Caracterização das famílias residentes na área rural agropecuária: estudo de caso no Distrito Espírito Santo, Município de Londrina-PR. Moacyr Doretto1 Mauro Eduardo Del Grossi2 Antonio Carlos Laurenti2 Resumo O objetivo é a caracterização das famílias residentes na área denominada de rural agropecuário do Distrito Espírito Santo no município de Londrina. Coletaram-se dados de 60 famílias sorteadas de uma listagem de nomes de moradores cedida pela Secretaria Municipal de Saúde. As entrevistas foram realizadas diretamente com os moradores, na última semana de setembro de 2001. Os resultados comprovaram as recentes transformações ocorridas no perfil de ocupação da população residente nas áreas rurais do Brasil, descritas com base nas informações das PNADs, destacando-se a família pluriativa que já concentra cerca de 1/3 do total de domicílios da localidade em foco. As ocupações não-agrícolas exercidas pelos moradores, em geral, são realizadas na zona urbana, situação que denota que para uma significativa parcela dos habitantes da localidade o meio rural apresenta-se também como um espaço de moradia e não apenas de produção agropecuária. A família classificada como não-agrícola apresentou a maior renda líquida per capita (R$5.788,47), seguida da agrícola e, finalmente da pluriativa. O maior grau de escolaridade foi verificado na família não-agrícola e em última posição as agrícolas. O trabalho é a fonte de renda mais importante, cabendo mencionar que a renda não monetizada de autoconsumo representou cerca de 19% da renda total dana família agrícola, 10,1% na pluriativa e 0,1% na não-agrícola. Por fim, tem-se que a maioria dos membros ativos da família destina seu rendimento ao fundo comum de renda familiar. Palavras-chave: pluriatividade; atividade agrícola e não-agrícola; famílias rurais, renda familiar. 1 2 Mestre em Economia – Pesquisador da Área Técnica de Socioeconomia do IAPAR. Doutor em Economia – Pesquisador da Área Técnica de Socioeconomia do IAPAR. 1- Introdução O Projeto RURBANO3, coordenado pelo Prof. Dr José Graziano da Silva, proporcionou um grande avanço nos estudos sobre a temática das atividades não-agrícolas das áreas rurais do Brasil. Nas duas primeiras fases desse projeto utilizaram-se somente informações da Pesquisa Nacional Amostra Domicílio-PNAD do IBGE, considerando-se a natureza das ocupações e rendas das pessoas e famílias. Nesta terceira fase foram elaboradas pesquisas de campo, através de estudos de casos em 11 estados do Brasil, para cotejar as constatações acerca da composição e magnitude da renda familiar no meio rural4 apoiadas em análises de os dados secundários. Principalmente, com a finalidade de aferir o viés, supostamente, causado pelas expansões urbanas e da subestimação da renda agrícola nas amostras das PNADs, conforme avaliação de Del Grossi et al 2002. Para isso, escolheu-se, deliberadamente, o Distrito Espírito Santo no município de Londrina, cuja povoação, conforme se verá a seguir, esteve fundada na economia de base familiar, onde a principal fonte de renda provinha da cafeicultura de exportação e secundariamente pelo cultivo de lavouras de subsistência ou de autoconsumo. Na segunda parte do texto, apresenta-se um breve histórico da ocupação da localidade em foco e o delineamento da pesquisa de campo e da análise dos resultados. A terceira parte é dedicada à exposição dos principais resultados da pesquisa relativos à caracterização das famílias considerando: o grau de escolaridade; a posição na ocupação da pessoa de referência da família; a localização da ocupação principal; a origem dos rendimentos; o montante de renda média e o destino dos rendimentos individuais. Na quarta e última parte, resume-se as principais constatações associadas ao reconhecimento de que, sequer na área denominada de rural agropecuário, as atividades agropecuárias comandam exclusivamente a dinâmica das ocupações e da formação da renda das famílias domiciliadas no Distrito do Espírito Santo. 2- Metodologia 2.1. Breve histórico da ocupação do Distrito A colonização da região denominada de Norte Novo do Estado do Paraná, no início dos anos 30 do século passado, oscilou entre duas concepções distintas de aplicação de capital privado de origem inglesa. A primeira preconizava a obtenção de lucros, através da aquisição de terras e emprego de trabalhadores assalariados através do cultivo de algodão para o mercado externo. A segunda, decorrente desse malogrado projeto de ocupação das terras, cedeu espaço à iniciativa fundada no comércio de lotes de terras e na produção de café para exportação, cuja dinâmica atingiu ritmo e extensão sem precedentes no âmbito da iniciativa privada no ramo da colonização. Uma outra diferença marcante entre as duas concepções de colonização – ainda que circunscritas a uma economia agrária exportadora, com capital externo e propriedade privada da terra, – é que a segunda fundava sua produção mercantil (café) num grande número de unidades de produção de pequena escala, cuja maior parcela pertencia a trabalhadores que eram proprietários da terra e do produto do seu trabalho. Esse processo de colonização foi idealizado pela Companhia de Terras Norte do Paraná – CTNP –, empresa responsável pela colonização pioneira do Norte Novo, a qual também concebeu a edificação de pequenos núcleos urbanos a cada 10 ou 15 km e pequenas cidades a cada 100 km, como forma de prover a população rural de bens e serviços gerais não-agrícolas, assim como sediar os empreendimentos industriais e de serviços associados à cadeia produtiva do café e demais atividades urbanas. Nesses termos, a separação campo-cidade foi feita pela locação das atividades nãoagrícolas no núcleo urbano e conseqüente especialização dos lotes rurais nas atividades agrícolas, principalmente a produção de café para comércio e, secundariamente, a produção de outros produtos agropecuários para subsistência da família. Ainda que, algumas tarefas de beneficiamento da produção, atualmente típicas da agroindústria, fossem (e continuam sendo) realizadas no recinto das unidades agrícolas, tais como: limpeza, secagem e armazenamento do café em coco. O seguinte depoimento de um antigo funcionário da companhia acima mencionada, contida no livro acerca da colonização e desenvolvimento do Norte do Paraná3 ilustra com precisão as referências efetuadas quanto à estrutura fundiária e a interdependência das atividades rurais/agrícolas e urbanas/não-agrícolas, assim como tais circunstâncias ensejaram o desenvolvimento local da época: “É preciso não esquecer, também, que alguns proprietários – contrariando a política de vendas da Companhia – conseguiram reunir vários lotes rurais e formar fazendas, mas onde isso ocorreu em número maior a comunidade próxima estacionou. A razão do êxito das cidades do Norte do Paraná está na pequena propriedade dirigida pelo seu dono, que nela reside e vai gastar o produto de seu trabalho na povoação mais próxima. Não é o grande proprietário que interessa, pois este geralmente mora nas grandes cidades, onde aplica os lucros obtidos em suas lavouras”. No contexto agrário, segundo o relato do jornalista Rubens Rodrigues dos Santos4, o plano de constituir uma agricultura de caráter difuso, usando-se o jargão atual, assentava-se no dimensionamento dos lotes de 10, 15 ou 20 alqueires paulistas, dispostos de forma contígua e limitados na frente pelas estradas de acesso (situadas ao longo dos espigões) e ao fundo por um ribeirão. Próximos ao riacho, localizavam-se de forma alinhada o quintal doméstico e a moradia com o objetivo de suscitar a formação de uma comunidade, tanto para desfavorecer o isolamento das pessoas como também para facilitar o trabalho em mutirão, principalmente na colheita do café, cuja lavoura situava-se nos talhões mais altos do lote. O delineamento das atividades agrícolas completava-se com a localização de chácaras, circunvizinhas aos perímetros urbanizados das cidades e dos pequenos núcleos habitacionais do meio rural, com a finalidade de abastecer o mercado local com produtos hortifrutigranjeiros. Portanto, essa sumária descrição de algumas diretrizes que nortearam a concepção “ocupação das terras do Norte Novo do Paraná” permite concluir que diferentemente do projeto original, onde o trabalhador assalariado prevaleceria numericamente na população local, a iniciativa da colonização atrelada a uma atividade agrária exportadora logrou compor uma heterogênea população pioneira integrada por trabalhadores assalariados, capitalistas, produtores simples de mercadoria (agricultor familiar), ou, ainda, empregadores, empregados e contaprópria, segundo a terminologia usual na PNAD5. A heterogeneidade, presente na ocupação pioneira, vai além dessa descrição efetuada com base na posição social ou na ocupação e fonte de renda predominante dos habitantes locais. Isto porque, mesmo o colono que vendia sua força de trabalho na grande fazenda de café, também exercia ocupações como conta-própria na produção de alimentos para consumo da família no quintal de seu domicílio, ou mesmo na autoconstrução e manutenção de sua moradia e demais instalações necessárias à produção de café. Da mesma forma, o cafeicultor, proprietário de unidades agrícolas de pequeno porte, que conduzia sua lavoura por conta própria eventual-mente trabalhava por conta de terceiros, nos mutirões e nas trocas de dias de serviço ou mesmo assalariando-se. Adicionam-se, a essas formas, as demais relações de produção fundadas na parceria, no qual o trabalhador se posiciona como meeiro, percenteiro etc. 3 Publicação comemorativa do cinqüentenário da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, intitulada Colonização e Desenvolvimento do Norte do Paraná, segunda edição, p 88, 1977. 4 Organizador do livro op cit. p 1. 5 Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios-PNADsdo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE. Em suma, a imagem que permanece é a que nas etapas iniciais da colonização do Município de Londrina, assim como da região norte paranaense6, a atividade agrícola de produção de café, calcada numa tecnologia de alta demanda de mão-de-obra e num grande número de unidades agrícolas de pequeno porte, que conciliavam a produção comercial de café com atividades de autoconsumo, regia a dinâmica das ocupações e da renda da maior parte da população regional. Ademais, essa via de desenvolvimento econômico, calcada na agricultura difusa e aos moldes do que se pode vislumbrar através da implantação de uma reforma agrária massiva, também propiciou o desenvolvimento da atual terceira cidade do Sul do País, assim como alavancou o adensamento populacional de mais de um milhão de habitantes no eixo Londrina–Maringá. A ação das políticas de industrialização do País, em particular a política de industrialização da agricultura, que adentra com mais intensidade no Estado do Paraná, a partir de meados do ano 1970, juntamente com a grande geada de 1975, confluiu para suprimira primazia do meio rural quanto à locação da população e o predomínio que a agropecuária exercia na geração de ocupação e renda da maior parte da população situada na região Norte do Estado do Paraná. Não obstante isso, a produção de soja e café voltada à exportação continua predominando na paisagem rural do Distrito do Espírito Santo, restando saber, conforme objetiva esta pesquisa, se essas atividades agrícolas regem de foram exclusiva a dinâmica das ocupações e da renda na população remanescente na localidade em foco. 2.2. Delineamento da pesquisa de campo O levantamento de dados foi realizado através de entrevistas de campo, com aplicação de questionário estruturado em 60 famílias residentes na área denominada rural agropecuário. A escolha da família como unidade de referência no meio rural traz vantagens em relação ao normalmente utilizado que é o estabelecimento agropecuário, pois neste pode ocorrer a presença de mais de uma família, além de não contemplar detalhadamente a ocupação e rendas das pessoas. Além do que, o Censo Agropecuário não abrange todas as unidades familiares presentes no meio rural em função da não inclusão das chácaras de recreio no recenseamento9. As famílias foram aleatoriamente sorteadas de uma listagem de 358 nomes de moradores (chefes da família) fornecida pela Secretaria Municipal de Saúde. A pesquisa de campo foi realizada na última semana do mês de setembro de 2001, mesmo período em que o IBGE faz a PNAD. A análise dos resultados será efetuada considerando-se a subdivisão dos tipos de famílias quanto à ocupação principal dos residentes durante a semana de referência, conforme a seguir. A família foi classificada como agrícola, quando todos seus membros ativos estavam ocupados com atividade agropecuária. Classificou-se como família pluriativa quando o tempo de trabalho da família é subdividido em ocupações agrícolas e não-agrícolas. Quando todas pessoas ativas da família se dedicavam a atividades não-agrícolas denominou-se de família não-agrícola. Quando nenhum membro em idade ativa esteve ocupado classificou-se a família como nãoocupada. 6 Não somente dessa região e da forma planejada pela CTNP, primeiro porque a área de abrangência dessa companhia não evolvia toda a região norte do Estado do Paraná e, segundo, porque a cafeicultura também avançou, em parte, para a região sul e oeste do Estado. 3- Resultados 3.1- Aspectos gerais da população amostrada A pesquisa de campo permitiu constatar que nas 60 famílias amostradas havia 237 pessoas residentes, incluindo os agregados, perfazendo uma média de quatro pessoas por domicílio, com predomínio numérico de homens sobre mulheres, (Tabela 01). Na amostra, constatou-se que mais de 2/3 das pessoas estavam economicamente ativas e executando trabalhos agrícolas e não-agrícolas ao lado de proporção significativa (27,1%) de residentes que com idade inferior a 14 anos de idade e que, na maioria das vezes, dedicaram seu tempo basicamente com a atividade escolar. Esta última é facilitada pela presença de escolas nos bairros rurais e pelo transporte escolar realizado pelo poder público municipal conduzindo jovens e adultos até a sede do distrito onde se localizam os cursos escolares de segundo grau. Tabela 01. Características populacionais das famílias situadas na área rural agropecuário do Distrito Espírito Santo, município de Londrina-PR, no ano de 2001. Características Valor Número de domicílios 60 Número de pessoas residentes 247 Residentes por domicílio 4,0 Tamanho médio da família (exclusive os agregados) 4,0 Gênero: proporção de homens (%) 53,4 proporção de mulheres (%) 46,6 Idade: proporção de pessoas com menos de 14 anos (%) 27,1 proporção de pessoas com 65 anos ou mais (%) 3,2 Escolaridade das pessoas com 7 anos ou mais de idade proporção de analfabetos (%) 6,1 4,7 proporção de semi-analfabetos1 (%) proporção de pessoas com 1o grau completo (%) 10,8 proporção de pessoas com 2o grau completo (%) 13,1 proporção de pessoas com superior completo (%) 2,3 Anos de estudo médio das pessoas de 7 anos ou mais 5,8 Fonte: dados da pesquisa. 1- apenas lê e escreve o próprio nome. Considerando-se a freqüência de pessoas com e sem alfabetização, denota-se que a falta de instrução formal no Espírito Santo é relativamente mais acentuada que a média municipal7 ', cerca de um décimo contra 7,1%, estimada para o ano de 2000 a partir do Censo Demográfico do Paraná, pelo qual também se verificou que, nas famílias amostradas, as pessoas estavam, na média, com grau de alfabetização muito aquém dos demais habitantes do município. Entre os alfabetizados (89,2%) ocorre disparidade nos graus de instrução, dado que existem pessoas que não concluíram o primeiro grau até outras com curso superior completo. Portanto, o destaque é que as pessoas que iniciaram e não completaram as séries escolares, totalizando 62,8%, enquanto as demais (26,2%) concluíram, em ordem decrescente, 2º grau, 1º grau e curso superior. Verificou-se, ainda, que as pessoas residentes, com 7 anos ou mais de idade, apresentavam em média 5,8 anos de escolaridade. 3.2 Perfil ocupacional e de escolaridade nos tipos de famílias A partir dos dados colocados na Tabela 02, denota-se que da totalidade dos domicílios e das pessoas residentes situados na área rural agropecuária, cerca de metade perten7 pessoas com 7 anos e mais de idade. cem ao tipo de família agrícola. Nesse sentido, pode se afirmar que continua predominando no contingente populacional, a parcela das pessoas e de domicílios vinculados à atividade agrícola. Todavia, diferentemente de outrora, esse predomínio já não se manifesta de maneira exclusiva, permitindo reconhecer que mudou de forma expressiva o perfil socioeconômico, dos residentes da área rural agropecuária do Distrito em foco. A presença de cerca de 1/3 de família pluriativa reforça essa interpretação de não exclusividade da agropecuária quanto à ocupação e renda das pessoas no Distrito do Espírito Santo, sendo que esse tipo de família também se diferenciou por apresentar relativamente o maior contingente médio de pessoas. A atual condição de não exclusividade da agropecuária, mesmo na área denominada pelo IBGE de rural agropecuário,, é reforçada pela presença de mais de ¼ de pessoas que se ocupam unicamente de atividades não agrícolas. A ocorrência de aproximadamente 13,3% de domicílios habitados somente por pessoas ocupadas com atividades não-agrícolas, reforça que a localidade em foco também se caracteriza como espaço que apenas serve de moradia para pessoas cuja ocupação econômica situa-se no meio urbano. Este último aspecto é reforçado, ainda que em pequena monta, pelo fato de que 5% dos domicílios são moradores sem ocupação econômica. Tabela 02: Distribuição do total de domicílios e das pessoas residentes segundo os tipos de famílias, no Distrito Espírito Santo, município de Londrina-PR, 2001. Domicílios Pessoasa Tipo de família Total % Total % Agrícola 30 50,0 120 50,6 Pluriativa 19 31,7 85 35,9 Não-agrícola 8 13,3 26 11,0 Não-ocupada 3 5,0 6 2,5 Total 60 100,0 237 100,0 Fonte: dados da pesquisa a- representa a totalidade das pessoas residentes no domicílio independente da idade e da ocupação. No geral, a escolaridade das pessoas residentes apresenta grande disparidade, principalmente porque se concentram na denominação outras combinações (43,3%), conforme pode ser observado na Tabela 03, na qual, estão inclusas as pessoas residentes que completaram o curso superior, as que cursaram séries diferentes e ainda aquelas que não completaram o primeiro grau. Em segundo lugar, com 31,7%, estão as famílias que possuem pelo menos uma pessoa com segundo grau de escolaridade, seguido daqueles com pessoa no primeiro grau (13,3%), com uma pessoa com curso superior (8,3%) e, finalmente, o analfabeto ou semi-analfabeto. Tabela 03. Distribuição relativa dos tipos de famílias segundo a escolaridade das pessoas residentes, Distrito Espírito Santo município de Londrina-PR, 2001. Somente Pelo menos 1 Pelo menos 1 Pelo menos Outras analfabetos membro com membro com 2º 1 membro combiTipo de família ou semi- 1º grau e grau e nenhum com curso nações analfabetos nenhum acima acima superior (%) (%) (%) (%) (%) Ocupada Agrícola 6,7 6,7 20,0 6,7 60,0 Pluriativa 0,0 26,3 47,4 0,0 26,3 Não-agrícola 0,0 12,5 50,0 25,0 12,5 Não-ocupada 0,0 0,0 0,0 33,3 66,7 Total 3,3 13,3 31,7 8,3 43,3 Fonte: Dados da pesquisa. Na família agrícola predomina a subdivisão outras combinações outras combinações (60%) e somente nessa é que se verificou a presença de pessoa analfabeta ou semianalfabeta. Nas famílias pluriativa e não-agrícola ocorrem maior dispersão entre os membros que possuem algum grau de escolaridade, pois se concentram basicamente onde existem pelo menos uma pessoa com segundo grau e outras combinações. Nas famílias com pessoas não-ocupadas a escolaridade está definida, concentrandose naqueles que possuem pelo menos um membro com curso superior e outras combinações. De forma geral, é possível reafirmar que o grau de escolaridade é baixo entre as pessoas residentes nos domicílios rurais, prevalecendo maior grau de escolaridade entre os membros da família não-agrícola, pluriativa e não-ocupada e com menor grau na família agrícola. 3.3- Localização da ocupação principal Na localidade onde foi realizada a pesquisa as famílias estão distribuídas de maneira dispersa no espaço rural, dada a característica de que o respectivo domicílio está associado, na maior partes das vezes, a um estabelecimento8 agropecuário. Diante disso, tem-se que a maior proporção de pessoas ativas realizam a ocupação principal no respectivo estabelecimento agropecuário, seguidas daquelas cujas ocupações estão sediadas em local distante e urbano, (Tabela 04). Na família agrícola 3/4 das pessoas ativas realizam a ocupação principal no mesmo local onde residem, enquanto que a quase totalidade da porção restante o faz no domicílio do vizinho e na zona rural. Tabela 04. Distribuição relativa das pessoas segundo o tipo de família e o local da ocupação principal, Distrito Espírito Santo município de Londrina-PR, 2001. Tipo de família Ocupada Agrícola Pluriativa Não-agrícola Não-ocupada Total Fonte: Dados da pesquisa. No Vizinho e na Distante e na Distante e domicílio zona rural zona rural urbano Total (%) (%) (%) (%) (%) 74,4 47,8 26,7 12,8 19,6 6,7 10,3 6,5 6,7 2,6 26,1 60,0 100,0 100,0 100,0 100,0 55,9 0,0 14,7 0,0 7,8 0,0 21,6 100,0 100,0 Na família pluriativa, predominam as pessoas residentes que exploram atividades na área rural, sendo no mesmo local (47,8%), seguido imediatamente de local vizinho e zona rural, sendo por último em local distante e urbano. Diferenciando-se dos demais tipos a famílias nãoagrícolas (60,0%) desenvolvem suas atividades em local distante e no perímetro urbano. Em síntese, tem-se que os residentes da família agrícola e pluriativa exercem, na maior parte das vezes, a ocupação principal no domicílio na zona rural, enquanto a não-agrícola o fazem principalmente na área urbana. Cabendo destacar que 40,0% das pessoas integrantes das famílias não-agrícolas ocupam-se com ORNAs, isto é, ocupações não-agrícolas situadas no meio rural. 8 que se define como todo terreno de área continua, independentemente de tamanho ou situação (urbana ou rural), onde de processa uma exploração agropecuária...(Manual do Recenseador do Censo Agropecuário de 1995-96). 3.4- Pluriatividade nas famílias rurais A pluriatividade9 consiste na combinação de ocupações realizadas pelos membros de uma mesma família em atividades agrícolas e não-agrícolas, onde pelo menos uma pessoa esteja exercendo tal combinação. A pluriatividade também pode ser indiretamente observada através da composição da renda oriunda das ocupações econômicas, conforme efetuado a seguir. Considerando-se o montante dos rendimentos de todas as pessoas da família, ou seja, ocupadas e não-ocupadas, constatou-se 73,5% do total são advindos do trabalho das pessoas ativas residentes ocupadas com atividades agrícolas e não-agrícolas, (Tabela 05). Esse rendimento das ocupações das pessoas ativas advém do trabalho realizado, na maior proporção (42,2%) em atividades agrícolas, seguido daquelas atividades não-agrícolas que também são expressivas no conjunto das atividades econômicas. Tabela 05. Fontes de rendimento segundo a composição do rendimento familiar total, Distrito Espírito Santo no município de Londrina-PR, 2001. Fonte dos Rendimentos % Rendimento a 73,5 Rendimento de todas ocupações / renda total a Rendas agrícolas / renda total Rendas não-agrícolas / renda total 42,2 a Rendimento dos inativos / renda total 31,3 a 9,5 a Rendimento das ocupações secundárias / renda total 9,3 Rendimento de outras fontes / renda total Rendimento das ocupações secundárias / renda ocupações Fonte: Dados da pesquisa. a - renda das ocupações e dos rendimentos anuais variáveis. 7,7 a 12,6 O rendimento das pessoas inativas na área rural agropecuária já representa 9,5% do rendimento total das famílias. Esse montante está relativamente acima dos rendimentos que a família recebeu, separadamente, com as ocupações secundárias e também com outras fontes. 3.5- Rendimentos Considerando-se as informações postas na Tabela 06, denota-se que é notória a disparidade no montante do rendimento total familiar entre os tipos de famílias com pessoas ocupadas, quer seja na agricultura e também nas atividades não-agrícolas. A principal diferença ocorre entre as famílias que possuem pessoas ocupadas no todo, ou em parte, na agricultura, representadas pela família agrícola e pluriativa, com aquelas onde as pessoas estão somente ocupadas com atividades não-agrícolas. Entre as famílias que possuem pessoas ocupadas com atividades agrícolas, constatou que existe pequena diferença em favor do montante total do rendimento da família agrícola em relação à família pluriativa, ou seja, a primeira é superior à segunda em 0,5%. No entanto, a maior diferença ocorre com relação à família não-agrícola, sendo superior à família pluriativa e agrícola em 70,0% e 69,1%, respectivamente. Neste sentido, realça a importância das atividades não-agrícolas entre as pessoas ocupadas e residentes na área rural agropecuária do Distrito Espírito Santo. A renda advinda do trabalho se constitui na principal fonte de rendimento de todas as famílias. A maior proporção da renda advinda do trabalho (98.2%) está na família nãoagrícola, e em menor montante relativo na família agrícola (71,8%) e na pluriativa (76,9%). Tabela 06. Rendimento familiar anual segundo os tipos de famílias com pessoas ocupadas, Distrito Espírito Santo município de Londrina-PR, 2001. 9 Op. Cit. www.eco.unicamp.br Rendimento Familiar (R$) Tipo de família Agrícola Pluriativa Não-agrícola Total Total 10.924,92 10.866,96 18.482,50 11.966,31 Total per capita 3.379,54 2.654,21 6.025,73 3.509,16 Trabalho Outras 7.838,93 8.356,17 18.148,63 9.458,32 fontes 715,87 974,73 150,00 722,74 Inativos 288,00 429,47 0,00 294,74 Auto- Liquido consumo 2.082,12 1.106,58 183,88 1.490,52 per capita 3.228,80 2.440,60 5.788,47 3.325,32 Fonte: Dados da pesquisa Analisando-se o rendimento total per capita entre os tipos de famílias, constatouse que a família pluriativa é que possui o menor montante em relação às demais, e isto pode ser atribuído ao fato de que, neste tipo de família, é que se encontra o maior número médio de pessoas. A diferença entre a origem da renda da família agrícola e pluriativa com a nãoagrícola, pode ser atribuída ao tempo dedicado à execução das atividades das pessoas ativas em cada uma delas. Neste sentido, normalmente, a ocupação em atividade não-agrícola ocorre com dedicação exclusiva e fora dos limites do domicílio ao qual pertence à família, caso dos assalariados na área urbana e em outro local rural. No caso da família agrícola, existem ainda as rendas advindas de outras fontes (6,6%) e de inativos (2,6%), que são iniciativas concretas de complementação da renda domiciliar, através de novas fontes de renda para garantia da continuidade do negócio, além de pessoas aposentadas entre os residentes.A família não-agrícola é que apresentou o menor montante de rendimento anual de autoconsumo (R$183,88) comparativamente aos demais tipos de família. Isto pode ser atribuído, em parte, ao fato de que as pessoas ocupadas da família estão na totalidade voltada às atividades fora do âmbito da agropecuária, e com isso se utiliza menor proporção de produtos produzidos no local da moradia. O tipo de família pluriativa possui a maior renda média familiar advinda de outras fontes (R$974,73), quando comparados aos demais tipos de famílias, e isto podem ser atribuídos à maior variabilidade de opções de execução de atividades disponíveis no mercado de trabalho fora do âmbito do domicílio e que poderão ser executados pelos membros ativos da família. O maior rendimento de pessoas inativas foi constatado na família agrícola e pluriativa, sendo que o montante verificado na primeira é superior (50,0%) em relação à segunda. Considerando-se o rendimento liquido per capita das famílias nota-se que o maior montante está na família não-agrícola, seguida da agrícola e da pluriativa. Vale ressaltar que a família não-agrícola possui mais que o dobro de rendimento per capita do que a família pluriativa. 3.6- Destino do rendimento individual A destinação do rendimento obtido por cada membro ativo da família, é efetuada de forma predominante para o fundo de renda da família (50,0%), seguido para uso próprio (28,6%), e a combinação entre uso próprio e para o fundo de renda da família (21,4%), (Tabela 08). Tabela 08. Distribuição relativa dos rendimentos dos residentes segundo a destinação, Patrimônio Espírito Santo município de Londrina-PR, 2001. Destino dos rendimentos % Somente para uso próprio 28,6 Para uso próprio e para o fundo de renda familiar 21,4 Somente para o fundo de renda da família 50,0 Total 100,0 Fonte: Dados da pesquisa. A predominância do fundo familiar como o principal destino da renda individual ilustra que a abordagem da economia familiar continua como um procedimento válido, ainda que significativa parcela da renda individual seja destinada ao uso próprio. Para se fazer inferências acerca da dissociação do uso da renda recebida seria necessário analisar a distribuição da renda segundo os integrantes da família considerando: os cônjuges, agregados e os filhos por idade e sexo (pois pode haver filho ou filha se preparando para o casamento ou para deixar a casa dos pais). 4- Conclusão A análise dos dados da pesquisa de campo no Distrito Espírito Santo situado no município de Londrina, reforça as constatações de pesquisas congêneres e de maior amplitude de que, mesmo na área denominada pelo IBGE de rural agropecuário, as atividades agropecuárias não mais respondem exclusivamente pela dinâmica da ocupação e renda das pessoas residentes das áreas rurais. Atesta isso, primeiro a presença de cerca de 1/3 das famílias com atividades agrícolas e não-agrícolas (pluriativa) e, segundo, o fato de que 13,3% das famílias amostradas ocupam-se exclusivamente de atividades não-agrícolas. Em termos de fontes de renda, as de origem não-agrícola representam uma terça parte da renda total das famílias, ficando patente a importância da pluriatividade nas famílias na área denominada de rural agropecuário. As atividades não-agrícolas, na sua maior parte, são realizadas pelas pessoas que se assalariam em local distante do domicílio e na área urbana, fazendo com que significativa parcela dos domicílios rurais limitem-se apenas à função de moradia, visto que a produção de autoconsumo nesses domicílios não é uma atividade freqüente e quando ocorre participa com uma fração inexpressiva da renda total. O grau de escolaridade das pessoas é maior entre aquelas pertencentes à família não-agrícola e em último lugar na agrícola, sendo que, somente nesse tipo de família é que se verificou a presença mais acentuada de pessoas analfabetas e semi-analfabetas. Tal resultado, certamente está associado à presença de atividades agrícolas na família pluriativa bem como o maior rendimento monetário da família não-agrícola. A renda da família é advinda, predominantemente, do trabalho, enquanto que a renda oriunda da produção de autoconsumo tem sua importância decrescente de acordo com o tipo de família, como a seguir: 19% na família agrícola, 10,2% na pluriativa, 9,8% na nãoocupada e 1,0% na não-agrícola. O destino da renda recebida pelas pessoas da família está se diferenciando da antiga forma presumivelmente utilizada, isto é do fundo comum da família, para a individualização do destino de seus rendimentos, cuja mudança pode ser atribuída ao decorrente fracionamento da execução dos trabalhos realizados pelos membros nas atividades agrícolas ou não-agrícolas. 5- Bibliografia COMPANHIA MELHORAMENTOS NORTE DO PARANÁ. Colonização e Desenvolvimento do Norte do Paraná. Publicação comemorativa do Cinqüentenário da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná. 2ª edição. 1977. 295 p. DEL GROSSI, M.E. e GRAZIANO DA SILVA, J. O Novo Rural: uma abordagem ilustrada. Londrina. IAPAR, 2002, vol. I. (disponível em www.iapar.br publicações). DORETTO,M.; LAURENTI, A.C.; DEL GROSSI, M. E. Tipos de estabelecimentos agropecuários do estado do Paraná, 1995-96. IAPAR. Londrina, 2001. CD-ROM. Pesquisas do Projeto RURBANO. www.eco.unicamp.br .Núcleo de Economia Agrícola.