Instituto de Economia Gastão Vidigal VENDAS x CONFIANÇA DO CONSUMIDOR O consumo das famílias brasileiras, o principal motor do crescimento da atividade econômica pelo lado da demanda, depende fundamentalmente de dois fatores: renda e crédito. Com relação ao primeiro, se trata tanto do rendimento total auferido no mercado de trabalho, que, do ponto de vista macroeconômico se define pela chamada massa salarial (rendimento médio X número de ocupados), quanto das transferências de renda realizadas pelo Governo, aí incluindo-se os benefícios previdenciários e aqueles relacionados à proteção social (Bolsa-Família, etc). Também é importante salientar que a renda total anterior é real, no sentido de representar o poder de compra das famílias, descontando-se os efeitos da inflação. Com relação ao crédito, devem ser consideradas as linhas concedidas à pessoa física mais direcionadas ao consumo, incluindo-se também as condições de financiamento, tais como taxa de juros e prazos, que conjuntamente com as concessões inicias determinam o valor da prestação que será assumida pelas unidades familiares. Desse modo, as expectativas das famílias com relação à evolução futura dos salários, do emprego, da inflação e do crédito afetam, por sua vez, sua propensão a realizar novas despesas. Desse modo, poder-se-ia propor que essas expectativas possam servir para antecipar o comportamento das vendas do varejo, ou seja, seriam um indicador antecedente dessa importante variável macroeconômica. Desde abril de 2005, a empresa IPSOS Public Affairs calcula para a Associação Comercial de São Paulo um Índice Nacional de Confiança (INC), que, a partir de entrevistas domiciliares, considera os seguintes itens: i) situação econômica atual da região e perspectivas futuras; ii) situação financeira pessoal atual e perspectivas futuras; iii) segurança nas grandes compras (ex. carro); iv) segurança nas compras médias (ex. Instituto de Economia Gastão Vidigal fogão); v) capacidade em investir no futuro; e vi) presente segurança no emprego e perspectivas de segurança. O Gráfico 1 mostra que, principalmente a partir de janeiro de 2008, o comportamento do INC apresenta elevada correlação com o desempenho do índice de volume de vendas do varejo (IVV), medido pelo IBGE na Pesquisa Mensal do Comércio (PMC). GRÁFICO 1 ÍNDICE NACIONAL DE CONFIANÇA x VOLUME DE VENDAS DO VAREJO (VARIAÇÃO EM RELAÇÃO A IGUAL MÊS DO ANO ANTERIOR): Abril 2006 – Maio 2013 (%) mai/13 dez/12 jul/12 fev/12 -10,0% set/11 -5,0% abr/11 6,0% nov/10 0,0% jun/10 8,0% jan/10 5,0% ago/09 10,0% mar/09 10,0% out/08 12,0% mai/08 14,0% 15,0% dez/07 20,0% jul/07 16,0% fev/07 25,0% set/06 18,0% abr/06 30,0% INC mai/13 dez/12 jul/12 fev/12 set/11 abr/11 nov/10 jun/10 jan/10 ago/09 mar/09 out/08 mai/08 dez/07 jul/07 fev/07 set/06 -20,0% 2,0% 0,0% abr/06 -15,0% 4,0% -2,0% IVV Fonte: Elaboração IEGV/ACSP a partir dos dados do IBGE e do INC-IPSOS/ACSP. Assim, utilizando-se as séries de dados do IVV e do INC ao longo do período abril de 2005 – maio de 2013, construiu-se um modelo estatístico para projetar a variação acumulada em doze meses do volume de vendas do varejo (ver detalhes no anexo metodológico), mostrando apreciável aderência com os dados efetivos do IBGE, como pode ser visualizado no Gráfico 2. Instituto de Economia Gastão Vidigal GRÁFICO 2 ÍNDICE DE VOLUME DE VENDAS DO VAREJO: EFETIVO x PROJETADO: Abril 2005 – Maio 2013 (Índice) 160 140 120 100 80 60 40 05 06 07 08 09 IVV Projetado 10 11 12 13 IVV Efetivo Fonte: Elaboração IEGV/ACSP. Para o mês de junho, que registrou queda de 15 pontos na confiança do consumidor, em razão da desaceleração do crescimento da massa salarial e do crédito, além do efeito negativo para o comércio decorrente da inflação e das manifestações, o modelo prevê aumento de 3,0% das vendas do varejo em relação ao mesmo mês do ano anterior, frente a uma expansão de 9,4% em 2012, na mesma base de comparação. Em termos anuais, o mesmo modelo projeta continuidade desse arrefecimento, terminando 2013 com 3,2% de incremento, ante 8,4% registrado em 2012. Mais do que se preocupar pelo nível exato e pontual das projeções anteriores, o mais importante é que estas refletem uma indiscutível tendência de desaceleração das vendas do varejo, o que deverá, conjuntamente com a menor expansão dos investimentos e a deterioração das contas externas, determinar um crescimento da atividade econômica inferiores às expectativas iniciais.