2870 X Salão de Iniciação Científica PUCRS O trabalho das famílias catadoras de materiais recicláveis em situação de vulnerabilidade social, no município de Montenegro/RS. Marina Caetano1, Sônia Maria Almeida2 Unisinos, Instituto Primeira Infância Melhor (PIM), Secretaria Municipal de Saúde e Ação Social (SMSAS) Resumo Esta pesquisa tem o tema focado no trabalho das famílias catadoras de materiais recicláveis em situação de vulnerabilidade social, no município de Montenegro/RS, as quais duas das seis famílias são atendidas pelo Programa Primeira Infância Melhor (PIM), espaço de realização do estágio obrigatório em Serviço Social. Estas famílias em situação de vulnerabilidade social residem, especificamente, na Travessa José Pedro Steigleder e Rua Imigrantes, localizadas em dois bairros próximos da sede do Programa, em áreas invadidas. A pesquisa tem como objetivo geral conhecer e analisar o significado do trabalho para as famílias catadoras em situação de vulnerabilidade social, no município de Montenegro/RS. Os objetivos específicos são: verificar as condições de vulnerabilidade social em que vivem as famílias catadoras no município de Montenegro; identificar as condições e formas de enfrentamento e as dificuldades das famílias catadoras em situação de vulnerabilidade social, no município de Montenegro/RS; identificar em que lugar ocupa o trabalho na vida pessoal e social das famílias catadoras em situação de vulnerabilidade social, no município de Montenegro/RS. No tocante ao referencial teórico, destacam-se Juncá (2005) que, em sua obra Trajetórias de sujeitos no lixo, apresenta relatos de trabalhadores que já tiveram tais experiências; Robert Castel (1998), com seu livro As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário, o qual contribui com a pesquisa pela discussão sobre o atual sistema capitalista e a temática do trabalho. Outra categoria que utilizamos foi a vulnerabilidade social, com o referencial teórico relacionado aos conceitos de exclusão/inclusão social, identificando onde está inserido determinado indivíduo na sociedade. Magalhães, Rodrigues e Stoer (2004) referem cinco 1 2 Acadêmica do curso de Serviço Social da UNISINOS/RS. Profª. Ms. Orientadora. Curso Serviço Social da UNISINOS/RS. X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 2871 lugares de impacto da exclusão social: corpo, trabalho, cidadania, identidade e território. A família foi a terceira categoria na qual nos deparamos, abordando as transformações ocorridas durante o século XX (COSTA, 2002); relacionam-se fatores externos societários, presentes no interior da estrutura familiar, em especial a economia e a cultura (SCHREIBER, 2001). Tratase de pesquisa qualitativa com abordagem quantitativa referente às características sociodemográficas das famílias catadoras de materiais recicláveis. O instrumento de coleta de dados utilizado foi entrevista semi-estruturada realizada com 6 (seis) famílias catadoras de materiais recicláveis do município de Montenegro/RS. A análise dos dados empregou a análise de conteúdo para os dados qualitativos e a análise estatística para dados quantitativos. Alguns resultados quantitativos podem ser analisados através das tabelas a seguir. Os principais resultados mostram que as famílias empenham-se em seus trabalhos e, ao mesmo tempo, preocupam-se em conseguir melhorar suas condições de vida; devido à escassez de dinheiro, não tem condições de tal melhoria; a grande maioria possui baixo grau de escolaridade, não conseguindo trabalho em locais fixos, mesmo assim acreditam que o estudo seja uma possível solução para elas. Concluímos que os dados desta pesquisa mostraram as situações em que vivem as famílias catadoras de materiais recicláveis, afirmando sua condição atual de população em situação de vulnerabilidade social. Introdução Esta pesquisa tem o tema focado no trabalho das famílias catadoras de materiais recicláveis em situação de vulnerabilidade social, no município de Montenegro/RS, as quais duas das seis famílias são atendidas pelo Programa Primeira Infância Melhor (PIM), espaço de realização do estágio obrigatório em Serviço Social. Este tema sempre foi de grande importância acadêmica, pelo fato de estudarmos desde o início da graduação assuntos referentes à categoria trabalho. Ao longo do curso, esta categoria não permaneceu apenas na busca de conhecimentos, mas, sim, despertou-nos interesse e preocupação com a classe trabalhadora vulnerável, principalmente com as famílias catadoras de materiais recicláveis. Particularmente, desde a infância sempre tivemos muito cuidado com o meio ambiente, outro fator que também levou-nos a refletir sobre o tema. Temos a preocupação de apresentar aos leitores, uma visão panorâmica da atual situação de vulnerabilidade social na qual se encontram as famílias catadoras de material reciclável no município de Montenegro/RS. X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 2872 O campo escolhido para realização do Projeto de Intervenção Social foi o Programa PIM vinculado à Secretaria Municipal de Saúde e Ação Social (SMSAS) no município de Montenegro/RS. O estágio realizou-se inicialmente pela atividade acadêmica de Pesquisa em Serviço Social II com a temática acerca da situação de vulnerabilidade social das famílias catadoras de materiais recicláveis. O vínculo destas famílias catadoras é que são pais, mães e/ou responsáveis pelas crianças atendidas pelas visitadoras do PIM. A pesquisa tem como objetivo geral conhecer e analisar o significado do trabalho para as famílias catadoras em situação de vulnerabilidade social, no município de Montenegro/RS. Os objetivos específicos são: verificar as condições de vulnerabilidade social em que vivem as famílias catadoras no município de Montenegro/RS; identificar as condições e formas de enfrentamento e as dificuldades das famílias catadoras em situação de vulnerabilidade social, no município de Montenegro/RS; identificar em que lugar ocupa o trabalho na vida pessoal e social das famílias catadoras em situação de vulnerabilidade social, no município de Montenegro/RS. No tocante ao referencial teórico, destacam-se Juncá (2005) que, em sua obra Trajetórias de sujeitos no lixo, apresenta relatos de trabalhadores que já tiveram tais experiências; Robert Castel (1998), com seu livro As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário, o qual contribui com a pesquisa pela discussão sobre o atual sistema capitalista e a temática do trabalho. Outra categoria que utilizamos foi a vulnerabilidade social, com o referencial teórico relacionado aos conceitos de exclusão/inclusão social, identificando onde está inserido determinado indivíduo na sociedade. Magalhães, Rodrigues e Stoer (2004) referem cinco lugares de impacto da exclusão social: corpo, trabalho, cidadania, identidade e território. A família foi a terceira categoria na qual nos deparamos, abordando as transformações nela ocorridas durante o século XX (COSTA, 2002); relacionam-se fatores externos societários, presentes no interior da estrutura familiar, em especial a economia e a cultura (SCHREIBER, 2001). O compromisso profissional para com estas famílias, com vistas a melhores condições de vida e de trabalho, foi o que nos estimulou à elaboração e efetivação do Projeto de Intervenção Social. A criação de uma Associação de Catadores foi impulsionada por nossos conhecimentos enquanto estagiária e supervisionada pela profissional de Serviço Social, pois pensávamos a respeito da possibilidade destas famílias terem uma fonte de trabalho e renda estável através do lixo, particularmente, dos materiais recicláveis. X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 2873 A catação de materiais recicláveis, realizada pelas famílias catadoras, é uma forma de trabalho pouco valorizada pela sociedade em geral e também pela sociedade montenegrina e, muito menos, garantida pelos direitos trabalhistas. É uma atividade desenvolvida por estas famílias nos bairros da cidade, em lixões depositados em terrenos baldios, entre outros locais, onde o lixo encontra-se exposto. Tais materiais são encontrados principalmente no centro do município, local que grande número de lixo é gerado diariamente. O importante desempenho de tais famílias em catar esses materiais está vinculado ao meio ambiente, pois no momento em que estas realizam a catação, também desenvolvem um trabalho ambiental, colaborando, desta forma, com a limpeza da cidade. A sociedade não dá a devida relevância ao trabalho das famílias catadoras, apenas reafirma em suas consciências que permanecem com esse trabalho desumano, o qual não os agrega valores positivos. Verificamos que nada mais é pertinente, do que fazer o papel socioambiental, bem como introduzir em nossa profissão, especificamente, na área social, a reafirmação que somos todos responsáveis pelo momento presente dos acontecimentos catastróficos do ambiente natural. Metodologia Esta pesquisa foi baseada nos princípios do método dialético e trata-se de uma pesquisa qualitativa, de natureza exploratória e descritiva, com abordagem qualitativa referente às características sociodemográficas das famílias catadoras de materiais recicláveis. O instrumento de coleta de dados utilizado foi entrevista semi-estruturada realizada com 6 (seis) famílias catadoras de materiais recicláveis do município de Montenegro/RS. A análise dos dados empregou a análise de conteúdo para os dados qualitativos e a análise estatística para dados quantitativos. Alguns resultados quantitativos podem ser analisados através das tabelas a seguir. Tivemos a seguinte construção da amostra: a partir de alguns dados constantes das fichas cadastrais das famílias, verificamos que existiam poucas famílias que trabalhavam com a catação de materiais recicláveis. Então, procuramos as visitadoras que atendiam as famílias próximas à instituição. Deste contato, soubemos que existiam somente 2 (duas) famílias cujos filhos eram atendidos pelo Programa. Não satisfeita com este número, continuamos o contato com as visitadoras e, então, foi-nos indicadas mais 4 (quatro) famílias que, embora não X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 2874 tivessem crianças vinculadas ao PIM, eram famílias que viviam com a renda decorrente da venda de materiais recicláveis, o que totalizou 6 (seis). A amostragem foi do tipo intencional (GIL, 2002), pois optamos em pesquisar sobre famílias com esta tipologia, aliada ao critério da territorialidade. Resultados (ou Resultados e Discussão) Os principais resultados mostram que as famílias empenham-se em seus trabalhos e, ao mesmo tempo, preocupam-se em conseguir melhorar suas condições de vida; devido à escassez de dinheiro, não tem condições de tal melhoria; a grande parte delas possui baixo grau de escolaridade, não conseguindo trabalho em locais fixos, mesmo assim acreditam que o estudo seja uma possível solução para elas. • PRINCIPAIS RESULTADOS QUANTITATIVOS TABELA Nº 1 - Número de membros na família Especificação Nº de família Porcentagem 6 10 3 4 Total de famílias 3 1 1 1 6 50% 16,68% 16,66% 16,66% 100% O total de membros nas 6 (seis) famílias pesquisadas foi de 35 (trinta e cinco) pessoas, sendo que uma família possui 10 (dez) membros, constituindo-se numa numerosa família, embora não predominante na pesquisa. A metade das famílias pesquisadas, 3 (três) famílias, o que equivalente a 50%, possui 6 (seis) pessoas em co-habitação. X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 2875 TABELA Nº 2 - Faixa etária dos membros da família Idades 0 – 3 anos 4 – 6 anos 7 – 10 anos 11 – 13 anos 14 – 18 anos 19 – 21 anos 22 – 30 anos 31 – 40 anos 41 – 50 anos 51 – 60 anos 61 – 70 anos Total de pessoas Nº de pessoas 1 2 8 4 6 1 2 4 5 1 1 35 pessoas Porcentagem 2,86% 5,70% 22,86% 11,43% 17,14% 2,86% 5,71% 11,43% 14,29% 2,86% 2,86% 100% Verificamos que a faixa etária de maior número de pessoas está compreendida entre as idades de 7 (sete) a 10 (dez) anos, totalizando 8 (oito) membros das famílias, num percentual de 22,86%, seguida da faixa etária de 14 (quatorze) a 18 (dezoito) anos, 6 (seis) pessoas. Identificamos, então, que nas famílias existe um número predominante de crianças e de adolescentes. TABELA Nº 3 - Escolaridade dos membros da família Especificidade Crianças abaixo de 5 anos Analfabetos Pré-escola – 4ª ano (Ensino Fundamental) 5ª ano – 8ª ano (Ensino Fundamental) 1º ano – 3 º ano (Ensino Médio) Total de pessoas Nº de pessoas 3 3 20 Porcentagem 8,56% 8,56% 57,14% 9 25,71% Zero 0% 35 100% X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 2876 Há o predomínio de pessoas com escolaridade entre pré-escola e 4º ano do ensino Fundamental, num total de 20 (vinte) pessoas, correspondendo a 57,14%; identificamos que não há pessoas que alcançaram o ensino médio, sendo este dado negativo a estas famílias, podendo ser vinculado às condições atuais de trabalho. Esta variável aponta que a exclusão social não está mais apresentada somente pela pobreza absoluta da fome, da alfabetização, precariedade do trabalho, violência urbana, mas, está presente também na exclusão digital. Desta forma, o trabalho informal aparece como opção para estas pessoas. Este tipo de trabalho também está incluído no processo de acumulação do capital, afinal movimenta a economia. Isso comprova que a informalidade mascarada de alternativa ao desemprego é uma miragem que cria expectativas junto aos trabalhadores que jamais serão cumpridas, ao contrário, cada vez mais a informalidade os coloca em situação de vulnerabilidade social. (SILVA; YASBEK, 2008, p.134) A informalidade do trabalho apresenta-se no Brasil de forma bem variada, sendo composta por vários tipos de profissionais, os quais têm diferentes qualificações. Quanto maior for a heterogeneidade da estrutura de trabalho maior será a prevalência da informalidade. Silva e Yasbek (2008) afirmam que o tráfico de drogas e o contrabando também são considerados trabalhos informais. Já, para Cardoso Jr. (2005), a informalidade do trabalho caminha ao lado do processo de terceirização, principalmente, entre os anos de 1981 a 1999 (século XX). Na informalidade do trabalho, o percentual de trabalhadores com carteira assinada, cai sem dúvida alguma, enquanto eleva-se o percentual de trabalhadores sem registro de carteira assinada e de trabalhadores autônomos. Cardoso Jr. (2005) trás que o período de maior taxa de desemprego foi entre os anos de 1900 e 1992. Este autor divide a informalidade do trabalho em dois blocos: o segmento estruturado composto por trabalhadores envolvidos com assalariamento legal, ou seja, com carteira assinada, incluindo os funcionários públicos e militares; e o segmento pouco estruturado composto por trabalhadores autônomos e trabalhadores não remunerados, ou seja, sem carteira assinada. As pessoas que estão na informalidade do trabalho, podem representar grande custo social, pois na medida em que aumenta esta parcela da população, agrava-se também a negação dos direitos trabalhistas e, com o efeito cascata, agrava-se a vulnerabilidade social. Com a migração dos trabalhadores dos setores primários e secundários para o setor terciário, X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 2877 claramente, percebemos que este setor não tem condições de abertura de postos de trabalho como nos setores primários e secundários. Isto somente ocorrerá se houver compatibilidade entre os três, ou seja, se o primeiro e o segundo estiverem absorvendo mão-de-obra, o terceiro setor fará o mesmo. Cardoso Jr. (2005) afirma que o setor terciário da economia está aumentando com os serviços ambulantes, que crescem a cada dia. TABELA Nº 4 - Existência de pessoas com deficiências na família Especificação Sim Não Total de pessoas Nº de pessoas 2 33 35 Porcentagem 5,72% 94,28% 100% Conforme verificamos de 35 (trinta e cinco) pessoas, 2 (duas) delas são pessoas com deficiências, sendo que nenhuma delas ganha o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Nossas orientações no momento da entrevista foram de procurar pelo benefício, o qual têm direito. TABELA Nº 5 - Qualificação profissional dos jovens e adultos da família Especificação Gari Ferreiro Lavadeira Roceiro Jardineiro Total de pessoas Nº de famílias 2 1 1 1 1 6 Porcentagem 33,36% 16,66% 16,66% 16,66% 16,66% 100% Podemos relacionar esta tabela com a tabela de nº 3, pois nos mostra o baixo nível de escolaridade das pessoas, o que se reflete na falta de qualificação profissional. Identificamos a profissão predominante foi de gari, num total de 2 (duas) pessoas, num percentual de 33,36%. As demais mostram a existência da informalidade na vida destas famílias. Para Pochmamm (2002) há dois grandes determinantes para a causa do desemprego. Um deles, conforme já abordamos, é a intensa e visível tecnologia, responsável pela substituição de vários postos de trabalho. E outro ponto determinante é de natureza interna do X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 2878 trabalho, na qual o autor se refere à falta de qualificação de muitos trabalhadores. Segundo Cardoso Jr. (apud JACCOUD, 2005), os reflexos do desemprego também podem ser apresentados pelo crescimento da vulnerabilidade social e da precarização do trabalho, através da desqualificação dos postos de trabalho. Pochmamm (2002) argumenta que o sistema capitalista de produção, a escassez do trabalho e a vida social devam ser repensados como uma nova forma de convívio na sociedade, em que haja harmonia entre estas três esferas. TABELA Nº 6 - Membros da família inseridos no mercado de trabalho formal e informal Trabalhadores (as) Sim Não Total de pessoas Nº de famílias 9 6 15 Porcentagem 60% 40% 100% Verificamos que mais da metade dos membros destas 6 (seis) famílias, ou seja, 9 (nove) deles estão inseridos no mercado de trabalho, correspondendo a 60%, mesmo que seja no trabalho informal. É importante ressaltar que estão incluídas nestes dados pessoas jovens e adultas. TABELA Nº 7 - Faixa de renda familiar Renda em Reais R$ 0,01 a R$ 150,00 R$ 150,01 a R$ 250,00 R$ 250,01 a R$ 350,00 R$ 350,01 a R$ 500,00 Total de famílias Nº de famílias 2 2 Zero 2 6 Porcentagem 33,34% 33,33% 0% 33,33% 100% A única média salarial dos catadores que não foi constatada é de R$ 250,01 (duzentos e cinqüenta reais e um centavo) a R$ 350,00 (trezentos e cinqüenta reais), sendo que 4 (quatro) famílias ganham de R$ 0,01 (um centavo) a R$ 250,00 (duzentos e cinqüenta reais), e 2 (duas) delas apresentam valores entre R$ 350,01 (trezentos e cinqüenta reais e um centavo) a R$ 500,00 (quinhentos reais), podendo então, ultrapassar o salário mínimo nacional de R$ 415,00 (quatrocentos e quinze reais), valor referente ao ano de 2008. X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 2879 TABELA Nº 8 - Despesas da família Especificação Alimentação Água Luz Gás Outros Total de famílias Nº de famílias 6 6 6 4 2 24 Porcentagem 25% 25% 25% 16,64% 8,33% 100% Há o predomínio de despesas com alimentação, água e luz em todas as famílias, o que corresponde a 25%; destas 4 (quatro), além do gasto já mencionado, têm despesa referente ao consumo de gás. Destas 4 (quatro) famílias 2 (duas) delas utilizam fogão a lenha para aquecer alimentos; e na despesa com outros gastos, 2 (duas) famílias compram medicamentos, além dos gastos predominantes. TABELA Nº 9 - Pagamento de despesas em dia Especificação Sim Não Total Nº de famílias 5 1 6 Porcentagem 83,33% 16,67% 100% Das 6 (seis) famílias pesquisadas, 5 (cinco) afirmam pagar em dia suas despesas, sendo que apenas 1 (uma) família afirma não conseguir pagar suas contas em dia, mas lembra que isto não ocorre todos os meses, ou seja, o não-pagamento é eventual. TABELA Nº 10 - Cortes de energia elétrica e encanamento de água Especificação Sim Não Total Nº de famílias 1 5 6 Porcentagem 16,67% 83,33% 100% Verificamos que a mesma família que não paga suas contas em dia, não é a mesma que teve cortes na instalação elétrica e hidráulica. X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 2880 TABELA Nº 11 - Tipificação da residência Especificação Madeira Nº de famílias 6 Porcentagem 100% Alvenaria Outro material Total de casas Zero Zero 6 0% 0% 100% Predomina a casa de madeira, num total de 6 (seis) famílias, correspondendo a 100%. Ressaltamos que todas as residências são precárias, inclusive uma delas não possui assoalho. TABELA Nº 12 - Nº de repartições na casa Especificação 1 a 3 cômodos 4 a 5 cômodos Total de casas Nº de famílias 2 4 6 Porcentagem 33,34% 66,66% 100% Verificamos que a maioria dos entrevistados tem em suas casas de 4 (quatro) a 5 (cinco) cômodos, mas ressaltamos a precariedade dos mesmos. TABELA Nº 13 - Existência de banheiro Especificação Nº de famílias Porcentagem Sim 6 0% Não Zero 100% Total 6 100% Embora todos os entrevistados tenham respondido que sim quanto à existência de banheiro, na realidade, eles possuem é latrina, sem segurança de higienização. TABELA Nº 14.1 - Saneamento básico Especificação Sim Não Total Nº de famílias Zero 6 6 Porcentagem 0% 100% 100% X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 2881 Destacamos que a despesa com água, conforme vimos na tabela nº 8 ocorre por haver água encanada, mesmo as famílias pagando somente a taxa da água. A coleta de lixo, que veremos a seguir, também é feita. Porém, vale lembrar que na tabela anterior verificamos que não há canalização e tratamento de esgoto, nem mesmo limpeza das ruas em que residem estas famílias. Logo, o saneamento básico não é fornecido por completo para esta comunidade. TABELA Nº 14.2 - Coleta de lixo e separação do mesmo Especificação Sim Não Total Nº de famílias 6 Zero 6 Porcentagem 0% 100% 100% Há coleta de lixo realizada pela Prefeitura Municipal, em que é encaminhado ao lixão da cidade, local que, também, encontram-se catadores de materiais recicláveis. TABELA Nº 15 - Associação de bairro Especificação Sim Não Total Nº de famílias Zero 6 6 Porcentagem 0% 100% 100% Verificamos que há associação de bairro no Bairro Cinco de Maio, mas no Bairro Senai, realmente não localizamos dados que comprovassem a existência desta mobilização. TABELA Nº 16 - Tomada de decisões na família (por gênero) Especificação Mulher Homem Ambos Total Nº de famílias 2 3 1 6 Porcentagem 33% 50% 17% 100% Constatamos que os homens ainda estão mais presentes no campo das decisões familiares, totalizando o número de 3 (três), num percentual de 50%. Importante observar que encontramos 1 (uma) família em que a tomada de decisões ocorre por ambas as partes. X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 2882 Esta variável faz-nos lembrar a categoria gênero e associada ao trabalho, cujo campo a mulher avança, mas ainda não é a maioria na tomada de decisões ou, pelo menos, conjuntamente com o companheiro ou marido. Lembramos que a inserção da mulher começou no século XX em meados dos anos de 1920, com a marcante exploração do trabalho feminino e infantil. Porém, o censo de 1872, no século XIX, foi o primeiro a ser realizado no Brasil, e com ele, a quantidade de mulheres no campo de trabalho foi percebida. Para surpresa, o número de mulheres no mercado de trabalho foi elevado, sendo 45,5% das mulheres inseridas no emprego assalariado doméstico. Em aproximadamente 100 (cem) anos, percebemos que, na década de 1980 (século XX), o trabalho feminino caiu seu percentual de atividade no mercado de trabalho. Já, entre os anos de 1981 e 1998, o índice elevou-se novamente. Vale destacar que os censos realizados durante estes anos tiveram critérios diferentes, não podendo igualar os índices percentuais. Tabela nº 17 - Idade de ingresso do catador nas atividades laborativas Idade Nº de famílias Porcentagem 0 – 5 anos zero 0% 6 – 10 anos 1 17% 11 – 14 anos 3 50% acima de 14 anos zero 0% sem especificação 2 33% Total de pessoas 6 100% Verificamos que o ingresso nas atividades laborativas foi elevado entre o período infantil e de adolescência destes catadores. Tabela nº 18 - Sempre trabalhou com a catação de materiais recicláveis Especificação Nº Porcentagem Sim zero 0% Não 6 100% Total de pessoas 6 100% A catação nunca foi o único trabalho destas pessoas, algumas já foram inclusive catadores de mato, além das outras profissões apresentada na tabela nº 5. X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 2883 Tabela nº 19 - Há quanto tempo trabalha com a catação de materiais recicláveis Especificação Nº Porcentagem 1 - 5 anos 1 16,68% 6 - 11 anos 3 50% 12 - 16 anos zero 0% 17 - 21 anos zero 0% 22 - 26 anos zero 0% 27 - 31 anos 1 16,66% 32 - 36 anos 1 16,66% acima de 37 anos zero 0% Total de pessoas 6 100% Grande parte das pessoas trabalha de 6 (seis) a 11 (onze) anos com a catação de materiais recicláveis. Tabela nº 20 - Executa alguma coleta específica no momento da catação de materiais recicláveis Especificação Nº de famílias Porcentagem Sim 3 50% Não 3 50% Total 6 100% Verificamos que a metade dos catadores leva todo material que encontra para casa separando-o posteriormente em suas residências, pois acreditam na possibilidade de encontrarem algo útil para si e/ou para suas famílias. Já os outros catadores separam e levam somente o que os interessa no momento da catação. • PRINCIPAIS RESULTADOS QUALITATIVOS Esta pesquisa qualitativa tem por objetivo explicar as dinâmicas do processo de trabalho destas famílias, bem como são apresentadas duas categorias principais com suas decorrentes finais. X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 2884 Unidade de Análise Categorias principais ou primárias Enunciados Categoria final 1. Significado do trabalho Sobrevivência própria e familiar, inserida em um mercado de trabalho desumano. Melhoria de vida Condições dignas de sobrevivência e trabalho Tipificação das necessidades e satisfação pelo trabalho 2. Identificação das necessidades sociais Apresentamos algumas falas dos catadores entrevistados sobre o que é trabalho para eles: “Trabaio é busca mioria, porque a exploração é demais”; (SIC) “Trabaio é pra mantê a casa, com água, luis...”; (SIC) “Trabalho é família”; (SIC) “Eu tenho esperança que melhore, ...” (SIC) “Qualquer serviço é serviço. Muita gente discrimina o papeleiro, mas o trabalho do papeleiro é serviço”. (SIC) X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 2885 Conclusão Concluímos com esta pesquisa que estas famílias encontram-se em situação de vulnerabilidade social, sendo constituídas por baixíssimo nível de escolaridade, sendo a maioria destas pessoas, terem freqüentado até a 4ª série do ensino fundamental. Em conseqüência disto, verificamos que este nível escolar dificulta a possibilidade de conseguir um trabalho com carteira assinada e mais qualificado. Afinal, todas as profissões citadas como qualificação profissional dos jovens e adultos da família, são profissões que exigem pouca escolaridade. Outra conclusão importante que tivemos está relacionada ao mundo do trabalho, a grande maioria dos membros das famílias entrevistadas, tem 60% a idade de estarem trabalhando. Constatamos ainda que todas estas pessoas nem sempre trabalharam com a catação de materiais recicláveis, tendo outras experiências. Atualmente, estão vinculadas a este trabalho, pois é o que estão encontrando para manterem-se em um mundo de trabalho tão competitivo. Levamos em consideração também outro ponto importante, que é o fato de a grande maioria deles trabalharem uma média de 5 (cinco) anos com a catação de materiais, ou seja, observamos que este trabalho já está há tempo em nosso meio social, em que tais pessoas submetem-se a viver da produção de lixo de outras. Acreditamos que há relevante descaso da humanidade perante ela mesma, em que as conseqüências de suas ações estão sendo sentidas aos poucos pela revolta da natureza. Referindo aos outros fatos, constatamos ainda que a força e o entusiasmo destas pessoas, em conquistarem uma possível melhoria em seu trabalho, estão presentes com elas, mas ao mesmo tempo em que, estes trabalhadores ficam entusiasmados, dão-se conta de que são famílias em condições de vulnerabilidade social. Têm clareza que o trabalho com a catação não lhes proporciona tais condições de progresso, apenas condições para manterem-se economicamente dia após dia. Salientamos que este trabalho é sem dúvida alguma um trabalho de admiração e reconhecimento social. Concluímos que todas as famílias desejam mudar de vida, e que se alguma oportunidade em suas vidas surgirem, sem dúvida elas traçarão novos caminhos, sempre com esperança de melhoria. Referências ANTUNES, Ricardo. 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