsch REVIEWS Benefits of the practice of Pilates Method on physical fitness in elderlies.............................................................................412 Letícia Sanches Deon, Eduardo Ramos da Silva Pharmacological treatment for osteoporosis.....................................................................................................................422 Priscila Rosendo da Mata, Paulo Andrade Martins, Leonardo da Gama Brito, Monique Meyer Pitta Ramos, Manoelito Coelho dos Santos Junior INSTRUCTIONS FOR AUTHORS.............................................................................................................................................. 434 VOLUME 6 • NÚMERO 4 • OUT/NOV/DEZ 2012 Geriatria & Gerontologia Editora-chefe Maysa Seabra Cendoroglo - São Paulo, Brasil (Unifesp) Editores Associados Editores Executivos Dr. João Macêdo Coelho Filho – Fortaleza, Brasil (UFC) Dr. Wilson Jacob Filho – São Paulo, Brasil (USP) Dr. Júlio César Moriguti – Ribeirão Preto, Brasil (USP-RP) Dr. Milton Luiz Gorzoni – São Paulo, Brasil (FCMSC-SP) Dra. Rosângela Correa Dias – Belo Horizonte, Brasil (UFMG) João Senger – Novo Hamburgo, Brasil Karla Cristina Giacomin – Belo Horizonte, Brasil Maria do Carmo Lencastre Lins – Recife, Brasil Mônica Rodrigues Perracini – São Paulo, Brasil CONSELHO EDITORIAL NACIONAL Adriano César B. S. Gordilho – Salvador Ana Amélia Camarano – Rio de Janeiro Annette Leibing – Rio de Janeiro Anita Liberalesso Néri – Campinas Carlos Montes Paixão Júnior – Rio de Janeiro Cláudia Burlá – Rio de Janeiro Clineu de Mello Almada Filho – São Paulo Edgar Nunes de Moraes – Belo Horizonte Eduardo Ferriolli – Ribeirão Preto Eliane Jost Blessmann – Porto Alegre Elisa Franco de Assis Costa – Goiânia Elizabete Viana de Freitas - Rio de Janeiro Emilio H. Moriguchi – Porto Alegre Emilio Jeckel Neto – Porto Alegre Flávio Chaimowicz – Belo Horizonte Guita Grib Debert – Campinas Ivete Berkenbrock – Curitiba João Carlos Barbosa Machado – Belo Horizonte João Marcos Domingues Dias – Belo Horizonte João Toniolo Neto – São Paulo Johannes Doll – Porto Alegre José Elias S. Pinheiro – Rio de Janeiro Karla Cristina Giacomin – Belo Horizonte Kátia Magdala L. Barreto – Recife Laura Mello Machado – Rio de Janeiro Leani Souza Máximo Pereira – Belo Horizonte Ligia Py – Rio de Janeiro Luiz Eugênio Garcez Leme – São Paulo Luiz Roberto Ramos – São Paulo Marcella Guimarães A. Tirado – Belo Horizonte Marcos Aparecido Sarria Cabrera – Londrina Maria Fernanda Lima-Costa – Belo Horizonte Maurício Gomes Pereira – Brasília Maurício Wajngarten – São Paulo Myrian Spínola Najas – São Paulo Mônica Rodrigues Perracini – São Paulo Newton Luiz Terra – Porto Alegre CONSELHO EDITORIAL INTERNACIONAL Ângelo Boss – Baltimore, EUA Andrea Caprara – Roma, Itália David V. Espino – San Antonio, EUA Jeanne Wei – Little Rock, EUA Paulo Henrique M. Chaves – Baltimore, EUA Roberto Kaplan – Buenos Aires, Argentina Jay Luxenberg – San Francisco, EUA Masatoshi Takeda – Osaka, Japão Sergio Ariño Blasco – Barcelona, Espanha Antony Bayer – Cardiff, Reino Unido Base Editorial Av. Copacabana, 500 sala 609/610, Copacabana – CEP: 22020-001 – Rio de Janeiro. e-mails: [email protected] / [email protected] Indexada na LATINDEX (Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal). Diretoria Nacional da SBGG Presidente Nezilour Lobato Rodrigues (PA) 1o Vice-Presidente Paulo Renato Canineu (SP) Pres. Depto Gerontologia Mariana Asmar Alencar (MG) Elisa Franco de Assis Costa Adriano Cesar Gordilho Silvia Pereira Eliane Jost Blessmann Elizabete Viana de Freitas Comissão de Informática Comissão de Defesa Profissional Maria Alice de Vilhena Toledo Marcos Cabrera Ana Lúcia Vilela Einstein Camargos Claudia Zanata Marco Polo de Freitas Edgar Nunes de Moraes Maisa Cala Kairalla Juliana Junqueira Jussimar Mendes de Aquino Jacira do Nascimento Serra Monica Frank Maria Fernanda Coelho Moreira Costa Silvia Pereira Tassio da Silva Secretária Geral Ana Lúcia de Sousa Vilela (RJ) Comissão de Comunicação Secretária Adjunta Salo Buksman Ivete Berkenbrock Renato Fabri Leni Pereira Leila Auxiliadora Leila Auxiliadora José Sant’Ana (MT) Tesoureiro Daniel Kitner (PE) Diretora Científica Comissão de Cuidados Paliativos Maria Alice Vilhena Toledo (DF) Diretora de Defesa Profissional Silvia Regina Mendes Pereira (RJ) Conselho Consultivo Maria Angélica dos Santos Sanchez (RJ) Marcos Aparecido Sarria Cabrera (PR) Paulo Roberto Cardoso Consoni (RS) Membros do Conselho Consultivo Pleno Adriano Cesar Gordilho (BA) Antonio Jordão Neto (SP) Eliane Blessmann (RS) Elisa Franco de Assis Costa (GO) Elizabete Viana de Freitas (RJ) Flavio Aluizio Xavier Cançado (MG) João Carlos Barbosa Machado (MG) Jussara Rauth (RS) Laura Melo Machado (RJ) Margarida Santos (PE) Maria Auxiliadora Cursino Ferrari (SP) Marianela Flores de Hekman (RS) Myrian Spínola Najas (SP) Paulo Cesar Affonso Ferreira (RJ) Renato Maia Guimarães (DF) Silvia Regina Mendes Pereira (RJ) Sonia Maria Rocha (RJ) Tereza Bilton (SP) Zally Pinto Vasconcelos Queiroz (SP) Daniel Azevedo Isadora Crosara Alves Teixeira Laiane Moraes Dias Josecy Peixoto José Francisco Oliveira Maristela Santos Claudia Burlá Johanner Doll Ligia Py Lucia Takase Toshio Chiba Comissão de Título de Geriatria Elisa Franco de Assis Costa Veronica Hagemeyer Rodolfo Pedrão Paulo José Villas Boas Liva Devéns Karlo Edson Carneiro Santana Moreira Adriano Cesar Gordilho Maria do Carmo Lencastre Maira Tonidandel Comissão de Título de Gerontologia Cláudia Fló Adriana Keller Marisa Accioly Tulia Garcia Jordelina Schier Aline Thomaz Rubens de Fraga Junior Roberta Barros Comissão Científica de Geriatria Comissão Científica de Gerontologia Leila Auxiliadora José Sant’ Anna Maria Angélica Sanchez Ligia Py Maria Izabel Penha de o. Santos Rosângela Corrêa Dias Ana Elizabeth dos Santos Lins Leonor Mauad Márcia Carrera Campos Leal Vania Beatriz M. Herédia Comissão de Divulgação de Assuntos e Eventos Científicos Nezilour Lobato Rodrigues Maria Alice Vilhena Toledo Mariana Asmar Alencar Marianela Hekman Ligia Py Daniel Apolinario Representantes no Conselho da Associação Internacional de Geriatria e Gerontologia (IAGG) Nezilour Lobato Rodrigues (PA) Mariana Asmar Alencar (MG) Marianela Flores de Hekman (RS) Comissão de Formação Profissional e Cadastro Comissão de Normas Geriatria – Veronica Hagemeyer Gerontologia – Maria Celi Lyrio Crispim Marianela Hekman Jussara Rauth DIRETORIAS DAS SEÇÕES ESTADUAIS DA SBGG Alagoas Presidente: Helen Arruda Guimarães 2a Vice-Presidente: Ana Elizabeth Lins Diretor Científico: Oswaldo da Silva Liberal BAHIA Presidente: Romulo Meira 2o Vice-Presidente: Fábio Falcão Diretor Científico: Lucas Kuhn Prado CEARÁ Maranhão PARANÁ Presidente: Jacira do Nascimento Serra 2a Vice-Presidente: Adriano Filipe Barreto Grangeiro Diretores Científicos: Herberth Vera Cruz Furtado Marques Júnior / Margareth de Pereira de Paula Presidente: Debora Christina de Lacantara Lopes 2a Vice-Presidente: Rosemary Rauchbach Diretor Científico: Breno Barcelos Ferreira MATO GROSSO Presidente: Alexsandra Siqueira Campos 2a Vice-Presidente: Marcia Carrera Diretor Científico: Sergio Murilo Fernandes Presidente: Roberto Gomes de Azevedo 2a Vice-Presidente: Roseane Muniz Diretora Científica: Janine Nazareth Arruda PERNAMBUCO RIO DE JANEIRO Presidente: João Bastos Freire Neto 2a Vice-Presidente: Túlia Fernanda Meira Garcia Diretor Científico: Jarbas de Sá Roriz Filho MATO GROSSO DO SUL Presidente: José Roberto Pelegrino Diretora Científica: Marta Dreimeier Presidente: Rodrigo Bernardo Serafim 2a Vice-Presidente: Maria Angélica dos S. Sanchez Diretor Científico: Tarso Lameri Sant´Anna Mosci DISTRITO FEDERAL MINAS GERAIS RIO GRANDE DO SUL Presidente: Marco Polo Dias Freitas 2o Vice-Presidente: Vicente de Paula Faleiros Diretor Científico: Leonardo Pitta Presidente: Rodrigo Ribeiro dos Santos 2a Vice-Presidente: Marcella Guimarães Assis Diretora Científica: Maria Aparecida Camargos Bicalho Presidente: Ângelo José Bos 2a Vice-Presidente: Vania Heredia Diretor Científico: Paulo Roberto Cardoso Consoni ESPÍRITO SANTO PARÁ SANTA CATARINA Presidente: Paulo Cesar dos Santos Borges 2a Vice-Presidente: Silvia Maria Azevedo do Santos Diretora Científica: Nagele Belettini Hahn PARAÍBA SÃO PAULO Presidente: Renato Moraes Alves Fabbri 2a Vice-Presidente: Valmari Cristina Aranha Diretora Científica: Maisa Carla Kairalla Presidente: Roni Chaim Mukamal 2a Vice-Presidente: Neidil Espinola da Costa Diretora Científica: Daniela Souza Gonçalves Barbieri GOIÁS Presidente: Isadora Crosara Alves Teixeira 2a Vice-Presidente: Viviane Lemos Silva Fernandes Diretor Científico: Ricardo Borges da Silva Presidente: Karlo Edson Carneiro Santana Moreira 2a Vice-Presidente: Maria Izabel Penha de O. Santos Diretor Científico: João Sergio Fontes do Nascimento Presidente: Arnaldo Henriques Gomes Viegas 2a Vice-Presidente: Mirian Lucia Trindade Diretor Científico: João Borges Virgolino Editorial Artigo Original Antropometria da pessoa idosa residente no Nordeste do Brasil Nutrição e atividade física, a combinação essencial para um envelhecimento Anthropometry of elderly people living in Northeast of Brazil O envelhecimento é resultado do acúmulo de alterações que se processam durante a vida do indivíduo, as quais são permeadas por interferências nutricionais e de atividade física em todo o seu curso. A influência da nutrição e da atividade física nesse processo é contínua e se acentua com a idade à medida que as reservas funcionais e os mecanismos compensatórios e reparadores se reduzem ou tornam-se menos eficientes. Essa influência provém de uma estreita relação cultural, e diversas pesquisas demonstram que a imigração de indivíduos para outras culturas modifica suas práticas com consequente mudanças na condição de saúde, independentemente da herança genética. Por outro lado, as variações étnicas determinam parâmetros diversos de avaliação nutricional e, por isso, a identificação do perfil populacional é importante para que possamos aplicar medidas efetivas que modifiquem os riscos do indivíduo. Particularmente no Brasil, a miscigenação resulta em um perfil populacional que precisa ser mais bem caracterizado. Neste sentido, os estudos populacionais que se propõem a contribuir com essa informação adquirem grande relevância. Da mesma forma, a recomendação da prática de atividade física deve ser mais específica, especialmente para a população idosa. A orientação populacional precisa ser traduzida numa prescrição adequada para cada idoso, considerando sua capacidade funcional, suas comorbidades, limitações (físicas, financeiras, geográficas, culturais etc.) e, principalmente, a indicação para atingir um determinado objetivo com perspectivas de sucesso. Assim, conhecemos muito pouco do que é necessário sobre as diferentes modalidades de atividade física e suas repercussões positivas e negativas no organismo envelhecido. Em parte, isso se explica pela complexidade e o custo elevado dos estudos nesta área e também por essa razão devemos discutir e aprimorar ao máximo cada informação produzida por essas pesquisas. Não temos mais dúvidas de que a combinação entre nutrição e atividade física é essencial para o envelhecimento bem sucedido. Portanto, esses conhecimentos devem ser incorporados à nossa prática e para que estejamos sempre ávidos pela produção de novos. Maysa Seabra Cendoroglo Editora Ivone Freires de Oliveira Costa Nunes1, Cecília Maria Resende Gonçalves de Carvalho1, Apolônia Maria Tavares Nogueira1, José Machado Moita Neto1, Amanda Marreiro Barbosa1 RESUMO Universidade Federal do Piauí. 1 Objetivo: Caracterizar pessoas idosas pela antropometria e fornecer valores antropométricos de referência, segundo o sexo e a faixa de idade. Métodos: Avaliaram-se 359 pessoas idosas de ambos os sexos residentes no Nordeste do Brasil. As variáveis antropométricas estudadas foram: peso, estatura, índice de massa corporal (IMC), circunferência do braço (CB), prega cutânea tricipital (PCT) e circunferência muscular do braço (CMB). Os dados são demonstrados em valores médios ± desvio-padrão e percentis (P10, P15, P25, P50, P75, P85 e P90). Foi realizado o teste t de Student para analisar a diferença das médias das variáveis entre os sexos e análise de variância (Anova) para avaliar o efeito da idade nos dados antropométricos. Resultados: Os valores médios das variáveis foram maiores para o sexo masculino, exceto para IMC, CB e PCT. As diferenças de média do IMC e CB entre os sexos não foram estatisticamente significativas. A idade indicou ser fator importante na redução de algumas variáveis, o que ratifica a necessidade de padrões específicos de referência. Conclusão: A tendência de decréscimo dos dados antropométricos desse estudo assemelha-se a outros realizados com a população idosa. Assim, esses valores podem auxiliar na avaliação nutricional e contribuir com a elaboração de um padrão antropométrico de referência para o idoso do Brasil. Palavras-chave: Antropometria, idoso, Brasil. ABSTRACT Objective: Characterizing elderly people characterizing elderly people by anthropometric measures and providing reference values according to the sex and the age group. Methods: We evaluated 359 elderly people of both sexes from the Northeast of Brazil. The anthropometric variables studied were: weight, height, body mass index, arm circumference, triceps skinfold thickness and arm muscle circumference. Data are shown as mean values ± standard deviations, and percentiles (10th, 15th, 25th, 50th, 75th, 85th and 90th). We used the Student’s t test to analyze the means differences between both sexes and the analysis of variances (ANOVA) to evaluate the effect of age on the anthropometric data. Results: The average values of the variables were higher for males, except BMI, AC, and TST . The average differences of the BMI and AC between both sexes were not statistically significant. The elderlies age showed to be an important factor in the reduction of some variables, what ratify the necessity of specifics standard references for the elderly people Conclusion: The decreasing trend of anthropometric data of this study is similar to others conducted with an elderly in the elderly population. Thus, these values can help the nutritional assessment and contribute to the development of an anthropometric reference standard for the elderly people in Brazil. Keywords: Anthropometry, aged, Brazil. Endereço para correspondência: Ivone Freires de Oliveira Costa Nunes - Joaquim Monteiro nº 260 Apt 102 Junco 64600-000, Picos-PI. - Telefone: (89) 9934-2287 E-mail: [email protected] 306 Geriatria & Gerontologia INTRODUÇÃO A antropometria é um método convencional que foi desenvolvido desde o final do século XIX e aprimorado no período da Primeira Guerra Mundial devido à preocupação com a eficiência física dos soldados da época.1 É indicador do estado e das condições nutricionais, que possui ampla utilização, principalmente por fornecer dados físicos e de composição corporal, imprescindíveis às pesquisas epidemiológicas, pela sua praticidade, fácil e rápida aplicação e pela ausência de características invasivas.2 Em pessoas idosas, as variáveis antropométricas primárias mais usadas são peso, estatura, perímetros e dobras cutâneas, que servirão para os cálculos das medidas secundárias, IMC e CMB.3,4 O processo do envelhecimento é acompanhado de alterações corporais, que ocasionam mudanças na capacidade funcional, redução do peso, estatura, massa muscular e incremento de gordura corporal geral.5 De maneira compartimentalizada, a quantidade de tecido adiposo tende a diminuir nos braços e nas pernas e aumentar no tronco, proporcionando alterações específicas na PCT, na CB e da cintura.6 Nesse sentido, pesquisas internacionais, realizadas em países como Estados Unidos, Inglaterra, França, Itália e México, apontam valores antropométricos de referência para pessoas idosas,7-10 mas a utilização de dados universais, desconsiderando-se a existência de diferenças sazonais entre os grupos de idosos, torna o diagnóstico nutricional repleto de falhas. Dessa forma, o Expert Committee of the World Health11 recomenda o uso de dados antropométricos locais próprios de cada país para minimizar os erros de reprodutibilidade. No Brasil, há estudos apontando as características antropométricas dos idosos.12-16 Todavia ainda não existem valores de referência específicos17. Assim, considerando as dimensões continentais do país, estudos que apresentem valores antropométricos de referência são fundamentais, especialmente no Nordeste, por ser uma região de maior vulnerabilidade nutricional. O objetivo deste trabalho é caracterizar as pessoas idosas pela antropometria e fornecer valores antropométricos de referência, segundo o sexo e a faixa etária, contribuindo com a construção do padrão antropométrico brasileiro. MÉTODOS O estudo que se apresenta é de natureza transversal, baseado na dissertação de mestrado intitulada “Estado nutricional e associação com variáveis demográficas, níveis séricos e ingestão alimentar de vitamina D em pessoas idosas domiciliadas em capital do Nordeste do Brasil”, aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Piauí (UFPI) ─ a qual foi conduzida de acordo com os padrões estabelecidos pela Declaração de Helsinque ─, sob o Protocolo n. 0386.0.045.000-10. Todos os indivíduos que aceitaram participar voluntariamente assinaram devidamente o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, preparado em conformidade com as normas da Resolução n. 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde.18 Foi fornecida uma cópia a cada pesquisado e todas as dúvidas que ocorreram ao longo do estudo foram sanadas pelos pesquisadores responsáveis. Além disso, manteve-se a identificação das pessoas idosas sob sigilo e os dados coletados permaneceram armazenados pelo coordenador do estudo. A pesquisa envolveu a participação de pessoas idosas não institucionalizadas, com idade igual ou superior a sessenta anos, de ambos os sexos, residentes na zona urbana da cidade de Teresina, PI, Nordeste do Brasil, e cadastrados na Estratégia Saúde Antropometria da pessoa idosa da Família (ESF). Foram excluídos da seleção da amostra os que possuíam déficit cognitivo exacerbado, dificuldades importantes de verbalização, audição e locomoção. Para o cálculo do tamanho amostral, utilizou-se a estimativa da prevalência de 32,3% de excesso de peso para população idosa brasileira,19 calculada com 95% de nível de significância e 5% de margem de erro, obtendo-se um tamanho amostral de 336 indivíduos, no entanto, a essa quantidade foi acrescido 6,8% após considerar os critérios de exclusão, as possíveis perdas e recusas na participação da pesquisa. A amostra total foi, por esses motivos, de 359 indivíduos, os quais foram distribuídos de forma proporcional ao número de idosos atendidos em cada Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), ficando 144 na Centro-Norte (40,1%), 109 na Leste-Sudeste (30,4%) e 106 na Sul (29,5%).20 A aferição do peso (kg) deu-se por meio de balança eletrônica digital portátil da marca Plenna Slim®, com capacidade de 150 kg e sensibilidade de 100 g.21 A estatura foi predita pela estatura do joelho22 e calculada pelas fórmulas matemáticas que se seguem: Masculino = 64,19 - (0,04 x idade em anos) + (2,02 x estatura do joelho em cm) Feminino = 84,88 - (0,24 x idade em anos) + (1,83 x estatura do joelho em cm) O IMC, expresso em kg/m², foi calculado pelo peso corporal (kg) dividido pela estatura (m) elevado ao quadrado.23 Para o cálculo matemático da CMB foi empregado o uso da CB e PCT pela fórmula: CMB (cm) = CB - π x [PCT (cm)]24 A determinação da CB foi realizada utilizando-se uma fita métrica flexível e inextensível, com precisão de 0,1 cm, obtida na metade da distância do braço não dominante.25 307 Para aferir a PCT usou-se um adipômetro científico da marca Lange® ─ Beta Technology, USA) ─, com pressão constante de 10 g/ mm² na superfície de contato e precisão de 0,1 mm, com escala de 0 a 65 mm.26 As pessoas idosas foram classificadas de acordo com o sexo e a faixa etária (60 a 69, 70 a 79 e 80 anos e mais), e a apresentação dos dados antropométricos deu-se pela medida de tendência central, dispersão e percentil (P10, P15, P25, P50, P75, P85 e P90). Para realização das análises estatísticas utilizou-se o software SPSS 18.0. A significância estatística das diferenças de médias entre os sexos deu-se por meio da aplicação do teste t de Student, e o efeito da idade nas variáveis antropométricas pela análise de variância (Anova) e pela comparação de Tukey’s. O nível de significância adotado foi 5% ou p < 0,05. RESULTADOS Do grupo de idosos avaliados, 138 são do sexo masculino (38,40%) e 221 do feminino (61,60%). A idade compreendeu o intervalo de 60 a 93 anos, e a média foi 71,6 (7,8) para os homens e 70,0 (7,5) para as mulheres, sem diferença estatística significativa (p = 0,055). Os valores médios das variáveis antropométricas, segundo sexo e faixa etária, encontram-se na Tabela 1. A comparação entre os dados antropométricos e sexo somente demonstra diferença estatisticamente significativa em peso (p < 0,001), estatura (p < 0,001), PCT (p < 0,001) e CMB (p = 0,004). Conforme os dados expostos na Tabela 1, o comparativo entre as faixas etárias e as médias dos valores dos parâmetros antropométricos, revela existência de diferença estatisticamente significativa em peso (p = 0,016), estatura (p = 0,012), CB (p < 0,001) e CMB (p = 0,003). Além disso, observa-se ainda a tendência do declínio das médias com o avançar da idade. Na Tabela 2, 308 Geriatria & Gerontologia expõem-se os percentis das variáveis antropométricas, em que se observa tendência de declínio com maiores detalhes. Na análise do peso corporal dos indivíduos, verifica-se diferença estatisticamente significativa nas três faixas etárias categorizadas, 60 a 69 (p < 0,001), 70 a 79 (p = 0,004) e 80+ (p = 0,005). Todavia, não existe diferença estatisticamente significativa entre as três faixas etárias quando se divide por sexo: masculino (p = 0,71) e feminino (p = 0,82). Quanto à estatura, os homens têm estatura superior às mulheres, e houve diferença estatisticamente significativa para o sexo feminino (p < 0,001) em todos os grupos de idade. Para a CB, não há diferença relevante entre os sexos (p > 0,05). Nas faixas de 60 a 69 e 70 a 79 anos o valor é maior nas mulheres, na faixa de idade superior a 80 anos a CB é maior nos homens. Existe diferença estatística significativa entre as faixas etárias quando a amostra está dividida em homens (p = 0,045) Tabela 1. Variáveis antropométricas (média ± desvio-padrão) dos idosos residentes na zona urbana da cidade de Teresina, PI, Nordeste do Brasil, de acordo com sexo e faixa etária Variáveis Peso (kg)* Total 60 a 69 70 a 79 80+ Estatura (m)* Total 60 a 69 70 a 79 80+ IMC (kg/m²) Total 60 a 69 70 a 79 80+ CB (cm) Total 60 a 69 70 a 79 80+ PCT (mm)* Total 60 a 69 70 a 79 80+ CMB (cm)* Total 60 a 69 70 a 79 80+ Masculino Feminino 66,8 ± 11,6 69,2 ± 11,9 64,7 ± 11,2 64,4 ± 10,4 59,6 ± 11,6** 61,3 ± 12,2 58,7 ± 10,9 56,2 ± 9,8 1,65 ± 5,4 1,65 ± 5,55 1,64 ± 5,06 1,64 ± 5,80 1,54 ± 5,1** 1,56 ± 4,44 1,52 ± 5,63 1,51 ± 4,07 24,6 ± 3,9 25,4 ± 3,8 23,9 ± 3,9 23,9 ± 3,9 25,2 ± 4,3 25,3 ± 4,7 25,1 ± 4,0 24,7 ± 4,1 28,6 ± 3,1 29,3 ± 3,3 28,1 ± 2,7 27,8 ± 3,2 29,1 ± 4,4** 30,0 ± 4,8 28,2 ± 3,7 27,7 ± 3,8 11,3 ± 4,9 11,7 ± 5,1 10,6 ± 4,3 12,0 ± 5,4 16,4 ± 5,1 17,0 ± 5,1 16,2 ± 5,2 14,0 ± 3,7 25,1 ± 2,8 25,7 ± 2,9 24,7 ± 2,5 24,1 ± 2,5 309 Antropometria da pessoa idosa 24,0 ± 3,9** 24,6 ± 4,4 23,1 ± 3,0 23,3 ± 3,2 *Diferença estatisticamente significativa dos valores médios entre o sexo masculino e feminino. **Diferença estatisticamente significativa dos valores médios entre as faixas etárias. Tabela 2. Percentis das variáveis antropométricas de idosos residentes na zona urbana da cidade de Teresina, PI, Nordeste do Brasil, conforme sexo e faixa etária Variáveis antropométricas Peso (kg) Masculino Feminino Estatura (m) Masculino Feminino IMC (kg/m²) Masculino Feminino CB (cm) Masculino Feminino PCT (mm) Masculino Feminino CMB (cm) Masculino Feminino N 60 a 69 70 a 79 80+ 60 a 69 70 a 79 80+ 60 a 69 70 a 79 80+ 60 a 69 70 a 79 80+ 60 a 69 70 a 79 80+ 60 a 69 70 a 79 80+ 60 a 69 70 a 79 80+ 60 a 69 70 a 79 80+ 60 a 69 70 a 79 80+ 60 a 69 70 a 79 80+ 60 a 69 70 a 79 80+ 60 a 69 70 a 79 80+ Percentil 10 15 25 50 75 85 90 138 66 49 23 221 117 73 31 55,0 56,8 53,0 53,3 46,1 49,1 43,9 43,5 56,8 58,1 55,3 54,5 49,2 50,2 47,5 45,1 58,9 60,1 57,2 58,7 52,6 53,9 51,0 50,0 64,0 66,0 62,2 62,8 59,2 59,9 58,9 55,3 72,9 75,1 70,1 70,0 66,3 66,7 63,9 64,9 80,5 81,8 76,2 78,0 70,4 74,4 69,4 67,9 82,7 85,9 82,1 84,8 75,5 76,5 75,1 68,6 138 66 49 23 221 117 73 31 1,58 1,58 1,58 1,56 1,47 1,50 1,45 1,46 1,59 1,59 1,59 1,57 1,49 1,51 1,47 1,46 1,60 1,61 1,60 1,60 1,51 1,53 1,49 1,48 1,64 1,65 1,64 1,63 1,54 1,56 1,52 1,49 1,69 1,69 1,68 1,69 1,58 1,59 1,56 1,54 1,70 1,72 1,70 1,70 1,60 1,61 1,59 1,56 1,72 1,73 1,70 1,71 1,61 1,61 1,60 1,57 138 66 49 23 221 117 73 31 20,3 20,3 19,2 19,0 19,6 19,6 19,5 19,7 20,8 21,2 20,6 20,4 21,1 21,5 21,0 20,3 22,0 23,0 21,2 22,0 22,4 22,4 22,3 22,1 23,8 24,4 23,3 23,4 24,8 24,5 24,9 24,8 27,1 28,1 26,0 26,0 27,8 27,9 27,6 27,4 28,8 29,1 28,0 29,2 29,4 29,4 29,4 28,7 30,9 31,1 29,0 31,0 30,6 30,8 30,6 30,2 138 66 49 23 221 117 73 31 25,0 25,6 25,0 24,0 24,1 25,0 23,0 23,1 25,8 26,0 25,2 24,6 25,0 25,9 25,0 24,3 26,5 27,0 26,5 26,0 26,5 27,0 25,9 25,0 28,3 29,0 28,0 27,0 29,0 29,0 28,0 28,0 30,1 31,0 29,6 29,0 31,5 32,0 30,8 30,6 31,5 32,4 30,7 31,2 33,0 35,0 33,0 32,0 33,0 33,6 33,0 33,6 35,0 37,0 33,0 32,0 138 66 49 23 221 117 73 31 6,0 6,0 5,0 6,4 10,0 11,0 9,7 9,7 7,0 7,0 6,0 7,0 11,0 11,9 11,0 10,0 8,0 8,0 7,5 8,0 13,0 13,0 12,0 11,0 10,0 10,5 10,0 10,0 16,0 16,7 16,0 14,0 14,0 15,2 12,5 15,0 19,3 20,1 19,8 17,0 17,0 17,0 15,5 20,0 22,0 23,0 22,0 18,5 18,0 18,0 17,0 21,6 24,0 24,0 24,3 19,3 138 66 49 23 221 117 73 31 21,8 22,0 21,7 20,8 19,9 20,4 19,7 19,0 22,3 22,7 22,1 21,2 20,5 21,0 20,3 20,2 23,1 24,2 22,9 22,4 21,3 21,6 21,1 21,0 25,0 25,8 24,9 23,7 23,6 23,9 23,1 23,8 26,6 27,0 26,3 25,9 25,7 26,3 25,1 25,7 27,4 27,6 27,1 26,4 27,5 28,0 26,2 26,6 28,0 28,7 28,0 27,0 28,9 30,3 27,2 27,5 310 Geriatria & Gerontologia e mulheres (p = 0,024). Os valores médios tiveram declínio com a idade ─ nos homens essa redução não tem diferença significativa entre as faixas etárias, mas tem nas mulheres em todos os grupos etários (p < 0,001). Quanto aos valores de PCT, observa-se diferença estatisticamente significativa entre homens e mulheres (p < 0,001), sendo que no sexo feminino os valores são sempre maiores. A redução de PCT é estatisticamente significativa entre as faixas etárias somente no sexo feminino (p = 0,011). Essa diferença tem maior manifestação na faixa de idade de 60 a 69 e 80+(p = 0,013). Os valores de CMB, indicador de massa muscular, revelam que há diferença estatisticamente significativa entre homens, para pessoas idosas com 60 a 69 e 80+(p = 0,047) e mulheres, para 60 a 69 e 80+(p = 0,013) mostrando valores médios maiores no sexo masculino. Existe também diferença estatisticamente significativa entre as faixas etárias em ambos os sexos, masculino (p = 0,034) e feminino (p = 0,036). Os dados antropométricos revelaram que os homens têm valores médios maiores que os das mulheres nas variáveis, peso, estatura e CMB. No entanto, as mulheres, quando comparadas aos homens, possuem médias maiores de IMC, CB e PCT, com diferença estatisticamente significativa apenas entre PCT (p < 0,05). A redução das medidas antropométricas com a idade é maior nas mulheres, em peso, CB e PCT, e nos homens na, estatura, IMC e CMB. Discussão Na avaliação do grupo de pessoas idosas averiguou-se a predominância do sexo feminino, a qual corrobora com a tendência nacional do envelhecimento, encontrada também em pesquisas realizadas com o mesmo contingente populacional.14,17,27 À medida que o idoso envelhece mais, há redução do peso, que pode ser verificada pelos dados em percentil. Ressalta-se que os idosos pesam mais que as idosas. Todavia, não existe diferença estatística significativa entre as três faixas etárias quando se divide por sexo, semelhante ao estudo de Mastroeni et al.,17 que avaliaram idosos residentes em domicílios na área urbana da cidade de Joinville, SC, no ano de 2002. Na variável estatura, o comportamento em todas as faixas etárias é o mesmo (p < 0,001), observando-se redução de 7 cm nas idosas com 80 anos ou mais. A diminuição do peso é uma tendência do envelhecimento, a da estatura deve-se a redução do arco plantar, achatamento dos discos intervertebrais e crescimento das curvaturas da coluna, mais acentuadas em idosos mais velhos.9 Os dados acerca do IMC mostram declínio com o aumento da idade, mas não há diferença significativa entre homens e mulheres em todas as faixas de idade examinadas, bem como entre as faixas etárias quando a amostra está dividida por sexo quanto ao IMC (p > 0,05). A mesma redução ocorre em pesquisas que apresentam seus dados em percentil e média, sendo que a do IMC decorre do decréscimo da massa muscular e gordura corporal, principalmente após os setenta anos de idade.13,14 Para CB, não há diferença entre os sexos corroborando os dados encontrados por Mastroeni et al.17 Nas faixas de 60 a 69 e 70 a 79 anos o valor é maior nas mulheres, na faixa de 80+ anos é maior nos homens. Existe diferença estatística significativa entre as faixas etárias quando a amostra está dividida em homens (p = 0,045) e mulheres (p = 0,024). Os valores médios tiveram declínio com a idade: nos homens essa redução não tem diferença significativa entre as faixas etárias; mas há diferença importante nas mulheres em todos Antropometria da pessoa idosa 311 os grupos etários (p < 0,001), semelhante ao estudo de Menezes e Marucci14 que avaliaram idosos institucionalizados em Fortaleza (CE). to em mulheres, similar ao comumente encontrado em outras pesquisas realizadas com idosos no Brasil.9 Quanto aos valores de PCT, observa-se diferença estatisticamente significativa entre homens e mulheres (p < 0,001): nelas os valores são sempre maiores que neles. Esse resultado é semelhante ao da literatura, que indica maior acúmulo de gordura nas extremidades de pessoas do sexo feminino em comparação ao masculino.17,25 Assim, a tendência de redução das variáveis antropométricas com o aumento da idade, assemelha-se a outras pesquisas desenvolvidas com a pessoa idosa, mas os valores médios e percentis são diferenciados, provavelmente em razão da diversidade do perfil do grupo de idosos avaliados, quanto a etnia, nível socioeconômico, estilo de vida e outros fatores ambientais. A redução da CB, nos valores médios e percentil, possivelmente ocorre pelo decréscimo da massa magra típico do processo do envelhecimento. No entanto, mesmo não sendo o mais fidedigno indicador de massa muscular, tem alterações com a diminuição da quantidade de massa magra, pois representa a adição das áreas compostas por tecidos muscular, ósseo, gorduroso e epitelial. Portanto, a CB com o avançar da idade, especialmente no sexo feminino, tende à redução, fato semelhante ao de outros trabalhos.17 A redução de PCT é estatisticamente significativa entre as faixas etárias somente no sexo feminino (p = 0,011). E essa diferença tem maior manifestação na faixa de idade de 60 a 69 e 80+ (p = 0,013), semelhante ao estudo de Menezes e Marucci.14 Além disso, observa-se a tendência de declínio dos valores em ambos os sexos com o aumento da idade.17 Os valores de CMB, indicador de massa muscular, revelam que há diferença estatisticamente significativa entre homens, para pessoas idosas com 60 a 69 e 80+ (p = 0,047), e mulheres, para 60 a 69 e 80+ (p = 0,013). Os homens tiveram valores médios maiores que as mulheres. Existe também diferença estatisticamente significativa entre as faixas etárias em ambos os sexos, masculino (p = 0,034) e feminino (p = 0,036). As variáveis ratificam a tendência de declínio tanto em homens quan- Os dados antropométricos revelaram que os homens têm valores médios maiores que os das mulheres nas variáveis, peso, estatura e CMB. No entanto, as mulheres, quando comparadas aos homens, possuem médias maiores de IMC, CB e PCT, com diferença estatisticamente significativa apenas entre PCT (p < 0,05). A redução das medidas antropométricas com a idade é maior nas mulheres, em peso, CB e PCT, e nos homens na, estatura, IMC e CMB. Ao observar os resultados dos valores médios e percentis, de Joinville, SC,17 nota-se que são maiores, comparando-se com os encontrados nesta pesquisa. Fato que sugere a ocorrência de diferenças antropométricas na pessoa idosa que podem repercutir no estado nutricional do indivíduo, possivelmente de acordo com a região do país, em especial naqueles considerados extremos em desenvolvimento social e econômico, como é o caso do Sul e do Nordeste do Brasil. Assim, ratifica-se a necessidade de padrões de referência locais para o referido grupo etário, em nível populacional ou específico para a população destinada, porque são muitos os fatores que limitam à avaliação utilizando os padrões internacionais, dentre os quais há diferenças de idade, metodologia empregada, plano amostral, crité- 312 Geriatria & Gerontologia rios de inclusão e exclusão adotados no estudo, apresentação dos resultados em médias ou percentis e categorias das faixas etárias (cinco ou dez anos). Portanto, pelas alterações e dificuldades inerentes ao processo do envelhecimento, alguns autores têm recomendado que os resultados de pesquisas em esfera populacional ou não sejam usados como padrão de referência local para a pessoa idosa.9 CONCLusão Sugere-se que os dados antropométricos dessa pesquisa possam ser empregados no auxílio à construção de padrão antropométrico nacional visando à adequada avaliação nutricional de idosos no país. CONFLITO DE INTERESSE Os autores declaram a inexistência de conflito de interesse na realização deste trabalho. 5. Bueno JM, Martino HSD, Fernandes MFS, Costa LS, Silva RR. Avaliação nutricional e prevalência de doenças crônicas não transmissíveis em idosos pertencentes a um programa assistencial. Ciênc Saúde Coletiva. 2008;13(4):1237-46. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232008000400020&lng=pt. http://dx.doi.org/10.1590/S141381232008000400020 6. Kuczmarski MF, Kuczmarski RJ. Nutritional assessment o folder adults. In: Schlenker ED. Nutrition in aging. St. Louis: Mosby-Year Book; 1993. p. 255. 7. Chumlea WC, Roche AF, Mukherjee D. Nutritional assessment of the elderly through anthropometry. Columbus (OH): Ross Laboratories; 1987. p. 47. 8. Frisancho AR. New standards of weight and body composition by frame size and height for assessment of nutritional status of adults and the elderly. Am J Clin Nutr. 1984;40(4):808-9. 9. 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Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acesso em: 29 de jun. 2011. Vacina anti-influenza pneumonia em idosos Artigo Original A vacina anti-influenza e a morbimortalidade hospitalar por pneumonia em idosos, em Aracaju (SE), de 1998 a 2010 Anti-influenza vaccine on morbimortality by pneumonia in elderly, in Aracaju (SE), from 1998 to 2010 Alyne Andrade Lima1, Anna Klara Bohland2, Lais Desidério de Souza3, Samara de Oliveira Xavier4e Stephanie Chagas Feitosa5 RESUMO 1 Discente da Universidade Federal de Sergipe, acadêmica participante do PET-Saúde. Contribuição: concepção do trabalho, coleta de dados, análise e interpretação dos dados. 2 Docente da Universidade Federal de Sergipe, Tutora do Pet-Saúde. Contribuição: orientadora do trabalho, análise e interpretação dos dados. 3 Discente da Universidade Federal de Sergipe, acadêmica participante do PET-Saúde. Contribuição: concepção do trabalho, coleta de dados, análise e interpretação dos dados. 4 Discente da Universidade Federal de Sergipe, acadêmica participante do PET-Saúde. Contribuição: concepção do trabalho, coleta de dados, análise e interpretação dos dados. 5 Discente da Universidade Federal de Sergipe, acadêmica participante do PET-Saúde. Contribuição: concepção do trabalho, coleta de dados, análise e interpretação dos dados. Objetivo: Avaliar o impacto da implantação da vacina antiinfluenza, em idosos, em relação ao número de mortes e internações por pneumonia, em indivíduos de 60 anos ou mais, no município de Aracaju, entre 1998 e 2010. Método: Dados coletados através do DATASUS, Sistema de Informações Hospitalares - SIH (BRASIL, 2012) e do Sistema de Avaliação do Programa de Imunizações - API (BRASIL, 2012), referentes aos anos de 1998 a 2010, relacionados à imunização e internação e óbitos hospitalares de idosos na cidade de Aracaju (SE). Foram calculados taxa de internação hospitalar por pneumonia por 10 mil habitantes e taxa de mortalidade por pneumonia por 10 mil habitantes. Resultados: Foram notificados ao SIH/ SUS 2229 hospitalizações por pneumonia entre 1998 e 2010, entre idosos. O número de mortes por pneumonia no mesmo período e segmento populacional foi de 575. A média do coeficiente de mortalidade pela causa estudada foi de 10,37 (por 10 mil habitantes); esse indicador apresentou comportamento flutuante durante a série de estudo, porém durante a maior parte do tempo foi decrescente. Houve decréscimo de 47% nas taxas de hospitalização durante período observado. O número de idosos cresceu a cada ano da série e as maiores taxas de internação e mortalidade por pneumonia ocorreram na faixa etária de 80 anos e mais. Conclusão: As taxas de internação por pneumonia em idosos reduziram consideravelmente durante os anos seguintes à implantação da vacina antiinfluenza. Embora a pneumonia seja ainda importante causa de morbimortalidade entre pacientes idosos, a prevenção de episódios de gripe resulta em melhoria na saúde do idoso. Palavras-chave: Vacinas contra influenza. Pneumonia. Idoso. Mortalidade. Hospitalização. ABSTRACT Objective: Evaluation of the impact of the influenza vaccine implement in elderlies related to the number of deaths and hospitalizations for pneumonia in Aracaju, with sixty years of age or older, between 1998 and 2010. Methodology: Data were collected from the National Health System Database (DATASUS), the Hospital Information System – SIH (BRASIL, 2012) and the Evaluation System Immunization Program – API (BRASIL, 2012), from 1998 to 2010, related to immunization and hospitalization of elderly people in Aracaju (SE). The hospitalization rate for pneumonia per 10000 inhabitants and mortality rate for pneumonia per 10 000 inhabitants was calculated. Results: 2229 hospitalizations for pneumonia were reported to SIH/SUS between 1998 and 2010 elderlies. The number of pneumonia deaths in the same period and population´s age was 575. The average mortality rate was 10,37 (per 10000 inhabitants), this indicator oscillated during the series of study, but during most of time was decreasing. There was a 47% decrease in hospitalization rates during the period observed. The number of elderly people increased every year of the series and the highest rates of hospitalization and mortality due to pneumonia occurred in patients aged 80 years and over. Conclusion: The rates of hospitalization due to pneumonia in the elderly people decreased during the years following the implementation of influenza vaccine. Although pneumonia is still an important cause of morbidity and mortality in elderlies, the prevention of flu episodes results in an improvement of this people's health. Keywords: Influenza vaccines. Pneumonia. Aged. Mortality. Hospitalization. Endereço para correspondência: Laís Desidério de Souza - R. Tenente Wendel Quaranta, 1371. Ed. Van Gogh, apt 602. B. Suissa. CEP: 49052-260 Aracaju-SE. Telefones: (79) 3211 – 5522 / (79) 9949 - 3787 - E-mail: [email protected] INTRODUÇÃO As doenças respiratórias, particularmente as infecções pelo vírus da influenza e suas complicações, têm-se revelado importante causa de morbimortalidade na população idosa, sendo causa relevante de internações e morte nas últimas décadas em diferentes regiões do mundo1. A cada ano, a gripe é associada com aproximadamente 30.000 mortes, mais de 250.000 hospitalizações, e bilhões de dólares em custos de saúde2. Comumente, os fatores de risco para doença pneumocócica e influenza sobrepõem-se, pois a pneumonia é a complicação mais comum da influenza3. Nos Estados Unidos, pneumonia adquirida na comunidade é a quinta causa principal de morte em pessoas com idade maior que 65 anos, e um número estimado de 60.000 idosos morrem anualmente4. No Brasil, as pneumonias foram causa básica de 17.220 mortes na faixa etária de 65 anos ou mais, durante o ano de 19963. A análise de dados do Sistema de Informações Hospitalares tem mostrado a crescente importância das internações e óbitos por doenças respiratórias entre os idosos, mesmo considerando-se o envelhecimento da população5. A vacinação contra o pneumococo e o vírus influenza são as principais estratégias de prevenção de pneumonia em idosos4. A vacinação contra influenza vem sendo administrada aos idosos, em âmbito nacional, desde 19996. A vacina confere proteção para a maioria dos vacinados por aproximadamente 1 ano7, por isso as campanhas vacinais são anuais. Nem todos os que forem vacinados estarão protegidos de contrair gripe, porém é sabido que estarão protegidos das complicações resultantes dessa enfermidade, como a mais grave delas, a pneumonia8. Quando a composição dessa vacina é coincidente com as cepas de vírus circulante, 315 sua eficácia em adultos saudáveis atinge 70 a 90%, enquanto cai para 30 a 40% em maiores de 60 anos9. Nichol e Goodman10 (1999) relatam redução nas hospitalizações por pneumonia e influenza nos idosos entre 65 e 74 anos, principalmente entre os indivíduos com alguma co-morbidade prévia. Devido à gravidade da pneumonia em pacientes com idade superior a 60 anos e ao aumento taxa de mortalidade nessa faixa etária, a prevenção da pneumonia do idoso é de extrema importância em saúde pública. Nesse trabalho será avaliada a relação existente entre a vacinação anti-influenza e as taxas de morbimortalidade por pneumonia em indivíduos com 60 anos ou mais, em Aracaju (SE), no período de 1998 a 2010. Foi verificado o comportamento desses coeficientes durante o período mencionado, para avaliar se de fato a vacina contra a gripe exerce impacto positivo sobre a saúde da população idosa da cidade de Aracaju (SE). MÉTODOS Trata-se de um estudo ecológico descritivo. Os dados populacionais foram obtidos a partir do DATASUS, os de morbimortalidade do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde - SIH-SUS11 e os de imunização do Sistema de Avaliação do Programa de Imunizações – API11. Foram coletados dados referentes aos anos de 1998 a 2010, que diziam respeito a imunizações e internações (com o respectivo desfecho: óbito ou não óbito) no município de Aracaju (SE). Todas as informações são referentes a pessoas com idade acima de 60 anos, de ambos os sexos. As estimativas da população idosa residente no município de Aracaju foram obtidas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no site do Ministério da Saúde11. Os idosos foram classificados segundo sexo e 316 Geriatria & Gerontologia em três grupos etários; 60 a 69 anos, 70 a 79 anos e 80 e mais anos. Esses dados foram a base para o cálculo de taxa de internação hospitalar por pneumonia por 10 mil habitantes e taxa de mortalidade por pneumonia por 10 mil habitantes. A avaliação da doença respiratória (pneumonia) foi realizada por ser essa a principal complicação da influenza em maiores de 65 anos4. Finalmente, cabe ressaltar que o presente estudo é um sub-projeto da pesquisa intitulada “A cobertura assistencial das equipes de saúde da família e as internações por condições sensíveis à atenção ambulatorial, em Aracaju”, que foi submetida ao comitê de ética da UFS, com parecer favorável em 09/12/2008 (CAAE 0124.0.107.000-08) RESULTADOS Em Aracaju, entre a população de 60 anos e mais de idade, foram notificadas ao SIH/SUS, entre 1998 e 2010, um total de 2229 hospita- lizações por pneumonia. O número de mortes por pneumonia no mesmo período e segmento populacional foi de 575. A média do coeficiente de mortalidade pela causa estudada, nesse mesmo período foi de 10,37 (por 10 mil habitantes) entre a população idosa. Esse indicador apresentou comportamento flutuante durante a série de estudo (Gráfico 1), porém se manteve durante a maior parte do tempo decrescente (1998 a 2002, 2005 a 2007 e 2009 a 2010). Do primeiro ao último ano da série houve um aumento de 11,48% no coeficiente de mortalidade. A faixa etária que mais contribuiu para esse valor foi o grupo com mais de 80 anos de idade (Gráfico 2). Vale ressaltar que a população idosa cresceu num ritmo bem maior (87,8%) que o da população total (29,8%), no período observado (Tabela 1). Em oposição à curva do coeficiente de mortalidade, a curva do coeficiente de internação pela mesma causa, durante o período citado, comportou-se nitidamente de forma decrescente com o passar dos anos Gráfico 1. Coeficiente de mortalidade por pneumonia (por10 mil habitantes de 60 anos e mais). Aracaju (SE), de 1998 a 2010. 317 Vacina anti-influenza pneumonia em idosos Gráfico 2. Coeficiente de mortalidade por pneumonia (por10 mil habitantes na idade) segundo faixa etária. Aracaju (SE),de 1998 a 2010. Tabela 1. Estimativa da população maior de 60 anos segundo o ano e faixa etária. Aracaju (SE). Ano Idade 60 |- 70 Sub total 70 |-80 80 e + % crescimento Total % crescimento 60 e + 1998 15323 8529 3780 27632 1 440074 1 1999 15514 8634 3827 27975 1,2 445555 1,2 2000 17563 10092 4708 32363 17,1 461534 4,9 2001 17820 10240 4777 32837 18,8 468296 6,4 2002 18037 10364 4835 33236 20,3 473990 7,7 2003 18257 10491 4894 33642 21,8 479767 9,0 2004 18476 10617 4953 34046 23,2 485531 10,3 2005 18974 10903 5086 34963 26,5 498618 13,3 2006 19228 11049 5154 35431 28,2 505287 14,8 2007 23670 11921 5930 41521 50,3 511891 16,3 2008 25777 12761 6363 44901 62,5 536785 22,0 2009 27139 13252 6589 46980 70,0 544039 23,6 2010 29571 14585 7731 51887 87,8 571149 29,8 Fonte: Datasus, 2012. 318 Geriatria & Gerontologia (Gráfico 3), mesmo com o aumento da população idosa. Observou-se um decréscimo de 47% nas taxas de hospitalização durante período observado. A média do coeficiente de internação foi de 43,92 (por 10 mill habitantes). Da mesma forma, a faixa etária de 80 anos e mais foi a principal contribuinte para esse valor (Gráfico 4). Gráfico 3. Coeficiente de internação hospitalar por pneumonia (por 10 mil hab de 60 anos e mais).. Aracaju (SE),de 1998 a 2010. Vacina anti-influenza pneumonia em idosos Quando se analisa a distribuição das internações por pneumonia segundo o sexo, e o respectivo desfecho, observa-se que ela é mais frequente entre as mulheres, grupo no qual ocorreram um maior número de óbitos hospitalares. A vacina anti-influenza foi instituída no Brasil, destinada à população idosa, no ano de 1999. Percebe-se que as taxas de internação por pneumonia se reduzem significativamente a partir desse ano. Durante toda a série estudada, a cobertura vacinal na cidade de Aracaju com anti-influenza manteve-se acima dos 75%, o que é considerado um valor satisfatório. Chegou-se a atingir valores superiores a 95% em 4 anos do período estudado. Discussão Gráfico 4. Coeficiente de Internação por pneumonia (por10 mil habitantes na idade) segundo faixa etária. Aracaju (SE), de 1998 a 2010. Esse estudo apontou que dados contidos no DATASUS e SIH – SUS podem ser agrupados para fornecer uma oportuna avaliação acerca do impacto da vacinação contra a gripe na mortalidade e hospitalização por pneumonia em idosos. Os resultados do presente estudo demonstram que a pneumonia ainda configura-se uma importante causa de internação e mortalidade hospitalar entre a população idosa em Sergipe. Segundo Fein12 (1994), a incidência da pneumonia aumenta com a idade, de 1/1000 para 12/1000 em pessoas com idade superior a 75 anos. Simetricamente, no presente estudo, observou-se que houve um aumento da incidência de pneumonia com o aumento da idade. Isso pode ser explicado pela fragilidade orgânica que é própria dos indivíduos mais velhos. Tornam-se, então, mais suscetíveis a infecções instaladas por patógenos, o que explica o fato de ser este o grupo alvo da campanha nacional de vacinação contra a gripe. A pneumonia, principal complicação da gripe, é fator preocupante. Ela representa a 319 maior causa de morte por doenças infecciosas no mundo, apesar de todo o avanço na área médica e social no decorrer do século e a disponibilidade de novos antibióticos. Ela é a sexta causa de morte nos EUA e a quinta no Brasil, na população idosa13. Com a incorporação da vacina antiifluenza em 1999, os indicadores de morbimortalidade hospitalar em idosos têm, desde então, se alterado. Através da prevenção de eventos de gripe em idosos espera-se diminuição dos números de internações e mortalidade por pneumonia no grupo. O presente estudo aponta para um discreto aumento no final do período para a mortalidade hospitalar por pneumonia em idosos. Esse fato pode ser consequência da melhoria na notificação, da elevação do número de idosos em Sergipe, bem como do aumento da expectativa de vida desse grupo, já que a faixa etária de 80 anos e mais foi a que mais contribuiu para o aumento do coeficiente de mortalidade por pneumonia. Porém, durante a maior parte do período observado, o coeficiente de mortalidade encontra-se em queda, o que pode ser resultado da melhoria da cobertura vacinal nesses intervalos. É importante lembrar que os indivíduos com condição clínica prejudicada ficam mais sujeitos ao óbito por influenza antes do desenvolvimento da pneumonia, ou mesmo a pneumonia não de diagnosticada em tempo oportuno, já que os sintomas em idosos são mais brandos que o comum. Dados do ministério da saúde mostram que o coeficiente de mortalidade entre idosos por causas relacionadas a influenza no Brasil foi de 30,3/10.000 idosos no período entre 1992 e 200614. Também de acordo com o Ministério da Saúde15, a vacina contra influenza reduz mais de 50% das doenças relacionadas à gripe nos idosos vacinados e, no mínimo, 32% das hos- 320 Geriatria & Gerontologia pitalizações por pneumonias. Quanto aos óbitos entre idosos, por diversas causas, o percentual de queda varia entre 27% e 30%. A vacina antiifluenza exerceu impacto positivo no que diz respeito a internações por pneumonia no estado de Sergipe. O coeficiente de internação hospitalar por pneumonia diminuiu dos anos de 1998 a 2010, embora se tenha observado o aumento do número de idosos na mesma época. Quando as taxas de internação analisadas por faixa etária verificou-se que as internações por pneumonia cresceram com o aumento da faixa etária, o que nos leva a supor que a eficácia da vacina antiinfluenza pode diminuir sua eficácia com o aumento da idade. As taxas internação por doenças respiratórias, em São Paulo, demonstraram tendência à queda como mostrou o trabalho de Francisco et al16 (2004). Vários autores têm concordado que analisar a frequência de hospitalizações é uma maneira mais eficaz de se estimar a morbidade causada pela influenza, superando até a análise das medidas de mortalidade16. Desde que foi iniciada a campanha, vários estudos já observaram redução nas internações por complicações da gripe. Prass et al17 (2010) acompanharam grupos de idosos, vacinados e não vacinados, durante 6 meses e observaram que efeito protetor da vacina contra gripe em 80% e 90% contra hospitalização quando comparados com os idosos não vacinados. Kau et al18 (2011) demonstraram que a vacina contra influenza reduziu significamente as hospitalizações por doenças respiratórias em 17 – 39%. No entanto, alguns autores ainda consideram questionável a eficácia da vacina na prevenção de episódios de pneumonia bem como a diminuição da sua gravidade. Hottes et al19 (2011) afirma que as estimativas sobre a proteção da vacina contra influenza sofrem diversos vieses que tendem a superestimar sua proteção. Já Jackson et al20 (2008) afirmaram que a vacinação de influenza não se associou a um risco reduzido de pneumonia adquirida na comunidade. Remarque21 (1999) mostrou que a indução de anticorpos pela vacina antiinfluenza não é sempre ótima nos idosos, podendo esta menor eficácia ser devida a fatores múltiplos, que incluem estado de saúde e exposição prévia ao vírus da influenza. Em concordância com outros estudos, as internações por pneumonia foram mais freqüentes em mulheres, grupo no qual também ocorre o maior número de óbitos pela mesma causa. O estudo apresenta algumas limitações. A ausência da descriminação de quem são os sujeitos vacinados e os não vacinados, fato que possibilitaria melhor análise do efeito da vacina ant-iinfluenza. A análise da pneumonia unicamente pode não retratar com fidelidade o real impacto da influenza na comunidade. Salvo tais considerações, o presente estudo reafirma a importância da vacinação anti influenza nas pessoas acima de 60 anos, como medida eficaz de melhoria da qualidade de vida. Buscou-se uma visão geral do comportamento dos índices de mortalidade e internações por pneumonia no período pós-vacina. Uma análise comparativa com anos anteriores à sua introdução pode revelar com maior nitidez o positivo impacto dessa medida na saúde desse segmento populacional. Ficou claro que as taxas de internação por pneumonia em idosos reduziram consideravelmente durante os anos seguintes à implantação da vacina antiinfluenza. O discreto aumento no final do período do coeficiente de mortalidade encontrado neste estudo pode ser reflexo do aumento da população idosa, do aumento da expectativa de vida desse segmento populacional ou ainda da melhoria no processo de notificação. Vacina anti-influenza pneumonia em idosos Embora a pneumonia seja ainda importante causa de morbimortalidade entre paciente as maiores de 60 anos, em todo o mundo, a prevenção de episódios de gripe resulta em melhoria da saúde do idoso. Reafirma-se a importância de crescentes investimentos de saúde no intuito de otimizar a cobertura vacinal, alcançando maior cobertura vacinal dos idosos de Aracaju - SE, haja vista seu positivo impacto sobre a saúde dos mesmos. REFERÊNCIAS 1. Dodet B. Immunity in the elderly. Vaccine. 2000;18 (16):1565 2. Nordin J, Mullooly J, Poblete S, Strikas R, Petrucci R, Wei F et al. Influenza Vaccine Effectiveness in Preventing Hospitalizations and Deaths in Persons 65 Years or Older in Minnesota, New York, and Oregon: Data from 3 Health Plans. Infect Dis. 2001; 184: 665-70. 3. Gomes L. Fatores de risco e medidas profiláticas nas pneumonias adquiridas na comunidade . J Pneumol. 2001;27:97-114. 321 10. Nichol KL, Goodman M. The health and economic benefits of influenza vaccination for healthy and at-risk persons aged 65 to 74 years. Pharmacoeconomics. 1999;16:63-71. 11. Brasil. Ministério da Saúde. DATASUS. Informações de saúde. 2012. Disponível em http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/ index.php?area=02 (Acessado em 20/Jan/2012) 12. Fein AM. Pneumonia in the elderly: Special diagnostic and therapeutic considerations. Med Clin North Am. 1994; 78 (5): 1015-1033. 13. Almeida JR, Ferreira Filho OF. Pneumonias adquiridas na comunidade em pacientes idosos: aderência ao Consenso Brasileiro sobre pneumonias. J Pneumol. 2004;30(3):229-36. 14. Daufenbach LZ, Campagna AS, Duarte EC. Morbidade hospitalar por causas relacionadas à influenza em idosos no Brasil, 1992 a 2006. Epidemiol Serv Saúde. 2009;18(1):29-44. 15. Brasil. Ministério da Saúde. Portal da Saúde. [Texto online]. Disponível em http://portal.saude.gov.br/portal/saude/Gestor/ visualizar_texto.cfm?idtxt=28476. (Acessado 10/Set/2011) 4. Loeb M. 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Lancet. 2008; 372(9636):398-40. 21. Remarque EJ. Influenza vaccination in elderly people. Exp Gerontol. 1999; 34:445-52. Artigo Original Perfil do idoso assistido pela Estratégia de Saúde da Família no Município de Botucatu-SP The profile of the elderly assisted by the Family Health Strategy in Botucatu-SP Caio Cavassan de Camargo1, Aryana Baptista Pintscher2, Selma Horie Arakaki3 e Wilza Carla Spiri4 RESUMO Departamento de Enfermagem, Faculdade de Medicina de Botucatu,UNESP - Botucatu São Paulo, Brasil. 1-4 Considerando os aspectos do envelhecimento: alterações fisiológicas, cronológicas, de comportamento social e sustentabilidade saudável, além da “Política de Saúde do Idoso”, objetivamos relatar experiências nas Unidades de Saúde da Família do município de Botucatu, e analisar aspectos do cuidado ao idoso. Foram realizadas investigação e a descrição dos dados quantitativos. Observou-se número significativo de idosos nas unidades, em proporções similares de homens e mulheres. O total de idosos, em relação à área atendida, é maior no bairro Jardim Iolanda. Os dados demonstraram que, apesar dos idosos formarem parte significativa dos atendimentos, não há a disponibilidade de formulários específicos. Concluiu-se, então, ser necessário treinamento dos profissionais e promotores da saúde para oferecer melhores opções para o cuidado ao idoso. Descritores: saúde da família, políticas de saúde, idoso. ABSTRACT Considering the aging aspects: physiological changes, chronological, social behavior, healthy support, beyond of “Heath Eldery Policies”, to give prominence to “Heath Family Strategy” created in 1994, we aimed to describe the experiences in the Health Family Units of Rubião Jr’s district and Jd. Iolanda’s neighborhood, Botucatu city, and analyze datas which express aspects of taking care of the elderly assisted. For this, it was done an investigation and protocol analyzes of described and amounted statistics data coming from them we create some graphics of elderly who lives at the studied catchment areas. There was a significant number of elderly in unities who showed similar proportion of man and woman and the total number of elderly, involved the attended area is bigger at Jd. Iolanda’s neighborhood. The data shows that despite elderly take significant part of treatments, there isn’t available form specific. To conclude, it is necessary a revaluation of values of health professionals and promoters to count on with better options to elderly take care. Keywords: Family Health, Health Policy, Aged. Endereço para correspondência: 1Rua Lourenço Carmello, 955. Jardim Paraíso. Botucatu/SP CEP: 18610-265. Tel. (14) 3354-8174. 2-4End.: Departamento de Enfermagem.Distrito de Rubião Junior s/n Botucatu/SP Perfil do idoso assistido pela Estratégia de Saúde da Família no Município de Botucatu-SP INTRODUÇÃO A Organização das Nações Unidas (ONU) considera idoso em países desenvolvidos a idade de 65 anos ou mais e, em países em desenvolvimento, como o Brasil, a idade considerada é de 60 anos ou mais, definidas assim em 1982, por meio da Resolução 39/125, durante a Primeira Assembléia Mundial da ONU sobre o Envelhecimento da População.(1,2) O envelhecimento da população brasileira é uma realidade que se apresenta de forma crescente. De 1999 a 2009 houve um incremento de 3,1 anos, elevando para 73,1 anos a expectativa de vida ao nascer, fazendo com que seja fundamental a adoção de políticas e medidas específicas de assistência social e de seguridade da saúde para faixa etária acima dos 60 anos, que proporcione principalmente a prevenção de doenças crônico-degenerativas, visando à autonomia dessa população. (3,4) Em 2009, havia no Brasil cerca de 21 milhões de idosos, sendo que entre 1999 e 2009, o percentual da população com 60 anos ou mais passou de 9,1% para 11,3%. Estima-se ainda que até 2025 haverá 34 milhões de idoso no país que passará a ocupar o 6º lugar no ranking de países com maior número de idosos no mundo.(4-6) Nas últimas décadas, o aumento da população idosa deixou de ser um traço exclusivo de países desenvolvidos, visto que mais da metade destes está em países em desenvolvimento, isso se deve principalmente aos avanços científicos e tecnológicos, das melhores condições de higiene e saneamento básico, que reduziram, por exemplo, as mortes por doenças infectocontagiosas.(1) No Brasil, em janeiro de 1994, pela lei federal nº 8.842, foi implantada a Política Nacional de Saúde do Idoso, criando o 323 Conselho Nacional do Idoso e outras providências como normas para os direitos sociais dos idosos, garantindo autonomia, integração e participação efetiva destes na comunidade. Assim, órgãos e entidades do Ministério da Saúde (MS) têm o compromisso de elaborar, programas e atividades a fim de que suas ações satisfaçam às diretrizes e responsabilidades estabelecidas, como, promover o envelhecimento saudável, apoiar o desenvolvimento de estudos e pesquisas direcionados a este grupo populacional, entre outras.(7-10) O Estado tem papel de responsabilidade na promoção, proteção e recuperação da saúde do idoso nos três níveis de gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), por ações, como, otimização do suporte familiar que se baseia principalmente na atenção à família e no acesso à saúde básica, em especial dos que se encontram em áreas de estratégia de saúde da família (ESF), que devem estabelecer o vínculo do sistema de saúde com áreas de maior carência.(7-10) Em 1994, foi criada a ESF pelo MS, baseada nos princípios da universalização do acesso, integralidade e descentralização do cuidado e da participação popular do SUS, a fim de reorganizar o modelo tradicional de saúde a partir da atenção primária.(8) No que tange à população idosa, a proximidade e o vínculo com a unidade de saúde facilitam o cuidado do profissional, que conhece a realidade, o contexto ambiental e identifica fatores que possam interferir na saúde desses indivíduos. Desse modo, possibilita o planejamento conjunto para desenvolver ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, além de sua participação ativa e construtiva na comunidade, garantindo qualidade de vida e bem-estar, não apenas o aumento da longevidade.(8) 324 Geriatria & Gerontologia Atualmente, um dos fatores mais debilitantes entre os idosos são as doenças crônico-degenerativas, o que os classificam como grandes consumidores de serviços de saúde e de medicamentos.(7,8,11) Estudos populacionais demonstram que mais de 8,1% dos idosos apresentam pelo menos uma doença crônica, sendo a hipertensão arterial referida por 61,0% destes, e não possuir doença por apenas 5,5%. (7,8,11) O aumento do consumo de medicamentos tem mostrado íntima relação entre sexo feminino e a maior idade. Feliciano et al.(7) mostraram que o uso regular de medicamentos foi de 67,0% entre idosos, com maior taxa entre o público feminino, 74,0%, quando comparado ao masculino que foi de 60,0%, o que poderia ser explicado pela maior busca dos serviços de saúde pelas mulheres.(1,11) Lessa(12), demonstrou rápido crescimento da mortalidade por doenças cérebro-vasculares nos idosos, principalmente nas regiões mais pobres do Norte e Nordeste do Brasil, pois as pessoas com pior situação econômica estão mais desprotegidas e expostas ao risco de adoecer. As doenças crônicas são um fator agravante de incapacidade funcional, que tem como aspectos preventivos atividade física, uso correto de medicamentos e vigilância dos próprios problemas de saúde, e a falta de autonomia e analfabetismo, aumentam a dificuldade de acesso e adesão às propostas dos serviços de saúde.(7) Segundo Silvestre et al.(8), 40% dos idosos necessita de ajuda para realizar pelo menos uma atividade instrumental diária, e 10%, para realizar tarefas básicas, como ir ao banheiro ou se alimentar. Feliciano et al. (7) mostraram taxas de 23,6% para completa independência e de 13,7% para dependência parcial ou to- tal para mais de sete atividades da vida diária, sendo mais comum em mulheres, com 16,0%. Parahyba et al.(2), compreendendo a incapacidade funcional como processo progressivo, adotaram escala composta por três parâmetros: a) grave: dificuldade para alimentar-se, tomar banho e ir ao banheiro, ou seja, atividades de vida diária básica b) moderada: dificuldade para caminhar mais de 100 metros c) leve: dificuldade para caminhar mais de um quilômetro. O sedentarismo pode estar intimamente relacionado à maior dependência na realização das atividades de vida diária, sendo importante o destaque do incentivo e práticas de recreação e lazer a fim de diminuir o isolamento social, promover o desenvolvimento de habilidades e, conseqüentemente, melhorar a auto-estima, condição e qualidade de vida dos idosos.(7) No município de Botucatu, no ano de 2003, as Unidades Básicas de Saúde (UBS), localizadas nos bairros Jardim Iolanda, Rubião Junior, Jardim Aeroporto, Jardim Santa Eliza, Vitoriana, César Neto e Parque Marajoara foram transformadas em ESFs. Botucatu apresentava, em 2008, população de 128.397 habitantes, com taxa de crescimento absoluto de 16,1% desde 1991, embora apresentasse taxa de crescimento geométrico decrescente nos últimos 20 anos (mediana de 2,3%).(13-15) Portanto este estudo tem por objetivo comparar as experiências do cuidado ao idoso nas Unidades de Saúde da Família de Rubião Júnior e do Jardim Iolanda, no município de Botucatu e ainda determinar o número de idosos residentes por microárea de abrangência das unidades, além de caracterizá-los quanto as faixas etárias mais prevalentes. Perfil do idoso assistido pela Estratégia de Saúde da Família no Município de Botucatu-SP MÉTODOS Tipo de pesquisa Trata-se de relato de experiência por meio da apresentação de dados quantitativos disponibilizados nas Unidades de Saúde da Família. Cenário da pesquisa O trabalho foi desenvolvido em Botucatu, município localizado na região Centro – Oeste do Estado de São Paulo, através de um estudo de prevalência e caracterização populacional de indivíduos pertencentes à faixa etária sessenta anos ou mais, residentes neste, no ano de 2008. A partir do final do ano de 2003, no município de Botucatu, Unidades de Saúde da Família (USF) foram criadas e Unidades Básicas de Saúde (UBS), transformadas em tal, resultando em USFs localizadas nos bairros Jardim Iolanda, Rubião Junior, Jardim Aeroporto, Jardim Santa Eliza, Vitoriana, César Neto e Parque Marajoara.(13) O município de Botucatu apresentou, em 2000 uma população de 108.118 habitantes, com taxa de crescimento absoluto de 16,05% desde 1991, com 90.761 habitantes, embora apresentando taxa de crescimento geométrico decrescente nos últimos 20 anos, mediana em 2,34%.(13) A distribuição por grupos de idade de 1980 a 2000 indica que proporcionalmente há um decréscimo na faixa etária de 0 a 14 anos e um crescimento, principalmente acima dos 60 anos, resultando em um estreitamento na base e alargamento no ápice da pirâmide populacional.(13) No que se refere à proporção de óbitos de 50 anos e mais, a média municipal encontra-se acima de 75%, o que indica boas condições de saúde, porém, quando subdividida em suas diferentes regiões, as que abrangem o Jardim Santa Eliza (37,5%), Jardim Iolanda (57,1%), 325 Jardim Aeroporto (68,8%) são as representantes dos piores valores, visto que seus dados se remetem apenas aos últimos 4 anos. Já, no que se refere ao motivo de óbito, segundo classificação do DSM, às correspondentes de doenças do Aparelho Circulatório, esta com taxas de 82,4% na população com 60 anos ou mais e de 42,3% no sexo feminino, neoplasias e causas externas são as de maior incidência populacional .(13) Jóia et al.; em estudo realizado em Botucatu, perceberam que dos entrevistados, 59,7% dos idosos eram do sexo feminino. A maioria dos idosos de sexo masculino estava casada (76,9%), enquanto que no sexo feminino essa proporção foi de 43,6%. Houve predominância de idosos aposentados (61,9%), e destes, 18,4% ainda permaneciam no mercado de trabalho. Apenas 26,8% possuíam escolaridade acima de quatro anos e somente 9,3% deles completaram o curso superior. Apesar disso, 43,6% desses idosos se disseram satisfeitos com sua escolaridade.(16) O trabalho foi desenvolvido, no ano de 2008, em Botucatu, município localizado na região Centro – Oeste do Estado de São Paulo, pelo estudo de prevalência e caracterização populacional de indivíduos pertencentes à faixa etária de 60 anos ou mais, residentes nas áreas de abrangência das ESFs localizadas nos bairros Jardim Iolanda e Rubião Junior. Quanto à observação sistemática dos serviços, podemos descrever as unidades de Rubião Junior e Jardim Iolanda, respectivamente: A ESF de Rubião Junior é formada por duas equipes, uma rural e outra urbana, composta por: •Área rural: 1 enfermeira, 1 médica, 2 auxiliares de enfermagem, 6 Agentes comunitários de Saúde (ACS); •Área urbana: 1enfermeira, 1 médica, 6 auxiliares de enfermagem, 8 ACS; e 326 Geriatria & Gerontologia •Em conjunto: 2 auxiliares administrativos, 2 dentistas, 2 auxiliares de dentista, 2 auxiliares da limpeza, grupo e consulta de saúde mental nas manhãs de terça-feira, alunos do IUSC, internos, residentes (enfermeira e psicólogo) e estagiários. Quanto às rotinas da Unidade, segue-se: a recepção onde seu prontuário é separado e destinado aos profissionais; pré- consulta, em caso de consulta agendada, para adulto, é aferido peso, altura, pressão arterial, circunferência de abdômen e quadril e temperatura se necessário do paciente; para criança, é-lhe aferido peso, comprimento, perímetro cefálico e temperatura se necessário; então o paciente aguarda até ser atendido pelo profissional destinado. Em casos de pacientes não agendados que procuram a unidade após as 8 horas, a rotina é a mesma para pacientes eventuais, sendo importante salientar que, positivamente, todos os pacientes “não-agendados” são atendidos no dia. Após o atendimento ou procedimento (medicação, inalação, vacinação, coleta, etc) o paciente é encaminhado à farmácia e a pós-consulta para a retirada de medicamentos prescritos, marcação de exames e retornos agendados. Vê-se que idosos são acompanhados de forma similar aos adultos, englobando-os em um mesmo grupo em todas as rotinas da unidade. No que se refere às visitas domiciliares, embora com a participação de toda a equipe, percebe-se que há impressos específicos somente para crianças de até 2 anos, gestantes, hansênicos e tuberculosos, inexistindo um tanto para a saúde do adulto quanto para a do idoso. O diferencial existente na Unidade se refere à existência do projeto “posto- -volante” para a equipe rural, realizado às quartas-feiras, em que médico, enfermeiro, auxiliar de enfermagem e ACS deslocam-se para sítios de regiões distantes a fim de atender a população local que tem dificuldade de deslocamento para a Unidade. As casas, emprestadas por seus proprietários, transformam-se em uma unidade de saúde adaptada, envolvendo suas rotinas desde a pré-consulta até pós-consulta e farmácia. A ESF Jardim Iolanda é composta por uma equipe de saúde composta por: •1 enfermeiro; 1 médico; 4 auxiliares de enfermagem; 1 auxiliar de serviços gerais; 1 auxiliar administrativo; 7 agentes comunitários; 1 dentista; 1 auxiliar de dentista; eventualmente, grupos de internos de medicina e estagiários de enfermagem; 1 grupo de saúde mental; alunos do IUSC; e residentes multiprofissionais. Quanto a forma de acolhimento, esta acontece de modo bem semelhante a USF de Rubião Junior, sendo que as diferenças se fazem nas visitas domiciliares em que há um roteiro de avaliação de idosos, mas que, devido a sua extensão e pela falta de recursos humanos disponíveis para sua aplicação a todos os idosos, ainda não foi implementado. Em formas de grupo, a ESF realiza o Grupo HIPERDIA para avaliação de Hipertensos e Diabéticos, além de fornecer informações sobre diferentes temas que podem ser sugeridos pelos próprios pacientes. Há também, Oficina de Flores para pacientes psiquiátricos terem oportunidade para falar sobre si e como se sente com relação aos outros, Grupo de Resultados de Exames e um Grupo de cuidado da Horta Medicinal. De um modo similar aos demais adultos, os idosos são atendidos de forma rotineira, sem outros impressos específicos Perfil do idoso assistido pela Estratégia de Saúde da Família no Município de Botucatu-SP 327 Procedimento de coleta de dados RESULTADOS A coleta de dados foi realizada, pelo autor principal, nas ESFs, de Rubião Júnior e do Jardim Iolanda, em que foram investigados os protocolos existentes para quantificar e caracterizar o perfil dos idosos, além da consulta aos prontuários médicos e pelo sistema de informações do município de Botucatu. Eram atendidos em 2008, 741 pacientes acima de 60 anos nas duas ESFs, cujas divisões por microáreas e por faixas etárias foram demonstradas nos gráficos de 1 a 4. Na ESF de Rubião Júnior existem 14 microáreas sendo 8 urbanas e 6 rurais, já na ESF do Jardim Iolanda existem apenas as 7 urbanas. Gráfico 1. Indivíduos com 60 anos ou mais atendidos em Rubião Júnior, segundo microáreas (M) urbanas e rurais, 2008. Gráfico 2. Indivíduos com 60 anos ou mais atendidos no Jardim Iolanda, segundo microáreas urbanas, 2008. Gráfico 3. Distribuição dos 446 idosos atendidos em Rubião Júnior e no Jardim Iolanda, segundo faixa etária e sexo, 2008. 328 Geriatria & Gerontologia Gráfico 4. Distribuição dos 295 idosos atendidos em Rubião Júnior e no Jardim Iolanda, segundo faixa etária e sexo, 2008. Discussão Após a observação dos gráficos, vemos que o número de idosos em cada unidade é significativo, sendo que a ESF Iolanda segue os referenciais no que diz respeito à prevalência do sexo feminino o que não acontece com a ESF Rubião Jr. Em relação ao total de idosos cadastrados em cada ESF, observamos que em Rubião Jr. o número é maior, porém esse número quando dividido entre as duas equipes existentes nesta unidade, rural e urbana, nota-se que Jd. Iolanda apresenta-se mais abundante. Ao analisar os grupos em cada faixa etária vamos de encontro ao referencial, quando este cita que as doenças crônico-degenerativas e conseqüente mortalidade tendem a aumentar com o avançar da idade. Apesar disso, quando comparadas, há uma maior longevidade em Rubião Jr. O envelhecimento populacional é, em geral, o resultado da mudança na queda da fecundidade e da mortalidade somado ao aumento da esperança de vida. Porém, mudanças heterogêneas influenciadas pela discriminação e exclusão associadas ao gênero, à etnia, ao racismo, às condições sociais e econômicas, à região geográfica de origem e à localização de moradia.(17) É imperativo que dois extremos sobre o envelhecimento sejam combatidos para o alcance da qualidade de atenção ao idoso pelos serviços de saúde: a idéia de que todas as alterações que ocorrem com a pessoa idosa sejam naturais e, no outro extremo, de que o envelhecimento seja tratado em totalidade como doença. Enfim, é imperativa a tomada de consciência de que é possível (re) descobrir formas de viver com qualidade junto a limitações.(17) Mesmo sendo baseada na interdisciplinaridade, vêem-se atividades ainda centradas no modelo biomédico. Além disso, o cuidado baseado na medicalização e na verticalização da assistência, como se somente os profissionais soubessem exatamente o que é melhor para o paciente, esquece-se dos contextos de vida e subjetividade deste.(9,17) Dentre os dispositivos da Política Nacional de Humanização, destaca-se o “Acolhimento”, definido como a disposição de atenção a todos os que procuram o serviço de saúde em todos os momentos, não só um espaço Perfil do idoso assistido pela Estratégia de Saúde da Família no Município de Botucatu-SP de ouvidoria de queixas com horário restrito e de condutas tomadas por profissionais de saúde, muitas vezes sem qualquer comunicação direta com o sujeito.(9,17) Destacamos com isso, entre diversas conseqüências mais, a titulação de objeto de trabalho para com esse sujeito, o desconhecimento das diretrizes da Estratégia de Saúde da Família, a ineficiência de uma gestão assistencial e a continuidade do ciclo “queixa – conduta de curto prazo – queixa”. Essas conseqüências são intensificadas com a população idosa, devido à própria cultura e conceito social do termo “envelhecimento”. Ainda observa-se um leque de justificativas para a não disposição de impressos específicos ou, quando existentes, impraticáveis. Embora instrumentos rápidos de avaliação da saúde do idoso, baseados nas especificidades da Estratégia de Saúde da Família, estejam dispostos facilmente a gestores e profissionais da saúde, como exemplo a Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa, que também serve de aparelho de cidadania e autoconhecimento para os usuários.(17) A falta de tempo ou de recursos humanos, como citadas acima, chega a ser discutível frente a outros vários impressos destinados a outros grupos populacionais. Talvez, o principal problema da falta de prática seria a não garantia de educação permanente ou a reprodução desses instrumentos. Importante destacar que um dos princípios gerais da Estratégia Saúde da Família, a qual, através do cadastramento familiar e dos diagnósticos situacionais de seu território, deve atuar para e com o indivíduo, família e comunidade em ações de todos os âmbitos de saúde. Ações que criem ambientes de apoio e promovam opções saudáveis são importantes em todos os estágios da vida e influenciarão o envelhecimento ativo.(17) 329 Talvez, o início da valorização da saúde do idoso esteja na quebra de tabus que tomem o envelhecimento como sinônimo de perdas, frustrações, dependências e proximidade à morte. Isso deve partir dos profissionais de saúde, que como educadores da sociedade, necessitam reavaliar seus valores para inseri-los nesta. A longevidade está relacionada à melhoria nas condições de atenção à saúde e de vida em países desenvolvidos. Porém, observa-se que em países em desenvolvimento, vem ocorrendo de forma rápida, sem uma adequada reorganização social e da área de saúde para atender às novas demandas. Ao avaliar as USFs, observamos um grande número de idosos e este tende a aumentar proporcionalmente a qualidade de vida e atenção que receberem. Na atual situação, ambas as unidades não têm um protocolo específico, nem um atendimento diferenciado para com estes em relação aos adultos, sendo que os mesmos apresentam demandas particulares como visto ao longo do estudo. De um modo geral os serviços de atenção não estão adaptados para uma atenção que veja o idoso como um todo. Tanto em relação aos recursos humanos quanto financeiros, havendo uma necessidade de capacitação dos profissionais para avaliação e cuidado específicos desta faixa etária. O acolhimento deve, portanto, implicar na relação “sujeito-sujeito”, com o “compartilhamento de saberes, necessidades, possibilidades e angústias constantemente renovados”. Isso envolve que as pessoas deixem de ser passivas e assim ocorra uma relação horizontal. No trabalho das equipes da Atenção Básica/Saúde da Família, as ações envolvendo os profissionais de saúde, a comunidade, as atividades de grupo, a participação das redes sociais dos usuários são recursos indispensáveis para atuação nas dimensões cultural e social dos idosos e seus contextos. 330 Geriatria & Gerontologia REFERÊNCIAS 1. Meireles VC, Matsuda LM, JAH, Mathias TAF. Características dos idosos em área de abrangência do Programa Saúde da Família na região noroeste do Paraná: contribuições para a gestão do cuidado em enfermagem. Saude Soc. [periódico na Internet]. 2007 Abr [acesso em: 2008 Jul 21]; 16(1): 69-80. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0104-12902007000100007&lng=en.doi: 10.1590/S0104-12902007000100007. 2. Parahyba MI, Veras R, Melzer D. Incapacidade funcional entre as mulheres idosas no Brasil. Rev. Saúde Pública [periódico na Internet]. 2005 Jun [acesso em: 2008 Ago 04]; 39 (3): 383-391. Disponível em: http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0034-89102005000300008&lng=en.doi: 10.1590/S0034-89102005000300008. 3. Mazza MMPR, Lefèvre F. A instituição asilar segundo o cuidador familiar do idoso. Saude Soc. [periódico na Internet]. 2004 Dez [acesso em: 2008 Jul 21]; 13(3): 68-77. Disponível em: http:// www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902004000300008&lng=en.doi:10.1590/S010412902004000300008. 4. Ferreira JVC. Os muitos idosos de São Paulo. [monografia na Internet]. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo; 2006 [acesso em:2008 Jul23]. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/6/6132/tde1022007174148/publico/JoseVicente.pdf 5. Instituto Brasileiro de Geográfia e Estatística. Sinteses de Indicadores Sociais de 2010(SIS 2010) Mulheres mais escolarizadas são mães mais tarde e têm menos filhos. Acessado em 06/09/11. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1717&id_pagina=1 6. Instituto Brasileiro de Geográfia e Estatística. Sinteses de Indicadores Sociais de 2010(SIS 2010) Aspectos demográficos; 27:9. 7. Feliciano AB, Moraes AS, Freitas ICM. O perfil do idoso de baixa renda no Município de São Carlos, São Paulo, Brasil: um estudo epidemiológico. Cad. Saúde Pública [periódico na Internet]. 2004 Dez [acesso em: 2008 Jul 23]; 20(6): 1575-85. Disponível em: http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0102-311X2004000600015&lng=en.doi: 10.1590/S0102-311X2004000600015. 8. Silvestre JA, Neto MMC. Abordagem do idoso em programas de saúde da família. Cad. Saúde Pública [periódico na Internet]. 2003 Jun [acesso em: 2008 Jul 23]; 19(3): 839-847. Disponível em: http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2003000300016&lng=en.doi:10.1590/S0102-311X2003000300016. 9. Porto M. 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Obesidade central e doenças em idosos Artigo Original Obesidade central e doenças não transmissíveis em servidores idosos de uma universidade federal Central obesity and non transmitted diseases in elderly servers from a university Poliana Cristina de Almeida Fonsêca1, Carolina Abreu de Carvalho1, Soraia Pinheiro Machado1, Alessandra Gaspar Sousa2 RESUMO Universidade Federal do Maranhão – São Luis, MA, Brasil. 2 Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Nutrição Humana da Universidade de Brasília – Brasília, DF, Brasil. 1 Objetivos: Avaliar a associação entre indicadores antropométricos de obesidade, generalizada e abdominal, e doenças não transmissíveis (DNT) em um grupo de idosos da Universidade Federal do Maranhão; investigar se há correlação entre esses indicadores. Métodos: Realizou-se estudo transversal com cinquenta servidores idosos de uma universidade federal. Os participantes responderam a um questionário contendo dados sociodemográficos e relativos à história de doenças não transmissíveis (DNT). A obesidade generalizada foi identificada com base no índice de massa corporal (IMC) e central, pelos indicadores antropométricos circunferência da cintura (CC), relação cintura/quadril (RCQ), relação cintura/estatura (RCEST) e índice de conicidade (IC). Para investigar associação entre obesidade, generalizada e abdominal, e o relato de DNT, utilizou-se o teste do qui-quadrado. A correlação entre o IMC e os indicadores de obesidade abdominal foi avaliada pelo coeficiente de correlação de Pearson ou Spearman. Adotou-se o nível de significância de 5%. Resultados: A gordura generalizada apareceu em 56% do grupo, e a abdominal mostrou-se ainda mais prevalente, de acordo com os indicadores CC (76%), RCE (86%) e IC (86%). A história de DNT foi relatada por 52% dos servidores, sem associação com a obesidade (p > 0,05). Apenas os indicadores CC e RCE mostraram-se correlacionados com o IMC (p < 0,05). Conclusão: As elevadas proporções de obesidade, especialmente aquela localizada na região abdominal, colocam o grupo em risco para desenvolver ou agravar as DNT já existentes, devendo, portanto, ser alvo de ações de promoção de práticas alimentares e estilo de vida saudáveis. Palavras-chave: Idoso, obesidade abdominal, antropometria. ABSTRACT Objectives: Evaluating the association between anthropometric indicators of general and abdominal obesity, and non-communicable diseases (NCDs) in an elderly group from the Federal University of Maranhão, and investigating the correlation between these indicators. Methods: There was a cross-sectional study with 50 older servers on pre-retirement. The participants answered a questionnaire about sociodemographic data and history of noncommunicable diseases (NCDs). The general obesity was identified based on body mass index (BMI) and the abdominal obesity by anthropometric indicators by waist circumference (WC), waist-hip ratio (WHR), waist-height (WHtR) and conicity index (CI).In order to investigate the association between obesity, the generalized and abdominal , and the reporting of NCDs, the chi-square test was used. The correlation between BMI and indicators of abdominal obesity was evaluated by Pearson’s or Spearman’s correlation coefficient or by. Results: General fat was shown in 56% of the group, and the abdominal fat was even more prevalent, according to the indicators: WC (76%), WHtR (86%) and CI (86%) The history of NCDs was reported by 52% of the servers, but there was no association with obesity. Only CC and RCE indicators proved to be correlated with BMI (p> 0.05). Conclusions: The high rates of obesity, especially the one located in the abdominal region, put the group at risk of developing or aggravating NCDs, therefore, this should be a target to the actions of healthy eating habits and lifestyle promotion. Keywords: Aged, abdominal obesity, anthropometry. Endereço para correspondência: Poliana Cristina de Almeida Fonsêca - Rua Venezuela, Quadra 68, nº11, Bairro Anjo da Guarda. São Luís, Maranhão. CEP: 65085-000 Tel: (98) 9608-9520/ (98) 3228-3617 - E-mail: [email protected] INTRODUÇÃO A obesidade, especialmente aquela localizada na região central ou abdominal, é considerada importante fator de risco para doenças não transmissíveis (DNT), como diabetes mellitus (DM), hipertensão arterial sistêmica (HAS), doenças cardiovasculares (DCV) e alguns tipos de câncer.1 Com o progressivo crescimento da população idosa, observa-se uma mudança no perfil nutricional e epidemiológico, com aumento da prevalência das DNT e redução das doenças transmissíveis, principalmente nessa faixa etária.2,3 O sobrepeso e a obesidade também têm sido elevados na população idosa de diferentes países do mundo, inclusive no Brasil. O envelhecimento proporciona uma série de alterações, como a redistribuição e o aumento do tecido adiposo, que tende a acumular-se mais na região abdominal. Por isso, há controvérisas quanto à escolha de parâmetros antropométricos para a análise de obesidade em idoso.3-5 As diferentes formas de mensuração de adiposidade abdominal ou central têm tido destaque na literatura científica. Apesar de existirem técnicas mais acuradas e precisas, como a tomografia computadorizada (TC) e a imagem de ressonância magnética (IRM), as medidas antropométricas merecem destaque no contexto da prática clínica e nos estudos epidemiológicos, tendo em vista a sua melhor aplicabilidade, disponibilidade, inocuidade, baixo custo e alta correlação com métodos laboratoriais de avaliação da composição corporal.1,6 Entre os indicadores antropométricos utilizados para a avaliação da adiposidade central estão: circunferência da cintura (CC); relação cintura/quadril (RCQ); índice de conicidade (IC) e relação cintura/estatura (RCEst). 333 Embora diversos estudos tenham sido feitos no sentido de identificar o melhor indicador antropométrico de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas nas populações e, especialmente entre os idosos, em que a prevalência dessas afecções é ainda maior, os resultados ainda não são conclusivos.1,6,7 Nesse contexto, o presente estudo teve como objetivos: 1) avaliar a associação entre indicadores antropométricos de obesidade, generalizada e abdominal, e doenças não transmissíveis em um grupo de idosos, servidores de uma universidade federal; e 2) investigar se existe correlação entre esses indicadores. MATERIAIS E MÉTODOS Trata-se de um estudo transversal, realizado na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), no município de São Luís, Maranhão. Sua população foi constituída por servidores da Instituição, em período de pré-aposentadoria, ou seja, aqueles que já tinham tempo para se aposentar ou para os quais faltava menos de dois anos para aposentadoria. Segundo dados fornecidos pela Divisão de Qualidade de Vida da UFMA, o número de funcionários pré-aposentados, em agosto de 2010, totalizava 145 indivíduos. A amostra foi de conveniência e compreendeu cinquenta servidores pré-aposentados da UFMA, idosos (idade ≥ 60 anos), que frequentaram a instituição no período da coleta de dados em outubro e novembro de 2010, e que concordaram em participar da pesquisa mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram excluídos da amostra servidores com necessidades especiais que inviabilizassem a compreensão e o preenchimento do questionário, bem como a aferição das medidas antropométricas. Este estudo integra o trabalho de monografia intitulado “Perfil nutricional de servi- 334 Geriatria & Gerontologia dores em período de pré-aposentadoria da Universidade Federal do Maranhão”, que foi apresentado ao Curso de Graduação em Nutrição da UFMA e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da mesma instituição, sob o Protocolo n. 23115010062/2010-00. A pesquisa foi desenvolvida atendendo-se aos requisitos exigidos pela Resolução n. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS, 1996) e suas complementares para pesquisas envolvendo seres humanos. Todos os participantes receberam informações sobre os objetivos e procedimentos da pesquisa, bem como sobre a colaboração que se esperava deles. A coleta de dados foi realizada por acadêmicas do Curso de Nutrição, previamente treinadas, sob a supervisão da professora orientadora do estudo. O nome e setor dos servidores que estavam em período de pré-aposentadoria foram fornecidos à equipe de pesquisadores pelo Departamento de Recursos Humanos da UFMA. Os servidores foram procurados em seu próprio setor pela equipe responsável pela coleta de dados, não sendo necessário deslocar essas pessoas. Aplicou-se um questionário contendo dados demográficos e socioeconômicos (idade, sexo, renda e escolaridade), consumo de bebidas alcoólicas e cigarros e história de DNT. A classificação socioeconômica foi realizada de acordo com a Abep.8 Para aferição do peso, utilizou-se balança portátil digital da marca Camry®, com o indivíduo posicionado em pé, no centro da balança e descalço. A altura foi medida com um estadiômetro da marca Alturaexata®, com o indivíduo em pé, descalço, com os calcanhares juntos, as costas retas e os braços estendidos ao lado do corpo.9 De posse das medidas de peso e altura, foi calculado o IMC pela expressão: peso/altura² (kg/m²). Para classificação do estado nutricional pelo IMC, foram utilizados os pontos de corte estabelecidos por Lipschitz. 10 Para análise estatística, as categorias magreza (IMC < 22 kg/m2) e eutrofia (IMC ≥ 22 e ≤ 27 kg/m2) foram agrupadas em sem excesso de peso (IMC < 27 kg/m2). A circunferência da cintura foi medida no ponto médio entre a última costela e a crista ilíaca, com o paciente em pé, sendo a leitura feita no momento da expiração. A medida de circunferência do quadril foi realizada na região de maior perímetro entre a cintura e a coxa.9 Para essas medidas, fez-se uso de trena antropométrica flexível e inelástica. Os indicadores antropométricos utilizados para avaliar a gordura abdominal foram: circunferência da cintura isolada (CC), relação cintura/quadril (RCQ), relação cintura/ estatura (RCE) e índice de conicidade (IC). A RCQ e RCE foram calculadas pelas razões entre a CC (cm) e, respectivamente, a CQ (cm) e altura (cm). Para obter o IC, utilizou-se a seguinte equação:11 Índice de conicidade = Circunferência da cintura (cm) 0,109 x Peso corporal (kg) Altura (m) 335 Obesidade central e doenças em idosos Tabela1. Pontos de corte para identificar obesidade abdominal12-14 Indicador CC RCQ13 RCE14 IC14 12 Homens Mulheres ≥ 94 cm ≥ 0,90 ≥ 0,52 ≥ 1,25 ≥ 80 cm ≥ 0,85 ≥ 0,53 ≥ 1,18 Para identificar obesidade abdominal, foram adotados os pontos de corte descritos na Tabela 1.12-14 Os dados foram analisados no programa estatístico Stata, versão 10.0. Inicialmente foi realizada uma análise descritiva das variáveis, sendo as quantitativas descritas em médias ou medianas, desvios-padrão e valores mínimo e máximo, e as qualitativas, em frequências simples e percentuais. Testou-se a normalidade pelo teste de Shapiro Wilk. Para comparar as variáveis antropométricas, por sexo, foram utilizados os testes t de Student (dados paramétricos: RCE) e Mann-Whitney (dados não paramétricos: IMC, CC, RCQ e IC). Para investigar associação entre obesidade, generalizada (IMC) e central (CC, RCE, RCQ e IC), e o relato de DNT, utilizou-se o teste do qui-quadrado. Para comparar o estado nutricional do grupo, por sexo, utilizou-se o teste do qui-quadrado ou exato de Fischer. A correlação entre os indicadores antropométricos foi avaliada por meio do coeficiente de correlação de Pearson ou Spearman. Para todos os testes, adotou-se o nível de significância de 5%. RESULTADOS Entre os cinquenta servidores estudados, predominou sexo masculino (54%), alta escolaridade (60% havia concluído o ensino superior) e nível socioeconômico elevado (54% pertencia às classes A ou B). Quase metade (48%) dos idosos era casada, e a média de idade no grupo foi de 63,1 ± 2,49 anos (60 a 69 anos). As medidas descritivas dos indicadores antropométricos utilizadas para caracterizar o grupo são apresentadas na Tabela 2. Os homens apresentaram maiores médias de CC, RCQ e IC (p < 0,05). Entretanto, a proporção de obesidade abdominal por este indicador foi semelhante entre os sexos. Já para RCE e RCQ, os homens mostraram-se em situação de maior risco (Tabela 3). A gordura generalizada apareceu em 56% do grupo. Já a gordura abdominal, de acordo com os indicadores CC, RCE e IC, mostrou-se ainda mais prevalente (76%, 86% e 86%, respectivamente). Apenas quando se utilizou a RCQ, a proporção de obesidade abdominal (classe de risco) foi menor (42%) que a generalizada. A história de doenças não transmissíveis foi relatada por 52% da amostra, sendo que 16% apresentava duas ou mais afecções. Não houve diferença significativa entre homens e mulheres (p = 0,103). As doenças mais referidas foram: hipertensão arterial sistêmica (46%), diabetes mellitus (12%) e doença cardiovascular (4%). Na Tabela 4, são apresentadas as proporções de obesidade generalizada e abdominal, segundo a história de doenças não transmissíveis. Embora a proporção de risco pelo indicador RCE tenha parecido maior entre indivíduos com história de DNT, não houve significância estatística. Os resultados da análise da correlação entre os indicadores antropométricos são apresentados na Tabela 5. Apenas os indicadores 336 Geriatria & Gerontologia Tabela 2. Medidas descritivas das variáveis antropométricas entre servidores idosos da UFMA. São Luís, MA, 2010 Indicadores IMC (kg/m2) CC (cm) RCQ (cm) RCE IC Total (n = 50) Masculino (n = 27) Feminino (n = 23) M ± DP Vmín - Vmáx M DP M DP 28,09 ± 4,69 94,82 ± 11,84 0,93 ± 0,09 0,59 ± 0,07 1,30 ± 0,08 19,3 - 40,7 69 - 120 0,74 - 1,1 0,45 - 0,77 1,14 - 1,48 27,70 98,31 0,99 0,595 1,34 2,38 6,40 0,045 0,032 0,04 28,56 90,73 0 ,86 0,585 1,25 6,47 15,21 0,09 0,095 0 ,093 Tabela 5. Correlação entre os indicadores antropométricos de obesidade em servidores idosos da UFMA. São Luís, MA, 2010 p valor 0,5216 0,0113* 0,0000* 0,2548 0,0001* IMC = índice de massa corporal; CC = circunferência da cintura; RCE = relação cintura/estatura; RCQ = relação cintura/quadril; IC = índice de conicidade. *p < 0,05. Tabela 3. Classificação das variáveis antropométricas, segundo sexo, em servidores idosos da UFMA. São Luís, MA, 2010 Mulher Homem Indicadores antropométricos n % n p Total % N % IMC valor 0,615 Magreza 0 0 5 21,74 5 10 Eutrofia 11 40,74 6 26,09 17 34 Excesso de peso 16 59,26 12 52,17 28 56 CC 0,750 Menor risco 6 22,22 6 26,08 12 24 Risco elevado 21 77,78 17 73,92 38 76 RCQ 0,013* Baixo risco 20 74,07 9 39,13 29 58 Alto risco 7 25,93 14 60,87 21 42 RCE 0,002* Sem risco 0 0 7 30,43 7 14 Risco 27 100 16 69,57 43 86 IC 0,002* Sem risco 0 0 7 30,43 7 14 Risco 27 100 16 69,57 43 86 Total 27 100 23 100 50 100 Tabela 4. Proporção de obesidade geral (IMC) e abdominal (CC, RCE, RCQ e IC), segundo a história de doenças não transmissíveis em servidores idosos da UFMA. São Luís, MA, 2010. Indicadores antropométricos IMC CC RCE RCQ IC Total (n = 50) 337 Obesidade central e doenças em idosos Com história de DNT (n = 34) Sem DNT (n = 16) p valor N % N % n % 28 38 43 21 43 56,0 76,0 86,0 42,0 86,0 19 25 31 14 29 55,9 73,5 91,2 41,2 85,3 9 13 12 7 14 56,3 81,3 75,0 43,8 87,5 0,981 0,551 0,124 0,863 0,834 IMC = índice de massa corporal; CC = circunferência da cintura; RCE = relação cintura/estatura; RCQ = relação cintura/quadril ; IC = índice de conicidade; DNT = doenças não transmissíveis. Indicadores IMC CC RCQ RCE IC IMC CC RCQ RCE IC 1 0,8035 (p = 0,0000) 0,2258 (p = 0,1148) 0,8247 (p = 0,0000) 0,3134 (p = 0,267) 1 0,7130 (p = 0,0000) 0,8813 (p = 0,0000) 0,7972 (p = 0,0000) 1 0,5668 (p = 0,0000) 0,9074 (p = 0,0000) 1 0,6663 (p = 0,0000) 1 IMC = índice de massa corporal; CC = circunferência da cintura; RCE = relação cintura/estatura; RCQ = relação cintura/quadril ; IC = índice de conicidade. CC e RCE mostraram-se correlacionados com o IMC (p < 0,05). Todos os indicadores antropométricos de obesidade abdominal mostraram correlação entre si, sendo a mais fraca observada entre RCQ e RCE (0,5668) e a mais forte entre RCQ e IC (0,9074). Discussão A proporção de DNT referida pelo grupo de servidores idosos estudados foi elevada (52%), especialmente para a HAS (46%). Resultados semelhantes foram encontrados nos estudos de Cavalcanti et al.,15 Victor et al.,16 Pereira et al.17 e Azis et al.18, onde 82,1%, 85%, 76,8% e 95,7% dos idosos, respectivamente, afirmaram possuir alguma DNT. Os estudos15-17 também mostraram que a HAS é uma afecção bastante prevalente entre idosos (56,4%, 68,6% e 48,8%, respectivamente). Embora já esteja bem estabelecida na literatura a relação entre obesidade, generalizada e abdominal, e a prevalência de DNT19,20, esta não pôde ser observada no presente estudo. No entanto, notou-se uma tendência para maior proporção de obesidade abodminal, segundo a RCE, entre os portadores de DNT, embora não tenha sido confirmada pelos testes estatísticos (ver Tabela 4). Alguns estudos mostram que os indicadores antropométricos de obesidade abdominal são melhores para predizer risco coronariano elevado do que indicadores de obesidade generalizada (IMC).14,21,22 Os valores médios dos indicadores antropométricos foram elevados (ver Tabela 2), colocando o grupo em risco para o desenvolvimento de DNT. Homens e mulheres não diferiram quanto aos valores de IMC e RCE, o que contraria os achados da literatura em que mulheres apresentaram maiores valores de IMC.4,14,22 No estudo de Duarte et al.,23 homens e mulheres também apresentaram médias de IMC semelhantes. Os homens tiveram maiores valores para CC, RCQ e IC. O estudo de Pitanga e Lessa21 apresenta resultados semelhantes quanto à CC, RCQ e IC. No estudo de Mota et al.,24 as médias de CC também foram maiores entre os homens. Outros estudos mostram homens com valores médios de RCQ elevado em relação às mulheres.4,22,25 A elevada prevalência de obesidade generalizada (56%) entre os servidores, de acordo com o IMC, concorda com os achados de outros estudos em universidades do nosso país: 56,8%26 e 52,4%.27 338 Geriatria & Gerontologia A prevalência de obesidade abdominal, de acordo com os indicadores CC, RCE e IC, foram ainda maiores (ver Tabela 3). Alguns estudos recentes com idosos também mostraram altas prevalências (97,4%,7 76,2%15 e 64,3%28) de obesidade abdominal. Devido às alterações de composição corporal que ocorrem com o envelhecimento, o uso isolado do IMC para avaliar o idoso torna-se limitado. Recentemente, vem sendo recomendada a associação entre o IMC e um indicador de adiposidade central.5 Nesse contexto, a CC destaca-se, pois tem relação direta com morbidades e mortalidade em doenças cardiovasculares.5,24 Foi possível observar forte correlação entre o IMC e os indicadores CC e RCE (ver Tabela 5). O IC e a RCQ não se mostraram correlacionados ao IMC. Todos os indicadores de adiposidade abdominal avaliados apresentaram uma forte correlação entre si. O estudo de Sampaio e Figueiredo4 apontou correlação positiva e forte (0,86 e 0,89) entre o IMC e a CC em idosos de ambos os sexos. A correlação entre o IMC e a RCQ foi fraca, porém significativa. No estudo de Santos e Sichieri,22 com idosos de diferentes faixas etárias, as correlações entre IMC e CC variaram de 0,51 a 0,77. São poucos os estudos que investigaram correlações entre indicadores antropométricos em idosos. Alguns estudos, com adultos e idosos, mostram fortes correlações entre o IMC e os indicadores CC e RCE.20,29,30 O presente estudo apresenta como limitações o delineamento do tipo transversal, que impossibilita investigar a relação causa/efeito, o pequeno tamanho amostral e história de DNT autorreferida. Entretanto, sua importância se deve ao fato de ter permitido a caracterização do grupo de servidores idosos investigados, quanto à presença de obesidade generalizada e abdominal e importantes fatores de risco para o desenvolvimento de doenças. Além disso, evi- denciou a correlação dos indicadores CC e RCE com o IMC, sugerindo a utilização destes na prática clínica e em pesquisas para investigar o risco de doenças crônicas não transmissíveis. São medidas simples e rápidas de serem aferidas e que podem fornecer informações adicionais e relevantes no momento da avaliação do idoso. CONCLusão As prevalências de obesidade generalizada e abdominal foram elevadas entre os idosos estudados, assim como a história de doenças não transmissíveis. Entretanto, não se observou associação entre a obesidade, generalizada e abdominal, e a história de DNT. Os indicadores circunferência da cintura e relação cintura/estatura mostraram-se fortemente correlacionados com o índice de massa corporal, mas não a relação cintura/quadril e o índice de conicidade. Todos os indicadores de obesidade abdominal apresentaram-se correlacionados entre si. Os resultados aqui obtidos reforçam ainda a necessidade de avaliar os indicadores de obesidade abdominal na população, combinados ao IMC, especialmente em grupos mais expostos a fatores de risco, como os idosos, em quem são encontradas maiores prevalências de doenças não transmissíveis. As elevadas proporções de obesidade, especialmente aquela localizada na região abdominal, colocam o grupo em risco para desenvolver ou agravar as DNT já existentes, devendo, portanto, ser alvo de ações de promoção de práticas alimentares e estilo de vida saudáveis. Este estudo serviu de base para a formulação de um programa de educação nutricional que visou a orientar estes idosos quanto à adoção de hábitos alimentares e estilo de vida saudáveis para a melhoria da qualidade de vida. Obesidade central e doenças em idosos CONFLITO DE INTERESSE Os autores declaram não haver conflito de interesse pertinentes. REFERÊNCIAS 1. Vasques ACJ, Priori SE, Rosado LEF, Franceschini SCC. Utilização de medidas antropométricas para a avaliação do acúmulo de gordura visceral. Rev Nutr. 2010;23(1):107-18. 2. Silveira EA, Kac G, Barbosa LS. Prevalência e fatores associados à obesidade em idosos residentes em Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil: classificação da obesidade segundo dois pontos de corte do índice de massa corporal. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro. 2009;25(7):1569-77. 3. Nascimento CM, Ribeiro AQ, Sant’Ana LFR, Oliveira RMS, Franceschini SCC , Priori SE. Estado nutricional e condições de saúde da população idosa brasileira revisão da literatura. Rev Med Minas Gerais. 2011; 21(2): 174-80. 4. Sampaio LR, Figueiredo, VC. Correlação entre o índice de massa corporal e os indicadores antropométricos de distribuição de gordura corporal em adultos e idosos. Rev Nutr. 2005;18(1):53-61. 5. Buzzachera, CF, Krause MP, Elsangedy HM, Hallage T, Granato P, Krinski K, et.al. Prevalência de sobrepeso e obesidade geral e central em mulheres idosas da cidade de Curitiba, Paraná. Rev Nutr. 2008;21(5):525-33. 6. Cavalcanti CBS, Carvalho SCBE, Barros MVG. 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Prevalência e fatores associados ao acesso a medicamentos pela população idosa em uma capital do sul do Brasil: um estudo de base populacional. Cad. Saúde Pública 2011;27(10):1939-50. 19. Guh D, Zhang W, Bansback N, Amarsi Z, Birming-ham CL, Anis A. The incidence of co-morbidities related to obesity and overweight: a systematic re-view and meta-analysis. BMC Public Health. 2009;9:88. 20. Bergman RN, Stefanovski D, Buchana TA, Sumner AE, Reynolds JC, Sebring NG et al. A better index of body adiposity. Obesity. 2011;19 (5):1083-9. 21. Pitanga FJG, Lessa I. Associação entre indicadores de obesidade e risco coronariano em adultos na cidade de Salvador, Bahia, Brasil. Rev Bras Epidemiol. 2007;10(2):239-48. 22. Santos DM, Sichieri R. Índice de massa corporal e indicadores antropométricos de adiposidade em idosos. Rev Saúde Pública. 2005;39(2):163-8. 23. Duarte CRF, Botelho LP, Machado MS, Lopes ACS, Lopes Filho JD, Jansen AK. Correlação entre índice de massa corporal, distribuição de gordura e composição corporal em funcionários de um hospital universitário da região metropolitana de Belo Horizonte-MG. Rev Min Enferm. 2009;13(1):131-8. 340 Geriatria & Gerontologia Artigo Original Densidade mineral óssea em idosos e presença de fatores de risco nutricionais para osteoporose 24. Mota JF, Rinaldi AEM, Pereira AF, Orsatti FL, Burini RC. Indicadores antropométricos como marcadores de risco para anormalidades metabólicas. Ciência & Saúde Coletiva. 2011;16(9):3901-8. 28. Ferreira CCC, Peixoto MRG, Barbosa MA, Silveira EA. Prevalência de fatores de risco cardiovascular em idosos usuários do Sistema Único de Saúde de Goiânia. Arq Bras Cardiol. 2010;95(5):621-8. 25. Cruz IBM, Almeida MSC, Schwanke CHA, Moriguchi EM. Prevalência de obesidade em idosos longevos e sua associação com fatores de risco e morbidades cardiovasculares. Rev Assoc Med Bras. 2004;50(2):172-7. 29. Flegal KM, Graubard BI. Estimates of excess deaths associated with body mass índex and other anthropometric variables. Am J Clin Nutr. 2009;89:1213-9. Bone mineral density in elderly and presence of nutritional risk factors for osteoporosis 30. Flegal KM, Shephered JA, Looker AC, Graubard BI, Borrud LG, Ogden CL, et al. Comparison of percentage body fat, body mass index, waist circumference, and wiast-stature ratio in adults. Am J Clin Nutr. 2009;89:500-8. Caroline Marangon Dourado1, Tatiana Pizzato Galdino1, Sônia Barbieri Coutinho1, Maurício Sprenger Bassuino1, Claus Dieter Stobäus1 26. Conceição TV, Gomes FA, Tauil PL, Rosa TT. Valores de pressão arterial e suas associações com fatores de risco cardiovasculares em servidores da Universidade de Brasília. Arq. Bras Cardiol. 2006;86(1):26-31. 27. Leme PAF. Alimentação, condições de saúde e fatores de risco para adoecimento dos funcionários da Universidade Estadual de Campinas, 2007. Disponível em: <http://www.fef.unicamp. br>. Acesso em: 15 nov 2010. RESUMO 1 Instituto de Geriatria e Gerontologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Porto Alegre, RS, Brasil. Objetivos: Relacionar a densidade mineral óssea em idosos com a presença de fatores de risco nutricionais para osteoporose. Métodos: Em idosos, de ambos os sexos, com idade igual ou maior que sessenta anos, foi verificada a densidade mineral óssea por meio do exame densitométrico. Dados sociodemográficos e econômicos foram coletados em um questionário estruturado. A identificação dos fatores de risco nutricionais foi verificada a partir do Questionário de Frequência Alimentar e Miniavaliação Nutricional. O nível de significância adotado neste estudo foi de 5%. Resultados: A amostra foi constituída por 71 idosos, sendo 10 homens (14,1%) e 61 mulheres (85,9%). A idade média foi de 68,77 ± 6,73 anos. No modelo de regressão linear múltipla ajustado, o gênero (p = 0,009), o consumo de sódio (p = 0,011) e a vitamina B12 (p = 0,003) foram as variáveis que apresentaram maior correlação significativa com a densidade mineral óssea. Risco de desnutrição (p = 0,021) e histórico familiar para osteoporose (p = 0,020) também são fatores que interferiram negativamente na densidade mineral óssea. As variáveis tabagismo, sedentarismo, uso de álcool, ingestão de proteínas, fibras, cafeína, vitamina C e potássio não apresentaram impactos significativos nas variações de densidade mineral óssea para a amostra observada neste estudo. Conclusões: Alto consumo de sódio e baixa ingestão de vitamina B12 são os principais fatores de risco nutricionais para osteoporose que interferem na densidade mineral óssea em idosos. Histórico familiar, sexo feminino e estado nutricional (risco de desnutrição) também colaboraram para a redução da massa óssea. Palavras-chave: Osteoporose, densidade óssea, fatores de risco, idoso, inquéritos nutricionais. ABSTRACT Objectives: Matching bone mineral density in elderly patients with osteoporosis nutritional risk factors. Methods: In over-sixty-year-old patients of both sexes, the mineral density was verified through a Dual-energy X-ray absorptiometry analysis. Economic and demographic data were collected on a structured questionnaire. The identification of nutritional risk factors was verified through a Food Frequency Questionnaire and a Mini Nutritional Assessment. The level of significance adopted in this study was 5%. Results: The sample consisted of 71 elderly patients, in which 10 were men (14.1%) and 61 were women (85.9%). The mean age was 68.77 ± 6.73 years. In an adjusted multiple linear regression model, the gender (p = 0.009), the sodium intake (p = 0.011) and the vitamin B12 (p = 0.003) were the variables that showed a higher correlation with bone mineral density. Risk of malnutrition (p = 0.021), as well as the family history of osteoporosis (p = 0.020) are also factors that negatively interfered in bone mineral density. The variables: smoking, physical inactivity, alcohol use, protein intake, fiber, caffeine, vitamin C and potassium showed no significant impact on changes in bone mineral density in the study’s sample. Conclusions: High sodium intake and low intake of vitamin B12 are the major nutritional risk factors for osteoporosis that affect the bone mineral density in elderly. Family history, female gender and nutritional status (risk of malnutrition) also contributed to the reduction of bone mass. Keywords: Osteoporosis, bone density, risk factors, elderly, nutrition surveys. Endereço para correspondência: Caroline Marangon Dourado - Rua Assis Brasil, 709, C. P. 184, Curso Superior de Nutrição, Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI), campus de Frederico Westphalen, Frederico Westphalen, RS, Brasil. CEP: 98400-000 - Tel: (55) 9169-3238, (55) 3744-9293 - Fax: (55) 3744-9265 - E-mail: [email protected] 342 Geriatria & Gerontologia INTRODUÇÃO O aumento da expectativa de vida das populações, a queda da mortalidade e a redução da fecundidade resultam no envelhecimento da população e aumento da incidência de doenças crônicas, como a osteoporose, considerada um problema de saúde pública. Estima-se que a osteoporose afete mais de 75 milhões de pessoas no mundo e que até 2020 mais de 10 milhões de mulheres serão diagnosticadas com a doença.1 No Brasil, a população propensa a desenvolver osteoporose aumentou de 7,5 milhões em 1980 para 15 milhões no ano 2000, chegando a acometer 35 a 52% das mulheres com mais de cinquenta anos e uma proporção de 19 a 39% dos homens. Vinte entre cada cem mulheres são portadoras de doenças osteoporóticas, com 4 milhões e 400 mil casos, e um gasto de mais de 1 bilhão e 300 milhões de reais por ano.2 Para o diagnóstico de osteoporose, o exame densitométrico Dual Energy X-Rain Absorptiometry (DXA) é ainda a técnica padrão-ouro mais utilizada mundialmente. Associado ao resultado do DXA, alguns fatores relacionados à probabilidade de maior risco de fraturas, como hereditariedade, etnia, idade avançada, sexo feminino, fragilidade óssea, uso de glicocorticoides, baixo índice de massa corporal (IMC), tabagismo, consumo excessivo de álcool, inatividade física, fatores nutricionais, deficiência hormonal e artrite reumatoide, auxiliam no diagnóstico preciso da osteoporose.3 O envelhecimento está relacionado a alterações fisiológicas que afetam a biodisponibilidade de nutrientes que podem favorecer o desenvolvimento da osteoporose.4 Esse distúrbio osteometabólico é caracterizado pela redução da massa óssea e deterioração da microarquitetura do tecido ósseo, promovendo a fragilidade dos ossos e, consequentemen- te, aumentando a predisposição às fraturas, o que atinge a todos, mas principalmente as mulheres após a menopausa.5 Como a etiologia da perda de massa óssea é complexa e multifatorial, a nutrição tem desempenhado papel fundamental na prevenção e no tratamento da osteoporose.6 O consumo adequado dos nutrientes envolvidos no metabolismo ósseo, em todos os períodos do ciclo vital, pode prevenir ou reduzir a incidência de osteoporose. A provisão de nutrientes construtores dos ossos, como proteína, minerais (cálcio, fósforo, potássio) e vitaminas (D, K, B12) é necessária mesmo após o início da osteoporose.7 Entretanto, a ingestão excessiva de alguns nutrientes (proteínas, sódio e vitamina A) pode favorecer a desmineralização óssea.8 Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a osteoporose é considerada o segundo maior problema de assistência sanitária no mundo, depois das enfermidades cardiovasculares.9 Por essa razão, o interesse no problema tem sido crescente. Novos produtos, medicamentos e tecnologias vêm sendo desenvolvidos e incorporados à assistência médica, além de estudos sobre os fatores associados à sua ocorrência, necessários para orientar medidas de prevenção.10 Este trabalho teve por objetivo relacionar a densidade mineral óssea em idosos com a presença de fatores de risco nutricionais para osteoporose. MÉTODO População em estudo A coleta de dados ocorreu entre janeiro e dezembro de 2011, com indivíduos que participavam de grupos da terceira idade do município de Frederico Westphalen, RS. A amostra foi composta por 71 indivíduos DMO e fatores nutricionais em idosos com idade igual a sessenta anos ou mais, conforme definição da OMS para países em desenvolvimento. Foram excluídos do estudo indivíduos que não tiveram condições de responder aos instrumentos de coleta; em uso de suplemento de cálcio e vitamina D ou fármacos que interfiram na densidade mineral óssea; em terapia de reposição hormonal; em diálise; pós-cirurgia bariátrica, bem como diagnóstico de doenças crônicas do trato gastrintestinal que influenciem na absorção de nutrientes, e aqueles que não pudera ficar em pé para a aferição das medidas antropométricas. Medidas Dados sociodemográficos (gênero, idade, estado civil, escolaridade) e características de saúde (histórico familiar de osteoporose, sedentarismo, tabagismo, consumo de álcool, estado nutricional, uso de medicamentos) foram coletados por meio de entrevista com questionário estruturado. Medidas antropométricas O peso, em quilogramas (kg), foi aferido com balança antropométrica calibrada (Filizola®) com capacidade para 150 kg e incrementos de 100 g. A altura foi aferida com estadiômetro fixado na parede (Sanny) com indivíduo descalço, sobre uma superfície lisa e nivelada, em posição ereta, com calcanhares juntos e nádegas e ombros pressionados contra o estadiômetro. O valor foi registrado em centímetros (cm). A circunferência do braço (CC) foi obtida no membro direito estendido em estado de relaxamento ao longo do corpo, com a palma da mão voltada para a coxa na altura do ponto médio (localizado entre a superfície acromial da escápula e o processo olécrano do cotovelo), posicionando-se uma fita mé- 343 trica flexível, sendo o valor anotado em centímetros. Para a medição da circunferência da panturrilha (CP), a fita métrica foi posicionada horizontalmente na área de maior diâmetro da panturrilha no espaço entre o tornozelo e o joelho, com o idoso em pé, estando com o peso equitativamente distribuído em ambos os pés. A medida foi expressa em centímetros. Avaliação nutricional A identificação dos fatores de risco nutricionais para a osteoporose foi verificada através do estado nutricional e do hábito alimentar. O estado nutricional e o risco de desnutrição foram avaliados por meio da MAN®. O hábito alimentar foi analisado pelo Questionário de Frequência Alimentar (QFA), sendo os dados incluídos e analisados no software nutricional DietWin Profissional (versão 2008, Brasil) e analisados de acordo com as Dietary Reference Intakes (DRIs). Os nutrientes analisados foram proteínas, fibras totais, cálcio (Ca), potássio (K), sódio (Na), vitaminas C, D, K e B12 e cafeína, bem como o consumo de bebida alcoólica. Exame de densitometria óssea Os critérios para o diagnóstico de osteoporose, baixa massa óssea e densidade mineral óssea seguiram as diretrizes da OMS. A referência internacional da OMS para o diagnóstico da osteoporose é um T-Score de -2,5 ou inferior em fêmur proximal ou coluna lombar, embora o rádio distal (sítio periférico) possa ser empregado com essa finalidade. O relato do exame de densitometria óssea (laudo inicial DXA) baseou-se nas posições oficiais da Sociedade Brasileira de Densitometria Clínica, seguindo-se os requerimentos mínimos. 344 Geriatria & Gerontologia Análise estatística Considerando-se o objetivo principal do estudo, o cálculo de tamanho amostral foi feito com a utilização do pacote estatístico G*Power. A Figura 1 apresenta os tamanhos de amostra mínimos necessários para um poder entre 70 e 90% para tamanhos de efeitos iguais a 0,60, 0,65 e 0,70 em um modelo com doze variáveis. Aumentando o poder esperado do teste para 90%, e considerando-se uma eventual perda amostral, foram estudados, no mínimo, 52 indivíduos para um nível de significância não maior do que 5% na análise de regressão múltipla. A validação do questionário, em termos de consistência interna do instrumento, foi avaliada por meio do Coeficiente Alpha de Cronbach.11 As variáveis foram descritas a partir de distribuições de frequência e medidas de tendência central e variabilidade (média e desvio-padrão). Foi ajustado um modelo de regressão linear múltipla após ter sido efetuada uma análise bivariada com o uso de testes de hipóteses para comparação de médias e análise de correlação entre as variáveis independentes e a variável dependente, com intuito de identificar quais variáveis apresentavam efeitos significativos e deveriam ser consideradas para o modelo final. Os dados foram analisados com auxílio de softwares estatísticos. A seleção final das variáveis deu-se pelo método backwise, do pacote estatístico SPSS v.17. O poder dos testes foi determinado após o ajuste final pelo pacote G*Power. A avaliação das suposições de normalidade e homocedasticidade foi efetuada por gráfico de resíduos, histograma e gráfico Q-Q Plot. O nível de significância adotado foi de 5%.12 Considerações éticas O protocolo de pesquisa está de acordo com a Declaração de Helsinki13 e foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), Ofício n. 701/12. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Figura 1. Cálculo do tamanho amostral em um modelo com doze variáveis 345 DMO e fatores nutricionais em idosos Resultados A amostra foi constituída por 71 idosos submetidos ao exame densitométrico Dual Energy X-Rain Absorptiometry (DXA): 10 homens (14,1%) e 61 mulheres (85,9%). A idade média foi de 68,77 ± 6,73 anos. Do total de casos, levando-se em consideração a classificação densitométrica da OMS para osteoporose, 18 indivíduos (25,4%) eram normais, 29 (40,8%) obtiveram dignóstico de osteopenia e 24 (33,8%) apresentaram osteoporose. Na Tabela 1, são apresentadas características sociodemográficas e fatores relacionados à condição de saúde da amostra. Tabela 1. Características sociodemográficas e aspectos de saúde de 71 idosos integrantes de grupos de terceira idade do município de Frederico Westphalen, RS Amostra total n = 71 Sexo Feminino Masculino Estado civil Casado Divorciado Solteiro Viúvo Escolaridade Analfabeto ≥ 1 a 4 anos > 4 a 8 anos > 8 anos Histórico familiar de osteoporose Não Sim Tabagismo Nunca fumou Ex-fumante Fumante ativo Consumo de álcool Não Sim Sedentarismo Não Sim Uso de medicamentos Não Sim *Estado nutricional determinado através da Miniavaliação Nutricional (MAN®) n (%) sexo 61 (85,9) 10 (14,1) 38 (53,5) 4 (5,6) 2 (2,8) 27 (38,0) 2 (2,8) 19 (26,8) 25 (35,2) 25 (35,2) 50 (70,4) 21 (29,6) 62 (87,3) 4 (5,6) 5 (7,0) 54 (76,1) 17 (23,9) 23 (32,4) 48 (67,6) 22 (31,0) 49 (69,0) 346 Geriatria & Gerontologia Os idosos participantes da pesquisa foram classificados em três grupos de acordo com o consumo de nutrientes que interferem na densidade mineral óssea: consumo abaixo do recomendado, normal e acima do recomendado. A Tabela 2 apresenta o consumo dos nutrientes considerados fatores de risco para osteoporose encontrados na população em estudo. As variáveis vitaminas D e K foram excluídas das análises por não apresentarem variabilidade, uma vez que todos os pacientes apresentaram níveis de consumo destas vitaminas abaixo do recomendado. Dois casos foram excluídos da amostra por apresentarem consumo de cálcio acima do recomendado, inserindo viés excessivo aos resultados. Com isso, a amostra utilizada foi de 69 sujeitos (ver Tabela 2). O consumo de cafeína foi mensurado de forma quantitativa, indicando um consumo médio de 138,58 ± 205,97 da amostra. Os coeficientes apresentados na Tabela 3 informam a variação observada, em geral, na medida de DMO de acordo com as varia- ções, ausência ou presença dos fatores independentes. Neste modelo de regressão linear múltipla ajustado, gênero (p = 0,009), consumo de sódio (p = 0,011) e vitamina B12 (p = 0,003) foram as variáveis que apresentaram maior correlação estatística significativa com a DMO. Risco de desnutrição (p = 0,021) e histórico familiar para osteoporose (p = 0,020) também são fatores que interferiram negativamente na DMO (Tabela 3). As variáveis tabagismo, sedentarismo, uso de álcool, ingestão de proteínas, fibras totais na dieta, cafeína, vitamina C e potássio não apresentaram impactos significativos nas variações de DMO para a amostra observada neste estudo. Observa-se que, considerando o nível de significância de 5%, o mesmo ocorre com a variável uso de medicamentos. Entretanto, essa variável foi mantida no modelo por contribuir no poder de explicação observado através do coeficiente de determinação (Tabela 3).14 Assim, considerando gênero, de acordo com os dados da amostra, o fato de um indivíduo ser do sexo feminimo afetou o resultado Tabela 2. Distribuição do consumo de nutrientes da amostra de 69 idosos integrantes de grupos de terceira idade do município de Frederico Westphalen, RS Variáveis Abaixo do recomendado (-1) Acima do Recomendado (+1) Normal (0) 347 DMO e fatores nutricionais em idosos do DMO, reduzindo-o em aproximadamente 0,124 g/cm2. Pessoas com histórico familiar de osteopenia ou osteoporose apresentaram em média resultados 0,089 g/cm2 maiores do que pessoas sem histórico familiar. Interpretação similar pode ser efetuada para os indivíduos que utilizam medicamentos. Quanto à avaliação do estado nutricional, o coeficiente β0 apresentou sinal negativo, indicando que na presença de algum quadro fora da normalidade, a medida observada na DMO foi menor. Neste caso, em sujeitos com risco de desnutrição, a redução na DMO observada era na ordem de 0,128 g/cm2. Por fim, considerando a ingestão de sódio e vitamina B12, os sinais dos coeficientes são contrários. Ingestão de sódio abaixo do recomendado significa um aumento na DMO na ordem de 0,058 g/cm2, enquanto ingestão de sódio acima do recomendado apresentou, em média, uma redução nos valores observados na DMO. O oposto observou-se na ingestão de vitamina B12. Sujeitos com ingestão acima do recomendado apresentaram resultados em média superiores (+0,056 g/cm2). DIsCUSSÃO Rumbak et al. não encontraram correlação positiva de níveis de vitamina B 12 com DMO em 131 mulheres croatas com 45 a 65 anos de idade. Todavia, incluíram-se apenas mulheres pós-menopáusicas na regressão linear. Fatores como idade, IMC, consumo de álcool e terapia de reposição hormonal foram considerados preditores significativos na redução da DMO.16 Da mesma forma, vitaminas B 12 e B 6 não foram associadas com DMO em um estudo com 328 mulheres britânicas na pós-menopausa, mas apresentaram associação significativa com homocisteína, podendo afetar, indiretamente, o esqueleto.17 A ingestão de sódio acima dos valores recomendados pelas DRIs verificada neste estudo foi estatisticamente significativa com a redução da DMO. Estudos com animais e humanos mostraram que, quanto maior a ingestão de sódio, maior a excreção urinária de cálcio.18 Entretanto, um estudo experimental, longitudinal e prospectivo conduzido com mulheres na pré e pós-menopausa que receberam uma dieta rica Tabela 3. Distribuição dos fatores de risco nutricionais para osteoporose de 69 idosos integrantes de grupos de terceira idade do município de Frederico Westphalen, RS Total Casos % Casos % Casos % Casos % Proteínas 1 1,4 69 97,2 1 1,4 71 100 Fibras totais 41 57,7 30 42,3 0 0 71 100 Cálcio 69 97,2 0 0 2 2,8 71 100 Potássio 38 53,5 0 0 33 46,5 71 100 Sódio 11 15,5 0 0 60 84,5 71 100 Vitamina C 5 7,0 0 0 66 93,0 71 100 Vitamina D 71 100 0 0 0 0 71 100 Vitamina K 71 100 0 0 0 0 71 100 Vitamina B12 48 67,6 0 0 23 32,4 71 100 Variável Coeficiente β* Estatística t p-valor † Constante β0 0,969 19,202 < 0,001 Gênero -0,124 -2,690 0,009 Histórico familiar 0,089 2,359 0,020 Uso de medicamento 0,058 1,665 0,101 Estado nutricional -0,126 -2,360 0,021 Sódio -0,058 -2,618 0,011 Vitamina B12 0,056 3,109 0,003 * Coeficientes β do modelo de regressão linear múltipla ajustado. † Nível de significância de 5%. 348 Geriatria & Gerontologia em sódio, verificou que a perda urinária de cálcio não foi significativa, não comprometendo, portanto, os processos de remodelação óssea. 18 O estado nutricional verificado por meio da Miniavaliação Nutricional encontrou nesta amostra 91,1% (n = 64) dos idosos dentro da normalidade, 9,9% (n = 7) com risco de desnutrição e nenhum com desnutrição. Um estudo transversal investigou a relação entre osteoporose e estado nutricional determinado pela MAN® em 351 idosas suecas com média de idade 73 ± 2,3 anos. Apesar do bom estado nutricional encontrado, as participantes que obtiveram um escore na MAN® abaixo de 27 pontos (em um total de 30 pontos) apresentaram duas vezes mais risco para osteoporose.19 Em nosso estudo, embora a maioria da amostra (91,1%) apresentasse eutrofia, no modelo de regressão linear ajustado, o estado nutricional foi significativo, no sentido de diminuir a DMO. Júnior e Chahade20 também obtiveram resultados semelhantes, em que o menor peso corporal foi associado a maior probabilidade de desenvolver osteoporose em mulheres.20 Do total de casos estudados, obtivemos alta prevalência de osteopenia (40,8%) e osteoporose (33,8%). Em seis estudos de base populacional e treze relativos a grupos específicos, as taxas de ocorrência de osteoporose também apresentaram grande amplitude, com valores variando entre 0,4% em mulheres em pré-menopausa até 40% naquelas com setenta anos ou mais.21 Nossos achados apontam maior predisposição a desenvolver osteoporose para o gênero feminino (β = -0,124 e p = 0,009). Da mesma forma, Holt et al.22 encontraram maior incidência de osteoporose em mulheres com idade igual ou superior a cinquenta anos, em relação a homens na mesma faixa etária. Uma possível causa para a osteoporose ser verificada predominantemente nas mulheres em nosso estudo talvez seja a inclusão da terapia de reposição hormonal (TRH) como fator de exclusão. Evidências sugerem a TRH como uma alternativa na prevenção de osteoporose em mulheres na pré e pós-menopausa. O emprego de TRH em mulheres na pós-menopausa mostrou aumentar em 1,7% a densidade óssea nos quadris e de 3,5 a 5% na espinha dorsal. Por outro lado, mulheres não submetidas a essa terapia apresentaram perda de massa óssea de 1,7% nos quadris e 1,8% na espinha dorsal. Os indivíduos avaliados neste estudo referiram maior prevalência de história familiar de osteoporose diferentemente do descrito para populações brasileiras,23 mas semelhante ao verificado para mulheres com fratura por fragilidade já estabelecida.24 Demais fatores de risco, como, sedentarismo, tabagismo, uso de álcool, ingestão de proteínas, fibras totais na dieta, cafeína, vitamina C e potássio, não apresentaram impactos significativos nas variações de DMO para a amostra observada neste estudo. O sedentarismo estava presente em 67,6% da amostra. Quando a atividade física é associada à suplementação com cálcio, a densidade óssea aumenta cerca de 5% após nove meses de tratamento, retornando aos níveis iniciais após treze meses da suspensão do exercício. Alguns estudos têm demonstrado não haver associação entre o consumo de cafeína e a perda de massa óssea.25 Outros, porém, demonstram que doses diárias maiores do que 300 mg/dia podem interferir sobre a atividade de receptores da vitamina D, com redução da absorção de cálcio.26 Felizmente, o contrário foi observado em nossa pesquisa em que o consumo médio de cafeína foi de 138,58 ± 205,97 mg diárias. DMO e fatores nutricionais em idosos No presente estudo, o consumo de álcool não apresentou relação estatística significativa com a DMO. Uma coorte com base populacional objetivou determinar a associação entre a quantidade total de álcool, bem como o tipo de bebida alcoólica, com a densidade mineral óssea. Foram avaliados 1.182 homens, 248 mulheres na pré-menopausa e 1.289 mulheres pós-menopáusicas, com idades entre 29 a 86 anos. Os autores concluíram que o consumo moderado de álcool talvez possa ter um efeito benéfico na massa óssea em homens e mulheres na pós-menopausa, principalmente o consumo de cerveja, vinho e licor, em função não somente do álcool, mas de outras substâncias presentes nessas bebidas. Entretanto, o consumo de alta quantidade de licor (> 2 doses/dia) em homens foi associado a menor DMO. 27 Embora alguns estudos demonstrem que o consumo moderado de álcool aumente a densidade óssea por estímulo da conversão da androstenediona a estroma, um composto com propriedades estrogênicas, o consumo excessivo está associado a deficiências nutricionais e aumento do risco de fraturas relacionadas a quedas por perda do equilíbrio motor.28 Apesar de não apresentar correlação estatística significativa com a DMO, o consumo de proteína estava adequado na maioria da amostra (69/97,2%), enquanto a ingestão de potássio esteva abaixo do recomendado em 53,5% (n = 38) dos idosos. Estudos têm demonstrado que quantidade protéica elevada está associada ao aumento da DMO e melhora no metabolismo esquelético em idosos. Ainda, alimentos ricos em proteína como carnes e laticínios são também ótimas fontes de fósforo e potássio, os quais previnem a excreção urinária de cálcio. Além disso, alguns aminoácidos aumentam a absorção de cálcio, auxiliando na manutenção da densidade óssea.29 349 CONCLusão Em nosso estudo, algumas limitações podem ser ressaltadas, como, por exemplo, o tamanho da amostra, considerado pequeno. Além disso, a não realização de exames laboratoriais para avaliar a função renal, dosar o cálcio, sódio e vitamina D no plasma, e excreção urinária de sódio são necessárias para incrementar o estudo, visto que avaliar o hábito alimentar com o intuito de verificar deficiências nutricionais não garante a absorção de alguns nutrientes, especialmente em idosos que possuem a interferência de vários fatores, dentre eles a polifarmácia e o próprio envelhecimento. O alto consumo de sódio e a baixa ingestão de vitamina B12 foram os principais fatores de risco nutricionais que interferem na densidade mineral óssea na população estudada. Histórico familiar, sexo feminino e estado nutricional (risco de desnutrição) também colaboraram para a redução da massa óssea em idosos. Pesquisas futuras são necessárias à ampliação dos resultados, visando a um maior conhecimento sobre a influência dos nutrientes na densidade mineral óssea em idosos. Lembrando que a osteoporose é um problema de saúde pública, faz-se necessário um esforço conjunto de órgãos governamentais e sociedade civil na prevenção e no tratamento da osteoporose, com alternativas comunitárias de fácil alcance e que melhorem a adesão ao tratamento não farmacológico. CONFLITO DE INTERESSE Os autores declaram não haver conflito de interesse. REFERÊNCIAS 1. Schuiling KD, Robinia K, Nye R. Osteoporosis update. 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Fratura proximal de fêmur em idosos Artigo Original Fatores associados a desfechos clínicos em idosos com fratura proximal de fêmur atendidos em hospital escola Clinical outcomes related factors in elderly with hip fracture assisted in a university hospital Fernanda Freire Fonseca 1, Leani Souza Máximo Pereira 2, Paula Maria Machado Arantes 3 RESUMO 1 Fisioterapeuta residente do programa de Residência Multiprofissional do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais – autora principal 2 Professora PhD. do Departamento de Fisioterapia da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais - orientadora 3 Professora Dra. do curso de Fisioterapia da Fundação Comunitária de Ensino Superior de Itabira – co-orientadora Objetivos: Caracterizar idosos internados por fratura de fêmur proximal em um hospital escola e verificar o impacto das intervenções aplicadas no desfecho clínico final. Métodos: Analisados os prontuários de idosos maiores de 65 anos, admitidos no Hospital Universitário Risoleta Tolentino Neves com diagnóstico de fratura proximal do fêmur no período de 01/01/2009 a 28/02/2011. Foram coletados dados sócio-demográficos e de condições de saúde para caracterização da amostra. Considerou-se o tipo de fratura, tratamento médico recebido, tempo entre admissão e procedimento cirúrgico, e entre este e a alta hospitalar, verificando a existência de adiamentos no procedimento e seus motivos, e finalmente o recebimento de acompanhamento de outros profissionais da equipe de saúde. Resultados: No período avaliado foram admitidos 231 idosos com diagnóstico de fratura proximal de fêmur com média de idade de 80,8 anos. A média de dias entre admissão hospitalar e procedimento cirúrgico foi de 8,7 dias sendo que 40% da amostra tiveram pelo menos um adiamento da cirurgia. Dentre os que tiveram adiamento, 60% evoluíram com óbito intra-hospitalar contra 40% daqueles que não adiaram. A presença de adiamento configurou maior número de dias entre cirurgia e alta. Em análise de regressão, foram preditores de maior número de dias entre cirurgia e alta, a idade e os dias entre admissão e cirurgia. Apenas 48,4% da amostra receberam atendimento de fisioterapia durante a internação. Conclusões: A alta mortalidade intra-hospitalar de idosos com fratura proximal de fêmur foi associada à idade do paciente e ao risco cirúrgico. Atraso no procedimento cirúrgico configurou maior tempo de hospitalização. Palavras-chave: Fratura do quadril, Idoso, intervenções clínicas ABSTRACT Objectives: Characterization of elderly patients hospitalized with hip fractures in an university hospital and verification of the impact of interventions applied in the final clinical outcome. Methods: The medical records elderlies aged 65 or older, admitted to Hospital Universitário Risoleta Tolentino Neves (HURTN) diagnosed with hip fractures in the period from 01/01/2009 to 02/28/2011 were taken. Data of socio-demographic and health conditions were collect for the characterization of the sample. It was taken into consideration the type of fracture, medical treatment received, the time of admission and surgery, and between the surgery and the hospital discharge, checking delays in the procedure and their reasons; and finally the monitoring received from others professional of a health care team. Results: during this period we evaluated 231 elderlies with a mean age of 80.82 years were admitted with a diagnosis of hip fracture. The average number of days between admission and surgery was 8.73 days and 40% of the sample's surgery were brought forward. Among these ones, 60% died in hospital against 40% of those who were not delayed. The presence of delay configured highest number of days between surgery and discharge. In regression analysis were predictive of a higher number of days between surgery and discharge, age and days between admission and surgery. Only 48.4% of the sample received physiotherapy treatment during hospitalization. Conclusions: There was high in-hospital mortality of elderly patients with proximal femur fracture was associated with age of the patient and the surgical risk. Delay in surgery set up a longer hospitalization. Key words: hip fracture, elderly, older, clinical interventions Fernanda Freire Fonseca - Endereço: R. Dores do indaiá, 300/01, Santa Tereza, Belo Horizonte – MG. - CEP: 31010-360 Email: [email protected] INTRODUÇÃO As quedas constituem o principal problema de cuidado à saúde da população idosa. Pesquisas feitas no intuito de verificar prevalência de quedas em idosos brasileiros da comunidade verificaram relatos de quedas em 30% dos idosos das amostras pesquisadas 1,2. A cada ano, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem gastos crescentes com o tratamento de problemas decorrentes das quedas 3. Seu custo social é imenso e torna-se maior quando o idoso tem diminuição da autonomia e da independência ou passa a necessitar de institucionalização 4. Independente de outras condições de saúde, as quedas estão associadas ao aumento de morbidade e do risco de institucionalização, restrição de mobilidade, redução da habilidade em realizar atividades de vida diária (AVD), piora da qualidade de vida, além de representar riscos de fraturas e morte 1,2,5,6,7. Evidências apontam que a fratura de quadril, em conseqüência de quedas, ocorre em apenas 1% dos idosos que caem, mas está altamente relacionada com incapacidades, morte e elevados custos para o sistema de saúde. Magaziner e colaboradores (2000), mostraram que déficits funcionais permanecem até 2 anos após a fratura de quadril em idosos 8. A taxa de mortalidade associada à fratura do fêmur proximal em idosos é de 12% a 37% após um ano do evento, mas também são observados que 1 em cada 15 idosos com fratura de quadril morrem enquanto estão hospitalizados 10. Os principais fatores citados na literatura como preditores para a mortalidade após a fratura são a idade, as comorbidades, o estado cognitivo, o tempo de espera entre a fratura e a cirurgia e o tipo de anestesia utilizada para a cirurgia. Algumas complicações apresentadas após as intervenções cirúrgicas também contribuem para o óbito, sendo que as principais são as infecções, seguida de pseudo-artrose e trombose venosa profunda 11. 353 O tratamento da maioria destas fraturas é cirúrgico, permitindo início de descarga de peso e marcha precoce. Muniz e colaboradores (2007), ao caracterizar os idosos com fratura proximal de fêmur atendidos em um hospital escola, encontraram que 88,7% dos pacientes da amostra receberam tratamento cirúrgico da fratura 9. O tratamento conservador, ou seja, sem a realização da cirurgia é mais restrito aos que estão acamados, sem condição de marcha ou que apresentam contra-indicações absolutas para a intervenção cirúrgica 10 . De acordo com o Scottish Intercollegiate Guidelines Network (2009) o tratamento das fraturas proximais do fêmur necessita de um envolvimento multiprofissional para cuidados clínicos e acompanhamento adequado, sendo que a reabilitação multidisciplinar deve começar em 24 horas de pós-operatório se a condição clínica do paciente permitir 18. O tratamento fisioterápico é indicado na prevenção de complicações das fraturas e na reabilitação do paciente, seja aquele que vai ser submetido ao tratamento conservador ou ao cirúrgico. Os objetivos incluem acelerar o retorno funcional dos indivíduos acometidos e evitar possíveis complicações 10. Considerando a alta morbi-mortalidade em conseqüência das fraturas de quadril em idosos, e dada à necessidade de acompanhamento multidisciplinar para essa população, torna-se importante conhecer como as intervenções são aplicadas por diferentes profissionais no contexto hospitalar e os fatores que influenciam os desfechos decorrentes dessas intervenções. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi caracterizar os pacientes com 65 anos e mais que apresentaram fratura de fêmur proximal como causa da internação em um hospital escola e analisar os fatores individuais e do cuidado que podem modificar o desfecho clínico final destes idosos. 354 Geriatria & Gerontologia MÉTODOS Análise Estatística Trata-se de um estudo retrospectivo onde foram analisados os prontuários eletrônicos de idosos com 65 anos ou mais, que foram admitidos no Hospital Universitário Risoleta Tolentino Neves (HURTN) com diagnóstico de fratura proximal do fêmur no período de 01/01/2009 a 28/02/2011. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Minas Gerais (Parecer nº CAAE - 0369.0.203-11). Para a caracterização da amostra foi realizada a análise descritiva dos dados. A análise de freqüência foi realizada para as variáveis categóricas. O teste qui-quadrado foi utilizado para comparar as proporções de idosos que evoluíram com alta ou óbito, de acordo com o adiamento ou não da cirurgia. O teste t de student para grupos independentes foi utilizado para comparar o número de dias entre cirurgia e alta entre os idosos que tiveram adiamento da cirurgia e aqueles que não apresentaram tal adiamento. Foram excluídos os prontuários de idosos com diagnóstico de múltiplas fraturas ou traumas múltiplos, e também os prontuários com dados incompletos que impossibilitassem o levantamento dos dados requeridos. Para caracterização da amostra, foram coletados dados referentes à idade, sexo, região do domicílio dos participantes e presença de comorbidades. O tipo de fratura foi verificado por meio do código da Classificação Internacional de Doenças (CID) citado no momento da admissão, sendo as opções fratura do colo do fêmur (CID - S720) ou fratura pertroncantérica (CID - S721). Foram coletados dados quanto ao tratamento médico recebido (conservador x cirúrgico), classificação do risco cirúrgico segundo à American Society of Anesthesiology (ASA), tempo entre admissão e procedimento cirúrgico, e entre este e a alta hospitalar, verificando a existência de adiamentos no procedimento cirúrgico e seus motivos. Também foi avaliado o recebimento ou não de atendimento fisioterápico durante o período de internação, assim como o acompanhamento de outros profissionais da equipe de saúde. O dado de descrição da condição clínica no momento de fechamento do prontuário na unidade foi coletado como desfecho final, sendo as possibilidades de alta, óbito ou transferência para outra unidade hospitalar. A análise de regressão linear múltipla foi realizada considerando variáveis independentes (idade, dias entre admissão e cirurgia e ASA) que se correlacionaram significativamente com a variável desfecho “dias entre cirurgia e alta”. Para avaliar a correlação foram utilizados os testes de Pearson (variáveis contínuas e com distribuição normal) e Rho de Spearman (variáveis categóricas). O método Stepwise foi selecionado para definição do modelo mais explicativo. Foram avaliados os pressupostos para realização desta análise como a colinearidade, a homogeneidade das variâncias, a distribuição dos dados e a linearidade (21). A análise stepwise tem sido considerada apropriada para estudos exploratórios (22). Uma análise de regressão logística foi realizada para avaliar se estas mesmas variáveis independentes poderiam ser preditoras da variável dependente “desfecho clínico final”. Todos os cálculos foram feitos utilizando-se o programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS, Chicago II, USA) versão 17.0, e o nível de significância estatística foi fixado em α ≤ 0.05. RESULTADOS No período avaliado foram admitidos 231 idosos com diagnóstico de fratura proximal de fêmur, sendo 100 (43,3%) com fratura de colo do fêmur e 131 (56,7%) com fratura pertrocantérica. A média de idade foi de 80,82 355 Fratura proximal de fêmur em idosos anos (DP=8,14), 65% (n=150) eram mulheres e 97,4% tiveram quedas como motivo da fratura. As doenças associadas mais prevalentes foram: hipertensão arterial (66,7%), história pregressa de acidente vascular encefálico (AVE) (20,8%), e quadros demenciais (19,5%). As características da amostra estão sumarizadas na Tabela 1. Foram excluídos das análises subseqüentes 78 idosos (33,8%) que foram transferidos para outras unidades hospitalares e não receberam tratamento no HURTN. Dos 153 restantes, 77% (n=118) receberam alta após tratamento e 23% (n=35) evoluíram com óbito. Setenta e quatro (48,4%) idosos tratados no hospital receberam atendimento de fisio- Tabela 1. Características dos pacientes internados por fratura proximal de fêmur (N=231). Característica Idade ≤ 70 anos 71-80 anos ≥ 81 anos Sexo Masculino Feminino Tipo de fratura Colo do fêmur Pertrocantérica Região de residência Metropolitana de BH Nordeste Norte Leste Centro-sul Noroeste Pampulha Venda Nova Comorbidades HAS DAC AVC Diabetes Mellitus Osteoporose Parkinsonismo OA Depressão DPOC Delirium Demência N % 19 97 115 8,22 41,99 49,78 81 150 35,1 64,9 100 131 43,3 56,7 96 22 27 2 1 2 32 49 41,50% 9,5 11,7 0,9 0,4 0,9 13,9 21,2 154 39 48 40 16 7 3 7 1 21 45 66,7 16,9 20,8 17,3 6,9 3 1,3 3 0,4 9,1 19,5 Legenda: BH - Belo Horizonte; HAS - hipertensão arterial sistêmica; DAC - doença arterial coronariana; AVC - acidente vascular cerebral; OA - osteoartrite; DPOC - doença pulmonar obstrutiva crônica 356 Geriatria & Gerontologia terapia durante a internação. Entre os outros profissionais da equipe, aqueles que mais acompanharam essa amostra de pacientes foram os nutricionistas com 20,26% (n=31) dos idosos atendidos, psicólogos com 17,6% (n=27), fonoaudiólogos com 12,4% (n=19), seguidos dos odontólogos com 9,8% (n=15), farmacêuticos com 2,6% (n=4) e terapeutas ocupacionais com apenas 1,3% (n=2). Apenas 4 idosos (2,6%) receberam tratamento conservador da fratura, sendo os demais submetidos à cirurgia de fixação com artroplastia total de quadril (ATQ) em 21,6%, Dynamic Hip Screw (DHS) (parafuso dinâmico de fixação de fraturas intertrocantéricas do fêmur) em 26,8%, Proximal Femoral Nail (PFN) (haste intramedular bloqueada) em 15,7%, entre outros. A média de dias entre admissão hospitalar e procedimento cirúrgi- co foi de 8,73 dias (DP=7,01) sendo que 40% da amostra (n=61) tiveram pelo menos um adiamento da cirurgia. Os motivos de adiamento mais freqüente foram instabilidade clínica do paciente (52,4%), falta de vaga no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) para o pós-operatório (32,7%) e falta de vaga no bloco cirúrgico (18%). Dentre os idosos que tiveram adiamento da cirurgia, 60% evoluíram com óbito intra-hospitalar contra apenas 40% daqueles que não adiaram o procedimento cirúrgico (p=0,006). Além disso, a presença de adiamento configurou maior número de dias entre cirurgia e alta, 10,08 dias ± 11,31 para quem adiou contra 6,43 dias ± 7,58 para aqueles os quais o procedimento cirúrgico não foi adiado (p=0,017) (Gráfico 1). Gráfico 1. Comparação dos grupos com e sem adiamento do procedimento cirúrgico durante a internação, com relação ao numero de pacientes com desfecho clinico de alta ou óbito, e quanto ao número de dias entre cirurgia e alta. 357 Fratura proximal de fêmur em idosos O número de dias entre admissão do paciente e a realização da cirurgia teve coeficiente de correlação moderado e significativo de 0,334 (p=0,0001) com o número de dias entre cirurgia e alta e de 0,227 (p=0,024) com o ASA, porém não teve correlação significativa com o desfecho final (0,010 p=0,917). O desfecho clínico final se correlacionou de forma estatisticamente significativa com a idade do paciente com coeficiente de 0,247 (p=0,002) e com o ASA com coeficiente de 0,357 e p=0,000. Em análise de regressão linear, apenas a variável dias entre admissão e cirurgia mostrou contribuição significativa para a variável dias entre cirurgia e alta (R2= 0,112; p=0,001). A variável índice ASA apresentou correlação significativa, porém foi excluída do modelo (t=-0,26; preditor β= -0,03; p=0,979). Considerando a variável desfecho final, a análise de regressão logística encontrou a idade (OR=1,08; p=0,021) e o índice ASA (OR=5,96; p=0,001) como preditores de mortalidade. As correlações e os resultados da análise de regressão estão descritos na Tabela 2. Discussão A faixa etária dos pacientes com diagnóstico de fratura proximal de fêmur variou de 65 a 101 anos com média 80,96 anos (DP 8,11), um pouco superior à encontrada por Muniz et al (78,64 anos) em outro hospital escola brasileiro 9. No presente estudo, a idade foi independentemente associada à mortalidade intra-hospitalar. No estudo de Hannan (2001) a idade foi preditora de locomoção independente até 6 meses após alta hospitalar, mas não foi significantemente associada com a mortalidade 17. O próprio autor discute que diferenças nos desfechos encontradas entre as instituições de saúde por ele avaliadas se explicariam pelos cuidados agudos e intra-hospitalares oferecidos, podendo também ser esta a razão da contradição com nossos resultados. A distribuição dos pacientes por sexo, perto de uma taxa de 2:1 de mulheres para homens foi um pouco mais equivalente que à reportada pela literatura sobre o assunto 12. Entretanto, amostras compostas por mulheres caracterizam cada vez mais o fenômeno de feminização da velhice, discutido por Lima e Bueno (2009) devido à grande vulnerabilidade desta população 20. O principal tipo de fratura apresentado neste estudo foi a peritrocanteriana com 86 (56,2%), e de colo de fêmur com 67 (43,8%) casos, o que também corrobora a literatura que apresenta as fraturas transtrocanterianas como sendo as mais freqüentes 14. Tabela 2. Relações dias entre cirurgia e alta e desfecho clínico final com idade e dias entre admissão e cirurgia e ASA. Dias entre cirurgia e alta Variável Correlação CC Idade (anos) Dias entre admissão e cirurgia ASA p -0,074 0,334*¥ 0,227*£ ¥ 0,435 <,0001 0,024 Regressão linear β p 0,336* -0,003 <,0001 0,979 Desfecho clínico final Correlação CC 0,247* 0,01£ 0,357£ £ Regressão logistica p β OR p 0,002 0,917 0,000 0,08* 1,785* 1,083 0,021 0,001 5,957 CC= coeficiente de correlação; * estatisticamente significativo; ¥ = Coeficiente de Pearson; £ = Coeficiente Rho de Spearman; OR= Odds Ratio; ASA= risco anestésico segundo a Sociedade Americana de Anestesiologia. 358 Geriatria & Gerontologia A mortalidade de 23% durante a internação encontrada pelo presente estudo foi elevada e muito superior à citada por Sakaki et al (2004) em artigo de revisão 13, onde os autores ressaltam que a incidência de mortes neste grupo é significativamente maior que no grupo geriátrico geral. O mesmo estudo concluiu que a existência de outras doenças crônicas nos pacientes idosos no momento da fratura é um fator prognóstico importante, sendo as afecções cardíacas e pulmonares, doenças renais, diabetes mellitus e acidente vascular cerebral (AVC) aquelas de maior influência na mortalidade observada 13. O presente estudo encontrou como comorbidades mais freqüentes no grupo a hipertensão arterial (HAS) (66,7%), a história pregressa de acidente vascular encefálico (AVE) (20,8%), e os quadros demenciais (19,5%). Morghen et al (2011) encontraram menor freqüência de aquisição de marcha independente em idosos com comprometimento cognitivo após fratura de quadril 15, ressaltando a importância da prevalência dos quadros demênciais na dificuldade na recuperação funcional dessa população. O tempo de espera para a cirurgia desde a admissão em nosso estudo foi de média de 8,73 dias, tempo inferior ao encontrado por Souza et al (14,8 dias)11. Segundo os autores, o acréscimo de um dia no tempo de espera para realização desse procedimento cirúrgico aumentou a chance de óbito em cerca de 4% entre os participantes da amostra pesquisada. Apesar de esta associação ter sido apontada pela literatura 11,13,15,16 , não existe um consenso sobre o papel do tempo de espera para ser operado sobre a chance de óbito. No presente estudo, o tempo para cirurgia não teve correlação significativa com o desfecho final óbito, o que pode ser explicado por considerarmos apenas o período de pós-operatório imediato, diferente do estudo de Souza et al que considerou a mortalidade em 90 dias 11. Ressaltamos, porém, que a presença de adiamento do procedimento cirúrgico e um maior número de dias entre a admissão e a cirurgia configuraram maior número de dias entre cirurgia e alta, indicando maior dificuldade de estabilização do paciente após o procedimento e conseqüentemente maior tempo de internação. A literatura 11,12,13 também corrobora os resultados deste estudo demonstrando que o risco anestésico para cirurgia, indicando a gravidade de doenças pré-existentes, também se mostrou um preditor da mortalidade dos idosos com fratura de fêmur. Já está bem descrita na literatura a necessidade de acompanhamento multidisciplinar dos idosos vítimas de fratura proximal de fêmur 10,18, sendo que o tratamento fisioterápico é indicado na prevenção de complicações e na reabilitação do paciente. No presente estudo, apenas 48,4% dos idosos tratados no hospital receberam atendimento de fisioterapia durante a internação. O estudo de Zisberg et al (2011) ressalta o potencial de contribuição adversa da hospitalização no declínio funcional de idosos devido à mobilidade reduzida, isolamento sensorial, ambientação hostil, diminuição de ingestão nutricional, e outros fatores. Os autores encontraram a baixa mobilidade intra-hospitalar independentemente associada à maior declínio funcional nas atividades de vida diária. Além disso, o gradiente de declínio funcional de acordo com o nível de mobilidade indicou um efeito-dose da mobilização intra-hospitalar nos desfechos funcionais 19. O presente estudo tem várias limitações referentes ao seu desenho. Por se tratar de um estudo retrospectivo de análise de prontuários, as informações coletadas se restringem àquelas reportadas pelos profissionais envolvidos no atendimento, perdendo-se assim informações importantes como escola- Fratura proximal de fêmur em idosos ridade, estado civil e funcionalidade prévia, subnotificados nessa amostra. Além disso, a ausência de acompanhamento longitudinal não nos permite avaliar o impacto da fratura e hospitalização na funcionalidade e mortalidade nos meses subseqüentes à alta hospitalar. Em conclusão, os resultados do presente estudo mostraram alta mortalidade intra-hospitalar de idosos com fratura proximal de fêmur, sendo esta associada à idade do paciente e ao risco cirúrgico. A presença de adiamento do procedimento cirúrgico configurou maior tempo de hospitalização, indicando que quanto maior o tempo entre a admissão e a cirurgia, mais dias são necessários para alta melhorada desses idosos, e com isso, maiores gastos para instituição. Estudos adicionais com desenho longitudinal devem ser realizados para identificar fatores de risco pessoais ou relacionados ao cuidado que influenciam maiores taxas de mortalidade e morbidade dos idosos pós-hospitalização por fratura proximal de fêmur. CONFLITO DE INTERESSE Conflito de interesse: Os autores não têm conflitos de interesse a declarar e não receberam nenhuma retribuição financeira para escrever este artigo. 359 4. Fabrício SCC, Rodrigues RAP, Junior MLC. Causas e conseqüências de quedas em idosos atendidos em hospital público. Rev Saúde Pública. 2004; 38(1):93-9. 5. Parahyba MI, Simões CCS. A prevalência de incapacidade funcional em idosos no Brasil. Ciênc. saúde coletiva. 2000; 11(4):967-74. 6. Tinetti ME. Preventing falls in elderly persons. The New England Journal of Medicine. 2003; 348(1):42-49. 7. Orientações Técnicas DGS: Fracturas da Extremidade Proximal do Fémur no Idoso – Recomendações para Intervenção Terapêutica 2003. 8. Magaziner J, Simonsick EM, Kashner TM. Recovery from hip fracture in eight areas of function. J. Of Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2000; 55(9): M498-507. 9. Muniz CF, Arnaut AC, Yoshida M, Trelha CS. Caracterização dos idosos com fratura proximal de fêmur atendidos em hospital escola público. Revista Espaço para a Saúde. 2007; 8(2):33-38. 10. Lustosa LP, Bastos EO. Fraturas proximais do fêmur em idosos: Qual o melhor tratamento? Acta Ortopédica Brasileira. 2009; 17(5):309-12. 11. Souza RC, Pinheiro RS, Coeli CM, Camargo KR, Torres TZG. Aplicação de medidas de ajuste de risco para a mortalidade após fratura proximal de fêmur . Revista de Saúde Pública. 2007; 41(4):625-31. 12. Gdalevich M, Cohen D, Yosef D, Tauber C. Mobidity and mortality after hip fracture: the impact of operative delay. Arch Orthop Trauma Surg. 2004;124(5):334-40. REFERÊNCIAS 13. Sakaki MH, Oliveira AR, Coelho FF, Leme LEG, Suzuki I, Amatuzzi MM. Estudo da mortalidade na fratura do fêmur proximal em idosos. Acta Ortop Bras. 2004;12(4):242-49. 1. Perracini MR, Ramos LR. Fatores associados a quedas em uma coorte de idosos residentes na comunidade. Rev Saúde Pública. 2002; 36(6):709-725. 14. Cunha U, Veado MAC. Fratura da extremidade proximal do fêmur em idosos: independência funcional e mortalidade em um ano. Rev Bras Ortop. 2006; 41(6):195-199. 2. Siqueira FV. Prevalência de quedas em idosos e fatores associados. Rev Saúde Pública. 2007; 41(5):749-756. 15. Morghens S, Gentile S, Ricci E, Guerini F, Bellelli G, Trabucchi M. Rehabilitation of older adults with hip fracture: cognitive function and walking abilities. J Am Geriatr Soc. 2011;59(8):1497-502. 3. Jorge MHPM, Koizumi MS. Gastos governamentais do SUS com internações hospitalares por causas externas: análise no Estado de São Paulo, 2000. Revista Brasileira de Epidemiologia. 2004; 7(2):228-238. 16. Casatello JA, Gatt R. Post-operative mortality related to waiting time for hip fracture surgery. Injury. 2004; 35(2):114-20. 360 Geriatria & Gerontologia 17. Hannan EL, Magaziner, J, Wang JJ, Eastwood EA, Silberzweig SB, Gilbert M. Mortality and locomotion 6 months after hospitalization for hip fracture: Risk factors and risk-adjusted hospital outcomes. JAMA. 2001; 285(21):2736-42. 18. Scottish Intercollegiate Guidelines Network. Management of hip fracture in older people: A national clinical guideline. 2009 Jun. Disponível em: www.sign.ac.uk 19. Zisberg A, Shadmi E, Sinoff G, Gur-Yaish N, Srulovici E, Admi H. Low mobility during hospitalization and functional decline in older adults. JAGS. 2011; 59(2):266-73. Artigo Original Equilíbrio e Medo de Cair em Idosos Comunitários 20. Lima LCV, Bueno CMLB. Envelhecimento e gênero: A vulnerabilidade de idosas no Brasil. Revista Saúde e Pesquisa. 2009; 2(2):273-280. 21. Portney LG, Watkins MP. Foundations of clinical research applications to practice. 3ª ed. New Jersey: Pearson Prentice Hall; 2008. Balance and Fear of Falling in Elderly Community 22. Abbad G, Torres CV. Regressão múltipla stepwise e hierárquica em psicologia organizacional: aplicações, problemas e soluções. Estudos de Psicologia. 2002; 7(especial): 19-29.. Flávia Cristina da Silva1, Celita Salmaso Trelha2, Josiane Moreira Germano3 e Mariana Goeldner Grott4 RESUMO Fisioterapeuta graduada pela Universidade Estadual de Londrina, Residente do Programa Multiprofissional em Saúde da Família 2 Fisioterapeuta, Doutora em Ciências da Saúde, Professora Adjunta da Universidade Estadual de Londrina 3 Fisioterapeuta graduada pela Universidade Estadual de Londrina 4 Fisioterapeuta, mestranda do Programa de Pós Graduação em Ciências da Reabilitação (Programa associado UELUNOPAR) 1 A instabilidade postural esta relacionada à ocorrência de quedas, incapacidade e fragilidade em idosos. Objetivo: avaliar o equilíbrio e o medo de cair em idosos comunitários. Métodos: Participaram do estudo descritivo 58 idosos comunitários da cidade de Londrina/PR, com idade média de 73,3 DP= 7,52 anos, sendo 43 (74,1%) mulheres e 15 (25,9%) homens. A amostra foi composta somente por idosos que não apresentaram déficit cognitivo. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas domiciliares com aplicação dos seguintes instrumentos: Mini-Exame do Estado Mental para avaliação das condições cognitivas, Avaliação da Mobilidade Orientada pelo Desempenho para avaliação do equilíbrio estático e dinâmico, Escala de Eficácia de Quedas para verificar o medo de cair e questionário abordando aspectos sócio-demográficos e condições de saúde. Resultados: Os indivíduos obtiveram bom desempenho na avaliação do equilíbrio e da marcha com mediana de 52 pontos para a pontuação total, mediana de 35 para o domínio equilíbrio e 17 pontos para a marcha. A investigação sobre o medo em cair apontou que 54 (93,1%) dos entrevistados apresentaram preocupação em cair. Verificou-se associação significativa em relação aos diferentes graus de preocupação de cair e ocorrência de queda. Conclusão: O presente estudo identificou bom equilíbrio nos idosos estudados, porém apesar do bom desempenho na avaliação do equilíbrio estático e dinâmico a amostra apresentou elevado medo de cair e alto índice de quedas. Palavras-chave: Saúde do idoso, Equilíbrio postural, Acidentes por quedas. ABSTRACT The postural instability is related to the occurrence of falls, disability and frailty in elderly. Objective: the assessment of the balance and fear of falling in elderly community. Methods: 58 community elderlies participated of this descriptive study in the city of Londrina/PR, mean age 73.3 SD = 7.52 years, 43 (74.1%) women and 15 (25.9%) men. The sample included only older people who showed no cognitive impairment, data collection was performed by interviews using the followings instruments: Mini Mental State Examination for assessment of the cognitive conditions, Assessment of Mobility Performance to evaluate the static and dynamic range, Effectiveness of Falls to verify the fear of falling and a questionnaire covering socio-demographic aspects and health conditions. Results: The subjects had good performance in the assessment of balance and gait with a median of 52 points of the total score, median of 35 for the domain balance and 17 points for gait. The research about fearing of falling showed that 54 (93.1%) of the respondents had concerns about falling. There was a significant association to the different degrees of concern about falling and occurrence of falls. Conclusion: This study identified good balance in the elders studied, but despite the good performance in the assessment of static and dynamic balance the sample showed high fear of falling and high rate of falls. Keywords: Health Services for the Aged, Postural Balance, Accidental Falls. Endereço para correspondência: Mariana Goeldner Grott. - Av JK 3117 - apto401. 86010-540 - Londrina-PR - (43)8437-2400 - [email protected] 362 Geriatria & Gerontologia INTRODUÇÃO O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial e na população brasileira não é diferente, onde é possível observar crescimento mais elevado da população idosa em relação aos demais grupos etários Organização Mundial da Saúde (OMS)1. Resultados preliminares do Censo realizado em 2010, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística2 (IBGE), comprovam que o Brasil é um país que caminha rapidamente em relação ao processo de envelhecimento populacional. O número de idosos no ano de 1900 era de 3,3% da população total e atualmente essa faixa etária é de aproximadamente 10% da população. Diversos fatores são apontados na literatura como responsáveis por esse aumento, entre eles destacam-se a queda da mortalidade infantil, a diminuição na fecundidade, as melhorias nas condições sanitárias e nos avanços relacionados à tecnologia médica melhorando as condições de saúde3. O processo de envelhecimento caracteriza-se pelo declínio das funções do organismo, entretanto apesar desse processo não estar, necessariamente, relacionado a doenças e incapacidades, estas são frequentemente encontradas entre os idosos. Envelhecer é um processo natural, gradual, irreversível e incontrolável de declínio das funções fisiológicas4. Com a avançar da senescência esse processo dinâmico leva a alterações morfológicas, funcionais e bioquímicas, resultando na redução da capacidade de adaptações homeostática às situações de sobrecarga funcional, alterando progressivamente o organismo e tornando-o mais susceptível às agressões intrínsecas e extrínsecas5. Observa-se grande aumento de problemas de saúde em idosos, com repercussões diretas no sistema de saúde pública e na qualidade de vida desta população, apesar de viverem mais, estes estão mais suscetí- Equilíbrio e Medo de Cair em Idosos veis a apresentar problemas, tanto relacionados à saúde física, como em relação aos danos psíquicos6. No decorrer do envelhecimento há um declínio importante na agilidade e no equilíbrio pela diminuição da capacidade do sistema neuromotor em iniciar, modificar ou finalizar os movimentos. Esses componentes da aptidão funcional são muito exigidos nas atividades da vida diária e dependem de outras capacidades físicas como: força, coordenação, flexibilidade e velocidade. A diminuição destes fatores favorece o acontecimento de acidentes, dentre eles destaca-se a ocorrência de quedas7, 8. As causas das quedas são múltiplas e podem ser agrupadas em fatores extrínsecos e intrínsecos, onde: fatores extrínsecos são os que dependem de circunstâncias sociais e ambientais que criam desafios ao idoso, como obstáculos no caminho, piso escorregadio, iluminação inadequada, entre outras. Geralmente, idosos não caem por realizarem atividades perigosas como subir em escadas ou cadeiras, e sim em atividades rotineiras, como levantar da cama ou do vaso sanitário . 9 Os fatores intrínsecos são aqueles associados às alterações fisiológicas relacionadas ao envelhecimento, às doenças crônicas e aos efeitos causados pelo uso de fármacos. O surgimento de doenças pode ocasionar redução da capacidade física e acarretar efeitos sobre o controle postural e equilíbrio do indivíduo 9,10. Segundo o banco de dados do Sistema Único de Saúde/Ministério da Saúde (DATASUS), no Brasil, entre os anos de 1996 e 2005, 24.645 idosos morreram devido a quedas, ocupando o terceiro lugar de mortalidade e o primeiro lugar entre as internações hospitalares11. Vale ressaltar que uma parte significativa das quedas, pode não resultar em lesões graves, e não necessitarem de assistência médica, então é provável que muitas quedas permaneçam sem relatos e a taxa da real incidência de quedas entre idosos seja subestimada 12,13. Considerando que a queda no idoso pode representar incapacidade, perda da função, levar à síndrome de imobilidade, aumento do número de internações, podendo levar o idoso até mesmo ao óbito. O presente estudo tem por objetivo avaliar a qualidade do equilíbrio e o medo de cair em idosos comunitários. MÉTODOS Foi realizado estudo descritivo, com amostra por conveniência composta de indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos, de ambos os gêneros cadastrados no Programa Saúde da Família (PSF) de uma Unidade Básica de Saúde (UBS), localizada na região central da cidade de Londrina/PR Os idosos foram selecionados pela equipe de Agentes Comunitários de Saúde (ACS) responsável pelo território escolhido. Com base nos critérios de exclusão, só participariam do estudo idosos que não apresentassem afasia, distúrbios de compreensão, déficit visual 363 e auditivo, ausência de mobilidade ou marcha dependente de dispositivos durante realização dos testes, idosos institucionalizados, idosos alfabetizados que apresentaram pontuação menor que 24 pontos e idosos não alfabetizados com pontuação inferior a 18 pontos no Mini-exame do Estado Mental 14, além dos que se recusassem a participar do estudo. Foram identificados 69 idosos, destes 7 apresentaram alterações cognitivas segundo o MEEM, 2 não se encontravam no domicilio no momento da entrevista e 2 se recusaram a participar da pesquisa. A amostra avaliada foi composta por 58 indivíduos. A coleta de dados foi realizada na residência do individuo, por meio de entrevistas com aplicação de questionário e testes para avaliar o equilíbrio estático e dinâmico e o medo em cair. Dois avaliadores participaram da pesquisa, ambos capacitados por meio de instruções padronizadas para execução dos testes, bem como para enquadrar os sujeitos nos critérios de inclusão e exclusão. Os instrumentos aplicados na amostra de idosos comunitários para avaliação do estado cognitivo, equilíbrio, medo de cair e características sócio-demograficas podem ser visualizados na tabela 1. Tabela 1. Instrumentos utilizados na avaliação do equilíbrio e medo de cair dos idosos. Londrina, 2011. Mini-Exame do Estado Utilizado para avaliar as funções cognitivas. O escore varia de 0 a 30 pontos, sendo que valores mais baixos apontam para possível déficit cognitivo. Idosos alfabetizados que apresentaram pontuação menor que 24 Mental (MEEM) pontos e idosos não alfabetizados com pontuação inferior a 18 pontos foram excluídos 14. Questionário sócioUtilizado para caracterização da amostra. O instrumento elaborado pelas autoras abordou aspectos referentes a dados sócio-demográficos, condições de saúde e histórico de quedas nos últimos 12 meses. demográfico Avaliação da Mobilidade orientada pelo desempenho (POMA) Avalia separadamente em subescalas testes funcionais de equilíbrio e marcha. Os testes de equilíbrio reproduzem as alterações das mudanças de posição do corpo no sistema vestibular durante a realização das atividades de vida diária, como sentar e levantar, girar 360º e voltar à posição inicial, entre outras. A pontuação de cada questão pode ser interpretada como: 3 pontos (normal), 2 pontos (adaptativo) e 1 ponto (anormal). O escore total varia de 0 a 57 pontos, onde quanto menor a pontuação pior o desempenho e baixas pontuações são preditivos de quedas recorrentes16 . Verificou-se boa confiabilidade no estudo de adaptação transcultural para a população brasileira 17. Escala de eficácia de quedas – internacional (FES-I) Avalia o medo de cair durante o desempenho de dezesseis atividades da vida diária demonstrando a confiança dentro de cada uma delas por meio de uma pontuação que varia de 1 (“não estou preocupado”) a 4 (“extremamente preocupado”). O escore total pode variar de 16 a 64, no qual o valor 16 corresponde à ausência total de preocupação. A escala foi traduzida e validada para a população brasileira e apresentouse semântica, linguística e psicometricamente adequada para avaliar o medo de cair na população de idosos brasileiros da comunidade. 18. 364 Geriatria & Gerontologia Para execução dos testes de equilíbrio e avaliação da marcha foram utilizados cronômetro, uma régua com indicador de 30 centímetros e duas cadeiras sem apoio lateral. A análise descritiva dos dados está apresentada conforme a distribuição de normalidade (média e desvio-padrão ou mediana e quartis) para dados contínuos e freqüência absoluta e relativa para dados categóricos. Para verificar a associação do medo de cair e a ocorrência da queda foi utilizado o teste do qui-quadrado 2x2 com correção de Yates. O programa utilizado para se fazer as análises estatísticas foi o SPSS v.15. Todos os idosos incluídos na pesquisa assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Londrina (parecer nº 056/2011) e está de acordo com os critérios do Conselho Nacional de Saúde– Resolução 196/9615. RESULTADOS Participaram do estudo 58 idosos, sendo 43 (74,1%) do gênero feminino e 15 (25,9%) do gênero masculino com idade média de 73,3 (± 7,52) anos. Sobre a prática de atividade física, 34 (58,6%) idosos negaram a prática de atividade física. As modalidades praticadas citadas foram: alongamento 11 (46,4%), caminhada 8 (32,1%), dança terapêutica 3 (10,7%), musculação 2 (7,1%) e hidroginástica 1 (3,6%). A maioria dos participantes 39 (67,2%) referiu ter dores constantes em um ou mais segmentos do corpo. As regiões de maior queixa foram em membros inferiores (35,8%), seguido pela coluna vertebral (28,4%), membros superiores (23,9%), cabeça (10,4%) e abdômen (1,5%). O uso contínuo de medicamentos contínuos foi verificado em 53 (91,4%) idosos, desses 16 (31%) relataram que o uso do mesmo causava algum tipo de mal-estar. Na avaliação do equilíbrio e da marcha realizada por meio do instrumento POMA, os idosos obtiveram boa pontuação, demonstrando bom desempenho na realização dos testes. A mediana de pontuação total para o questionário foi de 52 pontos (1º quartil = 49; 3º quartil = 54). Em relação ao domínio equilíbrio, os participantes apresentaram pontuação alta, mediana de 35 pontos (1º quartil = 32; 3º quartil = 36,2). Para o domínio marcha a mediana foi de 17 pontos (1º quartil = 16; 3º quartil = 18), sendo que 58 (100%) dos idosos mostraram-se independentes e estáveis para deambulação. A presença de quedas, características como causas, local e conseqüências nos últimos doze meses, podem ser observadas na tabela 2. A investigação sobre o medo de cair realizado pela FES-I Brasil apontou que 54 (93,1%) dos entrevistados apresentavam preocupação em cair, no mínimo em uma das 16 tarefas. As atividades como subir e descer degraus e andar em superfícies irregulares e escorregadias foram as mais citadas. Na Tabela 3 pode-se visualizar os resultados encontrados sobre os diferentes graus de preocupação em cair e da presença de quedas. Sobre a análise da relação entre os diferentes graus de preocupação de cair e a ocorrência de queda foi encontrada uma associação (x2correção Yates = 6,11; P = 0,01), sendo que os participantes que relataram preocupação extrema em cair foram os que apresentaram maior número de queda. Discussão A ocorrência de quedas nos idosos avaliados nos últimos doze meses foi de 46,6%, em relação ao uso de medicamentos contínuos 16 (31%) relataram que o uso do mesmo causava algum tipo de mal-estar, mas não foi verificada relação direta entre o uso de medicação e a queda. Do total 365 Equilíbrio e Medo de Cair em Idosos Tabela 2. Características das quedas em idosos segundo o local, causas e complicações. Londrina, 2011 Variáveis n % Presença 27 46,6 Ausência 31 54,4 Domicilio 19 70 Ambiente externo 8 30 Obstáculos 10 37,5 Instabilidade Postural 8 25 Tonturas ou desmaio 4 12,5 Falta de atenção 2 10 Dificuldade marcha 1 5 Piso molhado 1 5 Problemas de visão 1 5 Presença 13 48,1 Ausência 14 51,9 Cortes e escoriações 7 32,8 Hematomas e edema 7 31,8 Dor 6 27,2 Fratura e entorse 2 9,1 Quedas Local de ocorrência Causa referida Complicações Tipos de Complicações Tabela 3. Distribuição dos diferentes graus de preocupação em cair e da ocorrência de quedas nos últimos doze meses nos idosos comunitários. Londrina, 2011. FES-I Brasil Queda no último ano Nenhuma preocupação Muita Preocupação Preocupação extrema Total Ausência 3 21 7 31 Presença 1 11 15 27 Total 4 32 22 58 366 Geriatria & Gerontologia da amostra, 93,1% relataram ter medo de cair. O que pode ser justificado, pois grande parte dos idosos que apresentaram medo no presente estudo já haviam sofrido quedas que causaram sequelas lesionais e estas repercutem em aumento expressivo do medo 19. Embora os dados apontem que mesmo idosos que não sofreram quedas também apresentaram medo de cair. Em relação à ocorrência das quedas, os dados do presente estudo corrobora com o estudo realizado por Siqueira et al., em 2005 onde a prevalência de quedas foi de 34,8% em amostra composta por 4.003 idosos comunitários de 41 municípios com mais de 100 mil habitantes de sete estados brasileiros 20. Quanto ao local de ocorrência das quedas os resultados do presente estudo demonstram que 70,0% ocorreram no ambiente domiciliar. Muitas quedas são acidentais, ocorrem dentro de casa ou em seus arredores e geralmente, durante o desempenho de atividades cotidianas como caminhar, mudar de posição e ir ao banheiro. Isso se deve ao fato dos idosos diminuírem a atenção durante a realização das tarefas, ou estarem com pressa em desenvolver as atividades, deixa-os mais vulneráveis a acidentes1. Os maiores prejuízos quanto às quedas relacionam-se às complicações que a mesma pode gerar. Neste estudo foi possível identificar diversas complicações e as principais foram escoriações, hematomas, torções e fraturas. Os estudos realizados com idosos descrevem essas mesmas complicações como desfecho 20,21,22. O estudo realizado por Santos et al23 em Florianópolis/SC comparou complicações após quedas em idosos sedentários e idosos praticantes de atividade física e os resultados corroboram com os deste estudo. Os autores verificaram ainda que o grau de complicação nos idosos sedentários foi mais elevado quando comparado a idosos que praticavam exercícios. Idosos ativos apresentam complicações mais leves em relação às possíveis consequências que a queda pode acarretar. Verifica-se, que a atividade física influencia de forma positiva na prevenção e nas consequências destes acidentes23. Nos idosos estudados, foi possível observar que 41,4% referiram ser ativos, esse dado pode ter refletido positivamente na baixa incidência de complicações graves, como fraturas. O hábito de praticar atividades físicas encontrado na maioria dos idosos entrevistados também pode justificar o bom desempenho na avaliação do equilíbrio e da marcha. Vários autores concordam que a participação em atividade física regular, por meio de exercícios aeróbios, de força e de flexibilidade, seja uma intervenção efetiva para reduzir ou prevenir declínios funcionais associados ao envelhecimento,23,,24,25. Os principais benefícios da atividade física regular para idosos são: redução do risco de doenças cardiovasculares, osteoporose, obesidade, risco de quedas e suas lesões e a prevenção de limitações funcionais 24, 25. De acordo com a literatura, a prática de atividade física é o principal meio para promover a saúde nos idosos, sendo uma proposta de intervenção eficaz na prevenção das quedas 23. Além das consequências físicas ocasionadas pelas quedas danos psicológicos também são observados e o principal prejuízo citado na literatura é o medo em cair. Diversos estudos revelam que a prevalência do medo de cair na população idosa varia de 20% a 85% 10, 26, 27. Nesse estudo quase todos os idosos apresentaram medo de cair em, no mínimo, uma das 16 tarefas propostas pela FES-I-Brasil18. Os idosos afirmaram com maior frequência a preocupação nas questões que abordavam a realização de atividade como andar em uma superfície escorregadia, caminhar sobre uma superfície irregular, subir e descer escadas e durante o Equilíbrio e Medo de Cair em Idosos banho. Tais informações estão de acordo com esse estudo, que verificou quanto às principais causas da queda: barreiras arquitetônicas ou obstáculos e piso molhado. O medo de cair é atualmente uma consequência destacada por vários autores e está relacionado a qualidade de vida do idoso, entretanto existe controvérsia entre os autores em relação ao momento de aparecimento do medo em cair. Poucos estudos defendem a idéia de que o mesmo é um evento independente de uma experiência passada de quedas outros relatam que o medo pós-queda está associado ao tipo da queda e não a queda propriamente dita. Atualmente, a maioria dos estudos sobre este tema aponta o medo em cair associado à experiência de cair. Outros autores destacam que o medo após a queda pode trazer consigo não somente o medo de novas quedas, mas também de machucar-se, ser hospitalizado, ter declínio de saúde e tornar-se dependente de outras pessoas 10,28,29,30,31. , Com base nas variáveis do estudo, uma parcela pequena da amostra não referiu nenhum medo de cair, sendo que dos quatro indivíduos que negaram preocupação em todas as questões da escala FES-I, três deles não havia sofrido nenhuma queda no ultimo ano. A prevalência de idosos preocupados em cair foi semelhante em relação a presença ou não de quedas, tanto entre os idosos que já haviam caído como naqueles que nunca tiveram histórico de quedas. Porém, quando analisados somente as respostas referentes ao nível máximo de preocupação, os idosos que já haviam sofrido queda demonstraram mais preocupados em relação aos que nunca sofreram. A ocorrência de quedas acompanhada pelo medo em cair pode acarretar menos confiança na capacidade de caminhar e executar atividades de vida diária, favorecendo o surgimento de depressão, sentimentos de 367 desamparo, isolamento social, imobilidade desnecessária conseguintemente, levando a uma perda da qualidade de vida 30,31. Com base na literatura e nos resultados desse estudo, foi possível verificar que a partir de uma queda os idosos estão propensos a complicações como danos físicos, psicológicos, sociais e econômicos, gerando uma reação em cadeia de prejuízos a qualidade de vida dos idosos. O medo de cair é um problema de saúde frequente e significativo em idosos. Os instrumentos de avaliação utilizados são de fácil reprodutibilidade e de baixo custo. Este estudo apresentou como limitação o fato de avaliar somente idosos comunitários com mobilidade preservada e independente de dispositivos para a marcha, não sendo inclusos os idosos com mobilidade não totalmente preservada e que utilizam dispositivos para a marcha e estes podem estar entre aqueles que mais têm medo de cair. Neste estudo a qualidade do equilíbrio não teve influencia sobre a ocorrência de quedas e o medo em cair, considerando que os participantes apresentaram bom desempenho nos teste de equilíbrio e marcha. Verificou-se elevado índice de ocorrência e medo de cair na população estudada e associação estatisticamente significativa entre estes desfechos. Os resultados encontrados mostram a importância da avaliação do medo de cair e do equilíbrio na prática clínica como instrumentos de rastreio. CONFLITO DE INTERESSE Declaramos que não há de conflito de interesse. REFERÊNCIAS 1. Organização Mundial da Saúde (OMS). Relatório mundial sobre: prevenção de quedas na velhice. 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[acesso 2 nov 2011] Disponivel em: http://www.springerlink.com/content/3460853q051l320p/ Timed Up and Go com e sem tarefa dupla em idosas caidoras Artigo Original Tarefa dupla em idosas da comunidade: comparação do desempenho no Timed Up and Go entre caidoras e não caidoras Dual task in dwelling-elder women: analysis of the Timed Up and Go between fallers and non fallers Adriana Netto Parentoni1, Lygia Paccini Lustosa2, Bárbara Oliveira Zambaldi3, Letícia Soares Cavalieri3, Nayara Campos Luiz3, Rita de Cássia Guedes3 RESUMO Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina, MG, Brasil. 2 Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de Minas Gerais, MG, Brasil. 3 Departamento de Fisioterapia do Centro Universitário de Belo Horizonte, MG, Brasil. 1 Objetivo: Avaliar o desempenho funcional durante a realização do teste Timed Up and Go (TUG) das seguintes formas: isolada, associada à tarefa dupla motora e associada à tarefa dupla cognitiva, comparando idosos com história de quedas, sem história de quedas e aqueles com temor cadenti. Métodos: Participaram idosas da comunidade, sem distinção, sem restrição étnica ou condição social. Excluíram-se alterações cognitivas por meio do miniexame do estado mental (Meem); marcha dependente; alterações visuais/auditivas não compensadas; dores musculoesqueléticas agudas; hipotensão postural; uso de medicações que interferissem no equilíbrio. Todas realizaram o TUG, TUG associado a carregar um copo completo de água (tarefa motora), TUG associado a falar nome de animais (tarefa cognitiva). A comparação entre grupos foi realizada por meio de Anova (α = 5%). Resultados: Participaram 36 idosas da comunidade (70,17 ± 6,25 anos), sendo seis caidoras, vinte não caidoras e dez com a presença de temor cadenti. Na comparação dos três grupos, nos três momentos de teste, não houve diferença estatística (p > 0,05). Na comparação intragrupo, observou-se apenas pior desempenho no TUG cognitivo em relação ao TUG simples (p = 0,01). Demais análises não foram significativas. Conclusão: Idosas caidoras, não caidoras e com a presença do temor cadenti não apresentaram diferença no desempenho funcional. Idosas caidoras foram piores no desempenho durante o TUG cognitivo quando comparado ao TUG simples, sugerindo necessidade de treinamento específico. Palavras-chave: Idoso fragilizado, equilíbrio postural, mulheres. ABSTRACT Objective: Evaluating the functional performance during the accomplishment of Timed Up and Go (TUG) test, first in an isolated way, then associated with motor dual task, and after associated with cognitive dual task in order to compare elderlies with fall history, no fall history and those ones with “cadentis tremble”. Methods: Elderly women from the community, with no distinction of race and social class participated of this study. The ones with cognitive alterations (Meem), dependent march, visual alterations, not compensated hearing, acute muscle-skeletal pain, use of medications that interfere on the balance were excluded. All of them accomplished the TUG, TUG associated with carrying a complete glass of water (motor task), TUG associated with saying animal names (cognitive task). The comparison between groups was made through ANOVA (α = 5%). Results: Thirty-six community elderlies (70.17 ± 6.25 years) participated of this study: six of them were classified as fallers, twenty as non fallers and ten with presence of “cadenti tremble” presence. When compared the three groups, in the three different moments of the test, there was not any statistic difference (p> 0.05). In the intra-group comparison, during the three moments of the test, it was observed a statistic difference on the fallers group, being this difference between the simple TUG and the cognitive TUG (p = 0.01). Other analysis were not significant enough. Conclusion: Faller elders, non fallers and the ones with the “cadenti tremble” presence were not different in relation to functional performance. Faller elderlies showed a worse performance on the cognitive TUG when compared to the simple TUG, suggesting the necessity of a specific training. Keywords: Frail elderly, postural balance, women. Endereço para correspondência: Lygia Paccini Lustosa - Rua Álvares de Azevedo, 122 – Lagoinha – Belo Horizonte – MG – Brasil - CEP: 31110-290 - Tel.: (31) 9983-1854 E-mail: [email protected] INTRODUÇÃO O envelhecimento populacional e o aumento da expectativa de vida vêm sendo amplamente discutidos em âmbito mundial.1,2 O processo de envelhecimento fisiológico inclui alterações nos sistemas corporais que levam à redução das funções orgânicas que, isoladamente ou associadas às doenças crônico-degenerativas, resultam em incapacidade funcional; alterações da marcha, postura e equilíbrio; aumento do risco de quedas; comprometimento da independência, autonomia e da qualidade de vida.1,2 Podem ocorrer alterações da habilidade do sistema nervoso central em realizar o processamento dos sinais vestibulares, visuais e proprioceptivos, responsáveis pela manutenção do equilíbrio corporal e pela capacidade de adaptação.3 Nesse contexto, sabe-se que um dos principais fatores que limitam a vida independente do idoso é a instabilidade postural. No entanto, 80% dos casos não podem ser atribuídos a uma causa específica, mas, sim, a um comprometimento de múltiplos sistemas necessários para sua manutenção. Estatisticamente, mais da metade dos casos de instabilidade postural têm origem entre os 65 e os 75 anos,2,3 o que transforma o fenômeno “quedas em idosos” em uma das maiores preocupações, não só por sua frequência, mas também pelas consequências deletérias em relação à qualidade de vida.4,5 Além disso, os idosos restringem suas atividades devido ao medo de cair e pelas atitudes protetoras dos familiares e cuidadores.1-5 Bandura et al.6 definiram o medo de cair – temor cadenti – como uma baixa confiança em evitar quedas ou uma grande preocupação sobre as quedas que pode limitar o desempenho das atividades do dia a dia. Além disso, o temor cadenti pode ser interpretado como uma sensação premonitória que pode paralisar o indivíduo ou contribuir para um menor desempenho funcional.6 371 O controle postural foi definido como o controle relativo à posição do corpo no espaço com a finalidade de equilíbrio e orientação.7 Essa condição foi considerada, tradicionalmente, uma tarefa controlada por reflexo automático, sugerindo mínima utilização dos recursos de atenção. No entanto, estudos demonstraram que se duas tarefas são realizadas simultaneamente, além da exigência do controle da capacidade global, pode haver comprometimento do desempenho em uma ou em ambas as tarefas realizadas.8-10 Assim, uma série de tarefas motoras e cognitivas, de variada complexidade, vem sendo utilizadas de forma concomitante, durante a avaliação do desempenho funcional de idosos. Como exemplos de tarefas motoras podem ser citados: transferir moedas de um bolso para outro; carregar um copo com água; carregar uma bandeja com quatro copos de plástico; entre outras. Em relação às tarefas cognitivas a serem realizadas associadamente, encontram-se: repetir sentenças; repetir os dias da semana em ordem inversa; falar nomes de animais; formar palavras e sentenças após ouvir um avaliador soletrando-as; contar regressivamente de três em três ou de sete em sete; somar de dois em dois; responder a estímulos auditivos diferenciando os tons altos dos tons baixos; entre outros.7,11-14 Os testes de desempenho avaliam objetivamente vários aspectos da função física, sendo o teste de caminhada (TC), o Timed Up and Go (TUG) e o teste de sentar-levantar (TSL) os mais utilizados na prática clínica e em pesquisas.14-17 No entanto, são raros os estudos que utilizam esses testes investigando a influência da tarefa dupla, apontando para a importância em estudá-los.18-22 A maioria dos estudos utiliza a análise de marcha18-22, mas não os testes de equilíbrio e desempenho como o TUG. Da mesma forma, não existem 372 Geriatria & Gerontologia evidências a respeito das diferenças na realização desses testes associados à tarefa dupla, comparando-se também idosos com histórico de quedas. Portanto, o objetivo deste estudo foi avaliar o desempenho funcional de idosas durante a realização do teste em três condições: TUG de forma isolada; associada à tarefa dupla de natureza motora; e associada à tarefa dupla de natureza cognitiva. Além disso, foi realizada a comparação de idosos com história de quedas, sem história de quedas e aqueles com temor cadenti. MÉTODO Trata-se de um estudo de coorte transversal, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário de Belo Horizonte, com o Parecer n. 106/2008. Utilizou-se uma amostra de conveniência recrutada na clínica-escola de uma instituição particular de ensino superior. Todas as voluntárias assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Elas foram submetidas ao teste TUG de forma isolada, associado a uma tarefa motora e associado a uma tarefa cognitiva. A sequência dos testes foi sorteada para cada uma das voluntárias. Os testes foram realizados sempre no mesmo horário, com as voluntárias usando os calçados habituais e realizados sob orientação de pesquisadores previamente treinados. Amostra Foram recrutadas idosas com idade igual ou superior a sessenta anos, sem distinção de etnia e/ou condição social, sedentárias, residentes na comunidade. Os critérios de exclusão foram escore inferior ao esperado para sua escolaridade no miniexame do estado mental23; dor no momento dos testes que incapacitasse sua realização; doenças musculoesqueléticas agudas autorrelatadas ou com diagnóstico médico prévio; doenças neurológicas; úlceras em membros inferiores; incapacidade de permanecer em ortostatismo ou deambular seis metros de distância, sem dispositivos de auxílio à marcha; incapacidade de levantar de uma cadeira com braços sem ajuda de terceiros e que estivessem em uso de medicamentos que interferissem em seu equilíbrio, como sedativos, psicotrópicos, ansiolíticos, tranquilizantes. Além disso, as voluntárias foram submetidas a uma avaliação fisioterápica prévia. Aquelas que apresentaram alterações cardíacas e pulmonares agudas e não controladas, que interferissem nos testes, assim como alterações vestibulares e hipotensão postural, foram automaticamente excluídas. Medidas e desfechos Para avaliar o desempenho funcional utilizou-se o TUG que verifica a mobilidade e a capacidade funcional do idoso.16,24 As voluntárias foram instruídas a levantar de uma cadeira padrão (46 cm de altura), andar três metros à frente, dar a volta, retornar e sentar, voltando a apoiar o tronco no encosto da cadeira. O tempo despendido para a tarefa foi mensurado em segundos. A literatura aponta uma excelente confiabilidade inter e intra-avaliador do TUG (CCI > 0,90).24 Os testes com associação da tarefa dupla foram realizados com a mesma metodologia descrita anteriormente. Para o TUG associado à tarefa motora, foi solicitada à voluntária que realizasse o teste segurando um copo cheio com 150 mL de água sem que houvesse perda do líquido durante o percurso. Para a realização do TUG associado à tarefa cognitiva, a voluntária repetiu o teste falando em todo o seu percurso nome de dife- Timed Up and Go com e sem tarefa dupla em idosas caidoras rentes animais. Nesse caso, além de marcar o tempo despendido na tarefa, o avaliador contou quantos nomes de animais foram mencionados. Não foram considerados animais do mesmo gênero e/ou repetidos. O examinador explicou cada um dos testes de forma pausada, certificando-se do entendimento da voluntária. Cada teste foi realizado apenas uma vez. Houve um intervalo de cinco minutos entre cada um dos testes, no intuito de minimizar o efeito da fadiga. A sequência dos testes foi sorteada para cada participante. Para classificar as idosas em caidoras e não caidoras foi feita a seguinte pergunta: “A senhora teve alguma queda nos últimos seis meses?” Se a resposta fosse afirmativa, eram questionadas quantas quedas haviam ocorrido nesse período. Para verificar o temor cadenti foram realizadas as perguntas: “A senhora tem medo de cair? A senhora deixou de fazer alguma coisa por medo de cair? O medo de cair a impede de sair de casa? A senhora anda sozinha na rua?” Foram consideradas como portadoras de temor cadenti as voluntárias com pelo menos duas respostas positivas. A opção em utilizar dados autoinformados deveu-se à ausência de instrumentos validados e adaptados para o português do Brasil, na literatura, no momento da realização deste trabalho, para avaliar esse constructo. Como foi utilizado o Meem como critério de exclusão, para indivíduos com possíveis alterações cognitivas, acreditou-se que a informação autorrelatada não acrescentou viés na informação. Dessa forma, as voluntárias foram estratificadas em três grupos distintos para as análises estatísticas: grupo de caidoras (CC); grupo de não caidoras e sem a presença do temor cadenti (NCSTC); e grupo de não caidoras com o relato do temor cadenti (NCCTC). 373 Análise estatística Este estudo faz parte de um projeto de pesquisa mais amplo que vai comparar idosos e jovens em diferentes situações de desempenho funcional e marcha. O cálculo amostral foi realizado com base em um estudo-piloto prévio, para comparar situações diferenciadas dos testes, considerando um intervalo de confiança de 95% e erro de 20%. O cálculo demonstrou a necessidade da participação de 32 voluntárias no grupo de idosas. Os dados foram apresentados por meio de estatística descritiva e percentual. Para verificar a normalidade dos dados, realizou-se o teste de Shapiro-Wilk. A comparação das medidas de desempenho (TUG, TUG motor e TUG cognitivo), intra e intergrupos, foi realizada por meio de Anova de medidas repetidas e test t como post hoc. O nível de significância considerado foi de 5%. Resultados Foram avaliadas 36 idosas da comunidade com média de idade de 70,17 (± 6,25) anos e média no Meem de 24,94 (± 3,94). Além da comparação entre as três situações de teste, o grupo foi estratificado de acordo com a história de quedas e presença de temor cadenti. Seis (16,67%) foram classificadas como caidoras, vinte (55,56%) como não caidoras e sem a presença do temor cadenti e dez (27,77%) como não caidoras mas com a presença do temor cadenti. A média de idade e o escore do Meem de cada grupo encontram-se na Tabela 1, demonstrando que não houve diferença estatística entre os grupos em relação a essas variáveis (p > 0,05). Após a comparação entre os grupos de caidoras (CC), não caidoras sem temor cadenti (NCSTC) e não caidoras com temor cadenti (NCCTC) não foram observadas diferenças es- 374 Geriatria & Gerontologia tatísticas (p > 0,05). Os valores encontram-se na Tabela 2. Quando realizada a comparação das medidas do TUG, TUG motor e TUG cognitivo, intragrupo, observou-se diferença es- Timed Up and Go com e sem tarefa dupla em idosas caidoras tatística somente no grupo de idosas caidoras, sendo essa diferença encontrada entre a realização do TUG simples e do TUG cognitivo (p = 0,01) (Tabela 3). Tabela 1. Média de idade e escore do Meem do grupo de idosas caidoras, não caidoras sem temor cadenti e não caidoras com temor cadenti e valores estatísticos da comparação dos grupos CC (n = 6) NCSTC (n = 20) NCCTC (n = 10) P Idade (anos) 69,5 ± 5,5 70,2 ± 5,8 70,6 ± 7,9 0,95 Meem 26, 7 ± 2,8 24,6 ± 3,7 24,6 ± 4,9 0,52 Meem: miniexame do estado mental; n: número amostral; p: valor estatístico; CC: idosas caidoras; NCSTC: idosas não caidoras sem temor cadenti; NCCTC: idosas não caidoras com temor cadenti. Tabela 2. Média e desvio-padrão do tempo despendido para a realização dos testes TUG nas formas simples, dual motora e dual cognitiva e sua comparação com idosas caidoras, não caidoras e com temor cadenti e valores estatísticos CC (n = 6) NCSTC (n = 20) NCCTC i(n = 10) P TUG (segundos) 11,2 ± 1,4 11,7 ± 3,4 13,0 ± 3,9 0,47 TUG motor (segundos) 12,3 ± 1,2 13,0 ± 4,1 14,3 ± 4,8 0,58 TUG cognitivo (segundos) 14,6 ± 2,2 13,7 ± 4,1 14,7 ± 4,4 0,74 TUG: Timed Up and Go; n: número amostral; p: valor estatístico; CC: idosas caidoras; NCSTC: idosas não caidoras sem temor cadenti; NCCTC: idosas não caidoras com temor cadenti. Tabela 3. Comparação entre dos testes TUG nas formas simples, dual motora e dual cognitiva considerando o grupo de idosas caidoras, não caidoras e com temor cadenti e valores estatísticos TUG (segundos) TUG motor (segundos) TUG cognitivo (segundos) P Caidora (n = 6) 11,2 ± 1,4 12,36 ± 1,2 14,6 ± 2,2 0,01* Não caidora (n = 20) 11,7 ± 3,4 13,0 ± 4,1 13,7 ± 4,1 0,26 Temor cadenti (n = 10) 13 ± 3,9 14,3 ± 4,8 14,7 ± 4,4 0,68 TUG: Timed Up and Go; n: número amostral; p: valor estatístico; * indica diferença significante. DIsCUSSÃO O presente estudo verificou o desempenho funcional no TUG simples e em duas modalidades de tarefas duais. Os resultados demonstraram pior desempenho de idosas caidoras ao realizar o TUG cognitivo quando comparado ao TUG simples. Alguns estudos têm identificado modificações em parâmetros da marcha,21 sendo este considerado um preditor de quedas. No entanto, não encontramos estudos que analisaram o TUG associado às tarefas duais para a comparação dos resultados. Sabe-se que tarefas primárias assim com as secundárias ocorrem por processos neuronais similares, podendo ocorrer prejuízo de uma ou ambas quando realizadas em conjunto ou quando existe a necessidade de priorização de uma em relação a outra.20,24,25 Yogev-Seligmann et al.20 demonstraram diminuição da velocidade de marcha e aumento da sua variabilidade, com maior instabilidade do passo, em jovens e idosos quando foram solicitados a realizar atividade cognitiva enquanto caminhavam. Da mesma forma, Lamoth et al.19 encontraram as mesmas alterações ao compararem idosos com e sem alterações cognitivas, sendo as alterações na marcha mais pronunciadas naqueles com comprometimento cognitivo. No presente estudo, não foi observada diferença significativa no desempenho do TUG, a não ser no grupo de idosas que apresentavam relato de quedas. Em conformidade com os autores citados, pode-se inferir que esses resultados são decorrentes de uma maior complexidade da tarefa cognitiva para o idoso, interferindo na capacidade funcional, pela demanda de maior concentração. Neste caso, pode-se supor que idosas que já apresentavam relato de quedas provavelmente apresentavam também maior variabilidade da marcha, explicando as diferenças encon- 375 tradas. No entanto, como essas variáveis não foram avaliadas neste estudo, essa afirmação é apenas uma especulação, devendo ser avaliada em estudos futuros. Ainda nesse contexto, pode-se supor que ocorre uma competição da tarefa secundária com a efetividade da resposta motora e da aferência sensorial para manter o equilíbrio e a possibilidade de execução da tarefa em tempo adequado.24-26 Essa condição poderia interferir na habilidade do indivíduo em realizar a tarefa, necessitando de maior tempo, o que caracteriza, assim, uma perda funcional.24-27 Apesar de não ser possível, por meio do presente estudo, estabelecer o tempo de latência de cada uma das tarefas realizadas – motora e cognitiva, a ausência de diferença observada na tarefa dupla motora sugere haver um nível inferior de complexidade entre a tarefa de realizar marcha e executar outro ato motor. Por outro lado, o fato de não ser observada diferença entre os grupos das idosas com relato de quedas, não caidoras e com a presença do temor cadenti sugere que o nível de independência das idosas avaliadas era semelhante.24-27 Reelick et al.22 demonstraram que o medo de cair não interferiu no desempenho da marcha, mesmo quando os indivíduos realizavam outra atividade. Os autores relataram que a diminuição da velocidade de marcha, em indivíduos com medo de cair, provavelmente foi uma adaptação para otimizar a perda do equilíbrio decorrente da instabilidade postural.22 No presente estudo, não foram avaliados e controlados o grau de independência, assim como as alterações específicas dos parâmetros da marcha, podendo estes constituir limitações do estudo. Dessa forma, novos estudos devem ser realizados no sentido de explorar melhor a influência das tarefas duais em indivíduos com níveis funcionais diferenciados. 376 Geriatria & Gerontologia Outro fator a ser considerado é a discrepância no tamanho dos grupos avaliados. Para haver alocação nos grupos, utilizou-se a informação autorrelatada, que, muitas vezes, principalmente em idosos, pode ser considerada como um viés de memória. No entanto, como no momento da realização desse estudo, não existiam instrumentos validados para esse constructo, optou-se pela entrevista autorrelatada, tendo a preocupação em excluir indivíduos com a possibilidade de alterações cognitivas. No entanto, a discrepância em relação ao tamanho dos grupos analisados pode ter sido uma limitação do estudo, devendo haver cautela em relação à generalização dos resultados. Da mesma forma, há necessidade de se analisar grupos maiores de voluntários. Do ponto de vista da aplicabilidade clínica, apesar de os resultados não permitirem uma generalização para outros grupos de idosos, pode-se inferir sobre a interferência da atividade cognitiva no desempenho funcional de idosos que caem. Dessa forma, pode-se pensar na necessidade de desenvolver treinos específicos que contemplem a tarefa dual, durante a marcha, além de treinos funcionais. CONCLusão Os resultados demonstraram que idosas caidoras, não caidoras e com a presença do temor cadenti não foram diferentes em relação ao desempenho funcional. No entanto, na amostra pesquisada, idosas caidoras apresentaram pior desempenho funcional durante a realização do TUG cognitivo, sugerindo uma maior complexidade dessa tarefa. Pode-se inferir com cautela em relação à generalização dos resultados de que existe maior interferência da atividade cognitiva no desempenho funcional de idosos que caem, sugerindo uma maior atenção aos treinos específicos que contemplem a tarefa dual nos programas funcionais para idosos. CONFLITO DE INTERESSE Os autores declaram não haver conflito de interesse. REFERÊNCIAS 1. Alves LC, Leite I, Machado CJ. Conceituando e mensurando a incapacidade funcional da população idosa: uma revisão de literatura. Ciên Saúde Colet. 2008;13(4):1199-207. 2. Siqueira FV, Facchini LA, Piccini RX, Tomasi E, Thume E, Silveira DS, et al. Prevalência de quedas em idosos e fatores associados. Rev Saúde Pública. 2007;41(5):749-56. 3. Ruwer SL, Rossi AG, Simon LF. Equilíbrio no idoso. Rev Bras Otorrinolaringol. 2005;71(3):298-303. 4. Santos MLC, Andrade MC. Incidência de quedas relacionada aos fatores de risco em idosos institucionalizados. Rev Baiana Saúde Pública. 2005;29(1):57-68. 5. Masud T, Morris RO. 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Objetivos: Avaliar a relação do desempenho físico de MMII com a força muscular respiratória e a capacidade funcional de idosas saudáveis da comunidade. Métodos: Foram avaliadas 24 idosas, com média de idade de 66,17 ± 4,22 anos. Para análise da avaliação da força muscular de MMSS, utilizou-se o teste de preensão manual e para avaliar o desempenho de membros inferiores o instrumento short physical performance battery (SPPB). A pressão respiratória máxima foi realizada por meio da manovacuometria, e a capacidade funcional por meio do teste de caminhada de seis minutos (TC6). Resultados: O IMC foi de 26, 51 ± 5,2 kg/m², a força de preensão manual 23,15 ± 5,57 kgf, a pontuação total média da SPPB encontrada foi de 10,58 ± 1,67 pontos, e a PImáx 57,29 ± 18,47 cmH2O e da PEmáx 74,59 ± 19,11 cmH2O. A distância percorrida no TC6 foi de 487,88 ± 88m. Encontramos correlações entre a distância percorrida no TC6, o SPPB (r = 0,43; p ≤ 0,05) e a PImáx (r = 0,43; p ≤ 0,05) e também entre o SPPB e a PEmáx (r = 0,51; p ≤ 0,05). Conclusão: Houve associação entre a capacidade funcional e desempenho físico de MMII e força respiratória de idosas da comunidade, sugerindo que esses músculos devem ser incluídos nos programas de reabilitação de idosos para melhora da capacidade funcional. Palavras-chave: Músculos respiratórios, força muscular, idosas, mulheres. ABSTRACT Objective: The aim of this study was to evaluate the relationship between the lower limbs physical performance, respiratory muscle strength, and the functional capacity in healthy elderly in the community. Methodology: A total of 24 elderly, with an average age of 66.17 ± 4.22 years, were evaluated. A manual grip test was used to evaluate the muscle strength of the superior limbs (SL), and a Short Physical Performance Battery (SPPB) test was used to evaluate the performance of the lower limbs (LL). Maximum respiratory pressure was tested using a manometer; while functional capacity was evaluated using the Six Minute Walk Test (6MWT). Results: The BMI was 26.51 ± 5.2 kg/m², the manual grip strength was 23.15 ± 5.57 Kgf, the mean total score of SPPB was 10.58 ± 1.67 points, the maximum inspiratory pressure (MIP) was 57.29 ± 18.47 cmH2O, and the maximum expiratory pressure (MEP) was 74.58 ± 19.11 cmH2O. The distance covered during the 6MWT was 487.88 ± 88m. There were correlations between the distance covered during the 6MWT, the SPPB (r = 0.43; p ≤ 0.05) and the MIP (r = 0.43; p ≤ 0.05) and also between the SPPB and the MEP (r = 0.51; p ≤ 0.05). Conclusion: There was an association between functional capacity, lower limbs physical performance, and respiratory strength in elderly people, suggesting that these muscles should be included in rehabilitation programs for elderly people in order to improve functional capacity. Keywords: Respiratory muscles, muscle strength, elderly, women. Endereço para correspondência: Karla Helena Coelho Vilaça - Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Gerontologia - Universidade Católica de Brasília - UCB SGAN 916 Módulo “B”. Av. W5 Norte, Sala 132 - Asa Norte, Brasília - DF - CEP: 70790-160 - Tel: (61) 3448-7228, 3448-7262 - E-mail: [email protected] INTRODUÇÃO De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),1 até 2050 haverá cerca de 36 milhões de idosos no Brasil. A partir da década de 1960, a população começou a envelhecer de forma rápida e, atualmente, os idosos representam cerca de 10% da população geral.2 Várias aptidões definem, em conjunto, a capacidade funcional do idoso, e entre elas, a cardiorrespiratória, que é considerada de grande importância, pois permite identificar a habilidade do sistema cardiopulmonar em disponibilizar substratos energéticos e oxigênio para a realização de atividades físicas.3 Dentre as alterações mutissistêmicas propiciadas pelo processo de envelhecimento, a redução da massa muscular e da força são eminentes, e esse processo é conhecido como sarcopenia, que desencadeia um fator predisponente para a perda de independência funcional, contribuindo assim para o agravamento da perda da capacidade funcional e piora da qualidade de vida dessa população.4 O desempenho muscular respiratório sofre uma queda com o aumento da idade, resultando na redução da força máxima diafragmática, perda de área de seção transversal nos músculos intercostais, que por sua vez reduz a habilidade para ventilação à medida que a caixa torácica perde complacência.5,6 Associados a essas alterações, a diminuição da força muscular nos membros inferiores pode dificultar o desempenho em atividades funcionais, como subir escadas, levantar de uma cadeira e deambular. Estas alterações podem desencadear perda do status funcional e gerar sintomas limitantes que comprometem a tolerância ao exercício físico.7 O sedentarismo nesse cenário reflete-se no declínio funcional do idoso, diminuindo as suas funções neuromotoras, o que pode 379 aumentar a incidência de patologias e levar a uma condição de fragilidade.8 Surge a necessidade, portanto, do conhecimento dos fatores associados ao prejuízo da capacidade respiratória e da funcionalidade dos idosos para auxiliar a elaboração de estratégias terapêuticas visando a contribuir para o desenvolvimento de novas pesquisas e implementação de programas direcionados a essa população. A avaliação da função da musculatura periférica da força dos músculos respiratórios e da capacidade funcional é de grande importância, pois pode favorecer tratamentos que propiciem aos idosos melhora na realização de suas atividades de vida diária, dando possibilidades de uma vida com mais funcionalidade e independência. Dessa forma, o objetivo deste estudo foi avaliar a força muscular respiratória, a função muscular periférica e a capacidade funcional de idosas saudáveis da comunidade e verificar se há correlação entre as variáveis estudadas. MATERIAis E MÉTODOS Este estudo observacional, de coorte transversal, foi realizado com uma amostra de conveniência, com 24 voluntárias, do sexo feminino, com idade entre 60 e 75 anos. As idosas foram recrutadas na Universidade Aberta da Terceira Idade (Uati) do município de São Carlos, SP, que disponibiliza aos adultos e idosos da comunidade em parceria com a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) o programa de atividade física chamado Revitalização Geriátrica, além de cursos de artesanato, artes cênicas, música e línguas. O estudo foi conduzido de acordo com a Resolução n. 196/96 e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de São Car- 380 Geriatria & Gerontologia los (Parecer n. 117/2011). Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido previamente. Foram excluídas do estudo idosas dependentes para as atividades de vida diária, sedentárias, com síndromes demenciais, alcoolistas, pneumopatas, fumantes ou ex-fumantes, hipertensas não controladas, cardiopatas ou que tivessem complicações ortopédicas que pudessem impedir a realização do protocolo proposto. A coleta foi realizada na Fundação Educacional de São Carlos (Fesc), onde acontecem as aulas da Uati. As voluntárias foram avaliadas individualmente e em um único dia, com duração de aproximadamente uma hora. As idosas passaram por uma avaliação clínica, incluindo autorrelato da presença ou ausência de doenças, como cardiopatia, hipertensão arterial, diabetes mellitus, câncer, doença reumática, doença pulmonar crônica e depressão, além de antecedentes pessoais, familiares, doenças associadas, medicações e atividade física. O nível de atividade física das participantes foi avaliado mediante aplicação do Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ), versão longa, em abordagem de entrevista, contendo perguntas em relação à frequência e duração da realização de atividades físicas, tendo como referência a última semana. Dessa forma, todas as voluntárias foram classificadas como ativas.9 A função muscular periférica, de membros superiores (MMSS) e membros inferiores (MMII) foi avaliada pela força de preensão manual (FPM) e pelo instrumento Short Physical Performance Battery (SPPB).10 Para avaliar a FPM foi utilizado um dinamômetro portátil hidráulico (Jamar, modelo Samons Preston INC Bolingbrook, IL 604404989), com escala de graduação em quilo- gramas/força (kgf ). O procedimento do teste seguiu as recomendações da American Society of Hand Therapists (ASHT).11 As voluntárias foram orientadas a permanecerem sentadas confortavelmente, com o braço aduzido paralelo ao tronco, cotovelo flexionado a 90o, antebraço em posição neutra e punho entre 0o e 30o de extensão; a alça móvel do equipamento permaneceu na posição II, assim puxavam a alça do dinamômetro, mantendo-se por seis segundos e, na sequência, relaxavam. Foram realizadas três medições do lado dominante com intervalos de um minuto entre elas, sendo registrado o maior valor obtido. A função muscular dos MMII foi avaliada por meio da aplicação do instrumento Short Physical Performance Battery (SPPB)10 que é composto por três testes que avaliam, na sequência, o equilíbrio estático em pé, a velocidade de marcha em passo habitual e a força muscular dos MMII por meio do movimento de levantar-se e sentar-se na cadeira cinco vezes consecutivas sem o auxílio dos braços.12 Para o teste de equilíbrio as participantes foram orientadas a permanecer em cada posição (em pé com os pés juntos, em pé com os pés um parcialmente à frente, em pé com um pé à frente) por dez segundos.10 Para o teste de velocidade de marcha, foi utilizada a distância de quatro metros e atribuiu-se pontuação zero à participante incapaz de completar o teste.12 A pontuação para cada teste variou numa escala de zero, que corresponde ao pior desempenho, a quatro pontos, que corresponde ao melhor desempenho.13,14 A força muscular respiratória foi avaliada por meio do Manovacuômetro analógico (Gerar, MV300, São Paulo, Brasil) escalonado em -300 a +300 cmH2O, que é um instrumento que apresenta confiabilidade, precisão, reprodutibilidade, facilidade de manuseio e possibilidade de calibração.15 Função muscular periférica e força muscular respiratória de idosas As mensurações da pressão inspiratória máxima (PImáx) e da pressão expiratória máxima (PEmáx) foram baseadas nas determinações da American Thoracic Society (ATS) e foi seguido o protocolo de Soares.16 As voluntárias foram posicionadas sentadas e eretas e foram realizadas duas manobras para familiarização e aprendizado. A posição alcançada ao final dos esforços máximos foi mantida por, pelo menos, um segundo para caracterização da pressão de platô.15 Para avaliação do desempenho funcional foi realizado o teste de caminhada de seis minutos (TC6), seguindo as recomendações da ATS.17 O teste foi realizado em uma pista de trinta metros, com marcações a cada dois metros, sendo que a linha de partida, que marca o início e o fim de cada volta, foi marcada com cones. Antes de realizar o TC6 as idosas foram instruídas a respeito do teste e a participante foi solicitada a andar mais rápido e percorrer a maior distância possível, estimulada com frases de incentivo padronizadas. Durante o teste a frequência cardíaca foi monitorada por meio de frequencímetro (Polar FS1, China). No início e no fim do teste foram monitoradas a pressão arterial e a saturação de oxigênio com oxímetro de pulso de dedo (ONYX 9500, Nonin Medical, Plymouth, Mn, USA). Análise estatística Para análise estatística foi utilizado o programa Graphpad Instat (versão 3, ano 2003). As variáveis estudadas estão apresentadas em seus valores médios ± desvios-padrão (DP). Como os dados apresentaram uma distribuição normal pelo teste de Kolmogorov e Smirnov, foi utilizado o teste t Student não pareado para comparar as variáveis de força muscular respiratória, periférica e a capacidade funcional das idosas. O teste de correlação de Pearson foi aplicado 381 para investigar a correlação entre as variáveis FPM, a pontuação total da SPPB, os valores da PImáx e PEmáx e a distância percorrida no TC6, para valores de concordância sendo: > 0,75 excelentes, entre 0,40 e 0,75, moderada e < 0,40 pobre. O nível de significância considerado foi de p ≤ 0,05. Resultados Foram avaliadas 24 idosas da comunidade, com idade média de 66,17 ± 4,22. As variáveis antropométricas analisadas foram massa corporal, altura e IMC. Em relação à capacidade funcional, as variáveis observadas foram TC6 e Short Physical Performance Battery. A análise de força muscular foi verificada por meio das pressões respiratórias máximas e dinamometria. Os valores médios são demonstrados na Tabela 1. Analisamos a associação entre dados contínuos e variáveis de desempenho físico de MMII, capacidade funcional e força muscular respiratória de idosas da comunidade. O resultado do teste da caminhada de seis minutos minutos (m) apresentou correlação com duas variáveis, sendo significativa e moderada tanto com o Short Physical Performance Battery (r = 0,43 e p ≤ 0,05) quanto com a PImáx (cmH2O) (r = 0,43 e p ≤ 0,05). O SPPB também apresentou correlação moderada e significativa com PEmáx (cmH2O) (r = 0,51 e p ≤ 0,05). Não houve correlação entre as demais variáveis avaliadas (Tabela 2). DISCUSSÃO Este estudo avaliou a associação entre a função muscular periférica de MMSS e MMII, a função muscular respiratória e a capacidade funcional em idosas provenientes da comunidade. Foi encontrada correlação positiva significativa entre a capacidade funcional, avaliada 382 Geriatria & Gerontologia pela distância da caminhada de seis minutos e a função de membros inferiores, avaliada pela SPPB; a força muscular inspiratória máxima e a função de membros inferiores também apresentaram correlação positiva significativa com a força muscular expiratória máxima. Com os resultados do presente estudo, pode-se destacar que a função de MMII com- Função muscular periférica e força muscular respiratória de idosas posta pela velocidade de marcha, equilíbrio e força de MMII é influenciada tanto pela capacidade funcional quanto pela força da musculatura expiratória. Além disso, encontramos associação entre o desempenho físico e a força da musculatura inspiratória. Esses dados concordam com os resultados encontrados na literatura,18,19 em Tabela 1. Características demográficas e antropométricas, capacidade funcional e força muscular em idosas da comunidade Idosas (n = 24) Características Média DP Variáveis demográfícas e antropométricas Idade (anos) 66,17 ± 4,22 Massa corporal (kg) 64,25 ± 12,34 Estatura (m) IMC (kg/m²) Capacidade funcional e força muscular TC6 (m) PImáx (cmH2O) PEmáx (cmH2O) SPPB (0 a 30 pontos) Força de preensão manual (kgf) 1,56 26,51 ± ± 0,05 5,2 487,88 57,29 74,59 10,58 23,15 ± ± ± ± ± 88 18,47 19,11 1,67 5,57 IMC: índice de massa corporal; TC6: teste de caminhada de seis minutos; PImáx: pressão de inspiração máxima; PEmáx: pressão de expiração máxima; SPPB: short physical performance battery. Dados paramétricos contínuos representados em média ± desvio-padrão. Tabela 2. Correlação entre variáveis de desempenho físico de MMI, capacidade funcional e força muscular respiratória de idosas da comunidade Capacidade funcional Variáveis gerais TC6 (m) SPPB (0 a 30 pontos) 0,13 0,12 TC6 (m) - 0,43 SPPB (0 a 30 pontos) - - Força de preensão manual (kgf) Força muscular respiratória PImáx (cmH2O) 0,12 a,b 0,43 0,25 PEmáx (cmH2O) 0,16 a,b 0,32 0,51 a,b TC6: teste de caminhada de seis minutos; SPPB: short physical performance battery; PImáx: pressão inspiratória máxima; PEmáx: pressão expiratória máxima. a Correlação linear de Pearson para associação das variáveis de desempenho físico de MMII, capacidade funcional e força muscular respiratória, em que se admitiu para valores de concordância: > 0,75, excelente; < 0,40, pobre; e entre 0,40 e 0,75, moderada. b p ≤ 0,05. que o aumento da capacidade inspiratória está associado ao melhor desempenho do idoso durante o exercício físico. Alguns estudos descrevem maiores valores da distância percorrida durante o TC6 na população idosa quando comparados com os valores previstos,6 sugerindo maior capacidade funcional e melhor a capacidade da musculatura respiratória.20 Vasconcellos et al.,19 em outro estudo, avaliaram correlação entre a PImáx, PEmáx, a distância percorrida no TC6 em idosas sedentárias e encontraram correlação positiva entre a distância percorrida e a força muscular inspiratória, semelhante aos achados deste estudo. Em nosso estudo, evidenciamos que as idosas que apresentaram maior força muscular na inspiração forçada caminharam maior distância no teste da caminhada. Nesse sentido, durante o processo de envelhecimento, a alteração postural é nítida, as curvaturas da coluna vertebral tornam-se mais acentuadas, há diminuição da complacência pulmonar e diminuição da elasticidade da caixa torácica, propiciando encurtamento da musculatura inspiratória.20 No sistema respiratório as mudanças com o avançar da idade ocorrem crescentemente, provocando a diminuição da elasticidade dos pulmões e da complacência da caixa torácica. Essas alterações estão relacionadas às mudanças da quantidade dos componentes do tecido conjuntivo do pulmão, como a elastina, o colágeno e as proteoglicanas.21,22 No estudo de Smith et al.,23 o aumento da PEmáx em associação à capacidade funcional após treinamento específico dos músculos expirátórios foi importante para o aumento da ventilação durante o exercício, o que implica a associação entre a função de MMII e a PEmáx. O TC6 fornece uma adequada mensuração da capacidade funcional durante a marcha, refletindo assim a habilidade individual 383 do avaliado nas atividades de vida diária. No entanto, além da marcha, a força muscular e o equilíbrio são componentes que fazem parte da capacidade funcional do indivíduo e, especificamente, da função dos MMII. Por isso, ao avaliar a capacidade do idoso, é importante mensurar também outros aspectos, como os contemplados na SPPB (equilíbrio, força de MMII e velocidade de marcha), amplamente reconhecidos como elementos fundamentais para a qualidade de vida dos idosos.24 A SPPB tem sido apontada por estudos internacionais como um instrumento prático e eficaz para a avaliação do desempenho físico e o rastreamento de idosos com riscos de desenvolver incapacidades.13 Nossos achados corroboram com dados da literatura na medida em que evidenciamos associação positiva entre o SPPB e o TC6. Assim ambos os instrumentos são úteis para avaliar a capacidade funcional do idoso, além de apresentarem grande aplicação clínica.25 A avaliação da funcionalidade deve ser incorporada nos centros de atendimento ao idoso para que as mudanças do desempenho físico no decorrer dos anos sejam mais bem interpretadas e compreendidas.26 A medida do desempenho físico é um integrante básico e essencial em clínicas de saúde, na avaliação do idoso para propiciar uma terapêutica individualizada e promover o acompanhamento evolutivo desses pacientes durante o processo de envelhecimento.27,28 Este estudo expôs algumas considerações sobre a capacidade funcional de idosas independentes, que residem na comunidade, e seus resultados não podem ser generalizados para outra população. O tamanho reduzido da amostra pode ter influenciado na ausência de relação entre algumas variáveis, achados que não podem ser tomados como definitivos. Além disso, a função muscular de MMSS 384 Geriatria & Gerontologia e MMII, a função muscular respiratória e a distância na caminhada no TC6 representam apenas alguns aspectos da funcionalidade do idoso. A capacidade funcional humana é complexa e abrangente e envolve diversas outras características que não foram abordadas neste estudo. Adicionalmente, este trabalho apresenta limitações inerentes aos estudos transversais que representam o momento da vida desses indivíduos, sem, contudo, identificar os fatores que conduziram aos observados. Assim, outras pesquisas são relevantes em diferentes perfis de idosos, como os institucionalizados e do gênero masculino, além de avaliar outros parâmetros da funcionalidade física dessa população. CONCLusão Este estudo mostrou associação entre a capacidade funcional e a desempenho físico de MMII e força respiratória de idosas da comunidade, sugerindo uma terapêutica individualizada que contemple os músculos periféricos e respiratórios nos programas de reabilitação de idosos para melhora da capacidade funcional e promoção da saúde no envelhecimento. CONFLITO DE INTERESSE O presente estudo não apresentou conflito de interesse. REFERÊNCIAS 1. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Primeiros resultados definitivos do Censo 2010: população do Brasil é de 190.175.799 pessoas. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/ home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia = 1866&id_pagina = 1. Acesso em 20 jan 2013. 2. Garrido R, Menezes PR. O Brasil está envelhecendo: boas e más notícias por uma perspectiva epidemiológica. Rev Bras Psiquiatr. 2002;24(24):3-6. Função muscular periférica e força muscular respiratória de idosas 3. Taylor BJ, Johnson BD. 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Diferentes tipos de treino de força Artigo Original Efeitos de diferentes tipos de treino de força na resposta muscular e funcional de mulheres idosas Effects of different types of strength training on muscle response and functional response in elderly women Cleiton Silva Correa¹, Ronei Silveira Pinto¹ RESUMO ¹Laboratório de Pesquisa do Exercício, Escola de Educação Física, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. Objetivo: Avaliar os efeitos de três tipos diferentes de treinamento de força nas variáveis: força dinâmica máxima, onset muscular, tempo de reação e desempenho funcional em 41 mulheres idosas submetidas a doze semanas. Métodos: A amostra (65,4 ± 5,8 anos) foi divida aleatoriamente em três grupos: treinamento de força tradicional (TFT) (n = 14); treinamento de potência (TP) (n = 14); treinamento da força reativa (TFR) (n = 13). Resultados: Houve um incremento significativo no 1RM (Resistência Muscular) de extensão de joelhos (p < 0,01) após as doze semanas de treino, sem diferença entre os grupos. Em seguida a esse período de treino houve redução significativa no onset do músculo RF nos grupos TFR e TP (p < 0,05), bem como do tempo de reação (TRea) (p < 0,05) em TFR. Ocorreu melhora significativa do desempenho no teste de sentar-levantar em 30 s no grupo TFR, sendo esta maior do que nos grupos TFT e TP (p < 0,05). Conclusão: O treinamento de força reativa mostrou-se mais efetivo do que os treinos tradicional e de potência para o incremento de variáveis neurais (ex: onset muscular e tempo de reação), assim como do desempenho funcional (por exemplo, teste de sentar e levantar em 30 s) em mulheres idosas. Palavras-chave: Força muscular, idosas, atividades cotidianas, mulheres, envelhecimento, desempenho funcional. ABSTRACT Objective: This study aimed to evaluate the effects of three different types of strength training in the variables: maximum dynamic force; muscle onset; time and functional reaction performance in 41 elderly women during 12 weeks. Methods: The sample (65.4 ± 5.8 years) was divided randomly in three groups: Traditional Strength Training (TFT) (n = 14), Training Power (TP) (n = 14) and Reactive Power Training (TR) (n = 13). Results: The results showed an improvement in 1RM of knee extension (p <0.01) from the previous to the post 12-week trainee program showing no difference between groups of strength training. At the end of 6 weeks the onset RF muscle was significantly decreased in the groups TR and TP, the VL and reaction time (RT) was significantly lower in TR and this last group showed a better performance during the sit-ups in 30s than the groups TFT and TP (p <0.05). Conclusion: The reactive strength training showed itself to be more effective to the improvement of the muscles responses as the reaction time and onset muscular in elderly women; therefore it showed better results in the functional test sitting-standing during 30s than in the traditional and in the power training group. Keywords: Muscle strength, aged, ativities of daily living, women. Endereço para correspondência: Cleiton Silva Correa - Lapex, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) - Rua Felizardo, 750, Jardim Botânico, Porto Alegre, RS, - CEP: 90690-200 - Tel: (51) 3308-5894 Fax: (51) 3308-5817 - Email: [email protected] INTRODUÇÃO O envelhecimento está associado ao declínio da função neuromuscular, em que são negativamente afetados fatores neurais como o padrão de recrutamento, a taxa de disparo e a sincronização das unidades motoras,1-3 o que decorre no prejuízo do tempo de reação muscular e da performance funcional4. Com o processo de envelhecimento, a capacidade de produção de força explosiva e/ou reativa apresenta uma diminuição superior à produção de força máxima.5 Essa redução compromete severamente as atividades de vida diária (AVD), como, por exemplo, sentar e levantar de uma cadeira, e subir um lance de escadas, as quais são dependentes do tempo de reação e ativação muscular.6-8 O início da ativação dos diferentes músculos sinergistas (onset muscular) ativados em determinado movimento parece ser um sinalizador da coordenação intermuscular, e afeta de forma determinante o desempenho funcional dos indivíduos.9-11 A melhora do onset muscular e, consequentemente, da força reativa constitui-se numa importante alteração decorrente do treinamento de força, e está associada à prevenção de quedas em idosos.12-14 A incidência de quedas em mulheres idosas é maior do que em homens idosos, e é provavelmente associada à maior inatividade física e questões hormonais relacionadas às mulheres idosas. Assim, idosas são mais dependentes de terceiros no cumprimento das AVD, sobretudo naquelas que envolvem maior risco de quedas. Algumas estratégias têm sido utilizadas no controle de quedas de idosos, e o treinamento de força vem sendo apontado como uma ferramenta eficaz nesta perspectiva.15-17 Treinamento de força reativa (TFR), exercícios de força com a presença do ciclo alongamento e encurtamento, 18 treinamento de 387 potência (TP), alta velocidade de contração muscular na fase concêntrica, treinamento de força tradicional (TFT) e baixa e controlada velocidade de contração muscular causam diferentes adaptações neuromusculares. Em mulheres idosas, o TP parece ser mais adequado que o TFT para a melhora do desempenho funcional. Já o TFR parece ser mais efetivo no incremento de vários componentes da função muscular (i.e., força máxima, potência e um menor tempo de reação muscular), repercutindo de forma ainda mais favorável na performance funcional.19 Nessa perspectiva, o presente estudo tem o objetivo de comparar os efeitos de três diferentes tipos de treinamento de força: na força dinâmica máxima, onset muscular, tempo de reação e no teste funcional de sentar e levantar em 30 s em mulheres idosas. MATERIAis E MÉTODOS A amostra foi composta por 58 mulheres idosas com idade de 65,4 ± 5,8 anos, que não realizavam TF de forma regular e sistemática por pelo menos um ano anterior ao estudo. Como critério de inclusão, os indivíduos não poderiam apresentar histórico de doenças endócrinas, metabólicas e neuromusculares, além de não fazerem uso de qualquer medicamento com influência no metabolismo endócrino ou neuromuscular. Foram excluídos do estudo os indivíduos que faltaram a três sessões de treinos consecutivos. Cada indivíduo foi informado sobre os procedimentos metodológicos desse estudo a partir da leitura de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (n. 19.322). O presente estudo cumpriu todos os princípios éticos contidos na Declaração de Helsinki (2000), e teve o atendimento a legislações específicas do país (Brasil) no qual a pesquisa foi realizada. 388 Geriatria & Gerontologia Desenho experimental Os indivíduos foram submetidos a um período de doze semanas de treinamento de força. Os grupos de TF treinaram duas vezes por semana, em dias alternados (segundas e quartas ou terças e quintas-feiras), com intensidade e volume progressivos, periodizados de forma linear.20,21 O grupo controle (GC) não realizou qualquer tipo de exercício de força durante as doze semanas de intervenção. O experimento foi dividido em dois momentos: Momento 1: Teve duração de seis semanas, os sujeitos foram divididos em dois grupos: grupo experimental e grupo controle (GE, n = 41 e GC, n = 17). Neste período, o GE realizou um programa periodizado de TF, em que o objetivo foi incrementar a resistência muscular localizada (RML). Momento 2: Da mesma forma, teve duração de seis semanas, sendo que os indivíduos do GE foram divididos em três grupos distintos: treinamento de força tradicional (TFT, n = 14), treinamento de potência (TP, n = 13) e treinamento de força reativa (TFR, n = 14). Os programas de treino TFT e TP foram compostos pelos mesmos exercícios para os membros inferiores: pressão de pernas, extensão de joelhos e flexão de joelhos, sendo que no TP, a fase concêntrica desses exercícios foi realizada com a máxima velocidade possível. No programa de treino TFR o exercício pressão de pernas foi substituído pelo exercício de step (subir e descer com alternância de membros inferiores) em um período máximo de 15 a 20 s. Instrumentos Força dinâmica máxima (1RM) O teste de 1RM caracteriza-se pela maior carga que pode ser deslocada em uma única repetição em determinado exercício,21 e foi realizado no exercício de extensão de joelhos. O equipamento utilizado para tal foi a “cadeira extensora” da marca WORLD-ESCULPTOR, com resolução de 1 kg. Para o controle da velocidade de movimento durante o teste, foi utilizado um metrônomo da marca QUARTZ, com resolução de 1 Hz.22 Tempo de reação (TRea) e onset muscular (OM) O TRea foi mensurado em uma contração isométrica voluntária máxima (CIVM), iniciada a partir de um estímulo visual de luz e realizada no equipamento leg press. O OM do sinal EMG (RMS) dos músculos vasto lateral (VL), vasto medial (VM) e reto femoral (RF) foi definido a partir do uso de um algoritmo, a partir do qual foi identificado o ponto exato entre o início do estímulo visual emitido pelo diodo emissor de luz (LED) e o ponto de início da ativação muscular. Foram utilizadas as seguintes equações: a) tempo de reação: (TRea = μ + 3σ), em que o TRea é igual à média (μ) do período de pré-tensão (25 ms) somado a três desvios-padrão (σ) deste período na curva de força (kgf); b) onset muscular: (OM = μ + 3σ), em que o OM é igual à média (μ) do período de prétensão (25 ms de maior variação em 200 ms) somado a três desvios-padrão (σ) deste período no sinal EMG (RMS).23,24 Sentar e levantar em 30s O teste de sentar e levantar de uma cadeira em 30 s iniciava-se com o sujeito sentado no centro da cadeira, com as costas retas e os pés sobre uma superfície plana, afastados aproximadamente na largura dos ombros. Os braços permaneciam cruzados e fixos na altura do peito, sendo que os quadris e os joelhos eram posicionados em aproximadamente 90° no início do teste. Ao sinal verbal emitido pelo avaliador, o sujeito levantava-se da cadeira até a posição 389 Diferentes tipos de treino de força ereta plena (joelhos e quadris completamente estendidos) e, em seguida, retornava à posição inicial. Com contagem verbal (em voz alta) de todas as repetições válidas, o sujeito era incentivado a concluir o maior número possível de repetições em um período de 30 s.25 Análise estatística Foi utilizada a estatística descritiva (média ± DP), sendo que a normalidade dos dados foi avaliada a partir do teste Kolmogorov-Smirnov e a homogeneidade das variâncias pelo teste de Levene. Para comparação entre os grupos nos momentos pré-treinamento, seis e doze semanas de treino, foi usada a Anova two-way para medidas repetidas (3 grupos x 3 momentos), com o post-hoc de Bonferroni. Também foi usada a one-way Anova para comparação de mudanças relativas entre o GE e o GC nos diferentes momentos do estudo. O nível de significância adotado foi um delta < 0,05, e todas as análises foram realizadas usando o software SPSS versão 17.0. Resultados Nas seis semanas iniciais do treinamento, o GE apresentou um aumentou significativo do 1RM da extensão de joelhos e número de repetições no teste sentar-levantar (p < 0,05) em relação ao GC. Neste mesmo período, houve uma diminuição no onset muscular (OM) (VL, VM e RF) e no tempo de reação (TRea) (p < 0,05). No GC não houve mudança significativa (Tabela 1). Nas seis semanas finais, após a divisão do GE em TFT, TP e TFR, o 1RM (Figura 1a) aumentou significativamente em todos os grupos (p < 0,05), sem diferença entre eles. O OM (Tabela 2) e TRea (Figura 1b) diminuíram significativamente no TFR (p < 0,05), sendo que os grupos TFT e TP não apresentaram diferença relevante nestas variáveis. O grupo TFR aumentou significativamente o número de repetições máximas no teste de sentar e levantar em 30 s (Figura 1c) em relação aos grupos TFT e TP (p < 0,05). Tabela 1. Resultados pré e pós seis semanas iniciais de treinamento de força Variáveis Grupo experimental, N = 41 Grupo controle, N = 17 Pré Após 6 semanas Pré Após 6 semanas 42,5 ± 8,1 50,4 ± 8,4 †* 39,1 ± 8,3 36,8 ± 9,0 OM-VL (ms) 324,5 ± 69,4 194,3 ± 51,6 †* 343,8 ± 76,3 311,2 ± 75,7 OM-VM (ms) 356,8 ± 68,7 236,9 ± 54,4 †* 298,7 ± 67,9 320,9 ± 63,8 OM-RF (ms) 346,2 ± 66,3 275,9 ± 49,9 †* 350,7 ± 64,9 328,8 ± 63,7 TRea (ms) 473,2 ± 67,1 318,3 ± 50,1 †* 457,4 ± 91,5 398,6 ± 80,5 SL (n. reps) 14,1 ± 1,5 17,2 ± 1,3 †* 15,7 ± 2,0 15,7 ± 2,0 1RM (kg) Valores em média ± DP. † Diferença significativa entre pré e após seis semanas (p < 0,05). * Diferença significativa entre grupo experimental (GE) e grupo controle (GC) (p < 0,05). 1RM = uma repetição máxima; VL = vasto lateral; VM = vasto medial; RF = reto femoral; OM = onset muscular; TRea = tempo de reação; SL = teste de sentar e levantar em 30 s. 390 Geriatria & Gerontologia Diferentes tipos de treino de força Tabela 2. Valores em média ± DP do Onset muscular nas seis semanas finais (6 e 12) de treinamento de força TFT TP TFR Variáveis Semana 6 Semana 12 Semana 6 Semana 12 Semana 6 Semana 12 OM-VL (ms) 194,3 ± 51,6 272,6 ± 98,2 195,7 ± 42,3 229,2 ± 75,7 262,5 ± 56,1 229,2 ± 33,4* OM-VM (ms) 205,1 ± 54,3 254,9 ± 94,6 218,9 ± 38,7 239,1 ± 96,7 226,6 ± 38,9 248,6 ± 59,3 OM-RF (ms) 255,9 ± 49,9 285,9 ± 109,0 223,7 ± 51,4 252,8 ± 63,7 291,2 ± 44,3 203,0 ± 43,6 †* Valores em média ± DP. † Diferença significativa entre as semanas 6 e 12 (p < 0,05). * Diferença significativa do grupo TFR em relação aos grupos TP e TFT (p < 0,05). TFT = treinamento de força tradicional; TP = treinamento de potência; TFR = treinamento de força reativa; OM = onset muscular; VL = vasto lateral; VM = vasto medial; RF = reto femoral. Figura 1. Valores em média ± DP e Δ (%) pré e pós seis e doze semanas finais (6 e 12) de treinamento de força. A. 1RM na extensão de joelhos (kg). B. Sentar e levantar em 30 s (n. de repetições). C. Tempo de reação muscular (ms). * Diferença significativa do TFR em relação ao TFT e TP (p < 0,05). † Diferença significativa entre as semanas 6 e 12 de treinamento de força (p < 0,05). TFT = treinamento de força tradicional; TP = treinamento de potência; TFR = treinamento de força reativa. DIsCUSSÃO O principal achado deste estudo foi o fato de o treinamento de força reativa (TFR) ter se mostrado mais eficiente do que o treinamento de força tradicional (TFT) e o treinamento de potência (TP) no teste de sentar e levantar em 30 s em mulheres idosas. Ademais, os três diferentes tipos de treinamento de força (TFT, TP e TR) aumentaram significativamente a capacidade de produção de força máxima (1RM), sem diferenças significativas entre os grupos distintos. Esses resultados ressaltam ainda a importância da utilização de um exercício como o step (de fácil execução e sem adição de sobrecarga externa) no incremento da força dinâmica máxima dos extensores de joelho. Com relação às adaptações relacionadas ao desenvolvimento da força dinâmica máxima e da potência muscular, os resultados do presente estudo concordam com estudos prévios que observaram incrementos na força máxima relacionados à execução de exercícios pliométricos adaptados, em que o ciclo alongamento encurtamento (CAE) 26 estava presente.27-30 Nossos resultados ressaltam a importância do treinamento de força reativa, uma vez que o grupo TFR, no qual houve a substituição de um exercício com maior possibilidade de sobrecarga (i.e., pressão de pernas) por outro com a utilização do CAE em alta velocidade de execução (i.e., step), não apresentou prejuízo nos incrementos na força máxima. Isso pode ser explicado pelo fato de a utilização de exercícios com CAE promover o recrutamento de unidades motoras de maior limiar de ativação (i.e., fibras de tipo II), as quais são também ativadas em condições de produção máxima de força. Além da força máxima e da potência de membros inferiores, o onset muscular (OM) e o tempo de reação (TRea) são indicadores da qualidade e responsividade do sistema neuromuscular de idosos.29 No presente estudo, foi observada uma redução significativa no OM do músculo RF no grupo TFR, que apresentou valores significativamente menores que o grupo TFT e TP após o treinamento. O músculo VL também diminui significativamente no grupo TFR, novamente apresentando que este tipo de treinamento é mais efetivo para a diminuição do tempo de ativação muscular (i.e., menor tempo em milissegundos de onset muscular demonstra que o músculo é ativado mais rapidamente quando recrutado). Funcionalmente, a diminuição do onset muscular (OM) e do tempo de reação (TRea) podem aumentar a capacidade de mulheres idosas de desviarem de obstáculos ou manterem-se em pé em situações de desequilíbrio corporal, o que parece contribuir para a redução de quedas nesta população. De fato, LaRoche et al.24 demonstraram que mulheres idosas com menor propensão a quedas possuíam melhor desempenho no tempo de reação e no tempo de ativação de músculos dos membros inferiores (tornozelo e joelho). 391 A ausência de modificações no onset muscular (OM) do músculo mono articular VM pode ter ocorrido devido a possíveis adaptações na estratégia de recrutamento muscular durante a tarefa avaliada.30 Além disso, tem sido demonstrado que adaptações neuromusculares ao treinamento podem não ocorrer na mesma magnitude em todos os músculos que compõem o quadríceps femoral. A grande variabilidade dos valores do sinal EMG na avaliação do onset muscular no músculo VM pode ter sido um fator limitante deste estudo, sendo este o único músculo a não apresentar diferença significativa após doze semanas de treinamento em todos os grupos. Em relação à força reativa, no presente estudo foi constatado que apenas seis semanas de treinamento de força reativa (TFR) foram suficientes para a redução no tempo de reação muscular (TRea), o que não ocorreu nos outros dois tipos: treinamento de potência (TP) e treinamento tradicional (TFT) (Figura 1b). Este resultado demonstra que o TFR, além de incrementar a força dinâmica máxima em igual magnitude que o TP e TFT, aumenta a força reativa muscular dos extensores de joelhos. Nossos resultados corroboram os resultados reportados por Casserotti et al.,7 que verificaram aumentos na força reativa dos extensores de joelho de idosos após 12 semanas de treinamento de força reativa. E ainda, da mesma forma que no presente estudo, esses autores demonstraram que uma frequência de treinamento de apenas duas vezes por semana é capaz de melhorar a capacidade de produção de força rápida de mulheres idosas. Neste contexto, o TFR, que apresentou a maior diminuição no onset muscular (OM) e tempo de reação (TRea), também teve influência mais significativa no desempenho do teste funcional de sentar e levantar do que os outros dois tipos de treinamento (TFT e TP). Tais fa- 392 Geriatria & Gerontologia tos sugerem que o OM e o TRea podem constituir variáveis adequadas para a determinação da coordenação intermuscular, bem como da predição da resposta muscular no desempenho funcional de membros inferiores de mulheres idosas na execução de suas AVD. CONCLusão O treinamento de força reativa, ainda que realizado durante períodos curtos (i.e., seis semanas), aperfeiçoa parâmetros neuromusculares relacionados à capacidade de produção de força máxima, rápida e resistente de mulheres idosas, o que lhes predispõe a um melhor desempenho funcional. Assim, a inclusão de exercícios que apresentam o ciclo alongamento-encurtamento (CAE) (i.e., step) em rotinas de treino de força para idosas parece constituir-se numa estratégia adequada para essa população. CONFLITO DE INTERESSE Não houve nenhum tipo de conflitos de interesse aplicável a todos os autores deste trabalho. REFERÊNCIAS 1. Häkkinen K, Alen M, Kallinen M, Newton RU, Kraemer WJ. Neuromuscular adaptation during prolonged strength training, detraining and re-strength-training in middle-aged and elderly people. Eur J Appl Physiol. 2000;83(1):51-62. 4. LaRoche DP, Cremin KA, Greenleaf B, Croce RV. Rapid torque development in older female fallers and nonfallers: a comparison across lower-extremity muscles. J Electromyogr Kinesiol. 2010;20(3):482-8. 5. Frontera WR, Hughes VA, Krivickas LS, Kim SK, Foldvari M, Roubenoff R. Strength training in older women: early and late changes in whole muscle and single cells. Muscle Nerve. 2003;28(5):601-8. 6. Henwood TR, Riek S, Taaffe DR. 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Cadore EL, Pinto RS, Alberton CL, Pinto SS, Lhullier FL, Tartaruga MP et al. Neuromuscular economy, strength, and endurance in healthy elderly men. J Strength Cond Res. 2011;25(4):997-1003. Diferentes tipos de treino de força 15. LaRoche DP, Millett ED, Kralian RJ. Low strength is related to diminished ground reaction forces and walking performance in older women. Gait Posture. 2011;33(4):668-72. 16. Bosco C, Rusko H. The effect of prolonged skeletal muscle stretch-shortening cycle on recoil of elastic energy and on energy expenditure. Acta Physiol Scand. 1983;119(3):219-24. 17. Bottaro M, Machado SN, Nogueira W, Scales R, Veloso J. Effect of high versus low-velocity resistance training on muscular fitness and functional performance in older men. Eur J Appl Physiol. 2007;99(3):257-64. 18. Pyka G, Lindenberger E, Charette S, Marcus R. Muscle strength and fiber adaptations to a year-long resistance training program in elderly men and women. J Gerontol. 1994;49(1):M22-7. 19. Correa CS and Pinto RS. Efeitos de diferentes tipos de treinamento de força no desempenho de capacidades funcionais em mulheres idosas. Estudos Interdisciplinares sobre o Envelhecimento Humano. 2011;16:41-60. 393 23. Laroche DP, Knight CA, Dickie JL, Lussier M, Roy SJ. Explosive force and fractionated reaction time in elderly low- and high-active women. Med Sci Sports Exerc. 2007;39(9):1659-65. 24. LaRoche DP, Roy SJ, Knight CA, Dickie JL. Elderly women have blunted response to resistance training despite reduced antagonist coactivation. Med Sci Sports Exerc. 2008;40(9):1660-8. 25. Rikli RE. Reliability, validity, and methodological issues in assessing physical activity in older adults. Res Q Exerc Sport. 2000;71(Suppl 2):S89-96. 26. Bosco C, Luhtanen P, Komi PV. A simple method for measurement of mechanical power in jumping. Eur J Appl Physiol Occup Physiol. 1983;50(2):273-82. 27. Komi PV. Stretch-shortening cycle: a powerful model to study normal and fatigued muscle. 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Métodos: Participaram do estudo 81 voluntários, sendo 51 mulheres e 30 homens, os quais foram divididos igualmente em três grupos: treinamento misto; treinamento resistido; controle, ou seja, sem qualquer intervenção. Os protocolos de treinamento tiveram duração de seis meses. As variáveis porcentagem de gordura, circunferência abdominal e índice de massa corporal foram coletadas antes do período de intervenção e após seis meses. Para análise estatística, utilizou-se o software Minitab. Resultados: Por meio do teste Anova de fator único não houve diferença significativa entre os três grupos em nenhuma das avaliações, porém o poder do teste calculado a posteriori foi baixo. Entre a primeira e a segunda avaliação dentro de cada grupo (teste t pareado) houve diminuição significativa do índice de massa corporal no grupo misto feminino e da circunferência abdominal no grupo resistido feminino. Pelo teste t para duas amostras, verificou-se diferença significativa entre os gêneros do mesmo grupo apenas na porcentagem de gordura, com valor maior em mulheres em todos os grupos. Conclusão: O estudo trouxe resultados de treinamentos misto e resistido a longo prazo. Ambos os protocolos mostraram-se capazes de manter os níveis de composição corporal em seis meses em indivíduos senescentes, porém a intervenção nutricional adicional e o uso de métodos de avaliação mais sofisticados poderiam potencializar os benefícios. Palavras-chave: Idoso, circunferência abdominal, composição corporal, atividade motora. ABSTRACT Objective: This study aimed to investigate the effects of different physical exercise protocols on body composition and body density in individuals over years-old in São Carlos (SP), Brazil. Methods: The study consisted of 81 volunteers (51 women and 30 men), who were equally divided into three groups: multicomponent training group, resistance training group and control group, which was not submitted to any intervention. The protocols lasted six months. Fat percentage, waist circumference and body mass index were collected before the intervention period and after six months. Statistical analysis was conducted using software MINITAB. Results: The Anova single factor showed no significant difference between the groups in any variable, however the test power was low. Using paired t-test to determine differences between the first and the second assessments within each group, we found a significant decrease of body mass index in women from multicomponent group and waist circumference in women from the resistance group. A two sample t-test demonstrated only significant difference between genders at the same group in fat percentage, with high values in women for all groups. Conclusion: The present study showed long term effects of multicomponent and resistance protocols. Both protocols were able to maintain body composition and body density in six months in senescent individuals; however an additional nutritional intervention and the use of more sophisticated assessments could enhance the benefits. Keywords: Aged, Abdominal circumference, body composition, motor activity. Endereço para correspondencia: Juliana Hotta Ansai - Rua Caramuru, 1125, apto 112, Saúde, São Paulo, SP - CEP 04138-002 - Telefone: (11) 9506 3121 E-mail: [email protected] INTRODUÇÃO Em senescentes, o estado nutricional pode ser afetado por alterações fisiológicas do envelhecimento e presença de comorbidades, além de fatores relacionados aos familiares e à condição socioeconômica. Um adequado estado nutricional é de extrema importância, pois o baixo peso aumenta o risco de infecções e mortalidade e o sobrepeso está relacionado ao aparecimento de doenças crônicas, como hipertensão e diabetes mellitus.1 A inatividade física, resistência à insulina e obesidade aumentam com a idade, porém o exercício físico é capaz de promover mudanças positivas na composição corporal, sensibilidade à insulina e risco de doenças cardiovasculares.² Schneider e Meyer3 revisaram os efeitos de diferentes tipos de exercício físico na composição corporal em adolescentes obesos. Os resultados indicaram que o treinamento aeróbico geralmente resulta na diminuição da gordura corporal, com concomitante redução da massa corporal e manutenção da massa magra. Por outro lado, Sundell4 verificou que o treinamento resistido aumenta a força muscular, bem como a massa magra e a densidade mineral óssea em idosos, além de diminuir a gordura abdominal. Assim, um protocolo que una os benefícios dos dois tipos de treino tem recebido grande atenção para mudanças na composição corporal. Westcott et al.5 submeterem 1.725 pessoas entre 21 e 80 anos a um protocolo aeróbio combinado com resistido em dez semanas, em três frequências de treinamento (uma, duas e três sessões por semana). Todas as frequências resultaram em redução significativa na porcentagem e no peso de gordura, bem como aumento de massa magra, porém maiores frequências associaram-se a benefícios superiores em tais variáveis. Mais pesquisas com protocolos prolongados precisam 395 ser realizadas para verificar efeitos a longo prazo, além de estudos que analisam que tipo de treinamento é mais vantajoso para composição corporal em senescentes. Embora estejam evidenciados os benefícios de programas de atividade física para pessoas mais velhas, usualmente a literatura carece de estudos com período de intervenção prolongada e que compare as mudanças da densidade e composição corporais em protocolos de treinamento misto e de resistência em senescentes. Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi verificar e comparar os efeitos de um protocolo de treinamento misto e de um protocolo de exercícios contrarresistência para indivíduos com mais de cinquenta anos de idade sobre a composição e a densidade corporais. MéTODOS Amostra Participaram do estudo indivíduos residentes no município de São Carlos, de ambos os sexos, com idade superior a cinquenta anos e não institucionalizados. Foram divididos em três grupos. O Grupo GM foi formado por indivíduos submetidos a um protocolo de exercício físico misto. O Grupo GR, composto por servidores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), submeteu-se a exercícios resistidos. O Grupo GC constituiu-se de indivíduos não participantes de protocolos de exercício físico. Para os critérios de inclusão, foram considerados: idade superior a cinquenta anos, praticar somente as atividades propostas para os grupos GM e GR, não praticar nenhuma atividade física para o grupo GC e autorização médica exigida na forma de um atestado durante a avaliação inicial. Os critérios de exclusão foram doenças pregressas e atuais que impossibilitassem a participação nos 396 Geriatria & Gerontologia programas, não completar todas as semanas propostas de treinamento, apresentar crise aguda de dor durante o período da pesquisa que necessitasse de um longo tempo de repouso e ausência em uma das avaliações. Estavam matriculadas nos grupos GM e GR, respectivamente, 193 e 31 pessoas. Os cálculos do tamanho da amostra com base nas variáveis índice de massa corporal (IMC), circunferência abdominal (CA) e porcentagem de gordura (PG) foram realizados com o software Minitab, adotando valor de poder do teste de 80% e nível de significância de 5%, e resultaram em tamanhos amostrais de 32 a 64 indivíduos por grupo.6 Porém, devido à carência de mais voluntários no GC, a amostra de conveniência foi de 27 pessoas por grupo, sendo dezessete mulheres e dez homens. Por meio do software Minitab, houve um sorteio aleatório nos grupos com quantidade de amostra superior ao calculado (grupos GM e GR). Procedimentos gerais O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de São Carlos (Parecer n. 330/2007). Aos participantes dos protocolos de exercício físico supervisionado (Grupos GM e GR) foram explicados os objetivos da pesquisa e entregue um informativo sobre os protocolos. Todos os voluntários assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e participaram de uma avaliação inicial, que consistiu nos seguintes itens: anamnese, medição de CA, PG, peso e estatura. A CA foi medida com a região abdominal despida e por meio de uma fita métrica de fibra de vidro, graduada em centímetros. O padrão seguiu a orientação de Chuang et al.,7 no nível da cicatriz umbilical e no final do movimento expiratório. O peso e a estatura de cada indivíduo foram medidos por meio de uma balança antropométrica mecânica que continha um estadiômetro para medição da estatura. Os indivíduos estavam com o mínimo de roupa possível, descalços e posicionados de costas sobre a balança. Calculou-se o IMC a partir da relação peso (kg) dividido pelo quadrado da altura (m2). A PG foi calculada utilizando-se o aparelho de bioimpedância Tanita® de membros superiores, modelo FE-068. No aparelho, eram digitadas as medidas do peso e da estatura, a idade e o gênero de cada indivíduo, o qual não devia estar usando objetos de metal como correntes, anéis, pulseiras, relógios, placas, prótese ou marcapasso. Para a medição, os indivíduos ficavam em flexão de ombro a noventa graus, com cotovelos estendidos e seguravam o aparelho na região especificada até que fosse identificada a PG. Após seis meses da pesquisa inicial, todos os voluntários foram novamente avaliados por profissionais e estudantes treinados. Intervenção Tendo sido avaliados, os voluntários do Grupo GM participaram de um protocolo misto durante 25 semanas, com 75 sessões de 50 a 55 minutos e frequência de três vezes por semana. O protocolo consistia de alongamentos miofasciais dos principais grupos musculares (como peitorais, grande dorsal, cervicais, paravertebrais, posteriores e anteriores da coxa) com duração de 8 a 10 minutos; exercícios de resistência aeróbia (marchar/caminhar rápido por 9 min); exercícios de força, potência e resistência com pesos livres (7 a 10 min); atividades de coordenação, agilidade e flexibilidade (14 a 16 min); exercícios respiratórios e de relaxamento (5 a 7 min) e hidratação em dois momentos da sessão (25 minutos após o início e ao final da sessão). 397 Exercícios sobre a composição corporal Tabela 1. Modelo de periodização do grupo GR Variáveis Meso 1 (RML*) Meso 2 (hipertrofia) 2a4 3 Repetições 15 a 20 (membro superior) 20 a 25 (membro inferior) 12, 10, 08 Intervalo 2’ 45” Carga 60 a 65% 65, 75, 80% Velocidade Moderada Moderada Amplitude Máxima Máxima Séries *RML: resistência muscular localizada O protocolo de GR consistia de exercícios resistidos em seis meses, composto por seis aparelhos da marca Pró-Phisical (Jaú-SP) adaptados para idosos, com sistema de alavanca e pesos livres: leg press, press peitoral, panturrilha, extensão lombar, abdominal e remada. A sequência de exercícios foi alternada e utilizou-se a técnica de 1 RM (carga máxima) para determinar a carga inicial do treino em cada aparelho. O treinamento seguiu o modelo de periodização (Tabela 1), que constou de dois mesociclos com mesmo período, o primeiro enfocando a resistência muscular localizada e o segundo a hipertrofia, de acordo com as modificações das variáveis do treinamento. O teste 1RM foi refeito na troca do mesociclo. O protocolo teve uma frequência de três vezes por semana, com duração de 45 a 50 minutos cada sessão, sendo 78 sessões no total. Antes e depois de cada sessão, eram aferidas a pressão arterial e a frequência cardíaca de cada voluntário. Todas as sessões foram acompanhadas por profissionais fisioterapeutas e educadores físicos com treinamento para atendimento individual de idosos. Nenhuma orientação nutricional foi dada para os voluntários do projeto. Análise estatística Foi realizada uma análise descritiva e inferencial dos dados por meio da adoção de um nível de significância de α = 0,05 e utilização do software Minitab versão 14 para execução dos testes estatísticos. Primeiramente, foi aplicado o teste de normalidade Ryan-Joiner em todas as variáveis, que detectou a distribuição normal para todo o conjunto de dados (p > 0,05). Assim, posteriormente foram usados teste t pareado na comparação entre as avaliações inicial e final de cada grupo, análise de variâncias (Anova) e teste de Tukey como post hoc nas comparações entre os três grupos. Apesar de não ser objetivo principal do estudo, foi feito teste t de duas amostras para comparação de gêneros. Como não foi possível ter o tamanho amostral ideal, o poder dos testes foi verificado a posteriori. O presente estudo cumpriu os princípios éticos contidos na Declaração de Helsinki (2000), além das legislações específicas do Brasil que envolve pesquisa em seres humanos. 398 Geriatria & Gerontologia Exercícios sobre a composição corporal Resultados Figura 1. Boxplot das variáveis dependentes para os grupos femininos e masculinos nas duas avaliações (p > 0,05). De acordo com os testes Anova de fator único e o teste de Tukey, houve diferença significativa (p < 0,05) quanto à idade apenas entre os grupos GM feminino (média de idade de 59,5 anos) e GC feminino (média de idade de 66,9). Entre os grupos GC, GM e GR masculinos não houve diferença significativa. A média da população do presente estudo encontrou-se entre 60 e 70 anos. A partir do teste Anova de fator único, testou-se a diferença entre os valores dos três grupos na primeira avaliação, bem como na segunda avaliação, quanto às variáveis IMC, CA e PG. A partir do valor p, notou-se que não houve diferença significativa em nenhuma variável. Porém, como o poder do teste calculado a posteriori foi baixo em todas as variáveis, o tamanho da amostra foi insuficiente para concluir que não há diferença entre os grupos estudados (Figura 1). A partir do teste t pareado, houve uma diminuição significativa no IMC entre as duas avaliações apenas no GM feminino (p = 0,007), sendo que o poder do teste para tais avaliações no sexo feminino foi 69,5% e no masculino 62,7%. Quanto à CA, houve diminuição significativa no GR feminino (p = 0,018), mesmo com um poder do teste baixo (feminino = 21%; masculino = 12%). Para a PG, não houve diferença significativa em nenhuma das comparações e o poder do teste em ambos os sexos foi muito alto (feminino = 98%; masculino = 91%). A variável IMC foi comparada na primeira avaliação entre os gêneros de um mesmo grupo, bem como na segunda avaliação (Tabela 2), por meio do teste t para duas amostras. Não houve diferença significativa em nenhuma das análises (p > 0,05). As mesmas análises foram feitas para a variável CA (Tabela 3) e para a PG (Tabela 4). Não ocorreu diferença significativa quanto à CA, porém em todas as 399 comparações da PG houve diferença, sendo que as mulheres apresentaram maior valor em todos os grupos. DIsCUSSÃO Como o poder do teste Anova nas três variáveis dependentes foi baixo, a amostra foi insuficiente para afirmar se os três grupos avaliados começaram iguais quanto aos valores das variáveis ou se realmente não houve diferença significativa entre os grupos na segunda avaliação. Antunes et al.8 compararam um grupo de idosos participantes de um programa de resistência em seis meses com um grupo controle, totalizando 23 voluntários homens em cada grupo. Constatou-se, por meio do aparelho Dexa (absortometria radiológica de dupla energia), que não houve alteração da composição corporal do grupo experimental em relação ao controle. Marques et al.9 avaliaram a composição corporal de 77 mulheres entre 60 e 79 anos, divididas randomicamente em programas de exercício multicomponente e resistido, realizados duas vezes por semana. Após oito meses de treinamento, não houve diferenças significantivas no IMC e na PG entre os grupos e dentro de cada grupo. Embora os sujeitos tenham sido instruídos quanto a manter uma rotina de dieta normal durante o treinamento, esta não foi controlada. Ross et al.10 analisaram a influência da dieta e do exercício no musculoesquelético e tecido adiposo visceral em homens, utilizando três grupos com onze homens obesos em cada um, sendo um submetido apenas à dieta e os outros submetidos à dieta combinada com exercício aeróbico ou de resistência. Todos os tecidos foram mensurados por meio da imagem de ressonância magnética. Após dezesseis semanas, percebeu-se que tanto a dieta combinada com exercício aeróbio quanto com exercício resistido resultaram 400 Geriatria & Gerontologia Exercícios sobre a composição corporal Tabela 2. IMC (kg/m²) nos grupos por gênero e valor de p (teste t) 1ª avaliação Valor de p 2ª avaliação Valor de p GR feminino 29,5 (5,6)* 0,119 29,4 (6,0) 0,122 GR masculino 26,3 (4,5) GM feminino 26,7 (4,7) GM masculino 26,5 (3,7) GC feminino 27,7 (4,8) GC masculino 28,2 (4,0) 26,0 (4,6) 0,920 26,0 (4,8) 0,861 26,3 (4,1) 0,780 27,5 (5,0) 0,696 28,2 (3,8) *Média (desvio-padrão) Tabela 3. CA (cm) nos grupos por gênero e valor de p (teste t) 1ª avaliação Valor de p 2ª avaliação Valor de p GR feminino 98,5 (12,8) 0,822 95,2 (14,2) 0,832 GR masculino 97,4 (11,2) GM feminino 91,3 (10,5) GM masculino 94,5 (10,4) GC feminino 93,6 (14,2) GC masculino 99,3 (12,5) 96,3 (11,7) 0,454 89,8 (10,1) 0,360 93,8 (11,0) 0,294 92,4 (13,1) 0,205 98,9 (12,0) Tabela 4. PG (%) nos grupos por gênero e valor de p (teste t) 1ª avaliação Valor de p 2ª avaliação Valor de p GR feminino 40,2 (4,6) < 0,001 40,1 (5,4) 0,005 GR masculino 26,5 (6,9) GM feminino 36,1 (4,8) GM masculino 26,4 (5,4) GC feminino 39,2 (6,0) GC masculino 29,1 (4,7) 28,4 (10) < 0,001 37,2 (5,5) < 0,001 26,4 (5,4) < 0,001 40,3 (6,6) 28,0 (4,2) < 0,001 em melhora na preservação do sistema musculoesquelético, na mobilização do tecido adiposo subcutâneo da região abdominal e na capacidade funcional dos indivíduos, quando comparadas a um programa apenas de dieta. Talvez a existência de dieta e orientação nutricional complementada ao exercício físico, e não o último isoladamente, seja um fator importante para melhora da composição corporal, necessitando assim mais pesquisas sobre o assunto. Apesar dos grupos terem terminado o seguimento com valores semelhantes, houve diferenças intragrupos entre as duas avaliações em relação a algumas variáveis. Houve diminuição significativa do IMC no GM feminino (p = 0,007), enquanto nos outros grupos não ocorreu diferenças relevantes, sendo que o poder do teste no sexo feminino foi 69,5% e no masculino 62,7%. Em relação à CA, a diminuição significativa foi encontrada somente no GR feminino, mas, como o poder do teste foi muito baixo (feminino = 21%; masculino = 12%), não foi possível identificar possíveis diferenças em outros grupos. Assim, são necessárias pesquisas que tenham uma amostra maior para estudar os efeitos dos exercícios sobre a CA. Quanto à PG, não ocorreu alteração significativa em nenhum dos grupos e o poder do teste foi muito alto (acima de 90%), mostrando que o tamanho da amostra estava adequado. Ravagnani et al.11 avaliaram 45 homens e 64 mulheres, os quais foram divididos em dois grupos de acordo com a frequência a um protocolo de treinamento (< 3 vezes por semana e ≥ 3 vezes por semana). Os voluntários foram submetidos a exercícios aeróbios, resistência muscular localizada, equilíbrio e flexibilidade durante seis meses. Em ambos os grupos e sexos, o programa não exerceu efeitos significativos para as variáveis IMC, PG e CA e ainda foi diagnosticada, a partir de valores do IMC, a pré-obesidade nessas 401 populações. Coker et al.12 examinaram a influência de treinamentos de exercício de moderada e alta intensidades de doze semanas em dezoito idosos obesos. Não foram encontradas também mudanças no peso corporal, IMC e PG (avaliada por meio do Dexa) nos grupos de treinamento ou no controle. Não obstante, houve uma significativa redução da gordura visceral com o treinamento mais intensivo e nenhuma mudança nos outros grupos. Filardo e Leite13 analisaram a composição corporal de noventa homens e 88 mulheres, alunos iniciantes de uma academia em Curitiba, em um período de aproximadamente um ano. Observou-se diferença significativa com o treinamento para o IMC nos homens e PG (por meio da fórmula de Siri) nos dois gêneros. Contudo, os objetivos de cada aluno podem ter influenciado nos resultados relacionados à composição corporal. É possível que os resultados encontrados no presente estudo tivessem sido diferentes se o tempo de seguimento fosse maior ou o método de mensuração da PG fosse mudado. Estudo realizado na Coreia comparou os efeitos de um programa de exercício físico, o qual envolvia dança latina, fortalecimento muscular e exercícios com halteres, em 37 mulheres. As voluntárias foram agrupadas conforme sua PG, sendo que uma porção foi composta de 16 mulheres não obesas e o outra de 21 obesas. Após oito semanas de treinamento, somente as mulheres obesas apresentaram peso corporal e IMC significativamente menores.14 Como a idade média da população do presente estudo encontra-se entre 60 e 70 anos e os valores considerados ideais segundo Prothro15 são, para as mulheres, 36,9% de gordura corpórea e, para os homens, 28,1%, a média feminina da PG na primeira avaliação se encontra acima do ideal, enquanto a masculina está abaixo do ideal. Essa diferença de PG poderia ser uma 402 Geriatria & Gerontologia razão para não encontrarmos nenhuma diferença significativa nas variáveis em comparações intragrupos do sexo masculino. No estudo, não houve divergência importante entre os sexos quanto às variáveis IMC e CA. Em relação à PG, as mulheres apresentaram valores expressivamente maiores em todos os grupos, comparadas aos homens, resultado visto também para amostras mais jovens.16,17 Em outros estudos com diferentes faixas etárias, observou-se o mesmo resultado para o IMC18 e para a CA.16 Du et al.19 avaliaram, entre outras medidas, a CA de três mil trabalhadores chineses entre dezoito e 66 anos. Verificou-se que a medida dos voluntários do sexo masculino foi significativamente maior que das mulheres. Em outro estudo, foram analisadas 3.531 crianças entre três e onze anos e mensuradas as CA de acordo com a recomendação da OMS.20 Os homens apresentaram CA maior que as mulheres em todas as idades.21 Assim, a divergência dos resultados da CA pode ser justificada pelo menor número de voluntários em nossa amostra, como também por diferentes padrões de mensurar tal variável, sendo que a adoção de um protocolo de medição padrão facilitaria a interpretação dos resultados de diversos estudos. Quanto às limitações do estudo, o tamanho da amostra revelou ser pequeno para algumas análises, dado alguns baixos valores de poder do teste. As avaliações foram feitas com diferentes avaliadores e estes não eram cegos. Devido à dificuldade de controle, alguns procedimentos prévios para uso do aparelho de bioimpedância não foram realizados, porém ainda não há um consenso na literatura sobre quais seriam eles. Ainda, foram realizadas apenas duas avaliações de carga com o teste de 1RM no grupo GM, o que pode ter afetado a adequada progressão do programa de exercícios resistidos. Apesar disso, o estudo vem a contribuir no desenvolvimento da literatura na área de gerontologia relacionada à composição corpórea e serve também como estímulo e ajuda para futuras pesquisas. CONCLusão Com base nos resultados, pode-se concluir que não houve diferença significativa entre os grupos quanto às variáveis analisadas, porém o estudo careceu de mais voluntários para tal comparação. Os grupos mantiveram os níveis de composição corporal ao longo de seis meses, além de melhoras significativas intragrupos que ocorrerem no sexo feminino, sendo elas as diminuições do IMC no GM feminino e da CA no GR feminino. A PG foi a única variável antropométrica que diferiu entre os gêneros. Este trabalho acrescenta na literatura científica resultados de protocolos de treinamento misto e de resistência em senescentes, ajudando a entender seus efeitos a longo prazo e servindo de estímulo para futuros estudos que comparem intervenções com e sem dieta nutricional e utilizem métodos de avaliação mais sofisticados. Exercícios sobre a composição corporal 4. Sundell J. Resistance Training Is an Effective Tool against Metabolic and Frailty Syndromes. Adv Prev Med. 2011;1-7. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3168930/ 5. Westcott WL, Winett RA, Annesi JJ, Wojcik JR, Anderson ES, Madden PJ. Prescribing physical activity: applying the ACSM protocols for exercise type, intensity, and duration across 3 training frequencies. Phys Sports Med. 2009;37(2):51-8. 6. Greve P. Influência de dois programas distintos de atividade física sobre variáveis fisiológicas, antropométricas e de capacidades físicas, em pessoas com idade superior a 50 anos [dissertação]. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos; 2009. 7. Chuang YC, Hsu KH, Hwang CJ, Hu PM, Lin TM, Chiou WK. Waistto-thigh ratio can also be a better indicator associated with type 2 diabetes than traditional anthropometrical measurements in Taiwan population. Ann Epidemiol. 2006;16(5):321-31 8. Antunes HK, Santos RF, Boscolo RA, Bueno OF, Mello ML. Análise de taxa metabólica basal e composição corporal de idosos do sexo masculino antes e seis meses após exercícios de resistência. Rev Bras Med Esporte. 2005;11(1):71-5. 403 13. Filardo RD, Leite N. Perfil dos indivíduos que iniciam programas de exercícios em academias, quanto à composição corporal e aos objetivos em relação a faixa etária e sexo. Rev Bras Med Esporte. 2001;7(2):57-61. 14. Lee KJ, Yi YJ, Kim CN. Comparison of the effects of an exercise program in non-obese and obese women. Taehan Kanho Hakhoe Chi. 2007;37(5):684-92. 15. Prothro J. Protein and amino acid requirements of the elderly. Ann N Y Acad Sci. 1989;561:143-56. 16. Antal M, Biró L, Regöly-Mérei A, Nagy K, Arató G, Szabó C et al. Methods for the assessment of adolescent obesity in epidemiological studies. Orv Hetil. 2008;149(2):51-7. 17. Moreno LA, Mesana MI, González-Gross M, Gil CM, Fleta J et al. Anthropometric body fat composition reference values in Spanish adolescents. The Avena Study. Eur J Clin Nutr. 2006;60(2):191-6. 18. Al-Elq AH, Sadat-Ali M, Al-Turki HA, Al-Mulhim FA, Al-Ali AK. Is there a relationship between body mass index and serum vitamin D levels? Saudi Med J. 2009;30(12):1542-6. 9. Marques E, Carvalho J, Soares JM, Marques F, Mota J. Effects of resistance and multicomponent exercise on lipid profiles of older women. Maturitas. 2009;63(1):84-8. 19. Du L, Zhuang Z, Guan H, Xing J, Tang X, Wang L, Wang Z et al. Head-and-face anthropometric survey of Chinese workers. Ann Occup Hyg. 2008;52(8):773-82. 10. Ross R, Rissanen J, Pedwell H, Clifford J, Shragge P. Influence of diet and exercise on skeletal muscle and visceral adipose tissue in men. J Appl Physiol. 1996;81(6):2445-55. 20. World Health Organization (WHO). Obesity: preventing and managing the global epidemic. Report of a WHO Consultation. Geneva: World Health Organization. 2000;894:i-xii,1-253. Não houve conflitos pessoais e financeiros relacionados ao trabalho. 11. Ravagnani CF, Ravagnani FC, Michelin E, Burini RC. Efeito do protocolo de mudança do estilo de vida sobre a aptidão física de adultos participantes de projeto de extensão universitária: influência da composição corporal. Rev Bras Ci e Mov. 2006;14(1):45-52. 21. Schwandt P, Kelishadi R, Haas GM. First reference curves of waist circunference for German children in comparison to international values: the PEP Family Heart Study. World J Pediatr. 2008;4(4):259-66. 1. Tinoco AL, Brito LF, Sant’anna MS, Abreu WC, Mello AC, Silva MM et al. Sobrepeso e obesidade medidos pelo índice de massa corporal (IMC), circunferência da cintura (CC) e relação cintura/ quadril (RCQ), de idosos de um município da Zona da Mata Mineira. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2006;9(2):63-73. 12. Coker RH, Williams RH, Kortebein PM, Sullivan DH, Evans WJ. Influence of exercise intensity on abdominal fat and adiponectin in elderly adults. Metab Syndr Relat Disord. 2009;7(4):363-8. CONFLITO DE INTERESSE REFERÊNCIAS 2. Ryan AS. Exercise in aging: its important role in mortality, obesity and insulin resistance. Aging Health. 2010;6(5):551-63. 3. Schneider P, Meyer F. O papel do exercício físico na composição corporal e na taxa metabólica basal de meninos adolescentes obesos. Rev Bras Ci e Mov. 2007;15(1):101-7. Medicamentos inapropriados para idosos Artigo Original Medicamentos inapropriados para idosos usados no tratamento de gripe e resfriado Inappropriate medicines for elderly used in the treatment of influenza and cold Vanessa Adelina Casali Bandeira1*; Marilei Uecker Pletsch2 RESUMO Acadêmica de Graduação em Farmácia pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ). Trabalhou na elaboração do artigo. 2 Farmacêutica, Mestre em Ciências Farmacêuticas, Professora do Departamento de Ciências da Vida da UNIJUI. Trabalhou na orientação e revisão final do artigo. 1 O objetivo deste estudo foi verificar os medicamentos potencialmente inapropriados para idosos utilizados no tratamento sintomático de gripe e resfriado. A identificação dos medicamentos foi realizada através do Dicionário de Especialidades Farmacêuticas (DEF) 2011/2012 e após foram identificados os medicamentos inapropriados conforme os critérios de Beers atualizados em 2003 e complementados em 2008. Foram identificados 320 medicamentos, considerando repetições, compostos por 77 diferentes princípios ativos dos quais 9 (11,69%) são considerados potencialmente inapropriados para idosos e estão presentes em 65 (20,31%) das alternativas farmacológicas disponíveis para o tratamento de gripes e resfriados. O uso de medicamentos inapropriados torna os idosos mais suscetíveis a problemas relacionados com medicamentos, principalmente a ocorrência de reações adversas. Essas condições agravam-se no tratamento de gripe ou resfriado, pois os medicamentos consumidos são de fácil acesso por serem isentos de prescrição e frequentemente utilizados através da automedicação. É fundamental que todos os profissionais da saúde, principalmente prescritores e farmacêuticos busquem alternativas para reduzir o consumo de medicamentos inapropriados e a automedicação, contribuindo para o uso racional de medicamentos e buscando melhorar a qualidade de vida desses idosos. Palavras-chave: Saúde do Idoso, Uso de medicamentos, Gripe, Automedicação. ABSTRACT The objective of this study was to verify the potentially inappropriate medicines taken by elderly people during sintomatic cold and flu. The identification of medicines was performed by the Dictionary of Pharmaceutical Specialties (DPS) 2011/2012 and after were identified according to Beers criteria, updated in 2003 and supplemented in 2008. 320 medicines were identified, considering replications, 77 different substances were identified, 9 (11,69%) are considered potentially inappropriate for elderly people and are in 65 (20,31%) of pharmaceutical alternatives available for treatment of influenza and cold. The use of inappropriate medicines make elderly people more susceptible to the drug-related problems, especially the occurrence of adverse reactions. These conditions are even worse in the treatment in treatment of influenza and cold, the medicines used are easily accessible because they don’t need prescription and often are used as self medication. It is essential that all health professionals, especially prescriber and pharmacist find alternatives to reduce the inappropriate use of medicines and self medication, contributing for rational drug use and finding ways to improve elderly people quality of life. Keywords: elderly people health, Drug Utilization, Influenza, Self Medication. Endereço para correspondência: *Vanessa Adelina Casali Bandeira. Rua do Comércio, n°. 3000, Bairro Universitário. CEP 98700-000, Ijuí, Rio Grande do Sul, Brasil. Telefone/fax: 0xx(55)33320468/0xx(55)33329100. E-mail: [email protected]. INTRODUÇÃO Muitos idosos são acometidos por doenças crônicas e seus agravos não transmissíveis, que se constituem em estados permanentes ou de longa permanência, que necessitam de acompanhamento constante1. Concomitantemente a ocorrência de doenças ocorre o uso de medicamentos, o qual seu consumo está relacionado principalmente ao aumento da idade, ao sexo feminino, maior renda familiar e a percepção ruim sobre a saúde e a presença de sintomas2. No entanto, os cuidados relacionados ao uso de medicamentos não devem estar centralizados apenas a população que mais o consome, pois se sabe que a administração de um medicamento em qualquer faixa etária pode gerar reações adversas, porém sua incidência aumenta proporcionalmente com a idade, expondo os idosos a maiores riscos1. Além disso, é importante considerar que muitos idosos por apresentarem várias causas de fragilidade e pela maior vulnerabilidade para a ocorrência de doenças crônicas ou agudas utilizam muitos medicamentos concomitantemente, o que os expõem ao risco de interações medicamentosas e reações adversas, esse risco aumenta quando se utilizam medicamentos inapropriados a essa faixa etária3. Os medicamentos potencialmente inapropriados consideram as características clínicas mais importantes da população idosa, relacionadas as mudanças fisiológicas que ocorrem no organismo do idoso, entre as quais destaca-se a resposta aos medicamentos, que são diferentes do que as apresentadas por pacientes jovens, resultando em modificações farmacocinéticas e farmacodinâmicas decorrentes do próprio envelhecimento4. Nesse sentido, foram desenvolvidos alguns critérios que classificam os medicamentos que devem ser evitados por idosos, inicialmente por Be- 405 ers5 atualizada por Fick et al.6. Além disso, Soares et al.7 realizou atualização desses critérios específico para Portugal. Segundo Flores & Colet3 os medicamentos considerados inadequados são impróprios para o uso em idosos em comparação a outras categorias, por falta de eficácia terapêutica ou por apresentar efeitos adversos superiores aos benefícios. Apesar dos potenciais malefícios o uso de medicamentos inapropriados é frequentemente observado, Araújo, Magalhão & Chaimowicz8 constataram o uso de medicamentos inapropriados por 33,5% dos idosos pertencentes ao Programa Saúde da Família de um Centro de Saúde de Belo Horizonte. Pinto, Ferré & Pinheiro9 verificaram na população de Diamentina/MG que 44,73% das prescrições de idosos continham um medicamento inapropriado. No entanto, o uso de medicamentos inapropriados não ocorre apenas no Brasil, Fialová et al.10 verificaram o uso de medicamentos potencialmente inapropriados em 19,8% dos idosos em estudo em países da Europa. Assim como, Simon et al.11 ao analisarem a população idosa dos Estados Unidos constataram que 28,8% consumiam pelo menos um medicamento inapropriado. O uso de medicamentos inapropriados ocorre por diversos motivos e condições, tanto em doenças crônicas quanto agudas, como no caso do tratamento de gripes e resfriados que são infecções virais auto-limitadas, com baixa mortalidade na ausência de complicações, sendo seus sintomas mais frequentes caracterizados por febre, calafrios, cefaléia, tosse seca, dor de garganta, congestão nasal ou coriza, mialgia, anorexia e fadiga12. Devido a esses sintomas serem considerados simples, os medicamentos utilizados no seu tratamento frequentemente são consumi- 406 Geriatria & Gerontologia dos através da automedicação, prática na qual os indivíduos selecionam e utilizam o medicamento para tratar sintomas ou problemas de saúde menores reconhecidos por eles13, ou seja, o uso do medicamento é realizado sem adequada indicação e orientação. Segundo Mendes et al.14 ao analisarem a realização da automedicação na população portuguesa verificaram que os medicamentos mais utilizados eram preparações nasais e sistêmicas para gripe e tosse. Vitor et al.15 ao avaliarem o consumo de medicamentos sem prescrição médica em Porto Alegre/RS constataram que entre os grupos mais comumente utilizados por automedicação encontravam-se para o tratamento de febre e gripe. A automedicação irracional aumenta o risco de eventos adversos, pode mascarar doenças e retardar o diagnóstico correto16. Nesse sentido, o presente estudo objetiva verificar os medicamentos potencialmente inapropriados a idosos utilizados no tratamento sintomático de gripe e resfriado. MÉTODOS Foram selecionados os medicamentos presentes no Dicionário de Especialidades Farmacêuticas (DEF) 2011/201217, com indicação para o tratamento sintomático de gripes e resfriados e para os sintomas correlacionados como febre, congestão nasal, infecções/inflamações (respiratórias), tosse e hipovitaminoses C. Foram verificados todos os medicamentos pelo seu nome comercial, após buscou-se os princípios ativos que os compõe, pela denominação genérica, entre os quais foram identificados os potencialmente inapropriados para idosos. Para a classificação como medicamento inapropriado a idosos seguiram-se os critérios de Beers5 atualizado por Fick et al.6 e Soares et al.7. RESULTADOS Foram encontrados 320 medicamentos no DEF 2011/201217 com indicação para o tratamento sintomático de gripes e resfriados, considerando repetições de princípios ativos, foram identificados 77 diferentes princípios ativos, destes 9 (11,69%) são considerados potencialmente inapropriados para idosos, os quais estão presentes em 65 (20,31%) das alternativas farmacológicas disponíveis para o tratamento de gripe e resfriado. Entre os medicamentos potencialmente inapropriados a idosos foram encontrados os pertencentes a classe dos anti-histamínicos, tais como: clorfeniramina e difenidramina, ambas presentes em nove medicamentos; dexclorfeniramina em seis medicamentos; prometazina em três medicamentos; clorfenamina e dexbronfeniramina presentes em apenas um medicamento cada. A Tabela 1 apresenta os medicamentos potencialmente inapropriados em determinada patologia, sendo o ácido acetilsalicílico o mais relacionado a patologias. Discussão O aumento da população idosa traz desafios aos serviços e aos profissionais de saúde, pois com o envelhecimento surgem doenças crônicas que requerem o uso prolongado e contínuo de medicamentos, além disso, os idosos são mais suscetíveis a problemas agudos (infecções e transtornos menores) que também estão relacionados ao consumo de medicamentos, consequentemente esse grupo torna-se o mais medicalizado da sociedade18. Com o consumo elevado de medicamentos no seu cotidiano, os idosos comumente apresentam como consequência problemas relacionados aos medicamentos, tais como reações adversas, interações medicamentosas, 407 Medicamentos inapropriados para idosos tratamento inadequado, entre outros, que podem ser mais acentuados com a utilização de medicamentos inapropriados a esse grupo2. Nesse sentido, é fundamental a atuação dos profissionais de saúde, especialmente do farmacêutico na promoção do uso racional de medicamentos, através de estratégias que visem uma administração correta, diminuindo os riscos de efeitos adversos e interações18, assim como evitando o consumo de medicamentos potencialmente inapropriados. O uso de medicamentos potencialmente inapropriados a idosos é frequente, sendo que alguns são de fácil acesso pelos idosos por serem isentos de prescrição médica e/ou utilizados no tratamento de agravos agudos, como no tratamento sintomático de gripe e resfriado conforme verificado no presente estudo, que evidenciou a presença de nove princípios ativos inapropriados disponíveis para o tratamento sintomático de gripe e resfriado. Entre os medicamentos inapropriados a difenidramina tem grau elevado de inapropriação, pois pode causar sedação e confusão, sendo que não deve ser usada como hipnótico e quando administrado para tratamento de reações alérgicas em emergência a dose deve ser a mais reduzida possível6,7. Os demais anti-histamínicos também possuem grau elevado de inapropriação por possuírem efeitos anticolinérgicos potentes, sendo preferível os anti-histamínicos sem efeitos anticolinérgicos6,7. Além disso, em idosos com retenção urinária os anti-histamínicos e a pseudoefedrina podem reduzir o fluxo urinário acentuando a retenção6,7. A pseudoefedrina também é inapropriada a idosos com hipertensão, pois pode elevar a pressão arterial por efeito secundário da atividade simpaticomimética e em casos de insônica por ser um estimulante do sistema nervoso central6,7. Tabela 1. Medicamentos potencialmente inapropriados a idosos considerando a patologia de acordo com Fick et al.6 e Soares et al.7 presentes no DEF 2011/2012 para o tratamento sintomático de gripes e resfriados. Medicamento ou grupo Ácido acetilsalicílico Clorfenamina Clorfeniramina Dexbronfeniramina Dexclorfeniramina Difenidramina Prometazina Pseudoefedrina Patologia Número de medicamento em que está presente Insuficiência cardíaca; Úlcera gástrica ou duodenal; Alteração na coagulação ou paciente recebendo terapia anticoagulante 17 Retenção urinária 1 Retenção urinária 9 Retenção urinária 1 Retenção urinária 6 Retenção urinária 9 Retenção urinária 3 Hipertensão; Retenção urinária; Insônia 19 408 Geriatria & Gerontologia Na insuficiência cardíaca o ácido acetilsalicílico, um salicilato, é impróprio, pois pode promover efeito inotrópico negativo, com potencial para promover retenção de líquidos e exacerbação da insuficiência cardíaca6,7. Também é inapropriado a idosos com úlcera duodenal ou gástrica porque pode agravar as úlceras existentes ou produzir novas6,7. De acordo com os mesmos autores o ácido acetilsalicílico é inapropriado a idosos com alteração na coagulação, pois pode prolongar o tempo de coagulação e elevar o valores normais ou inibir a agregação de plaquetas, resultando em um potencial aumentado para sangramento. Araújo, Magalhão & Chaimowicz8 constataram o uso de medicamentos inapropriados por 33,5% dos idosos pertencentes ao Programa Saúde da Família de um Centro de Saúde de Belo Horizonte/MG e entre eles estavam presentes a clorfeniramina, dexclorfeniramia e da prometazina, além disso, entre os idosos do estudo foi verificado que 22,3% realizavam automedicação. Ainda, os anti-histamínicos inapropriados também foram encontrados por Laroche et al.19 entre os idosos internados em uma clínica de geriatria de um hospital universitário da França. Além disso, Nassur et al.20 em um hospital filantrópico ao verificarem o consumo de medicamentos inapropriados, encontraram entre eles a clorfeniramia e a prometazina, sendo que os dois medicamentos eram utilizados sem prescrição médica. Laporta et al. ao analisarem o consumo de anti-inflamatórios não esteróides nas farmácias comerciais de Santa Maria/RS verificaram que 76,52% dessa classe de medicamento eram comercializados sem prescrição médica, sendo o princípio ativo mais comercializado o ácido acetilsalicílico, sendo esse, um medicamento que na presença de várias patologias é inapropriado ao idoso. 21 A prática da automedicação é frequente entre os adultos brasileiros, na cidade de Tubarão/SC em um grupo de terceira idade verificou-se que 80,5% dos idosos se automedicam, principalmente pela praticidade e na presença de sintomas considerados simples, como no caso de gripe, além disso, constatou-se que 55,9% das automedicações eram por orientações de amigos, vizinhos ou familiares22. Mendes et al.14 ao analisarem a automedicação na população português encontraram um prevalência de 26%, sendo que o grupo mais utilizado em automedicação foi o das preparações nasais e sistêmicas para a gripe e tosse representando 23,0% do total de situações de automedicação. Martins et al.23 na população de Bragança verificaram que 91,3% da população realizava automedicação, sendo cefaléia, gripe, febre e dor de garganta as principais condições que levam a automedicação. Nesse sentido, verifica-se que o uso dos princípios ativos inapropriados a idosos, que são alternativas terapêuticas no tratamento sintomático da gripe é frequente, assim como a realização da automedicação para o tratamento da gripe. Além disso, de acordo com a Resolução no 138/200324 os anti-histamínicos, analgésicos e antitérmicos, comumente utilizados para o tratamento de gripe e resfriado pertencem a Lista de Grupos e Indicações Terapêuticas Especificadas que são de venda sem prescrição médica24. As limitações do estudo ocorrem pelo fato do mesmo ser de caráter bibliográfico, não sendo possível mensurar quantitativamente a real utilização dos medicamentos potencialmente inapropriados a idosos no seu cotidiano, tanto como medicamento prescrito quanto pelo consumo desses medicamentos por automedicação no tratamento dos sintomas relacionados a gripe e identificar suas consequências de uso tais como reações adversas. Medicamentos inapropriados para idosos Ainda, destaca-se que no Brasil não existe uma lista de medicamentos inapropriadas direcionada aos medicamentos utilizados nacionalmente, sendo que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) é o órgão de regulação do uso de medicamentos a qual emite periodicamente alertas sobre os medicamentos em circulação, mas nada específico a população idosa25. Nesse sentido, evidencia-se a disponibilidade de acesso a medicamentos considerados inapropriados, mas ressalta-se a necessidade de padronização desses medicamentos no Brasil e a busca por alternativas capazes de evitar seu consumo pelos idosos, de acordo com Laroche et al.19 em uma clinica médica na França verificaram que a ocorrência de reações adversas é maior entre os usuários de medicamentos inapropriados, sendo de 20,4% entre os usuários desses medicamentos e de 16,4% entre os usuários de medicamentos apropriados. Ainda, a associação dos mesmos a automedicação agrava ainda mais essas condições, considerando que a automedicação pode atrasar a busca pelo tratamento adequado, promover interações entre medicamentos, risco de reações adversas, toxicidade e abuso no consumo de medicamentos26. Cabe aos profissionais de saúde, principalmente prescritores e farmacêuticos racionalizar o uso de medicamentos e minimizar a ocorrência de reações adversas e interações medicamentosas, comuns aos usuários de múltiplos medicamentos, e particularmente graves na população idosa, através da não prescrição de medicamentos inadequados e prevenção da automedicação dessa faixa etária8. Ainda, segundo Cascaes, Falchetti & Galato22 educar a população para o uso racional de medicamentos é função de todos os profissionais da saúde, com o objetivo de reduzir a automedicação nesta população e consequentemente muitos dos problemas relacionados a farmacoterapia. 409 Nesse sentido, destaca-se a necessidade dos profissionais de saúde planejarem e atuarem conjuntamente através de ações direcionadas ao uso racional de medicamentos, visando promover de forma consciente a saúde individual e comunitária. Entre as ações ressaltam-se orientações sobre a prática da automedicação, muitas vezes utilizada pelo idoso para o tratamento do que é considerado simples, mas devem ser orientados para evitar essa prática que pode resulta no uso irracional de medicamentos e da necessidade de identificar os problemas de saúde que necessitam de avaliação de um profissional mais habilitado22. Ainda, o surgimento de efeitos tóxicos relacionados aos medicamentos expõe os idosos a uma terapia medicamentosa insegura e pode influenciar economicamente o sistema de saúde6. Nesse contexto, a farmácia comunitária torna-se um estabelecimento importante para o uso racional de medicamentos, principalmente com a atuação efetiva do profissional farmacêutico neste estabelecimento. É dever do estabelecimento farmacêutico assegurar ao usuário o direito a informações e orientações sobre o uso dos medicamentos, com ênfase ao cumprimento da posologias, as interações medicamentosas, as reações adversas e armazenamento do medicamento27. Sousa, Silva & Neto28 apresentam que a farmácia é um local que o farmacêutico busca a cada dia mais seu espaço e através de suas habilitações tem capacidade de conscientizar o indivíduo/paciente para o uso de medicamentos com adequada orientação, de forma correta e sob orientação médica, o que visa propiciar uma terapia medicamentosa racional, segura e efetiva. Ainda, como ferramenta para a atuação do farmacêutico surge a atenção farmacêutica, pratica ainda incipiente, mas com o po- 410 Geriatria & Gerontologia tencial de transformar muitos estabelecimentos farmacêuticos com seu fator comercial e mercantilista, em um estabelecimento com concepção de serviços avançados de saúde, com realização de ações educativas, tanto individual quanto coletivamente29. No contexto do tratamento de gripe e resfriado o farmacêutico deve estar preparado para fornecer orientações relacionadas ao tratamento medicamentoso, assim como, sobre medidas não farmacológicas que podem ser utilizadas e formas de prevenção desses transtornos respiratórios. farmacêuticos, presentes principalmente nas farmácias comunitárias que são os locais de comercialização de medicamentos compete orientar para o adequado consumo dos medicamentos, evitando o consumo de medicamentos inapropriados e a prática da automedicação, a fim de informar sobre seus riscos que podem resultar em interações medicamentos, eventos adversos, insegurança e ineficácia do tratamento medicamentoso, e promover um tratamento medicamentoso adequado a essa faixa etária, com uma melhor resposta terapêutica. CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS No tratamento de desconfortos e sintomas menores como no caso dos sintomas de gripes e resfriados muitas vezes os indivíduos consomem medicamentos sem considerar suas potenciais conseqüências. No entanto, todo medicamento é passível de desenvolver interações medicamentosas, toxicidade e eventos adversos. Cabe aos profissionais da saúde orientar a todos os usuários de medicamentos, sobre os riscos que podem estar expostos, principalmente aos idosos que geralmente consomem vários medicamentos concomitantemente e são mais suscetíveis a toxicidade e eventos adversos relacionados, sendo que os riscos aumentam ao consumirem medicamentos potencialmente inapropriados. 1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Envelhecimento e saúde da pessoa idosa. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 192 p. Il. A presença de medicamentos inapropriados entre os medicamentos utilizados no tratamento de gripe e resfriado é relevante, pois muitos desses medicamentos podem(suprimir) são comercializados sem prescrição médica e estão frequentemente relacionados a automedicação. Nesse sentido, cabe aos profissionais de saúde, entre eles os prescritores racionalizar a prescrição ao idoso prescrevendo medicamentos adequados a essa faixa etária. Quanto aos profissionais 2. Rozenfeld S. Prevalência, fatores associados e mau uso de medicamentos entre os idosos: uma revisão. Cad Saude Publica 2003;19(3):717-24. 3. Flores LM, Colet CF. Riscos da polifarmácia em clientes idosos. In: Malagutti W, Bergo AMA. Abordagem interdisciplinar do idoso. Rio de Janeiro: Rubio; 2010. p. 291-302. 4. Nóbrega OT, Karnikowski MGO. A terapia medicamentosa no idoso: cuidados na medicação. Ciência & Saúde Coletiva 2005; 10(2):309-313. 5. Beers MH. Explicit criteria for determining potentially inappropriate medication use by the elderly. Arch Intern Med 1997; 157(2):1531-1536. 6. Fick DM. Updating the beers criteria for potentially inappropriate medication use in older adults. Arch Intern Med 2003; 163(2):2716-2752. 7. Soares MA, Fernandez-Llimós F, Lança C, Cabrita J, Morais JA. Operacionalização para Portugal: critérios de Beers de medicamentos inapropriados nos doentes idosos. Acta Med Port 2008; 21:441-452. 8. Araújo CMC, Magalhães SMS, Chaimowicz F. Uso de Medicamentos Inadequados e Polifarmácia entre Idosos do Programa Saúde da Família. Latin American Journal of Pharmacy 2010; 29(2):178-184. Medicamentos inapropriados para idosos 411 9. Pinto ACX, Ferré F, Pinheiros MLP. Potentially inappropriate medication use in a city of Southest Brazil. Brasilian Jounal of Pharmaceutical Sciences 2012; 48(1):79-86. 20. Nassur BA, Braun V, Devens LT, Morelato RL. Avaliação dos medicamentos inapropriados utilizado. Rev Bras Clin Med 2010; 8(3):208-211. 10. Fiávola D, et al. Potentially Inappropriate Medication Use Among Elderly Home Care Patients in Europe. JAMA 2005; 293(11):1348-1358. 21. Laporta LV, Marin E, Escarrone AL, Bittencourt CF, Friedrich M. Avaliação da automedicação com antiinflamatórios não-esteróides em farmácias comerciais de Santa Maria - RS. Ciências da Saúde, Santa Maria 2005; 6(1):1-11. 11. SIMON SR, et al. Potentially inappropriate medication use by elderly persons in U.S. Health Maintenance Organizations, 20002001. J Am Geriatr Soc. 2005; 53(2):227-232. 12. Massunari GK, et al. Medicamentos para o tratamento sintomático da gripe: estudo sobre o cumprimento da Resolução RDC 40/02/2003. Infarma 2004; 16(11-12):78-82. 13. World Health Organization. The role of the pharmacist in selfcare and self-medication. The Hangue: World Health Organization; 1998. 14. Mendes Z, Martins AP, Miranda AC, Soares MA, Ferreira AP, Nogueira A. Prevalência da automedicação na população urbana portuguesa. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas 2004; 40(1):21-25. 15. Vitor RS, Lopes CP, Menezes HS, Kerkhoff CE. Padrão de consumo de medicamentos sem prescrição médica na cidade de Porto Alegre, RS. Ciência & Saúde Coletiva 2008; 13(Sup):737-743. 16. Schimid B, Bernal R, Silva NN. Automedicação em adultos de baixa renda no município de São Paulo. Rev Saúde Pública 2010; 44(6):1039-1045. 17. Dicionário de Especialidades Farmacêuticas (DEF) 2011/212. Rio de Janeiro: Editora de Publicações Científicas Ltda, 2011. Acessado em: 15 mai 2012. Disponível: http://www.def.com.br/. 18. Andrade MA, Silva MVS, Freitas O. Assistência Farmacêutica como Estratégia para o Uso Racional de Medicamentos em Idosos. Cad. Saúde Pública 2004; 25(1):55-63. 19. Laroche ML, Charmes JP, Nouaille Y, Picard N, Merle L. Is inappropriate medication use a major cause of adverse drug reactions in the elderly? Br J Clin Pharmacol 2006; 63(2):177–186. 22. Cascaes EA, Falchetti ML, Galato D. Perfil da automedicação em idosos participantes de grupos da terceira idade de uma cidade do sul do Brasil. Arquivos Catarinenses de Medicina 2008; 37(1):63-69. 23. Martins DBS, Couto AMP, Ribeiro MIB, Fernandes AJ. Prevalência da Automedicação na Região de Bragança: a perspectiva do consumidor e do farmacêutico. Egitania Sciencia 2011;(8):199215. 24. Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Resolução - RDC nº 138, de 29 de maio de 2003. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 03 jun. 2003. 25. Mazaro e Costa R, Lima VAB, Paiva IG, Souza PTP, Lima LG. Uso de medicamentos por idosos: algumas considerações. Geriatria & Gerontologia 2008; 3(2):126-131. 26. Bortolon PC, Medeiros EFFM, Naves JOS, Karnikowski MGO, Nóbrega OT. Análise do perfil de automedicação em mulheres idosas brasileiras. Ciência & Saúde Coletiva 2008; 13(4)1219-1226. 27. Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Resolução - RDC nº 44, de 17 de agosto de 2009. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 03 jun. 2003 28. Souza HWO, Silva JL, Neto MS. A importância do profissional farmacêutico no combate à automedicação no Brasil. Revista Eletrônica de Farmácia 2008; 5(1):67-72. 29. Meneses ALL, Sá MLB. Atenção farmacêutica ao idoso: fundamentos e propostas. Geriatria & Gerontologia 2010;4(3):154161. Pilates na aptidão física de idosos Artigo de revisão Benefícios da prática do Método Pilates sobre a aptidão física de idosos Benefits of the practice of the Pilates Method on physical fitness of elderly Letícia Sanches Deon1, Eduardo Ramos da Silva1 RESUMO Universidade de Caxias do Sul, RS, Brasil. 1 A expectativa de vida humana tem aumentado significativamente com o passar dos anos, pois pessoas acima de sessenta anos estão acrescendo sua proporção. O objetivo do estudo foi investigar os benefícios sobre a aptidão física que a prática do Método Pilates propicia a pessoas idosas. A busca foi realizada nas bases de dados Google Acadêmico, PubMed/Medline e Scielo, empregando as palavras-chave “Pilates”, “idosos (elderly)” e “envelhecimento (aging)”. Foram selecionados estudos envolvendo o envelhecimento e outros relativos aos efeitos do Método Pilates nesta população. Foram considerados somente estudos observacionais e experimentais para analisar os efeitos do Método Pilates na população idosa. A partir dos oito artigos selecionados, pôde-se observar que o Método Pilates proporcionou melhoras significativas em níveis de flexibilidade, força muscular, equilíbrio, autonomia pessoal e qualidade de vida em pessoas idosas. O Método Pilates é um programa de exercícios favorável para minimizar ou reverter os efeitos negativos do envelhecimento e aprimorar os níveis necessários de aptidão física para o idoso. Palavras-chave: Aptidão física, técnicas de exercício e movimento, idosos. ABSTRACT Human life expectation increases significantly over the years, such that people aged over sixty are growing in population proportion. This study aimed to investigate the benefits of physical fitness that the practice of Pilates provides to elderly. The research was conducted through the databases: Google Scholar, PubMed, Medline and Scielo, using the keywords “Pilates”, “elderly” and “aging”. We selected studies talking about aging, and those related to the effects of Pilates in this population. We considered only the observational and the experimental studies to analyze the effects of Pilates in the elderly. From the eight selected articles, it was observed that the Pilates Method has provided significant improvements in levels of flexibility, muscular strength, balance, personal autonomy and quality of life in older people. The Pilates Method is an exercise program favorable to minimize or reverse the negative effects of aging and improve the necessary levels of physical fitness for elderlies. Keywords: Physical fitness, exercise movement techniques, aged. Endereço para correspondência: Letícia Sanches Deon - Rua Sete de Setembro, 850, Bairro Imigrante, Farroupilha, RS Brasil - Tel: (54) 9917-1198 E-mail: [email protected] INTRODUÇÃO A expectativa de vida humana tem aumentado significativamente. Nota-se que pessoas acima de sessenta anos estão acrescendo sua proporção, chegando a aumentar no Brasil três anos a cada década. Isso se deve ao avanço na área diagnóstica e de tratamentos, além do crescente número de ações preventivas que induzem a atividade física, diminuindo os índices de obesidade e osteoporose, e proporcionando menores chances de desenvolver doenças cardiovasculares, promovendo hábitos mais saudáveis.¹ Segundo Bonardi et al.,² a saúde não é definida apenas pela presença de doenças, mas, sim, pelo nível de condição e preservação da capacidade funcional a que o ser humano se apresenta. No envelhecimento, quando o sedentarismo se faz presente, acarreta diversas mudanças fisiológicas, como perda de flexibilidade em músculos e articulações e perda de equilíbrio.³ O sedentarismo é ocasionado por facilidades que permitem ao indivíduo realizar menos esforço físico, pois, quando necessário, em simples atividades, o corpo acaba por utilizar níveis funcionais máximos aos quais não está acostumado, afetando, assim, o sistema fisiológico, podendo ocasionar quedas.4 O episódio de quedas é proporcional ao grau da capacidade funcional que o idoso apresenta, sendo mais frequentes em idosos debilitados funcionalmente.5 O exercício físico auxilia o sistema fisiológico a se manter em funcionamento constante, por isso os idosos devem se exercitar, a fim de oportunizar melhoras em sua autonomia e qualidade de vida,3 sendo esta satisfatória quando existe carga regular de exercícios físicos como fator de promoção da saúde, aliados a bons hábitos alimentares e ao não uso de drogas.6 A atividade física é o principal 413 elemento para um envelhecimento saudável, e os exercícios físicos regulares voltados para o acréscimo da flexibilidade e força muscular são recomendados para retardar os efeitos negativos do envelhecimento.6,7 Entre as diversas modalidades oferecidas atualmente (hidroginástica, dança, natação, musculação, ioga etc.) para esta população, encontramos o Pilates, que pode ser utilizado para aprimorar a capacidade funcional e oferecer melhora significativa no equilíbrio estático e na qualidade de vida do idoso.8 A referida modalidade teve início na década de 1920, na Alemanha, quando Joseph Humbertus Pilates (1880-1967) criou um programa de exercícios originalmente chamado Contrology®, mas difundido mundialmente como Método Pilates,9 baseado no ritmo da respiração que oferece benefícios como: fortalecimento e definição muscular, correção postural, melhora do equilíbrio e circulação sanguínea e aumento da amplitude de movimento.10 Joseph Pilates iniciou o método criando exercícios praticados no chão (Mat Pilates), em seguido aprimorou os exercícios em camas de hospital que possuíam molas, então surgiram os exercícios em aparelhos que proporcionam uma forma ampla de controle corporal. Nos exercícios de Mat Pilates, o aluno aprende a trabalhar com a respiração e a contração muscular do centro de força (powerhouse); já nos exercícios em aparelhos o aluno tem que controlar as molas (mecanismo que aumenta a resistência dos movimentos).11 Em seu estudo, Rodrigues et al.8 relataram os efeitos do Método Pilates em 52 mulheres sedentárias entre 60 e 78 anos. Encontraram resultados significantes no aumento da capacidade funcional, em que os exercícios ofereceram benefícios no equilíbrio estático e nos níveis de autonomia pessoal no grupo Pilates, proporcionando melhora significativa nos índices de qualidade de vida. 414 Geriatria & Gerontologia Devido ao aumento dessa população, surge uma questão preocupante aos profissionais da área da saúde: Pode o envelhecimento resultar em declínio da flexibilidade e equilíbrio, baixa mobilidade e capacidade funcional, ocasionando quedas e baixa qualidade de vida? É perceptível que a atividade física promove melhoras qualitativas na vida dos idosos, pois devido a fatores que influenciam o envelhecimento o Pilates aparentemente é um método eficaz para modificar esses níveis de aptidão física, mas será que pode oferecer benefícios ao público idoso? A partir dessa questão, o objetivo desta revisão de literatura foi investigar os benefícios sobre a aptidão física que a prática do Método Pilates propicia a pessoas idosas. MéTODOS A presente revisão de literatura buscou nas bases de dados Google Acadêmico, PubMed/Medline e Scielo, empregando as palavras chaves “Pilates”, “idosos (elderly)” e “envelhecimento (aging)”. Os artigos foram compreendidos no período de 2000 a 2012, pois a partir desse ano (2000) nota-se um grande aumento no número de estudos e pesquisas com o Método Pilates e a população idosa. Utilizaram-se livros para ampliar o conhecimento em aspectos fundamentais de fisiologia, envelhecimento, Pilates e treinamento. Foram selecionados estudos envolvendo o envelhecimento, e aqueles relativos aos efeitos do Método Pilates nesta população. Nesta revisão, foram considerados somente estudos observacionais e experimentais para analisar os efeitos do Método Pilates na população idosa. Ao analisar o estudo, observou-se a metodologia (sujeitos fisicamente ativos ou sedentários, idade superior a sessenta anos, em programa de exercícios e tipo de Pilates, frequência e tempo de trei- no e variáveis), e resultados significantes a respeito dos efeitos do Método Pilates em pessoas idosas. Tabela 1. Estudos com o Método Pilates Sujeitos Características/ programa de exercício Variável analisada Efeito do método 20 (H/M) ~ 60 a 80 Controle (pré e pós) 10 sessões (2 vezes por semana) Mobilidade (coluna lombar) ↔ Rodrigues et al.13 52 (M) ~ 66 ± 4 GP (27) GC (25) Sedentárias Pilates em aparelhos 8 semanas (2 vezes por semana) Equilíbrio estático ↑ Rodrigues et al. 52 (M) GP (27 ~ 66,9 ± 5,3) GC (25 ~ 65,2 ± 3,9) Sedentárias Pilates em aparelhos e na bola 8 semanas (2 vezes por semana) Desempenho funcional (atividades diárias, autonomia pessoal) ↑ 52 (M) ~ 60 a 78 GP (27) GC (25) Sedentárias Pilates em aparelhos 8 semanas (2 vezes por semana) Qualidade de vida Equilíbrio estático Autonomia ↑ ↑ ↑ 30 (H/M) GP (15, fisicamente ativos com Pilates) GC (15, sedentários) Pilates em aparelhos e Mat Pilates 4 semanas no mínimo Qualidade de vida ↑ Mat Pilates 4 semanas (3 vezes por semana) IMC Peso Força Equilíbrio Agilidade Flexibilidade ↔ ↔ ↑ ↑ ↔ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↓ Referência Resultados Na primeira pesquisa em banco de dados foram encontrados mais de 1.500 artigos abordando as palavras-chave citadas anteriormente. Destes, foram selecionados 42 artigos que abordavam estudos gerais sobre o Método Pilates e idosos, sendo que 28 investigaram o envelhecimento e as atividades físicas para idosos, oito analisaram os efeitos do Método Pilates em idosos e seis abordaram os efeitos gerais do Método Pilates em jovens e adultos. Além de artigos, foram selecionados oito livros, três sobre envelhecimento e idosos, e cinco sobre o Método Pilates. Na Tabela 1 estão listados os estudos analisados e selecionados para investigar os benefícios do Método Pilates em pessoas idosas, constando as características dos sujeitos avaliados, as características do programa de exercícios com o Pilates, o tipo de variável analisada e os efeitos que o método proporcionou nos sujeitos avaliados.8,12-18 Sassi et al.12 14 Rodrigues et al.8 Reis et al.15 Mayer e Lopes 16 5 (M) ~ 61 a 73 Controle (pré e pós) Fisicamente ativas Irez et al.17 60 (M) ~ 65 GP (30) GC (30) Sedentárias 12 semanas (3 vezes por semana) Equilíbrio dinâmico Flexibilidade Tempo de reação Força muscular Número de quedas Rosa et al.18 7 (H/M) ~ 60 a 70 Controle pré e pós Fisicamente ativos 11 sessões (2 vezes por semana) Equilíbrio DIsCUSSÃO O objetivo desta revisão de literatura foi investigar quais os benefícios do Método Pilates relativos à aptidão física de pessoas idosas. Para o propósito desta revisão foram selecionados oito artigos que envolvessem os efeitos do Método Pilates na população idosa. Entre os oito estudos selecionados para responder à questão envolvida nesta revisão, foram encontrados diversos benefícios que auxiliam na aptidão física de idosos como autonomia, qualidade de vida, equilíbrio, flexibilidade e força. Três destes estudos8,14,15 415 Pilates na aptidão física de idosos ↑ H: homens; M: mulheres; ~: idade; GP: grupo Pilates; GC: grupo controle; ↓ : diminuiu; ↑: aumentou; ↔: sem diferença significativa. encontraram resultados significativamente positivos em relação à qualidade de vida e autonomia dos idosos. Na velhice, o bem-estar e a saúde são o resultado do equilíbrio entre as diversas dimensões na capacidade funcional do idoso. O desempenho físico diminui no decorrer dos anos devido à falta de hábitos saudáveis rela- cionados à aptidão física, o que pode comprometer a autonomia (capacidade de executar seus próprios objetivos) de indivíduos idosos, principalmente pela falta de flexibilidade,19 equilíbrio20 e força muscular.21 Durante o envelhecimento, fatores psicossociais, doenças e baixa aptidão física são mais comuns, por isso além de medidas gerais da 416 Geriatria & Gerontologia saúde que previnam e minimizem os efeitos do envelhecimento, deve-se incluir a atividade física.22 A saúde está diretamente associada à capacidade funcional do idoso, e a atividade física contribui para menores incidências de quedas, exercendo uma função benéfica para a qualidade de vida dessa população.23 Marques et al.24 estudaram a relação entre atividade física e qualidade de vida em 44 idosas que viviam em asilos ou de modo independente, e concluíram que essa idosas apresentaram menor autonomia funcional e atividade física quando comparadas a idosas que vivem de modo independente. Aragão et al.5 avaliaram os efeitos da resistência muscular localizada visando à autonomia funcional e à qualidade de vida do idoso e notaram que aqueles que apresentaram bom estado em resistência muscular também obtiveram bons índices de autonomia e desempenho de atividade da vida diária. Diversas modalidades de atividade física promovem a autonomia e qualidade de vida em idosos. O treinamento com hidroginástica é uma delas e pode influenciar significativamente na melhoria e manutenção da aptidão física de idosos,25 já a musculação é um meio que oferece benefícios morfológicos, orgânicos e psicossociais, que visa a promover o bem-estar, a saúde e proporcionar qualidade de vida a pessoas idosas.23 A dança apresenta resultados satisfatórios em relação à qualidade de vida de idosos. Segundo estudo de Castro et al.26 a dança e a musculação elevaram os níveis de qualidade de vida em idosas praticantes dessas atividades. De acordo com Mazo et al.,23 um programa de exercício físico eficiente para a população idosa deve oferecer melhoras significativas na capacidade e aptidão físicas, como resistência cardiovascular, força, flexibilidade e equilíbrio, que consequentemente irão proporcio- nar maior autonomia pessoal e qualidade de vida a esses indivíduos. O Método Pilates é um programa de exercícios que oferece esses tipos de benefícios para a população idosa, como será discutido neste aritgo. Em cinco estudos8,13,16-18 foram encontrados resultados positivos significativos no equilíbrio de idosos pelo Método Pilates. No dia a dia, é necessário ter controle sobre o equilíbrio corporal, seja ele estático ou dinâmico, em que a ação dos sistemas vestibular, visual e somato-sensorial são os principais responsáveis para que isto ocorra.27 Com o envelhecimento, a habilidade desses sistemas em funcionar corretamente é comprometida, afetando, assim, o equilíbrio corporal e causando possíveis tonturas e desequilíbrio. O desequilíbrio em idosos propicia grande impacto em tarefas diárias, podendo ocasionar quedas, fraturas e baixa mobilidade corporal.20 Diversas modalidades oferecidas atualmente podem mudar esses parâmetros, como musculação, hidroginástica, ginástica e o Método Pilates. Maciel e Guerra28 analisaram a prevalência e fatores associados ao déficit de equilíbrio em idosos. Participaram 310 indivíduos de ambos os sexos com sessenta anos ou mais. Avaliando os resultados, foi encontrada uma prevalência de 46,1% de idosos com alterações no equilíbrio, possivelmente associadas a idade elevada (mais de 75 anos), sexo feminino, analfabetismo e déficit auditivo. Concluíram que tal déficit no equilíbrio pode ser modificado por meio de intervenções que reduzam esses efeitos. As atividades plenamente capazes de aprimorar a aptidão física (equilíbrio, força, flexibilidade, agilidade) desta população são a musculação, que consequentemente melhora a qualidade de vida,29 a hidroginástica, que é uma modalidade oferecida para a faixa etária Pilates na aptidão física de idosos dos sessenta anos e que provoca pouco impacto sobre as articulações, a ginástica, que trabalha diferentes grupos musculares,30 e o Pilates, que trabalha constantemente o equilíbrio corporal.31 Especificamente sobre os programas de condicionamento físico envolvendo o Método Pilates, prioriza-se o trabalho muscular da região abdominal para obter melhor funcionalidade da coluna vertebral. O alongamento proposto neste método oferece restauração no alinhamento postural, ajudando a corrigir o desequilíbrio muscular, pois por ser um método que integra diversos movimentos orientados, seus exercícios podem promover o controle e equilíbrio corporal.32 Seis princípios originais compreendem o Método Pilates: respiração, concentração, estabilização, controle, precisão e fluidez. Esses princípios envolvem os objetivos e o foco de cada exercício, a concentração, a estabilização e o controle podem ser os principais responsáveis para a manutenção do equilíbrio, pois durante os exercícios são acionados diversos músculos, principalmente os abdominais. A partir disso é conclusivo que onde há fortalecimento desses músculos é possível aprimorar e manter uma melhor postura e equilíbrio. Por isso o Pilates se faz necessário e auxilia na manutenção do equilíbrio.31,32 Além de estudos que favoreceram o equilíbrio de idosos por meio do Método Pilates, foram encontrados dois estudos16,17 que relacionam a flexibilidade como um fator que pode afetar a qualidade de vida dos idosos. Esses dois estudos obtiveram resultados positivos importantes no aumento da flexibilidade em idosos. O declínio e a restrição da flexibilidade em idosos se deve à falta de movimentos capazes de fortalecer ligamentos, músculos e tendões, pois estes em função da alta idade apresentam 417 redução nas fibras elásticas tornam os movimentos mais curtos. O aumento da flexibilidade em idosos resulta na otimização da execução qualitativa e quantitativa dos movimentos, pois sem trabalhar a flexibilidade os músculos de pequena capacidade de alongamento acabam gerando uma força menor.33,34 A flexibilidade está associada diretamente à mobilidade articular e à elasticidade muscular, podendo estar relacionada à autonomia do idoso.35 Tarefas comuns como estender a roupa, arrumar a cama ou até mesmo amarrar o tênis podem ficar complicadas no decorrer do envelhecimento, pois os movimentos corporais tornam-se menos amplos. Contudo, o treinamento com a flexibilidade é favorável e pode modificar esses padrões.4 Guadagnine et al.36 compararam os níveis de flexibilidade em vinte idosos (média de 66,5 anos) praticantes e não praticantes de atividade física, sendo que os praticantes não realizavam atividades que objetivassem o aumento da flexibilidade. Os resultados desse estudo evidenciaram que 45% do total de pessoas avaliadas possuía encurtamento muscular generalizado em diferentes níveis. Os praticantes de atividade física apresentaram nível maior de flexibilidade do que os não praticantes, o que leva a concluir que o envelhecimento traz degenerações ao corpo humano e a falta de atividade física provoca encurtamento muscular. Assim como o Tai Chi (arte marcial que combina a circulação de energia, respiração e alongamentos), que promove a melhora da flexibilidade em idosos37 e o treinamento de força que pode ser eficaz para aprimorar a flexibilidade nesta população e contribuir para a manutenção e aumento da amplitude de diferentes movimentos e articulações,7 o Método Pilates também é responsável por propiciar esse tipo de resultado. 418 Geriatria & Gerontologia Os exercícios do Método Pilates trabalham constantemente formas diferentes de alongamento muscular, principalmente com o alongamento ativo, que é extremamente eficaz no sentido de aprimorar a flexibilidade de músculos encurtados.38 O treinamento com o Método Pilates é capaz de aprimorar a flexibilidade geral do corpo e fortalecimento de músculos abdominais, glúteos e paravertebrais lombares (powerhouse).39 O aumento da flexibilidade por meio do Método Pilates possivelmente está relacionado a exercícios que visam a essa valência, pois muitos destes exercícios focam na insistência do alongamento para adquirir amplitude de movimento e, consequentemente, executar os exercícios com mais fluidez.40 Além do equilíbrio e da flexibilidade, o aumento da força muscular configura-se como ponto fundamental na aptidão física de idosos. Foram encontrados dois artigos16,17 que incrementam a força a partir do Método Pilates. O declínio da força não está relacionado apenas com a perda de massa muscular, mas possivelmente ao fato de idosos não treinados reduzirem sua capacidade de ativar totalmente seus grupos musculares.41 O pico da força muscular é atingido por volta dos trinta anos de idade e preservado até os cinquenta anos, após essa faixa etária há evidências de que a força começa a sofrer declínios. A força muscular pode ser expressa como excêntrica, concêntrica e isométrica, sendo a força excêntrica aparentemente a mais resistente em relação aos efeitos do envelhecimento.7-42 No envelhecimento ocorre um decréscimo na funcionalidade do sistema neuromuscular, sendo essa perda acentuada quando há insuficientes níveis de atividade física e diminuição do condicionamento, perda de massa muscular, redução da flexibilidade, força, resistência e mobilidade articular.21 Para limitar essa perda, o treinamento de força é extremamente eficaz em aprimorar estes aspectos, além de reduzir a fraqueza e a fragilidade muscular.43 Zago et al.44 estudaram o efeito de um programa geral de atividade física de intensidade moderada sobre os níveis de resistência de força em idosos. A amostra contou com 26 idosos (média de 58,27 anos) de ambos os sexos, fisicamente ativos. Os autores constataram que os idosos têm potencial para melhorar a resistência de força muscular, o que pode ocorrer por meio de programas de atividades físicas generalizadas em intensidade moderada. Em outro estudo, Mihessen et al.43 avaliaram a força muscular em 48 idosos de ambos os sexos, praticantes de atividade física regular. Notou-se um aumento na força e resistência muscular desses idosos, e os resultados foram considerados positivos e significantes, tendo em vista que a atividade física regular promoveu aumento na força muscular dos avaliados. De acordo com estudo de Carvalho et al., um programa complementar de atividade física foi suficientemente intenso e específico para induzir melhorias na força muscular de idosos independentes. O treinamento físico, independentemente da modalidade, reduz a perda de força muscular causada pelo envelhecimento e sedentarismo. A musculação e a ginástica46 localizada, assim como o Método Pilates, promovem o incremento da força muscular. 45 Segundo Aparício e Pérez,47 Joseph Pilates sempre buscou exercícios que oferecessem benefícios como o fortalecimento global e preservação da flexibilidade. O Método Pilates envolve exercícios de contrações concêntricas, excêntricas e isométricas, que são responsáveis pela manutenção e estabilização corporal, a qual está associada diretamente ao aumento da força muscular. O Pila- Pilates na aptidão física de idosos tes permite alongar e reforçar os músculos do tronco, focando na contração de músculos na região abdominal e pélvica, e assim provoca a melhora da coordenação e da circulação, aprimorando a flexibilidade e, consequentemente, incrementando a força muscular e a postura associadas à respiração.48,49 Em estudo, Gonçalves et al.50 concluíram que para um melhor desempenho respiratório poderiam ser associados treinamentos específicos para aprimorar a força muscular responsável pela respiração. Esse treinamento pode ser realizado com o Pilates, pois a respiração é trabalhada constantemente em todos os exercícios, e para respirar corretamente é necessário completar a inspiração e a expiração porque a inalação e exalação completa de ar estimulam os músculos a maior atividade.40 CONCLusão Observa-se que a população idosa mundial vem crescendo constantemente, fato que pode estar relacionado à prática de atividade física. Os diversos efeitos do envelhecimento incluem a redução da aptidão física e da qualidade de vida desta população. O Método Pilates é um programa de exercícios favorável no sentido de minimizar e reverter os efeitos negativos do envelhecimento, aprimorando os níveis de aptidão física para o idoso. A flexibilidade sofre efeitos positivos, pois nos exercícios a insistência do alongamento que favorece a amplitude de movimento é constantemente ativada. O trabalho de força na região da musculatura abdominal, paravertebral e glútea promove melhoras no equilíbrio e na postura corporal, pois a manutenção e estabilização corporal estão associadas diretamente ao aumento da força muscular, já que o Pilates oferece maior contração a todos os grupos musculares. 419 Estudos longitudinais que acompanhem os efeitos crônicos do Método Pilates devem ser realizados a fim de investigar se esses efeitos são prolongados e progressivos ou somente agudos ou transitórios. CONFLITO DE INTERESSE Os autores declaram não existir nenhum tipo de conflito de interesse. REFERÊNCIAS 1. Organização Mundial da Saúde (OMS). Dados e estatísticas. Disponível em: www.who.int. Acesso em: 12 mar 2012. 2. Bonardi G, Souza BA, Moraes JFD. Incapacidade funcional e idosos: um desafio para os profissionais da saúde. Scientia Medica. 2007;17(3):138-44 . 3. Rosa Neto F, Liposcki DB, Teixeira CAA. Estudo dos parâmetros motores em idosos com idade entre 70 e 79 anos pertencentes aos grupos da terceira idade da prefeitura de São José SC. EFDeportes Revista Digital 2006;10(92):1. Disponível em: <http:// www.efdeportes.com/efd92/idosos.htm 4. Rikli RE, Jones CJ. Teste de aptidão física para idosos. Tradução de Sonia Regina de Castro Bidutte. Barueri: Manole; 2008. 5. Aragão JCB, Dantas EHM, Dantas BHA. Efeitos da resistência muscular localizada visando a autonomia funcional e a qualidade de vida do idoso. Fit Perf J. 2002;1(3):29-37. 6. Rosa Neto F. 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Avaliação da força muscular inspiratória e expiratória em idosas praticantes de atividade física e sedentárias. Rev Bras Ci e Mov. 2006;14(1):37-44. Osteoporose Artigo de revisão Tratamento farmacológico para a osteoporose Pharmacological treatment for osteoporosis Priscila Rosendo da Mata1, Paulo Andrade Martins1, Leonardo da Gama Brito1, Monique Meyer Pitta Ramos1, Manoelito Coelho dos Santos Junior1 RESUMO Departamento de Saúde, Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), BA, Brasil. 1 O crescente aumento da expectativa de vida tem originado diversas preocupações com a qualidade de vida dos indivíduos, principalmente no âmbito da saúde. Nesse contexto, destaca-se o aumento na incidência de doenças crônico-degenerativas, dentre as quais está a osteoporose. Dessa maneira, o presente trabalho objetivou realizar um estudo teórico acerca das terapias farmacológicas e não farmacológicas disponíveis para serem utilizadas no tratamento e na prevenção da osteoporose. A realização desta pesquisa é importante, uma vez que busca mostrar as principais opções farmacológicas e medidas não farmacológicas utilizadas no tratamento e, principalmente, na prevenção dessa doença tão prevalente nos dias atuais. A metodologia utilizada para a realização deste estudo consistiu de pesquisa bibliográfica, buscando compilar as principais informações disponíveis sobre o tema em estudo. A osteoporose é uma doença osteometabólica, caracterizada pela diminuição da massa óssea e deterioração da microarquitetura do tecido ósseo, o que resulta no aumento da suscetibilidade às fraturas. A doença está relacionada principalmente ao envelhecimento e afeta ambos os sexos. Os agentes terapêuticos utilizados para o tratamento da osteoporose podem ser divididos em duas classes: compostos com ação antirreabsortiva (bifosfonatos, calcitonina, estrogênios e moduladores seletivos do receptor de estrogênio) e os agentes formadores de osso (fluoreto, paratormônio, teriparatida). Alguns fármacos mais recentes também estão disponíveis para utilização na terapêutica dessa doença, como o ranelato de estrôncio. Palavras-chave: Osso, terapia, prevenção, controle e osteoporose. ABSTRACT The increase of life expectancy has led several concerns about people’s quality of life, especially in the health area. In this context, there is an increase in the incidence of chronic degenerative diseases, as such as osteoporosis. This research aims to conduct a theoretical study about the pharmacological and non-pharmacological therapies available for the preventation and treatment of this disease. This study becomes important as it intends to show the main pharmacological and non-pharmacological drugs used in the treatment and mainly in the prevention of this disease, so prevalent nowadays. The methodology used for this study was a literature review and it aimed to compile the main available information about the theme of the study. Osteoporosis is a bone metabolic disease, characterized by a decrease in bone mass and deterioration of the microarchitecture of bone tissue, resulting in a raise of fracture susceptibility, and it is mainly related to age, affecting men and women. The therapeutic agents used in the treatment of osteoporosis can be divided into two classes: compounds with an anti-reabsorptive action (bisphosphonates, calcitonin, estrogens and selective estrogen receptor modulators) and bone-forming agents (fluoride, parathyroid hormone, teriparatide). Some newer drugs, as strontium ranelate, are also available for the use in the treatment of this disease. Keywords: Bone,therapy, prevent ion, control, osteoporosis. Endereço para correspondência: Manoelito Coelho dos Santos Junior - Departamento de Saúde, Laboratório de Modelagem Molecular - Avenida Transnordestina, s/n, Bairro Novo Horizonte, Feira de Santana - BA - CEP 44036-900 - Tel: (75) 3161-8159 - E-mail: [email protected] INTRODUção A osteoporose é uma doença crônica que envolve diversos fatores, mas está principalmente relacionada ao envelhecimento, que acomete tanto mulheres (especialmente após a menopausa) quanto homens.1-4 É definida como uma doença osteometabólica sistêmica, caracterizada por apresentar diminuição da massa óssea e deterioração da microarquitetura do tecido ósseo, o que resulta no aumento da fragilidade dos ossos e numa consequente maior suscetibilidade a fraturas.5-8 A importância clínica da osteoporose na saúde pública deve-se ao aumento do risco de fraturas decorrentes do declínio da função neuromuscular e do enfraquecimento ósseo, levando à elevação da morbidade, incapacidade física, diminuição da qualidade de vida do indivíduo, aumento da mortalidade relacionada à doença, além do alto custo financeiro e social do tratamento. O presente estudo visa a abordar o tratamento farmacológico da osteoporose devido ao fato de a doença, do ponto de vista epidemiológico, ser responsável por mais de 1,5 milhão de fraturas anuais, sendo esperado que uma a cada duas mulheres com idade acima de cinquenta anos sofra algum tipo de fratura em sua vida em decorrência da osteoporose.9 As estimativas para o ano de 2050 apontam a possibilidade de 70% das fraturas de quadril que ocorrerão na África, na Ásia e na América Latina serem devidas à osteoporose, o que evidencia a importância clínica da doença.10,11 Outro ponto importante que não deve ser esquecido é o aspecto financeiro, visto que os custos causados pela osteoporose estão relacionados a gastos com a hospitalização, cuidados ambulatoriais, incapacidade e mortes prematuras.12 423 No Brasil, há poucos trabalhos sobre a ocorrência de fraturas osteoporóticas e gastos relacionados. Entretanto, em 2005, foram gastos cerca de R$ 21 milhões somente com medicamentos fornecidos pelo Ministério da Saúde no Programa de Medicamentos Excepcionais (Promex) para a osteoporose.12,13 Diante dos aspectos apresentados, este trabalho teve como finalidade a realização de um estudo teórico (revisão) sobre o tratamento farmacológico da osteoporose, abordando os conceitos farmacocinéticos e farmacodinâmicos das classes terapêuticas utilizadas para o controle dessa patologia, contribuindo assim para um melhor entendimento do início e do tratamento da doença. Foram utilizados como descritores: osteoporose, tratamento farmacológico, fármacos e tratamento não farmacológico. Como critério de inclusão foram utilizados apenas os trabalhos que destacassem a farmacoterapia da osteoporose. Tratamento farmacológico Os agentes terapêuticos para o tratamento da osteoporose são divididos em duas classes: os compostos antirreabsortivos e os estimulantes da formação óssea.14,15 Os primeiros reduzem a atividade dos osteoclastos, que formam lacunas na superfície dos ossos, permitindo um preenchimento destas por uma nova matriz antes do reinício do ciclo de remodelação – processo de retirada do osso e formação de um osso novo. Já os segundos compostos, também chamados de agentes anabólicos, intensificam a ação dos osteoblastos que, em cada ciclo de remodelação, aumenta a deposição de matriz osteoide.14,16-19 Dentre os fármacos com ação antirreabsortiva estão os bifosfonatos, a calcitonina, os estrogênios e os moduladores seletivos dos receptores de estrogênio (SERMs). Os fluoretos, PTH e a teriparatida são exemplos de agentes anabólicos. 424 Geriatria & Gerontologia Agentes antirreabsortivos Bifosfonatos Os bifosfonatos (ou difosfonatos) são compostos orgânicos sintéticos, análogos do pirofosfato, encontrados na hidroxiapatita do osso.16,18,20,21 A estrutura dos bifosfonatos permite que estes se liguem de forma ávida aos cristais de hidroxiapatita, podendo inibir tanto a formação e a agregação quanto a dissolução destes cristais.14,16,20,22-24 Esta classe caracteriza-se como potentes inibidores da reabsorção óssea, sendo, por isso, denominados agentes antirreabsortivos, e são compostos capazes de aumentar a densidade do osso bem como reduzir o risco de fraturas no quadril, na coluna vertebral e em outros ossos.15,19,22,25,26 Os compostos de primeira geração são menos potentes e, em geral, causam desmineralização óssea, como é o caso do etidronato, um fármaco de primeira geração que foi o primeiro composto representante dos bifosfonatos disponível para uso clínico e que consiste no mais potente inibidor de mineralização óssea.27-29 Com o avanço do conhecimento clínico, foi possível perceber que o processo de inibição da mineralização óssea realizado pelo etidronato apresentava-se como uma desvantagem, visto que se este fármaco fosse utilizado de maneira contínua poderia levar ao surgimento da osteomalácia, um distúrbio do metabolismo ósseo caracterizado por uma mineralização deficiente da matriz osteoide do osso com acúmulo deste tecido pouco mineralizado.28-32 Por isso, houve a necessidade de se desenvolver novos compostos que minimizassem este efeito, passando a surgir os compostos de segunda e terceira geração.31 Os compostos de segunda geração, os aminobifosfonatos, como o alendronato e pamidronato apresentam uma potência 10 a 100 vezes maior que os compostos de primeira geração.20,23,27 Os compostos de terceira geração, como o risedronato e zoledronato, além de possuírem ação mais potente que os da primeira geração, têm a vantagem de poderem ser utilizados de maneira contínua, uma vez que a dose antirreabsortiva é muito inferior à dose que provoca alterações na mineralização.33 Esses compostos permitem uma redução do processo de reabsorção óssea de maneira dose-dependente e atuam principalmente por meio da inibição do recrutamento de osteoclastos e pela promoção da apoptose dessas células, além de agir por meio da inibição da liberação de interleucinas e outras substâncias que promovem o processo de reabsorção óssea.8,19,21,34,35 Os bifosfonatos atuam sobre os osteoclastos por meio de mecanismos diferentes: os compostos desprovidos de nitrogênio como o etidronato, clorodronato e tiludronato são metabolizados a um análogo tóxico de adenosina trifosfato (ATP) que se acumula na célula, comprometendo sua função e viabilidade, levando à morte celular.22,23,31 Já os aminobifosfonatos, como o alendronato, risedronato, ibandronato e zoledronato não sofrem metabolismo, mas atuam interferindo na ação enzimática da via 3-hidroxi-3-metilglutaril Coenzima A redutase, inibindo, assim, diversas etapas da via do mevalonato que leva à formação de colesterol e lipídios isoprenoides necessários na prenilação de diversas proteínas importantes para o funcionamento adequado dos osteoclastos.22,23,31 Assim, o efeito global da interferência destes compostos nesta via é inibir o recrutamento dos osteoclastos na superfície óssea e a atividade destas células e, por fim, induzir a apoptose ou morte celular, encurtando o ciclo de vida dos osteoclastos.23,29,36 Os bifosfonatos também atuam sobre os osteoblastos, de maneira indireta, promovendo a estimulação da atividade destas células e, consequentemen- Osteoporose te, aumentando a formação óssea.5,37 O resultado da ação desses compostos é a inibição da reabsorção osteoclástica do osso, tornando possível a formação de um novo osso durante a remodelagem, o que pode levar ao ganho na densidade óssea.21 Os bifosfonatos podem ser usados para prevenção ou tratamento da osteoporose induzida por glicorticoides e da osteoporose pós-menopausa, sendo utilizados, neste caso, em associação aos estrogênios ou como substitutos destes.21,37 O alendronato foi o primeiro bisfosfonato oral aprovado para o tratamento e prevenção da osteoporose pós-menopausa e da osteoporose associada ao uso de glicocorticoides. O etidronato, alendronato e risedronato, além de apresentarem aumento da massa óssea na coluna e no fêmur, reduzem o risco de fraturas vertebrais em cerca de 30 a 50%, enquanto o alendronato e risedronato reduzem o risco de fraturas não vertebrais em mulheres com osteoporose.15,36 O pamidronato também proporciona proteção ao esqueleto e pode ser utilizado em pacientes que apresentem desconforto esofágico grave causado pelos bifosfonatos orais, sendo este fármaco administrado por via intravenosa. Os bifosfonatos são pouco absorvidos no intestino após administração oral e possuem uma biodisponibilidade oral muito baixa.15,22,23,31 Cerca de 20 a 60% do total absorvido vai para os ossos, podendo permanecer durante meses ou anos nos locais de mineralização óssea, dependendo do processo de renovação do osso. Já o restante do fármaco livre é rapidamente excretado na urina.22,27,37 A meia-vida dos bifosfonatos circulantes é curta, principalmente pela sua rápida entrada na estrutura óssea.38 A presença de alimentos é um fator que afeta ainda mais a absorção, especialmente o leite, razão pela 425 qual estes compostos devem ser administrados preferencialmente com o estômago vazio.5,23,37 Por essa razão, estes fármacos devem ser administrados após uma noite de jejum, e cerca de sessenta minutos antes do desjejum.5,31 Devem ser ingeridos com água para facilitar a absorção e, após a ingestão, o paciente deve permanecer trinta minutos sem se alimentar e em posição ortostática para evitar o refluxo.5,34 Com exceção do etidronato e do pamidronato por via intravenosa, todos os bifosfonatos podem causar irritação gástrica, distúrbios intestinais graves e, em alguns casos, dor óssea.5,22,26,37 O alendronato pode causar esofagite, enquanto o etidronato dissódico pode elevar o risco de fraturas em consequência da calcificação reduzida do osso.37 Esses medicamentos são contraindicados para pacientes que apresentem quadro de insuficiência renal, distúrbios de motilidade do esôfago e presença de úlcera péptica.22 Calcitonina A calcitonina é um inibidor da reabsorção óssea que atua por meio da inibição da ação dos osteoclastos, sendo capaz de provocar aumentos moderados da massa óssea em pacientes osteoporóticos, mostrando eficácia também na prevenção primária e secundária da osteoporose induzida por glicocorticoides.16,22,23,31,39 A calcitonina foi aprovada para uso no tratamento da osteoporose pós-menopáusica. Entretanto, mesmo promovendo aumento da densidade mineral óssea (DMO) na coluna vertebral e no fêmur e sendo capaz de reduzir as fraturas vertebrais em cerca de 20%, não apresenta redução nas fraturas não vertebrais.19 A calcitonina promove seus efeitos fisiológicos por meio da interação com receptores específicos presentes na membrana plasmática dos órgãos-alvo e possui 426 Geriatria & Gerontologia seus efeitos principais sobre os ossos e os rins, podendo afetar também outros tecidos.21,22,40 Em quantidades farmacológicas, também reduz a secreção de gastrina e a produção de ácido gástrico e promove elevação da secreção de sódio, potássio, cloreto e água no intestino.22 Pode ser utilizada em associação ao cálcio e à vitamina D em casos de intolerância, respostas insatisfatórias ou contraindicação dos bifosfonatos.5,23,41 A forma de administração utilizada para a calcitonina consiste nas vias intramuscular ou subcutânea, podendo também ser utilizada a via intranasal.5,16,23,37 A forma de administração da calcitonina através de spray nasal possibilita que o composto atravesse a mucosa acarretando menos efeitos colaterais.5 A meia-vida plasmática da calcitonina é de 4 a 12 minutos, podendo seu período de ação se prolongar durante horas. Sua depuração metabólica é de cerca de 8 a 9 mL/kg/min.22,37 A calcitonina de salmão possui uma meia-vida mais prolongada, visto que tem resistência à degradação plasmática e grande afinidade para receptores específicos, além de apresentar depuração metabólica reduzida (cerca de 3 mL/kg/ min), o que a torna mais apropriada para ser utilizada terapeuticamente.22,42 O processo de depuração metabólica ocorre principalmente nos rins, sendo que apenas pequena parte de calcitonina intacta aparece na urina.22 Os principais efeitos indesejáveis decorrentes da administração de calcitonina são náuseas, vômitos e dores abdominais, podendo ocorrer também rubor facial, sensação de formigamento nas mãos e sabor desagradável na boca.26,37 Terapia de reposição hormonal (TRH) – estrogênios Um dos principais fatores relacionados ao desenvolvimento da osteoporose pós-menopausa consiste no declínio dos níveis de estrogê- nios e, diante de evidências clínicas, a terapia de reposição hormonal (TRH) apresenta-se como promotor de melhorias dessa condição.27,37 Os estrogênios são inibidores da reabsorção óssea e prevenem a liberação de fatores de crescimento previamente depositados na matriz, como, por exemplo, a interleucina-1(IL-1), potente citocina indutora da reabsorção óssea, e IL-6, por meio da ação da IL-4 (inibe a diferenciação dos osteoclastos e estimula a síntese do fator de crescimento semelhante a insulina [IGF-1] e do fator de transformação do crescimento[TGF-β], os quais diminuem o recrutamento dos osteoclastos e sua atividade reabsortiva) estimulando a formação óssea pelos osteoblastos.18,30,43-45 Como ação indireta dos estrogênios sobre o metabolismo ósseo, também se atribui a estes compostos a diminuição da sensibilidade óssea ao PTH, o aumento da reabsorção tubular de cálcio e dos receptores de 1,25 di-idroxivitamina D nos osteoblastos, bem como o incremento nos níveis do composto 1,25 di-idroxivitamina D.44 Além disso, a presença de receptores para o estrogênio nos osteoblastos, osteócitos e celulas osteoprogenitoras da medula óssea sugere que existe um efeito direto desse hormônio sobre o osso.44,45 Nos osteoblastos, os estrogênios regulam a expressão dos genes codificadores do colágeno tipo I, da fosfatase alcalina, da osteocalcina e osteonectina. Também promovem aumento da diferenciação dos osteoblastos e exercem um efeito estimulatório sobre a síntese e mineralização da matriz óssea. Sobre os osteoclastos, atuam estimulando a apoptose dessas células, além de manter a viabilidade dos osteócitos.45 Mulheres pós-menopausadas tratadas com TRH apresentam: redução do turnover ósseo, prevenção da perda e conservação da massa óssea, o que faz da TRH uma terapia eficaz na prevenção e no tratamento da osteoporose e Osteoporose na redução do risco de fraturas causadas por esta doença.24,30,33 Os estrogênios são eficazes quando administrados por via oral, percutânea, subcutânea e transdérmica, e seu metabolismo ocorre principalmente no fígado, sendo que alguns metábolitos formados podem sofrer conjugação.8,30,44,46 Cerca de 50% dos estrogênios são excretados inicialmente pela urina durante as 24 horas iniciais, sendo a outra parte eliminada pela bile, sofrendo hidrólise no intestino, onde até cerca de 80% podem ser reabsorvidos. Somente cerca de 10% desses compostos são excretados pelas fezes.46 O uso de estrogênio a longo prazo pode ser relacionado ao aumento no risco de câncer de mama e útero, de cálculo biliar, de tromboembolismo venoso e aumento significativo no risco de cardiopatia.8,27,30,44 Para mulheres não histerectomizadas, a utilização de estrogênio não associado a progesterona leva ao aumento na probabilidade de ocorrência de neoplasia endometrial.8,47 Algumas pacientes em uso desta terapia podem apresentar queixas de mastalgia, retenção hídrica, dor abdominal e cefaleia. São contraindicados para pessoas que apresentem suspeita ou sejam portadoras de câncer de mama, ou que apresentem neoplasia estrogênio-dependente, sangramento vaginal anormal, doenças tromboembólicas e/ou hipersensibilidade aos hormônios.38 Moduladores seletivos de receptores de estrogênio (SERMs) Em virtude da TRH atuar sobre diversos sistemas, foram desenvolvidos fármacos não hormonais capazes de se ligar aos receptores estrogênicos com alta afinidade, atuando de forma agonista sobre alguns tecidos, como o osso, e de maneira antagonista sobre outros, como mama e útero, que são os agentes moduladores seletivos de receptores de estro- 427 gênio (ou Serm, selective estrogen receptor modulators).19,23,29,30,37,47 Existem duas classes de Serm, que são os compostos de primeira e de segunda geração, como o tamoxifeno e raloxifeno, respectivamente. Os moduladores de primeira geração são compostos agonistas ao nível do osso e antagonistas na mama, contudo exercem efeito agonista sobre o útero.29,47,48 Já os compostos de segunda geração não apresentam efeito agonista nos tecidos reprodutivos.29 O raloxifeno, que é o primeiro composto Serm aprovado pelo FDA para tratamento e prevenção da osteoporose, consiste num modulador seletivo para o receptor de estrogênio, com ação agonista sobre os receptores de estrogênios presentes no osso, fígado, sistema cardiovascular e também sobre o perfil lipídico, enquanto exerce ação antagonista sobre esses receptores presentes no tecido mamário e é inativo no útero.15,30,34,37,49 Além de prevenir perdas ósseas, o raloxifeno tem a capacidade de baixar as concentrações de colesterol total no soro e mantém um perfil favorável dos lipídios séricos, reduzindo o nível das lipoproteínas de baixa densidade sem alterar os níveis das lipoproteínas de alta densidade e dos triglicerídeos.30,48,49 Possui boa absorção pelo trato gastrintestinal e, no fígado, sofre intenso metabolismo de primeira passagem, formando o glicuronídeo.8,23,24,37,48 Sua biodisponibilidade é de cerca de 2%, com ampla distribuição pelos tecidos e sua meia-vida média é de 32 horas.37 Liga-se altamente às proteínas plasmáticas, podendo chegar a até 95% de ligação.47 O fármaco é convertido em metabólito ativo no fígado, nos pulmões, nos ossos, no baço, no útero e nos rins. Sua eliminação ocorre principalmente pelas fezes.37,47 É comum a ocorrência de sensação de calor e cãibras nos membros inferiores em pacientes em uso de 428 Geriatria & Gerontologia raloxifeno, contudo o tromboembolismo venoso constitui o efeito mais grave, sendo estes efeitos atribuídos à sua atividade estrogênica.8,19,22,23,30,37,48 Este medicamento não deve ser utilizado em gestantes, com histórico de doença tromboembólica venosa, bem como em mulheres no climatério com sintomas vasomotores importantes.8,18,23 Agentes anabólicos Fluoretos Fluoreto de sódio e o monofluorofosfato são potentes estimuladores da formação de osso trabecular. Apesar de ocasionar um significativo aumento da formação óssea e incremento progressivo na DMO, produzem uma redução insignificante no risco de fraturas vertebrais além de aumentarem o risco de fraturas não vertebrais.18,23 Esta classe é capaz de promover estímulo dos osteoblastos tanto em número como na capacidade de formação de matriz óssea.17 Apresenta a desvantagem da dose tóxica estar situada muito próxima da dose efetiva, o que limita a utilização deste composto.5,16 Assim, para minimizar esses efeitos a utilização desses compostos deve ser associada ao cálcio e a vitamina D. Também existem relatos de osteomalácia, náuseas, vômitos, epigastralgia, diarreia e artralgia associados ao uso destes compostos.5 Paratormônio (PTH) A administração contínua de PTH ou a presença de níveis circulantes elevados do hormônio provocam desmineralização óssea e osteopenia. Assim, este composto é idêntico à fração biologicamente ativa do PTH endógeno, e quando administrada de forma intermitente, promove estímulo da formação de tecido ósseo e melhoria da microarquitetura óssea.8,34 Teriparatida A teriparatida atua estimulando a formação óssea por meio da promoção de estímulos à ação e formação dos osteoblastos, promovendo assim aumento da força óssea pela formação de tecido ósseo novo com consequente redução do risco de fraturas.5,19,50 Evidências indicam que o mecanismo de ação envolve inibição da apoptose dos osteoblastos e estímulo da diferenciação de pré-osteoblastos em osteoblastos, aumentando o número dessas células.48,50 O uso da teriparatida no tratamento da osteoporose ainda permanece confuso e, por ser um medicamento caro, deve ser reservado para casos selecionados de pacientes com osteoporose grave, que apresentem alto risco para fraturas e refratariedade ao tratamento convencional.8,15,34,47 A farmacocinética e as ações sistêmicas da teriparatida sobre o metabolismo mineral são iguais àquelas desempenhadas pelo PTH.27 A dose recomendada para adultos é de 20 mcg diariamente administrado por via subcutânea.5,36,50 Possui uma meia-vida sérica muito rápida, cerca de cinco minutos, quando administrada por via intravenosa.27,48 Uma meia-vida mais longa é observada quando administrada por via subcutânea (1 hora), que consiste no tempo necessário para a absorção do fármaco no local da injeção.27 A eliminação é rápida, sendo que a eliminação da teriparatida ou do PTH ocorre por mecanismos enzimáticos inespecíficos no fígado, seguida de excreção renal, não havendo acúmulo da droga no organismo com o passar do tempo.27,50 Os principais efeitos adversos observados com estudos clínicos realizados com a teriparatida foram hipercalcemia (3%) e cãibras (6%).50 Assim, devido ao risco de hipercalcemia durante o tratamento, os níveis de cálcio devem ser monitorados.8,36 Osteoporose Perspectivas terapêuticas para o tratamento farmacológico da osteoporose Ranelato de estrôncio é um cátio divalente que se assemelha quimicamente ao cálcio e parece participar do processo de mineralização óssea.23 Este composto é proposto como uma nova classe de drogas orais para ser utilizada no tratamento da osteoporose, já comercializada no Brasil, pois aumenta a DMO tanto por inibição da reabsorção, como por estímulo da formação óssea.23 A absorção é relativamente baixa, devendo ser ingerido preferencialmente em jejum.23 Apresenta poucos efeitos adversos, tendo alguns estudos demonstrado um risco aumentado para a ocorrência de fenômenos tromboembólicos e efeitos sobre o sistema nervoso, restringindo o uso em pacientes com afecções cardiovasculares e neurológicas.23,36 Estatinas são compostos utilizados para reduzir os níveis de colesterol sanguíneo, que podem estimular a formação óssea e a inibição da reabsorção, constituindo agentes anabólicos potenciais.23,37 Este efeito sobre a reabsorção parece estar relacionado a inibição da 3-hidroxi-3-glutaril-coenzima A e a diminuição da síntese hepática de colesterol, que causa o bloqueio do metabolismo do mevalonato, o que indica um mecanismo de ação similar ao dos aminobifosfonatos.23,37 Quanto à formação óssea, as estatinas podem causar aumento substancial de tecido ósseo.37 Dentre os possíveis novos agentes inibidores da reabsorção óssea, está incluída a osteoprotegerina, um inibidor fisiológico da reabsorção óssea, que mostrou resultados clínicos preliminares promissores, exercendo pequeno efeito redutor da perda de massa óssea, por inibição da formação, recrutamento e atividade dos osteoclastos, podendo ser valiosa se utilizada em combinação com outros agentes.16,23,37 429 CONCLusão Assim como outras doenças crônicas, a osteoporose possui o desenvolvimento etiológico multifatorial, sendo diversos os fatores que podem contribuir para o desenvolvimento da doença, desde aqueles que podem ser modificados (como os relacionados a hábitos e estilo de vida) quanto aqueles que não são passíveis de mudança, como fatores genéticos, etnia, idade avançada e outros. Dentre os recursos terapêuticos farmacológicos disponíveis para o tratamento da doença, podem ser encontrados os compostos com ação antirreabsortiva e os agentes formadores de ossos, sendo os bifosfonatos (agentes antirreabsortivos) os compostos de escolha. A administração de estrogênios, embora controversa, ainda é utilizada uma vez que estimula o ganho de massa óssea além de oferecer um efeito protetor em nível cardiovascular. Contudo está relacionada a uma maior incidência de câncer de mama e do endométrio. Entretanto, com o desenvolvimentos dos compostos seletivos para o receptor de estrogênio, assim como o raloxifeno, que possuem um perfil de segurança melhorado no tecido reprodutor, representam uma alternativa potencial importante à terapia de reposição hormonal em mulheres na pós-menopausa para tratamento e prevenção de osteoporose. A teriparatida (PTH recombinante) está entre os agentes anabólicos utilizados para esse tipo de tratamento, estimulando a formação de tecido ósseo e melhoria da microarquitetura óssea. Contudo, trata-se de um medicamento caro, estando reservado para casos selecionados de osteoporose grave, com alto risco para fraturas e refratariedade ao tratamento convencional. Novos compostos estão sendo pesquisados atualmente, como as estatinas e a osteoprotegerina para serem utilizados no tratamento 430 Geriatria & Gerontologia da osteoporose. No entanto, são necessários novos estudos para que haja um desenvolvimento de mais compostos, como agentes inibidores da reabsorção óssea e principalmente de agentes anabólicos, que protejem contra o desenvolvimento de fraturas e que apresentam menos efeitos adversos. É pertinente lembrar que para haver sucesso no tratamento dessa doença é fundamental que a utilização de terapias farmacológicas esteja associada às mudanças de hábitos tanto alimentares quanto referentes ao estilo de vida, por meio da prática de atividades físicas habituais e de exposição regular à luz solar, sendo também recomendável a utilização dos suplementos de cálcio e vitamina D, os quais atuam como coadjuvantes do tratamento, em especial para pacientes que não conseguem obter um nível adequado desses elementos pela dieta. REFERÊNCIAS 1. Camargo EP, Minosso M, Lopes, LC. Caracterização do uso de alendronato de sódio no tratamento de osteoporose por clínicos da rede privada de duas cidades do interior de São Paulo. Rev Cienc Farm Básica Apl. 2007;28(1):77-83. 2. Costa-Paiva L, Horovitz AP, Santos AO, Fonsechi-Carvasan GA, Pinto-Neto AM. Prevalência de osteoporose em mulheres na pós-menopausa e associação com fatores clínicos e reprodutivos. 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Instruções para o envio dos manuscritos Os trabalhos devem ser enviados por via eletrônica para o endereço: [email protected]; ou por correio, em CD ou DVD, para SBGG - Av. Copacabana, 500 – sala 609/610, Copacabana - 22020-001, Rio de Janeiro – RJ. Os manuscritos devem ser digitados em Word for Windows (inclusive tabelas); as figuras devem ser enviadas em arquivo JPG com no mínimo 300 dpi de resolução. O autor para correspondência receberá mensagem acusando recebimento do trabalho; caso isto não aconteça até sete dias úteis após o envio, deve-se entrar em contato. Concomitantemente, o autor deverá enviar, por vias eletrônica e postal, uma declaração de que o manuscrito está sendo submetido apenas à revista G&G e a concordância com a cessão de direitos autorais, o termo de consentimento livre e esclarecido e a declaração de conflito de interesses. Avaliação dos manuscritos por pareceristas (peer review) Os manuscritos que atenderem à política editorial e às instruções aos autores serão encaminhados aos editores, que considerarão o mérito científico da contribuição. Aprovados nesta fase, os manuscritos serão encaminhados para pelo menos dois revisores de reconhecida competência na temática abordada. Os manuscritos aceitos poderão retomar aos autores para aprovação de eventuais alterações no processo de editoração e normalização, de acordo com o estilo da revista. Manuscritos não aceitos não serão devolvidos, a menos que sejam solicitados pelos respectivos autores no prazo de até três meses. Os manuscritos publicados são de propriedade da revista, sendo proibida tanto a reprodução, mesmo que parcial, em outros periódicos, como a tradução para outro idioma. Pesquisas envolvendo seres humanos Resultados de pesquisas relacionadas a seres humanos devem ser acompanhados de declaração de que todos os procedimentos tenham sido aprovados pelo comitê de ética em pesquisa da instituição de origem a que se vinculam os autores ou, na falta deste, por um outro comitê de ética em pesquisa credenciado junto a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde. Além disso, deverá constar, no ultimo parágrafo do item Métodos, uma clara afirmação do cumprimento dos princípios éticos contidos na De- claração de Helsinki (2000), além do atendimento a legislação especificas do país no qual a pesquisa foi realizada. Os indivíduos incluídos em pesquisas devem ter assinado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Tipos de artigos publicados A revista G&G aceita a submissão de: Editoriais e comentários: esta seção destina-se à publicação de artigos subscritos pelos editores ou aqueles encomendados a autoridades em áreas específicas, devendo ser prioritariamente relacionados a conteúdos dos artigos publicados na revista. Artigos originais: contribuições destinadas à divulgação de resultados de pesquisas inéditas tendo em vista a relevância do tema, o alcance e o conhecimento gerado para a área da pesquisa. Devem ter de 2 mil a 4 mil palavras, excluindo ilustrações (tabelas, figuras [máximo de cinco]) e referências (máximo de 30). Artigos de revisão: avaliação crítica sistematizada da literatura sobre determinado assunto, de modo a conter uma análise comparativa dos trabalhos na área, que discuta os limites e alcances metodológicos, permitindo indicar perspectivas de continuidade de estudos naquela linha de pesquisa e devendo conter conclusões. Devem ser descritos os procedimentos adotados para a revisão, bem como as estratégias de busca, seleção e avaliação dos artigos, esclarecendo a delimitação e limites do tema. Sua extensão máxima deve ser de 5 mil palavras e o numero máximo de referências bibliográficas de 50. Comunicações breves: são artigos resumidos destinados a divulgação de resultados preliminares de pesquisa; resultados de estudos que envolvam metodologia de pequena complexidade; hipóteses inéditas de relevância na área de Geriatria e Gerontologia. Devem ter de 800 a 1.600 palavras (excluindo tabelas, figuras e referências [máximo de dez]). Deve ter a estrutura de um artigo original. Relatos de caso: são manuscritos relatando casos clínicos inéditos e interessantes. Devem observar a estrutura de resumo com introdução, relato do caso (com descrição do paciente, resultados de exames clínicos, seguimento, diagnóstico), discussão (com dados de semelhança na literatura) e conclusão. Devem conter a bibliografia consultada e não devem ter mais de 1.500 palavras e 15 referências. Artigos especiais: são manuscritos entendidos pelos editores como de especial relevância e que não se enquadram em nenhuma das categorias citadas. Sua revisão admite critérios próprios, não havendo limite de tamanho ou exigências previas quanto as referencias bibliográficas. Cartas ao editor: seção destinada à publicação de comentários, discussão ou críticas de artigos da revista. O tamanho máximo é de mil e até cinco referências. Orientações para a preparação dos manuscritos Os manuscritos devem ser digitados em Word for Windows (inclusive tabelas); as figuras devem ser enviadas em arquivo JPG com no mínimo 300 dpi de resolução. Instruções aos autores 433 Devem ser apresentados na sequência: a) Título completo do trabalho, em português e inglês, com até 90 caracteres; b) título abreviado do trabalho com até 40 caracteres (incluindo espaços), em português e inglês; c) nome de todos os autores por extenso, indicando a filiação institucional de cada um; d) dados de um dos autores para correspondência, incluindo nome, endereço, telefones, fax e e-mail. Resumo: todos os artigos submetidos deverão ter resumo em português e em inglês (abstracts), entre 150 a 250 palavras. Para os artigos originais e comunicações breves, os resumos devem ser estruturados incluindo objetivos, métodos, resultados e conclusões. Para as demais categorias, o formato dos resumos pode ser o narrativo, mas preferencialmente com as mesmas informações. Não devem conter citações e abreviaturas. Destacar no mínimo três e no máximo seis termos de indexação, extraídos do vocabulário “Descritos em Ciências d Saúde” (DeCS - www.bireme.br), quando acompanharem os resumos em português, e do Medical Subject Headings – MeSH (http://www.nlm. nih.gov/mesh/), quando acompanharem os “Abstracts”. Se não forem encontrados descritores disponíveis para cobrirem a temática do manuscrito, poderão ser indicados termos ou expressões de uso conhecido. Texto: com exceção dos manuscritos apresentados como Artigos de Revisão os trabalhos deverão seguir a estrutura formal para trabalhos científicos: Introdução: deve conter revisão da literatura atualizada e pertinente ao tema, adequada a apresentação do problema, e que destaque sua relevância. Não deve ser extensa, definindo o problema estudado, sintetizando sua importância e destacando as lacunas do conhecimento (estado de arte) que serão abordadas no artigo. Métodos: devem conter descrição clara e sucinta dos procedimentos adotados; universo e amostra; fonte de dados e critérios de seleção; instrumentos de medida, tratamento estatístico, dentre outros. Resultados. Devem se limitar a descrever os resultados encontrados sem incluir interpretações e comparações. Sempre que possível, os resultados devem ser apresentados em tabelas ou figuras, elaboradas de forma a serem autoexplicativas e com análise estatística. Discussão: deve explorar, adequada e objetivamente, os resultados, discutidos a luz de outras observações já registradas na literatura. É importante assinalar limitações do estudo. Deve culminar com as Conclusões, indicando caminhos para novas pesquisas ou implicações para a prática profissional. Agradecimentos: podem ser registrados agradecimentos, em parágrafo não superior a três linhas, dirigidos a instituições ou indivíduos que prestaram efetiva colaboração para o trabalho. Referências bibliográficas Conflito de interesses Boog MCF. Construção de uma proposta de ensino de nutrição para curso de enfermagem. Ver Nutr [periódico eletrônico] 2002 [citado em 2002 Jun 10]; 15(1). Disponivel em www.scielo.br/rm Deve incluir relações com: a) conflitos financeiros, como empregos, vínculos profissionais, financiamentos, consultoria, propriedade, participação em lucros ou patentes relacionados a empresas, produtos comerciais ou tecnologias envolvidas no manuscrito; b) conflitos pessoais: relação de parentesco próximo com proprietários e empregadores de empresas relacionadas a produtos comerciais ou tecnologias envolvidas no manuscrito; c) potenciais conflitos: situações ou circunstâncias que poderiam ser consideradas capazes de influenciar a interpretação dos resultados. As referências devem ser listadas no final do artigo, numeradas consecutivamente, seguindo a ordem em que foram mencionadas a primeira vez no texto, baseadas no estilo Vancouver (consultar: “Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals: Writing and Editing for Medical Publication” www.icmje.org). Nas referências com até seis autores, citam-se todos os autores; acima de seis autores, citam-se os seis primeiros autores, seguindo de et al. As abreviaturas dos títulos dos periódicos citados deverão estar de acordo com o MedLine. A exatidão e a adequação das referências a trabalhos que tenham sido consultados e mencionados no texto do artigo são de responsabilidade do autor. Livros Kane RL, Ouslander JG, Abrass IB. Essentials of clinical geriatrics 5th ed. New York: McGraw Hill, 2004. Capítulos de livros Sayeg MA. Breves considerações sobre planejamento em saúde do idoso. In: Menezes AK, editor. Caminhos do envelhecer. Rio de Janeiro: Revinter/SBGG; 1994. p. 25-8 Artigos de periódicos Ouslander JG. Urinary incontinence in the elderly. West J Med. 1981; 135 (2): 482-91 Dissertações e teses Marutinho AF. Alterações clinicas e eletrocardiográficas em pacientes idosos portadores de Doença de Chagas [dissertação]. São Paulo: Universidade Federal da SBGG; 2003. Trabalhos apresentados em congressos, simpósios, encontros, seminários e outros Peterson R, Grundman M, Thomas R, Thal L. Donepezil and vitamin E as treatments for mild congnitive impairment. In: Annals of the 9th International Conference on Alzheimer´s Disease and Related Disorders; 2004 July; United States, Philadelphia; 2004. Abstract 01-05-05. Artigos em periódicos eletrônicos Textos em formato eletrônico Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica. Estatisticas de saúde: assistência médico-sanitária. WWW.ibge.gov.br (acessado em 05/02/2004). Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Available from URL; www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm. Acesso em: 05/06/1996. 434 Geriatria & Gerontologia Instructions for Authors Background Geriatria & Gerontologia (Brazilian Geriatrics & Gerontology) G&G is a quarterly scientific publication by Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) (Brazilian Geriatrics and Gerontology Society) aiming the publication of articles on Geriatrics and Gerontology, including their several subareas and interfaces G&G accepts artirle submissions in Portuguese, English, and Spanish I ho print content is available for SBGG members and the online content can be accessed at: www.sbgg.org br Instructions for Manuscript Sending Papers should be sent either by e-mail to: [email protected] ou by mail in CD or DVD to Av. Copacabana, 500 – sala 609/610, Copacabana - 22020-001 Rio de Janeiro – RJ. Manuscripts should be typed in Word for Windows [(including tables), figures should be supplied as JPG file and a minimum of 300 dpi resolution]. The corresponding author will recerve message acknowledging the paper receipt should this do not occur up to seven working days from the ending, the author should get m touch with the journal Concurrently, the author should send by e-mail and by mail a declaration stating that the manuscript is being submitted only to Geriatria & Gerontologia and that he (she) agrees with the cession of copyright, o TCLE and conflict of interest declaration. Manuscript Evaluation by Peer Review Manuscripts that regard the editorial policy and the instructions for authors will e referred to editors who will evaluate the their scientific merit Manuscripts will be submitted o at least two reviewers with expertise in the addressed theme Accepted manuscripts might return for authors’ approval of in case of changes made for editorial and standardization purposes, according to the journal style Manuscripts not accepted will not be returned, unless they are requested by Die respective authors within three months Published manuscripts are journal ownership, so either reproduction, even partial, m other journals or translation into another language is unauthorized. Research Involving Human Subjects Articles related to research involving human subjects should indicate whether the procedures followed were in accordance with the ethical standards of the responsible committee on human experimentation (institutional or regional) accredited by the Comissao Nacional de £ tics em Pesqwsa do Ministerio da Saude (Health Ministry National Research Ethics Committee), In addition, a clear statement of compliance with ethical principles outlined in Helsinki Declaration (2000) shall appeal’ in the lest paragraph of Methods section, as well as fulfillment of specific lew requirements of the nation the research was performed in. The subjects included in the rosearch should have signed a Free and Informed Consent Term. Categories of Manuscripts G&G accepts the following submissions: Original Articles. Contributions aiming at release of unpublished research results considering the theme relevance, its range and the knowledge generated for research purposes Original articles should contain 7,000 to 4,000 words, excluding illustrations (tables, figures (not exceeding 5) and references (not exceeding 30). Review Articles. Critical and systematic evaluation of literature on I certain subject containing a comparative review of papers in that area, discussing methodological limitations and ranges, indicating further study needs for that research area, and containing conclusions. The proceedings adopted for the review, as well as search, selection, and article evaluation strategies should be described, informing the limits of the theme They should not exceed 5,000 words and 50 references. Brief Communications. These manuscripts are short articles aiming at release of preliminary results of research study results involving low complexity methodology, relevant unpublished hypotheses in Geriatrics and Gerontology They should not exceed 800 to 1.600 words (tables, figures and references [not exceeding 10) excluded) The structure should follow what is requested in an original article. Case Reports. These manuscripts report unpublished and interesting clinical cases They should follow an abstract structure with Introduction. Case fleporf (describing the patient, clinical examination results, follow-up. diagnosis), Discussion (showing similar data in literature), and Conclusion They should contain the bibliography consulted and should not exceed 1,500 words and 15 references. Letters to the Editor. Section designed for publication of comments, discussion or any article reviews They should not exceed 1 000 words and 5 references. Instructions for Manuscript Preparation Manuscripts should be typed in Word for Windows [(including tables), figures should be supplied as JPG file and a minimum of 300 dpi resolution]. Manuscripts should be prepared according to the sequence below: a) paper full title in Portuguese and English not exceeding 90 characters, b) paper short title not exceeding 40 characters (spaces included) in Portuguese and English, c) authors’ and coauthors’ complete name, indicating institutional affiliations for each one of them; d) corresponding author data, including name, address, telephone and fax numbers, and e-mail. Abstract: all manuscripts should be submitted with an abstract in Portuguese and in English having no more than 150 to 250 words. For original articles and brief communications, abstracts should be structured to include objective, methods, results, and conclusions For other manuscript categories, abstract models could be narrative, but rather carrying the same information Abstracts should not contain quotations and abbreviations At least three and at most six key words should ac- Instructions for authors company the Abstracts being extracted from the vocabulary Descritores em Ciências da Saude (DeCS – www.bireme.br) when accompanying abstracts in Portuguese and from Medical Subject Headings -MeSH (http //www.nlm nih gov/mesh/) when accompanying abstracts in English. If no descriptor is available to cover the manuscript theme, words or expressions of known use might be indicated . Text except for Review Articles, papers should assume formal structure of a scientific text Introduction The introduction should contain updated literature review, being appropriate to the theme, suitable to the problem introduced, and enhancing the theme relevance The introduction should not be extensive, but define the problem studied, synthesizing its importance and stressing the knowledge gaps addressed in the article. Methods This section should have clear and brief description of proceedings adopted, sampling; data source and selection criteria, measurement instruments; statistical analysis, among other features Results This section should be limited to describing the results found without including interpretation and comparison. Whenever possible, results should be displayed in tables or figures designed to be self-explanatory and having statistical analysis. Discussion The discussion should properly and objectively explore the results, discussed in the light of further observation already registered in literature It is important to point out the study limitations. The discussion should culminate by conclusions indicating avenues for new research or implications for professional practice. Acknowledgements: Acknowledgments may be written in a no more than 3-line paragraph towards institutes or individuals that effectively contributed to the paper. Conflict of Interest 435 List all authors up to 6; if more than six, list the first 6 followed by et al. The titles of journals should be abbreviated according to style used in MedLine. Authors are responsible for the accuracy and completeness of references consulted and cited in the text. Examples of reference style Books Kane RL, Ouslander JG, Abrass IB Essentials of clinical geriatrics. 5th ed New York McGraw Hill; 2004 Book chapters Sayeg MA. Breves consideragoes sobre planejamento em saúde do idoso In Menezes AK, editor Cammhos do envelhecer Rio de Janeiro: Revinter/SBGG, 1994 p 25-8. Journal articles Ouslander JG. Urinary incontinence in the elderly West J Med 1981;135(2):482-91. Essays and theses Marutinho AF Alteragoes clmicas e eletrocardiogrficas em pacientes idosos portadores de doença de Chagas [dissertação]. São Paulo: Universidade Federal da SBGG; 2003. Papers introduced in congresses, symposiums, meetings, seminars etc. Petersen R, Grundman M. Thomas R. Thai L Donepezil and vitamin E as treatments for mild cognitive impairment. In Annals of the 9* International Conflict of interest includes a) financial conflict such as employment, professional liaisons, funding, consulting, ownership, profit or patent sharing related to marketed products or technology involved in the manuscript; b) personal conflict: close relatedness to owners and employers in companies connected to marketed products or technology involved in the manuscript c) potential conflict: situations or circumstances that could be considered capable of influencing the result interpretation. Conference on Alzheimer’s Disease and Related Disorders; 2004 July; United References Texts in electronic format Should be listed at the end of the manuscript and numbered in the order they are first mentioned in the text, following Vancouver style (v Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals Writing and Editing for Medical Publication [hup .//www. icmje org]). States. Philadelphia, 2004 Abstract 01-05-05 Articles from electronic journals Boog MCF Construgao de uma proposta de ensino de nutrição para curso de enfermagem Rev Nutr [periddico eletronico] 2002 [citado em 2002 Jun 10).15(1). Disponivel em. http.//www.scielo.br/RN Institute Brasileiro de Geografia e Estatistica. Estatisticas da saude: assistência médico-sanitária. http.//www.ibge gov br (acessado em 05/Fev/2004L Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Available from URL http://www.cdc gov/ncidod/EID/eid htm Acesso em: Jun 5 1996. Geriatria & Gerontologia Diretoria Nacional da SBGG Presidente Editora-chefe Nezilour Lobato Rodrigues (PA) Maysa Seabra Cendoroglo - São Paulo, Brasil (Unifesp) 1o Vice-Presidente Paulo Renato Canineu (SP) Pres. Depto Gerontologia Editores Associados Editores Executivos Mariana Asmar Alencar (MG) Dr. João Macêdo Coelho Filho – Fortaleza, Brasil (UFC) Dr. Wilson Jacob Filho – São Paulo, Brasil (USP) Dr. Júlio César Moriguti – Ribeirão Preto, Brasil (USP-RP) Dr. Milton Luiz Gorzoni – São Paulo, Brasil (FCMSC-SP) Dra. Rosângela Correa Dias – Belo Horizonte, Brasil (UFMG) João Senger – Novo Hamburgo, Brasil Karla Cristina Giacomin – Belo Horizonte, Brasil Maria do Carmo Lencastre Lins – Recife, Brasil Mônica Rodrigues Perracini – São Paulo, Brasil Ana Lúcia de Sousa Vilela (RJ) Secretária Geral João Toniolo Neto – São Paulo Johannes Doll – Porto Alegre José Elias S. Pinheiro – Rio de Janeiro Karla Cristina Giacomin – Belo Horizonte Kátia Magdala L. Barreto – Recife Laura Mello Machado – Rio de Janeiro Leani Souza Máximo Pereira – Belo Horizonte Ligia Py – Rio de Janeiro Luiz Eugênio Garcez Leme – São Paulo Luiz Roberto Ramos – São Paulo Marcella Guimarães A. Tirado – Belo Horizonte Marcos Aparecido Sarria Cabrera – Londrina Maria Fernanda Lima-Costa – Belo Horizonte Maurício Gomes Pereira – Brasília Maurício Wajngarten – São Paulo Myrian Spínola Najas – São Paulo Mônica Rodrigues Perracini – São Paulo Newton Luiz Terra – Porto Alegre Ângelo Boss – Baltimore, EUA Andrea Caprara – Roma, Itália David V. Espino – San Antonio, EUA Jeanne Wei – Little Rock, EUA Paulo Henrique M. Chaves – Baltimore, EUA Roberto Kaplan – Buenos Aires, Argentina Jay Luxenberg – San Francisco, EUA Masatoshi Takeda – Osaka, Japão Sergio Ariño Blasco – Barcelona, Espanha Antony Bayer – Cardiff, Reino Unido Base Editorial Av. Copacabana, 500 sala 609/610, Copacabana – CEP: 22020-001 – Rio de Janeiro. e-mails: [email protected] / [email protected] Indexada na LATINDEX (Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal). Maria Alice de Vilhena Toledo Marcos Cabrera Ana Lúcia Vilela Einstein Camargos Claudia Zanata Marco Polo de Freitas Edgar Nunes de Moraes Maisa Cala Kairalla Juliana Junqueira Jussimar Mendes de Aquino Jacira do Nascimento Serra Monica Frank Maria Fernanda Coelho Moreira Costa Salo Buksman Ivete Berkenbrock Renato Fabri Leni Pereira Leila Auxiliadora Leila Auxiliadora José Sant’Ana (MT) Tesoureiro Daniel Kitner (PE) Diretora Científica Comissão de Cuidados Paliativos Silvia Regina Mendes Pereira (RJ) Conselho Consultivo Maria Angélica dos Santos Sanchez (RJ) Marcos Aparecido Sarria Cabrera (PR) Paulo Roberto Cardoso Consoni (RS) Membros do Conselho Consultivo Pleno Adriano Cesar Gordilho (BA) Antonio Jordão Neto (SP) Eliane Blessmann (RS) Elisa Franco de Assis Costa (GO) Elizabete Viana de Freitas (RJ) Flavio Aluizio Xavier Cançado (MG) João Carlos Barbosa Machado (MG) Jussara Rauth (RS) Laura Melo Machado (RJ) Margarida Santos (PE) Maria Auxiliadora Cursino Ferrari (SP) Marianela Flores de Hekman (RS) Myrian Spínola Najas (SP) Paulo Cesar Affonso Ferreira (RJ) Renato Maia Guimarães (DF) Silvia Regina Mendes Pereira (RJ) Sonia Maria Rocha (RJ) Tereza Bilton (SP) Zally Pinto Vasconcelos Queiroz (SP) Daniel Azevedo Isadora Crosara Alves Teixeira Laiane Moraes Dias Josecy Peixoto José Francisco Oliveira Maristela Santos Claudia Burlá Johanner Doll Ligia Py Lucia Takase Toshio Chiba Comissão de Título de Geriatria Elisa Franco de Assis Costa Veronica Hagemeyer Rodolfo Pedrão Paulo José Villas Boas Liva Devéns Karlo Edson Carneiro Santana Moreira Adriano Cesar Gordilho Maria do Carmo Lencastre Maira Tonidandel Comissão de Título de Gerontologia Cláudia Fló Adriana Keller Marisa Accioly Tulia Garcia Jordelina Schier Aline Thomaz Rubens de Fraga Junior Roberta Barros Comissão Científica de Geriatria Comissão Científica de Gerontologia Leila Auxiliadora José Sant’ Anna Maria Angélica Sanchez Ligia Py Maria Izabel Penha de o. Santos Rosângela Corrêa Dias Ana Elizabeth dos Santos Lins Leonor Mauad Márcia Carrera Campos Leal Vania Beatriz M. Herédia Comissão de Divulgação de Assuntos e Eventos Científicos Nezilour Lobato Rodrigues Maria Alice Vilhena Toledo Mariana Asmar Alencar Marianela Hekman Ligia Py Daniel Apolinario Representantes no Conselho da Associação Internacional de Geriatria e Gerontologia (IAGG) Nezilour Lobato Rodrigues (PA) Mariana Asmar Alencar (MG) Marianela Flores de Hekman (RS) Comissão de Formação Profissional e Cadastro Comissão de Normas Geriatria – Veronica Hagemeyer Gerontologia – Maria Celi Lyrio Crispim Marianela Hekman Jussara Rauth DIRETORIAS DAS SEÇÕES ESTADUAIS DA SBGG Alagoas CONSELHO EDITORIAL INTERNACIONAL Comissão de Defesa Profissional Comissão de Comunicação Secretária Adjunta Diretora de Defesa Profissional Adriano César B. S. Gordilho – Salvador Ana Amélia Camarano – Rio de Janeiro Annette Leibing – Rio de Janeiro Anita Liberalesso Néri – Campinas Carlos Montes Paixão Júnior – Rio de Janeiro Cláudia Burlá – Rio de Janeiro Clineu de Mello Almada Filho – São Paulo Edgar Nunes de Moraes – Belo Horizonte Eduardo Ferriolli – Ribeirão Preto Eliane Jost Blessmann – Porto Alegre Elisa Franco de Assis Costa – Goiânia Elizabete Viana de Freitas - Rio de Janeiro Emilio H. Moriguchi – Porto Alegre Emilio Jeckel Neto – Porto Alegre Flávio Chaimowicz – Belo Horizonte Guita Grib Debert – Campinas Ivete Berkenbrock – Curitiba João Carlos Barbosa Machado – Belo Horizonte João Marcos Domingues Dias – Belo Horizonte Comissão de Informática Silvia Pereira Tassio da Silva Maria Alice Vilhena Toledo (DF) CONSELHO EDITORIAL NACIONAL Elisa Franco de Assis Costa Adriano Cesar Gordilho Silvia Pereira Eliane Jost Blessmann Elizabete Viana de Freitas Presidente: Helen Arruda Guimarães 2a Vice-Presidente: Ana Elizabeth Lins Diretor Científico: Oswaldo da Silva Liberal BAHIA Presidente: Romulo Meira 2o Vice-Presidente: Fábio Falcão Diretor Científico: Lucas Kuhn Prado CEARÁ Maranhão PARANÁ Presidente: Jacira do Nascimento Serra 2a Vice-Presidente: Adriano Filipe Barreto Grangeiro Diretores Científicos: Herberth Vera Cruz Furtado Marques Júnior / Margareth de Pereira de Paula Presidente: Debora Christina de Lacantara Lopes 2a Vice-Presidente: Rosemary Rauchbach Diretor Científico: Breno Barcelos Ferreira MATO GROSSO Presidente: Alexsandra Siqueira Campos 2a Vice-Presidente: Marcia Carrera Diretor Científico: Sergio Murilo Fernandes Presidente: Roberto Gomes de Azevedo 2a Vice-Presidente: Roseane Muniz Diretora Científica: Janine Nazareth Arruda PERNAMBUCO RIO DE JANEIRO Presidente: João Bastos Freire Neto 2a Vice-Presidente: Túlia Fernanda Meira Garcia Diretor Científico: Jarbas de Sá Roriz Filho MATO GROSSO DO SUL Presidente: José Roberto Pelegrino Diretora Científica: Marta Dreimeier Presidente: Rodrigo Bernardo Serafim 2a Vice-Presidente: Maria Angélica dos S. Sanchez Diretor Científico: Tarso Lameri Sant´Anna Mosci DISTRITO FEDERAL MINAS GERAIS RIO GRANDE DO SUL Presidente: Marco Polo Dias Freitas 2o Vice-Presidente: Vicente de Paula Faleiros Diretor Científico: Leonardo Pitta Presidente: Rodrigo Ribeiro dos Santos 2a Vice-Presidente: Marcella Guimarães Assis Diretora Científica: Maria Aparecida Camargos Bicalho Presidente: Ângelo José Bos 2a Vice-Presidente: Vania Heredia Diretor Científico: Paulo Roberto Cardoso Consoni ESPÍRITO SANTO PARÁ SANTA CATARINA Presidente: Paulo Cesar dos Santos Borges 2a Vice-Presidente: Silvia Maria Azevedo do Santos Diretora Científica: Nagele Belettini Hahn PARAÍBA SÃO PAULO Presidente: Renato Moraes Alves Fabbri 2a Vice-Presidente: Valmari Cristina Aranha Diretora Científica: Maisa Carla Kairalla Presidente: Roni Chaim Mukamal 2a Vice-Presidente: Neidil Espinola da Costa Diretora Científica: Daniela Souza Gonçalves Barbieri GOIÁS Presidente: Isadora Crosara Alves Teixeira 2a Vice-Presidente: Viviane Lemos Silva Fernandes Diretor Científico: Ricardo Borges da Silva Presidente: Karlo Edson Carneiro Santana Moreira 2a Vice-Presidente: Maria Izabel Penha de O. Santos Diretor Científico: João Sergio Fontes do Nascimento Presidente: Arnaldo Henriques Gomes Viegas 2a Vice-Presidente: Mirian Lucia Trindade Diretor Científico: João Borges Virgolino 439 Reunimos as últimas evoluções científicas aqui. Só falta a sua. ÓRGÃO OFICIAL DE PUBLICAÇÃO CIENTÍFICA DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE GERIATRIA E GERONTOLOGIA A Geriatria & Gerontologia circula nas principais bibliotecas de ciências da saúde do país com artigos selecionados seguindo os padrões internacionais de indexação. Com seu caráter interdisciplinar, é a revista de maior circulação da área, com distribuição para cerca de 2.000 associados da SBGG. Enfim, é evidente que sobram motivos para publicar na Geriatria & Gerontologia. Endereço: Avenida Loefgreen, 882, Cj. 32 Vila Clementino - São Paulo - CEP: 04044-000 - SP - Email: [email protected] Editor-geral: Ari Junior Comunicações médicas: Vania de Oliveira Coordenador editorial: Alexandre Mendes Diagramação: Igor Ferraz Revisoras: Diva Godói e Renata Truyts Produtor gráfico: Thiago Bastos Todos os anúncios devem respeitar rigorosamente o disposto na RDC nº. 96/08 www.SBGG.org.br Endereço: Avenida Loefgreen, 882, Cj. 32 Vila Clementino - São Paulo - CEP: 04044-000 - SP - Email: [email protected] Editor-geral: Ari Junior Comunicações médicas: Vania de Oliveira Coordenador editorial: Alexandre Mendes Diagramação: Igor Ferraz Revisoras: Diva Godói e Renata Truyts Produtor gráfico: Thiago Bastos Todos os anúncios devem respeitar rigorosamente o disposto na RDC nº. 96/08