ISSN 1981-8289
ÓRGÃO OFICIAL DE PUBLICAÇÃO CIENTÍFICA DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE GERIATRIA E GERONTOLOGIA
EDITORIAL
Nutrição e atividade física, a combinação essencial para um envelhecimento.......................................................................304
Maysa Seabra Cendoroglo
ARTIGOS ORIGINAIS
Antropometria da pessoa idosa residente no Nordeste do Brasil..........................................................................................305
Ivone Freires de Oliveira Costa Nunes, Cecília Maria Resende Gonçalves de Carvalho, Apolônia Maria Tavares Nogueira, José Machado Moita Neto, Amanda Marreiro Barbosa
A vacina anti-influenza e a morbimortalidade hospitalar por pneumonia em idosos, em Aracaju (SE), de 1998 a 2010..............314
Alyne Andrade Lima, Anna Klara Bohland, Lais Desidério de Souza, Samara de Oliveira Xavier, Stephanie Chagas Feitosa
Perfil do idoso assistido pela Estratégia de Saúde da Família no Município de Botucatu-SP....................................................323
Caio Cavassan de Camargo, Aryana Baptista Pintscher, Selma Horie Arakaki, Wilza Carla Spiri
Obesidade central e doenças não transmissíveis em servidores idosos de uma universidade federal.......................................332
Poliana Cristina de Almeida Fonsêca, Carolina Abreu de Carvalho, Soraia Pinheiro Machado, Alessandra Gaspar Sousa
Densidade mineral óssea em idosos e presença de fatores de risco nutricionais para osteoporose..........................................341
Caroline Marangon Dourado, Tatiana Pizzato Galdino, Sônia Barbieri Coutinho, Maurício Sprenger Bassuino, Claus Dieter Stobäus
Fatores associados a desfechos clínicos em idosos com fratura proximal de fêmur atendidos em hospital escola......................352
Fernanda Freire Fonseca, Leani Souza Máximo Pereira, Paula Maria Machado Arantes
Equilíbrio e Medo de Cair em Idosos Comunitários..............................................................................................................361
Flávia Cristina da Silva, Celita Salmaso Trelha, Josiane Moreira Germano, Mariana Goeldner Grott
Tarefa dupla em idosas da comunidade: comparação do desempenho no Timed Up and Go entre caidoras e não caidoras.........370
Adriana Netto Parentoni, Lygia Paccini Lustosa, Bárbara Oliveira Zambaldi, Letícia Soares Cavalieri, Nayara Campos Luiz, Rita de Cássia Guedes
Associação entre desempenho físico muscular, força muscular respiratória e capacidade funcional de idosas da comunidade........378
Renata Helena Tiburcio, José Rubens Rebelatto, Karina Rabelo da Silva, Graziella França Bernardelli Cipriano, Karla Helena Coelho Vilaça
Efeitos de diferentes tipos de treino de força na resposta muscular e funcional de mulheres idosas........................................386
Cleiton Silva Correa, Ronei Silveira Pinto
Efeitos de diferentes protocolos de exercício na composição corporal em pessoas acima de cinquenta anos............................394
Juliana Hotta Ansai, Alessandra Paiva de Castro, Patrícia Greve, José Rubens Rebelatto
Medicamentos inapropriados para idosos usados no tratamento de gripe e resfriado............................................................404
Vanessa Adelina Casali Bandeira, Marilei Uecker Pletsch
ARTIGOS DE REVISÃO
Benefícios da prática do Método Pilates sobre a aptidão física de idosos..............................................................................412
Letícia Sanches Deon, Eduardo Ramos da Silva
Tratamento farmacológico para a osteoporose...................................................................................................................422
Priscila Rosendo da Mata, Paulo Andrade Martins, Leonardo da Gama Brito, Monique Meyer Pitta Ramos, Manoelito Coelho dos Santos Junior
INSTRUÇÕES AOS AUTORES................................................................................................................................................... 432
VOLUME 6 • NÚMERO 4 • OUT/NOV/DEZ 2012
ISSN 1981-8289
ÓRGÃO OFICIAL DE PUBLICAÇÃO CIENTÍFICA DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE GERIATRIA E GERONTOLOGIA
EDITORIAL
Nutrição e atividade física, a combinação essencial para um envelhecimento.......................................................................304
Maysa Seabra Cendoroglo
ORIGINAL ARTICLES
Anthropometry of elderly people living in Northeast of Brazil.............................................................................................305
Ivone Freires de Oliveira Costa Nunes, Cecília Maria Resende Gonçalves de Carvalho, Apolônia Maria Tavares Nogueira, José Machado Moita Neto, Amanda Marreiro Barbosa
Anti-influenza vaccine on morbimortality by pneumonia in elderly, in Aracaju (SE), from 1998 to 2010...................................314
Alyne Andrade Lima, Anna Klara Bohland, Lais Desidério de Souza, Samara de Oliveira Xavier, Stephanie Chagas Feitosa
The profile of the elderly assisted by the Family Health Strategy in Botucatu-SP...................................................................323
Caio Cavassan de Camargo, Aryana Baptista Pintscher, Selma Horie Arakaki,Wilza Carla Spiri
Central obesity and non transmitted diseases in elderly servers from an university..............................................................332
Poliana Cristina de Almeida Fonsêca, Carolina Abreu de Carvalho, Soraia Pinheiro Machado, Alessandra Gaspar Sousa
Bone mineral density in elderly and the presence of nutritional risk factors for osteoporosis.................................................341
Caroline Marangon Dourado, Tatiana Pizzato Galdino, Sônia Barbieri Coutinho, Maurício Sprenger Bassuino, Claus Dieter Stobäus
Clinical outcomes related factors in elderly with hip fracture assisted in an university hospital.............................................352
Fernanda Freire Fonseca, Leani Souza Máximo Pereira, Paula Maria Machado Arantes
Balance and Fear of Falling in Elderly Community..............................................................................................................361
Flávia Cristina da Silva, Celita Salmaso Trelha, Josiane Moreira Germano, Mariana Goeldner Grott
Dual task in dwelling-elder women: analysis of the Timed Up and Go between fallers and non fallers....................................370
Adriana Netto Parentoni, Lygia Paccini Lustosa, Bárbara Oliveira Zambaldi, Letícia Soares Cavalieri, Nayara Campos Luiz, Rita de Cássia Guedes
Association between physical muscle performance, respiratory muscle strength and functional capacity of
elderly individuals in the community...............................................................................................................................378
Renata Helena Tiburcio, José Rubens Rebelatto, Karina Rabelo da Silva, Graziella França Bernardelli Cipriano, Karla Helena Coelho Vilaça
Effects of different types of strength training on muscle response and functional response in elderly women.......................386
Cleiton Silva Correa, Ronei Silveira Pinto
Effects of different physical exercises on body composition in individuals over fifty years......................................................394
Juliana Hotta Ansai, Alessandra Paiva de Castro, Patrícia Greve, José Rubens Rebelatto
Inappropriate medicines for elderly used in the treatment of influenza and cold..................................................................404
Vanessa Adelina Casali Bandeira, Marilei Uecker Pletsch
REVIEWS
Benefits of the practice of Pilates Method on physical fitness in elderlies.............................................................................412
Letícia Sanches Deon, Eduardo Ramos da Silva
Pharmacological treatment for osteoporosis.....................................................................................................................422
Priscila Rosendo da Mata, Paulo Andrade Martins, Leonardo da Gama Brito, Monique Meyer Pitta Ramos, Manoelito Coelho dos Santos Junior
INSTRUCTIONS FOR AUTHORS.............................................................................................................................................. 434
VOLUME 6 • NÚMERO 4 • OUT/NOV/DEZ 2012
Geriatria & Gerontologia
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2a Vice-Presidente: Mirian Lucia Trindade
Diretor Científico: João Borges Virgolino
Editorial
Artigo Original
Antropometria da pessoa idosa residente no
Nordeste do Brasil
Nutrição e atividade física, a combinação
essencial para um envelhecimento
Anthropometry of elderly people living in Northeast of Brazil
O envelhecimento é resultado do acúmulo de alterações que se processam durante a
vida do indivíduo, as quais são permeadas por interferências nutricionais e de atividade
física em todo o seu curso. A influência da nutrição e da atividade física nesse processo é
contínua e se acentua com a idade à medida que as reservas funcionais e os mecanismos
compensatórios e reparadores se reduzem ou tornam-se menos eficientes. Essa influência
provém de uma estreita relação cultural, e diversas pesquisas demonstram que a imigração
de indivíduos para outras culturas modifica suas práticas com consequente mudanças na
condição de saúde, independentemente da herança genética. Por outro lado, as variações
étnicas determinam parâmetros diversos de avaliação nutricional e, por isso, a identificação do perfil populacional é importante para que possamos aplicar medidas efetivas que
modifiquem os riscos do indivíduo.
Particularmente no Brasil, a miscigenação resulta em um perfil populacional que precisa ser mais bem caracterizado. Neste sentido, os estudos populacionais que se propõem a
contribuir com essa informação adquirem grande relevância.
Da mesma forma, a recomendação da prática de atividade física deve ser mais específica, especialmente para a população idosa. A orientação populacional precisa ser traduzida
numa prescrição adequada para cada idoso, considerando sua capacidade funcional, suas
comorbidades, limitações (físicas, financeiras, geográficas, culturais etc.) e, principalmente, a indicação para atingir um determinado objetivo com perspectivas de sucesso. Assim,
conhecemos muito pouco do que é necessário sobre as diferentes modalidades de atividade física e suas repercussões positivas e negativas no organismo envelhecido. Em parte,
isso se explica pela complexidade e o custo elevado dos estudos nesta área e também por
essa razão devemos discutir e aprimorar ao máximo cada informação produzida por essas
pesquisas.
Não temos mais dúvidas de que a combinação entre nutrição e atividade física é essencial para o envelhecimento bem sucedido. Portanto, esses conhecimentos devem ser
incorporados à nossa prática e para que estejamos sempre ávidos pela produção de novos.
Maysa Seabra Cendoroglo
Editora
Ivone Freires de Oliveira Costa Nunes1, Cecília Maria Resende Gonçalves de Carvalho1,
Apolônia Maria Tavares Nogueira1, José Machado Moita Neto1, Amanda Marreiro Barbosa1
RESUMO
Universidade Federal do Piauí.
1
Objetivo: Caracterizar pessoas idosas pela antropometria e fornecer valores antropométricos de referência,
segundo o sexo e a faixa de idade. Métodos: Avaliaram-se 359 pessoas idosas de ambos os sexos residentes
no Nordeste do Brasil. As variáveis antropométricas estudadas foram: peso, estatura, índice de massa corporal
(IMC), circunferência do braço (CB), prega cutânea tricipital (PCT) e circunferência muscular do braço (CMB). Os
dados são demonstrados em valores médios ± desvio-padrão e percentis (P10, P15, P25, P50, P75, P85 e P90).
Foi realizado o teste t de Student para analisar a diferença das médias das variáveis entre os sexos e análise de
variância (Anova) para avaliar o efeito da idade nos dados antropométricos. Resultados: Os valores médios das
variáveis foram maiores para o sexo masculino, exceto para IMC, CB e PCT. As diferenças de média do IMC e CB
entre os sexos não foram estatisticamente significativas. A idade indicou ser fator importante na redução de
algumas variáveis, o que ratifica a necessidade de padrões específicos de referência. Conclusão: A tendência
de decréscimo dos dados antropométricos desse estudo assemelha-se a outros realizados com a população
idosa. Assim, esses valores podem auxiliar na avaliação nutricional e contribuir com a elaboração de um padrão
antropométrico de referência para o idoso do Brasil.
Palavras-chave: Antropometria, idoso, Brasil.
ABSTRACT
Objective: Characterizing elderly people characterizing elderly people by anthropometric measures and
providing reference values according to the sex and the age group. Methods: We evaluated 359 elderly people
of both sexes from the Northeast of Brazil. The anthropometric variables studied were: weight, height, body
mass index, arm circumference, triceps skinfold thickness and arm muscle circumference. Data are shown as
mean values ± standard deviations, and percentiles (10th, 15th, 25th, 50th, 75th, 85th and 90th). We used the
Student’s t test to analyze the means differences between both sexes and the analysis of variances (ANOVA) to
evaluate the effect of age on the anthropometric data. Results: The average values of the variables were higher
for males, except BMI, AC, and TST . The average differences of the BMI and AC between both sexes were not
statistically significant. The elderlies age showed to be an important factor in the reduction of some variables,
what ratify the necessity of specifics standard references for the elderly people Conclusion: The decreasing trend
of anthropometric data of this study is similar to others conducted with an elderly in the elderly population.
Thus, these values can help the nutritional assessment and contribute to the development of an anthropometric
reference standard for the elderly people in Brazil.
Keywords: Anthropometry, aged, Brazil.
Endereço para correspondência: Ivone Freires de Oliveira Costa Nunes - Joaquim Monteiro nº 260 Apt 102 Junco 64600-000, Picos-PI. - Telefone: (89) 9934-2287
E-mail: [email protected]
306
Geriatria & Gerontologia
INTRODUÇÃO
A antropometria é um método convencional que foi desenvolvido desde o final do século XIX e aprimorado no período da Primeira Guerra Mundial devido à preocupação com
a eficiência física dos soldados da época.1 É
indicador do estado e das condições nutricionais, que possui ampla utilização, principalmente por fornecer dados físicos e de composição corporal, imprescindíveis às pesquisas
epidemiológicas, pela sua praticidade, fácil e
rápida aplicação e pela ausência de características invasivas.2 Em pessoas idosas, as variáveis antropométricas primárias mais usadas
são peso, estatura, perímetros e dobras cutâneas, que servirão para os cálculos das medidas secundárias, IMC e CMB.3,4
O processo do envelhecimento é acompanhado de alterações corporais, que ocasionam
mudanças na capacidade funcional, redução
do peso, estatura, massa muscular e incremento de gordura corporal geral.5 De maneira
compartimentalizada, a quantidade de tecido adiposo tende a diminuir nos braços e nas
pernas e aumentar no tronco, proporcionando
alterações específicas na PCT, na CB e da cintura.6 Nesse sentido, pesquisas internacionais,
realizadas em países como Estados Unidos,
Inglaterra, França, Itália e México, apontam
valores antropométricos de referência para
pessoas idosas,7-10 mas a utilização de dados
universais, desconsiderando-se a existência de
diferenças sazonais entre os grupos de idosos,
torna o diagnóstico nutricional repleto de falhas. Dessa forma, o Expert Committee of the
World Health11 recomenda o uso de dados
antropométricos locais próprios de cada país
para minimizar os erros de reprodutibilidade.
No Brasil, há estudos apontando as
características antropométricas dos idosos.12-16
Todavia ainda não existem valores de referência específicos17. Assim, considerando as
dimensões continentais do país, estudos que
apresentem valores antropométricos de referência são fundamentais, especialmente
no Nordeste, por ser uma região de maior
vulnerabilidade nutricional. O objetivo deste
trabalho é caracterizar as pessoas idosas pela
antropometria e fornecer valores antropométricos de referência, segundo o sexo e a faixa
etária, contribuindo com a construção do padrão antropométrico brasileiro.
MÉTODOS
O estudo que se apresenta é de natureza
transversal, baseado na dissertação de mestrado intitulada “Estado nutricional e associação com variáveis demográficas, níveis
séricos e ingestão alimentar de vitamina D
em pessoas idosas domiciliadas em capital
do Nordeste do Brasil”, aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Piauí (UFPI) ─ a qual foi conduzida de
acordo com os padrões estabelecidos pela
Declaração de Helsinque ─, sob o Protocolo n.
0386.0.045.000-10.
Todos os indivíduos que aceitaram participar voluntariamente assinaram devidamente o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, preparado em conformidade
com as normas da Resolução n. 196/1996 do
Conselho Nacional de Saúde.18 Foi fornecida
uma cópia a cada pesquisado e todas as dúvidas que ocorreram ao longo do estudo foram
sanadas pelos pesquisadores responsáveis.
Além disso, manteve-se a identificação das
pessoas idosas sob sigilo e os dados coletados
permaneceram armazenados pelo coordenador do estudo. A pesquisa envolveu a participação de pessoas idosas não institucionalizadas, com idade igual ou superior a sessenta
anos, de ambos os sexos, residentes na zona
urbana da cidade de Teresina, PI, Nordeste
do Brasil, e cadastrados na Estratégia Saúde
Antropometria da pessoa idosa
da Família (ESF). Foram excluídos da seleção
da amostra os que possuíam déficit cognitivo
exacerbado, dificuldades importantes de verbalização, audição e locomoção.
Para o cálculo do tamanho amostral, utilizou-se a estimativa da prevalência de 32,3%
de excesso de peso para população idosa brasileira,19 calculada com 95% de nível de significância e 5% de margem de erro, obtendo-se
um tamanho amostral de 336 indivíduos, no
entanto, a essa quantidade foi acrescido 6,8%
após considerar os critérios de exclusão, as
possíveis perdas e recusas na participação da
pesquisa. A amostra total foi, por esses motivos, de 359 indivíduos, os quais foram distribuídos de forma proporcional ao número
de idosos atendidos em cada Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), ficando 144 na
Centro-Norte (40,1%), 109 na Leste-Sudeste
(30,4%) e 106 na Sul (29,5%).20
A aferição do peso (kg) deu-se por meio
de balança eletrônica digital portátil da marca Plenna Slim®, com capacidade de 150 kg e
sensibilidade de 100 g.21
A estatura foi predita pela estatura do joelho22
e calculada pelas fórmulas matemáticas que
se seguem:
Masculino = 64,19 - (0,04 x idade em anos) +
(2,02 x estatura do joelho em cm)
Feminino = 84,88 - (0,24 x idade em anos) +
(1,83 x estatura do joelho em cm)
O IMC, expresso em kg/m², foi calculado
pelo peso corporal (kg) dividido pela estatura
(m) elevado ao quadrado.23
Para o cálculo matemático da CMB foi empregado o uso da CB e PCT pela fórmula:
CMB (cm) = CB - π x [PCT (cm)]24
A determinação da CB foi realizada utilizando-se uma fita métrica flexível e inextensível, com precisão de 0,1 cm, obtida na metade
da distância do braço não dominante.25
307
Para aferir a PCT usou-se um adipômetro
científico da marca Lange® ─ Beta Technology, USA) ─, com pressão constante de 10 g/
mm² na superfície de contato e precisão de
0,1 mm, com escala de 0 a 65 mm.26
As pessoas idosas foram classificadas de
acordo com o sexo e a faixa etária (60 a 69,
70 a 79 e 80 anos e mais), e a apresentação
dos dados antropométricos deu-se pela medida de tendência central, dispersão e percentil
(P10, P15, P25, P50, P75, P85 e P90).
Para realização das análises estatísticas
utilizou-se o software SPSS 18.0. A significância estatística das diferenças de médias entre
os sexos deu-se por meio da aplicação do teste t de Student, e o efeito da idade nas variáveis antropométricas pela análise de variância
(Anova) e pela comparação de Tukey’s. O nível
de significância adotado foi 5% ou p < 0,05.
RESULTADOS
Do grupo de idosos avaliados, 138 são do
sexo masculino (38,40%) e 221 do feminino
(61,60%). A idade compreendeu o intervalo
de 60 a 93 anos, e a média foi 71,6 (7,8) para
os homens e 70,0 (7,5) para as mulheres, sem
diferença estatística significativa (p = 0,055).
Os valores médios das variáveis antropométricas, segundo sexo e faixa etária, encontram-se na Tabela 1. A comparação entre os dados
antropométricos e sexo somente demonstra
diferença estatisticamente significativa em
peso (p < 0,001), estatura (p < 0,001), PCT (p
< 0,001) e CMB (p = 0,004).
Conforme os dados expostos na Tabela 1, o
comparativo entre as faixas etárias e as médias
dos valores dos parâmetros antropométricos,
revela existência de diferença estatisticamente
significativa em peso (p = 0,016), estatura (p =
0,012), CB (p < 0,001) e CMB (p = 0,003). Além
disso, observa-se ainda a tendência do declínio
das médias com o avançar da idade. Na Tabela 2,
308
Geriatria & Gerontologia
expõem-se os percentis das variáveis antropométricas, em que se observa tendência de declínio com maiores detalhes.
Na análise do peso corporal dos indivíduos, verifica-se diferença estatisticamente
significativa nas três faixas etárias categorizadas, 60 a 69 (p < 0,001), 70 a 79 (p = 0,004)
e 80+ (p = 0,005). Todavia, não existe diferença estatisticamente significativa entre as três
faixas etárias quando se divide por sexo: masculino (p = 0,71) e feminino (p = 0,82).
Quanto à estatura, os homens têm estatura superior às mulheres, e houve diferença estatisticamente significativa para o sexo feminino (p < 0,001) em todos os grupos de idade.
Para a CB, não há diferença relevante entre os sexos (p > 0,05). Nas faixas de 60 a 69 e
70 a 79 anos o valor é maior nas mulheres, na
faixa de idade superior a 80 anos a CB é maior
nos homens. Existe diferença estatística
significativa entre as faixas etárias quando a
amostra está dividida em homens (p = 0,045)
Tabela 1. Variáveis antropométricas (média ± desvio-padrão) dos idosos residentes na zona urbana da cidade de Teresina, PI,
Nordeste do Brasil, de acordo com sexo e faixa etária
Variáveis
Peso (kg)*
Total
60 a 69
70 a 79
80+
Estatura (m)*
Total
60 a 69
70 a 79
80+
IMC (kg/m²)
Total
60 a 69
70 a 79
80+
CB (cm)
Total
60 a 69
70 a 79
80+
PCT (mm)*
Total
60 a 69
70 a 79
80+
CMB (cm)*
Total
60 a 69
70 a 79
80+
Masculino
Feminino
66,8 ± 11,6
69,2 ± 11,9
64,7 ± 11,2
64,4 ± 10,4
59,6 ± 11,6**
61,3 ± 12,2
58,7 ± 10,9
56,2 ± 9,8
1,65 ± 5,4
1,65 ± 5,55
1,64 ± 5,06
1,64 ± 5,80
1,54 ± 5,1**
1,56 ± 4,44
1,52 ± 5,63
1,51 ± 4,07
24,6 ± 3,9
25,4 ± 3,8
23,9 ± 3,9
23,9 ± 3,9
25,2 ± 4,3
25,3 ± 4,7
25,1 ± 4,0
24,7 ± 4,1
28,6 ± 3,1
29,3 ± 3,3
28,1 ± 2,7
27,8 ± 3,2
29,1 ± 4,4**
30,0 ± 4,8
28,2 ± 3,7
27,7 ± 3,8
11,3 ± 4,9
11,7 ± 5,1
10,6 ± 4,3
12,0 ± 5,4
16,4 ± 5,1
17,0 ± 5,1
16,2 ± 5,2
14,0 ± 3,7
25,1 ± 2,8
25,7 ± 2,9
24,7 ± 2,5
24,1 ± 2,5
309
Antropometria da pessoa idosa
24,0 ± 3,9**
24,6 ± 4,4
23,1 ± 3,0
23,3 ± 3,2
*Diferença estatisticamente significativa dos valores médios entre o sexo masculino e feminino. **Diferença estatisticamente significativa dos valores médios entre as faixas etárias.
Tabela 2. Percentis das variáveis antropométricas de idosos residentes na zona urbana da cidade de Teresina, PI, Nordeste do Brasil,
conforme sexo e faixa etária
Variáveis
antropométricas
Peso (kg)
Masculino
Feminino
Estatura (m)
Masculino
Feminino
IMC (kg/m²)
Masculino
Feminino
CB (cm)
Masculino
Feminino
PCT (mm)
Masculino
Feminino
CMB (cm)
Masculino
Feminino
N
60 a 69
70 a 79
80+
60 a 69
70 a 79
80+
60 a 69
70 a 79
80+
60 a 69
70 a 79
80+
60 a 69
70 a 79
80+
60 a 69
70 a 79
80+
60 a 69
70 a 79
80+
60 a 69
70 a 79
80+
60 a 69
70 a 79
80+
60 a 69
70 a 79
80+
60 a 69
70 a 79
80+
60 a 69
70 a 79
80+
Percentil
10
15
25
50
75
85
90
138
66
49
23
221
117
73
31
55,0
56,8
53,0
53,3
46,1
49,1
43,9
43,5
56,8
58,1
55,3
54,5
49,2
50,2
47,5
45,1
58,9
60,1
57,2
58,7
52,6
53,9
51,0
50,0
64,0
66,0
62,2
62,8
59,2
59,9
58,9
55,3
72,9
75,1
70,1
70,0
66,3
66,7
63,9
64,9
80,5
81,8
76,2
78,0
70,4
74,4
69,4
67,9
82,7
85,9
82,1
84,8
75,5
76,5
75,1
68,6
138
66
49
23
221
117
73
31
1,58
1,58
1,58
1,56
1,47
1,50
1,45
1,46
1,59
1,59
1,59
1,57
1,49
1,51
1,47
1,46
1,60
1,61
1,60
1,60
1,51
1,53
1,49
1,48
1,64
1,65
1,64
1,63
1,54
1,56
1,52
1,49
1,69
1,69
1,68
1,69
1,58
1,59
1,56
1,54
1,70
1,72
1,70
1,70
1,60
1,61
1,59
1,56
1,72
1,73
1,70
1,71
1,61
1,61
1,60
1,57
138
66
49
23
221
117
73
31
20,3
20,3
19,2
19,0
19,6
19,6
19,5
19,7
20,8
21,2
20,6
20,4
21,1
21,5
21,0
20,3
22,0
23,0
21,2
22,0
22,4
22,4
22,3
22,1
23,8
24,4
23,3
23,4
24,8
24,5
24,9
24,8
27,1
28,1
26,0
26,0
27,8
27,9
27,6
27,4
28,8
29,1
28,0
29,2
29,4
29,4
29,4
28,7
30,9
31,1
29,0
31,0
30,6
30,8
30,6
30,2
138
66
49
23
221
117
73
31
25,0
25,6
25,0
24,0
24,1
25,0
23,0
23,1
25,8
26,0
25,2
24,6
25,0
25,9
25,0
24,3
26,5
27,0
26,5
26,0
26,5
27,0
25,9
25,0
28,3
29,0
28,0
27,0
29,0
29,0
28,0
28,0
30,1
31,0
29,6
29,0
31,5
32,0
30,8
30,6
31,5
32,4
30,7
31,2
33,0
35,0
33,0
32,0
33,0
33,6
33,0
33,6
35,0
37,0
33,0
32,0
138
66
49
23
221
117
73
31
6,0
6,0
5,0
6,4
10,0
11,0
9,7
9,7
7,0
7,0
6,0
7,0
11,0
11,9
11,0
10,0
8,0
8,0
7,5
8,0
13,0
13,0
12,0
11,0
10,0
10,5
10,0
10,0
16,0
16,7
16,0
14,0
14,0
15,2
12,5
15,0
19,3
20,1
19,8
17,0
17,0
17,0
15,5
20,0
22,0
23,0
22,0
18,5
18,0
18,0
17,0
21,6
24,0
24,0
24,3
19,3
138
66
49
23
221
117
73
31
21,8
22,0
21,7
20,8
19,9
20,4
19,7
19,0
22,3
22,7
22,1
21,2
20,5
21,0
20,3
20,2
23,1
24,2
22,9
22,4
21,3
21,6
21,1
21,0
25,0
25,8
24,9
23,7
23,6
23,9
23,1
23,8
26,6
27,0
26,3
25,9
25,7
26,3
25,1
25,7
27,4
27,6
27,1
26,4
27,5
28,0
26,2
26,6
28,0
28,7
28,0
27,0
28,9
30,3
27,2
27,5
310
Geriatria & Gerontologia
e mulheres (p = 0,024). Os valores médios
tiveram declínio com a idade ─ nos homens
essa redução não tem diferença significativa
entre as faixas etárias, mas tem nas mulheres
em todos os grupos etários (p < 0,001).
Quanto aos valores de PCT, observa-se
diferença estatisticamente significativa entre
homens e mulheres (p < 0,001), sendo que no
sexo feminino os valores são sempre maiores. A redução de PCT é estatisticamente significativa entre as faixas etárias somente no
sexo feminino (p = 0,011). Essa diferença tem
maior manifestação na faixa de idade de 60 a
69 e 80+(p = 0,013).
Os valores de CMB, indicador de massa
muscular, revelam que há diferença estatisticamente significativa entre homens, para
pessoas idosas com 60 a 69 e 80+(p = 0,047)
e mulheres, para 60 a 69 e 80+(p = 0,013)
mostrando valores médios maiores no sexo
masculino. Existe também diferença estatisticamente significativa entre as faixas etárias
em ambos os sexos, masculino (p = 0,034) e
feminino (p = 0,036).
Os dados antropométricos revelaram que os
homens têm valores médios maiores que
os das mulheres nas variáveis, peso, estatura
e CMB. No entanto, as mulheres, quando comparadas aos homens, possuem médias maiores de IMC, CB e PCT, com diferença estatisticamente significativa apenas entre PCT (p <
0,05). A redução das medidas antropométricas
com a idade é maior nas mulheres, em peso, CB
e PCT, e nos homens na, estatura, IMC e CMB.
Discussão
Na avaliação do grupo de pessoas idosas
averiguou-se a predominância do sexo feminino, a qual corrobora com a tendência nacional do envelhecimento, encontrada também
em pesquisas realizadas com o mesmo contingente populacional.14,17,27
À medida que o idoso envelhece mais,
há redução do peso, que pode ser verificada
pelos dados em percentil. Ressalta-se que os
idosos pesam mais que as idosas. Todavia,
não existe diferença estatística significativa
entre as três faixas etárias quando se divide
por sexo, semelhante ao estudo de Mastroeni et al.,17 que avaliaram idosos residentes em
domicílios na área urbana da cidade de Joinville, SC, no ano de 2002.
Na variável estatura, o comportamento em
todas as faixas etárias é o mesmo (p < 0,001),
observando-se redução de 7 cm nas idosas
com 80 anos ou mais. A diminuição do peso é
uma tendência do envelhecimento, a da estatura deve-se a redução do arco plantar, achatamento dos discos intervertebrais e crescimento das curvaturas da coluna, mais acentuadas em idosos mais velhos.9
Os dados acerca do IMC mostram declínio
com o aumento da idade, mas não há diferença
significativa entre homens e mulheres em todas as faixas de idade examinadas, bem como
entre as faixas etárias quando a amostra está
dividida por sexo quanto ao IMC (p > 0,05).
A mesma redução ocorre em pesquisas que
apresentam seus dados em percentil e média,
sendo que a do IMC decorre do decréscimo da
massa muscular e gordura corporal, principalmente após os setenta anos de idade.13,14
Para CB, não há diferença entre os sexos
corroborando os dados encontrados por Mastroeni et al.17 Nas faixas de 60 a 69 e 70 a 79
anos o valor é maior nas mulheres, na faixa de
80+ anos é maior nos homens. Existe diferença estatística significativa entre as faixas etárias quando a amostra está dividida em homens (p = 0,045) e mulheres (p = 0,024). Os
valores médios tiveram declínio com a idade:
nos homens essa redução não tem diferença
significativa entre as faixas etárias; mas há
diferença importante nas mulheres em todos
Antropometria da pessoa idosa
311
os grupos etários (p < 0,001), semelhante ao
estudo de Menezes e Marucci14 que avaliaram
idosos institucionalizados em Fortaleza (CE).
to em mulheres, similar ao comumente encontrado em outras pesquisas realizadas com
idosos no Brasil.9
Quanto aos valores de PCT, observa-se
diferença estatisticamente significativa entre
homens e mulheres (p < 0,001): nelas os valores são sempre maiores que neles. Esse resultado é semelhante ao da literatura, que indica
maior acúmulo de gordura nas extremidades
de pessoas do sexo feminino em comparação
ao masculino.17,25
Assim, a tendência de redução das variáveis antropométricas com o aumento da
idade, assemelha-se a outras pesquisas desenvolvidas com a pessoa idosa, mas os valores médios e percentis são diferenciados,
provavelmente em razão da diversidade do
perfil do grupo de idosos avaliados, quanto a
etnia, nível socioeconômico, estilo de vida e
outros fatores ambientais.
A redução da CB, nos valores médios e
percentil, possivelmente ocorre pelo decréscimo da massa magra típico do processo do
envelhecimento. No entanto, mesmo não sendo o mais fidedigno indicador de massa muscular, tem alterações com a diminuição da
quantidade de massa magra, pois representa a adição das áreas compostas por tecidos
muscular, ósseo, gorduroso e epitelial. Portanto, a CB com o avançar da idade, especialmente no sexo feminino, tende à redução, fato
semelhante ao de outros trabalhos.17
A redução de PCT é estatisticamente significativa entre as faixas etárias somente no
sexo feminino (p = 0,011). E essa diferença
tem maior manifestação na faixa de idade de
60 a 69 e 80+ (p = 0,013), semelhante ao estudo de Menezes e Marucci.14 Além disso, observa-se a tendência de declínio dos valores
em ambos os sexos com o aumento da idade.17
Os valores de CMB, indicador de massa
muscular, revelam que há diferença estatisticamente significativa entre homens, para pessoas idosas com 60 a 69 e 80+ (p = 0,047), e
mulheres, para 60 a 69 e 80+ (p = 0,013). Os
homens tiveram valores médios maiores que
as mulheres. Existe também diferença estatisticamente significativa entre as faixas etárias
em ambos os sexos, masculino (p = 0,034) e
feminino (p = 0,036). As variáveis ratificam a
tendência de declínio tanto em homens quan-
Os dados antropométricos revelaram
que os homens têm valores médios maiores que os das mulheres nas variáveis, peso,
estatura e CMB. No entanto, as mulheres,
quando comparadas aos homens, possuem
médias maiores de IMC, CB e PCT, com diferença estatisticamente significativa apenas
entre PCT (p < 0,05). A redução das medidas
antropométricas com a idade é maior nas
mulheres, em peso, CB e PCT, e nos homens
na, estatura, IMC e CMB.
Ao observar os resultados dos valores
médios e percentis, de Joinville, SC,17 nota-se
que são maiores, comparando-se com os encontrados nesta pesquisa. Fato que sugere a
ocorrência de diferenças antropométricas na
pessoa idosa que podem repercutir no estado
nutricional do indivíduo, possivelmente de
acordo com a região do país, em especial naqueles considerados extremos em desenvolvimento social e econômico, como é o caso do
Sul e do Nordeste do Brasil.
Assim, ratifica-se a necessidade de padrões de referência locais para o referido
grupo etário, em nível populacional ou específico para a população destinada, porque
são muitos os fatores que limitam à avaliação utilizando os padrões internacionais,
dentre os quais há diferenças de idade, metodologia empregada, plano amostral, crité-
312
Geriatria & Gerontologia
rios de inclusão e exclusão adotados no estudo, apresentação dos resultados em médias
ou percentis e categorias das faixas etárias
(cinco ou dez anos).
Portanto, pelas alterações e dificuldades
inerentes ao processo do envelhecimento, alguns autores têm recomendado que os resultados de pesquisas em esfera populacional ou
não sejam usados como padrão de referência
local para a pessoa idosa.9
CONCLusão
Sugere-se que os dados antropométricos
dessa pesquisa possam ser empregados no
auxílio à construção de padrão antropométrico nacional visando à adequada avaliação
nutricional de idosos no país.
CONFLITO DE INTERESSE
Os autores declaram a inexistência de
conflito de interesse na realização deste trabalho.
5. Bueno JM, Martino HSD, Fernandes MFS, Costa LS, Silva RR.
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Vacina anti-influenza pneumonia em idosos
Artigo Original
A vacina anti-influenza e a morbimortalidade
hospitalar por pneumonia em idosos, em
Aracaju (SE), de 1998 a 2010
Anti-influenza vaccine on morbimortality by pneumonia in elderly, in Aracaju (SE), from 1998 to 2010
Alyne Andrade Lima1, Anna Klara Bohland2, Lais Desidério de Souza3, Samara de Oliveira
Xavier4e Stephanie Chagas Feitosa5
RESUMO
1
Discente da Universidade
Federal de Sergipe, acadêmica
participante do PET-Saúde.
Contribuição: concepção do
trabalho, coleta de dados, análise
e interpretação dos dados.
2
Docente da Universidade Federal
de Sergipe, Tutora do Pet-Saúde.
Contribuição: orientadora do
trabalho, análise e interpretação
dos dados.
3
Discente da Universidade
Federal de Sergipe, acadêmica
participante do PET-Saúde.
Contribuição: concepção do
trabalho, coleta de dados, análise
e interpretação dos dados.
4
Discente da Universidade
Federal de Sergipe, acadêmica
participante do PET-Saúde.
Contribuição: concepção do
trabalho, coleta de dados, análise
e interpretação dos dados.
5
Discente da Universidade
Federal de Sergipe, acadêmica
participante do PET-Saúde.
Contribuição: concepção do
trabalho, coleta de dados, análise
e interpretação dos dados.
Objetivo: Avaliar o impacto da implantação da vacina antiinfluenza, em idosos, em relação ao número de mortes e
internações por pneumonia, em indivíduos de 60 anos ou mais, no município de Aracaju, entre 1998 e 2010. Método:
Dados coletados através do DATASUS, Sistema de Informações Hospitalares - SIH (BRASIL, 2012) e do Sistema de Avaliação do
Programa de Imunizações - API (BRASIL, 2012), referentes aos anos de 1998 a 2010, relacionados à imunização e internação
e óbitos hospitalares de idosos na cidade de Aracaju (SE). Foram calculados taxa de internação hospitalar por pneumonia
por 10 mil habitantes e taxa de mortalidade por pneumonia por 10 mil habitantes. Resultados: Foram notificados ao SIH/
SUS 2229 hospitalizações por pneumonia entre 1998 e 2010, entre idosos. O número de mortes por pneumonia no mesmo
período e segmento populacional foi de 575. A média do coeficiente de mortalidade pela causa estudada foi de 10,37
(por 10 mil habitantes); esse indicador apresentou comportamento flutuante durante a série de estudo, porém durante a
maior parte do tempo foi decrescente. Houve decréscimo de 47% nas taxas de hospitalização durante período observado. O
número de idosos cresceu a cada ano da série e as maiores taxas de internação e mortalidade por pneumonia ocorreram na
faixa etária de 80 anos e mais. Conclusão: As taxas de internação por pneumonia em idosos reduziram consideravelmente
durante os anos seguintes à implantação da vacina antiinfluenza. Embora a pneumonia seja ainda importante causa de
morbimortalidade entre pacientes idosos, a prevenção de episódios de gripe resulta em melhoria na saúde do idoso.
Palavras-chave: Vacinas contra influenza. Pneumonia. Idoso. Mortalidade. Hospitalização.
ABSTRACT
Objective: Evaluation of the impact of the influenza vaccine implement in elderlies related to the number of deaths and
hospitalizations for pneumonia in Aracaju, with sixty years of age or older, between 1998 and 2010. Methodology:
Data were collected from the National Health System Database (DATASUS), the Hospital Information System – SIH
(BRASIL, 2012) and the Evaluation System Immunization Program – API (BRASIL, 2012), from 1998 to 2010, related to
immunization and hospitalization of elderly people in Aracaju (SE). The hospitalization rate for pneumonia per 10000
inhabitants and mortality rate for pneumonia per 10 000 inhabitants was calculated. Results: 2229 hospitalizations
for pneumonia were reported to SIH/SUS between 1998 and 2010 elderlies. The number of pneumonia deaths in
the same period and population´s age was 575. The average mortality rate was 10,37 (per 10000 inhabitants), this
indicator oscillated during the series of study, but during most of time was decreasing. There was a 47% decrease
in hospitalization rates during the period observed. The number of elderly people increased every year of the series
and the highest rates of hospitalization and mortality due to pneumonia occurred in patients aged 80 years and over.
Conclusion: The rates of hospitalization due to pneumonia in the elderly people decreased during the years following
the implementation of influenza vaccine. Although pneumonia is still an important cause of morbidity and mortality
in elderlies, the prevention of flu episodes results in an improvement of this people's health.
Keywords: Influenza vaccines. Pneumonia. Aged. Mortality. Hospitalization.
Endereço para correspondência: Laís Desidério de Souza - R. Tenente Wendel Quaranta, 1371. Ed. Van Gogh, apt 602. B. Suissa. CEP: 49052-260 Aracaju-SE.
Telefones: (79) 3211 – 5522 / (79) 9949 - 3787 - E-mail: [email protected]
INTRODUÇÃO
As doenças respiratórias, particularmente as infecções pelo vírus da influenza e suas
complicações, têm-se revelado importante
causa de morbimortalidade na população
idosa, sendo causa relevante de internações e
morte nas últimas décadas em diferentes regiões do mundo1. A cada ano, a gripe é associada com aproximadamente 30.000 mortes,
mais de 250.000 hospitalizações, e bilhões de
dólares em custos de saúde2.
Comumente, os fatores de risco para doença pneumocócica e influenza sobrepõem-se,
pois a pneumonia é a complicação mais comum da influenza3. Nos Estados Unidos, pneumonia adquirida na comunidade é a quinta
causa principal de morte em pessoas com idade maior que 65 anos, e um número estimado
de 60.000 idosos morrem anualmente4.
No Brasil, as pneumonias foram causa
básica de 17.220 mortes na faixa etária de 65
anos ou mais, durante o ano de 19963. A análise de dados do Sistema de Informações Hospitalares tem mostrado a crescente importância das internações e óbitos por doenças
respiratórias entre os idosos, mesmo considerando-se o envelhecimento da população5.
A vacinação contra o pneumococo e o
vírus influenza são as principais estratégias
de prevenção de pneumonia em idosos4. A
vacinação contra influenza vem sendo administrada aos idosos, em âmbito nacional,
desde 19996. A vacina confere proteção para
a maioria dos vacinados por aproximadamente 1 ano7, por isso as campanhas vacinais são
anuais. Nem todos os que forem vacinados
estarão protegidos de contrair gripe, porém é
sabido que estarão protegidos das complicações resultantes dessa enfermidade, como a
mais grave delas, a pneumonia8.
Quando a composição dessa vacina é
coincidente com as cepas de vírus circulante,
315
sua eficácia em adultos saudáveis atinge 70 a
90%, enquanto cai para 30 a 40% em maiores
de 60 anos9. Nichol e Goodman10 (1999) relatam redução nas hospitalizações por pneumonia e influenza nos idosos entre 65 e 74
anos, principalmente entre os indivíduos com
alguma co-morbidade prévia.
Devido à gravidade da pneumonia em
pacientes com idade superior a 60 anos e ao
aumento taxa de mortalidade nessa faixa etária, a prevenção da pneumonia do idoso é de
extrema importância em saúde pública.
Nesse trabalho será avaliada a relação
existente entre a vacinação anti-influenza e
as taxas de morbimortalidade por pneumonia em indivíduos com 60 anos ou mais, em
Aracaju (SE), no período de 1998 a 2010. Foi
verificado o comportamento desses coeficientes durante o período mencionado, para
avaliar se de fato a vacina contra a gripe exerce impacto positivo sobre a saúde da população idosa da cidade de Aracaju (SE).
MÉTODOS
Trata-se de um estudo ecológico descritivo. Os dados populacionais foram obtidos
a partir do DATASUS, os de morbimortalidade do Sistema de Informações Hospitalares
do Sistema Único de Saúde - SIH-SUS11 e os
de imunização do Sistema de Avaliação do
Programa de Imunizações – API11. Foram coletados dados referentes aos anos de 1998 a
2010, que diziam respeito a imunizações e internações (com o respectivo desfecho: óbito
ou não óbito) no município de Aracaju (SE).
Todas as informações são referentes a pessoas com idade acima de 60 anos, de ambos os
sexos. As estimativas da população idosa residente no município de Aracaju foram obtidas
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no site do Ministério da Saúde11.
Os idosos foram classificados segundo sexo e
316
Geriatria & Gerontologia
em três grupos etários; 60 a 69 anos, 70 a 79
anos e 80 e mais anos.
Esses dados foram a base para o cálculo de
taxa de internação hospitalar por pneumonia
por 10 mil habitantes e taxa de mortalidade
por pneumonia por 10 mil habitantes. A avaliação da doença respiratória (pneumonia) foi
realizada por ser essa a principal complicação
da influenza em maiores de 65 anos4.
Finalmente, cabe ressaltar que o presente
estudo é um sub-projeto da pesquisa intitulada “A cobertura assistencial das equipes de
saúde da família e as internações por condições sensíveis à atenção ambulatorial, em Aracaju”, que foi submetida ao comitê de ética da
UFS, com parecer favorável em 09/12/2008
(CAAE 0124.0.107.000-08)
RESULTADOS
Em Aracaju, entre a população de 60 anos
e mais de idade, foram notificadas ao SIH/SUS,
entre 1998 e 2010, um total de 2229 hospita-
lizações por pneumonia. O número de mortes
por pneumonia no mesmo período e segmento
populacional foi de 575. A média do coeficiente de mortalidade pela causa estudada, nesse
mesmo período foi de 10,37 (por 10 mil habitantes) entre a população idosa. Esse indicador
apresentou comportamento flutuante durante
a série de estudo (Gráfico 1), porém se manteve durante a maior parte do tempo decrescente (1998 a 2002, 2005 a 2007 e 2009 a 2010).
Do primeiro ao último ano da série houve um
aumento de 11,48% no coeficiente de mortalidade. A faixa etária que mais contribuiu para
esse valor foi o grupo com mais de 80 anos
de idade (Gráfico 2). Vale ressaltar que a população idosa cresceu num ritmo bem maior
(87,8%) que o da população total (29,8%), no
período observado (Tabela 1).
Em oposição à curva do coeficiente de
mortalidade, a curva do coeficiente de internação pela mesma causa, durante o período citado, comportou-se nitidamente de
forma decrescente com o passar dos anos
Gráfico 1. Coeficiente de mortalidade por pneumonia (por10 mil habitantes de 60 anos e mais). Aracaju (SE), de 1998 a 2010.
317
Vacina anti-influenza pneumonia em idosos
Gráfico 2. Coeficiente de mortalidade por pneumonia (por10 mil habitantes na idade) segundo faixa etária. Aracaju (SE),de 1998 a 2010.
Tabela 1. Estimativa da população maior de 60 anos segundo o ano e faixa etária. Aracaju (SE).
Ano
Idade
60 |- 70
Sub total
70 |-80 80 e +
%
crescimento
Total
%
crescimento
60 e +
1998
15323
8529
3780
27632
1
440074
1
1999
15514
8634
3827
27975
1,2
445555
1,2
2000
17563
10092
4708
32363
17,1
461534
4,9
2001
17820
10240
4777
32837
18,8
468296
6,4
2002
18037
10364
4835
33236
20,3
473990
7,7
2003
18257
10491
4894
33642
21,8
479767
9,0
2004
18476
10617
4953
34046
23,2
485531
10,3
2005
18974
10903
5086
34963
26,5
498618
13,3
2006
19228
11049
5154
35431
28,2
505287
14,8
2007
23670
11921
5930
41521
50,3
511891
16,3
2008
25777
12761
6363
44901
62,5
536785
22,0
2009
27139
13252
6589
46980
70,0
544039
23,6
2010
29571
14585
7731
51887
87,8
571149
29,8
Fonte: Datasus, 2012.
318
Geriatria & Gerontologia
(Gráfico 3), mesmo com o aumento da população idosa. Observou-se um decréscimo
de 47% nas taxas de hospitalização durante
período observado. A média do coeficiente
de internação foi de 43,92 (por 10 mill habitantes). Da mesma forma, a faixa etária de
80 anos e mais foi a principal contribuinte
para esse valor (Gráfico 4).
Gráfico 3. Coeficiente de internação hospitalar por pneumonia (por 10 mil hab de 60 anos e mais).. Aracaju (SE),de 1998 a 2010.
Vacina anti-influenza pneumonia em idosos
Quando se analisa a distribuição das internações por pneumonia segundo o sexo, e
o respectivo desfecho, observa-se que ela é
mais frequente entre as mulheres, grupo no
qual ocorreram um maior número de óbitos
hospitalares.
A vacina anti-influenza foi instituída no
Brasil, destinada à população idosa, no ano
de 1999. Percebe-se que as taxas de internação por pneumonia se reduzem significativamente a partir desse ano. Durante toda a série estudada, a cobertura vacinal na cidade de
Aracaju com anti-influenza manteve-se acima
dos 75%, o que é considerado um valor satisfatório. Chegou-se a atingir valores superiores a 95% em 4 anos do período estudado.
Discussão
Gráfico 4. Coeficiente de Internação por pneumonia (por10 mil habitantes na idade) segundo faixa etária. Aracaju (SE), de 1998 a 2010.
Esse estudo apontou que dados contidos
no DATASUS e SIH – SUS podem ser agrupados para fornecer uma oportuna avaliação
acerca do impacto da vacinação contra a gripe na mortalidade e hospitalização por pneumonia em idosos. Os resultados do presente
estudo demonstram que a pneumonia ainda
configura-se uma importante causa de internação e mortalidade hospitalar entre a população idosa em Sergipe.
Segundo Fein12 (1994), a incidência da
pneumonia aumenta com a idade, de 1/1000
para 12/1000 em pessoas com idade superior a 75 anos. Simetricamente, no presente
estudo, observou-se que houve um aumento
da incidência de pneumonia com o aumento
da idade. Isso pode ser explicado pela fragilidade orgânica que é própria dos indivíduos
mais velhos. Tornam-se, então, mais suscetíveis a infecções instaladas por patógenos,
o que explica o fato de ser este o grupo alvo
da campanha nacional de vacinação contra a
gripe. A pneumonia, principal complicação da
gripe, é fator preocupante. Ela representa a
319
maior causa de morte por doenças infecciosas no mundo, apesar de todo o avanço na
área médica e social no decorrer do século e
a disponibilidade de novos antibióticos. Ela é
a sexta causa de morte nos EUA e a quinta no
Brasil, na população idosa13.
Com a incorporação da vacina antiifluenza em 1999, os indicadores de morbimortalidade hospitalar em idosos têm, desde então,
se alterado. Através da prevenção de eventos
de gripe em idosos espera-se diminuição dos
números de internações e mortalidade por
pneumonia no grupo.
O presente estudo aponta para um discreto aumento no final do período para a mortalidade hospitalar por pneumonia em idosos.
Esse fato pode ser consequência da melhoria na notificação, da elevação do número de
idosos em Sergipe, bem como do aumento
da expectativa de vida desse grupo, já que a
faixa etária de 80 anos e mais foi a que mais
contribuiu para o aumento do coeficiente de
mortalidade por pneumonia. Porém, durante
a maior parte do período observado, o coeficiente de mortalidade encontra-se em queda,
o que pode ser resultado da melhoria da cobertura vacinal nesses intervalos. É importante lembrar que os indivíduos com condição clínica prejudicada ficam mais sujeitos ao
óbito por influenza antes do desenvolvimento
da pneumonia, ou mesmo a pneumonia não
de diagnosticada em tempo oportuno, já que
os sintomas em idosos são mais brandos que
o comum. Dados do ministério da saúde mostram que o coeficiente de mortalidade entre
idosos por causas relacionadas a influenza no
Brasil foi de 30,3/10.000 idosos no período
entre 1992 e 200614.
Também de acordo com o Ministério da
Saúde15, a vacina contra influenza reduz mais
de 50% das doenças relacionadas à gripe nos
idosos vacinados e, no mínimo, 32% das hos-
320
Geriatria & Gerontologia
pitalizações por pneumonias. Quanto aos óbitos entre idosos, por diversas causas, o percentual de queda varia entre 27% e 30%.
A vacina antiifluenza exerceu impacto positivo no que diz respeito a internações por
pneumonia no estado de Sergipe. O coeficiente de internação hospitalar por pneumonia
diminuiu dos anos de 1998 a 2010, embora
se tenha observado o aumento do número
de idosos na mesma época. Quando as taxas
de internação analisadas por faixa etária verificou-se que as internações por pneumonia
cresceram com o aumento da faixa etária, o
que nos leva a supor que a eficácia da vacina
antiinfluenza pode diminuir sua eficácia com
o aumento da idade.
As taxas internação por doenças respiratórias, em São Paulo, demonstraram tendência à
queda como mostrou o trabalho de Francisco
et al16 (2004). Vários autores têm concordado
que analisar a frequência de hospitalizações é
uma maneira mais eficaz de se estimar a morbidade causada pela influenza, superando até
a análise das medidas de mortalidade16.
Desde que foi iniciada a campanha, vários
estudos já observaram redução nas internações por complicações da gripe. Prass et al17
(2010) acompanharam grupos de idosos,
vacinados e não vacinados, durante 6 meses
e observaram que efeito protetor da vacina
contra gripe em 80% e 90% contra hospitalização quando comparados com os idosos não
vacinados. Kau et al18 (2011) demonstraram
que a vacina contra influenza reduziu significamente as hospitalizações por doenças respiratórias em 17 – 39%. No entanto, alguns
autores ainda consideram questionável a eficácia da vacina na prevenção de episódios de
pneumonia bem como a diminuição da sua
gravidade. Hottes et al19 (2011) afirma que as
estimativas sobre a proteção da vacina contra
influenza sofrem diversos vieses que tendem
a superestimar sua proteção. Já Jackson et
al20 (2008) afirmaram que a vacinação de influenza não se associou a um risco reduzido
de pneumonia adquirida na comunidade.
Remarque21 (1999) mostrou que a indução de anticorpos pela vacina antiinfluenza
não é sempre ótima nos idosos, podendo esta
menor eficácia ser devida a fatores múltiplos,
que incluem estado de saúde e exposição prévia ao vírus da influenza.
Em concordância com outros estudos, as internações por pneumonia foram mais freqüentes em mulheres, grupo no qual também ocorre
o maior número de óbitos pela mesma causa.
O estudo apresenta algumas limitações.
A ausência da descriminação de quem são os
sujeitos vacinados e os não vacinados, fato
que possibilitaria melhor análise do efeito da
vacina ant-iinfluenza. A análise da pneumonia
unicamente pode não retratar com fidelidade
o real impacto da influenza na comunidade.
Salvo tais considerações, o presente estudo reafirma a importância da vacinação anti
influenza nas pessoas acima de 60 anos, como
medida eficaz de melhoria da qualidade de
vida. Buscou-se uma visão geral do comportamento dos índices de mortalidade e internações por pneumonia no período pós-vacina.
Uma análise comparativa com anos anteriores à sua introdução pode revelar com maior
nitidez o positivo impacto dessa medida na
saúde desse segmento populacional.
Ficou claro que as taxas de internação por
pneumonia em idosos reduziram consideravelmente durante os anos seguintes à implantação da vacina antiinfluenza. O discreto aumento no final do período do coeficiente de
mortalidade encontrado neste estudo pode
ser reflexo do aumento da população idosa,
do aumento da expectativa de vida desse segmento populacional ou ainda da melhoria no
processo de notificação.
Vacina anti-influenza pneumonia em idosos
Embora a pneumonia seja ainda importante causa de morbimortalidade entre paciente as maiores de 60 anos, em todo o mundo, a prevenção de episódios de gripe resulta
em melhoria da saúde do idoso.
Reafirma-se a importância de crescentes investimentos de saúde no intuito de
otimizar a cobertura vacinal, alcançando
maior cobertura vacinal dos idosos de Aracaju - SE, haja vista seu positivo impacto sobre a saúde dos mesmos.
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Artigo Original
Perfil do idoso assistido pela Estratégia de
Saúde da Família no Município de Botucatu-SP
The profile of the elderly assisted by the Family Health Strategy in Botucatu-SP
Caio Cavassan de Camargo1, Aryana Baptista Pintscher2, Selma Horie Arakaki3 e Wilza Carla
Spiri4
RESUMO
Departamento de Enfermagem,
Faculdade de Medicina de
Botucatu,UNESP - Botucatu São
Paulo, Brasil.
1-4
Considerando os aspectos do envelhecimento: alterações fisiológicas, cronológicas, de comportamento social e
sustentabilidade saudável, além da “Política de Saúde do Idoso”, objetivamos relatar experiências nas Unidades
de Saúde da Família do município de Botucatu, e analisar aspectos do cuidado ao idoso. Foram realizadas
investigação e a descrição dos dados quantitativos. Observou-se número significativo de idosos nas unidades, em
proporções similares de homens e mulheres. O total de idosos, em relação à área atendida, é maior no bairro Jardim
Iolanda. Os dados demonstraram que, apesar dos idosos formarem parte significativa dos atendimentos, não há
a disponibilidade de formulários específicos. Concluiu-se, então, ser necessário treinamento dos profissionais e
promotores da saúde para oferecer melhores opções para o cuidado ao idoso.
Descritores: saúde da família, políticas de saúde, idoso.
ABSTRACT
Considering the aging aspects: physiological changes, chronological, social behavior, healthy support, beyond of
“Heath Eldery Policies”, to give prominence to “Heath Family Strategy” created in 1994, we aimed to describe the
experiences in the Health Family Units of Rubião Jr’s district and Jd. Iolanda’s neighborhood, Botucatu city, and
analyze datas which express aspects of taking care of the elderly assisted. For this, it was done an investigation
and protocol analyzes of described and amounted statistics data coming from them we create some graphics of
elderly who lives at the studied catchment areas. There was a significant number of elderly in unities who showed
similar proportion of man and woman and the total number of elderly, involved the attended area is bigger at
Jd. Iolanda’s neighborhood. The data shows that despite elderly take significant part of treatments, there isn’t
available form specific. To conclude, it is necessary a revaluation of values of health professionals and promoters
to count on with better options to elderly take care.
Keywords: Family Health, Health Policy, Aged.
Endereço para correspondência: 1Rua Lourenço Carmello, 955. Jardim Paraíso. Botucatu/SP CEP: 18610-265. Tel. (14) 3354-8174. 2-4End.: Departamento de Enfermagem.Distrito de Rubião Junior s/n Botucatu/SP
Perfil do idoso assistido pela Estratégia de Saúde da Família no Município de Botucatu-SP
INTRODUÇÃO
A Organização das Nações Unidas
(ONU) considera idoso em países desenvolvidos a idade de 65 anos ou mais e, em
países em desenvolvimento, como o Brasil,
a idade considerada é de 60 anos ou mais,
definidas assim em 1982, por meio da Resolução 39/125, durante a Primeira Assembléia Mundial da ONU sobre o Envelhecimento da População.(1,2)
O envelhecimento da população brasileira é uma realidade que se apresenta de
forma crescente. De 1999 a 2009 houve
um incremento de 3,1 anos, elevando para
73,1 anos a expectativa de vida ao nascer,
fazendo com que seja fundamental a adoção de políticas e medidas específicas de
assistência social e de seguridade da saúde para faixa etária acima dos 60 anos, que
proporcione principalmente a prevenção
de doenças crônico-degenerativas, visando
à autonomia dessa população. (3,4)
Em 2009, havia no Brasil cerca de 21
milhões de idosos, sendo que entre 1999
e 2009, o percentual da população com 60
anos ou mais passou de 9,1% para 11,3%.
Estima-se ainda que até 2025 haverá 34 milhões de idoso no país que passará a ocupar
o 6º lugar no ranking de países com maior
número de idosos no mundo.(4-6)
Nas últimas décadas, o aumento da população idosa deixou de ser um traço exclusivo
de países desenvolvidos, visto que mais da
metade destes está em países em desenvolvimento, isso se deve principalmente aos avanços científicos e tecnológicos, das melhores
condições de higiene e saneamento básico,
que reduziram, por exemplo, as mortes por
doenças infectocontagiosas.(1)
No Brasil, em janeiro de 1994, pela lei
federal nº 8.842, foi implantada a Política Nacional de Saúde do Idoso, criando o
323
Conselho Nacional do Idoso e outras providências como normas para os direitos
sociais dos idosos, garantindo autonomia,
integração e participação efetiva destes na
comunidade. Assim, órgãos e entidades do
Ministério da Saúde (MS) têm o compromisso de elaborar, programas e atividades
a fim de que suas ações satisfaçam às diretrizes e responsabilidades estabelecidas,
como, promover o envelhecimento saudável, apoiar o desenvolvimento de estudos e
pesquisas direcionados a este grupo populacional, entre outras.(7-10)
O Estado tem papel de responsabilidade na promoção, proteção e recuperação da
saúde do idoso nos três níveis de gestão do
Sistema Único de Saúde (SUS), por ações,
como, otimização do suporte familiar que
se baseia principalmente na atenção à família e no acesso à saúde básica, em especial dos que se encontram em áreas de
estratégia de saúde da família (ESF), que
devem estabelecer o vínculo do sistema de
saúde com áreas de maior carência.(7-10)
Em 1994, foi criada a ESF pelo MS, baseada nos princípios da universalização do
acesso, integralidade e descentralização do
cuidado e da participação popular do SUS,
a fim de reorganizar o modelo tradicional
de saúde a partir da atenção primária.(8)
No que tange à população idosa, a proximidade e o vínculo com a unidade de saúde facilitam o cuidado do profissional, que
conhece a realidade, o contexto ambiental
e identifica fatores que possam interferir
na saúde desses indivíduos. Desse modo,
possibilita o planejamento conjunto para
desenvolver ações de promoção, proteção
e recuperação da saúde, além de sua participação ativa e construtiva na comunidade,
garantindo qualidade de vida e bem-estar,
não apenas o aumento da longevidade.(8)
324
Geriatria & Gerontologia
Atualmente, um dos fatores mais debilitantes entre os idosos são as doenças
crônico-degenerativas, o que os classificam
como grandes consumidores de serviços de
saúde e de medicamentos.(7,8,11)
Estudos populacionais demonstram que
mais de 8,1% dos idosos apresentam pelo
menos uma doença crônica, sendo a hipertensão arterial referida por 61,0% destes, e
não possuir doença por apenas 5,5%. (7,8,11)
O aumento do consumo de medicamentos
tem mostrado íntima relação entre sexo feminino e a maior idade. Feliciano et al.(7) mostraram que o uso regular de medicamentos foi de
67,0% entre idosos, com maior taxa entre o
público feminino, 74,0%, quando comparado
ao masculino que foi de 60,0%, o que poderia
ser explicado pela maior busca dos serviços
de saúde pelas mulheres.(1,11)
Lessa(12), demonstrou rápido crescimento da mortalidade por doenças cérebro-vasculares nos idosos, principalmente
nas regiões mais pobres do Norte e Nordeste do Brasil, pois as pessoas com pior situação econômica estão mais desprotegidas e
expostas ao risco de adoecer.
As doenças crônicas são um fator agravante de incapacidade funcional, que tem
como aspectos preventivos atividade física,
uso correto de medicamentos e vigilância
dos próprios problemas de saúde, e a falta
de autonomia e analfabetismo, aumentam
a dificuldade de acesso e adesão às propostas dos serviços de saúde.(7)
Segundo Silvestre et al.(8), 40% dos idosos necessita de ajuda para realizar pelo
menos uma atividade instrumental diária,
e 10%, para realizar tarefas básicas, como
ir ao banheiro ou se alimentar.
Feliciano et al. (7) mostraram taxas de
23,6% para completa independência e de
13,7% para dependência parcial ou to-
tal para mais de sete atividades da vida
diária, sendo mais comum em mulheres,
com 16,0%.
Parahyba et al.(2), compreendendo a incapacidade funcional como processo progressivo, adotaram escala composta por
três parâmetros: a) grave: dificuldade para
alimentar-se, tomar banho e ir ao banheiro,
ou seja, atividades de vida diária básica b)
moderada: dificuldade para caminhar mais
de 100 metros c) leve: dificuldade para caminhar mais de um quilômetro.
O sedentarismo pode estar intimamente relacionado à maior dependência na realização das atividades de vida diária, sendo
importante o destaque do incentivo e práticas de recreação e lazer a fim de diminuir o
isolamento social, promover o desenvolvimento de habilidades e, conseqüentemente, melhorar a auto-estima, condição e qualidade de vida dos idosos.(7)
No município de Botucatu, no ano de
2003, as Unidades Básicas de Saúde (UBS),
localizadas nos bairros Jardim Iolanda,
Rubião Junior, Jardim Aeroporto, Jardim
Santa Eliza, Vitoriana, César Neto e Parque
Marajoara foram transformadas em ESFs.
Botucatu apresentava, em 2008, população
de 128.397 habitantes, com taxa de crescimento absoluto de 16,1% desde 1991, embora apresentasse taxa de crescimento geométrico decrescente nos últimos 20 anos
(mediana de 2,3%).(13-15)
Portanto este estudo tem por objetivo
comparar as experiências do cuidado ao
idoso nas Unidades de Saúde da Família
de Rubião Júnior e do Jardim Iolanda, no
município de Botucatu e ainda determinar
o número de idosos residentes por microárea de abrangência das unidades, além
de caracterizá-los quanto as faixas etárias
mais prevalentes.
Perfil do idoso assistido pela Estratégia de Saúde da Família no Município de Botucatu-SP
MÉTODOS
Tipo de pesquisa
Trata-se de relato de experiência por
meio da apresentação de dados quantitativos
disponibilizados nas Unidades de Saúde da
Família.
Cenário da pesquisa
O trabalho foi desenvolvido em Botucatu,
município localizado na região Centro – Oeste
do Estado de São Paulo, através de um estudo
de prevalência e caracterização populacional de
indivíduos pertencentes à faixa etária sessenta
anos ou mais, residentes neste, no ano de 2008.
A partir do final do ano de 2003, no município de Botucatu, Unidades de Saúde da
Família (USF) foram criadas e Unidades Básicas de Saúde (UBS), transformadas em tal,
resultando em USFs localizadas nos bairros
Jardim Iolanda, Rubião Junior, Jardim Aeroporto, Jardim Santa Eliza, Vitoriana, César
Neto e Parque Marajoara.(13)
O município de Botucatu apresentou,
em 2000 uma população de 108.118 habitantes, com taxa de crescimento absoluto
de 16,05% desde 1991, com 90.761 habitantes, embora apresentando taxa de crescimento geométrico decrescente nos últimos 20 anos, mediana em 2,34%.(13)
A distribuição por grupos de idade de
1980 a 2000 indica que proporcionalmente
há um decréscimo na faixa etária de 0 a 14
anos e um crescimento, principalmente acima dos 60 anos, resultando em um estreitamento na base e alargamento no ápice da
pirâmide populacional.(13)
No que se refere à proporção de óbitos de
50 anos e mais, a média municipal encontra-se acima de 75%, o que indica boas condições
de saúde, porém, quando subdividida em suas
diferentes regiões, as que abrangem o Jardim
Santa Eliza (37,5%), Jardim Iolanda (57,1%),
325
Jardim Aeroporto (68,8%) são as representantes dos piores valores, visto que seus dados se remetem apenas aos últimos 4 anos. Já, no que se
refere ao motivo de óbito, segundo classificação
do DSM, às correspondentes de doenças do Aparelho Circulatório, esta com taxas de 82,4% na
população com 60 anos ou mais e de 42,3% no
sexo feminino, neoplasias e causas externas
são as de maior incidência populacional .(13)
Jóia et al.; em estudo realizado em Botucatu, perceberam que dos entrevistados, 59,7%
dos idosos eram do sexo feminino. A maioria
dos idosos de sexo masculino estava casada
(76,9%), enquanto que no sexo feminino essa
proporção foi de 43,6%. Houve predominância de idosos aposentados (61,9%), e destes,
18,4% ainda permaneciam no mercado de
trabalho. Apenas 26,8% possuíam escolaridade acima de quatro anos e somente 9,3%
deles completaram o curso superior. Apesar
disso, 43,6% desses idosos se disseram satisfeitos com sua escolaridade.(16)
O trabalho foi desenvolvido, no ano de
2008, em Botucatu, município localizado na
região Centro – Oeste do Estado de São Paulo, pelo estudo de prevalência e caracterização populacional de indivíduos pertencentes
à faixa etária de 60 anos ou mais, residentes
nas áreas de abrangência das ESFs localizadas
nos bairros Jardim Iolanda e Rubião Junior.
Quanto à observação sistemática dos serviços, podemos descrever as unidades de Rubião Junior e Jardim Iolanda, respectivamente:
A ESF de Rubião Junior é formada por
duas equipes, uma rural e outra urbana, composta por:
•Área rural: 1 enfermeira, 1 médica, 2
auxiliares de enfermagem, 6 Agentes
comunitários de Saúde (ACS);
•Área urbana: 1enfermeira, 1 médica, 6
auxiliares de enfermagem, 8 ACS; e
326
Geriatria & Gerontologia
•Em conjunto: 2 auxiliares administrativos, 2 dentistas, 2 auxiliares de dentista, 2 auxiliares da limpeza, grupo e
consulta de saúde mental nas manhãs
de terça-feira, alunos do IUSC, internos, residentes (enfermeira e psicólogo) e estagiários.
Quanto às rotinas da Unidade, segue-se:
a recepção onde seu prontuário é separado
e destinado aos profissionais; pré- consulta,
em caso de consulta agendada, para adulto, é
aferido peso, altura, pressão arterial, circunferência de abdômen e quadril e temperatura
se necessário do paciente; para criança, é-lhe
aferido peso, comprimento, perímetro cefálico e temperatura se necessário; então o paciente aguarda até ser atendido pelo profissional destinado.
Em casos de pacientes não agendados
que procuram a unidade após as 8 horas, a
rotina é a mesma para pacientes eventuais,
sendo importante salientar que, positivamente, todos os pacientes “não-agendados” são
atendidos no dia.
Após o atendimento ou procedimento (medicação, inalação, vacinação, coleta,
etc) o paciente é encaminhado à farmácia
e a pós-consulta para a retirada de medicamentos prescritos, marcação de exames e
retornos agendados.
Vê-se que idosos são acompanhados de forma similar aos adultos, englobando-os em um
mesmo grupo em todas as rotinas da unidade.
No que se refere às visitas domiciliares,
embora com a participação de toda a equipe, percebe-se que há impressos específicos somente para crianças de até 2 anos,
gestantes, hansênicos e tuberculosos, inexistindo um tanto para a saúde do adulto
quanto para a do idoso.
O diferencial existente na Unidade
se refere à existência do projeto “posto-
-volante” para a equipe rural, realizado às
quartas-feiras, em que médico, enfermeiro,
auxiliar de enfermagem e ACS deslocam-se para sítios de regiões distantes a fim de
atender a população local que tem dificuldade de deslocamento para a Unidade. As
casas, emprestadas por seus proprietários,
transformam-se em uma unidade de saúde
adaptada, envolvendo suas rotinas desde a
pré-consulta até pós-consulta e farmácia.
A ESF Jardim Iolanda é composta por uma
equipe de saúde composta por:
•1 enfermeiro; 1 médico; 4 auxiliares
de enfermagem; 1 auxiliar de serviços gerais; 1 auxiliar administrativo;
7 agentes comunitários; 1 dentista; 1
auxiliar de dentista; eventualmente,
grupos de internos de medicina e estagiários de enfermagem; 1 grupo de
saúde mental; alunos do IUSC; e residentes multiprofissionais.
Quanto a forma de acolhimento, esta
acontece de modo bem semelhante a USF de
Rubião Junior, sendo que as diferenças se fazem nas visitas domiciliares em que há um
roteiro de avaliação de idosos, mas que, devido a sua extensão e pela falta de recursos humanos disponíveis para sua aplicação a todos
os idosos, ainda não foi implementado.
Em formas de grupo, a ESF realiza o Grupo HIPERDIA para avaliação de Hipertensos
e Diabéticos, além de fornecer informações
sobre diferentes temas que podem ser sugeridos pelos próprios pacientes. Há também,
Oficina de Flores para pacientes psiquiátricos terem oportunidade para falar sobre si e
como se sente com relação aos outros, Grupo
de Resultados de Exames e um Grupo de cuidado da Horta Medicinal.
De um modo similar aos demais adultos,
os idosos são atendidos de forma rotineira,
sem outros impressos específicos
Perfil do idoso assistido pela Estratégia de Saúde da Família no Município de Botucatu-SP
327
Procedimento de coleta de dados
RESULTADOS
A coleta de dados foi realizada, pelo autor principal, nas ESFs, de Rubião Júnior e do
Jardim Iolanda, em que foram investigados os
protocolos existentes para quantificar e caracterizar o perfil dos idosos, além da consulta aos prontuários médicos e pelo sistema de
informações do município de Botucatu.
Eram atendidos em 2008, 741 pacientes
acima de 60 anos nas duas ESFs, cujas divisões por microáreas e por faixas etárias foram demonstradas nos gráficos de 1 a 4. Na
ESF de Rubião Júnior existem 14 microáreas
sendo 8 urbanas e 6 rurais, já na ESF do Jardim Iolanda existem apenas as 7 urbanas.
Gráfico 1. Indivíduos com 60 anos ou mais atendidos em Rubião Júnior, segundo microáreas (M) urbanas e rurais, 2008.
Gráfico 2. Indivíduos com 60 anos ou mais atendidos no Jardim Iolanda, segundo microáreas urbanas, 2008.
Gráfico 3. Distribuição dos 446 idosos atendidos em Rubião Júnior e no Jardim Iolanda, segundo faixa etária e sexo, 2008.
328
Geriatria & Gerontologia
Gráfico 4. Distribuição dos 295 idosos atendidos em Rubião Júnior e no Jardim Iolanda, segundo faixa etária e sexo, 2008.
Discussão
Após a observação dos gráficos, vemos que o
número de idosos em cada unidade é significativo, sendo que a ESF Iolanda segue os referenciais
no que diz respeito à prevalência do sexo feminino o que não acontece com a ESF Rubião Jr.
Em relação ao total de idosos cadastrados em cada ESF, observamos que em
Rubião Jr. o número é maior, porém esse
número quando dividido entre as duas
equipes existentes nesta unidade, rural e
urbana, nota-se que Jd. Iolanda apresenta-se mais abundante.
Ao analisar os grupos em cada faixa etária vamos de encontro ao referencial, quando
este cita que as doenças crônico-degenerativas e conseqüente mortalidade tendem a aumentar com o avançar da idade. Apesar disso,
quando comparadas, há uma maior longevidade em Rubião Jr.
O envelhecimento populacional é, em
geral, o resultado da mudança na queda da
fecundidade e da mortalidade somado ao
aumento da esperança de vida. Porém, mudanças heterogêneas influenciadas pela discriminação e exclusão associadas ao gênero,
à etnia, ao racismo, às condições sociais e
econômicas, à região geográfica de origem e
à localização de moradia.(17)
É imperativo que dois extremos sobre
o envelhecimento sejam combatidos para
o alcance da qualidade de atenção ao idoso pelos serviços de saúde: a idéia de que
todas as alterações que ocorrem com a pessoa idosa sejam naturais e, no outro extremo, de que o envelhecimento seja tratado
em totalidade como doença. Enfim, é imperativa a tomada de consciência de que é
possível (re) descobrir formas de viver com
qualidade junto a limitações.(17)
Mesmo sendo baseada na interdisciplinaridade, vêem-se atividades ainda centradas
no modelo biomédico. Além disso, o cuidado
baseado na medicalização e na verticalização
da assistência, como se somente os profissionais soubessem exatamente o que é melhor
para o paciente, esquece-se dos contextos de
vida e subjetividade deste.(9,17)
Dentre os dispositivos da Política Nacional de Humanização, destaca-se o “Acolhimento”, definido como a disposição de atenção a todos os que procuram o serviço de saúde em todos os momentos, não só um espaço
Perfil do idoso assistido pela Estratégia de Saúde da Família no Município de Botucatu-SP
de ouvidoria de queixas com horário restrito
e de condutas tomadas por profissionais de
saúde, muitas vezes sem qualquer comunicação direta com o sujeito.(9,17)
Destacamos com isso, entre diversas
conseqüências mais, a titulação de objeto de
trabalho para com esse sujeito, o desconhecimento das diretrizes da Estratégia de Saúde da Família, a ineficiência de uma gestão
assistencial e a continuidade do ciclo “queixa
– conduta de curto prazo – queixa”. Essas conseqüências são intensificadas com a população idosa, devido à própria cultura e conceito
social do termo “envelhecimento”.
Ainda observa-se um leque de justificativas para a não disposição de impressos específicos ou, quando existentes, impraticáveis.
Embora instrumentos rápidos de avaliação da
saúde do idoso, baseados nas especificidades
da Estratégia de Saúde da Família, estejam
dispostos facilmente a gestores e profissionais da saúde, como exemplo a Caderneta de
Saúde da Pessoa Idosa, que também serve de
aparelho de cidadania e autoconhecimento
para os usuários.(17)
A falta de tempo ou de recursos humanos,
como citadas acima, chega a ser discutível
frente a outros vários impressos destinados a
outros grupos populacionais. Talvez, o principal problema da falta de prática seria a não
garantia de educação permanente ou a reprodução desses instrumentos.
Importante destacar que um dos princípios gerais da Estratégia Saúde da Família, a
qual, através do cadastramento familiar e dos
diagnósticos situacionais de seu território,
deve atuar para e com o indivíduo, família e
comunidade em ações de todos os âmbitos de
saúde. Ações que criem ambientes de apoio e
promovam opções saudáveis são importantes
em todos os estágios da vida e influenciarão o
envelhecimento ativo.(17)
329
Talvez, o início da valorização da saúde do
idoso esteja na quebra de tabus que tomem o
envelhecimento como sinônimo de perdas, frustrações, dependências e proximidade à morte.
Isso deve partir dos profissionais de saúde, que
como educadores da sociedade, necessitam reavaliar seus valores para inseri-los nesta.
A longevidade está relacionada à melhoria nas condições de atenção à saúde e de vida
em países desenvolvidos. Porém, observa-se que em países em desenvolvimento, vem
ocorrendo de forma rápida, sem uma adequada reorganização social e da área de saúde
para atender às novas demandas.
Ao avaliar as USFs, observamos um grande número de idosos e este tende a aumentar proporcionalmente a qualidade de vida
e atenção que receberem. Na atual situação,
ambas as unidades não têm um protocolo específico, nem um atendimento diferenciado
para com estes em relação aos adultos, sendo
que os mesmos apresentam demandas particulares como visto ao longo do estudo.
De um modo geral os serviços de atenção não
estão adaptados para uma atenção que veja o idoso como um todo. Tanto em relação aos recursos
humanos quanto financeiros, havendo uma necessidade de capacitação dos profissionais para
avaliação e cuidado específicos desta faixa etária.
O acolhimento deve, portanto, implicar na
relação “sujeito-sujeito”, com o “compartilhamento de saberes, necessidades, possibilidades e angústias constantemente renovados”.
Isso envolve que as pessoas deixem de ser passivas e assim ocorra uma relação horizontal.
No trabalho das equipes da Atenção Básica/Saúde da Família, as ações envolvendo
os profissionais de saúde, a comunidade, as
atividades de grupo, a participação das redes
sociais dos usuários são recursos indispensáveis para atuação nas dimensões cultural e
social dos idosos e seus contextos.
330
Geriatria & Gerontologia
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Obesidade central e doenças em idosos
Artigo Original
Obesidade central e doenças não transmissíveis
em servidores idosos de uma universidade
federal
Central obesity and non transmitted diseases in elderly servers from a university
Poliana Cristina de Almeida Fonsêca1, Carolina Abreu de Carvalho1, Soraia Pinheiro Machado1,
Alessandra Gaspar Sousa2
RESUMO
Universidade Federal do
Maranhão – São Luis, MA, Brasil.
2
Mestranda pelo Programa de
Pós-Graduação em Nutrição
Humana da Universidade de
Brasília – Brasília, DF, Brasil.
1
Objetivos: Avaliar a associação entre indicadores antropométricos de obesidade, generalizada e abdominal, e
doenças não transmissíveis (DNT) em um grupo de idosos da Universidade Federal do Maranhão; investigar se há
correlação entre esses indicadores. Métodos: Realizou-se estudo transversal com cinquenta servidores idosos de
uma universidade federal. Os participantes responderam a um questionário contendo dados sociodemográficos
e relativos à história de doenças não transmissíveis (DNT). A obesidade generalizada foi identificada com base no
índice de massa corporal (IMC) e central, pelos indicadores antropométricos circunferência da cintura (CC), relação
cintura/quadril (RCQ), relação cintura/estatura (RCEST) e índice de conicidade (IC). Para investigar associação entre
obesidade, generalizada e abdominal, e o relato de DNT, utilizou-se o teste do qui-quadrado. A correlação
entre o IMC e os indicadores de obesidade abdominal foi avaliada pelo coeficiente de correlação de Pearson
ou Spearman. Adotou-se o nível de significância de 5%. Resultados: A gordura generalizada apareceu em
56% do grupo, e a abdominal mostrou-se ainda mais prevalente, de acordo com os indicadores CC (76%), RCE
(86%) e IC (86%). A história de DNT foi relatada por 52% dos servidores, sem associação com a obesidade (p
> 0,05). Apenas os indicadores CC e RCE mostraram-se correlacionados com o IMC (p < 0,05). Conclusão: As
elevadas proporções de obesidade, especialmente aquela localizada na região abdominal, colocam o grupo em
risco para desenvolver ou agravar as DNT já existentes, devendo, portanto, ser alvo de ações de promoção de
práticas alimentares e estilo de vida saudáveis.
Palavras-chave: Idoso, obesidade abdominal, antropometria.
ABSTRACT
Objectives: Evaluating the association between anthropometric indicators of general and abdominal obesity,
and non-communicable diseases (NCDs) in an elderly group from the Federal University of Maranhão, and
investigating the correlation between these indicators. Methods: There was a cross-sectional study with 50
older servers on pre-retirement. The participants answered a questionnaire about sociodemographic data and
history of noncommunicable diseases (NCDs). The general obesity was identified based on body mass index
(BMI) and the abdominal obesity by anthropometric indicators by waist circumference (WC), waist-hip ratio
(WHR), waist-height (WHtR) and conicity index (CI).In order to investigate the association between obesity, the
generalized and abdominal , and the reporting of NCDs, the chi-square test was used. The correlation between
BMI and indicators of abdominal obesity was evaluated by Pearson’s or Spearman’s correlation coefficient or by.
Results: General fat was shown in 56% of the group, and the abdominal fat was even more prevalent, according
to the indicators: WC (76%), WHtR (86%) and CI (86%) The history of NCDs was reported by 52% of the servers,
but there was no association with obesity. Only CC and RCE indicators proved to be correlated with BMI (p> 0.05).
Conclusions: The high rates of obesity, especially the one located in the abdominal region, put the group at risk
of developing or aggravating NCDs, therefore, this should be a target to the actions of healthy eating habits and
lifestyle promotion.
Keywords: Aged, abdominal obesity, anthropometry.
Endereço para correspondência: Poliana Cristina de Almeida Fonsêca - Rua Venezuela, Quadra 68, nº11, Bairro Anjo da Guarda. São Luís, Maranhão. CEP: 65085-000
Tel: (98) 9608-9520/ (98) 3228-3617 - E-mail: [email protected]
INTRODUÇÃO
A obesidade, especialmente aquela localizada na região central ou abdominal, é considerada importante fator de risco para doenças não transmissíveis (DNT), como diabetes
mellitus (DM), hipertensão arterial sistêmica
(HAS), doenças cardiovasculares (DCV) e alguns tipos de câncer.1
Com o progressivo crescimento da população idosa, observa-se uma mudança no
perfil nutricional e epidemiológico, com aumento da prevalência das DNT e redução das
doenças transmissíveis, principalmente nessa faixa etária.2,3
O sobrepeso e a obesidade também têm
sido elevados na população idosa de diferentes países do mundo, inclusive no Brasil.
O envelhecimento proporciona uma série de
alterações, como a redistribuição e o aumento do tecido adiposo, que tende a acumular-se
mais na região abdominal. Por isso, há controvérisas quanto à escolha de parâmetros
antropométricos para a análise de obesidade
em idoso.3-5
As diferentes formas de mensuração de
adiposidade abdominal ou central têm tido
destaque na literatura científica. Apesar de
existirem técnicas mais acuradas e precisas,
como a tomografia computadorizada (TC) e
a imagem de ressonância magnética (IRM),
as medidas antropométricas merecem destaque no contexto da prática clínica e nos
estudos epidemiológicos, tendo em vista a
sua melhor aplicabilidade, disponibilidade,
inocuidade, baixo custo e alta correlação
com métodos laboratoriais de avaliação da
composição corporal.1,6
Entre os indicadores antropométricos utilizados para a avaliação da adiposidade central estão: circunferência da cintura (CC); relação cintura/quadril (RCQ); índice de conicidade (IC) e relação cintura/estatura (RCEst).
333
Embora diversos estudos tenham sido feitos
no sentido de identificar o melhor indicador
antropométrico de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas nas populações e,
especialmente entre os idosos, em que a prevalência dessas afecções é ainda maior, os resultados ainda não são conclusivos.1,6,7
Nesse contexto, o presente estudo teve
como objetivos: 1) avaliar a associação entre
indicadores antropométricos de obesidade,
generalizada e abdominal, e doenças não transmissíveis em um grupo de idosos, servidores
de uma universidade federal; e 2) investigar se
existe correlação entre esses indicadores.
MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de um estudo transversal, realizado na Universidade Federal do Maranhão
(UFMA), no município de São Luís, Maranhão.
Sua população foi constituída por servidores
da Instituição, em período de pré-aposentadoria, ou seja, aqueles que já tinham tempo
para se aposentar ou para os quais faltava
menos de dois anos para aposentadoria. Segundo dados fornecidos pela Divisão de Qualidade de Vida da UFMA, o número de funcionários pré-aposentados, em agosto de 2010,
totalizava 145 indivíduos.
A amostra foi de conveniência e compreendeu cinquenta servidores pré-aposentados da
UFMA, idosos (idade ≥ 60 anos), que frequentaram a instituição no período da coleta de
dados em outubro e novembro de 2010, e que
concordaram em participar da pesquisa mediante assinatura do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE). Foram excluídos
da amostra servidores com necessidades especiais que inviabilizassem a compreensão e
o preenchimento do questionário, bem como a
aferição das medidas antropométricas.
Este estudo integra o trabalho de monografia intitulado “Perfil nutricional de servi-
334
Geriatria & Gerontologia
dores em período de pré-aposentadoria da
Universidade Federal do Maranhão”, que foi
apresentado ao Curso de Graduação em Nutrição da UFMA e aprovado pelo Comitê de
Ética em Pesquisa da mesma instituição, sob
o Protocolo n. 23115010062/2010-00.
A pesquisa foi desenvolvida atendendo-se aos requisitos exigidos pela Resolução
n. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde
(CNS, 1996) e suas complementares para
pesquisas envolvendo seres humanos. Todos os participantes receberam informações
sobre os objetivos e procedimentos da pesquisa, bem como sobre a colaboração que se
esperava deles.
A coleta de dados foi realizada por acadêmicas do Curso de Nutrição, previamente treinadas, sob a supervisão da professora
orientadora do estudo. O nome e setor dos
servidores que estavam em período de pré-aposentadoria foram fornecidos à equipe de
pesquisadores pelo Departamento de Recursos Humanos da UFMA. Os servidores foram
procurados em seu próprio setor pela equipe
responsável pela coleta de dados, não sendo
necessário deslocar essas pessoas.
Aplicou-se um questionário contendo dados demográficos e socioeconômicos (idade,
sexo, renda e escolaridade), consumo de bebidas alcoólicas e cigarros e história de DNT.
A classificação socioeconômica foi realizada
de acordo com a Abep.8
Para aferição do peso, utilizou-se balança
portátil digital da marca Camry®, com o indivíduo posicionado em pé, no centro da balança e descalço. A altura foi medida com um estadiômetro da marca Alturaexata®, com o indivíduo em pé, descalço, com os calcanhares
juntos, as costas retas e os braços estendidos
ao lado do corpo.9 De posse das medidas de
peso e altura, foi calculado o IMC pela expressão: peso/altura² (kg/m²).
Para classificação do estado nutricional pelo
IMC, foram utilizados os pontos de corte estabelecidos por Lipschitz. 10 Para análise estatística,
as categorias magreza (IMC < 22 kg/m2) e eutrofia (IMC ≥ 22 e ≤ 27 kg/m2) foram agrupadas em
sem excesso de peso (IMC < 27 kg/m2).
A circunferência da cintura foi medida no
ponto médio entre a última costela e a crista
ilíaca, com o paciente em pé, sendo a leitura
feita no momento da expiração. A medida de
circunferência do quadril foi realizada na região de maior perímetro entre a cintura e a
coxa.9 Para essas medidas, fez-se uso de trena
antropométrica flexível e inelástica.
Os indicadores antropométricos utilizados para avaliar a gordura abdominal foram:
circunferência da cintura isolada (CC), relação cintura/quadril (RCQ), relação cintura/
estatura (RCE) e índice de conicidade (IC). A
RCQ e RCE foram calculadas pelas razões entre a CC (cm) e, respectivamente, a CQ (cm) e
altura (cm). Para obter o IC, utilizou-se a seguinte equação:11
Índice de conicidade = Circunferência da cintura (cm)
0,109 x Peso corporal (kg)
Altura (m)
335
Obesidade central e doenças em idosos
Tabela1. Pontos de corte para identificar obesidade abdominal12-14
Indicador
CC
RCQ13
RCE14
IC14
12
Homens
Mulheres
≥ 94 cm
≥ 0,90
≥ 0,52
≥ 1,25
≥ 80 cm
≥ 0,85
≥ 0,53
≥ 1,18
Para identificar obesidade abdominal,
foram adotados os pontos de corte descritos na Tabela 1.12-14
Os dados foram analisados no programa
estatístico Stata, versão 10.0. Inicialmente foi
realizada uma análise descritiva das variáveis, sendo as quantitativas descritas em médias ou medianas, desvios-padrão e valores
mínimo e máximo, e as qualitativas, em frequências simples e percentuais. Testou-se a
normalidade pelo teste de Shapiro Wilk. Para
comparar as variáveis antropométricas, por
sexo, foram utilizados os testes t de Student
(dados paramétricos: RCE) e Mann-Whitney
(dados não paramétricos: IMC, CC, RCQ e IC).
Para investigar associação entre obesidade,
generalizada (IMC) e central (CC, RCE, RCQ e
IC), e o relato de DNT, utilizou-se o teste do
qui-quadrado. Para comparar o estado nutricional do grupo, por sexo, utilizou-se o teste
do qui-quadrado ou exato de Fischer. A correlação entre os indicadores antropométricos foi
avaliada por meio do coeficiente de correlação
de Pearson ou Spearman. Para todos os testes,
adotou-se o nível de significância de 5%.
RESULTADOS
Entre os cinquenta servidores estudados,
predominou sexo masculino (54%), alta escolaridade (60% havia concluído o ensino superior) e nível socioeconômico elevado (54% pertencia às classes A ou B). Quase metade (48%)
dos idosos era casada, e a média de idade no
grupo foi de 63,1 ± 2,49 anos (60 a 69 anos).
As medidas descritivas dos indicadores antropométricos utilizadas para caracterizar o
grupo são apresentadas na Tabela 2. Os homens apresentaram maiores médias de CC,
RCQ e IC (p < 0,05). Entretanto, a proporção
de obesidade abdominal por este indicador
foi semelhante entre os sexos. Já para RCE e
RCQ, os homens mostraram-se em situação
de maior risco (Tabela 3).
A gordura generalizada apareceu em 56% do
grupo. Já a gordura abdominal, de acordo com
os indicadores CC, RCE e IC, mostrou-se ainda
mais prevalente (76%, 86% e 86%, respectivamente). Apenas quando se utilizou a RCQ, a
proporção de obesidade abdominal (classe de
risco) foi menor (42%) que a generalizada.
A história de doenças não transmissíveis
foi relatada por 52% da amostra, sendo que
16% apresentava duas ou mais afecções.
Não houve diferença significativa entre homens e mulheres (p = 0,103). As doenças
mais referidas foram: hipertensão arterial
sistêmica (46%), diabetes mellitus (12%) e
doença cardiovascular (4%).
Na Tabela 4, são apresentadas as proporções de obesidade generalizada e abdominal,
segundo a história de doenças não transmissíveis. Embora a proporção de risco pelo indicador RCE tenha parecido maior entre indivíduos com história de DNT, não houve significância estatística.
Os resultados da análise da correlação entre os indicadores antropométricos são apresentados na Tabela 5. Apenas os indicadores
336
Geriatria & Gerontologia
Tabela 2. Medidas descritivas das variáveis antropométricas entre servidores idosos da UFMA. São Luís, MA, 2010
Indicadores
IMC (kg/m2)
CC (cm)
RCQ (cm)
RCE
IC
Total
(n = 50)
Masculino
(n = 27)
Feminino
(n = 23)
M ± DP
Vmín - Vmáx
M
DP
M
DP
28,09 ± 4,69
94,82 ± 11,84
0,93 ± 0,09
0,59 ± 0,07
1,30 ± 0,08
19,3 - 40,7
69 - 120
0,74 - 1,1
0,45 - 0,77
1,14 - 1,48
27,70
98,31
0,99
0,595
1,34
2,38
6,40
0,045
0,032
0,04
28,56
90,73
0 ,86
0,585
1,25
6,47
15,21
0,09
0,095
0 ,093
Tabela 5. Correlação entre os indicadores antropométricos de obesidade em servidores idosos da UFMA. São Luís, MA, 2010
p valor
0,5216
0,0113*
0,0000*
0,2548
0,0001*
IMC = índice de massa corporal; CC = circunferência da cintura; RCE = relação cintura/estatura; RCQ = relação cintura/quadril; IC = índice de conicidade. *p < 0,05.
Tabela 3. Classificação das variáveis antropométricas, segundo sexo, em servidores idosos da UFMA. São Luís, MA, 2010
Mulher Homem
Indicadores
antropométricos
n
%
n
p
Total
%
N
%
IMC
valor
0,615
Magreza
0
0
5
21,74
5
10
Eutrofia
11
40,74
6
26,09
17
34
Excesso de peso
16
59,26
12
52,17
28
56
CC
0,750
Menor risco
6
22,22
6
26,08
12
24
Risco elevado
21
77,78
17
73,92
38
76
RCQ
0,013*
Baixo risco
20
74,07
9
39,13
29
58
Alto risco
7
25,93
14
60,87
21
42
RCE
0,002*
Sem risco
0
0
7
30,43
7
14
Risco
27
100
16
69,57
43
86
IC
0,002*
Sem risco
0
0
7
30,43
7
14
Risco
27
100
16
69,57
43
86
Total
27
100
23
100
50
100
Tabela 4. Proporção de obesidade geral (IMC) e abdominal (CC, RCE, RCQ e IC), segundo a história de doenças não transmissíveis em
servidores idosos da UFMA. São Luís, MA, 2010.
Indicadores
antropométricos
IMC
CC
RCE
RCQ
IC
Total
(n = 50)
337
Obesidade central e doenças em idosos
Com história de DNT
(n = 34)
Sem DNT
(n = 16)
p valor
N
%
N
%
n
%
28
38
43
21
43
56,0
76,0
86,0
42,0
86,0
19
25
31
14
29
55,9
73,5
91,2
41,2
85,3
9
13
12
7
14
56,3
81,3
75,0
43,8
87,5
0,981
0,551
0,124
0,863
0,834
IMC = índice de massa corporal; CC = circunferência da cintura; RCE = relação cintura/estatura; RCQ = relação cintura/quadril ; IC = índice de conicidade; DNT = doenças não transmissíveis.
Indicadores
IMC
CC
RCQ
RCE
IC
IMC
CC
RCQ
RCE
IC
1
0,8035
(p = 0,0000)
0,2258
(p = 0,1148)
0,8247
(p = 0,0000)
0,3134
(p = 0,267)
1
0,7130
(p = 0,0000)
0,8813
(p = 0,0000)
0,7972
(p = 0,0000)
1
0,5668
(p = 0,0000)
0,9074
(p = 0,0000)
1
0,6663
(p = 0,0000)
1
IMC = índice de massa corporal; CC = circunferência da cintura; RCE = relação cintura/estatura; RCQ = relação cintura/quadril ; IC = índice de conicidade.
CC e RCE mostraram-se correlacionados com
o IMC (p < 0,05). Todos os indicadores antropométricos de obesidade abdominal mostraram correlação entre si, sendo a mais fraca
observada entre RCQ e RCE (0,5668) e a mais
forte entre RCQ e IC (0,9074).
Discussão
A proporção de DNT referida pelo grupo de servidores idosos estudados foi elevada (52%), especialmente para a HAS (46%).
Resultados semelhantes foram encontrados
nos estudos de Cavalcanti et al.,15 Victor et
al.,16 Pereira et al.17 e Azis et al.18, onde 82,1%,
85%, 76,8% e 95,7% dos idosos, respectivamente, afirmaram possuir alguma DNT. Os
estudos15-17 também mostraram que a HAS é
uma afecção bastante prevalente entre idosos
(56,4%, 68,6% e 48,8%, respectivamente).
Embora já esteja bem estabelecida na literatura a relação entre obesidade, generalizada
e abdominal, e a prevalência de DNT19,20, esta
não pôde ser observada no presente estudo. No
entanto, notou-se uma tendência para maior
proporção de obesidade abodminal, segundo a
RCE, entre os portadores de DNT, embora não
tenha sido confirmada pelos testes estatísticos
(ver Tabela 4). Alguns estudos mostram que
os indicadores antropométricos de obesidade
abdominal são melhores para predizer risco
coronariano elevado do que indicadores de
obesidade generalizada (IMC).14,21,22
Os valores médios dos indicadores antropométricos foram elevados (ver Tabela 2),
colocando o grupo em risco para o desenvolvimento de DNT. Homens e mulheres não diferiram quanto aos valores de IMC e RCE, o
que contraria os achados da literatura em que
mulheres apresentaram maiores valores de
IMC.4,14,22 No estudo de Duarte et al.,23 homens
e mulheres também apresentaram médias de
IMC semelhantes.
Os homens tiveram maiores valores para
CC, RCQ e IC. O estudo de Pitanga e Lessa21
apresenta resultados semelhantes quanto
à CC, RCQ e IC. No estudo de Mota et al.,24 as
médias de CC também foram maiores entre
os homens. Outros estudos mostram homens
com valores médios de RCQ elevado em relação às mulheres.4,22,25
A elevada prevalência de obesidade generalizada (56%) entre os servidores, de acordo
com o IMC, concorda com os achados de outros estudos em universidades do nosso país:
56,8%26 e 52,4%.27
338
Geriatria & Gerontologia
A prevalência de obesidade abdominal,
de acordo com os indicadores CC, RCE e IC,
foram ainda maiores (ver Tabela 3). Alguns
estudos recentes com idosos também mostraram altas prevalências (97,4%,7 76,2%15 e
64,3%28) de obesidade abdominal.
Devido às alterações de composição corporal que ocorrem com o envelhecimento,
o uso isolado do IMC para avaliar o idoso
torna-se limitado. Recentemente, vem sendo
recomendada a associação entre o IMC e um
indicador de adiposidade central.5 Nesse contexto, a CC destaca-se, pois tem relação direta
com morbidades e mortalidade em doenças
cardiovasculares.5,24
Foi possível observar forte correlação entre
o IMC e os indicadores CC e RCE (ver Tabela 5).
O IC e a RCQ não se mostraram correlacionados
ao IMC. Todos os indicadores de adiposidade
abdominal avaliados apresentaram uma forte
correlação entre si. O estudo de Sampaio e Figueiredo4 apontou correlação positiva e forte
(0,86 e 0,89) entre o IMC e a CC em idosos de
ambos os sexos. A correlação entre o IMC e a
RCQ foi fraca, porém significativa. No estudo de
Santos e Sichieri,22 com idosos de diferentes faixas etárias, as correlações entre IMC e CC variaram de 0,51 a 0,77. São poucos os estudos que
investigaram correlações entre indicadores antropométricos em idosos. Alguns estudos, com
adultos e idosos, mostram fortes correlações
entre o IMC e os indicadores CC e RCE.20,29,30
O presente estudo apresenta como limitações o delineamento do tipo transversal, que
impossibilita investigar a relação causa/efeito,
o pequeno tamanho amostral e história de DNT
autorreferida. Entretanto, sua importância se
deve ao fato de ter permitido a caracterização
do grupo de servidores idosos investigados,
quanto à presença de obesidade generalizada e
abdominal e importantes fatores de risco para
o desenvolvimento de doenças. Além disso, evi-
denciou a correlação dos indicadores CC e RCE
com o IMC, sugerindo a utilização destes na prática clínica e em pesquisas para investigar o risco de doenças crônicas não transmissíveis. São
medidas simples e rápidas de serem aferidas e
que podem fornecer informações adicionais e
relevantes no momento da avaliação do idoso.
CONCLusão
As prevalências de obesidade generalizada e abdominal foram elevadas entre os
idosos estudados, assim como a história de
doenças não transmissíveis. Entretanto, não
se observou associação entre a obesidade, generalizada e abdominal, e a história de DNT.
Os indicadores circunferência da cintura e
relação cintura/estatura mostraram-se fortemente correlacionados com o índice de massa
corporal, mas não a relação cintura/quadril e
o índice de conicidade. Todos os indicadores
de obesidade abdominal apresentaram-se
correlacionados entre si.
Os resultados aqui obtidos reforçam ainda a necessidade de avaliar os indicadores de
obesidade abdominal na população, combinados ao IMC, especialmente em grupos mais
expostos a fatores de risco, como os idosos,
em quem são encontradas maiores prevalências de doenças não transmissíveis.
As elevadas proporções de obesidade,
especialmente aquela localizada na região
abdominal, colocam o grupo em risco para
desenvolver ou agravar as DNT já existentes,
devendo, portanto, ser alvo de ações de
promoção de práticas alimentares e estilo de
vida saudáveis. Este estudo serviu de base
para a formulação de um programa de educação nutricional que visou a orientar estes
idosos quanto à adoção de hábitos alimentares e estilo de vida saudáveis para a melhoria
da qualidade de vida.
Obesidade central e doenças em idosos
CONFLITO DE INTERESSE
Os autores declaram não haver conflito de
interesse pertinentes.
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340
Geriatria & Gerontologia
Artigo Original
Densidade mineral óssea em idosos e presença
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RESUMO
1
Instituto de Geriatria e
Gerontologia, Pontifícia
Universidade Católica do Rio
Grande do Sul (PUCRS), Porto
Alegre, RS, Brasil.
Objetivos: Relacionar a densidade mineral óssea em idosos com a presença de fatores de risco nutricionais para
osteoporose. Métodos: Em idosos, de ambos os sexos, com idade igual ou maior que sessenta anos, foi verificada
a densidade mineral óssea por meio do exame densitométrico. Dados sociodemográficos e econômicos foram
coletados em um questionário estruturado. A identificação dos fatores de risco nutricionais foi verificada a partir
do Questionário de Frequência Alimentar e Miniavaliação Nutricional. O nível de significância adotado neste
estudo foi de 5%. Resultados: A amostra foi constituída por 71 idosos, sendo 10 homens (14,1%) e 61 mulheres
(85,9%). A idade média foi de 68,77 ± 6,73 anos. No modelo de regressão linear múltipla ajustado, o gênero (p =
0,009), o consumo de sódio (p = 0,011) e a vitamina B12 (p = 0,003) foram as variáveis que apresentaram maior
correlação significativa com a densidade mineral óssea. Risco de desnutrição (p = 0,021) e histórico familiar para
osteoporose (p = 0,020) também são fatores que interferiram negativamente na densidade mineral óssea. As
variáveis tabagismo, sedentarismo, uso de álcool, ingestão de proteínas, fibras, cafeína, vitamina C e potássio
não apresentaram impactos significativos nas variações de densidade mineral óssea para a amostra observada
neste estudo. Conclusões: Alto consumo de sódio e baixa ingestão de vitamina B12 são os principais fatores de
risco nutricionais para osteoporose que interferem na densidade mineral óssea em idosos. Histórico familiar, sexo
feminino e estado nutricional (risco de desnutrição) também colaboraram para a redução da massa óssea.
Palavras-chave: Osteoporose, densidade óssea, fatores de risco, idoso, inquéritos nutricionais.
ABSTRACT
Objectives: Matching bone mineral density in elderly patients with osteoporosis nutritional risk factors.
Methods: In over-sixty-year-old patients of both sexes, the mineral density was verified through a Dual-energy
X-ray absorptiometry analysis. Economic and demographic data were collected on a structured questionnaire.
The identification of nutritional risk factors was verified through a Food Frequency Questionnaire and a Mini
Nutritional Assessment. The level of significance adopted in this study was 5%. Results: The sample consisted
of 71 elderly patients, in which 10 were men (14.1%) and 61 were women (85.9%). The mean age was 68.77
± 6.73 years. In an adjusted multiple linear regression model, the gender (p = 0.009), the sodium intake (p =
0.011) and the vitamin B12 (p = 0.003) were the variables that showed a higher correlation with bone mineral
density. Risk of malnutrition (p = 0.021), as well as the family history of osteoporosis (p = 0.020) are also factors
that negatively interfered in bone mineral density. The variables: smoking, physical inactivity, alcohol use, protein
intake, fiber, caffeine, vitamin C and potassium showed no significant impact on changes in bone mineral density
in the study’s sample. Conclusions: High sodium intake and low intake of vitamin B12 are the major nutritional
risk factors for osteoporosis that affect the bone mineral density in elderly. Family history, female gender and
nutritional status (risk of malnutrition) also contributed to the reduction of bone mass.
Keywords: Osteoporosis, bone density, risk factors, elderly, nutrition surveys.
Endereço para correspondência: Caroline Marangon Dourado - Rua Assis Brasil, 709, C. P. 184, Curso Superior de Nutrição, Universidade Regional Integrada do Alto
Uruguai e das Missões (URI), campus de Frederico Westphalen, Frederico Westphalen, RS, Brasil. CEP: 98400-000 - Tel: (55) 9169-3238, (55) 3744-9293 - Fax: (55)
3744-9265 - E-mail: [email protected]
342
Geriatria & Gerontologia
INTRODUÇÃO
O aumento da expectativa de vida das populações, a queda da mortalidade e a redução
da fecundidade resultam no envelhecimento
da população e aumento da incidência de doenças crônicas, como a osteoporose, considerada um problema de saúde pública.
Estima-se que a osteoporose afete mais
de 75 milhões de pessoas no mundo e que até
2020 mais de 10 milhões de mulheres serão
diagnosticadas com a doença.1 No Brasil, a população propensa a desenvolver osteoporose
aumentou de 7,5 milhões em 1980 para 15
milhões no ano 2000, chegando a acometer
35 a 52% das mulheres com mais de cinquenta anos e uma proporção de 19 a 39% dos
homens. Vinte entre cada cem mulheres são
portadoras de doenças osteoporóticas, com 4
milhões e 400 mil casos, e um gasto de mais
de 1 bilhão e 300 milhões de reais por ano.2
Para o diagnóstico de osteoporose, o exame densitométrico Dual Energy X-Rain Absorptiometry (DXA) é ainda a técnica padrão-ouro
mais utilizada mundialmente. Associado ao
resultado do DXA, alguns fatores relacionados à probabilidade de maior risco de fraturas, como hereditariedade, etnia, idade
avançada, sexo feminino, fragilidade óssea,
uso de glicocorticoides, baixo índice de massa corporal (IMC), tabagismo, consumo excessivo de álcool, inatividade física, fatores
nutricionais, deficiência hormonal e artrite
reumatoide, auxiliam no diagnóstico preciso
da osteoporose.3
O envelhecimento está relacionado a alterações fisiológicas que afetam a biodisponibilidade de nutrientes que podem favorecer o
desenvolvimento da osteoporose.4 Esse distúrbio osteometabólico é caracterizado pela
redução da massa óssea e deterioração da microarquitetura do tecido ósseo, promovendo
a fragilidade dos ossos e, consequentemen-
te, aumentando a predisposição às fraturas,
o que atinge a todos, mas principalmente as
mulheres após a menopausa.5 Como a etiologia da perda de massa óssea é complexa e
multifatorial, a nutrição tem desempenhado
papel fundamental na prevenção e no tratamento da osteoporose.6
O consumo adequado dos nutrientes envolvidos no metabolismo ósseo, em todos os
períodos do ciclo vital, pode prevenir ou reduzir a incidência de osteoporose. A provisão
de nutrientes construtores dos ossos, como
proteína, minerais (cálcio, fósforo, potássio) e
vitaminas (D, K, B12) é necessária mesmo após
o início da osteoporose.7 Entretanto, a ingestão excessiva de alguns nutrientes (proteínas,
sódio e vitamina A) pode favorecer a desmineralização óssea.8
Segundo a Organização Mundial da Saúde
(OMS), a osteoporose é considerada o segundo maior problema de assistência sanitária
no mundo, depois das enfermidades cardiovasculares.9 Por essa razão, o interesse no
problema tem sido crescente. Novos produtos, medicamentos e tecnologias vêm sendo
desenvolvidos e incorporados à assistência
médica, além de estudos sobre os fatores associados à sua ocorrência, necessários para
orientar medidas de prevenção.10
Este trabalho teve por objetivo relacionar a densidade mineral óssea em idosos
com a presença de fatores de risco nutricionais para osteoporose.
MÉTODO
População em estudo
A coleta de dados ocorreu entre janeiro
e dezembro de 2011, com indivíduos que
participavam de grupos da terceira idade
do município de Frederico Westphalen, RS.
A amostra foi composta por 71 indivíduos
DMO e fatores nutricionais em idosos
com idade igual a sessenta anos ou mais,
conforme definição da OMS para países em
desenvolvimento. Foram excluídos do estudo indivíduos que não tiveram condições
de responder aos instrumentos de coleta;
em uso de suplemento de cálcio e vitamina
D ou fármacos que interfiram na densidade
mineral óssea; em terapia de reposição hormonal; em diálise; pós-cirurgia bariátrica,
bem como diagnóstico de doenças crônicas
do trato gastrintestinal que influenciem na
absorção de nutrientes, e aqueles que não
pudera ficar em pé para a aferição das medidas antropométricas.
Medidas
Dados sociodemográficos (gênero, idade,
estado civil, escolaridade) e características
de saúde (histórico familiar de osteoporose,
sedentarismo, tabagismo, consumo de álcool,
estado nutricional, uso de medicamentos)
foram coletados por meio de entrevista com
questionário estruturado.
Medidas antropométricas
O peso, em quilogramas (kg), foi aferido com balança antropométrica calibrada
(Filizola®) com capacidade para 150 kg e
incrementos de 100 g. A altura foi aferida
com estadiômetro fixado na parede (Sanny)
com indivíduo descalço, sobre uma superfície lisa e nivelada, em posição ereta, com
calcanhares juntos e nádegas e ombros
pressionados contra o estadiômetro. O valor foi registrado em centímetros (cm). A
circunferência do braço (CC) foi obtida no
membro direito estendido em estado de
relaxamento ao longo do corpo, com a palma da mão voltada para a coxa na altura do
ponto médio (localizado entre a superfície
acromial da escápula e o processo olécrano
do cotovelo), posicionando-se uma fita mé-
343
trica flexível, sendo o valor anotado em centímetros. Para a medição da circunferência
da panturrilha (CP), a fita métrica foi posicionada horizontalmente na área de maior
diâmetro da panturrilha no espaço entre o
tornozelo e o joelho, com o idoso em pé, estando com o peso equitativamente distribuído em ambos os pés. A medida foi expressa
em centímetros.
Avaliação nutricional
A identificação dos fatores de risco nutricionais para a osteoporose foi verificada
através do estado nutricional e do hábito alimentar. O estado nutricional e o risco de desnutrição foram avaliados por meio da MAN®.
O hábito alimentar foi analisado pelo Questionário de Frequência Alimentar (QFA), sendo
os dados incluídos e analisados no software nutricional DietWin Profissional (versão
2008, Brasil) e analisados de acordo com as
Dietary Reference Intakes (DRIs). Os nutrientes analisados foram proteínas, fibras totais,
cálcio (Ca), potássio (K), sódio (Na), vitaminas C, D, K e B12 e cafeína, bem como o consumo de bebida alcoólica.
Exame de densitometria óssea
Os critérios para o diagnóstico de osteoporose, baixa massa óssea e densidade mineral óssea seguiram as diretrizes da OMS.
A referência internacional da OMS para o
diagnóstico da osteoporose é um T-Score
de -2,5 ou inferior em fêmur proximal ou
coluna lombar, embora o rádio distal (sítio
periférico) possa ser empregado com essa
finalidade. O relato do exame de densitometria óssea (laudo inicial DXA) baseou-se nas
posições oficiais da Sociedade Brasileira de
Densitometria Clínica, seguindo-se os requerimentos mínimos.
344
Geriatria & Gerontologia
Análise estatística
Considerando-se o objetivo principal do
estudo, o cálculo de tamanho amostral foi
feito com a utilização do pacote estatístico
G*Power. A Figura 1 apresenta os tamanhos
de amostra mínimos necessários para um poder entre 70 e 90% para tamanhos de efeitos
iguais a 0,60, 0,65 e 0,70 em um modelo com
doze variáveis. Aumentando o poder esperado
do teste para 90%, e considerando-se uma
eventual perda amostral, foram estudados, no
mínimo, 52 indivíduos para um nível de significância não maior do que 5% na análise de
regressão múltipla.
A validação do questionário, em termos
de consistência interna do instrumento, foi
avaliada por meio do Coeficiente Alpha de
Cronbach.11 As variáveis foram descritas a
partir de distribuições de frequência e medidas de tendência central e variabilidade (média e desvio-padrão). Foi ajustado um modelo de regressão linear múltipla após ter sido
efetuada uma análise bivariada com o uso de
testes de hipóteses para comparação de médias e análise de correlação entre as variáveis
independentes e a variável dependente, com
intuito de identificar quais variáveis apresentavam efeitos significativos e deveriam ser
consideradas para o modelo final.
Os dados foram analisados com auxílio
de softwares estatísticos. A seleção final das
variáveis deu-se pelo método backwise, do
pacote estatístico SPSS v.17. O poder dos
testes foi determinado após o ajuste final
pelo pacote G*Power. A avaliação das suposições de normalidade e homocedasticidade
foi efetuada por gráfico de resíduos, histograma e gráfico Q-Q Plot. O nível de significância adotado foi de 5%.12
Considerações éticas
O protocolo de pesquisa está de acordo
com a Declaração de Helsinki13 e foi aprovado
pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(PUC/RS), Ofício n. 701/12. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE).
Figura 1. Cálculo do tamanho amostral em um modelo com doze variáveis
345
DMO e fatores nutricionais em idosos
Resultados
A amostra foi constituída por 71 idosos submetidos ao exame densitométrico Dual Energy X-Rain Absorptiometry (DXA): 10 homens (14,1%)
e 61 mulheres (85,9%). A idade média foi de
68,77 ± 6,73 anos. Do total de casos, levando-se
em consideração a classificação densitométrica
da OMS para osteoporose, 18 indivíduos (25,4%)
eram normais, 29 (40,8%) obtiveram dignóstico
de osteopenia e 24 (33,8%) apresentaram osteoporose. Na Tabela 1, são apresentadas características sociodemográficas e fatores relacionados à
condição de saúde da amostra.
Tabela 1. Características sociodemográficas e aspectos de saúde de 71 idosos integrantes de grupos de terceira idade do município
de Frederico Westphalen, RS
Amostra total n = 71
Sexo
Feminino
Masculino
Estado civil
Casado
Divorciado
Solteiro
Viúvo
Escolaridade
Analfabeto
≥ 1 a 4 anos
> 4 a 8 anos
> 8 anos
Histórico familiar de osteoporose
Não
Sim
Tabagismo
Nunca fumou
Ex-fumante
Fumante ativo
Consumo de álcool
Não
Sim
Sedentarismo
Não
Sim
Uso de medicamentos
Não
Sim
*Estado nutricional determinado através da Miniavaliação Nutricional (MAN®)
n (%) sexo
61 (85,9)
10 (14,1)
38 (53,5)
4 (5,6)
2 (2,8)
27 (38,0)
2 (2,8)
19 (26,8)
25 (35,2)
25 (35,2)
50 (70,4)
21 (29,6)
62 (87,3)
4 (5,6)
5 (7,0)
54 (76,1)
17 (23,9)
23 (32,4)
48 (67,6)
22 (31,0)
49 (69,0)
346
Geriatria & Gerontologia
Os idosos participantes da pesquisa foram
classificados em três grupos de acordo com o
consumo de nutrientes que interferem na densidade mineral óssea: consumo abaixo do recomendado, normal e acima do recomendado.
A Tabela 2 apresenta o consumo dos nutrientes considerados fatores de risco para osteoporose encontrados na população em estudo.
As variáveis vitaminas D e K foram excluídas das análises por não apresentarem
variabilidade, uma vez que todos os pacientes apresentaram níveis de consumo
destas vitaminas abaixo do recomendado.
Dois casos foram excluídos da amostra por
apresentarem consumo de cálcio acima do
recomendado, inserindo viés excessivo aos
resultados. Com isso, a amostra utilizada foi
de 69 sujeitos (ver Tabela 2). O consumo de
cafeína foi mensurado de forma quantitativa,
indicando um consumo médio de 138,58 ±
205,97 da amostra.
Os coeficientes apresentados na Tabela
3 informam a variação observada, em geral,
na medida de DMO de acordo com as varia-
ções, ausência ou presença dos fatores independentes. Neste modelo de regressão
linear múltipla ajustado, gênero (p = 0,009),
consumo de sódio (p = 0,011) e vitamina B12
(p = 0,003) foram as variáveis que apresentaram maior correlação estatística significativa
com a DMO. Risco de desnutrição (p = 0,021)
e histórico familiar para osteoporose (p =
0,020) também são fatores que interferiram
negativamente na DMO (Tabela 3). As variáveis tabagismo, sedentarismo, uso de álcool,
ingestão de proteínas, fibras totais na dieta,
cafeína, vitamina C e potássio não apresentaram impactos significativos nas variações de
DMO para a amostra observada neste estudo.
Observa-se que, considerando o nível de significância de 5%, o mesmo ocorre com a variável uso de medicamentos. Entretanto, essa
variável foi mantida no modelo por contribuir
no poder de explicação observado através do
coeficiente de determinação (Tabela 3).14
Assim, considerando gênero, de acordo
com os dados da amostra, o fato de um indivíduo ser do sexo feminimo afetou o resultado
Tabela 2. Distribuição do consumo de nutrientes da amostra de 69 idosos integrantes de grupos de terceira idade do município de
Frederico Westphalen, RS
Variáveis
Abaixo do
recomendado
(-1)
Acima do
Recomendado
(+1)
Normal
(0)
347
DMO e fatores nutricionais em idosos
do DMO, reduzindo-o em aproximadamente
0,124 g/cm2. Pessoas com histórico familiar
de osteopenia ou osteoporose apresentaram
em média resultados 0,089 g/cm2 maiores do
que pessoas sem histórico familiar. Interpretação similar pode ser efetuada para os indivíduos que utilizam medicamentos. Quanto à
avaliação do estado nutricional, o coeficiente
β0 apresentou sinal negativo, indicando que
na presença de algum quadro fora da normalidade, a medida observada na DMO foi menor. Neste caso, em sujeitos com risco de desnutrição, a redução na DMO observada era na
ordem de 0,128 g/cm2. Por fim, considerando
a ingestão de sódio e vitamina B12, os sinais
dos coeficientes são contrários. Ingestão de
sódio abaixo do recomendado significa um
aumento na DMO na ordem de 0,058 g/cm2,
enquanto ingestão de sódio acima do recomendado apresentou, em média, uma redução nos valores observados na DMO. O oposto observou-se na ingestão de vitamina B12.
Sujeitos com ingestão acima do recomendado apresentaram resultados em média superiores (+0,056 g/cm2).
DIsCUSSÃO
Rumbak et al. não encontraram correlação positiva de níveis de vitamina B 12
com DMO em 131 mulheres croatas com
45 a 65 anos de idade. Todavia, incluíram-se apenas mulheres pós-menopáusicas na
regressão linear. Fatores como idade, IMC,
consumo de álcool e terapia de reposição
hormonal foram considerados preditores
significativos na redução da DMO.16 Da
mesma forma, vitaminas B 12 e B 6 não foram
associadas com DMO em um estudo com
328 mulheres britânicas na pós-menopausa, mas apresentaram associação significativa com homocisteína, podendo afetar,
indiretamente, o esqueleto.17
A ingestão de sódio acima dos valores
recomendados pelas DRIs verificada neste
estudo foi estatisticamente significativa
com a redução da DMO. Estudos com animais e humanos mostraram que, quanto
maior a ingestão de sódio, maior a excreção urinária de cálcio.18 Entretanto, um estudo experimental, longitudinal e prospectivo conduzido com mulheres na pré e pós-menopausa que receberam uma dieta rica
Tabela 3. Distribuição dos fatores de risco nutricionais para osteoporose de 69 idosos integrantes de grupos de terceira idade do
município de Frederico Westphalen, RS
Total
Casos
%
Casos
%
Casos
%
Casos
%
Proteínas
1
1,4
69
97,2
1
1,4
71
100
Fibras totais
41
57,7
30
42,3
0
0
71
100
Cálcio
69
97,2
0
0
2
2,8
71
100
Potássio
38
53,5
0
0
33
46,5
71
100
Sódio
11
15,5
0
0
60
84,5
71
100
Vitamina C
5
7,0
0
0
66
93,0
71
100
Vitamina D
71
100
0
0
0
0
71
100
Vitamina K
71
100
0
0
0
0
71
100
Vitamina B12
48
67,6
0
0
23
32,4
71
100
Variável
Coeficiente β*
Estatística t
p-valor †
Constante β0
0,969
19,202
< 0,001
Gênero
-0,124
-2,690
0,009
Histórico familiar
0,089
2,359
0,020
Uso de medicamento
0,058
1,665
0,101
Estado nutricional
-0,126
-2,360
0,021
Sódio
-0,058
-2,618
0,011
Vitamina B12
0,056
3,109
0,003
* Coeficientes β do modelo de regressão linear múltipla ajustado.
† Nível de significância de 5%.
348
Geriatria & Gerontologia
em sódio, verificou que a perda urinária de
cálcio não foi significativa, não comprometendo, portanto, os processos de remodelação óssea. 18
O estado nutricional verificado por meio
da Miniavaliação Nutricional encontrou nesta amostra 91,1% (n = 64) dos idosos dentro da normalidade, 9,9% (n = 7) com risco
de desnutrição e nenhum com desnutrição.
Um estudo transversal investigou a relação
entre osteoporose e estado nutricional determinado pela MAN® em 351 idosas suecas
com média de idade 73 ± 2,3 anos. Apesar
do bom estado nutricional encontrado, as
participantes que obtiveram um escore na
MAN® abaixo de 27 pontos (em um total de
30 pontos) apresentaram duas vezes mais
risco para osteoporose.19 Em nosso estudo,
embora a maioria da amostra (91,1%) apresentasse eutrofia, no modelo de regressão
linear ajustado, o estado nutricional foi significativo, no sentido de diminuir a DMO.
Júnior e Chahade20 também obtiveram resultados semelhantes, em que o menor peso
corporal foi associado a maior probabilidade
de desenvolver osteoporose em mulheres.20
Do total de casos estudados, obtivemos
alta prevalência de osteopenia (40,8%) e osteoporose (33,8%). Em seis estudos de base
populacional e treze relativos a grupos específicos, as taxas de ocorrência de osteoporose também apresentaram grande amplitude,
com valores variando entre 0,4% em mulheres em pré-menopausa até 40% naquelas
com setenta anos ou mais.21 Nossos achados
apontam maior predisposição a desenvolver osteoporose para o gênero feminino (β =
-0,124 e p = 0,009). Da mesma forma, Holt et
al.22 encontraram maior incidência de osteoporose em mulheres com idade igual ou superior a cinquenta anos, em relação a homens
na mesma faixa etária.
Uma possível causa para a osteoporose
ser verificada predominantemente nas mulheres em nosso estudo talvez seja a inclusão da terapia de reposição hormonal (TRH)
como fator de exclusão. Evidências sugerem
a TRH como uma alternativa na prevenção de
osteoporose em mulheres na pré e pós-menopausa. O emprego de TRH em mulheres na
pós-menopausa mostrou aumentar em 1,7%
a densidade óssea nos quadris e de 3,5 a 5%
na espinha dorsal. Por outro lado, mulheres
não submetidas a essa terapia apresentaram
perda de massa óssea de 1,7% nos quadris e
1,8% na espinha dorsal.
Os indivíduos avaliados neste estudo referiram maior prevalência de história familiar
de osteoporose diferentemente do descrito
para populações brasileiras,23 mas semelhante ao verificado para mulheres com fratura
por fragilidade já estabelecida.24
Demais fatores de risco, como, sedentarismo, tabagismo, uso de álcool, ingestão de
proteínas, fibras totais na dieta, cafeína, vitamina C e potássio, não apresentaram impactos significativos nas variações de DMO para
a amostra observada neste estudo. O sedentarismo estava presente em 67,6% da amostra. Quando a atividade física é associada à
suplementação com cálcio, a densidade óssea
aumenta cerca de 5% após nove meses de tratamento, retornando aos níveis iniciais após
treze meses da suspensão do exercício.
Alguns estudos têm demonstrado não
haver associação entre o consumo de cafeína
e a perda de massa óssea.25 Outros, porém,
demonstram que doses diárias maiores do
que 300 mg/dia podem interferir sobre a
atividade de receptores da vitamina D, com
redução da absorção de cálcio.26 Felizmente,
o contrário foi observado em nossa pesquisa
em que o consumo médio de cafeína foi de
138,58 ± 205,97 mg diárias.
DMO e fatores nutricionais em idosos
No presente estudo, o consumo de álcool
não apresentou relação estatística significativa com a DMO. Uma coorte com base populacional objetivou determinar a associação entre a quantidade total de álcool, bem como o
tipo de bebida alcoólica, com a densidade mineral óssea. Foram avaliados 1.182 homens,
248 mulheres na pré-menopausa e 1.289
mulheres pós-menopáusicas, com idades entre 29 a 86 anos. Os autores concluíram que
o consumo moderado de álcool talvez possa
ter um efeito benéfico na massa óssea em
homens e mulheres na pós-menopausa, principalmente o consumo de cerveja, vinho e licor, em função não somente do álcool, mas de
outras substâncias presentes nessas bebidas.
Entretanto, o consumo de alta quantidade de
licor (> 2 doses/dia) em homens foi associado a menor DMO. 27 Embora alguns estudos
demonstrem que o consumo moderado de álcool aumente a densidade óssea por estímulo
da conversão da androstenediona a estroma,
um composto com propriedades estrogênicas, o consumo excessivo está associado a deficiências nutricionais e aumento do risco de
fraturas relacionadas a quedas por perda do
equilíbrio motor.28
Apesar de não apresentar correlação estatística significativa com a DMO, o consumo
de proteína estava adequado na maioria da
amostra (69/97,2%), enquanto a ingestão
de potássio esteva abaixo do recomendado em 53,5% (n = 38) dos idosos. Estudos
têm demonstrado que quantidade protéica
elevada está associada ao aumento da DMO
e melhora no metabolismo esquelético em
idosos. Ainda, alimentos ricos em proteína
como carnes e laticínios são também ótimas
fontes de fósforo e potássio, os quais previnem a excreção urinária de cálcio. Além disso, alguns aminoácidos aumentam a absorção de cálcio, auxiliando na manutenção da
densidade óssea.29
349
CONCLusão
Em nosso estudo, algumas limitações
podem ser ressaltadas, como, por exemplo,
o tamanho da amostra, considerado pequeno.
Além disso, a não realização de exames laboratoriais para avaliar a função renal, dosar o cálcio, sódio e vitamina D no plasma, e excreção
urinária de sódio são necessárias para incrementar o estudo, visto que avaliar o hábito alimentar com o intuito de verificar deficiências
nutricionais não garante a absorção de alguns
nutrientes, especialmente em idosos que possuem a interferência de vários fatores, dentre
eles a polifarmácia e o próprio envelhecimento.
O alto consumo de sódio e a baixa ingestão
de vitamina B12 foram os principais fatores de
risco nutricionais que interferem na densidade
mineral óssea na população estudada. Histórico familiar, sexo feminino e estado nutricional
(risco de desnutrição) também colaboraram
para a redução da massa óssea em idosos. Pesquisas futuras são necessárias à ampliação dos
resultados, visando a um maior conhecimento
sobre a influência dos nutrientes na densidade mineral óssea em idosos. Lembrando que
a osteoporose é um problema de saúde pública, faz-se necessário um esforço conjunto de
órgãos governamentais e sociedade civil na
prevenção e no tratamento da osteoporose,
com alternativas comunitárias de fácil alcance
e que melhorem a adesão ao tratamento não
farmacológico.
CONFLITO DE INTERESSE
Os autores declaram não haver conflito de
interesse.
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Fratura proximal de fêmur em idosos
Artigo Original
Fatores associados a desfechos clínicos em
idosos com fratura proximal de fêmur atendidos
em hospital escola
Clinical outcomes related factors in elderly with hip fracture assisted in a university hospital
Fernanda Freire Fonseca 1, Leani Souza Máximo Pereira 2, Paula Maria Machado Arantes 3
RESUMO
1
Fisioterapeuta residente
do programa de Residência
Multiprofissional do Hospital
das Clínicas da Universidade
Federal de Minas Gerais – autora
principal
2
Professora PhD. do
Departamento de Fisioterapia
da Escola de Educação Física,
Fisioterapia e Terapia Ocupacional
da Universidade Federal de Minas
Gerais - orientadora
3
Professora Dra. do curso
de Fisioterapia da Fundação
Comunitária de Ensino Superior
de Itabira – co-orientadora
Objetivos: Caracterizar idosos internados por fratura de fêmur proximal em um hospital escola e verificar o
impacto das intervenções aplicadas no desfecho clínico final. Métodos: Analisados os prontuários de idosos
maiores de 65 anos, admitidos no Hospital Universitário Risoleta Tolentino Neves com diagnóstico de fratura
proximal do fêmur no período de 01/01/2009 a 28/02/2011. Foram coletados dados sócio-demográficos
e de condições de saúde para caracterização da amostra. Considerou-se o tipo de fratura, tratamento médico
recebido, tempo entre admissão e procedimento cirúrgico, e entre este e a alta hospitalar, verificando a existência
de adiamentos no procedimento e seus motivos, e finalmente o recebimento de acompanhamento de outros
profissionais da equipe de saúde. Resultados: No período avaliado foram admitidos 231 idosos com diagnóstico
de fratura proximal de fêmur com média de idade de 80,8 anos. A média de dias entre admissão hospitalar e
procedimento cirúrgico foi de 8,7 dias sendo que 40% da amostra tiveram pelo menos um adiamento da
cirurgia. Dentre os que tiveram adiamento, 60% evoluíram com óbito intra-hospitalar contra 40% daqueles que
não adiaram. A presença de adiamento configurou maior número de dias entre cirurgia e alta. Em análise de
regressão, foram preditores de maior número de dias entre cirurgia e alta, a idade e os dias entre admissão e
cirurgia. Apenas 48,4% da amostra receberam atendimento de fisioterapia durante a internação. Conclusões: A
alta mortalidade intra-hospitalar de idosos com fratura proximal de fêmur foi associada à idade do paciente e ao
risco cirúrgico. Atraso no procedimento cirúrgico configurou maior tempo de hospitalização.
Palavras-chave: Fratura do quadril, Idoso, intervenções clínicas
ABSTRACT
Objectives: Characterization of elderly patients hospitalized with hip fractures in an university hospital and
verification of the impact of interventions applied in the final clinical outcome. Methods: The medical records
elderlies aged 65 or older, admitted to Hospital Universitário Risoleta Tolentino Neves (HURTN) diagnosed with
hip fractures in the period from 01/01/2009 to 02/28/2011 were taken. Data of socio-demographic and health
conditions were collect for the characterization of the sample. It was taken into consideration the type of fracture,
medical treatment received, the time of admission and surgery, and between the surgery and the hospital discharge,
checking delays in the procedure and their reasons; and finally the monitoring received from others professional of
a health care team. Results: during this period we evaluated 231 elderlies with a mean age of 80.82 years were
admitted with a diagnosis of hip fracture. The average number of days between admission and surgery was 8.73
days and 40% of the sample's surgery were brought forward. Among these ones, 60% died in hospital against
40% of those who were not delayed. The presence of delay configured highest number of days between surgery
and discharge. In regression analysis were predictive of a higher number of days between surgery and discharge,
age and days between admission and surgery. Only 48.4% of the sample received physiotherapy treatment during
hospitalization. Conclusions: There was high in-hospital mortality of elderly patients with proximal femur fracture
was associated with age of the patient and the surgical risk. Delay in surgery set up a longer hospitalization.
Key words: hip fracture, elderly, older, clinical interventions
Fernanda Freire Fonseca - Endereço: R. Dores do indaiá, 300/01, Santa Tereza, Belo Horizonte – MG. - CEP: 31010-360 Email: [email protected]
INTRODUÇÃO
As quedas constituem o principal problema de cuidado à saúde da população idosa.
Pesquisas feitas no intuito de verificar prevalência de quedas em idosos brasileiros da comunidade verificaram relatos de quedas em
30% dos idosos das amostras pesquisadas 1,2. A
cada ano, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem
gastos crescentes com o tratamento de problemas decorrentes das quedas 3. Seu custo social
é imenso e torna-se maior quando o idoso tem
diminuição da autonomia e da independência
ou passa a necessitar de institucionalização 4.
Independente de outras condições de saúde,
as quedas estão associadas ao aumento de
morbidade e do risco de institucionalização,
restrição de mobilidade, redução da habilidade em realizar atividades de vida diária (AVD),
piora da qualidade de vida, além de representar riscos de fraturas e morte 1,2,5,6,7.
Evidências apontam que a fratura de quadril, em conseqüência de quedas, ocorre em
apenas 1% dos idosos que caem, mas está altamente relacionada com incapacidades, morte e elevados custos para o sistema de saúde.
Magaziner e colaboradores (2000), mostraram que déficits funcionais permanecem até
2 anos após a fratura de quadril em idosos 8. A
taxa de mortalidade associada à fratura do fêmur proximal em idosos é de 12% a 37% após
um ano do evento, mas também são observados que 1 em cada 15 idosos com fratura de
quadril morrem enquanto estão hospitalizados 10. Os principais fatores citados na literatura como preditores para a mortalidade após a
fratura são a idade, as comorbidades, o estado
cognitivo, o tempo de espera entre a fratura e
a cirurgia e o tipo de anestesia utilizada para a
cirurgia. Algumas complicações apresentadas
após as intervenções cirúrgicas também contribuem para o óbito, sendo que as principais
são as infecções, seguida de pseudo-artrose e
trombose venosa profunda 11.
353
O tratamento da maioria destas fraturas
é cirúrgico, permitindo início de descarga de
peso e marcha precoce. Muniz e colaboradores
(2007), ao caracterizar os idosos com fratura
proximal de fêmur atendidos em um hospital
escola, encontraram que 88,7% dos pacientes
da amostra receberam tratamento cirúrgico
da fratura 9. O tratamento conservador, ou
seja, sem a realização da cirurgia é mais restrito aos que estão acamados, sem condição
de marcha ou que apresentam contra-indicações absolutas para a intervenção cirúrgica
10
. De acordo com o Scottish Intercollegiate
Guidelines Network (2009) o tratamento das
fraturas proximais do fêmur necessita de um
envolvimento multiprofissional para cuidados clínicos e acompanhamento adequado,
sendo que a reabilitação multidisciplinar
deve começar em 24 horas de pós-operatório
se a condição clínica do paciente permitir 18.
O tratamento fisioterápico é indicado na prevenção de complicações das fraturas e na reabilitação do paciente, seja aquele que vai ser
submetido ao tratamento conservador ou ao
cirúrgico. Os objetivos incluem acelerar o retorno funcional dos indivíduos acometidos e
evitar possíveis complicações 10.
Considerando a alta morbi-mortalidade
em conseqüência das fraturas de quadril em
idosos, e dada à necessidade de acompanhamento multidisciplinar para essa população,
torna-se importante conhecer como as intervenções são aplicadas por diferentes profissionais no contexto hospitalar e os fatores
que influenciam os desfechos decorrentes
dessas intervenções. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi caracterizar os pacientes
com 65 anos e mais que apresentaram fratura
de fêmur proximal como causa da internação
em um hospital escola e analisar os fatores individuais e do cuidado que podem modificar
o desfecho clínico final destes idosos.
354
Geriatria & Gerontologia
MÉTODOS
Análise Estatística
Trata-se de um estudo retrospectivo onde
foram analisados os prontuários eletrônicos
de idosos com 65 anos ou mais, que foram
admitidos no Hospital Universitário Risoleta Tolentino Neves (HURTN) com diagnóstico de fratura proximal do fêmur no período
de 01/01/2009 a 28/02/2011. O projeto foi
aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Minas Gerais (Parecer nº CAAE
- 0369.0.203-11).
Para a caracterização da amostra foi realizada
a análise descritiva dos dados. A análise de freqüência foi realizada para as variáveis categóricas. O teste qui-quadrado foi utilizado para comparar as proporções de idosos que evoluíram
com alta ou óbito, de acordo com o adiamento ou
não da cirurgia. O teste t de student para grupos
independentes foi utilizado para comparar o número de dias entre cirurgia e alta entre os idosos
que tiveram adiamento da cirurgia e aqueles que
não apresentaram tal adiamento.
Foram excluídos os prontuários de idosos com diagnóstico de múltiplas fraturas ou
traumas múltiplos, e também os prontuários
com dados incompletos que impossibilitassem o levantamento dos dados requeridos.
Para caracterização da amostra, foram coletados dados referentes à idade, sexo, região
do domicílio dos participantes e presença de
comorbidades. O tipo de fratura foi verificado
por meio do código da Classificação Internacional de Doenças (CID) citado no momento da
admissão, sendo as opções fratura do colo do
fêmur (CID - S720) ou fratura pertroncantérica (CID - S721). Foram coletados dados quanto
ao tratamento médico recebido (conservador
x cirúrgico), classificação do risco cirúrgico
segundo à American Society of Anesthesiology
(ASA), tempo entre admissão e procedimento
cirúrgico, e entre este e a alta hospitalar, verificando a existência de adiamentos no procedimento cirúrgico e seus motivos.
Também foi avaliado o recebimento ou
não de atendimento fisioterápico durante o
período de internação, assim como o acompanhamento de outros profissionais da
equipe de saúde.
O dado de descrição da condição clínica
no momento de fechamento do prontuário
na unidade foi coletado como desfecho final, sendo as possibilidades de alta, óbito ou
transferência para outra unidade hospitalar.
A análise de regressão linear múltipla foi
realizada considerando variáveis independentes (idade, dias entre admissão e cirurgia e ASA)
que se correlacionaram significativamente com
a variável desfecho “dias entre cirurgia e alta”.
Para avaliar a correlação foram utilizados os testes de Pearson (variáveis contínuas e com distribuição normal) e Rho de Spearman (variáveis
categóricas). O método Stepwise foi selecionado
para definição do modelo mais explicativo. Foram avaliados os pressupostos para realização
desta análise como a colinearidade, a homogeneidade das variâncias, a distribuição dos dados
e a linearidade (21). A análise stepwise tem sido
considerada apropriada para estudos exploratórios (22). Uma análise de regressão logística foi
realizada para avaliar se estas mesmas variáveis
independentes poderiam ser preditoras da variável dependente “desfecho clínico final”.
Todos os cálculos foram feitos utilizando-se
o programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS, Chicago II, USA) versão 17.0, e o nível
de significância estatística foi fixado em α ≤ 0.05.
RESULTADOS
No período avaliado foram admitidos 231
idosos com diagnóstico de fratura proximal
de fêmur, sendo 100 (43,3%) com fratura de
colo do fêmur e 131 (56,7%) com fratura pertrocantérica. A média de idade foi de 80,82
355
Fratura proximal de fêmur em idosos
anos (DP=8,14), 65% (n=150) eram mulheres e 97,4% tiveram quedas como motivo da
fratura. As doenças associadas mais prevalentes foram: hipertensão arterial (66,7%),
história pregressa de acidente vascular encefálico (AVE) (20,8%), e quadros demenciais
(19,5%). As características da amostra estão
sumarizadas na Tabela 1.
Foram excluídos das análises subseqüentes 78 idosos (33,8%) que foram transferidos
para outras unidades hospitalares e não receberam tratamento no HURTN. Dos 153 restantes, 77% (n=118) receberam alta após tratamento e 23% (n=35) evoluíram com óbito.
Setenta e quatro (48,4%) idosos tratados
no hospital receberam atendimento de fisio-
Tabela 1. Características dos pacientes internados por fratura proximal de fêmur (N=231).
Característica
Idade
≤ 70 anos
71-80 anos
≥ 81 anos
Sexo
Masculino
Feminino
Tipo de fratura
Colo do fêmur
Pertrocantérica
Região de residência
Metropolitana de BH
Nordeste
Norte
Leste
Centro-sul
Noroeste
Pampulha
Venda Nova
Comorbidades
HAS
DAC
AVC
Diabetes Mellitus
Osteoporose
Parkinsonismo
OA
Depressão
DPOC
Delirium
Demência
N
%
19
97
115
8,22
41,99
49,78
81
150
35,1
64,9
100
131
43,3
56,7
96
22
27
2
1
2
32
49
41,50%
9,5
11,7
0,9
0,4
0,9
13,9
21,2
154
39
48
40
16
7
3
7
1
21
45
66,7
16,9
20,8
17,3
6,9
3
1,3
3
0,4
9,1
19,5
Legenda: BH - Belo Horizonte; HAS - hipertensão arterial sistêmica; DAC - doença arterial coronariana; AVC - acidente vascular cerebral; OA - osteoartrite; DPOC - doença pulmonar obstrutiva crônica
356
Geriatria & Gerontologia
terapia durante a internação. Entre os outros
profissionais da equipe, aqueles que mais
acompanharam essa amostra de pacientes
foram os nutricionistas com 20,26% (n=31)
dos idosos atendidos, psicólogos com 17,6%
(n=27), fonoaudiólogos com 12,4% (n=19),
seguidos dos odontólogos com 9,8% (n=15),
farmacêuticos com 2,6% (n=4) e terapeutas
ocupacionais com apenas 1,3% (n=2).
Apenas 4 idosos (2,6%) receberam tratamento conservador da fratura, sendo os demais submetidos à cirurgia de fixação com
artroplastia total de quadril (ATQ) em 21,6%,
Dynamic Hip Screw (DHS) (parafuso dinâmico de fixação de fraturas intertrocantéricas
do fêmur) em 26,8%, Proximal Femoral Nail
(PFN) (haste intramedular bloqueada) em
15,7%, entre outros. A média de dias entre
admissão hospitalar e procedimento cirúrgi-
co foi de 8,73 dias (DP=7,01) sendo que 40%
da amostra (n=61) tiveram pelo menos um
adiamento da cirurgia.
Os motivos de adiamento mais freqüente foram instabilidade clínica do paciente
(52,4%), falta de vaga no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) para o pós-operatório
(32,7%) e falta de vaga no bloco cirúrgico
(18%). Dentre os idosos que tiveram adiamento da cirurgia, 60% evoluíram com óbito
intra-hospitalar contra apenas 40% daqueles
que não adiaram o procedimento cirúrgico
(p=0,006). Além disso, a presença de adiamento configurou maior número de dias entre
cirurgia e alta, 10,08 dias ± 11,31 para quem
adiou contra 6,43 dias ± 7,58 para aqueles os
quais o procedimento cirúrgico não foi adiado (p=0,017) (Gráfico 1).
Gráfico 1. Comparação dos grupos com e sem adiamento do procedimento cirúrgico durante a internação, com relação ao numero
de pacientes com desfecho clinico de alta ou óbito, e quanto ao número de dias entre cirurgia e alta.
357
Fratura proximal de fêmur em idosos
O número de dias entre admissão do paciente e a realização da cirurgia teve coeficiente de correlação moderado e significativo
de 0,334 (p=0,0001) com o número de dias
entre cirurgia e alta e de 0,227 (p=0,024)
com o ASA, porém não teve correlação significativa com o desfecho final (0,010 p=0,917).
O desfecho clínico final se correlacionou de
forma estatisticamente significativa com a
idade do paciente com coeficiente de 0,247
(p=0,002) e com o ASA com coeficiente de
0,357 e p=0,000.
Em análise de regressão linear, apenas a
variável dias entre admissão e cirurgia mostrou contribuição significativa para a variável dias entre cirurgia e alta (R2= 0,112;
p=0,001). A variável índice ASA apresentou
correlação significativa, porém foi excluída do
modelo (t=-0,26; preditor β= -0,03; p=0,979).
Considerando a variável desfecho final, a análise de regressão logística encontrou a idade
(OR=1,08; p=0,021) e o índice ASA (OR=5,96;
p=0,001) como preditores de mortalidade. As
correlações e os resultados da análise de regressão estão descritos na Tabela 2.
Discussão
A faixa etária dos pacientes com diagnóstico de fratura proximal de fêmur variou
de 65 a 101 anos com média 80,96 anos (DP
8,11), um pouco superior à encontrada por
Muniz et al (78,64 anos) em outro hospital escola brasileiro 9. No presente estudo,
a idade foi independentemente associada
à mortalidade intra-hospitalar. No estudo
de Hannan (2001) a idade foi preditora de
locomoção independente até 6 meses após
alta hospitalar, mas não foi significantemente associada com a mortalidade 17. O próprio
autor discute que diferenças nos desfechos
encontradas entre as instituições de saúde
por ele avaliadas se explicariam pelos cuidados agudos e intra-hospitalares oferecidos,
podendo também ser esta a razão da contradição com nossos resultados.
A distribuição dos pacientes por sexo,
perto de uma taxa de 2:1 de mulheres para
homens foi um pouco mais equivalente que à
reportada pela literatura sobre o assunto 12.
Entretanto, amostras compostas por mulheres caracterizam cada vez mais o fenômeno
de feminização da velhice, discutido por Lima
e Bueno (2009) devido à grande vulnerabilidade desta população 20.
O principal tipo de fratura apresentado
neste estudo foi a peritrocanteriana com 86
(56,2%), e de colo de fêmur com 67 (43,8%)
casos, o que também corrobora a literatura
que apresenta as fraturas transtrocanterianas como sendo as mais freqüentes 14.
Tabela 2. Relações dias entre cirurgia e alta e desfecho clínico final com idade e dias entre admissão e cirurgia e ASA.
Dias entre cirurgia e alta
Variável
Correlação
CC
Idade (anos)
Dias entre admissão e cirurgia
ASA
p
-0,074
0,334*¥
0,227*£
¥
0,435
<,0001
0,024
Regressão
linear
β
p
0,336*
-0,003
<,0001
0,979
Desfecho clínico final
Correlação
CC
0,247*
0,01£
0,357£
£
Regressão logistica
p
β
OR
p
0,002
0,917
0,000
0,08*
1,785*
1,083
0,021
0,001
5,957
CC= coeficiente de correlação; * estatisticamente significativo; ¥ = Coeficiente de Pearson; £ = Coeficiente Rho de Spearman; OR= Odds Ratio; ASA= risco anestésico segundo a Sociedade Americana
de Anestesiologia.
358
Geriatria & Gerontologia
A mortalidade de 23% durante a internação encontrada pelo presente estudo foi elevada e muito superior à citada por Sakaki et al
(2004) em artigo de revisão 13, onde os autores ressaltam que a incidência de mortes neste
grupo é significativamente maior que no grupo
geriátrico geral. O mesmo estudo concluiu que
a existência de outras doenças crônicas nos
pacientes idosos no momento da fratura é um
fator prognóstico importante, sendo as afecções cardíacas e pulmonares, doenças renais,
diabetes mellitus e acidente vascular cerebral
(AVC) aquelas de maior influência na mortalidade observada 13. O presente estudo encontrou como comorbidades mais freqüentes no
grupo a hipertensão arterial (HAS) (66,7%), a
história pregressa de acidente vascular encefálico (AVE) (20,8%), e os quadros demenciais
(19,5%). Morghen et al (2011) encontraram
menor freqüência de aquisição de marcha independente em idosos com comprometimento
cognitivo após fratura de quadril 15, ressaltando a importância da prevalência dos quadros
demênciais na dificuldade na recuperação
funcional dessa população.
O tempo de espera para a cirurgia desde
a admissão em nosso estudo foi de média de
8,73 dias, tempo inferior ao encontrado por
Souza et al (14,8 dias)11. Segundo os autores,
o acréscimo de um dia no tempo de espera
para realização desse procedimento cirúrgico
aumentou a chance de óbito em cerca de 4%
entre os participantes da amostra pesquisada.
Apesar de esta associação ter sido apontada
pela literatura 11,13,15,16 , não existe um consenso sobre o papel do tempo de espera para ser
operado sobre a chance de óbito. No presente
estudo, o tempo para cirurgia não teve correlação significativa com o desfecho final óbito,
o que pode ser explicado por considerarmos
apenas o período de pós-operatório imediato,
diferente do estudo de Souza et al que considerou a mortalidade em 90 dias 11.
Ressaltamos, porém, que a presença de
adiamento do procedimento cirúrgico e um
maior número de dias entre a admissão e a
cirurgia configuraram maior número de dias
entre cirurgia e alta, indicando maior dificuldade de estabilização do paciente após
o procedimento e conseqüentemente maior
tempo de internação.
A literatura 11,12,13 também corrobora os
resultados deste estudo demonstrando que
o risco anestésico para cirurgia, indicando
a gravidade de doenças pré-existentes, também se mostrou um preditor da mortalidade
dos idosos com fratura de fêmur.
Já está bem descrita na literatura a necessidade de acompanhamento multidisciplinar
dos idosos vítimas de fratura proximal de fêmur 10,18, sendo que o tratamento fisioterápico
é indicado na prevenção de complicações e na
reabilitação do paciente. No presente estudo,
apenas 48,4% dos idosos tratados no hospital
receberam atendimento de fisioterapia durante a internação. O estudo de Zisberg et al
(2011) ressalta o potencial de contribuição adversa da hospitalização no declínio funcional
de idosos devido à mobilidade reduzida, isolamento sensorial, ambientação hostil, diminuição de ingestão nutricional, e outros fatores.
Os autores encontraram a baixa mobilidade
intra-hospitalar independentemente associada à maior declínio funcional nas atividades de
vida diária. Além disso, o gradiente de declínio
funcional de acordo com o nível de mobilidade
indicou um efeito-dose da mobilização intra-hospitalar nos desfechos funcionais 19.
O presente estudo tem várias limitações
referentes ao seu desenho. Por se tratar de
um estudo retrospectivo de análise de prontuários, as informações coletadas se restringem àquelas reportadas pelos profissionais
envolvidos no atendimento, perdendo-se assim informações importantes como escola-
Fratura proximal de fêmur em idosos
ridade, estado civil e funcionalidade prévia,
subnotificados nessa amostra. Além disso, a
ausência de acompanhamento longitudinal
não nos permite avaliar o impacto da fratura e
hospitalização na funcionalidade e mortalidade nos meses subseqüentes à alta hospitalar.
Em conclusão, os resultados do presente estudo mostraram alta mortalidade intra-hospitalar de idosos com fratura proximal
de fêmur, sendo esta associada à idade do paciente e ao risco cirúrgico. A presença de adiamento do procedimento cirúrgico configurou
maior tempo de hospitalização, indicando
que quanto maior o tempo entre a admissão e
a cirurgia, mais dias são necessários para alta
melhorada desses idosos, e com isso, maiores
gastos para instituição.
Estudos adicionais com desenho longitudinal devem ser realizados para identificar
fatores de risco pessoais ou relacionados ao
cuidado que influenciam maiores taxas de
mortalidade e morbidade dos idosos pós-hospitalização por fratura proximal de fêmur.
CONFLITO DE INTERESSE
Conflito de interesse: Os autores não
têm conflitos de interesse a declarar e não
receberam nenhuma retribuição financeira
para escrever este artigo.
359
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Flávia Cristina da Silva1, Celita Salmaso Trelha2, Josiane Moreira Germano3 e Mariana
Goeldner Grott4
RESUMO
Fisioterapeuta graduada pela
Universidade Estadual de
Londrina, Residente do Programa
Multiprofissional em Saúde da
Família
2
Fisioterapeuta, Doutora em
Ciências da Saúde, Professora
Adjunta da Universidade Estadual
de Londrina
3
Fisioterapeuta graduada pela
Universidade Estadual de
Londrina
4
Fisioterapeuta, mestranda do
Programa de Pós Graduação
em Ciências da Reabilitação
(Programa associado UELUNOPAR)
1
A instabilidade postural esta relacionada à ocorrência de quedas, incapacidade e fragilidade em idosos. Objetivo:
avaliar o equilíbrio e o medo de cair em idosos comunitários. Métodos: Participaram do estudo descritivo 58
idosos comunitários da cidade de Londrina/PR, com idade média de 73,3 DP= 7,52 anos, sendo 43 (74,1%)
mulheres e 15 (25,9%) homens. A amostra foi composta somente por idosos que não apresentaram déficit
cognitivo. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas domiciliares com aplicação dos seguintes
instrumentos: Mini-Exame do Estado Mental para avaliação das condições cognitivas, Avaliação da Mobilidade
Orientada pelo Desempenho para avaliação do equilíbrio estático e dinâmico, Escala de Eficácia de Quedas para verificar o medo de cair e questionário abordando aspectos sócio-demográficos e condições de saúde.
Resultados: Os indivíduos obtiveram bom desempenho na avaliação do equilíbrio e da marcha com mediana
de 52 pontos para a pontuação total, mediana de 35 para o domínio equilíbrio e 17 pontos para a marcha. A
investigação sobre o medo em cair apontou que 54 (93,1%) dos entrevistados apresentaram preocupação em
cair. Verificou-se associação significativa em relação aos diferentes graus de preocupação de cair e ocorrência de
queda. Conclusão: O presente estudo identificou bom equilíbrio nos idosos estudados, porém apesar do bom
desempenho na avaliação do equilíbrio estático e dinâmico a amostra apresentou elevado medo de cair e alto
índice de quedas.
Palavras-chave: Saúde do idoso, Equilíbrio postural, Acidentes por quedas.
ABSTRACT
The postural instability is related to the occurrence of falls, disability and frailty in elderly. Objective: the
assessment of the balance and fear of falling in elderly community. Methods: 58 community elderlies participated
of this descriptive study in the city of Londrina/PR, mean age 73.3 SD = 7.52 years, 43 (74.1%) women and 15
(25.9%) men. The sample included only older people who showed no cognitive impairment, data collection was
performed by interviews using the followings instruments: Mini Mental State Examination for assessment of the
cognitive conditions, Assessment of Mobility Performance to evaluate the static and dynamic range, Effectiveness
of Falls to verify the fear of falling and a questionnaire covering socio-demographic aspects and health conditions.
Results: The subjects had good performance in the assessment of balance and gait with a median of 52 points of
the total score, median of 35 for the domain balance and 17 points for gait. The research about fearing of falling
showed that 54 (93.1%) of the respondents had concerns about falling. There was a significant association to the
different degrees of concern about falling and occurrence of falls. Conclusion: This study identified good balance
in the elders studied, but despite the good performance in the assessment of static and dynamic balance the
sample showed high fear of falling and high rate of falls.
Keywords: Health Services for the Aged, Postural Balance, Accidental Falls.
Endereço para correspondência: Mariana Goeldner Grott. - Av JK 3117 - apto401. 86010-540 - Londrina-PR - (43)8437-2400 - [email protected]
362
Geriatria & Gerontologia
INTRODUÇÃO
O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial e na população brasileira não é
diferente, onde é possível observar crescimento mais elevado da população idosa em relação
aos demais grupos etários Organização Mundial da Saúde (OMS)1. Resultados preliminares
do Censo realizado em 2010, divulgado pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística2
(IBGE), comprovam que o Brasil é um país que
caminha rapidamente em relação ao processo
de envelhecimento populacional. O número de
idosos no ano de 1900 era de 3,3% da população total e atualmente essa faixa etária é de
aproximadamente 10% da população.
Diversos fatores são apontados na literatura como responsáveis por esse aumento,
entre eles destacam-se a queda da mortalidade infantil, a diminuição na fecundidade,
as melhorias nas condições sanitárias e nos
avanços relacionados à tecnologia médica
melhorando as condições de saúde3.
O processo de envelhecimento caracteriza-se pelo declínio das funções do organismo,
entretanto apesar desse processo não estar, necessariamente, relacionado a doenças e incapacidades, estas são frequentemente encontradas entre os idosos. Envelhecer é um processo
natural, gradual, irreversível e incontrolável de
declínio das funções fisiológicas4. Com a avançar da senescência esse processo dinâmico leva
a alterações morfológicas, funcionais e bioquímicas, resultando na redução da capacidade de
adaptações homeostática às situações de sobrecarga funcional, alterando progressivamente o organismo e tornando-o mais susceptível
às agressões intrínsecas e extrínsecas5.
Observa-se grande aumento de problemas de saúde em idosos, com repercussões
diretas no sistema de saúde pública e na
qualidade de vida desta população, apesar
de viverem mais, estes estão mais suscetí-
Equilíbrio e Medo de Cair em Idosos
veis a apresentar problemas, tanto relacionados à saúde física, como em relação aos
danos psíquicos6.
No decorrer do envelhecimento há um declínio importante na agilidade e no equilíbrio
pela diminuição da capacidade do sistema
neuromotor em iniciar, modificar ou finalizar
os movimentos. Esses componentes da aptidão
funcional são muito exigidos nas atividades da
vida diária e dependem de outras capacidades
físicas como: força, coordenação, flexibilidade
e velocidade. A diminuição destes fatores favorece o acontecimento de acidentes, dentre eles
destaca-se a ocorrência de quedas7, 8.
As causas das quedas são múltiplas e podem ser agrupadas em fatores extrínsecos
e intrínsecos, onde: fatores extrínsecos são
os que dependem de circunstâncias sociais
e ambientais que criam desafios ao idoso,
como obstáculos no caminho, piso escorregadio, iluminação inadequada, entre outras.
Geralmente, idosos não caem por realizarem
atividades perigosas como subir em escadas
ou cadeiras, e sim em atividades rotineiras,
como levantar da cama ou do vaso sanitário .
9
Os fatores intrínsecos são aqueles associados às alterações fisiológicas relacionadas
ao envelhecimento, às doenças crônicas e aos
efeitos causados pelo uso de fármacos. O surgimento de doenças pode ocasionar redução
da capacidade física e acarretar efeitos sobre o
controle postural e equilíbrio do indivíduo 9,10.
Segundo o banco de da­dos do Sistema
Único de Saúde/Ministério da Saúde (DATASUS), no Brasil, entre os anos de 1996 e
2005, 24.645 idosos mor­reram devido a
quedas, ocupando o terceiro lugar de mortalidade e o primeiro lugar entre as internações hospitalares11. Vale ressaltar que uma
parte significativa das quedas, pode não resultar em lesões graves, e não necessitarem
de assistência médica, então é provável que
muitas quedas permaneçam sem relatos e a
taxa da real incidência de quedas entre idosos seja subestimada 12,13.
Considerando que a queda no idoso pode
representar incapacidade, perda da função,
levar à síndrome de imobilidade, aumento do
número de internações, podendo levar o idoso até mesmo ao óbito. O presente estudo tem
por objetivo avaliar a qualidade do equilíbrio
e o medo de cair em idosos comunitários.
MÉTODOS
Foi realizado estudo descritivo, com
amostra por conveniência composta de indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos,
de ambos os gêneros cadastrados no Programa Saúde da Família (PSF) de uma Unidade
Básica de Saúde (UBS), localizada na região
central da cidade de Londrina/PR Os idosos
foram selecionados pela equipe de Agentes
Comunitários de Saúde (ACS) responsável
pelo território escolhido.
Com base nos critérios de exclusão, só participariam do estudo idosos que não apresentassem
afasia, distúrbios de compreensão, déficit visual
363
e auditivo, ausência de mobilidade ou marcha
dependente de dispositivos durante realização
dos testes, idosos institucionalizados, idosos alfabetizados que apresentaram pontuação menor
que 24 pontos e idosos não alfabetizados com
pontuação inferior a 18 pontos no Mini-exame
do Estado Mental 14, além dos que se recusassem
a participar do estudo. Foram identificados 69
idosos, destes 7 apresentaram alterações cognitivas segundo o MEEM, 2 não se encontravam no
domicilio no momento da entrevista e 2 se recusaram a participar da pesquisa. A amostra avaliada foi composta por 58 indivíduos.
A coleta de dados foi realizada na residência do individuo, por meio de entrevistas com
aplicação de questionário e testes para avaliar o
equilíbrio estático e dinâmico e o medo em cair.
Dois avaliadores participaram da pesquisa,
ambos capacitados por meio de instruções padronizadas para execução dos testes, bem como
para enquadrar os sujeitos nos critérios de inclusão e exclusão. Os instrumentos aplicados na
amostra de idosos comunitários para avaliação
do estado cognitivo, equilíbrio, medo de cair e
características sócio-demograficas podem ser visualizados na tabela 1.
Tabela 1. Instrumentos utilizados na avaliação do equilíbrio e medo de cair dos idosos. Londrina, 2011.
Mini-Exame do Estado Utilizado para avaliar as funções cognitivas. O escore varia de 0 a 30 pontos, sendo que valores mais baixos
apontam para possível déficit cognitivo. Idosos alfabetizados que apresentaram pontuação menor que 24
Mental (MEEM)
pontos e idosos não alfabetizados com pontuação inferior a 18 pontos foram excluídos 14.
Questionário sócioUtilizado para caracterização da amostra. O instrumento elaborado pelas autoras abordou aspectos referentes
a dados sócio-demográficos, condições de saúde e histórico de quedas nos últimos 12 meses.
demográfico
Avaliação da
Mobilidade orientada
pelo desempenho
(POMA)
Avalia separadamente em subescalas testes funcionais de equilíbrio e marcha. Os testes de equilíbrio
reproduzem as alterações das mudanças de posição do corpo no sistema vestibular durante a realização
das atividades de vida diária, como sentar e levantar, girar 360º e voltar à posição inicial, entre outras.
A pontuação de cada questão pode ser interpretada como: 3 pontos (normal), 2 pontos (adaptativo)
e 1 ponto (anormal). O escore total varia de 0 a 57 pontos, onde quanto menor a pontuação pior o
desempenho e baixas pontuações são preditivos de quedas recorrentes16 .
Verificou-se boa confiabilidade no estudo de adaptação transcultural para a população brasileira 17.
Escala de eficácia
de quedas –
internacional (FES-I)
Avalia o medo de cair durante o desempenho de dezesseis atividades da vida diária demonstrando a
confiança dentro de cada uma delas por meio de uma pontuação que varia de 1 (“não estou preocupado”)
a 4 (“extremamente preocupado”). O escore total pode variar de 16 a 64, no qual o valor 16 corresponde à
ausência total de preocupação. A escala foi traduzida e validada para a população brasileira e apresentouse semântica, linguística e psicometricamente adequada para avaliar o medo de cair na população de
idosos brasileiros da comunidade. 18.
364
Geriatria & Gerontologia
Para execução dos testes de equilíbrio e
avaliação da marcha foram utilizados cronômetro, uma régua com indicador de 30 centímetros e duas cadeiras sem apoio lateral.
A análise descritiva dos dados está apresentada conforme a distribuição de normalidade
(média e desvio-padrão ou mediana e quartis)
para dados contínuos e freqüência absoluta e relativa para dados categóricos. Para verificar a associação do medo de cair e a ocorrência da queda foi utilizado o teste do qui-quadrado 2x2 com
correção de Yates. O programa utilizado para se
fazer as análises estatísticas foi o SPSS v.15.
Todos os idosos incluídos na pesquisa
assinaram o termo de consentimento livre e
esclarecido. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
Estadual de Londrina (parecer nº 056/2011)
e está de acordo com os critérios do Conselho
Nacional de Saúde– Resolução 196/9615.
RESULTADOS
Participaram do estudo 58 idosos, sendo
43 (74,1%) do gênero feminino e 15 (25,9%)
do gênero masculino com idade média de
73,3 (± 7,52) anos. Sobre a prática de atividade física, 34 (58,6%) idosos negaram a prática de atividade física. As modalidades praticadas citadas foram: alongamento 11 (46,4%),
caminhada 8 (32,1%), dança terapêutica 3
(10,7%), musculação 2 (7,1%) e hidroginástica 1 (3,6%). A maioria dos participantes
39 (67,2%) referiu ter dores constantes em
um ou mais segmentos do corpo. As regiões
de maior queixa foram em membros inferiores (35,8%), seguido pela coluna vertebral
(28,4%), membros superiores (23,9%), cabeça (10,4%) e abdômen (1,5%).
O uso contínuo de medicamentos contínuos foi verificado em 53 (91,4%) idosos,
desses 16 (31%) relataram que o uso do mesmo causava algum tipo de mal-estar.
Na avaliação do equilíbrio e da marcha
realizada por meio do instrumento POMA,
os idosos obtiveram boa pontuação, demonstrando bom desempenho na realização dos
testes. A mediana de pontuação total para o
questionário foi de 52 pontos (1º quartil = 49;
3º quartil = 54). Em relação ao domínio equilíbrio, os participantes apresentaram pontuação alta, mediana de 35 pontos (1º quartil =
32; 3º quartil = 36,2). Para o domínio marcha
a mediana foi de 17 pontos (1º quartil = 16;
3º quartil = 18), sendo que 58 (100%) dos
idosos mostraram-se independentes e estáveis para deambulação.
A presença de quedas, características como
causas, local e conseqüências nos últimos doze
meses, podem ser observadas na tabela 2.
A investigação sobre o medo de cair realizado pela FES-I Brasil apontou que 54
(93,1%) dos entrevistados apresentavam
preocupação em cair, no mínimo em uma das
16 tarefas. As atividades como subir e descer
degraus e andar em superfícies irregulares e
escorregadias foram as mais citadas. Na Tabela 3 pode-se visualizar os resultados encontrados sobre os diferentes graus de preocupação em cair e da presença de quedas.
Sobre a análise da relação entre os diferentes graus de preocupação de cair e a ocorrência de queda foi encontrada uma associação (x2correção Yates = 6,11; P = 0,01), sendo que
os participantes que relataram preocupação
extrema em cair foram os que apresentaram
maior número de queda.
Discussão
A ocorrência de quedas nos idosos avaliados
nos últimos doze meses foi de 46,6%, em relação
ao uso de medicamentos contínuos 16 (31%) relataram que o uso do mesmo causava algum tipo
de mal-estar, mas não foi verificada relação direta entre o uso de medicação e a queda. Do total
365
Equilíbrio e Medo de Cair em Idosos
Tabela 2. Características das quedas em idosos segundo o local, causas e complicações. Londrina, 2011
Variáveis
n
%
Presença
27
46,6
Ausência
31
54,4
Domicilio
19
70
Ambiente externo
8
30
Obstáculos
10
37,5
Instabilidade Postural
8
25
Tonturas ou desmaio
4
12,5
Falta de atenção
2
10
Dificuldade marcha
1
5
Piso molhado
1
5
Problemas de visão
1
5
Presença
13
48,1
Ausência
14
51,9
Cortes e escoriações
7
32,8
Hematomas e edema
7
31,8
Dor
6
27,2
Fratura e entorse
2
9,1
Quedas
Local de ocorrência
Causa referida
Complicações
Tipos de Complicações
Tabela 3. Distribuição dos diferentes graus de preocupação em cair e da ocorrência de quedas nos últimos doze meses nos idosos
comunitários. Londrina, 2011.
FES-I Brasil
Queda no
último ano
Nenhuma
preocupação
Muita
Preocupação
Preocupação
extrema
Total
Ausência
3
21
7
31
Presença
1
11
15
27
Total
4
32
22
58
366
Geriatria & Gerontologia
da amostra, 93,1% relataram ter medo de cair. O
que pode ser justificado, pois grande parte dos
idosos que apresentaram medo no presente estudo já haviam sofrido quedas que causaram sequelas lesionais e estas repercutem em aumento
expressivo do medo 19. Embora os dados apontem que mesmo idosos que não sofreram quedas
também apresentaram medo de cair.
Em relação à ocorrência das quedas, os
dados do presente estudo corrobora com o
estudo realizado por Siqueira et al., em 2005
onde a prevalência de quedas foi de 34,8% em
amostra composta por 4.003 idosos comunitários de 41 municípios com mais de 100 mil
habitantes de sete estados brasileiros 20.
Quanto ao local de ocorrência das quedas
os resultados do presente estudo demonstram que 70,0% ocorreram no ambiente domiciliar. Muitas quedas são acidentais, ocorrem dentro de casa ou em seus arredores e
geralmente, durante o desempenho de atividades cotidianas como caminhar, mudar de
posição e ir ao banheiro. Isso se deve ao fato
dos idosos diminuírem a atenção durante a
realização das tarefas, ou estarem com pressa
em desenvolver as atividades, deixa-os mais
vulneráveis a acidentes1.
Os maiores prejuízos quanto às quedas
relacionam-se às complicações que a mesma
pode gerar. Neste estudo foi possível identificar diversas complicações e as principais foram
escoriações, hematomas, torções e fraturas. Os
estudos realizados com idosos descrevem essas
mesmas complicações como desfecho 20,21,22.
O estudo realizado por Santos et al23 em
Florianópolis/SC comparou complicações
após quedas em idosos sedentários e idosos
praticantes de atividade física e os resultados
corroboram com os deste estudo. Os autores
verificaram ainda que o grau de complicação nos idosos sedentários foi mais elevado
quando comparado a idosos que praticavam
exercícios. Idosos ativos apresentam complicações mais leves em relação às possíveis
consequências que a queda pode acarretar.
Verifica-se, que a atividade física influencia de forma positiva na prevenção e nas consequências destes acidentes23. Nos idosos
estudados, foi possível observar que 41,4%
referiram ser ativos, esse dado pode ter refletido positivamente na baixa incidência de
complicações graves, como fraturas.
O hábito de praticar atividades físicas encontrado na maioria dos idosos entrevistados
também pode justificar o bom desempenho
na avaliação do equilíbrio e da marcha. Vários
autores concordam que a participação em atividade física regular, por meio de exercícios
aeróbios, de força e de flexibilidade, seja uma
intervenção efetiva para reduzir ou prevenir
declínios funcionais associados ao envelhecimento,23,,24,25. Os principais benefícios da atividade física regular para idosos são: redução do
risco de doenças cardiovasculares, osteoporose, obesidade, risco de quedas e suas lesões e
a prevenção de limitações funcionais 24, 25. De
acordo com a literatura, a prática de atividade
física é o principal meio para promover a saúde nos idosos, sendo uma proposta de intervenção eficaz na prevenção das quedas 23.
Além das consequências físicas ocasionadas pelas quedas danos psicológicos também
são observados e o principal prejuízo citado na
literatura é o medo em cair. Diversos estudos
revelam que a preva­lência do medo de cair na
população idosa varia de 20% a 85% 10, 26, 27.
Nesse estudo quase todos os idosos apresentaram medo de cair em, no mínimo, uma das 16
tarefas propostas pela FES-I-Brasil18. Os idosos
afirmaram com maior frequência a preocupação nas questões que abordavam a realização
de atividade como andar em uma superfície
escorregadia, caminhar sobre uma superfície
irregular, subir e descer escadas e durante o
Equilíbrio e Medo de Cair em Idosos
banho. Tais informações estão de acordo com
esse estudo, que verificou quanto às principais
causas da queda: barreiras arquitetônicas ou
obstáculos e piso molhado.
O medo de cair é atualmente uma consequência destacada por vários autores e está
relacionado a qualidade de vida do idoso, entretanto existe controvérsia entre os autores
em relação ao momento de aparecimento do
medo em cair. Poucos estudos defendem a
idéia de que o mesmo é um evento independente de uma experiência passada de quedas
outros relatam que o medo pós-queda está
associado ao tipo da queda e não a queda propriamente dita. Atualmente, a maioria dos estudos sobre este tema aponta o medo em cair
associado à experiência de cair. Outros autores destacam que o medo após a queda pode
trazer consigo não somente o medo de novas
quedas, mas também de machucar-se, ser
hospitalizado, ter declínio de saúde e tornar-se dependente de outras pessoas 10,28,29,30,31.
,
Com base nas variáveis do estudo, uma
parcela pequena da amostra não referiu nenhum medo de cair, sendo que dos quatro indivíduos que negaram preocupação em todas
as questões da escala FES-I, três deles não havia sofrido nenhuma queda no ultimo ano. A
prevalência de idosos preocupados em cair foi
semelhante em relação a presença ou não de
quedas, tanto entre os idosos que já haviam
caído como naqueles que nunca tiveram histórico de quedas. Porém, quando analisados
somente as respostas referentes ao nível máximo de preocupação, os idosos que já haviam
sofrido queda demonstraram mais preocupados em relação aos que nunca sofreram.
A ocorrência de quedas acompanhada
pelo medo em cair pode acarretar menos
confiança na capacidade de caminhar e executar atividades de vida diária, favorecendo
o surgimento de depressão, sentimentos de
367
desamparo, isolamento social, imobilidade
desnecessária conseguintemente, levando
a uma perda da qualidade de vida 30,31. Com
base na literatura e nos resultados desse estudo, foi possível verificar que a partir de uma
queda os idosos estão propensos a complicações como danos físicos, psicológicos, sociais
e econômicos, gerando uma reação em cadeia
de prejuízos a qualidade de vida dos idosos.
O medo de cair é um problema de saúde frequente e significativo em idosos. Os instrumentos de avaliação utilizados são de fácil reprodutibilidade e de baixo custo. Este estudo apresentou como limitação o fato de avaliar somente
idosos comunitários com mobilidade preservada e independente de dispositivos para a marcha, não sendo inclusos os idosos com mobilidade não totalmente preservada e que utilizam
dispositivos para a marcha e estes podem estar
entre aqueles que mais têm medo de cair.
Neste estudo a qualidade do equilíbrio não
teve influencia sobre a ocorrência de quedas
e o medo em cair, considerando que os participantes apresentaram bom desempenho nos
teste de equilíbrio e marcha. Verificou-se elevado índice de ocorrência e medo de cair na
população estudada e associação estatisticamente significativa entre estes desfechos.
Os resultados encontrados mostram a importância da avaliação do medo de cair e do
equilíbrio na prática clínica como instrumentos de rastreio.
CONFLITO DE INTERESSE
Declaramos que não há de conflito de interesse.
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Equilíbrio e Medo de Cair em Idosos
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Timed Up and Go com e sem tarefa dupla em idosas caidoras
Artigo Original
Tarefa dupla em idosas da comunidade:
comparação do desempenho no Timed Up and
Go entre caidoras e não caidoras
Dual task in dwelling-elder women: analysis of the Timed Up and Go between fallers and non fallers
Adriana Netto Parentoni1, Lygia Paccini Lustosa2, Bárbara Oliveira Zambaldi3, Letícia Soares
Cavalieri3, Nayara Campos Luiz3, Rita de Cássia Guedes3
RESUMO
Departamento de Fisioterapia
da Universidade Federal dos
Vales do Jequitinhonha e Mucuri,
Diamantina, MG, Brasil.
2
Departamento de Fisioterapia
da Universidade Federal de Minas
Gerais, MG, Brasil.
3
Departamento de Fisioterapia
do Centro Universitário de Belo
Horizonte, MG, Brasil.
1
Objetivo: Avaliar o desempenho funcional durante a realização do teste Timed Up and Go (TUG) das seguintes
formas: isolada, associada à tarefa dupla motora e associada à tarefa dupla cognitiva, comparando idosos com
história de quedas, sem história de quedas e aqueles com temor cadenti. Métodos: Participaram idosas da
comunidade, sem distinção, sem restrição étnica ou condição social. Excluíram-se alterações cognitivas por meio
do miniexame do estado mental (Meem); marcha dependente; alterações visuais/auditivas não compensadas;
dores musculoesqueléticas agudas; hipotensão postural; uso de medicações que interferissem no equilíbrio. Todas
realizaram o TUG, TUG associado a carregar um copo completo de água (tarefa motora), TUG associado a falar nome
de animais (tarefa cognitiva). A comparação entre grupos foi realizada por meio de Anova (α = 5%). Resultados:
Participaram 36 idosas da comunidade (70,17 ± 6,25 anos), sendo seis caidoras, vinte não caidoras e dez com a presença
de temor cadenti. Na comparação dos três grupos, nos três momentos de teste, não houve diferença estatística (p > 0,05).
Na comparação intragrupo, observou-se apenas pior desempenho no TUG cognitivo em relação ao TUG simples (p = 0,01).
Demais análises não foram significativas. Conclusão: Idosas caidoras, não caidoras e com a presença do temor cadenti
não apresentaram diferença no desempenho funcional. Idosas caidoras foram piores no desempenho durante o TUG
cognitivo quando comparado ao TUG simples, sugerindo necessidade de treinamento específico.
Palavras-chave: Idoso fragilizado, equilíbrio postural, mulheres.
ABSTRACT
Objective: Evaluating the functional performance during the accomplishment of Timed Up and Go (TUG) test, first
in an isolated way, then associated with motor dual task, and after associated with cognitive dual task in order to
compare elderlies with fall history, no fall history and those ones with “cadentis tremble”. Methods: Elderly women
from the community, with no distinction of race and social class participated of this study. The ones with cognitive
alterations (Meem), dependent march, visual alterations, not compensated hearing, acute muscle-skeletal pain,
use of medications that interfere on the balance were excluded. All of them accomplished the TUG, TUG associated
with carrying a complete glass of water (motor task), TUG associated with saying animal names (cognitive task). The
comparison between groups was made through ANOVA (α = 5%). Results: Thirty-six community elderlies (70.17 ±
6.25 years) participated of this study: six of them were classified as fallers, twenty as non fallers and ten with presence
of “cadenti tremble” presence. When compared the three groups, in the three different moments of the test, there was
not any statistic difference (p> 0.05). In the intra-group comparison, during the three moments of the test, it was
observed a statistic difference on the fallers group, being this difference between the simple TUG and the cognitive
TUG (p = 0.01). Other analysis were not significant enough. Conclusion: Faller elders, non fallers and the ones with
the “cadenti tremble” presence were not different in relation to functional performance. Faller elderlies showed a worse
performance on the cognitive TUG when compared to the simple TUG, suggesting the necessity of a specific training.
Keywords: Frail elderly, postural balance, women.
Endereço para correspondência: Lygia Paccini Lustosa - Rua Álvares de Azevedo, 122 – Lagoinha – Belo Horizonte – MG – Brasil - CEP: 31110-290 - Tel.: (31) 9983-1854
E-mail: [email protected]
INTRODUÇÃO
O envelhecimento populacional e o aumento da expectativa de vida vêm sendo amplamente discutidos em âmbito mundial.1,2 O
processo de envelhecimento fisiológico inclui
alterações nos sistemas corporais que levam
à redução das funções orgânicas que, isoladamente ou associadas às doenças crônico-degenerativas, resultam em incapacidade funcional;
alterações da marcha, postura e equilíbrio; aumento do risco de quedas; comprometimento
da independência, autonomia e da qualidade
de vida.1,2 Podem ocorrer alterações da habilidade do sistema nervoso central em realizar o
processamento dos sinais vestibulares, visuais
e proprioceptivos, responsáveis pela manutenção do equilíbrio corporal e pela capacidade de adaptação.3 Nesse contexto, sabe-se que
um dos principais fatores que limitam a vida
independente do idoso é a instabilidade postural. No entanto, 80% dos casos não podem ser
atribuídos a uma causa específica, mas, sim, a
um comprometimento de múltiplos sistemas
necessários para sua manutenção. Estatisticamente, mais da metade dos casos de instabilidade postural têm origem entre os 65 e os 75
anos,2,3 o que transforma o fenômeno “quedas
em idosos” em uma das maiores preocupações, não só por sua frequência, mas também
pelas consequências deletérias em relação à
qualidade de vida.4,5 Além disso, os idosos restringem suas atividades devido ao medo de
cair e pelas atitudes protetoras dos familiares
e cuidadores.1-5
Bandura et al.6 definiram o medo de cair –
temor cadenti – como uma baixa confiança em
evitar quedas ou uma grande preocupação
sobre as quedas que pode limitar o desempenho das atividades do dia a dia. Além disso,
o temor cadenti pode ser interpretado como
uma sensação premonitória que pode paralisar o indivíduo ou contribuir para um menor
desempenho funcional.6
371
O controle postural foi definido como o
controle relativo à posição do corpo no espaço com a finalidade de equilíbrio e orientação.7 Essa condição foi considerada, tradicionalmente, uma tarefa controlada por reflexo
automático, sugerindo mínima utilização dos
recursos de atenção. No entanto, estudos demonstraram que se duas tarefas são realizadas simultaneamente, além da exigência do
controle da capacidade global, pode haver
comprometimento do desempenho em uma
ou em ambas as tarefas realizadas.8-10
Assim, uma série de tarefas motoras e
cognitivas, de variada complexidade, vem
sendo utilizadas de forma concomitante, durante a avaliação do desempenho funcional
de idosos. Como exemplos de tarefas motoras podem ser citados: transferir moedas
de um bolso para outro; carregar um copo
com água; carregar uma bandeja com quatro
copos de plástico; entre outras. Em relação
às tarefas cognitivas a serem realizadas associadamente, encontram-se: repetir sentenças; repetir os dias da semana em ordem
inversa; falar nomes de animais; formar palavras e sentenças após ouvir um avaliador
soletrando-as; contar regressivamente de
três em três ou de sete em sete; somar de
dois em dois; responder a estímulos auditivos diferenciando os tons altos dos tons baixos; entre outros.7,11-14
Os testes de desempenho avaliam objetivamente vários aspectos da função física,
sendo o teste de caminhada (TC), o Timed
Up and Go (TUG) e o teste de sentar-levantar
(TSL) os mais utilizados na prática clínica e
em pesquisas.14-17 No entanto, são raros os estudos que utilizam esses testes investigando
a influência da tarefa dupla, apontando para a
importância em estudá-los.18-22 A maioria dos
estudos utiliza a análise de marcha18-22, mas
não os testes de equilíbrio e desempenho
como o TUG. Da mesma forma, não existem
372
Geriatria & Gerontologia
evidências a respeito das diferenças na realização desses testes associados à tarefa dupla,
comparando-se também idosos com histórico
de quedas.
Portanto, o objetivo deste estudo foi avaliar
o desempenho funcional de idosas durante a
realização do teste em três condições: TUG
de forma isolada; associada à tarefa dupla de
natureza motora; e associada à tarefa dupla
de natureza cognitiva. Além disso, foi realizada a comparação de idosos com história
de quedas, sem história de quedas e aqueles
com temor cadenti.
MÉTODO
Trata-se de um estudo de coorte transversal, aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa do Centro Universitário de Belo Horizonte, com o Parecer n. 106/2008. Utilizou-se uma amostra de conveniência recrutada
na clínica-escola de uma instituição particular de ensino superior. Todas as voluntárias
assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Elas foram submetidas ao
teste TUG de forma isolada, associado a uma
tarefa motora e associado a uma tarefa cognitiva. A sequência dos testes foi sorteada para
cada uma das voluntárias. Os testes foram
realizados sempre no mesmo horário, com
as voluntárias usando os calçados habituais
e realizados sob orientação de pesquisadores
previamente treinados.
Amostra
Foram recrutadas idosas com idade igual
ou superior a sessenta anos, sem distinção
de etnia e/ou condição social, sedentárias,
residentes na comunidade. Os critérios de
exclusão foram escore inferior ao esperado
para sua escolaridade no miniexame do estado mental23; dor no momento dos testes que
incapacitasse sua realização; doenças musculoesqueléticas agudas autorrelatadas ou com
diagnóstico médico prévio; doenças neurológicas; úlceras em membros inferiores; incapacidade de permanecer em ortostatismo ou
deambular seis metros de distância, sem dispositivos de auxílio à marcha; incapacidade
de levantar de uma cadeira com braços sem
ajuda de terceiros e que estivessem em uso
de medicamentos que interferissem em seu
equilíbrio, como sedativos, psicotrópicos, ansiolíticos, tranquilizantes. Além disso, as voluntárias foram submetidas a uma avaliação
fisioterápica prévia. Aquelas que apresentaram alterações cardíacas e pulmonares agudas e não controladas, que interferissem nos
testes, assim como alterações vestibulares e
hipotensão postural, foram automaticamente
excluídas.
Medidas e desfechos
Para avaliar o desempenho funcional
utilizou-se o TUG que verifica a mobilidade
e a capacidade funcional do idoso.16,24 As voluntárias foram instruídas a levantar de uma
cadeira padrão (46 cm de altura), andar três
metros à frente, dar a volta, retornar e sentar, voltando a apoiar o tronco no encosto da
cadeira. O tempo despendido para a tarefa foi
mensurado em segundos. A literatura aponta uma excelente confiabilidade inter e intra-avaliador do TUG (CCI > 0,90).24
Os testes com associação da tarefa dupla
foram realizados com a mesma metodologia
descrita anteriormente. Para o TUG associado
à tarefa motora, foi solicitada à voluntária que
realizasse o teste segurando um copo cheio
com 150 mL de água sem que houvesse perda
do líquido durante o percurso.
Para a realização do TUG associado à tarefa cognitiva, a voluntária repetiu o teste falando em todo o seu percurso nome de dife-
Timed Up and Go com e sem tarefa dupla em idosas caidoras
rentes animais. Nesse caso, além de marcar o
tempo despendido na tarefa, o avaliador contou quantos nomes de animais foram mencionados. Não foram considerados animais do
mesmo gênero e/ou repetidos.
O examinador explicou cada um dos testes de forma pausada, certificando-se do entendimento da voluntária. Cada teste foi realizado apenas uma vez. Houve um intervalo
de cinco minutos entre cada um dos testes,
no intuito de minimizar o efeito da fadiga. A
sequência dos testes foi sorteada para cada
participante.
Para classificar as idosas em caidoras e
não caidoras foi feita a seguinte pergunta:
“A senhora teve alguma queda nos últimos
seis meses?” Se a resposta fosse afirmativa,
eram questionadas quantas quedas haviam
ocorrido nesse período. Para verificar o temor cadenti foram realizadas as perguntas:
“A senhora tem medo de cair? A senhora deixou de fazer alguma coisa por medo de cair?
O medo de cair a impede de sair de casa? A
senhora anda sozinha na rua?”
Foram consideradas como portadoras de
temor cadenti as voluntárias com pelo menos
duas respostas positivas. A opção em utilizar
dados autoinformados deveu-se à ausência
de instrumentos validados e adaptados para
o português do Brasil, na literatura, no momento da realização deste trabalho, para
avaliar esse constructo. Como foi utilizado o
Meem como critério de exclusão, para indivíduos com possíveis alterações cognitivas,
acreditou-se que a informação autorrelatada
não acrescentou viés na informação. Dessa
forma, as voluntárias foram estratificadas
em três grupos distintos para as análises estatísticas: grupo de caidoras (CC); grupo de
não caidoras e sem a presença do temor cadenti (NCSTC); e grupo de não caidoras com
o relato do temor cadenti (NCCTC).
373
Análise estatística
Este estudo faz parte de um projeto de
pesquisa mais amplo que vai comparar idosos
e jovens em diferentes situações de desempenho funcional e marcha. O cálculo amostral
foi realizado com base em um estudo-piloto
prévio, para comparar situações diferenciadas dos testes, considerando um intervalo de
confiança de 95% e erro de 20%. O cálculo
demonstrou a necessidade da participação de
32 voluntárias no grupo de idosas.
Os dados foram apresentados por meio
de estatística descritiva e percentual. Para
verificar a normalidade dos dados, realizou-se o teste de Shapiro-Wilk. A comparação das
medidas de desempenho (TUG, TUG motor e
TUG cognitivo), intra e intergrupos, foi realizada por meio de Anova de medidas repetidas
e test t como post hoc. O nível de significância
considerado foi de 5%.
Resultados
Foram avaliadas 36 idosas da comunidade com média de idade de 70,17 (± 6,25) anos
e média no Meem de 24,94 (± 3,94). Além da
comparação entre as três situações de teste,
o grupo foi estratificado de acordo com a história de quedas e presença de temor cadenti. Seis (16,67%) foram classificadas como
caidoras, vinte (55,56%) como não caidoras e sem a presença do temor cadenti e dez
(27,77%) como não caidoras mas com a presença do temor cadenti. A média de idade e o
escore do Meem de cada grupo encontram-se
na Tabela 1, demonstrando que não houve diferença estatística entre os grupos em relação
a essas variáveis (p > 0,05).
Após a comparação entre os grupos de
caidoras (CC), não caidoras sem temor cadenti (NCSTC) e não caidoras com temor cadenti
(NCCTC) não foram observadas diferenças es-
374
Geriatria & Gerontologia
tatísticas (p > 0,05). Os valores encontram-se
na Tabela 2. Quando realizada a comparação
das medidas do TUG, TUG motor e TUG cognitivo, intragrupo, observou-se diferença es-
Timed Up and Go com e sem tarefa dupla em idosas caidoras
tatística somente no grupo de idosas caidoras, sendo essa diferença encontrada entre a
realização do TUG simples e do TUG cognitivo (p = 0,01) (Tabela 3).
Tabela 1. Média de idade e escore do Meem do grupo de idosas caidoras, não caidoras sem temor cadenti e não caidoras com temor
cadenti e valores estatísticos da comparação dos grupos
CC
(n = 6)
NCSTC
(n = 20)
NCCTC
(n = 10)
P
Idade (anos)
69,5 ± 5,5
70,2 ± 5,8
70,6 ± 7,9
0,95
Meem
26, 7 ± 2,8
24,6 ± 3,7
24,6 ± 4,9
0,52
Meem: miniexame do estado mental; n: número amostral; p: valor estatístico; CC: idosas caidoras; NCSTC: idosas não caidoras sem temor cadenti; NCCTC: idosas não caidoras com temor cadenti.
Tabela 2. Média e desvio-padrão do tempo despendido para a realização dos testes TUG nas formas simples, dual motora e dual
cognitiva e sua comparação com idosas caidoras, não caidoras e com temor cadenti e valores estatísticos
CC
(n = 6)
NCSTC
(n = 20)
NCCTC
i(n = 10)
P
TUG (segundos)
11,2 ± 1,4
11,7 ± 3,4
13,0 ± 3,9
0,47
TUG motor (segundos)
12,3 ± 1,2
13,0 ± 4,1
14,3 ± 4,8
0,58
TUG cognitivo (segundos)
14,6 ± 2,2
13,7 ± 4,1
14,7 ± 4,4
0,74
TUG: Timed Up and Go; n: número amostral; p: valor estatístico; CC: idosas caidoras; NCSTC: idosas não caidoras sem temor cadenti; NCCTC: idosas não caidoras com temor cadenti.
Tabela 3. Comparação entre dos testes TUG nas formas simples, dual motora e dual cognitiva considerando o grupo de idosas
caidoras, não caidoras e com temor cadenti e valores estatísticos
TUG
(segundos)
TUG motor
(segundos)
TUG
cognitivo
(segundos)
P
Caidora (n = 6)
11,2 ± 1,4
12,36 ± 1,2
14,6 ± 2,2
0,01*
Não caidora (n = 20)
11,7 ± 3,4
13,0 ± 4,1
13,7 ± 4,1
0,26
Temor cadenti (n = 10)
13 ± 3,9
14,3 ± 4,8
14,7 ± 4,4
0,68
TUG: Timed Up and Go; n: número amostral; p: valor estatístico; * indica diferença significante.
DIsCUSSÃO
O presente estudo verificou o desempenho funcional no TUG simples e em duas
modalidades de tarefas duais. Os resultados
demonstraram pior desempenho de idosas
caidoras ao realizar o TUG cognitivo quando comparado ao TUG simples. Alguns estudos têm identificado modificações em
parâmetros da marcha,21 sendo este considerado um preditor de quedas. No entanto,
não encontramos estudos que analisaram o
TUG associado às tarefas duais para a comparação dos resultados.
Sabe-se que tarefas primárias assim com
as secundárias ocorrem por processos neuronais similares, podendo ocorrer prejuízo de uma ou ambas quando realizadas em
conjunto ou quando existe a necessidade de
priorização de uma em relação a outra.20,24,25
Yogev-Seligmann et al.20 demonstraram diminuição da velocidade de marcha e aumento
da sua variabilidade, com maior instabilidade
do passo, em jovens e idosos quando foram
solicitados a realizar atividade cognitiva enquanto caminhavam. Da mesma forma, Lamoth et al.19 encontraram as mesmas alterações
ao compararem idosos com e sem alterações
cognitivas, sendo as alterações na marcha
mais pronunciadas naqueles com comprometimento cognitivo. No presente estudo, não foi
observada diferença significativa no desempenho do TUG, a não ser no grupo de idosas
que apresentavam relato de quedas. Em conformidade com os autores citados, pode-se inferir que esses resultados são decorrentes de
uma maior complexidade da tarefa cognitiva
para o idoso, interferindo na capacidade funcional, pela demanda de maior concentração.
Neste caso, pode-se supor que idosas que já
apresentavam relato de quedas provavelmente apresentavam também maior variabilidade
da marcha, explicando as diferenças encon-
375
tradas. No entanto, como essas variáveis não
foram avaliadas neste estudo, essa afirmação
é apenas uma especulação, devendo ser avaliada em estudos futuros.
Ainda nesse contexto, pode-se supor que
ocorre uma competição da tarefa secundária
com a efetividade da resposta motora e da aferência sensorial para manter o equilíbrio e a
possibilidade de execução da tarefa em tempo
adequado.24-26 Essa condição poderia interferir na habilidade do indivíduo em realizar a
tarefa, necessitando de maior tempo, o que
caracteriza, assim, uma perda funcional.24-27
Apesar de não ser possível, por meio do presente estudo, estabelecer o tempo de latência
de cada uma das tarefas realizadas – motora e
cognitiva, a ausência de diferença observada
na tarefa dupla motora sugere haver um nível
inferior de complexidade entre a tarefa de realizar marcha e executar outro ato motor.
Por outro lado, o fato de não ser observada diferença entre os grupos das idosas com
relato de quedas, não caidoras e com a presença do temor cadenti sugere que o nível de
independência das idosas avaliadas era semelhante.24-27 Reelick et al.22 demonstraram
que o medo de cair não interferiu no desempenho da marcha, mesmo quando os indivíduos realizavam outra atividade. Os autores
relataram que a diminuição da velocidade
de marcha, em indivíduos com medo de cair,
provavelmente foi uma adaptação para otimizar a perda do equilíbrio decorrente da
instabilidade postural.22 No presente estudo, não foram avaliados e controlados o grau
de independência, assim como as alterações
específicas dos parâmetros da marcha, podendo estes constituir limitações do estudo.
Dessa forma, novos estudos devem ser realizados no sentido de explorar melhor a influência das tarefas duais em indivíduos com
níveis funcionais diferenciados.
376
Geriatria & Gerontologia
Outro fator a ser considerado é a discrepância no tamanho dos grupos avaliados.
Para haver alocação nos grupos, utilizou-se a informação autorrelatada, que, muitas
vezes, principalmente em idosos, pode ser
considerada como um viés de memória. No
entanto, como no momento da realização
desse estudo, não existiam instrumentos
validados para esse constructo, optou-se
pela entrevista autorrelatada, tendo a preocupação em excluir indivíduos com a possibilidade de alterações cognitivas. No entanto, a discrepância em relação ao tamanho
dos grupos analisados pode ter sido uma
limitação do estudo, devendo haver cautela
em relação à generalização dos resultados.
Da mesma forma, há necessidade de se analisar grupos maiores de voluntários.
Do ponto de vista da aplicabilidade clínica, apesar de os resultados não permitirem uma generalização para outros grupos
de idosos, pode-se inferir sobre a interferência da atividade cognitiva no desempenho funcional de idosos que caem. Dessa
forma, pode-se pensar na necessidade de
desenvolver treinos específicos que contemplem a tarefa dual, durante a marcha,
além de treinos funcionais.
CONCLusão
Os resultados demonstraram que idosas
caidoras, não caidoras e com a presença do temor cadenti não foram diferentes em relação
ao desempenho funcional. No entanto, na
amostra pesquisada, idosas caidoras apresentaram pior desempenho funcional durante a
realização do TUG cognitivo, sugerindo uma
maior complexidade dessa tarefa. Pode-se inferir com cautela em relação à generalização
dos resultados de que existe maior interferência da atividade cognitiva no desempenho
funcional de idosos que caem, sugerindo uma
maior atenção aos treinos específicos que
contemplem a tarefa dual nos programas funcionais para idosos.
CONFLITO DE INTERESSE
Os autores declaram não haver conflito de
interesse.
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Função muscular periférica e força muscular respiratória de idosas
Artigo Original
Associação entre desempenho físico muscular,
força muscular respiratória e capacidade
funcional de idosas da comunidade
Association between physical muscle performance, respiratory muscle strength and functional capacity of
elderly individuals in the community
Renata Helena Tiburcio1, José Rubens Rebelatto1, Karina Rabelo da Silva1, Graziella França
Bernardelli Cipriano2, Karla Helena Coelho Vilaça2
RESUMO
1
Departamento de Fisioterapia
da Universidade Federal de São
Carlos (UFSCar), SP, Brasil.
2
Programa de Pós-graduação em
Gerontologia da Universidade
Católica de Brasília (UCB), DF,
Brasil.
Objetivos: Avaliar a relação do desempenho físico de MMII com a força muscular respiratória e a capacidade
funcional de idosas saudáveis da comunidade. Métodos: Foram avaliadas 24 idosas, com média de idade de
66,17 ± 4,22 anos. Para análise da avaliação da força muscular de MMSS, utilizou-se o teste de preensão manual
e para avaliar o desempenho de membros inferiores o instrumento short physical performance battery (SPPB). A
pressão respiratória máxima foi realizada por meio da manovacuometria, e a capacidade funcional por meio do
teste de caminhada de seis minutos (TC6). Resultados: O IMC foi de 26, 51 ± 5,2 kg/m², a força de preensão
manual 23,15 ± 5,57 kgf, a pontuação total média da SPPB encontrada foi de 10,58 ± 1,67 pontos, e a PImáx 57,29
± 18,47 cmH2O e da PEmáx 74,59 ± 19,11 cmH2O. A distância percorrida no TC6 foi de 487,88 ± 88m. Encontramos
correlações entre a distância percorrida no TC6, o SPPB (r = 0,43; p ≤ 0,05) e a PImáx (r = 0,43; p ≤ 0,05) e
também entre o SPPB e a PEmáx (r = 0,51; p ≤ 0,05). Conclusão: Houve associação entre a capacidade funcional
e desempenho físico de MMII e força respiratória de idosas da comunidade, sugerindo que esses músculos devem
ser incluídos nos programas de reabilitação de idosos para melhora da capacidade funcional.
Palavras-chave: Músculos respiratórios, força muscular, idosas, mulheres.
ABSTRACT
Objective: The aim of this study was to evaluate the relationship between the lower limbs physical performance,
respiratory muscle strength, and the functional capacity in healthy elderly in the community. Methodology:
A total of 24 elderly, with an average age of 66.17 ± 4.22 years, were evaluated. A manual grip test was used
to evaluate the muscle strength of the superior limbs (SL), and a Short Physical Performance Battery (SPPB) test
was used to evaluate the performance of the lower limbs (LL). Maximum respiratory pressure was tested using a
manometer; while functional capacity was evaluated using the Six Minute Walk Test (6MWT). Results: The BMI
was 26.51 ± 5.2 kg/m², the manual grip strength was 23.15 ± 5.57 Kgf, the mean total score of SPPB was 10.58
± 1.67 points, the maximum inspiratory pressure (MIP) was 57.29 ± 18.47 cmH2O, and the maximum expiratory
pressure (MEP) was 74.58 ± 19.11 cmH2O. The distance covered during the 6MWT was 487.88 ± 88m. There
were correlations between the distance covered during the 6MWT, the SPPB (r = 0.43; p ≤ 0.05) and the MIP
(r = 0.43; p ≤ 0.05) and also between the SPPB and the MEP (r = 0.51; p ≤ 0.05). Conclusion: There was an
association between functional capacity, lower limbs physical performance, and respiratory strength in elderly
people, suggesting that these muscles should be included in rehabilitation programs for elderly people in order
to improve functional capacity.
Keywords: Respiratory muscles, muscle strength, elderly, women.
Endereço para correspondência: Karla Helena Coelho Vilaça - Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Gerontologia - Universidade Católica de Brasília - UCB SGAN 916 Módulo “B”. Av. W5 Norte, Sala 132 - Asa Norte, Brasília - DF - CEP: 70790-160 - Tel: (61) 3448-7228, 3448-7262 - E-mail: [email protected]
INTRODUÇÃO
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),1 até
2050 haverá cerca de 36 milhões de idosos no
Brasil. A partir da década de 1960, a população começou a envelhecer de forma rápida e,
atualmente, os idosos representam cerca de
10% da população geral.2
Várias aptidões definem, em conjunto, a
capacidade funcional do idoso, e entre elas,
a cardiorrespiratória, que é considerada de
grande importância, pois permite identificar
a habilidade do sistema cardiopulmonar em
disponibilizar substratos energéticos e oxigênio para a realização de atividades físicas.3
Dentre as alterações mutissistêmicas
propiciadas pelo processo de envelhecimento, a redução da massa muscular e da força
são eminentes, e esse processo é conhecido
como sarcopenia, que desencadeia um fator
predisponente para a perda de independência funcional, contribuindo assim para o agravamento da perda da capacidade funcional e
piora da qualidade de vida dessa população.4
O desempenho muscular respiratório sofre uma queda com o aumento da idade, resultando na redução da força máxima diafragmática, perda de área de seção transversal nos
músculos intercostais, que por sua vez reduz
a habilidade para ventilação à medida que a
caixa torácica perde complacência.5,6 Associados a essas alterações, a diminuição da força
muscular nos membros inferiores pode dificultar o desempenho em atividades funcionais, como subir escadas, levantar de
uma cadeira e deambular. Estas alterações
podem desencadear perda do status funcional e gerar sintomas limitantes que comprometem a tolerância ao exercício físico.7
O sedentarismo nesse cenário reflete-se
no declínio funcional do idoso, diminuindo
as suas funções neuromotoras, o que pode
379
aumentar a incidência de patologias e levar a
uma condição de fragilidade.8
Surge a necessidade, portanto, do conhecimento dos fatores associados ao prejuízo da
capacidade respiratória e da funcionalidade
dos idosos para auxiliar a elaboração de estratégias terapêuticas visando a contribuir
para o desenvolvimento de novas pesquisas e
implementação de programas direcionados a
essa população.
A avaliação da função da musculatura periférica da força dos músculos respiratórios e
da capacidade funcional é de grande importância, pois pode favorecer tratamentos que
propiciem aos idosos melhora na realização
de suas atividades de vida diária, dando possibilidades de uma vida com mais funcionalidade e independência.
Dessa forma, o objetivo deste estudo foi
avaliar a força muscular respiratória, a função
muscular periférica e a capacidade funcional
de idosas saudáveis da comunidade e verificar
se há correlação entre as variáveis estudadas.
MATERIAis E MÉTODOS
Este estudo observacional, de coorte transversal, foi realizado com uma amostra de conveniência, com 24 voluntárias, do sexo feminino, com idade entre 60 e 75 anos.
As idosas foram recrutadas na Universidade Aberta da Terceira Idade (Uati) do
município de São Carlos, SP, que disponibiliza aos adultos e idosos da comunidade
em parceria com a Universidade Federal de
São Carlos (UFSCar) o programa de atividade física chamado Revitalização Geriátrica,
além de cursos de artesanato, artes cênicas,
música e línguas.
O estudo foi conduzido de acordo com a
Resolução n. 196/96 e aprovado pelo Comitê
de Ética da Universidade Federal de São Car-
380
Geriatria & Gerontologia
los (Parecer n. 117/2011). Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido previamente.
Foram excluídas do estudo idosas dependentes para as atividades de vida diária, sedentárias, com síndromes demenciais, alcoolistas, pneumopatas, fumantes ou ex-fumantes, hipertensas não controladas, cardiopatas
ou que tivessem complicações ortopédicas
que pudessem impedir a realização do protocolo proposto.
A coleta foi realizada na Fundação Educacional de São Carlos (Fesc), onde acontecem as aulas da Uati. As voluntárias foram
avaliadas individualmente e em um único
dia, com duração de aproximadamente uma
hora. As idosas passaram por uma avaliação
clínica, incluindo autorrelato da presença ou
ausência de doenças, como cardiopatia, hipertensão arterial, diabetes mellitus, câncer,
doença reumática, doença pulmonar crônica
e depressão, além de antecedentes pessoais,
familiares, doenças associadas, medicações e
atividade física.
O nível de atividade física das participantes foi avaliado mediante aplicação do
Questionário Internacional de Atividade Física
(IPAQ), versão longa, em abordagem de
entrevista, contendo perguntas em relação
à frequência e duração da realização de
atividades físicas, tendo como referência
a última semana. Dessa forma, todas as
voluntárias foram classificadas como ativas.9
A função muscular periférica, de membros superiores (MMSS) e membros inferiores (MMII) foi avaliada pela força de preensão manual (FPM) e pelo instrumento Short
Physical Performance Battery (SPPB).10
Para avaliar a FPM foi utilizado um dinamômetro portátil hidráulico (Jamar, modelo
Samons Preston INC Bolingbrook, IL 604404989), com escala de graduação em quilo-
gramas/força (kgf ). O procedimento do
teste seguiu as recomendações da American
Society of Hand Therapists (ASHT).11 As voluntárias foram orientadas a permanecerem
sentadas confortavelmente, com o braço
aduzido paralelo ao tronco, cotovelo flexionado a 90o, antebraço em posição neutra e
punho entre 0o e 30o de extensão; a alça móvel do equipamento permaneceu na posição
II, assim puxavam a alça do dinamômetro,
mantendo-se por seis segundos e, na sequência, relaxavam. Foram realizadas três
medições do lado dominante com intervalos
de um minuto entre elas, sendo registrado o
maior valor obtido.
A função muscular dos MMII foi avaliada
por meio da aplicação do instrumento Short
Physical Performance Battery (SPPB)10 que é
composto por três testes que avaliam, na sequência, o equilíbrio estático em pé, a velocidade de marcha em passo habitual e a força
muscular dos MMII por meio do movimento
de levantar-se e sentar-se na cadeira cinco vezes consecutivas sem o auxílio dos braços.12
Para o teste de equilíbrio as participantes foram orientadas a permanecer em cada posição (em pé com os pés juntos, em pé com os
pés um parcialmente à frente, em pé com um
pé à frente) por dez segundos.10 Para o teste
de velocidade de marcha, foi utilizada a distância de quatro metros e atribuiu-se pontuação zero à participante incapaz de completar
o teste.12 A pontuação para cada teste variou
numa escala de zero, que corresponde ao pior
desempenho, a quatro pontos, que corresponde ao melhor desempenho.13,14
A força muscular respiratória foi avaliada por meio do Manovacuômetro analógico
(Gerar, MV300, São Paulo, Brasil) escalonado
em -300 a +300 cmH2O, que é um instrumento que apresenta confiabilidade, precisão,
reprodutibilidade, facilidade de manuseio e
possibilidade de calibração.15
Função muscular periférica e força muscular respiratória de idosas
As mensurações da pressão inspiratória
máxima (PImáx) e da pressão expiratória máxima (PEmáx) foram baseadas nas determinações da American Thoracic Society (ATS) e foi
seguido o protocolo de Soares.16 As voluntárias foram posicionadas sentadas e eretas e
foram realizadas duas manobras para familiarização e aprendizado. A posição alcançada ao final dos esforços máximos foi mantida
por, pelo menos, um segundo para caracterização da pressão de platô.15
Para avaliação do desempenho funcional foi realizado o teste de caminhada de seis
minutos (TC6), seguindo as recomendações
da ATS.17 O teste foi realizado em uma pista
de trinta metros, com marcações a cada dois
metros, sendo que a linha de partida, que marca
o início e o fim de cada volta, foi marcada com
cones. Antes de realizar o TC6 as idosas foram
instruídas a respeito do teste e a participante
foi solicitada a andar mais rápido e percorrer
a maior distância possível, estimulada com
frases de incentivo padronizadas. Durante o
teste a frequência cardíaca foi monitorada por
meio de frequencímetro (Polar FS1, China). No
início e no fim do teste foram monitoradas a
pressão arterial e a saturação de oxigênio com
oxímetro de pulso de dedo (ONYX 9500, Nonin
Medical, Plymouth, Mn, USA).
Análise estatística
Para análise estatística foi utilizado o
programa Graphpad Instat (versão 3, ano
2003). As variáveis estudadas estão apresentadas em seus valores médios ± desvios-padrão (DP). Como os dados apresentaram
uma distribuição normal pelo teste de Kolmogorov e Smirnov, foi utilizado o teste t
Student não pareado para comparar as variáveis de força muscular respiratória, periférica e a capacidade funcional das idosas. O
teste de correlação de Pearson foi aplicado
381
para investigar a correlação entre as variáveis FPM, a pontuação total da SPPB, os valores da PImáx e PEmáx e a distância percorrida
no TC6, para valores de concordância sendo:
> 0,75 excelentes, entre 0,40 e 0,75, moderada e < 0,40 pobre. O nível de significância
considerado foi de p ≤ 0,05.
Resultados
Foram avaliadas 24 idosas da comunidade, com idade média de 66,17 ± 4,22. As variáveis antropométricas analisadas foram massa
corporal, altura e IMC.
Em relação à capacidade funcional, as variáveis observadas foram TC6 e Short Physical
Performance Battery. A análise de força muscular foi verificada por meio das pressões respiratórias máximas e dinamometria. Os valores médios são demonstrados na Tabela 1.
Analisamos a associação entre dados contínuos e variáveis de desempenho físico de
MMII, capacidade funcional e força muscular
respiratória de idosas da comunidade. O resultado do teste da caminhada de seis minutos
minutos (m) apresentou correlação com duas
variáveis, sendo significativa e moderada tanto com o Short Physical Performance Battery (r
= 0,43 e p ≤ 0,05) quanto com a PImáx (cmH2O)
(r = 0,43 e p ≤ 0,05). O SPPB também apresentou correlação moderada e significativa com
PEmáx (cmH2O) (r = 0,51 e p ≤ 0,05). Não houve
correlação entre as demais variáveis avaliadas
(Tabela 2).
DISCUSSÃO
Este estudo avaliou a associação entre a
função muscular periférica de MMSS e MMII,
a função muscular respiratória e a capacidade
funcional em idosas provenientes da comunidade. Foi encontrada correlação positiva significativa entre a capacidade funcional, avaliada
382
Geriatria & Gerontologia
pela distância da caminhada de seis minutos e
a função de membros inferiores, avaliada pela
SPPB; a força muscular inspiratória máxima e
a função de membros inferiores também apresentaram correlação positiva significativa com
a força muscular expiratória máxima.
Com os resultados do presente estudo,
pode-se destacar que a função de MMII com-
Função muscular periférica e força muscular respiratória de idosas
posta pela velocidade de marcha, equilíbrio e
força de MMII é influenciada tanto pela capacidade funcional quanto pela força da musculatura expiratória.
Além disso, encontramos associação entre
o desempenho físico e a força da musculatura
inspiratória. Esses dados concordam com os
resultados encontrados na literatura,18,19 em
Tabela 1. Características demográficas e antropométricas, capacidade funcional e força muscular em idosas da comunidade
Idosas (n = 24)
Características
Média
DP
Variáveis demográfícas e antropométricas
Idade (anos)
66,17
±
4,22
Massa corporal (kg)
64,25
±
12,34
Estatura (m)
IMC (kg/m²)
Capacidade funcional e força muscular
TC6 (m)
PImáx (cmH2O)
PEmáx (cmH2O)
SPPB (0 a 30 pontos)
Força de preensão manual (kgf)
1,56
26,51
±
±
0,05
5,2
487,88
57,29
74,59
10,58
23,15
±
±
±
±
±
88
18,47
19,11
1,67
5,57
IMC: índice de massa corporal; TC6: teste de caminhada de seis minutos; PImáx: pressão de inspiração máxima; PEmáx: pressão de expiração máxima; SPPB: short physical performance battery.
Dados paramétricos contínuos representados em média ± desvio-padrão.
Tabela 2. Correlação entre variáveis de desempenho físico de MMI, capacidade funcional e força muscular respiratória de
idosas da comunidade
Capacidade funcional
Variáveis gerais
TC6 (m)
SPPB (0 a 30
pontos)
0,13
0,12
TC6 (m)
-
0,43
SPPB (0 a 30 pontos)
-
-
Força de preensão manual (kgf)
Força muscular respiratória
PImáx (cmH2O)
0,12
a,b
0,43
0,25
PEmáx (cmH2O)
0,16
a,b
0,32
0,51
a,b
TC6: teste de caminhada de seis minutos; SPPB: short physical performance battery; PImáx: pressão inspiratória máxima; PEmáx: pressão expiratória máxima.
a
Correlação linear de Pearson para associação das variáveis de desempenho físico de MMII, capacidade funcional e força muscular respiratória, em que se admitiu para valores de concordância: > 0,75,
excelente; < 0,40, pobre; e entre 0,40 e 0,75, moderada. b p ≤ 0,05.
que o aumento da capacidade inspiratória está
associado ao melhor desempenho do idoso
durante o exercício físico. Alguns estudos descrevem maiores valores da distância percorrida durante o TC6 na população idosa quando
comparados com os valores previstos,6 sugerindo maior capacidade funcional e melhor
a capacidade da musculatura respiratória.20
Vasconcellos et al.,19 em outro estudo, avaliaram correlação entre a PImáx, PEmáx, a distância
percorrida no TC6 em idosas sedentárias e encontraram correlação positiva entre a distância percorrida e a força muscular inspiratória,
semelhante aos achados deste estudo.
Em nosso estudo, evidenciamos que as
idosas que apresentaram maior força muscular na inspiração forçada caminharam maior
distância no teste da caminhada. Nesse sentido, durante o processo de envelhecimento,
a alteração postural é nítida, as curvaturas da
coluna vertebral tornam-se mais acentuadas,
há diminuição da complacência pulmonar e
diminuição da elasticidade da caixa torácica,
propiciando encurtamento da musculatura
inspiratória.20
No sistema respiratório as mudanças com
o avançar da idade ocorrem crescentemente,
provocando a diminuição da elasticidade dos
pulmões e da complacência da caixa torácica.
Essas alterações estão relacionadas às mudanças da quantidade dos componentes do
tecido conjuntivo do pulmão, como a elastina,
o colágeno e as proteoglicanas.21,22 No estudo
de Smith et al.,23 o aumento da PEmáx em associação à capacidade funcional após treinamento específico dos músculos expirátórios
foi importante para o aumento da ventilação
durante o exercício, o que implica a associação entre a função de MMII e a PEmáx.
O TC6 fornece uma adequada mensuração da capacidade funcional durante a marcha, refletindo assim a habilidade individual
383
do avaliado nas atividades de vida diária. No
entanto, além da marcha, a força muscular e o
equilíbrio são componentes que fazem parte
da capacidade funcional do indivíduo e, especificamente, da função dos MMII. Por isso, ao
avaliar a capacidade do idoso, é importante
mensurar também outros aspectos, como os
contemplados na SPPB (equilíbrio, força de
MMII e velocidade de marcha), amplamente
reconhecidos como elementos fundamentais
para a qualidade de vida dos idosos.24
A SPPB tem sido apontada por estudos
internacionais como um instrumento prático
e eficaz para a avaliação do desempenho físico e o rastreamento de idosos com riscos de
desenvolver incapacidades.13 Nossos achados
corroboram com dados da literatura na medida em que evidenciamos associação positiva
entre o SPPB e o TC6. Assim ambos os instrumentos são úteis para avaliar a capacidade funcional do idoso, além de apresentarem
grande aplicação clínica.25
A avaliação da funcionalidade deve ser
incorporada nos centros de atendimento ao
idoso para que as mudanças do desempenho
físico no decorrer dos anos sejam mais bem
interpretadas e compreendidas.26 A medida
do desempenho físico é um integrante básico
e essencial em clínicas de saúde, na avaliação
do idoso para propiciar uma terapêutica individualizada e promover o acompanhamento
evolutivo desses pacientes durante o processo de envelhecimento.27,28
Este estudo expôs algumas considerações
sobre a capacidade funcional de idosas independentes, que residem na comunidade, e seus
resultados não podem ser generalizados para
outra população. O tamanho reduzido da
amostra pode ter influenciado na ausência
de relação entre algumas variáveis, achados
que não podem ser tomados como definitivos. Além disso, a função muscular de MMSS
384
Geriatria & Gerontologia
e MMII, a função muscular respiratória e a
distância na caminhada no TC6 representam
apenas alguns aspectos da funcionalidade
do idoso. A capacidade funcional humana é
complexa e abrangente e envolve diversas outras características que não foram abordadas
neste estudo. Adicionalmente, este trabalho
apresenta limitações inerentes aos estudos
transversais que representam o momento da
vida desses indivíduos, sem, contudo, identificar os fatores que conduziram aos observados. Assim, outras pesquisas são relevantes
em diferentes perfis de idosos, como os institucionalizados e do gênero masculino, além de
avaliar outros parâmetros da funcionalidade
física dessa população.
CONCLusão
Este estudo mostrou associação entre a
capacidade funcional e a desempenho físico de
MMII e força respiratória de idosas da comunidade, sugerindo uma terapêutica individualizada que contemple os músculos periféricos e
respiratórios nos programas de reabilitação de
idosos para melhora da capacidade funcional e
promoção da saúde no envelhecimento.
CONFLITO DE INTERESSE
O presente estudo não apresentou conflito de interesse.
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Diferentes tipos de treino de força
Artigo Original
Efeitos de diferentes tipos de treino de força na
resposta muscular e funcional de mulheres idosas
Effects of different types of strength training on muscle response and functional response in elderly women
Cleiton Silva Correa¹, Ronei Silveira Pinto¹
RESUMO
¹Laboratório de Pesquisa do
Exercício, Escola de Educação
Física, Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
RS, Brasil.
Objetivo: Avaliar os efeitos de três tipos diferentes de treinamento de força nas variáveis: força dinâmica máxima,
onset muscular, tempo de reação e desempenho funcional em 41 mulheres idosas submetidas a doze semanas.
Métodos: A amostra (65,4 ± 5,8 anos) foi divida aleatoriamente em três grupos: treinamento de força tradicional
(TFT) (n = 14); treinamento de potência (TP) (n = 14); treinamento da força reativa (TFR) (n = 13). Resultados:
Houve um incremento significativo no 1RM (Resistência Muscular) de extensão de joelhos (p < 0,01) após as
doze semanas de treino, sem diferença entre os grupos. Em seguida a esse período de treino houve redução
significativa no onset do músculo RF nos grupos TFR e TP (p < 0,05), bem como do tempo de reação (TRea) (p <
0,05) em TFR. Ocorreu melhora significativa do desempenho no teste de sentar-levantar em 30 s no grupo TFR,
sendo esta maior do que nos grupos TFT e TP (p < 0,05). Conclusão: O treinamento de força reativa mostrou-se
mais efetivo do que os treinos tradicional e de potência para o incremento de variáveis neurais (ex: onset muscular
e tempo de reação), assim como do desempenho funcional (por exemplo, teste de sentar e levantar em 30 s) em
mulheres idosas.
Palavras-chave: Força muscular, idosas, atividades cotidianas, mulheres, envelhecimento, desempenho funcional.
ABSTRACT
Objective: This study aimed to evaluate the effects of three different types of strength training in the variables:
maximum dynamic force; muscle onset; time and functional reaction performance in 41 elderly women during
12 weeks. Methods: The sample (65.4 ± 5.8 years) was divided randomly in three groups: Traditional Strength
Training (TFT) (n = 14), Training Power (TP) (n = 14) and Reactive Power Training (TR) (n = 13). Results: The
results showed an improvement in 1RM of knee extension (p <0.01) from the previous to the post 12-week
trainee program showing no difference between groups of strength training. At the end of 6 weeks the onset RF
muscle was significantly decreased in the groups TR and TP, the VL and reaction time (RT) was significantly lower
in TR and this last group showed a better performance during the sit-ups in 30s than the groups TFT and TP (p
<0.05). Conclusion: The reactive strength training showed itself to be more effective to the improvement of the
muscles responses as the reaction time and onset muscular in elderly women; therefore it showed better results
in the functional test sitting-standing during 30s than in the traditional and in the power training group.
Keywords: Muscle strength, aged, ativities of daily living, women.
Endereço para correspondência: Cleiton Silva Correa - Lapex, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) - Rua Felizardo, 750, Jardim Botânico, Porto Alegre,
RS, - CEP: 90690-200 - Tel: (51) 3308-5894 Fax: (51) 3308-5817 - Email: [email protected]
INTRODUÇÃO
O envelhecimento está associado ao declínio da função neuromuscular, em que são
negativamente afetados fatores neurais como
o padrão de recrutamento, a taxa de disparo
e a sincronização das unidades motoras,1-3 o
que decorre no prejuízo do tempo de reação
muscular e da performance funcional4.
Com o processo de envelhecimento, a capacidade de produção de força explosiva e/ou
reativa apresenta uma diminuição superior
à produção de força máxima.5 Essa redução
compromete severamente as atividades de
vida diária (AVD), como, por exemplo, sentar
e levantar de uma cadeira, e subir um lance de
escadas, as quais são dependentes do tempo
de reação e ativação muscular.6-8
O início da ativação dos diferentes músculos sinergistas (onset muscular) ativados em
determinado movimento parece ser um sinalizador da coordenação intermuscular, e afeta
de forma determinante o desempenho funcional dos indivíduos.9-11 A melhora do onset
muscular e, consequentemente, da força reativa constitui-se numa importante alteração
decorrente do treinamento de força, e está associada à prevenção de quedas em idosos.12-14
A incidência de quedas em mulheres idosas
é maior do que em homens idosos, e é provavelmente associada à maior inatividade física e
questões hormonais relacionadas às mulheres
idosas. Assim, idosas são mais dependentes de
terceiros no cumprimento das AVD, sobretudo
naquelas que envolvem maior risco de quedas.
Algumas estratégias têm sido utilizadas no
controle de quedas de idosos, e o treinamento
de força vem sendo apontado como uma ferramenta eficaz nesta perspectiva.15-17
Treinamento de força reativa (TFR), exercícios de força com a presença do ciclo alongamento e encurtamento, 18 treinamento de
387
potência (TP), alta velocidade de contração
muscular na fase concêntrica, treinamento
de força tradicional (TFT) e baixa e controlada velocidade de contração muscular causam
diferentes adaptações neuromusculares. Em
mulheres idosas, o TP parece ser mais adequado que o TFT para a melhora do desempenho funcional. Já o TFR parece ser mais efetivo no incremento de vários componentes da
função muscular (i.e., força máxima, potência
e um menor tempo de reação muscular), repercutindo de forma ainda mais favorável na
performance funcional.19
Nessa perspectiva, o presente estudo tem
o objetivo de comparar os efeitos de três diferentes tipos de treinamento de força: na força
dinâmica máxima, onset muscular, tempo de
reação e no teste funcional de sentar e levantar em 30 s em mulheres idosas.
MATERIAis E MÉTODOS
A amostra foi composta por 58 mulheres
idosas com idade de 65,4 ± 5,8 anos, que não
realizavam TF de forma regular e sistemática por pelo menos um ano anterior ao estudo.
Como critério de inclusão, os indivíduos não
poderiam apresentar histórico de doenças endócrinas, metabólicas e neuromusculares, além
de não fazerem uso de qualquer medicamento
com influência no metabolismo endócrino ou
neuromuscular. Foram excluídos do estudo os
indivíduos que faltaram a três sessões de treinos consecutivos. Cada indivíduo foi informado
sobre os procedimentos metodológicos desse
estudo a partir da leitura de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, aprovado pelo
Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (n. 19.322). O presente estudo cumpriu todos os princípios éticos
contidos na Declaração de Helsinki (2000), e
teve o atendimento a legislações específicas do
país (Brasil) no qual a pesquisa foi realizada.
388
Geriatria & Gerontologia
Desenho experimental
Os indivíduos foram submetidos a um
período de doze semanas de treinamento de
força. Os grupos de TF treinaram duas vezes
por semana, em dias alternados (segundas e
quartas ou terças e quintas-feiras), com intensidade e volume progressivos, periodizados
de forma linear.20,21 O grupo controle (GC) não
realizou qualquer tipo de exercício de força
durante as doze semanas de intervenção.
O experimento foi dividido em dois momentos:
Momento 1: Teve duração de seis semanas, os sujeitos foram divididos em dois grupos: grupo experimental e grupo controle
(GE, n = 41 e GC, n = 17). Neste período, o GE
realizou um programa periodizado de TF, em
que o objetivo foi incrementar a resistência
muscular localizada (RML).
Momento 2: Da mesma forma, teve duração de seis semanas, sendo que os indivíduos
do GE foram divididos em três grupos distintos:
treinamento de força tradicional (TFT, n = 14),
treinamento de potência (TP, n = 13) e treinamento de força reativa (TFR, n = 14). Os programas de treino TFT e TP foram compostos pelos
mesmos exercícios para os membros inferiores:
pressão de pernas, extensão de joelhos e flexão
de joelhos, sendo que no TP, a fase concêntrica
desses exercícios foi realizada com a máxima
velocidade possível. No programa de treino TFR
o exercício pressão de pernas foi substituído
pelo exercício de step (subir e descer com alternância de membros inferiores) em um período
máximo de 15 a 20 s.
Instrumentos
Força dinâmica máxima (1RM)
O teste de 1RM caracteriza-se pela maior
carga que pode ser deslocada em uma única
repetição em determinado exercício,21 e foi
realizado no exercício de extensão de joelhos.
O equipamento utilizado para tal foi a “cadeira extensora” da marca WORLD-ESCULPTOR,
com resolução de 1 kg. Para o controle da velocidade de movimento durante o teste, foi
utilizado um metrônomo da marca QUARTZ,
com resolução de 1 Hz.22
Tempo de reação (TRea) e onset muscular (OM)
O TRea foi mensurado em uma contração
isométrica voluntária máxima (CIVM), iniciada a partir de um estímulo visual de luz e
realizada no equipamento leg press. O OM do
sinal EMG (RMS) dos músculos vasto lateral
(VL), vasto medial (VM) e reto femoral (RF)
foi definido a partir do uso de um algoritmo,
a partir do qual foi identificado o ponto exato
entre o início do estímulo visual emitido pelo
diodo emissor de luz (LED) e o ponto de início da ativação muscular. Foram utilizadas as
seguintes equações:
a) tempo de reação: (TRea = μ + 3σ), em
que o TRea é igual à média (μ) do período de
pré-tensão (25 ms) somado a três desvios-padrão (σ) deste período na curva de força (kgf);
b) onset muscular: (OM = μ + 3σ), em que
o OM é igual à média (μ) do período de prétensão (25 ms de maior variação em 200 ms)
somado a três desvios-padrão (σ) deste período no sinal EMG (RMS).23,24
Sentar e levantar em 30s
O teste de sentar e levantar de uma cadeira
em 30 s iniciava-se com o sujeito sentado no
centro da cadeira, com as costas retas e os pés
sobre uma superfície plana, afastados aproximadamente na largura dos ombros. Os braços
permaneciam cruzados e fixos na altura do peito, sendo que os quadris e os joelhos eram posicionados em aproximadamente 90° no início
do teste. Ao sinal verbal emitido pelo avaliador,
o sujeito levantava-se da cadeira até a posição
389
Diferentes tipos de treino de força
ereta plena (joelhos e quadris completamente
estendidos) e, em seguida, retornava à posição
inicial. Com contagem verbal (em voz alta) de
todas as repetições válidas, o sujeito era incentivado a concluir o maior número possível de
repetições em um período de 30 s.25
Análise estatística
Foi utilizada a estatística descritiva (média
± DP), sendo que a normalidade dos dados foi
avaliada a partir do teste Kolmogorov-Smirnov
e a homogeneidade das variâncias pelo teste
de Levene. Para comparação entre os grupos
nos momentos pré-treinamento, seis e doze
semanas de treino, foi usada a Anova two-way
para medidas repetidas (3 grupos x 3 momentos), com o post-hoc de Bonferroni. Também foi usada a one-way Anova para comparação de mudanças relativas entre o GE e o GC
nos diferentes momentos do estudo. O nível
de significância adotado foi um delta < 0,05,
e todas as análises foram realizadas usando o
software SPSS versão 17.0.
Resultados
Nas seis semanas iniciais do treinamento,
o GE apresentou um aumentou significativo
do 1RM da extensão de joelhos e número de
repetições no teste sentar-levantar (p < 0,05)
em relação ao GC. Neste mesmo período, houve uma diminuição no onset muscular (OM)
(VL, VM e RF) e no tempo de reação (TRea)
(p < 0,05). No GC não houve mudança significativa (Tabela 1).
Nas seis semanas finais, após a divisão
do GE em TFT, TP e TFR, o 1RM (Figura 1a)
aumentou significativamente em todos os
grupos (p < 0,05), sem diferença entre eles. O
OM (Tabela 2) e TRea (Figura 1b) diminuíram
significativamente no TFR (p < 0,05), sendo
que os grupos TFT e TP não apresentaram
diferença relevante nestas variáveis. O grupo
TFR aumentou significativamente o número
de repetições máximas no teste de sentar e
levantar em 30 s (Figura 1c) em relação aos
grupos TFT e TP (p < 0,05).
Tabela 1. Resultados pré e pós seis semanas iniciais de treinamento de força
Variáveis
Grupo experimental, N = 41
Grupo controle, N = 17
Pré
Após 6 semanas
Pré
Após 6 semanas
42,5 ± 8,1
50,4 ± 8,4 †*
39,1 ± 8,3
36,8 ± 9,0
OM-VL (ms)
324,5 ± 69,4
194,3 ± 51,6 †*
343,8 ± 76,3
311,2 ± 75,7
OM-VM (ms)
356,8 ± 68,7
236,9 ± 54,4 †*
298,7 ± 67,9
320,9 ± 63,8
OM-RF (ms)
346,2 ± 66,3
275,9 ± 49,9 †*
350,7 ± 64,9
328,8 ± 63,7
TRea (ms)
473,2 ± 67,1
318,3 ± 50,1 †*
457,4 ± 91,5
398,6 ± 80,5
SL (n. reps)
14,1 ± 1,5
17,2 ± 1,3 †*
15,7 ± 2,0
15,7 ± 2,0
1RM (kg)
Valores em média ± DP.
† Diferença significativa entre pré e após seis semanas (p < 0,05).
* Diferença significativa entre grupo experimental (GE) e grupo controle (GC) (p < 0,05).
1RM = uma repetição máxima; VL = vasto lateral; VM = vasto medial; RF = reto femoral; OM = onset muscular; TRea = tempo de reação; SL = teste de sentar e levantar em 30 s.
390
Geriatria & Gerontologia
Diferentes tipos de treino de força
Tabela 2. Valores em média ± DP do Onset muscular nas seis semanas finais (6 e 12) de treinamento de força
TFT
TP
TFR
Variáveis
Semana 6
Semana 12
Semana 6
Semana 12
Semana 6
Semana 12
OM-VL (ms)
194,3 ± 51,6
272,6 ± 98,2
195,7 ± 42,3
229,2 ± 75,7
262,5 ± 56,1
229,2 ± 33,4*
OM-VM (ms)
205,1 ± 54,3
254,9 ± 94,6
218,9 ± 38,7
239,1 ± 96,7
226,6 ± 38,9
248,6 ± 59,3
OM-RF (ms)
255,9 ± 49,9
285,9 ± 109,0
223,7 ± 51,4
252,8 ± 63,7
291,2 ± 44,3
203,0 ± 43,6 †*
Valores em média ± DP.
† Diferença significativa entre as semanas 6 e 12 (p < 0,05).
* Diferença significativa do grupo TFR em relação aos grupos TP e TFT (p < 0,05).
TFT = treinamento de força tradicional; TP = treinamento de potência; TFR = treinamento de força reativa; OM = onset muscular; VL = vasto lateral; VM = vasto medial; RF = reto femoral.
Figura 1. Valores em média ± DP e Δ (%) pré e pós seis e doze semanas finais (6 e 12) de treinamento de força. A. 1RM na extensão
de joelhos (kg). B. Sentar e levantar em 30 s (n. de repetições). C. Tempo de reação muscular (ms). * Diferença significativa do
TFR em relação ao TFT e TP (p < 0,05). † Diferença significativa entre as semanas 6 e 12 de treinamento de força (p < 0,05). TFT =
treinamento de força tradicional; TP = treinamento de potência; TFR = treinamento de força reativa.
DIsCUSSÃO
O principal achado deste estudo foi o fato
de o treinamento de força reativa (TFR) ter se
mostrado mais eficiente do que o treinamento de força tradicional (TFT) e o treinamento
de potência (TP) no teste de sentar e levantar
em 30 s em mulheres idosas. Ademais, os três
diferentes tipos de treinamento de força (TFT,
TP e TR) aumentaram significativamente a capacidade de produção de força máxima (1RM),
sem diferenças significativas entre os grupos
distintos. Esses resultados ressaltam ainda
a importância da utilização de um exercício
como o step (de fácil execução e sem adição de
sobrecarga externa) no incremento da força
dinâmica máxima dos extensores de joelho.
Com relação às adaptações relacionadas
ao desenvolvimento da força dinâmica máxima e da potência muscular, os resultados
do presente estudo concordam com estudos
prévios que observaram incrementos na força máxima relacionados à execução de exercícios pliométricos adaptados, em que o ciclo
alongamento encurtamento (CAE) 26 estava
presente.27-30 Nossos resultados ressaltam a
importância do treinamento de força reativa, uma vez que o grupo TFR, no qual houve
a substituição de um exercício com maior
possibilidade de sobrecarga (i.e., pressão de
pernas) por outro com a utilização do CAE em
alta velocidade de execução (i.e., step), não
apresentou prejuízo nos incrementos na força máxima. Isso pode ser explicado pelo fato
de a utilização de exercícios com CAE promover o recrutamento de unidades motoras de
maior limiar de ativação (i.e., fibras de tipo
II), as quais são também ativadas em condições de produção máxima de força.
Além da força máxima e da potência de
membros inferiores, o onset muscular (OM) e
o tempo de reação (TRea) são indicadores da
qualidade e responsividade do sistema neuromuscular de idosos.29 No presente estudo, foi
observada uma redução significativa no OM
do músculo RF no grupo TFR, que apresentou valores significativamente menores que o
grupo TFT e TP após o treinamento. O músculo VL também diminui significativamente
no grupo TFR, novamente apresentando que
este tipo de treinamento é mais efetivo para
a diminuição do tempo de ativação muscular
(i.e., menor tempo em milissegundos de onset
muscular demonstra que o músculo é ativado
mais rapidamente quando recrutado).
Funcionalmente, a diminuição do onset
muscular (OM) e do tempo de reação (TRea)
podem aumentar a capacidade de mulheres
idosas de desviarem de obstáculos ou manterem-se em pé em situações de desequilíbrio
corporal, o que parece contribuir para a redução de quedas nesta população. De fato, LaRoche et al.24 demonstraram que mulheres idosas com menor propensão a quedas possuíam
melhor desempenho no tempo de reação e no
tempo de ativação de músculos dos membros
inferiores (tornozelo e joelho).
391
A ausência de modificações no onset muscular (OM) do músculo mono articular VM
pode ter ocorrido devido a possíveis adaptações na estratégia de recrutamento muscular
durante a tarefa avaliada.30 Além disso, tem
sido demonstrado que adaptações neuromusculares ao treinamento podem não ocorrer
na mesma magnitude em todos os músculos
que compõem o quadríceps femoral. A grande variabilidade dos valores do sinal EMG na
avaliação do onset muscular no músculo VM
pode ter sido um fator limitante deste estudo,
sendo este o único músculo a não apresentar
diferença significativa após doze semanas de
treinamento em todos os grupos.
Em relação à força reativa, no presente
estudo foi constatado que apenas seis semanas de treinamento de força reativa (TFR)
foram suficientes para a redução no tempo de reação muscular (TRea), o que não
ocorreu nos outros dois tipos: treinamento
de potência (TP) e treinamento tradicional
(TFT) (Figura 1b). Este resultado demonstra
que o TFR, além de incrementar a força dinâmica máxima em igual magnitude que o TP
e TFT, aumenta a força reativa muscular dos
extensores de joelhos. Nossos resultados
corroboram os resultados reportados por
Casserotti et al.,7 que verificaram aumentos
na força reativa dos extensores de joelho de
idosos após 12 semanas de treinamento de
força reativa. E ainda, da mesma forma que
no presente estudo, esses autores demonstraram que uma frequência de treinamento
de apenas duas vezes por semana é capaz de
melhorar a capacidade de produção de força
rápida de mulheres idosas.
Neste contexto, o TFR, que apresentou a
maior diminuição no onset muscular (OM) e
tempo de reação (TRea), também teve influência mais significativa no desempenho do teste
funcional de sentar e levantar do que os outros
dois tipos de treinamento (TFT e TP). Tais fa-
392
Geriatria & Gerontologia
tos sugerem que o OM e o TRea podem constituir variáveis adequadas para a determinação
da coordenação intermuscular, bem como da
predição da resposta muscular no desempenho funcional de membros inferiores de mulheres idosas na execução de suas AVD.
CONCLusão
O treinamento de força reativa, ainda que
realizado durante períodos curtos (i.e., seis
semanas), aperfeiçoa parâmetros neuromusculares relacionados à capacidade de produção de força máxima, rápida e resistente de
mulheres idosas, o que lhes predispõe a um
melhor desempenho funcional. Assim, a inclusão de exercícios que apresentam o ciclo
alongamento-encurtamento (CAE) (i.e., step)
em rotinas de treino de força para idosas parece constituir-se numa estratégia adequada
para essa população.
CONFLITO DE INTERESSE
Não houve nenhum tipo de conflitos
de interesse aplicável a todos os autores
deste trabalho.
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Exercícios sobre a composição corporal
Artigo Original
Efeitos de diferentes protocolos de exercício
na composição corporal em pessoas acima de
cinquenta anos
Effects of different physical exercises on body composition in individuals over fifty years-old
Juliana Hotta Ansai1, Alessandra Paiva de Castro1, Patrícia Greve1, José Rubens Rebelatto1
RESUMO
1
Universidade Federal de
São Carlos, SP.
Objetivo: Verificar os efeitos de diferentes protocolos de exercício físico na composição e densidade corporais em
indivíduos acima de cinquenta anos em São Carlos, SP. Métodos: Participaram do estudo 81 voluntários, sendo
51 mulheres e 30 homens, os quais foram divididos igualmente em três grupos: treinamento misto; treinamento
resistido; controle, ou seja, sem qualquer intervenção. Os protocolos de treinamento tiveram duração de seis meses.
As variáveis porcentagem de gordura, circunferência abdominal e índice de massa corporal foram coletadas antes
do período de intervenção e após seis meses. Para análise estatística, utilizou-se o software Minitab. Resultados:
Por meio do teste Anova de fator único não houve diferença significativa entre os três grupos em nenhuma das
avaliações, porém o poder do teste calculado a posteriori foi baixo. Entre a primeira e a segunda avaliação dentro
de cada grupo (teste t pareado) houve diminuição significativa do índice de massa corporal no grupo misto
feminino e da circunferência abdominal no grupo resistido feminino. Pelo teste t para duas amostras, verificou-se
diferença significativa entre os gêneros do mesmo grupo apenas na porcentagem de gordura, com valor maior
em mulheres em todos os grupos. Conclusão: O estudo trouxe resultados de treinamentos misto e resistido a
longo prazo. Ambos os protocolos mostraram-se capazes de manter os níveis de composição corporal em seis
meses em indivíduos senescentes, porém a intervenção nutricional adicional e o uso de métodos de avaliação
mais sofisticados poderiam potencializar os benefícios.
Palavras-chave: Idoso, circunferência abdominal, composição corporal, atividade motora.
ABSTRACT
Objective: This study aimed to investigate the effects of different physical exercise protocols on body composition
and body density in individuals over years-old in São Carlos (SP), Brazil. Methods: The study consisted of 81
volunteers (51 women and 30 men), who were equally divided into three groups: multicomponent training group,
resistance training group and control group, which was not submitted to any intervention. The protocols lasted
six months. Fat percentage, waist circumference and body mass index were collected before the intervention
period and after six months. Statistical analysis was conducted using software MINITAB. Results: The Anova
single factor showed no significant difference between the groups in any variable, however the test power was
low. Using paired t-test to determine differences between the first and the second assessments within each
group, we found a significant decrease of body mass index in women from multicomponent group and waist
circumference in women from the resistance group. A two sample t-test demonstrated only significant difference
between genders at the same group in fat percentage, with high values in women for all groups. Conclusion: The
present study showed long term effects of multicomponent and resistance protocols. Both protocols were able
to maintain body composition and body density in six months in senescent individuals; however an additional
nutritional intervention and the use of more sophisticated assessments could enhance the benefits.
Keywords: Aged, Abdominal circumference, body composition, motor activity.
Endereço para correspondencia: Juliana Hotta Ansai - Rua Caramuru, 1125, apto 112, Saúde, São Paulo, SP - CEP 04138-002 - Telefone: (11) 9506 3121
E-mail: [email protected]
INTRODUÇÃO
Em senescentes, o estado nutricional pode
ser afetado por alterações fisiológicas do envelhecimento e presença de comorbidades,
além de fatores relacionados aos familiares
e à condição socioeconômica. Um adequado
estado nutricional é de extrema importância,
pois o baixo peso aumenta o risco de infecções
e mortalidade e o sobrepeso está relacionado
ao aparecimento de doenças crônicas, como
hipertensão e diabetes mellitus.1 A inatividade
física, resistência à insulina e obesidade aumentam com a idade, porém o exercício físico
é capaz de promover mudanças positivas na
composição corporal, sensibilidade à insulina
e risco de doenças cardiovasculares.²
Schneider e Meyer3 revisaram os efeitos
de diferentes tipos de exercício físico na composição corporal em adolescentes obesos. Os
resultados indicaram que o treinamento aeróbico geralmente resulta na diminuição da
gordura corporal, com concomitante redução
da massa corporal e manutenção da massa
magra. Por outro lado, Sundell4 verificou que
o treinamento resistido aumenta a força muscular, bem como a massa magra e a densidade
mineral óssea em idosos, além de diminuir a
gordura abdominal. Assim, um protocolo que
una os benefícios dos dois tipos de treino tem
recebido grande atenção para mudanças na
composição corporal.
Westcott et al.5 submeterem 1.725 pessoas
entre 21 e 80 anos a um protocolo aeróbio
combinado com resistido em dez semanas,
em três frequências de treinamento (uma,
duas e três sessões por semana). Todas as
frequências resultaram em redução significativa na porcentagem e no peso de gordura,
bem como aumento de massa magra, porém
maiores frequências associaram-se a benefícios superiores em tais variáveis. Mais pesquisas com protocolos prolongados precisam
395
ser realizadas para verificar efeitos a longo
prazo, além de estudos que analisam que tipo
de treinamento é mais vantajoso para composição corporal em senescentes.
Embora estejam evidenciados os benefícios de programas de atividade física para
pessoas mais velhas, usualmente a literatura
carece de estudos com período de intervenção prolongada e que compare as mudanças
da densidade e composição corporais em protocolos de treinamento misto e de resistência
em senescentes. Diante do exposto, o objetivo
deste estudo foi verificar e comparar os efeitos de um protocolo de treinamento misto e
de um protocolo de exercícios contrarresistência para indivíduos com mais de cinquenta
anos de idade sobre a composição e a densidade corporais.
MéTODOS
Amostra
Participaram do estudo indivíduos residentes no município de São Carlos, de ambos os sexos, com idade superior a cinquenta
anos e não institucionalizados. Foram divididos em três grupos. O Grupo GM foi formado
por indivíduos submetidos a um protocolo de
exercício físico misto. O Grupo GR, composto
por servidores da Universidade Federal de
São Carlos (UFSCar), submeteu-se a exercícios resistidos. O Grupo GC constituiu-se de
indivíduos não participantes de protocolos de
exercício físico.
Para os critérios de inclusão, foram considerados: idade superior a cinquenta anos,
praticar somente as atividades propostas
para os grupos GM e GR, não praticar nenhuma atividade física para o grupo GC e autorização médica exigida na forma de um atestado durante a avaliação inicial. Os critérios
de exclusão foram doenças pregressas e atuais que impossibilitassem a participação nos
396
Geriatria & Gerontologia
programas, não completar todas as semanas
propostas de treinamento, apresentar crise
aguda de dor durante o período da pesquisa
que necessitasse de um longo tempo de repouso e ausência em uma das avaliações.
Estavam matriculadas nos grupos GM e
GR, respectivamente, 193 e 31 pessoas. Os
cálculos do tamanho da amostra com base
nas variáveis índice de massa corporal (IMC),
circunferência abdominal (CA) e porcentagem de gordura (PG) foram realizados com
o software Minitab, adotando valor de poder
do teste de 80% e nível de significância de
5%, e resultaram em tamanhos amostrais de
32 a 64 indivíduos por grupo.6 Porém, devido à carência de mais voluntários no GC,
a amostra de conveniência foi de 27 pessoas por grupo, sendo dezessete mulheres e
dez homens. Por meio do software Minitab,
houve um sorteio aleatório nos grupos com
quantidade de amostra superior ao calculado (grupos GM e GR).
Procedimentos gerais
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de São Carlos (Parecer n. 330/2007).
Aos participantes dos protocolos de exercício físico supervisionado (Grupos GM e GR)
foram explicados os objetivos da pesquisa e
entregue um informativo sobre os protocolos.
Todos os voluntários assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido e participaram de uma avaliação inicial, que consistiu
nos seguintes itens: anamnese, medição de
CA, PG, peso e estatura.
A CA foi medida com a região abdominal
despida e por meio de uma fita métrica de
fibra de vidro, graduada em centímetros. O
padrão seguiu a orientação de Chuang et al.,7
no nível da cicatriz umbilical e no final do
movimento expiratório.
O peso e a estatura de cada indivíduo
foram medidos por meio de uma balança
antropométrica mecânica que continha um
estadiômetro para medição da estatura. Os
indivíduos estavam com o mínimo de roupa
possível, descalços e posicionados de costas
sobre a balança. Calculou-se o IMC a partir
da relação peso (kg) dividido pelo quadrado
da altura (m2).
A PG foi calculada utilizando-se o aparelho de bioimpedância Tanita® de membros
superiores, modelo FE-068. No aparelho,
eram digitadas as medidas do peso e da estatura, a idade e o gênero de cada indivíduo, o
qual não devia estar usando objetos de metal
como correntes, anéis, pulseiras, relógios, placas, prótese ou marcapasso. Para a medição,
os indivíduos ficavam em flexão de ombro a
noventa graus, com cotovelos estendidos e
seguravam o aparelho na região especificada
até que fosse identificada a PG.
Após seis meses da pesquisa inicial, todos
os voluntários foram novamente avaliados
por profissionais e estudantes treinados.
Intervenção
Tendo sido avaliados, os voluntários do Grupo GM participaram de um protocolo misto durante 25 semanas, com 75 sessões de 50 a 55 minutos e frequência de três vezes por semana. O
protocolo consistia de alongamentos miofasciais
dos principais grupos musculares (como peitorais, grande dorsal, cervicais, paravertebrais,
posteriores e anteriores da coxa) com duração
de 8 a 10 minutos; exercícios de resistência aeróbia (marchar/caminhar rápido por 9 min); exercícios de força, potência e resistência com pesos
livres (7 a 10 min); atividades de coordenação,
agilidade e flexibilidade (14 a 16 min); exercícios
respiratórios e de relaxamento (5 a 7 min) e hidratação em dois momentos da sessão (25 minutos após o início e ao final da sessão).
397
Exercícios sobre a composição corporal
Tabela 1. Modelo de periodização do grupo GR
Variáveis
Meso 1 (RML*)
Meso 2 (hipertrofia)
2a4
3
Repetições
15 a 20 (membro superior)
20 a 25 (membro inferior)
12, 10, 08
Intervalo
2’
45”
Carga
60 a 65%
65, 75, 80%
Velocidade
Moderada
Moderada
Amplitude
Máxima
Máxima
Séries
*RML: resistência muscular localizada
O protocolo de GR consistia de exercícios resistidos em seis meses, composto por
seis aparelhos da marca Pró-Phisical (Jaú-SP)
adaptados para idosos, com sistema de alavanca e pesos livres: leg press, press peitoral,
panturrilha, extensão lombar, abdominal e remada. A sequência de exercícios foi alternada
e utilizou-se a técnica de 1 RM (carga máxima)
para determinar a carga inicial do treino em
cada aparelho. O treinamento seguiu o modelo de periodização (Tabela 1), que constou de
dois mesociclos com mesmo período, o primeiro enfocando a resistência muscular localizada e o segundo a hipertrofia, de acordo com
as modificações das variáveis do treinamento.
O teste 1RM foi refeito na troca do mesociclo.
O protocolo teve uma frequência de três vezes
por semana, com duração de 45 a 50 minutos
cada sessão, sendo 78 sessões no total.
Antes e depois de cada sessão, eram
aferidas a pressão arterial e a frequência
cardíaca de cada voluntário. Todas as sessões
foram acompanhadas por profissionais
fisioterapeutas e educadores físicos com
treinamento para atendimento individual de
idosos. Nenhuma orientação nutricional foi
dada para os voluntários do projeto.
Análise estatística
Foi realizada uma análise descritiva e inferencial dos dados por meio da adoção de um
nível de significância de α = 0,05 e utilização
do software Minitab versão 14 para execução
dos testes estatísticos.
Primeiramente, foi aplicado o teste de
normalidade Ryan-Joiner em todas as variáveis, que detectou a distribuição normal para
todo o conjunto de dados (p > 0,05). Assim,
posteriormente foram usados teste t pareado na comparação entre as avaliações inicial
e final de cada grupo, análise de variâncias
(Anova) e teste de Tukey como post hoc nas
comparações entre os três grupos. Apesar de
não ser objetivo principal do estudo, foi feito teste t de duas amostras para comparação
de gêneros. Como não foi possível ter o tamanho amostral ideal, o poder dos testes foi
verificado a posteriori.
O presente estudo cumpriu os princípios éticos contidos na Declaração de Helsinki (2000), além das legislações específicas do Brasil que envolve pesquisa em
seres humanos.
398
Geriatria & Gerontologia
Exercícios sobre a composição corporal
Resultados
Figura 1. Boxplot das variáveis dependentes para os grupos femininos e masculinos nas duas avaliações (p > 0,05).
De acordo com os testes Anova de fator
único e o teste de Tukey, houve diferença significativa (p < 0,05) quanto à idade apenas
entre os grupos GM feminino (média de idade
de 59,5 anos) e GC feminino (média de idade
de 66,9). Entre os grupos GC, GM e GR masculinos não houve diferença significativa. A
média da população do presente estudo encontrou-se entre 60 e 70 anos.
A partir do teste Anova de fator único,
testou-se a diferença entre os valores dos três
grupos na primeira avaliação, bem como na
segunda avaliação, quanto às variáveis IMC,
CA e PG. A partir do valor p, notou-se que não
houve diferença significativa em nenhuma variável. Porém, como o poder do teste calculado a posteriori foi baixo em todas as variáveis,
o tamanho da amostra foi insuficiente para
concluir que não há diferença entre os grupos
estudados (Figura 1).
A partir do teste t pareado, houve uma diminuição significativa no IMC entre as duas
avaliações apenas no GM feminino (p = 0,007),
sendo que o poder do teste para tais avaliações
no sexo feminino foi 69,5% e no masculino
62,7%. Quanto à CA, houve diminuição significativa no GR feminino (p = 0,018), mesmo com
um poder do teste baixo (feminino = 21%; masculino = 12%). Para a PG, não houve diferença
significativa em nenhuma das comparações e
o poder do teste em ambos os sexos foi muito
alto (feminino = 98%; masculino = 91%).
A variável IMC foi comparada na primeira
avaliação entre os gêneros de um mesmo grupo, bem como na segunda avaliação (Tabela
2), por meio do teste t para duas amostras.
Não houve diferença significativa em nenhuma das análises (p > 0,05). As mesmas análises foram feitas para a variável CA (Tabela 3)
e para a PG (Tabela 4). Não ocorreu diferença
significativa quanto à CA, porém em todas as
399
comparações da PG houve diferença, sendo
que as mulheres apresentaram maior valor
em todos os grupos.
DIsCUSSÃO
Como o poder do teste Anova nas três variáveis dependentes foi baixo, a amostra foi
insuficiente para afirmar se os três grupos
avaliados começaram iguais quanto aos valores das variáveis ou se realmente não houve
diferença significativa entre os grupos na segunda avaliação. Antunes et al.8 compararam
um grupo de idosos participantes de um programa de resistência em seis meses com um
grupo controle, totalizando 23 voluntários homens em cada grupo. Constatou-se, por meio
do aparelho Dexa (absortometria radiológica
de dupla energia), que não houve alteração da
composição corporal do grupo experimental
em relação ao controle. Marques et al.9 avaliaram a composição corporal de 77 mulheres
entre 60 e 79 anos, divididas randomicamente
em programas de exercício multicomponente
e resistido, realizados duas vezes por semana.
Após oito meses de treinamento, não houve diferenças significantivas no IMC e na PG entre
os grupos e dentro de cada grupo. Embora os
sujeitos tenham sido instruídos quanto a manter uma rotina de dieta normal durante o treinamento, esta não foi controlada.
Ross et al.10 analisaram a influência da
dieta e do exercício no musculoesquelético
e tecido adiposo visceral em homens, utilizando três grupos com onze homens obesos
em cada um, sendo um submetido apenas à
dieta e os outros submetidos à dieta combinada com exercício aeróbico ou de resistência. Todos os tecidos foram mensurados por
meio da imagem de ressonância magnética.
Após dezesseis semanas, percebeu-se que
tanto a dieta combinada com exercício aeróbio quanto com exercício resistido resultaram
400
Geriatria & Gerontologia
Exercícios sobre a composição corporal
Tabela 2. IMC (kg/m²) nos grupos por gênero e valor de p (teste t)
1ª avaliação
Valor de p
2ª avaliação
Valor de p
GR feminino
29,5 (5,6)*
0,119
29,4 (6,0)
0,122
GR masculino
26,3 (4,5)
GM feminino
26,7 (4,7)
GM masculino
26,5 (3,7)
GC feminino
27,7 (4,8)
GC masculino
28,2 (4,0)
26,0 (4,6)
0,920
26,0 (4,8)
0,861
26,3 (4,1)
0,780
27,5 (5,0)
0,696
28,2 (3,8)
*Média (desvio-padrão)
Tabela 3. CA (cm) nos grupos por gênero e valor de p (teste t)
1ª avaliação
Valor de p
2ª avaliação
Valor de p
GR feminino
98,5 (12,8)
0,822
95,2 (14,2)
0,832
GR masculino
97,4 (11,2)
GM feminino
91,3 (10,5)
GM masculino
94,5 (10,4)
GC feminino
93,6 (14,2)
GC masculino
99,3 (12,5)
96,3 (11,7)
0,454
89,8 (10,1)
0,360
93,8 (11,0)
0,294
92,4 (13,1)
0,205
98,9 (12,0)
Tabela 4. PG (%) nos grupos por gênero e valor de p (teste t)
1ª avaliação
Valor de p
2ª avaliação
Valor de p
GR feminino
40,2 (4,6)
< 0,001
40,1 (5,4)
0,005
GR masculino
26,5 (6,9)
GM feminino
36,1 (4,8)
GM masculino
26,4 (5,4)
GC feminino
39,2 (6,0)
GC masculino
29,1 (4,7)
28,4 (10)
< 0,001
37,2 (5,5)
< 0,001
26,4 (5,4)
< 0,001
40,3 (6,6)
28,0 (4,2)
< 0,001
em melhora na preservação do sistema musculoesquelético, na mobilização do tecido
adiposo subcutâneo da região abdominal e na
capacidade funcional dos indivíduos, quando
comparadas a um programa apenas de dieta.
Talvez a existência de dieta e orientação nutricional complementada ao exercício físico, e
não o último isoladamente, seja um fator importante para melhora da composição corporal, necessitando assim mais pesquisas sobre
o assunto.
Apesar dos grupos terem terminado o seguimento com valores semelhantes, houve diferenças intragrupos entre as duas avaliações
em relação a algumas variáveis. Houve diminuição significativa do IMC no GM feminino
(p = 0,007), enquanto nos outros grupos não
ocorreu diferenças relevantes, sendo que o poder do teste no sexo feminino foi 69,5% e no
masculino 62,7%. Em relação à CA, a diminuição significativa foi encontrada somente no GR
feminino, mas, como o poder do teste foi muito
baixo (feminino = 21%; masculino = 12%), não
foi possível identificar possíveis diferenças em
outros grupos. Assim, são necessárias pesquisas que tenham uma amostra maior para estudar os efeitos dos exercícios sobre a CA.
Quanto à PG, não ocorreu alteração significativa em nenhum dos grupos e o poder do
teste foi muito alto (acima de 90%), mostrando que o tamanho da amostra estava
adequado. Ravagnani et al.11 avaliaram 45
homens e 64 mulheres, os quais foram divididos em dois grupos de acordo com a frequência a um protocolo de treinamento (< 3
vezes por semana e ≥ 3 vezes por semana).
Os voluntários foram submetidos a exercícios
aeróbios, resistência muscular localizada,
equilíbrio e flexibilidade durante seis meses.
Em ambos os grupos e sexos, o programa não
exerceu efeitos significativos para as variáveis
IMC, PG e CA e ainda foi diagnosticada, a partir
de valores do IMC, a pré-obesidade nessas
401
populações. Coker et al.12 examinaram a influência de treinamentos de exercício de moderada e alta intensidades de doze semanas em
dezoito idosos obesos. Não foram encontradas também mudanças no peso corporal, IMC
e PG (avaliada por meio do Dexa) nos grupos
de treinamento ou no controle. Não obstante,
houve uma significativa redução da gordura
visceral com o treinamento mais intensivo e
nenhuma mudança nos outros grupos.
Filardo e Leite13 analisaram a composição
corporal de noventa homens e 88 mulheres,
alunos iniciantes de uma academia em Curitiba, em um período de aproximadamente
um ano. Observou-se diferença significativa
com o treinamento para o IMC nos homens
e PG (por meio da fórmula de Siri) nos dois
gêneros. Contudo, os objetivos de cada aluno
podem ter influenciado nos resultados relacionados à composição corporal. É possível
que os resultados encontrados no presente
estudo tivessem sido diferentes se o tempo de
seguimento fosse maior ou o método de mensuração da PG fosse mudado.
Estudo realizado na Coreia comparou os
efeitos de um programa de exercício físico,
o qual envolvia dança latina, fortalecimento muscular e exercícios com halteres, em
37 mulheres. As voluntárias foram agrupadas conforme sua PG, sendo que uma porção
foi composta de 16 mulheres não obesas e
o outra de 21 obesas. Após oito semanas de
treinamento, somente as mulheres obesas
apresentaram peso corporal e IMC significativamente menores.14 Como a idade média
da população do presente estudo encontra-se entre 60 e 70 anos e os valores considerados ideais segundo Prothro15 são, para as
mulheres, 36,9% de gordura corpórea e, para
os homens, 28,1%, a média feminina da PG
na primeira avaliação se encontra acima do
ideal, enquanto a masculina está abaixo do
ideal. Essa diferença de PG poderia ser uma
402
Geriatria & Gerontologia
razão para não encontrarmos nenhuma diferença significativa nas variáveis em comparações intragrupos do sexo masculino.
No estudo, não houve divergência importante entre os sexos quanto às variáveis IMC
e CA. Em relação à PG, as mulheres apresentaram valores expressivamente maiores em
todos os grupos, comparadas aos homens,
resultado visto também para amostras mais
jovens.16,17 Em outros estudos com diferentes faixas etárias, observou-se o mesmo resultado para o IMC18 e para a CA.16 Du et al.19
avaliaram, entre outras medidas, a CA de três
mil trabalhadores chineses entre dezoito e 66
anos. Verificou-se que a medida dos voluntários do sexo masculino foi significativamente
maior que das mulheres. Em outro estudo,
foram analisadas 3.531 crianças entre três e
onze anos e mensuradas as CA de acordo com
a recomendação da OMS.20 Os homens apresentaram CA maior que as mulheres em todas
as idades.21 Assim, a divergência dos resultados da CA pode ser justificada pelo menor número de voluntários em nossa amostra, como
também por diferentes padrões de mensurar
tal variável, sendo que a adoção de um protocolo de medição padrão facilitaria a interpretação dos resultados de diversos estudos.
Quanto às limitações do estudo, o tamanho da amostra revelou ser pequeno para algumas análises, dado alguns baixos valores
de poder do teste. As avaliações foram feitas
com diferentes avaliadores e estes não eram
cegos. Devido à dificuldade de controle, alguns procedimentos prévios para uso do aparelho de bioimpedância não foram realizados,
porém ainda não há um consenso na literatura sobre quais seriam eles. Ainda, foram realizadas apenas duas avaliações de carga com
o teste de 1RM no grupo GM, o que pode ter
afetado a adequada progressão do programa
de exercícios resistidos. Apesar disso, o estudo vem a contribuir no desenvolvimento da
literatura na área de gerontologia relacionada
à composição corpórea e serve também como
estímulo e ajuda para futuras pesquisas.
CONCLusão
Com base nos resultados, pode-se concluir que não houve diferença significativa entre os grupos quanto às variáveis analisadas,
porém o estudo careceu de mais voluntários
para tal comparação. Os grupos mantiveram
os níveis de composição corporal ao longo de
seis meses, além de melhoras significativas
intragrupos que ocorrerem no sexo feminino, sendo elas as diminuições do IMC no GM
feminino e da CA no GR feminino. A PG foi a
única variável antropométrica que diferiu entre os gêneros. Este trabalho acrescenta na
literatura científica resultados de protocolos
de treinamento misto e de resistência em senescentes, ajudando a entender seus efeitos a
longo prazo e servindo de estímulo para futuros estudos que comparem intervenções com
e sem dieta nutricional e utilizem métodos de
avaliação mais sofisticados.
Exercícios sobre a composição corporal
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Medicamentos inapropriados para idosos
Artigo Original
Medicamentos inapropriados para idosos usados
no tratamento de gripe e resfriado
Inappropriate medicines for elderly used in the treatment of influenza and cold
Vanessa Adelina Casali Bandeira1*; Marilei Uecker Pletsch2
RESUMO
Acadêmica de Graduação em
Farmácia pela Universidade
Regional do Noroeste do Estado
do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ).
Trabalhou na elaboração do
artigo.
2
Farmacêutica, Mestre em
Ciências Farmacêuticas,
Professora do Departamento
de Ciências da Vida da UNIJUI.
Trabalhou na orientação e revisão
final do artigo.
1
O objetivo deste estudo foi verificar os medicamentos potencialmente inapropriados para idosos utilizados no
tratamento sintomático de gripe e resfriado. A identificação dos medicamentos foi realizada através do Dicionário
de Especialidades Farmacêuticas (DEF) 2011/2012 e após foram identificados os medicamentos inapropriados
conforme os critérios de Beers atualizados em 2003 e complementados em 2008. Foram identificados 320
medicamentos, considerando repetições, compostos por 77 diferentes princípios ativos dos quais 9 (11,69%)
são considerados potencialmente inapropriados para idosos e estão presentes em 65 (20,31%) das alternativas
farmacológicas disponíveis para o tratamento de gripes e resfriados. O uso de medicamentos inapropriados torna
os idosos mais suscetíveis a problemas relacionados com medicamentos, principalmente a ocorrência de reações
adversas. Essas condições agravam-se no tratamento de gripe ou resfriado, pois os medicamentos consumidos
são de fácil acesso por serem isentos de prescrição e frequentemente utilizados através da automedicação.
É fundamental que todos os profissionais da saúde, principalmente prescritores e farmacêuticos busquem
alternativas para reduzir o consumo de medicamentos inapropriados e a automedicação, contribuindo para o uso
racional de medicamentos e buscando melhorar a qualidade de vida desses idosos.
Palavras-chave: Saúde do Idoso, Uso de medicamentos, Gripe, Automedicação.
ABSTRACT
The objective of this study was to verify the potentially inappropriate medicines taken by elderly people during
sintomatic cold and flu. The identification of medicines was performed by the Dictionary of Pharmaceutical
Specialties (DPS) 2011/2012 and after were identified according to Beers criteria, updated in 2003 and
supplemented in 2008. 320 medicines were identified, considering replications, 77 different substances were
identified, 9 (11,69%) are considered potentially inappropriate for elderly people and are in 65 (20,31%) of
pharmaceutical alternatives available for treatment of influenza and cold. The use of inappropriate medicines
make elderly people more susceptible to the drug-related problems, especially the occurrence of adverse reactions.
These conditions are even worse in the treatment in treatment of influenza and cold, the medicines used are easily
accessible because they don’t need prescription and often are used as self medication. It is essential that all health
professionals, especially prescriber and pharmacist find alternatives to reduce the inappropriate use of medicines
and self medication, contributing for rational drug use and finding ways to improve elderly people quality of life.
Keywords: elderly people health, Drug Utilization, Influenza, Self Medication.
Endereço para correspondência: *Vanessa Adelina Casali Bandeira. Rua do Comércio, n°. 3000, Bairro Universitário. CEP 98700-000, Ijuí, Rio Grande do Sul, Brasil.
Telefone/fax: 0xx(55)33320468/0xx(55)33329100. E-mail: [email protected].
INTRODUÇÃO
Muitos idosos são acometidos por doenças crônicas e seus agravos não transmissíveis,
que se constituem em estados permanentes
ou de longa permanência, que necessitam de
acompanhamento constante1. Concomitantemente a ocorrência de doenças ocorre o uso
de medicamentos, o qual seu consumo está
relacionado principalmente ao aumento da
idade, ao sexo feminino, maior renda familiar
e a percepção ruim sobre a saúde e a presença
de sintomas2.
No entanto, os cuidados relacionados ao
uso de medicamentos não devem estar centralizados apenas a população que mais o
consome, pois se sabe que a administração
de um medicamento em qualquer faixa etária pode gerar reações adversas, porém sua
incidência aumenta proporcionalmente com
a idade, expondo os idosos a maiores riscos1.
Além disso, é importante considerar que
muitos idosos por apresentarem várias causas de fragilidade e pela maior vulnerabilidade para a ocorrência de doenças crônicas ou
agudas utilizam muitos medicamentos concomitantemente, o que os expõem ao risco de interações medicamentosas e reações adversas,
esse risco aumenta quando se utilizam medicamentos inapropriados a essa faixa etária3.
Os medicamentos potencialmente inapropriados consideram as características clínicas
mais importantes da população idosa, relacionadas as mudanças fisiológicas que ocorrem no organismo do idoso, entre as quais
destaca-se a resposta aos medicamentos, que
são diferentes do que as apresentadas por pacientes jovens, resultando em modificações
farmacocinéticas e farmacodinâmicas decorrentes do próprio envelhecimento4. Nesse
sentido, foram desenvolvidos alguns critérios
que classificam os medicamentos que devem
ser evitados por idosos, inicialmente por Be-
405
ers5 atualizada por Fick et al.6. Além disso,
Soares et al.7 realizou atualização desses critérios específico para Portugal.
Segundo Flores & Colet3 os medicamentos
considerados inadequados são impróprios
para o uso em idosos em comparação a outras
categorias, por falta de eficácia terapêutica ou
por apresentar efeitos adversos superiores
aos benefícios.
Apesar dos potenciais malefícios o uso
de medicamentos inapropriados é frequentemente observado, Araújo, Magalhão & Chaimowicz8 constataram o uso de medicamentos
inapropriados por 33,5% dos idosos pertencentes ao Programa Saúde da Família de um
Centro de Saúde de Belo Horizonte. Pinto,
Ferré & Pinheiro9 verificaram na população
de Diamentina/MG que 44,73% das prescrições de idosos continham um medicamento
inapropriado.
No entanto, o uso de medicamentos inapropriados não ocorre apenas no Brasil, Fialová et al.10 verificaram o uso de medicamentos potencialmente inapropriados em 19,8%
dos idosos em estudo em países da Europa.
Assim como, Simon et al.11 ao analisarem a
população idosa dos Estados Unidos constataram que 28,8% consumiam pelo menos um
medicamento inapropriado.
O uso de medicamentos inapropriados
ocorre por diversos motivos e condições, tanto em doenças crônicas quanto agudas, como
no caso do tratamento de gripes e resfriados
que são infecções virais auto-limitadas, com
baixa mortalidade na ausência de complicações, sendo seus sintomas mais frequentes
caracterizados por febre, calafrios, cefaléia,
tosse seca, dor de garganta, congestão nasal
ou coriza, mialgia, anorexia e fadiga12.
Devido a esses sintomas serem considerados simples, os medicamentos utilizados no
seu tratamento frequentemente são consumi-
406
Geriatria & Gerontologia
dos através da automedicação, prática na qual
os indivíduos selecionam e utilizam o medicamento para tratar sintomas ou problemas
de saúde menores reconhecidos por eles13,
ou seja, o uso do medicamento é realizado
sem adequada indicação e orientação. Segundo Mendes et al.14 ao analisarem a realização
da automedicação na população portuguesa
verificaram que os medicamentos mais utilizados eram preparações nasais e sistêmicas
para gripe e tosse. Vitor et al.15 ao avaliarem
o consumo de medicamentos sem prescrição
médica em Porto Alegre/RS constataram que
entre os grupos mais comumente utilizados
por automedicação encontravam-se para o
tratamento de febre e gripe.
A automedicação irracional aumenta o
risco de eventos adversos, pode mascarar doenças e retardar o diagnóstico correto16.
Nesse sentido, o presente estudo objetiva
verificar os medicamentos potencialmente
inapropriados a idosos utilizados no tratamento sintomático de gripe e resfriado.
MÉTODOS
Foram selecionados os medicamentos
presentes no Dicionário de Especialidades
Farmacêuticas (DEF) 2011/201217, com indicação para o tratamento sintomático de
gripes e resfriados e para os sintomas correlacionados como febre, congestão nasal, infecções/inflamações (respiratórias), tosse e
hipovitaminoses C. Foram verificados todos
os medicamentos pelo seu nome comercial,
após buscou-se os princípios ativos que os
compõe, pela denominação genérica, entre os
quais foram identificados os potencialmente
inapropriados para idosos.
Para a classificação como medicamento inapropriado a idosos seguiram-se os critérios de
Beers5 atualizado por Fick et al.6 e Soares et al.7.
RESULTADOS
Foram encontrados 320 medicamentos
no DEF 2011/201217 com indicação para o
tratamento sintomático de gripes e resfriados,
considerando repetições de princípios ativos,
foram identificados 77 diferentes princípios
ativos, destes 9 (11,69%) são considerados
potencialmente inapropriados para idosos,
os quais estão presentes em 65 (20,31%) das
alternativas farmacológicas disponíveis para
o tratamento de gripe e resfriado.
Entre os medicamentos potencialmente
inapropriados a idosos foram encontrados os
pertencentes a classe dos anti-histamínicos,
tais como: clorfeniramina e difenidramina,
ambas presentes em nove medicamentos;
dexclorfeniramina em seis medicamentos;
prometazina em três medicamentos; clorfenamina e dexbronfeniramina presentes em
apenas um medicamento cada.
A Tabela 1 apresenta os medicamentos
potencialmente inapropriados em determinada patologia, sendo o ácido acetilsalicílico
o mais relacionado a patologias.
Discussão
O aumento da população idosa traz desafios aos serviços e aos profissionais de saúde,
pois com o envelhecimento surgem doenças
crônicas que requerem o uso prolongado e
contínuo de medicamentos, além disso, os
idosos são mais suscetíveis a problemas agudos (infecções e transtornos menores) que
também estão relacionados ao consumo de
medicamentos, consequentemente esse grupo
torna-se o mais medicalizado da sociedade18.
Com o consumo elevado de medicamentos no seu cotidiano, os idosos comumente
apresentam como consequência problemas
relacionados aos medicamentos, tais como reações adversas, interações medicamentosas,
407
Medicamentos inapropriados para idosos
tratamento inadequado, entre outros, que podem ser mais acentuados com a utilização de
medicamentos inapropriados a esse grupo2.
Nesse sentido, é fundamental a atuação
dos profissionais de saúde, especialmente do
farmacêutico na promoção do uso racional de
medicamentos, através de estratégias que visem uma administração correta, diminuindo
os riscos de efeitos adversos e interações18,
assim como evitando o consumo de medicamentos potencialmente inapropriados.
O uso de medicamentos potencialmente
inapropriados a idosos é frequente, sendo
que alguns são de fácil acesso pelos idosos
por serem isentos de prescrição médica e/ou
utilizados no tratamento de agravos agudos,
como no tratamento sintomático de gripe e
resfriado conforme verificado no presente estudo, que evidenciou a presença de nove princípios ativos inapropriados disponíveis para
o tratamento sintomático de gripe e resfriado.
Entre os medicamentos inapropriados a
difenidramina tem grau elevado de inapropriação, pois pode causar sedação e confusão,
sendo que não deve ser usada como hipnótico e quando administrado para tratamento de
reações alérgicas em emergência a dose deve
ser a mais reduzida possível6,7.
Os demais anti-histamínicos também
possuem grau elevado de inapropriação por
possuírem efeitos anticolinérgicos potentes,
sendo preferível os anti-histamínicos sem
efeitos anticolinérgicos6,7. Além disso, em idosos com retenção urinária os anti-histamínicos e a pseudoefedrina podem reduzir o fluxo
urinário acentuando a retenção6,7.
A pseudoefedrina também é inapropriada a idosos com hipertensão, pois pode elevar a pressão arterial por efeito secundário
da atividade simpaticomimética e em casos
de insônica por ser um estimulante do sistema nervoso central6,7.
Tabela 1. Medicamentos potencialmente inapropriados a idosos considerando a patologia de acordo com Fick et al.6 e Soares et al.7
presentes no DEF 2011/2012 para o tratamento sintomático de gripes e resfriados.
Medicamento ou
grupo
Ácido acetilsalicílico
Clorfenamina
Clorfeniramina
Dexbronfeniramina
Dexclorfeniramina
Difenidramina
Prometazina
Pseudoefedrina
Patologia
Número de medicamento em
que está presente
Insuficiência cardíaca;
Úlcera gástrica ou duodenal;
Alteração na coagulação ou paciente recebendo
terapia anticoagulante
17
Retenção urinária
1
Retenção urinária
9
Retenção urinária
1
Retenção urinária
6
Retenção urinária
9
Retenção urinária
3
Hipertensão;
Retenção urinária;
Insônia
19
408
Geriatria & Gerontologia
Na insuficiência cardíaca o ácido acetilsalicílico, um salicilato, é impróprio, pois pode
promover efeito inotrópico negativo, com potencial para promover retenção de líquidos e
exacerbação da insuficiência cardíaca6,7. Também é inapropriado a idosos com úlcera duodenal ou gástrica porque pode agravar as úlceras existentes ou produzir novas6,7. De acordo
com os mesmos autores o ácido acetilsalicílico
é inapropriado a idosos com alteração na coagulação, pois pode prolongar o tempo de coagulação e elevar o valores normais ou inibir
a agregação de plaquetas, resultando em um
potencial aumentado para sangramento.
Araújo, Magalhão & Chaimowicz8 constataram o uso de medicamentos inapropriados por 33,5% dos idosos pertencentes ao
Programa Saúde da Família de um Centro de
Saúde de Belo Horizonte/MG e entre eles estavam presentes a clorfeniramina, dexclorfeniramia e da prometazina, além disso, entre
os idosos do estudo foi verificado que 22,3%
realizavam automedicação.
Ainda, os anti-histamínicos inapropriados também foram encontrados por Laroche
et al.19 entre os idosos internados em uma clínica de geriatria de um hospital universitário
da França. Além disso, Nassur et al.20 em um
hospital filantrópico ao verificarem o consumo de medicamentos inapropriados, encontraram entre eles a clorfeniramia e a prometazina, sendo que os dois medicamentos eram
utilizados sem prescrição médica.
Laporta et al. ao analisarem o consumo
de anti-inflamatórios não esteróides nas farmácias comerciais de Santa Maria/RS verificaram que 76,52% dessa classe de medicamento eram comercializados sem prescrição
médica, sendo o princípio ativo mais comercializado o ácido acetilsalicílico, sendo esse,
um medicamento que na presença de várias
patologias é inapropriado ao idoso.
21
A prática da automedicação é frequente
entre os adultos brasileiros, na cidade de Tubarão/SC em um grupo de terceira idade verificou-se que 80,5% dos idosos se automedicam, principalmente pela praticidade e na presença de sintomas considerados simples, como
no caso de gripe, além disso, constatou-se que
55,9% das automedicações eram por orientações de amigos, vizinhos ou familiares22.
Mendes et al.14 ao analisarem a automedicação na população português encontraram
um prevalência de 26%, sendo que o grupo
mais utilizado em automedicação foi o das
preparações nasais e sistêmicas para a gripe e
tosse representando 23,0% do total de situações de automedicação. Martins et al.23 na população de Bragança verificaram que 91,3%
da população realizava automedicação, sendo
cefaléia, gripe, febre e dor de garganta as principais condições que levam a automedicação.
Nesse sentido, verifica-se que o uso dos
princípios ativos inapropriados a idosos, que
são alternativas terapêuticas no tratamento
sintomático da gripe é frequente, assim como
a realização da automedicação para o tratamento da gripe.
Além disso, de acordo com a Resolução no
138/200324 os anti-histamínicos, analgésicos e
antitérmicos, comumente utilizados para o tratamento de gripe e resfriado pertencem a Lista
de Grupos e Indicações Terapêuticas Especificadas que são de venda sem prescrição médica24.
As limitações do estudo ocorrem pelo fato
do mesmo ser de caráter bibliográfico, não
sendo possível mensurar quantitativamente
a real utilização dos medicamentos potencialmente inapropriados a idosos no seu cotidiano, tanto como medicamento prescrito quanto pelo consumo desses medicamentos por
automedicação no tratamento dos sintomas
relacionados a gripe e identificar suas consequências de uso tais como reações adversas.
Medicamentos inapropriados para idosos
Ainda, destaca-se que no Brasil não existe uma lista de medicamentos inapropriadas
direcionada aos medicamentos utilizados nacionalmente, sendo que a Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (ANVISA) é o órgão
de regulação do uso de medicamentos a qual
emite periodicamente alertas sobre os medicamentos em circulação, mas nada específico
a população idosa25.
Nesse sentido, evidencia-se a disponibilidade de acesso a medicamentos considerados
inapropriados, mas ressalta-se a necessidade
de padronização desses medicamentos no
Brasil e a busca por alternativas capazes de
evitar seu consumo pelos idosos, de acordo
com Laroche et al.19 em uma clinica médica
na França verificaram que a ocorrência de
reações adversas é maior entre os usuários
de medicamentos inapropriados, sendo de
20,4% entre os usuários desses medicamentos e de 16,4% entre os usuários de medicamentos apropriados. Ainda, a associação dos
mesmos a automedicação agrava ainda mais
essas condições, considerando que a automedicação pode atrasar a busca pelo tratamento
adequado, promover interações entre medicamentos, risco de reações adversas, toxicidade e abuso no consumo de medicamentos26.
Cabe aos profissionais de saúde, principalmente prescritores e farmacêuticos racionalizar o uso de medicamentos e minimizar a ocorrência de reações adversas e interações medicamentosas, comuns aos usuários de múltiplos
medicamentos, e particularmente graves na
população idosa, através da não prescrição de
medicamentos inadequados e prevenção da
automedicação dessa faixa etária8. Ainda, segundo Cascaes, Falchetti & Galato22 educar a
população para o uso racional de medicamentos é função de todos os profissionais da saúde, com o objetivo de reduzir a automedicação
nesta população e consequentemente muitos
dos problemas relacionados a farmacoterapia.
409
Nesse sentido, destaca-se a necessidade
dos profissionais de saúde planejarem e atuarem conjuntamente através de ações direcionadas ao uso racional de medicamentos,
visando promover de forma consciente a saúde individual e comunitária. Entre as ações
ressaltam-se orientações sobre a prática da
automedicação, muitas vezes utilizada pelo
idoso para o tratamento do que é considerado simples, mas devem ser orientados para
evitar essa prática que pode resulta no uso
irracional de medicamentos e da necessidade de identificar os problemas de saúde que
necessitam de avaliação de um profissional
mais habilitado22.
Ainda, o surgimento de efeitos tóxicos relacionados aos medicamentos expõe os idosos a
uma terapia medicamentosa insegura e pode influenciar economicamente o sistema de saúde6.
Nesse contexto, a farmácia comunitária
torna-se um estabelecimento importante
para o uso racional de medicamentos, principalmente com a atuação efetiva do profissional farmacêutico neste estabelecimento.
É dever do estabelecimento farmacêutico assegurar ao usuário o direito a informações e
orientações sobre o uso dos medicamentos,
com ênfase ao cumprimento da posologias,
as interações medicamentosas, as reações adversas e armazenamento do medicamento27.
Sousa, Silva & Neto28 apresentam que a
farmácia é um local que o farmacêutico busca
a cada dia mais seu espaço e através de suas
habilitações tem capacidade de conscientizar
o indivíduo/paciente para o uso de medicamentos com adequada orientação, de forma
correta e sob orientação médica, o que visa
propiciar uma terapia medicamentosa racional, segura e efetiva.
Ainda, como ferramenta para a atuação
do farmacêutico surge a atenção farmacêutica, pratica ainda incipiente, mas com o po-
410
Geriatria & Gerontologia
tencial de transformar muitos estabelecimentos farmacêuticos com seu fator comercial e
mercantilista, em um estabelecimento com
concepção de serviços avançados de saúde,
com realização de ações educativas, tanto individual quanto coletivamente29.
No contexto do tratamento de gripe e resfriado o farmacêutico deve estar preparado
para fornecer orientações relacionadas ao
tratamento medicamentoso, assim como, sobre medidas não farmacológicas que podem
ser utilizadas e formas de prevenção desses
transtornos respiratórios.
farmacêuticos, presentes principalmente nas
farmácias comunitárias que são os locais de
comercialização de medicamentos compete orientar para o adequado consumo dos
medicamentos, evitando o consumo de medicamentos inapropriados e a prática da automedicação, a fim de informar sobre seus
riscos que podem resultar em interações medicamentos, eventos adversos, insegurança
e ineficácia do tratamento medicamentoso,
e promover um tratamento medicamentoso
adequado a essa faixa etária, com uma melhor
resposta terapêutica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
No tratamento de desconfortos e sintomas
menores como no caso dos sintomas de gripes
e resfriados muitas vezes os indivíduos consomem medicamentos sem considerar suas
potenciais conseqüências. No entanto, todo
medicamento é passível de desenvolver interações medicamentosas, toxicidade e eventos adversos. Cabe aos profissionais da saúde
orientar a todos os usuários de medicamentos, sobre os riscos que podem estar expostos,
principalmente aos idosos que geralmente
consomem vários medicamentos concomitantemente e são mais suscetíveis a toxicidade e
eventos adversos relacionados, sendo que os
riscos aumentam ao consumirem medicamentos potencialmente inapropriados.
1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
Departamento de Atenção Básica. Envelhecimento e saúde da
pessoa idosa. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 192 p. Il.
A presença de medicamentos inapropriados entre os medicamentos utilizados
no tratamento de gripe e resfriado é relevante, pois muitos desses medicamentos
podem(suprimir) são comercializados sem
prescrição médica e estão frequentemente
relacionados a automedicação. Nesse sentido,
cabe aos profissionais de saúde, entre eles os
prescritores racionalizar a prescrição ao idoso prescrevendo medicamentos adequados
a essa faixa etária. Quanto aos profissionais
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Pilates na aptidão física de idosos
Artigo de revisão
Benefícios da prática do Método Pilates sobre a
aptidão física de idosos
Benefits of the practice of the Pilates Method on physical fitness of elderly
Letícia Sanches Deon1, Eduardo Ramos da Silva1
RESUMO
Universidade de Caxias do Sul,
RS, Brasil.
1
A expectativa de vida humana tem aumentado significativamente com o passar dos anos, pois pessoas acima
de sessenta anos estão acrescendo sua proporção. O objetivo do estudo foi investigar os benefícios sobre
a aptidão física que a prática do Método Pilates propicia a pessoas idosas. A busca foi realizada nas bases de
dados Google Acadêmico, PubMed/Medline e Scielo, empregando as palavras-chave “Pilates”, “idosos (elderly)”
e “envelhecimento (aging)”. Foram selecionados estudos envolvendo o envelhecimento e outros relativos aos
efeitos do Método Pilates nesta população. Foram considerados somente estudos observacionais e experimentais
para analisar os efeitos do Método Pilates na população idosa. A partir dos oito artigos selecionados, pôde-se
observar que o Método Pilates proporcionou melhoras significativas em níveis de flexibilidade, força muscular,
equilíbrio, autonomia pessoal e qualidade de vida em pessoas idosas. O Método Pilates é um programa de
exercícios favorável para minimizar ou reverter os efeitos negativos do envelhecimento e aprimorar os níveis
necessários de aptidão física para o idoso.
Palavras-chave: Aptidão física, técnicas de exercício e movimento, idosos.
ABSTRACT
Human life expectation increases significantly over the years, such that people aged over sixty are growing in
population proportion. This study aimed to investigate the benefits of physical fitness that the practice of Pilates
provides to elderly. The research was conducted through the databases: Google Scholar, PubMed, Medline and
Scielo, using the keywords “Pilates”, “elderly” and “aging”. We selected studies talking about aging, and those
related to the effects of Pilates in this population. We considered only the observational and the experimental
studies to analyze the effects of Pilates in the elderly. From the eight selected articles, it was observed that the
Pilates Method has provided significant improvements in levels of flexibility, muscular strength, balance, personal
autonomy and quality of life in older people. The Pilates Method is an exercise program favorable to minimize or
reverse the negative effects of aging and improve the necessary levels of physical fitness for elderlies.
Keywords: Physical fitness, exercise movement techniques, aged.
Endereço para correspondência: Letícia Sanches Deon - Rua Sete de Setembro, 850, Bairro Imigrante, Farroupilha, RS Brasil - Tel: (54) 9917-1198
E-mail: [email protected]
INTRODUÇÃO
A expectativa de vida humana tem aumentado significativamente. Nota-se que
pessoas acima de sessenta anos estão acrescendo sua proporção, chegando a aumentar no Brasil três anos a cada década. Isso
se deve ao avanço na área diagnóstica e
de tratamentos, além do crescente número de ações preventivas que induzem a atividade física, diminuindo os índices de
obesidade e osteoporose, e proporcionando
menores chances de desenvolver doenças
cardiovasculares, promovendo hábitos mais
saudáveis.¹ Segundo Bonardi et al.,² a saúde
não é definida apenas pela presença de
doenças, mas, sim, pelo nível de condição e
preservação da capacidade funcional a que o
ser humano se apresenta.
No envelhecimento, quando o sedentarismo se faz presente, acarreta diversas mudanças fisiológicas, como perda de flexibilidade
em músculos e articulações e perda de equilíbrio.³ O sedentarismo é ocasionado por facilidades que permitem ao indivíduo realizar
menos esforço físico, pois, quando necessário, em simples atividades, o corpo acaba por
utilizar níveis funcionais máximos aos quais
não está acostumado, afetando, assim, o sistema fisiológico, podendo ocasionar quedas.4 O
episódio de quedas é proporcional ao grau da
capacidade funcional que o idoso apresenta,
sendo mais frequentes em idosos debilitados
funcionalmente.5
O exercício físico auxilia o sistema fisiológico a se manter em funcionamento constante, por isso os idosos devem se exercitar, a fim
de oportunizar melhoras em sua autonomia
e qualidade de vida,3 sendo esta satisfatória
quando existe carga regular de exercícios físicos como fator de promoção da saúde, aliados a bons hábitos alimentares e ao não uso
de drogas.6 A atividade física é o principal
413
elemento para um envelhecimento saudável,
e os exercícios físicos regulares voltados para
o acréscimo da flexibilidade e força muscular
são recomendados para retardar os efeitos
negativos do envelhecimento.6,7 Entre as diversas modalidades oferecidas atualmente
(hidroginástica, dança, natação, musculação,
ioga etc.) para esta população, encontramos
o Pilates, que pode ser utilizado para aprimorar a capacidade funcional e oferecer melhora
significativa no equilíbrio estático e na qualidade de vida do idoso.8
A referida modalidade teve início na década de 1920, na Alemanha, quando Joseph
Humbertus Pilates (1880-1967) criou um programa de exercícios originalmente chamado
Contrology®, mas difundido mundialmente
como Método Pilates,9 baseado no ritmo da
respiração que oferece benefícios como: fortalecimento e definição muscular, correção
postural, melhora do equilíbrio e circulação
sanguínea e aumento da amplitude de movimento.10 Joseph Pilates iniciou o método criando exercícios praticados no chão (Mat Pilates),
em seguido aprimorou os exercícios em camas
de hospital que possuíam molas, então surgiram os exercícios em aparelhos que proporcionam uma forma ampla de controle corporal.
Nos exercícios de Mat Pilates, o aluno aprende a trabalhar com a respiração e a contração
muscular do centro de força (powerhouse); já
nos exercícios em aparelhos o aluno tem que
controlar as molas (mecanismo que aumenta a
resistência dos movimentos).11
Em seu estudo, Rodrigues et al.8 relataram
os efeitos do Método Pilates em 52 mulheres
sedentárias entre 60 e 78 anos. Encontraram
resultados significantes no aumento da capacidade funcional, em que os exercícios ofereceram benefícios no equilíbrio estático e nos
níveis de autonomia pessoal no grupo Pilates,
proporcionando melhora significativa nos índices de qualidade de vida.
414
Geriatria & Gerontologia
Devido ao aumento dessa população, surge uma questão preocupante aos profissionais da área da saúde: Pode o envelhecimento
resultar em declínio da flexibilidade e equilíbrio, baixa mobilidade e capacidade funcional, ocasionando quedas e baixa qualidade
de vida? É perceptível que a atividade física
promove melhoras qualitativas na vida dos
idosos, pois devido a fatores que influenciam
o envelhecimento o Pilates aparentemente é
um método eficaz para modificar esses níveis
de aptidão física, mas será que pode oferecer
benefícios ao público idoso?
A partir dessa questão, o objetivo desta
revisão de literatura foi investigar os benefícios sobre a aptidão física que a prática do
Método Pilates propicia a pessoas idosas.
MéTODOS
A presente revisão de literatura buscou
nas bases de dados Google Acadêmico, PubMed/Medline e Scielo, empregando as palavras chaves “Pilates”, “idosos (elderly)” e “envelhecimento (aging)”. Os artigos foram compreendidos no período de 2000 a 2012, pois
a partir desse ano (2000) nota-se um grande
aumento no número de estudos e pesquisas
com o Método Pilates e a população idosa.
Utilizaram-se livros para ampliar o conhecimento em aspectos fundamentais de fisiologia, envelhecimento, Pilates e treinamento.
Foram selecionados estudos envolvendo o
envelhecimento, e aqueles relativos aos efeitos do Método Pilates nesta população.
Nesta revisão, foram considerados somente estudos observacionais e experimentais para analisar os efeitos do Método Pilates na população idosa. Ao analisar o estudo,
observou-se a metodologia (sujeitos fisicamente ativos ou sedentários, idade superior
a sessenta anos, em programa de exercícios
e tipo de Pilates, frequência e tempo de trei-
no e variáveis), e resultados significantes a
respeito dos efeitos do Método Pilates em
pessoas idosas.
Tabela 1. Estudos com o Método Pilates
Sujeitos
Características/
programa de
exercício
Variável
analisada
Efeito
do
método
20 (H/M) ~ 60 a 80
Controle (pré e pós)
10 sessões (2 vezes por semana)
Mobilidade
(coluna lombar)
↔
Rodrigues et al.13
52 (M) ~ 66 ± 4 GP (27) GC (25)
Sedentárias
Pilates em aparelhos
8 semanas (2 vezes por semana)
Equilíbrio estático
↑
Rodrigues et al.
52 (M) GP (27 ~ 66,9 ± 5,3) GC
(25 ~ 65,2 ± 3,9)
Sedentárias
Pilates em aparelhos e na bola
8 semanas (2 vezes por semana)
Desempenho funcional
(atividades diárias,
autonomia pessoal)
↑
52 (M) ~ 60 a 78
GP (27) GC (25)
Sedentárias
Pilates em aparelhos
8 semanas (2 vezes por semana)
Qualidade de vida
Equilíbrio estático
Autonomia
↑
↑
↑
30 (H/M)
GP (15, fisicamente ativos com
Pilates) GC (15, sedentários)
Pilates em aparelhos e Mat Pilates
4 semanas no mínimo
Qualidade de vida
↑
Mat Pilates
4 semanas (3 vezes por semana)
IMC
Peso
Força
Equilíbrio
Agilidade
Flexibilidade
↔
↔
↑
↑
↔
↑
↑
↑
↑
↑
↓
Referência
Resultados
Na primeira pesquisa em banco de dados foram encontrados mais de 1.500 artigos
abordando as palavras-chave citadas anteriormente. Destes, foram selecionados 42 artigos que abordavam estudos gerais sobre o
Método Pilates e idosos, sendo que 28 investigaram o envelhecimento e as atividades físicas para idosos, oito analisaram os efeitos do
Método Pilates em idosos e seis abordaram os
efeitos gerais do Método Pilates em jovens e
adultos. Além de artigos, foram selecionados
oito livros, três sobre envelhecimento e idosos, e cinco sobre o Método Pilates.
Na Tabela 1 estão listados os estudos
analisados e selecionados para investigar os
benefícios do Método Pilates em pessoas idosas, constando as características dos sujeitos
avaliados, as características do programa de
exercícios com o Pilates, o tipo de variável
analisada e os efeitos que o método proporcionou nos sujeitos avaliados.8,12-18
Sassi et al.12
14
Rodrigues et al.8
Reis et al.15
Mayer e Lopes
16
5 (M) ~ 61 a 73
Controle (pré e pós)
Fisicamente ativas
Irez et al.17
60 (M) ~ 65
GP (30) GC (30)
Sedentárias
12 semanas (3 vezes por semana)
Equilíbrio dinâmico
Flexibilidade
Tempo de reação
Força muscular
Número de quedas
Rosa et al.18
7 (H/M) ~ 60 a 70
Controle pré e pós
Fisicamente ativos
11 sessões (2 vezes por semana)
Equilíbrio
DIsCUSSÃO
O objetivo desta revisão de literatura
foi investigar quais os benefícios do Método Pilates relativos à aptidão física de pessoas idosas. Para o propósito desta revisão
foram selecionados oito artigos que envolvessem os efeitos do Método Pilates na população idosa.
Entre os oito estudos selecionados para
responder à questão envolvida nesta revisão,
foram encontrados diversos benefícios que
auxiliam na aptidão física de idosos como
autonomia, qualidade de vida, equilíbrio, flexibilidade e força. Três destes estudos8,14,15
415
Pilates na aptidão física de idosos
↑
H: homens; M: mulheres; ~: idade; GP: grupo Pilates; GC: grupo controle; ↓ : diminuiu; ↑: aumentou; ↔: sem diferença significativa.
encontraram resultados significativamente
positivos em relação à qualidade de vida e
autonomia dos idosos.
Na velhice, o bem-estar e a saúde são o
resultado do equilíbrio entre as diversas dimensões na capacidade funcional do idoso. O
desempenho físico diminui no decorrer dos
anos devido à falta de hábitos saudáveis rela-
cionados à aptidão física, o que pode comprometer a autonomia (capacidade de executar
seus próprios objetivos) de indivíduos idosos, principalmente pela falta de flexibilidade,19 equilíbrio20 e força muscular.21
Durante o envelhecimento, fatores psicossociais, doenças e baixa aptidão física são mais
comuns, por isso além de medidas gerais da
416
Geriatria & Gerontologia
saúde que previnam e minimizem os efeitos
do envelhecimento, deve-se incluir a atividade
física.22 A saúde está diretamente associada à
capacidade funcional do idoso, e a atividade
física contribui para menores incidências de
quedas, exercendo uma função benéfica para a
qualidade de vida dessa população.23
Marques et al.24 estudaram a relação entre atividade física e qualidade de vida em
44 idosas que viviam em asilos ou de modo
independente, e concluíram que essa idosas
apresentaram menor autonomia funcional e
atividade física quando comparadas a idosas
que vivem de modo independente.
Aragão et al.5 avaliaram os efeitos da resistência muscular localizada visando à autonomia funcional e à qualidade de vida do idoso e notaram que aqueles que apresentaram
bom estado em resistência muscular também
obtiveram bons índices de autonomia e desempenho de atividade da vida diária.
Diversas modalidades de atividade física
promovem a autonomia e qualidade de vida
em idosos. O treinamento com hidroginástica é uma delas e pode influenciar significativamente na melhoria e manutenção da aptidão física de idosos,25 já a musculação é um
meio que oferece benefícios morfológicos,
orgânicos e psicossociais, que visa a promover o bem-estar, a saúde e proporcionar qualidade de vida a pessoas idosas.23 A dança
apresenta resultados satisfatórios em relação
à qualidade de vida de idosos. Segundo estudo de Castro et al.26 a dança e a musculação
elevaram os níveis de qualidade de vida em
idosas praticantes dessas atividades.
De acordo com Mazo et al.,23 um programa
de exercício físico eficiente para a população
idosa deve oferecer melhoras significativas na
capacidade e aptidão físicas, como resistência
cardiovascular, força, flexibilidade e equilíbrio, que consequentemente irão proporcio-
nar maior autonomia pessoal e qualidade de
vida a esses indivíduos. O Método Pilates é
um programa de exercícios que oferece esses
tipos de benefícios para a população idosa,
como será discutido neste aritgo.
Em cinco estudos8,13,16-18 foram encontrados resultados positivos significativos no
equilíbrio de idosos pelo Método Pilates.
No dia a dia, é necessário ter controle sobre o equilíbrio corporal, seja ele estático ou
dinâmico, em que a ação dos sistemas vestibular, visual e somato-sensorial são os principais responsáveis para que isto ocorra.27
Com o envelhecimento, a habilidade desses
sistemas em funcionar corretamente é comprometida, afetando, assim, o equilíbrio corporal e causando possíveis tonturas e desequilíbrio. O desequilíbrio em idosos propicia
grande impacto em tarefas diárias, podendo
ocasionar quedas, fraturas e baixa mobilidade
corporal.20 Diversas modalidades oferecidas
atualmente podem mudar esses parâmetros,
como musculação, hidroginástica, ginástica e
o Método Pilates.
Maciel e Guerra28 analisaram a prevalência e fatores associados ao déficit de equilíbrio em idosos. Participaram 310 indivíduos de ambos os sexos com sessenta anos ou
mais. Avaliando os resultados, foi encontrada
uma prevalência de 46,1% de idosos com alterações no equilíbrio, possivelmente associadas a idade elevada (mais de 75 anos), sexo
feminino, analfabetismo e déficit auditivo.
Concluíram que tal déficit no equilíbrio pode
ser modificado por meio de intervenções que
reduzam esses efeitos.
As atividades plenamente capazes de aprimorar a aptidão física (equilíbrio, força, flexibilidade, agilidade) desta população são a
musculação, que consequentemente melhora
a qualidade de vida,29 a hidroginástica, que é
uma modalidade oferecida para a faixa etária
Pilates na aptidão física de idosos
dos sessenta anos e que provoca pouco impacto sobre as articulações, a ginástica, que
trabalha diferentes grupos musculares,30 e o
Pilates, que trabalha constantemente o equilíbrio corporal.31
Especificamente sobre os programas de
condicionamento físico envolvendo o Método Pilates, prioriza-se o trabalho muscular da
região abdominal para obter melhor funcionalidade da coluna vertebral. O alongamento
proposto neste método oferece restauração
no alinhamento postural, ajudando a corrigir o desequilíbrio muscular, pois por ser um
método que integra diversos movimentos
orientados, seus exercícios podem promover
o controle e equilíbrio corporal.32
Seis princípios originais compreendem o
Método Pilates: respiração, concentração, estabilização, controle, precisão e fluidez. Esses
princípios envolvem os objetivos e o foco de
cada exercício, a concentração, a estabilização
e o controle podem ser os principais responsáveis para a manutenção do equilíbrio, pois
durante os exercícios são acionados diversos
músculos, principalmente os abdominais. A
partir disso é conclusivo que onde há fortalecimento desses músculos é possível aprimorar e manter uma melhor postura e equilíbrio.
Por isso o Pilates se faz necessário e auxilia na
manutenção do equilíbrio.31,32
Além de estudos que favoreceram o equilíbrio de idosos por meio do Método Pilates,
foram encontrados dois estudos16,17 que relacionam a flexibilidade como um fator que
pode afetar a qualidade de vida dos idosos.
Esses dois estudos obtiveram resultados positivos importantes no aumento da flexibilidade em idosos.
O declínio e a restrição da flexibilidade em
idosos se deve à falta de movimentos capazes
de fortalecer ligamentos, músculos e tendões,
pois estes em função da alta idade apresentam
417
redução nas fibras elásticas tornam os movimentos mais curtos. O aumento da flexibilidade em idosos resulta na otimização da execução qualitativa e quantitativa dos movimentos,
pois sem trabalhar a flexibilidade os músculos
de pequena capacidade de alongamento acabam gerando uma força menor.33,34
A flexibilidade está associada diretamente à mobilidade articular e à elasticidade muscular, podendo estar relacionada à autonomia
do idoso.35 Tarefas comuns como estender a
roupa, arrumar a cama ou até mesmo amarrar o tênis podem ficar complicadas no decorrer do envelhecimento, pois os movimentos
corporais tornam-se menos amplos. Contudo,
o treinamento com a flexibilidade é favorável
e pode modificar esses padrões.4
Guadagnine et al.36 compararam os níveis de flexibilidade em vinte idosos (média
de 66,5 anos) praticantes e não praticantes
de atividade física, sendo que os praticantes
não realizavam atividades que objetivassem
o aumento da flexibilidade. Os resultados
desse estudo evidenciaram que 45% do total
de pessoas avaliadas possuía encurtamento
muscular generalizado em diferentes níveis.
Os praticantes de atividade física apresentaram nível maior de flexibilidade do que os
não praticantes, o que leva a concluir que o
envelhecimento traz degenerações ao corpo
humano e a falta de atividade física provoca
encurtamento muscular.
Assim como o Tai Chi (arte marcial que
combina a circulação de energia, respiração
e alongamentos), que promove a melhora
da flexibilidade em idosos37 e o treinamento
de força que pode ser eficaz para aprimorar
a flexibilidade nesta população e contribuir
para a manutenção e aumento da amplitude
de diferentes movimentos e articulações,7
o Método Pilates também é responsável por
propiciar esse tipo de resultado.
418
Geriatria & Gerontologia
Os exercícios do Método Pilates trabalham constantemente formas diferentes de
alongamento muscular, principalmente com
o alongamento ativo, que é extremamente
eficaz no sentido de aprimorar a flexibilidade
de músculos encurtados.38 O treinamento
com o Método Pilates é capaz de aprimorar a
flexibilidade geral do corpo e fortalecimento
de músculos abdominais, glúteos e paravertebrais lombares (powerhouse).39 O aumento
da flexibilidade por meio do Método Pilates
possivelmente está relacionado a exercícios
que visam a essa valência, pois muitos destes
exercícios focam na insistência do alongamento para adquirir amplitude de movimento e, consequentemente, executar os exercícios com mais fluidez.40
Além do equilíbrio e da flexibilidade,
o aumento da força muscular configura-se
como ponto fundamental na aptidão física de idosos. Foram encontrados dois artigos16,17 que incrementam a força a partir do
Método Pilates. O declínio da força não está
relacionado apenas com a perda de massa
muscular, mas possivelmente ao fato de idosos não treinados reduzirem sua capacidade
de ativar totalmente seus grupos musculares.41 O pico da força muscular é atingido por
volta dos trinta anos de idade e preservado
até os cinquenta anos, após essa faixa etária
há evidências de que a força começa a sofrer
declínios. A força muscular pode ser expressa como excêntrica, concêntrica e isométrica, sendo a força excêntrica aparentemente
a mais resistente em relação aos efeitos do
envelhecimento.7-42
No envelhecimento ocorre um decréscimo
na funcionalidade do sistema neuromuscular,
sendo essa perda acentuada quando há insuficientes níveis de atividade física e diminuição
do condicionamento, perda de massa muscular, redução da flexibilidade, força, resistência e
mobilidade articular.21 Para limitar essa perda,
o treinamento de força é extremamente eficaz
em aprimorar estes aspectos, além de reduzir
a fraqueza e a fragilidade muscular.43
Zago et al.44 estudaram o efeito de um
programa geral de atividade física de intensidade moderada sobre os níveis de resistência
de força em idosos. A amostra contou com 26
idosos (média de 58,27 anos) de ambos os
sexos, fisicamente ativos. Os autores constataram que os idosos têm potencial para melhorar a resistência de força muscular, o que
pode ocorrer por meio de programas de atividades físicas generalizadas em intensidade moderada. Em outro estudo, Mihessen et
al.43 avaliaram a força muscular em 48 idosos
de ambos os sexos, praticantes de atividade
física regular. Notou-se um aumento na força e resistência muscular desses idosos, e
os resultados foram considerados positivos
e significantes, tendo em vista que a atividade física regular promoveu aumento na força
muscular dos avaliados.
De acordo com estudo de Carvalho et
al., um programa complementar de atividade física foi suficientemente intenso e
específico para induzir melhorias na força
muscular de idosos independentes. O treinamento físico, independentemente da modalidade, reduz a perda de força muscular
causada pelo envelhecimento e sedentarismo. A musculação e a ginástica46 localizada,
assim como o Método Pilates, promovem o
incremento da força muscular.
45
Segundo Aparício e Pérez,47 Joseph Pilates sempre buscou exercícios que oferecessem benefícios como o fortalecimento global
e preservação da flexibilidade. O Método Pilates envolve exercícios de contrações concêntricas, excêntricas e isométricas, que são
responsáveis pela manutenção e estabilização corporal, a qual está associada diretamente ao aumento da força muscular. O Pila-
Pilates na aptidão física de idosos
tes permite alongar e reforçar os músculos do
tronco, focando na contração de músculos na
região abdominal e pélvica, e assim provoca
a melhora da coordenação e da circulação,
aprimorando a flexibilidade e, consequentemente, incrementando a força muscular e a
postura associadas à respiração.48,49
Em estudo, Gonçalves et al.50 concluíram
que para um melhor desempenho respiratório poderiam ser associados treinamentos
específicos para aprimorar a força muscular
responsável pela respiração. Esse treinamento
pode ser realizado com o Pilates, pois a respiração é trabalhada constantemente em todos
os exercícios, e para respirar corretamente é
necessário completar a inspiração e a expiração porque a inalação e exalação completa de
ar estimulam os músculos a maior atividade.40
CONCLusão
Observa-se que a população idosa mundial vem crescendo constantemente, fato que
pode estar relacionado à prática de atividade
física. Os diversos efeitos do envelhecimento
incluem a redução da aptidão física e da qualidade de vida desta população.
O Método Pilates é um programa de
exercícios favorável no sentido de minimizar e reverter os efeitos negativos do envelhecimento, aprimorando os níveis de
aptidão física para o idoso. A flexibilidade
sofre efeitos positivos, pois nos exercícios a
insistência do alongamento que favorece a
amplitude de movimento é constantemente ativada. O trabalho de força na região da
musculatura abdominal, paravertebral e
glútea promove melhoras no equilíbrio e na
postura corporal, pois a manutenção e estabilização corporal estão associadas diretamente ao aumento da força muscular, já que
o Pilates oferece maior contração a todos os
grupos musculares.
419
Estudos longitudinais que acompanhem
os efeitos crônicos do Método Pilates devem
ser realizados a fim de investigar se esses
efeitos são prolongados e progressivos ou somente agudos ou transitórios.
CONFLITO DE INTERESSE
Os autores declaram não existir nenhum
tipo de conflito de interesse.
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Osteoporose
Artigo de revisão
Tratamento farmacológico para a osteoporose
Pharmacological treatment for osteoporosis
Priscila Rosendo da Mata1, Paulo Andrade Martins1, Leonardo da Gama Brito1, Monique
Meyer Pitta Ramos1, Manoelito Coelho dos Santos Junior1
RESUMO
Departamento de Saúde,
Universidade Estadual de Feira de
Santana (UEFS), BA, Brasil.
1
O crescente aumento da expectativa de vida tem originado diversas preocupações com a qualidade de vida dos
indivíduos, principalmente no âmbito da saúde. Nesse contexto, destaca-se o aumento na incidência de doenças
crônico-degenerativas, dentre as quais está a osteoporose. Dessa maneira, o presente trabalho objetivou realizar
um estudo teórico acerca das terapias farmacológicas e não farmacológicas disponíveis para serem utilizadas no
tratamento e na prevenção da osteoporose. A realização desta pesquisa é importante, uma vez que busca mostrar
as principais opções farmacológicas e medidas não farmacológicas utilizadas no tratamento e, principalmente,
na prevenção dessa doença tão prevalente nos dias atuais. A metodologia utilizada para a realização deste
estudo consistiu de pesquisa bibliográfica, buscando compilar as principais informações disponíveis sobre o
tema em estudo. A osteoporose é uma doença osteometabólica, caracterizada pela diminuição da massa óssea
e deterioração da microarquitetura do tecido ósseo, o que resulta no aumento da suscetibilidade às fraturas. A
doença está relacionada principalmente ao envelhecimento e afeta ambos os sexos. Os agentes terapêuticos
utilizados para o tratamento da osteoporose podem ser divididos em duas classes: compostos com ação
antirreabsortiva (bifosfonatos, calcitonina, estrogênios e moduladores seletivos do receptor de estrogênio) e os
agentes formadores de osso (fluoreto, paratormônio, teriparatida). Alguns fármacos mais recentes também estão
disponíveis para utilização na terapêutica dessa doença, como o ranelato de estrôncio.
Palavras-chave: Osso, terapia, prevenção, controle e osteoporose.
ABSTRACT
The increase of life expectancy has led several concerns about people’s quality of life, especially in the health area.
In this context, there is an increase in the incidence of chronic degenerative diseases, as such as osteoporosis.
This research aims to conduct a theoretical study about the pharmacological and non-pharmacological therapies
available for the preventation and treatment of this disease. This study becomes important as it intends to show
the main pharmacological and non-pharmacological drugs used in the treatment and mainly in the prevention of
this disease, so prevalent nowadays. The methodology used for this study was a literature review and it aimed to
compile the main available information about the theme of the study. Osteoporosis is a bone metabolic disease,
characterized by a decrease in bone mass and deterioration of the microarchitecture of bone tissue, resulting in a
raise of fracture susceptibility, and it is mainly related to age, affecting men and women. The therapeutic agents
used in the treatment of osteoporosis can be divided into two classes: compounds with an anti-reabsorptive
action (bisphosphonates, calcitonin, estrogens and selective estrogen receptor modulators) and bone-forming
agents (fluoride, parathyroid hormone, teriparatide). Some newer drugs, as strontium ranelate, are also available
for the use in the treatment of this disease.
Keywords: Bone,therapy, prevent ion, control, osteoporosis.
Endereço para correspondência: Manoelito Coelho dos Santos Junior - Departamento de Saúde, Laboratório de Modelagem Molecular - Avenida Transnordestina, s/n,
Bairro Novo Horizonte, Feira de Santana - BA - CEP 44036-900 - Tel: (75) 3161-8159 - E-mail: [email protected]
INTRODUção
A osteoporose é uma doença crônica que
envolve diversos fatores, mas está principalmente relacionada ao envelhecimento, que
acomete tanto mulheres (especialmente após
a menopausa) quanto homens.1-4 É definida
como uma doença osteometabólica sistêmica,
caracterizada por apresentar diminuição da
massa óssea e deterioração da microarquitetura do tecido ósseo, o que resulta no aumento da fragilidade dos ossos e numa consequente maior suscetibilidade a fraturas.5-8
A importância clínica da osteoporose na
saúde pública deve-se ao aumento do risco
de fraturas decorrentes do declínio da função
neuromuscular e do enfraquecimento ósseo,
levando à elevação da morbidade, incapacidade física, diminuição da qualidade de vida
do indivíduo, aumento da mortalidade relacionada à doença, além do alto custo financeiro e social do tratamento.
O presente estudo visa a abordar o tratamento farmacológico da osteoporose devido
ao fato de a doença, do ponto de vista epidemiológico, ser responsável por mais de 1,5 milhão de fraturas anuais, sendo esperado que
uma a cada duas mulheres com idade acima
de cinquenta anos sofra algum tipo de fratura
em sua vida em decorrência da osteoporose.9
As estimativas para o ano de 2050 apontam a possibilidade de 70% das fraturas de
quadril que ocorrerão na África, na Ásia e
na América Latina serem devidas à osteoporose, o que evidencia a importância clínica da doença.10,11
Outro ponto importante que não deve
ser esquecido é o aspecto financeiro, visto
que os custos causados pela osteoporose estão relacionados a gastos com a hospitalização, cuidados ambulatoriais, incapacidade e
mortes prematuras.12
423
No Brasil, há poucos trabalhos sobre a
ocorrência de fraturas osteoporóticas e gastos relacionados. Entretanto, em 2005, foram
gastos cerca de R$ 21 milhões somente com
medicamentos fornecidos pelo Ministério da
Saúde no Programa de Medicamentos Excepcionais (Promex) para a osteoporose.12,13
Diante dos aspectos apresentados, este
trabalho teve como finalidade a realização de
um estudo teórico (revisão) sobre o tratamento farmacológico da osteoporose, abordando
os conceitos farmacocinéticos e farmacodinâmicos das classes terapêuticas utilizadas para
o controle dessa patologia, contribuindo assim para um melhor entendimento do início
e do tratamento da doença. Foram utilizados
como descritores: osteoporose, tratamento
farmacológico, fármacos e tratamento não
farmacológico. Como critério de inclusão foram utilizados apenas os trabalhos que destacassem a farmacoterapia da osteoporose.
Tratamento farmacológico
Os agentes terapêuticos para o tratamento
da osteoporose são divididos em duas classes: os
compostos antirreabsortivos e os estimulantes
da formação óssea.14,15 Os primeiros reduzem a
atividade dos osteoclastos, que formam lacunas
na superfície dos ossos, permitindo um preenchimento destas por uma nova matriz antes do
reinício do ciclo de remodelação – processo de
retirada do osso e formação de um osso novo. Já
os segundos compostos, também chamados de
agentes anabólicos, intensificam a ação dos osteoblastos que, em cada ciclo de remodelação, aumenta a deposição de matriz osteoide.14,16-19
Dentre os fármacos com ação antirreabsortiva estão os bifosfonatos, a calcitonina, os
estrogênios e os moduladores seletivos dos
receptores de estrogênio (SERMs). Os fluoretos, PTH e a teriparatida são exemplos de
agentes anabólicos.
424
Geriatria & Gerontologia
Agentes antirreabsortivos
Bifosfonatos
Os bifosfonatos (ou difosfonatos) são
compostos orgânicos sintéticos, análogos do
pirofosfato, encontrados na hidroxiapatita
do osso.16,18,20,21 A estrutura dos bifosfonatos
permite que estes se liguem de forma ávida
aos cristais de hidroxiapatita, podendo inibir
tanto a formação e a agregação quanto a dissolução destes cristais.14,16,20,22-24
Esta classe caracteriza-se como potentes
inibidores da reabsorção óssea, sendo, por
isso, denominados agentes antirreabsortivos,
e são compostos capazes de aumentar a densidade do osso bem como reduzir o risco de
fraturas no quadril, na coluna vertebral e em
outros ossos.15,19,22,25,26 Os compostos de primeira geração são menos potentes e, em geral, causam desmineralização óssea, como é o
caso do etidronato, um fármaco de primeira
geração que foi o primeiro composto representante dos bifosfonatos disponível para uso
clínico e que consiste no mais potente inibidor de mineralização óssea.27-29
Com o avanço do conhecimento clínico,
foi possível perceber que o processo de inibição da mineralização óssea realizado pelo
etidronato apresentava-se como uma desvantagem, visto que se este fármaco fosse
utilizado de maneira contínua poderia levar
ao surgimento da osteomalácia, um distúrbio
do metabolismo ósseo caracterizado por uma
mineralização deficiente da matriz osteoide
do osso com acúmulo deste tecido pouco mineralizado.28-32 Por isso, houve a necessidade
de se desenvolver novos compostos que minimizassem este efeito, passando a surgir os
compostos de segunda e terceira geração.31
Os compostos de segunda geração, os aminobifosfonatos, como o alendronato e pamidronato apresentam uma potência 10 a 100
vezes maior que os compostos de primeira
geração.20,23,27 Os compostos de terceira geração, como o risedronato e zoledronato, além
de possuírem ação mais potente que os da
primeira geração, têm a vantagem de poderem ser utilizados de maneira contínua, uma
vez que a dose antirreabsortiva é muito inferior à dose que provoca alterações na mineralização.33 Esses compostos permitem uma
redução do processo de reabsorção óssea de
maneira dose-dependente e atuam principalmente por meio da inibição do recrutamento
de osteoclastos e pela promoção da apoptose
dessas células, além de agir por meio da inibição da liberação de interleucinas e outras
substâncias que promovem o processo de reabsorção óssea.8,19,21,34,35
Os bifosfonatos atuam sobre os osteoclastos por meio de mecanismos diferentes:
os compostos desprovidos de nitrogênio
como o etidronato, clorodronato e tiludronato são metabolizados a um análogo tóxico
de adenosina trifosfato (ATP) que se acumula na célula, comprometendo sua função e
viabilidade, levando à morte celular.22,23,31 Já
os aminobifosfonatos, como o alendronato,
risedronato, ibandronato e zoledronato não
sofrem metabolismo, mas atuam interferindo
na ação enzimática da via 3-hidroxi-3-metilglutaril Coenzima A redutase, inibindo, assim,
diversas etapas da via do mevalonato que leva
à formação de colesterol e lipídios isoprenoides necessários na prenilação de diversas
proteínas importantes para o funcionamento
adequado dos osteoclastos.22,23,31
Assim, o efeito global da interferência destes compostos nesta via é inibir o recrutamento dos osteoclastos na superfície óssea e
a atividade destas células e, por fim, induzir a
apoptose ou morte celular, encurtando o ciclo
de vida dos osteoclastos.23,29,36 Os bifosfonatos
também atuam sobre os osteoblastos, de maneira indireta, promovendo a estimulação da
atividade destas células e, consequentemen-
Osteoporose
te, aumentando a formação óssea.5,37 O resultado da ação desses compostos é a inibição da
reabsorção osteoclástica do osso, tornando
possível a formação de um novo osso durante
a remodelagem, o que pode levar ao ganho na
densidade óssea.21
Os bifosfonatos podem ser usados para
prevenção ou tratamento da osteoporose
induzida por glicorticoides e da osteoporose pós-menopausa, sendo utilizados, neste
caso, em associação aos estrogênios ou como
substitutos destes.21,37 O alendronato foi o
primeiro bisfosfonato oral aprovado para o
tratamento e prevenção da osteoporose pós-menopausa e da osteoporose associada ao
uso de glicocorticoides.
O etidronato, alendronato e risedronato,
além de apresentarem aumento da massa óssea na coluna e no fêmur, reduzem o risco de
fraturas vertebrais em cerca de 30 a 50%, enquanto o alendronato e risedronato reduzem
o risco de fraturas não vertebrais em mulheres com osteoporose.15,36
O pamidronato também proporciona proteção ao esqueleto e pode ser utilizado em pacientes que apresentem desconforto esofágico
grave causado pelos bifosfonatos orais, sendo
este fármaco administrado por via intravenosa. Os bifosfonatos são pouco absorvidos no
intestino após administração oral e possuem
uma biodisponibilidade oral muito baixa.15,22,23,31
Cerca de 20 a 60% do total absorvido vai para
os ossos, podendo permanecer durante meses
ou anos nos locais de mineralização óssea, dependendo do processo de renovação do osso.
Já o restante do fármaco livre é rapidamente
excretado na urina.22,27,37
A meia-vida dos bifosfonatos circulantes é curta, principalmente pela sua rápida
entrada na estrutura óssea.38 A presença de
alimentos é um fator que afeta ainda mais a
absorção, especialmente o leite, razão pela
425
qual estes compostos devem ser administrados preferencialmente com o estômago
vazio.5,23,37 Por essa razão, estes fármacos
devem ser administrados após uma noite de
jejum, e cerca de sessenta minutos antes do
desjejum.5,31 Devem ser ingeridos com água
para facilitar a absorção e, após a ingestão,
o paciente deve permanecer trinta minutos
sem se alimentar e em posição ortostática
para evitar o refluxo.5,34
Com exceção do etidronato e do pamidronato por via intravenosa, todos os bifosfonatos podem causar irritação gástrica, distúrbios intestinais graves e, em alguns casos, dor
óssea.5,22,26,37 O alendronato pode causar esofagite, enquanto o etidronato dissódico pode
elevar o risco de fraturas em consequência da
calcificação reduzida do osso.37 Esses medicamentos são contraindicados para pacientes que apresentem quadro de insuficiência
renal, distúrbios de motilidade do esôfago e
presença de úlcera péptica.22
Calcitonina
A calcitonina é um inibidor da reabsorção
óssea que atua por meio da inibição da ação dos
osteoclastos, sendo capaz de provocar aumentos moderados da massa óssea em pacientes
osteoporóticos, mostrando eficácia também na
prevenção primária e secundária da osteoporose induzida por glicocorticoides.16,22,23,31,39 A calcitonina foi aprovada para uso no tratamento
da osteoporose pós-menopáusica. Entretanto,
mesmo promovendo aumento da densidade
mineral óssea (DMO) na coluna vertebral e no
fêmur e sendo capaz de reduzir as fraturas vertebrais em cerca de 20%, não apresenta redução nas fraturas não vertebrais.19
A calcitonina promove seus efeitos fisiológicos por meio da interação com receptores específicos presentes na membrana plasmática dos órgãos-alvo e possui
426
Geriatria & Gerontologia
seus efeitos principais sobre os ossos e os
rins, podendo afetar também outros tecidos.21,22,40 Em quantidades farmacológicas,
também reduz a secreção de gastrina e a
produção de ácido gástrico e promove elevação da secreção de sódio, potássio, cloreto
e água no intestino.22 Pode ser utilizada em
associação ao cálcio e à vitamina D em casos
de intolerância, respostas insatisfatórias ou
contraindicação dos bifosfonatos.5,23,41
A forma de administração utilizada para a
calcitonina consiste nas vias intramuscular ou
subcutânea, podendo também ser utilizada a
via intranasal.5,16,23,37 A forma de administração
da calcitonina através de spray nasal possibilita que o composto atravesse a mucosa acarretando menos efeitos colaterais.5 A meia-vida
plasmática da calcitonina é de 4 a 12 minutos,
podendo seu período de ação se prolongar durante horas. Sua depuração metabólica é de
cerca de 8 a 9 mL/kg/min.22,37 A calcitonina
de salmão possui uma meia-vida mais prolongada, visto que tem resistência à degradação
plasmática e grande afinidade para receptores específicos, além de apresentar depuração metabólica reduzida (cerca de 3 mL/kg/
min), o que a torna mais apropriada para ser
utilizada terapeuticamente.22,42 O processo de
depuração metabólica ocorre principalmente
nos rins, sendo que apenas pequena parte de
calcitonina intacta aparece na urina.22
Os principais efeitos indesejáveis decorrentes da administração de calcitonina são náuseas,
vômitos e dores abdominais, podendo ocorrer
também rubor facial, sensação de formigamento nas mãos e sabor desagradável na boca.26,37
Terapia de reposição hormonal (TRH) –
estrogênios
Um dos principais fatores relacionados ao
desenvolvimento da osteoporose pós-menopausa consiste no declínio dos níveis de estrogê-
nios e, diante de evidências clínicas, a terapia de
reposição hormonal (TRH) apresenta-se como
promotor de melhorias dessa condição.27,37
Os estrogênios são inibidores da reabsorção óssea e prevenem a liberação de fatores
de crescimento previamente depositados na
matriz, como, por exemplo, a interleucina-1(IL-1), potente citocina indutora da reabsorção óssea, e IL-6, por meio da ação da IL-4
(inibe a diferenciação dos osteoclastos e estimula a síntese do fator de crescimento semelhante a insulina [IGF-1] e do fator de transformação do crescimento[TGF-β], os quais
diminuem o recrutamento dos osteoclastos e
sua atividade reabsortiva) estimulando a formação óssea pelos osteoblastos.18,30,43-45
Como ação indireta dos estrogênios sobre o metabolismo ósseo, também se atribui
a estes compostos a diminuição da sensibilidade óssea ao PTH, o aumento da reabsorção
tubular de cálcio e dos receptores de 1,25 di-idroxivitamina D nos osteoblastos, bem como
o incremento nos níveis do composto 1,25 di-idroxivitamina D.44 Além disso, a presença de
receptores para o estrogênio nos osteoblastos,
osteócitos e celulas osteoprogenitoras da medula óssea sugere que existe um efeito direto
desse hormônio sobre o osso.44,45 Nos osteoblastos, os estrogênios regulam a expressão
dos genes codificadores do colágeno tipo I, da
fosfatase alcalina, da osteocalcina e osteonectina. Também promovem aumento da diferenciação dos osteoblastos e exercem um efeito
estimulatório sobre a síntese e mineralização
da matriz óssea. Sobre os osteoclastos, atuam
estimulando a apoptose dessas células, além
de manter a viabilidade dos osteócitos.45
Mulheres pós-menopausadas tratadas com
TRH apresentam: redução do turnover ósseo,
prevenção da perda e conservação da massa
óssea, o que faz da TRH uma terapia eficaz na
prevenção e no tratamento da osteoporose e
Osteoporose
na redução do risco de fraturas causadas por
esta doença.24,30,33 Os estrogênios são eficazes
quando administrados por via oral, percutânea, subcutânea e transdérmica, e seu metabolismo ocorre principalmente no fígado,
sendo que alguns metábolitos formados podem sofrer conjugação.8,30,44,46
Cerca de 50% dos estrogênios são excretados inicialmente pela urina durante as 24
horas iniciais, sendo a outra parte eliminada
pela bile, sofrendo hidrólise no intestino, onde
até cerca de 80% podem ser reabsorvidos.
Somente cerca de 10% desses compostos são
excretados pelas fezes.46 O uso de estrogênio a
longo prazo pode ser relacionado ao aumento
no risco de câncer de mama e útero, de cálculo
biliar, de tromboembolismo venoso e aumento
significativo no risco de cardiopatia.8,27,30,44
Para mulheres não histerectomizadas, a
utilização de estrogênio não associado a progesterona leva ao aumento na probabilidade
de ocorrência de neoplasia endometrial.8,47
Algumas pacientes em uso desta terapia podem apresentar queixas de mastalgia, retenção hídrica, dor abdominal e cefaleia. São
contraindicados para pessoas que apresentem suspeita ou sejam portadoras de câncer
de mama, ou que apresentem neoplasia estrogênio-dependente, sangramento vaginal
anormal, doenças tromboembólicas e/ou hipersensibilidade aos hormônios.38
Moduladores seletivos de receptores de estrogênio (SERMs)
Em virtude da TRH atuar sobre diversos
sistemas, foram desenvolvidos fármacos não
hormonais capazes de se ligar aos receptores
estrogênicos com alta afinidade, atuando de
forma agonista sobre alguns tecidos, como o
osso, e de maneira antagonista sobre outros,
como mama e útero, que são os agentes moduladores seletivos de receptores de estro-
427
gênio (ou Serm, selective estrogen receptor
modulators).19,23,29,30,37,47 Existem duas classes
de Serm, que são os compostos de primeira
e de segunda geração, como o tamoxifeno
e raloxifeno, respectivamente. Os moduladores de primeira geração são compostos
agonistas ao nível do osso e antagonistas na
mama, contudo exercem efeito agonista sobre o útero.29,47,48 Já os compostos de segunda
geração não apresentam efeito agonista nos
tecidos reprodutivos.29
O raloxifeno, que é o primeiro composto
Serm aprovado pelo FDA para tratamento e
prevenção da osteoporose, consiste num modulador seletivo para o receptor de estrogênio, com ação agonista sobre os receptores
de estrogênios presentes no osso, fígado, sistema cardiovascular e também sobre o perfil
lipídico, enquanto exerce ação antagonista
sobre esses receptores presentes no tecido
mamário e é inativo no útero.15,30,34,37,49
Além de prevenir perdas ósseas, o raloxifeno tem a capacidade de baixar as concentrações de colesterol total no soro e mantém um
perfil favorável dos lipídios séricos, reduzindo o nível das lipoproteínas de baixa densidade sem alterar os níveis das lipoproteínas de
alta densidade e dos triglicerídeos.30,48,49
Possui boa absorção pelo trato gastrintestinal e, no fígado, sofre intenso metabolismo
de primeira passagem, formando o glicuronídeo.8,23,24,37,48 Sua biodisponibilidade é de cerca
de 2%, com ampla distribuição pelos tecidos
e sua meia-vida média é de 32 horas.37 Liga-se
altamente às proteínas plasmáticas, podendo
chegar a até 95% de ligação.47
O fármaco é convertido em metabólito ativo no fígado, nos pulmões, nos ossos, no baço,
no útero e nos rins. Sua eliminação ocorre
principalmente pelas fezes.37,47 É comum a
ocorrência de sensação de calor e cãibras nos
membros inferiores em pacientes em uso de
428
Geriatria & Gerontologia
raloxifeno, contudo o tromboembolismo venoso constitui o efeito mais grave, sendo estes efeitos atribuídos à sua atividade estrogênica.8,19,22,23,30,37,48 Este medicamento não deve
ser utilizado em gestantes, com histórico de
doença tromboembólica venosa, bem como
em mulheres no climatério com sintomas vasomotores importantes.8,18,23
Agentes anabólicos
Fluoretos
Fluoreto de sódio e o monofluorofosfato são potentes estimuladores da formação
de osso trabecular. Apesar de ocasionar um
significativo aumento da formação óssea e
incremento progressivo na DMO, produzem
uma redução insignificante no risco de fraturas vertebrais além de aumentarem o risco de
fraturas não vertebrais.18,23
Esta classe é capaz de promover estímulo dos osteoblastos tanto em número
como na capacidade de formação de matriz
óssea.17 Apresenta a desvantagem da dose
tóxica estar situada muito próxima da dose
efetiva, o que limita a utilização deste composto.5,16 Assim, para minimizar esses efeitos a utilização desses compostos deve ser
associada ao cálcio e a vitamina D. Também
existem relatos de osteomalácia, náuseas,
vômitos, epigastralgia, diarreia e artralgia
associados ao uso destes compostos.5
Paratormônio (PTH)
A administração contínua de PTH ou a
presença de níveis circulantes elevados do
hormônio provocam desmineralização óssea e
osteopenia. Assim, este composto é idêntico à
fração biologicamente ativa do PTH endógeno,
e quando administrada de forma intermitente,
promove estímulo da formação de tecido ósseo e melhoria da microarquitetura óssea.8,34
Teriparatida
A teriparatida atua estimulando a formação óssea por meio da promoção de estímulos
à ação e formação dos osteoblastos, promovendo assim aumento da força óssea pela formação de tecido ósseo novo com consequente
redução do risco de fraturas.5,19,50 Evidências
indicam que o mecanismo de ação envolve
inibição da apoptose dos osteoblastos e estímulo da diferenciação de pré-osteoblastos
em osteoblastos, aumentando o número dessas células.48,50
O uso da teriparatida no tratamento da
osteoporose ainda permanece confuso e, por
ser um medicamento caro, deve ser reservado para casos selecionados de pacientes
com osteoporose grave, que apresentem alto
risco para fraturas e refratariedade ao tratamento convencional.8,15,34,47
A farmacocinética e as ações sistêmicas
da teriparatida sobre o metabolismo mineral são iguais àquelas desempenhadas pelo
PTH.27 A dose recomendada para adultos é
de 20 mcg diariamente administrado por via
subcutânea.5,36,50 Possui uma meia-vida sérica
muito rápida, cerca de cinco minutos, quando administrada por via intravenosa.27,48 Uma
meia-vida mais longa é observada quando administrada por via subcutânea (1 hora), que
consiste no tempo necessário para a absorção
do fármaco no local da injeção.27
A eliminação é rápida, sendo que a eliminação da teriparatida ou do PTH ocorre por
mecanismos enzimáticos inespecíficos no fígado, seguida de excreção renal, não havendo
acúmulo da droga no organismo com o passar
do tempo.27,50 Os principais efeitos adversos
observados com estudos clínicos realizados
com a teriparatida foram hipercalcemia (3%)
e cãibras (6%).50 Assim, devido ao risco de hipercalcemia durante o tratamento, os níveis
de cálcio devem ser monitorados.8,36
Osteoporose
Perspectivas terapêuticas para o tratamento farmacológico da osteoporose
Ranelato de estrôncio é um cátio divalente que se assemelha quimicamente ao cálcio e
parece participar do processo de mineralização óssea.23 Este composto é proposto como
uma nova classe de drogas orais para ser utilizada no tratamento da osteoporose, já comercializada no Brasil, pois aumenta a DMO tanto
por inibição da reabsorção, como por estímulo da formação óssea.23
A absorção é relativamente baixa, devendo ser ingerido preferencialmente em jejum.23
Apresenta poucos efeitos adversos, tendo alguns estudos demonstrado um risco aumentado para a ocorrência de fenômenos tromboembólicos e efeitos sobre o sistema nervoso,
restringindo o uso em pacientes com afecções
cardiovasculares e neurológicas.23,36
Estatinas são compostos utilizados para
reduzir os níveis de colesterol sanguíneo,
que podem estimular a formação óssea e a
inibição da reabsorção, constituindo agentes
anabólicos potenciais.23,37 Este efeito sobre
a reabsorção parece estar relacionado a inibição da 3-hidroxi-3-glutaril-coenzima A e a
diminuição da síntese hepática de colesterol,
que causa o bloqueio do metabolismo do mevalonato, o que indica um mecanismo de ação
similar ao dos aminobifosfonatos.23,37 Quanto
à formação óssea, as estatinas podem causar
aumento substancial de tecido ósseo.37
Dentre os possíveis novos agentes inibidores da reabsorção óssea, está incluída a
osteoprotegerina, um inibidor fisiológico da
reabsorção óssea, que mostrou resultados
clínicos preliminares promissores, exercendo
pequeno efeito redutor da perda de massa óssea, por inibição da formação, recrutamento
e atividade dos osteoclastos, podendo ser valiosa se utilizada em combinação com outros
agentes.16,23,37
429
CONCLusão
Assim como outras doenças crônicas, a
osteoporose possui o desenvolvimento etiológico multifatorial, sendo diversos os fatores
que podem contribuir para o desenvolvimento da doença, desde aqueles que podem ser
modificados (como os relacionados a hábitos
e estilo de vida) quanto aqueles que não são
passíveis de mudança, como fatores genéticos, etnia, idade avançada e outros.
Dentre os recursos terapêuticos farmacológicos disponíveis para o tratamento da doença, podem ser encontrados os compostos
com ação antirreabsortiva e os agentes formadores de ossos, sendo os bifosfonatos (agentes
antirreabsortivos) os compostos de escolha. A
administração de estrogênios, embora controversa, ainda é utilizada uma vez que estimula
o ganho de massa óssea além de oferecer um
efeito protetor em nível cardiovascular. Contudo está relacionada a uma maior incidência de
câncer de mama e do endométrio. Entretanto,
com o desenvolvimentos dos compostos seletivos para o receptor de estrogênio, assim
como o raloxifeno, que possuem um perfil de
segurança melhorado no tecido reprodutor,
representam uma alternativa potencial importante à terapia de reposição hormonal em
mulheres na pós-menopausa para tratamento
e prevenção de osteoporose.
A teriparatida (PTH recombinante) está
entre os agentes anabólicos utilizados para
esse tipo de tratamento, estimulando a formação de tecido ósseo e melhoria da microarquitetura óssea. Contudo, trata-se de um
medicamento caro, estando reservado para
casos selecionados de osteoporose grave,
com alto risco para fraturas e refratariedade
ao tratamento convencional.
Novos compostos estão sendo pesquisados atualmente, como as estatinas e a osteoprotegerina para serem utilizados no tratamento
430
Geriatria & Gerontologia
da osteoporose. No entanto, são necessários
novos estudos para que haja um desenvolvimento de mais compostos, como agentes inibidores da reabsorção óssea e principalmente de agentes anabólicos, que protejem contra
o desenvolvimento de fraturas e que apresentam menos efeitos adversos.
É pertinente lembrar que para haver sucesso
no tratamento dessa doença é fundamental
que a utilização de terapias farmacológicas
esteja associada às mudanças de hábitos tanto
alimentares quanto referentes ao estilo de vida,
por meio da prática de atividades físicas habituais e de exposição regular à luz solar, sendo
também recomendável a utilização dos suplementos de cálcio e vitamina D, os quais atuam
como coadjuvantes do tratamento, em especial
para pacientes que não conseguem obter um nível adequado desses elementos pela dieta.
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Geriatria & Gerontologia
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pesquisas inéditas tendo em vista a relevância do tema, o alcance e o conhecimento gerado para a área da pesquisa. Devem ter de 2 mil a 4 mil palavras, excluindo ilustrações (tabelas, figuras [máximo de cinco]) e referências (máximo
de 30).
Artigos de revisão: avaliação crítica sistematizada da literatura sobre determinado assunto, de modo a conter uma análise comparativa dos trabalhos
na área, que discuta os limites e alcances metodológicos, permitindo indicar
perspectivas de continuidade de estudos naquela linha de pesquisa e devendo
conter conclusões. Devem ser descritos os procedimentos adotados para a revisão, bem como as estratégias de busca, seleção e avaliação dos artigos, esclarecendo a delimitação e limites do tema. Sua extensão máxima deve ser de 5
mil palavras e o numero máximo de referências bibliográficas de 50.
Comunicações breves: são artigos resumidos destinados a divulgação de resultados preliminares de pesquisa; resultados de estudos que envolvam metodologia de pequena complexidade; hipóteses inéditas de relevância na área de
Geriatria e Gerontologia. Devem ter de 800 a 1.600 palavras (excluindo tabelas,
figuras e referências [máximo de dez]). Deve ter a estrutura de um artigo original.
Relatos de caso: são manuscritos relatando casos clínicos inéditos e interessantes. Devem observar a estrutura de resumo com introdução, relato do
caso (com descrição do paciente, resultados de exames clínicos, seguimento,
diagnóstico), discussão (com dados de semelhança na literatura) e conclusão.
Devem conter a bibliografia consultada e não devem ter mais de 1.500 palavras
e 15 referências.
Artigos especiais: são manuscritos entendidos pelos editores como de especial
relevância e que não se enquadram em nenhuma das categorias citadas. Sua
revisão admite critérios próprios, não havendo limite de tamanho ou exigências
previas quanto as referencias bibliográficas.
Cartas ao editor: seção destinada à publicação de comentários, discussão ou
críticas de artigos da revista. O tamanho máximo é de mil e até cinco referências.
Orientações para a preparação dos manuscritos
Os manuscritos devem ser digitados em Word for Windows (inclusive tabelas); as figuras devem ser enviadas em arquivo JPG com no mínimo 300 dpi
de resolução.
Instruções aos autores
433
Devem ser apresentados na sequência:
a) Título completo do trabalho, em português e inglês, com até 90 caracteres;
b) título abreviado do trabalho com até 40 caracteres (incluindo espaços), em
português e inglês; c) nome de todos os autores por extenso, indicando a filiação institucional de cada um; d) dados de um dos autores para correspondência, incluindo nome, endereço, telefones, fax e e-mail.
Resumo: todos os artigos submetidos deverão ter resumo em português e
em inglês (abstracts), entre 150 a 250 palavras. Para os artigos originais e comunicações breves, os resumos devem ser estruturados incluindo objetivos,
métodos, resultados e conclusões. Para as demais categorias, o formato dos
resumos pode ser o narrativo, mas preferencialmente com as mesmas informações. Não devem conter citações e abreviaturas. Destacar no mínimo três e
no máximo seis termos de indexação, extraídos do vocabulário “Descritos em
Ciências d Saúde” (DeCS - www.bireme.br), quando acompanharem os resumos em português, e do Medical Subject Headings – MeSH (http://www.nlm.
nih.gov/mesh/), quando acompanharem os “Abstracts”. Se não forem encontrados descritores disponíveis para cobrirem a temática do manuscrito, poderão
ser indicados termos ou expressões de uso conhecido.
Texto: com exceção dos manuscritos apresentados como Artigos de Revisão
os trabalhos deverão seguir a estrutura formal para trabalhos científicos: Introdução: deve conter revisão da literatura atualizada e pertinente ao tema, adequada a apresentação do problema, e que destaque sua relevância. Não deve
ser extensa, definindo o problema estudado, sintetizando sua importância e
destacando as lacunas do conhecimento (estado de arte) que serão abordadas
no artigo. Métodos: devem conter descrição clara e sucinta dos procedimentos
adotados; universo e amostra; fonte de dados e critérios de seleção; instrumentos de medida, tratamento estatístico, dentre outros. Resultados. Devem
se limitar a descrever os resultados encontrados sem incluir interpretações e
comparações. Sempre que possível, os resultados devem ser apresentados
em tabelas ou figuras, elaboradas de forma a serem autoexplicativas e com
análise estatística. Discussão: deve explorar, adequada e objetivamente, os
resultados, discutidos a luz de outras observações já registradas na literatura. É
importante assinalar limitações do estudo. Deve culminar com as Conclusões,
indicando caminhos para novas pesquisas ou implicações para a prática profissional. Agradecimentos: podem ser registrados agradecimentos, em parágrafo
não superior a três linhas, dirigidos a instituições ou indivíduos que prestaram
efetiva colaboração para o trabalho.
Referências bibliográficas
Conflito de interesses
Boog MCF. Construção de uma proposta de ensino de nutrição para curso de
enfermagem. Ver Nutr [periódico eletrônico] 2002 [citado em 2002 Jun 10];
15(1). Disponivel em www.scielo.br/rm
Deve incluir relações com: a) conflitos financeiros, como empregos, vínculos profissionais, financiamentos, consultoria, propriedade, participação em
lucros ou patentes relacionados a empresas, produtos comerciais ou tecnologias envolvidas no manuscrito; b) conflitos pessoais: relação de parentesco
próximo com proprietários e empregadores de empresas relacionadas a
produtos comerciais ou tecnologias envolvidas no manuscrito; c) potenciais
conflitos: situações ou circunstâncias que poderiam ser consideradas capazes
de influenciar a interpretação dos resultados.
As referências devem ser listadas no final do artigo, numeradas consecutivamente, seguindo a ordem em que foram mencionadas a primeira vez
no texto, baseadas no estilo Vancouver (consultar: “Uniform Requirements
for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals: Writing and Editing for
Medical Publication” www.icmje.org). Nas referências com até seis autores,
citam-se todos os autores; acima de seis autores, citam-se os seis primeiros
autores, seguindo de et al. As abreviaturas dos títulos dos periódicos citados
deverão estar de acordo com o MedLine. A exatidão e a adequação das referências a trabalhos que tenham sido consultados e mencionados no texto do
artigo são de responsabilidade do autor.
Livros
Kane RL, Ouslander JG, Abrass IB. Essentials of clinical geriatrics 5th ed. New
York: McGraw Hill, 2004.
Capítulos de livros
Sayeg MA. Breves considerações sobre planejamento em saúde do idoso. In:
Menezes AK, editor. Caminhos do envelhecer. Rio de Janeiro: Revinter/SBGG;
1994. p. 25-8
Artigos de periódicos
Ouslander JG. Urinary incontinence in the elderly. West J Med. 1981; 135 (2):
482-91
Dissertações e teses
Marutinho AF. Alterações clinicas e eletrocardiográficas em pacientes idosos
portadores de Doença de Chagas [dissertação]. São Paulo: Universidade Federal da SBGG; 2003.
Trabalhos apresentados em congressos, simpósios, encontros, seminários e outros
Peterson R, Grundman M, Thomas R, Thal L. Donepezil and vitamin E as treatments for mild congnitive impairment. In: Annals of the 9th International
Conference on Alzheimer´s Disease and Related Disorders; 2004 July; United
States, Philadelphia; 2004. Abstract 01-05-05.
Artigos em periódicos eletrônicos
Textos em formato eletrônico
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica. Estatisticas de saúde: assistência médico-sanitária. WWW.ibge.gov.br (acessado em 05/02/2004).
Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Available from
URL; www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm. Acesso em: 05/06/1996.
434
Geriatria & Gerontologia
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Research Involving Human Subjects
Articles related to research involving human subjects should indicate
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fulfillment of specific lew requirements of the nation the research was performed in. The subjects included in the rosearch should have signed a Free
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results considering the theme relevance, its range and the knowledge generated for research purposes Original articles should contain 7,000 to 4,000
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Review Articles. Critical and systematic evaluation of literature on I certain
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methodological limitations and ranges, indicating further study needs for
that research area, and containing conclusions. The proceedings adopted
for the review, as well as search, selection, and article evaluation strategies
should be described, informing the limits of the theme They should not exceed 5,000 words and 50 references.
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release of preliminary results of research study results involving low complexity methodology, relevant unpublished hypotheses in Geriatrics and
Gerontology They should not exceed 800 to 1.600 words (tables, figures and
references [not exceeding 10) excluded) The structure should follow what is
requested in an original article.
Case Reports. These manuscripts report unpublished and interesting clinical cases They should follow an abstract structure with Introduction. Case
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words and 15 references.
Letters to the Editor. Section designed for publication of comments,
discussion or any article reviews They should not exceed 1 000 words and
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a) paper full title in Portuguese and English not exceeding 90 characters,
b) paper short title not exceeding 40 characters (spaces included) in Portuguese and English, c) authors’ and coauthors’ complete name, indicating
institutional affiliations for each one of them; d) corresponding author data,
including name, address, telephone and fax numbers, and e-mail.
Abstract: all manuscripts should be submitted with an abstract in
Portuguese and in English having no more than 150 to 250 words.
For original articles and brief communications, abstracts should
be structured to include objective, methods, results, and conclusions
For other manuscript categories, abstract models could be narrative, but
rather carrying the same information Abstracts should not contain quotations and abbreviations At least three and at most six key words should ac-
Instructions for authors
company the Abstracts being extracted from the vocabulary Descritores em
Ciências da Saude (DeCS – www.bireme.br) when accompanying abstracts
in Portuguese and from Medical Subject Headings -MeSH (http //www.nlm
nih gov/mesh/) when accompanying abstracts in English. If no descriptor is
available to cover the manuscript theme, words or expressions of known use
might be indicated .
Text except for Review Articles, papers should assume formal structure
of a scientific text Introduction The introduction should contain updated
literature review, being appropriate to the theme, suitable to the problem
introduced, and enhancing the theme relevance The introduction should
not be extensive, but define the problem studied, synthesizing its importance and stressing the knowledge gaps addressed in the article. Methods
This section should have clear and brief description of proceedings adopted,
sampling; data source and selection criteria, measurement instruments;
statistical analysis, among other features Results This section should be
limited to describing the results found without including interpretation
and comparison. Whenever possible, results should be displayed in tables
or figures designed to be self-explanatory and having statistical
analysis. Discussion The discussion should properly and objectively
explore the results, discussed in the light of further observation already registered in literature It is important to point out the study
limitations. The discussion should culminate by conclusions indicating avenues for new research or implications for professional practice.
Acknowledgements: Acknowledgments may be written in a no more than
3-line paragraph towards institutes or individuals that effectively contributed to the paper.
Conflict of Interest
435
List all authors up to 6; if more than six, list the first 6 followed by et al.
The titles of journals should be abbreviated according to style used in MedLine. Authors are responsible for the accuracy and completeness of references consulted and cited in the text.
Examples of reference style
Books
Kane RL, Ouslander JG, Abrass IB Essentials of clinical geriatrics. 5th ed New
York McGraw Hill; 2004
Book chapters
Sayeg MA. Breves consideragoes sobre planejamento em saúde do idoso In
Menezes AK, editor Cammhos do envelhecer Rio de Janeiro: Revinter/SBGG,
1994 p 25-8.
Journal articles
Ouslander JG. Urinary incontinence in the elderly West J Med
1981;135(2):482-91.
Essays and theses
Marutinho AF Alteragoes clmicas e eletrocardiogrficas em pacientes idosos
portadores de doença de Chagas [dissertação]. São Paulo: Universidade Federal da SBGG; 2003.
Papers introduced in congresses, symposiums, meetings, seminars etc.
Petersen R, Grundman M. Thomas R. Thai L Donepezil and vitamin E as
treatments for mild cognitive impairment. In Annals of the 9* International
Conflict of interest includes a) financial conflict such as employment, professional liaisons, funding, consulting, ownership, profit or patent sharing
related to marketed products or technology involved in the manuscript; b)
personal conflict: close relatedness to owners and employers in companies
connected to marketed products or technology involved in the manuscript
c) potential conflict: situations or circumstances that could be considered
capable of influencing the result interpretation.
Conference on Alzheimer’s Disease and Related Disorders; 2004 July; United
References
Texts in electronic format
Should be listed at the end of the manuscript and numbered in the order
they are first mentioned in the text, following Vancouver style (v Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals
Writing and Editing for Medical Publication [hup .//www. icmje org]).
States. Philadelphia, 2004 Abstract 01-05-05
Articles from electronic journals
Boog MCF Construgao de uma proposta de ensino de nutrição para curso
de enfermagem Rev Nutr [periddico eletronico] 2002 [citado em 2002 Jun
10).15(1). Disponivel em. http.//www.scielo.br/RN
Institute Brasileiro de Geografia e Estatistica. Estatisticas da saude: assistência médico-sanitária. http.//www.ibge gov br (acessado em 05/Fev/2004L
Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Available from
URL http://www.cdc gov/ncidod/EID/eid htm Acesso em: Jun 5 1996.
Geriatria & Gerontologia
Diretoria Nacional da SBGG
Presidente
Editora-chefe
Nezilour Lobato Rodrigues (PA)
Maysa Seabra Cendoroglo - São Paulo, Brasil (Unifesp)
1o Vice-Presidente
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Dra. Rosângela Correa Dias – Belo Horizonte, Brasil (UFMG)
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e Eventos Científicos
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Representantes no Conselho da
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e Gerontologia (IAGG)
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Cadastro
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Gerontologia – Maria Celi Lyrio Crispim
Marianela Hekman
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DIRETORIAS DAS SEÇÕES ESTADUAIS DA SBGG
Alagoas
CONSELHO EDITORIAL INTERNACIONAL
Comissão de Defesa Profissional
Comissão de Comunicação
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Diretora de Defesa Profissional
Adriano César B. S. Gordilho – Salvador
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Cláudia Burlá – Rio de Janeiro
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Eduardo Ferriolli – Ribeirão Preto
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Elisa Franco de Assis Costa – Goiânia
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Emilio Jeckel Neto – Porto Alegre
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João Carlos Barbosa Machado – Belo Horizonte
João Marcos Domingues Dias – Belo Horizonte
Comissão de Informática
Silvia Pereira
Tassio da Silva
Maria Alice Vilhena Toledo (DF)
CONSELHO EDITORIAL NACIONAL
Elisa Franco de Assis Costa
Adriano Cesar Gordilho
Silvia Pereira
Eliane Jost Blessmann
Elizabete Viana de Freitas
Presidente: Helen Arruda Guimarães
2a Vice-Presidente: Ana Elizabeth Lins
Diretor Científico: Oswaldo da Silva Liberal
BAHIA
Presidente: Romulo Meira
2o Vice-Presidente: Fábio Falcão
Diretor Científico: Lucas Kuhn Prado
CEARÁ
Maranhão
PARANÁ
Presidente: Jacira do Nascimento Serra
2a Vice-Presidente: Adriano Filipe Barreto Grangeiro
Diretores Científicos: Herberth Vera Cruz Furtado
Marques Júnior / Margareth de Pereira de Paula
Presidente: Debora Christina de Lacantara Lopes
2a Vice-Presidente: Rosemary Rauchbach
Diretor Científico: Breno Barcelos Ferreira
MATO GROSSO
Presidente: Alexsandra Siqueira Campos
2a Vice-Presidente: Marcia Carrera
Diretor Científico: Sergio Murilo Fernandes
Presidente: Roberto Gomes de Azevedo
2a Vice-Presidente: Roseane Muniz
Diretora Científica: Janine Nazareth Arruda
PERNAMBUCO
RIO DE JANEIRO
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2a Vice-Presidente: Túlia Fernanda Meira Garcia
Diretor Científico: Jarbas de Sá Roriz Filho
MATO GROSSO DO SUL
Presidente: José Roberto Pelegrino
Diretora Científica: Marta Dreimeier
Presidente: Rodrigo Bernardo Serafim
2a Vice-Presidente: Maria Angélica dos S. Sanchez
Diretor Científico: Tarso Lameri Sant´Anna Mosci
DISTRITO FEDERAL
MINAS GERAIS
RIO GRANDE DO SUL
Presidente: Marco Polo Dias Freitas
2o Vice-Presidente: Vicente de Paula Faleiros
Diretor Científico: Leonardo Pitta
Presidente: Rodrigo Ribeiro dos Santos
2a Vice-Presidente: Marcella Guimarães Assis
Diretora Científica: Maria Aparecida Camargos Bicalho
Presidente: Ângelo José Bos
2a Vice-Presidente: Vania Heredia
Diretor Científico: Paulo Roberto Cardoso Consoni
ESPÍRITO SANTO
PARÁ
SANTA CATARINA
Presidente: Paulo Cesar dos Santos Borges
2a Vice-Presidente: Silvia Maria Azevedo do Santos
Diretora Científica: Nagele Belettini Hahn
PARAÍBA
SÃO PAULO
Presidente: Renato Moraes Alves Fabbri
2a Vice-Presidente: Valmari Cristina Aranha
Diretora Científica: Maisa Carla Kairalla
Presidente: Roni Chaim Mukamal
2a Vice-Presidente: Neidil Espinola da Costa
Diretora Científica: Daniela Souza Gonçalves Barbieri
GOIÁS
Presidente: Isadora Crosara Alves Teixeira
2a Vice-Presidente: Viviane Lemos Silva Fernandes
Diretor Científico: Ricardo Borges da Silva
Presidente: Karlo Edson Carneiro Santana Moreira
2a Vice-Presidente: Maria Izabel Penha de O. Santos
Diretor Científico: João Sergio Fontes do Nascimento
Presidente: Arnaldo Henriques Gomes Viegas
2a Vice-Presidente: Mirian Lucia Trindade
Diretor Científico: João Borges Virgolino
439
Reunimos as últimas evoluções científicas aqui.
Só falta a sua.
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Nº 4 – Edição: Out/Nov/Dez 2012 - Sociedade Brasileira de Geriatria