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PAPEL DOS PAIS NO PROCESSO DE INCLUSÃO ESCOLAR E NA
APRENDIZAGEM DE FILHOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS
ESPECIAIS
SANTOS, Edinete Ribeiro de Lima. PAPEL DOS PAIS NO PROCESSO DE INCLUSÃO ESCOLAR E NA APRENDIZAGEM DE FILHOS
COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS. REVISTA DISCENTIS. 2ª EDIÇÃO. JULHO 2013.
Edinete Ribeiro de Lima Santos1
Fabiana Rodrigues dos Santos2
Thereza Cristina Bastos Costa de Oliveira3
Resumo: O papel dos pais na educação dos filhos com Necessidades Educacionais Especiais (NEEs)
é fator importantíssimo no processo de inclusão escolar, já que são eles quem melhor conhecem seus
filhos. Sabendo que a participação dos pais é fundamental neste processo, o presente estudo foi
realizado com o objetivo de identificar condutas e avaliar intervenções sugeridas aos pais para que os
mesmos possam participar do processo de inclusão escolar de seus filhos. Para embasamento teórico
deste trabalho, foram pesquisados e analisados sete artigos acadêmicos sobre o tema. O estudo
apontou que os pais possuem papel fundamental na vida escolar de seus filhos com NEEs e que eles
podem manter comportamentos adequados para contribuir com a inclusão. Os estudos sobre
educação inclusiva têm avançado, as práticas inclusivas estão sendo implantadas em muitas escolas,
e os pais podem contribuir para tudo isso fazendo uma parceria colaborativa com a escola.
Palavras-chave: Crianças com Necessidade Educacionais Especiais; Inclusão escolar; Pais.
INTRODUÇÃO
Os pais são agentes indispensáveis no processo educacional dos filhos. A família é a
que melhor conhece a criança porque a acompanhou desde seu nascimento e, da mesma
maneira, a criança sente-se mais segura estando próxima da sua família. Para Petean e Borges
(2002), a participação da família promove o desenvolvimento da criança e atua como agente
mediador entre a escola e o meio social.
Desde a antiguidade, os pais respondiam pelo caráter e comportamento de seus filhos
diante da sociedade, tarefa ainda mais dedicada pelas mães. Segundo Rolfsen e Martinez
(2008), a mãe é quem mais ajuda nas atividades e afazeres escolares dos filhos. Atualmente os
pais ainda são responsáveis pela educação dos filhos e a preocupação deles está em escolher a
1
Graduanda do 4º semestre do Curso de Licenciatura em Letras/LIBRAS/Língua Estrangeira do Centro de
Formação de Professores (CFP) / Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).
2
Orientadora. Doutora em Ciências pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de
São Paulo (USP). Professora Adjunto II do Centro de Formação de Professores (CFP) / Universidade Federal do
Recôncavo da Bahia (UFRB).
3
Orientadora. Doutora em Educação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Professora Adjunto I do
Centro de Formação de Professores (CFP) / Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).
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melhor escola, comprar alguns recursos didáticos, levar os filhos na escola, participar de
reuniões, etc. Quando se trata de crianças com Necessidade Educacionais Especiais (NEEs), a
participação deles é muito mais cobrada, afinal, a dependência destas crianças é maior.
Os pais de crianças com NEEs encontram diante de si um longo caminho de
obstáculos na educação de seus filhos, e a participação deles, neste processo, é o que
determinará o avanço educacional destas crianças. O preconceito e a discriminação que
sofrem as crianças com NEEs deixam os pais temerosos em colocá-los em uma escola e em
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deixá-los em convívio social. Em outros casos, existem pais que lutam para que seus filhos
sejam aceitos dignamente em algumas escolas. Isto ocorre porque muitas famílias veem de
forma negativa a inclusão escolar e não aceitam que seus filhos sem necessidades estudem
com uma criança com NEEs. Além disso, muitas instituições de ensino temem a evasão
escolar pelo fato de ter um aluno especial.
A inclusão escolar de crianças com NEEs, seja essa necessidade surdez, síndrome de
Down, paralisia cerebral, autismo, deficiência visual, ou outra, é um direito garantido por lei.
A Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994) diz que toda criança tem direito a educação e
que as escolas devem se preparar e fornecer programas educativos para receber e atender estas
crianças. As diretrizes Nacionais para a Educação Especial no Brasil na resolução n° 2/2001,
aprovada pela Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, coloca para
os sistemas de ensino o desafio de se organizar para incluir os alunos e atender suas NEEs
(BRASIL, 2001). A escola deve se preparar para atender esses alunos, enquanto a família
deve ser parceira para que a inclusão seja efetivada.
Muitas discussões são realizadas sobre a inclusão escolar, contudo, ainda é distante de
muitas crianças com NEEs esta possibilidade. As leis foram criadas, estudos realizados,
campanhas propagadas, todavia a situação ainda é complexa, pois a inclusão escolar não
ocorre em muitas instituições de ensino.
Faltam professores capacitados, escolas bem
estruturadas para atender essas crianças, materiais didáticos necessários e, em muitos casos,
há falta de interação entre família e escola. Os pais devem ser entendidos como mediadores
no processo de inclusão escolar, não visando apenas ao entrosamento social dos seus filhos,
mas pensando no desenvolvimento educacional do mesmo. A escola deve responder às
expectativas dos pais, pois eles possuem inseguranças em relação à inclusão escolar. Muitos
se perguntam se seus filhos sofrerão discriminação, se serão bem aceitos e terão educação
especializada e de qualidade. Essas preocupações por parte dos pais devem ser atendidas:
40
Compete aos profissionais da escola, em conjunto com a comunidade,
demonstrar que a escola tem competência para atender às necessidades de
todos os estudantes. Para persuadi-los, retórica não basta; há que se
apresentarem propostas e resultados concretos que garantam o acesso, a
permanência e o sucesso dos alunos com necessidades educacionais
especiais nas salas e escolas comuns da rede regular de ensino. (BARBOSA,
ROSINI E PEREIRA, 2007, p.457).
O processo de inclusão deve começar pela própria família. Muitos pais não confiam
em deixar seus filhos com NEEs na escola. Eles muitas vezes possuem um pensamento
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negativo diante do processo de inclusão. Os autores Barbosa, Rosini e Pereira (2007)
discutem que, se as atitudes dos pais forem positivas com relação à educação inclusiva,
melhor e mais rápido será o processo de inclusão. Muitos pais veem de forma negativa a
inclusão de crianças especiais em escolas de ensino básico. Eles acham melhor que essas
crianças estudem em escolas especializadas. Outros pensam de forma preconceituosa com
relação à educação inclusiva e a maneira errada deles verem este processo intensifica a
exclusão escolar. Esses pais transmitem essas atitudes negativas para seus filhos que
consequentemente terão a mesma visão quando se deparar com outra criança em processo de
inclusão.
Os pais precisam manter uma boa interação com a escola, pois isto representa um fator
positivo para a inclusão escolar dos seus filhos e são os pais que possuem conhecimentos e
experiências para ensiná-los. As crianças com NEEs precisam de muito incentivo e atenção
para vencer as dificuldades de aprendizagem que muitas vezes fazem com que elas desistam
de estudar. Os autores Ferraz, Araújo e Ferreira (2010) compreendem que uma relação estável
entre os pais e a escola é fundamental para o sucesso da inclusão.
Para embasamento teórico desta pesquisa, os seguintes estudos foram analisados: As
Famílias e a Classe Especial em um Colégio de Elite, da autora Dallabrida (2007), que
argumentou a necessidade de os pais colocarem seus filhos na escola visando ao
desenvolvimento educacional da criança; Família de Crianças com Deficiência e
Profissionais: Componentes da Parceria Colaborativa na Escola, das autoras Silva e Mendes
(2008), que sugeriram que os pais poderiam contribuir com os profissionais da escola, dando
sugestões e opiniões sobre seu filho com NEE; Programa de Intervenção para Pais de
Crianças com Dificuldades de Aprendizagem: Um Estudo Preliminar, das autoras Rolfsen e
Martinez (2008), que aconselham aos pais buscar orientação de como agir com seus filhos e
ajudá-los na execução das atividades escolares; Atitudes Parentais em Relação à Educação
Inclusiva, discutido pelos autores Barbosa, Rosini e Pereira (2007), que tratam da importância
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dos pais manterem atitudes positivas com relação à educação inclusiva; Inclusão de Crianças
com Síndrome de Down e Paralisia Cerebral no Ensino Fundamental I: Comparação de
Relatos de Mães e Professores, pesquisa dos autores Ferraz, Araújo e Carreiro (2010), que
levantaram dados sobre a importância do diálogo frequente entre pais e professores;
Deficiência Auditiva: Escolarização e Aprendizagem de Língua de Sinais na Opinião das
Mães, estudo das autoras Petean e Borges (2003), que enfatizaram o quanto é preciso que os
pais adquiram conhecimentos sobre as NEEs das crianças e as motivem nos estudos; Inclusão
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Escolar de Crianças com Deficiência Múltipla: Concepções de Pais e Professores, pesquisa
das autoras Silveira e Neves (2006), na qual se pode ponderar que os pais precisam acreditar
na inclusão escolar de crianças com NEEs e buscar instituições de ensino que atendam a essas
necessidades.
METODOLOGIA
Após análise do tema, foi realizada uma busca no site Scielo para selecionar artigos
atuais que discutissem a temática. Depois da leitura dos artigos, foram escolhidos sete para a
produção desta revisão bibliográfica. Foi feita uma ficha resumo de cada um contendo
especificamente o tema, a referência bibliográfica, o objetivo, o local da pesquisa, os
participantes, as medidas usadas, os principais resultados e, no fim, as citações com
comentários, intervenções e práticas bem sucedidas que poderiam ser usadas pelos pais no
processo de inclusão escolar de seu filho com NEEs.
Desta maneira foi feito um
levantamento teórico que permitiu a discussão e a problematização do assunto abordado neste
estudo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados encontrados nos sete artigos pesquisados são o que se deduziu acerca do
papel dos pais no processo de inclusão escolar de crianças com NEEs.
Para melhor
compreensão dos resultados, será abordado o que cada artigo pode inferir sobre o papel dos
pais neste processo, depois constituirá uma abordagem geral, resumindo as principais práticas
inclusivas que a família pode fazer para contribuir com a inclusão escolar de crianças com
NEEs.
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Em pesquisa realizada, Dallabrida (2007), com o objetivo de apresentar os principais
resultados voltados à família, abordou as expectativas dos pais de alunos com NEEs na
escolha de um colégio privado e de boa qualidade localizado no estado de Santa Catarina. Os
dados da pesquisa foram tirados de entrevistas com os pais, alunos e professores da instituição
e de análises de documentos da secretaria da escola. As informações colhidas apontam que as
famílias participantes da pesquisa eram de classes superiores e colocavam seus filhos em um
colégio de alto padrão porque o mesmo oferecia ensino tradicional que permitia a inserção
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social com crianças de mesma origem. Os desejos dessas famílias iam além do aprendizado
dos filhos e a busca por estas escolas também partia do interesse por parte delas em diminuir
ou maquiar a deficiência de seus filhos (DALLABRIDA, 2007). Colocar seus filhos em
convívio com crianças tidas como normais acalentava os pais diante da luta que travavam
interiormente com a deficiência dos mesmos. A autora do trabalho discute que as famílias de
classe média alta que possuem filhos deficientes preferem colocá-los para estudar em um
colégio de alto nível, pois oferece, além do ensino regular, atividades extraclasses e
atendimento especializado, como consulta com psicólogos. De acordo com a autora, as
famílias também colocam seus filhos neste colégio como uma forma de diminuir a deficiência
dos mesmos, pois as crianças estariam em convívio com outras tidas como “normais”,
fazendo com que elas se sintam melhor por terem filhos NEEs.
Esta escolha é uma maneira de “apagar” as deficiências de seus filhos com NEEs, para
que sejam vistos como normais. Ao escolherem um colégio de elevado padrão, os pais
possuem interesses que vão além da educação dos mesmos. É necessário atentar que:
As motivações e as expectativas das famílias nesta escolha deveu-se mais
pela busca de um colégio de tradição que oferecesse a oportunidade de
convívio com pessoas da mesma origem social, do que na expectativa com
relação às possibilidades de escolarização dos filhos. (DALLABRIDA,
2007, p.476).
Compreende-se que os pais devem ver a escola como uma oportunidade de
crescimento educativo de seus filhos com NEEs. Um lugar onde estas crianças estarão em
convívio com outras crianças, uma forma de inserção social. Precisam ter consciência de que
a escola escolhida para isso deve ser conhecida pelos mesmos e possuir condições de receber
estas crianças.
Silva e Mendes (2008) realizaram estudos com o objetivo de identificar e descrever
ações de iniciativa colaborativa entre as famílias de crianças com deficiências e os
43
profissionais da escola que atendiam estas crianças.
A pesquisa foi realizada com 31
participantes, profissionais e familiares. Foram divididos em quatro grupos que responderam
a questionários sobre como deveria ocorrer uma ação colaborativa entre família e escola. As
informações dadas pelos profissionais foram confrontadas com as dos familiares e vice-versa.
Para que ocorra um processo colaborativo entre profissionais da escola e familiares é
preciso, de acordo com os resultados da pesquisa, existir um conjunto de atitudes. É esperado
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dos familiares os seguintes comportamentos:
Comunicar-se com os profissionais; ser responsável pela educação do filho;
manter expectativas adequadas; aceitar a deficiência do filho; respeitar os
profissionais; reconhecer o trabalho dos profissionais; confiar no trabalho
desenvolvido; acreditar no trabalho desenvolvido; questionar os profissionais
de modo adequado; garantir a frequência do aluno; visitar a escola; participar
das atividades. (Silva e Mendes, 2008, p.223).
Segundo as autoras, os participantes da pesquisa concordaram que a educação dos
filhos é responsabilidade dos pais e que os mesmos devem dar continuidade ao trabalho
desenvolvido na escola pelos profissionais. Uma ação colaborativa deve ser feita em conjunto:
cada parte entende sua função e age de forma que o papel do outro seja efetuado. Dessa
maneira, podem colaborar para o processo de aprendizagem da criança com NEEs, pois assim
“o respeito deve ser recíproco” (Silva e Mendes, 2008, p. 227). Foi apontado no estudo
também que os familiares esperam que os profissionais sejam sinceros quanto ao
desenvolvimento de seus filhos com NEEs, pois é melhor para eles saberem a verdade do que
criarem expectativas falsas.
Porém, os profissionais não devem fazer julgamentos
precipitados sobre a capacidade dos alunos realizarem certas atividades, sem eles terem a
chance de tentar.
Diante dos levantamentos feitos, as autoras Silva e Mendes (2008)
concluíram que ainda não existe uma relação de igualdade entre os familiares e os
profissionais da escola. Este dado representa um fator negativo, já que esta relação seria de
extrema importância numa parceria colaborativa.
Rolfsen e Martinez (2008) realizaram um estudo que tinha como objetivo avaliar e
implementar um Programa Psicopedagógico de Orientação a Pais (PPOP). Oito pais e seus
filhos com dificuldades de aprendizagem participaram da pesquisa que foi realizada em
sessões na qual uma equipe foi preparada para “oferecer aos pais informações sobre condutas
assertivas que favorecessem comportamentos adaptativos e o pregresso escolar de seus filhos”
(p. 179). Foi feito um levantamento sobre os pais das crianças, o ambiente em que elas viviam
e como estava seu desenvolvimento escolar. Os pais eram, em sua maioria, pertencentes a
44
classes C e B2, e as crianças apresentavam desempenho escolar médio e inferior e cresciam
em um ambiente com diversificados recursos para se desenvolverem. As que não tinham um
bom desempenho foram “encaminhadas a um serviço de ensino de leitura/escrita, oferecido
por uma universidade pública” (ROLFSEN E MARTINEZ, 2008, p.180). Com base nas
respostas dos participantes do estudo, os resultados apontaram que a implementação do PPOP
é satisfatória. As estratégias utilizadas para alcançar o objetivo do programa foram
diversificadas, podendo citar incentivo aos pais, estímulo sobre as práticas inclusivas,
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dinâmica de grupo, tarefas de casa, dentre outras. Um programa que vise ajudar os pais no
processo educacional de seus filhos com NEEs é necessário, pois os mesmos muitas vezes
sentem-se despreparados quanto à forma de agirem com seus filhos. Existem práticas que os
pais podem desempenhar para emancipação do processo educacional. Programas como o
PPOP podem ser sugeridos em escolas para que a participação familiar seja mais efetiva e
significativa.
Barbosa, Rosini e Pereira (2007) investigaram e escreveram sobre as atitudes dos pais
em relação à educação inclusiva. A pesquisa tinha como objetivo saber se estas atitudes eram
positivas ou negativas, favoráveis ou desfavoráveis. Em reuniões na escola, os participantes
da pesquisa, 169 pais de alunos com NEEs e 276 progenitores de discentes, responderam a
dois questionários. Os dados obtidos na pesquisa revelaram que a maioria dos pais possui
atitudes positivas à inclusão escolar, contudo um número pequeno de pais, mas relevante,
mostrou atitudes contrárias. De acordo com os autores “no que diz respeito às atitudes
parentais, a acessibilidade de pessoas com NEEs às salas e escolas comuns da rede regular de
ensino não enfrentará muitas barreiras.” (BARBOSA, ROSINI E PEREIRA, 2007, p.455).
Fica clara a importância dos pais para o desenvolvimento de seus filhos e o quanto a
maneira de cada um agir pode interferir, impedindo ou favorecendo o processo inclusivo.
Para pais que possuem atitudes negativas seria interessante participarem de programas que os
deixassem em contato com estas crianças e que também lhes fossem apresentadas
experiências de inclusão escolar bem sucedidas (BARBOSA, ROSINI E PEREIRA, 2007).
Ferraz, Araújo e Carreiro (2010) realizaram um estudo sobre a inclusão de crianças
com Síndrome de Down (SD) e paralisia cerebral (PC) no Ensino Fundamental I, utilizando a
entrevista estruturada com questões abertas ligadas ao objetivo da pesquisa para a coleta de
dados. Quatro mães de crianças com PC, quatro mães de crianças com SD e oito respectivos
professores participaram do estudo. Os dados obtidos com a pesquisa apontam que as
expectativas das mães e professores estão ligadas à socialização, independência, atividades da
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vida diária e alfabetização. As mães não esperam que seus filhos sejam inclusos apenas
socialmente; elas desejam que eles aprendam a ler e a escrever. Já os professores encontram
dificuldades para alfabetizar estas crianças, pois os mesmos não possuem recursos e
capacitação correta para realizar a função. Porém, fazem o que podem com o pouco que lhes é
oferecido.
Com relação à participação das mães no processo de inclusão escolar, pode-se
constatar que a comunicação dos professores com as mães é feita por meio de caderno de
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recados e reuniões de pais, o que as mães acham insuficiente, já que elas necessitam de mais
tempo e oportunidade para trocar informações com os professores sobre seus filhos com
NEEs. De acordo com os autores, os professores precisam contar com a participação dos pais
para que haja uma parceria colaborativa e a escola deve incentivar este processo, promovendo
momentos em que a comunicação entre ambos os lados seja viável (Ferraz, Araújo e Carreiro,
2010).
Outro ponto de relevância a ser discutido no estudo de Barbosa, Rosini e Pereira
(2010) é a necessidade de se dialogar com os familiares dos outros alunos da escola, como
também com demais professores e alunos sobre a inclusão de crianças com NEEs, pois, como
revela o relato de uma mãe na pesquisa, “o esclarecimento é o melhor caminho para a quebra
de preconceitos” (p. 409). Esta interferência por meio da escola deixaria os pais mais
confiantes em deixar seus filhos neste espaço.
Petean e Borges (2003) procuraram conhecer como se deu a escolarização de alunos
surdos e como as mães viam o processo de inclusão escolar dos mesmos. Foram entrevistadas
dez mães de deficientes auditivos. Elas responderam a um roteiro de entrevista
semiestruturado. As autoras enfatizam a importância da participação familiar, “não só como
promotora do desenvolvimento, mas como agente mediador entre a escola e a sociedade” (p.
196). Foi avaliado que as mães colocam seus filhos na escola para que os mesmos sejam
introduzidos socialmente e os retiram, muitas vezes, porque se preocupam se seus filhos
sofrerão agressão, além de perceberem a escola como inadequada e os profissionais
despreparados para receberem estas crianças. Com relação à inclusão escolar, as mães não
acreditam neste processo. Para elas, os professores não estão preparados e as crianças não se
adaptam à escolarização. Petean e Borges (2003) sugerem programas de intervenção para
esclarecer as dúvidas das mães e salientar a importância da comunicação entre elas e a escola.
Silveira e Neves (2006) realizaram um estudo que tinha como objetivo identificar
como os pais e professores entendem a inclusão escolar e social de crianças com mais de uma
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deficiência. Para a realização da pesquisa, 10 professores e 10 famílias das crianças
responderam a duas entrevistas semiestruturadas, sendo que uma foi realizada com a ajuda de
fotografias das famílias. As autoras concluíram que os pais e professores não acreditam na
inclusão escolar dessas crianças, pois as mesmas possuem deficiências que as impedem de
alcançar um desenvolvimento significativo. Além disso, também consideram a escola
despreparada para recebê-los.
Os pais consideram um grande sofrimento a deficiência do filho e pensam a inclusão
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escolar e social por meio de bases médicas e biológicas, o que torna difícil a inclusão escolar
das mesmas. Silveira e Neves (2006) acreditam que a escola deve envolver os pais das
crianças deficientes, até em algumas aulas, “(...) para que esteja claro para os pais, a seriedade
da proposta pedagógica específica para seu filho, bem como para que se possa
instrumentalizar os pais para atividades possíveis de serem realizadas em casa” (p. 84).
Para garantir uma boa educação, precisa-se muitas vezes de investimento por parte dos
pais, pois uma criança especial necessita, assim como todas as crianças, de um ensino
especializado e de qualidade. Os pais devem manter uma parceria colaborativa com a escola e
os profissionais da educação. Muitas vezes as atitudes dos pais, com relação ao aprendizado
das crianças com necessidades especiais, influenciam muito no desenvolvimento delas,
podendo ajudar ou prejudicar.
Os pais são os que mais compreendem seus filhos com NEEs e, por isso, é importante
que haja a troca de informações com os professores para que estes descubram formas
melhores de ajudar no desenvolvimento da criança. É necessário que os pais visitem a escola
em horários agendados de forma que não atrapalhe a rotina escolar dos alunos. Os pais devem
mostrar preocupação e interesse acerca da vida escolar de seus filhos, questionando sobre o
que a escola precisa por parte deles, se podem fazer alguma coisa para ajudar, e quando
possível eles devem participar das festas escolares, reuniões e eventos.
É fundamental que os pais respondam ao caderno de comunicação, método de diálogo
utilizado por alguns professores, pois assim estarão colaborando com eles. Tudo que envolve
a vida escolar das crianças com NEEs deve ser decidido em conjunto, pais e escola. Rolfsen e
Martinez (2008) discutem a importância da orientação aos pais de crianças com NEEs,
citando comportamentos que contribuam para a inclusão escolar destas crianças. Para os
autores, os pais devem fazer atividades diferenciadas com seus filhos para promover a
socialização e contribuir para o bem estar das crianças. Algumas atividades realizadas em
casa “[...] estimulam a interação entre pais e filhos, como brincar, contar histórias e casos,
47
conversar sobre como foi o dia na escola e ouvir as histórias da criança” (p.184), afirmam os
autores.
Rolfsen e Martinez (2008) concordam que as mães são mais participantes no que se
refere às atividades escolares dos filhos. É elas que passam mais tempo com os filhos, tendo
maior dedicação aos estudos da criança, por isso, junto com o pai, devem estabelecer regras e
limites a seus filhos. E sempre que tiverem dúvidas sobre a educação das crianças devem
buscar orientação. Os pais podem ajudar seus filhos participando na execução das atividades
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escolares, conversando sobre o dia-a-dia da criança na escola, falando com os professores
sobre o aprendizado e o comportamento de seus filhos na escola. Pequenos gestos fazem toda
diferença e mostram a importância da participação familiar na vida escolar destas crianças.
Os autores Barbosa, Rosini e Pereira (2007) foram felizes em aconselhar que
psicólogos escolares e outros educadores devam urgentemente desenvolver e executar
programas que visem atitudes em relação à inclusão escolar dos pais. Atitudes negativas
diante da inclusão escolar podem trazer sérias dificuldades para uma criança com NEEs. Se os
próprios pais não acreditam na inclusão escolar, logo elas também não terão motivação em
estudar junto com as crianças tidas como normais. A escola poderia contribuir promovendo
eventos, palestras e reuniões em que houvesse discussões voltadas à inclusão, pois o
conhecimento é libertador e esclarecedor e pode, em muito, promover melhoras na família, na
sociedade e na escola.
Ferraz, Araújo e Carreiro (2010, p. 398) afirmam que “o princípio fundamental da
escola inclusiva é de que todas as crianças deveriam aprender juntas, independentemente de
dificuldades ou diferenças que possam apresentar.” Sendo assim, é importante que as crianças
estejam presentes na escola para se cumprir este princípio. A permanência das crianças com
NEEs na escola é um desafio e a participação dos pais deve ser constante, mantendo uma
comunicação direta com os profissionais da escola. Deve existir também momento entre
professores e pais para que estes possam conversar tranquilamente e trocarem ideias sobre a
educação dos filhos com NEEs, o que deixam claro os autores ao afirmar que:
[...] O fato de as mães saberem o que é feito em sala de aula e estarem mais
presentes na escola parece contribuir com a aprendizagem da criança com
deficiência, já que algumas professoras utilizam como estratégia mandar
atividades para serem feitas em casa. (Ferraz, Araújo e Carreiro, 2010, p.
408).
As mães podem contribuir para a vida escolar da criança com NEEs dando dicas para
as professoras sobre o comportamento destas crianças, sobre o que chama a atenção delas.
48
Podem também ajudar nas atividades de casa. Os pais precisam de um tempo com os
professores para passar dicas sobre os filhos com NEEs, falar deles, como são, etc.
Petean e Borges (2002) concordam com Rolfsen e Martinez (2008) ao discutirem que
a falta de conhecimento das mães pode prejudicar o desenvolvimento cognitivo da criança. As
atitudes negativas com relação à inclusão é um fator que alimenta a exclusão. As mães
precisam saber o que é melhor para seus filhos e providenciar um lugar onde esta criança
estude e aprenda não apenas com o interesse de socialização, mas com motivação para a
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educação da criança. Todavia o problema nem sempre está na participação ou não dos pais, às
vezes falta aos profissionais dar lugar para os pais participarem de forma mais efetiva. A
motivação pela inclusão escolar de crianças com NEEs deve partir dos dois lados, família e
escola, para que haja uma parceria colaborativa e de qualidade que, no fim, resulte em um
avanço educacional para estas crianças.
Silveira e Neves (2006) também discutiram esta problemática, já que para estes
autores em determinados casos de deficiência os pais e professores não acreditam ser possível
a inclusão escolar dessas crianças, por conceberem o desenvolvimento delas como inexistente
e por considerarem a escola de ensino regular despreparada para recebê-las.
Este é sim um dos grandes desafios enfrentados pela inclusão escolar: a falta de
escolas de ensino básico com professores capacitados e local especializado para receber
crianças com NEEs. Mas é possível compreender que todos os autores encontraram formas
nas quais cabe os pais contribuir para a educação destas crianças. O papel da família é
fundamental, devido a isso, os pais não podem abrir mão deste direito de todas as crianças: a
educação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos estudos realizados, é possível compreender que há uma grande
necessidade de participação familiar na vida escolar de crianças com necessidades especiais.
Essas crianças, como quaisquer outras, precisam do apoio da família em todos os aspectos de
suas vidas. Pode-se observar a pouca quantidade de estudos realizados sobre temas ligados a
família de crianças com NEEs e a escola. Em todos os estudos feitos, pode-se entender que os
pais possuem papel indispensável e fundamental na vida de seus filhos com NEEs. A
participação dos pais no processo de inclusão facilita a caminhada árdua que educadores têm
enfrentado para educação e socialização destas crianças.
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Muitas atitudes por parte dos pais influenciam neste processo, sendo as principais:
diálogo com profissionais da escola, ajuda nas atividades de casa e participação nas atividades
promovidas pela instituição. Os pais devem ter consciência de que atitudes simples como as
que foram anteriormente citadas estarão promovendo a inclusão escolar de seus filhos com
NEEs. A busca pela inclusão é uma luta de todos e os pais, junto com os profissionais da
escola, devem trabalhar para que este ideal seja alcançado.
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REFERÊNCIAS
BARBOSA, A. J. G.; ROSINI, D. C. e PEREIRA, A. A. (2007). Atitudes parentais em
relação à educação inclusiva. Rev. bras. educ. espec., vol.13, n.3, p. 447-458.
BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. (1994). Declaração de Salamanca e linha de
ação sobre necessidades educativas especiais. Brasília, DF: Corde.
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papel dos pais no processo de inclusão escolar e na aprendizagem