Acumulação e depuração de coliformes fecais em amêijoa-boa (Tapes decussatus) Reis, M.P.(1), Martins, F.(2), Neves, R.(3), Brito, A.(1), Bento, J.(1) (1)IMAR, FCMA, Universidade do Algarve, Faro, Portugal, (2)IMAR, EST, Universidade do Algarve, Faro, Portugal, (3)IMAR, MARETEC, IST, Lisboa, Portugal. Questões: - a classificação dos viveiros depende da concentração de coliformes fecais ou de Escherichia coli nos bivalves e não na água; - os dados obtidos permitem modelar (prever) a distribuição de diferentes concentrações de coliformes fecais (CF) na água em resultado da dispersão das plumas dos efluentes das ETARs, nas diversas situações de maré; - e a concentração de coliformes fecais nas amêijoas ? - como varia ? A) - haverá limites para a acumulação por filtração ? B) Tapes desussatus Fig. 1 – A) imagem de satélite da parte ocidental da Ria Formosa; B) Tapes decussatus, principal espécie de bivalve cultivada na Ria Formosa. Objectivos: • produzir dados que permitam relacionar as concentrações de coliformes fecais (CF) nas amêijoas com as concentrações detectadas na água; • contribuir para o desenvolvimento de uma ferramenta que possibilite predizer a qualidade dos viveiros de amêijoa-boa na Ria Formosa em função das descargas das ETAR. A) Fig. 2 – ETAR de Faro NW, baseada num sistema de lagunagem. A) Ponto de descarga a partir das lagoas de maturação. Métodos: • descrição das variações na concentração de CF nas amêijoas através da seguinte equação: • determinação experimental de ka e de ke • C dc =kacH2O −kec dt - concentração de coliformes nas amêijoas • CH2O - concentração de coliformes na água • ka - coeficiente de accumulation • ke - coeficiente de depuração ka e ke variam com a espécie de bivalve, a sua idade, condição fisiológica, temperatura da água, bem como com a concentração de partículas na água. Métodos: • Para determinar o coeficiente de depuração ke utilizaram-se os dados de experiências realizadas em 2000 no Centro de Depuração e Expedição de Moluscos Bivalves Vivos / Docapesca ( Olhão ) : • mantiveram-se 3 secções de um dos tanques da depuradora a 3 temperaturas diferentes - 19ºC, 21ºC e 23ºC; • monitorizou-se a temperatura e o oxigénio dissolvido nos tanques ao longo de toda a experiência; • ao longo de 36 horas colheram-se regularmente amostras de ameijoa (30 ind.) em triplicado que foram analisadas para determinação de: • concentração de CF na polpa e líquido intervalvar; • diversos índices de condição das amêijoas . Métodos: • Para calibrar o coeficiente de acumulação ka realizaram-se ensaios laboratoriais e experiências de campo, testando a acumulação de Escherichia coli nas amêijoas, em função da concentração na água: • Contaminaram-se com uma cultura de E.coli (ATCC 25922) três conjuntos de aquários (6) devidamente arejados, que haviam sido cheios com 20L de água do mar sem quaisquer coliformes. • O NMP inicial de E. coli na água foi : - 3.0 x 108/100mL na 1ª exp. e Fig. 4 – Parte dos aquários utilizados. - 9.0 x 104/100mL na 2ª exp. • Em cada uma das experiências distribuiram-se aleatoriamente as amêijoas (22 kg na 1ª e 10 kg na 2ª exp.), pelos aquários. • A intervalos de tempo que variaram entre os 30 minutos no início e as 2 horas no fim das experiências recolheram-se e analisaram-se em triplicado amostras quer de água, quer de amêijoas (30 ind.). Métodos: • Experiências de campo • Colocaram-se no fundo em dois pontos - a 100m e a 400m do ponto de descarga da ETAR de Faro NW - sacos de rede devidamente lastrados, contendo amêijoas colhidas numa área menos contaminada. • Recolheram-se quer durante a enchente, quer durante a vazante, a intervalos regulares, amostras de água e de amêijoas (30ind.) para detecção e quantificação de CF A) B) Fig. 4 – A) Bóia assinalando os sacos depositados a 400m do pnto de descarga. B) Colheita das amostras. Resultados: 21º C (MPN/100g) Coliform concentration dc = kec dt 19º C 4000 23º C 3000 2000 1000 ke 0 T0 T4 T8 T12 T18 T24 T36 = 5.5x10-5 s-1. Tim e (Hours) Fig. 5 –Variação da concentração de coliformes fecais (NMP/100g) ao longo do período experimental para as diferentes temperaturas de depuração. Fig. 6 – Taxa de mortalidade acumulada das amêijoas ao longo do período experimental Mortalidade (%) 19ºC 7 6 5 4 3 2 1 0 21ºC 23ºC T0 T4 T8 T12 T18 Tem po (horas) T24 T36 Resultados: E.coli NMP/100mL na água E.coli NMP/100g em amêijoas Tempo Min Max Média Min Max Experiência (minutos) Média 0 3.0E+08 3.0E+08 3.0E+08 3.0E+02 2.3E+02 3.3E+02 30 2.8E+08 2.4E+08 3.0E+08 1.0E+08 7.0E+07 1.3E+08 60 4.1E+08 2.4E+08 5.0E+08 4.7E+08 1.3E+08 7.9E+08 90 8.0E+08 3.0E+08 1.6E+09 3.7E+08 1.7E+08 4.9E+08 1 120 6.8E+08 1.3E+08 1.6E+09 5.3E+08 3.3E+08 9.4E+08 180 6.6E+08 8.0E+07 1.6E+09 4.3E+08 1.8E+08 7.9E+08 240 6.1E+08 7.0E+07 1.6E+09 4.3E+08 9.0E+07 1.1E+09 360 5.8E+08 3.0E+07 1.6E+09 7.0E+08 3.3E+08 1.3E+09 480 5.0E+07 3.0E+07 7.0E+07 2.4E+08 1.1E+08 4.9E+08 0 9.0E+04 8.0E+04 1.1E+05 1.9E+03 7.9E+02 2.4E+03 30 1.0E+05 2.3E+04 2.4E+05 2.0E+05 1.1E+05 3.3E+05 2 60 8.0E+04 5.0E+04 1.1E+05 4.6E+05 2.3E+05 7.0E+05 120 6.5E+04 5.0E+04 8.0E+04 5.5E+06 1.7E+06 9.2E+06 1.0E+10 1.00E+10 1.0E+08 1.00E+08 1.0E+06 1.00E+06 1.0E+04 1.00E+04 1.0E+02 1.00E+02 A MPN / 100 g Quadro I – Resultados dos ensaios de laboratório MPN / 100 mL Resultados da fase de concentração 1.00E+00 1.0E+00 0 2 4 6 8 10 Tempo em horas ka = 1.1x10-4 s-1. QuadroII – Resultados das experiências de campo Tempo (min) Campanha Enchente Vazante Uma Semana 0 30 90 180 0 30 90 145 0 7 dias Estação 1 (100m) Coliformes Coliformes na água no molusco MPN/100mL MPN/100g 2.40E+04 3.30E+02 9.00E+02 2.40E+03 1.10E+01 2.40E+03 1.30E+01 5.40E+03 <1 3.30E+02 1.40E+01 2.40E+04 5.00E+02 2.40E+05 2.40E+03 3.30E+05 <1 3.30E+02 1.60E+03 1.60E+05 Estação 2 (400m) Coliformes Coliformes na água no molusco MPN/100mL MPN/100g 1.70E+03 3.30E+02 5.00E+02 2.40E+03 2.30E+01 3.50E+03 <1 2.40E+03 <1 3.30E+02 8.00E+00 2.30E+03 3.00E+02 2.40E+04 5.00E+02 3.50E+04 <1 3.30E+02 2.20E+02 3.50E+04 B C méd. água D E F méd. ameij. Discussão e conclusão: • O trabalho realizado permitiu uma avaliação preliminar das taxas naturais de acumulação e depuração de coliformes fecais na amêijoa-boa, mas é aconselhável, repetir o mesmo tipo de experiências com esta e com outras espécies, em diferentes situações de radiação e temperatura. • O mesmo tipo de experiências podem ser desenhadas para determinar os ka e ke de qualquer outro contaminante das amêijoas, p. ex. vírus, toxinas ou metais….. • Para além da utilidade imediata para que foi desenvolvido, este trabalho tem potencialidades de se vir a revelar útil, quaisquer que venham a ser os critérios de qualidade seleccionados para a avaliação dos bivalves. Agradecimentos: • Este trabalho foi financiado pelo Programa PROAlgarve através da CCDRAlgarve, tendo Sofia Delgado e Susana Calado prestado todo o apoio logístico. • As experiências de laboratório e de campo não teriam sido possíveis sem a preciosa colaboração dos seguintes colegas: Cristina Costa, Denise Fernandes, Hugo Baltazar, Jani Santos, João Sendão, Mª José Rodrigues, Marina Morado, Rute Miguel e Sandra Mesquita. • Francisco Manjua foi responsável pela logística dos trabalhos de campo e pela fornecimento das amêijoas para estas experiências.