87 BENEDETTI, P. F. A.; CARLONI, A. R., v. 06, nº 1, p. 87-101, JAN-JUN, 2014. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) PRODUÇÃO DE COURO COM BAIXO TEOR DE CROMO EM CALÇADO INFANTIL: UMA ALTERNATI VAVIÁVEL E SUSTENTÁVEL BENEDETTI, Paulo Fernando Agel 1 CARLONI, Alessandro Ramos 2 RESUMO Atualmente existe forte apelo mundial pela sustentabilidade, visando uma melhoria significativa ao ambiente. Surgem em vários países europeus, a oportunidade e a necessidade de novos produtos sustentáveis. Neste contexto abre se uma lacuna ao setor coureiro calçadista. O presente trabalho tem como objetivo identificar a viabilidade da produção e utilização de couros com baixo teor de cromo em calçados infantis. Utilizando um curtimento alternativo com um produto elaborado com mistura de polialdeídos alifáticos, hidrocarbonetos hidroxilados de alto peso molecular e livre de solventes. Para tanto, foi utilizado a abordagem quali-quantitativa a partir de pesquisa teórica, dados secundários, analise experimental que resultou em um estudo de caso, realizado em indústria química, de curtimento e calçados. O estudo demonstra que hoje, os custos deste tipo de curtimento ainda são altos quando comparados com o convencional, devido a pouca demanda de mercado, porém, se as empresas curtidoras brasileiras fizerem um trabalho comercial diferenciado Gserá de crescimento na demanda e aumento da escala de produtos químicos, consequentemente diminuindo os custos de produção. Portanto, podemos concluir que apesar do custo ser alto, é viável produzir couros curtidos com processos alternativos, pois existem mercados a serem explorados, onde o meio ambiente e a sustentabilidade são temas de suma importância. Palavras–chave: Teor de cromo. Calçado infantil. Sustentabilidade. Viabilidade. ABSTRACT Currently there is strong global appeal for sustainability, targeting a significant environmental improvement. Arise in several European countries, the opportunity and the need for new sustainable products. In this context opens up a gap to the leather footwear sector. This study aims to identify the feasibility of the production and use of leathers with low content of chromium in children's shoes. Using an alternative tanning product prepared with a mixture of aliphatic polyaldehydes, hydroxy hydrocarbons of high molecular weight and solvent-free. For both the qualitative and quantitative approach from theoretical research, secondary data, 1 Graduado em Tecnologia de Gestão da Produção Industrial, pela FATEC – Faculdade de Tecnologia de Franca-SP. E-mail: [email protected]. 2 Mestre em Desenvolvimento Regional pela Uni-FACEF, Especialista em Controladoria e Finanças e em Políticas Estratégicas, Engenheiro de Produção e Docente do Curso de Gestão da Produção Industrial da FATEC – Faculdade de Tecnologia de Franca-SP. E-mail: [email protected]. http://www.uniesp.edu.br/fnsa/revista 88 BENEDETTI, P. F. A.; CARLONI, A. R., v. 06, nº 1, p. 87-101, JAN-JUN, 2014. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) experimental analysis that resulted in a case study conducted in the chemical industry, tanning and footwear was used. The study shows that today the costs of this type of tanning are still high when compared with conventional, due to low market demand, however, whether Brazilian companies do curtidoras a differentiated commercial work Gserá growth in demand and increased scale of chemicals, thus reducing production costs. Therefore, we conclude that despite the cost to be high, it is feasible to produce leathers tanned with alternative processes, because there are markets to be explored, where the environment and sustainability issues are of paramount importance. Keywords: chromium content. Children's shoes. Sustainability. Viability. INTRODUÇÃO Atualmente, o mundo vem passando por inúmeras transformações ambientais, devido alguns alertas vermelhos ocasionados pelas agressões ao meio ambiente, oriundos do crescimento desenfreado e desorganizado da economia de diversos países, gerando um alto índice de emissão de poluentes na atmosfera. Segundo Gutterrez (2008), o crescimento rápido da população humana no ultimo século é motivo de desequilíbrios no meio ambiente. O impacto ambiental da civilização humana depende das necessidades e dos anseios da população (padrão de vida) e da eficiência com que as necessidades podem ser supridas, pois cada indivíduo tem as suas necessidades de proteção e de se alimentar. Assim, a maioria dos produtos manufaturados resultam em impactos ambientais. A indústria curtidora de peles e couros gera uma carga altíssima de poluentes, pois durante os seus processos obtém se resíduos sólidos, líquidos e gasosos proveniente dos produtos químicos utilizados. Para Moreira (2003), a descoberta do metal cromo como curtente é atribuída ao alemão Knapp em 1858, mas somente em 1884 em escala industrial, por Schultz. O sulfato de cromo por ser um produto de fácil acesso e de custo baixo é o curtentemais utilizado, apesar de gerar uma carga altíssima de poluente e ser um dos mais poluentes da cadeia coureira. O objetivo do presente trabalho é mostrar a viabilidade da produção e utilização de couros com baixíssimo teor de cromo em calçados infantis. Na Comunidade Européia, o curtimento alternativo vem sendo alvo das indústrias pelo fator da sustentabilidade. Principalmente pelas empresas automotivas e de calçados infantis, pois as crianças começam a se descobrir http://www.uniesp.edu.br/fnsa/revista 89 BENEDETTI, P. F. A.; CARLONI, A. R., v. 06, nº 1, p. 87-101, JAN-JUN, 2014. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) colocando os pés e os calçados na boca, desta forma em contato com os produtos químicos que compõem o couro. Nesses países, há uma lista de produtos restritivos e proibitivos, pois em contato constante com a pele do ser humano pode causar câncer. Coma onda da sustentabilidade, surgiram e vem sendo testados alguns curtimentos alternativos. Estetrabalho apresenta um curtimento alternativo elaborado com mistura de polialdeídos alifáticos, hidrocarbonetos hidroxilados de alto peso molecular e livre de solventes.Segundo dados da TFL (Together for Leather) (2014), este curtimento alternativo é um dos processos mais ecologicamente corretos, pois a sua carga poluente é baixíssima e os resíduos podem ser utilizados como composto de fertilizantes. O método de pesquisa foi por meio de uma abordagem quali-quantitativa, utilizando-se de pesquisas descritivas, revisões teóricas, diagnóstico de dados secundários; análise experimental com testes em laboratórios com material oriundo de empresas do setor coureiro-calçadista; e estudo de caso in loco nas seguintes empresas: Treat, TFL, Toke e Mielino. 1. CONCEITO HISTÓRICO DO COURO E CURTIMENTO Segundo Caetano (2010), em tempos mais antigos o homem utilizava peles de animais para se proteger das condições climáticas e, principalmente os pés da agressividade dos solos. Os povos antigos logo descobriram que as peles dos animais sem qualquer tratamento se danificavam apodrecendo e adquirindo um cheiro horrível. O curtimento consiste na transformação das peles em material estável e imputrescível, através de processos de ribeira como: pré-remolho, pré-descarne, remolho, descarne,depilação, caleiro, divisão, desencalagem, purga e píquel; desta forma transformando as peles em couros.Portanto Couro é o material já curtido do animal (CUSTÓDIO NETO, 2009). De acordo com Hoinacki(1989), pele é o “revestimento externo, resistente e elástico, que envolve o corpo dos animais e que apresenta várias funções fisiológicas”.As funções fisiológicas da pele são de grande importância; pois uma das principais funções é a de regular e manter constante a temperatura do corpo que envolve. http://www.uniesp.edu.br/fnsa/revista 90 BENEDETTI, P. F. A.; CARLONI, A. R., v. 06, nº 1, p. 87-101, JAN-JUN, 2014. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) Segundo Moreira(2003), a descoberta do metal cromo como curtente é atribuída ao alemão Knapp em 1858, porém em escala industrial, ocorreu somente em 1884, por Schultz. O curtimento era realizado em dois banhos: o primeiro com uma solução ácida de bicromato de sódio e o segundo com uma solução de tiossulfato de sódio para fazer a redução do cromo. Esse tipo de curtimento exige a redução do cromo hexavalente (bicromato) a sais de cromo trivalente (cloreto ou sulfato), uma vez que só os sais de cromo trivalente têm poder curtente. 2. PRODUÇÃO DE CALÇADOS INFANTIL De acordo com o SIBI - Sindicato das Indústrias do Calçado e do Vestuário de Birigui (2013), a cidade de Birigui é a Capital Brasileira do Calçado Infantil. De acordo com o Censo de 2010, possui uma população estimada em 108.722 habitantes. Em 2012, suas empresas geraram 21.986 empregos diretos e produziram 244.250 pares de calçados por dia, o que gerou uma produção anual de 59,108 milhões de pares. Custos, de acordo com Berti (2006), é o conjunto de bens e serviços, empregados na produção de outros bens e serviços. Esse consumo é representado pela entrega ou promessa de entrega de ativos. Custos são gastos que a entidade realiza com o objetivo de por o seu produto final para ser comercializado, fabricando ou revendendo, ou de cumprir com o seu serviço contratado. Uma diferença básica para a despesa é que custo traz um retorno financeiro e pertence à atividade-final, pela qual a empresa foi criada (determinada no seu Contrato Social, na cláusula do Objeto). Já despesa é um gasto com a atividade-meio e não gera retorno financeiro, apenas propicia certo conforto ou funcionalidade ao ambiente sócio político econômico. A razão para se classificar os gastos de uma empresa em despesas e custos é que o primeiro vai direto para o resultado do período, e o segundo irá gerar um estoque (na produção de um determinado bem) e, na sua realização (venda), será finalmente levados ao resultado, o que poderá levar meses ou até anos. Custos industriais geralmente são: matéria prima, energia consumida (eletricidade e/ou combustíveis), água consumida, materiais industriais diversos, mão de obra, depreciação dos itens imobilizados de produção, entre outros. Segundo Lopes de Sá (1990) diz que o custeio variável é "o processo de apuração de custo que exclui os custos fixos". http://www.uniesp.edu.br/fnsa/revista 91 BENEDETTI, P. F. A.; CARLONI, A. R., v. 06, nº 1, p. 87-101, JAN-JUN, 2014. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) Custeio por absorção (ou integral), é o sistema que apura o valor dos custos dos bens ou serviços, tomando como base todos os custos da produção incluindo os custos diretos, indiretos, fixos e variáveis. Conforme Meglioni (2001): o custeio por absorção é o método que consiste em atribuir aos produtos fabricados todos os custos de produção, quer de forma direta ou indireta. Assim todos os custos, sejam eles fixos ou variáveis, são absorvidos pelos produtos. Custo-padrão:são custos predeterminados, porém, diferentemente dos custos estimados, são calculados com base em parâmetros operacionais, e utilizados em operações repetitivas de produção, onde não compensaria calcular o custo individual de cada repetição. Custeio ABC: a alocação dos custos indiretos são baseadas nas atividades relacionadas. GECON ou modelo Gestão Econômica:é um modelo de mensuração de custos baseado em gestão por resultados econômicos. Também conhecido por Grid Economics and Business Models Work (MEGLIONI, 2001). Quanto ao método de apuração dos custos, Freitas (2007)dispõe que podem ser: - Custos Fixos: são os custos que, embora tenham um valor total que não se altera com a variação da quantidade de bens ou serviços produzidos, seu valor unitário se altera de forma inversamente proporcional à alteração da quantidade produzida. Como exemplo, o pagamento de aluguel; - Custos Variáveis: são os custos que, em bases unitárias possuem um valor que não se altera com alterações nas quantidades produzidas, porém, cujos valores totais variam em relação direta com a variação das quantidades produzidas. Como exemplo a matéria prima; - Custos totais: é a soma de custos variáveis mais custos fixos, representado pela fórmula CT=CF+CV; - Custos Diretos: são os custos suscetíveis de serem identificados com os bens ou serviços resultantes, ou seja, têm parcelas definidas apropriadas a cada unidade ou lote produzidas. Geralmente são representados por mão-de-obra direta e pelas matérias primas; - Custos indiretos: todos os outros custos que dependem da adoção de algum critério de rateio para sua atribuição à produção. No jargão da contabilidade brasileira eles são chamados de CIF, de Custos Indiretos de Fabricação; http://www.uniesp.edu.br/fnsa/revista 92 BENEDETTI, P. F. A.; CARLONI, A. R., v. 06, nº 1, p. 87-101, JAN-JUN, 2014. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) - Custo Marginal: conceito de custo ligado à Economia que significa a parcela de acréscimo no custo total por cada unidade adicional produzida; - Custo de Qualidade: são os custos ligados ao controle de qualidade na produção,logística de um produto ou serviço. Os custos da qualidade podem ser divididos em quatro grupos: 1. custos de prevenção, 2. custos de inspeção, 3. custos de falhas internas, 4. custos de falhas externas.; - Custos ambientais: são apenas um subconjunto de um universo mais vasto de custos necessários a uma adequada tomada de decisões. Eles não são custos distintos, mas fazem parte de um sistema integrado de fluxos materiais e monetários que percorrem a empresa. Para o cálculo dos custos ambientais totais da empresa soma-se o custo dos materiais desperdiçados, despesas de manutenção e de depreciação e do trabalho com os custos de salvaguarda ambiental; - Custos Ocultos: os custos ocultos são gastos referentes à atividade de produção, no qual sua principal característica é ser de difícil mensuração, ou seja, os custos ocultos não podem ser reconhecidos facilmente ou atribuídos a um determinado processo produtivo onde são gerados. Além disso, estes custos são numerosos e muito mais altos que o esperado pela maioria dos departamentos de contabilidade. O sistema de custeio é importante para se avaliar a viabilidade econômica do projeto, considerando-se os diversos fatores presentes ao longo do processo, assim como os produtos proibidos e perigosos que podem estar presentes. 3. PRODUTOS PROIBIDOS E PERIGOSOS EM COURO São vários os produtos utilizados para o curtimento do couro e que são maléficos ao meio ambiente, e as exigências ambientais e toxicológicas estão se tornando cada vez mais importantes para a comercialização de toda a variedade em artigos de couros. Segundo Fuck e Gutterrez (2013), o Brasil, como um dos maiores produtores e exportadores de couros do mundo, precisa adequar se as necessidades e exigências do mercado internacional. Desta forma torna se de grande importância a capacitação de laboratórios nacionais para a emissão de certificados de conformidade referente a produtos restritos. Nos países europeus, é necessário respeitar as leis relativas à proteção ao meio ambiente, e às normas especificas a bens de consumo que visam salvaguardar http://www.uniesp.edu.br/fnsa/revista 93 BENEDETTI, P. F. A.; CARLONI, A. R., v. 06, nº 1, p. 87-101, JAN-JUN, 2014. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) a saúde dos consumidores de artigos de couro. Segundo tais normas, válidas há alguns anos no mercado mundial, os artigos, de acordo com sua determinação quanto ao uso, não devem conter determinadas substâncias químicas consideradas nocivas acima de certos limites. De acordo com Fink (2007), Fuck e Gutterrez (2013) e Gutterrez (2008), a lista de substâncias químicas restritas para artigos de vestuário e calçado inclui: corantes azóicos, cromo hexavalente, pentaclorofenol, cádmio, formaldeído, e também podendo valer para o chumbo, o níquel (contato) benzeno, pesticida e herbicidas. Alguns dos principais riscos existentes em couros são: - Cromo Hexavalente: a presença de cromo hexavalente pode ser devida à baixa qualidade dos agentes curtentes utilizados e/ou condições inadequadas de processamento. Através do processamento adequado, é possível evitar a formação de Cr+6 emcouros curtidos.O método padrão internacional de detecção é o EN ISO TS17075: 2007 e o nível máximo permitido é 3ppm.Na Alemanha, os produtos de couro devem ser isentos de Cr+6.Na espécie humana, o Cr+6 possui toxicidade muito superior a doCr+3, usado na rotina dos curtumes produtores de couro wetblue. A forma hexavalente possui maior facilidade à penetração de membranas, determinando ações tóxicas à pele e ao trato respiratório, principalmente pulmões e tem potencial carcinogênico; - Formaldeído: nos últimos 100 anos, o formaldeído tem sido um produto muito usado na indústria do couro nas etapas de curtimento, recurtimento e acabamento.Na produção de couro, o formaldeído pode ser classificado em três grupos: 1) Formol, tal e qual com pré-curtente e como reticulante (de caseínas); 2) Versões diluídas de formol usadas como preservastes de produtos de recurtimento e acabamento; 3) Produção de sintanos e resínicos de curtimento/recurtimento.Desde a década de 50, atenta se para os altos riscos a saúde e a segurança devido à exposição direta ao formaldeído. A crescente redução no conteúdo de formaldeído livre em produtos finais teve início no setor automotivo e é agora adotada por fabricantes de calçado e vestuário. Em materiais de couro, o formaldeído é usado como estabilizador (preventivo), como conservante antes do curtimento, em précurtimento para obter wet-white, em matérias-primas básicas na síntese dos taninos sintéticos e em acabamento com algum tipo de resina.Contudo, é possível que permaneça como impureza no produto final; http://www.uniesp.edu.br/fnsa/revista 94 BENEDETTI, P. F. A.; CARLONI, A. R., v. 06, nº 1, p. 87-101, JAN-JUN, 2014. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) -Pentaclorofenol: a aplicação de Pentaclorofenol (PCP),foi limitada pela Diretiva Européia1991/173/CE devido à sua ação cancerígena em concentração superior a 0,1% (1000 PPM) em massa para qualquer produto, substância ou em preparados comercializados. Na Alemanha, seu uso é restringido a 5ppm, no máximo. No couro, é usado como conservante nos processos de píquel, curtimento ao cromo, curtimento vegetal e acabamento de couro. Cresce a procura e desenvolvimento por substitutos dos derivados fenólicos como fungicidas; - Sulfonatos de Perfluoroctano: o comércio e uso de PFOs é restrito pelo Parlamento Europeu desde o início de 2007, visando evitar riscos à saúde e ao meio ambiente. A concentração máxima em produtos químicos é de 0,005% (50 ppm)e em produtos ou artigos semi-acabados é de 0,1% (baseado no componente específico contendo o produto químico) ou, no caso de têxteis, limitado a 1ppm; -Tributilestanho (TBT): é usado como biocida para certos produtos e pode existir como impureza para dispersões de PU. A utilização como biocida foi proibida na Europa, limitada por clientes a valores menores que 0,025 ppm ou até mesmo isento. Alcanos clorados: A legislação européia restringe o uso das parafinas cloradas que contêm entre 10 e13 átomos de carbono (C10 - C13),desde julho de 2003. Estão presentes em engraxantes clorados ou sulfoclorados; - Compostos Orgânicos Voláteis (COV): as principais fontes de compostos orgânicos voláteis no acabamento são encontradas em produtos como solventes, niveladores, tenso-ativos, aminas, reticulantes, tops e lacas; - Corantes Azóicos: é o tipo de corante mais utilizado na indústria têxtil e de couro brasileiro. Estima-se que entre 90 a 95% dos couros produzidos em todo mundo são tingidos com corantes azóicos. Estes são caracterizados pela presença de um ou mais grupamentos de –N=N- ligados a sistemas aromáticos e podem, sob certas condições, se reduzir e formar aminas aromáticas carcinogênicas. Com a implementação do decreto Europeu, no que diz respeito a corantes azóicos (2002/61/EC), couros tingidos e materiais têxteis não devem conter nenhuma das 24 aminas aromáticas. Os corantes azóicos afetados são aqueles que, podem formar uma ou mais das 24 aminas aromáticas, listadas na tabela abaixo, em níveis superiores a 30mg.kg¹ de couro(ppm) (GUTTERREZ, 2008). A presença de produtos proibidos e perigosos é bastante crítico, podendo inviabilizar a produção e mesmo a comercialização de produtos com alto valor http://www.uniesp.edu.br/fnsa/revista 95 BENEDETTI, P. F. A.; CARLONI, A. R., v. 06, nº 1, p. 87-101, JAN-JUN, 2014. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) agregado para mercados exigentes. As novas exigências de mercado impõem condições severas rumo à sustentabilidade. 4. SUSTENTABILIDADE De acordo com Carloni (2014), asustentabilidade garante o respeito e compromisso com o meioambiente, os colaboradores e o mercado, proporcionando trocas e frutos a todos osenvolvidos. Segundo a Business for Social Responsibility (2012), uma importante entidadeglobal sem fins lucrativos e que atua na integração da responsabilidade social nasempresas, as pesquisas e experiências concluem que as empresas que investem naresponsabilidade social, desfrutam de diversos benefícios, como: - Aumento das vendas e da fatia de mercado; - Reforço do posicionamento da marca; - Melhoria da imagem e da influência da empresa; - Aumento da capacidade de atrair, motivar e reter empregados; - Redução dos custos operacionais; - Aumento da atração para investidores e para analistas financeiros. Carloni (2014) propôs um modelo de desenvolvimento sustentável baseado no modelo da Figura 1: Figura 1: Modelo Triple bottonline – desenvolvimento sustentável Fonte: Carloni (2014, p. 34) http://www.uniesp.edu.br/fnsa/revista 96 BENEDETTI, P. F. A.; CARLONI, A. R., v. 06, nº 1, p. 87-101, JAN-JUN, 2014. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) Conforme o modelo da figura 1, enfatiza-se a importância do desenvolvimento empresarial em todas as áreas, contemplando não somente um crescimento econômico, mas também um progresso social e uma reserva ambiental, como forma de avanço sustentável e viável. 5. ESTUDO DE CASO 5.1. HISTÓRICO DAS EMPRESAS COLABORADORAS As empresas citadas abaixo contribuíram para este trabalho, oferecendo seu know-howem áreas distintas, porém complementares. A Treat Couros é uma empresa prestadora de serviços em acabamentos de couros, fundada em 1997, a empresa está situada na cidade de Patrocínio Paulista estado de São Paulo. Produz a partir de wet – blue, beneficiando até o produto final acabado de acordo com as especificações desejadas de seus clientes. Produz em torno de 5.000 metros quadrados por dia. A TFL é uma empresa multinacional de produtos químicos, e foi fundada em 1996, quando a unidade de negócios de couro da Ciba-Geigy fundiu-se com os departamentos de couro de Rohm e Stockhausen – ambas as empresas integrantes do Grupo Degussa-Hüls. A matriz no Brasil está sediada na cidade de São Leopoldo no estado do Rio Grande do Sul e possui uma filial na cidade de Franca estado de São Paulo. Produz uma linha completa de produtos químicos especificamente para peles e couros que atendem os processos de ribeira até o acabamento desejado. A Toke Baby existe a 70 anos produzindo calçados infantis, mas há 17 anos foi adquirida pelo empresário Sr. Paulo Nei Rodrigues, localizada no pólo calçadista de Birigui - SP, produz calçados 100% em couros, cerca de 1.200 pares por dia. Mielino é uma marca da Criart Indústria e Comércio de Calçados Ltda., localizada no pólo calçadista de Birigui - SP. Produz calçadospara bebês 100% em couro ede alta qualidade, sendo cerca de 500 pares por dia da marcaMielino e 5.000 pares por dia da marcaOrtopasso, esta por sua vez que atende o público infantojuvenil. A LABTEST é um laboratório de controle de qualidade fundado em 1990 na cidade de Franca – SP, é comandado pelo Sr. Ivo Horácio Filho e atende clientes de todo o Brasil. http://www.uniesp.edu.br/fnsa/revista 97 BENEDETTI, P. F. A.; CARLONI, A. R., v. 06, nº 1, p. 87-101, JAN-JUN, 2014. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) 5.2. LEVANTAMENTOCOMPARATIVO DE CUSTOS E CONSUMO Na tabela 1, os dados citados foram fornecidos pela empresa TFL do Brasil, pode se observar o custo de cada processo dos curtimentos ao cromo e do alternativo, como também dos artigos elaborados com curtimento ao cromo e com o curtimento alternativo. Os dados foram fornecidos pela empresa TFL no dia 08/05/2013, com o câmbio do dia a R$ 2,14/U$. Tabela 1 - Custos relacionados ao processo de curtimento 1000 KG CUSTO TOTAL R$/M² DIFERENÇA EM PERCENTUAL% DIFERENÇA TOTAL EM % WET BLUE PRÉ CURTIDO *FORRO WET WHITE *FORRO WET BLUE *CABEDAL WET WHITE *CABEDAL WET BLUE 1,8783 2,2926 5,3546 1,6985 6,3589 5,1318 18,06 68,28 --- 86,34 ----- 19,29 ----- --- 37,35 --- *nome designado ao artigo. Fonte: Elaborado pelos Autores Na tabela 2, os dados citados foram fornecidos pela empresa TFL do Brasil, onde podem se observar o tempo gasto e o volume de água utilizado em cada processo, desta forma comparando os resultados expressos em %, o tempo de processo e o volume de água utilizado são maiores usando o curtimento alternativo. Tabela 2 -Tempo gasto e volume de água utilizados nos processos 1000 KG TEMPO DE PROCESSO DIFERENÇA EM% VOLUME DE ÁGUA % DIFERENÇA EM % WET BLUE PRÉ CURTIDO *FORRO WET WHITE *FORRO WET BLUE *CABEDAL WET WHITE *CABEDAL WET BLUE 18hs25min 20hs 11hs20min 7hs 20min 09hs 40min 5hs20min --- 7,92 35,29 --- 44,83 --- 150 300 550 550 1070 730 --- 100 00 --- 31,8 --- *nome designado ao artigo Fonte: elaborado pelos autores 5.3 RESULTADOS DOS ENSAIOS Foram realizados dois testes físicos químicos, juntamente com a LABTEST Laboratório de Controle de Qualidade de Couros, Calçados e Componentes. http://www.uniesp.edu.br/fnsa/revista 98 BENEDETTI, P. F. A.; CARLONI, A. R., v. 06, nº 1, p. 87-101, JAN-JUN, 2014. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) Nas tabelas 3 e 4, o teste de tração e alongamento consiste em determinar a força necessária para romper o couro e o seu alongamento na ruptura, através de Máquina universal de tração e Compressão (Dinamômetro). Este ensaio é importante para prevenir problemas de ruptura no processo de fabricação. O resultado da tração é dado em N/mm² (carga de ruptura do corpo-de-prova em Newtons dividido pela área do mesmo). O alongamento é expresso em percentual (%). Tabela 3 - Teste de tração/alongamento – NBR 11041- artigo *FORRO AMOSTRA ESPESSURA *INSIDE 1,33mm SENTIDO DO CORTE LONGITUDINAL TRANSVERSAL 227 195 18 16 31% 45% FORÇA DE TRAÇÃO N N/mm2 ALONGAMENTO Fonte: LABTEST (2013). Valor orientativo mínimo: 150N Em torno de 40% Segundo os resultados observados na tabela 3,pode se constatar que o ensaio possui valores muito acima do valor mínimo orientativo, no quesito tração. Com relação ao alongamento, nota se que no corte longitudinal houve valor abaixo do orientativo mínimo. Tabela 4 - Teste de tração/alongamento - NBR 11041 - artigo *CABEDAL AMOSTRA ESPESSURA FORÇA DE TRAÇÃO N N/mm2 ALONGAMENTO Fonte: LABTEST (2013). *ARAGON 1,33mm SENTIDO DO CORTE LONGITUDINAL TRANSVERSAL 239 202 18 15 47% 47% Valor orientativo mínimo: 150N Em torno de 40% Segundo os resultados observados na tabela 4, pode se constatar que o ensaio possui valores muito acima do valor mínimo orientativo, no quesito tração e alongamento. Na tabela 5 e 6, o teste de rasgamento progressivo ou contínuo, consiste em determinar a força necessária para continuar o rasgamento a partir de um corte inicial e é importante para prevenir problemas de rasgamento a partir de cantos vivos, perfuros ou estampas. O corpo-de-prova é submetido ao ensaio em uma máquina universal de tração e compressão (Dinamômetro) e o resultado é expresso em Newtons(N). http://www.uniesp.edu.br/fnsa/revista 99 BENEDETTI, P. F. A.; CARLONI, A. R., v. 06, nº 1, p. 87-101, JAN-JUN, 2014. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) Tabela 5 - Teste de rasgamento continuo-IUP/8 – NBR 11055 - artigo *FORRO AMOSTRA *FORRO Espessura 1,38mm Carga de Sentidos de corte Rasgamento Longitudinal Transversal N 138 150 N/mm 112 121 Fonte: LABTEST (2013). Valores orientativos mínimos: Calçados: Forrado:35N Sem Forro: 50N Segundo os resultados observados na tabela 5, pode se constatar que o ensaio possui valores muito acima do valor orientativomínimo no quesito rasgamento contínuo. Tabela 6- Teste de rasgamento continuo-IUP/8 – NBR 11055 - artigo *CABEDAL AMOSTRA *CABEDAL Espessura 1,38mm Carga de Sentidos de corte Rasgamento Longitudinal Transversal N 105 116 N/mm 76 84 Fonte: LABTEST (2013). Valores orientativos mínimos: Calçados: Forrado:35N Sem Forro: 50N Conforme os resultados observados na tabela 6, pode se constatar que o resultado do ensaio possui valores muito acima do valor mínimo orientativo, considerando o quesito de rasgamento contínuo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho permitiu avaliar a viabilidade do processo de curtimento alternativo com baixíssimo teor de cromo, utilizando um produto químico a base de uma mistura de polialdeídos alifáticos e hidrocarbonetos hidroxilados, pois o efluente gerado possui uma carga sólida baixíssima, contendo baixíssimo teor de cromo e ainda podendo ser utilizado como composto para fertilizante. Com relação à produção, os maquinários utilizados podem ser os mesmos, tanto para o curtimento com cromo quanto para o alternativo, porém requer uma comissão técnica capacitada e especializada, pois necessita de maiores cuidados com relação à limpeza contínua da área industrial e do manuseio, e requer maiores controles diários. Com relação à temperatura dos processos, a secagem e no acabamento são sensíveis a altas temperaturas, sendo que para a indústria curtidora quanto para a indústria de manufatura (calçadista, automotiva, artefatos e afins) terão que se adequar ao uso correto da temperatura nos processos industriais. Com relação à umidade do couro, durante a exposição ao tempo perde-se água mais rapidamente secando e ressecando as patas e as pontas dos couros, http://www.uniesp.edu.br/fnsa/revista 100 BENEDETTI, P. F. A.; CARLONI, A. R., v. 06, nº 1, p. 87-101, JAN-JUN, 2014. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) sendo que para se evitar este inconveniente, tem se que remolhar com água ambiente constantemente as pilhas de couros. Quanto aos custos de produtos químicos dos processos de curtimento e recurtimento, ficaram em torno de 40% acima do curtimento com cromo. Com relação aos custos de mão de obra, não foi foco deste trabalho, porém sugere-se pesquisas futuras relacionadas à mão de obra especializada, aos custos operacionais específicos e outras variáveis como consumo de energia elétrica e consumo de água. Em relação à produtividade, o tempo de curtimento é 20% acima do convencional com cromo, desta forma não se consegue produzir a mesma quantidade em metros quadrados por dia. Em relação ao meio ambiente, os curtimentos alternativos são uma forma de combater e evitar a poluição nos países industrializados, pois geram efluentes com baixo teor de carga poluente, pois os resíduos sólidos gerados com o pó da rebaixadeira podem ser reutilizados como compostos na formulação de fertilizantes. Assim, para reverter as perspectivas de um futuro inviável seria preciso estabelecer novos paradigmas de eficiência e responsabilidade no uso de recursos naturais, tais como: intensificar o uso de energias renováveis; fortalecer as políticas para a preservação da biodiversidade; aumentar os ganhos de produtividade nos países não desenvolvidos com transferência ou criação de novas tecnologias ambientalmente eficientes; garantir o acesso das populações mais carentes a serviços básicos; incrementar políticas de inovação e tecnologias relacionadas à ecoeficiência. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERTI, A. Contabilidade e Análise de Custos. Curitiba: Juruá, 2009. CAETANO, M. J. L. CTB Ciência e Tecnologia da Borracha. Disponível em: <http://www.ctb.com.pt/?page_id=847>. Acessado em 31/10/2013. CARLONI, A. R. Ações e percepções de sustentabilidade em indústrias de calçados de grande porte de Franca/SP para promover o desenvolvimento local. 2014, 121 f. (Dissertação em Desenvolvimento Regional). 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