Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF Griphus Consultoria Ltda Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia IGPA RELATÓRIO FINAL LEVANTAMENTO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO E CULTURAL DA ADA PELA CONSTRUÇÃO DO CENTRO METROPOLITANO TAGUATINGA - DF Márcio Antônio Telles Julio César Alves de Castro Coordenadores Processo IPHAN nº 01551.000784/2009-49 Permissão de Pesquisa: Portaria nº 11 de 24 de Novembro de 2009 (Anexo I nº 27) Publicado no Diário Oficial da União nº 225 de 25/11/2009 JANEIRO DE 2010 2 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF INFORMAÇÕES GERAIS Executora do Projeto Griphus Consultoria em Recursos Culturais Ltda. Rua 802 nº 89 – Vila Nova CEP: 74.633-110 - Goiânia/GO Fone: (62) 3261-8906 Arqueólogo Responsável: Márcio Antônio Telles E-mail: [email protected] Responsável pelo Empreendimento Progea Engenharia e Estudos Ambientais Ltda. SRTVN Qd. 701 Ed. Centro Empresarial Norte Bloco B salas 631/633 Asa Norte Brasília DF. Tel. 061 3039 7868 Instituição de Apoio Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia (IGPA) Rua 240, Qd. 87, n.º 400, Setor Universitário CEP 74605-170 Goiânia – GO Fone: (62) 3227 1221 E-mail: [email protected] 3 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF Equipe Técnica. Coordenadores: Márcio Antônio Telles Arqueólogo Julio César Alves de Castro Arqueólogo Pesquisadores em Campo e em Laboratório: Dr. José Roberto Pellini - Arqueólogo Me. Jonas Israel de Sousa Melo – Arqueólogo Me. Rute de lima Pontin - Arqueologa Márcio Antônio Telles - Arqueólogo Kátia Lucia da Silva – Historiadora Mario Pereira Mamede – Historiador Luiz Mauro Pereira de Souza - arqueólogo Adriano da Costa Bandeira – Arquiteto e Urbanista Salen Rodrigues Martins Filho – Historiador 4 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF Sumário Apresentação....................................................................................................06 1. Legislação Interveniente................................................................................11 2. Levantamento Arqueológico..........................................................................14 2.1. Metodologia para o Levantamento Arqueológico.......................................14 3. Resultado do Levantamento Arqueológico - Bibliográfico...........................17 3.1. Contexto Arqueológico................................................................................17 3.2. Contexto Arqueológico Regional................................................................21 4. Portarias.........................................................................................................26 5. Contexto Etnográfico do Distrito Federal ..............................................28 5.1. Os Kayapó..................................................................................................28 5.2. Os aspectos culturais.................................................................................30 5.3. Os Xacriabá...............................................................................................33 6. Contexto Histórico..........................................................................................37 6.1. Ocupação Territorial do Planalto Central....................................................38 6.2. Estudos sobre a Nova Capital e sua Construção.......................................40 6.3. Cidades-Satélites........................................................................................49 7. Levantamento Arqueológico Sistemático e Assistemático...........................51 7.1. Resultados do Levantamento Arqueológico...............................................52 8. Conclusão......................................................................................................71 Bibliografia.........................................................................................................72 5 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF Apresentação O presente relatório final de Levantamento arqueológico e o resultado das atividades de campo realizadas na área do Centro Metropolitano de Taguatinga – Brasília - DF. As cidades brasileiras a partir da primeira década do século XXI tiveram um crescimento urbano assustador. Muitas vezes esse crescimento se mostrou desordenado, o que provocou intensa modificação ao meio ambiente dessas cidades. O grande fluxo de pessoas que vivem nelas o aumento gradativo de automóveis, a busca por moradias e trabalho fez com que as cidades fossem tomadas pela grande necessidade de urbanização e modernidade. As antigas áreas de matas foram suprimidas para que condomínios, estradas e ruas asfaltadas abrilhantassem essas metrópoles no sentimento de que isso representa o que é a modernidade. As conseqüências dessa urbanização desenfreada foram impactos profundos ao meio ambiente que algumas vezes reclama por melhores tratamentos. E dentro deste cenário de nova urbanização que será implantado o Centro Metropolitano a ser instalado na Região Administrativa de Taguatinga e Ceilândia é um complexo dividido em áreas comerciais, em um centro administrativo, área de lazer e residência, uma obra que proporcionará um grande número de trabalho direto e indireto e dará as cidades satélites um maior e continuo caráter de modernidade e progresso, trazendo contigo a satisfação governamental da geração de empregos com carteira assinada. Conforme definição do empreendedor “O Centro Metropolitano é caracterizado por abrigar não somente o uso institucional (Centro Administrativo) e comercial, mas também os usos residencial, misto e cultural. Foram esboçadas quadras residenciais influenciadas no projeto das “superquadras” de Lúcio Costa, e um centro de lazer e diversões com lotes destinados ao Ceilambódromo, um museu, uma biblioteca, um centro de cultura e um teatro”. Em cada área onde as máquinas pilotadas pelos futuros consumidores e trabalhadores das empresas que existirão quando o complexo estiver pronto, 6 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF será fincado no solo lâminas e ferramentas frias que provocarão grandes modificações no ambiente. Com essas modificações proporcionadas pelo avanço das necessidades dos atuais grupos humanos, os pretéritos homens que ali porventura deixaram suas marcas ou algo de sua existência correm o risco de ter e ver seu legado cultural destruído e amontoado como um entulho sujo de obra. As áreas onde foram realizadas as prospecções em profundidade seguiram de acordo com, as dimensões do próprio empreendimento conforme a tabela. Salientando que, em alguns desses locais o efetivo grau de urbanização impediu que tais intervenções fossem feitas. Uso Área Coeficiente de Aproveitamento Área Construída Institucional 81083 m 2 1 81083 m 2 Centro comercial 18370 m 2 2 36740 m 2 Habitação Coletiva 15750 m 2 5,2 81900 m2 Comercio Local 5250 m2 2,2 11550 m2 Ceilambódromo 141821 m2 0,3 42546 m2 Residencial 149330 m2 3 447990 m2 Terciário 130960 m 2 2 261920 m Terminal rodoviário 30440 m 2 1 30440 m Centro Administrativo 97891 m 2 2 195783 m UnB (área total 20 ha - área urbanizável 7,7 ha) 76895 m 2 0,4 30758 m 2 2 2 2 * Tabela desenvolvida pela PROGEA. A tabela a seguir estabelece os limites da área do Centro Administrativo onde já foi realizado estudos arqueológicos e onde não haverá levantamento prospectivo. Esta área se encontra dentro do complexo do Centro Metropolitano. 7 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF Limite da Área em coordenadas georeferenciadas onde já existem arqueológicos realizados – Centro Administrativo e Canal de Adução – UTM 169167 - 8046705 estudos 169294 - 8246529 169150 - 8246237 169519 – 8245624 169772 – 8245746 169940 – 8245947 169910 – 8246218 169675 – 8248392 169756 – 8246567 169730 - 8246720 * Coordenadas delimitando a área que já foi objeto de pesquisa arqueológica Na tentativa de evitar que, qualquer evidência arqueológica fosse perdida, esse projeto arqueológico teve como objetivo inicial a realização de prospecções (intervenções no solo) com intuito de comprovar a existência ou não de sítios arqueológicos e patrimônio cultural, onde será construído o Centro Metropolitano. O projeto de levantamento arqueológico proposto foi constituído por medidas metodológicas e científicas que em conjunto objetivaram ações práticas necessárias para que o projeto arqueológico da via interbairros cumprisse com a legislação tanto relacionada ao patrimônio arqueológico e cultural quanto às necessárias para a liberação da licença de instalação (LI). Os resultados dos trabalhos de levantamento compõem o corpo desse relatório final, e seus resultados estão descritos abaixo. 8 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF 9 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF 10 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF 1. Legislação Interveniente A Resolução CONAMA nº. 001/86 instituiu a Avaliação de Impactos Ambientais (AIA), instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente, e incluiu a obrigatoriedade de estudos sobre os bens culturais. Visa-se também atender o disposto na portaria 230, de 17 de Dezembro de 2002, que considera a necessidade de compatibilizar as fases de obtenção de licenças ambientais com a apreciação e acompanhamento das pesquisas arqueológicas no país O patrimônio cultural, no qual se insere o patrimônio arqueológico, é definido e amplamente defendido pela atual legislação brasileira (Constituição da República, artigos 20, 23, 30, 216 e 223; Leis Federais 3924 de 26/07/61, 6766 de 19/12/79 e 6938 de 31/08/81), obrigando que o mesmo seja estudado antes da realização de qualquer obra que possa vir a danificá-los, pois, a proteção e os estudos dos bens materiais remanescentes de nosso passado é um compromisso nacional e seu resgate obrigação dos responsáveis por projetos potencialmente degradadores do patrimônio arqueológico brasileiro (CALDARELLI, 1991). Principais Requisitos Legais Pertinentes Sobre o Patrimônio Arqueológico e Cultural Brasileiro: - Lei Federal nº. 3.924/ 61 Trata de monumentos arqueológicos e préhistóricos. - Decreto Federal nº. 2.807/ 98 Aprova a Estrutura Regimental do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, IPHAN. - Decreto Federal nº. 99.492/ 90 Institui o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, IPHAN. - Decreto Federal nº. 3.551/ 00 Institui o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial e cria o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial. - Decreto-lei Federal nº. 25/ 37 Proteção do patrimônio histórico e artístico nacional. 11 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF 1998 - Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605) impões sanções penais e administrativas a condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, nos seguintes termos: “Art. 62 - Destruir, inutilizar ou deteriorar”: I - bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial; Pena - reclusão, de 1 a 3 anos, e multa. § único - Se o crime for culposo, a pena é de 6 meses a 1 ano de detenção, sem prejuízo da multa. Art. 63 - Alterar o aspecto ou estrutura de edificação ou local especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial em razão de seu valor paisagístico, ecológico, turístico, artístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental, sem autorização da autoridade competente ou em desacordo com a concedida: Pena - reclusão, de 1 a 3 anos, e multa. Art. 64 - promover construção em solo não edificável, ou no seu entorno, assim considerado em razão de seu valor paisagístico, ecológico, artístico, turístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental, sem autorização da autoridade competente ou em desacordo com a concedida: Pena - detenção, de 6 meses a 1 ano, e multa.” A Lei 9.605/98 foi regulamentada pelo Decreto 3179/99, pelo qual a destruição de bens especialmente protegidos por lei (caso dos sítios arqueológicos) é punida com multas que variam de R$ 10.000,00 a R$ 500.000,00 (no caso de mera infração administrativa), que poderá cumular-se com pena aplicada ao infrator em juízo criminal, sem prejuízo de eventual condenação a reparar os danos causados, com base na Lei 6.938/81. Portanto, a responsabilidade civil é dada pela Lei 6.938 e a responsabilidade administrativa e penal pela Lei 9.605. - Portaria nº. 07/ 88 da Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional que estabeleceu os procedimentos necessários à comunicação prévia para pesquisas e escavações arqueológicas em sítios arqueológicos e Preceitua o 12 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF levantamento arqueológico de campo e de dados secundários para obtenção da licença ambiental prévia. - Portaria IPHAN nº. 230/ 02 de 17 de Dezembro de 2002, que compatibiliza as fases de obtenção de licenças ambientais com os estudos preventivos do patrimônio arqueológico e cultural brasileiro. 13 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF 2. Levantamento Arqueológico Com base nos dados do contexto arqueológico da região Centro-Oeste e das informações existentes sobre a arqueologia regional e fundamentada em pesquisas bibliográficas e estudos recentemente realizados em áreas com grande índice de urbanização, conforme Telles, (2009), Castro e Telles (2009, 2009a), o centro Metropolitano a ser construída está localizada em uma região com grande potencial arqueológico. Apesar das poucas informações disponibilizadas sobre a existência de sítios e de não existir registros novos referentes a sítios descobertos por diversos projetos juntos ao IPHAN, sabemos que nessas áreas são recorrentes a descoberta de sítio arqueológico como foi registrado em uma pesquisa recente de levantamento arqueológico (TELLES, 2009b). Sendo assim, este projeto arqueológico buscou informações referentes à ocupação pré-histórica dessa área. Desta feita, o objetivo do Levantamento Arqueológico não foi apenas prospectivo, pois, além de buscar evidências arqueológicas enterradas em uma área circundada de asfalto e concreto, apresentou novas informações ao IPHAN e a comunidade. Evidentemente que não foi só o aspecto legal que justificou esse projeto de levantamento, mais através dele ampliamos as informações relevantes sobre o contexto ambiental anterior a urbanização, a história, a etnografia e a arqueologia da região da capital federal. 2.1. Metodologia para o Levantamento Arqueológico O primeiro passo da proposta do Levantamento Arqueológico foi o arrolamento de dados bibliográfico e documental que teve o objetivo de contextualizar a região, e principalmente fornecer subsídios para um plano de investigação que determinasse antecipadamente as direções gerais sobre os trabalhos a serem desenvolvidos na área. Para Banning (2002), a formulação das estratégias de prospecção deve levar em conta uma série de informações, entre elas: 14 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF Modelos Preditivos de Ocupação. Estratégias e métodos que visem à minimização das chances de negligenciar ou sobrepor áreas. Segundo o Guidelines for Archaeological Investigation of New Jersey Historic Preservation Office, o objetivo principal na criação de um modelo de ocupação é designar diferentes porções da área de estudo para uma das seguintes categorias: 1) áreas excluídas do levantamento; 2) áreas com alta probabilidade de existência de sítios arqueológicos; 3) áreas com médio potencial para a existência de sítios; 4) áreas com baixo potencial. Ainda de acordo com o Guidelines, a fim de maximizar a identificação de sítios arqueológicos significantes a intensidade das prospecções tanto de superfície quanto de sub-superfície devem ser proporcionais à probabilidade de identificação de sítios, ou seja, quanto maior for à probabilidade de identificação maior deve ser a intensidade da investigação. Neste caso a estratégia de amostragem dependerá das características esperadas da população amostral alvo (KINTIGH, 1988). Não podemos esquecer que a correlação entre o tamanho do intervalo de amostragem e o tamanho mínimo de um sítio tem de ser considerada na formulação das estratégias de campo. Isso porque um levantamento sistemático irá identificar somente uma fração dos sítios cujas dimensões mínimas sejam menores do que o intervalo de amostragem. Ao mesmo tempo se os modelos de ocupação sugerem a existência de sítios de baixa ou alta densidade, as estratégias de campo deve se moldar para definir a melhor estratégia de amostragem. A proposta básica do levantamento arqueológico foi o de localizar registros arqueológicos e acessar seu grau de significância dentro de uma determinada área. Muitos fatores como tamanho da área a ser pesquisada, localização contexto urbano/ tipos e usos do solo, influenciam as metodologias a serem utilizadas em campo. Sendo assim, a metodologia deve ir ao encontro das propostas básicas delineadas nesse projeto e estarem de acordo com as questões que se pretende responder. 15 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF Em geral a etapa de levantamento inclui um reconhecimento inicial da área e intervenções de sub-superfície (tradagens). No caso das intervenções de solo, a intensidade e o tamanho da malha são condicionados pelas pesquisas previas e a determinação das áreas de alto, médio e baixo potencial. Segundo a Florida Division of Historical Resources, os componentes básicos de um levantamento incluem: Reconhecimento inicial da área através de caminhamento. Intervenções sistemáticas de sub-superfície. Delimitação dos Sítios identificados. Coleta inicial de dados, a fim de subsidiar as etapas de pesquisa futuras. Mapeamento. O reconhecimento inicial de campo tem como meta principal verificar a ajustar o modelo de ocupação proposto inicialmente durante a pesquisa bibliográfica. 16 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF 3. Resultado do Levantamento Arqueológico - Bibliográfico 3.1. Contexto Arqueológico A ocupação humana no Centro-Oeste brasileiro parece ter se iniciado na fase final do período Plesistoceno e inicial do Holoceno. Embora existam datas mais antigas, como as do Abrigo do Sol (19.400 ± 1.100 A.P. e 14.740 ± 140 A.P.) e Santa Elina (23.320 ± 1.000 e 22.500 ± 500 A.P), verificadas por Miller (1983, 1987) e Vilhena-Vialou e Vialou (1994), respectivamente, as datas mais aceitas remetem a cerca de 12.000 A.P. Segundo AB´Sáber (2003), as mudanças climáticas ocorridas entre o final do Pleistoceno e inicio do Holoceno resultaram no aumento na média de temperatura e dos índices pluviométricos na região do Planalto Central Brasileiro, o que por sua vez levou à expansão das florestas tropicais e à diminuição do cerrado e da caatinga. De Blasis e Robrahn-González (2003) sugerem que tais mudanças conduziram a criação de "refúgio florestal”, mais ou menos distantes entre si e que teriam servido como pontos estratégicos para o povoamento do Planalto Central Brasileiro no final do Pleistoceno. Segundo Morales (2005), tal modelo pressupõe a existência de uma ocupação de grande amplitude territorial, o que contribuiria para explicar a grande homogeneidade tecnológica que parece caracterizar esse horizonte mais antigo. De Blasis e Robrahn-González (2003) sugerem que a característica mais marcante da indústria desses assentamentos mais antigos de caçadores e coletores seja essa clara opção pela produção de artefatos formalmente bem definidos. Definida pela primeira vez por Calderón (1969) esta indústria lítica, conhecida como Tradição Itaparica é caracterizada por sua homogeneidade de técnica e forma. Seus aspectos básicos são instrumentos plano-convexos unifaciais com gume arredondados (picões) ou ogivais (raspadores). Particularmente típicos desta tradição são os raspadores sobre lascas espessas, retocadas em toda a circunferência denominados lesmas. 17 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF Os sítios Itaparica se localizam, sobretudo, em terrenos planálticos nas áreas de cerrado, e podem ser divididos de maneira geral em sítios habitação, sejam eles de longa duração (habitação permanente) ou de curta duração (como os acampamentos de caça e pesca) e sítios oficina. O Sistema de Cerrado, que de acordo com Barbosa (2002) pode ser entendido como sistema biogeográfico, fornecia uma grande diversidade de alimentos às populações. A maior parte dos restos alimentares identificados em sítios Itaparica é constituída de ossos de vertebrados de grande, médio e pequeno porte como veados, tatus, roedores e répteis, ossos de ave e principalmente ossos de peixe. Sinais de coleta de moluscos terrestres são raras. As datações sugerem que a ocupação Itaparica compreenda o período de 12.000 – 10.000 anos AP. Alguns sítios como é o caso do sítio Miracema, pesquisado durante os trabalhos de resgate da UHE Luiz Eduardo Magalhães no Tocantins efetuado pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, fornecem datas um pouco mais antigas 12.630 anos AP. O período seguinte marca uma nítida ruptura com o anterior. A grande instabilidade climática resultou na formação de um clima mais quente e úmido. Verifica-se a expansão das áreas de floresta. Há um aumento gradual dos sítios arqueológicos. A indústria lítica, conhecida arqueologicamente como Tradição Serranópolis, passa a apresentar, principalmente em Goiás, lascas em basalto, obtidas por percussão dura e espatifamento. Os motivos da simplificação dos artefatos líticos ainda são desconhecidos. Segundo Morales (2005), uma das possibilidades seria a necessidade de adaptação desses grupos a novos contextos ambientais. Sendo assim segundo o autor os antigos padrões tecnológicos estariam sendo substituídos por uma tecnologia lítica voltada para a exploração de recursos onde uma alta mobilidade por amplos territórios já não era necessária. Para De Blasis e Robrahn-González (2003), tal fato explicaria o desaparecimento dos artefatos tecnologicamente mais ‘sofisticados’ do registro arqueológico e o aparecimento de inúmeros sítios com uma indústria menos formal no Holoceno médio. Tais grupos de caçadores e coletores representariam grupos com 18 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF padrões de adaptação voltados para territórios menores e se servindo de recursos diversificados. Em contraponto ao modelo defendido por De Blasis e Robrahn-González (2003), Araújo, Neves e Piló (2003), propõe a partir de dados paleo ambientais provenientes de pesquisas no Vale do Peruaçu em Minas Gerais, que a ocupação humana tenha sido intermitente e descontínua devido a episódios cíclicos de seca intensa no planalto. Tal hipótese pressupõe a existência de focos de "concentração" de sítios de caçadores em locais menos afetados por esses períodos de estiagem. Segundo Schmitz (1978-1980), a subsistência dos grupos de caçadores e coletores associados à Tradição Serranópolis, estava centrada sobre tudo na caça generalizada, principalmente de vertebrados de pequeno porte. Segundo o autor, os tempos de chuva representariam maior abundância de alimentos vegetais, o que forçava a concentração dos grupos junto aos abrigos, já os períodos secos, haveria uma maior dispersão populacional, com acampamentos a céu aberto e ao longo de abrigos menores. Este modelo foi questionado por Kipnis (1998), que sugere, a partir de pesquisas realizadas no Vale do Peruaçu em Minas Gerais, que a economia de tais grupos seria estruturada basicamente em produtos de coleta vegetal. Um dos fortes argumentos neste sentido seria a alta incidência de cáries observadas nas ossadas identificadas na região, fruto de uma dieta rica em carboidratos (NEVES et al., 1996). Neste período sinais de organização espacial dentro dos assentamentos passam a ser freqüentes como no caso do sítio do Gentil em Minas Gerais, onde as áreas de alimentação eram dissociadas das áreas de lascamento. Enterramentos passam a ser abundantes, como pode ser constatado nos abrigos de Serranópolis onde 18 enterramentos foram identificados. De acordo com Robrahn-González (2004), no final do período arcaico, muitos grupos de caçadores coletores não eram mais nômades e suas aldeias ocupavam extensos territórios. Segundo Schmitz (1989), na região de Serranópolis, nas camadas mais altas dos abrigos, observam-se sinais de uma agricultura incipiente ligada ao cultivo de milho, amendoim, leguminosas e 19 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF algodão. A presença de cerâmica ligada à chamada tradição Una passa a ser constante. Segundo Oliveira e Viana (2000), no Centro-Oeste brasileiro, à exceção do Pantanal e adjacências, a presença de grupos agricultores e ceramistas esta caracterizada por seis diferentes tradições: Una, Aratu, Uru, Tupiguarani, Bororo e Inciso Ponteada. Para Robrahn-González (1996), a região CentroOeste este é uma área de confluência para onde teriam migrado diversos grupos ceramistas, o que se traduz no registro arqueológico na forma de sítios multicomponenciais. A utilização da cerâmica não se deu de forma rápida e uniforme. Os sítios com ocorrências cerâmicas desta fase são esparsos e espalhados por uma vasta região. No planalto central as ocorrências mais antigas vêm da região do norte de Minas e Goiás meridional, principalmente do sítio do Gentio em Unai. Para Robrahn-González (1996) as datações disponíveis até o momento para os grupos portadores de indústria cerâmica relacionada à Tradição Una sugerem dois momentos distintos, o primeiro à ocupação do Alto Araguaia e médio Tocantins, teria início nos últimos séculos a.C. e iria até o começo da Era Cristã. O segundo momento de ocupação estaria no Tocantins, no vale do rio Vermelho e no baixo Paranaíba, e seria de período mais recente, de 720 a 1.210 d.C. (ROBRAHN-GONZÁLEZ, 1996a). Embora a tradição Una não seja uniforme ela se estabelece principalmente em oposição a outras tradições ceramistas como a Aratu e a Tupiguarani. Em geral os vasilhames Una são globulares ou cônicos, tigelas rasas e potes com gargalo. De acordo com Wüst (1990) os grupos representantes da Tradição Una podem representar o elo de ligação entre os grupos caçadores e coletores tardios e os primeiros agricultores ceramistas. Tal hipótese é sustentada pelas sucessões estratigráficas obtidas no CentroOeste para o alto Araguaia e a bacia do rio Vermelho (MORALES, 2005). Segundo Oliveira e Viana (2000), embora a hipótese da continuidade dos caçadores e coletores tardios aos agricultores ceramistas da Tradição Una, só tenha sido constatada até o momento na região do Alto Araguaia e na Bacia do Rio Vermelho algumas características corroboram esta idéia, pois a implantação em áreas de cerrado/mata e acesso a recursos variados e 20 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF diversificados e solos mais propícios para o cultivo, representam segundo o autor elementos de transição entre os grupos. No sudeste de Mato Grosso, este período de transição é atestado por praticas agrícolas em um contexto não ceramista, evidenciado principalmente pelas mudanças no padrão de assentamento como visto no sítio MT SL 37. No caso da Tradição Uru, cujas origens podem estar associadas a grupos do alto Xingu, elas se espalham desde o vale do Araguaia até o sudoeste do Mato Grosso e Bacia do Tocantins. Eles ocupam, geralmente, regiões onde existem áreas de cerrado, perto dos principais rios (SCHMITZ et al., 1981/1982; PROUS, 1992; ROBRAHN-GONZÁLEZ 1996a; HECKENBERGER, 1998 e OLIVEIRA e VIANA, 2000). Quanto às datações, o momento mais antigo da ocupação em Goiás data do século VIII d.C, havendo hipóteses de que esta ocupação tenha permanecido até o início da Conquista, podendo mesmo ocorrer alguns sítios mais recentes associados aos índios Karajá. Já os sítios da Tradição Aratu ocorrem desde o litoral de Pernambuco, passando pelas partes central e oriental do Mato Grosso Goiano, pelos altos afluentes dos rios Tocantins, Paranaíba e Araguaia, por algumas regiões dos rios Uru e Corumbá, pela bacia do Paranã e pelo município de Orizona. O momento mais antigo apresenta datas ao redor do século IX da era cristã, entrando em colapso antes do início da Conquista. Os sítios ligados à Tradição Aratu são em geral, grandes aldeias que se localizam preferencialmente nas encostas suaves de colinas próximas a cursos de água de porte variado. A fase mais antiga dentro da Tradição Aratu é a fase Mossâmedes, que se inicia por volta do século IX da era cristã e se estende até período da Conquista Portuguesa. Embora não haja muitos dados que relacionem os vestígios arqueológicos desta fase com dados etnográficos, Schmitz, Wüst, Cope e Thies (1982) sugerem que a fase Mossâmedes possa estar associada aos grupos Kayapó do Sul. Já os grupos da Tradição Tupiguarani, que são inicialmente de origem amazônica, são encontrados por quase todo o Centro-Oeste. Em geral no Centro-Oeste, os sítios Tupiguarani se localizam em ambientes de mata de 21 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF galeria ou cerrado, em terrenos planos ou com declínio suave, próximos aos grandes rios. Para Oliveira e Viana (2000), no Centro-Oeste apesar da condição minoritária, grupos tupiguarani ocuparam parte da região formando sítios exclusivamente tupiguarani ou sítios multicomponenciais. Em Goiás e Matogrosso, há um maior predomínio de vestígios cerâmicos que apresentam decoração pintada enquanto que no Mato Grosso do Sul há um predomínio das cerâmicas com decoração plástica (MARTINS e KASHIMOTO 1998; WÜST 1990). 3.2. Contexto Arqueológico Regional Segundo Bertran (1992) a própria característica geográfica da região do Distrito Federal contribuiu para que a região fosse ocupada por grupos de origem pré-histórica. Ainda, conforme o autor, alguns fatores particulares contribuíram para essa efetiva ocupação, a região e o divisor de bacias hidrográficas que no passado – bem como o seria no Século XVIII –, um caminho inevitável para as migrações de grupos humanos. Igualmente existem dentro do Distrito Federal alguns pontos de contato entre ecossistemas diferenciados, zonas de transição de campo limpo para cerrado e para mata que, poderiam delimitar sítios pré-históricos. Desta forma, as pesquisas desenvolvidas na década de 90 (Séc. XX), pelo arqueólogo Eurico Miller descobriram a existência de sítios arqueológicos na região da cidade satélite do Gama artefatos arqueológicos dispersos em uma área de aproximadamente 3.000 m nas adjacências do córrego Ipê com artefatos cerâmicos e líticos (BERTRAN, 1992). Na região onde se realizou o levantamento arqueológico, nas proximidades do rio Descoberto, foram encontrados pelo mesmo pesquisador 12 sítios arqueológicos cerâmicos com datas aproximadas de 7.000 a 7.500 (BERTRAN, 1992). Enfim, a contexto arqueológico do Distrito Federal nos apresenta uma região que foi constantemente ocupada por grupos pretéritos. Atualmente a maior dificuldade em encontrar evidências da presença desses grupos e o alto 22 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF grau de urbanização da região e a ocupação desordenada das cidades. Como podemos ver representados no quadro 1. Quadro 1: Sítios arqueológicos cadastrados no IPHAN. Sítio Categoria Hidrografia Amarelinho Unicomponencial Ribeirão Ponte Alta Belchior Unicomponencial - Lítico Córrego Belchior Caboclo Unicomponencial - Histórico Ponte Alta Cantinho Unicomponencial - Histórico Ponte Alta Capão da Onça Multicomponencial Córrego Onça Catetinho Multicomponencial - Histórico DF-CA-012 Unicomponencial - Lítico Córrego Taguatinga Unicomponencial - Lítico Córrego Belchior Unicomponencial - Lítico Córrego Taguatinga Ipê Multicomponencial - Cerâmico Córrego do Ipê Jundiaí Unicomponencial Rio São Francisco Marica Unicomponencial - Histórico Ponte Alta Mineiro Multicomponencial - Córrego do Ipê Capão da DF-PA-12 DF-CA-013 DF-PA -13 DF-CA-015 DF-PA-15 Lito-cerâmico Parque Nacional de Brasília Multicomponencial Recanto Multicomponencial - Ribeirão Ponte Alta Lito-Cerâmico Retiro Unicomponencial - Cerâmico Ribeirão Ponte Alta São Francisco Unicomponencial Córrego Belchior Taguatinga Unicomponencial - Lítico Córrego Taguatinga Tapera I Unicomponencial - Habitação Córrego Sem nome Zico Multicomponencial - Ribeirão Ponte Alta Lito-cerâmico * Dados relativos à tabela estão disponíveis no endereço eletrônico www.iphan.gov.br. O gráfico a seguir representa as categorias e diversidade dos sítios que foram encontrados em pesquisas arqueológicas realizadas nas proximidades da cidade de Brasília-DF. 23 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF Tipos de sítios arqueológicos encontrados 3 Lito-Cerâmico 2 Cerâmico Sem Categoria 5 Histórico 5 Litico 5 0 1 2 3 4 5 6 Podemos ver que há uma predominância de sítios líticos e históricos, em seguida alguns sítios que não foram caracterizados, sítios lito-cerâmicos e sítios cerâmicos. Os dados correspondem necessariamente a uma parcela do cenário da área de pesquisa, que não condiz com o número de portarias de pesquisa expedidas pelo IPHAN e conforme sítios catalogados pelo banco de dados do projeto Tapirus (Griphus) representado no mapa a seguir. Ainda evidenciando a constante ocupação do planalto central pelos grupos pré-históricos recentemente foi descoberto pela equipe de arqueologia da Griphus Consultoria dois sítios arqueológicos em Brasília, já incorporando o sítio arqueológico encontrado neste projeto. Sítio Bela Vista (lítico), localizado nas adjacências das cidades de Ceilândia e Taguatinga, coordenadas UTM: 22L E 811.192m/N8.246.029m Sítio Alphaville (cerâmico), localizado na região do coordenadas UTM: 23 k E 199.917m/N8.228.675m 24 Guará, Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF 25 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF 4. Portarias Portarias são permissões dadas aos profissionais de arqueologia para realizarem as pesquisas em sítios arqueológicos, quanto mais importante é a região para o estudo da pré-história brasileira e regional mais o local é contemplado com concessões de pesquisa. Segue descrição de Portarias expedidas para o Distrito Federal – DF e municípios limítrofes. Projeto: Projeto de levantamento sistemático dos patrimônios arqueológicos pré-históricos, histórico e histórico-cultural da área diretamente afetada pela construção do subsistema de captação d'água no ribeirão Bananal - Distrito Federal. Coordenadora: Rosiclér Theodoro da Silva. Área de Abrangência: Município de Brasília, no Distrito Federal. Projeto: Estudo de levantamento arqueológico para o parcelamento de solo denominado "Setor Habitacional Noroeste" – Produto 1. Coordenadora: Rosiclér Theodoro da Silva. Área de Abrangência: Distrito Federal. Projeto: Levantamento do patrimônio arqueológico e cultural na faixa de servidão da BR 070 no município de Águas Lindas de Goiás. Coordenadores: Márcio Antônio Telles, Jonas Israel de Sousa Melo e José Roberto Pellini. Área de Abrangência: Município de Águas Lindas de Goiás, no estado de Goiás. Projeto: Levantamento e salvamento arqueológicos na área a ser afetada pela futura implantação da Ligação Viária Ceilândia – Samambaia. Coordenador: Paulo Jobim Campos Mello. Área de abrangência: Ceilândia - Samambaia, no Distrito Federal. 26 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF Projeto: Prospecção arqueológica da área atravessada pelas Linhas de Transmissão 500KV: Serra da Mesa 2 - Luziânia, Luziânia - Samambaia, Luziânia - Paracatu e Paracatu - Emborcação. Coordenador: Saul Eduardo Seiguer Milder. Área de Abrangência: Luziânia - Samambaia; Luziânia - Paracatu e Paracatu - Emborcação, abrangendo os municípios de Cavalcante, Colinas do Sul, Niquelândia, Água Fria de Goiás, Planaltina, Formosa, Cristalina, Cidade Ocidental, Luziânia, Novo Gama, Santo Antônio do Descoberto, Catalão, Divinópolis, Ouvidor, Três Ranchos e Cumari, no estado de Goiás, Paracatu, Guarda Mor e Araguari, no estado de Minas Gerais e na Região Administrativa XV - Recanto das Emas, no Distrito Federal. Projeto: Programa de avaliação arqueológica na área de influência direta do programa de resgate do patrimônio arqueológico e gestão do patrimônio cultural da área diretamente afetada pela implantação do interceptor e emissário de esgoto do sistema Melchior no Distrito Federal. Coordenadores: Mariza de Oliveira Barbosa e Diogo Menezes Costa. Área de Abrangência: Distrito Federal. Projeto: Programa de levantamentos sistemáticos dos patrimônios arqueológicos pré-histórico, histórico e histórico-cultural da Linha de Transmissão Samambaia - Rio Vermelho, no estado de Goiás e no Distrito Federal. Coordenador: Maira Barberi. Área de Abrangência: Goiás e Distrito Federal. 27 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF 5. Contexto Etnográfico do Distrito Federal De acordo com os dados etno-históricos, os grupos indígenas que habitavam a região do entorno do Distrito Federal no séc. XVIII são os Kayapó e os Xacriabá (vide mapa Curt Nimuendaju, 2004), no entanto ressaltamos que outros grupos indígenas possam ter ocupado ou perambulado nesta área em períodos pretéritos. 5.1. Os Kayapós Os Kayapó pertence à família lingüística Jê (RODRIGUES, 1987), correlacionados ao tronco lingüístico Macro-Jê. Existem diferenças dialetais entre os vários grupos Kayapó decorrentes das cisões que originaram os grupos existentes, mas há entre eles reconhecimento das semelhanças culturais. As fontes Etno-Históricas pesquisadas por Ataídes (1998) indicam a existência de dois grupos Kayapó no séc. XIX: Os Kayapó do Norte e os Kayapó do Sul. Os Kayapó do Norte ocupava a região norte do Mato Grosso e sul do Pará. Já os Kayapó do Sul estavam em uma área que abrangia do Camapuã, no Mato Grosso do Sul, às áreas sul de Goiás, incluindo o entorno de cidades como Pirenópolis, Goiás e Luziânia, chegando a São Paulo, próximo ao rio Paraná, passando pelo atual Triângulo Mineiro (ATAÍDES, 1998, p.63). Região onde esta inserido o Distrito Federal. Dados etnohistóricos pesquisados por Lowie apud Turner (2006) referentes aos Kayapó do Norte apontam para uma confusão com relação às fontes documentais produzidas sobre os Kayapó nos sec. XVII, XVIII e até mesmo no século XIX. Segundo o pesquisador, há uma aplicação dos mesmos nomes tribais a vários povos distintos, e de nomes diferentes para o mesmo povo. O equívoco se deu tanto por parte dos escritores europeus quanto de informantes indígenas (TURNER, 2006, p.312). Ao longo dos séculos, os Kayapó foram recebendo diversos nomes como: Kaiapó, Caiapó, Gorotire, A'ukre, Kikretum, Makragnotire, Kuben-Kran-Ken, Kokraimoro, Metuktire, Xikrin, Kararaô (VERSWIJVER, 2002). 28 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF De acordo com Verswijver (2002), os dados etnográficos mais antigos e precisos sobre os Kayapó do Norte datam do fim do século XIX, após século de contato com o elemento colonizador, mas foram estes os dados utilizados como base para estabelecer os traços culturais e laços de parentesco entre as diferentes aldeias Kayapó existentes. As fontes etnográficas pesquisadas por Verswijver demonstram que os Kayapó viviam divididos em meados do séc. XIX em três grandes grupos: os Irã'ãmranh-re (os que passeiam nas planícies) ou Pau d’Arco-Irã´amrayre (Turner 2006, p.351), os Goroti Kumrenhtx (os homens do verdadeiro grande grupo) e os Porekry (os homens dos pequenos bambus). Os dois primeiros grupos contavam, cada qual, com três mil pessoas e o último com cerca de mil, ou seja, uma população total de aproximadamente sete mil pessoas. Esses três grupos de Kayapó estavam distribuídos por uma vasta região que abrangia o sul do Pará e norte do Mato Grosso (VERSWIJVER, 2002). No século XVIII, com a exploração do ouro na Capitania de Goiás, os registros se tornam mais abundantes, fornecendo informações mais precisas sobre as populações indígenas que ocuparam a região, principalmente sobre os Kayapó do Sul. Arthur Ramos (apud ATAÍDES, 1998) cita que o grupo era chamado de Ubirajara ou Ibirajara pelos índios Tupi e Bu ou Bilreiro e Caceteiros pelos cronistas. Pelos Bandeirantes, eram denominados Bilreiro, pois usavam a borbuna, uma arma semelhante a um bilro em seus ataques. Os Kayapó eram descritos como guerreiros temíveis, conhecidos pela eficácia em atingir os inimigos com golpes certeiros de bordunas na cabeça. Com a expansão da frente paulista de captura de mão-de-obra escrava, no decorrer dos anos, tornou-se mais freqüente o aparecimento de escravos Kayapó nos registros históricos. Um dos principais bandeirantes que acompanharam Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera, no descobrimento das minas de Goiás, o paulista João Leite da Silva Ortiz – fundador do povoado de Meia-Ponte, hoje a cidade de Pirenópolis (GO) - mencionou em seu testamento, em 1730, a presença de alguns escravos Kayapó, frutos da chamada "guerra justa" contra esses povos durante a colonização de Goiás (MONTEIRO, 1994, p. 137 apud PEQUENO, 2004, p.259). 29 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF A documentação oficial do final do séc. XVIII e do séc. XIX relata os ataques praticados pelos Kayapó nas vizinhanças dos arraiais de mineração na Capitania de Goiás. Em 1740, houve ataques dos Kayapó nas proximidades do Arraial de Ouro Fino. Neste mesmo período ocorriam constantes ataques das minas de diamantes de Rio Claro, no entorno Vila Boa e nos caminhos entre as Capitanias de Cuiabá, Goiás e São Paulo. Em 1744, D. Luiz de Mascarenhas autoriza o coronel Antonio Pires de Campos a combater os Kayapó com cerca de 500 índios Bororo: “[...] em carta de doze de setembro de 1744, a cerca do que passará com o coronel Antonio Pires de Campos sobre o ajuste e modo de desinfestar com seus Bororo o caminho dessas minas, dos insultos cometidos pelos gentios Cayapós [...]” (ATAÌDES, 2001, p.83). A solução encontrada foi o estabelecimento de aldeamentos na antiga estrada que ligava Goiás a São Paulo, importante rota comercial no período colonial. Três aldeias surgiram: Formiga, Rio das Pedras e Sant´anna. Estas foram povoadas por indígenas de várias etnias, dentre elas os Kayapó e os Xacriabá. O objetivo principal das aldeias era proteger os viajantes que transitavam pelo Sertão da Farinha Podre (atual Triângulo Mineiro) (SANTOS, 1994, p.06). 5.2. Os aspectos culturais De acordo com Ataídes (1998), as aldeias Kayapó são grandes e localizadas em áreas descampadas, com habitações dispostas em círculos e cobertas com folhas de palmeiras e sapé. No centro das aldeias está à casa dos solteiros, lugar das reuniões a da confecção de artesanato, um lugar simbólico, origem e coração da organização social e ritual. A periferia da aldeia é constituída por casas dispostas em círculo, repartidas de modo regular, nas quais habitam famílias extensas. Essa porção da aldeia é associada, sobretudo, às atividades domésticas, ao desenvolvimento físico do indivíduo e à integração dos grupos de parentesco. Conceitualmente, o círculo das casas é território de mulheres, essencialmente direcionado para assuntos "femininos". 30 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF Os rituais Kayapó exprimem e atualizam valores fundamentais de sua sociedade, pois refletem igualmente a imagem que o grupo tem de si mesmo, da sociedade e do universo ao qual pertencem. Esses rituais se dividem em três categorias principais: as grandes cerimônias de confirmação de nomes pessoais (nominação); ritos agrícolas, de caça, de pesca e de ocasião, e os ritos de passagem. Nos rituais de nominação, os homens recebem nomes, ao lado dos cantos aos quais eles se referem geralmente o mundo "natural". As intervenções humanas na natureza também são acompanhadas de rituais. O plantio de novas roças é precedido de uma dança que apresenta muitas semelhanças estruturais com o ritual de guerra. É uma guerra simbólica, não contra um inimigo humano, mas contra um inimigo natural. Na volta da caça, os homens cantam para os espíritos da caça, que eles mesmos mataram, para que estes permaneçam na floresta. A maior parte das seqüências rituais ocorre na praça central da aldeia. Nesse momento o centro da aldeia, que normalmente é organizado com base nas relações de nãoparentesco, é convertido no domínio de atividades em que tanto os laços pessoais familiares como os elementos naturais são centrais. Outro aspecto importante da cultura Kayapó é o seu funeral. Para eles, os espíritos dos mortos vivem em uma aldeia imaginaria localizada nas florestas. Essa aldeia mítica é organizada como a dos vivos: em forma de círculo com uma ou duas casas dos homens; possuem associações masculinas e femininas e classes de idade. Os Kayapó enterram os seus mortos em um espaço bem preciso, fora do círculo da aldeia. A sepultura é composta de um poço de forma circular, no qual o corpo é colocado na posição fletida com o rosto sempre dirigido ao leste. Juntamente com o corpo são colocados diversos objetos que pertenciam ao falecido, pois na crença kayapó o espírito levará esses objetos para a sua nova morada. Nas primeiras semanas que se seguem ao falecimento, os parentes deixam cotidianamente um pouco de comida e bebida ao lado da sepultura, pois o espírito nem sempre encontra imediatamente o caminho que conduz à aldeia dos mortos. A pintura corporal é composta de traçados geométricos e representam os sentimentos ou a posição social ou familiar do indivíduo. Os pigmentos utilizados nas pinturas são o vermelho, extraído do urucum, e o preto, tirado do 31 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF genipapo e misturado ao pó de carvão. Vidal (1992, p.144), estudando a pintura corporal e a arte gráfica entre os Kayapó-Xikrin do Catete, faz a seguinte observação: A pintura corporal, atividade que os kayapó desenvolveram ao extremo, tanto em nível do ritual quanto do cotidiano, possui as características de um sistema visual rigidamente estruturado, capaz de simbolizar eventos, processos, categorias e status [...] (VIDAL,1992, p.144). Os motivos decorativos se adaptam a um suporte plástico, o corpo, que por sua vez é portador de outro conjunto de significados. Aplicadas no corpo, a pintura possui função essencialmente social e mágico-religiosa, mas também é a maneira reconhecidamente estética(mei) e correta (kumrem) [...] (VIDAL,1992, p.144). Ainda segundo Vidal (1992, p.146), a pintura entre o Kaiapó-Xikrin é uma atividade exclusiva das mulheres, só as mulheres pintam em forma de grafismos. “Os homens apenas passam tintura de carvão ou urucum na fase e no corpo”. A pintura é considerada parte do processo de socialização das crianças, que são pintadas desde os primeiros meses de vida pela mãe que encontra na pintura uma forma de demonstração de afeto pelo filho. Já a pintura dos adultos apresenta-se em número de estampas e motivos decorativos menos variados do que as das crianças, mas seguem regras ligadas a outras esferas da organização social (VIDAL,1992, p.147). Dentre os objetos do artesanato Kayapó, destaca-se o cesto “jucunu”, assim denominado por Saint-Hilaire (1975), ou “piapa”, conforme Pohl (1976). Esse cesto, tecido de folha de palmeiras, era utilizado pelas mulheres no transporte de alimentos das roças para as aldeias. Os jucunus são feitos tomando-se duas folhas de buriti (Mauritia Vinifera) e dividindo-se em tiras finas os folíolos que as compõe e formam um leque. As tiras de uma folha são traçadas com as da outra, compondo uma espécie de cesta elíptica aberta dos lados, à qual é presa, a guisa de alça, uma trança comprida e flexível, também feita de buriti [...]. (Saint-Hilaire, 1975). 32 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF Os Kayapó Meridionais ou Kayapó do Sul, cujos únicos descendentes são os Panará, conhecidos inicialmente por Kreen-Akarôre, Krenacore, ou, ainda, "índios gigantes", habitam a região compreendida pela serra do Cachimbo, no estado do Pará. Atualmente os Kayapó vivem em sete terras indígenas (PEQUENO, 2004), quais sejam: a) Terra Indígena Baú, de ocupação dos índios Baú; b) Terra Indígena Capoto/Jarina, dos índios Mentuktíre, (ou Txukahamãe); c) Terra Indígena Cateté, dos índios Xikrín do rio Cateté; d) Terra Indígena Mekragnoti, dos índios Mekragnotí; e) Terra Indígena Kararaô, de ocupação dos Kararahô; f) Terra Indígena Kayapó, onde ocupam os subgrupos A-Ukre, Gorotíre, Kubeknkrankêng, Kikretum e Kokraimro; e, g) Terra Indígena Trincheira/Bacajá, dos índios Xikrín do rio Bacajá. Essas terras indígenas estão localizadas no interior do estado do Pará, à exceção da Terra Indígena Capoto/Jarina, que se localiza na região norte do estado do Mato Grosso. Existem, atualmente, pelo menos três outros grupos Kayapó isolados de qualquer contato: os Ngra-Mrari; os Purô e os Pituiarô, todos localizados nos estados do Pará e Mato Grosso. 5.3. Os Xacriabá Os Xacriabá, segundo Rodrigues (1986), pertencem ao tronco lingüístico Macro-Jê, família Jê, Língua Akwén e dialeto Xacriabá . No séc. XVIII, o grupo ocupava uma vasta região (que se estendia nos atuais estados do Tocantins, 33 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF Goiás e Minas Gerais). Às margens do rio Palma, afluente do Paraná e entre os rios Urucuia e Paracatu, ambos afluentes do São Francisco (Nimuendaju, 1944), e na região de São João das Missões, onde os Xakriabá estão localizados hoje. De acordo com Santos (1994), a história de contato dos Xakriabá, do vale do São Francisco, remonta ao séc. XVI, durante as primeiras expedições em busca de metais e mão de obra escrava. Data desse século, segunda a pesquisadora, um dos mais antigos registros da presença indígena na região norte de Minas Gerais: o relatório do Padre Jesuíta João Aspicuelta Navarro, Capitão da entrada de Francisco Bruzza de Espinoza, que, entre 1553 e 1555, percorreu áreas do interior da Bahia e norte de Minas. As primeiras notícias específicas sobre os Xakriabá, entretanto, surgem apenas no final do séc. XVII, momento em que a região do médio São Francisco passa a ser colonizada de forma mais sistemática, em decorrência do deslocamento da frente pastoril. Segundo Paraíso (1987 apud Santos, 1994), nesse processo de ocupação se destaca a figura do bandeirante paulista Matias Cardoso de Almeida, convocado pelo Governador da Província a debelar os índios que haviam se refugiado ao longo do São Francisco. Almeida teria sido um dos primeiros a se fixar na área compreendida entre os atuais municípios de São Romão e Manga. Nessa região encontrou os Xakriabá, os quais combateu e dominou, utilizando-os como mão-de-obra escrava na abertura de fazendas e na fundação do arraial de Nossa Senhora da Conceição de Morrinhos. Nos sécs. XVIII e XIX, os aldeamentos Formiga, Rio das Pedras e Sant´anna foram povoados pelos Xacriabá. Todas as três aldeias ficavam localizadas à antiga estrada que ligava Goiás a São Paulo, importante rota comercial no período colonial. O objetivo das aldeias era proteger os viajantes que transitavam pelo Sertão da Farinha Podre (atual Triângulo Mineiro) (SANTOS, 1994, p.06). Na segunda década do século XVIII, a presença ameaçadora dos Kaiapó leva os Xacriabá a se aliarem ao mestre de campo Januário Cardoso de Almeida (Filho de Matias Cardoso). Na primeira metade do século XX, houve uma série de conflitos entre os Xacriabá e populações não indígenas regionais, das quais o mais marcante teria ocorrido na atual Aldeia de Rancharia. Muitos Xacriabá foram mortos 34 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF pelos Akroá, e posteriormente foram transferidos para Santana do rio das velhas (CLEMENTINO, 2006). A organização social dos xacriabá baseia-se em facções, com as quais compõem alianças nem sempre estáveis. A permanência no cargo de chefia depende fundamentalmente da capacidade e habilidade na construção de alianças com os representantes. A escolha dos representantes é feita pelos membros da comunidade tendo como principio a unidade política maior: a aldeia Xacriabá, subdividida em aldeias menores. O cacique representa a comunidade como um todo articulador de soluções internas e externas. Cada uma das aldeias menores tem os seus representantes (ISA, 2006). Na mitologia Xacriabá ocorre a ausência do nome – os Xakriabá chamam o seu ancestral pela designação que atribuem ao ser mítico protetor da comunidade, Yayá, a onça-cabocla, que se transforma na figura da índia Yndaiá, que se confunde com "a índia braba apanhada a dente de cachorro pelos brancos" (ISA, 2006). O mito está associado de modo evidente a aspectos da história do contato entre os Xakriabá e os criadores de gado que ocuparam o seu território, “Yayá”, como "dona da terra", não aceita a presença de estrangeiros na região. Quando isso ocorre, ou ela se retira, ou ataca o estranho, e dá claros sinais indicativos de sua fúria: ao invés de cantar, assobia de forma que todos possam ouvi-la e saberem do seu descontentamento. Outra forma de mostrá-lo é "armando confusão nas capoeiras" e batendo nas portas durante a noite, ou atacando o gado. “Os ataques ao gado podiam ser identificados quando da autoria da onça-cabocla: as reses, sem uma gota de sangue, ficavam com o corpo intacto e as cabeças sempre ordenadas, uma de frente para a outra” (ISA, 2006). O grupo preserva a sua única fonte perene de água ao manter o mito da onça sagrada, evitando que outras pessoas tenham acesso às grutas. Outros "encantados" são o "bicho-homem", que vive nas matas e tem o corpo coberto de pelos, e o "homem-pé-de-garrafa", que deixa seu rastro de um único pé, em forma de garrafa, nos caminhos da aldeia (ISA, 2006). Um dos principais aspectos culturais dos Xacriabá é o Toré, que é dançado no terreno inserido no meio do mato. O terreiro é precedido de uma 35 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF área onde fica a árvore sagrada, que define quem deve ou não ter acesso ao local. A árvore é um coqueiro de três galhas, visível somente àqueles que Yayá considera aptos a visitarem o terreiro. O chão do terreiro é batido e limpo de toda vegetação, tem forma retangular e fica próximo às grutas, morada de Yayá. Numa de suas extremidades há um monte de pedras, onde se guardam os objetos do ritual, inclusive os restos da bebida sagrada com propriedades alucinógenas, a jurema (ISA, 2006). Devido a fatores históricos, a vida cerimonial dos Xakriabá hoje é uma junção da crença católica como dominante conciliando com a crença em Yayá, além de algumas conversões mais recentes ao protestantismo. O que restou da língua desse grupo étnico nos dias atuais foram algumas palavras usadas apenas nos momentos de rituais. Na década de cinqüenta esse grupo étnico foi proibido de usar as poucas palavras que resistiam ao contato com os não indígenas (CLEMENTINO, 2006). Os Xacriabá de hoje são o resultado de um forte processo de miscigenação étnica, inicialmente provocada de forma intencional pelos colonizadores quando aldeados, mas depois com a continuada relação sóciocultural com a sociedade circundante portuguesa. Sua identidade étnica foi, e ainda é ignorada pelos não indígenas, como Pacheco (1999) designa de “índios misturados”, ou seja, índios que devido a um largo contato com a sociedade branca possuem um baixo grau de distintividade cultural. Os remanescentes Xacriabá vivem no norte de Minas Gerais, nas Terras Indígenas Riachão/Luiza do Vale, Xakriabá e Xakriabá Rancharia, e localizam-se no município de São João das Missões, no norte de Minas Gerais. A Terra Indígena Xakriabá foi homologada em 1987 e, posteriormente, em 2003, acrescentada em área contínua a TI Xakriabá Rancharia. As TIs Xacriabá situam-se a aproximadamente 800 km de Belo Horizonte e contam com uma população de 7.665 indígenas (FUNASA, 2006 apud. ISA, 2006). 36 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF 6. Contexto histórico É comum ouvir que Brasília situa-se no coração do Brasil, pela sua localização no Planalto Central do país, interiorizado e centralizado. Desde o descobrimento das terras brasileiras pelo mundo europeu, no final do século XV, até a fundação da atual capital nacional, em 1960, ocorreram processos ligados a diversos interesses: econômicos, políticos e sociais. Primeiramente, São Salvador da Bahia de Todos os Santos, que viria a ser Salvador, tornou-se capital da região compreendida hoje como território nacional durante boa parte do período colonial. Nesse local, perto de onde chegaram os portugueses da missão de Pedro Álvares Cabral (Porto Seguro), estabeleceu-se o governo da colônia portuguesa na América por fatores históricos (local de primeiro contato do europeu com a nova terra) e econômicos (instalação de portos que alimentavam o mercado europeu com pau-brasil e, depois, cana-de-açúcar). A transferência da capital nacional de Salvador para o Rio de Janeiro se deu também devido à economia, em 1763, no Governo de Marquês de Pombal. Pouco antes, houve a descoberta de ouro na região que compreendia Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. Era, então, necessário que a capital da Colônia tivesse melhor acesso ao produto que garantiria o enriquecimento de diversas pessoas residentes no Brasil, da Metrópole e da Inglaterra até o século XVIII; ao mesmo tempo em que se aproximava mais do centro do país (do ciclo do ouro), estava localizada em zona litorânea, com fácil acesso aos Estados europeus. A atual capital federal surgiu de maneira diferente das outras – bastante estudada, pensada e planejada. Diversos motivos justificam e mitificam sua escolha: projetos de interiorização e desenvolvimento das regiões interiores do Brasil, segurança nacional (com a capital em local de menor acessibilidade naval), necessidade de uma capital planejada. Tudo começa com a ocupação do Planalto Central durante o ciclo do ouro. 37 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF 6.1. Ocupação territorial do Planalto Central A primeira incursão européia pela região do Planalto Central ocorreu por conta do mito do lago Dourado, o Sabarabuçú. Estudos da época apontavam para uma vasta região desconhecida, onde estariam riquezas minerais em ouro e prata (BERTRAN, 2000). Índios capturados na Capitania de São Paulo disseram que Sabarabuçú estava próximo à lagoa Paraupava e às nascentes do São Francisco. Nessa época, bandeiras foram realizadas para a verificação das informações prestadas pelos indígenas, tendo como primeira expedição (e que primeiro adentrou o território hoje compreendido no Estado de Goiás e Distrito Federal) a de Domingos Luís Grou (1589-1593). Não se conseguiu encontrar o lago Dourado ou algum indício de ouro e outros metais preciosos; essas primeiras expedições, além da exploração do interior e da busca por riquezas minerais, tinham como função a captura de índios (PALACÍN e MORAES, 2001). Novas expedições foram organizadas a partir do final do século XVII. As primeiras lavras de ouro encontradas no interior do Brasil foram em Minas Gerais (1690) e Mato Grosso (1718). A bandeira de Anhanguera Filho (17221725), descendente de Bartolomeu Bueno da Silva (Anhanguera Pai), descobriu, na região do Rio Vermelho, próximo a Luziânia, cinco ribeirões com ouro (BERTRAN, 2000). A partir daí, intensificou-se a exploração do Brasil Central, havendo constantes bandeiras rumo ao Planalto Central, que se tornou uma das regiões mais exploradas devido às condições geológicas propícias à mineração do ouro. Começou, nessa época, a grande devastação do espaço natural do Cerrado em detrimento de um projeto de desenvolvimento nacional para implementação de minas de prospecção, por exemplo, ou introdução de instrumentos mais simples para a extração de ouro de aluvião. Nesse contexto, foi criada a Capitania de Goiás (1748), desmembrada da Capitania de São Paulo, tendo como sede Vila Boa, e transferida a capital da colônia para a cidade do Rio de Janeiro, mais próxima do Ciclo do Ouro. Na primeira metade do século XVIII, formaram-se os núcleos urbanos de Meia Ponte, Santa Luzia e Arraial de Couros, que originaram, respectivamente, Pirenópolis, Luziânia e Formosa. Urbano do Couto Menezes descobriu ouro no 38 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF povoado de Meia Ponte, fundado por Manuel Rodrigues Tomar como Arraial de Meia Ponte (1731). “O ouro abundava às margens do rio das Almas”, como afirma Carvalho (2003, p.10), sendo esse minério responsável pelo desenvolvimento da região, que em meados do século XVIII era o principal centro econômico da Capitania de Goiás, não apenas por suas lavras de ouro (que nem eram as maiores da Capitania), mas pela sua posição estratégica para o escoamento do minério produzido na região. Era rota para a capital Salvador, até 1763, e depois para o Rio de Janeiro. Existia, inclusive, próximo ao local onde se encontra atualmente o Plano Piloto, um posto fiscal para controle da produção de metais – Contagem de São João das Três Barras. A cultura desse local cresceu a partir dos negros, dos índios Kayapós e dos portugueses. No Arraial de Santa Luzia (1746), fundado por Antônio Bueno de Azevedo, deu-se também um processo parecido com o de Meia Ponte. A região desenvolveu-se rapidamente, com descaracterização da paisagem natural para a construção de casas, formação de fazendas e estruturas para a extração aurífera. Outros povoados, como Santo Antônio da Boa Vista (hoje, St.º Antônio do Descoberto), surgiram em suas proximidades. A mina de ouro localizada em Luziânia, além de ter sido a primeira encontrada na Capitania, também foi a que mais concentrou riquezas. Já o Arraial de Couros destacouse, desde o seu começo, não pela busca por metais preciosos, mas pelo comércio, pelo cultivo de rebanhos bovinos e pelos couros de gado, abastecendo a região com seus produtos pecuários. No final do século XVIII, tem-se um esgotamento das fontes auríferas do Planalto Central, resultando no fim do ciclo do ouro e em um longo período de esquecimento na região, como pode ser percebido na afirmação de Barreira (2002): Foi a área de Goiás que sofreu mais diretamente o impacto da implantação do Distrito Federal. Até esse momento, não havia sido um local despovoado; sua ocupação remonta ao século XVIII, quando se abriram os caminhos do ouro. (Vários são os núcleos dessa fase, como Meia Ponte, de 1727, atualmente Pirenópolis; Santa Luzia, de 1746, hoje Luziânia; Corumbá de Goiás, de 1750; Arraial de Couros, de 1736, atual Formosa; e Mestre d' Armas, de 1812. Com o declínio da mineração a região ficou estagnada por um 39 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF longo período, até a criação do Distrito Federal (BARREIRA, 2002, p. 175). Com a crise e declínio do ciclo de mineração nessa região, essas cidades tiveram que buscar alternativas à sua economia para o século XIX. Durante o Brasil imperial, tentou-se o cultivo de algodão em Pirenópolis (que se tornou município em 1832), sem muito resultado (apenas durante a Guerra de secessão norte-americana, quando a produção dos Estados Unidos foi afetada), e o plantio de cana-de-açúcar, este com alguma rentabilidade à região. Em Luziânia (1833), essa última cultura até vingou, bem como a produção de marmelo para fabricação da famosa marmelada de Santa Luzia. Formosa da Imperatriz (elevada a Vila em 1843) já havia se adaptado à pecuária bovina, mesmo durante o ciclo do ouro, e não chegou a sofrer tanto impacto em sua economia quanto os outros antigos arraiais (então municípios) que dependiam da extração aurífera. O século XX trouxe recuperação gradativa ao desenvolvimento sócioeconômico de Goiás, já no Brasil República. Em 1906, criou-se a Companhia Estrada de Ferro de Goiás, que integrou mais o Sudeste do país com a região local, ligando o Triângulo Mineiro ao sudeste do estado, melhorando o escoamento de produtos e, conseqüentemente, os preços (provocando também queda na inflação, que será novamente observada com o deslocamento da capital federal do litoral para o centro do país). A partir da década de 1930, a “Marcha para o Oeste” acelerou o processo de integração nacional das regiões litorâneas e bastante povoadas com as regiões interiores e de baixa densidade demográfica. Inserida nessa política, a transferência da capital da Cidade de Goiás para Goiânia, uma cidade estudada e planejada, acelerou o desenvolvimento do Estado, mas também aumentou as diferenças entre Sul e Norte local, que já apareciam durante o ciclo da mineração. 6.2. Estudos sobre a Nova Capital e sua construção Muitas histórias permeiam a idealização e escolha da nova capital do Brasil. A primeira idéia sobre uma capital no interior do país teria sido do Marques de Pombal (1761), cujo desejo era uma nova capital para o Reino de 40 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF Portugal. Os inconfidentes mineiros queriam uma capital no interior (São João Del Rei) para a República pela qual lutavam. Com a chegada da Coroa portuguesa ao Brasil (1808) e a tomada de Portugal pelas tropas napoleônicas, evidenciou-se a construção de uma nova Lisboa. Em 1821, José Bonifácio sugere o nome de Brasília ou Petrópole (SCHIMIDT, 1985). Vários seriam os motivos para a interiorização da nova capital. Farret apresenta sete justificativas que explicariam a mudança: Argumentos nunca faltaram para justificar a transferência da Capital para o interior do território brasileiro: primeiro, uma tentativa de apagar todos os vestígios e símbolos da dominação portuguesa, como seria, no caso, a cidade do Rio de Janeiro; segundo, uma medida destinada a transformar o Brasil num país unificado, ao invés de um grande número de enclaves; terceiro, por razões de defesa nacional, uma vez que a capital seria altamente vulnerável a ataques estrangeiros; quarto, um meio de promover novos padrões de eficiência no serviço público; quinto, um instrumento ideológico capaz de criar, junto às massas, um espírito de identidade nacional; sexto, um centro de crescimento capaz de promover o desenvolvimento regional do Centro-Oeste, através da criação de um significativo mercado consumidor e da introdução de inovações tecnológicas, econômicas e sociais; e sétimo, como uma porta de entrada à ocupação econômica das fronteiras oeste e norte do país (SCHIMIDT, 1985, p.18). Em 1877, Varnhagem, conhecido como Visconde de Porto Seguro, explicitou veementemente sua idéia de mudança da capital para o interior do país em A questão da capital: marítima ou interior? afirmando a necessidade sob o ponto de vista, principalmente, de segurança nacional. Ao viajar ao Planalto Central (1892) e deparar-se com Formosa da Imperatriz, ficou tão encantado que sugeriu esta como a futura capital nacional. Consta, desde a primeira Constituição da República (1891), o destino de uma área, a ser estudada, no Planalto Central, para a construção do novo centro administrativo. No mesmo ano em que Varnhagem foi a Formosa, o Marechal Deodoro da Fonseca designou uma Comissão Exploradora do Planalto Central, chefiada pelo astrônomo Luís Cruls, para verificação da área apontada pelo Visconde. 41 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF Fez-se um grande e importante relatório das condições climáticas, hidrográficas, de salubridade, topográficas, geológicas e biológicas da região. Os limites de estudo, conhecidos como Quadrilátero de Cruls (ver prancha 1), compreendiam em três rios das bacias hidrográficas do Tocantins, do São Francisco e do Paraná (rios Maranhão, Preto e São Bartolomeu e Descoberto, respectivamente). O Relatório Cruls serviu de subsídio para os levantamentos posteriores na região. A Constituição de 1946 retoma o assunto de transferência da capital, mencionando a composição de uma comissão de técnicos para estudar a localização do que seria Brasília. Essa comissão foi chefiada pelo General Djalma Polli Coelho e contava com doze técnicos, os quais analisaram os mais diversos aspectos. Em 1948, teve-se a conclusão do trabalho da comissão: [...] a comissão técnica, por sua maioria, manteve a escolha do antigo quadrilátero de Cruls, ampliando para o norte, abrangendo a área de 77.000 km², visando obedecer a divisas naturais. Tal coincidência, ao mesmo tempo em que confirma as excelentes peculiaridades do Planalto goiano, veio demonstrar, não apenas a visão genial de Hipólito, Bonifácio e Varnhagem, mas o acerto do roteiro científico seguido por Cruls, 54 anos antes; já que, apoiado agora com as mais recentes conquistas do progresso e da técnica, a conclusão foi praticamente a mesma: o Planalto de Goiás, na confluência das três grandes bacias dos rios Amazonas, Paraná e São Francisco (IBGE, 1958, p. 76). Em 1953, criou-se uma Comissão de Localização da Nova Capital, contratando a empresa estadunidense Donald J. Belcher and Associates para estudar a região e indicar o sítio definitivo para a construção do Distrito Federal. Belcher delimitou um retângulo de aproximadamente 50.000 km² (ver prancha 1), demarcando cinco sítios: castanho, verde, azul, amarelo e vermelho, estudando os mais diversos aspectos do local. O relatório foi entregue em 1955. No ano seguinte, seria lançada a pedra fundamental de construção da capital. Em 1957, Lúcio Costa ganhou o concurso para projeto urbanístico da cidade por quase unanimidade (apenas um voto contra), com seu Plano Piloto, afirmado por ele ser não um avião, como pensam, mas uma 42 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF borboleta. Os monumentos de Oscar Niemeyer, como o Palácio do Planalto, o Palácio da Alvorada, a Catedral de Brasília, o Palácio da Justiça, a Explanada dos Ministérios e outros tomariam conta da Nova Capital nacional. Foi criada a Novacap, companhia para a construção da Nova Capital. Em 1956 seria construído, em dez dias, o Catetinho, residência provisória de Juscelino Kubitschek no Planalto Central. Em 21 de Abril de 1960 foi inaugurada a Nova Capital federal. Projetada sob os ares do modernismo, o astronauta Louis Armstrong, ao chegar à capital federal, disse sentir-se em outro planeta. O Plano Piloto se faz como uma série de monumentos que criam, entre si, um movimento e contraste com seus espaços e paisagens naturais. O Distrito Federal, composto por Brasília suas cidades-satélites, anexou áreas de Planaltina, Formosa, Luziânia e Cristalina, que desencadeou o desmembramento de diversos municípios ao longo destas décadas (conforme mapas abaixo) sendo que já existe grande processo de conurbação entre as cidades satélites e o entorno de Brasília. O Distrito Federal mais as cidades do entorno compõem o RIDE (Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno). As cidadessatélites, em sua maioria, foram criadas como alternativa para periferias que se formavam ao redor de Brasília, compostas por ocupações urbanas desordenadas feitas pelos trabalhadores que construíram a capital (advindos do Norte e, em sua maioria, do Nordeste) e os altos cargos executivos para os quais a Nova Capital se preparava. Taguatinga, uma das primeiras, foi fundada em 1958. O Distrito Federal, atualmente, divide-se em vinte e nove regiões administrativas, sendo Brasília a primeira. Esta, por sua vez, é formada pela Asa Norte, Asa Sul, Setor Militar Urbano, Setor de Garagens e Oficinas, Setor de Indústrias Gráficas, Área de Camping, Eixo Monumental, Esplanada dos Ministérios, Setor de Embaixadas Sul e Norte, Vila Planalto, Granja do Torto, Vila Telebrasília, Setor de áreas Isoladas Norte. Em 07 de Dezembro de 1987, essa região foi tombada como Patrimônio Histórico e Cultural da humanidade pela UNESCO, sendo a primeira cidade com menos de cem anos a atingir tal feito. O Plano Piloto de Lúcio Costa é admirado ainda hoje no mundo todo como um monumento urbanístico. 43 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF 44 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF 45 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF 46 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF 47 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF Prancha 01 - Quadrilátero de Cruls e Retângulo de Belcher – Comissões de reconhecimento e escolha de área 48 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF 6.3. Cidades-satélites O plano inicial, elaborado pelo poder público para os operários e a maioria das pessoas que migraram durante as obras de construção da nova capital (candangos), seria o retorno desses trabalhadores aos seus municípios de origem. Contrariando todo planejamento governamental, não só permaneceram os trabalhadores como novos migrantes chegavam a Brasília. A nova capital era um pólo atrativo de correntes migratórias e teve um crescimento populacional explosivo nas décadas de 1960/70 e de 1970/80 (respectivamente 14,4% e 8,2% a.a.), muito acima do crescimento do Brasil (2,9% e 2,5% a.a. resp.). A migração representou o principal componente demográfico na formação do aglomerado urbano. Segundo o Censo de 1970, em média 76% da população residente no Distrito Federal era de pessoas não nativas. Os fluxos de migrantes apresentavam características diferenciadas: na primeira década, após a inauguração da capital, foi a região Sudeste, com 41% dos migrantes, seguida pela região Nordeste, com 32,6%, e pela região CentroOeste, com 23,6% (VASCONCELOS e outros 2006, P.02). A proximidade com a nova capital e as novas oportunidades de emprego e renda explicam o intenso afluxo de goianos e mineiros. O fluxo de migrantes oriundos do Rio de Janeiro era constituído principalmente pelos quadros administrativos e técnicos e seus familiares, transferidos da antiga para a nova capital federal. Nesse início, os estados nordestinos de origem dos migrantes foram principalmente a Bahia (6,5%), o Ceará (6%), o Piauí (5,4%) e a Paraíba (4,9%) (VASCONCELOS e outros 2006, P.02) Já na primeira década começa a “inchar” a Cidade Livre (Núcleo Bandeirante), bem como os arredores dos acampamentos existentes. Para atender à demanda habitacional mesmo antes da finalização do Plano Piloto, os núcleos populacionais ou Cidades Satélites foram criados (CEBALOS, 2005). As cidades satélites foram pensadas com o objetivo não só de atender a população de operários migrantes, mas também parte dos funcionários públicos com posições mais baixas na hierarquia funcional, sem acesso às terras localizadas no Plano Piloto. A primeira Cidade Satélite implantada foi 49 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF Taguatinga, a partir da oferta de lotes distribuídos pela Novacap (Companhia Urbanizadora da Nova Capital), em 1958. A cidade de Taguatinga foi a primeira oficialmente criada com o propósito de por fim aos aglomerados humanos (invasões) que estavam se formando na área urbana de Brasília. O traçado da cidade previsto por Lúcio Costa se constituía em uma cidade-dormitório para 25 mil habitantes e deveria ser construída 10 anos após a inauguração da nova capital (GONÇALVES, 2002). A necessidade de abrigar os migrantes recém chegados do nordeste, cerca de 4 mil pessoas, apressou a criação da nova cidade. Todos receberam seus lotes com direito a ocupação e as primeiras residências foram construídas em madeira, na emergência em resolver o problema habitacional (GONÇALVES, 2002). 50 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF 7. Projeto de Levantamento Arqueológico Com base nos dados do contexto arqueológico da região centro oeste e das informações existentes sobre a arqueologia regional e fundamentado em pesquisas bibliográficas e estudos recentemente realizados em áreas com grande índice de urbanização, conforme Telles, (2009), Castro e Telles (2009, 2009a), o centro Metropolitano do Distrito Federal a ser construído está localizado em uma região com grande potencial arqueológico. Apesar das poucas informações existentes sobre a presença de sítios nesse local, e de não existir registros novos referentes a sítios descobertos por diversos projetos nesta área junto ao IPHAN, sabemos que, em Brasília são recorrentes a descoberta de sítio arqueológico como foi registrado em uma pesquisa recente (Telles, 2009a). Sendo assim, o projeto arqueológico desenvolvido no complexo que abrigara as instalações do Centro Metropolitano (menos área do Centro Administrativo) poderá ajudar a preencher a ausência de informações que como vimos existe mais não chega ao IPHAN e não condiz com a quantidade de portarias e pesquisas realizadas na região e entorno de Brasília, talvez,estas informações podem estar armazenadas em algum computador pessoal de acesso restrito de algum pesquisador ou instituição cultural. Deste modo, o objetivo desse Levantamento Arqueológico deixa de ser apenas prospectivo, pois, além de buscar evidências arqueológicas enterradas em uma área rodeada de asfalto e concreto, ele poderá apresentar novas informações ao IPHAN sobre o processo de ocupação e apropriação da paisagem pelo homem pré-histórico e sua presença na área de Brasília. (Ver contexto arqueológico regional) Evidentemente que não e só pelo aspecto legal se justifica esse projeto de levantamento, mais através dele podemos ampliar informações que ajudem a esclarecer informações relevantes sobre o contexto ambiental anterior a urbanização, a história, a etnografia e a arqueologia da região da capital federal. 51 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF 7.1. Objetivos Gerais e Metodologia O objetivo geral do Projeto de Levantamento foi a obtenção de informações científicas que permitam a produção de conhecimento a respeito dos processos culturais que envolvem os grupos pré-históricos ou históricos que habitaram a região a ser afetada pelo empreendimento. A fim de se conseguir um primeiro registro dos processos de ocupação, colonização e dinâmica histórica da região se buscam identificar elementos significativos do Patrimônio Cultural da área afetada com a construção do Centro Metropolitano localizado nas cidades satélites de Taguatinga e Ceilândia, tendo como referência o processo de ocupação pré-histórica e histórica e a conseqüente organização do espaço sócio-cultural. Levantamento Arqueológico: Procedimentos Metodológicos e Propostas a serem Adotadas. Em geral uma etapa de levantamento inclui um reconhecimento inicial da área e intervenções de sub-superfície. No caso das intervenções de solo, a intensidade e o tamanho da malha são condicionados pelas pesquisas previas e a determinação das áreas de alto, médio e baixo potencial. Segundo a Florida Division of Historical Resources, os componentes básicos de um levantamento incluem: • Reconhecimento inicial da área através de caminhamento. • Intervenções sistemáticas de sub-superfície. • Delimitação dos Sítios identificados. • Coleta inicial de dados, a fim de subsidiar as etapas de pesquisa futuras. • Mapeamento. Os trabalhos de levantamento arqueológico, como meio de estudar os níveis estruturados da paisagem, serão orientados não somente para a descoberta de artefatos e sítios, mas também orientados para entender os processos de formação da própria paisagem (BURGER, TODD, STOHLGREN ET AL; 2004; GIVEN ET AL; 1999), uma das grandes forças da arqueologia é a 52 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF habilidade de estudar as mudanças em escalas maiores das que os seres humanos podem diretamente perceber em seu próprio ciclo de vida. Contudo mesmo nestas escalas temporais maiores, estruturas arqueológicas paisagísticas percebidas podem ser o produto da amostragem ou de outros processos taphonomicos e não diretamente da ação humana. Sendo assim algumas mudanças e adaptações nos modelos de amostragem devem ser realizados para que esta relação possa ser percebida. Como Salientou Schiffer (1978) o levantamento arqueológico é um processo múltiplo e que envolve diversas atividades. Assim não somente deve o levantamento arqueológico ser direcionado para a identificação de restos materiais, mas também para o entendimento das propriedades intrínsecas do registro. Dentro deste contexto os aspectos geomorfológicos presentes na área do sítio e na área de entorno são aspectos chave na interpretação dos vestígios arqueológicos. O próprio espaço deve ser entendido em três escalas de magnitude; micro, meso e macro como propõe Clark (1977). Na escala micro se tem o meio ambiente imediato que influencia o sítio. A escala meso por sua vez reúne as características topográficas do sítio e do entorno, principalmente nas áreas que influenciam na seleção de recursos e na apropriação destes pelo homem. Por fim na escala macro se tem a consideração do uso do sítio dentro do contexto do ecossistema regional. No caso específico do levantamento arqueológico e cultural da área direta e indiretamente afetada pela implantação do Centro Metropolitano, o primeiro trabalho realizado será o de levantamento documental. Levantamento Documental Objetivo: - Obter um quadro, o mais extenso possível, sobre as fontes disponíveis para o estudo dos processos de ocupação da região. 53 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF Metodologia: - Arrolamento de todo o material já levantado por outras equipes de pesquisa; - Arrolamento de todo material já levantado pela Empresa empreendedora da obra; - Levantamento bibliográfico em arquivos, museus, bibliotecas e outras instituições; - Leitura, fichamento e catalogação das obras e documentos obtidos. Produto: - Histórico da ocupação da região, com a respectiva organização de quadros cronológicos; - Banco de dados para as etapas subseqüentes do projeto. Ao mesmo tempo foi realizado um levantamento cartográfico e iconográfico que possibilitou a elaboração das matrizes cartográficas presentes no decorrer deste relatório. Por meio deste produto pôde-se observar a espacialidade dos dados obtidos, facilitando a leitura das informações e permitindo um reconhecimento maior da área de estudo. Levantamento Cartográfico Objetivo: - Conhecer as características regionais, levantamentos disponíveis (nível de escala), cartografia histórica com fins de orientação da documentação de cobertura da região afetada e elaboração de cartografia base para os resultados obtidos com os trabalhos de reconhecimento de campo. Metodologia: - Leitura do material obtido disponível. Produto: - Marcação em planta dos fenômenos colhidos e definição de estratégias de reconhecimento da região. 54 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF Tanto o levantamento bibliográfico (Documental) quanto o levantamento cartográfico permitiu que as equipes de campo pudessem orientar os trabalhos de maneira direcionada, abordando diferentes áreas com diferentes metodologias. Para os trabalhos de levantamento arqueológico prospectivo na área afetada pelo empreendimento, serão utilizadas duas metodologias, uma assistemática e outra sistemática. Levantamento Sistemático e Assistemático O levantamento assistemático foi realizado tanto na área diretamente afetada quanto na área de influência indireta do empreendimento. Tal metodologia visa à busca de sítios arqueológicos a partir de informações prestadas pelos moradores da região a ser trabalhada, pelas evidências da vegetação, e pela observação de locais com solo exposto que proporcionem visibilidade (EVANS & MEGGERS, 1965; NEVES, 1984). Já o levantamento sistemático foi realizado apenas na área diretamente afetada, onde se proporá verificar cerca de 100% da área, através do caminhamento de linhas pré-estabelecidas, denominadas transects. Durante a abertura dos transects será efetuado intervenções sub-superficiais (tradagens) em intervalos regulares de 50 metros, com o propósito de localizar sítios de baixa ou nula visibilidade, os quais não apresentaram evidências de superfície. Os transects possibilitaram contemplar todos os compartimentos paisagísticos presentes na área, com o propósito de amostrar possíveis sítios instalados em diferentes ambientes, os quais poderiam estar relacionados a estratégias de ocupação e exploração ambiental distinta, utilizada pelos grupos que porventura tivessem ocupado essa região durante os períodos histórico e pré-colonial. No caso a identificação do sítio arqueológico foi realizada por observação de superfície e por intervenções de sub-superfície, seguindo a 55 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF realização de poços-teste a fim de delimitar o sítio na sua horizontalidade e verticalidade. Os dados materiais como a paisagem, a arquitetura, os objetos de uso doméstico, instrumentos de trabalho e de lazer, formas de uso religioso e leigo, assim como outros elementos, serão de pleno interesse para a formação de um acervo, além da compreensão da problemática cultural a ser levantada futuramente no resgate. (Ver mapa da área prospectada) Levantamento Arqueológico Objetivo: - Identificação de restos arqueológicos na área direta e indiretamente afetada pelo empreendimento. Metodologia: - prospecção sistemática com abertura de poços-teste. - prospecção de varredura e caminhamento intensivo. 56 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF 57 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF Essa metodologia visa à observância das principais características físicas e contextuais de forma a identificar a maior variedade possível de restos arqueológicos. A metodologia empregue não se limitará a identificar apenas vestígios de populações pré-coloniais, mas incorporará também os diferentes cenários de ocupação histórica em seus diferentes momentos. Com a metodologia adotada, foi possível percorrer 70% da área e os mais diferentes compartimentos ambientais. As áreas com alto grau de degradação não foram alvo de transects, foram inspecionadas onde foi possível de andar, assim como as áreas já edificadas. Com isso pretende-se cobrir de maneira sistemática e satisfatória a área a ser impactada pela implantação das duas obras. 58 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF Resultado do Levantamento Arqueológico Devemos lembrar que a área foi alvo de recente pesquisa arqueológica, sendo que os trabalhos de levantamento e prospecção arqueológica realizados na área Diretamente e Indiretamente Afetada pela implantação do Centro Administrativo – Distrito Federal, resultaram na não identificação de vestígios arqueológicos em superfície ou sub-superfície. Tendo isto em vista e com a possibilidade de neste momento ampliar a área de levantamento oram realizadas intervenções no solo em locais onde, nenhuma interferência urbana atual pudesse impossibilitar a percepção de indícios arqueológicos existentes no ambiente. A área esta totalmente antropizada pela expansão de décadas das cidades de Brasília, existe no local um estádio de futebol edificado, uma rodoviária com estacionamento, um prédio da academia de policia e uma subestação de energia. A área onde foram realizadas prospecções encontra-se com uma vegetação rasteira (Pasto) e com o grande acúmulo de lixo doméstico e de construção civil a área representa hoje um grande deposito de lixo o que pode ter contribuído para o remeximento do solo e a perda de vestígios arqueológicos que porventura existiam. Apesar desses fatores, a metodologia aplicada possibilitou que, fosse identificado um sitio arqueológico. A tabela abaixo representa os pontos onde foram realizados os trabalhos que possibilitaram a descoberta do sítio Arqueológico. 59 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF Pontos onde foram realizadas as prospecções e vistoria Arqueológica 001 22 L 812106 8246893 Prospecção 002 22 L 812072 8246855 Prospecção 003 22 L 812028 8246831 Prospecção 004 22 L 811985 8246804 Prospecção 005 22 L 811948 8246769 Prospecção 006 22 L 811901 8246752 Prospecção 007 22 L 811850 8246736 Prospecção 008 22 L 811799 8246710 Prospecção 009 22 L 811758 8246679 Prospecção 010 22 L 811712 8246650 Prospecção 011 22 L 811672 8246622 Prospecção 012 22 L 811632 8246593 Prospecção 013 22 L 811591 8246564 Prospecção 014 22 L 811556 8246525 Prospecção 015 22 L 811519 8246491 Vistoria 016 22 L 811482 8246452 Vistoria 017 22 L 811447 8246415 Vistoria 018 22 L 811408 8246386 Vistoria 019 22 L 811367 8246358 Vistoria 020 22 L 811321 8246333 Vistoria 021 22 L 811273 8246315 Prospecção 022 22 L 811224 8246301 Prospecção 023 22 L 811183 8246270 Prospecção 024 22 L 811134 8246256 Prospecção 025 22 L 811085 8246238 Prospecção 026 22 L 811037 8246219 Prospecção 027 22 L 810986 8246206 Prospecção 028 22 L 810938 8246192 Prospecção 029 22 L 810879 8246180 Prospecção 030 22 L 810830 8246163 Prospecção 031 22 L 810780 8246140 Prospecção 032 22 L 810822 8246112 Prospecção 033 22 L 810865 8246083 Prospecção 60 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF 034 22 L 810906 8246053 Vistoria 035 22 L 810949 8246025 Vistoria 036 22 L 810991 8245994 Vistoria 037 22 L 811012 8245983 Vistoria 038 22 L 811059 8246005 Vistoria 039 22 L 811112 8246022 Vistoria 040 22 L 811245 8246038 Vistoria 041 22 L 811245 8246038 Vistoria 042 22 L 811285 8246068 Vistoria 043 22 L 811338 8246089 Vistoria 044 22 L 811391 8246095 Vistoria 045 22 L 811438 8246115 Vistoria 046 22 L 811486 8246132 Vistoria 047 22 L 811536 8246151 Vistoria 048 22 L 811584 8246171 Vistoria 049 22 L 811633 8246197 Vistoria 050 22 L 811678 8246219 Vistoria 051 22 L 811723 8246246 Vistoria 052 22 L 811716 8246295 Prospecção 053 22 L 811689 8246342 Prospecção 054 22 L 812572 8247030 Prospecção 055 22 L 812563 8246979 Prospecção 056 22 L 812566 8246929 Prospecção 057 22 L 812557 8246881 Prospecção 058 22 L 812550 8246833 Prospecção 059 22 L 812552 8246784 Prospecção 060 22 L 812546 8246733 Prospecção 061 22 L 812542 8246686 Prospecção 062 22 L 812526 8246638 Prospecção 063 22 L 812507 8246592 Prospecção 064 22 L 812490 8246543 Prospecção 065 22 L 812586 8246739 Prospecção 066 22 L 812633 8246728 Prospecção 067 22 L 812676 8246724 Prospecção 068 22 L 812725 8246736 Prospecção 61 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF 069 22 L 812772 8246753 Prospecção 070 22 L 812821 8246779 Prospecção 071 22 L 812870 8246753 Prospecção 072 22 L 812922 8246765 Prospecção 073 22 L 812976 8246769 Prospecção 074 22 L 813058 8246810 Prospecção 075 22 L 813058 8246810 Prospecção 076 22 L 813109 8246810 Prospecção 077 22 L 813188 8246772 Prospecção Mat Litico 22 L 811192 8246025 Prospecção S Bela Vista 22 L 811193 8246029 Prospecção 62 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF Trabalhos realizados no Centro Metropolitano. Prospecção Realizada Prospecção Realizada Prospecção Realizada 63 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF Prospecção Realizada Prospecção Realizada Prospecção Realizada Prospecção Realizada 64 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF O sítio arqueológico encontrado e a descrição de suas características seguem abaixo: Nome: Sítio arqueológico Bela Vista Localização: DF – Centro Metropolitano de Taguatinga Vestígios: Líticos UTM: 22L 811192 - 8246029 O sítio arqueológico Bela Vista está localizado, na cidade satélite de Ceilandia no Distrito Federal, na área onde será construído o Centro Metropolitana em uma área topograficamente plana nas coordenadas geográficas 22L 811192-8246029. Os vestígios arqueológicos encontrados são formados por indícios Líticos, que se encontram concentrados em uma área de afloramento de rocha em arenito e quartzo. A vegetação foi totalmente suprimida graças aos empreendimentos construídos e a urbanização das cidades satélites de Brasília. A ação antropica no sítio é percebida, pela ocupação da área por vândalos que, pixam as rochas com inscrições e símbolos de super heróis em quadrinhos. Os inúmeros entulhos depositados atrapalham a percepção da dispersão dos vestígios no sitio. O sítio possui as dimensões aproximada de 300x300 metros, dimensionado pelas prospecções realizadas que mapearam a área. O estado de preservação atual esta dimensionado em 30%. Área do Sítio 65 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF Área do Sítio Afloramento de rocha no sítio Bela Vista Dimensionando o sítio Voçoroca próxima do sítio Erosão próxima do sítio 66 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF Vestígios líticos Todas as lascas identificadas são formadas pela matéria prima em arenito 67 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF Segundo o empreendedor o projeto de urbanismo do Centro Metropolitano foi elaborado priorizando a proteção da ARIE JK, priorizando uma ocupação mais intensa do solo nas proximidades da linha do metrô, e mais extensiva nas margens da ARIE JK, representada por um Parque Urbano. Está prevista a implantação de um Campus para UnB na porção oeste da poligonal motivada pela imperiosa necessidade de proteger as áreas de possíveis ocupações irregulares, e conseqüentemente, de impactos ao meio ambiente. O sítio arqueológico localizado neste levantamento encontra-se inserido na ZC-3 (Zona de Conservação de Uso Restrito) do Zoneamento Ambiental da ARIE JK, bem como em área prevista para implantação de um Parque Urbano pela SEDUMA. A ZC 3 – Uso Restrito incorpora os remanescentes de vegetação natural dos parques como áreas de preservação ou de uso restrito, conforme mapas abaixo. Dessa forma, o resgate arqueológico deverá ser evitado, pois a área em questão possui elementos suficientes para sua preservação. Portanto, recomenda-se o cercamento do sítio e a intensificação de rotinas de fiscalização na área, a fim de evitar interferências humanas. Essa medida proposta devera ser objeto de apreciação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), que tomará as medidas necessárias para o cumprimento dessa proposta. 68 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF 69 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF 70 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF Conclusão O avanço dos processos atuais de urbanização ressalta a importância do papel da arqueologia como mediador na relação homem X patrimônio cultural pensando que a arqueologia é uma ciência que constrói o passado no presente e que este presente não é despersonalizado, precisamos considerar não só o patrimônio, mas a própria produção cultural no sentido da construção das identidades sociais. Nesse sentido, consideramos que a paisagem possui hoje identidade e uso, vida e movimento, resumindo uma personalidade. Não é uma paisagem estátua. Nesse parâmetro a uma intermediação entre o patrimônio passado e o vivenciamento presente uma preocupação da arqueologia. Já o processo de transformação e o mesmo de construção da paisagem em geral resultam na alteração de depósitos arqueológicos. O que resulta em geral na perda de elementos significativos de vestígios arqueológicos. Conforme trabalhos de levantamento arqueológico anteriormente realizado (CASTRO e TELLES, 2009, 2009a) em áreas da cidade de Brasília e entorno apontaram evidências arqueológicas em áreas de grandes empreendimentos. O levantamento arqueológico realizado na área do Centro Metropolitano DF possibilitou evidenciar, a existência de um sítio arqueológico em um dos locais onde será construído o empreendimento ou seja no parque urbano. Os dados de campo apontam para a necessidade de que, o sitio encontrado ou seja objeto de um trabalho de resgate arqueológico se qualquer tipo de obra for executada na área, por se tratar de uma evidencia importante para a pesquisa da pré-história do planalto central, ou que seja preservado e integrado ao parque urbano, de maneira que possa a ser alvo de pesquisas futuras. Essa medida proposta devera ser objeto de apreciação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional brasileiro (IPHAN), que tomara as medidas necessárias para o cumprimento dessa proposta. 71 Rel. Final Lev. Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF Bibliografia AB’SABER, A. N. (2003). Os domínios de natureza do Brasil – Potencialidades Paisagísticas. Ateliê Editorial, São Paulo. ARAUJO, G.; NEVES, W. A.; PILÓ, L. B. (2003). Eventos de seca durante o Holoceno no Brasil: possíveis implicações para o entendimento da variabilidade cultural no período Paleoíndio (11.000 – 7.500 AP). 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Arq – Centro Metropolitano de Taguatinga – DF Edição Numero Nº 225, quarta-feira, 25 de novembro de 2009 Ministério da Cultura INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL CENTRO NACIONAL DE ARQUEOLOGIA COORDENAÇÃO DE PESQUISA E LICENCIAMENTO ARQUEOLÓGICO PORTARIA No- 11, DE 24 DE NOVEMBRO DE 2009 Projeto: Levantamento do Patrimônio Arqueológico e Cultural da Área diretamente afetada pela Implantação do Centro Metropolitano Anexo I nº 27 - Processo IPHAN nº 01551.000784/2009-49 – Arqueólogos Coordenadores: Márcio Antônio Telles e Julio César Alves de Castro Apoio Institucional: Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia - Universidade Católica de Goiás Área de Abrangência: Região Administrativa de Taguatinga, no Distrito Federal. Prazo de Validade: 03 (três) meses O COORDENADOR DE PESQUISA E LICENCIAMENTO ARQUEOLÓGICO DO CENTRO NACIONAL DE ARQUEOLOGIA DO DEPARTAMENTO DO PATRIMÔNIO MATERIAL E FISCALIZAÇÃO DO INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL IPHAN, nos termos da Portaria DEPAM/IPHAN No- 2, de 29 de junho de 2009, publicado no D.O.U., Seção 2, de 01.07.09 e de acordo com o disposto no inciso VIII do artigo 17, Anexo I do Decreto No- 6.844 de 07.05.09, na Lei No- 3.924, de 26.07.61 e na Portaria SPHAN No- 07, de 01.12.88 e ainda do que consta dos processos administrativos relacionados nos anexos a esta Portaria, resolve: I -Expedir PERMISSÕES, sem prejuízo das demais licenças exigíveis por diferentes órgãos e entidades da Administração Pública, aos arqueólogos coordenadores dos projetos de pesquisa arqueológica relacionados no anexo I a esta Portaria. II -Expedir AUTORIZAÇÕES, sem prejuízo das demais licenças exigíveis por diferentes órgãos e entidades da Administração Pública, às instituições executoras dos projetos de pesquisa arqueológica relacionados no anexo II a esta Portaria. III -Expedir RENOVAÇÃO DE PERMISSÃO, sem prejuízo das demais licenças exigíveis por diferentes órgãos e entidades da Administração Pública, aos arqueólogos coordenadores dos projetos de pesquisa arqueológica relacionados no anexo III a esta Portaria. IV -Expedir RENOVAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO, sem prejuízo das demais licenças exigíveis por diferentes órgãos e entidades da Administração Pública, às instituições executoras dos projetos de pesquisa arqueológica relacionados no anexo IV a esta Portaria. V -Reconhecer os arqueólogos designados coordenadores dos trabalhos como fiéis depositários, durante a realização das etapas de campo, do eventual material arqueológico recolhido ou de estudo que lhes tenha sido confiado. VI -Determinar às Superintendências Regionais do IPHAN da área de abrangência dos projetos, o acompanhamento e a fiscalizaçãoda execução dos trabalhos, inclusive no que diz respeito à destinação e à guarda do material coletado, assim como das ações de preservação e valorização dos remanescentes. VII -Condicionar a eficácia das presentes permissões, autorizações e renovações de permissão e renovações de autorização à apresentação, por parte dos arqueólogos coordenadores, de relatórios parciais e final ao término dos prazos fixados nos projetos de pesquisa anexos a esta Portaria, contendo todas as informações previstas nos artigos 11 e 12 da Portaria SPHAN nº 7, de 01.12.88. VIII -Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação. ROGÉRIO JOSÉ DIAS 79