BRITO CAMACHO SCENAS DA VIDA uWliiilllllHWItt Lívraña Editora GUIMARÁES 68, Rúa do Miinbn,70 LISBOA " C,« é # ^- / /^ -/ SC™\S DA 1." ^1^ / MILHAR VIDA AUCTOR DO Publicados t (esgotado) propaganda A (esgotado) crünes Dois Por arfara Ñas horas de Oeníe A esgotado) intimo de caniinho d' Latino África lendas de alentejanos Quadros Pretos brancas e Jornadas Ugeiros Cantos Gente A varia Cantos e Sccnas da sátiras vida publicar: Fógo (2.^ edigáo) {2." edigáo) Rustica Terra (2.^ edigáo) vista da amores Os (esgotado) calmas Carlos D. (esgotado) leve Longe (esgotado; viagem de Impressoes Ao (esgotado) mórbida Heranfa disperso Coelho BRITO CAMACHO SCENAS VIDA DA 1.0 MiLHAR Livraria ñbitora guimarAes 68, Rúa LISBOA do Mun^o, " 70 c.^ 70. 1. Comp. 59, Rúa e imp. Diario na lAlPRENSA de LUCAS Noticias, 61 — " LISBOA C.» o la dois em anos cheia, Urna fizera desviar n'um paredáo moinho o que d'outra como o Moinho da leito inútil, trabalhava. nao igual havia nao memoria, ribeira, conyertendo e n'um levada a agude o caneiro sem presumo. Durante ^ potes, e enrodilhava pela oliveiras de bragos moinho O dia. Nem convertido ali ites havia, de Por paredes tempo n'um freguezes alqueires outra as do d'aquele, lavrador fatalidade, uma como telhado, o argamassada, bem muralhas. sem houvera uma — trigo para o feitas de se e a nho, moi- farinha que alqueire ura do carrada ainda comportas fossem do retirar para o noite como beltrano, das da á ferro. eram grossas varios arrancaba presas o porque pogo, e fortemente rijas pernadas ficara aluindo nao pedra e fiexiveis azinheiras e desabrida ventania uma muito arvores as raiz térra, tempo mesmo ao chuva caira despegar, sem semana, uma d'este, lavrador por lano, fu- joeírar. abrira-se^ e o VIDA DA SCENAS acionasse urna se o correspondente rodizio,como n'uma vertigem,acabou por forca demoniaca, a girar, fazer se bocados. em Ninguem caudalosa como as chapadas, a raorrerem de todo. o de 1856, herva curta,mal em pedirem um de verdejandoñas diasinhos de sol para uns de fome, ano ano coisa assim, a ribeira gadas, rio africano,as térras baixas ala- um searas, Previa-se d'uma lembrava se terrivelcomo ano um nao palha e de feno, maisde feno que se as searas, sobretudo os trigos, palha, porque Muita gente, n'esse ana tinham perdido á nascenga. Irasofreu a miseria negra, sem e sem terrivel, pao balho. Chegou a vender-se um alqueirede trigopor de mil quatrocentos réis,tres e menos o O propriedadedo era mandara o que para gada a ir fazer, menos beneficio de toda moer o ros, e nao era esta levava O acesso um ao moinho ou tinha fácil para muito firme, e Siberio Augusto, d'ele tirar lucros» famiiia da urna Aldeia,obridistancia grande, de vento, damente aproxima- e d'agua,a moinho chegadoiro para car* acessível, quando pelo lado da ribeira, que mau golpe d'agua moinho do tanto do lado da — a distancia n'um mesma juzante,moinho sr. para trigoa seu mais d'uma legua em a mais pouco custo ordinario n'esses tempos recuados, seu moinho que vezes, carros como e a sr. a cobrir as Silverio era ribeira, como cayaleiros. O passadeiras. fácile modo, có- do lado oposto bom, alargava ribeira, a montante, porto era SCENAS n'um pego, que gaya ali um pouco a passagem ser de tres maís do pouco barranco o gada por sobre chaisseiros,de um em moinho, hayia fundo pego corrimáo, frágilamparo dava um audaciosos nao animo, permitín do-lhes distraira yista da iminencia Fora juncos,servia de e mais timidos aos com ramaria. abundante e os agua estreito,entre dois hervas que a pingúelalan- uma e tronco grosso que nao de anos restituía á ribeira corda feita de ramos, utilisayam,e quatro horas, a ou grande inbaíxo do porto, quasi najun- para que trabalhaya Uma lagoa, a corrente cheamortecida,raramente estorbando parecía uma por vernia. Um que VIDA cheías desmarcadas, ñas (ao DA do perigo. dia de grande festa,de brodio rijo, o da inauguragao do moinho. Juntou-se ali o povo todo, yelhos, homens. mulheres e creangas, os novos e os só ficando em casa podía ir para a rúa. nao quem Por feliz acaso, na uma ^espera, Goinhas, escorregando-lheao caira de maos, a O sr. Silyerio comprou Aldeia, que festa* •. no dia ensopada com com a tempo mesmo labrador as duas cachafundáo,d'onde mangualde n'um tiraram,a muito custo, do vaca uma perna partida. fazendo constar,na vaca, seguinte ela tomarla batatas e borrifada parte com na vi- nho. ordenara o sr. Aqui ninguem se embebeda Silverio, quando a familia,distribuida em grupos, formando car, se circuios, dispunha a mandupequeños — — cada qual tendo levado de casa, por expressa re- DA SCENAS comendagáo ferro ele fizera, garfo de o indispensavel que nao para — VIDA á unha. comer tacho, moleiro,erguidas as A primeira garfada de ensopado, ainda foi a do Siberio, quando sr. comportas, disse para Seja louvado e . os e Nosso adorado : Jesús Senhor • . Todos seia!- familia,ali reunida a — Christo. o no homens os logo o e — . a pequeños tiraram o raoinho se alguns ainda coisa que — ver quererem chapeu, dizendo encheu, os grandes trabalho das mós, o tinham visto, e outros nao es- complicado e muito engenhoso todo aquele mecanismo, o trigoa cair,em pequeninas porgoes, da tolda para a mó de baixo, gragas a um estremecimento constante regulado systema adamita de alavancas,pesos e por um fartos de tavam cordeis,e sentido com e forga da mó a ver. Achavam de cima a mesma ao rodizio sr. Silverio agua a e muito no mesmo girar,sempre velocidade, transmitida a d'esteá mó, por um eixo vertical. A' do voz arde-.. guendo a circuios á um ou Ave as — saia mulheres — isto,que se faz assentaram-se no chao, era vamos de cima, refazendo-se os em pratada,os homens de ioelhos.entre as mulheres, como roda de cada outro Maria, alguns de cócoras,sentados nhares, á moda africana. Aqui ninguem se embebeda dois mocos tempo mesmo da sua casa, que dava armados nos repetiuo — — ao grupos ordem ou pé, na calca- sr. para verio, Silque de garrafae copo, SCENAS garrafa grande urna dando O rao, e VIDA um copo fossem pequeño, vinho á familia. Os — DA bebem. gaiatos nao Caryalhosa,ruim quando Ihe iam da vestia É — dar a o copo, cordel, anindo-lhe um Isso para — trabalhador pontas. as é, ó tio Francisco ? que enguliro nao para grande bebertirou da algibeira e copo, se me da escapulir máo. O Silyerioou^íu,e mal disfargandoo sr. disse para sobreiro dume, nem um filho mais velho,um o a cheio um como Ninguem que embebedou, se tendo Ihes caia Retirou Ihando sem o pedra, familia para e olhar espumar a mas todos ficaram ale- como a Aldeia, em na ranchos, bá- volta das romanas, os aproveitandoaquela mongáo para renovapalavras,os seus juramentos e promessas, choques eléctricos. mulher e osfilhos, deixou-se a até quasiao sol posto, sentado n'uma moinho a estiver sóbe-lhes logo á cabera. estomago no provocando contactos O sr. Silverio, com ficar no Ihe ainda mais que os homens, porque habito de beber, qualquer pinga cantando, e namorados rem, a nao nao odre. grotes,as mulheres nao que : cabega d'agua emquanto deixes sair aze» mogo O' ]oáo, leva aquela besta á levada,e — a seu ouvir como a o que eram vada, lígeiramentebarrenta,da lebarulho que ela fazia nos rodizios. agua, nos burdos. moleiro que puzesse um signalno de farinha que al¡se fizesse, e que Ih'o Recomendou ao primeirosaco mandasse É — o para no casa, para S. Roraao, VIDA DA SCEXAS pao Deus se logo pela manhá. seguinte, dia hade que se nos der vida comer na festa de saude. e grande trabalho do padre, na festa de S. Roalém das pessoas de benzer, porque e era o animaes efeito, que se apresentavam para esse O mao, dos tinha de benzer metros de metros e fita,arrateis Era cren?a muito arreigadaque arraléis de pao. benzido livrava de muitos perigos e curaya pao rauitos ya-se achaques, comido por muito lempo, com as mezes pessoas o devogáo. Conservaanos, e bolor, ralado,quasi pulverulento, e assim afirmavam e lomar sem caz, efi- mesmo devolas,para debelar tas cer- doengas. Sempre minha máe trazia da festa de S. Romao, a que raramente faltaba,alguns pies benfallasás pessoas zidos,dos quaes mandaya pequeñas das suas relagoes gravemente doenles ou atacados de mal crónico, rebelde ás drogas da botica. O moinho era Silverio, que só nao estendia com as o demorando sentado ribeíra, homem agora o encanto, o dias ásperos de vento até lá, demorando-se pernas nos moleiro,e quando se ou a fumar o do namoro moleiro e estendido, na vaga chuva a nao á beira da levada sr. versar con- lava es- ou distragáod'um hábitos de pensar, e se encon1ra desocupado, por assim dizer inerte de corpo siderado de espirito. que nao da tem e SCENAS O moinho leiro era boas faziam tolda nos outros e e mais Silverio fazia Aquí nao No dia aos cadas, pi- Ihe entraya fosse muito nao na bem instante recomendagáo que tira se em raoleiros, era seus que homem sou nao bem sempre sem constar me o que olho da dizer para nin- a vocemecé E rúa. nao olhe que coisa urna o esta: pitada de farinha urna dá boas contas, vai para eu mós, moinhos- priraeirae guem. as mo- o pedras,e a sua raaquia nao sucedia,geralmente, alargar,como térra de encolher — e punhado de trigoque um era sr. contas, excelente farinha. Nao ¡oeirado,sem A VIDA bera afreguezado,porque estava de DA fazer e outra. De raoleiro que ao fosse trocar nem que freguezes nao os comego o se esqueciam de tivesse muito trigo,quasiescolhido bago seu picado de cebada, nem sujo de térra até podia servir para hostias,muito A puro. pouco e pouco tal recomendagáo o moleiro cuidado era bago, trigo a um sao nao muito e todos foram percebendo que primeiro logar porque inútil, em fazia trocas nao — comendar re- nem baldrocas, e em todo o trigoque ele farinava segundo logar porque era passado ao joeiro,táo isento de impurezas como fosse escolhido a dedo, no taboleiro. se O sr. Silverio nao tinha propriedade que Ihe desse rando maior rendimenlo, pouco dispendiosa,as mós dueternidade uma recendo Se a ter a mesma ribeira nao e a madeira dos rodizios pa- duragáo. secasse, no verao; se tivesse durante muito o ou ano melhor canceiras inherentes se ver traisse,e nao que como assento um essa de lavoura. ele arrendasse aquela bebedeira Ihe passava yerdade, era a filhos queriam que Os VIDA represada que alimentasse a levada inteiro,o moinbo seria urna mina, herdadola,sem as despezas que urna corrente agua € DA SCENAS 12 o ; mas moinho, a ele dizia, e tinba coisa que mais o discustrario das ouao distragáo, Ihe nao custava dínheiro,antes Ihe distragóes, O moidava lucros,havia de conserval-a até morrer. tras nho seria ultima coisa que a dividas,se suas Deus as alienaría, para tivesse, ou para matar a pagar as fome, se permitisseque chegasse a esse extremo. Quando fechar os olhos,voces farao o que eu iiverem na vontade. Se quizerem arrendar ou vender deu. me moinho, a mim tanto se me dá, como se o — Calcula se, pelo que exposto fica, qual seria o desgosto do sr. Silverio quando viu o seu moinho des* telhado pelo vento, quasi cheio troncos d'agua, e rai- levada,o agude roto, a esboroar-se como se fosse de taipa!Este espectáculoatenazara* Ihe o coragáo, que tríz nao rebenta,dias por um passados, notando que a ríbeira tinha mudado de leito,ficando assim condenado o moinho a nao ter trabalhar,mesmo agua para que os invernos fossem zes de boiando chuvas Perdeu atencioso na dando logar a caudaes diluvianas, o apetite; tornou-se que era, fez se mos. extre- tristee ¡rascivel.De grosseiro;como que per- SCENAS dera o da fala,sempre uso ás perguntas acenos DA a VIDA 13 calado,respondendo de podia díspensar-se nao que por responder. Nao dava mostras doente;pelo menos nao de sofrer,acusando dores aqui ou além,sempre fresca a pele,o que excluía a hypothese d'alguma camada de sesoes que tivesse no choco,e viessem, raais agora mais logo, a por-lhe as uvas em pisa.Nem sequer acusava aquele mal estar,difuso,incaracteristíco, que ramente a explosáo d'uma precede muitas vezes doenga claestaba definida. aquiloIhe passaría, concertado o moinho, prolongada a levada de ir receber mais longe,alguns metros modo mais a fóra do velho ácima, a contribuigáoque a ribeira, leito, já nao poderia dar*lhe, quando enchesse mesmo Lembraram-se a inundar Nao — bem Um quero nao dia,na taverna uso, estavam eu onde veio a sentenciou — meio por Se ele está» como ele. da Zéfa Castanha,viuva ainda homens nao e mais bebendo, em gre ale- sisudos da Aldeia» Ih'a nao da sucia,mas era borracho,para esta forma único remedio rabo. ver olhe para nao comendo Aquilo,pelo que — puder o Está muito falar-se da doenga do lavrador Silverio. Carvalhosa,que havia pouco, moinho. no fago que petisqueira,os O mexam que mesmo bom O visinhos. campos assim. Quem faga o em os filhos de que os a embicar a carrada, : gente ouve doenga, é fízerem,ou morre para ali entrara» esta dizer,é pasmo. uma sangríano ou fica parvo. SCENAS 14 Alguem foi contar Carvalhosa, por quem b¡rra?ao,fingindoque ele, para ao ele tinha o si ¡urou que de si para Silverio sr. eraparticular urna v¡a,quando nao o gracinhado a saudar. Enfureceu-se nao o VIDA DA Carvalhosa por passava lavrador,e o Ih'as ficaria nao devendo. Carvalhosa,recolhendo do trabalho, quando trabalhava,ia buscar urna quarta d aPogo da Cérea, passando rente á porta do ao gua Todas quintaldo u^.s o Silverio,por sr. ser esse o caminho mais de entrevada bavia menos mulher, pouco d'anos,a muito custo fazia os arranjosda A curto. tardes as poucos alguns pontinhos quando as dores amainavam um Apezar da sua desgrana,o Carvapouco. machinhos, tocava-lhe Ihosa, quando carregava os dando casa, ameagando-a de morte se desse um pió mais alto. Nem por isso a visinhangadeixava de tratos que ele dava á pobre aperceber dos maus se de Christo,tanto mais que algumas vezes os murros dó sem a pavana, marcados Ihe ficavam Na Aldeia nao na cara, havia quem figura,trabalhador ruim em casa ámanha d patráo,e um além, Bastava o porque nao que herdara de á merecia ele fizera á sogra ele. Foi aos seus róxas. urnas o que para o ganbava. toda a gente casinbas,única coisa pais,mortos trabalhos do campo, pois vivia do quasi nada que acabava tempo joma andava boje aqui nunca que enquisilar com Tinha a pobre velha nodoas gostassede semelhante que que em ¡á ela emquanto rendia o eslava viuva. poude seu ; de- trabalho DA SCENAS i6 VIDA O' Carvalhosa,chega aqui. — Caryalhosa, pousando O quarta no chao, ayanele,levando a mao ao a despreocupadamentepara : chapeu, para cumprinientar gou tarde,sr. Silverio.Está melhorsinho ? Boa — As raelhoras sao — isto,sem que pende taste,nao Palavras Ihosa urna nao obrigado.Persuado-me tu receisangríano rabo, como poucas, lado da saude. o para cae ditas, eram saraivada de murros, urna cima do Carva- em de que ele nao curaba pro- muita encolhido,d'uma humiiuade livrar-se, de cao. a procurar abrigo entre as pernas do dono. Eu nao Ihe fiz mal neDeixe-me, sr. S¡l"7erio. — nhum ! Ai que me ! mata familia dos quintaespróximos,ninguem in- Acudiu contenda,que explicando: tervindo — o na Tinha urnas estou pago e contas labrador deu por terminada, ajustarcom a este mariola ; satisfeito. O pasme é uma naria, doenga da velha medicina veteriabundantemente descrita no Thesoure des Lavraderes. d'esta obra Possuo de 1762, faltando-lhe uma em que suas O o auctor faz a exemplar que tem a data folha,justamenteaquela apresentagáo e explicaas um sua medicinas. pasme, contados de acudindo-lhe desde que a maluqueira,nao nos primeirosoito dias entrou rez é a cios dar claros indi- doenga fatal,mas exige SCENAS tralamento um VIDA de vergas fógo Cavaco, o ¡lustreManuel dade Martins Cavaco, auctori- alveitaria do gado na sangría rabo, no 17 enérgico, consistindo principalmente sangríase em DA fazem como nao yacum, recomenda alguns ayctores; dispensa o fogo á roda dos cornos Ihas,fogo moderado por baixo das orelhas nao parte mais As mal o de fogo á verga alto da testa do ponto mais dos olhos para outra cede nao vulcanict^, e entao urna vaco das mas ore- ser per — cenjuncta do cerebro. vezes medicina e a promptamente recomenda a esta grande Caroda dos miólos,abaixo uma máo o travessa,e baixo, atravessandolhe urna foci- o nho. entendido, a therapeuticado Bem reduz que carburagáo ; esta a acendeu as mas pasmo foi ela,sem furias do lavrador se nao davida, Silverio, a ver- se pelo Carvalhosa como uma o que vaca, seria ridiculo,ou nioso, um como boi,o que seria calumvirtuosa como a sua era companheira. No primeiro livro do Theseuro o auctor. comegando por um hymno á Agricultura,acaba por uma dissertagao erudita sobre a sangría,encarecendo o considerado muito que deve saber desempenhar o seu uteis as sangrías que Nos aínda recuados se rameníe os anos o artíficesangrador mister, isto é, para em eu tempes nao que que sejam fizer. em que praticavaa sangiia,mas que bem para sangreí nem eu estudei medicina raramente, tao vi sangrar, ra* durante frequenteias clínicasescolares no S. José. Depois de medico, dinico de Hospital de acanhados VIDA DA SCENAS i8 duas fiz urnas recursos, intervindo de urgencia. muito d'este processo Abusou-se velhos falta mento lempos mas ; estou nao sangrías, tres ou nos therapeutico, certo de que bem d'uso,subsequente ao abuso, seja um louva\7eIna procedí- generalisagáoa todos sua a os sos ca- mórbidos. falta de sangue constitue um perigo de yida,faz-se-lhes a transfusáo,ísto é, de mad'bomem veías sangue mete-se-lhes ñas ou caco, doentes Aos em que a tes humano; aos doeno sangue preferivel de sangue, cuja vida está em risco,por excesso será rasoavel sangral-os? nao Brazíl já funcionam e eu Nc hospitaesespiritas, dísvejo que as theorias espiritassejam menos nao cina paraladasque a theoria dos humores, base da medirasáo da therapeutica depletiva. antiga,e suprema sendo poderá dizer ainda hoje, apezar de todos da sciencia medica, que o sangue é o os progressos thesouro da Vida, e filho dilecto da Natureza : Nao se — Sanguis est vitae thesaurus tarae humores, ; basta admitir como no melancdlía, para sangue possa maneira e filiasdilectas na* ? Pois bem do et a por a Thesouro, existencia de mais trez a fleamá, compreender qualquer deles, em se alterar que diverso grau composigáo do sangue, que limpo,para que o em a a celera a inquínagao propor?5es e e por deve individuo tenha saude. rias, va- diversa ser puro SCENAS Se 19 os sangue inquinam, além de o quantidade,quando o VIDA sangría pode fazer sair do a principiosque os DA maus diminuirem o em é rasao excessiva,porque senhores facultativosbao de fugirda lanceta como diabo foge da cruz ? fácil; qualquer sangrava, Sangrar foi sempre ponto fer era esta lanceta afíada urna e urna veia o dispo- niv7el. Mas sabedoria que nao sangrador para inlervir na pensando-se de intervir,a for^a maior, quando vam a nao ser por circunstancias as intervenga©?• precisavater o artífice melhor oportunidade,dis- • motivos de aconseiha- nao . ignorar a existencia sangrador nao curio; dos planetasSaturno, Júpiter,Marte, Venus e MerPrecisava o conhecer brandir fdsse jungao, nao da momentos os aparigaoe sua lanceta debaixo a con- duma perigosa influencia planetaria. tambem Precisava reinam o que reinar até da a da que em tres nove tarde as reina melancolia, noite até he fria se que ás e comega húmido, e as colera, que é quente nove da e até ás é fria tres húmida, da e e seca manhd entre repartem estas vinte e certo nove desde tarde tres da ás e dia ; a até mores hu- os facilidade precisar quente que do é que paciente,sendo o manhd da em com para peca que horas as corpos, sangue, o ás desde nos humor das — saber e e seca noite desde reina estes dura até ás tres nove ; a a as i e reina nove fleuma, res quatro humo- quatro horas, e toca SCENAS a cada nhecimento animáis a sua achara co- preveite e o dos fisiología escala zoológica,sao como a matandis, e se pele dito e sangrías. ñas anatomía a superiores, na anatomía que preceitosdele e Mutatis VIDA reinar, de seis horas urna utilidade DA e a do homem, e isso faz com fisiología o pathologianao defira substancialmente, a pretende o Thesouro, que a theexplica,como tituir respeitos,possa subsa muitos rapeutica yeterinaria, substituida, pela therapeuticahumana. e ser de moda, e por Certo é que as sangrías passarara que proposto que-fóssesangrado no rabo Siberio, reputando-o atacado de pasmo, ter Ihosa apanhou tade, daí Cayaco, e Ura cor do que A em mulher muito saude, noya do dia peor, que • o e o yon- alveitaria. em Silyerio já sr. fora, amarelento,da figado,com irradiagao para de barriga, lado, e um crescer no se tornaría suspeito. depoís de Ihe moérem días seguidos azoinando-o sr. a nobre arte do custo, ouyido, días da raesmo a • día melhor, outro hombro exercer insignes. mestres outros tinha parecengas da palha, dores nao o futuro,de o para Carya- o Ihe tirou raestra,que sova urna labrador o Silyerio condescendeu doutor, embora o bicho do para em conyencido tratar ir á Vila de mostrar se ele nada Ihe receítaria que Ihe fizesse bem. é que me sinto. Tenho a maquina estragada — Eu ao que SCENAS cá dentro; só por é que O isto se VIDA DA com de térra metro um cima em cura. doutor,tendo-o observado minuciosamente, num demorado, indo até auscultadlo por cima da jaqueta,declarou que aquilonao era coisa de maior, €xame receitou-lhe piluias, duas e duzias,para tomar tres por dia. O — doutor o tinha seriam ventos, seriam se as que ra, ago- vamente efecti- excessiva ma- de verificarse muita gente, na aquilo aldeia, enfermado a com mesmas as sin- de hidropesia. morrer ventos. doenga urna olhos vistos,e Dizia-se nos na a barriga,crescendo crises de cada todos da botica Aldeia, sem a tornando-lhe crescer a quentes, rebeldes fora senao dores do figado,em caseira,que só rápidos,mas consumindo o doente, que durar, ía espeto um purga. fazia piogressos nao pelo facto de a riga bar- pretendiaa Zefa Castanha, do lavrador,viera dirse-ía a sah'encia arredondada, nem como E receitou-lhe A estado de afirmava como aguas, Sao — tem notaba mas atengáo, sua trabalho ao cujo marido, tendo tomas a barriga em dando se sequer caso o Silverio, em a pai meu inchada ? para sr. o que tinha feito reparo, nao chamada gresa, acha nao bocadinho um O dr. sr. os vez da remedios perderá ele raais vivas a mais fre- medicina fé por pleto. com- : propósitos irrespeitosos Parece — Constou Nosso sapo, um havia que VIDA DA SCENAS 22 Senhor Ferreira em um cirurgiáo de grande fama, era conhecido admirado. que eram um homem, deitar e perdoe. me medico um até que Lisboa em Atribuiam-se-lhe verdadeiros milagres.Levaramlhe miólos os por um curas dia um bolo, a cabega num grande buraco carreiro,com um novo, a que tinha cargo Iho por desvia que ele estaba cima da orelha esquerda.Levaram por de consciencia,porque dobrar a Pois o unhas, já com as doutor enlrou além, chegando cose foi que caso passante liyre de perigo. e pancada na mola, se a raez de no uma com corpo, e o pobre diabo estava dava mostras de ter o sequer apesar ñas pele a remedios os nem com furar-lhe um guelas. ele,laya aqui, morle a ás voUas Ihe meter agulha, para bem ter perdido uma gar* fada de miólos. O Siberio sr. nao tinha menor o Ihe faltaya a paciencia para á morte cendeu cura, em Ferreira, se canudinho já preferíaa ela yiesse depressa,mas condes- coragem se tanto menino ao para grande desembarazo com á vida ; sofrer ; ir mostrarsem apego e se muita virtuese, de matar. O doutor, pericia,meteu-lhe barriga,quasi á altura do umbigo» do lado esquerdo,e poz-se a despejalo,como quem despeja um odre. E isto nao tornará a encher,sr. doutor ? Se tornar a encher,despeja se noyaraente. V. ex.^ desculpe,que eu sou um homem rudo. um — — — na DA SCENAS 24 Os incuravel,nao ser Qa días estavam seus VIDA contados,e visto a tomaria consentiría raais benzeduras, que levantando nao remedios, mais guando viesse e nao mar to- a voltaria a Ferreira pangada dagua, nao da, Ihe despejassea levao doutor milagreiro nova para doen* sua as comportas, abrindolhe mas furos. gente da Aldeia foi a sua casa, informarem se curiosidade,mas para Toda mera a estado, sobretudo em do o que do odio tra- o de ironia: aquela agua era a que ele quería bebesse na levada,quando foi da festa do Provavelmente — que eu Raios moinho. o Carvalhosa O ferro do partam ainda homem sentia que Ihe faltasse as de máos tempo, já nao ele, ao valente — era como as castigar o atrevido em ádecor. Muito ao cara na tinha sido desembaragado armas, ! lavrador, mais mesmo o ressumar-lhe a tima es- reira doutor de Fer- Ihe tinha despejado a barriga,disse,cora yor seu Ihe significarem a muita para Carvalhosa, quando soube O por tinham- o que nao bora, nao que desfazendo ao quando a mostarda Ihe chegava nariz, espirrava bofetadas e cachagoes,que era um louvar ninguem; em Dizia mais — A' a mas Deus. multas vezes o sr. quando Silverio, vía se aflito: Perdoava a morte a quera me desse um for?3 de Ihe ouvirem dizer isto,a mulher tiro. e os SCENAS filhos convenceram-se matar, e foram cagadeiras gem de VIDA havia que em era capaz de se duas espingardas escondendo a baga- as casa, onde chumbo, 25 ele que descarregando pólvora e — DA ele fosse dar nao ela. com A yerdade é mais, perdida vez carava morte a poderia o que ater-se Siberio,a sofrer de cada sr. a esperanga como um salvaterio, o único inferno dos no melhores días,en- em indi- tormentos seus que a siveis. Worrer ! Matar-se! Como todos da homens educado fora verio os sua condigáo,o da Santa doutrinas ñas Sil- sr. Madre Igrejacatólica,apostólicae romana. sas Ensinaram-lhe, ainda pequenino,que todas as coiforam creadas por Deus, o que é visivele o que está em Deus Creador nao é invisivel, esse e que parte nenhuma, seram-lhe existe que para os está porque o ceu em para toda os pecadores,sendo Deus a parte. Dis- justos e o ferno in- o iuiz supremo missa acgóes e pensamentos. Levavam-no todos os domingos, e á confissáo todos anos, incutindo-lhe das á nossas assim hábitos religiosos que os ele poderia eximir-se sem pecado, salvo em caso de impedimento forga maior das circunstancias.O bem e o mal, por favores ou castigos de a felicidade e a desgraga sao considerava Deus, ou que como se oragoes, preceitosa torna que nao propiciatorio por meio servindo de intermediarios das de ofrenos san- SCENAS 26 Disseram-lhe tos raais, gáo é urna crente, a em pequenino,formando raais que sofrimento pela aguardando o aproxiraado filhode Deus, que redimir e salvar. Fugir ao nos o Todos mais sofrer a breve alma; mas via uns seu da do sr. como se Morte a se agora dañado, de cada dores suas a esquecera de mezeS; poucos intenso mais vez havia nao de ir tró encon- ao déla, alijandoura pesado que Pecado Mas a sera a Deus horaens,serapre sincero rar remissáo, conscisncia graveraente os fardo que o esmagava, beradita cruz do Redemptor ? a aos ñas suas ricos,nao o ter ou correcto hornera prejudicadogravemente ñas cora necessitavaelh'a pedia,nunca bora,varao tiraentos reflectindo-sena de ter ofendido acusava suas devogoeS) dando faltando raais suicidio? o nao vez breve mais — os salvagáoda sua dele,a sofrer ha- de cada sofrimento, porque con- se Silverio,que ura acalmia das a raeninice repetida.Preocupava-o menos rnera, ho- ascender satisfeitopor ensinamentos memoria na evocava, tormentos, ultimo instante de vida,como resignado,mas estes servaram injuriase celestes. paramos aos hornera voluntaria é renegar o acto vida de Jesús Christo,crucificado seu só nao resigna- cora v^irtudes do dois ladrees,sofrendo entre a raorte sublime da mais sofrer o raais sublimes das sofreu horrores para o VIDA consciencía religiosa, que sua e DA a aos pobres sera ti- esraola raentindo justo,a contas, sempre pureza dignidadedos a ou quera do, calumnian- dos seus d'ela seus sen- actos • . . SCENAS E se. fossem nao dadeiros. os ensinamentos, ministrado do levar garfo á boca, o signalda A em materia em ainda créanla, e religiosa, que mal saben- ¡á fazendo correctamente ? cruz morte sua 27 verdadeiros,rigorosamenteyer- Ihe tinham o VIDA DA nao causaria daño beneficio para representariaum riam desamparal-o, a mulher e a os os ninguem, nao que antes podeofen- filhos,sem moral humana, ultrajandoao mesmo tempo mizericordia divina. Repetidas vezes a pedirá ']á a entrecortadas de gemidos, a Deus, ñas suas oragoes, eram dores, quasi abafados pelas dores,que que derem a torturas. eram Era Pois indigno de viyer entao morte, que é a usura sofrimento que sao escorreito ? e cessasse seu o bemaventuranga, comprada por tal prego, de condenada fariseu, pela Igreja,e o nuado eterno, comegado neste mundo e conti- outro, é coisa que se nao compadece mizericordia divina. De resto, o que se mata no a sofrimento pela com ñas condigoes antecipa a hora do seu julgamento tribunal divino;comparece voluntariamente peno rante o dene, Juiz para que o absolva ou conSupremo segundo os dictames da sua iniludiveljustiga. assentou Vencidos os últimos escrúpulos, o sr. Silverio em logo no dia seguinte,aparene matar-se, tando suas alivios,mostrando-se quasi satisfeitoá forga de resignado,disse á familia que se, mas Villa. que nao se sentia com desejavaconfessarforgas para ir á DA SCENAS 28 — VIDA filhos: os Perguntaratii-lhe Entao o pai sente-se peor? Objedou-lhe a muiher: tu hoje até pareces Mas melhorsinho ; estás — adoairado. mais bem Nao sar-se, melhor nao tendo aínda feitc por o te acrescentou A nao confissáo nao diz quando preparada para chegar. Hoje aínda No evitar querer já nao era ao o créanla, : estar talvez tambem quería confes- mas peor; nem de ir confessal-o á Aldeia, incomodo — . estaba compadre prior,que E • ñera a estrema a Morninguera,e como chega, o meihor é uma pessoa quando ela se por a caminho mata me confessar; amanhá posso ungao possa receber. día seguinte,pelo caír da tarde,debidamente montado n'um burro, paramentado, o priorda freguesia, seguido do sacristao,escarranchado noutro bucesar falo,ía a caminho da Aldeia,chamado para confeslabrador Silverio,que só recolheu á cama o quando Ihe disseram que já se ouvia a campainha, dando o sígnal de Senhor fóra, e convidando os crentes a padre nosso. A foram ajoelharem á O o esperar ao Senhor á resando passagem, familia da Aldeia homens, leiros faltado cerem sua raulheres e tendo Pórtela, trabalho,n'esse día,para um creangas, os jorna- compare- n'aqueleacto. prior e o sacristao apearamse á distancia de SCENAS poucos de e cera sacerdote o VIDA 29 do adjunto, retinindo passos deitando DA bengáo a á campainha e muitidao,ajoelhada recolhimenlo cabega baixa, no a d'uma dór sin* funda. e Organizou-se o cortejo,o padre á frente com o Sacristáo ao lado,as mulheres a seguir,de mantilha chale pela cabega, os homens logo atraz, com o ou chapeu debaixo do brago, os já velhotes cruzando míos as no peito, Froixamente o sol, a escorregar por detraz duma transparente de cortina brancas,sem movimento aparente, iluminaba aquele pequenino quadro digno de ser fixado na tela por um grande religioso, mestre pintor. Retine a campainha, sacudida com forga,e logo um coro se faz ouvir, quasi perfeitode cadencia cortando harmonía, e muda hora vespertina, muito ceu, alto e O Santissimo Acabada ele dizer que — ~ o e silencio d'aquela e profundo azul. e e missa á um^ um tres moedas enferno louvado seja 5a Eucaristía.. se perguntou-lhequando poderla Senhora das Dores, para cuja raoio de trigo,deis alqueiresda- dinheiro em puzesse se ela fosse servida melhorzinho. E' quando quizerem. Poderá o confissaos a familia do lavrador chamou a festa dariam zeite o Terra,deserto Sacramento padre de banda, o a multo Bembilo nuvens entao ser depois de ámanhS ? SCENAS 30 DA Sim, senhores. E — Se — isso a VIDA horas queretn que faz transtorno nao ao missa? a prior,gosta- sr. fosse ás dez. riamos que Díferenga, nenhuroa. Depois d'amanhá, ás dez — horas, lá os espero. Sentindo-se iavrador aliviado,depois da confissáo,o mais pediu a tempo fóra da Qum Parece — Mal de noite dormia. se confissáo ihe fez bem d'ela tirara, de certo modo que . ihe fizera,e até pareciaque nao moral ver a cama, a que estar al- vestiu-se. Queria e copa . . conforto o diminuirá o seu sofrimento fisico. Contaram*lhe, entáo, o queficaracombinado com o esperangados no milagre que bavia de do seu filho das Dores, madrinha fazer a Senhora mais velho,sua comadre por conseguinte. padre, muito — E* todos, mim a váo nem A's depois d'amanhá entáo nove todos, e Deus que nem santos o missa ? Pois Senhora nossa os horas estava a me os oiga,que ouvir. querem á porta do carro vao sr. Sil- e os cascaverio,tendo o almocreve tirado as esquilas veis das cabegadas,visto o caso mais para dobre ser de finados que para repiquesalegres.O Iavrador ¡á noite sofrivel, estava a pé, tendo passado urna nunca inteiramente bocadinhos — A livre de menos gente metemo-nos dormindo dores, mas os seus maus. nao logo se no demora. carro e Em saindo da missa toca para casa- SCENAS 32 carácter, de bem seu temperado ser casava, nao interesse,mas por felizcircunstancia de rapariga e mais respeitososque os de quapodia haver menos Nao dientes, filhos mais obe- sua, a que a Viviam ainda todos coragao. tres rapazes. carinhosa mais esposa pouco mente máe, relativa- e lliedera, nada Deus filhos que uma seu a sor- dando-se amor, por orfa de pai ser rica,a eleita do tro, Livre das ago. filho único de viuva pobre,d'ahi tes por os VIDA DA seus, extrema e, por Conseguirá corajosos. das córrelas,e eles pagavam-lhe esse li^7ral-os beneficio conseryando-se solíeiros, ajudando o pai no esforgo incessante para os deixar bem, a eles e seu á ¡rmá, quando morresse. havia alPara ele,como para todos os labradores, todos felicidade, íernatiyas de Nosso nunca fizesse todos nao bons anos Senhor sadios,fortes eram os e Ihe anos raaus ; mas tao mal correrá gastos da e sua casa gragas um sem ano a que recorrer á bolsa alheia. respeiíayam,e se nao tinha as simpatías de todos,é porque um horaem, faga o que fizer, por raelhores que sejam as suas e agoes, agrada a uns desagrada a outros. Jesús Christo,e mais era um Todos o Deus, arranjoutantos foi no encarnigadosiniroigos que Calvario. Sim, nem toda a gente o estimarla chamadas tribunal para depórem um a as pessoas morrer ; contra mas ele compareciam, ou nada articulariam No seu e tao que o esíimassem, nao entao, atentas á em seu lar houvera voz ou nao da consciencia, desabono^ sempre fartura e alegría ; as SCENAS noites suas de eram e VIDA calmo sonó de trabalbo honrado nao DA os ; fecundo. A feita de sordidez era 33 eram tuna for- modesta sua na días seus de nem poupanga, espoliagaonos ganhos. Labrador á moda antiga?nao vendía por negocio, e jamáis,comnem prando compraba ou reavendendo, fizera a minima Iraficancia, lisando lucros que nao nestos. fossem escrupulosamente hoele nao havia outro na Aldeia, Servigalcomo todos vaíendo a suas ñas ñas necessidades. E assim cobriam á mulheres baixando-lhe tre a sua por O a do maior gente rustica, como fazendo sentir que ter muíta fazenda. seu moinho fóra a era que grandes cabega, que passagem, correspondía guem aflÍQdes, a todos acudindo suas sua igual era um se desas pequeños, e é acatamento. de todos para o signal,enE ele a dos to- igual,a nin- grande personagem, maior estravagancia,alias inspiradan'um sentimento de generosidade.Prestara, assim, um bom servígoá familia da Aldeia,e fizera, bom sem o pensar, um negocio, porque ele Ihe dava bom O rendimento. moinho! Evocava Iheiro dos tida a a festa da inauguragao,n'um día fíns de Novembro, pelas comportas, poucos sua metros do brutas,que pareciam as a a soa- levada túmida, sus- ribeira cachoante, lá ácima, agude, aperlada entre colunas d'Hercules. A rochas um gnal si- as dado, erguem-se comportas, a agua da levada cubos, e logo os rodizios entram a precipita-senos trabalhar,pondo as mós em agáo. SCENAS 34 DA intima satisfagaode A todos,comendo agüelas,ali reunidos sem VIDA como bebendo e (esta de urna para familia ! ranchos,na volta á Aldeia,e ele vé-os Forraaramse balhar,e de moinho o a evocagáo, sua írabalhar ; yé a ribeira,e quasi escondida ao entre baixo De e outra as por com res- a na face, o sol a mergu banda, matagosos n'uma bem como de scenario,a ribeira torna-se como yaleta que senté los ro- em sae, por tanganhosos por cima. repente, gando que baruiho que espalmadas,a caricia moma, da montados nos a o tempo máos as ouve agua mesmo d'uma tarde suavemente Ihar a dos rodizios para de espuma, titue á gos mo- amorosa, de luxuria. babando-se Intensificando faz e guelra,cachopas gravalhugasque nymphas dos bosques, que os faunos as perseguem, nova na sangue como sao cantar, gente ouve-os em preparadamudanga rio caudaloso,ala* afogando as arvores ; a levada, ribeira fosse,quebra a resistencia das comse portas abrida, e desconjuntaos rodizios;urna ventanía destufao no mar das Indias,faz voar como um telhas do moinho, deixando erguidas as paredes feítas de pedregulhos bem argamassados, serem espessas Sonho os campos muralhas. como ou e éxtasi,dele acordou estremecimento ou d'ele saiu n'um convulsivo,os olhos desvairados, o semblante transtornado, a boca aberta,como se quizesse gritarsem poder. Ergueu se, a muito custo, chamou o rapazinho, SCENAS que fora sentar-se, as mó, partidaao meio, DA VIDA caidas para pernas da 35 cubo, o comporta de cima, e na foi andando de guando em diregao á ribeira, quando receia a espraiando a vista,na inquielacaode quem em de testemunhas. presenga Sentou-se de junco junto da debaixo manso, d'um cima d'um chaisseiro que tufó servia firme áquela ponte arrojada. de encontró Tomou pingúela,em altura do sol,calculando a o rido tempo decor- desde que abalara da Aldeia,e achou de si para familia devia estar de volta,nao si que a gastando de meia mais hora, tres quartos d'hora no Ergueu-se, e assentando o pé direiío na perguntou ao rapazinho: Tu ¡á sabes nadar, Chico ? caminho- pingúela, — Nao — 90U cora cortigana uma nao barriga, fundo. ao — sei; mas Pois deves Meteu a mao aprender a nadar. do colete, e deu-lbe algibeira na uma libra. — E' para a tua máe Avangou, pegando feita de hervas e te comprar cora a máo um faío. direita na enastrados,que ramos corda. servia de quando chegou ao meio da pingúela joga-se ao pego, e desaparece n'um catrapuz ! redemoinho, ficando-lhe o chapeu ao de cima d'agua, ccrrimáo, e — — signalindicando sepultura. O rapazinho desatou aos gritos,e como ninguem da Aldeia,correnIhe acudisse,meteu-se a caminho como um do quanío Ih'o permitiam as uma suas pernitasiracas,che- DA SCENAS 36 gando a ~ máo urna zessetn — sem casa VIDA poder tomar o fólego boca, rebentava. na se — O que tens tu, Chico ? O que fo¡ que Ihe pu- ? te aconteceu, rapaz aparecidoao mocinho, mas podía* Ihe ter aparecidobruxa ou lobishomem, talyez o proprioSatanaz, a deitar fogo pelos olhos e pelasventas. Ao cabo d'algunsminutos, já repousado mas Lobo teria nao ofegoso,o rapazinho disse o que era passado, pondo-se a familia a caminho da ribeira,uns levando cordas,outrcs levando fateixas, dispostosos bons nadadores a darem mergulho,se tanto fosse um ainda necessario,para se encontrar o cadáver. O' Chico, tu reparaste se o sr. Silverio deu — um pulo ? — Ná ; pulo nao deu. Caiu o para lado,e foi logo p'rofundo. — — Para que lado é que ele caiu ? Para este e indicou o lado direito. — Do Ihando — — d'elas ao urna cabo de poucos Pode ser uma pedra- Pode ser uma raiz Logo como eneapingúelaatiraram duas fateixas, raeio da outra • • . diregáo,e encalhasse,retesando a corda, restan o cadáver eslava fisgado, fateixa é atirada tambem assentou-se • • em do fazel-o subir essa que ao minutos. na mesma lume d'agua e rebocal Devagarinho,nao o para térra. escapulam as fateixas. O cadáver a chegar á Aldeia, n'uma padiola,e a familia do lavrador a chegar da Villa,esperanzada — SCENAS DA VIDA 37 milagre que havía de fazer a Senhora das Dores, cuja festa,no ano próximo, tinham prometido para moio de trigo, azeite e dinheiro. um Em cima do travesseiro, de casal,o cama na sua sr. Silverio deixara um isto, papel,no qual escrevera letras que eram Nao cula lapis, em gatafunhos: ninguem da minha morte. ]á nao podia mais. pem Pegam a Deus por a minha alma. no — Nos terapos bons em triste,os filhos nada herdayam dos pais; decorre esta historia que ao pagavam Justiganao entre maiores, a nao a partilha era desavindos por ambigao corressem, Maravilhosamente do sr. E a entenderán se SiJyerio para de alguns o riioinho? a pelo que intervinha quando Estado ser ou os que por ela a capricho. filhos e a víuva repartigaoda heranga, no de réis;mas contos re- lor va- de fácilpartilha. se repudialo fosse uma Ninguem o queria,como justa horaenagem ao sr. Silverio.Assentou-se,entao, vio em vendel-o,nao regateando o prego. A'parteo desda ribeira, podia considerar-se definitivo, que nao estrados que n'ele fizera a invernia eram fácil remedio, fácile pouco menos dispendioso, todos construgáo do As e todo servava-se ou o agude, que o madeiramento, aparte intacto. Com moinho, o doze mil réis. que a re- grandes rombosde mós quasi novas, sofrera lá estavam, dois pares mós bria de os um dos conrodizios, seis milheiros de telha importaríauma co- despeza de dez moleiro de Algalé mandou Um se os o daría, arren- que razoavel. prego sorte te^e Tanta Novembro a de homem, o razína, que, efectuada a ríbeíra tomou leíto. Seguíra-se a invernó estíagem, pessima óptima mas fazer promptamente estar O uns de poucos Serrazína mestre esta de amostra lavradores, os para agude, em o Ihe cheía,que moleiro, porque o para Setembro, logo uma o uma Antonio Ser- nome em compra restabeleceu nao dizer que quizessem p61-o em condigoesde o compraría, se Ihe fizessera um donos trabalhar,ou em VIDA DA SCENAS 38 Ihe permitiuredo moinho termos parado. mezes bagalhoga, e usava era nao gastar.A primeira coísa de que tratou foi de mandar cobrir o moinho e a arrecadagáo,ísto é, em peco a casa havia de que ser a moradia, logo que sua príncipiasse a trabalhar devéras. Como precísava ausentar-se por quatro ou cinco decidiu fazer por empreitada a reconstrusemanas, gáo do agude e a límpeza da levada. Assim nao perdería tempo, porque Por muito Claudino Ihe a sua venda com e de casal,montada barras de ferro, naqueletempo, se topasse Aldeias. Como días,quando muito lomar que a ausencia. uma semana, o estanco, dispensando- as ñas sua favor, pagando ele, déra-lhe pousada Alves? cama tudo istosefariana era o sobre nao por bancos, eram tres que coisa que ou Claudino acho quatro i bem aquele hospede, explicandoIhe logo,no aiuste, mulher Ihe faria a comida, dando ele os avia- DA SCENAS 40 Resollido fixar residencia a ali,nao passar apenas teiro,Serrazina deia na Iher e a mandou de crenga moinho, isto é, a temporada, mas o ano inno fazer mais duas arrecadagáo,o á VIDA induziu que casas, gente da Al- a ele tinha familia,tabez que talvez só mulher, casado á face. filhos, candeia gadas pe- duma . . mu- de gancho. Para mais disseram-lho que se vendía um ferragial levada,térra de que ia bater na tres alqueiresde sementé, e ele assentou logo de si Ihe pedissem um despreposilo. se nao para si compral-o, Abalou, deixando o moinho entregue ao compadre Cabanas, com a recomendagáo de guardar em sua casa, até que carro ou Em ele viesse.a turgiaque mandasse, dois. conversa cama, com mulher, no a ela para ele de virem a figuravaa possibilidade só Moinho, se o Serrazina era homem fazer a comida para o servigo de O Cabanas levar boa ao das ondas era se cargas chama a vida. Por ele nem um se movem moga ultima, sendo os descargas e d'alma,mo- aranha, pelándose viria mal ao do, mun- maldizente, tipo amorfo corpos alentada que em paz uma nao e padre, com- rla aiuda que pode- um — sabor das circunstancias mulher, a que desordeiro nem A o incapaz de fazer mal por movido era do tratar da roupa e tudo mais de que fosse capaz vir a ser moleiro. engao, discreto silencioda Cabanas o instalar-seno — num que nos — como ao sabor flutuam. trabalhos nunca alguns a primeira,contras- SCENAS taya com marido, duma o sem dos DA soalheiros,alheia Foi ditos é conversa das mexericos e da vida urdidura a se- populacionais. centros da natureza erro dada constituem Aldeia aludindo na um cidida incansavel,de- adíyidade aos nhoras visinhas,e que colectiva nos pequeños — 41 voluntariosa,pouco ser Dizia-se VIDA Cabanas ao ; á mulher e ela é que devia : o ser faomem. Instalado fossem viver que mandara As duas casas eram padres com- seus os com pegar comunicantes, e a das arrecadagáo- resolverá o raolei- délas,a do meio, fosse cosinha uma que que ele, alojando-senuma com fazer,a casas ro tardou moleiro,nao o casa e de jantar;da outra fariam eles quarto de cama. O Serrazina, durante a temporada, dormirla no moinho ; fóra da temporada dormirla na arrecadagáo. O Cabanas nao tinha geito para nada ; a mulher tínha geito para tudo. O marido nao mudava um pé sem pedir licengaao outro ; a sua Ófemia t.-abucava de manha para fazer meias á noite e ainda Ihe rendas, que ou chegava vendía para o tempo os seus alfinetes- Valeria dobrado, viuva. Com o ao se fosse solteiraou do marido ainda fazia bom Eufemia, contrapeso Serrazina. homem arranjo ao mal a só e da saude aguenlando no balangose nao comersinho um almogo e ao jantar, se gasse ao duma pessoa corpo, e amiga ñas que suas precaria, tivesse sempre, que se carecendo trabusanadas Ihe desse amparo Ihe che- e conforto. DA SCENAS 42 V/endo que raaneira de maioral d'oyelhas arrumar, guardador de corpo direito, se executa nos rigoresdo invernó,por vera melhor possivelna Prima- de porcos, oficio leve que bocadinho incomodo um das cbuvas, causa gas com o mas veráo, sobretudo no e Falou-lhe n'isso, urna o Cabanas mogo veráo, no cu formi- matar a costas. as . do Cabanas, cogítou na fazia bom nao o VIDA disse que fugirde casa, era pai queria obrigal-oa guardar estivera para o porque pequeño, noite,depois da ceia,e logo gado. Nem — Foi correndo para tos moios doirassem me que tempo o eu muita agua ; cubos, indo acicnar os seria maioral. de trigoentraram no da levada passou e muirodizios, moinho, saindo d'ali os farinados. Tambem Cabanas o mais felizque e, o cogitavasobre o seu Serrazina,tinha achado lugao que Ihe quadrava ~ o ponto estava destino» urna em o sopadre com- concordar. E explicou. Os marchantes — homens pre por Lisboa, mas sitios para é sua raro irem que veem ás feiras trazem conta, para levarem nao gado para pessoalcá dos contratarem o lega. partidaaté Aldeia GaSe o compadre Ihe achasse geito,eu ¡a á feira d'Agosto. e ali qualquer lavrador conhecido pediria a do um em marchante tocando sem- para me urna contratar. Em Aldeia Galega estava montado arranjava eu trabalho, e bem pago, na que apanhanlei,porque ali me no Ribatejo SCENAS melhor paga-se tava de dar real, ser inteiro. Na ]oáo, fazia caminho na monda eu faria do arroz. acabo como Lisboa, para a coisa mais a yolta,ahi a mimoira ha bonita que fins do por na de S. mez me ali Se o de e muita seria a minba explicar, compadre Ihe achasse geito nao de patacos algibeira". O ver Alcacer, eempregava- por infelicidadese na 4J trabalhadores. Gos aqui,aos por saltada urna dizem que mundo que VIDA DA voltasse com casa a um bom par Serrazina disse que sim, que achava bem pensado, mas dar punha em duyida que ele fosse capaz de anuns de poucos mulher, lidar com a ninguem como mezes mará gente desconhecida. A pedia calada,intimamente fóra de casa, por a longe da Ófemia^ opiniáo,deixou-se ficar sua satisfeitapela resolugáoque tc" marido- o Limitou-se a dizer, porque isso era da sua con-^ ta: Podias ter dito isso ha mais lempo, para — da roupa máo ; nao atraz Logo e fóra de has-de ir para outra adiante. dia seguinle comegou no a casa Eufemia tratar com a uma tratar do modesto devala estar Beja muito mas enxoyal do marido, que dia nove d'Agosto, sendo no s¿ndo nao certo, que provavel contrataríara para o em partidade gado até Aldeia Galega. O compadre deu-lhe algum dinheiro quem avia-se em térra e ele abalou,táo para o mar tocar uma — — táo a satisfeito, que maior esperanga yai tente, con- dir-se-hia ligaráquela aventura de felicidade. DA SCENAS 44 Arranjou trabalho como e a S. ]oáo desandou para tos, dos San- vinha do José María na tineta sua VIDA era a monda do arroz, pelo Alcacer, a aproximar-sede casa, chegar.Caiu Ihe em cima urna pital, carnada de sesoes, que o obrigaram a recolher ao hosonde recebeu uma carta da mulher, notada e sem mas de lá pressa escrita pelo compadre, dizendo-lhe muito, raorasse antes cesso A porque ter esperava o se nao seu bom desu- do fim d'Agosto, noticia seria para mas careca; que o por Cabanas em pé recebeu-a os com cábelos d'um pequeña sur- grande satisfagao. Ninguem, fóra da Aldeia,sabia ds sua vida,e ele d'ela nao tiá uma guardaya-se de a relatar, porque preza nha e dar o depois porque segredo é a alma do negocio, e o plano que ele ccncebera, e ía execuíando, poderla ser frustrado se que viesse Nao a ser contas a ninguem, e descoberto. propriamenle, um era, pobre de espirito, o discerniraento era excessivao Cabanas; mas seu mente 1 mitado, tornando-o ainda mais reduzido, na aparencia,ao Escreveu menos, a sua imbecilidade moral. compadre, pedindo-lhedinheiro para tinha-o enfraquecido a o a doenca regresso, porque tal ponto que nao poderia fazer a ¡ornada a pé. A ao fez esperar. O compadre raandou-lhe o dinheiro que acrescentando uns pósinhos,isto é, uns para resposta nao se qualquer extraordinario. Ficou radiante. ele pedia, tostoes, SCENAS Chegou o DA VIDA 45 Cabanas, alegree buügoso como sr. romeiro, e foi recebido um filho prodigo,nao matando o vitelo gordo, á maneira biblica, porque havia na único vitelo que pecuaria do moinho. como o se o . . ele. era Muita maís festa p'raqui,muita alusáo pequeña ao festa p'raü,e interessantissimo nem a estado da Ofemia, que o marido deixara, havia dez meses, enrotunda, estixuta e escorreita, e encontraba agora cada pele da barriga, a adivinhar se tensa por a baixo das saias. Eu — Ihe dizia,compadre ? Ha nao d'anos a lidar cer por fóra sentiu quais,dentro o conhe- dos galos,a senhora cantar incomodada se poucos dentro. por noite» ao Uma as ele,tenho obrigagao de com e uns em fortes dores com rins, nos generalizavamao se pouco, mia Eufe- yen- tre. O — ra, que melhor será isto,nao tem compadre ir buscar o que ver, é coisa para a partei- demorar pouco. Táo demorou, pouco que aínda nao era sol fóra, lencio perfeitogaroto quebravam o simoinho, dizendo a quem que ali passava já os berros d'um do ha^ia gente nova. Comentava á mas em Cabanas, atentando no pequerrucho, outro, o que o enfaixado,nao como labeira do pego, n'um lengolainda por var, já lavadinho nascera o e cueiros de boa la e óptimo linho que a 46 todo com mae, SCENAS DA o sabendo yagar, VIDA que viriam a ser- foi confeccionando em bocados de serio, precisos, sentada ao lado do compadre Serrazína,a sentir Ihe enlevos de progenitor: E' — mesmo do pai,coitadinho ! ventas as dia baptisado,que nao seria, tar evipor conselho do Serrazina,dia de fungao,para á porta da Igreja.Iriam os dois murmuracoes compadres, e a parteiraserviria de madrinha, se a Fixou-se o o para estioesse d'acordo. O único convidado seria Eufemia Cabanas devia o JacintoBarquinho,a quem Ihe servirá de empenho muiías obrigagoes, e que sr. o se para livrar das correias. Apezar de todo segredo, a Igreiaencheu-se de c gente curiosa,homens, interessado com ver quem muito se Deixe ver, — A por e mulheres atrevido do muito creangas, raulherio,a querer pareciao menino. comadre, se tem as feigoesdo pai. pia baptismalficava ao baixo o e coro, pia de fundo da Igreia,quasi marmore que urna tampa fechava,tampa de madeira articulada no meio, levantando se a metade raovel por meio d'uma argola grossa de ferro. Só de longe muito em longe o sacristSo aquela agua, renovava sendo ela benta per-se ou e partindodo principiode que purificada,nao poderia corrom- contaminar-se. As pessoas escrúpulos de alguns meios de fortuna,e alguns higiene,conseguiam a renovagáo da cora SCENAS 48 tiz desatou DA berros, a aos \ VIDA torcer-se y¡me, um como fazendo'se róxo de tanto chorar. pé do Cabanas, fingindoque Ao yelha ramelosa diz para o outra, com as via,urna nao sientas atafu- Ihadas de rapé: pequenino, e faz urna serrazina fosse uma grande. pessoa O Cabanas nao percebeu o trocadilho e de agradecero cumprimento. Táo — — — E' aquí E — — é Qüem a teve se ares madrinha? comadre a como Januaria. padrinho? E' aqui o sr. Jacinto, se o quizerfazer me essa esmola. Acabada a a para ceriraonia lithurgica, dote dirigiu-se o sacer- e tendo-se aliviado dos sacristia, para» mentos, dispoz-sea lavrar o registoparoquial, Quem é o pai do menino ? — Resposta do Cabanas: E' aqui o meu compadre. O seu compadre ?• zina. Sim, senhor, o meu compadre Antonio Serra— — • • — — Isso vocemecé — O pode nao nao sr. é o ser, marido priorbem o de Deus. Entáo creatura da máe ? sabe, porque fo¡ quem nos arrecebeu. — Entáo, já creanga. yé ; o marido da mae é o pae da SCENAS Lá — muito ¡sso é que verdadeira perdoar de DA ha nasceu raha. Sempre dá Que — : Sabe o zerro Ora sei lá que da Deus e tenho que dar voltas necomo reza demenstrant. nupttae quem dizer ? explico.Isto vaca da dizer que quer curral pertence no sou eu, mas o pae Ihe chama, é aqui salve nao a dono ao be-, o da vaca é ? quem vaca Vocemecé como me para sr. . nasce dono O — compadre fazer pai do menino. o • . Ihe eu dono o est isto quer que Pois — mez a Pater — Ora rasáo. de S. ]oáo. A raez voltas que vohas dou ? Nao Eu — da abalei d'aquino dia,no ver quero porque agua. assim nísto,ha lei,a este respeito,é clara ditado que Oihe, compadre, ha um nhumas, a fóra pessoa oito días,fai-os depois de áma- embréchado este a Eu — urna estudos, mas Ihe diga, está que 49 prior é sr. teve que faca favor de reparar : d'Agosto,e voltei noutro creanca O nao. e VIDA minha alma, o se do meu bezerro, dre, compa- isto é nao assim. — Deus Nao em jure,que é pecado jurar o santo nome de vao. crament compadre ? Pelo Santissimo Saattar,juro e trejuroque que além está no menino é filho aqui do mestre Antonio, e uma o hora nao tenha eu de saude, se estou a mentir na — Em váo, sr. íaicade Deus. — Seja lá como quizer; mas eu é que nao fago o SCENAS 50 assento marido o que sem VIDA DA da máe figure o que quizer, pai como fiiho. do Faca o — compadre sr. de subordinagao ter íizer se que A jamáis diz ela ao rae ihe E a abalou, volta digo refina- uma vida, sua dissera graga homem ser o roubo esta, Senhor: do tiver que e o Ihe prior, sr. — Se da uso faz por borra. enfurecido como um luto, reso- cigarro: mais e esquecido tivesse ali, sacudido um dizer na vou, de a Ihe se enrolar quero agradecerá latinorio d'um padre, a toda como sacristia, na ihe chegar ele lívro no em Igreja, da Ainda com Ihe serapre irrefragavel. tao coisa e Cabanas, o meio alguma — escarrapacha isso, verdade uma mas nao mentira. dissima E ninguem; visto toiro bravo. o queño pe- rasáo. causa e Ritínha A alta do Mais o cábelo oihos casíanhos,sobrancelhas os negro, tas,labios carnudos, ^izinhanga, dendo nao creada perderá mae, a carpinteiro,meteu ela indo e em a Ihe Nao valhe a filhos,nao de pressa se de que convenceu um a e costura á vontade vesse por ás tengas de ñas rúas, ñas de café. falta- ; mas lia,sem encargo de ensinar. De teria de procurar que modo nao vi- ninguem, alojada e alimentada favor, sujeitaa vér-se d'um vadiar vida, trabalhava mogo vida, fosse ele qual fosse,comtanto de pai, oficial de tia,que de aprender, a quinze aos uma com sobejava velhos. saloia de má faltava geito para yontade e urna casa pedir agasalho afecta- sera ; mas o na rúa, pren- noros dezoito aos costureira,amancebada de a homens, os grande recato com na moyimentos seus far- Ihe chamavam despercebida passava cubica de todos Fóra anos Ritinha,como a elegancia dos á a gao baixa, typo de fausse maigre, que instante para condigóes da outra : outro DA SCENAS 52 Como mulher sou Ando tarde,no Urna condiscipulai mo;a mais velhinha,nao muito via urna que se da outra Que — tens Deus, estás se ver a VIDA per5i5a alguem encentra. me Jardim da Estrela,encontrou da sua idade, talvez um sendo a viam. por qualquer amiga . nem mulher perfeita urna cias tendo noti- sequer Crescesíe . pouca diferengade palmo. Ha- nao feito ?• unía !• comum. sem licengade • . breves e conovidas,pol-a ao palabras, arriscada a ver-se facto da sua melindrosa situagáo, d'uma hora para outra sem agasalho,já pao e sem mal podendo suportar as impertinenciasda tia,constantemente de a a cara com a esmola a esfregar-lhe ter em pelo quasi nada que ganhava. casa ]á me lembrei de ir para o Brazil,porque me Em breves — lá,qualquerpessoa que sejaamiga de traa recomendé, farta se de ganhar balhar, tendo quem dinheiro.E tu,o que tens feito?Aposto que ]ácasaste... E ganhavas a aposta. Empreguei-rae no Hospital de S. José, como praticante,e ao cabo de seis dizem que — tem alúdantede enfermeiro,que me grande estimagáo.Considero-me feliz,porque casei mezes em com um nada falta na vontades, seja o — pre que Es urna para minha m'as casa, e ele adivinha-me satisfazer,sem que as Ihe pega for. feliz,e merecías sel-o, porque excelente rapariga. foste sem- SCENAS Sim, — até Deus em espero podía nao que día, para felizdo que sou, e esta felicidade me acompanhe de 9ir ¡antarcomnosco" te apresentar vá nao marido. Mas meu o perda de tempo, é preciso, sem a 53 mais ser fim da yida. Has ao VIDA DA desalmada um o dlo? tratar da tua situa- n'um da tua iia romper pondo te na rúa. Porque nao has de fazer para ajudante de enferraeira ? CQSSO, Era saida,e uma Ihe seria dificil vencer nao fizera belamente porque o é que seu ex- curso con- o curso, con- de ins- exame arranhava o trugáo primaria,tinha óptima caligrafía, francez e tinha luzes de escripturagáo comercia!. amiga de 1er,devoraba Muito do-lhe tía,quasí analfabeta a hayia de ser iinha quem os se papéis,e sem empenhasse obtendo acaso, fermeira a mandaram-na engragasse empsnhos, porque por ela,apresentou nao se fazer servígo para a sua boa sorte que e tais atengoes, que de que fóra para recomendada, protegidade Senhora* uma a en- as legas co- aü, muito bem convenceram • • ou Cavalheíro ocupando elevada posigáo. Todos os estudantes a ela,tratando-a de tal ma- com tanto carinho neira,com gosta dos livros, alta classifícagao. mais escolar,e quiz enfermaría se - grande costureíra. uma Arraniou Por fosse polín nao '• Se gostasse das agulhas como exame, romances, línguagem. a Dizia — mais leítura ínstruia-a, que essa e folhetins e a requestayam, mas ela,con- SCENAS 54 versando rindo e DA VIDA todos,nao com qóes de nenhum, contendo a animava as prelen- audacia dos mais atrevidos limites d'um forgado respeito. Todas as doentes gcstavam da Ritinba,porque a todas ela dispensavasolicitoscuidados,para todas, nos tinha boas palavrase boas preferencia, nenhuma sem maneiras, acudindo deligentedurante sempre vam, perta durante de Raramente saía quando estava de folga,alegando e amigas que visitasse, divertia sirandar pela cidade, menos ver para nao nao a que para vista,que ser empapoilam se as namoro, é era as que, ou se escusava a sua folga,e estiraavam, tanto raais que ela Ihes correncia na desdera, a rao aos caga raesraa dantes,os médicos Dizia e para raparigas,as que teem ou sendo casadoiras, noque Nunca casar» isso,e quasi só para colega,sacrificando-lhe a a des- dia, sempre sonó. tinha parentes que so, o chama- a da noite,jamáissurpreendidapela ron- a cabecear a ás que promptamente curara prosara pen- substituirurna por isso todas nao fazia tratando com o derrigos, delicada indiferengaos os is- conmes- estu- enfermeiros. encarecendo opreceito, postura a comEnferraeira, da Ritinha, exeraque a todas apontava como a plo : raparigad'este terapo. Muito ao contrario do que poderiasupor-se, aqueta vida de Hospital,aqueta profissaode enfermeira, — nao Ñera parece feitio,repugnava feria dolorosaraente a sua quadrava ao seu ao seu peramento tem- sensibilidade. SCENAS DA VIDA ^ de lamentavam se turalmente mais sensiveis, as partir, na. mais reconhecidas, debulhando-se em as ver a lagrimas. Nao — se esquega dendo, venhanos bom nha dico, me- estava Enfermaria e boa pessoa, sendo vintera,ganho seu em de ferias,homem mezes dinico o vivendo cér. director da nos po- depois que Soube-se co, de nos, menina Rita. Em a um fizera servi- que já de voz com idade, certa corrente tratar doentes e que a li- jogar papéis de crédito. em Era feliz a Ritinha,tanto mais que o doutor ¡á Ihe ela, sabendo muito bem o que com prometerá casar querendo prendei-a a si por fortes lagos rijoslagos m.atrimoniaes. os ro, Morreu-lheo pai n'um desastre de caminho de ferdia e a tia,arrastada pelo amante, embarcou um de febres. para a Quiné, onde morreu Ihe devia — Nao neta podia dizer das só, sem e aguas um Tinha nao era correntes viera ao filha das aguas viase ; mas párente vago de que que que inteiramente aosoutrosdesse mundo por turvas, geragao a teza cer- tanea. espon- muita do seu dou* confíangañas promessas assaltava a algumas vezes tor ; mas o receio d'ele a abandonar, nao por amor, mas por dinheiro. e gelava-se-lhe o sangue ñas veias só de pensar que ele SCEiXAS poderla rnorrer antes DA de VIDA 57 tornar a sua afaria á vida do se soltando haviam ser a de respeita-la menos d'antes Um dia monica Hospital,e tinha enfermeira,depois do nao a por nao seguro passo que dera, que eslimariara mo co- estimayam. a de cae cama cidade. O na e ]á esposa. doutor, grassava o primeiro colega que pneu- a o de- viu clarou que o caso era gra\?e, e n'uma conferencia que Ihe tizeram,ao quarto dia de doenga, sem cia divergendum voto, assentou-se em que mal o de era fflorte. Assim — melhorar, casamos. que Pelo sim, pelo nao, que fez urna e d'ela. A os lores va- possuia,titulosao portador,e a muito custo dedaragáo,devidamente authenticada,de que tudo quanto havia vraria foi-lhe entregandotedos os tirando casa, na objectosdo casa, um primeiro andar, seu bom estava em li- pequeña pessoal, tudo uso predio sua a era rez-do-cháo com e d'ela havia muito nome tempo. ]á com a morte tremis, mostrou na garganta, rigorosamente in desejos de do registocivil,chamado que o sob sua nao torna. sem receber toda a a ; mas pressa, dois médicos que oficial o declarou atestassem, estar ele ñas condigóesda lei. rssponsabilidade, Quando esperar, casarla a ex- os médicos chegaram, já ele ia metido á nao viagem se tendo de que se feitu nao DA SCENAS Era a VIDA yiuvez burlesca,a da pobre Ritinha,mal urna consolando facto de herdar o ela marido^ que a sabia estimar nao fortuna do pequeña lor. justova- seu no Papéis ! hora D'uma valer coisa nenhuma, nao da casa, do seu tudo o que futuro,sem de casa dóbro eles eram, comtudo e o ou além ela tinha para viver, a garantía trabalho e sem privagoes. amiga, dirigiu-seaum do valor dos seus titulosn'aquela inquirir Por indicagaod'uma corrector, a podiam yaler outra para tavolagem pessoa chama se que Bolsa. Soube a aconselhado colados rauito por baixo,sendo-lhe tendencia era para vendel-os,porque a continuarem a eles estavam que ao garem Um O descer, podendo dar-se o limite dos valores positivos, ao de che- caso zero. horror 1 que modesto, agora se nao tinha a em um viver aqui se via a pobre da, frente do problema da vi- cedo, morresse Ritinha novamente ©brigada Ihe chegariapara rao e resolvel o antes que a miseria Ihe ba- tesse á porta. Foi entao que noite, com travou n'uma relagoes, Thomé dos casa amiga, quecerá Anjos, que enriherdeiBrazil,solteirao incorrigivel, no sem ros forgados,segundo a lei,sem parentes mais ou menos próximos a quem legasseo que amealhara em de trabalho honrado, como diz em se quarenta anos giriade comercio. uma o sr. SCENAS O Thomé sr. informado da DA VIDA condoeu-se 59 da muifo pobre viuva, tristehistoria, erespeitosamentelhe sua pediulicengapara a certo de visitar, poderia ar- que ranjarcolocagaovanta¡osa e segura para o modesto capitalque realisara vendendo os titulos de cotaglo avariada que Ihe entregara o marido. O caso foi que passadas algumas Thomé nha, dos Anjos e como se era a algumas d'horas,pelas cidade,lá ficava até ao outro dia,em do senáo depois do almogo. de noite,fóra Um do dia,a compor-Ihe o quenina para tempo mo Thomé — O ele acanhada Porque sr. nao e casas desertas da sain- geralnao cariciosa, a fazer-se erguesse bragos,ao nos pe- mes- Ritinha disse resoluta,a Thomé concordava, mas vas, chago a usava forma em a disposto como canga ? Bem sabes que das fatalidades. comigo pela maior viuva de que sempre vida,falava-lhe por — a turar, aven- se ao : estou nao que rúas nao sar conver- da gravata, estenden- nó beigos n'uma momice os a vezes, ela,de consultar o relogio, para cora sr. assidua da Riti' visita mais esquecesse, o semanas com a todos os nao só rude franqueza actos da sua ihe alimentar esperanzas estava, a nao por no ca* do matrimonio. Nao, minha filha.Nao casei quando devia ca- SCENAS 6o Se isto te monta. mínba por que onde negocio de tanta nao e eu contraria,és liyre, qu?ro é tarde para ; agora sar um filho para cal o que ter fazer um deixes de procurar a felicidade podes encontral-a. Gostava de tér causa te parece VIDA DA herdeiro um ao registocivil, por muito Se eu mas ; irei bus nao custe me que nao o ter. — teu era nao tivesse • Se ele — dizer é — meu, Talvez — nem se Bem os sei ; filhos se mas sei o filho do o Ritinha Correrá o sr. quando bem era topou se que Thomé, Bem . com os os sabes que pais• na e a no procurar umpai..- Rio..- dos Anjos. rúa, por acaso, a rar procu- mais possivel o parecesse já desesperabade eslava . médicos, calhar para Sosia do brazileiro. posto, que um . cidade inteira, dias seguidos,a homem um com a Thomé sr. !. fortuna. havia de parecer- se comigo, de ter minhas duvidas. Eu disseram me que meu minha a parecem meu o Aqui principiaa para ele seria para ainda assim hada e bem — considerasse o sempre — comigo, o que se costuma do pai, taluez o considerasse parecesse n'esse caso e de dizer que capaz • • retrato o filho eras um o encontrar, senhor muito um o seu intento — Foi-o seguindo,discretamente,a distancia, e viu*c entrar um n'uma escada onde havia,no primeiroandar, consultorio medico. Iriá aii para consultar ? Iria para dar consulta ? SCENAS Informou-se com DA VIDA 6r guarda portáo. o veio e aquele Senhor, Sosia do brazileiro, era Alvares Scromenho, e que a consulta que tor saber a dou- o era das duas ás seis. No dia viada seguintelá estava a Ritinha,já muito alido lucto,apetitosacomo fructo maduro, os um labios carnudos a pedirem bei¡os. A consulta foi demorada, e como o tratamento exigíapericia medica, a doente voltou lá vezes sem conta, nao se medico o tornando dispendiosaa doenga, que porIhe fazia o tratamento de graga e nao receitava para Ao a de cabo dois dar tratamento,sem de dissera ver a botica. mezes cavaco ela que morada, Ritinha ínterrompia a a medico, muito ao aparecía. Nunca nao delicadamente e Ih'o perguntar, respeitandoum de nao parecíabem por ofendido iustificado, mas com se ela Ihe abstivera melindre que que de pergunta uma ele rado admi- Ihe poderla dar- se mera curiosi- dade. Deixou de é que agora consulta, a ir á ela comecava a Ritinha, e todavía sentir*se doente, sempre dores de cabega,preguigocora enjóos,sempre coisas de fora,apetecendo-lhecomer como nunca com sa que que — n'outro tempo Ihe repugnava nao a sua Sabes, Thomé? gostava, ao mesmo lempo habitual comida. Parece- rae que estou erabara- gada. — E' possivel, massó depoisde ver é que acredito. SCENAS ^2 Pedi — Deus a ele ou^iu que Talyez, — mlgo, tambera e atendeu mas se fór nao se mulher mandasse bora sem culpa, des- sem e filhonao meu filha. Os disserara-me que filho; que um o se com eu só por e a nha mi- cachopo, um o mados afa- mais casasse, retrato, meu o a tivesse como eles que casado comigo tanto — cá tenho como um um ovo filho que com um se peto es- • . Fructo de rapaziadas,o Thomé a seja pensariarade mim, se emdizer,d'aqui por alguns mezes, ter me • Rio ele fósse Ihes ! o que presenteasse me adulterino. Imagina parece co- parecer nome sera sabes bem milagro poderla ter que nao retrato, negarei que maldade do médicos menos suplicagoes. teu filho se meu o filho, e acho um rainhas conversado, minha Temos — desse teu. senao ser me as o uma tu porque pede VIDA füho. meu Isso seria — que DA contraira doengas n'aquele tempo se charaava vergonhosas,e duos a maior era vergonha tel-as, parte dos indivi- que como que as contraiam nao se tratavam conveniente' ignorantes das suas terriveisconsequencías n'um futuro próximo ou remoto. Assentou dia,o Thomé, em um que Ihe convinha mente, e casar, cabago Rio, namoro a a estava irma quera convencido de que d'um amigo, tambera vinha discreto. nao Ihe daria estabelecido fazendo,desde alguns raezes, o no ura do Rio, médicos VIDA DA SCENAS 64 tal o trataría, provendo á como sua garantindoo seu futuro. A confiangaque soele tinha n'ela,desde que fizeram relacoes,nao frera o minimo abalo, e a baboseira da paternidade havia de auíhenticada por contigentes parecengas, sairlhe da cabega, que mais nao fosse-.. a marte- sducagao e ladas de bom parte dos maior Na cora senso. pais ; muitos os é Certo filhosnao se teera que sequer nem ele prestara crédito que dir-se-hia paga nice estupida, que alguem houvesse, se os o parecem se ma cha- familia. de ar casos teressado que em Brazil no Thcmé o dinheiro bom por ou in^ncio- essa a Portugal,¡n- em morresse herdeircs sem forgados. Por ele,Thomé acaso nada nada, absolutamente o testemunho seu álbum, segundo no com o dos auctor parecía se días seus ínsuspeítode retratos que marido de nem por ísso o nha tisua de grande austeridade,se julgou atraioutro nao teria, pessoa mae, e dos Anjos, nao ele,por esse motivo, e goado, nem suspeitou jamáisde ser gerado no adulterio. Isso é outra coisa. Nem — míe, a niaís santa tou, nem ga de que E nem eu se sou creatura como morreu, o tivesse ía filho,na a menor meu a tu és como Deus ao que paí,que entrar na foí minha mundo só teve casa a deidoen- dos oitenta. realidade,fosse d'ele,embora característicadas suas feigóes? SCENAS DA VIDA 65 Surpreendia-se,algumas vezes, a fazer esta judiciosa consideragáo,e ficava-se, por muito tempo, a lado sentindo-se criminoso se nao scismar, por um reconhecesse lado filho que um sentindo-se como seu Ihe partencia,por ridiculo filho d'outrem um tivesse se — e outro apresentasse filho do crime ou da Ihe hayiam dito os burla. Acababa toda filho da urna Ritinha,se incluindo c5es, as que dissessem n'um retrato do pai- A ambicio n'outro tempo seu ele que retrato,por toda geitosaspara repente, vendo • • gente, a tirar fei- dever, cachopito o — é o • espevitara a chegava nao o pai do o conhecessem, está bem o á Ritinha Quanto com menos pessoas pessoas do Brazil. Seria petiz fosse o parecido táo pena, que notabilidades clínicas em redondeza vasta a ao Rio, afamadas do médicos ater se por sua para religiosidade, que missa todos urna cada os Agora freassiduidade as Iqrejas, a maior revé* quentava com renciava todos os santos, a uns acendendo velas,a domingos confissáo uma dando outros dava e pegas era ano. de vestuario. A* porta da Igreja mas, pobres,e na caixa das aldentro de cada Igreja,metia sempre uma quan- esmola a todos os tia avultada. pretendíaela dos ajudassem no empenho E, afinal,o Que a fazendo sivel com que que com o o seu santos ? em filho se parecesse brazileiro, que fosse,como que o andava, mais pos- ele dizia,o SCENAS 66 retrato seu urna por DA pena. VIDA Da pia fraude sua nao prejuizopara ninguem, visto o Thoadherentes,um vago primo ter parentes nem mé nao afastado grau, que mais pudesse herdar-lhe a n^ fortuna, lira um milagresimples e vulgar,tanto mais filho se parecia imenso o verdadeiro pai do seu que ambos bochechudos, a barba rala, Thomé o com resultaría mal ou — castanho d'um nariz algarvias,o olhos escuro, um azues, bocadinho como as vacas arrebitado,a trar mos- largase cabeludas. Era tao fácil o milagre! dos Passos da Graga prometeu urna Senhor Ao trinta kilos, Senhor e ao vela de cera que pezasse as ventas Jesús dos Aflictos prometeu duas andainas de fato, seda outra de invernó,ambas em de veráo e urna bordaduras d'oiro. azul celeste,com dessas muOcorreu-lhe consultar uma bruxa, uma deitam cartas, e tratou de inquirir qual Iheres que era, na rendosa? gosava a que Confiava muito poder das no ziam ; mesmo nos no nao A até milagres, dispostosa fazer o lagre mi- mais cruel incer- na decisivo. bruxa, nao. Poderla ou momento ao reputagio. fazerem para tria indus- confiava tambem mas impetrado,mantel-a-hiam t€za essa futuro. Os santinhos nada Ihe diestivessem que de melhor santos ; bruxas, lerem para mas cidade exploram das multas que entáo torturante Ihe dizer coisa que se aproveitasse, dizer-lhe alguma coisa que tornasse mais nao a sua duvida. Em todo o caso dir-Ihe-hia S CENAS DA VIDA 67 aiguma coisa,e ela precisavaque Ihe falassem, porque no seu era o o silencio, caso, mysterio,e o mysterio ira tortura. a A bruxa nhora disse-lhe, em nasceu parecendo mas talvez feitas as ser para suas resumo, feliz.Tudo Ihe que o seguinte: — se- Ihe correrá bem, mal. Terá corre A dades, contrarie- desgostos,mas acabará por ver satisambigoes. O seu passado retrata o seu futuro. E roorrerei viuva ? — — Ninguem senhora ainda viuvo, se morre se nao tiver casado,e a solteira. conserva Desculpou-se,muito comprometida, e cheia agora de confianga na bruxa, perguntou-lheabertamente — A O pai do bruxa filho casará meu tornou ; deitar a as comigo ? cartas, e disse,cónsul* tando-as: pai do confusáo,que — é a O senhora seu eu filho. • • nao a grande desfazer hoje.O melhor posso voltar para Sim, ha aqui urna semana. decisivo,aguardado pela RitiChegou o momento deve ser nha, n'uma anciedade torturante, como aguardada a sentenga no corresponda pena de que Tudo Era a correu bem, primeira vez julgamento d'um crime morte. melhor que a a do que seria de esperar. Ritinha se via n'aqueles gao geralmente ñas primíparas a representade semelhante drama, embora haja mudannao gas de scenario.costuma assados, e ser demorada. Pois entre a SCENAS 68 DA primeirador, anunciando o seu a ultima,marcando o VIDA do cometo espectáculoe final,mediaram tres escas- horas. sas E' menino — E' — menino, um Enfaixado esla ver se — o se que gente essa! E' do imploranseus os retrato do pai. d'uma cabo ao rogos. comadre? parece, o quiz na fortu- sua tinha saido,assegurandolhe voltasse parteira a hora já encontraria nova. Nao — se quem Thomé O penhor da o fizera promessas, que Deus. toilette da mae, valimento,tivessem acolhido Ora — ventre, seu santinhos. a Com — benza-o muito perfeito, e pimpólho,feitaa o fructo do os seu o menina ? ou precisochamar será o medico ? Isso sim ! — As dores — Ainda — tao sao bem, grandes,coitada !• assim porque a creanga • • mais nasce dor mais forte,e salta logo o depressa. E' vir uma Pode ir descansado,que tudo correrá pinto da casca. bem, Nao — — nao a grabas sou Nosso homem Pois entao se demore, vá que Senhor. para dar estas uma isto fica coisas,nao sou • voltinha,sr. Thomé, despachado em • • e menos d'um phosphoro. Quando o Thomé voltou, estava a creanga ao lado SCENAS da máe, a bailarem-lhe rcgdes,como na cara, 69 movendo-se todas em as di- ¡á tivessecuriosidades de observador. se — Com — As creangaS) tiem VIDA mugir, os olhitos,muito vivos, tugirnem sem DA parece, Thomé quando nascem, se quem ? bem a dizer nao feigoes, assim que ele parleira, disse logo é o retrato do pai. nasceu, Disse isso para te ser agradavel,a ver se a Mas — o filho tem. meu A — — é mais avuitada. paga Forte birra — tua !• a . . Sempre ranjasalguma desculpa para teste, renegando e fazendo com infiel ao as que até agora que me homem faltares ao filho que um com vivia quem a passem ar- prome- que é teu, conhecem, me que estimavam, se sabes que bem pessoas ver quero como mim, ter por se e fossemos casados, o roaior desprézo. Passados do alguns dias menino, com as saiar — O os e perninhas e os assistiaao agua bracitos como banho tépida,batendo se quizesseen" talentos de nadador. seus E' táo engragadinho,o pequeño!... Thomé concordou enxuto em que o pequeño ele tinha era en- no parecia ter pésinho esquerdo.Retirado do banho, n'uma toalha fofa,verificou o brazileiroque defeito urna deliciar-se na a gragadinho; um Thomé o mas membrana grande do notou que delgada e pé esquerdo ao ou incompletaunia o dedo dedo imediato,acídente SCENAS VIDA DA parteirajá notara, díspensando-S9de o dizer á importancia. máe, por ser coisa de nenhuma Muitas nascem isto,que é mais com creangas a que — signalque um defeito. Cora um ¡dade desaparece. a até logo,senhora comadre parteirasaiu nino, o pé do meo Thomé quiz ver novamente e tendo apalpado a membrana, como que a ceryisivelmente preocupatificar-seda sua consistencia, do, Quando a — — ••• continuando de si para que curioso Muito — o como signal, a um defeito,nem sequer fazer o que ser me- • O • tamente Muito curioso ! tem menino que o é ande menino • Aquilo é ? mesmo fosse que defeito que um . . veja,a pai nao se descaigo,por o d'ele. caso ahi yoltamos Bom, — • • parteiradisse,e um nao serie de reflexoes uma si fazia ; curioso ! E' muito — alta voz em que eu acho curioso é defeito que o tinha do costu- á cega-rega nos menino o irmáo um de ter exa- pai,o meu tío Francisco,mais velho que meu pai dois anos. Ora vé lá tu I Nao só o menino se parece — ainda pai, mas o — Pois sim melhante ; mas o defeito,e cima da Natureza, que nidade de cada Filho sr. de tem pai do meu dos filhos d de quatro, tambera menos do por nenhum nada teem que o defeito d'um tio esse nao meu o tem. ver cora com tio ! tinba se- tio,nada Caprichos a sangui- um. pai incógnito, por invencivel obstinagáo Thomé, ao filbo da Ritinha foi posto o nome " DA SCENAS 72 Mas — Hei-de — nao porque VIDA ? casas n'issodurante pensar a viagem, se nao enjoar. pratico,habituado a ter ordem, nao quiz partirsem Homem sempre em gurado filho,e o íuturo d'uma d'essa créanla, da máe coisas suas deixar asse- talvez fosse que creanga, as seu durante longos que mezés Ihe fora dedicada companheira, proporcionan- regaios.Doou ao Alvarinho rasoavel fortuna, que a máe administraría, como do-Ihe cómodos e chegar á maioridade. Com até ele tinha,com as mil réis por mez perpetuam, economías a fructuaria, usuo que fizesse e mais trezentos filhoseria obrigadoa dar-lhe, ad o que que urna Ritinha podia considerar-se rica,perfei- assegurada a sua independenciae farto viver contra todas as contingenciaspossiveis e imaginareis. Pouco Ihe importara, já agora, que o brazíleiro tamente casasse a ou nao rér o filho sem seu nha a que completassem renovar Quiz R.o Deus ainda doenie a haria notareis mais doenga era as era do d'uma pai,e mas por nao se gnara resi- isso se dispu- santinhos,para aos promessas milagre. o o que tres Thomé de tempo mezes, médicos dos Anjos chegasse ao risto e o observado outros todos em graridade. socio, seu cariocas,opinando d acordó estrema viro encontrar figado,opinando dos rins,mas grare, suas ela ; com casasse que uns a que o pelos que a doenca caso era SCENAS A fazer forte para se quarto, em DA eslava que VIDA 73 Thomé entrou no chorar, doente,o seu velho e querido nao o amigo, socio de muitos anos, e teve a impres* de que ele ¡á era cadáver. sao Ainda bem vieste,Thomé, Custava-me que muito nao ter ao pé de mím, na hora derradeira,o — melhor dos filhote da minha anos, Aínda bem de amigos, socio meus mais da minha térra,mogo de trinta creagao. yieste. que Nao pude despachar-me mais cedo ; mas agora vejo que poderia yir mais tarde,porque a tua doenga é grave, como nao eu ¡ulgava.Ainda ha pouco me — disse o por-te a dr. Floro que lá para os fins de maio quere caminho do velho mundo, em viagem rada demo- pela Europa. O dr. exprimiuse mal ou tu A minha próxima viagem, muito para o outro mundo, que tambem — demorada que por lá ficareíaté está acabado, Thoméuma Fcmana • questao de vez conversar que aos • E' entendeste bem. nao ao é velho.e será táo juizofinal. Isto • Milagre seria vivesse ainda se poucos dias,tai- horas. Por isso mesmo desejo questáo de uma poucas de maio, será antes comtigo,sem perda de tempo, sobre coisas dois interessam, ainda que por diferentes rasoes. — levarás nao quando vir — já que Pois conversemos, Sabes centenas a que que mal assim o queres ; mas interrompa a conversa, precisasdescansar. fortuna é grande, algumas a minha de contos, que mas eu tambem sabes que a minha Casa, administrada, está sujeitaa for bem nao se VIDA DA SCENAS 74 prejuizosque podem comprometel-a gravemente. Em faltando, falta eu ela desaryorar,sem fácil que Ihar-se rocha. A na de negocios como mulher, coitada,percebe tanto de bordados. Se eu Kj'wjeronde quizesse, e cinco netos, e nada cada para só aguentar a minha augmentando-a d'ano para de casa no Esse — homem esse íenho eu que eles,é por o paz ca- está, que em realisando ano, belo sonho de sempre, um desse vida e saude. Deus me E pé que Thomé, homem, um uns para quizesse.Mas nho — bem davam-lhe fortuna, dividida Ha um. tiyesse nao assim liquidar, a como minha a a rendimentos os que morra, indo esmiga- gobernó, de netos, aconseihava poucos eu patrao da lancha, e nada mais o so- meu realisaria, se ? homem • . . és tu. Eu? — Sim, Thomé, és tu. Se — com Izabel,eu a rir ela como negocios da Casa os tranquilo, porque morreria havias de estimal-a prometesses me merece como se e casar sei que havias de ge- ela fosse tua, clusivame ex- da tua, feita á custa da tua inteligencia, tua honradez nao, — Thomé, O que e do teu trabalho. Nao porque tens falado de raelhor que ou — os que mais, e remedios precisasdescancar, porque o descango faz tanto bem da botica. Descangarei depois de ter a certeza de que a digas que de matar-me. acabarias digo é eu me me responderes,e tua resposta, se des po- for afir- SCENAS matiya,será nha alma • A • • tu, fica eu com ; Ih'o poderá levar pode ao pé da tigo sobre E — o mas a que casar ter de dizem os A' negocios nao o Izabel a que decidi a falar com- me novamente, casar dispostoa francezes revient ses • • minha morte, só comtigo voltar para o rla, casa- Rio e chegado toujours premiers amours. ela, se com por na ocasiao em que reuniáo pouco caso solteira, e com familiar.Conhecimento eslava pegado do pai da menina o namoro, de motivo Catha- socio,recem- o Brazil,fazia conhecimento ao bel n'uma ! tivesse saido do Rio para Santa riña precisamente o eu um consolaria da a teria casado certamente desse fe- sua nifestado desejo matinhas pensado n'isto? a a D. Izabel,em catrapiscara Thomé d'ahi a samento, ca- ninguem e futuro dos vivos,a depois de saber nada On O em ela. com Bem dez uns Faltando-lhe gosto, seu D. Isabel disse ?• tu estivesses se mi- caso. Disse que — a Nao cova. senhora a menos nova. sacrificada ser respeito, que este a mal. O foi só e Izabel tem marido a licidade,nao pensava a para bonita fortuna. Se pensar urna Tiuha, D. é relativamente escolherá — 75 ungáo, terá extrema senhora do que anos VIDA conforto d'um Sacramento. o — minha a DA a D. Iza- foi ele,que e simpatizarcom como se o ra- DA SCENAS 76 paz, nao tardou que vos, que a VIDA namorados os passassem a noi- excessiva mente Izabelinha, azougada, era de velocidade,fi- descarrilar, excesso por cando Ihe muito longe a Estagao do Matrimonio. O Thomé, regressado de Santa Catharina,encondeu por achado. A trou a praga tomada, mas nao se de capaz Izabelinha mantiyera com trocara ; nunca ele manas flirtde poucas seele duas palabrasque a com um um urna juramento solemne ou com prendessem com fosse correcto faltarsem nao a que simples promessa, motivos ponderosos. Tudo silencio, se em passara palavras,n'uma troca de olhares enternecidos, sem eloquentesna sua mudez, mais expressivosque os discursos melhor arquitetados. Nao tínha que recriminar a Izabelinha, ra usaporque plenamente da sua liberdade,seguindo os impulsos do seu nao coragáo ; ao socio e amigo tambem tinha que fazer recriminagoes,porque ele ignorava o idilio amoroso, excessivamente seu discreto,a tal ponto discreto que ainda ninguem dera por ele,a nao troca de olhares ser alguem que surpreendesseuma instante de fácildespreocupagao. n um Fora o jectosde amigo, casamento visto o projectos, de temos Pois sem com namoro com o amigo que, ihe pedia que casasse com d'esse casamento tar a morte. a que ela nunca ter passado insistentes olhares. e era Ihe frustrara proD. Izabel,mal esbogados querer, afinal,sentindo-se ela,afirmando que morrer, a teza cer- Ihe daria resignagaopara Jifron- SCENAS De modo cerfo VIDA DA 77 esta compensagáo era Ihe devida» fdra depois do seu regresso de Santa Cathade D. Izabel,que ele entrara riña, perdido o amor porque a fazer tendo a as que viam vida de rapaz que se díverte, cómpremesaude em leyiandades amorosas, mal prevendo urna condicionar tristemente Ainda estava e com sr. o á e receber a o seu futuro. pésames pela morte ¡á a sr.^D. Isabel Fragodes marido, que consequencias de tais leviandades ha* graves Thomé se do consorciara dos Anjos, casamento imprensa carioca mereceu auspicioso mais agradareis as referenciaSé lisongeiras Tratou caso para imediatamente Lisboa, em o carta de comunicar Thomé o lacónica, dizendo á Ri- precisando d'alguma coisa, para ela cu Ihe dirigisse com franqueza,porque o filho, se para bem dispostoa servi-la. o encontraria sempre Nem uma palavra que envolvesse o mais ligeiro tinha que afecto de amante, que traísse a mais froixa,a mais débil inclinagáode pai, uma referencia a idilioque um vaga, ela quasiinexpressiva perfumara de beijos quentes, impregnados d'uma sensualidade a que se poderia chamar casta, se nao brigassem estas palavras* acabando de poetas brazileiros. 1er a carta,e amarrotando-a ñas máos convulsas,a Ritinha teria dito,como poesia de Guilherme de na Se Abreu fdra lida em : Meu Deus, que gelo, que frieza aqueta ! S CENAS 78 VIDA de Dido, que poeta os trágicosamores Ritinha,talvez,por falta de erudigao,mais seguramente Cantou a DA o falta de geito,nao por Di6o infeliz,a Morre-le morreu mal oulro e foges um, A' Ritinha um quiz repetir : ; unida; foge-te o outro, ela fugiu..- para outro e um, morres. ; terceiro. O qual fugiu-lheo outro, e ela procurouum íerceiro era justamente aquele Doutór que ela tioera boa sorte de encontrar caminho. andando seu no a á Aniosj Ritinha a que cumplicidade dos O — raofarem a graga, dr. ainda Lisbos,e vesse como a tinha ido para bem ~ que . seu a Provincia • toda por encontrasse, nao coisa!- Aposto ou calculeique respeito, Seja para o Brazil* que . em obti- sequer • O . nem parte, a tem . feito? . ?• casou • . Quasi. — — conhece ? me aparecida! Tanta — a talvez Ihe achassem que do brazileiro. noticias quaesquer muito santos, conhego ! Procurei-a Se — pai dos filhos o pai dum filho do Thomé dos instinto conseguiu safar-seda rede Ihe estendera, assegurando-se da por que fosse que isto é, o Zebedeu, de homem dum procura Essa casada nao agora me é melhor! lembro de o •• Gestado encontrar qualquer disposigáodo código civil. de quasi definido em SCENAS 8o é tu para pequeño, coisa E* curioso E' curioso, — — caso, a Ritinha Passadas reirá, siao filho. tenho tambem eu mas pé no querdo, es- de deformidades uma incomodou. me nunca tirou bota, o dedo o seu tinham casado registo olhos os ao dos pasma- membrana imediato — mente exacta- filho! delicadamente do e delgada uma grande semanas ocultando meia a sobre algumas que do . . . tinha como de curioso. • ? porque cairam ligava Ihe aquilo se ver. Descalgou que qué signa!, • da E' . um Deixa — dizeres me esquerdo. porque fiz nunca para incomodal-o. a pé no o nao que vir signal Um — e veres, possa que VIDA DA casamento os o dr. davam iornaes F. que tinham e a na D. a Rita mesma registado ticia no- Pe- oca- um chibos Quem Era modesto um Ihe maís para dava-lhe para chegavam e e casa, de festa,o presenteava mais, outras vezes . escritorio, que O pai habilitagoes- as dispensando-o de contribuir mesa, despesas da as . de empregado nao cama vende. com ainda dias em alguns centavos, urnas conforme negó- menos, vezes cima, por os cios Ihe corriam. Nao fazia a familia,e urna como casar, fiado nhava e seguro que de. que o bem mais recursos, de escritorio maior os sem promessa. Com a sem de deixaria Casaria,mesmo seus o que mulher de genero- ordenado, resolo ele ga- que trouxesse, tinha por priyagóes,ajudado pelo pai ser generoso cabida seria que fosse sustentar maré em aamentar-lhe nessa viveria que nao agora com patráo, o sidade, prometesse veu ideia do que menor a sua tiyesse de contar modestos recursos habilitagóes para ele, generosida- para dum urna categoriae mais farto rendimento. com só com os empregado situagáode SCENAS 82 pai dissuadi-lo dessa asneira, fazendoseus mentado, ganhos, mesmo os que fosse auque Tentou Ihe o yer mal dariam para era contó um é grande Deus Para e África recelo muito Casou, e dando colhera, urna los títu- a largo;quando África eu a o encontrava-se casa, com que o era nadas ou o para viagem ; nao sil. Bra- a para Governo. recido, desgostoso e abor- pai,embora faltando do desses a é t'a pague luxo, mas instalado,sem guns mundo para que o como Ihe poz nada Ihe o Brasil pagava-te o o que Bolsa. na puder viyer aquí,vou — e da Carochinha,representadopor cotagáo sem — renda da casa, a mulher, segundo informagoesque da dote VIDA DA rasoavelmente desejayelconforto, necessário, al- com alegram a vista, impressáo de Arte barata, mas delicada, pequeños que agradayel,embora fútil. A mulher, orfá de pai e mae, fora creada,desde da madrinha, que a nao habilitara em casa pequeña, dona de pobre nem para creada de casa criaturinha banal, com rica. Era ama ambigóes de luxo, sabendo alguma coisa de bordados, alguma coisa de música, mas ples incapaz de fazer a mais sim- para das da pegas roulasj passar sabia fazer yaga casa oyos ideia de a sua ferro toilette,remendar uma camisa. De quentes, para ouyir dizer que gemadas, nao se umas ce cosinha e tinha deyem • . uma assar . SCENAS sardinhas boneca, Ihes tirar as sem bibelot um sasonado DA em Houye necessidade adorayel urna fruto apetece tocar, um que apetece beber 83 tripas.Era apetece meter que que VIDA licioso vinho de- boca, um na soryinhos aos de tomarem criada urna com algumas artes de cosinheira,sobrecarregando o seu verba pesada, que muito exiguo orgamenio com urna contribuia para o seu desequilibrio. reconheceu que o pai tinha Logo no segundo mez quando o aconselhava neira estava feita, e o que era impossibilidadede aumentar a rasao franco entendimento um nuirem Antes — vé cases que devias ter visto que tu vam ter para as se as- dada receitas, era suas mulher a para se dimi- regime de num o os hoje só casa, fazes,diz que teus casa naturalmente, casa, mulher — Diziam coisa que — se* mas eu perguntado, nao de fome — calculei que contasses • gosto. dictado, ganhos nao chegade, e mulher, mais tarfilhos. te dotaria,e te dotasse com como aiguma t'o disse,e nunca como com era se o m ti* natural,ter-te-ia dito isso. Olha quem, urna unhas • Eu.sei te o visse. Diziam, vesses que se e madrinha tua a que ela é rica,sempre que a preciso, agora, despesas,entrando as mas casar; economia. vera e com nao a daria a quem um bom ela disse,por dote, se tu mais duma casasses vez. a seu DA SCENAS 84 E' possiyel ; — tasse, me que ver a se na por fór,a verdade é ou ele posso com nao espero nos puzesse nosso a ter com compramos um ordenado, só e cosinha. ]á na ajude,e milagrefoi que nos contrariado casa, posso todo some-se pai meu nao meu ficou como com o casamento. Pois sim ; algum remedio situagáodificil. — ]á lojasem a que nao O mim. para contar, que ainda e casa, ti trapo, para cons- que rúa. despesas da as Ihe desamparaba eu Seja como — disse íoi para o se mas VIDA ha-de dar se esta a seguinteo Orgamento teve um superávit, ela explicoupelo facto de ir ás compras que fiado na mercearia. O passadiofora e nada comprar como nos anteriores,se é que nao fora memeses Ihor,aparte o yinho,que ela abolirá,porque a cria* mes no da, só á sua parte, bebia criadas Isto de — ladras. Só umas fazem tanto como portam ganhar Carregam o contanto no prego — pior é o incomodo yale'dinheiro • O incomodo ñas o mesmo que — compras» nao v3o se á das coisas,e para O bem que coisa mesma roubam que tróes, o que nao presta custa de primeiraqualídade. ros — a ordenado. Algumas o pouco, sempre todas sao com litro. um que os im* Praga. os pa- gene- tu tens, e isso tam- . nao fempo. As criadas,em é grande,e será vendo que os por pouco patróes vao de SCENAS quando á Praga roubam de tudo, nao com quando prego em Com — respeito á vida a andam e direito* • facto do ao tanto descaramento. ha-de é que mercearia tudo de pronto, emquanto pagar a VIDA DA ser fícil di- puzermos nao . Estás prar engañado. O que é preciso é nao comdinheicom senao aquiloque se pode comprar á vista. E' preferivel ro pedir dinheiro a juros,pondo alguma coisa no prego, a fazer conta ñas mertudo fica a dever, além de comprar cearias. Quem — impingem-lhe mais caro, nao querem. conta nos viráo nunca a pregos, Ha — as Calculam homens táo bem Eu Se ajustar. geito á para Praga escolher impingir gato por lebre,e estivessem marcados em em tudo, como podia ir á Praga, eu urnas — vezes outras,para por Descanga, que contrario,até que deixa de nao o mez que que gue. que ahi nao ver nao me o já nao temos agora é mulher Isto vai mudar para para os pregos lejas, dias,mas certas os essa massada. Antes massa. lá muiía espectáculo, que, interessante. Se Deus ser vem te poupar distrai. Encontró me vai só para isto se digo todos nao ou serias,in- pessoas de capazes fazem e donas de muitas que fossem vendedores os carregam-lhe outros. os váo que melhor ou tenho nao dáo para uns fazem dos que entáo e outros os que muitos que pagar, se muitos compras casa. ver a o sempre na pelo gente verdade, quizer,para ir á Praga.A moga precisarei é geitosa, e quer me parecer meter a unha muito, tu verás. até fazer san- SCEXAS 86 ele Comegou VIDA andar satisfeitoe a te, mulher radian- a dois felízes porque havia abundancia no ti^esse aumentado muito como se era os lar DA — ordenado, tivesse barateado ou Está — bem; chapeu, e um mas muitissimo seu o seu vida. a precisodum fato,tu precisas isto nao chegam as nossas eu para economias. passadcs, muito poucos, apresenta-lbeela, notas de cem escudos, mais do que o bastante Dias em para despesas ¡mediatas as Ibes impunham. se que E explicou: boje visitar a minha madrinha. A corda pelo mais fraco,e visto ela nao vir á quebra sempre á sua. Gostou muito de me nossa ver,e casa, fui eu Fui — preguntou-me se feliz. Disse-lhe era sim. que que muito feliz.Percebi que sou vengáo a ela tinha qualquer preteu respeito, elogio a fazer-te um e puz-me rasgado, tao caindo em exagero. com mos jando me — que as a paginas Quiz despesasda tantas saber casa, e como na vi que estava arranjadespedida,beinos muito, entregou-me isto. Vamos lá ; nao era de esperar tanto duma pes- táo sovina. soa Pois é verdade. E disse-me que em me lembrasse déla,porque me em apuros, sempre bem nos faria. vendo — Foram amiudando as visitas á madrinha, algum e cada SCENAS DA dos filmes que de grande fama. sobretudo Apeteceu á mulher tanto nao chegayam Esse luxo nao co de metade menos ano, a Porque a tempo que — ela é que a o loteria? Diz na sai se o que ; grande sorte o será comprar diz o outro fazem os chourigos. que ; compra Compra tu, que lá eu, o em que a ver- • . nheiro custa muito di- entao o sorte a e se cautelitas, umas com - isso. mas alguem hade sair.V/aleu ? como redu- possa -se outros aos premiadas, jogamos Pois sim que dará coisa parecidacom nao bilhete para melhor ninguem sabe porque dinheiro, e coisa que uma elas forem — ? mv. jogassemos ; o — peles umas com o voltas Ihe heide dar, filha, porque gastos se Um todo em do fim da Estacao. antes é muito grande é dade ele ganhava economise, sai que meus E — de tres contos,pou- contentasse se Ihe hade tres contos zir nos para generosidades da madrinha- falas nisso á tua madrinha nao que Nao — mas me demasiado sempre de peles; casaco as que Lisboa precedidos a livre! Ela já acha que eu tenho luxo as nossas para posses, aconselhando-me Deus — um do que ordinarias,cossadas — chegayam Ihe custaria menos ser nao VIDA forte. E' mais sangue mesmo se te parecer. todos os jogos,sou um tumba. Andou a roda, e quando ele entrou em casa, para SCENAS iantar,desen^olta como gando-o e beijando-oem tra-lhe um nhentos de masso declinou e — VIDA DA 89 abraferias, colegialem um mostransportes de alegria, notas o quatro contos — numero que qui- e e comprara, em Ihe saíra toda aquela dinheirama. que Tres contos -- Um — tarmos todos em nhamos a para peles. • coisas que as comprar . precisas. Os quinhentosque — minhas as para já chega contó mais sao nos sao sobram, jogos,a os ver sao se habili- nos para alguma yez apa- taluda. Isso é que hade ser mais dificil. O* filho! E' táo dificilapanhar a sorte grande — — apanhar como e mesmo, A ma. o dínheiro. mesmo habilidade,num a caso e O trabalho é noutro, é nenhu- e com questao éa gente babilitar-se, escudos,se tivermos bocadinho um o estes nhento qui- de sorte, quando chegar o Natal,já temos arranjadoa massa precisapara nos habilitarmos a ser ricos,muito ricos. A partirde entao, nunca mais ela deixou de jogar . lotería da na algumas sem Era sempre era sempre Casa, favorecida de tal modo Santa pela sorte, que era raro o ¡ogo em que nao Ihe sais- de escudos. centenas ela que ela que . ia receber compraba as ao cambista,como cautelas, vigésimos palpites. directa O que ele nao dispensavaera a participagáo nos lucros,uma percentagem que ia algumas veaté aos cincoenta por cento, quando o premio zes ou n§o bilhetes, segundo era chorudo. os seus SCENAS 90 ]á tinham ela tanto todos urna a Caixa Económica na fracgóes,todos em mais meteram os criada,e música, o urna em sempre, mezes. considerayelmente melhorando de casa, Mudaram ganhar ¡á considerava a loteria como trazia arrendada» pagando-Ihe jogos. que propriedadeque os renda e alguns contitos, á ideia de afizera se VIDA DA como a sua dama ; sabia um trivial, alguma coisa de compraram gramofone ; mas ela disse piano. Ele preferiaum pires,e as circunstancias em que se en~ que isso era contravam, felizmente,petmitiam o luxo dum bom tegra! fazendo o pagamento inpiano, que se poderla tirar, da compra, acto no por seis ou oito contos. tasiosa a madrinha, de cujasfanDesaparecerá de scena generosidadesjá nao tinha necessidade,porque loteria justificava plenamente a proveniencia a de vezes dos seus recursos monetarios,urnas poucas ordenado superioresao O que vivemos numa — A a melhor mim nao a que mo co- ? sua a que quando souber déla,mobilada dirá nada, porque me nunca mais visito. Zangaram — Nao — to ela temos se tua madrinha a casa foi nunca — dirá do marido. nos se? zangamos, porque ouvia tudo quantimamen desentendida. Úl- queria dizer-me, e fazia-me estava insuportavel, a querer saber,o que temos ; se o teu pai nos ajuda, e o nao que fazemos conta na mercearia, se pedimos dinheiro SCENAS ultima emprestado. A de dizer me podem chegar para tinuarmos E — tu Eu — nao vez as a despezas,e nossas o rendimentos nossos que a coco desnao con- fazer dividas que por mandaste raandei ela que lá estibe,teye que os que 91 pagar. a nao do me VIDA assiro, acabamos poderemos nunca DA ?. . parte nenhuma. a Lembrei- feito,e deixei-a rabujará tem ncs . vontade. Fósse — comigo todo te dar esse ela foi manha sermao mais nunca para centavo- um Creio — Ihe cantaría ! Naturalmente eu que que sim isso pouco ; mas importaba, me permitidoinsinuar que a nossa relativa prosperidade nao nesta. pode ter urna origem ho- se nao O — se tivesse qué ? Ela teve Quando esse atrevimento ? mas, despsdi,os olhos chelos de lagride poder falar,beijando-me como quasi sem costume, dissesme que tivesse muita cautela,porque e nao as aparencias me comprometem esqueque — cesse quem nunca me que ha um ditado vende, e cabras chibos que resa assim : — tem, dalgures Ihe nao vem. — Todos de grande desavergonhada ! Que se admiravam escritorio gastar como podesse que viver um modesto como ele gastava, a mulher empregado ele vivia,podesse vestindo primeira,e ele frequentandoassiduamente os como a clabsy geralmente ceaya onde vinhos fumando e charutos mulher duma para ficar consagrado conta, por como alugam Tambem madamas as se que jogaya. nao Como dinheiroso, clubman um titrée, amante urna vendem. se ou Só !he faltava o caros. difícilmente resistiriam que — boa companhia, bebendo em luxo a VIDA DA SCENAS 92 diabo é F., só com o ordenado conta vive,gastando sem o que pode viver á grande, como medida? nem Só — com ordenado, o com nao; ordenado o e os dividendos. dividendos?. Os — Sim — ; as . da mulher acgoes dimento, porque ' cotadae muito estao dáo Ihe um na bom ren- Bolsa.* aiheia. pai,depois de O cto, bem por que duvida na ter pouco sobre chorar gao, e poria a no olho descaramento — que nao a a presencear da rúa, de Ihe encontremos. conhecem, outra. e urna a cruzar Fica dispensadode nos porca me do que disse-lhe que parvo, prevenisse a que mais parvo era que morte sua violenta, explicagáo chega a vias de fa- urna nao ele se cinico,ou mais cinico do ele com a sua da mulher fería pre- degradade que a pontapés, se ela tivesse os portáisda casa. cumprimentar onde Somos d'elas nao duas pessoas quere o quer que se relacoescom SCENAS Empregado DA VIDA 93 hábil,na esphera,muito restrictada sil amigo que precisabair ao Bracomercial,conyidou'O a acom- competencia,um liquidarurna causa panhalo, garantindo-lhebons honorarios. sua Aceitou. Havia muito que pensaba viagem davalhe essa o para seni ensejo em conversa qóes, de dendo em pensou cando'lhe a sua assim urna ar nao contrara en- sobretudo reparos, patráo Ihe pedisseexplica - seriam amigavel,que o ainda do que se embarago- chama pas descul- — pagador. mau Ainda o que teriam sempre sas, e com a erguer escritorio, e o pretexto, que o fazer,sem dar deixar em era pessoa, res deferencias,e de o escrever resolugao; ao mas sr. Bastos, comuni- logo yiu demasiadamente o que além proce- incorrecto tratara sempre que que com d'isso nunca se quando ele tinha um gratificar de trabalho,embora nao fizesse horas as para maio- esquecia pouco mais rias. extraordina- Encheu-se de coragem, e um dia,quando ¡á todos empregados tinham saido,disse ao sr. Bastos que os tratasse de urna o substituir, porquanto ia — Brasil fazer liquidagaocomercial,e tencionava,no estabelecer-se por sua de consignacóes. — ao Quando No parte ? fim do mez. conta, montando urna regresso, agencia DA SCENAS 94 Oxalá sejafeliz, e — VIDA tenha ocasiao de nunca se ar- repender. Agradeceu, protestandoo seu reconhecimento, e saiu do escriptorioaliviado d'um grande peso o Raposao quanaquele enorme peso que esmagava — do copiava oficios, com ]á o inevitavel publicase notorias eram — Deus Guarde. leyiandades da as posa, es- ninguem acreditando ñas generosidadesda madrinha, nao acreditando ninguem na chance das lote, rías todos acreditando* e semelhantes em • ele que • acreditaba nao invencionices. dias de fóra,com ]á ele ia pelos mares poneos viagem, quando o acaso, urna tarde,a poz em frente do homem que, hayia muito, a perseguia por toda a parte, tendo-lhe que escriptojá urnas ihe mandaba marido o que Teve entregar logar o por poucas de cartas, galego,quando um bia sa- estaya. nao encontró Jardim Zoológico. no Lovelace um Logo ela yiu que tinha a tratar com muito rico, incapaz de seduzir pelo encanto da sua pela delicadeza do seu trato, pela elegancia conversa, das furia,e nao cordoes á posse, maneiras. suas a homem hesitarla,para bolsa,pagando peso a o deseiava-acom possuir,em alargaros seu amor, isto é, a sua de dinheiro. Entrincheirada nos seus deveres de mulher casada, fortuna propria,fez-Ihe perceber que nao carla arrislevianamente a sua posigaonem comprometerla sem o Esse seu futuro para Ihe proporcionar um gdso ephe- SCENAS 96 disse explicagoesa DA ; VIDA respeito; mas estaya certa Ih'aspediría, de que nao já habituado aos premios da tendo posto a vista n'um bilhete, nunca cautela loteria, ou vigessimoantes de andar a roda tes annem detalhe em depois, porque nem esse pequeño esse — nada A cada passo caras, das interessava. o via expostas que o Um montras. ñas intimas relagóesaconselhára-a suas papelada que tinha conselho, tratou de da ¡oias,as mais lindas compraya Bancos, nos as financeiro desfazer-se ela, tomando ioias,muitas ¡oias, comprar objectos de prata para o uso porgáo de libras que mandou e a e domestico por e boa urna Londres,á em sua ordem. dia No em que fez anos, o ofereceulhe amante d'um terreno que tinha comprado, em escriptura d'ela,na linha de Cascaes,e juntamente com a nome a criptura es- cheque de cem contos, acompanhado de muitos abragos e beijos, d'um amor a promessa com só urna eterno ! Eslava rica,e porque parte minima fortuna era representadapor escudos, encada sua raba futuro sem médo, nao se importando nada o um com da moeda. desvalorizagáo a dia Um o amante esperado,ainda ela cao — apareceulhe eslava na cama, em casa a crear sem disposi- complementar. Preciso de ir a Paris,e gostava que fosses para um ser somno co- migo. — Tu nao estás bom da cabega ! O escándalo se- SCENAS Deus sabe se marido meu n'isso é bom, Vamos — do o apressar meu seu 97 em toda cidade,e a Brazil,obrigando o chegsria ao nao a VIDA daria brado grande,que ria tío DA regresso, Nem pensar caro. No fim devagar. peregrinagaopara Lourdes, que devagar. parte uma seguirá d'ali para mez . Vamos . . • Roma, sendo-lhe facultada uma pela Italia.Tu vaes na peregrinagao larga excursao de seguirespara Roma, até Lourdes, e d'ahi,em vez Os jornaes eacontramos. segues para Paris,onde nos dio teu o — — a sempre nome. E por quanto tempo contas demorar-te em Paris ? O tempo que tu quizeres,além de quinze dias. — Pois sim, ele pagou, e como ricas,comprou que vamos. necessidade de fazer toaletes de viagem, que Teve e gurará lista dos peregrinos,e n'essa listafi- fosse arriscado levar as suas joias joiasfalsas,de grande valor artistico, ele tambem pagou. Lourdes, aparte o Impressionou-amediocremente pictoresco da regiao, inteligentementeaproveitado agencia de milagres, espantosamente para estabelecer ali uma rendosa. A piscina fez-lhe repugnancia,e n'ela aleijadose chagosos, tendo assistido a meter viu que algum saisse curado, que mais nao nunca fosse um bocadinho mais sao e escorreito. Parecia- especiede lojado Grandela, só fortenticas aunecida de objectosbentos, caros se fossem como reliquias. Ihe aquilourna SCENAS 98 VIDA DA peregrinos que por ali andayam, aos certeza com milhares,gente de varias Nagóes, eram crentes e devotas,acreditando ñas curas lagrosa mipessoas dos Muitos imprensa apregóa e que certos médicos autenticara. Mas a grande maioria era de teuristes como ela,indiferentes em materia religiosa, certa que gente que de passando casa, pretextorasoavel para sair Lourdes nao exisse froníeira, acharia nao a um tisse. Sim, a famosa procissaodas velas imponente um era ctáculo espe- milhares de luzes batendo — es- a carregada da noite, milhares de vozes, ero orpheon mal ensaiado,entoando preces tom plangentedas tamurias monásticas e ora?5es, no n'um convento sombrio. A procissaoera um culo espectáverdade imponente, nao na podendo ver-se com curidlo mais ou menos d'uma interesse mais vez, tisfei^aa curiosídade, faz impeca Ao analysee a ser o que a sensibilidade nao farta de Lourdes. ali iudeus fazendo ver precisamente e de graga com repetigáo, iá sa- critica. a terceiro dis eslava Achou a porque na lojado mais directamente que cio, comer- seu o achou ares com descendente dos malvados cuspiram na face do Redemptor, comprou algumas dedal, que pertencera a lembrangas, entre elas um que Sania Brígida,e um cachimbo, bedeu, irmáo de Thiago, ambos No dia em ela tinham marchou que ido ela para os de outros que pertencera Ze- pescadores. peregrinos,os Lisboa, marcharam Paris. a que para com Roma, SCENAS Esperavaa VIDA 99 Quay d'Orsay, onde desperto da meia noite,indo d'alipara o Ho« embarrou o amante no Hotel de París. tel,o melhor Que DA maravilha! Que Tinha deslumbramento! impressáo de a que París era imenso um d'Opera, a realisa^aod'um contó de fadas, Palacio encantado feito á ímítagáo do Paraízo, n::an- theatro eterno, d'eterna felicidade.O de goso sáo que tinha figurado,ficava muito abaíxo do que vía,e ainda mal da vasta cidade que vislumbrara a beleza,o sortilegio Sena o corta, rio largurae sem sem profundidade, riscado transversalmente de pontes que sao, na maior parte, verdadeiras obras d'Arte. O bulicio da rúa, grandes boulevards,o luxo dos grandes theatros noites de espectáculo em ; a desenvoltura canalha dos cabarets ; as tardes do Bois, tudo isto Ibe exaltava sentidos,hyperstisiando-lhe os a sensibilidade, rasgando nos perante de goso, os seus olhos pasmados horisontes de inédito. Sem prazer especie de nenhuma Muzeus interessavam-na meos educagáo artística, interessavam o amante, diocramente, e ainda menos do que mais bronco Olha — A é que ela. uma boa niaiorparte da gente para lá vai,nao o tal Louvre ! é para ver, é contar. Prendía- se cada, mesmo que chumbada, a ás montras, n'uma sentir tempo desejos de dor e admíragao embasba- posse, em que Todas voluptuosidade. havia as ao ourí- SCENAS loo vesarias da de La Louvre rúa DA do Ouro VIDA valiam nao Paix ; todas as lojasda Baixa Galería Lafayéte. a ou Considerava*se rica só da Rué urna valiam nao o sentia-se bre popobre n'uma ierra Lisboa, mas em Paris,e reconhecia que ser tao prodigiosamenterica,tao cheia de tentag5es,de virtudes tao dificeise de vicios tao caros, é qualquer de Tántalo,o incoisa de torturante como o suplicio desejar e nunca comportavel raarlyriode sempre á sede possuir, a trágica sorte do que morrer quasi a molhar os labios n'uma corrente d'águafresca em e pura. — — Gostavas de viver em Nao. vir aqui lodos Gostava para o Lisboa de Paris ? os grande demora- sem anos, • a agugar apetitede voltar. As noticias que Ihe chegavam de Lisboa co . rando reti- nao tranquilisadoras, mas os porque projectadosassaltos O seu a a porque boatos eram pou- interessasse a política, insistentessobre estabelecimentos dinheiro eslava eram todo e nos casas ticulares par- Bancos, e objectosd'ouro e prata, os de maior palia,tivera o cuidado de os depositarno Monte Pió Geral,n'um cofre que alugara.Mas nem carar, por isso deixava de ena tremer, a hypothese de Ibe assaltarem a casa, menos pelo que representasse o roubo de que fosse victima,que pela vandalisagáoa que se entregassem mizeraveis assaltantes, os em gente que se compraz os SCENAS mal, ainda qued'ahiIhe nao fazer Communicou as suas día seguinte se no VIDA DA ele assegurar-se Fizeram o ram apenas para ela resulte o da passagem regresso quarenta Madrid, onde demora* se oito horas, tempo e logo de mingo ¡mediato. o para por e arranjaras malas, indo a puzeram amante, ao apreensoes neficio be- menor bastante valia a pena ter ali ido. Talvez achasse isto bonito se tivessemos passa- — ver» • nao que . do por aqui,a caminho de París. Sevilha é mais bonita. Havemos de lá ir por — Semana da ocasiáo Santa, teu marido o se estiver pelos aiustes. Durara longo um ela pudera estudar bém de gastar muito si por dinheiro corrente uma corrente uma por Deyia-lhe nao Ihe actos seus com e a havia um abismo, teria sempre ¡untos. qual capaz mulher, gastando uma ele acgoes^ mas a fortuna, mas sua a comprara entre seu o ela punha ele mal brutalidade que suas a ou delicadeza que a parte das os amante, homem afecta,porque maior que seu muito, quasi toda era dele, entre viagem, durante a a procurando prende!d'ouro,mas incapaz de a prender de simpatia. grata, porque era Ihe nem sem o contar, prendendo^a sem a mez sua posse, feitio e em todos o os disfargava na seria exagero havia espago separados — mesmo dizer que bastante largo que ¿stives- DA SCENAS 102 Era-lhe de cada e jos,em o dizem tarde gam Foi e más a suas bei- volupiarequintadamente perfume duma atardar Ihea pa* horas. recebeu alturas que nestas nao que dos freguezesque Lojistas, os senta, pre- podecaricias, que em delicada. De resto comegava fala,como sua bestialsensibilidade, os seus sua hayia nao que momento o brutalidade,as sua explosoesda eram agradavel a menos vez sentia próximo ría suportara VIDA carta do marido meio, dois me- era podia regressar, porque a liquidagáo negocio muito complicado,e a burocracia, no sabe trabalhar depressa.Quasi ao mesmo nao zil, um anunciando-Ihe mez e nao zes, comunicava-lhe po de antes que a para que dentro dum amante o de dois demora África, com ou mez Bratem- iria tres anos. em S. Tho- Negocios ? — Nao ; — administrar vou Joguei forte toda a e que me roga Bolsa,comprando fundos que da, dizia que teriam urna grande subi- mé! gente urna na até afinaldesceram oalerem nao nada. O qualqueróutro vitro querendo viver modestamente, a denver independente, Mas essa vida eu nao dum orgamento equilibrado. África poa posso fazer,nao a quero fazer,e só em derei calafetar o meu barco, qje faz agua por todos que ainda me resta, chegariapara lados. os — Oxalá sejas feliz. • . d'Africa rico,ou Só posso ser felizregressando deixando lá o canastro. — — E's forte,e ainda és novo. Se tiveres ¡uizofa- DA SCENAS I04 fizera,e da siluagaoque Bolsa,mas na ou negocios,banqueiros e baixas tanta sorte,que com sempre entendido,nao vez por Arr¡scou-se,¡ogando creara. perdeu. Bem palpite ; jogava só urna jogou VIDA joga^a á indicagaode por correctores nem toa de pessoas adiüinham que as borda d'agua adivinha as cbuv?as e o bom tempo. Fartara-se de ganhar dinheifo¡ depositandoá ordem, com ¡uro, ro, que pequeño do, quasi sem juro,por dizerem que a praso era arrisca- altas e no as cheia a casa uns outros mum, Comprara — — sao porque corrida urna como um ovo, aos merecimento um terreno Isso é que me Seria;mas a linha de Cascaes* parece que foi muito conhecia boa, nha, se senao quizermosvender,náo'precisamos o boca para recebermos ele nos custou. Aínda tres a já um lavrador do Alemtejo dobro do que dera por na máo. dinheiro feito, ou o quatro a vezes abrir o eslava a mandassemos terreno, mesmo nao ser que dizer que o negocio banhos a e na bar acacasa Provincia. Estou que ¡á esteja governado, se Ihe chalet antes de retirar para homem, que oferecer ele, E aquiloera homem ama- escritura feita, mandava me nos antes de o terreno desejava comprar temporada, para coraegar as obras duma Paréde, a O ou terreno, e eslava nao eu o •• opiniáo na a que co- foi asneira. de toda gente lor, ca- artístico. na compra teem sempre objectos d'uso uteis"como por Bancos. de bugigangas nao de objectosque prestimo, mas sem o de haver caso Tinha como nos a resolvemos a vender o pedindo mais alguma coisa,vinha logo SCENAS ahi destes Eu — foi que Considera correr. a nao bom fazer cios nego- ar. ; acho até terreno, ali,para raais. O vez Lisboa em casa no porque negocio foi ruim valer cada preferíaurna 105 caso, o negocio, O ha-de sitios, é que o que VIDA bem deyem se digo nao um DA que les aque- chalet aum digo eu na li- nha de Cascaes. Dinheiro tinham e o Viveriam casa. invernó do ano, que na sua de Lisboa durante casa primavera,e iriam viver e a se let chegava e sobejavapara cha- o o resto quizessem alugar. nao Ponderaran! chalet no deviam se mandar fazer casa ou cora- pela compra. Era mais talvez fosse mais barato. Compraram a pral-afeita, e determinaram-se prompto, e casa, O e trataram demonio de é que a apetrecharpara reunióes tosas. apara- tinham relagoesna alta sO' visto ele nao ciedade,e nao seria fáciladquiril-as, ser em ou no destaque na politica comercio,na pessoa industria, na finanga,ñas letras ou na Arte. Outros, com — Relacionou-se naes comegaram umas da vezes sua nao menos com a unhas, téem algunsreperters,e logo os i'orfalar dele e noticiando esmolas freguezia,outras vezes de ex.™' esposa, dera aos pobres sua que encarecendo artísticode variadissimos objectosque casa, uns adquiridosaqui,outros estrangeiro. trepado. tinham mandados o em valor sua vir do SCENAS io6 fez pintorde grande nomeada Um natural,e tamanho em VIDA DA felizna momento retrato déla retrato fosse esse porque o um vida de borra-telas, a madama sua náosólogrou tornar-se conhecida de toda a gente, miIhares de pessoas, que visitaram a Exposigáo em que conseguiuque d'elase ocuo retrato foi exposto, mas durante semanas, passem, todos mas criticosde Artei autores de mais ou menos literatelhos, novelas,que nos cafés,e outros centros de Sociedade demolir Ídolos remediada,procuram ou altares. erguer Fez-se socio de Sociedade para es os e romances só nao conselho fiscal dum o conseguiuque o Papa o de Geographia,entrou Banoo e um por trisnao fizesse conde, tendo ofere- cido para o mealheiro de S. Pedro, ao cambio do dia" milhares de liras, equivalentede doze contos. o uns A pretexto de fazer obras Avenida Palace, ocupando na uma casa, instalou-se no suite,que era a me- Ihor do Hotel. Os creados para nenhum atengóes e deferencias como dar-lhes gorgetas,urnas vestir o sobretudo,outras outro para vezes vezes com porque hospede tínham ele,sempre a o ajudavam a porque Ihe levavam jornal. Relacionou-se com políticos, os gente de todos os quico e tendo-se afirmado, publicamente,monárpartidos, dos quatro costados,um amigo conseguiuarda Conceigao,nada Ihe pedina comenda ranjar-lhe do senáo que trabalhasse por ele ñas próximas eieia correspondenciaou qóes. o ^1 SCENAS S. M. Raínba a DA tomou VIDA iniciativa de organisarco" a missSes de assistenciainfantilem da cidade, comissoes 107 todas fregnezias as de senhoras, sendo essas CO' presididaspelo parocho respectivoLogo ele foi ter com da batelao prior, encomendando-lhe urna de missas caras, aproveitando o ensejo para Ihe tnissdes dizer que viesse que mulher sua organisarse a a entrar cotnissao na estando freguezia, na contribuir para disposto a ele assistencia infantilcom avultada quantia. urna encomenda A farejarnova contentou se gostaríade faz mas meter-lhe com com de missas, o padre ela,sem que a mulher nao comissáo, na dum discripancia voto, fos- eleita presidente. se Ambigóes de dinheiro já nao tinha,porque se via de ter filhos.Mas rico, e perderá de todo a esperanga ambigdes de representadlo honrarías,afinando a mulher pelo mesmo diapasao. Porque nao havia de ser deputado ? foram"lhe e crescendo Tantos outros gado modesto satou que a vender pastagem tinha em casa, o as eram, ignorantescomo de escriptorio, até dia em que chibos,ignorando toda a gente ele trazia as cabras,a nao ser a recebida á face da santa madre Foi apresentada a candidatura por um seguro que o Governo sua seguro, de tal modo em favor,a classicamanobra seu ao ele,empredeem que igreja. circulo fez ahi, do desdobramento. Ficou eleito. Reuniu em sua casa, para celebrar o sucesso, líticos po- do mais elevado coturno, só deixando de assis- tir o por o DA SCENAS io8 VIDA chefe do governo, o presidentedo ministerio, encontrar com um se ataque de almorreimas,que obrigava a semicupios de alfayaca de cobra de quarto No quarto d'hora. em dia outro vam relato da o jomáis de maior circuladloda- os festa como fosse se um acontecí' nacional^encarecendo a captivante gentilesa dos ilustres dones da casa, fidalgos de raiz-"- quado servido. drada, e elevando ao cubo a magnificencia festa de estrondo, urna Fora, na realidade, uma ñas d'aquelasfestas que marcam ephemerides da mais mentó elevada aristocracia. E maliciosos comentarios ditos picantes, citavam-se rápido afidalgamento,a elevagaoquas d'aquelemodestissimo empregado de esvertiginosa criptorio,só abordoado ás prendas quasi banaes da sobre mulher, sem o os talentos Feríeles á famosa e a Aspasia ; beleza que sem a escravisaram ciosa: ambiinteligencia e o gosto refinadamente artísticoda Pompadour, e o charme bante perturvelage de Luiz XV, sem dominadora, de superiorídadeintelectual, a amante ao tempo L'Espinasse,amante do ilustred'Alenrbert, era em capaz de que ele,geómetra derreado, já nem baixar uma perpendicularao meio d'uma horisontal, de Berlím pela ele que se impuzera á Academia transcendencia dos sciencias mathematicas Quando que se se trabalhos seus nos dominios das 1 partiude muito baixo,por muito alto nuncia qualquer coisa que detrepe,subsiste sempre qualidadesdo adventicio. as primordiais SCENAS DA VIDA 109 Os lísongeirosencarecían! a rara distingáode s. d'uma delicadeza tao ex/, de maneiras táo distintas, dir"sehia ter ñasnatural,táo sem artificio, que creando- se e educándocido em ninho aristocrático, se na melhor sociedado. A respeitod'ele,os fargolasque o disfructavam, diziam em voz alta,para que constasse é um club' corrigindo os invejososque Ihe conheciam a man.', é favor,um biografía um clubman como cernman, diria o Beyron, se conhecesse melhor a nossa lingua. — — é que festa do Lopes, s. ex.^ o sr. Ignacio Victorino da Encarnagao Lopes, fóra um deslumbracio mento, sendo a opiniao geralque ela marcaría o inid'uma brilhante carreira política, tencia dando consisCerto a opiniaoo facto do ministro do reino ter entretido com chos o Lopes, durante a noite,largostrede conversa, outra palavraroais alta urna ou a deixando esta perceber Parlamento O s. que pior da que ex. passagera as era se de assuntos a tratar no entretinham. foi que em c¿nc0 de dutubro prodamou a República,emigrando toda a familia narios real,só em Lisboa havendo lucta entre os revolucioe as tropas fiéisao throno,meia duzia de aben- se cerregens de que causa A levaram muito tempo que nao nao valia a pena a se convencer- sacrificara vida por urna perdida. Provincia aceitarla de bom grado,pelo menos ? com tranquilaresignagao,o que fizera a capital Se assim fosse, d sposto a fazer carreira política SCENAS lio VIDA DA aproyeitariao primeíro ensejo para aderir á República. Considerava-se sem cri* responsabilidades nos erros e faltasimputadas á Monarquia, eleitode* mes, putado, pela primeirayez, poucas semanas antes de proclamada a República,e até áquellemomento nao tendo afirmado monarquismo senáo por signaes de respeitopela familia real,em festas de caridade. Paiva Couceiro retirara para a Galliza,ameagando a República,e era voz corrente que ele se preparava para a o poderes que República que O melhor as seria esperar rosas nao ensejo para sua adhe- restauragáo da Monarquia. hesitou mais se do poeta. de coincidir a incursao couceirista fez-se, completo. O Lopes tendo durado desfecho d'essa aventura, o caso a mais pouco celebradas o incursao auda- republicanoa entregar-lhe usurpara, República com á A Governo fosse dar-se nao sáo seu yir á frente de tropas,n'uma ciosa, intimar os o e foi um desastre aproveitaria o primeíro declarar republicano. Nao teye que Em Abril foi publicadaa esperar — muito. Lei de Separagáo das Igrejase do Estado, e logo ele yeio á imprensa de clarar que daya a sua adhesao, fervorosa e desinte* ressada,ao novo regime,visto o Paiz ser republicano, podendo, contra a sua vontade soberana, pree nao valecer os integrarana Ao mesmo á interesses d uma dynastia,que nunca se Nagáo. tempo que dava a sua enthusiasticaadhesao República,Lopes alvitrava que se oferecesse SCENAS 112 e correligionarios m\-o, Ihe que de posigao po Nao aceitarla fosse, preferindo até entlo, se Oriente. o seu longa viagem, uma Ao cabo Deus que o de política,empreen- a qual seria, do liticamente, po- servido. fosse poucos e do despacha- fosse nao termo no Poder, ao estava mezes, governar a o partido. seu Como ele Oriente, foi Dizia o versado caso qualquer nhuma podía parte ele em bohemio um Nao — grande mostrava tros, assentando-se do motivo, ciencia, impa- sem partido subisse qualquer por sulado Con- um Esperarla, desejava, abandonando como deria que o como negocios, fosse onde de encarregatura urna ou vontade boa de tem* o esquecer. e Ministro como no dis" na anos, consolar se LegagSo, urna uns ser- fóra, estava porque Portugal para em lá situagao urna de solícitos tac fcsse, que fóra mas ; ou o necessario queria Secretario mostrayam se passar fosse que VIDA arranjassem fosse estrangeiro, DA o estaría Long-Corn — ser Lopes tanto que conselho em mandal-o de ir para de acertada irla no bem; seu era a a mas o Minis- " ! Siáo. para café, comentando mais tal de desejo o escolha. como graga de na S. M. : Para parte em logar caso ne- Corte ! \ Galdérias As Entrou, bébeáo tinha nao porque o de costume, como jantarna e mal entrou, pregou-lheurna meza, bofeíada. Atirou-se para e só cima n'um chale,entregue dormia, enrolada da Chica, emquanto a máe, visinha e queali cuidados aos comadre, ia dar voltas. urnas Era a a zita de arca barata, sem prostituta mizeravel d'uma casa mobilia que outra ras, trouejando infamias, cama, esborrachcuacreancita mílagrenao por da em nao que fosse urna guardava pinho mal trabalhado cama, as roupas que em duas cadeiuma e faziam me- as suas de chita dividia o casinhoto,e biombo Um refeigoes. algumas imagens de santos, com retratos de toureiá mistura,recortados dos jomáis, decoravam as ros paredes, brancas A um canto ¡olos entre os de cal. estava instalada quais fazia lume a ccsinha quando nao — dois ti- prefería 8 SCENAS 114 mandar yir tanto Ihe comida a chegavam freguezia;mas a vintem, um cima a e DA VIDA da taverna,em ganhos. Nao os amante o nao a roubar, ainda perguntava vezes si mesma a resistivel a prendíaáquele homem, tinha nunca Se ele — Quando o habih que é essencial Muito ao caricia, boa palavra. uma • • vida, mais deligentedo sua sabendo do de económico, era está bem xos, menos oficioo bastante para seu valia,que somencs escusadas demoras. sem como a obras brutamontes um trabalhaya ele de pedreiroe conheceu mas ihe confiarem cutava por forgair- sorriso,uma um ao que deixasse,mataya-me!. me ganhava belamente e ela para gesto meigo, sequer um deixaya coalhar espancava. Muitas que para Ihe faltasse que a satisfeitode nao frente,se a sua Ganhsva casa era exe- muito bem, farta,sem iu- nada Ihe faltando do que de ver, mas conforto d'uma familia pobre. arranjada,a sua Margarida,que á face da Santa recebera Madre Igreja, tornava-lhe o viver caseiro tranquilo com e agradavel, fazer o comersinho, e na muito geito para tura cosisso fosse a sua profissáo. trabalhando como se legitimaesposa por De modo o qua melhor do seu tempo, quando nao cía aborreem casa e nao se trabalho,passava-o a mulher, lamentándose conversar com a miu- tinha a do de nao saber urnas letrinhas, completamente anal- phabeto. - Olha que é uma triste coisa uma pessoa nao ser SCENAS de 1er capaz e DA escreyer o VIDA seu 115 havendo nome, cegos I Nao tenho perfeígáo das pessoas invejade nada n'este mundo, senao que n'um o que jornalou num \mo, e entendem pegam cá no sitio, lá está. Se houvesse urna escola nocturna leem que e escrevem na fosse paga, ainda que ajudasse é eu que nao só • se o . - entendimento me nao aprenderíaa 1er. Deixa lá,filho. As pessoas n3o sabem ler, que O pobre só nao tambem se goyernam. pode dispensar — a saude, porque Ihar,e A e adoecendo, trabalhando nao em em ganha. nao sábado feria entregaya-a á mulher, no no dia seguinte,pela manhá, voita,para e ela Ihe dava uns mais pedía, preveníndo a hypo'hese de á noite, resolvía dar se espairecer,pedía Ihe sempre pode traba nao urna vintens para do que baco, ta- ele Ihe ter de sucíar com amigos? beberrícando na taverna. Jamáis,em días de vida, ele apanhara uma sua bebedeira,repugnandoIhe até o vínho fóra das refeÍQoes nao fugia á ; mas limitando-se a ocasiao, quando se encontraba n'ela, molhar despejavam um copo. Lá um golinbode aguárdente,pela manhá, á matadeia de bicho, era coisa que ele nao díspensava,sobretudo no inyerno. A Margarída,sempre solícita, manhás de frío cortante,salpicadosde geada os ñas telhados,quando ele se dispunhaa saír para o traba* chavenasinha de café, Iho,oferecía Ihe sempre uma muito os beicos quando quente, randolhe que outros ele procurava aguárdente. arrefecer . • . místu- SCENAS ii6 DA VIDA cá por Até regalaas cacholinhas, — Seria feliz,inteiramente feliz, se ia mas tres em a esperaba boca; a mente baldada- e mulher apareurna menos, o fosse necessario. tanto O — hora que a filho; um obrigariaa ganhar mais e a dispensando-sedo vicio de fumar, se isso apenas mas gastar toda casado, era que tivesse estado interessante. Seria mais seu no cesse anos dentro. é mais homem que fraco que urna se deixa dominar por vicio, um mulher. Era curioso ! pais d'ela,pobres até á mizeria,tinham ende cinco;os pais de filhos, nada menos chido a casa d'ela,chegaram a senos tar dele, táo mizeraveis como á meza tres raparigas e tres rapazes]á tinha consultado médicos, e todos Ihe diziam desesperasse,porque úm belo dia,na hora nao que Os esperada,teria o que tanto desejava.Ele era tivera doengas,a nao ser em pequeño, forte,e nunca bronquiteimpertinente, bexigas doidas e uma umas decurso da dentigad;e ela era táo forte como ele, no menos peito ampio, bacia larga,e só to medico dezoito que por sinha, um ou absolutamente no do quatro. o tinha E c¡- arroz. authenticos,de anos sem terem Ihes chegar de Franga, n'uma lindo menino, regis- seu encarengaram, monda na seis,oito,dez estiveram acabando tres casos, a que apanhados anos, tavam-lhe sesoes umas contava casaes filhos, condes- primeirod'uma serie de SCENAS Resignava se a é certo que mas t¡a-se resbalar urna 117 ouüindo informes, taes espera, desespera, e ele sen- fase de desespero, que quem a VIDA esperar, de tristeza sombras DA poria risonha tranquilidade do na seu lar. A mocidade é desvalorísa, e a todos productivo antes tornar sucedeu que a Margarida, um tisfeitae apreensiva,disse-lheque constantemente esquisitas, ao que d'esse rendmento o dias os se pital, ca- cipie prin- que desvalorisagao. sua Ora filhos sao os conyem que capitalque um sentia sa- coisas urnas enjoada,nada ihe sabendo de quando e era, dia, entre quando acicatando-a em um Ihe tinham apetedesejo forte de coisas que nunca cido, limoes azedos, por exemplo, cabegas de sardinha e casa, carne em á tentagáo de — — fazer ter que sem E sentes Nao; na comer parece rúa, urna ?• mexer mas tendo sangue, já urna saido de vez só para nao bir sucum- pucarinha de barro. . que estou um bocadinho mais grossa. Levou-a ali perto, havendo por a na quem parteiraexaminada, que morava dava consultas de graga, dissesse que provocava desmanchos mesma rúa, dinheiro,valendo-lhe de pouca 7- urna e ñas clinica, a quem ocasioes dificeisum ela mandava Entao, senhora D. Maria ?• . . pagar dico me- nerosamen ge- SCENAS ii8 DA VIDA Vá preparando o enxoval, e hora feliz, bem o merece. que — uma Deus que Ihe dé alma noya, e a partird'aquele dia, furia de economisar, deixou de comprar tabaco, Entrou-lhe na uma domingos deixa9a-se ficarem casa, ou saia com fosse ter necessidade de entrar na taa mulher, nao com amigos, fazendo qualquer despeza. verna, e aos Deus Queira — E seja um que rapaz!» • . rapariga? Se for uma rapariga,comtanto que saia á ra3e, olhos. ás meninas dos meus hei-de querer-lhecomo — for se uma — O pequenino ser em formagáo, yaga hypothese d'um traquinas que dentro d'algunsmezes enchesse de ruidosa alegria. a casa mesmo quando chorasse motiyo aparente, era já a preocupagao constante sem Margarida e do marido, ela da mento do yentre, mento das heryas,ele como fructo,como d'aquele yerdes, ainda — Nao na aryore sentiste agora. lado tinha yencer a o a como - e a apressar maturagáo gulososamaduram apalpando os. ]o5o a figos os ? creanga cabega, se quando somno, espreitaro cresciespreitayao cresci- outro querer os Gostaria de saber a o a estaya estaya, de que quietaera por quando daya pulos era por Ihe doer alguma coisa. — Os anjinhos,ainda antes de yirem iá sofrem. a este do, mun- SCENAS I20 Se — calhar,quería ver Hum!... — saber para vindo-lhe Vendo se menino o Provavelmente onde menino o o tem que gemia- . . ele quería era cabega virada,ou- a respiragáoda boca. a a chegavam nao que consultar VIDA DA acordó, resolveram ir a Ihe poria tudo parteira,que pratos em limpos. é nada d'isso, sr. Francisco. O que Nao — auscultando ouye, das maes, yentre o coragáo dos filhos.Quando do forga,é a mega a porque te gen- tíc-tac o coragáo bate o está bem creanga é a ; com quando ele co- enfraquecer,é precisomuíto cuidado,porque para, é de vez. se me que ás escutasse, porque menino meu D. paciencia,senhora Tenha — se nao mexe, vezes María ; gostava que parece-me, Ihe faltarem por o for- as gas. Tendo D. María auscultagaodemorada, feíto urna dedarou o que menino estava a senhora muíto bem, cabecinha para o lado esquerdo,sendo n'essa posigáo favoravel que ele rompería a marcha, quando com a chegasse a hora de — — nascer. ría? senhora D. Macoragaosinho, Ouve-se bem Ouve-se lindamente;parece o relogiode um pa- rede. — E onde do para — é que escutar Aqui; mas O Francisco a senhora melhor D. María p5e o ouví- ? isto varia muíto. marcou com os olhos o ponto indica- SCENAS DA pela parteira, e foi do VIDA como ahí tivesseposto se urna balisa. A' noite,assim que se meleu na o pedreiro cama, a capoz-se a auscultar a Margarida,percorrendo com bega toda redondeza a Queres — ver do isto nao que nadaouvir. ventre,sem seu d'uma refinadis- passa sima intrujice ? Contentayase, á falta de melhor, em Ihe sentir os pulos,os pontapés, dizia a Margarida,convencida de o que pequeño, sacudir para encolhia primeiro, {¡cando cima, dobrada cruzados A — cabega peito. no gente devia que da os imovel da outros os forga,se cintura para frente,e a para como ser bragos os animaes; assim logo da vida, tratam nascem, Olha — a pasitoscom os pintos,que engragadinhos! Mal saem íivessem caido n'agua, se pingando como metem-se logo atraz da mae, e d'ahi a pouco comem pelo seu bico,sem ninguem os ajudar. E os bacorinhos,ó Margarida ! Era urna coisa casca, — me que entretinha muito, quando ir á malhada aos procura das porcas, sua a conhecem os das outras os parecidos uns com filhos,amarelos seus todos do porcas, com tino os que ás escuras, teta, mesmo outros Aldeia, na d'elasdarem á hora leitóesinhos.O seus estava ou mar ma- cada um elas como pretos como tamanho, mesmo como e de os bagos da tao mes- espiga I ma — '- Assim é que Pois devia. A a gente devia maior ser. parte dos creangas, antes SCENAS dos dezoito mezes, até nao de DA nao se de rastos,e senáo mexem guardadas,porque sabem líyrar-se dos perigosnem aquilo procurar íaltar o leite, necessitam. Se nao heide me que quatro aos amamentar o precisam anos tempo que a ao ano e meio, que por- alimentagáoantes de dá cabo das creangas. Se fór — ser filhinho até nosso tenho ou\7Ído dizer um escola,que na VIDA eu tendo sete em rapaz, nao quero está logo anos ele fique para que ahí sabendo fazer o pai,nem sequer E se tiver cabega para os estudos,até seu nome. onde chegarem as minhas posses, hade ir pr'olyceu, mais nao seja para se empregar no comercio, que profissáopouco trabalhosa e que dá grande que é urna alarbe um como o rendimento. Se fór rapariga-. Gostava — de • de chapeus, porque costura a Lá creada de servir é que Antes a tenba vestuario seu em e eu sem casa sustento a rouito do puxa nao fazer modista quero que peito. ela seja. ganhar nada, que a sempre gente hade o para arran- jar,se Deus nos der saude. de nada está mulher, Urna rapariga! Em menos ahi comega se guarda a e gente a guárdala como uma arüore carregada de boa fructa,plantadaá beira do caminho. Bem entendido,nao a quero para freirá, — e em que as Ihe chegando Deus a Ihe ponha ocasiáo,se fór coisa de geito, a consinto. Penetra que me da rapariga,tem pouco cima, que nao se lá cabrices virtude. Mas ronde uma ajuda a ela. a porta carga para de pau nao zer faem SCENAS Agora — fazia sinto nao mexida, urna DA o VIDA 123 Ainda pequeño. parecía que ha bocado vir cá para querer fóra. Provavelmente — ras mais d'uma fazer bem Ao hora, e ferrou o os sete nos ardendo e para dormir a aquí medico Isto é — colber — em febre,a máe tam- Margarida caiu de niquete cabega metida n'um tor- vómitos, como aconselhou caso um no da comego gra\7Ídez, ihe arranca- : muito serio. O raelhor será re- ao resistir, e talvez que a nos a mezes, hospital. E hayerá perigo para a creanga, Perigo,ha. O mais provavel é — dizer. ha a Vamos constantes, incoerciveis, parecendo que entranhas. cavam as O asnei- as mesrao. entrar cama, estado gente tem a que de ouvir aborreceu-se se a sua morte doutor ? sr. a creanga contribua para n2o que salve. Julgou que endoidecia,ouvindo estas palavrasdo medico, quasiobrigado a optar entre o filho e a mu" bocado do seu um filho, que era mulher, que era metade da sua alma. Iher a -- o Todos, na mais do que se a visinhanga, estimavam todos estimava-a Ihe instalou em casa a desde servir-lhe de enfermeira e o a Chica comego de creada. coragáo, Margarida, e Fragosa, que da doenga, SCENAS 124 VIDA DA primeirosdías o Goes, sobrecarregadoagora despezas de medico e de botica,ia de manhi trabalho, vinha a casa na folga do meio-dia, o á cabeceira da enferma, solicito noites passaya-as Nos com para e as carinhoso, recalcando e seus os Ihe sua presentimentos negros urna a — esperanza ddr a disfargando e incutir- querer n'ele diminuia d'hora para que hora. agravado o mal, resolveu Tendo-se voltar nao ao saindo de casa só para ir á botica ou á mertrabalho, modas. andangas incocearia,poupando a Fragosa a essas Fazia dó vel-o macerado, a tornar-se esquelético, dias quasi £ dormir, sem senáo dias quasi e para nao sem pé d'eia ao aquelas palavras horriveis do medico, queimando-lhe o coragáo como um ferro do filho contribua para morte a afastando de se noites e chorar á vontade. sempre talvez noites comer, braza em a que máe — se salve. Santissimo Pode máe, como feliza ser se se do mesmo Mas . ele bem se logar para do matando nasce os ambos dois no a no mes- afecto,dupla mesmo o menino sús Jeobjectoquerido sorrindo nos bragos da sua Máe — cheio de graga, Santissima ?• que coubessem nao coracáo, alimentando imagem ! creanga houvesse nao lar,como mesmo mo lá de Deus nome - via que a catástrofe seria completa; DA^VIDA SCENAS filho morreria o que dois abrindo-se os como — lesse o salvasse a máe, para se que só cova, urna de que urna es- sagrado horror á mormiseravel farrapo de existencia vaura absoluto,a imperturbaveitranquili* tranha covardia te sem 125 se repouso afastava,um o dade do nada ! á boca oragóes Acudiam-lhe blasphémias,todas e pequenino, e todas as imprecagoes que fóra aprendendo na escola da vida, mal resignadavictima da justigahumana, e as a Ibe ensinara que preces justigadivina,que máe, a nunca para em ele fóra carinhosa e prometedora, assaltava o agora, torva e inclemente, envenenado para mais brandindoum punhalassassino, seguramente produziros observagao cuidadosa e demorada, noite, chamado com urgencia,o medico decíajá tinha fracos signáisde vida ; a que a creanga poderla sobreviver-lhe algumas horas,mas seria Depois d urna rou máe urna tentasse para a salvar. levassemos para o sr. doutor ? hospital, inútilquanto E — se a se Provavelmente — Nao tardou se que a morria a no caminho. Margarida,soltando estorcesse intervalos d'uma vir efeitos. seus em um lacera gritodi- convulsoes repetidas, com Ihe oua mal se lethargica, queixo n'uma tremura quasi im- acalmia respiragáo,o olhos bagos,parados,a humedecer-lhe os perceptivel, entre branca e amareligeira os labios numa espuma lada. DA SCENAS 126 Sobrevem a um os percorresse cabega e e calcanhares, ergue nos geme, todas gritomais lancinante e mais anteriores ; a pobre enferma, como firme na corrente eléctrica, urna ouve-se prolongado que se convulsáo mais theaíral que urna outras ; as VIDA contorsoes em o corpo n'uma guiñada, dolorosas,a partiro coragáo. Sentenceia D. Maria a Proya^elmente — é a : créanla E foi dispondo tudo, n'uma vai que ajudada pela acudir ao anjinbo, pressa, Fragosa, para convenientemente hypothese,nada provavel,d'ele nascer na Pelas contas que dava o Goes, e pelo que Margarida,já de nascer. com vida. dissera a zas, aquiloera ventre de sete meesta incompletagestagao multas creangas e com sem o auxilio da chocadeira, como a vivem, mesmo senhora D. Maria, avéssa a modernismos, thamava mercé da qual se teem salvo multas exisá cduveuse, tencias cama, condenadas. Na verdade a de vida ; o creanga nasceu ; mas nao dava sig- corpinho roxo, a face congestionada menino um perfeito,disse a Fragosa, a querer mentir ao Goes, quasi emparvecido pela dor, perdidas naes — todas que e nao que a esperangas as o morresse o medico Ihe dissera filho já poucos seu máe desde que de ao poucas mesmo signaesdava de vida, horas Ihe sobreviveria, se tempo. consciencia do que Desembaragada do filho,sem cair n'um somno se passava, a Margarida pareceu dores, os olhos fechados,a respiragáo sem profundo, 128 SCENAS ver, ali estaba para fazer como Vamos — preparava e lá,senhor Francisco,tome gostoso. Foi que está muito que Ihe sucedeu ofereciá se — tar ma- violento. acto um por canto, sem um de fome, incapazde quizessemorrer se a palayra,mal tocando urna Fragosa Ihe a que VIDA Goes, enrolado dizer gesto,sem uní comida na o DA pode já dar remedio, d'estamaneira, e a nao grande desgraga o uma Deus nem ; mas Nosso vocemecé, e a Ihe Senhor mortificar-se alimentos,ar- tomar querer este caldinho risca-se a caír de cama, podendo ficar doente para é um dias. Vocemecé resto dos seus homem novo pode ser que ainda encontré perdeu, que agora a gente vida na a ; felicidadeque sabe para nao o o está que n'este mundo. A Fragcsa ia dormir a casa todas as noites ; mas pela manha, á hora de abrirera os estabelecimentos, vinha para junto do inconsolavel viuvo,fechando a fazer conta ao que deixasem porta á sua freguesia, de ganhar, nem va pensando em sequer que viria a de qualquer forma a sua incomparavelsolíser paga citude carinhosa e Nunca tanto supuzera uma cabega que O homem um que pudesse amar Ihe passara mulher; nem a sonhar pela táo violenta, táo desabrida tempestadepoderla rebentar em áedicagáo. dentro do coragao humano sem o zer fa- bocados. Goes amante aparecía,assim, de todos os aos homens gosa, olhos da Chica Fraque Ihe pagavam, SCENAS da vida moga héroe que ao de Hercules Porque ao homem quando quando ía forte remedio, sem Foi-se de e Jesús no a ainda corpo um cie espeamar. para seu caminho, á yirgindade susti- a tirasse do a a — amoravel, que e cair, que a aviltamento do o grenara, sofrer para santo um vida,ainda rescendendo a do bergo, um uesse lempo mesmo leria ela encontrado nao comegar 129 semelhante registopolicial, com fosse VIDA DA Ihe charco nao gan- alma ? desentorpecendo Goes, animal a e pouco pouco acorda que dum aventura mal- o longo hybernante,tolhido de movimentos. somno A saiu de casa foi para ir ao primeira vez que cemiterio,abordoado á Fragosa, que nao quiz deixál-o ir sósinho, no justificado recelo,fraco como estava, de se deixar colher por vel hipotese dum desmaio, um na carro, sem possi- amiga pessoa que ihe acudisse de pronto. O pouco medico, paga mindo sem empurrava vidos cer, restava das que a botica,pago o enterro, foi-o consutrabalhar,e porque a Fragosa quasi o os necessidade de freguez do propósitosque por ciedade- a copitos,em cuspo, o se distrair,de frequentara taverna, conversar, para seus martelando-lhe fóra de casa, habituou-se beber que o a para com economias, pago suas nao mas sucia,nao atribuindo á rebaixariam aos menos os ou- espairepara deixando de beber fossem tomal-o sua olbos abstinencia d'aquelaso- SCENAS I30 foi adquirindoo Assim creou-lhe o gósto, VIDA DA habito de beber; o habito de..tro e bebia pouco em sem metido na taverna, nao medida, sempre precizando iá de companheiros para despeiarcopo conta nem sobre copo, nao se dispensando por fim,ao recolher decilitrod'aguardente, a casa, de emborcar um para temperar Para a vinhaga. Goes o havia nao a fase alegre da bebe- deira,aqueie periodo de falar incontinente medida sem os que centros e gestos resultam da excitagáodo alcool motores da idiagáo, na e dade das pessoas que se embebedam. davam-lhe uma yivacidade maior copos Ihe desenteramelavam nao a iingua, e de fugaz de excitagáo, companheiros, sucedia mal bre so- quasi totaliOs primeiros olhos,mas aos periodo esse a apercebiam os fase depressiva,nada uma mais fazendo do que beber, mudo e quedo como um animal empanturrado. Entraba na dando os bons dias,abalava tayerna dar as boas noites,e no intervalo,de muitas sem que horas, mal respondiaao a tudo, ouvindo que as se Ihe perguntavam, indiferente mas vozes, nao do reparan- palavras,de quando em quando fechando olhos,para ser mais completo o seu alheiamento. ñas Para evitar alusoes desgrana,logo referencias directas á ou frequentara desembaragou-se do luto,de todo o luto,nem conservando no Fragosa logo Talvez nao no que chapeu dia a comegou o fumo com seguinteao tivesse caido na que o os sua taverna sequer eingiraa do enterro. bebedeira se houvesse SCENAS remedio um para thesico da actuando e a A anes* parcialmente,mas Sim, acabaria de que a coragem vez o para um a Fragosa tratava Ihe da roupa o era nada pessoa zoológica. verdadeiramente era fazer,e na caira, que sensibilidade de sua de entidade rio; marti- seu o abjecgao em sabor de yolupiaque de toda apenas casa; especie de resvalara,na que como nao urna faltava-lhe restaba que esquecer, 131 eficacia. com mas havia VIDA memoria, actuando Matar-se?... mizeria DA e a dona sua de fazia-lhe a comida, nao e gastando mais que o absolutamente indispensayel, só muito instada, uma vez por outra, condescendendo em partilbardas suas refeigoes,sem tempo para o servigo,embora muito reduzido, de duas cosinhas,a distancia pequeña da outra, uma na mesma rúa, diferentes. casas üm dia,ainda meio estonteado pela bebedeira da verificou que yespera, boa vida desde que a se Ihe acabara doenga da o dinheiro,á mulher gravidadetal,que nenhuma esperanga era permitida. Foi por o relogiono prego, o relogioe afectara de uma e — em assim conseguiu recursos recursos de copo, de prato nao o para está bem interessavam meia a cadeia, duzia de de ver, que os cura dias sos recur- grandemente, Era cia miseria,a formal advertende que, a continuar a sua vida de madrago e bebedo profissional, teria que fazer-se pedinteou lao aviso que Ihe fazia a SCENAS 132 fosse mais dráo, como VIDA DA do mais de conformidade gosto seu estivesse ou aptidóes. A tudo o que foi empenhando e pouco pouco nao possuia de valor,e como resgatava as cautelas indo até esquecer-se de pagar os juros,uns modestos jurosde doze por cento ao mez, objecto empenhado, era objectovendido, de taisvendas nao resultando ele para Numa reduzir a para sem ocasiáo o menor em que beneficio. se cobres, a suas as pos a desarmar a cama, Fragosa perguntou Ihe, a de recriminagáo: ares Se — com da desfazes te cama, onde depois queres dormir ? Aproveitou a trazia que a cacifo formular com Isso é que — eu d'este mundo. partidosao sempre assim. para nao e . . aqui a Gragas meio, para a O escusas Recomegou o nunca melhor faria por Deus nao o se : é deixares a devo cinco réis aluguer da nao me minha casa faltara sau- de pensar nisso,que é tempo perdido. trabalho em que estava, e que por palavrasda Fragosa, nao discutir com nha a o ela niarchado o coisa nenhuma instantes interrompera,visivelmente contrariado as verá atre- trouxa. hei-de arranjar, o ponto é de. Nao; e proposta uma suficientedaresa a como trazeres e Ihe fazer para engatilhadahavia muito Assim — sota a sua se com atrevendo, contudo, inabalavel resolugao.]á ti- tudo quanto tinha cotagáo no prego; única coisa que restava, podendo valer custo de meia duzia de bebedeiras. cama era a SCENAS Deixa — a cama DA em VIDA socego, 133 que d'esta vez ainda te arremedeias. Foi máo e a um que em fdra que voltou trazendo e cemiterio,pelo ao na seu brago, havia Ihe tinham que coragáo. Teve o pulo, fio douro, que pertencera á Margarida, ele Ihe dera, afogado em lagrimas,no dia tres semanas e n'um casa, um levado para lá a alma movimento de repulsa,o mi- seravel,perante aquela recordagáo da mulher que enternecida esposa que Ihe fizera sentir alegríassem par dos lares bem constituidos^a tanto amara, as inefavel ventura tem por base o da amor sociedade sem matrimonial quando calculo, a felicidaded urna pobresa honrada, que tem tudo quanto deseja,porque acto da mesó desejao que pode ter. Foi um dula, rápido e sacudido, em que nao tomou parte o cerebro,escurentado pelo vinho. já nao tinha literalmente nada que empenhar, obrigado a despejara casa por nao trazer o aluguer em dia,aceítou o oferecimento da Fragosa, Quando para continuando viverem juntos, ela, para desgranado modo de vida. dos dois,o — Vés?* estavamos seu • • Se agora me bem tenho desfeito da minha casa, servidos. nunca Miseravel,despresivel, vislumbres de decdro, nem abaixo da condigaohumana. nobre, sem sustento mais teve nogáo do vergonha, degradado Incapaz d'um sentimento energíafisicapara qualquer acto prestí- energía moral para qualqueracto digno, sua exviuyo da pobre Margarida era o vicio na sem moso, o VIDA DA SCENAS 134 abjecta,era pressáo mais das na yirtualidade formas infinitas. suas Incendiario ?. O crime o as que • • Ladráo ?. . • Assassino ?. . • tiva inicia- circunstancias determinarem,sem qualquerforma de actividade útil,sem resistencia para as solicitagóes que a Moral condena e a Justigapune. para n'estasalturas da vida Foi entrando em rou cima da para milagre nao casa, bebedo o que como Goes, tarde, uma de costume, se ati- trovejandoinfamias,só por rolada esmagando a criangaque alidormia, encama, dre, chale,emquanto a máe, visinha e comaia dar umas voltas,no grangeio da vida. encontrara Furioso porque o jantarna nao meza, n'um horas tendo, aliaz, nao pobre Fragosai que mais em vez que no um Bairro esbofeteou a iantar, ligaraa ele desde aquela certas de se rufia dos mais temiveis Alto, chamando-lhe e mais temidos vadia mica, econó- Goes, apalpandoIhe o rabo com forga.Caiu-lhe em cima, o Goes, aos tal sova pontapés e aos murros, pregando-lheuma tiveram de o levar d'aliem bragos,gemendo que a na como Nem até separara ao tinha o violentamente do salve-rainha. cheio de vinho chegou a passar pelo somno, nó da guela,e ainda assim parecendo Iheque desde a vespera. estomago vasio,sem comer SCENÁS 136 VIDA d'uma vibragáo derradeira a DA consciencia que extin" se gue. ela, Mas esvair-se a assassino chamavam dispunham se consumiu a Ihe que ele o — Nao ¡a que que restava olhar seu que deixar-me• . podendo nao viver abandono. peguei • que que sem na restava de de vida, deixando acabou; nao e • ele, preferindo faca • morta. • o eeu, a quasi sobre piedade mal-.. fez ? que cair outra- tem ? estava me que em forgas, d'amor cheio ele notou esforzó Ihe . Nao n'um e Ihe que prendían), o amortecido, culpem, o viu ou9Íu sangue, lynchal-o, pouco o nada ; em : Disse entáo... morte ao Bois Quando ia soou foi este A mal empregada baragada, mais de cigana. simpáticaque sem essenciaes as gente bohemia. De bocadinho sem chela umaleyissima a Amelia requestada até de seu ou eram a por Rodrigues comentario de dos to- ! bonita,um características dessa sombreando-lhe o um mea, adiposidadesde mulher mais typo vago mais do que estatura penugem era o Amelia rapariga perfeitagae desem- uma era a Antonio, mestre — Amelia Aldeia que na o com casar mansos gorda, labio superior, requestadacachopa da Aldeia, mogos que já tinham alguma coisa herdeiros presuntivosd'uma fortuna- sita rasoavel. Com todos brincava,parecendo que trála,mas em conservando gosar a sempre mocidade — a todos dava livre o coragao, solta como a tada apos- rola na eirá. Constou, um um mogo de dia, que ela prometerá Messejana, com quem casamento a balhara toda a SCENAS 138 DA noite, pelo S. Pedro, de Ihe arrastar de cada e vez que e aparecendo a miudo asa, aparecia tendo que conversa de fóra roubar Aldeia, na artes de melhor a ovelha do se rebanho tal era havia impedimentos a por-lhe,se nao deixara mais nunca ela,na rúa ou caminho do pogo, Era pena que víesse um ligeíra. com urna a VIDA tade da Amelia, ¡á idade de boa em se contrar en- para lobo ; mas a von- casar, em- as sitios,a regra fosse casarem andando os mogos avisinhar da trintena, no raparigas, idade. pela mesma Era mentira, e como o pretendido noivo,seareiro bom partido,um óptimo quasi lavrador,seria um ali,nos bora por nbas nao pobre,as senhoras vis!* mente criticas á Amelia, e maliciosa- qualquermoga partido, para poupavam preguntavam principeencantado S. M. — nada vale O Que Um rapaz que nao íem mais quer ela ? Ihe diga,e ¡á senhor d'um arranjoque se — que bom par courelita de radia, que corrente de vintens. herdara rapaz quarto, e ou ela estaría á espera d'algum do rei da Alexandria,se é que solteiro. era um se que pagava habitava como que do pai um foro, e com a tivera sorte tinha ao canto olival, urna pequeño mae. com da de casas umas Semeava as arca térras searas, uma mo- era ao voz mánchela de dinheiro. Cualidades guem todos Ihe reconheciam Ih'os apontava, a nao ser uma ; defeitos nin- acentuada pro- SCENAS pens§o só 139 apurada e\7Ítando de gastar se nao luxar,nao para VIDA DA para vestuario, mas no ser a mais sécía,a o paicomprara, maís perluxaraparigada Aldeia. V/iviacom a n'uma mae casita que boa parte do dinheiro que gastando n'essa compra tinha,maioral d'ovelhas a caminho de arranjarum sofrivelpeculio,quando urna camada de bexigasnegras matou o em Iher feita, e para te porei.Quando gos, isto é. o a Amelia pai,filha única,um era mu- ai Jesúsonde ele ia \7estira roupa, aos domin' adornaya-se com melhores gaas suas las, Amelia a dias. ]á poucos as com mais vistosas.E garridices suas desgranado,de por a filha xigas, a andar, fóra de casa, logo que soube que tinha benSo fosse pegar-se-lheo mal, desfigurando aquele lindo rosto de pastorinha biblica,trigueira teve a como rara coragem, o filhasde Jerusalem,formosa as como as ten- das de Cédar. Gostava de vestir bem. para Rodrigues, e se fosse necessario alimentar-se mal, da vestir bem melhor Amelia vontade a pouparia nos alimentos para gastar trapos. nos Outro defeito tar de ter boas Ihe apontavam, senáo nao saias,bons vestidos,bons de goschambres o botas, lengos de fantasía,dos melhores ou paneirosvendíam, do melhor que e havia chales de abundante ñas os ramagem, loias. Dizia-se correntemente, ros: que no falatorio dos soalhei- SCENAS I40 Amelia, se tivesse posses, A — Gostava de isso como bem ^7estirbem, era perfeitamoga, De que com melhor a que urna as podia,e Ihe apontavam* de Amelia, além moga mogas que urna ser perfeita. da Aldeia a como eram a havia obstáculos invenci^^eis. A qual nao nao alastrara pelos campos, como boje; o vestuario,ñas luxo ainda e o de diferengade nao terem as maos ela tinha,e urna forgade vontade perante Amelia, só a era resto,todas prata Rainha lu- a único defeito que o podia dizer se nem ela. como xava VIDA DA aldeias,balisava de embargo as diversas camadas formulas n'estes últimos tempos de democracia febre do intensa minadora do- e cidades,vilas sociaes sem pratica, que perderam, confundidas n'um se é ridiculo. igualitarismo que, além de inostbetico, A grande guerra veio nivelar as dasses perante o escapando a o alfaiatee a costureira, nao sapateiro, este rasoiramento a gente rustica,só por milagre nao se tosquiando ainda as mogas da aldeia,como horrivel calhaas senhoras da cidade,desde o mais mago esbelta donzelinha mais á uma co com seda ao pernas meias abrem esticadas, e que n'outro d'algodáo, já se tempo a curva so- nem afizeram á seda, alcance da gente pobre, seda tao poU' resistente,que Estimada já as conta- das saias curtas,mal tocando giou a moda do joelho, e nhariam Mas de no muito proprio dia da estreia, buracos. todos, de todos merecendo atengoes,quando se espalhou que a respeito Amelia ia ca- SCENAS sar com só pessoa urna urna desse por nao já com e creanga O a que nSo rapariga tao prendada, urna — VIDA Antonio, mestre o DA o táo 141 houve Aldeia na mal empregada agradavel,ainda moral d'uma pessoa grande. Antonio, filhote do Algarve,era mestre teirod'obra grossa, pouco amigo da sucia. amigo de trabalhar sapa- muito e bela manha, vinha Apareceu ali,na Aldeia,uma rompendo o sol,trazendo a alcofa das ferramentas máo na esquerda e um taleigode roupa na máo díreita,rasoavelmente trajado,calgando alpergatasá moda sola de corda. Nao era cihespanhola,com maltez ; podia muito bem ser um desertor nem gano com tempo de praga, preferindotrabalhar em pouco correndo o risco de o mandarem liberdade,mesmo pedras as para negras, a trabalhar botas para todos os pés. Dinheiro trazia algum, porque casáo, fa- no zendo adiantado pagou aluguer d'uma casita o ¡nstalou,mobilando-a Ihe servia de que de bunho, faliz um para de acaso cama, por duas agua, de copo, para lavar nao — e outra em uma duas cadeiras com tarimba assento Dea-se pequeña. panelas e sopa, uma Ihe vendeu maos o um quarta uma prato vidrado tijelinha que beber pela quarta, e um e a cara, ; uma servirla alguidar podendo tambem de cagoila, quando fosse preciso. as se que ali fazer caminho, n'aqueledia, loiceiro de Berinjel, que tijelagrande, para para sumariamente grande uma dia seguinte no vir ser- SCENAS 143 todos a desnecessario perguntar-lhe para onde ia,nao pareceu alugara casa, pagando fizera,mas se porque só porque ajuste que mobilal-a yiver VIDA Ihe perguntou d'onde vinha,e Ninguem a DA moradia d'um homem A yiuva do mestre que mez, segundo mostrava convenientemente,em Ihe faltarnada do sem ao termos compete á o disposto de n'ela nente perma- só. Galope, tambem cesapateiro, deu-Ihe a tripegado oficio a titulode emprestimo,a a obrigagao tripega e a pedra de bater sola,com dele ensinar o seu mais novo logo que o gaiarapaz to tivesse pt estimo para alguma coisa. Gostava que o filho tivesse o débil para te certo um esmero gum trabalhos do campo, os feitio para tros mogos, e dotado de mais aperaltadoque artista, os figurarn'uma sociedade mais para os seus gestos adamados ou- al* labroste acepilhadocom pequeño lida. Caracterisando lientando oficio do pai,excessivamen- mesmo e posa- redondezas gos feminís,os outros mochamavam-lhe D. Ana, pondo-se logo a bom ele tinha a máo leve,e no jogo da recato, porque temivel. Só para se fosse maioral,era pedra, como viver separada d ele é que a máe o nao meteu nao a caixeiro,n'uma lojada Villa, para o livrard'aquele inferno,a cada instante ouvindo gritar O' D. Ana as suas - silvando — tío pedras com que o filho respondíaa alcunha. injustae depreciativa Ao as cabo de poucos a trabalhar,e dias comegou os o mestre nio Anto- primeirosfreguezesque Ihe SCENAS 144 depois, tambem, sapateiro^e d'e!e trabalhar bem nao e careiro,o ser fama correrá porque Ihe que velho uso á joma Por aquele tempo ainda eram os as sapateirostrabalhar i charnecas alemtejanas u tristerealidade,vastissimas charnecas uma de abundavam coelhos os as e servia para on- -i faltando :i nao zorras, linguagem lobo cerval,denominagáo especifica na regionalista que 3 o dos labradores. casa a de irem costume e :i va- já ia boa fregueziados Montes, perdido como leu o VIDA DA bicho de designarum ?; ú de requintadosinstintosferozes,,1 grande corpulencia, e de capaz bater se com os rafeiros mais calentes- i Frequentemente,os rebanhos,de noite,rebanhos de ai ovelhas lobo assaltados por um ficando estripadas, na rede, umas alcateia, ou eram cabegas.O lobo só para mata nao por poucas ; mata comer os seus presa ñas da victima entranhas palpitantes tra o Uma o ovelha chega caso como a mas para é puder, que com Consistia um a e sua para comer e nao um ele mata uma, matar a encon- lobo umas satisfazuma se quetear; ban- poucas, gulodice, necessidade. andasse armado, dificilmentese lobo dos grandes,em armadura duelo singular. dos rafeiros n'uma larga co- protegíao pescogo, munida de fivelas, geralmente duas, semelhantes ás que nos botins usavam maiorais. Pregos agugados como os leira de 9I vida de carniceiro. sobeja para satisfaz uma comer Rafeiro batia góso da supremo de ti animal de instintossanguinarios, satisfazer que uma coiro, que Ihe SCENAS DA VIDA 145 muitos pregos. sendo choupas cravejavam a coleíra, impossiyelque o lobo abocasse o rafeiro pelo pesfícar com as guelasrasgadas. cogo sem Faziam e réis d'esses facinoras do mato. gum os a res, batidas por concertó entre os labradoCámaras davam um as premio de quatro mil apresentasse a pele,ainda fresca,d'al* quem se das batidas,com Eram fartura de badana crigáo. Cagadores do sitio nao d'elespedindo a Deus que nenhum se a geito de tiro,porque cessaria e o sangue dias de festa, nao e yinho á dismuitos faltaya um, bicho Ibes passas- teriam a frió suficientepara ne- coragem fazerem urna pontariacerteira.A verdade é que óptimos cagadode coelhos,lebres,perdizes, homens que se dires zia que onde punham o olho lá punham uma bala, atirando aos lobos eram desastrados marteleiros, a tremer- Ibes a espingardana mao como se estivessem eles que ancom o frió d'uma quartá. Confessavam tes de verem pé, e quando o os bicho se Ihes punham os alvejavam,metendo-os cábelos bem na em boca da se Ihe ouvissem espingarda,era como dizer,arolha reganhando a dentugaameagadora atira, mas Era crenga geralna familia se nao matas, morres. que do campo em o lobo vendo homem, um que de noite ou de dia, mesmo o nao veja, que o homem cábelos em pé salvo o caso de a este se poem os Os maiorais partilhavamd'esta crenga, ser careca. algunsafirmando ter Ibes acontecido isso multas veIhes pero caso, porque zes, resultando providencial mitía — - darem vaia aos caes chamando-os em seu socorro. 10 SCENAS 146 VIDA DA Pois n'aqueletempo ainda dade charnecas alemtejanas, no as deia, deliciando-se ouvirem manhosas das cantar o Porque ficava ali á máo aos — o ñas teve,meteu-se uma a e charneca,abundante de mestre espingardaá uma passaros, ocasiao que a noites, mais espertas validos da Aldeia dores, e cagador se fez rando certas em multo zorras, homens os tinha metido quintáisda Al' nos inteligentes. que caca, todos moradores, os Alemtejo,e baixo d'essas charnecas vinha bater urna tristereali- urna eram roda caga- Antonio,que Exercitou cara. montureiras, na eram e na tendo jolda, de vinho á familia — se ati- primeira pago na nunca a tente pa- abalada da Aldeia. A estreia foi auspiciosa, porquanto matou tres a tiros de chofre,e coelhos,em como grande altura, que a uma desafiar a perdizque ia linha,segura de que nao Ihe tocaria um bago de chumbo. Bem Bem feita!. mestre Antonio !• feita, — . A' noite,na • . taberna, foi debidamente celebrada . a faganha do novel calador,sendo opiniáogeralque ele viria a ser, dando-lhe uso, a melhor espingarda da freguezia. Aos cresceu em olhos das mogas casadoiras,mestre Antonio do um palmo, e d'isso se apercebeu ele,notanmuitas amavel, e nos um acolhimento mais caricioso, mais derrigosuma respectivos expressáo de signalde des- ciume, que era, afinal de contas^um peito. A tal ponto se apaixonou pela caga, que era ouvir tiro abalava logo,de espingardaao hombro, na um SCENAS maior parte das VIDA DA yezes nem 147 metendo sequer cinta na de pao, urna bucha com désse ao estomago que de nao ficar esquea consoladora esperanga cido por todo o santissimo dia. Mesmo ouyir tiros,mestre Antonio abalava sem um naco mato, o para com alguem moviam a ele. queria ir com Por companheiro,se os seus rogos acompanhalo, sósinho,se ninguem um da caga, deixoudeser pontualem servir freguezes,muitos dos quaes Ihe desamparavam a os causa loia,sobretudo íerindo quem quando tinham da pressa fosse mais sapateiroe menos obra, precagador. Ele proprio fazia a sua comida, dias e dias acender lume, nao Ihe faltasse geitopara porque sinfaar,mas Ihe aborrecía porque proprio das mulheres achacada arraniava-lhe a de cama trinta réis por dos homens. que de reumatismo ñas ia e esse Uma velhota, Ihe a casa, tudo feitoa troco pogo, dia,que co- servigo,mais varrialhe juntas, ao sem pagava no fim do mez. — V/ocemecé que sirvo,e deve procurar isto assim estou a ver nao governo, é vida. Eu mestre de pouco tonio, AnIhe qualquer dia caio entrevada que ali ficando até que Deus Nosso Senhor faga a esmola de me chamar á sua divina pre* Trate de casar, mestre Antonio, porque ter mesenga. na cama, para de portas a dentro nada, nem aconselho. d'agua nem uma mulher que Ihe de sal,é coisa que nao Ihe se¡a nao SCENAS 148 Entrou Antonio mestre velha, acabando VIDA DA se por a scismar dizeres da nos de que convencer ela tinha razáo. Figurava a hypothese de adoecer, e via-se para ali ao desamparo, no abandono dos sem"famil¡a que nao tintiva podem pagar servigose dedicagoes*Tinha urna inssó condescendendo repugnanciapelohospital, ir para lá quando visse que ninguem Ihe chegava em ao pé, e ainda seria precisoque ihe faltassea coramatar tiro. se ou o vigor para com um gem Bem feitasas contas, o que ganhava, o que podia ganhar, chegava perfeitamentepara fazer vida d'hocasado, e viveria com o maior desafogo, se a muiher o ajudasse, indo urna vez por outra aos trabalhos do campo, quando a joma fosse de apetecer. mem Foi assim ele que Aldeia, notando da cada nao urna, se se caga e mogas consequencias. graves encontrou-se tarde,quasi ao uma as qualidadese os defeitos de escolha para evitar precipitando na acaso mero considerar a as alguma arriosca de Por poz tinha ela ido buscar com por ao a Amelia drigues Ro- do sol,vinha ele da mato um feixe de le- nha. Venha a Deus, salve-a Deus, e aqui vao os dois da Aldeia, ela ajoujadaao peso da lenha, com caminho ele todo pimpáo perdiz,que nem com uma tres coelhos á cinta,e uma galinha,pendurada do chum- beiro. De as maos quando em quando a Amelia parava, levando ao a cabega, e entáo feixe,que Ihe curvava SCENAS Antonio mestre O fundos negros, DA sentía VIDA fascinagáodos a a mysteriosos, e beleza d'aquelapenugem labio superior,e macia era 149 como o graca, encanto, a Ihe sombreaba que o trago de crayon um que olhos seus tornado quasi imperceptivel pelo esfuminho. Separaram-se um ele a Amelia, ela sua para com a chegarem á Aldeia,indo cada ao casa, sacrificiocasando Renovaram-se urnas vezes minho do familia da nem que a pensar que com o barranco, Aldeia se no nor me- por outras acaso, vezes e no ca- ela,que a apercebia de tal namoro, nao ar, o Antonio. discretos,ele aquetas senhoras de nariz faria nao sempre do pogo, táo seria felizcasando mestre encontros, os caminho no mesmo sempre pensar visinhas que bebendo todos os andam ventos,nao sfá escapar-lhesalguma novidade. Nao tardaram declaragoesfrancas,as promessas reiteradas,os juramentos d'amor eterno. Tratariam do casamento logo que ele recebesse da térra os papéis que ia pedir,e que eram uma cerapenas tidáo de idade VÍU90 — Faz ou atestado de que solteiro. de ouiro. Quando sitio onde mal se conta encontrarmos, las do mestre nos — salve Antonio a Deus Antonio, mestre caras oiga,somos e nao e hábil para era nada temos nao que nos conhecem gente vé e e ninguem salve-o Deus A as a nao um nao o duas pessoas que senhora Amelia, por vé coragoes ele com n'algum ser aqui ; rae as podiam encobrir ruins nada garantíaque sar, ca- sirvo. boas fasitos, propó- fosse casado lá na SCENAS I50 de térra, capaz — VIDA DA levar o embuste Depois de cá estarem os até ultimo ao papéis,o é caso tremo. ex- ou- tro. # O em compromisso de alterou pouco casar, a tomado conducta mais dado á espingardaque voluntariamente, do mestre Antonio, á sovela,mais amigo da sucia que do trabalho,volta e meia pregado na taberna, vai, copo vem, chegando por ultimo a copo embebedar-se ignobilmente, apezar de ser, na Aldeia, mais bebida. o homem que podia com Muito senhora do seu papel,a Amelia nao fazia um como — A gesto, nao dizia umá palavraque derrigado mestre Antonio,sua á dando denunciasse esposa parte dos nem sequer Tem muito tempo de saber, quando mae nao mae a tida, promeseus eu pósitos. pro- fdr pedida. gostava do mestre Antonio,um figurao talvez algarvio, taipelo falar, ninguem sabia de que térra era, ele dizia, embora o nao parecesse como do diabo, que fica tres leguas para lá de casa vez ele,que, dos quintosinfernos. Tanto embirrava com que precisandod'uns sapatos,foi compral os a Ervidel.já Ihe cruzar só para nao as feitos, portas. didas máes tem singulares O coragao predicados da Amelia Rodrigues dizia-lhe vinatorios,e o da mae aquele homem havia de causar a sua desgraga. que SCENAS 152 ele erabora ; mas os que Na taberna interessaya nao já o ya os mente clara- ver companhia. a andaya nao casa na yelhos companheiros de seus podendo escamugir,fazia de da pandega, quando Ihe cheganao era bote lá,sr. Made dizer ao layerneiro que a na dinheiro seu e notayam dianteira, sucia que ele, em conta metia se ele perguntava, deixando coisa que guma VIDA nao o manjolda, limitavam-se a responder a al- Os cagadores,se davam DA yez se — noel. Trabalho sempre concertos para reconhecerem Ihe aparecíaalgum, mais do procurade que para calgado noyó, apezar todos que a bem era obra que Ibe saía das máos excessiva. nao era paga acabada, e a sua Sempre gostaya de saber — mal fiz eu que a esta de deando alguns arrotira-yiráo, caminho só para nao cruzarem comigo ?. Entretanto recebia o mestre Antonio os papéisque pedirá,documentos necessarios para casar, e logo a gente, para tratarem me .. noya espalhou de se deyendo que A na mal — familia da Aldeia empregada da Amelia mae tiyesse o atreyimento — Nao uma a Amelia, cias. breyes audien- única pessoa a quem posso ma- ! opoz-se terminantemente ele (osse pedil-a, jurando que Dizia em com fizesse este comentario,sinceramente nao goado ele casarla realisar-se o casamento houye Nao que o de Ihe cruzar a que poria na rúa se ele da porta. os portáis queria ouyil-a : prohibil-ade casar, porque ¡á fez SCENAS vinte o e dois e anos, sinta eu que Tratou nunca morte a a 153 favor ; seu entrará me em mas com casa, nem gorgomilos. nos de preparar a sua casa cil viver de casado,problema fá- Antonio mestre o lei está a trongo do marido VIDA DA de solteiro para o seu bocadinho dispendioso, embora mas um rapariga pobre, da a Amelia, tivesse exigencias respeito nao esse a condigáo. A casa tinha tres divisdes, e um quintalcom poco. Urna das divisoes,a da entrada,seria a oficina; outra seria cumulativamente cosinha, dispensae casa de ¡anelinhapara o quintal, uma jantar; a terceira com fresta,seria o quarto de cama. quasi uma ácima Casa sua havia ; faltava a mobilia, e esta faltaera embarazosa, Antonio estava á divina. o mestre porque A sogra deira,uma daria nada á filha, nem nao ou vassoura deixal-a sair de em um capaxo, levando casa sequer uma ca" condescendendo a roupa de seu uso. Depois de matutar no caso, mestre Antonio tomou pedir dinheiro ao sr. F¡resolugáo heroica uma rico da aldeia.Pouca lipeGomes, que era o homem — lidagáotinha com ele ; mas toda a gente o conside- franco,nao propriamente um máos amiga de servir,quando Ihe perolas, mas pessoa diam emprestado, e amigo de bemfazer, quando Ihe rava um homem pediam esmola. Pedir-lhe-hia cincoenta de Ihe pagar a pouco e mil réis,com pouco, e a promessa mais depressa Ihe SCENAS 154 DA VIDA ele quizessedar Ihe trabalho, o que ainda nao fízera. pagaria se entao O FilipeGomes sr. os já com quarenta e desempeñado como a máxima solteiráoincorrigivel, um cima dos hombros, em ao zoológicacom dobrar r¡io mas trinta.Professava os aplicagáoao no huma- genero boi soltó lambe-se todo. Ainda muito novo, de se livrardas sortes, deixou-se embeigar um — era até acabava labradora do concelho de Odemira, que conhecera em Mil Fontes, n'uma temporada de banhos, uma por 6Ó casando nao Ihe pediu findar esse pareciaum mais ela porque a boa da serrenha de quatro mezes, e antes de espera com uma um explicoucom cachdpo que deuses nao pennovilho. Jurou aos seus sar fianza em perderá de todo a concasar, e como se prazo mulheres, ¡urou tambem nao ter amante manteada, considerando que a mancebia, das presumidas vantagens do casanenhuma mento, ñas teuda e ter sem tem os seus inconvenientes conhecidos. creada que se lembrava muito d'ele ter nascido, e da festa riiaque houvera Tinha bem em uma casa ocasiáo do por seu casa, Gomes mae, mortos encargo ambos Ihe sofrendo o Para anos. a com animo uma intervalo de poucos ver a moga em lida da pequeña só creada ; d'uma afilhaditasem chegava muito bem tomara dia baptisado,justamenteno ela fazia dezoito que nao todos mas o sr. pai nem mezes, pequeña, da ain- incapaz de qualquertrabalho útil, que Ihe rendes- SCENAS levada e mas sustento o para se N'uma no de semeadura, nha casas, andava castiga,que bocadito de olival, n um de. Fazia uma pequeña mais rendoso modo e se tinha que o seu além, nao nao ciar,mas acabava cia o vinho o banqueteando-se basse no Cascava-ihe o curavam em creada Da aos sua enfermos a aquí de para se aii tres quem casa sua que por- de nunca frequenquatro amigos, ou n'uma em fungáo que nao principiara. que o ia aca- aínda Gomes, mas rúa, e quando o pro- sr. na tinha bebido até acarrar, se su- com podía receber, por nao co* vender perder,mas aguárdente,e penddes nao porta mais ragáo. Dizia* térras á taverna. Em mal, aos casa, que a como menos vira ninguem na e dia mesmo as comprasse reunía Gomes sr. de boa novida- anos fazer comercio- Gostava entrava nao uns em térras e país,urna videz milheíros,e perto da Aldeia. cerca tivesse médo porque podía seus lavoura,achando que Ihe repugnava se uma dar serias. mi- dinheiro que pouco de vintens, gostava do negocio de juros par Ihe rendía, porque homem e nao era Gomes sr. de azinho de por tirava tres moeduras donde a que herdara que as lente possuidord'uma excehabitagSo, era a sua e montado com lama das na de todas gente pobre, o de herdadola 155 caminho a rico, senhor morada d'uma de VIDA vestuario,caida e enxurro térra considerar-se DA um pobre faltavam todos os dizia pado. estar consti- sem esmola, e recursos, pa- medico gaya e conforme um DA SCENAS 156 a VIDA botica,e mandaba- Ihes a casa, a cada doenga, os adequados meios pasua ra alimentarem. se Todos Aldeia na favores, e além de deviam todos Ihe estimavam, porque o estimarem,respeitavam- o mole de queixos.Um ano, ele nao n'o porque era feira de Castro,n'uraa barraca de bacalhau frito, na de pegou-se valentáo de Almodovar, um com das palavraspassassem como e razoes homem mais e tal estado pondo-os em sair d'alipelo seu pé. Era muifo desembaragado, e unhas homem era tes desordeiros sao tuagoes que seus brios medida, nao Gomes, sr. valen- e como ; nao voltam cara a as ao s¡pe- quando precisam afirmar os pundonor fazem-n'o a dentro da ¡usta que procurando que a legitimadefeza e ameaga, os raias da agressáo desnecessaria. tinha Dizia-se á boca pequeña que o sr. Gomes toque amizade na que sua as com a mulher andava na d'um algarvio, que herdade, arvorado n'este mundo animal dócil que nio, aínda que os sem o cácete feira. Felizmente uma varrer como bom um com provocadores; aceitam nem Ibes criam que rigo que o da palavra,nunca rigoroso significado mais no homens os que para o acompanhanenhum poude quatro fulanos que uns vam, ñas actos, zurziu aos nao em por sacudiria feitor, um ver a andar canga canzis respectivos se cabega. A verdade é que esses certo existirem,nao eram era se trabalhava paz d'alma os outros, do matrimo" Ihe espetasamores teros, adúl- objectode SCENAS DA VIDA 157 hacendó muita gente que ia jurarque o escándalo, sr. Gomes, tabez por defeitode nascenga, nao cisaba prede ser santo, porque Ihe seria impossiyel nao casto. ser Sem dizer nada á Amelia,mestre Antonio foiba- Gomes, que mal o conhecia, e Filipe tal^^ez de proposito liberado denem sequer era seu freguez, talvez por nao ter necessitado, até áquele E era o demonio, momento, de utilisaros seus seryigos. ter á portado uma sr. recusa, porque Aldeia na havia nao mais ninguem que pudesseservil'o, e fóra da Aldeia tinha ele crédito para lev;antarum As nao pinto. economias da Amelia chegariamescassamente para as despezas do seu enxoval,reduzido ao minimo. Visto a puzesse os nao pés em consentir que casa, achaya o futuro genro a moga que o Ihe me- haver fungáo,passando-setudo como de casamento se nao tratasse, saindo ela de casa Ihor se máe era nao Villa,acompanhada da madrinha,e da Villa ela e ele á Aldeia, instalando-seem sua regressando e o balho correlativo casa sem a classicajantarada Fdra e continuava a ser muito amiga da mae, e eslava de que a oposigáoque ela fazia ao segura seu casamento, a ponto de a deixar sairde casa como derivava táo sómente do creada despedida, uma muito amor podendo ser tambem um que Ihe tinha, n'um afecto pouco de ciume^ nao querendopartilhas direitosexclusivos.Mais tarde, com a que se julgava quando a visse feliz, quando reconhecesse que o seu para a • i SCENAS 158 Ihe dava Antonio ela para o de capaz ele, o que estimagáodevida,voltariaa a amoravel máe — ser e para dedica^oes e sacrificios, afectuosa,a desmentir a sogra as urna genro, tinha sido sempre todas VIDA DA lenda. fungáo ; mas nem por isso ele deixaria de fazer despezas que nao cabiam nao podia lanzarimposno seu ornamento, e como faos Governos tos, recorria ao emprestimo, como Far-se hia casamento o sem zem. Gomes, foi e a pequeña moga que guntandolhe o que queria. O sr. Filipeestá em casa Está. — Diga Ihe — desejadar Ihe Foi a uma Faga favor padrinho já vem. Antonio mestre Antonio cá entre que ra, demo- : para dentro,que o meu mal pensando no Filipe, mal trocara Ihe queria o mestre Antonio,com quem meia duzia de palavras, uma tarde,encontran- Nao fez esperar se do-o casualmente Feitos mas o palavrinha. com o recado,e vcltou sem mestre ao — que está aqui que pequeña dizendo que — Filipe veio abrir,persr. ? — ao á porta do devagarinhoja medo, Bateu O a os vinha no o sr. caminho da Villa. cumprimentos, mestre Antonio explicou : Filipehade desculparo meu gente, quando precisa,a quem atrevimento, sr. o pode servir SCENAS i6o levar iá VIDA DA dinheiro,ele está aqui ouvindo o a versa con- - Pois — Meteu o se Filipeme sr. faz o favor. • . da ¡aqueta,a algibeira algibeira de dentro, tirou déla urna bolsa de riscado,da bolsa tírou mao a na libras que onze tonio,acrescidas de cinco do mestre ás máos passou tostoes prata,que em An* tirou do colete. algibeira da Conté- — • . é Nao preciso; vocemecé Posso ter-me engañado. — — Contou certo. ; estava Abalou, desfazendo-se metendo logo pagar já contou. em as que agradecimentos,e procircunstancias Ih'o per- mitissem. Seria agora mais assiduo no trabalho,menos frequentador da taverna,e a caga que matasse, de vez em consumir a táo, revertería toda dendo Se de o a em jornada a Damasco em casa do sr. que se operasse quele Paulo de sola Ficou á porta, o eníao, Tem má Andava num — Gomes Gomes, até sr. a sua casa. seria estrada a da- conversáo a vira ? e desaparecer,dobrando colhendo-se en- exclusivo proveito,ven- seu dos gastos de restasse que até pangalhada,como na a mestre o Antonio esquina mais próxima,re- murmurar por entre dentes : pinta,o raio do homam. brinco a casa da Amelia, pouco guar- SCENAS necida de DA i6i logar,as soalho, de térra cada coisa mobilia, mas no seu cal,e o varrido,táo limpinho,que paredes muito brancas batida, tao sempre VIDA de até se podia lamber o mel que n'ele caisse. No quintal, abundancia d'agua, um com quasinada salobra,semeara salsa,couvinbo, hortelá e coentros. Com o albo entra em quasi todos os manjares do pobre,n'um grande taboleiro de térra fofa,caldeada tura. cebolinho á miscinza,plantou ela albos,com com Esta abundancia horticola permitia-lheser generosa as visinhas, para com que pareciaestimaremn'a,tanto quanto detestavam o marido. As — artes que melhor a ele. Em casa Ihe faltava nada ; nao adÍ9Ínhar-lhe as yoniades, nao Para nenhuma. solteiratoda a casar a casar com gente sabe onde a cabega quando Ihe prometeu a coisissima figurao, para da Aldeia ! Nem moga ela tinha teye este a casar máe com tudo contrariando era em assim, antes ficar vida. quando em quando a Amelia ia yisitara máe, nunca perdia ocasiáo de Ihe dizer que o marido e muito bom a ta* era para ela,¡á frequentayamenos á caga e entregaya Ihe todo o ía raramente yerna, dinheiro que ganhaya. Estimo isso muito, mas se atreva a que ele nao pdr-me os pés em casa, porque o enxoto logo para De — a rúa. A casado, pareceu Antonio, nos primeiros entrar n'outra regra de isso foi sol de pouca yerdade tempos vida; de mas é que o mestre dura. A pouco n e SCENAS i62 DA ele foi retomando pouco VIDA velhos hábitos, a maior parte do tempo passando-o na taberna cu no mato, esquecido dos compromissos que tinha para com os fregueses,os poucos que aínda conservaba, por cocalendo a pena ir á Villa,distante modidade, nao legua bem medida, só para deitar meias solas uma n'umas botas ou remendar com tomba um uma sapato romperá. se que Quando a da Amelia mae da Aldeia, com a sabia que o genro abalara calculando que ele espingarda, voltaria á noite,mandava só ela repartía a chamar comida, almogo sua a e filha, com jantar,nunca ou lava esesquecendo de Ihe dizer que para ela a meza neposta, nao querendo que passasse sempre cessidades,havendo na sua casa com que Ihe pudes- se valer. se Tenho — rega como como eu esperanzas apareceu, me importo aquele maldito desapaímportando-se tanto contigo que com o tempo que ha-de fazer Se assim for,e queira Deus que d'aqui a um ano. tens senáo assím seja,o mais depressa possivel, nao que que fechar a porta,e vir p'raminha companhia,poro que cá deixou,cá encontra. Credo ! Para — mundo homem peor a minha que o máe nao ha em todo o meu. pouco te ha, que duvida Ihe p5e ? E maís a gensabe o que ele fez antes de vir aquí parar, custando a acreditar que entrasse n'algum me roubo ou E — nao — nao morte ]esus, que d'homem. é santo o nome de Jesús! A mae SCENAS diz essas €ra a sa Ihe que Como — nao ")ue grande afligió, • de ao lano. parece assiT, em levando o ajuntou o mestre da o ribeira,a charneca a que Antonio e ángulos d'um singulartriangulo desenrolava a sua vida,inútilcomo eram os frase iustade Alexandre na conego, que mas ; fica rasto do bicho pegonhento- do qual se d'um eu terro. en- • menos podendo dizer-se taberna Senhor despeza do a sei única coi- Nosso — seria — A engaña. vonlade pecado vicio da caga dentro a boa de qualidade- diabo,nao pesca, se isto acabava, bem sou Ao a é se E ainda bem; — 163 vísse n'uma o vocemecé faria de perdóe, me se VIDA primeira a acudir-Ihe. N'isso é que — o coisas,e DA essas por cutras e Hercu- clericalha tratou de- a sapiedosamente,sem o minimo respeitopeloseu enorme talento,pelo seu modelar carácter e pela ingenua das pureza A era caga porque suas ele, de para tres a Amelia pegas, com empregava ñas Um conforme vendia perdiz, e iho,com rúa, em sendo a regressar a época do fazia isso uns uma frente da este recado : casa ano. andar menor A's vezes ou uma vintens,que custo. pequenitaque andava sua um duas sem lebre magros coisas precisase de vicio lucrativ um raro coelhote, uma um dia,chamando na e modo, certo atirava bem, dia inteiro a bater mato ou religiosas. crengas porta,deu Ihe um a car, brincoe- SCENAS i64 DA VIDA O' Chica, leva ¡sto á minha — mando A do é para eu, que o foi n'um pé pequeña coelho, porque o seu a e máe míe, d¡z-lhe que e jantar. voifou no outro, trazen" da Amelia quiz o nao aceitar. Leve — lá coelho á senhora o Amelia, proibidapelo medico de de qualquer especie. estou eu que Nos e yelhos tempos sitiosem nos tres por vendia que em que esta ela decorreu, vendia-se vendia cara, se por diga-lhe comer decorreu quatro vintens;urna ou e carne historia» um lebre,quando dois tostoes, o que sucedia por festas do calendario,baptisadosou da lebre é seca, muito mais seca mentos. A carne a do coelho. Guisada cosida res com arroz e ¡antares que se mas do s6 casa- que batatas é excelente ; mas de bico era um dos melho- comiam em minha casa, de boa barato, n'aqueletempo, era tudo que grao se variada cosinha. pouco Tudo com lho coe- era o mais barata e Ganhava trabalho humano. trabalhar de sol um sol,menos do que hoje ganha numa hora, e as mulheres,entáo, coitadas, só pelo facto de serem mulheres, nunca do salario-mizeria, fome, malgao salariopassavam homem, nhando no para campo, concertó o longe de yam tona As casa, na ceifa- peugas e ou a as na dos sapatos monda, na as a que trabalha- apanha da azei- meias, trabalho caseiro,eram o luxo de pcucos homens mulheres, e de muito poucas sendo frequenten'um rancho de trinta mondadeiras» SCENAS DA VroA ha^er mais que de meias para todas.As ligas erara exemplo,nao por 165 um urna ou dois pares tirade paño, prestimo,guando nao eram urna especie de torcida, apertadaabaixo do joelho. Dizia o mestre Antonio,desdenhoso do que a muIher ganhava,procuradapara todos os servigos, pore desembarazada como pou"3ue em tudo era perfeita outro sem cas : Ganhos — Nem de mulher ! sequer reílectia que sem ganhos minido jejum forgado, esses já ele teria entrado na regra jejumsem consoada,nem sequer enchendo do meio-dia. na refeigáo mos mas a riga bar- n'um repente, Urna tarde,tirando o avental, pegou chapeu e no pressa de quem na na e abalou, espingarda porta-fóra, vai tirar o pai da forca. O' homem, que mosca te mordeu ? Vou buscar um coelho para a ceia. muitos outros, o jantarfóra N'esse dia,como em de pao e urna isca de toicinho crú,escunaco — — um sando-S2 a Amelia a comer do toicinho para que ele tiyessemais abundante conduto. Quasi encontrou na orla do mato, de guarda a uns bacoritos tio Francisco Garcia,pobre yeího que o redue se via agora esforgadotrabalhador, zido a fingir que ganhaya o comersinho que Ihe davam, pedindo a Deus que durassem emquanto ele vivesse os farrapos que o cobriam. tio Francisco. Boas tardes, {ora — i um SCENAS i66 DA VIDA Deus, mestre Antonio. bocado» a conversar um com Apeteceu-Ihefícarali, Ihe aparecía em o velhote, casa, muito que ás vezes idade do seu primeira amigo da Amelia, da mesma d'ela dando de o qual fora creada, a mae neto, com — Venha com ao pequeño, mamar sinho,abalou de mais tarde,sendo já homem- que noite,nao uma casa, havendo mais ande por esse noticias d'ele. tenha morrido, do mundo, desgranado. Antes — Com a jaquetalimpou o tio Francisco lagrimas,e reprimindoum so- da manga olhos,afogados em os lugo,que tinha entalado Antonio, dando que garganta, disse na á rumo novo conversa Esta térra, para a sua Arte,nao ha outronao Depois, como — . O para viera para tre mes- : deve ser um ali em disse que sim, que a Aldeia Artista da sua dasse, mas que hora, pois nunca má má. . Antonio mestre má rva ao nao ele fora grande a de nao haver outro mestre do mesfreguezia, apezar rao oficio,preferindomuita gente ir aos sapateiros da Vila a dar-lhe E' bem — a ele que certo que os fazer. santos de casa fazem nao sou. milagres,e eu nem sequer da casa O tio Francisco,procurando animal- o, disse-lhe toda a parte, nao ali como vem em freguezia, de repente ; que é preciso dar tempo ao tempo. A principiohavia a desconfianzadele nao se demorar, que a passaro de arr¡ba?ao forma belo dia vae-se, Casado veio. Agora nao. — que um da com ma mesuma SCENAS i68 nao Se de graga, fazem se tivesse posses eu precisaríade nem mondas as nem a ceifa. tudo ísto, tio Francisco,nao para semear VIDA DA baguinhos,porque uns isso teria o necessario para vida. sem o mesmo da minha governo Desculpe^mestreAntonio, masyocemecé, n'este discorre bem. Qualquer Ihe empresta nao particular, trigopara a sementé, e urna ou duas geiras de bes— vocemecé tas, paga-as faz-lhe monda a ceifa,sem a ajuda de nin" burro e urnas cangalhas,se o ca- e um minho fdr curto, em eirá. ]á vé que o Ihe afigura,e verá que E — nao meio caso dia poe yocemecé o é mais simples do que tomar vocemece o pao se conselho, meu hade arrepender. Ierra,tio Francisco ? a Ora — se se solas. A Amelia a e guem, na com deitar meias a térra !. a Se vocemecé . . pedirao lavrador Filipeum bocado de relva, ele nao ihe diz que nao. E até, se o apanhar de boa catadura,empresta-lhe dá-ihe as geiras que forem precisas. sementé a e Tome o meu conselho, mestre Antonio, e verá, se Deus mais anda á espiga fa" o ajudar,'que nunca lida. Ha — uns de poucos deia, e lidagáocom Ele nhuma. fosse, em minha casa nem sequer um par qualquer pequeño vez o homem nao que vivo aqui,na Al- lavrador Filipe, nao o todo este mezes tenho freguez.Que mais tempo já podia ter mandado é meu de sapatos ou ]á me concertó- goste de mim, sem nenao a botas para lembrei que tai- umas rasao nem mo- SCENAS DA VIDA isso faz de conta que mandando á V/ilapara sapateiro, fivo.e por íe remendó. porta . . De modo que se 169 térra na o eu mais ha nao um insignifican- Ihe fosse bater á . Se Ihe fosse bater á porta,estou que vinha de lá servido.Ele gosta de obsequiar, e mesmo pessoas — mal conhecem, gente que nao é da Aldeia, pedem-Ihefavores que ele podía muito bem recusar, ele serve-as de boa vontade,ás vezes com e a certeza de que nao Ihes pora mais a vistaem cima. E' bela pessoa, muito obsequiador, urna muito amigo de que o servir. Era já tarde para ir cagar no hora apropositada para fazer uma mato, e era aos espera a coe- Ihos. O tio Francisco despediu-se, enrolando os bacori- tonio, pondo-osa caminho da Aldeia,e o mestre Anfoi com a conversa, para mais bem disposto barranco p6r-se atraz d'uma grande junqueira, no tos que e passa ali perto,correndo com os olhos a orlado mato, a ver se algum mitra,a sapelguear, se Ihe vinha oferecer para a ceia. ]á do sol nao melho ver- tas, al- Aldeia comegavam os telhados a fumegar, chaminé a quasitotalidadedas casas, a tornarse e sem ou havia noticias, senáo pelotom acobreado que tinham algumasnuvens na mais densa,a cada instante, a sombra que ia enchendo os vales, mal se ouvindo no silencioda noite de vida. próxima,uma vibragao " SCENAS 170 toda Levou noite a como reviravoltas, Antonio o tio a ruminar cima a Francisco,ás yoltas e ali estivesse Morpheu se ele,em iogar com a se VIDA mestre o tivera com que conversa DA da cama, o andas* e iogo da bra ca- cega. Qual dormir meio dormir ! nem velhote,n'um O informado encontró sumariamente d'acaso, das aflictivascircunstancias da acerca sua vida, dera-lhe um conselho que ele desejavatomar, caminho que ele tinha medo de e apresentara-lhe um seguir. Com havia de ir outra cara que vrador Filipe,a pedir-Ihe fosse Ihe nao os pagara cincoenta nenhuma sem o vez que do la" casa a fosse,se ainda mil réis que ele Ihe garantíae quasi sem prestara, em- o co- nhecer? Mas a recurso, sua fechasse se porta, se nao tentasse esse mizeria instalar-se-hiadefinitivamente \á certo casa, essa freguezesque agora perderá,e em de que nao recuperarlaos tendo por igualmentecerto freguezesnao viriam. A mulher nao podiaajudal-omais do que ajudava, só ficando em casa quando nao havia trabalhos do que novos e campo, davam, meias em casa quando e de linho Pegou dormido no ou somno pouco fazendo roupa nao que Ihe encomen- tinha encomendas, fazendo algodáo para vender. já ao clarear da manhá, mais d'uma hora,saltou da e cama tendo com SCENAS DA VIDA 171 excepcionaldesembarago, na boa dísposígaode quem aproyeitou bem a noite para tonificar os músculos caneados e refazer energiasperdidas. Estava lomada a sua resolugio. Aproveitariao conselho do tio Francisco,mas nao iria ele muito a A do lavrador Piiipe. casa bem dar de dizer que nao homem, sobretudo quando no soldado,em um uma a mulher que pede que a um é nao dia seguinieo sapateirofoi á V/illa, e á noite quando regressou, por mulher a é feia. nem Logo saberia recado, e ha, geralmente,menos o coragem velha Amelia Beja eslava de disse á mulher de licenga, que goso que de hospital no gravemente enfermo, cama, soubera um rapaz da Ierra, de quem era primo e muito amigo, e que já por varias vezes, no delirio da febre,perguntara sua por ele,dizendo o que Irla vél-o, e talvez — — queria ali ver. lá por demorasse uma mana. se- E dinheiro para a viagem ? Pedi cinco mil réis ao Chico Añádelo, dizendo- Ihe que era para comprar preslou-m'os.Estou em que Foi só á hora da abalada mulher os pensava, ao lio carda, e ele e chegue que um aquele malandrim em- sobeje. e ele comunicou Francisco,honrado dar Ihe ignominias,ao sola proiectos,arquitecladossobre seus sugesláo do rava se velho que á uma mat conselho amigo, que empur um plano inclinado de para fundo do qual estava o crime. Tenho — pode, por Urnas vezes temos cá pensado, Amelia, que mais que faga,passar toda temos bocadinho um ceia. Confesso a mais por rende para continuou a vida negra teem filhos que passamos, mesmo os iham, cagando todos "3ue semeiam, rem sempre é ruim, e parece-me n'isto, tamanho Hoje — Nao e que os reflectir, e me mas ga- soírivelmente» maneira a tivermos a de sair- sorte de contrar en- compadecida. dia ha pouco é tanto assim Bem que ceara matraqueado muito descobri se a porque escapam Tenho já traba- semeiam, nao nos que mochila. Os mesma bem, que em nao a se aperto, alma noivos,se mos para salario,esses trigoem uma que governam ponto é haver saude. — a que uma era searasinha,sempre trabalhadores da aldeia,que vivem só da mais nada, passam de oficio nao o uma iorna, sem mos tará sol- nao : aiuda. Os o ela ela sem instantes,como Se tivessemos nham para culpa,perdi uma tinha,mas faga,e seco comer. CaIou"se, por — eu que de pao minha por que, parte da fregueziaque boa vezes jantar,e quando Deus quer nao o almogo» dando-nos jantarnem para o para nao vida assim. a almogo, outras o para gente a o para felizes se por temos nao temos nao VIDA DA SCENAS 172 quem sabes que tivesse encontrado emprestou compadega- se o um ainda estaria- homem dinheiro para padecido comas pesas des- do casamento. — Pois sim, mas labradores Filipesha um só, na SCENAS lalvez Aldeia, e oulro fregueziase a nao tré encon- fóra d'isso, e tanto assim que vou vrador Filípeé que urna 173 ele. como Nao — toda em VIDA DA eu acudir mais nos para pensó la- no vez. Essa — cinco réis do bójo para tem o ele te emprestou, Olba é que ¡á e precisofer senáo quando a gente ir ao seu destino,é quizeres; mas tu que vereda para urna ela que toma, bem Ora ouve por deste nao coisa d'essas. urna Será — nao dinheiro que ir pedir-lhe mais? queres Ihe melhor ! Aínda é agora olhar sem o ao cer. aconte- possa dizer,e te vou eu que que nao te vaes a arrufes antes de tempo. Fez urna A — pequeña minha ideia quinze mil réis para gum dinheiro,para hade meter para acudir ás com térra A ámanha Tu — e viesse. O precisoes,e eslá tenho homem, e tu tens estado foi outra. homení falas-Ihe da tu entao se ele al* seara» nao coser des- se bocado um de trigo, prometendo que colheita. na mentira ¡á tinba preciseiir a Beja. mas desse que mancheia urna eu quiz ir prevenido com e e nossas nao é que gao : oferecimento,pedes-ihe tu o e o conversa, tudo será pago — Ihe dar, do tal rapaz, causa por do esta do lavrador Filipe, e dizes-lhe que casa de é prosseguiu: e pausa, cara muito para dizer- Ihe para ahi me essas a bem arranjada;mas apresentar eu casa na pantominas todas alcatear. A minha que crea- SCENAS 174 A — tazer creagáo foi outra; mas tua o cima, que em digo, ou te que eu com bocado de pao, encontrando Ao — tudo, ás nao tendo o a querendo um metendo taboleiro, d'um vintem,e só vezes no cotao. eu que vergonhasi- . e ainda se passar te- maiores por . de Deixa-te ~ de Jesúsi havia de chegar Santa Máe sofrer mais enxovalhos rei de vista a por-me creada,mal fadada,e sabe Deus Bem tens que agora vi^^er n'esteinferno, para á procura algibeiras, ñas mao e tornas nao estou nao falta de sempre a VIDA DA cantigas,mulher, nada remedeías. As coisas mais é sao o que entendido,tu historia. Bem sao, nao isso com que e tudo o dizes á tua ela trataya logo de palabrad'esta conversa; dar despersuadir,mas nao se lembraria de nos man- máe uma te com que Abalou o encher mestre a d'um cova dente. Antonio, da Aldeia,dizendo que Beja, palmilhando o caminho de noite,por receio de maus do calor,sem encontros, ar« causa mado d'um fangueirode zambujo. Mal se levantou, no dia seguinte,pela manhá, a foi ter com Amelia a míe, e contou-lhe,tím-tim ia para tim-tim,a por conversa que na vespera tivera com o marido. — o nao fazes semelhante coisa,Amelia ! Era só faltava. que — meu Tu A mae lugar ... diz muito bem ; mas se estivesse no SCENAS 176 Só — só crianzas se as medrosos os perde muita confiangaem caminhos, a todas medo A de cair quere mim, para com promessas, e Nao se ameagas. perder, e andar horas do as dia todos por da e tenho eu os noite, sem armadilhas. em ouviu-a máe se quem cotn enganam acovardam se senáo VIDA DA silencio,pálidae fria,muda em dór, inquieta a esphinge,contrafeita como ela,a pobre mae, como o desespero.Tambem como tres dias antes o mestre Antonio, hayia tomado uma d'uma irma duva, que tiresolugáo.Iria para casa nha nos GasparÓes, certa de qué a filha se perderla» explorada pelo marido, e nao querendo que a sua como a d'algum modo Aldeia na presenga suspeita da praticade tamanha na Procurando mal encarando mas tambem a cumplicidade sua infamia. íirme tornar deshonestos mentes da ou indiferenga sua auctorizasse a voz um bocadinho filha, que ainda nao ]á nao era, pelos vaqos a adivinhavam se que mula, tré- pada, cul- era pensasuas ñas palayras,aquela crianga inocente, toda candura e meiguice,que Ihe saira de casa para se unir áquele monstro, a sogra do sapateirodisse á Amelia : — Como semana, teu o nao precisasir já ámanhá dor. Prometes — só volta lá para marido Prometo, me mas que com só irás uma fór da dirá nada seja a quem e do passo que eu vou vemos, na a o do casa fim da lavra* ? quinta-feira condigao a — conversa dar. que máe agora nao ti- SCENAS VIDA 177 Prometo. — a DA No dia mae de Amelia metía se estrada de Montes na rava seguinte,á noile,dormía tudo Gasparoes,fúgidacomo os n'um carro Velhos, e que a Aldeia na a espe- levaría para da peste. Bateram logo devagarinhoá porta do labrado Filipe, e sua afiihada,foi ver quem pequeña, mo^a a era. Vocemecé — O — sr. guer alguma coisa ? Filipeestá Enlrou agora em casa ? pela porta do quintal. Olhe, menina, diga-lhelá que está aquí a muIher do mestre Antonio,que Ihe desejafalar. Foi a pequeña levar o recado incontinenti,mandando entrar a senhora Amelia, para o escriptorio do sr. Filipe, ladrilhada em urna casa que ele tinha ~ mesmo — uma pequeña meza com gaveta, quatro cadeiras d'Evora,uma grande arca de castanho,cora fechaduras,e um bahú preto, com pregaría amarela,que desempenhava as fungoes de cofre forteAssente-se,faga favor,que o padrinhojá vem. Efectivamente o sr. Filipenao se demorou, e encontrando senhora Amelia de pé, fel-a sentar-se a lado da cadeira mais próxima da sua, do mesmo na cima da qual havia papéis,uma resecretaria,em — um gua, cha — e tinteirode chumbo, uma cañeta, uma grande ourigodo mar. Entao diga lá o que deseja- borra^ um • . 12 SCENAS 178 Levantou-se DA VIDA Amelia, em a e arsignalde respeito, regagando um bocadinho o avental com as duas maos, muito comprometida, medrosa e acanhada,dispoz-se dar a o recado. seu O Filipeliade desculpar» Pois sim, eu desculpoíudo,mas — — sr. . • hade vocemecé oigo bem. Esta gentilezado labrador,que para toda a gente atencioso e delicado,poz logo a mulher domesera tre Antonio á vontade, já sem Ihe tremerem as persentar-se,que ñas e — embaragos sem O assim eu vocemecé, é que estava virfalarcom para foi á Villa,e lá soube hontem ante mas fala. na Antonio meu nao é amigo, como fossem se primo, de quem irmáos, está no hospitalde Beja, muito doente,epediu já umas de vezes poucas para o chamarem, porque que um nao morrer quere logo abalar,e o como dinheiro que tornar sem Beja em tinba,e velo. Deliberou conhece nao eram que a quinze mil réis,\á conta, leyou-o,que apartado para Ih'o vir trazer por outro o isto,como diz,quem que avia-se térra- em vir falar com o De modo que yai para o disse para me Filipe,contar-lhe sr. pedir"lhedesculpa d'este transtorno a faltarmos á — O amanha, de nos seu nem dinheiro,a esperar. marido o que nao vocemecé, eu hade que fazer a • • me a eu, gragas pontos de que mar sucedido,e nos obríga O primeirodinheiro palavra. será para acarearmos esmola nossa ninguem, me prometeu pagar hoje ou deus, estou precisadoda fazerem falta meia duzie SCENAS VIDA DA 179 de mil réis.Váo-se governando como rálagóespor do que a justiga casa. Ihes mando Nao — a se¡ vira ter marido, meu vocemecé, com Para mas diga-lhe que para um venha soltando de Beia. em vale nao a • e cá vir ; pena tirar me para boa freguezia?• tos. Ele tem res, favo- tantos pagar de botas caneieiras par nao eu que sera liieagradecer. para agradecer me devem, me Ihe havemos como Fiüpe. O sr. — causa poderem, medidas as sapatos uns pre- . Teve, sr. Filipe.Ao principiode cá estar,nao — Ibe faltava que perfeito ñas nado com e uma obras, suas a caga, entrou trabalho foi o e como freguezestraziam uns guem, diziam fazer. Todos semana sem a fazer esfolava nin- nao outros- Depois, invicio- menos na cio, do ofi- caso afracando,a pontos pegar multo era que se que sovela. Vé-se a passa gente e deseia-se,sr. Filipe,para arranjaro mantimento, e algum trapinhopara se cobrir. Porque é que o seu marido nao semeia um bocadinho de térra ? Uma inferior, mesmo semseara, — é pre — teve. aiuda. Ora, sr. Filipe! Essa lembranga já uma ainda que raos tivessemos dinheiro para era monda temos nao mas e á ceifa,isso felizmente sei fazer Deus, eirá pelo seu córpo, gragas para a a térra, estas me esses para pé temos coisas,o comprar nao nao que e gente sementé, nao a e tinha- geiras.Lá quanto á dava cuidado,porque trabalhos,e os a fazer. O o tenho bom pao nao carrégo custa vai di- SCENAS i8o nheiro debulha ninguem ; a Costumase mas o dizer que hade que VIDA DA faz pelo amor a semeia nao quem semear colhe \ nao nada tem nao quem de Deus. de ? seu Pois olhe,senhora Amelia, se — tiver Ihe semear puder que para pagar, térra de graga a recolhendo forem precisas. Em seu marido baguinhos,eu uns sementé, dou Ihe a que o dispostoa o ás que es- empresto* e geiras as seara, paga~me a vezes nao mexa a dá cebo. o nos grande esmola que vocemecé faz, sr. Filipe.O meu Antonio, em eu Ihe dizendo, só assim, nos fica doido de contente- Tambem, po- Isso é — urna desenvencilhar deremos Ergueu senhora a se a vida. nossa Amelia com — licenga sua com querendo prolongar mais a conversa, de aborrecer,e renovando os seus médo agradecí* o marido mentos, disse ao sr. Filipeque tanto ela como estavam seu dispor,se pudessem servir-lhe ao nao — para alguma coisa. Quem — nada tem, mostrar dá que Era o — Vá la ela lavrador — se a a com o que mais e quem deseja, pode fazer fazendo tudo o senáo que decisivo da despedida. Filipe. Deus, senhora Amelia. sr. pé fóra do escripterioquando deteve, para Ihe perguntar : por Vocemecé as Ihes permitam ? momento Passe bem, — que reconhecimento fracas posses suas tem mostra nos, como seu o o um nao me disse que o seu o marido le- SCENAS vou Beja todo para VIDA DA dmheiro o i8i tinha que ? casa em Pois disse,sim, senhor. — Mas, entao, — é que como voceraecé se governa até ele voltar ? A Amelia baixou envergonhada foi Meteulhe cinco na oihos,corando, e os réis disse-lhe que mento de porque da melhor vontade O mil tres mao tostoes, e o deu. resposta que a quando procurar a pareceu-lheque a de tivesse acanha- nao se moedas em yisse apertos, em serviria. labrador Filipeestava farto de conhecer lía,mas mudez a sua vía agora a Ame- pela primeira vez. Por talvez mais acaso, tismo, ela deixara cair provavelmentepor os para hombros o coque- lengo que muitos decabega, um lengo amarelo com senhos, salpicadod'olhos brancos,preso em nó froixo do queixo. Tinha o cábelo negro de azepor baixo yiche, naturalmente ondulado, e calculaba o sr. Fí' trazia na jipeque afogando-senaquelas ondas tería longa de completa felicidade. Que que bem Ihe ficava Ihe sombreaba havia na boca sua de mal da mas tao sua raga tambem a penugem, vida macia de veludo, labio superior,e que frescura de labios vermelhos, talvez escaldantes o contidos desejos! Nunca que uma mais nunca perfeitamenteesse se vira parecesse uma com vira mulher uma cigana que typo de beleza. cigana, realisassc SCENAS i82 VIDA DA Seguía-Ihecom os olhos o arfar dos seíos túmidos, morenos que ele adivinhava,atrayez da bata,serem os peitos da Sulamita,o mamilo ase rijos,como yermelho medronhos pequeninos! sado, Repézo agora, tarde e a más horas,de nao ter cade curta dua aproximagáo da Amelia, embora pero e os como despertarno layrador Filiperepresados sentimento de vida fainstintos de sexualidade,e um fez ragao, milial,sob qualquer forma, organisacoes sociaes,desde mais complexas. dar Que estupidofora em Odemira serrenha de vel, sendo certo maioria,sao se que com casadas apontam as a que as as mais elementares ás ao caso excepcionalda regra mulheres,na as honestas, e base de todas a foros d'uma os que é que prova está faltam aos invaria- grande sua na seus facilidade deverest solteiras' ou podia ter arranjadourna amante, urna senao raparigapobre que se Ihe dedicasse, por amor, qualquerdos casos ene em menos ao por gratidao, Ao menos existencia de solteiro, privado das caricias feminis que perfumam a vida,mesmo quando, por faltade prole,a deixam incompleta. chendo o vasio da sua somno d'um longo acordara,o labrador Filipe, durante o qual nao perhybernante,somno derá forgas,parecendo antes que acumulara energias, dada a Como que necessidade que estaba sentindo de as tornar patentes,exercitando-as conforme a Natureza manda, Natureza que sempre a reage quando a contrariam, SCENAS i84 tura experiencia,timido sem e animal um d'uma VIDA DA bravio, como assustadigo abria-os agora, no esplendor e alacridade d'um sol dos tro- boreal,na aurora picos, luminoso como e foco eletrico e quente um mo co- fornalha acesa, pondo ñas coisas animadas inertes vibragoese anceios d'uma alma a trasbordar urna ou d'amores A desejos. e Algarvia! Esse mosírengo de nariz grelado,desengongadae fecunda magra, das, gdso a as Algarvia nem coelhas,fria desejada,a posse como as gea- Ihe fizera vislumbrar sequer podia dar-ihe só que d'uma como a posse resulta íelicidade que d'um bem o que se de- seja. arrancando-se ás suas hePara fugirde si mesmo, de pezares e floridasde esperanzas, zitagoes, negras Filipeabalou de casa, á indo langarferro na Adega do o sr. ali que encontrava, se provando por sr. amigos, tinha querido vender, acaso, vinhote que nao reservando-o para o gasto da um de conversa, Romáo Salvador, procura com sua uns casa vinho — especiaescuidados. preparado com Amelia, chegando a casa, fechou a porta e o pando tapostigo; atirou"se para cima da cama, aniquilada, A os olhos dava. Queria fundezas da com estar sua a só mao, e ás porque a escuras ; conscíencia,para luz a sondar tomar uma incomoas proreso- SCENAS lugao que como DA decidisse dos altar,perante Sacramento, revelando-lhe samentos, os mais seus 185 incertos destinos. Seria seus ajoeihasse no se VIDA os seus vagos, propósitos,suplicando-ihea Sanlissimo o íntimos pen- ma's definidos bem menos d'uma graga inspiragao pelo melhor caminho, Era já a mulher virtualmente adultera, a pedir a cumplicidade ou o perdáo de Deus para o seu adulterio realisado. fizesse tomar a que Afinal,a tinha rasáo. máe marido, cada O de cada era em mais vez negociar com vrador todo bem térra tinha Nao vidas ele que as menor a nao vontade propunha se tinha sobre — os o no em e honra da tendo semear, este que seus anoiteceria Ihe fizera a a quem lher, mu- verdadeiramente chovesse duvida mais ela Ihe poriaa vista que bragos do la- os coisas,era colh3Ítas,quer contrariasse Sua atirava para a intervalos da nos trabalho honesto. A o entendidas em boas pre taverna na Fitipe, por sórdido calculo de vadio, repugna a ele Sentia que caga. e amigo da sucia,no que pensava homem ao ela, entregal-a que do bom á boa vida,comendo e pudesse sustentar do melhor, folgando o amigo de trabalhar menos vez sem* fizesse sol. quer como respeito, ele faria se du- mente resoluta- planos,desobedecendo á amanheceria,e nunca nao cima, conforme propriodia em que a ameaga abalara para Beja. Se alguem Ihe tivesse dito,uns mezes atraz, que 1 SCENAS 86 havia de DA VIDA áquele homem, sacrífícandoIhe a propriahonra, por mor d'elle perdendo o respeíto de todos, o que era muito, e perdendo muito mais de que isso,a amizade, capaz de todos os sacrificios, escravisar se da máe onde te porei, se atraz, ela mezes e A acreditaría em nao tomal-ohia E, comtudo, maís ela fora sempre ai Jeum sús alguem Ihe tivesse dito isto, quem para o por grave Bandarra semeihante ticinio va- ofensa. nunca profetisoucom acertó. fugira d'ela,como máe deixando a sem amparo e sem d'um de peste, ramo conselho marido, disfargar os seus ; o procurandourna formula hábil para propósitosdeshonestos, mandara-a a casa do lavrador" á amostra, esperangado em que á vista do piteu se Ihe abriria o apetite. A despeitode tudo,reconhecia-se agora mais ligada Antonio do que poderlasupdr, tao fortemente ao seu ligadaque a sua abjecgao,entregando se por dinheia enchia de furia repulsiva. ro, nao ? O que a captivavan'esse homem O seu aspecto varonil, o seu desembarago de ho" maneiras delicadas,a sua voz mem forte,as suas alta e bem modelada, sobresaindo nos balhos ; a sua toda a em periciade cagador, a sua superioridade, especie de jógo, sobre todos os mogos da Aldeia. Captava-a ainda o segredo, o misterio da sua de vida,sapateiroalgarvioque um dia,pouco mais tarali sem que o dealbar da madrugada, aparecerá d'onde vinha, dizer quem era nem vagabundo — SCENAS 187 VIDA DA talvez criminoso pretende fixar-se, que que procura asilo. Depois o mestre Antonio fora o primeírohomem bracos"que Ihe afoguearaa cara que a apertáranos a cabega,n'um meio sombeijos, com que repousara de volupia,sobre as suas virgíneas. no pomas yinha ela da Viiia, Urna tarde,quasi ao lusco-fusco, encontrou-se ele com no casaráo d'um moinho que trezentos passos mais ou menos, a uns ficav^a, pouco outeiro dominando da estrada,n'um pequeño a vasta planicieá roda. Encontró combinado, está bem de logar se por ali nao andasse nináquela hora, maioral ou transeúnte, que puguem, desse dar tentó da manobra, indo besbilhoteal-a na Aldeia, rompendo-se definitivamente um segredo que eles se obstinavam em guardar,e tínham conseguido e ver, só teria que guardar até entao. Ahí, n'esse abandonado mulheres a tas abrigode vis- a menor indiscretas, entregou se Ihe sem fosse aqueta artificiosa resistencia, que mais nao simulada resistencia que geralmente oferecem as curiosas e ao casarao, e se que entregara,condescendendo. . . com propriavontade. ; do Pois bem sem motivos Ao cera que mestre ela toda sejada posse uma Antonio, a pureza d'um se para fora sempre ensivelmente honesta. máe, do moinho casarao corpo como trara, en- envergonhar diante da mulher de bem, irrepre- apenas da saira sua sem seu namorado, ofere- a táo devirgindade, mancha, ¡maculado SCENAS i88 viera como um para mestre táo a sem sua honra de moga donzela máos Antonio,guando sacrificio, que era enloucura, só poderia dar satisfagáo sua plena, compromissos, aos seus apetitesde macho errante, hoie aqui,amanhá além. E que fizera seu Antonio ? fraqueza; sua liberdades que outras o mestre o abusara da Nao do A VIDA d'aquelehomem, como se fosse fructo maduro, que se dá, nao para guardar,mas comer logo. Tudo ¡sto puzera á disposigaodo ñas puzera-a e mundo. ao DA (ossem nao tivera com nao as o que ela código desrespermite,e que sendo maitas vezes peitosasda inocencia,atentorias do pudor, deixam amor inviolada a castidade. Reconhecia tinba para que vida de gratidáo, e teira,queriaele essa que com o marido divida,que contraira Ih'a pagasse uma di* em sol- depois de agora, casada. Em O que moeda ? lavrador Filipeera um homem muito serio;nunca Aldeia nao havia e na desinquietarauma moga, das mulheres casadas. fosse mais respeitador quem Falavase dos seus com amores a aigarvia; mas, a ser isso verdade, com muita dor tais cautelas procedíao lavra- gente punha raciocinava a Amelia,uma que em duvida o facto. Depois, mulher casada a quem principalmentetem que dar contas do seu procedicia, mento, é ao marido, a quem deve fidelidadee obediencomo dissera o padre, no acto de os arreceber. DA SCENAS Mas actos OS pratica,sejatneles mulher unía que 189 VIDA quais forem, por conselho, sugestao ou ordem do marido,sao actos de obediencia, nao afrouxam antes apertam niais os lagosmatrimoniáis. O demonio. Queria-lhe . . parecer que fizera boa impressao no lavrador. A insistenciados seus olhares;um certo embarazo timidez com o acanliamento ou falas; que Ihe tocava no joelho,quando Ihe dizia aiguma coisá suas ñas de mais circunstancia; o facto de conservar á porta, a vel-a marchar fingimentosde distragáo, fóra,só nao olhando ipara tras por vergo- com pela rúa nha, tudo isto dava á Amelia o convencimento lavrador ficara agradado d'ela,nao o que se de propria- pelo beigo,mas bem dispostopara farelagoesintimas,aquetas relagoesque seriam zerem politica agraria,que ao sapateirotinha a base d'uma sugeridoo velho guardador de porccs. gos Se assim nao fosse,ele nao Ihe teria feito os larmente preso oferecimentos que ihe fizera,oferecimentos espontáneos d'uma absoluta e captivante espontaneidade. Ihe Nao como nao Ihe teria dado pedirá, para maior, teria feito tais sem se e tantos dinheiro, que ir mantendo, sem privagoesmolestas,até oferecimentos, ela nao Ihe necessidades de ao regresso do marido. Sobretudo nao nao despedida,que quando se procurar, Ihe teria dito,na tivesse acanhamento de o DA SCENAS I90 yisse precisao, porque em VIDA da melhor vontade a ser- yiria. Todos precisamos uns dos outros;o que Nao hoje tem mais, ámanha pode ter menos. faga cerimonias comigo. Em vendo que Ihe posso ser útil mais do que dizer-m'o, tem n'alguma coisa, nao e — nos será logo servida. Por sua vez a Amelia tivera a melhor impressáo do lavrador. Nunca tinha feito grande atengao via agora mas mais pouco reito como a menos era da altura do como de que chamando-a sal e uma um Do sendo nao se mulher va-se seu animal de presa. ninguem Ihe fazia a idad um suas cogitagoesbatem-lhe á ta, por- insistencia: O' Amelia!-.. visinha que ia pedir-lhe urna dente d'alho para temperar uma pitadade agorda. havia novas mandados, nem sapateíro nao abalara de vez, geral que o homem crenga despedindo para nao deixar saudades. Só a conhecia o verdadeiro motivo da stia ausen^ respeitonao dizia uma palavra; cala* muito bem calada,e até dava mostras, por disfar- cía, mas ce. com O' Amelia!... Era homem, tinha. N'esta altura das — n'ele, Antonio, dilargodos hombros, carro, as ]á passante dos quarenta, e reparo pedago d'um um d'um pritiga cabeludas máos as ou que ou a esse de partilhar a crenga de toda a familia da Aldeia. VIDA SCENASIDA 192 Quem — hayia de dizer 1 os implacaveisque as senhoras yisinhas, sendo opisenhores visinhos desculpayam a moga, niáo de muitos que se ela tinha de dar aquelepasso, antes o desse com o qualquer Filipe que com sr. Menos charepe ter onde sem Quem — a boa cair morto. aryore chega,boa sombra se o cobre. Posto ao facto da maneira missao prira a assertou que ganha urna que o por o na ás o yezes fica veri- quem como dos filao d'uma tece-as e mina, a desejose seus sua o que era exploragáo, é seguro o que a máo. mestre Antonio conta da seara, homem, medida á imediatamente comegar diabo gente tem Foi encarregára,o sapateiro aposta arriscada. pois que descobrira precisoera cum- cálculos complicados ou em ia correndo ludo a que mulher radiante de satisfagaocomo mostrou-se quem de a como e como pedindo trigoao labrador, nem só foi-lhe pedindo tambem, por de pao yive o intermedio da os mulher,aquilocom compram que se todos os seus pedidos eram prompta melSes, e e mente generosa- satisfeitos. se Agora mais do que nunca, o sapateiroentregábaá mandria,dias e dias sem pegar na sovela,logo pela manha, engulido o bocado- abalando para a passando-osna taverna, caga, e as noites,os seroes, logando a bisca ou a pedida, conforme tinha par- ceiros para nha os como tí- gastal-o, liberal em era tinham intimo no que 193 d'estes jogos. Dinheiro outro ou fartura,e com mesmo um VIDA DA SCENAS ele desprezo? por na juntavam-se-lhe pangalhada,e achavam que ele arejava as qa á desenvoltura com certa gra- do massas lavrador. Filipepara casa do mesletre Antonio farinha,o azeite,a carne a e os ia com ele, abundancia, porque ás vezes e gumes, de sucia na yenda, mandaba dizer á mulher que Ihe mandasse um petisco,e ela mandava-lhe um naco de de febra, se a tinha,ou entao urna posta de carne dois toicinho alto,um ou prato de azeitonas e um mais queijinhos, esquecendo o pao alvo,como nao ia de Tudo do casa sr. — ninguem comia Os encontros de ter Aldeia, na do logar no visse ela,e Nao a quem cómodo era visse a o lavradar. Amelia deixaram a indo ele por um lado, indo o vissea ele, a nao que quem campo, outro, de modo ser Filipecom sr. ela por nao a a ela,nao este bucolismo desse por ele. errático, que ás obrjgayao layrador a fatigantes rodeios, postado maioral em um qualquercabego, a olhar pelo rebanho, e d'ali, sem se seu podendo apermoyer, ceber-se de tudo n'uma área de grande raio. yezes A pouco e indo ele a casa em pouco a Amelia foram a rareando casa do os idilioscampestres, layrador ou indo da Amelia, que o sapateiro, homem creto, disele entrando pela porta da rúa, saia logo pela porta do quintal. 13 SCENAS 104 Com imprudencia de a Antonio VIt)A DA certos maridos atraigoados, algumas yezes a casa, inoportunamente,tendo declarado,á saida,que ia dar urna volta larga,demorando-se por fóra até á mestre regressava noite. Encontrando daya se Quasi os que nem seus tinha saido De do bom e postigonao \á sabia que o ou o labrador tinha entrado. e Amelia nada sua do melhor, trajayacomo um quando metía nheiro,sempre caras e havia falta em a e zendas porta e á medida já trabalhaua pelo oficio, ganhos diminuiam,as suas prosperidades aumentayam. A a trabalho de bater,porque ao mulher a ou fechada máo abundayam morgado, de di- á procura algibeira? na mía co- das chitas baratas para as falengos de seda,aos domingos, ]á usaya as ; encontraba. o passara ; casa rendinhas e as franiasnos ca- seus sabeques e ayentais. Apurada no yestuario sempre ela fóra,e nenhuma ela,sabia tirar da sua mingua de outra, pobre como Dizia mulherio da Aldeia, quando ela o taya, ainda solteira, para diabo O — da moga uma festa nada pde na em enfei- se Vila : cima que Ihe fiquebem. nao talhada de corpo, e rustica como do monte, sabia combinar formas Era bem pria urze com o mais requintadobom tra de costura ; e olhos. efeitos táo agradaveisaos recursos cozesse — Se como um mas na Vila gosto. Nao nao a e tiyera hayia quem prócores mes- talhasse ela. dia Ihe der para bordar a bastido- DA SCENAS res, \7era0 que nem VIDA 195 senhorinhas de Lisboa Ihe ga- as nham. Deixara á de ir trabalhos do campo, dia, e um forno,saiu-se em dizer que tinha muita porta do de pena já muiio do — — - — aos ir ás mondas, por nao Porque nao vais ? homem Porque o meu Qual d'eles?• Dizia toda sumido ; sava a quere. • gente se que ele nao via tinha outros nao nao Antonio levas- mestre o lavrador ajuntava-secom o verdade Na trabalho um gosto. seu . se ser senao a Amelia. chao que o desejosque ela pi- fossem nao os desejoS;outra vontade que nao fosse a sua vonás vezes, a pensar que ela pertade. Surpreendia-se, tencia a outro homem, legalmente casada, e que o seus marido, ave de arribagáo,por quaisquerrasoes que da psycologiados veados, podia abalar d'ali sao com de o ver, de Ihe falar.E entáo senela, ou proibil-a d'um ato violento,d'uma acgao crimitia-se capaz nosa fizesse desaparecerde que deitar tombas gaspeas para d'esse frete,sendo de que de caga, as Ihe seria difícilencontrar Nao gasse e a nao morte bem do mestre seria lamentada regosijoem toda a vez o sapateiroindo no. profundas do inferquem pago, e se tinha encarrea za certe- Antonio, n'um. acidente por ninguem, antes sada cau- familia da Aldeia,onde ¡á SCENAS 196 havia nSo DA VIDA de respeitoque única pessoa urna nao Ihe tivesse gana. Durava esta sesao, felizmente que se nao repetia ele ia ou frequencia,até que eia o procurava robustecendo-se logo a sua confianzano procural-a, mestre Antonio,urna confiangaque já yinha de iontornando-se em irrecusaveis, proyas ge e assentava de dia para dia mais firme,mais solida. D'esta confiangaparticipaba a Amelia, e de certo modo participabatoda a familia da Aldeia,jurando tihomens e yelhos, mulheres, novos e que nunca com coisa assim,pouco visto uma nham labrador Filipe, a Amelia todos tres rem mesma o cama. dia, pela meia tarde,o Um para na e a Ihe pagavam de nove o bocadinho mais tar' ao Monte tostoes. Fazia-me — amanho um só voltaria á que Calado,a ver se d'uns sapatos,na importancia tencionava ir porque Antonio abalou mestre sósinbo,avisando de caga, noiie,á hora da ceia,talvez de, faltando para o mestre Antonio dormi- boa conta receber agora este dinhei' rinho. O só voltaria á noite. Como tivessem de tratar coisas serias, de deragao,assim a da Amelia,petiscou vindo ela abrir,fragalhoteira, do anuncianferrolho, com alegríadesenvolta que o marido nao estava, no e lavrador,passando pela rúa porta com uma e que lavrador entrou o a grande pon- Amelia fechou postigo porta sem tranca e postigosó de insignificante resistencia. lingueta pequeña o — SCENAS Estáyam batem O dois os DA VIDA 197 melhor da no guando conversa á porta duas coragao pancadas fortes. fala,mas adivinha,e nao lavrador,dando o coragáo do baque, avisou do perigo que um ría, cor- fugissesem demora. Renovando tro as pancadas na porta,sem que de denIhe respondessem, o sapateiro meteu o postigo dentro, e fazendo dar volta á chave, escancarou a se nao porta, entrando de espingardana se quem prepara para Pela porta que máo, na atitude de desfechar. entre-aberquintal, ta, lobrigouo lavrador,que fugia,parecendo que tinha asas nos sapatos. Desfechou precisamente no momento á distancia em que ele saltava a parede do quintal, de mais tres quatro ou deitava para de cem graos o pregando-lheno rabo de chumbo, que mal furaram a passos, pele. Correu e armado a para com a porta da rúa, dando volta á chave, navalha do oficio, de ponta aguda e folha larga,atirou-se á Amelia, já quasi desfalecida, cravando-lh'ano ventre urnas poucas de vezes, com requintesde crueldade. Acudiram os visinhos,bomens e mulheres, acudiu gente de todos os pontos da Aldeia,e logo a porta foi metida dentro,a ninguem ocorrendo, em semelhante confusáo, dar volta á chave, o que dispensaría o A da gue, a arrombamento. Amelia, sumariamente vestida,uma camisa, descaiga,agonisava n'uma caida aos pés da cama. saia por poga de cima san- SCENAS 198 sapateiro o de tra de voz leve mais prisáo, signal de de altos nao protesto, ele fizera zer ao lavrador, d'aquela á trágica Mata- — o deu ao raizeravel instintiva • • mesmo amos- Mata-se ladrlo do cara forra, dinheiro com sai-se lavrador, com agora Ele Ihe chegasse d homem casado tio n'um banco tudo que velhote se favida com . meteu lher mu- a beber e tripa á pandega?, suas destas, • como ofendido se na de sua e pente re- ra hon- ! Garcia, Francisco de !• é que as para vergonha, a saira comer agáo uma mesmo pretenderá malvado • para farta á o em e assassina. este !• prisao, fizesse que furia de . á Ihe a milagrosamente scena !• se o com se que que Grandissimo — ram, mais a contentava se mulher, que — cabos, esbogando nao reclamava berros O dois resistencia. mulherio O VIDA acompanbado regedor, O DA pedra á e passava porta como e cegó da se tolhido, sentado soube venda, ali de Comentou passara. o : Ninguem é pela se certa. fie nos bois mansos ; quando mar- SCENAS DA VIDA toda samento, gente, aquele caela rica,ele pobre, ela esbelta, ele desageí- Fóra uma surpresa para a tado, ela sadia,ele doente, ¡rremedia^elmente doente, opiniao dos médicos na — epiléptico, com manifesta gocios depressáo mental, absolutamente indiferente aos neda sua se a mulber, casa, de que ocupaba inteira liberdade,sem respeitotrocar com com a esse ele uma ro para palavra.A*s segundasfeirasdava-lhe dinheidinheiro para o tabaco, e toda a semana, todas cha^enasinha café,uma o para as de café na brasserie, tardes,depois de jantar. Fazem-se entre associagóes por as pessoas, como contraste, segundo entre um as ideias- mecanismo naturalmente sem o rigorcom explica, psycologia fazem as demonstragoes em geometria, mas se que maneira satisfatoria. A verdads é que ninguem por sucede, incompreendera aquele casamento, e como que a varia^elmenie,perante um facto que nao ende, cada qual o explicavaa seu modo. Aos vinte anos a Rosita, educada n'um se compre- colegiode casamento Londres, fora pedida em rapaz por um de boa familia,instruido como ela,bastante mais rico do que ela,mogo galanteadorque todas as mulheres desejawam,que todos os maridos temiam, embora ele Cafosse positivamente libertino, como o famoso nao cavalheirode Faublas,sem escrúpulosque um sanoya, o detivessem na das realisagao suas rosas. conquistasamo- nacional da Graninstituigao flirt é uma Bretanba, um capituloda moral inglesaequivalente O SCENAS a VIDA DA versículo da Biblia, que um gáo todas em idades as e em se devo- praticacom todas latitudes da as Rosita fóra educada a geografía social, e porque n'um colegio de Londres, á moda británica, o facto do noivo cultivarabundantemente seu de escandalisar,parecía até a que longe flirt, Ihe era agradavel, o Ihe arreigavaa convicgáo de que porque todoá da cidade,o ele era, de do. digno de ser amaCertos maridos,geralmente os predestinados, gosIhes cortejem a mulher, porque isso lísontam que vaídade de a sua geía o seu orgulho de proprietarios, beleza virtuosa preferidospor urna requestada os mogos mais — como Lucrecia a Ora sucedeu mente a que días em fechar agradavel- Rosita,para a vida de solteira,levando sua velha amiga, que uns romana. uma era comsigo amiga já velha,foi Sevilha,por ocasiáo passar Santa, Semana da comboio em seguindo no mesmo que seguía o noivo, conforme o aiusteestabelecido. O facto íornou-se foi ele,durante e todas as conversas, días,o assumpto uns comentando-o malicia,outros comentando-o nos termos na seu dade, ci- obrígado de singela com mais baixa- injuriosos. mente Poís viam conhecído imedíatamente uma se de estava fazer justo o casamento, como toda a nao porque gente de sua ha- dasse, casar primeiroe viajardepois ? ral Já era vontade de fazer escándalo,ofender a mosentimentos de os corrente,a moral estabelecida, todos quantos considerara a moral como a obriga- SCENAS teem que cao • os • ? DA VIDA outros de portarem bem, se dentro de certos preceitose regras formando dos usos e costumes. inédito, sempre Para Sevilha,juntos, um e rapaz um a digo, có- rapariga,ele urna ela formosa, ele capaz de fazer perder d'amor esbelto, da mais atormentada monja, ela capaz de o coragao ermita ! transtornar a cabega do mais inspiritualisado Onde quer cafés nos apareciam, ñas que como como rúas ñas vas, pra- theatros, despertavam um nos grande movimento de curiosidade, que se traduzia gestos de admiradlo e murmurios de simpatía. — — Que guapo Que hermosa Ser ver que notada todos em I ! Sevilha pela beleza em os olhares,na elegancia; andaluza,se prencapital e dianí á graga dos seus meneios, admiravel escultura dos que faria a reputagáo do mais afamado artista de toos lempos, antigose modernos, porque Ihe dava noivo,um seu temiam Naquele ra ao a ano havia entre a intervalo d'uma semana, d'um tranvía, na apear-se uma pequeña alguns días,a noivos dar um Ro- dos admiravel Antinuos que todos os maritodas as mulheres desejavam. um fizesse por e a para satisfagáointima e trasbordante, plena consciencia de ser digna do d'uma sita motivo era n§o Santa Semana e como a e a Fei- aia da Rosita, do, Praga de S. Fernanentorse, que a obrigaria, sair de casa, salto de Sevilha a resolveram os Cordova, deven' SCENAS do iá notamente estar pnncipiasse.Arabos velhos famosos e VIDA DA 303 Sevilha quando em feíra a tinham grande desejo de visitar Paizes musulmanos, e pois que as circunstancias Ihes proporcionavam belamente a sa* embora tisfagao, completa,d'esse desejo,resolnao mais veram nao perder o ensejo,que talvez nunca Ihes oferecesse se Quem táo favorayel. visita Cordova raramente intuito,sendo estrangeiro, que faz o nao com seja o de outro ver a Mesquita,boje templo christao,e a Mesquita nao dá horas,mesmo querendo ver tudo para mais de alguraas pelos miudos. Tendo chegado a Cordova antes do meio dia,depois do almogo deram urna volta pela cidade, indo rone seguidamente ver a Mesquita,servindo-lhes de ciceum pobre diabo que aliperlo vendia bilhetes postais, dova com reproduQoesdo Templo, e urna historiade Corá época actual» desde a dominagáo musulmana Rosita gostou muito de ver aquela floresta de columnas, fazendo-lhe notar do mais O marraore, cicerone propina - fino o cicerone que diferentes na cor fazendo jus a explicava, todas e uma no eram feitio. avultada : As columnas eram mil setecentas e cincoenta. Os desde que a cídade caiu e duzentas;agora ha só árabes e ouuns capiteis, tros romanos, mente abundantealguns bisantinos,eram dourados thesouro do templo havia abundancia e no de ¡olase pedras preciosasdo mais subido e pouco, prego. Tudo isso foi desaparecendoa pouco em poder dos christaos. SCENAS 204 VIDA DA E acrescentou: Dez mil lampadas que nunca se reapagavam, forgadas por candelabros espantosamente grandes, — iluminavam Mesquita. Eram táo grandesos cande* labros que consumiam, cada um deles,no ano, aproximadamente quinze toneladas de azeite. Mais por coquetismo que por devogao, a Rosita quiz ajoelharperante o altar-mor, a pensar, vagamente, a bem que car Mirhab o podiam os christaos ter deixado fi* dos infieis, o santuario onde que era eles guardavam Rosita especies consagradas, sob efeitos,á indinada era nao cagáo religiosa que seus suas a de AIcor3o. forma A as que recebera recebera ao no na e a edumisticismo, somada, nos colegio, deixara-lhe o familia, espirito livre, quasi indiferente ás praticasreligiosas, alheio a congeminencias theologicas, e absolutamente resaibos de filosofia.Nao com saber, nem como Thereza uma era de Jesús Alcoforado, de Be¡a, uma a Heloisa uma sentir; no mas no era^ adoravel tentagáo soberbo fruto,que um carnal,um perfume de vago tornava ainda mais apetecido. religiosidade mente deliciosaPorque assim era, em materia religiosa, mo ignorante,conhecendo táo pouco a Biblia coalteou o seu espirito até o Alcoráo, a Rosita nao Deus, se fora tao, se zia, umas em nao e a saberla responder,n'aquellemomento, Mesquita que fdra uma poucas se convertera como igrejacrista, de vezes menor, em templo cris- da sua a que se fregué- con^ertera Mesquita,para maior gloriado Profeta. DA SCENAS Por detraz d'uma coluna VIDA 205 escapando á vigilancia dos guardas» e aproveitandoo discreto isolamento da Mesquita,sem Rosita e o noivo outros visitantes, beijaram-secom lindas huris que o mais as frenesi,como enchera fervoroso o se ela fosse Paraizo musulmano, a sua causa, e ele das do islamismo,digno de to- crente bemaventurangas prometidas aos defenderam das urna e que foram. obedientes sempre aos seus mandamentos. Minha — anjo adorado I Meu — O linda moira ! estrangeiroque dos visitaCordova, na só ali vai para casos, templo cristáo,e mas horas, tres ou Os sabios,os a admirar Mesquita nao a g^neralidade Mesquita,boje dá para mais d'u' tiva. quatro, de admiragao contemplatos, os eruditos, excepcionalmenteculduvida, dentro da presente Mes- podem, sem velha historia do musulmanismo a quita, evocar na Península,sobretudo a historia do Kalifato cordovez, táo cheio de lances Tal trágicose de aventuras poéticas. dos gentisnoivos lusitanos, era o caso esinstruidos na historia geralda Península, movendo grandemente a curiosidade de nao cassamente e nao os conhecimenos aprofundarem, a este respeito, seus tos. Vista a Mesquita, eslava vista a cidade, uma grande e populosa cidade n'outros lempos, táo populosa alguns auctores dizem ter ela encerrado altos,guarnecidos de torres e basmuros que nos seus SCENAS 2o6 D Al VIDA tióes,aproximadamente um milhao de habitantes.En- tao, sim, devia Cordova, independentementeda Mes- quita,ser cidade bem urna digna de visitarse, repou- sando por instantes ou por horas á sombra das suas palmeiras,dos seus grandes cedros frondosos,das das larangeirasem flor,ouvindo o murmurio fontes,d'aguas frescas e cristalinas. suas suas noite, depois do A' theatro,a cha tomarem na Gran dois o mesmo aos Capitán, ocorreu pensamento ou desejo,que a Rosita,n'um enthusiasinfantil, quasi batendo as palmas, como mo as crean* forma de consulta, ordem na Qas, expoz que era uma Avenida imperativa: E — se E' yerdade,se — Cordova. Ali,em e fosssmos até Granada nos a regressar a a . • Granada ? valia a pena demoraremse, tambem nao vaSevilha,antes da feira, lía Rosita nhia de guns dias para nao mais tanto pena, nos fossemos ?. que a aia ou dama de compad'alrepouso precisava do completamente ficar curada da ainda en- torse. bastar dois dias para verem a linda capital dade cireino granadino,mais interessante, como Deviam do moderna, que muito mais pequeña No velha Cordova, mais pequeña, que Sevilha. a día seguinte, pela manha, meteram-se a cami- rápido,e perto do anoitecer,a muito boas horas do iantar,chegaram a Granada, nho, em encantado combólo o noivo de Rosita com os montdes de re- SCENAS ao8 VIDA dia seguinte,pelo primeirocomboio, no Sevilha,sem a DA demora E acrescentou O — regressando Córdoba. em : Florencio da Administragáodo Concelho diz muitas vezes, falando do partidodo Zé Dias, chamado Cdnstituinte,e que se desfez em pouco tempo, d'ele»boje por desertarem seus horaens de valor : A ragem. digo que Eu — primeira vez vi a sucedeu tos, como seu os e outros, os ultimo abencer- estiver que sala onde amanha uns, com ele,já Ihe abencerragensforam mor- liberaes do Gástelo de Extre- aos E' capaz o homem de ser abencerragem sem fazer ideia do que isso foi! No dia seguintedeixaram Granada, e em menos moz^ de vinte quatro horas entraram dizia a Rosita, uma e feito,como de nupcias,que A entorse acompanhala — que o os ainda nos um mez por fóra de casa permitíaá amiga de Rosita dores já com menos passeios, nao seus sem quando ou ano, — ou firmeza pé. E se nos fossemos embora ? ]á fago ideia do é a feira, tenciono morrer cedo, para e como nao apoiandose mas antecipadaviagem de quando casassem, dispensarla, quinze dias irem passar Sevilha,tendo em nos apetecer,voltamos cá. tinhamos pensado Nao ganos?Tinhamos, no ver em o bairro dos ci- .• — gente é nos a estou mesma mas em eu, porque acho que nao vale a pena. toda a parte,e farta de ver os tenho ao pé da porta. Essa ciga SCENAS Sempre — para a mais era vermos DA VIDA 209 coisa urna víamos, que precisavamosadiar muito nao e via- a gem. Estou — ludo por demorarcomo se nunca os de tivessemos nos quizeres; para em nossa mente, franca- vsr ciganos, é que tardar re- vantagem, o casa, casados, unidos vermos mas visto,acho nenhuma sem encontrarmcs nos cidade de tu gente aquí só a necessidade,e sem prazer se que para e a feli* sempre, ! querido amor No segundo dia de feira, á noite,tomaram o combólo de Badajoz, com bilhete para Lisboa,anciosos casa. por se apanharem em Marcou-se o dia para o casamento, dispensadosos banhos, tendo a Rosita,antes da abalada para Hespanha, deixado tudo arranjado e díspostopara casar no proprio dia do seu regresso, se tal fosse a sua raeu vontade. O da peor noivo, adoeceu de com uma cama, Passou entao ísto é, o pagem, grassava um ataque na cidade intensidade apavorante. o dia todo fatigadomas de faria,como acordaría o quasi repentinamente,com gripepneumonica, que Passára na foi que passagem, ao no campo, bem costume, um e á noite metera-se disposto»calculando sonó reparador,de que que luzir do buraco. bem saber o que tisem inquieto, pela manhá, nha, ás voltas e reviravolías, verificando, pontada que tinha febre alta e constatando que uma deixava respirará forte, do lado esquerdo o nao a noite i4 SCENAS 2IO voníade, fazendo DA VIDA respiragáomuito superficial, uma defeza. por Velo logo o medico da casa, e á tarde vieram ouquais,reunidos em conferencia,de- médicos, os tros dararam o que caso vidade, reservando era grave, d'uma extrema gra- Em nova conferencia, prognostico. sem discrepancia que teve logar no dia seguinte, d'um voto, declararam os ilustres galenos que ali bavia nada que fazer; só por milagre o doente nao poderia salvar se. Afrontando audaciosamente ceitos d'uma do motivo seu uma que para a cias convenien- falta d'um sacramento amante pessoa seja nao dedique á sacrificios, se os maiores imenso amor, completo, impondo-se por chamadas em sao, Ihe parecendo que nao as grande parte,regras e premoral hypocrita, a Rosita instalou-seem noivo, dispostaa ser a sua enfermeira» sociaes,que casa o amada pessoa milagre? Um Talvez sem Ha o fizesse o seu a sua rá© dedica- carinho sem limites, o seu igual. n'estes actos de renuncia extrema» sempre altruismo que é a expressáo mais alta e mais n'estes actos bela da afectividade humana, ha sempre d'um parcela de egoismo, sem o qual entrariam na esphera da bondade divina,que a creatura nao pode atingirsem perder o merecimento de quem realisa o uma bem tendo Nao a liberdade de realisar o mal. podia ser maior comendo e a carinhosa solicitude da Rosita, dormindo ao pé do seu querido a um fazia ele nao ela que 211 dormir doente, se podia chamar-se táo leye que pelo somno, movimento VIDA DA SCENAS leve passar o mais pequeño acudisse,como nao se acordassePrecisas d'alguraacoisa, — O desgragado volvía cheios d'uma ternura suave todo o amor — As — minha esperangas olhos amortecidos, os agradecida,e Ihe enchia que ? sorriso contrafeito talvez,a única forga que Entáo, doutor, posso ter era, amor ela para n'um exprimir-lhe, curava meu que é o o e coragáo, impedia de esperangas pro- roso, doloe que parar. ? licito ter n'um rcilagre, senbora. O fez, e logo a Moral publica, se milagre nao bre gulosa de escándalos,mal desceu o paño sosempre entrou a comentar lévolamente maaquela horrivel tragedia, o passeiode Rosita a Sevilha, chegando delirio da febre,fia afirmar- se que o enfermo, no zera revelagoes tremendas. Era falso ; mas bastou isto corresse, para que muita gente, na cidade, que principalmentemadamas, se puzesse em espectativa contando os mezes, anciosa, contando as semanas, se eslava inquirindosolícitamente da saude de Rosita mais gorda, se comía de tudo com gosto ou tinha estravaganciasde apetite,anomalías de paladar. O facto estranho, para as senhoras vísinhas ver— dadeiramente casa escandaloso da Rosita ir meter do noivo, postada junto da arredando d'ali pé, quer sua de día quer ás boas almas da cidade,sempre se em quasinao de noite,garantía cama, intrcmetidas na SCENAS 212 \?ida alheia, que DA VIDA Rosita procuraba fazer um casa* in exiremis, nao pela vaidosa pretensáo de mentó a viuva, mas pela necessidade de garantirao seu filho urna legitimapaternidade. Amor, renuncia,dedicagao,sacrificio! apresentar como se Coisas muito bonitas tao fóra da mas as quem Estaba yersagóes, com ctora das E' ~ no que procuraba. propriamenteau- faltas. graves dáo, afinal de que factos, randocomplacencia,considedo que yictima mais suas dos e contrarla en- nao o de generosa ares as objecto de todas asconquasi totalidade maledicentes,aU sua como a -- dramas, nos mosa parte,armado da faphilosopho como o homem o Rosita sendo na a Diogenes encontrara a realidades toda por lanterna de gumas das procurasse cyníco nao e romances da yida,que positiyidade mundo no nos contas, as taes edu- ingleza!Quando é que se y¡u uma crianga,abalar de rapariga de boas familias,uma com Hespanha, na companhia do homem casa para moda á cagoes hade quem esta de ele se tassem táo ir meter se e — que novo em de nao é seu rente pá- ela?... como do homem, casa liyesse pessoas nao familia que E como o tra ! Como era calado,que mais recomenda forcado. em casos tais,quem mais quem mais rasáo tinha para estar nao fosse sucede, sempre murmuraba que casar se — adherente, nem entáo casar nao falar de em atengáo corda em ao casa preccita de en- SCENAS DA VIDA Era publicoe notorio que a com já noiva do homem quem dias n'um grave que 213 D. Felismina casou, Graga, oito passara hotel,em Lisboa, fazendo-lhe companhia tijera um um professor do lyceu, com longo quem flirt pratico,chegando a dizer-se que urna doenga a d'este aceso real,em Pois coenta, carne fazerem a osso, e da era esquinas, a minosas cri- manobras desaparecer desandar para especie de cartaz, colado urna mais no a prova libertinagemamorosa. sua D. Felismina,¡á a a morte, fóra originadaem namoro, atinentes portas da ás puzera os cin- todas em grande e horrivel crime de Rosita,enfermeira do homem, que, seria seu sem a intercorrencia d'aqueladoenga fatal, legitimoesposo, recebidos á face de Deus. as Nao raáe gritar aos ficava atraz da quatro ventos D. Felismina de quatro filhos, nenhum o Abrunhosa, a dos quais tinha parecada um deles,com o marido,parecendo-se, cengas com Ihe era atribuido pela opiniáo publica, o pai que que é a voz de Deus, sempre justae verdadeira. Durante um ano Rosita nao poz os pés na rúa, recebia em ¡anelae raras pessoas sua casa, Carregara-sede luto,como urna viuva, e horas esquecidas, todos os dias.a olhar o passava do seu retrato noivo, que Ihe parecía agora mais belo, na refrangenciadas suas lagrimas. ninguem a viu á Porque nao teria alongado mais o Hespanha, ficando por lá um mez, fosse,sendo provavel que a seu passeio por que epidemia, no mais seu nao re- SCENAS 214 DA VIDA já ti^esse desaparecidopor completo ? Quasi tinha remorsos de nao tanto mais que o hav^er íeito, fora ela,na pressa de se casar, que propuzera regresso, tirarem Seyiiha antes de quizera demorar-se tourada metia que Parecía em aos os a feira, e Badajoz, para assistira espadas de maior nome. dviam que de acabada perlo d'ela, um nao urna na pouco da perda ¡ntimidade,que nada poderiaconsolal-a, sua do seu chorando Bem desolada que noivo, Niobe a se ficariatoda a vida do prometido esposo. morte diz que o tem coragao suas rasóes a que compreende, frase rigorosamenteverdade paradoxo. deira,com ares vido Quando dia,que Rosita ia casar, volconstou, um cinco anos, por sobre o seu passeioa Sevilha» rasáo a nao foí geral,tornando-se surpreza se que o noivo era em ao pasmo ber sa- aquele pobre Mathias, feio e sofría de ataques desengongado, que desde pequeño epilépticos, incapaz de reger a sua pessoa e bens, sendo tristemente certo segundo a formula jurídica, ciscano. franum que ele nada tinha de regesse, pobre como Fizera mal e porcamente truQao primaria,chegando a o de ins- exame matricular-se no lyceu, rias frequenciado primeiroano até ás fecapaz da Paschoa. Por completo falho de atengáo,ind'um raciocinio elementar,estaría duas ou tres livro á meza de estudo, a olhar para um horas tendo levado a aberto,levantando-se fatigado,mal fazendo ideía do que táo lera,e logo esquecendo como pobre de memoria o nada que aprenderá, Nem de inteligencia. SCENAS 2i6 DA VIDA ela, na realidade,fizera urna viagem de nupcias a Hespanha, tendo-se esquecido de casar primeiro. Casaram, Rosita a e Mathias, fazendo-se o o samento ca- n'uma sem cápela particular, anuncio,quasi á porta da sem convites,para evitar o espectáculo, Igrejae dentro do templo, d'uma multidáo irrespei- tosa, repetirem a voz alta os comentarios da botica do Pascoal, Deus abengoasse aquela uniáo, conforme a linguagem bíblica,ainda nao tinha quatro de casada e já a Rosita amamentava o seu gundo seanos filho, orgulhosa do seu casalinho de bebés, Como se sadios. ambos lindos fortes,«mbos ambos parecidoscom o pai. ambos amores como os — Entretanto a decadencia física do pobre Mathias fazia progressos notaveis, menores, da sua decadencia moral. Ainda todavía,que os tinha vigor bastante dia por fóra, gandaiandopelacidade,ouvindo aqui,escutando além, para mas nao se pondendo nao intrometendo aos respondendo ao doente n'um mem casa, todo em parar ñas cumprimentos que conversas, que corres- nao Ihe faziam, nunca Era espirito a caricatura d'um hoaleijado, Ihe perguntavam. corpo o um farraposd'uma alma. de cada vez mais, quasi acendendo envolucrando Fumava uns manhl, tabaco outros, e nunca garros ci- saía de casa, pela pedir a sua diaria para tabaco para o para o cafesinho,ás vezes, muito raramente, sem e nos os — SCENAS deitando de café no VIDA DA 217 pequenino cálice de aguárdente um cana. Tinha mais d ataques agora maís com frequencia,e por tara seguidamente aos ataques, manifespropósitosde agressao, monologando em voz rude injuriase ameagas. Do que ele nunca se esqueurna vez, cía, fosse onde fosse que d'algumapessoa amiga, em propria casa, sua fatigado de ou era Um ao dia iniciar um filhos, porque crime, da familia de entao cama, os e mesmo Ihe faltava nao a si, a bolsa escandalisava ninguem, porque tintivo inconsciente, puramente inscomo as convulsoes. suas tendo visto casa, Mathias, o sao precisava ter cautela,por si e frequenciaas as victimas da ela,todas a em que los pe- resvalam fácilmente epilépticos os com fechava quartos ou ataque, esbogar gestos de agressáo, disse á Rosita que ao da medico o se deliberado lao pouco café casa em de verificar, tornando estrebuchar, d'um automatismo ataque, o botica,no na era O facto nao relogio. o tivesse as porta pessoas sua punha intimas escolha. A noites,antes de que mais em se partir meter na comunicacáo dormiam, ficando assim táo longe Gungunhana no castelo d'An favorita no kraal de Manjacaze. gra e a sua Felizmente o pobre Mathias nunca esbogou contra Ihe dirigiu ela um nunca urna pagesto de ameaga, carinhoso e meigo para lavra injuriosa, e se nao era filhos,tambem os nao tratava com com os aspereza, dispensando-se,até, de os castigarquando eles faum ziam do outro como maldades. o SCENAS 2i8 Nem DA VIDA criadas trataya mal, dispensando-sede as as cumprimentar, e ao que indispensayelmenteIhe perguntavam respondía por raonosilabos ou por gestos. Nao incomoda ; propriamente, urna era, pessoa tambem mas nao decadencia,um trema Casada e se Na nayeis sua es- animal estimavel. marido, aquela viuvez grotesca era sem a que noites, a as evocar tempos da os florida,cheia de sonhos, a delicias do isto avisinhar a envergonhaya. desoluQáo do seu leiío, pareciam-lheintermi- tortura uma de de antes era, confronto em com a sobretudo,as evocar, primeire neivade, seu mocida- sua e a tudo por vida presente, vasia sua e desolada. Ninguem á contivera no resvalar áquele abismo, e ninguem podia agora descer á profundeza do seu martirio para Ihe dar um de alentó, pouco Ihe insuflar um para Tinha anclas tinha gao, e que tornavam brava ao e maior seu o o cora, revoltas de orgulho Vislum- tormento. felicidadefóra do dever convencional, e a quem tem á Mal a moga estender-Ihe em colher procura a uma sur- cautelosamente, mao está rosa, que alta, miihares de picos aceroda, a defende-!a, rados. consolavam demais da Natureza, que cagóes tempo mesmo ainda preendia*se a como de coragem. d'amor, que Ihe quebravam pouco termos os para ás vezes d'uma filhosda inutilidade do nao reconhecer formula as os suas rido, ma- direitos reinvidi- imperiosidadebrutal. SCENAS Siurpreendeu, DA VIDA 219 noite, manchando urna as suas trangas d'ebano uns delgados íios de prala, e te^e o horror d'utua yelhice precoce, irremediavelmente perdida ela alegríasdo as para dentro conseryaya do dentro d'um conserva grande amor esse amor, como coragao, cofre um avaro capitalque um rende nada. Chorou, chorou, chorou, que Ihe nao quando a luz da manba Ihe entrou no quarto, quebrada de nao mir, dorolhos pisados de chorar,fo¡ sentar-se á ¡aos muito extensos, quasi inter" nela,olhando os campos» minareis como — a dor, sua como Fugiu-lhe o pensamento para andaluzas, e poz-se a rememorar e a desgraga. sua longe,para as essa viagem ras tér- cantadora, en- vos companhia do seu noivo, os dias festide Sevilha, as horas breves de Cordova, as tardes na passeando no jardim de les d'alipasseando a vista pelaextensa veiga* fuscas da Alcazaba, Adharves, talvez fosse ainda mais que se, e extensa dos lados do poente, n'uma se esbarras- nao cercadura de monta- pela grandeza e encantan» pela tonalidade da luz, á medida que o crepúsculo se uhas, que nao esmagam aproxima,quando pensar sonho que o céu é puro seu poema e Faltava nela Ihe se a se para nho aquele desgragado Mathias,um epilépticos a quem fizera o quem pai de seus dera a mao filhos. no e porque seu imbécil cova noivo í seu matar, calix,encontrou seu belo seu o horror d'uraa no depositaro cadáver do coragem havia fel no horisonte limpo.E o d'amor, todo de felicidade, desfechara aberta para ainda todo o cami- com de esposa, ques ata- de SCENAS 220 Fechou olhos,como os para recluir mais se a tro den- de si mesma, ia tomal-a urna crie sentindo que de choro, fechou a janela,principiandoa fazer, se muito vagar, com Horas a sua toilette da manhá. passadas,iá muito pelo dia adiante,como ouvisse nao rumor quarto do marido, abriu no porta, e foi andando a a VIDA DA nos telosamente cau- bicos dos péS) espreitarse dormia. Estava morto. Retirou-se cautelosamente,como bicos dos pés, ou nos do tinha acordalo.- receasse porque entrado, . acorda,ou por nao acreditar morte verificara pelos seus na propriosolhos" que pondo-lhe quasi o ouvido sobre a boca ligeiramente abería, a ver se respirava. Quando se perdeu o habito de ser feliz, nao se acredita mais na felicidade. de que sonó nao se — Chamou a creada e ordenou que Ihe servissem o almogo. Sentada Senhor — á ainda Passou nao um Ihe observassem como meza, que o almogara : pouco incomodado esta noite,só al- mogará mais tarde. tanto muito tempo que nao comia assim,com achando tudo excelente e servindo se detudo apetite, Havia larga.Olhou-se ao espelho que tinha em frente,e 'eve a impressáo de que a sua face era urna placa á de jardim com mólhos de cravos a raarginando-lhe SCENAS boca e Teyeo desvanecimento ainda nao de ainda 221 Terminado osolhos. bonita,e certificou- ser velha. Mal Ihe cabia era peito,inquietocomo no gao VIDA de violetas, emoldurandolhe ramos de que se DA urna o cora- ayesinbaengaiolada. almogo, deixando os filhos á foi ela propria acordar marido, ainda na o áquela hora, táo tarde. o meza, cama, •• E fosse se um Tinha muitas sa, clínico de pedra vida que ao larga experiencia,com medico dá ca» cuenta perto de cin- resp'rar,inertes como sem pticos, epilé- os se fos* madeira, n'uma suspensáo de de ou ilusao perfeita, sobretudo urna da periodo conoulsivante do ataque, o estar horas de ouvido dizer vezes terminado sem aparente ? de exercicio da profissao, que anos podem de morte caso aos lei- medicina,de morte real. Se iria afogar-se á vista do porto, malaventurado á tabua salvadora, naufrago que ao deitar as maos onda a p5e fóra do seu alcance, conde» vé que urna gos na nando-o Abriu vez, e á morte remedio! cautelosamente foi andando alvoroQO mudo minho sem nos de quem a porta, como da primeira bicos dos pés, a tremer, no tateasse ñas trevas um ca~ perigoso. Estava positivamentena posigao em que o deixara a cabega quasi inteiramente fóra do travesseiro, o brago direito pendendo fóra da cama, a boca ligeira. mente aberta,os olhos sólidamente fechados. Poz-lhe — SCENAS 222 a máo no VIDA DA peito estaya frió de neye. Abriu Ihe olhos,arregagando-lheas palpebras — pouco os tayam envidragados.Quasi Ihe colou — foi como — se o colasse a o um es- ouvido á boca pedra tumular. urna d'uma duvida ? Era lá possiyela sombra n'uma especiede siFicou suspensa, por instantes, deragao do cerebro,nao sentindo e nao pensando, os olhos presos a mulher ao cadáver,sem o yér, queda da Biblia convertida e fria como estatua em de sal. ai que gritodoloroso e logo todo o grande desgraga! n'uma aíligao,precipitándose acorre Súbitamente ouyiu-se um — desgraga! ai que pessoal da casa em tropelno quarto mortuario. Gente que ia pasfi sando, na rúa, entrou a ver o que era, e o mesmo os yisinhos,alguns dos quaes zeram que supuzeram — yissem fumo ou labaredas fogo, embora nao saindo pelas ianelasou irrompendo do telhado, mostrándose algunsyisivelmente tranquilos, perfeitamente todo aquele alyosatisfeitos quando souberísm que róío,em que havia gritose lamentagoeschorosas,era havia sómente tao d'esta para porque tinha passado Mathias, o inútil, Ihe quería mal, porque melhor. Ninguem de casa, ferozmente egoista,querendo que Ihe adivinhassem os los déselos e as vontades,e que essas vontades e déseele os e inofensivo, a era tomassera ser para as pessoas ordens,cumprindo-osfielmente promptidáo. com Dias nao como nao ser e dias para nao dava urna palavra á mulher,a Ihe pedir alguma coisa. dinheiro se ela índice Pag. o Moinho 5 , A Ouem As Bois A Riíinha 51 chibos vende 81 Galdérias 113 mansos 137 libertagao 199 ERR-ATA Na pagina 77, ultima linha, onde se lé Guilherme, leia-se Casimiro,