PoR dentro da lei rabino Itzchak Zilberstein Supervisão: Compilação e Tradução: Revisão: 3URMHWRJUiÀFR HGLWRUDomRHOHWU{QLFDHFDSD ,PSUHVVmRH$FDEDPHQWR Rabino Shlomo Safra Iaacov Orgler Rabino Chaim Vital Passy Duobles Design Sumago Este livro foi publicado pelo Makom - [email protected] Para qualquer assunto em relação ao livro entre em contato: 052-763-7983 (Israel) JXHÀOWHPDLO#JPDLOFRP Leilui Nishmat (para a elevação da alma) Daniel Henry Kuperszmidt Z”L Regina Flaksberg z”l Leon Flaksberg z”l Isac Susskind z”l Ernest Kuperszmidt Z”l (Aharon ben Avraham Yacov) Fradjla Gitla Kuperszmidt Z”L (Fradjla Gitla bat Kalman Yoel) Leilui Nishmat (para a elevação da alma) Mordechai ben Chaim Iaacov Rivka bat Eliezer (Leizer) Menashe ben David Chaim Iaacov ben Aron Ester bat Avraham Iaacov Meir ben Tzvi Lina Enia bat Baruch Ester bat David Baruch ben Mordechai Golda bat Nachum Tzvi ben Avraham Sumario 15 – INTRODUÇÃO - Quem é o Rav Zilberstein 19 – A CHANUKIÁ - Quando percebeu que não havia sido contemplado com a chanukiá, no sorteio que havia realizado com seu irmão, começou a passar mal.... 23 – A SUCÁ - O ronco era tão forte que os três amigos abandonaram a sucá e foram dormir em suas casas.... 25 – 90% ou 100% - A cobra estava enroscada no pescoço do soldado e cada segundo que essa situação se prorrogasse poderia ser fatal.... 28 – O XAMPÚ - Se o ladrão roubasse aquele xampú seria imediatamente descoberto.... 30 – A CARONA - O motorista do táxi continuou insistindo, dizendo ao jovem para que ao menos pagasse a sua parte.... 33²27É;,3DUDTXHVHUJDQDQFLRVRHÀFDUHVSHUDQGRTXHHOH volte com os $30 se aqui tem uma nota de $100....” 35 – O GUARANÁ - O calor era intenso e ele não hesitou em pegar aquela garrafa de guaraná do frigobar do seu quarto.... 37 – O CARTÃO DE CRÉDITO - Ele pediu para o amigo pagar no seu cartão de crédito, dizendo que lhe pagaria o valor total dentro de 3 dias, quando recebesse o salário.... RAV ITZCHAK ZILBERSTEIN 39 – O BÊBADO - Ele estava estendido no chão, inconsciente, e as pessoas decidiram chamar uma ambulância para levá-lo ao hospital.... 41 – SENA MILIONÁRIA - “Eu quero que você reze para que minha aposta seja premiada, e em troca, se ela for sorteada, te darei 10% do valor que eu ganhar....” 43 – O SORTEIO - O carro foi sorteado para um dos funcionários mais antigos da empresa, porém viram no chão um cartão com o QRPHGHRXWURIXQFLRQiULRTXHKDYLDÀFDGRIRUDGDXUQD 46 – CHEQUE SEM FUNDO - Ele cedeu à pressão e disse, “OK, você venceu, conseguiu derreter meu coração; lhe darei uma bela doação de $100.000!....” 10 49 – BOMBA RELÓGIO - Uma grande explosão estremeceu todo ROXJDUHRFDUURTXHHOHKDYLDDFDEDGRGHURXEDUÀFRXUHGX]LGR à pó.... 52 – O AÇOUGUE - Os donos do estabelecimento apressaram-se em esconder as carnes no açougue e entregaram uma “polpuda” quantia de dinheiro aos dois.... 54 – O RIM - Ao invés de realizar a cirurgia como havia sido combinado, o médico se confundiu e extraiu o rim que não tinha problema algum! 57 – A MOCHILA - O laptop novinho que estava dentro da mochila, pelo qual ele havia pago muito dinheiro, estava todo “espatifado”.... por dentro da lei 59 – ÔNIBUS 1 - Quando olhou no relógio viu que havia se passado quase quatro horas.... 60 – ÔNIBUS 2 - O motorista olhou pelo espelho retrovisor e ao constatar que não havia mais ninguém, fechou a porta do bagageiro.... 61 – GPS - Ao entrar no seu recém adquirido carro, percebeu que o GPS não estava lá.... 63 – O PRÊMIO - Ele folheou o jornal e viu a foto de seu amigo segurando o vale de 20.000 shekalim.... 66 – A PIZZA - Ele decidiu comprar uma fatia para ele também e acabou ganhando o prêmio de $1.000.... 68 – O ASPIRADOR - Ele voltou para casa satisfeito, trazendo consigo o aspirador que sua esposa tanto queria.... 71 – PLATOON - Era óbvio que se o soldado ferido fosse acompanhado pelo médico, suas chances de sobreviver seriam maiores do que se fosse acompanhado pelo enfermeiro.... 73 – A CARTA - E por incrível que pareça, o presidente respondeu enviando uma carta escrita em próprio punho no papel timbrado da Casa Branca.... 75²&21&255È1&,$(OHÀFRXWHPHURVRHPUHYHODUDRVHX cliente a existência de uma outra loja, e este acabar se tornando um cliente do novo lugar.... 77 – A VIAGEM DE VOLTA - Metade dos passageiros que estavam no ônibus desceram com medo de se contaminarem.... 11 RAV ITZCHAK ZILBERSTEIN 79²262)É(OHÀFRXFRPSHQDGRVIXQFLRQiULRVHFRQVHQWLX em abrir a porta, permanecendo com eles para assegurar-se que não tocariam em nada.... 83 – NINHO DE COBRAS - Eles observaram duas cobras entrarem por uma pequena fresta do luxuoso armário embutido.... 85 – O ELEVADOR - Ele estava com muita pressa e resolveu entrar também, excedendo o limite do elevador.... 87 – O AJUDANTE - Ele era um homem muito bondoso, com um JUDQGHFRUDomRHGXUDQWHWUrVDQRVIRLFRPRXPÀOKRFXLGDQGR dele dia e noite.... 12 90 – A PROPAGANDA - Ele quase desmaiou ao deparar-se com um anúncio que estava colocado num outdoor ao lado do seu.... 93 – A MALA - Ao chegarem ao seu destino, na hora de retirarem DPDODGDHVWHLUDYHULÀFDUDPTXHHODKDYLDVXPLGR 96 – O CASACO - Um impostor assumiu o lugar do caixa da loja por alguns instantes e após receber o dinheiro do cliente se mandou.... 99 – A MULTA - Ele garantiu ao motorista que não precisava se preocupar, pois se um guarda o multasse por excesso de passageiros, ele pagaria a multa.... 101 – O FUNCIONÁRIO LADRÃO - O dinheiro que o funcionário roubava não era nada, comparado ao lucro que ele trazia para a fábrica.... por dentro da lei 103 – PAIS ADOTIVOS - O coração dele o estava levando a se aproximar de sua família biológica, porém isso machucaria seus pais adotivos.... 106 – A CHUPETA - Ela teve uma idéia mirabolante....prendeu a FKXSHWDFRPXPDÀWDDGHVLYDQDSDUWHWUDVHLUDGR{QLEXVHSHGLX SDUDVXDÀOKDGHVFHUHPPHLDKRUD 108 – O CIRURGIÃO - Os dois cirurgiões tinham a mesma chance de sucesso, porém um tinha muito mais experiência do que o outro.... 110 – O ANÚNCIO - Já era muito tarde e não havia como ligar para o jornal naquela mesma noite....eles então pensaram em colocar o anúncio do noivado no dia seguinte.... 113 – O PARQUÍMETRO - Seu amigo não colocou a moeda, DOHJDQGRTXHQmRKDYLDÀVFDOL]DomRQDTXHOHKRUiULR 115 – O SACO DE LIXO - Após a refeição, o marido retirou a toalha plástica que cobria a mesa e a jogou no lixo, sem dar-se conta que lá estava o valioso anel de sua esposa.... 118 – A CASA - Seu amigo perguntou: “Por que você recusou-se a vender sua casa para mim, apesar de eu ter oferecido ao corretor uma quantia maior do que a paga pelo comprador?....” 120 – O PAPAGAIO - Ele viu que quem estava lhe chamando era seu própio papagaio, que havia sumido de casa há uma semana.... 122 – QUADRIGÊMEOS - Um dos quatro bebês estava correndo grande perigo de vida dentro do ventre materno.... 13 RAV ITZCHAK ZILBERSTEIN 124 – O COMPRIMIDO - O professor disse ao pai do menino que se ele não lhe desse um calmante todos os dias, teria que infelizmente expulsá-lo da escola.... 127 - REFERÊNCIAS 14 por dentro da lei Introdução 4XHPpR5DY=LOEHUVWHLQ" %LRJUDÀD O Rav Itzchak Zilberstein nasceu na cidade de Bendin, na Polônia, no ano de 1934. Ele é considerado uma autoridade na lei judaica e um especialista em questões médicas relacionadas à halachá. Ainda na sua infância, imigrou juntamente com sua família para Israel, e estudou na Ieshivá Etz Chaim, em Jerusalém, sob a orientação do Rav Arie Levin. Na sua adolescência, estudou na Ieshivá de Slabodka em Bnei Brak, aonde se tornou um aluno do Rav Iecheskel Abramsky, que lhe concedeu uma ordenação Rabínica. (OHFDVRXVHFRPDÀOKDGDJUDQGHDXWRULGDGH5DEtQLFD de nossa geração, o Rav Iosef Shalom Eliashiv (neta do Rav Arie Levin). Ao longo dos anos, conviveu com outros Sábios, entre eles o Rav Shmuel Wosner, importante Possek (Autoridade Legal Judaica) de Bnei Brak e recebeu dele uma outra ordenação Rabínica. Subsequentemente, o Rav Zilberstein se mudou com sua família para a Suíça onde atuou como Rosh Metivta e Maguid Shiur na Ieshivá de Lucerne por vários anos. Ao retornar a Israel, o Rav Zilberstein dirigiu as instituições “Beit David” – onde atua como Rosh Colel – na cidade de Holon. É conhecido como conselheiro para todos os tipos de público – dos mais religiosos até os mais laicos e um grande público participa de suas aulas. Ele escreveu uma série de livros sobre questões médicas relacionadas à lei judaica; e também transmite seus conhe- 15 RAV ITZCHAK ZILBERSTEIN 16 cimentos em uma aula mensal para médicos especialistas – tanto religiosos quanto laicos – há cerca de 40 anos. Agora, estas aulas foram publicadas em uma série de cinco volumes. Ele também leciona semanalmente, sendo uma das aulas para Rabinos e médicos no hospital Maianei Haieshuá; outra, na cidade de Holon todas as terças feiras no Beit Haknesset Mishkan Avraham; e outra aula no Bairro Ramat Chen. Nelas ele costuma apresentar uma dúvida jurídica ou ética, e em várias oportunidades, a questão apresentada se relaciona à temas médicos. Após apresentar a questão, ele a desenvolve e soluciona o problema utilizando as fontes da Torá. Em suas aulas ele costuma trazer os ensinamentos de seu sogro (Rav Eliashiv zt”l) e de seu cunhado (Rav Chaim Kanievsky). Semanalmente no Bei Haknesset Divrei Shir em Bnei Brak, ministra uma importante aula que trata de problemas relacionados a questões jurídicas em situações especiais e interessantes. Ele publicou vários livros: “Torat Haioledet” sobre temas de parto no Shabat, “Nes Leitosses” casos relacionados à guerra no oriente médio, “Malachim Umanecha” sobre temas relacionados ao Shabat, “Shabat Shabaton” sobre temas relacionados à Iom Kipur, “Chashukei Chemed” temas escrito segundo os Tratados do Talmud, escrito pelo Rav no Colel Beit David. Além disso, várias matérias dele são publicadas no “alon” folheto semanal “Beit David”, publicado pelo seu colel, há mais de 30 anos. Após o falecimento de sua primeira esposa, com a idade de 63 anos, em 1999, ele casou-se novamente e se mudou para a casa de sua nova esposa, em Ramat Gan. Atualmente, é o Rabino da comunidade de Ramat Elchanan, em Bnei %UDN6HXVÀOKRV$YUDKDPH$ULHVmRFRQKHFLGRV5DELQRV H 5DVKHL ,HVKLYyW HP ,VUDHO VXD ÀOKD /pD p FDVDGD FRP R Rav Dov Kook. por dentro da lei 2V HQVLQDPHQWRV GR 5DY =LOEHUVWHLQ ÀFDUDP SRSXODUmente conhecidos com a publicação de três séries de livros (através do Rav Tsoren) contendo ensinamentos e histórias, organizados de acordo com a Porção Semanal da Torá. São os seguintes: Aleinu Leshabeach (também traduzido ao inglês), Tuvcha Iabiú e Barchi Nafshi. 2 REMHWLYR GHVWH OLYUR p PRVWUDU FRPR SHUJXQWDV FRQWHPSRUkQHDV H SUREOHPDV GD pSRFD HP TXH HVWDPRV YLYHQGR HQFRQWUDP XPD UHVSRVWD QRV GL]HUHVGRVQRVVRVJUDQGHV6iELRV $ DQiOLVH IHLWD QRV GLIHUHQWHV DVVXQWRV WHP FRPR REMHWLYR PRWLYDU DV SHVVRDV D HVWXGDU RV FDVRV GD DWXDOLGDGHSHORSULVPDGD7RUi'HPDQHLUDDOJXPD ROHLWRUGHYHLQWHUSUHWDURTXHIRLHVFULWRQHVWHOLYUR FRPRD´KDODFKiSVXNiµDOHLFRPRVRPRVREULJDGRV DFXPSULOD$OHLTXHIRLHVFULWDSDUDFDGDFDVRp HVSHFtÀFDSDUDRSUySULRHQmRSRGHPRVDSOLFiODD RXWURV FDVRV VHPHOKDQWHV VHP DQWHV FRQVXOWDUPRV XPDDXWRULGDGHUDEtQLFDFRPSHWHQWH ('XVVDQWLÀFDGRVHMDR6HX1RPHQRVSURWHJHUi SDUDTXHQmRHUUHPRVHPRVWUDUiPDUDYLOKDVGHVXD 6DJUDGD7RUiSDUDQyV 17 por dentro da lei A CHANUKIa 4XDQGRSHUFHEHXTXHQmRKDYLDVLGRFRQWHPSODGRFRP DFKDQXNLiQRVRUWHLRTXHKDYLDUHDOL]DGRFRPVHX LUPmRFRPHoRXDSDVVDUPDO O pai de Marcos e Gilberto faleceu deixando uma herança para ser dividida igualmente entre os dois. Tudo estava sendo dividido direitinho, meio a meio, até que chegaram na belíssima chanukiá de prata que havia passado de geração em geração em sua família. O valor sentimental para ambos era enorme, e então, na impossibilidade de dividí-la, resolveram realizar um VRUWHLRSDUDGHFLGLUTXHPÀFDULDFRPHOD0DUFRVIRLRFRQtemplado, deixando Gilberto muito frustrado e chateado por não ter ganho, já que queria muito a chanukiá. Gilberto, que tinha problemas cardíacos, começou a passar mal e seu médico particular, com medo de seu estado piorar, dirigiu-se a Marcos dizendo que seu irmão não aparentava estar bem e que por ser cardíaco talvez sua vida estivesse em risco. O médico então pediu ao Marcos para que ‘abrisse mão’ da chanukiá e a cedesse para Gilberto, óbviamente recebendo o valor monetário dela em troca. Marcos procurou seu Rabino e perguntou qual a halachá, a lei, numa situação dessas. Será que ele tinha que fazer como o médico pediu? Por outro lado, esta chanukiá era muito importante para ele também! O fato dele ser uma pessoa saudável e seu irmão não, é motivo para fazê-lo abdicar da chanukiá que ele havia ganho licitamente no sorteio? O que fazer? Resposta: O Rav Zilberstein trouxe uma Guemará 1 que mostra o caso de um KRPHPTXH¶SHUGHXDFDEHoD·SRUXPDGHWHUPLQDGDPXOKHU(OHÀFRXWmR 19 RAV ITZCHAK ZILBERSTEIN obcecado por ela que acabou adoecendo. Foram perguntar aos médicos e estes disseram que ele só melhoraria se conversasse com ela. Os Sábios disseram que era preferível que ele morresse do que ela vir a conversar com HOH(QWmRSURSXVHUDPDRV6iELRVTXHHODDSHQDVFRQYHUVDVVHFRPHOHSRU detrás de uma cerca, apenas um cumprimento, e mais uma vez os Sábios negaram dizendo ser preferível que ele morresse à ela ter que conversar com ele, mesmo por detrás de uma cerca. Dois Rabinos, Rav Iaacov bar Idi e 5DY6KPXHOEDU1DFKPDQLGLYHUJHPVREUHRPRWLYRGDSURLELomRGRV6ibios – um diz que o motivo é porque ela era uma mulher casada, enquanto TXHRRXWURGL]TXHHODHUDVROWHLUD$*XHPDUiHQWmRGL]TXHpHQWHQGtvel tratar-se de uma mulher casada, porém, pergunta a Guemará, qual o SUREOHPDFRPXPDPXOKHUVROWHLUD"'RLV5DELQRVGmRVXDVRSLQL}HV5DY 3RSHGL]TXHRPRWLYRpTXHDIDPtOLDGHODÀFDULDHQYHUJRQKDGDFRPWXGR isso, e Rav Arra brei d’Rav Ika diz que o motivo é para que as Bnót ,VUDHODVPXOKHUHVMXGLDVQmRVHMDPYXOJDUL]DGDV$WpDTXLD*XHPDUi 20 Certa vez o Rav Shlomo Sobol trouxe o seguinte caso para o Rabino Iosef Chaim Zonenfeld, que era o Rav de Ierushalaim há 80 anos atrás: Reuven havia adquirido um raro objeto, possuidor de uma beleza incomparável. Shimon, seu amigo, pediu para dar uma olhada no objeto para apreciar sua beleza também. Reuven, por sua vez, não permitiu. Shimon continuava insistindo todos os dias, porém Reuven mantinha sua negação. Shimon, que era uma pessoa que tinha problemas GH VD~GH ÀFRX PXLWR PDJRDGR FRP R TXH HVWDYD RFRUUHQdo e acabou adoecendo, entrando numa depressão profunda. A família de Shimon procurou Reuven e pediu-lhe para que deixasse Shimon dar apenas uma espiada rápida no objeto, para que assim ele voltasse ao seu estado normal. No entanto, Reuven continuou impassível, sem dar permissão. A pergunta é a seguinte: Será que o Beit Din (o Tribunal Judaico), poderia obrigar Reuven a mostrar o referido objeto para tirar Shimon dessa depressão? por dentro da lei Rav Sobol disse para o Rav Zonenfeld que achava que sim, e explicou que sua resposta era baseada na referida Guemará de Sanhedrin, que diz que os Rabinos proibiram-na de falar com ele devido à vulgaridade envolvida. Porém, se não tivesse nenhum problema de vulgaridade, seria permitido. No entanto, Rav Zonenfeld não concordou com este raciocínio, dizendo que havia uma diferença entre este caso e o da Guemará. Ele disse que havia um outro problema envolvido neste caso – a proibição de “ló tachmód”, de não cobiçar. A pessoa quer apenas olhar, depois vai querer possuir este objeto também, e por aí vai. A Torá proíbe a cobiça; então por causa de um capricho de Shimon, que está indo contra um PDQGDPHQWRGD7RUiYDPRV¶EHQHÀFLDURLQIUDWRU·HREULJDU Reuven a mostrar o objeto para ele? Outro exemplo: Bóris era um oleh chadash da Rússia; ele mudou-se para Israel, e a primeira coisa que sentiu falta foi da carne de porco. Não encontrava em lugar nenhum e tampouco deixavam importar. Na Rússia ele havia comido carne de porco por toda sua vida, no café, almoço e jantar. Como poderia viver sem isso? Já estava intrinsicamente ligado ao seu corpo! Ele argumentou que para ele era perigo de vida e que VHQmRFRPHVVHSRUFRDFDEDULDGHÀQKDQGRHPRUUHULD3RUtanto, pediu aos Rabinos para que abrissem uma exceção e consentissem que ele comesse porco. Apesar de ser uma mitzvá alimentar alguém necessitado, neste caso é totalmente proibido fazer a vontade de Bóris, pois envolve uma proibição da Torá, que é a de não comer carne de porco. Se fosse uma situação em que um fator externo colocasse a vida da pessoa em risco, como por exemplo, estar no meio do deserto, tendo somente carne de porco para comer, então é permitido ela comer, pois é o único recurso existente para salvar sua vida. Porém, neste caso, Bóris pode muito bem acostumar-se a comer outros tipos de carnes que 21 RAV ITZCHAK ZILBERSTEIN são permitidas pela Torá. É apenas um problema de trabalhar suas emoções e instintos. 6LPLODUPHQWHQRFDVRDQWHULRUHPTXH6KLPRQÀFRXGRente apenas por Reuven ter lhe recusado a mostrar um objeto, ele é quem tem que trabalhar suas características pessoais para superar sua curiosidade, inveja e cobiça. Transgredir uma lei da Torá apenas para satisfazer seus caprichos, isto jamais. Portanto, de acordo com todo o exposto acima, vemos que Marcos não precisa ceder para Gilberto a chanukiá que ganhou licitamente no sorteio realizado por ambos. 22 por dentro da lei A SUCa 2URQFRHUDWmRIRUWHTXHRVWUrVDPLJRVDEDQGRQDUDP DVXFiHIRUDPGRUPLUHPVXDVFDVDV Quatro vizinhos resolveram construir juntos uma sucá no pátio do prédio em que moravam. É uma mitzvá para os homens dormirem numa sucá durante os sete dias da festa de Sucót, e portanto, no primeiro dia do Chag, os quatro foram dormir na sucá. Para ser exato, tentaram dormir. Para ser mais exato ainda, três tentaram dormir, pois o quarto estava dormindo feito .... um trator. Ele roncava, e como roncava! Os outros três bem que tentaram, porém era impossível dormir com aquele barulho. Está escrito no Shulchan Aruch, na Mishna Brura (livros de leis judaicas) que uma pessoa que se sente muito incomodada pelo vento, por moscas e mosquitos ou coisas similares, está isenta de dormir na sucá. Então, após inúmeras tentativas, os três vizinhos foram dormir em suas respectivas casas, deixando o roncador dormindo sozinho na sucá. No dia seguinte, os três se reuniram e chegaram à conclusão de que não era justo o que havia ocorrido e foram conversar com o vizinho roncador. Eles argumentaram que eles também têm que cumprir a mitzvá de dormir na sucá, e que com o ronco dele era impossível. Eles alegaram ser a maioria e pediram para que ele fosse dormir em casa ou em outro lugar. Porém, ele respondeu dizendo que eles estavam errados, pois ele era o único que, diante das circunstâncias, tinha a mitzvá de dormir na sucá, já que o próprio ronco não o incomodava; enquanto eles, que estavam incomodados, estavam isentos e poderiam dormir em casa. A maioria tem a força ou os incomodados que se mudem? Quem está com a razão? 23 RAV ITZCHAK ZILBERSTEIN Resposta: Na Massechet Pesachim 2KiXPD*XHPDUiLQWHUHVVDQWH8PJUXSR de pessoas juntam-se para comer o Korbán Pesach, cada um pagando a sua parte. Porém, havia um deles que comia o dobro do que os outros. As pessoas do grupo têm o direito de o expulsarem, devolvendo a sua parte, DOHJDQGRTXHHOHQmRID]SDUWHGRJUXSR 24 Se por exemplo, num condomínio de casas com um pátio em comum, um dos condôminos traz um galo e o coloca neste pátio, e o galo faz um barulho que atrapalha o sono dos outros vizinhos; eles, como maioria, têm o direito de obrigá-lo a retirar o galo do pátio. O Rav Zilberstein disse que no nosso caso, em que as quatro pessoas se uniram para construir uma sucá com o intuito de cumprir a mitzvá de dormir nela, então esta sociedade é um erro, já que os três não sabiam que ele roncava. Ele não pode ser considerado uma parte desta sociedade, pois eles não se uniram para construir uma sucá para dormirem fora e ele dentro. Portanto, sendo a maioria, eles podem excluí-lo da sociedade e mandar ele procurar outra sucá para dormir, devolvendo a parte que ele investiu. por dentro da lei 90% OU 100% $FREUDHVWDYDHQURVFDGDQRSHVFRoRGRVROGDGRH FDGDVHJXQGRTXHHVVDVLWXDomRVHSURUURJDVVH SRGHULDVHUIDWDO No deserto do Neguev, no sul de Israel, um grupo de soldados estava realizando treinamentos, quando de repente, uma cobra venenosa resolveu subir num deles. Ela subiu até o seu pescoço e lá se enroscou. Ele teve uma grande presença GHHVStULWRÀFDQGRLPyYHOMiTXHTXDOTXHUPRYLPHQWRVHULD LGHQWLÀFDGRSHODFREUDFRPR´JXHUUDµHHODRSLFDULD2VVROGDGRVTXHVHHQFRQWUDYDPSRUSHUWRÀFDUDPDSDYRUDGRVFRP a cena. O comandante, que também estava por lá, ordenou ao atirador de elite para que se posicionasse imediatamente e aguardasse suas ordens para atirar. Contudo, nestes segundos de angústia pairava uma dúvida na cabeça do comandante. Ele estava um pouco hesitante em dar a ordem para atirar, já que este atirador que se encontrava lá não era o melhor de todos. Apesar de ele ser excelente, as chances da bala acertar a cobra eram de 90% e os outros 10% eram de acertar no soldado. No entanto, havia um outro atirador de elite, que era o melhor de todos e que teria praticamente 100% de chances de acertar a cobra; porém, ele se encontrava a uma distância de 3 a 4 minutos dali, e cada segundo que essa situação se prorrogasse poderia ser fatal! Agir imediatamente com “apenas” 90% de chances de suFHVVRRX´FRUUHURULVFRµGHHVSHUDUSHODHÀFLrQFLDPi[LPD" Qual decisão tomar? 25 RAV ITZCHAK ZILBERSTEIN 26 Resposta: O Rav Zilberstein disse que certa vez lhe trouxeram um caso semelhante a esse: Um soldado levou um tiro de um terrorista e havia dado entrada no hospital em estado muito grave. A bala havia se alojado no seu crânio, num ponto muito delicado, junto à coluna cervical. Ele foi levado imediatamente para a sala de operações, para que a bala fosse retirada o mais rápido possível do local onde se encontrava, já que ele corria risco de vida. O médico-cirurgião que se encontrava disponível no hospital naquele momento era muito bom, um especialista; porém, não era o melhor que existia. A probabilidade de sucesso em suas operações era de 90%, enquanto que com o melhor cirurgião eram de praticamente 100%. No entanto, o melhor cirurgião encontrava-se em outra cidade e levaria de três a quatro horas até chegar ao hospital, e esta espera poderia ser crucial para a vida do paciente. A equipe médica estava num dilema e contataram o Rav Zilberstein para saber qual o Dáat Torá, a visão da Torá para o assunto. O Rav Zilberstein trouxe o seguinte caso que lhe foi trazido, para responder à pergunta dos médicos: Um homem sofreu um princípio de infarte e foi levado às pressas para o hospital, onde foi colocado na UTI. Após 24 horas, seu estado melhorou muito, porém continuava delicado e era necessário continuar em observação. Entrementes, uma ambulância chegou ao hospital trazendo um homem em estado gravíssimo. Ele tinha que ser levado para a UTI, porém lá só havia dez leitos, e estavam todos ocupados. A direção do hospital decidiu que o caso menos grave da UTI era o do homem que havia tido o princípio de infarte no dia anterior, e decidiu transferi-lo da UTI para um quarto comum. Havia XP SRUpP RV ÀOKRV GHVWH KRPHP WLQKDP PXLWD LQÁXrQFLD naquele hospital, e ao saberem que estavam querendo passar seu pai para o quarto comum (que tem uma atenção médica por dentro da lei menor do que a UTI), começaram a “mexer os pauzinhos” para manter seu pai na UTI. Os médicos foram então pergunWDUDR5DY=LOEHUVWHLQVHGHYHULDPDFDWDURSHGLGRGRVÀOKRV (que apenas estavam querendo o melhor tratamento para o pai) ou não. O Rav Zilberstein fez esta pergunta para o seu sogro, o Rav Iosef Shalom Eliashiv, o grande possek de nossa geração. O Rav Eliashiv perguntou se o tratamento que o pai receberia no quarto comum seria bom. Rav Zilberstein respondeu que seria ótimo, ele teria acompanhamento médico, a presença de enfermeiras, etc..., apenas não era como o da UTI onde teria um tratamento intensivo. Então o Rav Eliashiv disse o seguinte: “Precisamos procurar um bom médico, porém não estamos obrigados a procurar o melhor.” Ele disse que não havia necessidade do pai continuar na UTI, já que ele teria um bom tratamento no quarto comum, ainda mais neste caso em que ele estaria ocupando a vaga de alguém que precisava mais do que ele. O Rav Zilberstein diz que utilizou este conceito dito pelo Rav Eliashiv para resolver o caso do soldado que estava com uma bala em seu crânio. Ele disse à equipe médica para operarem com o médico que estava disponível no momento, já que era um “bom médico” e era arriscado esperar pelo “melhor médico”. Do mesmo modo, ele também disse que no caso da cobra, o correto seria utilizar o atirador que estava presente no momento, já que era um “bom atirador”, pois esperar alguns minutos pelo “melhor atirador” poderia ser fatal. 27 RAV ITZCHAK ZILBERSTEIN O XAMPu 6HRODGUmRURXEDVVHDTXHOH[DPS~VHULD LPHGLDWDPHQWHGHVFREHUWR 28 Daniel dividia um quarto com mais três colegas num dormitório estudantil, que abrigava dezenas de estudantes em diversos quartos. Nas últimas semanas, foram roubados objetos pessoais de vários estudantes. Todas as tentativas de encontrar o ladrão foram, até agora, em vão. O ítem preferido deste ladrão era, por incrível que pareça, xampú e condicionador de cabelo. Daniel, que suspeitava que o ladrão fosse um dos estudantes, teve uma idéia: Adicionar ao seu xampú um produto que causasse a queda instantânea dos cabelos. Se este ladrão o roubasse, seria descoberto após a utilização do mesmo, pois ÀFDULDFDUHFD'DQLHOHQWmRIRLFRQVXOWDUVHX5DELQRSDUDVDEHU se poderia fazer isso .... Resposta: A Guemará 3 tráz o caso das frutas que a Torá proibiu ao seu FRQVXPR GHYLGR j YiULRV FULWpULRV FRPR SRU H[HPSOR VH D iUYRUH DLQGDQmRFRPSOHWRXWUrVDQRVGHVHXSODQWLRGL]HQGRTXHQRDQR GD6KHPLWiDQR6DEiWLFR²DFDGDDQRVTXDQGRD7RUiRUGHQD DRVSURGXWRUHV´DEULUHPPmRµGDSURGXomRGDTXHOHDQRWRUQDQGRD JUDWXLWDSDUDTXHPTXLVHUSHJDUHOHVGHYHPFRORFDUXPVLQDOXP DYLVRGL]HQGRTXHRVIUXWRVGDTXHODiUYRUHVmRSURLELGRVSDUDTXH DVSHVVRDVQmRVHHQJDQHPHYHQKDPDFRQVXPtODV1RHQWDQWRHP DQRV QRUPDLV R SURGXWRU QmR SUHFLVD DVVLQDODU Mi TXH p SURLELGR SHJiODVSRLVVHULDURXERHVHRODGUmRTXLVHUSHJDUTXHDUTXHFRP as consequências! por dentro da lei O Rav Zilberstein diz que uma pessoa pode fazer uso de seus objetos da forma que bem entender, e, baseado na reIHULGD*XHPDUiDSUHQGHPRVTXHHODQmRSUHFLVDÀFDU´FRP pena” do ladrão se ele apossar-se indevidamente de seus objetos. Portanto, Daniel pode colocar o seu plano em prática. 29