A economia obtida pelo setor público com a assunção das dívidas dos estados pela União, na execução do Programa de Reestruturação e Ajuste Fiscal dos Estados (Lei 9.496/97). Tema: 1. Ajuste Fiscal e Dívida Pública 1.1 Ajuste Fiscal e Equilíbrio Macroeconômico 1.2 Dívida Pública Interna 1.3 Assunção e Reestruturação de Passivos Maio de 2000 2 Resumo Os constantes desequilíbrios financeiros, existentes em boa parte dos governos subnacionais a partir dos anos 80, eram gerados por inúmeros motivos, entre os quais à não-efetiva alocação de recursos públicos, as configurações políticas (instabilidades), à conjuntura econômica negativa − cheia de adversidades e instabilidades macroeconômicas de ordem regional e global −, e a baixa eficiência técnica, inclusive na administração das dívidas, ocasionando altos riscos nos refinanciamentos. Em virtude desses desequilíbrios, a União iniciou um processo de auxílio aos estados, em 1987, com o intuito de atender ao refinanciamento de dívidas vincendas até o final daquele ano e suprir recursos visando a financiar déficits originados por despesas correntes. A partir daí, ocorreram diversos socorros aos estados para refinanciamento de dívidas, mas, só em 1996, criou-se o Programa de Reestruturação e Ajuste Fiscal dos Estados, com regulamentação estabelecida pela Lei nº 9.496/97, que visava não apenas à atenuação do problema de insuficiência de recursos dos estados como também a promover metas acordadas conjuntamente, a fim de erradicar as causas dos problemas, e não somente os efeitos. Dessa forma, a União assumiu e refinanciou as dívidas dos estados, possibilitando a recontratação das mesmas junto aos credores, que ocorreu com custos inferiores àqueles concedidos anteriormente pelos estados. Isso gerou uma economia no setor público, com expressiva redução de transferências do Governo para o setor privado, no que se refere a juros. 3 Por meio de uma pesquisa sistematizada, foram levantadas a rentabilidade e a metodologia de cálculo de todos os títulos e contratos das dívidas dos estados que eram mantidos junto aos credores, bem como dos títulos e contratos de responsabilidade do Tesouro Nacional, emitidos em substituição a essas dívidas dos estados. Assim, foram criadas novas identidades e, por conseguinte, tornou-se possível apurar a economia adquirida pelo setor público e levantar os benefícios que essa poupança ocasionou, ou que poderia ocasionar, no sentido de ampliar o substrato democrático no país. Além de possibilitar a expansão da capacidade de pagamento dos estados, diversos levantamentos apontaram o impacto positivo da economia obtida sobre a Dívida Líquida do Setor Público (DLSP), e os impactos sobre Produto Interno Bruto (PIB) e a Dívida Líquida do Governo Central (DLGC). Os resultados encontrados indicam que já no ano 2000 a economia obtida com esse Programa de Ajuste possibilitou a mitigação da DLSP no percentual de 3,80% e da DLGC em 6,21%, e com referência ao PIB a participação atingiu 1,98%. 4 Sumário Volume - 1 Texto 1. Introdução, 5 2. Inter-relações fiscais entre as esferas de Governo, 6 3. Economia obtida com a assunção e o refinanciamento das dívidas estaduais (após a data de assunção), 21 4. Economia obtida após a data de refinanciamento da dívida, 31 5. Os Impactos positivos das assunções e refinanciamentos das dívidas estaduais, 53 Volume – 2 Metodologia de Cálculo 1. Introdução, 36 2. Metodologia de cálculo da economia obtida pelo Setor Público com a assunção e o refinanciamento da dívida dos estados (após a data de refinanciamento), 37 3. Cômputo da economia obtida após a data de assunção das dívida dos estados, 47 4. Metodologia aplicada para o cálculo do impacto da economia obtida no Produto Interno Bruto, 48 5. Apuração do impacto da economia obtida nas dívidas públicas líquidas, 48 6. Taxas e indicadores financeiros adotados, 49 5 1. Introdução A inter-relação entre a União e os governos subnacionais e locais, em termos de gestão das finanças públicas, é um ponto de grande significância para que a economia do país se estabilize a longo prazo. Entretanto, “como não é possível arrumar a casa sem mexer nos móveis”, até que ponto se pode interferir nos processos legalmente legitimados e mexer na discricionariedade existente entre as esferas de governo, sabendo que é muito difícil corrigir o seu funcionamento, sem afetar, consequentemente, o princípio de autonomia federativa. Quanto ao endividamento subnacional, existem enfoques relevantes, dados em experiências internacionais, no tocante à inter-relação entre as esferas de governo, que, segundo Teresa Minassian & Craig, seriam: a confiança na disciplina de mercado para determinar o limite do endividamento dos estados; a cooperação para os controles da dívida, com limites resultantes da negociação entre os governos federal e subnacionais; o controle do endividamento subnacional, com bases em regras específicas na Constituição ou em lei; e os controles diretos do governo central sobre o endividamento subnacional.a No caso brasileiro, há uma complexidade muito grande a ser analisada com relação à administração das dívidas e ao desequilíbrio fiscal dos governos subnacionais, observados desde a década de 80. Sobretudo, quanto à capacidade de cumprir o pagamento das dívidas assumidas e refinanciadas junto à União, bem como de financiar déficits e de refinanciar dívidas, junto a instituições financeiras, que pareciam não ser mais factíveis. Ainda assim, 6 grande parte dos estados não possuía equilíbrio na gestão dos recursos públicos, nem tinha credibilidade no mercado para administrar, de maneira efetiva, as operações de crédito. A credibilidade, em qualquer operação financeira de empréstimo junto ao mercado financeiro, se ganha com o exercício do cumprimento do papel de devedor, honrando-se incondicionalmente as dívidas, acrescido da consistência com que esse exercício é consubstanciado ao longo do tempo, e isso não é o que necessariamente estava ocorrendo com os estados. Consequentemente, isso implica na ampliação do risco das operações de crédito, o que inviabilizava o financiamento de déficits e o refinanciamento de dívidas, pois, nesse caso, os juros teriam de ser bastante altos para atrair capitais no mercado. Além disso, para atuar nessas operações, há enorme necessidade de eficiência técnica, com pessoal especializado, e de instalações físicas tecnicamente modernasb, suficientes para a exploração dos recursos existentes em toda a amplitude possível, o que, infelizmente, não ocorria, mas que, com o suporte da União, pode ser factível. 2. Inter-relações fiscais entre as esferas de Governo Entretanto isto é um pouco difícil de entender, uma vez que a participação percentual dos estados no fundo de participação tem crescido desde o final dos anos 80, ocorrendo a descentralização de recursos e o a MINANSSIAN, Teresa & CRAIG, Jon (1997). “Control of Sub-national Government Borrowing” Fonte: Danni, Luciano (1999). “O Programa de Ajuste Fiscal dos Estados: o Brasil em busca de um novo Pacto Federativo?.“ b 7 conseqüente aumento no grau de autonomia dos estados, sem que tenha havido a descentralização dos encargos sociais. Entre as justificativas que se teria para isso, um item parece relevante para explicar esse fato: é que, segundo Gilberto Dupas, teria havido nas cidades brasileiras um crescimento imensurável da população urbana na última metade do século XX, que passou de 12 milhões de pessoas para 130 milhões, constituindo-se um dos maiores processos de aumento e de deslocamento populacional da história mundial, e gerando-se portanto, a necessidade de maior alocação de recursos. 2.1 Insuficiência de recursos nas esferas de governo Quanto à questão da insuficiência de recursos, a carga tributária do Brasil, desde o início dos anos 90, situa-se entre 29% e 30% do PIB, num patamar muito próximo à dos países centrais, como os Estados Unidos, e superior a do Japão, que é da ordem de 21% do PIB, assim como a da maioria dos países asiáticos.c O interessante nessa comparação é que países com a mesma carga tributária que o Brasil, ou até menor, propiciam à sociedade maior justiça social, em todos os sentidos, inclusive melhor qualidade de vida, com um número maior de bens públicos a serviço da população. É lógico que há diferenças enormes, em termos de valores quantitativos do PIB; mas, mesmo assim, não se justifica: parece que os recursos aqui arrecadados esvaem-se por um “ralo” de alguma forma. c Fonte: Diretoria de pesquisa do IPEA e da Secretaria de Assuntos Financeiros do BNDES (1998). “Uma análise da Carga Tributária.” 8 Por outro lado, maior carga tributária significa um grau superior em aceitação, e até em desenvolvimento, da sociedade, no sentido de consciência do papel do tributo. Daí questiona-se: por que isso é diferente no Brasil, cujo ranking ocupado é de 79º no mundo em relação a questões sociais de qualidade de vida d, atrás de grande número de países em desenvolvimento, mas, quando se trata de esforço empreendido pela sociedade em aceitar a imposição tributária, alcança níveis de países desenvolvidos. Talvez o mundo todo se pergunte que país aceitaria tal carga tributária com tão pouco benefícios recebidos em troca. Mas a verdade é que alguns especialistas afirmam que à capacidade de contribuir é ainda superior a carga tributária vigente.c Outro agravante é quanto à gestão da legislação fiscal, existindo uma infinidade de impostos nas três esferas do governo, como, por exemplo, o COFINS, o PIS, o ISS, a CPMF, o IPTU, o IPVA, o ITR, a CSLL, o IR, o IPI, o ICMS, consistindo em um sistema altamente burocrático. Além disso, a despeito do grande número de tributos existentes, a arrecadação concentra-se em poucos: só o ICMS atinge ¼ da receita total, e os cinco maiores − ICMS, Contribuições Previdenciárias, IR, COFINS e IPI − são responsáveis por mais de 70% da arrecadação total.c No campo federal, houve uma tentativa de controle da distribuição das verbas programadas orçamentariamente por meio da Secretaria Federal de Controle (SFC), composta por Delegacias Regionais nos estados, subordinada ao Ministério da Fazenda, que era responsável pelo controle interno do governo. Após a sua criação, em 1994, no exercício de suas atividades de d Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD-ONU). "Human Development 9 auditoria e fiscalização dos órgãos da administração direta e indireta, esta Secretaria auditou inúmeras inconsistências no uso dos recursos públicos, resultando em uma maior legitimidade e força das auditorias internas do Estado. Pouco tempo depois a SFC foi reestruturada, reduzindo o número das Delegacias Federais de Controle para 12. 2.2 Evolução da participação das receitas de arrecadação Por outro lado, nos anos 60, a União, os estados e os municípios usufruíam cerca de 60%, 34% e 6% do total arrecadado, respectivamente. Já em 1965, devido a uma reforma tributária que se processava, a União mantinha recursos disponíveis em torno de 55% para alocação no setor público, os estados possuíam 35%, e os municípios foram incrementados para 10%. No final dos anos 60 e durante a década de 70, houve um retorno a centralização, tanto da arrecadação quanto dos recursos à disposição da União, chegando ela a manter um percentual de 69,1% em 1977.c Em meados dos anos 80, a descentralização voltou à tona valendo-se de emendas constitucionais que elevaram novamente a participação dos governos subnacionais e locais no total dos recursos arrecadados, tanto por meio dos fundos de participação quanto por transferências, chegando a alcançar 16% da receita tributária em 1988.c Uma vez que estava ocorrendo a descentralização dos recursos oriundos da tributação, com a conseqüente perda dos recursos disponíveis à União e o aumento do grau de autonomia fiscal dos governos subnacionais e locais, fortalecendo-se assim a federação, deveria ter havido nesse momento a Report 1997". 10 descentralização dos encargos da União, o que não houve. Isso se deu no período em que estava sendo elaborada a Constituição de 1988, momento em que os meios legais, necessários à descentralização das responsabilidades do governo central para as unidades da federação, poderiam ser providos.c e Segundo o IPEIA , a União, buscando enfrentar o desequilíbrio financeiro e manter suas políticas de seguridade social e educacional, adotou medidas que diminuíram a qualidade da tributação, baseadas exclusivamente na criação de novos tributos e na elevação das alíquotas já existentes, procurando áreas não-sujeitas a partilhas com os estados e os municípios e, por conseguinte, fazendo ampliar-se a sonegação. Além da queda da qualidade do sistema tributário, o problema de desequilíbrio decorrente do descasamento da descentralização de recursos com os encargos não foi atenuado. Somente em meados da década de 90, surgiu um programa que tinha características reparadoras da deficitária legislação tributária − O Programa de Desoneração do ICMS.c Alguns organismos internacionais retratam a tendência existente da descentralização das políticas públicas (no sentido de provimento de bens e serviços) da União para os governos subnacionais e locais como um fator positivo. Um exemplo foi dado pelo Banco Mundial em seu relatório entitulado “Entrando no Século 21”, que cita a experiência de municipalização do ensino público em Minas Gerais, a qual gerou enormes benefícios, como, por exemplo, a estimulação do envolvimento de pais e professores nos processos decisórios das escolas. Essa experiência de Minas Gerais na área de educação iniciou-se em 1991 com o apoio do próprio Banco e, posteriormente, 11 foi levada adiante em um ambiente econômico negativo − em meio a diversos planos econômicos que não funcionaram − e cheio de adversidades e instabilidades macroeconômicas.f 2.3 A Reforma Tributária Após tantas oscilações percentuais, descobrir a participação ideal nas receitas de arrecadação de cada esfera do governo é complicado, porque, necessariamente, ter-se-ia de pensar na esfera que administrasse os recursos de tal maneira que traria a população a maior quantidade de benefícios possíveis. Em outras palavras, resultasse na melhor eficiência alocativa de recursos, no sentido de alargar o bem-estar social e o substrato democrático. Além disso, é importante observar que a onda de descentralização não faz parte da execução de um projeto de planejamento estratégico: ela ocorre à revelia, não tão forte como a tendência da globalização; todavia alguns Organismos Internacionais, como o Banco Mundial, a consideram relevante, porque a descentralização ampliaria a possibilidade de a população exercer o controle dos gastos públicos. É importante observar que a despeito da tentativa desses órgãos internacionais de expandir globalmente alguns processos de descentralização, defendendo a idéia de que os mesmos auxiliariam o crescimento dos países em desenvolvimento, um processo com cunho centralizador, como o Programa de ajuste, trouxe avanços extraordinários para o país, os quais veremos mais adiante. e Fonte: OLIVEIRA, J.; TACCA, L.; e SILVA, P. (1996). “Aspectos Relevantes do Orçamento da 12 Os pressupostos defendidos para justificar a reforma tributária objetivavam: simplificar o processo tributário por meio da desburocratização; mudar do regime misto do ICMS para o regime de destino, buscando, inclusive, ampliar a base; reequilibrar a repartição dos recursos entre as unidades subnacionais; reduzir seus efeitos negativos sobre a competição no mercado como também em relação a guerra fiscal; e arrecadar melhor por intermédio de uma justiça fiscal.g Caso a reforma tributária encontre boa parte dos remédios necessários para combater os problemas do sistema tributário brasileiro, a escassez de recursos não será solucionada a curto prazo, todavia, poderá ser mitigada a médio prazo sem precisar aumentar a carga tributaria, apenas pelo combate aos focos dos problemas existentes na arrecadação, dentre eles a sonegação fiscal. Para finalizar, a concepção atual de democracia pressupõe a livre interação entre as esferas federal, estadual, e municipal e vê em cada órgão da sociedade civil o lugar de um confronto entre posições contraditórias. Sem querer ser presunçoso, os conflitos existentes entre as esferas de governo na busca de maior participação na arrecadação tributária são típicos de uma sociedade que ainda não exerce a democracia substantiva por causa da existência de extrema desigualdade social e de renda, mas não pela liberdade de expressão.h Essa distorção é ampliada a cada dia pela globalização financeira. União” f Fonte: BANCO MUNDIAL (1999). “22º Relatório sobre o desenvolvimento mundial”. g Fonte: SULAMIS, D. (1995). “Experiência Internacional e Especificidade Brasileira”. h Fonte: CASTRO, M.F (1998). “A Sociedade Democrática no Final do Século”. 13 2.4 Assistência do Governo Federal O espaço ainda vazio na inter-relação existente entre os governos federais e subnacionais na área de finanças públicas começou a ser avançada por regulamentações de contratos entre as duas partes. Já em 1987, a União promove medidas visando ao equacionamento da insuficiência de recursos dos estados e municípios, realizando, em caráter extraordinário, operações de crédito à conta e risco do Tesouro Nacional. Operações essas eram realizadas por meio do Banco do Brasil, mediante suprimento adiantado pelo Banco Central. Essas ações foram autorizadas pela Lei nº 7.614, de julho de 1987, com intuito de atender ao refinanciamento de principal, encargos e moratórios das dívidas vincendas até o final daquele ano e para suprir recursos visando ao financiamento total ou parcial do déficit relativo a despesas correntes de exercícios anteriores até 1987. Tais medidas eram condicionadas à aprovação, pelo Ministro da Fazenda e pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de planos de saneamento financeiro apresentados pelos estados e municípios, por intermédio do Tesouro Nacional. Além disso, os estados e municípios davam como garantia as próprias receitas constitucionalmente asseguradas a eles. A União novamente se dispõe a refinanciar dívidas de responsabilidade dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, em dezembro de 1989, só que agora é para atender à dívida externa. Dessa forma, por intermédio da Lei nº 7.976/89, a União estabelece o refinanciamento de dívidas, com a finalidade de que sejam honrados os compromissos financeiros decorrentes de operações de crédito externo contratadas pelos governos subnacionais e locais 14 e aqueles que eram garantidos pela União. O refinanciamento das dívidas deuse em prestações semestrais durante um período de vinte anos, e os contratos eram firmados com o Banco do Brasil, outra vez, na qualidade de agente do Tesouro Nacional. Em meados de 1993, outra Lei com finalidades correlatas às acima mencionadas – a Lei 8.727/93 – entra em vigor estabelecendo diretrizes para a consolidação e o reescalonamento de dívidas da administração direta e indireta dos governos subnacionais e locais pela União. Desse modo, essas dívidas foram negociadas e refinanciadas até cento e cinqüenta dias após a publicação dessa lei, e não foram abrangidas algumas dívidas já renegociadas pela Lei 7.976/89 e pelo art.58 da Lei nº 8.212/91, que tratam de dívidas para com o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), pela Lei nº 8.620/93, que se refere às dívidas junto ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) etc. O refinanciamento foi realizado em 240 parcelas mensais, com o acompanhamento e controle do Banco do Brasil na qualidade de agente financeiro, fazendo jus à remuneração de 10% ao ano. Desde então, os processos de controle foram intensificados, não só porque desde aí fica proibida a concessão de financiamentos e garantias de qualquer espécie aos governos subnacionais e locais em caso de inadimplência, mas também porque o Tesouro passa a ter o poder de executar as receitas próprias constitucionais dos estados, Distrito Federal e municípios, conforme os artigos 155, inciso I, 157 e 159, incisos I e II, em caso de inadimplência que persista por mais de dez dias. 15 2.5 Programa de Apoio à Reestruturação e ao Ajuste Fiscal dos Estados Mais tarde, em 1995, surgiu o Programa de Apoio à Reestruturação e ao Ajuste Fiscal de Estados, instituído por meio do Voto CMN 162/95, que tinha por meta gerar equilíbrio orçamentário nas unidades da federação bem como ações que promovessem o equacionamento da insuficiência de recursos. Com vistas nisso, foram criadas linhas de crédito pela Caixa Econômica Federal (CAIXA), destinadas à quitação de dívidas vencidas em 30 de novembro de 1995, ao custeio de programas de redução de despesas com pessoal e à transformação de operações ARO, junto ao sistema financeiro, em dívida fundada. Agora, sim, surge um projeto de implementação de medidas que visa não só a alongar as dívidas estaduais, mas também visa a ações que busquem eliminar a instabilidade fiscal e financeira, a fim de combater a origem do problema, e não só os efeitos. A União e os estados mantiveram negociações durante o ano de 1996, com a finalidade de reestruturar as dívidas desses últimos, sendo estabelecidas algumas diretrizes na reunião da Câmara de Política Econômica, com a participação do Exmo. Sr. Presidente da República, consubstanciadas na Medida Provisória 1.560, de 19 dezembro de 1996, e nos protocolos de acordo firmados entre os governos federal e estaduais. Já no início de 1997, percebendo a necessidade de tempo suficiente para implementação desses acordos, que envolviam a aquisição de recursos no sistema financeiro, a formalização dos contratos de refinanciamento e a 16 assunção das dívidas pelo Tesouro Nacional, o Ministro de Estado Pedro Malan propõe, no Voto nº 9/97, que a CAIXA seja autorizada a prorrogar os vencimentos das prestações de principal e encargos de empréstimos concedidos, ao amparo do Voto CMN nº 162/95, e a adquirir créditos detidos pelo sistema bancário junto aos estados que tenham renegociado sua dívida com o Governo Federal e a aumentar os desembolsos deste programa em mais R$ 4 bilhões, em razão da ampliação dos encargos. Em face disso, o Conselho Monetário Nacional (CMN) autoriza a Caixa Econômica Federal, por meio da Resolução nº 2.366/97, a adquirir créditos junto ao Sistema Financeiro Nacional, ao amparo do Programa de Apoio à Reestruturação e ao Ajuste Fiscal dos Estados, e, de acordo com as Resoluções nº 2.008/93 e nº 2.237/96, a promover ajustes nos limites do contigenciamento do crédito ao setor público. As aquisições de créditos foram viabilizadas, principalmente, pelo estabelecimento das seguintes condições: em relação à dívida fundada, a atualização dos saldos devedores, após o vencimento original das parcelas, foi limitada à taxa SELIC, e, em relação às Operações por Antecipação de Receita (ARO), a apuração dos respectivos saldos devedores foi feita tendo como limite a aplicação das taxas oferecidas pela CAIXA para operações da linha III do Voto CMN – 162 /95, a partir da data em que esta linha ficou disponível para o mercado. Mediante a adoção de tais condições aos credores que aceitaram acordar com a CAIXA, houve um avanço considerável no sentido de reduzir o custo das dívidas estaduais, gerando-se, sem dúvida nenhuma, estoque da dívida pública consolidada. grande impacto no 17 Durante o ano de 1997, a medida provisória nº 1.560/96 foi reeditada mês a mês , até a aprovação pelo Congresso Nacional, em setembro, quando seu texto foi publicado pela Lei 9.496/97. Essa lei estabelecia critérios para a consolidação, o refinanciamento e a assunção, pela União, da dívida pública mobiliária e outras que ela especifica, de responsabilidade dos estados e do Distrito Federal. Eram abrangidos no Programa de Apoio à Reestruturação e ao Ajuste Fiscais dos Estados, no âmbito dessa lei, a assunção da dívida pública mobiliária dos governos subnacionais, incluindo-se, aí, as obrigações decorrentes de operações de crédito interno e externo, a assunção das dívidas de natureza contratual, inclusive as dívidas junto à CAIXA, e o refinanciamento das obrigações especificadas acima, em que a União passa a ser o credor. Nesse momento, os estados têm a possibilidade de compensar alguns créditos que possuíam diante da União, como, por exemplo, os créditos decorrentes de atualização monetária do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), aplicados sobre a exportação de produtos. O estabelecimento desse programa fica condicionado ao aceite dos governos subnacionais, por meio de contratos, visto que se ampliam, mais uma vez, as ferramentas de controle a serem exercidas pela União, havendo, inclusive, a necessidade de os estados assumirem metas e compromissos estipulados para seu cumprimento no âmbito da sua gestão. Uma dessas ferramentas se refere à dívida financeira das unidades da federação, limitandoa ao montante da Receita Líquida Real (RLR), não se podendo emitir novos títulos públicos no mercado interno nem contratar empréstimos externos, enquanto a dívida for superior à RLR. Quanto às outras, trata-se de metas 18 concernentes: ao resultado primário, entendidas como a diferença entre as receitas e as despesas não-financeiras; à limitação de gastos, com funcionalismo público; à arrecadação de receitas próprias; à privatização, à permissão ou à concessão de serviços públicos e de reforma administrativa e patrimonial; às despesas de investimento; e à receita líquida real. Para tornar factível o exercício das metas relatadas acima, foram regulamentadas, no contrato de refinanciamento, punições, baseadas no aumento considerável do custo da dívida refinanciada, que irão reger os contratos, enquanto perdurar algum descumprimento. Outro método de controle é novamente adotado pelo Tesouro, pois já estava presente nas diretrizes de alguns refinanciamentos anteriores: o poder de executar as receitas próprias constitucionais dos governos subnacionais, referidas nos artigos 155, inciso I, 157 e 159, incisos I e II, em caso de inadimplência. Nota-se, diante do exposto, que foram tomadas todas as providências necessárias para a inicialização do processo de refinanciamento e assunção das dívidas dos estados, durante o exercício de 1997. Entre elas, havia a necessidade de criação de uma dotação orçamentária no Orçamento Fiscal da União, no intuito de controlar toda a execução do processo, mesmo porque, pelas convenções contábeis de até então, as emissões não-financeiras de títulos do Tesouro Nacional com efetivo desembolso de recursos no vencimento precisavam de dotação orçamentária para a contabilização dos lançamentos de emissões no Sistema Integrado de Administração Financeira (SIAFI). Isso, porque os títulos da dívida estadual, após a assunção, iriam ser substituídos por títulos da dívida pública, emitidos pelo Tesouro Nacional. 19 Desde o início de 1997, efetivavam-se os protocolos de acordos, entre a União e os estados, nos quais estes concordavam com a necessidade de adoção de medidas com relação ao equilíbrio fiscal, sem, com isso, afetar os investimentos em infra estrutura que asseguraram o bem-estar social da população bem como o cumprimento da liquidação de outras dívidas contratadas pelos estados. Dessa forma, em maio de 1997, após a análise de três pontos cruciais − os limites de endividamento da União pelo Tesouro Nacional, as condições de pagamento das dívidas aos credores estaduais também pelo Tesouro Nacional, a legislação estadual e os contratos e títulos originais da dívida dos estados −, iniciou-se o processo de assinatura dos contratos de refinanciamento das dívidas dos estados, pela União. São Paulo foi o primeiro estado a assinar o contrato de refinanciamento, em 22 de maio de 1997, no montante de R$ 50,389 bilhões, representando um percentual de 48,34% do valor total pedido na abertura de crédito orçamentário para assunção das dívidas de todos os estados. O segundo estado foi o Mato Grosso, em 11 de julho de 1997, seguido do Ceará e demais estados, listados no anexo 1. Em setembro de 1997, foi aprovada a Lei 9.490, autorizando-se a abertura de crédito especial até o limite de R$ 104,240 bilhões ao Orçamento Fiscal da União, para os fins relatados anteriormente. Assim sendo, em dezembro de 1997, iniciaram-se as assunções das dívidas dos estados, começando-se por São Paulo, nas datas de 23 e 29 de dezembro de 1997, na importância de R$ 59,363 bilhões. Logo depois, em 30 20 de dezembro de 1997, a dívida da Bahia foi assumida pela União, num montante bastante inferior à de São Paulo: R$ 0,814 bilhões. Cronologicamente, Sergipe foi o terceiro estado a ter as dívidas assumidas pela União, em março e julho de 1998, e os estados subseqüentes estão listados no anexo 1. Em termos de volume, a dívida de São Paulo sai disparadamente na frente, seguida pelas dívidas dos estados do Rio de Janeiro, de Minas Gerais, do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e de Goiás − nessa ordem, as seis maiores dívidas assumidas pela União. No tocante à rentabilidade dos contratos e títulos das dívidas estaduais, todos os contratos de refinanciamento são unânimes ao determinar que até as datas de autorização do Senado Federal e a posterior data de assunção, quando constituem a eficácia do contrato de refinanciamento, as obrigações deveriam ser corrigidas por meio de metodologia e rentabilidades previstas nos contratos de origem. No entanto os contratos de assunção estabelecem que até a data de emissão dos títulos de responsabilidade do Tesouro Nacional, que substituem os títulos e contratos da dívida estadual, as obrigações continuam sendo atualizadas com base nos encargos previstos nos contratos e títulos de origem. Isso se deu porque as datas das emissões dos títulos do Tesouro, na maioria das vezes, não coincidiram com as datas de assunção das dívidas, devido a questões operacionais. Os indicadores e taxas dos contratos originais das dívidas dos estados estão listados na metodologia de cálculo (item 6), bem como o fator de previsão utilizado nas projeções das dívidas para os exercícios subsequentes, 21 e para isso, buscou-se usar em situações que o indexador não possuia previsões, taxas futuras de correção que contenham características similares. 3 - Economia obtida com a assunção e o refinanciamento das dívidas estaduais (após a data de assunção) A classificação da dívida do setor público brasileiro é constituída de diversos critérios, desde pela captação de recursos, se interna ou externa da fronteira do país, quanto pelos prazos, podendo ser de curto, médio e longo prazo, ou fundada e flutuante, como também pelo embasamento do empréstimo, sendo realizada por meio da emissão de títulos ou por contratos. Aprofundando no tema em questão, a dívida dos estados formada por contratos (contratual) era corrigida, em grande parte, pelo custo de captação da CAIXA (maior credor dessa modalidade de dívida), além da incidência de juros, o que fez a mesma crescer acima do custo do dinheiro no mercado (figuramente referida a taxa SELIC), assim como do custo de carregamento da Dívida Pública Mobiliária Federal interna (DPMFi). Por outro lado, boa parte da dívida mobiliária era corrigida pela taxa SELIC. A transferência da administração da dívida, ocorrida por meio do refinanciamento e da assunção, possibilitou não só a revisão dos custos dos títulos e contratos estaduais, como também propiciou uma diminuição bastante significativa dos encargos na rolagem da dívida, ou seja, o refinanciamento da dívida já administrada pelo Tesouro Nacional, a medida que os títulos e contratos iam vencendo, após a assunção, passaram a ser financiados a custos de captação da DPMFi, a níveis inferiores. 22 A troca da dívida mobiliária dos estados, em sua grande maioria, gerou um custo adicional para União, sucedendo-se porque: tendo em vista a necessidade de liquidez imediata dos Credores, mas como as Letras Financeiras do Tesouro (LFT-A) possuíam emitidas pelo Tesouro aos prazos de até 15 anos, o Credores BACEN intermediou a operação, encarterando-as, e em troca emitiu LBC com prazos mais curtos para os Credores. Para efetivação dessa troca, o BACEN solicitou ao Tesouro um prêmio de acréscimo de 0,0245% ao mês sobre a taxa SELIC, remunerada pelo título. De forma genérica, a economia obtida pelo setor público com a assunção e refinanciamento da dívidas estaduais foi constatada pela diferença apurada entre o estoque dessas dívidas, corrigido pelo custo dos contratos originais que os estados mantinham com os credores, e o estoque dessas mesmas dívidas, atualizado pelo custo dos títulos emitidos pelo Tesouro Nacional após o refinanciamento e a assunção. Esse levantamento foi fruto de uma metodologia de cálculo erguida minuciosamente, que pode ser observada no segundo volume desse trabalho, mais precisamente nos itens 1,2 e 3. Dessa forma, foi projetada uma série dados até o ano 2006 (com base em cada título e contrato), tornando-se possível estimar quanto a União e os estados (o setor público) economizaram com o refinanciamento das dívidas. Até dezembro de 2001, o setor público irá dívida o montante estimado economizar no estoque de R$ 37,894 bilhões, dezembro de 2006, uma economia de R$ 223,236 bilhões. Atingindo, da em 23 R$ milhões Tabela 1 ESTOQUE E PROJEÇÃO DOS JUROS DA DÍVIDA, APÓS ASSUNÇÃO Mês Economia Substrato da dívida, baseado nos Contratos originais Títulos do Tesouro (2.3) (2.5) 4.201,41 -182,80 12.385,52 286,59 23.878,62 546,98 38.736,87 842,11 58.671,70 1.215,32 85.253,34 1.690,56 120.551,26 2.287,39 166.841,67 3.049,44 227.268,52 4.031,56 Dez-98 Dez-99 Dez-00 Dez-01 Dez-02 Dez-03 Dez-04 Dez-05 Dez-06 (2.3) - (2.5) 4.384,22 12.098,93 23.331,64 37.894,75 57.456,37 83.562,78 118.263,87 163.792,23 223.236,96 2.1 - Substrato dos juros dos títulos e contratos originais dos estados, resultante da diferença entre a dívida corrigida pelos títulos e contratos originais e a dívida corrigida pela taxa SELIC. 2.3 - Substrato dos juros da dívida, resultante da diferença entre a dívida corrigida pela rentabilidade dos títulos e contratos do Tesouro e a dívida corrigida pela taxa SELIC. (2.1) – (2.3) – Economia, objeto da diferença entre o substrato dos juros dos títulos e contratos originais dos estados e o substrato dos juros da dívida (títulos e contratos do Tesouro). * Valores projetados com base no item 6 da Metodologia de cálculo. Essa redução no quantitativo dos juros, ocorrida após a assunção das dívidas, deu-se mais significativamente na dívida contratual dos estados, porque em sua maior parte, a dívida contratual era remunerada pelo Custo de Captação da CAIXA, acrescido de juros mensais de 0,5%, e, posteriormente, passou a ser remunerada apenas pela taxa SELIC. Economia com juros 250 300 250 R$ bilhões 200 150 Substrato da dívida, baseado nos T ítulos do T esouro (2.5) 100 50 0 200 150 R$ bilhões Substrato da dívida, baseado nos Contratos originais (2.3) Economia (2.3 - 2.5) 100 50 0 2006 2005 2004 data 2003 2002 2001 2000 1999 1998 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 data 24 Nota-se nos gráficos, a tendência de crescimento dos juros médios dos contratos originais, apresentando uma curvatura bem mais progressiva que a dos juros dos títulos do Tesouro. Isso denota que a decisão acertada de mudança de rentabilidade das dívidas estaduais foi altamente significativa. Em termos de participação percentual, as dívidas estaduais que apresentaram maior participação na economia obtida foram as de São Paulo, do Rio de Janeiro e de Mato Grosso, com as respectivas participações médias ao longo do período: 88,96%, 3,33% e 1,46%. Por outro lado, a assunção e o refinanciamento das dívidas da Paraíba e do Paraná não geraram economia. Informações mais detalhadas acerca do assunto estão apresentadas nas planilhas intituladas de substrato dos juros, nos anexos 2, 3 e de economia ou prejuízo obtido após assunção, no anexo 4. Tabela 2 PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL DA ECONOMIA OBTIDA Mês Dez-98 Dez-99 Dez-00 Dez-01 São Paulo 96,33% 90,63% 88,65% 88,00% Rio de Janeiro 0,00% -0,51% 1,58% 2,98% Mato Grosso 0,76% 1,92% 1,77% 1,62% Dez-02 87,67% 3,79% 1,52% Dez-03 87,46% 4,30% 1,45% Dez-04 87,36% 4,63% 1,41% Dez-05 87,27% 4,86% 1,38% Dez-06 87,24% 5,02% 1,36% Esses dados comprovam que a assunção das dívidas dos estados foi uma importante etapa do Programa de Reestruturação e de Ajuste Fiscal dos Estados (Programa de ajuste), por meio do qual os estados deixaram de ser onerados em R$ 12,099 bilhões até 1999. Vale lembrar que todo o setor público foi beneficiado com essa economia. 3.1 Uma pequena análise macroeconômica Buscando visualizar os efeitos que a economia obtida ocasionou na contabilidade nacional, foi desenvolvido um modelo simplificado por intermédio 25 i da análise de algumas identidades macroeconômicas básicas , desprezando a depreciação e analisando o setor privado como um todo. Inicialmente, através da derivação de uma relação muito importante entre a produção e a renda disponível, temos que Y a renda nacional é igual a YD renda disponível alocada para o consumo ou poupança, acrescida dos TA impostos totais e mitigada pelas TR transferências do governo ao setor privado( incluindo juros) : Y = YD + TA - TR (a) Neste momento, olhando a demanda (total) agregada por bens e serviços pela produção gerada e vendida, podemos considerar que a Y renda nacional é igual ao C gastos em consumo efetuado pelo setor privado, acrescido dos I gastos com investimento pelo setor privado, somado aos G gastos do Governo com bens e serviços e adicionado às NX exportações líquidas (exportações X menos importações M), escrevendo: Y = C + I + G + NX (b) Acrescentando na identidade (B) algumas especificações dos G gastos do governo, desmembrando-os por origem dos recursos auferidos, os mesmos são subdivididos em G1 gastos financiados com recursos próprios do Governo e G2 gastos financiados com emissões de títulos (cobrir déficits). Existe também, outro item que pode fazer parte desta equação, no entanto, não é tangível como os demais porque ele se anula quando se torna um gasto, DR a demanda reprimida. G = G1 + G2 (c) Associando a economia obtida no setor público (abordada neste trabalho), adquirida pela redução dos juros de empréstimos anteriormente contratados pelos governos estaduais, com i a identidade (a), verificamos que as TR Fonte: DURNBUSH, R.; FISCHER, S (1991). “Macroeconomia”. 26 transferências do governo para o setor privado serão mitigadas e, consequentemente, haverá uma ampliação da renda nacional naquele momento primário, se a renda disponível e os impostos arrecadados se mantiverem inicialmente. YD + TA - ⇓ TR = ⇑ Y (a) , onde: ⇓ - reduzir e ⇑ - aumentar Considerando-se a expansão da renda nacional nesse momento inicial, e aplicando-a na identidade (b), mesclada pela identidade (c), chegamos às seguintes conclusões: • O aumento da renda nacional pode perfeitamente ser balanceado pela ampliação quase proporcional dos gastos públicos em um momento inicial, com vistas a atender a compra de bens e serviços ainda não satisfeitos pelo Governo – DR a demanda reprimida por bens e serviços –, aumentando o fornecimento de bens públicos e, consequentemente, do bem estar da população; • Compreende-se também, que, há uma enorme diferenciação entre a alocação de recursos auferidos pela iniciativa privada ou pelo governo, tendo em vista que na primeira hipótese a tendência prevalecente é que os recursos continuem sendo investidos no mercado financeiro; já na segunda, a propensão seria maior para alocação no mercado de bens e serviços e, por conseguinte, pressionaria o mercado interno no sentido crescente. Assim: ⇑ Y = C + I + (⇑ ⇑ G1 + G2) + NX , ou 27 YD + TA - ⇓ TR = C + I + (⇑ ⇑ G1 + G2) + NX Já em um segundo momento, deve ocorrer a mitigação da renda disponível na identidade (a), visto que o decréscimo das transferências do governo para o setor privado refletirá na redução da renda privada, não havendo, então, ampliação significativa da renda nacional, se a arrecadação com impostos permanecesse inalterada. Assim sendo, a identidade (a) seria visualizada da seguinte forma: ⇓ YD + TA - ⇓ TR = Y O fato é que a renda disponível é alocada para C o consumo e S para a poupança do setor privado e, certamente, a redução das transferências do governo para o setor privado pode resultar na redução do consumo ou da poupança que vem do setor privado, ou seja: YD = C + S (d) , então: ⇓ YD = ⇓ C ou ⇓ S É bem possível mesmo, que não ocorra alteração na renda nacional, e sim, uma diminuição da renda disponível com a respectiva redução proporcional do consumo privado, combinando as identidades (a) e (d) seria assim: Y = ⇓ YD + TA - ⇓ TR ,e ⇓ YD = ⇓ C + S A partir daí, a redução do consumo privado e/ou do investimento privado é balanceada pelo aumento dos gastos do governo com bens e serviços, podendo aumentar apenas os gastos do governo custeados com recursos próprios, devido a redução das transferências de juros para a iniciativa privada, ou aumentar os gastos pagos com recursos próprios e diminuir os gastos 28 financiados com emissão de títulos – diminuindo a tendência de crescimento da dívida por meio da redução do financiamento de déficits – da seguinte forma: Y = ⇓ C + I + (⇑ ⇑ G1 + G2) + NX Y = ⇓ C + I + (⇑⇑ ⇑⇑ G1 + ⇓ G2) + NX , ou , e então: ⇓ YD + TA - ⇓ TR = ⇓ C + I + (⇑ ⇑ G1 + G2) + NX Quando ocorre a substituição dos gastos do governo, financiados com emissão de títulos (financiamento de déficit) por gastos custeados com recursos próprios, observa-se que há uma tendência com vistas a buscar o equilíbrio das contas públicas, afinal, o déficit cai e o governo deixa de transferir juros (recompensa) ao setor privado, possibilitando um melhor saneamento das contas públicas. Esta ponderação foi exatamente o que a economia obtida, verificada neste trabalho, proporcionou ao setor público. Além disso, podemos visualizar melhor as contas orçamentárias por meio da derivação de uma relação existente entre S/D o superávit e/ou déficit orçamentário (cuja natureza de saldo é nula), TA as receitas totais com impostos, EM as receitas com emissões de títulos, TR as transferências do governo ao setor privado (incluindo juros) e os gastos do governo, sendo G1 financiado com recursos próprios e G2 por emissões de títulos, escreve: S/D = TA - TR + EM - (G1 + G2) (e) Enfim, a economia obtida pelo setor público, conseguida por meio da redução das transferências dos juros para o setor privado pode resultar na ampliação dos gastos do governo com recursos próprios, possibilitando uma significativa diminuição dos gastos do governo financiados com emissões de títulos (p/ cobrir déficits e/ou refinanciamento de dívidas) e, assim, estaria-se buscando não só a ampliação da capacidade de pagamento de dívidas, quanto 29 a redução das necessidades de financiamento do setor público, sendo, portanto, um grande passo para um maior equilíbrio orçamentário, onde teríamos: S/D = TA - ⇓ TR + ⇓ EM - (⇑ ⇑ G1 + ⇓ G2) Poderia também, ser mantido o nível das emissões de títulos e os respectivos gastos por ela financiados, e ampliar os gastos do governo com bens e serviços custeados com recursos próprios para atender a demanda reprimida DR (novos programas do governo), Teremos: S/D = TA - ⇓ TR + EM - (⇑ ⇑ G1 + G2) 3.2 Vantagens sociais Ao analisar os possíveis efeitos em questões sociais, essa economia foi de altíssima relevância para o pais, já que só o montante acumulado de R$ 12,099 bilhões (1,20% do PIB), até 1999, daria para custear o ensino fundamental de 28,14 milhões de brasileiros/ano, isso ao custo mínimo por aluno de R$ 430,00, considerado razoável pelo jornal “O Globo”(01/08/98) para amenizar os problemas de qualidade existentes, com vistas a reverter o quadro elevado de evasão e repetência na faixa etária de 7 a 14 anos. Contudo, o gasto mínimo adotado pela área econômica do governo, para 1999, foi de R$ 315 aluno/ano, e para o ano 2000, o valor previsto era de R$ 333,00 para os alunos de 1ª a 4ª série e de R$ 349,65 para os alunos de 5ª a 8ª série.j Relacionando esses dados com a reforma agrária, pode-se dizer que a economia obtida até 1999, viabilizaria o assentamento de 0,903 milhões de j Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO (1999 e 2000). Jornal - Artigos diversos. 30 famílias, incluindo, aí, custos com alimentação, fomento a produção, habitação e a realização de obras de infra-estrutura, tais como açudes, armazéns eletrificação rural, estradas, demarcação da terra e empréstimo de a investimento. Haja vista que o custo médio de assentamento familiar (INCRA e PRONAF), em 2000, é da ordem de R$ 13,400 mil para a União.k Já os serviços de educação e saúde tem ficado a cargo dos governos subnacionais e locais. Quanto a questão habitacional urbana, essa economia garantiria o beneficiamento de 1,00 milhões de famílias com novas unidades habitacionais, que poderia resultar na diminuição do déficit habitacional urbano brasileiro que é da ordem de 4,00 milhões na área urbana ou o déficit habitacional rural, que estima-se em 1,6 milhões. l Mesmo considerando a importância das questões sociais, o quadro da conjuntura econômica certamente foi o mais beneficiado com a economia obtida, uma vez que o país pôde superar todas as adversidades num momento em que os recursos próprios não eram suficientes para manter todos os programas de governo, como também a necessidade de refinanciar o grande e exigível montante da dívida pública. Ainda assim, havia mais três aspectos desfavoráveis na conjuntura econômica: a necessidade de manter altos juros no mercado financeiro para conter impulsos inflacionários e para deter a saída indiscriminada de capitais do pais, devido a insegurança internacional generalizada com relação às economias dos países em desenvolvimento; a enorme sensibilidade do mercado financeiro a qualquer acontecimento inesperado que ocorresse de k Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO (1999 e 2000). Jornal - Artigos diversos. 31 forma global, em conseqüência das flutuações das taxas de juros em escala global inicializada desde a crise do petróleo nos anos 70, que estimulou a volatilidade de investimentos (capital)m; e as metas estabelecidas junto ao FMI, que impedia, de certa forma, alguma mobilidade dos gastos públicos. Talvez ainda não tenha sido identificada por algum pesquisador, mas realmente seria muito mais difícil para o país, como um estado federado, se financiar nesse período, sem a existência desse Programa de ajuste, que, certamente, foi um fator de grande relevância para que o setor público brasileiro não adquirisse um déficit primário nominal – conta que incorpora encargos financeiros – superior a R$ 109,571 bilhões em 1999, 10% do PIB. n 4. Economia obtida após a data de refinanciamento da dívida Se a estimativa de cálculo da economia obtida fosse inicializada na data de refinanciamento, a situação não seria muito diferente, apenas haveria uma retomada mais breve da economia com juros alcançando o montante de R$ 228,038 bilhões (anexo 5), em dezembro de 2006, como se segue adiante: l Fonte: COMISSÃO NACIONAL DE POPULAÇÃO E DESENVOLVIMENTO -CNPD (1999). “O Caso Brasileiro”. m Fonte: HELLEINER, E.. “From Bretton Woods to Global Finance: A World Turned Upside Down” n Fonte: BANCO CENTRAL DO BRASIL/DEPEC (2000). “Nota para Imprensa - Política Fiscal” 32 Tabela 3 R$ milhões ESTOQUE E PROJEÇÃO DOS JUROS DA DÍVIDA, APÓS REFINANCIAMENTO Mês Economia Substrato da dívida, baseado nos Contratos originais Títulos do Tesouro (2.3) (2.5) (2.3) - (2.5) Dez-98 7.209,52 213,13 6.996,39 Dez-99 15.959,10 1.051,53 14.907,57 Dez-00 28.051,38 1.899,99 26.151,39 Dez-01 43.607,54 2.577,85 41.029,69 Dez-02 64.364,87 3.452,60 60.912,27 Dez-03 91.924,26 4.582,61 87.341,65 Dez-04 128.412,78 6.021,04 122.391,74 Dez-05 176.124,67 7.861,47 168.263,20 Dez-06 238.250,92 10.212,20 228.038,72 2.3 - Substrato dos juros dos títulos e contratos originais dos estados, resultante da diferença entre a dívida corrigida pelos títulos e contratos originais e a dívida corrigida pela taxa SELIC. 2.5 - Substrato dos juros da dívida, resultante da diferença entre a dívida corrigida pela rentabilidade dos títulos e contratos do Tesouro e a dívida corrigida pela taxa SELIC. (2.3) – (2.5) – Economia, objeto da diferença entre o substrato dos juros dos títulos e contratos originais dos estados e o substrato dos juros da dívida (títulos e contratos do Tesouro). * Valores projetados com base no item 6 da Metodologia de cálculo. Por este prisma, a comparação dos dados da economia obtida após o refinanciamento com todas as estimativas apresentadas nas vantagens sociais, citadas no item 3.2, resulta na elevação média dos benefícios em torno de 27,05%, ampliando mais ainda as perspectivas de retorno resultante do Programa de ajuste no âmbito do refinanciamento das dívidas estaduais. A tendência de crescimento da economia obtida é tão expressiva, que comparado ao PIB realizado até dez/99 e previsto até dez/2006, temos a expansão da participação de 1,48%, em dez/98, para 3,21%, em dez/2001, até atingir 11,81% do PIB, em dez/2006. Além disso, visando dar meios aos estados para equacionar a insuficiência de recursos e promover o equilíbrio financeiro e orçamentário, a União aceitou, já na data do contrato de refinanciamento, refinanciar aos estados, a um montante inferior, a dívida que ela assumiu a custos de mercado com os credores. Isso ocorreu da seguinte forma: de acordo com os parágrafos 1º, 2º e 4º da Lei nº 9.496/97, a União devia arcar com os eventuais custos decorrentes da aplicação do contrato de refinanciamento, em que as 33 condições financeiras básicas da dívida mobiliária poderiam retroagir até 31 de março de 1996, e as demais retroagiriam até 120 dias anteriores à celebração do contrato de refinanciamento, sendo capitalizada novamente com remuneração inferior a dos contratos originais. Nesse sentido, o Programa de ajuste também proporcionou o aumento da capacidade de pagamento dos estados por meio de subsídios. 5. Impactos positivos gerados pelas assunções e refinanciamentos das dívidas estaduais Objetivando dimensionar a economia obtida diante da economia do país, buscou-se usar parâmetros com expressivo efeito comparativo, tornando-se factível detectar o impacto dessa economia na conjuntura atual e futura do pais. O PIB é um dos parâmetros mais adequados para identificar tais informações. 5.1 Impacto no Produto Interno Bruto Os números do PIB foram cedidos pela Secretaria de Política Econômica (SPE) até o ano 2001, apresentando redução real de 6,44%, em 1999, e crescimento de 9,67% e 6,19%, em 2000 e em 2001, respectivamente. Para os anos posteriores foi empregada uma estimativa da variação do IGP-DI centrado, acrescida da taxa de crescimento prevista pela área econômica do Governo (4,5%) (item 8 da metodologia de cálculo). 34 Tabela 4 R$ milhões Impacto da economia obtida com o Programa de ajuste no PIB Econom ia obtida após data PIB Assunção (1) Refinanciam e n t o Dez/98 899.814,13 4.384,22 0,49% 6.996,39 Dez/99 1.010.068,47 12.098,93 1,20% 14.907,57 Dez/00 1.177.147,69 23.331,64 1,98% 26.151,39 Dez/01 1.279.065,52 37.894,75 2,96% 41.029,69 Dez/02 1.409.206,39 57.456,37 4,08% 60.912,27 Dez/03 1.552.588,68 83.562,78 5,38% 87.341,65 Dez/04 1.710.559,66 118.263,87 6,91% 122.391,74 Dez/05 1.884.603,69 163.792,23 8,69% 168.263,20 Dez/06 2.076.356,15 223.236,96 10,75% 228.038,72 (2) 0,78% 1,48% 2,22% 3,21% 4,32% 5,63% 7,16% 8,93% 10,98% 1- Participação da economia obtido a após a data de assunção no PIB 2- Participação da economia obtido a após a data de refinanciamento no PIB Em decorrência do alto custo da antiga dívida dos estados, nota-se que a tendência de crescimento da economia obtida é superior a do PIB, tendo em vista que a média de crescimento do PIB, sem desprezar a variação inflacionaria, situou em 10,17% ao ano, enquanto que a da economia obtida alcançou uma média de crescimento de 58,58% após assunção e 52,12% ao ano após o refinanciamento. Mais uma vez vale ressaltar que é nítida a desoneração que a União sofreu com o Programa de ajuste. 5.2 Impacto na Dívidas Públicas Líquidas A Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) corresponde ao balanço entre as dívidas e os créditos do setor público não financeiro e Banco Central, junto ao sistema financeiro (público e privado), setor privado não financeiro e resto do mundo.o o Fonte: BANCO CENTRAL DO BRASIL/DEPEC (1999 e 2000). “Relatório acerca da Dívida Líquida e Necessidade de Financiamento do Setor Público”. 35 Tabela 5 R$ milhões Impacto da economia obtida nas dívidas públicas líquidas 1998 %PIB Dívida Liq. Do setor Público - DLSP 1/ 385.870,00 42,88% 1999 516.572,00 %PIB 51,14% 2000 613.813,58 %PIB 52,14% Dívida Liq. do Governo Central - DLGC 2/ 231.268,00 25,70% 316.222,00 31,31% 375.748,89 31,92% Economia obtida após assunção participação da DLSP participação na DLGC 4.384,22 1,14% 1,90% 0,49% 12.098,93 2,34% 3,83% 1,20% 23.331,64 3,80% 6,21% 1,98% Economia obtida após refinanciamento participação da DLSP participação na DLGC 6.996,39 1,81% 3,03% 0,78% 14.907,57 2,89% 4,71% 1,48% 26.151,39 4,26% 6,96% 2,22% 1/ DLSP: inclui as dívidas de responsabilidade do Governo Federal, Banco Central, Governos estaduais e Municipais e, empresas estatais federais, estaduais e municipais. 2/ DLGC: inclui as dívidas de responsabilidade do Governo Federal e Banco Central. Fonte: DLPS e DLCG - Nota de Imprensa do Banco Central de 21.02.2000. PIB - Secretaria de Política Econômica. Estoques do ano 2000 foi computado com base na taxa SELIC previta no item 6 da metodologia de cálculo. Vale destacar a importância da economia obtida pelo setor público até dezembro de 2000, no sentido de mensurar a sua significância diante da DLSP, visto que a economia obtida até aquela data foi projetada em R$ 26,151 bilhões e a DLSP cresceu no montante de R$ 208.146 bilhões. Entendendo que esse montante economizado representa 12,56% do incremento ocorrido na DLSP, e que os dados demonstram que o crescimento da DLSP (67,49%) foi inferior ao da taxa SELIC (92,44%), no mesmo período, em 24,95%, podemos considerar que a economia obtida com o Programa de ajuste possa ter dado uma grande contribuição para a redução do custo da Dívida Líquida do setor público, além disso, há que se considerar outros fatores utilizados na abatimento da DLSP, resultante da utilização de recursos próprios da União, privatização e da arrecadação. como os da