A INFLUÊNCIA DOS SAIS MINERAIS DAS BEBIDAS NA HIDRATAÇÃO Conselho Científico do Instituto de Hidratação e Saúde Resumo A hidratação pode ser feita através da ingestão de água ou de outras bebidas, ou até mesmo de alimentos. Para além de água, as fontes líquidas de hidratação apresentam frequentemente outros nutrientes que podem influenciar a velocidade de hidratação e o destino da água ingerida. É amplamente aceite que a homeostasia dos fluidos corporais e dos electrólitos é conseguida pela concentração do ião sódio no fluido extracelular e do ião potássio no espaço intracelular. Ambos os iões actuam sobre a água influenciando a sua osmolaridade e fixando-a nos seus respectivos espaços. Durante o processo de hidratação, a presença de sódio nos líquidos ingeridos parece acelerar a recuperação do volume plasmático e da água corporal, nomeadamente através do incentivo à retenção de água pelos rins e do privilégio dado à distribuição de água no espaço extracelular. O potássio, por se encontrar sobretudo no espaço intracelular, favorece o aumento do volume intracelular, e por isso é também, frequentemente incluído em bebidas concebidas para aumentar a velocidade de hidratação. Vários estudos sugerem que a presença de ingredientes osmoticamente activos (sais minerais) nas bebidas estimula a ingestão voluntária de água e promove a retenção de fluidos no organismo. Assim, durante a hidratação, o consumo de bebidas enriquecidas em sais minerais é geralmente mais eficaz na reposição da água corporal perdida do que ingerir apenas água simples. Palavras-chave Água, sais minerais e hidratação -1- Sais minerais e hidratação A manutenção do equilíbrio dos fluidos corporais é um factor importante na homeostasia fisiológica(1). A água corporal está principalmente dividida entre os compartimentos intracelular e extracelular, sendo este último composto pelo espaço intersticial e pelo espaço vascular. Estes compartimentos estão separados por barreiras semipermeáveis, que permitem o livre acesso dos electrólitos e da água(2). A absorção, distribuição e retenção de água nos diferentes compartimentos da água corporal parecem ser afectadas pela presença de alguns nutrientes(3). Os electrólitos são elementos que conduzem electricidade quando estão dissolvidos em água. Em nutrição, este termo é usado para referir os sais minerais sódio, potássio e cloro – os principais electrólitos dos fluidos corporais (1, 4). No organismo, os sais minerais são importantes para a manutenção do balanço hídrico (1, 5), estando a regulação dos fluidos do organismo sob estreito controlo homeostático. O movimento da água entre os compartimentos é controlado por uma variedade de mecanismos sensíveis e complexos, que incluem a osmose e o efeito de gradientes de pressão hidrostática (2). Em termos práticos, pode ser preferível escolher fontes de hidratação que não contenham apenas água mas que forneçam outros ingredientes que melhorem o processo de hidratação, como são o caso de alguns sais minerais(3). Este artigo aborda a importância dos sais minerais nas bebidas para o processo de hidratação. Após actividade física intensa a re-hidratação completa depende da reposição dos electrólitos e água perdidos pela transpiração A distribuição dos fluidos pelos diferentes compartimentos do corpo depende da concentração dos electrólitos. No espaço intracelular, o potássio é o principal catião, enquanto no espaço extracelular o sódio é o catião mais abundante e o cloro é o principal anião (1, 4). Uma vez que a água se desloca por osmose dos compartimentos com solutos pouco concentrados para os mais concentrados, a regulação da distribuição da água corporal é feita pela concentração dos electrólitos em cada um dos compartimentos (2). Vários estudos têm sido realizados para dar a conhecer a quantidade e composição ideais que as bebidas devem apresentar para uma hidratação bem sucedida (3). Após o exercício, quando as perdas de água pela transpiração são elevadas, especialmente em ambientes quentes e/ou -2- húmidos, é essencial que a recuperação do balanço hídrico se faça de forma tão rápida e completa quanto possível, nomeadamente quando o tempo para proceder à re-hidratação é limitado. A re-hidratação completa, após o exercício, só pode ser alcançada se os electrólitos e água perdidos pela transpiração forem repostos (6). Apesar de alguma variabilidade individual na taxa de sudorese e composição do suor, o sódio surge como o principal electrólito perdido pela transpiração (4). Já o potássio perde-se em quantidades mais moderadas e os restantes iões, como o cloro e o magnésio, em quantidades ainda menores (4). Apesar das perdas de potássio pela sudorese serem relativamente modestas por comparação às de sódio, as perdas através da diurese, durante o período de recuperação do equilíbrio hídrico, são francamente significativas (7). Assim, é da maior importância que tanto o sódio como o potássio sejam repostos para que a hidratação corporal seja completa (8, 9). Em 1973, Costill e Sparks mostraram que o consumo de soluções ricas em electrólitos, em situação de desidratação, leva a uma melhor recuperação do volume plasmático por comparação ao consumo de água simples (10). Mais recentemente, uma revisão por Rick e Sharp confirmou que soluções ricas em sódio e potássio são mais eficazes na re-hidratação do que a água simples, ou bebidas com baixo conteúdo em sais minerais (3). Os primeiros estudos que investigaram este efeito dos electrólitos na hidratação revelaram que o elevado consumo de água simples leva a uma diminuição brusca da osmolaridade e da concentração de sódio no plasma, o que conduz a um aumento da diurese (6). Por exemplo, através do consumo de água e sal (77 mmol/l), cerca de 29% da água ingerida foi perdida nas 3h seguintes, pela urina, comparativamente a 49% de água perdida com a ingestão de apenas água (6). A menor rehidratação verificada quando se ingere água simples parece dever-se, por um lado, à perda de sódio na urina, causada pelos níveis plasmáticos de aldosterona e renina e, por outro lado, à diminuída vontade em beber motivada pela redução súbita da osmolaridade do plasma e da concentração de sódio circulante (6, 7). Parece evidente que, qualquer que seja a bebida ingerida no contexto da desidratação, o volume consumido deve ser superior ao perdido pela sudorese. No entanto, mesmo quando se ingere um volume elevado (p. ex., o dobro do perdido pela transpiração), se a quantidade de sódio presente nas bebidas for baixa (menos de 30 mmol/l), não é possível manter um balanço hídrico positivo por mais de 2h. O aumento deste electrólito (mais de 50 mmol/l) nas bebidas ajuda o indivíduo a manter-se hidratado por mais tempo (6). -3- Estudos experimentais demonstraram que a inclusão de potássio nas bebidas poderá, em algumas situações, ser tão eficaz para a hidratação como o sódio (11). Desta forma, os líquidos ingeridos devem apresentar teores de sódio moderadamente elevados, e também potássio (6). Para uma eficaz e completa hidratação, o Instituto da Medicina Norte-Americano recomenda que as bebidas devam conter perto de 45-70mg/dl de sódio e cerca de 19-40mg/dl de potássio (12). A maioria das bebidas desportivas apresenta valores de sódio entre 50-70mg/dl e de 80200mg/dl de potássio (4). A água simples é adequada na recuperação hídrica se for acompanhada pela ingestão de alimentos sólidos, pois só assim é possível repor os electrólitos perdidos e garantir uma correcta hidratação. Contudo, existem muitas situações em que o consumo de comida sólida não é possível ou desejável e por isso é útil a presença de electrólitos nas bebidas ingeridas nessas situações (6). A utilização destas bebidas é particularmente importante em contextos em que a re-hidratação tem de ser conseguida rapidamente. Re-hidratação mais rápida quando se ingerem bebidas ricas em sais minerais Os estudos disponíveis mostram que a re-hidratação é mais rápida e completa quando se ingerem bebidas ricas em sais minerais, comparativamente à ingestão de água simples. Desta forma, o consumo de bebidas que apresentam um enriquecimento de electrólitos na sua composição permite que a hidratação se faça de um modo facilitado, por acção do estímulo da sede e da retenção dos fluidos corporais. Em situações que exigem uma rápida re-hidratação e/ou quando não é possível ingerir alimentos sólidos, estas bebidas são por isso uma boa alternativa à ingestão de água simples. -4- Bibliografia (1) Grosvenor, M. & Smolin, L. (2002). Nutrition From Science to Life. Orlando. Harcourt College Publishers. 372-390. (2) Grandjean, A., Reimers, K. & Buyckx, M. (2003). Hydration: Issues for the 21st Century – Lead Review. Nutrition Review. Vol. 61(8): 261–271. (3) Sharp, R. (2007). Role of Whole Foods in Promoting Hydration after Exercise in Humans – Review. Journal of the American College of Nutrition. Vol. 26(5): 592S–596S. (4) ACSM (2009). Nutrition and Athletic Performance - Position Stands. Medicine & Science in Sports & Exercise. 41(3): 709-731. (5) Titze, J. (2009). Water-Free Sodium Accumulation. Willey Periodicals, Inc. 22(3): 253-255. (6) Maughan, R. & Shirreffs, S. (1997). Recovery from prolonged exercise: Restoration of water and electrolyte balance. Journal of Sports Sciences. 15(3): 297-303. (7) Shirreffs, S. & Maughan, R. (1998). Volume repletion after exercise-induced volume depletion in humans replacement of water and sodium losses. American Physiological Society. 274(5): F868-F875. (8) ACSM (2007). Exercise and Fluid Replacement - Position Stand. Medicine & Science in Sports & Exercise. 39(2): 377-390. (9) Ritz, P. & Berrut, G. (2005). The Importance of Good Hydration for Day-to-Day Health. Nutrition Reviews. 63(6): IIS6–S13. (10) Costill, L. & Sparks, K. (1973). Rapid fluid replacement following thermal dehydration. Journal of Applied Physiology. 34: 299-303. (11) Maughan, R., Owen, J., Shirreffs, S. & Leiper, J. (1994). Post-exercise rehydration in man: Effects of electrolyte addition to ingested fluids. European Journal of Applied Physiology. 69: 209-213. (12) Institute Of Medicine (1994). Fluid Replacement and Heat Stress. 1994. -5-