EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA INDÚSTRIA DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS NO MUNDO:
ORIGENS E TENDÊNCIAS
[email protected]
APRESENTACAO ORAL-Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e Cadeias
Agroindustriais
CARLOS EDUARDO DE FREITAS VIAN1; ADILSON MARTINS ANDRADE JÚNIOR2.
1.ESALQ USP, PIRACICABA - SP - BRASIL; 2.DELLOITE, CAMPINAS - SP - BRASIL.
Evolução Histórica da Indústria de Máquinas Agrícolas no Mundo: Origens e
tendências
Resumo
O presente trabalho tem por objetivo realizar um levantamento histórico do desenvolvimento da
indústria de máquinas e implementos agrícolas, assim como suas principais empresas na atualidade para
entender a atual estrutura do mercado e as perspectivas para o seu futuro. Faz-se uma discussão sobre a
importância do progresso técnico para competir neste ambiente. Estuda-se a concorrência e o progresso
técnico nesta indústria, focando nas trajetórias tecnológicas e, também, no levantamento de informações
da literatura sobre o desenvolvimento do mesmo. O trabalho concluí que o setor mantém as características
de um oligopólio diferenciado, sendo a inovação e a diferenciação de produtos dois importantes
instrumentos competitivos. Outra característica fundamental é o caráter mundial desta concorrência.
Palavras-chaves – Máquinas agrícolas, história setorial, competitividade, inovação, estratégias
competitivas
Historical Evolution of Agricultural Machinery Industry in the World: Origins and
trends
Abstract
This paper aims to resume the agricultural machinery history and development, as well as their majors
companies in order to understand the current market structure and the prospects for their future. The first
discussion is about the importance of technical progress to compete in this environment. We study the
competition and technical progress in this industry, focusing on technological trajectories and also in
collecting information from the literature about the development of this industry. The study concluded
that the industry retains some characteristics likes differentiated oligopoly, with innovation and product
differentiation are important competitive tools. Another key feature is the global nature of this
competition.
Key-words – Agricultural machines, industry history, competitiveness, innovation, strategies.
Introdução:
O surgimento do setor de máquinas e implementos para a agricultura mudou definitivamente a
trajetória das técnicas de produção e oferta de produtos agrícolas no mundo, assim como a necessidade de
envolvimento de mão-de-obra na produção agrícola, pois os aumentos da produtividade do setor levaram
à substituição do homem nesta atividade, possibilitando o acesso a novas e melhores práticas de produção
na agricultura.
A crescente demanda por mecanização e equipamentos que utilizam tecnologias cada vez mais
avançadas, assim como o aumento da concentração do mercado nas mãos de algumas empresas são
elementos importantes a serem estudados para o entendimento das tendências do setor.
Devido à relevância atual do setor no comércio mundial e poucos estudos da área, o presente
trabalho realizou um levantamento histórico do desenvolvimento do setor de máquinas e implementos
agrícolas para entender a atual estrutura do mercado e perspectivas para o seu futuro. O texto analisa a
importância do progresso técnico para a evolução do setor e da inovação como instrumento para competir
neste ambiente.
O texto analisa o desenvolvimento do setor até 1990 a partir de estudos sobre a concorrência e
progresso técnico na indústria de máquinas para a agricultura, focando nas trajetórias tecnológicas a partir
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do levantamento de informações na literatura sobre o desenvolvimento de máquinas e sobre a história de
algumas das principais empresas do setor.
Com objetivo de realizar o levantamento histórico do setor de máquinas e equipamentos agrícolas
e para entender a atual estrutura do mercado e perspectivas para o futuro do setor, esse trabalho fez uso de
pesquisas bibliográficas sobre a história do setor, assim como de suas empresas.
Inicialmente buscou-se entender profundamente a estrutura do mercado até os anos de 1990, por
meio do trabalho realizado por Fonseca (1990), que fez um levantamento completo da história e formação
do setor em geral. Para complementar as informações sobre o desenvolvimento das empresas, assim como
suas máquinas, foram consultadas bibliografias sobre a história do desenvolvimento da agricultura
americana, um dos berços do setor, evolução das máquinas e formação das maiores empresas do setor
atualmente.
Para se trabalhar com todas as informações prospectadas das diversas fontes citadas, utilizou-se o
método científico de estudos de multicasos, permitindo a análise dos agentes econômicos específicos,
separadamente. Triviños, 1992 apud Lima (2003), o método científico de multicasos permite que dois ou
mais casos sejam estudados sem que haja a preocupação de fatores comparativos em comum nos
resultados obtidos isoladamente para cada estudo de caso ou agente mercadológico.
Para Yin, 2001 apud Lima (2003), cada estudo de caso consiste em um estudo completo e cada um
possui eventos relevantes, sendo assim podem-se tirar conclusões características para estes estudos.
1 - Surgimento da Indústria e dos Mercados de Máquinas Agrícolas no século XIX
Até o século dezoito, os instrumentos agrícolas ainda eram rudimentares. A revolução industrial e
a pujante população demandando cada vez mais alimentos colocou a Europa (e principalmente a
Inglaterra) em geral em situação bastante delicada, precisava aumentar a produtividade agrícola para
suprir a necessidade de subsistência. Em meados do século dezenove, a população urbana européia
aumentou em cerca de 200 milhões de pessoas, em um grande processo de urbanização que culminou em
processo de migração rural para cidade (êxodo rural), diminuindo o contingente de pessoas que
trabalhavam no campo (DERRY e WILLIANS, 1977 apud FONSECA, 1990).
Por estes motivos a necessidade de desenvolvimento tecnológico no campo fazia-se necessário.
Porém o progresso no campo não estava isolado ao progresso de outras áreas, como o transporte, já que
grande salto tecnológico nos meio de transporte, ferrovias e navegação gera um transbordo na produção
de alimentos, barateando os custos de deslocamento de países distantes.
Foi a partir das semeadeiras que o processo de mecanização tomou grande impulso, já que este
tipo de plantio, para grãos economizava 54,5 litros de sementes e elevava a produtividade da colheita em
10,5 hectolitros1 por hectare, demonstrado por Thomas Coke (FONSECA, 1990).
As colheitadeiras, inventadas na Grã-Bretanha e Estados Unidos da América em meados de 1780,
foram efetivamente usadas meio século depois. Uma nova versão de colheitadeiras surgiu em 1833,
quando o americano Obed Hussey, criou uma máquina mais prática que a colheitadeira do escocês Bell,
projetada para ser puxada por animais de tração. O modelo consagrou-se com o aperfeiçoamento de
Cyrus McCormick (FONSECA, 1990 e HUGHES, 1972).
Entre 1850 e 1870, a Inglaterra e a Europa como um todo deixam de ser o principal centro técnico
da agricultura. Nesse período os países que não faziam parte do antigo centro, que até então eram
supridores de produtos agrícolas dispensáveis para subsistência, passam a ser grandes supridores de
produtos essenciais à subsistência, como trigo, produtos lácteos, carne e produtos tropicais
(salvaguardando o açúcar). Com os Estados Unidos tornando-se o centro mundial do progresso
tecnológico na agricultura e fabricação dos equipamentos agrícolas. No período entre 1780 e 1900 a área
cultivada nos naquele país é de 160 milhões de hectares, mais de 10 vezes a superfície cultivável da
Inglaterra e do País de Gales (HUGHES, 1972 e FONSECA, 1990).
Em análise a esse desenvolvimento, Rasmussen (1983, apud FONSECA, 1990) aponta que várias
pessoas que foram determinantes no desenvolvimento destes equipamentos norte americano: George
Washington contratou um técnico britânico, Artthur Young, defensor do progresso tecnológico na
1
O hectolitro é uma unidade de volume equivalente a cem litros, representado pelo símbolo hl. É o segundo múltiplo do litro e, também, equivale a 100
decímetros cúbicos (0,1 metros cúbicos).
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agricultura visando o desenvolvimento técnico; Thomas Jefferson buscou melhorias e inovações
mecânicas, desenvolvendo projetos para semear, seed drill, e outra série de utensílios agrícolas.
A máquina de descaroçar o algodão foi um dos principais avanços no período, projetada por Eli
Whitney. Considerada um autentica inovação, já que este processo demandava grande contingente de
mão-de-obra, foi um equipamento que gerou grande aumento na produtividade daquela cultura. O solo de
pradaria2 norte americano foi outro fator determinante para o desenvolvimento de novos utensílios, já que
os arados de madeira e ferro não se adaptavam àquele solo e os arados não deslizavam no solo abrindo os
sulcos adequadamente, o ferreiro John Deere em 1837 do estado de Illinois, desenvolveu arados de ferro
forjado liso que se adaptavam ao solo de pradaria.
Entre 1830 e 1860, foi a vez das ceifadeiras e segadeiras, para feno, de serem as grandes
inovações da época. Gerando espaço para o desenvolvimento de vários equipamentos de colheitas. Além
da primeira versão de colheitadeiras desenvolvidas por Hussey, surge a colheitadeira de McCormick, este
abriu uma fábrica em Virgínia, estado norte americano, expandindo seu negócio para Chicago, chegando
a produzir cerca de quatro mil máquinas por ano, tornando-se o maior produtor em 20 anos. Seu
deslocamento para Chicago teve como propósito acompanhar os agricultores através das pradarias e
planícies recém conquistadas (FONSECA, 1990).
O sucesso das máquinas até então desenvolvidas (ceifadeiras e enfardadeiras) que dependiam
apenas de tração animal para seu funcionamento, encorajaram novas inovações no sentido de criar uma
dependência de mão-de-obra humana, como máquinas destinadas para a cultura do milho que arava,
semeava e cobria em uma mesma operação e um ancinho3 para feno e grãos, ambos tracionados por
animais.
Para Rasmussen, 1983 apud Fonseca (1990), é a guerra civil norte americana que fornece todo o
ímpeto para uma grande mudança agrícola e para conversão de tração humana e tração animal para força
mecânica. Os estados unidos foram os pioneiros no uso de tratores, grandes trilhadoras e “combines”, as
colhedeiras, que executavam em um dia o processo de colher 12 hectares de trigo e realizar todas as
operações necessárias, até o ensacamento do grão, todas ela movidas a vapor. Em, Dakota, estado norte
americano, por volta de 1880, fazia-se aração em grande escala, com dezenas de arados trabalhando
simultaneamente e paralelamente. Esses arados eram montados sobre pequenos carros sobre duas rodas
onde um homem direcionava quatro cavalos, que geravam a tração, para o cultivo de imensas áreas com
produtos destinados ao mercado.
Após o “Homestead Act”4, em 1862, a ocupação de novas terras nas pradarias e depois o oeste e,
também, a construção das grandes estradas de ferro, possibilitaram a criação de uma agricultura moderna
e mecanizada nos Estados Unidos. As máquinas a vapor eram utilizadas em várias atividades agrícolas,
sendo exemplo de sua utilização: Oliver Dalrymple, fazendeiro de trigo no Minessota, assim como outros
fazendeiros do Red River Valley, em Dakota do Norte , em 1880, iniciaram seu cultivo de trigo usando
tratores a vapor (RASMUSSEN, 1983). Vale observar que a mecanização não ficou limitada às grandes
fazendas monocultoras, mas expandiu-se para os outros agricultores. Essa tendência à mecanização
firmou-se, no começo do século de 1900 as vendas anuais de máquinas agrícola, nos Estados Unidos,
incluindo as exportações, alcançou 101 milhões de dólares, frente a 7 milhões de dólares ao ano,
alcançados há 50 anos atrás (FONSECA, 1990).
2- Evolução Tecnológica dos Tratores no Século XX
Os tratores substituíram os animais à tração animal completamente na América do Norte antes da
Segunda Guerra Mundial, e não Europa pouco depois da mesma (exceto Itália, aonde o processo foi mais
lento). O trator assemelhava-se às maquinas movidas a vapor, charrua, usada na agricultura, usada pelos
agricultores americanos e canadenses no século passado. A fabricação de tratores atingiu seu auge em
1913, quando dez mil tratores foram fabricados. O primeiro trator a gasolina foi construído em 1892 na
manufatura de Froelich (engenhoca com um motor), nos Estados Unidos, ver Figura 4.1 O
2
Pradaria é uma planície vasta e aberta onde não há árvores nem arbustos, com capim baixo em abundância. Estão localizadas em praticamente todos os
continentes, com maior ocorrência na América do Norte.
3
O ancinho é um instrumento utilizado na agricultura e na jardinagem constituído por um longo cabo de madeira preso a uma travessa dentada, geralmente de
metal. É utilizado para coletar materiais, como folhas, grama solta, palha, feno e, também, em hortas para preparar a terra para o plantio. É conhecido,
também, por gadanho ou rastelo.
4
Lei da Propriedade Rural (Homestead Act), foi uma lei criada pelo Presidente Abraham Lincoln no dia 20 de maio de 1862. A lei determinava a transferência
de terra do Estado para pequenos agricultores, incluindo os escravos negros, definitivamente libertados pela guerra.
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desenvolvimento de Froelich foi adquirido por Jonh Deere, servindo como base para seus tratores no
início do século. Somente em 1895 foi apresenta um projeto de automóvel movido à gasolina, projetado
por Selden (WRIGHT, 1990). A primeira fábrica de trator, Hart-Parr Company, surgiu em Iowa, estado
norte americano, em 1905, por meio de grande esforço de um grupo de pesquisadores da Universidade de
Wisconsin, logo depois esta empresa foi incorporada pela Oliver (FONSECA, 1990).
Figura 4.1 Trator Froelich movido à gasolina.
Fonte: http://www.campsilos.org/excursions/grout/two/froelich_tractor_lg.jpg
O desenvolvimento do mercado para tratores movidos à gasolina ou diesel foi lento até a Primeira
Guerra Mundial. Fatores como elevação dos preços dos produtos agrícolas, escassez de mão-de-obra e o
estímulo do governo norte americano, encorajaram os fazendeiros a realizar a transição para a
mecanização, estimulando a produção industrial.
Na década de 1920 a mecanização da agricultura nos Estados Unidos aumentou moderadamente,
após o New-Deal5, devido aos programas agrícolas promovidos pelos Estados Unidos, e após a Segunda
Guerra Mundial que a transição para mecanização ocorreu fortemente, aumentando o mercado norte
americano consideravelmente. No período entre as Guerras Mundiais, o mercado americano de tratores
apresentou pequeno aumento, mas o seu desenvolvimento tecnológico foi muito significativo. Este
avanço se deu por meio de inovações de produto e avanços consideráveis no processo de produção,
principalmente na linha de produção.
Até 1913, o processo de montagem dos tratores era completamente descontínuo. Neste ano tentouse implantar o primeiro processo de montagem de tratores em série. Nos anos seguintes, as melhorias
ocorridas e incorporadas, como ignição por magneto (que permitia uma maior impulsão de arranque) e a
introdução do motor a querosene (operava sem a necessidade de água para controlar o aquecimento),
permitiram aumentar o desempenho do trator. O desenvolvimento de um sistema de acionamento de força
foi desenvolvido e bem sucedido em 1918, dando potência na transmissão de força para diversos
implementos.
O Fordson, ver Figura 4.2, foi o primeiro trator a obter grande sucesso, montado pela Ford e
lançado em 1917. A grande inovação deste trator estava na linha de produção, onde pela primeira vez um
trator foi montado em série, permitindo uma expressiva redução nos custos, em relação aos outros tratores
montados descontinuamente, abrindo caminho para sua difusão na agricultura. Num mercado estimado de
135 mil unidades de tratores, em 1918, a Ford atingira a marca de 25%. Sendo que em 1925, alcançou a
marca 70% dos 158 mil tratores vendidos apenas nos Estados Unidos (FONSECA, 1990).
Figura 4.2 – Modelo Fordson
Por volta de 1920, já existia um projeto básico de trator que permaneceu basicamente o mesmo
por durante duas décadas. Esse projeto básico, cuja concepção era o Fordson, pode ser considerado como
uma inovação primária. A partir dele foram sendo incorporados vários avanços técnicos com
5
O New Deal foi uma série de programas implementados nos Estados Unidos entre 1933 e 1937, no governo de Franklin Delano Rooselvelt, com o objetivo
de recuperar e reformar a economia norte americana, e assistir aos prejudicados pela Grande Depressão.
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características de inovação e melhorias técnicas. Mesmo assim, a utilização do trator estava restrita a
poucas operações iniciais de preparo do solo. Sendo que uma versatilidade da máquina ocorreu após uma
série de esforços dirigidos para melhorar seu funcionamento, adequando-se a operações menos
rudimentares.
Após vários esforços tecnológicos, que duraram cerca de dez anos, foi desenvolvido um trator de
uso geral, por volta de 1925. O Farmall (ver Figura 4.3), da International Harvester, representa o primeiro
trator adaptado a uma série de operações agrícola. A grande novidade foi a introdução de uma mecanismo
que facilita a elevação dos implementos do nível do solo. O Farmall possibilitou que a tratorização fosse
estendida às culturas extensivamente alinhadas.
Figura 4.3 – Modelo Farmhall
Entre os anos de 1920 e 1940 foram lançadas outras novidades, a Jonh Deere introduz o modelo
“D” (ver Figura 4.4) com custo menor em relação ao Fordson, que serviu como referência para outros
tratores de sua linha, até os anos de 1960.
Figura 4.4 - Modelo D da John Deere
H. Hans, em 1921, desenvolveu o Lanz Bulldog (ver Figura 4.5), que tinha como vantagem, em
relação ao trator da Jonh Deere, é que poderia ser operado com qualquer tipo de combustível (gasolina ou
óleo vegetal), apresentando um menor número de componentes. Foram vendidas mais de seis mil
unidades deste modelo. Em 1923 esta empresa desenvolveu o primeiro trator com tração nas quatro rodas,
que não deslanchou no mercado. A Deere comprou sua planta da Lans em 1956.
Figura 4.5 - Modelo Lanz Bulldog
Outro desenvolvimento que houve no período foi a substituição da roda de ferro pela pneumática
de borracha, a grande evolução desta substituição se deu em 1938. A Continental inicia a fabricação de
pneus para Lans em 1931. Com a introdução dos pneumáticos, o trator ganha maior equilíbrio e
estabilidade, facilitando a sua operação em campo. Outro ponto importante com a substituição dos pneus
foi que a capacidade de tração dos tratores simplifica consideravelmente seu deslocamento ao longo de
estradas pavimentadas ao mesmo tempo em que representa aumento de conforto para o tratorista. Entre
1935 e 1940 a comercialização destes tratores passou de 14% para 95% (FONSECA, 1990).
Este trator passou a ser considerado como padrão máximo de desenvolvimento tecnológico do
trator, mantendo-se o projeto básico original praticamente inalterado. Os desenvolvimentos tecnológicos
que ocorrem neste período foram apenas aperfeiçoamentos do projeto básico inicial. Com o decorrer do
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tempo, o espaço para agregar novas modificações, supondo inalterável a concepção tecnológica do
modelo Farmall, estava esgotado é já não restava campo para aperfeiçoamentos adicionais.
Em 1947, houve um novo impulso na inovação tecnológica para tratores, com o desenvolvimento
do sistema de “três pontos” e do controle hidráulico remoto na operação com implementos. Até então, ao
operar com arado, o trator defrontava-se com forte resistência do solo sobre os implementos, tendendo a
virar, para compensar adicionava-se peso na frente do trator o que representava outro problema. A
introdução deste engate no mecanismo de junção do trator com os seus implementos proporcionaram
maior flexibilidade às operações, permitindo que se trabalhasse com implementos cada vez mais pesados.
Com outras melhorias significativas na indústria de tratores, a evolução do controle hidráulico e
do engate ficou possível por meio de uma série de pequenos aperfeiçoamentos. Permitindo também
melhoria no desempenho do conjunto trator e implementos. Kudrel (1975) acredita que este
desenvolvimento representa um salto considerável, sendo uma “revolução” representada pelo sistema
Fergurson no processo de desenvolvimento dos tratores.
Este sistema hidráulico, patenteado pela Ferguson em 1926, juntamente com período de
refinamento, na Inglaterra, foi adaptado a um trator nos Estados Unidos em 1939, através e um acordo de
fabricação com a Ford que durou até 1946. Em 1936 a Deere patenteava o seu sistema hidráulico.
2.1 - Desenvolvimento do Trator após no Pós Guerra
As ondas de desenvolvimentos tecnológicos na indústria de tratores no pós-guerra tiveram como
importante propulsor a indústria automobilística e de auto-peças. As inovações incrementais
compartilhadas entre essas indústrias destacam-se: motores a diesel, mecanismo de direção hidráulica,
sistema de transmissão automática e aperfeiçoamentos nos mecanismos de embreagem. Algumas
melhorias foram desenvolvidas pela própria indústria de tratores, destacando-se o aperfeiçoamento do
mecanismo de tomada de força contínua, que permite ao trator desengrenar sem interromper a
transmissão de força para os implementos; introdução da tração nas quatro rodas; incorporação de rodas
duplas; e adoção de cabines de proteção do operador (FONSECA, 1990).
O sistema Ferguson traz um novo conceito, onde se valoriza o conjunto trator e implementos,
chamado de sistema de montagem integral. Este modelo trouxe inovações importantes no mecanismo de
engate e controle dos implementos, que permitia melhor distribuição do peso do trator em operação,
facilitando a operação com os implementos associados. Este trator passou a ser oferecido em escala
industrial em 1946, tornando-se praticamente universal após os aperfeiçoamentos realizados pela outras
fabricantes. Na década de 1950 o modelo tinha sido adotado pela Europa, Austrália, América do Sul e em
outros países.
Segundo Sahal (1981) apud Fonseca (1990), entre 1948 e 1968 a potência média dos tratores
passou de 27 HP6 para 70 HP. Outra tendência foi o surgimento de tratores de menor porte (minitratores
ou motocultivadores), onde as melhorias introduzidas ajudaram a aumentar a estabilidade do veículo. O
investimento no desenvolvimento de máquinas com potência maior foi dinamizado pelo crescimento do
mercado europeu no pós-guerra e, também, pelo aumento das unidades agrícolas, que estavam
aumentando paulatinamente, demandando, portanto, cada vez mais máquinas de maior porte.
2.2 - Padronização da Indústria de Máquinas Agrícolas
Nos anos de 1950 as máquinas agrícolas entraram num processo de convergência. Este processo
iniciou-se após a criação do desing do trator Ferguson, que serviu de padrão para outros fabricantes. Essa
onda de padronização foi acompanhada, também, pela ampliação da gama de produtos vendidos pelos
fabricantes de tratores, que passaram a desenvolver e comercializar maior número de implementos que
acompanhavam este produto, associados no conceito e “full-lines”. Sendo que este “fenômeno” permitiu
maior integração da indústria no mundo, a partir da padronização Ferguson. Facilitando o intercâmbio de
componentes a nível mundial (FONSECA, 1990).
Kudrle (1975) apud Fonseca (1990) analisou a absorção da tecnologia inovadora da Ferguson,
introduzida no mercado em 1946, pelos Estados Unidos, Inglaterra e resto da Europa. A incorporação
daquele padrão tecnológico foi mais rápido na Inglaterra que nos Estados Unidos, já que naquele país o
apego aos antigos padrões tecnológicos era maior que neste país e, também, pela “má avaliação das
6
HP, Horse Power, é uma unidade de potência necessária para elevar verticalmente de 1 pé/min uma massa de 33.000 libras.
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tendências de mercado por parte das empresas” norte americanas. Já para o resto da Europa a
incorporação foi mais lenta por motivos de renda rural, bem com da pequena dimensão dos
estabelecimentos agrícolas dos países (FONSECA, 1990, Pág. 76).
Com o lançamento do Ferguson a participação da Ford no mercado cai acentuadamente. Em 1952
a Ford se adapta aos novos padrões tecnológicos, seguida pela David Brown e Nuffield. A Harvester
mantém-se atrás tecnologicamente nos mercados americano e europeu, explicado pelo seu fraco
desempenho naqueles mercados. Nos ano de 1960 os componentes hidráulicos eram considerados “luxo
desnecessário” para os fabricantes europeus, apenas na França a Massey e Harvester aperfeiçoaram sua
capacidade de competição, por meio de um mecanismo de elevação que facilitava a mobilidade dos
implementos, diferente do Ferguson, pois este não tinha controle de profundidade e mecanismo de
engrenagem que deixasse o trator multiplamente versátil sem afetar sua força. Na década de 1960 as
manufaturas americanas fabricavam tratores cada vez mais semelhantes, com sistema hidráulico e
mecanismos de transmissão cada vez mais semelhantes, às vezes fornecidos pelo mesmo fabricante.
Apenas a Jonh Deere se manteve fiel ao seu desing tecnológico anterior (FONSECA, 1990).
Neste período começou a surgir, nos Estados Unidos e Europa, comitês e associações
encarregados de sugerir especificações formais para os produtos – estabelecimento de dimensões e
posicionamento de peças e componentes visando, principalmente, o sistema de engate. Essas normas, em
geral, surgiam originalmente nos Estados Unidos e eram disseminadas para o resto do mundo. Para a
adequação às normas fazia-se necessário a universalização do sistema de engate. Porém, esta estratégia
estava em desacordo com as estratégias das maiores montadoras de tratores, que queriam manter seu
controle sobre a comercialização dos componentes e implementos, em alguns casos querendo manter seus
implementos como parte de seu trator, incompatibilizando definitivamente o uso de implementos de
outros fabricantes, seguindo o conceito de “full-line”. Como conseqüência, houve grande proliferação de
prestadores de serviços e produtores especializados em implementos, que por sua vez eram associados por
vínculos de fornecimento aos fabricantes de tratores. A tendência de padronização dos tratores tem grande
influência na estrutura do mercado de máquinas agrícolas, sendo que esta padronização permitiu que as
matérias-primas e commodities fossem comercializadas de forma ágeis e padronizadas (FONSECA,
1990).
Em alguns países houve uma tendência contrária à padronização. Na Alemanha, por exemplo, a
unidades agrícolas eram de pequeno porte e utilizavam tratores de pequeno porte, de um ou dois cilindros.
A Daimler-Benz, em 1948, desenvolveu um projeto, Unimog, que era próximo de um cruzamento entre
um trator e uma caminhonete pickup com tração nas quatro rodas. Na Itália existia outro trator de
pequeno porte e com tração nas quatro rodas, para adaptar-se à agricultura de relevos fortemente
irregulares (FONSECA, 1990).
A tendência de padronização não foi tão forte para as colheitadeiras, já que para este produto a
especificidade de cada cultura determinava sua tecnologia, adotando-se tipos diferentes de colhedeiras
para diferentes culturas, sendo necessário desenvolvimento de componentes e implementos específicos e
não generalizados, como ocorria com os tratores.
Segundo Fonseca (1990) o processo de dinamismo de inovação tecnológica foi diminuindo com a
padronização, já que se criou um projeto inerte tecnologicamente. Essa inércia foi compensada pela
economia de aprendizado tecnológico que manifestou entre as indústrias de equipamentos e o conjunto de
indústria metal-mecânica. Dentro da indústria de máquinas agrícolas, as empresas produtoras destes
equipamentos tenderam a se organizar nos mercados de implementos, deixando os produtores presos às
suas decisões.
3 - Organização do Mercado de Máquinas Agrícolas Pós Guerra
Segundo Fonseca (1990), esta indústria se organiza como oligopólio que se apoiava na
diferenciação dos seus produtos, que foi fortemente influenciada pelo processo de “mudanças cumulativas
não radicais” (P. 84). As empresas direcionaram seu foco para a competição na vida útil dos
equipamentos e no desempenho. Outro diferencial das vendas é o foco na distribuição dos produtos, um
dos principais fatores que levam as montadoras à liderança neste mercado. As inovações não eram
radicais, mas o setor apresentava um dinamismo próprio de evolução por meio de seus projetos e desing aprendizado pelo uso (processo de aperfeiçoamento dos equipamentos agrícolas estimulados pelos
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fornecedores – indústria de auto-peças e metal-mecânica). Estes desenvolvimentos se davam após certo
tempo de uso dos equipamentos pelos produtores. Outro ponto destacado pela autora é que:
(...) modificações tecnológicas no nível do produto rebatem sobre o processo de produção, exigindo inversões na
etapa de desenvolvimento de produtos, na ‘racionalização’ dos métodos produtivos, bem como a modernização do
processo de fabricação. Nessas circunstâncias a capacidade de financiamento das empresas torna-se um elemento
crucial, embora possa ser parcialmente substituída por políticas de crédito facilitado e subsídios concedidos pelo
Governo, pelo menos durante algum tempo. Além disso, a capacidade financeira deve ser suficientemente grande para
permitir montar e manter eficiente sistema de distribuição em cada um dos mercados em que as empresas atuam, o
que também exige investimentos (P. 84).
Após o término da Segunda Guerra houve grande aumento nas vendas de máquinas agrícolas, com
rearranjo no número de empresas atuantes no mercado e mudança de liderança. A escassez de produto no
mercado fez com que um trator fosse vendido por até 2 ou 3 vezes o seu preço. A demanda era tão grande
que, segundo Kudrle (1970), mais de 20 pequenas empresas passaram a atuar na indústria norte americana
de tratores nesse período. Porém estas empresas fecharam com a primeira retração do mercado, que
ocorreu na década de 1950, devido ao fato destas terem dificuldades na execução de projetos mais
sofisticados, elevados custos de produção e de distribuição.
Após o forte crescimento do mercado no pós-guerra, o crescimento do mercado nos Estados
Unidos, Japão e Europa, neste período, foi lento, porém constante, concentrado na reposição de
equipamentos obsoletos e com o tempo de vida útil ultrapassados. Nestas circunstâncias, o tempo de vida
dos maquinários agrícolas se torna fator fundamental para venda de novos produtos nestes países. A
durabilidade dos maquinários agrícolas de grande porte era avaliada entre 10 e 15 anos, tornando a
renovação, dos mesmos, lenta e “infrequente”. Estes fatores fizeram que a expansão das vendas não fosse
favorável. Com a forte padronização dos produtos causou uma inércia tecnológica neste setor, fazendo
com que os “players” baseiem seus produtos em concepções básicas.
Os mercados tornam interdependentes e as empresas são obrigadas a levar em conta as estratégias dos
concorrentes, mesmo em continente diferentes. Ao final da década de sessenta, três dos maiores fabricantes de tratores
de rodas, Massey Fergusson, International Harvester e Ford, participavam, expressivamente em cerca de sete países.
A participação conjunta dessas empresas, na ocasião, chegava a 60% na França, 62% na Itália, 72% nos Estados
Unidos, 75% na Austrália e 80% na Inglaterra. Em 1960, na Inglaterra, os quatro maiores fabricantes (Massey, Ford,
Harvester e Leyland) dominavam mais de 85% do mercado de tratores. Na Itália, Fiat Same, Landini e Ford
respondiam por 77% da produção. Os menores índices de concentração surgiam na França e Alemanha, ambos em
torno de 40 a 50%. Na América do Norte, nos anos 70, as vendas da Massey, Ford, Harvester e Deere representavam,
em conjunto, mais de 70% de um total de 250 mil unidade/ano. Na Austrália, das quatro firmas presentes no mercado,
só três respondiam por 70% das vendas. (...) em 1983, o valor das dez maiores fabricantes mundiais atingia 16,2
bilhões de dólares no início da década de 1980, representando cerca de 73% de todo o mercado, excluindo-se os
países da Europa Oriental. A produção conjunta da Massey, Ford, International e Deere alcançava, então, mais de
45% do mercado. Kubota, Fiat, Case, Allis-Chalmers, Deutz e Renault, junto com os quatro maiores, traziam a
concentração para mais 70% do total. Levando-se em conta a recente aquisição da Harvester pela Case, estima-se que
o nível de concentração calculado pelas quatro maiores já se aproxime de metade do faturamento mundial da indústria
(FONSECA, 1990, P. 90).
Na década de 1980 houveram grades mudanças entre as principais empresas. As vendas de
equipamentos atingiram a marca de US$ 22 bilhões, deste valor US$ 8 bilhões nos Estados Unidos. As
empresas líderes em termos de vendas são: John Deere, International Harvester, Massey Ferguson, Fiat,
Ford, New Holand, Tenneco-Case, Kubotta-Tekko a Allis Chalmers e a empresa alemã Klocker Hunbold
Deutz. Justas totalizavam cerca de 70% das vendas no mundo. Em 1985 estes players mudaram no
mercado, com a Ford absorvendo a New Holand e a Case incorpora a International Harvester. A
participação da Case no mercado americano e canadense era em torno de 8% em 1980, passando para
26% naqueles países e assumindo 14% da participação no resto do mundo. A integração Ford – New
Holland teve como estratégia diversificação de mercados dos conglomerados Ford e Sperry New Rand, já
que com a aquisição a empresa conseguiu completar sua linha de equipamentos (FONSECA, 1990).
A Deere norte americana sustentava a liderança em termos de valor de venda, com 20% de todo o
mercado mundial, concentrando suas vendas no mercado norte americano. A Massey poderia ser
classificada líder mundial em termos de unidades vendidas. A New Holland tinha liderança na vendas de
colheitadeiras, disputando com a Massey-Ferguson e com a Claas, empresa alemã (FONSECA, 1990).
A Fiat e Deere tinham como forte estratégia suas forças nos mercados nacionais. A Ford,
Harvester e Massey desenvolveram estratégia de expansão global. Sendo que a Massey tinha a maior
internacionalização, pois tinha planta em mais de vinte países, explorado mercados em países como
Brasil, Argentina, Índia, África do Sul, entre outros. Esta estratégia da Massey tinha como foco o
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fortalecimento de sua concorrência com as grandes empresas do período, Deere e Harvester, e, também,
como resposta aos incentivos à instalação de indústrias promovida pelos governos daqueles países. Após
aventurar-se nos mercados menos maduros daqueles países e enfrentar grande crise financeira no final da
década de 1970, as expectativas de vendas da Massey não se concretizaram, fazendo com que a empresa
mudasse sua estratégia, retirando-se de alguns países, preservando apenas seu acordo de fornecimento de
tecnologias às antigas subsidiárias, garantindo sua participação no mercado mundial.
3.1 - Importância da Economia de Escala para o Setor
Fonseca (1990) aponta a importância das Economias de Escala até os anos de 1990, porem ressalta
que a mesma poderia ser responsável por alto grau de concentração industrial. Estas economias
manifestam tanto nas plantas industriais, como nas firmas. No último caso, diz respeito a aspectos
indiretos ao processo de produção. International Harvester, Deere, Ford, Massey Ferguson, Case e
White, são grandes organizações que possuem multiplantas e multiprodutos que se beneficiam tanto de
economias de escala quanto ao nível de planta da firma. Servindo de parâmetro para avaliar o
desempenho industrial (FONSECA, 1990).
Economias de Escala podem ser atribuídas a três fatores: “custo de ampliação dos equipamentos e
instalações incluindo indivisibilidades técnicas, custos decrescentes de operação devido à utilização mais
‘eficiente’ da mão-de-obra, matérias-primas, insumos e energia e, finalmente, economias de grande
reserva ou estoques” (FONSECA, 1990, P. 95). Sendo que economias de escala ao nível da firma incluem
atividade de compras, distribuição, financiamento, atividade de P&D, entre outros.
Kudrle (1975) apud Fonseca (1990) ao analisar o nível de preços sobre os custos, nota-se que há
um aumento na margem de lucro, à medida que o tamanho dos tratores aumenta – este tamanho é
avaliado pela capacidade de tração do trator em HP. Essa margem de lucro tende a ser ainda maior
quando a escala de produção ao nível da planta aumenta, demonstrando que o preço por HP subia nos
Estados Unidos, caia na Inglaterra, já os custos por HP caiam nos dois países. A queda sempre aparecia
mais acentuadamente nos níveis de escala maiores, acima de 20 mil unidade/ano.
Após a II Guerra Mundial, a maior dimensão dos tratores e mudanças nos projetos passam a andar juntos.
Amplia-se consideravelmente o sistema de montagem integral trator-implemento, o mesmo ocorrendo com
subsistema e componentes, ensejando um processo contínuo de modificações nos projetos e adaptações nos produtos.
Vários melhoramentos e inovações incorporados aos tratores e colheitadeiras, neste período, revelam esta tendência
de aumento do tamanho. A adoção da tração nas quatro rodas é uma das inovações que se tornam quase obrigatórias
em modelos maiores. Além da tração 4x4, o uso de motores turbinados – em geral, maiores do que os convencionais e
de componentes mais complexos passa a acompanhar o aumento de tamanho do trator. (...) a inter-relação entre
padrões técnicos existentes na agricultura, revelados através de práticas de cultivo (best-practices) e as trajetórias do
progresso técnico na fabricação dos equipamentos (e insumos industrializados). Esta inter-relação é mediada pelos
padrões de concorrência existente na indústria de equipamentos e, eventualmente, sancionada pelas políticas agrícolas
que dão suporte financeiro às atividades agrícolas (FONSECA, 1990, P. 96).
As características reforçam o aumento da escala das operações agrícolas, de certa forma,
independente do aumento da área rural. Sendo que a tratorização por si só não conseguia proporcionar
vantagens de escala, mas através da combinação com outros produtos os ganhos de escalas seriam
possíveis.
Economias de escala nas compras são basicamente descontos dos fornecedores às empresas de
máquinas agrícolas. As indústrias de tratores e colheitadeiras dependem fortemente de compras de peças e
sistemas oriundos de outras indústrias e setores. Fonseca (1990) analisou estudo realizado pela UNTC e
apontou que um trator “standart” (padrão) produzido na década de 1980 era composto por duas mil
partes, sendo que certa de mil e quatrocentas peças dos tratores “eram manufaturas por fornecedores que
mantém alguma forma de integração com a indústria de tratores. As colheitadeiras (...) seu processo de
fabricação não poderia ser totalmente automatizado, dificultando a obtenção de economias de
massificação de produtos” (P. 98).
Como dito anteriormente, as economias de escala ocorrem também na distribuição dos produtos.
Usando parâmetros de expansão de 20 para 90 mil unidades ano por estabelecimento os custos não
operacionais, considerando custos de P&D, decaiam de 25% para 18%. Estimando, também, que para
montar um sistema de distribuição eficiente fazia-se necessário investimento de cerca de US$ 300
milhões (FONSECA, 1990, P. 103).
Outro estudo apontado por Schwartzman apud Fonseca (1990), demonstra o afirmado acima, os
gastos com atividades administrativas, incluindo P&D, para as grandes empresas do período analisado
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correspondiam em torno de 18% do custo total do produto (3% administração, 7% Redes de Revenda, 5%
Financiamento Estoques e 3% P&D). Existe grande diferença no investimento em P&D entre as
empresas, a Deere aplicava em torno de 5% de suas vendas, a Massey de 2 a 3%.
Outro fator importante a ser analisado é que economias de escala, no geral, são acompanhadas por
economias de complementaridade, que podem ser obtidas através de um aumento mais que proporcional
na produção de componentes e peças. A existência de economias de complementaridade está associada à
semelhança entre elementos no processo de produção padrões. Alguns exemplos de economias de
complementaridade para tratores são: em componentes produzidos, sistemas mecânicos e elétricos e
motores (KUDRLE, 1970 apud FONSECA, 1990).
Segundo Fonseca (1990) com o perigo eminente de perda de mercado por meio de deslocamento
competitivo faz com que as empresas tenham postura mais “agressiva” em relação aos seus concorrentes.
Em situações como essa faz com que a tecnologia seja uma forte arma para o progresso de novos
produtos e no aumento da qualidade de produtos já existentes. Porém, quando a estrutura de concorrência
encontra-se estável faz que estas empresas busquem melhorias técnicas buscando a redução dos seus
custos de produção, associadas às econômicas de escala.
3.2 - Estratégias de Especialização das Empresas e Diversificação dos Produtos (“full-lines” e “longline”)
A combinação entre vantagens de especialização proporcionadas pela existência de economias de
escala, com certo grau de diversificação em torno de linhas e capacitação tecnológica são armas
concorrências para as empresas atuarem no mercado, já que, principalmente, as grandes empresas têm
como estratégia a integração da indústria em torno de full-lines ou long-lines, que reflete uma coerência
na estratégia da empresa.
Dosi, Winter e Teece, XX apud Fonseca (1990) discorrem sobre as noções de “coerência” ou
“especialização coerente”, permitindo a inclusão de várias linhas de produtos que tenham em comum
vários procedimentos técnico-produtivos, conforme as características de seus ativos fixos, proporcionado,
assim, as chamadas economias de escala ou economias de custo. Essa estratégia permite a exploração de
práticas e rotinas comuns ao processo de montagem, de modo a permitir intercâmbio máximo de peças,
motores e componentes.
Fonseca (1990) dividiu os equipamentos utilizados na agricultura em quatro grupos: tratores,
colheitadeiras, implementos e equipamentos associados ao trator (preparo do solo, tratos e plantio) e os
implementos usados após a colheita, para a possível classificação das empresas conforme sua estratégia
ou full-line, ou long-line, ou fornecedores especializados.
Sendo assim, fabricantes que atuem sob base técnica semelhante, embora produzam para
mercados diferentes e produzam pelo menos um dos grupos de equipamentos agrícolas com sues
respectivos implementos e acessórios, podem ser classificas pela estratégia long-line. A autora aponta as
empresas que adotaram essa estratégia, dentre estas estão as principais produtoras de carros no mundo,
que também fabricavam tratores: Ford, Fiat (líder na produção de tratores na Europa), Volvo e Régie
National des Usines Renault (francesa), que eram produtoras de carros e caminhões e também fabricavam
tratores. A Sperry New Rand fazia parte da industria de equipamentos agrícolas por meio da New
Holland. A Volvo tinha acordo com a Valmet, que desenvolveu nova geração de tratores, denominados
Nórdicos. O conglomerado Tenneco atuava na indústria por meio da Case, que adquiriu a Harvester e
David Brown. A Caterpillar também atuava no mercado, de forma marginal.
O desenvolvimento tecnológico destes fabricantes de tratores estava diretamente atrelado ao
mercado automobilístico (automóveis, caminhões e autopeças), ou mercado muito similar, caso da
Caterpillar, permitindo que o aproveitamento máximo de economias de complementariedade e de escala.
Já a estratégia full-line é adotada quando existem fortes convergências quanto aos métodos de
fabricação e uso de insumos. Este tipo de estratégia ocorre quando a empresa fabrica pelo menos dois dos
quatro grupos de equipamentos mencionados pela autora, o que na prática inclui fabricante de tratores e
colheitadeiras, com seus acessórios, além de diversos implementos. Exemplo de conglomerados que
utilizaram essa estratégia são: Deere, Chalmer, Harvester/Case, Massey (estas são as maiores empresas
da época), assim como outras empresas menores: Kubotta e Deutz-Fahar. As vendas conjuntas destas
empresas atingiram por volta de 54% do faturamento total da indústria em 1980.
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Fonseca diz que este tipo de estratégia compromete as empresa se conglomerados, que já
apresentam forte verticalização, pois quanto mais vertical a empresa for menor será o seu grau de
liberdade para diversificar-se em direção a novas linhas de produtos. Porém, uma das principais
vantagens da estratégia full-line é atenuação da sazonalidade da demanda por seus equipamentos (por
exemplo, no Brasil a demanda por tratores é maior nos meses que antecedem o início das atividades de
preparo do solo, de abril até setembro, já a demanda por colheitadeiras ocorre nos meses de novembro a
fevereiro), otimizando a utilização de seus recursos, como mão-de-obra e uso de equipamentos de uma
mesma planta. Outra vantagem em adotar essa estratégia é a operação com revendedores exclusivos, já
que o revendedor deve ter a capacidade de fornecer toda linha integrada, comprometendo-se
completamente com o sucesso ou fracasso daquela empresa. Além de uma ampla rede de distribuição e
assistência técnica ligando agricultores, revendedoras e fabricantes, é da facilidade de transferência de
informação dos agricultores para os fabricantes, permitindo que a indústria obtenha capacitação para
enfrentar problemas manifestados lentamente, à medida que os equipamentos são usados. Quando a
empresa tem capacidade de sistematizar este conhecimento, learning by using, incorporando-o às
atividades de desenvolvimento de projetos e de produtos, incentivará seu potencial tecnológico
proveniente do aprendizado pelo uso.
Fonseca ressalta que a força da full-line na América do Norte foi conseqüência da necessidade da
indústria estabelecer contato direto com os dealers para efeito do financiamento do produto, viabilizando
a aquisição de equipamentos pelos agricultores americanos e contornando o problema de baixo nível de
renda dos mesmos. Além disso, grande parte do custo de distribuição naqueles países decorria do
fornecimento de crédito para os distribuidores, permitindo-os manter estoques ao nível de atacado.
4 - Atual Dinâmica da Indústria e dos Investimentos no Mundo e Brasil
Como explanado nos capítulos anteriores, até a década de 1990 a indústria de máquinas agrícolas
teve inovações incrementais, mantendo-se o padrão e desing até então desenvolvido. Sartti, Sabbatini e
Vian (2009)7 apontam em seu trabalho (Projeto PIB – Perspectiva de Investimento no Brasil: Relatório
Preliminar do Estudo no Setor) que o padrão de desenvolvimento do setor no período pode ser definido
como um “somatório” de avanços condicionados pelas operações e pelas “adaptações” a outras condições
de solo e clima e capacidade de adaptação de implementos melhores e mais pesados. Apenas nos anos
1990 surgiram algumas novas tendências em termos de design dos tratores.
Para Sarti, Sabbatini e Vian (2009) as tendências atuais de mercado são: maior potência e a
automação das máquinas, permitindo melhor eficiência, maiores ganhos e redução de custos, com as
empresas do setor, agora muito mais concentrada que nas décadas anteriores, buscando cada vez mais a
diferenciação pela qualidade e por potência dos tratores e colheitadeiras.
Sartti, Sabbatini e Vian (2009) apontam em seu trabalho que a “localização e a estrutura atual das
indústrias de máquinas e implementos agrícolas foram condicionadas por um longo processo de evolução
técnica e pela ocupação dos mercados domésticos dos respectivos países”, porém isso vem mudando e
atualmente estas indústrias estão se instalando em outros países com grande potencial para o setor, como
o Brasil, Índia e China, com perspectivas para abastecerem também os países vizinhos e a África (P. 5).
Na Tabela 1, abaixo, segue a relação entre área agricultável e número de colhedoras para países
selecionados.
TABELA 1 Relação da área8 destinada à agricultura e número colheitadeiras utilizadas, para
países selecionados entre 1990 e 2005
País
Alemanha
Itália
França
China
Estados
Unidos
Argentina
Canadá
Rússia
1990
80
255
155
3393
1995
89
217
170
1497
1996
89
218
173
1191
1997
89
218
176
1187
1998
90
211
182
758
1999
89
224
190
712
2000
89
215
215
640
2001
89
203
215
581
2002
89
204
215
495
2003
89
197
224
424
2004
90
195
234
396
2005
90
189
245
391
283
561
295
361
270
544
338
443
270
544
345
474
270
544
345
518
373
570
443
554
372
576
470
604
374
578
502
634
375
580
538
676
436
583
553
724
439
584
569
787
433
590
585
867
433
590
603
958
7
Os resultados apresentados no Projeto PIB: Perspectiva do Investimento no Brasil – Relatório Preliminar do Estudo Setorial, tendo como autores Fernando
Sartti; Rodrigo Sanattini; e Carlos Eduardo de Freitas Vian, não foram publicados até o momento. Portando, toda e qualquer mudança nos resultados citados
nesta monografia, posteriormente à publicação da mesma, é de responsabilidade dos autores responsáveis por aquele projeto.
8
Refere-se a terras aráveis, inclusive cultivo permanente.
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Brasil
1230
1284
1258
1232
1207
Índia
57437
47831
45900
43551
41393
Fonte: Elaborada pelo autor a partir de dados básicos da FAOSTAT (2009).
1207
40411
1207
40418
1231
40343
1233
40398
1233
39866
1233
39458
1233
38557
A Alemanha vem mantendo o seu nível de mecanização desde 1995. A Itália apresentou uma melhora,
saindo de 255 ha/unidade, para 189 em 2005. O Brasil manteve-se estável durante este período.
A
Argentina também pode ser considerada integrante do rol de países com elevada taxa de mecanização da colheita,
com 544 ha/máquina em 1997, mas com tendência à estabilização. O índice de 2005 para este país foi de 590
hectares por colheitadeira.
Países com dimensões continentais, como os Estados Unidos e o Canadá, possuem elevado índice de
mecanização da colheita: a relação hectares colhidos para cada colheitadeira, em 1997, era de 270 ha e 345 ha,
para os Estados Unidos e Canadá respectivamente. A Tabela 1 mostra que estes valores cresceram nos últimos
anos, passando para 433 e 603 hectares por máquina. Para Sartti, Sabbatini e Vian (2009) este decrescimento
nestes países reflete os ganhos de potência e a crescente automação das máquinas. Sendo esta uma tendência
mundial para os próximos anos. Já países igualmente continentais, como a China, o Brasil e a Índia, apresentam
taxas de mecanização da colheita menos intensivas, em 1997 estes números eram: 1.230 ha/colhedora no Brasil,
1.187ha/ máquina na China, com substancial diminuição da área colhida por equipamento ao longo do período
analisado. A tendência brasileira não se altera significativamente ao longo dos anos 2000, atingindo 1.233
hectares por máquina em 2005. Isto demonstra que a demanda por máquinas não cresce por conta da maior
produção agrícola apenas, outros fatores devem ser analisados, como a modernização da frota e a maior potência
dos tratores vendidos atualmente. Analisando, ainda, os dados da tabela, é notável que a Índia tem potencial para
o aumento do número de colhedoras, já que a relação área agricultável por unidade de colheitadeira era de 43 mil
hectares, em 1997. A relação caiu para 38.557 em 2005.
Gonçalves, 2000 apud Sartti, Sabbatini e Vian - 2009, diz que as discrepâncias entre os países têm de
ser analisadas cuidadosamente, já que nos países tropicais as máquinas agrícolas podem ser utilizadas ao longo de
todo o ano agrícola, permitindo maior racionalidade na ocupação da frota. No Brasil e países de clima semelhante,
algumas culturas têm mais de uma safra ao ano, e as safras ocorrem em diferentes meses do ano para diferentes
regiões. Essa situação possibilita o transporte das máquinas de uma região para outra, fazendo com que seu uso
seja quase que contínuo ao longo do ano. Gonçalves exemplifica com a cotonicultura, pois a safra começa no sul
e termina meses depois na região Centro-Oeste. Países de clima temperado há necessidade de um número maior
de máquinas para a realização do cultivo, pois o período para o cultivo é menor, fazendo com que estes realizem
as tarefas de cultivo no menor período de tempo possível, elevando o número da frota ociosa.
Vegro, 1997 apud Sartti, Sabbatini e Vian - 2009, analisa a mecanização do Brasil, que para ele
traduz-se como tendência para o resto do mundo, analisado através do número de tratores. Na Tabela 2
observa-se a queda neste índice de mecanização apresentado no período compreendido entre os anos de
1960 até 1990. Houve também um aumento na área cultiva por trator, mas este índice para países
desenvolvido teve tendência inversa. Sendo assim, Vegro (1997) conclui que há correlação entre o avanço
da área plantada, preços de mercado e a demanda por máquinas, porém sem excluir a importância do
crédito destinado ao produtor rural.
Segundo Vegro (1997), o índice de mecanização mundial, medido em tratores, em 1990 foi de
52,2 ha/trator, representando a metade do índice brasileiro em 1995. Os seguintes países apresentaram
estes índices: Estados Unidos 38,7ha/trator; Canadá 61,4ha/trator; América do Sul, a média calculada
para 1993, 72,7ha/ trator, portando o continente, na média, está atrás do Brasil. No Mercado Comum do
Sul (MERCOSUL), a Argentina possuía 89,3ha/trator, também superando a média brasileira. Para Vegro
(1997) o mercado de tratores e colheitadeiras é bastante sensível à evolução da agricultura, pois conforme
há mudança na composição da pauta de produtos cultivados, abertura de novas fronteiras, necessidades de
geração de saldos cambiais, políticas econômicas e agrícolas adotadas, processos inovativos, pressões
ambientais e novas tendências de consumo, o mercado de tratores e máquinas agrícolas é, em geral,
influenciado.
Tabela 2 Área Cultivada, Frota de Tratores de Rodas e Índice de Mecanização da Agricultura no
Brasil, 1960-2006
Ano
(1.000ha) área cultivada
1960
1965
1970
1975
1980
25.673
31.637
34.912
41.811
47.641
(unidade) Frota de tratores de
rodas
62.684
76.691
97.160
273.852
480.340
(ha/trator de rodas) índice de tratorização
410
413
359
153
99
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
1985
1990
1995
2000
2005
2006
49.529
47.666
50.038
53.300
59.399
57.445
551.036
515.815
481.316
450.000
354.722
336.589
90
92
104
118
167
171
Fonte: Vegro (1997) e Sartti, Sabbatini e Vian (2009)
Sartti, Sabbatini e Vian (2009) analisam os dados da VDMA, associação alemã da indústria de
máquinas agrícolas, e destacam que a produção mundial de máquinas e implementos agrícolas para esta
empresa variou de 48 bilhões de Euros em 2005 para 57,1 bilhões de Euros em 2007. Vale a pena
destacar a maior participação da Índia e China e o crescimento da Europa e Estados Unidos, o que é
consistente com a maior demanda por máquinas para atender à maior área cultivada e pela modernização
das frotas. Concluindo que entre 2005 e 2007 por volta de 43% da produção mundial de máquinas em
2005 se concentrou na Europa Ocidental, a América do Norte ficou com 28%, a Ásia e Pacífico com 14%
e a América Latina com 8%. Apontando também que a demanda de máquinas agrícolas no mundo mostra
que algumas regiões têm um potencial de demanda menor que a produção, deixando evidente que a
Europa Ocidental e a América do Norte têm uma grande inserção exportadora.
Pela Tabela 3 é demonstrada a evolução da demanda de máquinas e equipamentos entre 2001 e
2007. É notável a grande evolução da demanda asiática e do pacífico, o que pode ser explicado pelo
avanço da modernização da agricultura na China, Índia, Camboja, Vietnã, entre outros. Observa-se que
ocorreu um pico de demanda por máquinas na América do Norte em 2005, com queda no período
seguinte. Os autores avaliaram que a variação poderia ser creditada às políticas de produção de
bicombustíveis que incentivaram o aumento da produção de milho e ao processo de renovação da frota
agrícola dos Estados Unidos, Canadá e México para atender à demanda das usinas de etanol.
A demanda mundial de máquinas em 2007, segundo a Freedonia, foi da ordem de US$ 93,2
bilhões. Nessa mesma tabela demonstra-se a distribuição percentual desta demanda. A Europa ocidental
respondeu por 27% deste total, Ásia e Pacífico por 37 %, América do Norte 22% e demais regiões 14%.
Esta consultoria estima que a demanda mundial em torno de 112 bilhões de dólares em 2012. Este
crescimento da ordem de 3,2% ao ano será puxado pelo crescimento da mecanização em países
emergentes como China e Índia, que tem baixos índices de mecanização como mostramos acima. Outra
parcela será fruto da renovação da frota de países como Brasil, Argentina, Indonésia e Rússia, que ainda
têm baixa mecanização se comparados com os países da Europa e Estados Unidos (SARTTI,
SABBATINI e VIAN, 2009).
Tabela 3 Demanda Mundial de Máquinas Agrícolas por Região – Anos Selecionados
Região\Ano
Ásia/Pacífico
Europa Ocidental
América do Norte
Demais Regiões
2001
31%
31%
26%
12%
2005
34%
24%
30%
12%
2007
37%
27%
22%
14%
Fonte: Sartti, Sabbatini e Vian (2009)
A Tabela 4 mostra a evolução das exportações e importações de implementos agrícolas, tratores,
colheitadeiras e cultivadores motorizados entre 2000 e 2007, segundo dados da Comtrade. Pode-se
perceber que o comércio mundial cresceu a taxas significativas neste período, em média 36 % ao ano. A
maior parte deste comércio está concentrada no segmento de implementos agrícolas e peças, seguido de
tratores e colheitadeiras e por fim dos cultivadores motorizados.
Grandes partes destas transações se dão entre os países da Europa Ocidental e Estados Unidos,
deixando claro que há um intenso comércio entre as filiais das empresas nestes países envolvendo peças e
máquinas prontas. Os países da Ásia e das demais regiões tem participação relativa pequena neste
comércio internacional, sendo mais importante a produção interna.
Tabela 4 Resumo das exportações e Importações de Máquinas e Implementos Agrícolas
Exportações
Importações
2000
2007
2000
Valor Comercializado (em Part. %
milhões)
2007
2000
2007
2000
Valor Comercializado (em Part. %
milhões)
2007
Implementos
Agrícolas e Peças
10.661,6
27.573,2
40.2
41.2
10.578,7
26.175,2
40.7
41.3
Tratores
7.801,5
18.750,5
29.4
28.0
7.460,7
17.327,9
28.7
27.4
Colheitadeiras
6.152,7
15.210,2
23.2
22.7
6.141,8
14.611
23.7
23.1
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
Cultivadores
motorizados
1.878,5
5.459,3
7.1
8.1
1.782,5
5.197,9
6.9
8.2
Total
26.493,4
66.993,3
100
100
25.963,7
63.312
100
100
Fonte: Sartti, Sabbatini e Vian (2009)
Sartti, Sabbatini e Vian (2009) apontam que existem boas perspectivas para a demanda mundial
por alimentos e que as regiões com potencial para a expansão da produção e da área são as dos países em
desenvolvimento, especialmente a América Latina e África, como mostra a Tabela 5, usada para a
elaboração de projeções pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Pode-se entender esta predominância do comércio de implementos e peças pela estratégia de
produção das empresas, que centralizam em algumas fábricas a produção de determinados tipos de
equipamentos e dos dedicados a certas culturas. A produção de peças segue a mesma lógica, sendo que há
um grande fluxo entre as filiais das empresas no que tange a sensores, motores e equipamento eletrônico
para máquinas usadas na agricultura de precisão.
Tabela 5 – Área Agriculturável por Blocos de países
Área Agriculturável (milhões de Hectares)
Mundo
Países em Desenvolvimento
Países Industriais
Países em Transição
1997-99
1.608
956
387
265
2015
----1017
-----------
2030
--------1076
-----------------
Fonte: FAO 2006, citado por MAPA 2008
Ao analisar o relatório da Freedonia, Sartti, Sabbatini e Vian (2009) ressaltam que os países
desenvolvidos deverão manter sua tendência de crescimento por conta dos investimentos em
biocombustíveis e da crescente tendência de uso de novas tecnologias, como a agricultura de precisão,
como o uso de satélite para transmissão de dados para controle das atividades e, também, para atividades
de adubação e pulverização, integração entre máquinas e implementos. Isto demanda a renovação da
frota, pois estes equipamentos não podem ser adaptados às máquinas antigas.
A indústria mundial de máquinas e equipamentos é um setor oligopolizado mundialmente.
Podemos destacar três empresas como as mais importantes no mundo hoje: Case New Holland, Agco e
John Deere. Elas atuam em todos os continentes através de fábricas próprias e, também, parcerias com
empresas locais.
Na Tabela 6 avalia-se a concentração a partir das três grandes empresas globais. A tabela trás a
estimativa da Freedonia para o mercado global em 2002, 2005 e 2007 e calculando a participação
aproximada com base no valor de vendas liquidas de cada empresa. Com a falta de dados para
constituição da participação das empresas, neste presente trabalho avaliou-se a participação no mercado
para as maiores. Percebe-se uma relativa estabilidade na liderança da Deere neste período, sendo que
CNH perdeu participação relativa e a AGCO cresceu por volta de 45,3%, refletindo a estratégia de fusões
e aquisições.
Tabela 6 - Estimativa de Market Share internacional em máquinas agrícolas automotrizes
Mercado Mundial
Deere
CNH
Agco
Kubota
Claas
Yanmar
Outros
2001
53,5 bilhões
11,6 bilhões
11,3 bilhões
4,75 bilhões
-
2005
70,2 bilhões
15,05 bilhões
11,17 bilhões
7,76 bilhões
-
2007
93,2 bilhões
13,0 bilhões
10,6 bilhões
6,9 bilhões
4,3 bilhões
3,4 bilhões
3,0 bilhões
58,8 bilhões
Crescimento
57%
12,1%
-6,6%
45,3%
-
(2009)
As empresas que serão apresentas a seguir têm atuação local e regional: Claass da Alemanha, a
Kubota e a Yanmar do Japão e a Mahindra da Índia. As seguintes empresas têm atuação de caráter local:
Bobard da França, Carraro da Alemanha, Renault Agriculture, Argo da Itália, entre outras. O Quadro 4.1
resume as empresas e seus locais de atuação.
Fonseca (1990) aponta a Deere como a líder de mercado nos anos 1980 com cerca de 20% do
mercado mundial, seguida pela Case/IH (15%), Massey (10%) e Ford (5%). Juntas estas empresas
respondiam por cerca de 50% do market Share deste segmento. A John Deere consolidou a sua liderança,
mantendo um market share da ordem de 13%, seguido pela Case com 10,6% e Agco com 6,9%. Estes
Fonte: Elaboração do autor a partir de dados das empresas e Sartti, Sabbatini e Vian
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
dados são diferentes da realidade nacional, onde estas empresas lideram com mais folga e onde a
concentração é maior, visto que na há concorrentes nacionais de médio e pequeno porte em máquinas
automotrizes.
Em termos históricos, este setor passou por um importante processo de fusões e aquisições,
destacando-se nos anos 1980 a aquisição da International Harvester pela Case e da New Holland pela
Ford. Nos anos 1990 há a fusão destas duas empresas que formam a atual Case New Holland e que faz
parte do Grupo Fiat após processo de integração com a Fiat Allis.
O processo de fusões e aquisições foi importante para consolidar o setor, aproveitando sinergias
entre as marcas e viabilizando a entrada em novos mercados sem a necessidade de construção de novas
fábricas. Assim, não há elevação substancial da capacidade instalada, mas uma otimização. O segmento
de implementos agrícolas mostrou-se de difícil caracterização internacional por ser composto por
pequenas e médias empresas em cada país. No Brasil percebe-se que há uma tendência de avanço das
empresas de tratores para este segmento, um processo de diversificação produtiva. Além disto, há também
a tendência de consolidação de parcerias entre empresas de tratores e implementos.
Quadro 1 – Caracterização da indústria mundial de Máquinas e Implementos Agrícolas
Empresa
Deere & Co
Origem
Americana
CNH (FIAT)
Ítalo-Americana
AGCO
Americana
Kubota
Japão,
Claas
Yanmar
Alemanha
Japão
Same Deutz Farh
Argo
Mahindra
Alemanha
Itália
Índia
Bucher Industries
Kverneland
Bobard
Carraro
Alemanha
Noruega
França
Itália
Área de Atuação
Global – Fábricas em 15
países
Global – Fábrica em
todas as regiões
Global – 140 países
atendidos
por
revendedores
RegionalÁsia
e
América do Norte
Regional
Regional
–
Japão,
Estados
Unidos
e
América Latina
Regional – Europa
Regional
Regional – Índia e
Estados Unidos
Regional
Regional
Regional
Regional
Produtos
Tratores, colheitadeiras
implementos
Tratores, colheitadeiras
implementos.
Tratores e colheitadeiras
e
Parcerias
Tianjin
Tractor
Tiantuo (China)
-
e
Tratores, colheitadeiras de
pequeno porte
Tratores e colheitadeiras
Tratores
e
cultivadores
motorizados
GIMA – transmissões
Land
Pride
Implementos
–
Tratores e colheitadeiras
Tratores e colheitadeiras
Pulverizadores motorizados
Tratores
Renault Agriculture
França
Regional
Tratores
Fóton
China
Regional
Tratores e Colheitadeiras
Eichner
Índia
Regional
Tratores
Fonte: Elaboração do auto a partir de dados dos sites das empresas e Sartti, Sabbatini e Vian
(2009)
Agco – Tratores para
fruticultura e vinhedos
John Deere
Em termos históricos, este setor passou por um importante processo de fusões e aquisições,
destacando-se nos anos 1980 a aquisição da International Harvester pela Case e da New Holland pela
Ford. Nos anos 1990 há a fusão destas duas empresas que formam a atual Case New Holland e que faz
parte do Grupo Fiat após processo de integração com a Fiat Allis.
O processo de fusões e aquisições foi importante para consolidar o setor, aproveitando sinergias
entre as marcas e viabilizando a entrada em novos mercados sem a necessidade de construção de novas
fábricas. Assim, não há elevação substancial da capacidade instalada, mas uma otimização. O segmento
de implementos agrícolas mostrou-se de difícil caracterização internacional por ser composto por
pequenas e médias empresas em cada país. No Brasil percebe-se que há uma tendência de avanço das
empresas de tratores para este segmento, um processo de diversificação produtiva. Além disto, há também
a tendência de consolidação de parcerias entre empresas de tratores e implementos.
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5 - Síntese da Evolução da indústria
Conforme o discorrido até agora, o setor de máquinas e equipamentos agrícolas teve mudanças
circunstâncias, que marcaram sua trajetória tecnologia e mudaram de vez a maneira dos produtores
cultivarem commodities no mundo todo. A dependência destas máquinas e equipamentos é cada vez
maior, já que o benefício principal da mecanização é o aumento da produtividade, esta por sua vez é
determinante no mercado de commodities, o agricultor que não puder oferecer seus produtos de maneira
tão competitiva quando os outros produtores sua saída do negócio é praticamente inevitável.
Outro ponto importante é que as empresas e marcas que figuravam como as maiores empresas da
área há um século atrás, continuam operando no mercado, às vezes com marcas diferentes ou como parte
de outra empresa. Isso demonstra que a entrada e saída de empresas neste setor não são dinâmicas.
Mantendo-se como oligopólios no mercado e sempre em busca de inovações e melhorias técnicas, pois
esta é maneira como elas sempre competiram, diferenciando seus produtos dos outros competidores.
No Quadro 3 são apresentadas de forma resumida as principais mudanças históricas no setor de
máquinas e implementos agrícolas, divididos em três grandes fases: de 1892 a 1945, do surgimento das
primeiras engenhocas destinadas ao cultivo agrícola até o término da Segunda Guerra Mundial; de 1946 a
1990, período pós-guerra até inicio da grande abertura comercial; e 1991 a 2009, início das grandes
conglomerações e maior concentração dos produtores de máquinas e equipamentos agrícolas.
Sartti, Sabbatini e Vian (2009) analisam os principais fatores críticos de competitividade da cadeia
de máquinas e implementos no mundo. Apontam a oligopólio mundial do seguimento passou por grandes
modificações estruturais e competitivas nos últimos anos por conta de fusões e aquisições em âmbito
internacional. Por sua vez, os dados de produção e demanda, mostram que há uma concentração da
produção na Europa e Estados Unidos e da demanda nos países da Ásia/pacífico e América Latina.
No Quadro 2 segue, cronologicamente, os principais marcos no desenvolvimento dos tratores
desde sua criação, em 1898, até 1985.
Quadro 2 Principais Marcos na Evolução dos Tratores, 1858 - 1985
Data
Modelo
Principais Mudanças
1858
Primeiro trator
J. W. Fawkes puxou um arado de 8 discos utilizando um sistema com motor a vapor (41
toneladas)
1892
Froelich
Primeiro trator movido à gasolina
1917
Fordson
Linha de produção - Primeiro trator montado em série
1921
Lanz Bulldog
Poderia ser operado tanto com gasolina quanto óleo vegetal
Década de 1920
Modelo "D"
Custo de produção menor que o modelo Fordson
1925
Farmall
Primeiro trator adaptável à uma série de operações agrícolas e mecanismo que facilitava a
elevação dos implementos do nível do solo.
1932
-
Primeiro trator com pneus
1938
95% das marcas
Substituição de rodas de ferro pelas rodas pneumáticas de borrachas
1939
Ferguson
Introdução de levante hidráulico de três pontos
1952
Ferguson
Introdução de sistema de direção hidráulica
1948 - 1968
Setor em geral
Aumento da potência de 27 HP para 79 HP
1970 - 1978
-
Introdução de turbo-compressor e intercooler nos motores diesel
1913
Primeira Indústria de Tratores
1979 - 1985
Tratores equipados com sensores e sistema de controle automático
Fonte: Quadro elaborado pelo autor a partir de bibliografias consultadas neste trabalho e Silva (2005)
Os dados da Tabela 7 mostram que há um esforço importante das empresas em direcionar
investimentos para a área de pesquisa e desenvolvimento, em busca de inovações, procurando melhorar o
desempenho das máquinas. Percebe-se uma grande preocupação da John Deere a qual investe cerca de
800 milhões de dólares por ano em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos. Analisando o número
de patentes depositadas em números absolutos, percebe-se que empresas de menor porte, como CLAAS e
Mahindra têm obtido sucesso em seus investimentos em P&D.
Pelas características da agricultura as máquinas precisam ser adaptadas para as condições de cada
região do mundo. Assim, embora a pesquisa e desenvolvimento de produto tendam a ser feitas nas sedes
das empresas é crescente a atividade de engenharia para adaptação das máquinas às regiões em que serão
realmente usadas, a descentralização dos projetos. Assim, a localização e a capacitação das subsidiárias
são fatores de competitividade cada vez mais importantes para as empresas, que passaram a investir em
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novas unidades nas regiões em que o avanço da agricultura é maior. Como exemplo, pode-se destacar a
criação de fábricas da Deere no Brasil e na Ásia,a reativação da fábrica de Sorocaba da Case e os acordos
de cooperação da Agco na Ásia (SARTTI, SABBATINI e VIAN, 2009).
Quadro 3 - Síntese da evolução do setor desde sua formação
Tópicos
Estrutura
Mercado
Períodos Analisados
1892 – 1945
1946 – 1990
Oligopólio
Diferenciado
Mercado
cada
vez
mais
globalizado
- Mercado concorrencial
Tendência
à
conglomeração
das
empresas
- Muitas empresas pequenas competindo
- Rearranjo no número de empresas atuantes no mercado
- Não havia barreiras à entrada (processo
- Aparecimentos de Comitês e Associações encarregadas por
do de montagem descontínuo e inventores
sugerir especificações formais para o produto
empreendedores que criavam e vendiam
seus
produtos)
Empresas
esparsas
- Consumidores locais
Estratégia das
Empresas
no
Desenvolviment
o de Novos
Produtos
Inovações
não
radicais
- Forte tendência a "estandartização" a partir dos anos de 1950
Inovações
disrruptivas
Perda
no
dinamismo
tecnológico
Learning
by
Doing
- Sistematização pelas empresas do Learning by Doing
Learning
by
Using
- Sistematização pelas empresas do Learning by Using
- Máquinas sem padrão
(experiência proveniente do uso do produto pelos produtores)
- Processo de padronização das máquinas agrícolas
Competição
- As empresas direcionaram seu foco para a competição na vida
- Inicialmente mercado regionalizado, útil
dos
equipamentos
e
no
desempenho.
restrito à área onde o construtores de - Foco na distribuição geográfica dos produtos para atingir a
máquinas
atuavam liderança
em
vendas.
- Após o desenvolvimento do sistema de Produtos
padronizados
transporte, começou a expandir a - Criação de Full-line para o agricultor ficar cada vez mais
comercialização
dos
produtos dependentes dos produtos e serviços das empresas
Comercialização
focada
no
fornecimento de equipamentos que
facilitasse a vida do produtor, diminuindo
a necessidade de mão-de-obra, escassa a
partir do êxodo rural e após as guerras
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
1991 – 2009
Oligopólio
Diferenciado
- Forte conglomeração das
empresas por meio de fusões e
aquisições das grandes marcas
por
pequenas
empresas
- Domínio de grandes empresas,
detentoras das principais marcas,
no mercado (Jonh Deere, CNH e
AGCO)
- Crescimento do mercado de
peças e equipamentos
- Foco na automação das
máquinas
e
equipamentos
agrícolas
- Maior potência dos tratores e
colheitadeiras
Equipamentos
de
alta
tecnologia (máquinas controladas
por
GPS)
- Desenvolvimento de máquinas
e equipamentos que atendem às
especificidades de diferentes
regiões
- Desenvolvimento de máquinas e
equipamentos
que
atendem
especificidades
regionais.
- Criação de bancos pelas
empresas para atender os
agricultores.
- Criação de novas linha de
serviços.
- Inserção no mercado de
construção civil, mineração, entre
outros.
Principais
Criações
de
Produtos
/
Linhas
de
Produtos
Comercializados
- Tratores com mais segurança para o operador e maior potência. - Tratores e Colheitadeiras
- Colhedeiras com maior produtividade e com sistema munidas de alta tecnologia
- Máquinas de descaroçar algodão tecnológico
cada
vez
mais
mais
complexo. (sistemas
Semeadeiras - Implementos Agrícolas (início do "full-line").
complexos)
Utensílios
agrícolas
Implementação de alta
- Arado de ferro forjado, adaptáveis ao
tecnologia nos equipamentos já
solo
de
pradaria
existentes
- Ceifadeiras e Enfardadeiras para Feno
- Sistemas de gestão de água
movidas por meio de tração animal
monitorado via satélite
- Tratores de sem padrão tecnológico e
motor de baixa potência e difícil
mobilidade
(rodas
de
ferro)
- Colheitadeiras movidas à vapor
- Primeiro trator movido à gasolina
- Países em desenvolvimento começam a apoiar a industrialização
em seus países, atraindo e incentivando empresas de fora para o
estabelecimento
em
seus
territórios
nacionais.
- Criação de linhas de créditos para agricultura e linhas de
financiamentos de máquinas agrícolas em diversos países em
desenvolvimento no mundo
- Fortalecimentos das linhas de
créditos
para
agricultores
- Fortalecimentos das linhas de
financiamentos para compra de
máquinas
e
equipamentos
agrícolas
- Maior abertura para o comércio
internacional entre os países,
facilitando a exportação de
máquinas
e
equipamentos
agrícolas
- Logo após o término da segunda guerra houve forte aumento
nas
vendas
de
máquinas
agrícolas
- A partir da década de 1980 o mercado apresentou crescimento
atenuante, devido a relativa maturidade dos mercados,
especialmente
nos
Estados
Unidos
e
Europa
- Crescimento no mercado reposição de máquinas obsoletas
- Estudo realizado pelo Centro de Estudos Internacionais das
Nações Unidas (UNTC), apontavam, no final dos anos de 1970,
capacidade de expansão no mercado para Estados Unidos, Europa
e Japão eram de 20%, 12% e 10%, respectivamente
- Aumento da demanda de
máquinas por países do leste
europeu
- Crescente demanda da China
por
alimentos
- Expansão da produção de
Biodiesel
no
mundo
- Expansão da mecanização em
países com baixo nível de
mecanização
- Maior participação de outras regiões como compradoras deste
equipamentos
Distribuição
- Expansão para a América Latina (as empresas se instalam nos
geográfica das
principais países produtores de produtos agrícolas, como Brasil)
- Concentrado nos Estados Unidos e na
maiores
Expansão
para
o
Leste
Europeu
Europa (principalmente na Inglaterra)
empresas
do
- A Massey Ferguson, Ford, International Harvester e Deere
setor.
dominavam o mercado. A Deere tinha uma participação
predominante no mercado norte americano, mas nos outros países
as outras três que dominavam.
- América Latina passa ter maior
importância nas vendas de
equipamentos
e
máquinas
agrícolas, principalmente Brasil
- Ásia e Pacífico apresentam
crescimento nas compras de
equipamentos,
apresentando
grande potencial de expansão na
China
e
Índia
- Surgimento da AGCO e CNH,
confirmação da Jonh Deere como
líder no mercado mundial.
- Governo Norte Americano incentiva a
inovação e Desenvolvimento no setor por
meio de contratação de técnicos da área de
Papel do Estado
mecânica para o Desenvolvimento dos
no
equipamentos
(George
Washington
Desenvolviment
contratou o técnico britânico Artthut
o do Setor Young
para
desenvolvimento
de
Incentivos
tecnologia
nos
Estados
Unidos)
Governamentais
- Homestead Act, que transferia a terra do
estado para os civis produtores rurais
- New Deal, nos Estados Unidos
- Começou a crescer no território norte
americano e Inglaterra, países que
estavam apoiando a industrialização
naquele
período
- Expansão do mercado para as pradarias
americanas
- Com o desenvolvimento de meios de
Crescimento do transportes mais eficientes o comércio
Mercado
para outras regiões no território destes
países começou a se fortalecer
- Início da produção de empresa
americanas em outros países com
potencial na agricultura, como Argentina e
Brasil,
na
América
do
Sul.
- Surgimentos de empresas locais no
mercado Europeu
Fonte: Elaborado pelo autor.
Outro fator importante nesta dinâmica são as parcerias entre as empresa para a pesquisa, visto que
algumas patentes são registradas em nome de várias empresas. Isto é importante também para a atuação
em nichos de mercado, como os tratores para frutas e colheitadeiras específicas, onde a produção conjunta
permite ganhos de escala e sinergias operacionais.
Tabela 7 - Principais Patentes Depositadas, desde 1998, das Principais Empresas no Mundo
Patentes depositadas desde 1 998
Implementos agrícolas
AGCO
27
34.62%
Claas
67
28.79%
Deere Co.
133
21.97%
Fóton
8
85.71%
Mahindra
12
27.27%
CNH
42
36.59%
Fonte: Elaboração dos autores a partir de pesquisa nas bases internacionais de patentes.
Mecânica
Tratores
53.85%
57.58%
67.42%
14.29%
72.73%
58.54%
6 – Considerações Finais e Agenda de Estudos
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010,
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dos
Eletrônica Embarcada
11.54%
13.64%
10.61%
4.88%
Após a análise da evolução histórica do setor pode-se perceber que as inovações não só originaram o
setor como promoveram seu desenvolvimento, já que estas, além de produtos novos, geraram vantagens
decisivas de custos e qualidade e proporcionando, no longo prazo, a expansão da produção e a redução dos
preços. Existiram também as pequenas inovações que geram vantagens ao produtor, assim com a inovação,
a simples diferenciação nos produtos oferece a possibilidade de ganhos extras aos produtores no mercado,
tendo a flexibilidade de aumentar os preços sem ter perdas significativas de clientes. Justificando os
grandes e crescentes investimentos em P&D que as empresas realizam periodicamente. Características do
processo de “Destruição Criadora”.
Quando apresentados os números de patentes depositadas de equipamentos agrícolas, mecânica de
tratores e eletrônica embarcada por empresas, sem grandes surpresas, nota-se que as empresas que
investem mais em pesquisa e desenvolvimento têm um número maior de patentes depositadas
consequentemente são as que têm o maior faturamento na venda de máquinas e equipamentos agrícolas.
Para a expansão dos mercados as empresas têm ampliado suas plantas em diversos países, a
distribuição geográfica passou a ser importante fator para o ganho de mercado. Os mercados como
América Latina e Ásia estão em franca ascensões e apresentam grande potencial de expansão no uso de
máquinas, assim como em suas áreas agricultáveis, por isso estão recebendo atenção especial deste setor.
A atual estruturação do mercado confirma que o setor permanece como um oligopólio diferenciado,
classificado conforme estrutura técnica - produtiva (tamanho e número de empresas no mercado, tecnologia
utilizada e características dos produtos) e no tipo de processo competitivo de cada mercado (preços,
diferenciação de produto, lançamento de novos modelos, etc.) e a existência destes tipos de mercados devese essencialmente a presença de barreiras à entrada. Este oligopólio é comum nos mercados de bens de
consumo duráveis, sendo a principal característica a possibilidades de diferenciação de produtos, que existe
neste setor.
O forte processo de fusão e aquisição que ocorreu nas últimas décadas no setor colaborou para atual
concentração da participação das vendas no mercado mundial nas mãos das três principais empresas atuantes
no mercado. No início do século passado os principais motivos que levaram as firmas a fundir-se era o
desejo de aumentar o poder de monopólio/oligopólio e as especulações sobre o valor da firma. Porém,
esta tendência mudou com o decorrer do tempo, o foco das fusões e aquisições passou a ser as economias
de escala e escopo, ganhos em marketing e pesquisa e desenvolvimentos (P&D).
A competição no mercado destas empresas ocorre por meio da diferenciação e inovação de
produtos, através de elevados gastos com pesquisa e desenvolvimento para a criação de novos modelos e
desenhos, redução de preços e aumento da qualidade, visando atender às diferentes faixas de consumidores
por nível de renda, hábitos e idade. As barreiras à entrada neste setor são: diferenciação e inovação de
produtos, que exigem elevados investimentos em propaganda e na formação e controle dos canais de
comercialização, fixação de marcas e hábitos na preferência dos consumidores.
Como agenda de estudos, destaca-se a necessidade de trabalhos voltados para o levante histórico de
empresas de menor porte, porém com importância no desenvolvimento regional do setor; o desenvolvimento
da indústria no Brasil, já que o país é apontado como um importante mercado para as empresas do setor e
com grande potencial para elevação do índice de mecanização e de expansão de suas fronteiras agrícolas;
estudo sobre as tendências do mercado de produtos agrícolas, como novas máquinas, tecnologias de gestão
integrada, tecnologias de water management, tecnologias limpas, entre outras; e por último, potencial de
novos entrantes neste mercado.
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Evolução Histórica da Indústria de Máquinas Agrícolas no