X Reunião Sul-Brasileira
de Ciência do Solo
Fatos e Mitos em Ciência do Solo
Pelotas, RS - 15 a 17 de outubro de 2014
Núcleo Regional Sul
Produção de Massa Seca da Forrageira Jiggs em Diferentes Doses de Nitrogênio,
Fósforo e Potássio
Juliano Rossetto (1); Marcos Rossato(1); Clovis Orlando Da Ros(2); Diego Henrique Simon (1);
Antônio Luis Santi(2)
(1)
Estudante; Universidade Federal de Santa Maria (UFSM); Linha 7 de Setembro, s/n, BR 386,Km 40, 98400-000 - Frederico
Westphalen - RS; [email protected]; (2)Professor, UFSM, campus de Frederico Westphalen.
RESUMO – A produção de pastagens é uma atividade
que possui grande importância na produção leiteira. A
aplicação de nutrientes no solo se faz necessária para
repor os nutrientes e manter a forrageira em níveis de
produção desejada. Objetivo do estudo foi quantificar a
massa seca da forrageira Jiggs, cultivar do gênero
Cynodon, com variação nas doses de nitrogênio, fósforo e
potássio. O experimento foi realizado na Universidade
Federal de Santa Maria, Campus de Frederico
Westphalen/RS. O delineamento experimental foi de
blocos ao acaso com quatro repetições. Os tratamentos
foram cinco doses de nitrogênio (0, 50, 100, 150 e 200 kg
ha-1 de N), cinco doses de fósforo (0, 40, 80, 120, e 160
kg ha-1 de P2O5) e cinco doses de potássio (0, 30, 60, 90 e
120 kg ha-1 de K2O). O plantio das mudas de Jiggs foi
realizado no dia 23 de novembro de 2013. A massa seca
foi avaliada em uma área de 0,25 m2 por parcela em três
épocas (30 de janeiro, 24 de fevereiro e 29 de julho de
2014). Os dados foram submetidos à análise de variância
pelo teste F, ajustando-se regressões em função das doses
de nutrientes aplicados (p ≤ 0,05). Houve resposta
significativa às doses de nitrogênio, fósforo e potássio,
exceção do nitrogênio no terceiro corte. O máximo
rendimento de massa seca no primeiro e segundo corte foi
com a dose máxima de nitrogênio (200 kg ha-1), 166 e 121
kg ha-1 de P2O5 e 85 e 79 kg ha-1 de K2O,
respectivamente.
Palavras-chave:
produção leiteira.
Cynodon,
pastagem,
adubação,
INTRODUÇÃO - A região Norte do Rio Grande do Sul
possui inserção significativa na produção leiteira do
Brasil. Apesar da alta tecnologia aplicada no setor de
ordenha, muitas vezes, a definição da forrageira e da
adubação não é adequada para as condições de solo e
clima da região.
A maior parte das áreas de pastagens é composta
basicamente por cultivares do gênero Cynodon,
destacando-se a cultivar Jiggs em algumas propriedades
da bacia leiteira. A cultivar se estabelece rapidamente a
partir de ramos e pode apresentar produtividade de massa
seca semelhante as cultivares de tifton 68 e 85 (Dore,
2006; Guimarães, 2012).
Por caracterizar-se como cultivar nova, a Jiggs ainda
contém poucos estudos relacionados à adubação e
adaptação, principalmente as condições edafoclimáticas
da região sul do Brasil. Fagundes et al. (2011) relatam que
a aplicação de nitrogênio aumenta consideravelmente a
produção de forragem, principalmente de gramíneas, que
são altamente dependente do nutriente. Lavres Jr. (2001)
destaca a importância do potássio na maior produtividade
e qualidade de forrageiras. Franco (2003) cita que plantas
demandam quantidades menores de fósforo em relação à
nitrogênio e potássio, no entanto, para correções de solo
com deficiência nesse nutriente é necessário altas doses,
devido á alta capacidade de ligação que o fósforo possui
com óxidos do solo. Com bases nestas informações, o
presente trabalho tem como objetivo avaliar a produção
de massa seca da forrageira Jiggs com doses crescentes de
nitrogênio, fósforo e potássio no solo.
MATERIAL E MÉTODOS - O experimento foi
realizado na área experimental da Universidade Federal
de Santa Maria (UFSM), campus de Frederico
Westphalen/RS. O solo da área experimental é
classificado como Latossolo Vermelho aluminoférrico
(Embrapa, 2006). O clima da região, segundo a
classificação de Maluf (2000), é subtropical com
primavera úmida (STPU), temperatura média anual de
18,1 ºC e precipitação pluvial anual média de 1.919 mm.
Anteriormente à implantação do experimento foi
realizado o preparo da área com aração e duas gradagens
leves, com correção da acidez do solo na camada 0-20
cm. A área experimental estava sendo cultivado no
sistema plantio direto durante os últimos cinco anos,
principalmente com milho e aveia preta, com os seguintes
atributos na camada de 0 – 10 cm: 13 mg dm-3 de P; 192
mg dm-3 de K, 3,7% de matéria orgânica e pH (água) de
5,6.
O delineamento experimental adotado foi de blocos ao
acaso com três repetições. As unidades experimentais
foram composta por uma área de 4 x 3 m. Os tratamentos
foram cinco doses de nitrogênio (0, 50, 100, 150 e 200 kg
ha-1 de N); cinco doses de fósforo (0, 40, 80, 120 e 160 kg
ha-1 de P2O5) e cinco doses de potássio (0, 30, 60, 90 e
120 kg ha-1 de K2O). A variação de cada nutriente foi
testada individualmente nas unidades experimentais, onde
no momento da aplicação de um determinado nutriente,
os demais foram aplicados em dose fixa: 150 kg ha-1 de
N, 120 kg ha-1 de P2O5 e 90 kg ha-1 de K2O. O fósforo e o
potássio foram aplicados imediatamente após o plantio, a
X Reunião Sul-Brasileira
de Ciência do Solo
Fatos e Mitos em Ciência do Solo
Núcleo Regional Sul
Pelotas, RS - 15 a 17 de outubro de 2014
lanço e sem incorporação ao solo, na forma de superfosfato triplo e cloreto de potássio, respectivamente. A
adubação nitrogenada foi aplicada aos 40 dias do plantio
das mudas (metade da dose) e a outra após o primeiro
corte, na forma de ureia (45% de N), a lanço e sem
incorporação ao solo.
O plantio das mudas de Jiggs, produzidas a partir do
método de estaquia, foi realizado no dia 23 de novembro
de 2013. Foi realizada uma capina manualmente com 35
dias após o plantio para eliminar plantas daninhas
invasoras. Nas bordas das unidades experimentais foi
realizado o plantio de mudas de Jiggs de modo aleatório,
com o objetivo de eliminar as modificações através da
ausência da bordadura. As mudas foram alocadas em
espaçamento de 0,5 m x 0,5 m.
Em três épocas após o plantio das mudas (30 de
janeiro, 24 de fevereiro e 29 de julho de 2014) a massa
seca foi determinada após o corte da massa verde em uma
área de 0,25 m² por unidade experimental (7 a 10 cm
acima do nível solo) e secagem em estufa à temperatura
constante de 65°C, até peso constante.
Os dados foram submetidos à análise de variância pelo
teste F, ajustando-se regressões em função das doses de
NPK aplicadas (p ≤ 0,05).
RESULTADOS E DISCUSSÃO - Na tabela 1 estão
relacionadas as equações de regressão, o coeficiente de
determinação e de variação, o ponto de máxima eficiência
técnica e o incremento de massa seca da forrageira Jiggs
nos três cortes realizados após a aplicação das doses de
fósforo e potássio na semeadura e, de nitrogênio, na
semeadura e em cobertura. Observa-se que houve
aumento de massa seca com as doses de nitrogênio,
fósforo e de potássio aplicadas. O aumento com a
adubação nitrogenada, no primeiro e no segundo corte, foi
até a dose máxima aplicada (200 kg ha-1). Isto mostra que
a forrageira responde a doses altas de nitrogênio, podendo
chegar até 300 e 600 kg ha-1 de nitrogênio, conforme os
trabalhos de Roecker et al. (2011) e Alvim et al. (1999),
respectivamente, com a cultivar de tifton 85.
No terceiro corte não houve resposta à aplicação da
adubação nitrogenada, indicando que após o segundo
corte não houve residual da adubação nitrogenada
parcelada em 50% da dose aos 40 dias do plantio das
mudas e 50% logo após o primeiro corte.
A aplicação de doses crescentes de adubo fosfatado
proporcionou acréscimos na massa seca, com ajuste
quadrático no primeiro e segundo corte e linear no
terceiro corte (Tabela 1), corroborando com Santos et al.
(2002), que relatam que forrageiras adubadas com
fósforo tendem a produzir quantidades de massa seca
maiores. As equações de regressão mostram que que
doses acima de 166 e 121 kg ha-1 de P2O5 no 1º e 2º corte,
respectivamente, apresentaram tendência de estabilização
da curva de produção de massa seca. Borkert et al. (1994)
relatam que altos teores de fósforos no solo podem
estimular deficiências na absorção e translocação de ferro,
cobre e zinco pela planta, acarretando em redução no
crescimento e desenvolvimento da planta, e
consequentemente redução da massa acumulada. Este
comportamento foi observado nos trabalhos de Mesquita
et al. (2004), Ferreira (2008) e Oliveira et al. (2012).
A aplicação de doses crescentes de potássio no Jiggs,
na forma de cloreto de potássio, proporcionou acréscimos
na massa seca até a dose de 85 e 79 kg ha-1 de K2O, no
primeiro e segundo corte, respectivamente (Tabela 1). A
aplicação de doses altas de potássio é questionada, devido
principalmente ao efeito salino que esse nutriente causa,
não somente em nível de solo, mas também na planta
(Marschner, 1997), principalmente em aplicações
contínuas de doses elevadas de potássio no solo (Silva et
al., 2001). Epstein & Bloom (2005) destacam que doses
até 60 kg ha-1 são benéficas à cultura da tifton quanto ao
acúmulo de massa seca. Segundo Bergmann (1992), as
plantas podem suportar altas doses de adubações
potássicas sem apresentar distúrbios diretos, no entanto, o
potássio causa efeitos indiretos sobre a absorção de cálcio
e magnésio, que pode ser o fator responsável a diminuição
da massa seca de Jiggs com doses acima de 79 kg ha-1 de
K2O.
A forrageira Jiggs mostrou maior incremento de
massa seca com a adubação fosfatada, independente dos
cortes realizados, chegando até 53,1 % no primeiro corte
(Tabela 1). Isto ressalta a importância da adequação da
adubação fosfatada na produção da forrageira para as
condições de solo e clima da região.
CONCLUSÕES
– A produção de massa seca da forrageira Jiggs é
influenciada pelas doses de nitrogênio, fósforo e potássio
aplicadas no solo.
– A resposta à adubação nitrogenada na produção de
massa seca do Jiggs somente ocorre na primeira avaliação
subsequente à aplicação do fertilizante.
REFERÊNCIAS
ALVIM, M.J.; XAVIER, D. F.; VERNEQUE, R. S.; BOTREL,
M. A. Resposta do Tifton 85 a doses de nitrogênio e intervalos
de cortes. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília,.34:23452352, 1999.
BORKERT, C. M.; YORINORI, J. T.; CORREA-FERREIRA,
B.S.; ALMEIDA, A. M. R.; FERREIRA, L. P.; SFREDO, G. J.
Seja o doutor da sua soja. Informações Agronômicas. 66:1-16,
1994.
BERGMANN, W. Nutritional Disorders of Plants - Visual and
Analytical Diagnosis. Colour Atlas, Gutav Fisher Verlang Jena,
Stuttgar, New York, 1992. 386p.
DORE, R. T. Comparing Bermuda grass and bahai grass
cultivars at different stages of harvest for dry matter yield and
nutrient content. 2006. 87 p. Thesis (Magister of Science),
Louisiana State University, Baton Rouge, 2006.
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.
Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema Brasileiro de
Classificação de Solos. Rio de Janeiro, 2006. 306p.
2
X Reunião Sul-Brasileira
de Ciência do Solo
Fatos e Mitos em Ciência do Solo
Núcleo Regional Sul
Pelotas, RS - 15 a 17 de outubro de 2014
EPSTEIN, E.; BLOOM, A. J. Mineral nutrition of plants:
Principles and perspectives. 2ª edição, Sunderland: Sinauer,
2005, 225p.
MALUF, J.R.T. Nova classificação climática do Estado do Rio
Grande do Sul. Revista Brasileira de Agrometeorologia, 8:141150, 2000.
FAGUNDES, J. L.; MOREIRA, A.L.; FREITAS, A. W. P.;
ZONTA, A.; HENRICHS, R.; ROCHA, F.C.; BACKES, A.A.;
VIEIRA, J.S. Capacidade de suporte de pastagens de capim
tifton 85 adubado com nitrogênio manejadas em lotação
contínua de ovinos. Revista Brasileira de Zootecnia. 40:26512657, 2011.
MARSCHNER, H. Mineral nutrition of higher plants, 2ª ed. San
Diego: Academic Press, 1997.
FERREIRA, E. M.; SANTOS, A. C.; ARAÚJO, L. C.; CUNHA,
O. F. R. Características agronômicas do Panicum maximum cv.
Mombaça submetido a níveis crescentes de fósforo. Ciência
Rural, 38: 484-491, 2008.
FRANCO, H. C. J. Avaliação agronômica de fontes e doses de
fósforo para o capim Tifton 85. Universidade Estadual Paulista,
Jaboticabal, 2003, 80p. Dissertação (Mestrado em Agronomia),
Universidade Estadual Paulista, 2003.
GUIMARÃES, M. S. Desempenho produtivo, análise de
crescimento e características estruturais do dossel de dois capins
do gênero Cynodon sob duas estratégias de pastejo intermitente.
ESALQ/USP, Piracicaba, 2012, 81p. Dissertação (Mestrado.
em Ciência Animal e Pastagens). ESALQ/USP, 2012.
LAVRES JR., J. Combinações de doses de nitrogênio e de
potássio para o capim mombaça. Escola Superior de Agricultura
“Luiz de Queiroz”, 2001, 103p. Dissertação (Mestrado em Solos
e Nutrição de Plantas). Escola Superior de Agricultura “Luiz de
Queiroz”, 2001.
MESQUITA, E. E.; PINTO, J. C.; FURTINI NETO, A. E.;
SANTOS, I. P. A.; TAVARES, V. B. Teores críticos de fósforo
em três solos para o estabelecimento de capim-Mombaça,
capim-Marandu e capim-Andropogon em vasos. Revista
Brasileira de Zootecnia, 33:290-301, 2004.
OLIVEIRA, P. S. R.; DEMINICIS, B. B.; CASTAGNARA, D.
D. A.; GOMES, F. C. N. Efeito da adubação com fósforo do
capim Mombaça em solos com texturas arenosa e argilosa.
Archivos de Zootecnia, 61:397-406, 2012.
ROECKER, J. R.; GAI, V. F.; MOREIRA, G. C. Adubação
nitrogenada em grama jiggs. Cultivando o Saber, 4:140-147,
2011.
SANTOS, I. P. A.; PINTO J. C.; SIQUEIRA, J. O.; MORAIS
A. R.; SANTOS, C. L. Influência do fósforo, micorriza e
nitrogênio no conteúdo de minerais de Brachiaria brizantha e
Arachis pintoi consorciados. Revista Brasileira de Zootecnia,
31:605-616, 2002.
SILVA, M. A. G.; BOARETTO, A. E.; FERNANDES, H. G.;
SCIVITTARO, W. B. Efeito do cloreto de potássio na
salinidade de um solo cultivado com pimentão, Capsicum
annuum L., em ambiente protegido. Acta Scientiarum, 23:10851089, 2001.
Tabela 1. Equações de regressões, coeficientes de determinação (R²), coeficiente de variação (CV), ponto de máxima
eficiência técnica (PMET) e incremento de massa seca da de forrageira Jiggs, submetida às doses de nitrogênio,
fósforo e potássio. UFSM, Campus Frederico Westphalen, 2014.
CV
PMET(dose) Incremento
Adubação
Equação de regressão(1)
R²
(%)
( kg ha-1)
(%)
-------------------------------------- 1º corte -------------------------------------N
y = 2,60x + 1.606
0,87
14,9
---
32,4
P 2O 5
y = -0,0249x² + 8,28x + 1.294
0,92
18,1
166
53,1
0,77
19,5
85
30,5
K2O
2
y = -0,0775x + 13,19x + 1.841
-------------------------------------- 2º corte -------------------------------------N
y = 7,76x + 5.380
0,63
13,0
---
28,8
P 2O 5
y = -0,0813x² + 19,75x + 3.852
0,91
12,3
121
31,1
0,87
3,3
79
14,9
K2O
2
y = -0,0502x + 7,90x + 4.310
-------------------------------------- 3º corte -------------------------------------N
y = 1.266 ns
---
13,6
---
0,0
P 2O 5
y = 3,28x + 1.292
0,85
10,6
---
40,6
K2O
y = 4,73x + 1.300
0,83
5,6
---
43,7
(1)
Doses de nutrientes: 0, 50, 100, 150 e 200 kg ha-1 de N; 0, 40, 80, 120 e 160 kg ha-1 de P2O5 e 0, 30, 60, 90 e 120 kg ha-1 de K2O. ns equação de
regressão não significativa a 5% de probabilidade de erro.
3
Download

arquivo do resumo extendido - Sociedade Brasileira de Ciência do