Índice Expediente 2 Normas para publicação 3 Editorial 4 Artigo Original 5 Detecção do Epstein-Barr vírus em lesões invasivas e pré-invasivas do colo uterino Nelly Beatriz Modós Santos; Fabiola Elizabeth Villanova; Julisa Chamorro Lascasas Ribalta; José Focchi; Audrey Yumi Otsuka; Ismael Dale Cotrim Guerreiro da Silva; Priscila Maria Andrade 11 Correlação citológica e histológica dos achados colposcópicos anormais Maria do Carmo Eserian; Ilzo Vianna Junior; Marcia Moreira Holcman; Fausto Farah Baracat; Reginaldo Guedes Coelho Lopes 18 Perfil epidemiológico das mulheres com carcinoma de colo uterino invasor na grande Florianópolis Cyntia Carvalho Magaton; Edison Natal Fedrizzi; Thiago Mamôru Sakae Artigo de Revisão 24 Imiquimode tópico para tratamento da doença de Paget da vulva Neila Maria de Góis Speck; Julisa Chamorro Lascasas Ribalta Relato de Caso 26 Uso de fitomedicamentos no trato genital inferior 30 Adenocarcinoma mal diferenciado de células claras do colo uterino Adriana Bittencourt Campaner, Sonia Rolim Lima Ana Katherine da Silveira Gonçalves; Munya G. Freire; Paulo César Giraldo; Maria José Penna Maisonnette de Attayde Silva; José Eleutério Junior Desfrute os benefícios de ser um associado da ABG 33 Agenda de eventos 35 Ficha de inscrição 36 REVISTA BRASILEIRA DE GENITOSCOPIA Órgão Oficial de Divulgação Científica da Associação Brasileira de Genitoscopia (ABG) A Revista da ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE GENITOSCOPIA é uma publicação trimestral dirigida aos associados da ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE GENITOSCOPIA e tem como objetivo ser o elemento de comunicação entre os profissionais que, direta ou indiretamente, prestam seus serviços à comunidade médica nesta área de atuação, contribuindo para o aprimoramento profissional e desenvolvimento da colposcopia. A Revista da ABG, respeitando a liberdade intelectual dos autores, publica, integralmente, os originais que lhe são entregues. Não é permitida a reprodução de textos, total ou parcial, sem permissão expressa da ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE GENITOSCOPIA. EDITORES Rita Maria Zanine Nelson Valente Martins CO-EDITORES Ana Katherine da S. Gonçalves (RN) Sophie Françoise Mauricette Derchain (SP) Angelina Farias Maia (PE) Claudia Márcia de Azevedo Jacyntho (RJ) PRODUÇÃO EDITORIAL Zeppelini Editorial Ltda. Rua Dr. César, 530, cj. 1.308 CEP 02013-002 - São Paulo - SP Telefax: (11) 2978-6686 www.zeppelini.com.br [email protected] Tiragem: 10.000 Exemplares Endereço: Alameda Santos, 1.343, cj. 612 - São Paulo (SP) CEP 01419-001 Tel: (11) 3283-4121 www.colposcopia.org.br CONSELHO EDITORIAL Adriana Bittencourt Campaner (SP) Ana Carolina Silva Chuery (SP) Carmen Regina Nogueira de Carvalho (SP) Cecília Maria Roteli Martins (SP) Cíntia Irene Parellada (SP) Elisabeth Rautmann Cesarino Linhares (SP) Elsa A. Gay Pereyra (SP) Enísia Maria R. de Queiroz Fernandes (CE) Fabio Bastos Russumano (RJ) Felipe Rinald Barbosa Lorenzatto (PE) Filomena Marino Carvalho (SP) Gerson Botacini das Dores (SP) Gutemberg Leão de Almeida Filho (RJ) Iara Moreno Linhares (SP) Ildete Soares Caldas (SE) Isa Maria Mello (DF) Isabel Cristina C. do Val Guimarães (RJ) José Humberto Belmino Chaves (AL) Julisa Chamorro Lascasas Ribalta (SP) Jupira Mesquita (SP) Jurandyr Moreira de Andrade (SP) Luís Fernando Sommacal (SC) Manoel A. Guimarães Gonçalves (RS) Márcia Fuzaro Terra Cardial (SP) Margarida Santos Matos (BA) Maristela Vargas Peixoto (MS) Marlene Ferreira Freitas (CE) Neide Aparecida T. Boldrini (ES) Neila Maria de Góis Speck (SP) Newton Sergio de Carvalho (PR) Nilma Antas Neves (BA) Paulo César Giraldo (SP) Paulo Sergio Viero Naud (RS) Silvia Lima Farias (PA) Yoshiko Aihara Yoneda (SP) CONSELHO EDITORIAL – INTERNET Cíntia Irene Parellada (SP) Dulcimary Dias Bittencourt (PR) Isa Maria Mello (DF) Nelson Vespa Jr.(SP) Wanusia Miranda (PB) Edmund Chada Baracat (SP) Edson Natal Fedrizzi (SC) Fátima Edilza Xavier de Andrade (RN) Fernando A. Soares (SP) Francisco Eduardo Prota (SP) Garibalde Mortoza Jr. (MG) Geraldo Duarte (SP) Ismael Dale Cotrin Guerreiro Silva (SP) José Focchi (SP) Luciene Maria Oliveira Brito (MA) Luiza Lina Villa (SP) Marcelo Zugaib (SP) Maria de Lourdes Gonçalves (RN) Nilson Roberto Melo (SP) Paula Ribeiro de Miranda Maldonado (RJ) Petrus Augusto Dornela Câmara (PE) Raimunda Antonia Pires Fontenele (PI) Waldemar Riviore (RS) C. Bergeron (França) Carlos Perez Moreno (Colômbia) E. Cappolillo (Argentina) F. Schmitt (Portugal) Howard Jones III (USA) J. Dexeus (Espanha) Jorge Ojeda Ortiz (México) L. Montevecchio (Itália) L. Pardal (Portugual) M. Bibbo (USA) M. Mckay (USA) M. Pelisse (França) M. V. Beurden (Holanda) Patrick Walker (UK) R. Testa (Argentina) S. Witkins (USA) V. Schneider (Dinamarca) TESOUREIRA Dra. Yoshiko Aihara Yoneda TESOUREIRO ADJUNTO Dr. Manoel Afonso Guimarães Gonçalves COORDENADORA CIENTÍFICA Dra. Cláudia Márcia de Azevedo Jacyntho COORDENADORA DE ÉTICA MÉDICA E VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL Dra. Nilma Antas Neves CONSELHO FISCAL Dra. Maria de Fátima S. de Cunha Araújo Dra. Julisa Chamorro Lascasas Ribalta Dr. Luís Fernando Sommacal COMISSÃODE QUALIFICAÇÃO Dra. Neila Maria de Góis Speck CONSELHO CONSULTIVO NACIONAL CONSELHO CONSULTIVO INTERNACIONAL Associação Brasileira de Genitoscopia (ABG) DIRETORIA 2006-2008 PRESIDENTE Dr. Nelson Valente Martins VICE-PRESIDENTE Dra. Angelina Farias Maia SECRETÁRIA GERAL Dra. Cíntia Irene Parellada SECRETÁRIA ADJUNTA Dra. Silvia Lima Farias Normas para publicação 1. A Revista Brasileira de Genitoscopia é periódico trimestral de Divulgação Científica editado pela ABG. Tem o propósito de publicar contribuições que versem sobre temas relevantes no campo da genitoscopia (patologia do trato genital inferior e colposcopia) e áreas correlatas e é aberta a contribuições nacionais e internacionais. 2. O manuscrito enviado para publicação deve ser redigido em português e se enquadrar em uma dessas três categorias: artigo original, artigo de revisão e descrição de caso clínico. 3. Os trabalhos podem ser encaminhados em formato eletrônico via e-mail: [email protected] ou por correio através de disquete/ CD com duas vias impressas. Deve ser enviada declaração assinada por todos os autores à secretaria da ABG (Alameda Santos, 1343, cj 612, São Paulo/SP – CEP 01419-001), onde deve ficar explícita a concordância com as normas editoriais, com o processo de revisão, transferência de copyright para à ABG e inexistência de conflitos de interesses entre os autores. Trabalhos originais devem encaminhar cópia da aprovação do Comitê de Ética da Instituição onde foi realizado o mesmo. 4. Na seleção dos manuscritos para publicação, avaliam-se a originalidade, a relevância do tema e a qualidade da metodologia científica utilizada, além da adequação às normas editoriais adotadas pela revista. Todos os manuscritos submetidos à revista serão revisados por pareceristas anônimos e o sigilo é garantido em todo o processo de revisão. O material referente ao artigo recusado não é devolvido. O artigo aceito será enviado para os autores para que sejam efetuadas as modificações e para que os mesmos tomem conhecimento das alterações a serem introduzidas no processo de edição. 5. O número de autores de cada manuscrito fica limitado a sete. Trabalhos de autoria coletiva (institucionais) deverão ter os responsáveis especificados. Trabalhos do tipo colaborativo e estudos multicêntricos deverão ter como autores os investigadores responsáveis pelos protocolos aplicados (no máximo cinco). Os demais colaboradores poderão ser citados na seção de agradecimentos ou como “Informações Adicionais sobre Autoria”, no fim do artigo. Todos os autores deverão aprovar a versão final a ser publicada. 6. O trabalho deverá conter obrigatoriamente página de rosto a qual incluirá titulo (com tradução para o inglês), nome completo dos autores com respectivos títulos acadêmicos, local onde o trabalho foi desenvolvido e nome, endereço e e-mail do autor para o qual a correspondência deverá ser enviada. Resumo do trabalho em português, sem exceder limite de 250 palavras; para artigos originais deve ser redigido resumo estruturado dividido em seções identificadas: objetivos, métodos, resultados e conclusões. O resumo de casos clínicos não deve ser estruturado e será limitado a 100 palavras. Palavras-chave ou unitermos logo abaixo do resumo, em número de 3 a 5 (deverão ser baseados no DeCS - Descritores em Ciências da Saúde - disponível no endereço eletrônico: http://decs.bvs.br). Em outra página incluir abstract consistente com versão do resumo em português, seguido de Keywords. 7. Na categoria de Artigo Original deve constar: resumo, abstract, introdução, casuística e métodos (obrigatório incluir número de aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição), resultados, discussão, conclusão e referências bibliográficas. Na categoria de Artigo de Revisão, deve fazer parte: resumo, abstract, introdução do Tema, revisão da literatura, discussão, comentários finais e referências bibliográficas; e na categoria Relato de Caso deve constar: resumo, abstract, introdução (com breve revisão da literatura), descrição do caso clínico, discussão, comentários Finais e referências bibliográficas. 8. Tabelas, gráficos, figuras e fotografias deverão ser referidos em números arábicos (exemplos: Fig.5, Gráfico 10), constando sempre o respectivo titulo. Somente serão aceitas ilustrações que permitam boa reprodução. 9. Não se deve utilizar nomes comerciais de drogas, apenas o nome genérico. 10.As referências bibliográficas devem ser citadas no texto de acordo com o sistema numérico (número arábico), de acordo com a ordem de aparecimento no texto, utilizando-se o sistema Vancouver (http:// www.library.uwa.edu.au/guides/citingsources/ vancouver.html). Apenas artigos publicados devem ser incluídos. Até 3 autores listar todos; para 4 ou mais autores, listar os primeiros 3 seguido de “et al.”. O número máximo de referências fica limitado a 30. Um total de 70% das referências devem ser de periódicos nacionais ou internacionais atuais (publicados há no máximo, dez anos). Exemplos de referências bibliográficas: • Ostor AG, Duncan A, Quinn M, et al. Adenocarcinoma in situ of the uterine cervix: an experience with 100 cases. Gynecol Oncol 2000;79:207-10. • Brosens JJ, Pijnenborg R, Brosens IA. The myometrial junctional zone spiral arteries in normal and abnormal pregnancies. Am J Obstet Gynecol 2002;187:1416-23. • Hay R. Atlas of human tumor cell lines. San Diego: Academic Press; 1994. • DiSaia PJ, Creasman WT. The adnexal mass and early ovarian cancer. In: DiSaia PJ, Creasman WT, editors. Clinical gynecologic oncology. 5th ed. St. Louis: Mosby-Year Book;1997. p. 253-61. • Kim M. Amenorrhea: primary and secondary. In: Zuspan FP, Quilligan ED, eds. Handbook of Obstetrics, Gynecology, and Primary Care. St. Louis: Mosby; 1998:3-10. • Breast Cancer Information Core (BIC) databases (http://www.nhgri.nih.gov/Intramural_research/ Lab_transfer/Bic/). Editorial Prêmio Nobel de Medicina/2008: infecção pelo HPV e oncogênese cervical A pós inúmeros trabalhos no quais já vinha estudando as influências da infecção pelo HPV na gênese do câncer de várias topografias, Herald zur Hausen publicou diversos estudos definindo esse papel fundamental em relação ao colo uterino1. Na verdade, venceu uma série de dogmas da época ao sustentar a afirmação de que “o papilomavírus humano (HPV) causa o câncer do colo de útero”, o segundo tipo de câncer mais comum entre as mulheres e em algumas regiões, mesmo do Brasil, posto na primeira posição. Afirmou, também, que as células do tumor quando infectadas por determinados tipos de HPV, poderiam demonstrar a integração do DNA viral ao genoma celular. Dessa forma, poderiam ser detectados pela busca de material genético do vírus nas células cancerígenas. As descobertas de zur Hausen levaram à demonstração de novas propriedades do HPV, o que fez com que os médicos pudessem entender melhor os mecanismos da oncogênese cervical e a forma como o vírus poderia participar neste tipo de câncer. Newton Sergio de Carvalho Professor adjunto do Departamento de Tocoginecologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná – UFPR Cerca de 20 anos após esses estudos, a vacina contra o câncer do colo uterino vem se posicionar como outro marco na história da Medicina. Seguramente, quando ela alcançar principalmente a população mais pobre do planeta, ou seja, aquela que raramente ou nunca tem oportunidade de realizar um rastreamento, através do teste de Papanicolaou, teremos sucesso na redução de tal moléstia. zur Hausen, prêmio Nobel de Medicina em 2008 Referências bibliográficas 1. zur Hausen H. Viruses in human cancers. Science. 1991;254(5035):1167-73. Artigo Original Detecção do Epstein-Barr vírus em lesões invasivas e pré-invasivas do colo uterino Epstein-Barr virus detection in invasive and pre-invasive lesions of the uterine cervix Nelly Beatriz Modós Santos1 Fabiola Elizabeth Villanova2 Julisa Chamorro Lascasas Ribalta3 José Focchi4 Audrey Yumi Otsuka5 Ismael Dale Cotrim Guerreiro da Silva3 Priscila Maria Andrade5 Resumo Objetivo: Pesquisar se o DNA do vírus Epstein-Barr (EBV) pode ser encontrado em lesões cervicais préinvasivas e invasivas. Métodos: A presença do DNA do EBV foi estudada através da técnica de PCR. Foram avaliadas 80 mulheres, dentre essas 66 tinham neoplasia intra-epitelial escamosa cervical (NIC) de alto grau e 14 tinham carcinoma invasivo da cérvice uterina. O grupo controle incluiu 89 pacientes normais dos pontos de vista citológico, colposcópico e molecular. Resultados: As reações de PCR demonstraram presença de DNA viral de EBV em 8,99% no colo normal, 21,21% na neoplasia intra-epitelial de alto grau e 64,29% no carcinoma invasivo. As diferenças foram estatisticamente significativas entre os grupos de colo normal e NIC de alto grau versus o carcinoma invasivo. Conclusões: Esses achados sugerem associação do DNA viral do EBV com as lesões neoplásicas do colo uterino. Palavras-chave: Neoplasias do colo do útero. Vírus Epstein-Barr. Infecções por papilomavírus. Abstract 1 Mestra do Setor de Colposcopia do Departamento de Ginecologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo – Unifesp-EPM 2 Mestre em Ciências do Laboratório de Urologia – LIM55 da Universidade de São Paulo – USP 3 PhD do Laboratório Molecular de Ginecologia da Unifesp-EPM 4 Professor Doutor do Laboratório Molecular de Ginecologia da Unifesp-EPM 5 PhD do Laboratório de Urologia – LIM55 da Universidade de São Paulo – USP Objective: In the present study, our aim was to investigate whether Espstein-Barr virus DNA (EBV-DNA) could be found in association with invasive and pre-invasive cervical cancer lesions. Methods: DNA was extracted from cervical scrapings followed by nested PCR-based amplification. A total of 80 patients were studied, 66 women had high grade cervical intraepithelial neoplasia and 14 women had invasive cervical cancer. In the control group there were 89 women with a normal Pap smear and colposcopy as well as a negative HPV DNA test. Results: PCR results showed presence of EBV-DNA in 8.99% of normal cervix, 21.21% of high-grade intraepithelial neoplasia, and in 64.29% in invasive cervical cancer. The differences were statistically significant for normal cervix and highgrade neoplasia versus invasive cancer. Conclusions: The presence of EVD-DNA is significantly associated with cervical cancer. Keywords: Uterine cervical neoplasms. Herpesvirus 4, Human. Papillomavirus infections. Apoio financeiro: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo/Ludwig 99/03366-6 5 Revista Brasileira de Genitoscopia Introdução O câncer cervical, ao contrário da maioria dos outros carcinomas, cujos múltiplos determinantes comportamentais, biológicos e ambientais podem contribuir de maneira concomitante para a carcinogênese, está comprovadamente associado a um único agente etiológico central, a infecção por Papilomavírus Humano (HPV)1,2. Embora haja muitos artigos que comprovem a importância do HPV no surgimento do câncer cervical, a natureza monoclonal desse câncer deveria fazer com que o desenvolvimento desse tipo de tumor fosse um acontecimento raro3. Com base nessas informações, parece evidente que a infecção por HPV, isoladamente, não é suficiente para a conversão maligna4. O vínculo etiológico entre Herpesvirus simples-2 (HSV-2) e câncer cervical têm sido aventado há pelo menos duas décadas; entretanto, essa conotação não pôde ser claramente confirmada5. Em 1958, Denis Burkitt, um cirurgião inglês que trabalhava na África Equatorial, chamou a atenção para um câncer infantil muito comum naquela região, agora conhecido como o linfoma que leva seu nome. Já naquela época, a distribuição climática e geográfica do tumor levou o pesquisador a sugerir a presença de um provável agente etiológico viral6. Essa hipótese interessou aos pesquisadores Tony Epstein e Yvonne Barr, os quais, ao examinarem células de linfoma de Burkitt, evidenciaram claramente, com a ajuda da microscopia eletrônica, partículas similares ao herpesvírus em seu interior. Esse vírus, entretanto, demonstrou ser biológica e antigenicamente diferente de outros herpesvírus. Identificou-se então, o vírus de EBV como o primeiro candidato a causar um tumor maligno humano7. Os eventos de replicação viral restritos ao epitélio são, provavelmente, pouco imunogênicos, de maneira similar ao que acontece com o HPV7. Quando o EBV se replica, aproximadamente 90 de seus genes são expressos. Em contrapartida, quando infecta células B estima-se que pouco mais de 11 genes são ativados durante o processo8. Os lymphocryptovirus possuem um grupo de genes que codificam seis proteínas nucleares (EBNAs) e três proteínas integrais de membrana (LMPs), as quais são importantes na determinação das infecções latentes dos linfócitos B, bem como no mecanismo de transformação celular. As proteínas virais codificadas pelo genoma são denominadas: EBNA-1, responsável pela manutenção do estado epissomal dentro da célula9; EBNA-2, que parece ser essencial para a transformação dos linfócitos B, estimulando outros dois genes LMP-1 e 210; EBNA-3A e 3B, que estão envolvidos na regulação da transcrição dos genes celulares e virais11; EBNA- LP, gene que codifica um polipeptídio que forma complexos 6 com a proteína p53, conseqüentemente perturbando o controle da proliferação celular, à semelhança do que ocorre com outros vírus DNA causadores de tumor12; e, finalmente, a EBNA-3C, que por seu turno parece modular a expressão de EBNA-213,14. Sob o ponto de vista da carcinogênese, o LMP-1 parece exercer importante papel, já que a sua expressão aparentemente bloqueia a apoptose celular, em parte devido à indução da expressão de BCL-215, um gene conhecidamente antiapoptótico, considerado um oncogene em determinadas situações 16,17. O gene LMP-2, por sua vez, codifica duas proteínas: LMP-2A, responsável pela manutenção da infecção latente por EBV18, e a LMP-2B que funcionaria como auxiliar de LMP-213. Estudos in vitro indicam a possibilidade de infecção direta das células epiteliais pelo EBV; todavia, o receptor que intermediaria esse processo ainda não foi identificado17. Young et al.19 sugeriram a existência de uma molécula de superfície de 200 kDa nas células epiteliais antigenicamente sensibilizadas ao antígeno CD21 dos linfócitos B, que poderia funcionar como um receptor para EBV. Sixbey et al.20 também investigaram a existência de um receptor nas células epiteliais e sugeriram que este se expressaria somente nas células menos diferenciadas do epitélio estratificado. Do ponto de vista da carcinogênese cervical, Sixbey e Lemon21 demonstraram que células epiteliais da ectocérvice poderiam ser infectadas pelo EBV. Seguindo-se a esse estudo, numerosos outros autores também mostraram que existiria uma associação entre a replicação viral, diferenciação epitelial e um refúgio viral na cérvice uterina humana. Tseng et al.22, por exemplo, mostraram que seqüências do EBV são detectadas em 73,3% dos raros carcinomas de colo tipo linfo-epitelioma, o que sugere que o EBV poderia estar envolvido no surgimento deste tipo de câncer cervical. Kim et al.23 demonstraram o fragmento Bam H1 “W” do EBV em 61% dos casos de câncer cervical, presente em 40% das NICs e 0% dos colos normais. Sasagawa et al.24, por seu turno, concluíram que o genoma do EBV estava presente em 55% dos carcinomas cervicais e 26% das cérvices normais. Se Thoe et al.25, de modo semelhante, detectaram o DNA do EBV em 63% de biópsias de carcinoma cervical. Entretanto, ao estudar a literatura mundial, observase que existem opiniões contrárias à participação do EBV nos processos que levariam ao câncer de colo uterino. De fato, vários autores são da opinião que o EBV não faz parte do processo26. Pelo fato do HPV e EBV serem os vírus mais freqüentemente associados a tumores humanos específicos e, em vista das contradições atualmente existentes na literatura, no presente trabalho testou-se a hipótese de uma eventual associação do EBV à neoplasia cervical, através Detecção do Epstein-Barr vírus em lesões invasivas e pré-invasivas do colo uterino Revista Brasileira de Genitoscopia de sua detecção nas lesões precursoras bem como nos tumores invasivos. Material e métodos Foram avaliadas pacientes atendidas no Setor de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia da Disciplina de Ginecologia da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (Unifesp-EPM). O grupo de estudo foi constituído por 80 pacientes, sendo 66 NIC de alto grau (NIC II ou NIC III) e 14 com carcinoma invasivo de colo uterino, das quais, quatro eram adenocarcinomas e dez carcinomas espinocelulares. A idade das pacientes oscilou entre 21 e 55 anos, com média de 38 anos. Como grupo controle, estudaram-se 89 pacientes constituintes do banco de DNA do Laboratório de Ginecologia Biomolecular da Disciplina de Ginecologia da Unifesp-EPM; encontrou-se normalidade dos pontos de vista citológico, colposcópico e molecular quanto à presença de HPV e/ou NIC e/ou câncer de colo uterino. O presente estudo foi previamente aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa da Unifesp (CEP número 982-00), sendo que todas as pacientes foram devidamente informadas quanto ao motivo da coleta e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Obtenção do DNA Para obtenção do DNA a ser estudado, colheram-se amostras cérvico-vaginais com escova “cytobrush”. O DNA foi extraído por meio do kit “DNAzol” (Invitrogen), de acordo com as instruções preconizadas pelo fabricante. Utilizou-se, para a detecção de DNA de EBV, a abordagem denominada “Nested-PCR”. Tal técnica é capaz de detectar a presença de um determinado ácido nucléico, mesmo que em quantidades ínfimas. Essa técnica nada mais é do que a reação de polimerase em cadeia (PCR) realizada em duas etapas, o que permite amplificação em milhões de vezes de um determinado trecho de DNA. As reações de PCR realizadas em duas etapas obedeceram aos seguintes parâmetros. Na primeira etapa, 100 ng de DNA foram utilizados em 50 µl de volume final de reação contendo: 20 mM de tris HCl pH 8.4, 50 mM KCL, 0,4 mM de dNTP, 0,4 pmol/µl dos oligonucleotídeos externos (5´gat tca ggc gtg gct ctt gg´3; 5´gag gag gaa gac aag agt gg 3´) e 2 U de Taq DNA polimerase recombinante. Na segunda etapa, procedeu-se de maneira semelhante com utilização de 1,5 µl do primeiro produto de PCR em uma segunda reação na presença dos oligonucleotídeos internos (5´cac tgc cgt aca atc caa ca 3´ e 5´tgt tct ggc tgc ctt ctt ct 3´). Os oligonucleotídeos iniciadores utilizados neste estudo foram baseados na seqüência do gene EBNA-3B, proteína latente do EBV com número de acesso ao GenBank M34440. SANTOS NBM et al. As amplificações foram feitas em Termociclador Gene Amp® PCR System 9700 da Applied Biosystem, sob as mesmas condições: desnaturação a 94°C por cinco minutos, seguida de 30 ciclos de 94°C por 30 segundos, 55°C por 30 segundos, 72°C por 45 segundos, finalizando a 72°C por cinco minutos. A análise dos produtos de PCR foi realizada em gel de agarose/brometo de etídeo a 1,5%, com posterior observação sob luz ultravioleta. Os fragmentos resultantes da segunda etapa apresentavam um tamanho de 150 pb, conforme o esperado (Figura 1). Seqüenciamento Para a confirmação de que o fragmento amplificado se tratava realmente de DNA do EBV, realizamos seqüenciamento automático do fragmento gerado pela reação de PCR, utilizando-se o kit Big dye da Applied Biosystem, conforme preconizado pelo fabricante (Figura 2). Os resultados do seqüenciamento foram submetidos à análise do tipo BLAST, confirmando tratar-se do gene EBNA-3B. Método estatístico Para avaliar a possível contingência entre presença e ausência de EBV nos três grupos previamente definidos, usamos o teste de decomposição aditiva do Quiquadrado (χ²). Para verificarmos a possível associação entre presença ou ausência de EBV e grupo de NIC de alto grau, também usamos o teste do χ². Em ambos os casos, obedeceram-se as restrições de Cochram e, quando presentes no caso da associação, usou-se o teste exato de Fischer. O nível de rejeição para a hipótese de nulidade préfixada sempre em um valor menor ou igual a 0,05 (5%). Quando a estatística calculada apresentou significância, usamos um asterisco (*) para caracterizá-la. Figura 1. Gel de agarose/brometo de etídio 1,5% mostrando a amplificação do DNA genômico do EBV correspondente ao gene EBNA-3B (1 a 5). Em 6 observa-se o controle negativo da reação, em M a presença dos marcadores de tamanho das bandas. 7 Revista Brasileira de Genitoscopia Resultados No grupo controle (n=89), o DNA-EBV foi encontrado em oito mulheres. No grupo de mulheres com lesão de alto grau (n=66), a presença de DNA-EBV ocorreu em 14 casos e no grupo com câncer invasivo (n=14) em nove casos (Tabela 1). Observando-se os resultados da Tabela 1, verifica-se que o percentual de presença do vírus no grupo câncer (64,29%) foi significativamente maior do que nos grupos normal e lesão de alto grau, cujas porcentagens foram respectivamente 8,99 e 21,21%. Quando comparamos a freqüência de EBV no grupo de lesões de alto grau (21,21%) com o grupo normal (8,99%), verificamos que não houve significância estatística; porém, observando-se o valor de estatística calculada (3,78) em relação ao valor de estatística crítica (3,84), nota-se que eles estão muito próximos, o que sugere forte tendência de significância dos percentuais apresentados. Discussão Estudos epidemiológicos têm estabelecido com clareza que o HPV não só precede, mas está diretamente envolvido no surgimento das lesões neoplásicas cervicais, sendo encontrado virtualmente em todos os casos. Inúmeras são as evidências experimentais e epidemiológicas que colocam o HPV como elemento essencial nos processos que ocasionam as neoplasias cervicais uterinas, sobretudo por conta de suas ações sobre a proteína p53. Entretanto, talvez outros fatores possam contribuir, de alguma forma, ao longo desse processo. De fato, no presente trabalho demonstrou-se a presença de DNA de Epstein-Barr Vírus em amostras citológicas de carcinoma invasivo do colo uterino em porcentagem significativaTabela 1. Incidência do vírus Epstein-Barr Grupo Normal NIC de alto grau Câncer Total *p≤0,05 Presença Ausência Total 8 14 9* 31 81 52 5 138 89 66 14 169 Percentual de presença 8,99 21,21 64,29 18,34 mente maior do que aquelas obtidas de mulheres com NIC de alto grau ou em amostras de mulheres controles, sem lesão. Esses resultados estão de acordo com os de outros autores23-25 e trazem à tona a eventual possibilidade de esse vírus estar envolvido na gênese do câncer cervical. É oportuno destacar que o EBNA-LP, gene do EBV, codifica um polipeptídio que, assim como o gene E6 do HPV, forma complexos com a proteína p53, perturbando conseqüentemente o controle da proliferação celular12. O fato de termos encontrado DNA viral em menor freqüência em amostras de lesões precursoras constitui também uma evidência nesse sentido. Dessa forma, a possibilidade de um encontro casual torna-se remota em especial se considerarmos a baixíssima incidência em amostras cérvico-vaginais normais. Outra possibilidade que devemos considerar é o fato de não termos pesquisado a presença viral in situ, ou seja, na célula tumoral propriamente dita. Essa eventualidade é especialmente importante de ser considerada em decorrência da alta prevalência de infecções prévias por esse vírus na população mundial. Dessa forma, existiria a possibilidade de detectarmos partículas virais em leucócitos locais e não na célula tumoral, como advogam Shoji et al.26. Essa falha, entretanto, talvez possa ser minimizada de duas formas. Em primeiro lugar, os nossos achados demonstram claramente que a presença viral praticamente inexiste em células obtidas de mulheres sem câncer de colo, ainda que se saiba da grande quantidade de leucócitos normalmente presentes em amostras citológicas cérvico-vaginais. Vale lembrar, ainda, que nossa metodologia incluiu a utilização de Nested PCR em todos os casos pesquisados, fato que aumenta ainda mais a sensibilidade do método adotado neste estudo (PCR) que, em sua concepção, já é conhecido por sua extrema sensibilidade. Dessa forma, os resultados negativos obtidos por outros autores podem ser explicados por técnicas moleculares não tão sensíveis como a utilizada neste trabalho. No tocante aos estudos com hibridização in situ, boa parte dos pesquisadores fez uso de material em blocos Figura 2. Eletroferograma da seqüência do gene EBNA-3B amplificado no presente estudo 8 Detecção do Epstein-Barr vírus em lesões invasivas e pré-invasivas do colo uterino Revista Brasileira de Genitoscopia de parafina, não havendo o cuidado quanto ao processamento do material nela incluído como os cuidados com a formalização especialmente quanto ao tempo e ao pH das soluções fixadoras. De fato, erros variáveis na técnica podem interferir muito nos resultados esperados. Devemos referir, ainda, que todos os testes foram realizados de modo duplo-cego. Dessa forma, ao chegar no laboratório, não sabíamos quais amostras haviam sido obtidas de pacientes com neoplasia maligna ou não. Em segundo lugar, achamos conveniente lembrar que, de acordo com alguns autores, que estudaram EBV em neoplasias malignas epiteliais, o vírus se localiza nas células tumorais propriamente ditas e não em leucócitos locais27. Devemos, também, tecer considerações em relação aos “primers” utilizados em nosso estudo. As seqüências iniciadoras adotadas nesse trabalho foram desenhadas com base no gene EBNA-3B com número de acesso M34440. As bandas resultantes da amplificação foram submetidas a seqüenciamento automatizado de DNA, que confirmou tratar-se de um fragmento do gene EBNA-3B, pertencente ao genoma viral do EBV. Nesse sentido, achamos conveniente o desenho dos “primers” ter sido baseado nessa seqüência, pois esse gene encontra-se ativo nas etapas precoces da carcinogênese, em especial durante a imortalização celular. Com relação à freqüência de EBV em lesões de alto grau não ter se mostrado estatisticamente significante quando comparada às amostras normais, acredita-se que um pequeno aumento na casuística de lesões cervicais intra-epiteliais seria o suficiente para demonstrar essa significância. Paralelamente aos achados moleculares, algumas evidências epidemiológicas favorecem a hipótese do EBV na carcinogênese cervical. De fato, a idade da mulher na qual predomina a lesão tipo NIC III é de 30 anos, faixa etária muito próxima ao surgimento do carcinoma naso-faríngeo28. Da mesma forma, é interessante notar que em caucasianos a mononucleose infecciosa é uma doença que acomete jovens entre 15 e 25 anos, idade que coincide com o início da atividade sexual. Conclusões Tendo como base as evidências moleculares demonstradas neste estudo, além daquelas obtidas por outros autores, acreditamos ser válido supor que a presença de EBV em neoplasias cervicais uterinas não parece achado meramente casual. A nosso ver, deveria constituir tema de estudos mais aprofundados, dentre eles a eventual utilização do EBV como marcador de risco para evolução nos casos de NIC, bem como para uma melhoria no entendimento dos mecanismos de carcinogênese desencadeados pelo EBV na cérvice uterina. Endereço para correspondência Nelly Beatriz Modós Santos Avenida Jacutinga, 242, apto. 82 CEP 04115-030 – São Paulo (SP) E-mail: [email protected] Referências bibliográficas 1. Franco EL, Villa LL, Rohan T. Epidemiologic evidence and human papillomavirus infection as a necessary cause of cervical cancer. J. Natl. Cancer Inst. 1999;91(6):506-11. 7. Kieff E, Rickinson A. EBV and its replication. In: Knipe DM, Howley PM editors. Virology. 4th ed. Fields Lippincott-Raven, Philadelphia, 2001; p. 2511-73. 2. Ferenczy A, Franco E. Persistent human papillomavirus infection and cervical neoplasia. Lancet Oncol. 2002;3(1):11-16. 8. 3. Kessler I. Cervical cancer: social and sexual correlates. In: R. Peto and H. Zur Hausen editors. Viral etiology of cervical cancer, Cold spring Harbor, New York;1986. p. 55-64. Klein E, Kis LL, Klein G. Epstein-Barr virus infection in humans: from harmless to life endangering virus-lymphocyte interactions. Oncogene. 2007;26(9):1297-605. 9. 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Detecção do Epstein-Barr vírus em lesões invasivas e pré-invasivas do colo uterino Artigo Original Correlação citológica e histológica dos achados colposcópicos anormais Cytology and histology correlation of abnormal colposcopic findings Maria do Carmo Eserian1 Ilzo Vianna Junior2 Marcia Moreira Holcman3 Fausto Farah Baracat4 Reginaldo Guedes Coelho Lopes5 Médica residente do terceiro ano de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital do Servidor Público Estadual “Francisco Morato de Oliveira” – HSPE-FMO 2 Médico responsável pelo Setor de Patologia do Trato Genital Inferior do HSPE-FMO 3 Doutora em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo – USP. 4 Médico responsável pelo Departamento de Ginecologia do HSPE-FMO 5 Médico responsável pelo Departamento de Ginecologia e Obstetrícia do HSPE-FMO 1 Resumo Objetivo: Correlacionar os achados colposcópicos com os resultados citológicos e histológicos das pacientes atendidas no Setor de Patologia do Trato Genital Inferior (PTGI) do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE), avaliando o grau de concordância dos mesmos. Métodos: Foi realizado estudo retrospectivo, transversal e descritivo que avaliou 3.192 pacientes submetidas a exame colposcópico. Selecionaram-se 638 pacientes que apresentavam achados colposcópicos anormais no colo uterino, segundo a Federação Internacional de Patologia Cervical/ Barcelona 2002: epitélio acetobranco (EAB) tênue e denso, mosaico (MO) fino e grosseiro, pontilhado (PO) fino e grosseiro, iodo negativo e vasos atípicos. Correlacionou-se com seus respectivos resultados citológicos e histológicos, avaliando o grau de concordância entre eles. Resultados: O EAB denso foi o achado que esteve mais relacionado à malignidade, enquanto o iodo negativo não apresentou qualquer relação. A citologia ASC-H apresentou 58% de correspondência com histologia alterada, sendo 50% de alto grau. A taxa de falso-positivo da colposcopia foi de 85,3%. Conclusões: A tríade formada por citologia, colposcopia e histologia ainda é o principal tripé para o rastreamento e diagnóstico das lesões precursoras do carcinoma de colo uterino. A citologia é o principal método de rastreamento, sendo complementada por colposcopia e histologia. Existem poucos estudos na literatura que correlacionam cada tipo de achado colposcópico anormal com a histologia e citologia. A importância desse estudo é orientar o colposcopista na escolha dos achados colposcópicos mais importantes para a biópsia, mantendo a sensibilidade e aumentando a especificidade do exame. Palavras-chave: Colposcopia. Esfregaço vaginal. Histologia. Abstract Objective: To correlate the colposcopic findings to the cytologic and histologic results of patients assisted at the Lower Genital Tract Pathology Sector of Hospital do Servidor Público Estadual, assessing the degree of agreement among them. Methods: A retrospective, transversal and descriptive study was conducted, assessing 3,192 11 Revista Brasileira de Genitoscopia patients under colposcopic examination. It has been selected 638 patients who had abnormal colposcopic findings in the uterine cervix, according to the International Federation of Cervical Pathology/ Barcelona, 2002: flat and dense acetowhite epithelium (EAB), fine and coarse mosaic (MO), fine and coarse punctuation (PO), iodine negative and atypical vessels. The colposcopic findings were correlated to the cytological and histological results, being the degree of agreement between them evaluted. Results: The dense EAB was the finding more related to malignancy, while the iodine negative did not have any relation. The cytology ASC-H showed 58% of correspondence with abnormal histology, being 50% of high grade. False positive rate for colposcopy was 85.3%. Conclusions: The triad cytology, colposcopy and histology still forms the main tripod for the screening and diagnosis of precursor lesions of cervical carcinoma. The cytology is the main method of screening and is complemented by colposcopy. There are very few studies in the literature that correlate each colposcopic finding with abnormal cytology and histology. The importance of this study is to guide the choice of the most important colposcopic findings for biopsy, while retaining the sensitivity and increasing the specificity of this test. Keywords: Colposcopy. Vaginal smears. Histology. Introdução O câncer do colo uterino constitui uma das enfermidades de maior incidência e mortalidade no sexo feminino em quase todo o mundo. No entanto, é de evolução lenta e apresenta fases pré-invasivas caracterizadas pelas neoplasias intra-epiteliais cervicais (NIC) que se diagnosticadas precocemente podem ser totalmente curadas. Portanto, o rastreamento eficaz é fundamental e permite reduzir sua incidência1,2 e mortalidade. O colo uterino é alvo importante do Papilomavírus Humano (HPV) por conter epitélio metaplásico com células mitoticamente ativas3. A patologia associada ao HPV adquiriu importância no campo da oncologia pela detecção de alguns tipos virais em lesões intra-epiteliais escamosas e carcinoma cervical1, sendo a infecção pelo HPV considerada atualmente o principal fator de risco para o desenvolvimento de tais lesões4. Alguns estudos mostram que há certo tropismo de determinado tipo de HPV para o epitélio escamoso ou glandular5,6. Barron e Richart em 1968 mostraram que, na ausência de tratamento, o tempo médio entre a detecção da displasia leve (HPV, NIC 1) e o desenvolvimento de carcinoma in situ é de 58 meses, enquanto para as displasias moderadas (NIC 2) esse tempo é de 38 meses e, nas displasias graves (NIC 3), de 12 meses. Em geral, estima-se que a maioria (60-70%) das lesões de baixo grau regrida espontaneamente, cerca de 20 a 30% tornam-se persistentes e de 10 a 20% progridem para lesões de alto grau, enquanto cerca de 40% das lesões de alto grau não tratadas evoluem para câncer invasivo em um período médio de dez anos. Por outro lado, o Instituto Nacional de Câncer dos Estados Unidos calcula que somente 10% dos casos de carcinoma in situ evoluirão para câncer invasivo 12 no primeiro ano, enquanto de 30 a 70% terão evoluído em dez ou 12 anos, caso não seja oferecido tratamento2. Diante desses dados, pode-se concluir que o HPV inicia a lesão, que não evolui necessariamente para o câncer, pois deve haver outros fatores para que se estabeleça a neoplasia HPV-induzida3. As estratégias de prevenção do câncer do colo uterino consistem no diagnóstico precoce das lesões pré-invasivas, uma vez que a sua progressão é lenta e totalmente passível de tratamento. Esse diagnóstico é realizado por meio de técnicas de rastreamento populacional com exames citológicos, colposcópicos e histológicos, o que permite reduzir em cerca de 60 a 90% os índices de carcinoma cervical em três anos1. A associação entre esses métodos é uma das mais eficientes condutas na detecção precoce de lesões intra-epiteliais, o que possibilita uma atuação terapêutica menos invasiva e evita a progressão para o carcinoma invasivo. A citologia oncótica é o exame de rastreamento de melhor custo benefício para identificação de casos que necessitam encaminhamento para colposcopia e eventual biópsia dirigida7-10. A avaliação colposcópica, por sua vez, permite identificar anormalidades epiteliais cervicais e orientar a biópsia das áreas com alterações mais significativas, aumentando a acurácia do diagnóstico11,12. Entretanto, é considerado um exame subjetivo, muito dependente da avaliação do observador. Além disso, apesar da alta sensibilidade, apresenta baixa especificidade para detectar lesões intra-epiteliais13,14. Apesar da correlação entre os diagnósticos citopatológico, colposcópico e histopatológico estar estabelecida, vários trabalhos apontam controvérsias entre os resultados destas avaliações na dependência dos critérios e classificações utilizados15-18. O uso da colposcopia para diferenciar lesões de baixo grau e de alto grau sem a histologia está sendo discutida por vários autores. Em 2002, a Federação Internacional de Patologia Cervical e Colposcopia (IFCPC) aprovou a nova classificação no 11º Congresso Mundial em Barcelona, Espanha19. Essa classificação indica quais achados condizem com achados benignos, lesão de baixo grau, lesão de alto grau e carcinoma invasivo. Os achados sugestivos de lesão de baixo grau são: EAB tênue que aparece lentamente e desaparece rapidamente, PO fino, MO fino, iodo negativo freqüentemente com captação parcial. As lesões sugestivas de alto grau são: EAB denso, PO grosseiro, MO grosseiro, vasos atípicos e iodo negativo; por outro lado, as lesões relacionadas ao carcinoma invasivo são: superfície irregular erosiva ou ulcerada, EAB denso, PO grosseiro, MO grosseiro e vasos atípicos. O número de trabalhos na literatura que avaliam a importância dos achados colposcópicos e os relaciona à citologia e à histologia é escasso. Dessa forma, objetivouse neste estudo correlacionar os achados colposcópicos aos resultados citológicos e histológicos das pacientes Correlação citológica e histológica dos achados colposcópicos anormais Revista Brasileira de Genitoscopia atendidas no setor PTGI do HSPE no ano de 2006, avaliando o grau de concordância dos mesmos. Métodos Realizou-se estudo retrospectivo, transversal e descritivo que avaliou 3.192 pacientes submetidas à exame colposcópico no setor de PTGI do HSPE, no período de janeiro a dezembro de 2006. As indicações do exame colposcópico foram: exame citológico anterior ou atual anormal, alterações no exame de genitália externa ou especular, história de infecção pelo HPV, outras doenças sexualmente transmissíveis e acompanhamento de rotina das pacientes da oncologia pélvica. Selecionou-se 638 pacientes que apresentaram achados colposcópicos anormais no colo uterino, descritos segundo a Terminologia Colposcópica da IFCPC 200219: EAB tênue e denso, MO fino e grosseiro, PO fino e grosseiro, iodo negativo e vasos atípicos. Esses achados foram correlacionados aos seus respectivos resultados citológicos e histológicos, avaliando-se o grau de concordância entre eles. A histologia foi considerada o padrão ouro para o diagnóstico definitivo. Calculou-se a sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo (VPP) e negativo (VPN) da citologia. Os resultados citológicos foram divididos com base na classificação de Bethesda 200120 em: negativos para malignidade (citologia normal, alterações citológicas regenerativas ou reativas, inflamatórias e metaplásicas), indeterminado (alterações celulares de significado indeterminado, subdividido em células escamosas atípicas de significado indeterminado [ASC-US], células escamosas atípicas de significado indeterminado, não se podendo descartar lesão intra-epitelial de alto grau [ASC-H] e atipias em células glandulares [AGC]), lesão de baixo grau (NIC 1), lesão de alto grau (NIC 2, NIC 3 e Carcinoma in situ) e citologias positivas para lesões escamosas ou glandulares (adenocarcinoma in situ, carcinoma invasivo). A histologia, por sua vez, foi classificada como negativa, lesão de baixo grau (NIC 1), lesão de alto grau (NIC 2, NIC 3 e carcinoma in situ) e carcinoma invasivo. Os testes estatísticos do Qui-quadrado e Exato de Fisher foram realizados para avaliar a associação entre os resultados dos achados colposcópicos com a citologia e histologia. Foram considerados significativos os testes com valores de p<0,05. O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HSPE, nº 042/08. Resultados Avaliou-se 638 colposcopias alteradas, resultando em 697 achados colposcópicos. O EAB tênue foi o achado colposcópico mais incidente, em 391 casos (56,1%), seguido do MO fino em 109 (15,6%), EAB grosseiro em 78 (11,2%), iodo negativo em 56 (8%), PO fino em 49 (7%), PO grosseiro em sete (1%), MO grosseiro em quatro (0,6%) e vasos atípicos em três (0,4%). ESERIAN MC et al. A Tabela 1 mostra os achados colposcópicos por exame realizado, ou seja, nas 638 colposcopias. Observa-se que o EAB isolado continua sendo o achado mais incidente (66%) e que as alterações, na maioria das vezes (91,6%) aparecem isoladamente. Obtivemos achados agrupados em apenas 54 exames (8,5%), sendo o mais freqüente o EAB+PO, em 3,3%. Entre os achados citológicos houve 466 citologias normais ou inflamatórias (73%), 87 citologias de baixo grau (13,6%), 50 ASC-US (7,8%), 12 ASC-H (1,9%), 12 alto grau (1,9%), oito AGC (1,3%) e três citologias sugestivas de carcinoma invasivo (0,5%). Quanto aos resultados anatomopatológicos, houve normalidade em 544 casos (85,3%), baixo grau em 66 (10,4%), alto grau em 26 (4%) e carcinoma invasivo em dois (0,3%). A taxa de falso-positivo da colposcopia foi de 85,3% (544 histologias normais e 638 exames colposcópicos). A Tabela 2 ilustra a relação da citologia com a histologia. O ASC-H foi relacionado com histologia alterada em 58% dos casos, ou seja, mais que nos casos de citologia de baixo grau (54%) e até mesmo alto grau (50%). Duas das citologias classificadas como carcinoma foram confirmadas pela histologia. Considerando anatomopatológico alterado como lesão de baixo grau, lesão de alto grau e carcinoma invasivo e citologia alterada como ASC-US, ASC-H, AGC, lesão de baixo grau, lesão de alto grau e sugestiva de carcinoma invasivo, avaliamos a sensibilidade, especificidade, VPP e VPN da citologia oncótica, considerando a histologia como exame padrão ouro. Obteve-se sensibilidade de 78,7%, especificidade de 82%, VPP de 43% e VPN de 95,7%. A citologia superestimou a histologia em 15,8% (101/638) e subestimou a mesma em 6,4% (41/638). A Tabela 3 relaciona cada achado colposcópico com a citologia oncótica. Os vasos atípicos foram relacionados Tabela 1. Achados colposcópicos por exame Achados colposcópicos EAB MO Iodo negativo PO EAB+MO EAB+PO EAB+iodo negativo EAB+VA MO+PO PO+iodo negativo EAB+MO+PO EAB+MO+PO+VA Total Número de casos 421 85 53 25 19 21 2 2 5 1 3 1 638 % 66,0 13,4 8,3 3,9 2,9 3,3 0,3 0,3 0,8 0,1 0,5 0,1 100 VA=vasos atípicos 13 Revista Brasileira de Genitoscopia com citologia alterada em 100% dos casos, seguido do PO grosseiro em 57,2% e EAB denso em 51,3%. A relação de cada achado colposcópico com a histologia pode ser observada na Tabela 4. Para o cálculo do Qui-quadrado, considerou-se apenas duas categorias de histologia: alterada (lesão de baixo grau, alto grau e carcinoma invasivo), e não-alterada. O achado iodo negativo não correspondeu à histologia positiva em nenhum dos 56 casos. A Tabela 5 relaciona os achados colposcópicos em cada exame com histologia alterada e de padrão alto grau/carcinoma invasivo. O EAB denso foi isoladamente o Tabela 2. Relação entre a citologia e a histologia Citologia Normal ASC-US ASC-H AGC Baixo grau Alto grau Carcinoma Total Normal 446 40 5 7 40 6 544 Histologia Baixo grau Alto grau 17 3 9 1 1 6 1 37 10 1 5 1 66 26 Carcinoma 2 2 Total 466 50 12 8 87 12 3 638 Tabela 3. Relação dos achados colposcópicos com a citologia (n=697) Achados colposcópicos Citologia alterada MO fino 16/109 (14,6%) MO grosseiro 2/4 (50,0%) EAB tênue 107/391 (27,4%) EAB denso 40/78 (51,3%) PO fino 14/49 (28,6%) PO grosseiro 4/7 (57,2%) Vasos atípicos 3/3 (100%) Iodo negativo 2/56 (3,6%) Citologia não alterada *p 93/109 (85,4%) 0,003 2/4 (50,0%) 0,003 284/391 (72,6%) 0,0001 38/78 (48,7%) 0,0001 35/49 (71,4%) 0,36 3/7 (42,8%) 0,36 54/56 (96,4%) <0,0001 *para o cálculo do p, somamos os achados positivos de cada categoria Tabela 4. Relação dos achados colposcópicos com a histologia (n=697) Achados colposcópicos MO fino MO grosseiro EAB tênue EAB denso PO fino PO grosseiro Vasos atípicos Iodo negativo 14 Histologia p Normal Baixo grau Alto grau Carcinoma 100 8 1 0,098 3 1 0,098 341 38 11 1 <0,0001 48 17 12 1 <0,0001 40 6 3 0,004 3 1 2 1 0,004 2 1 0,36 56 - que mais se relacionou com lesão de alto grau/carcinoma invasivo e, entre os achados colposcópicos agrupados, foram o EAB denso com PO grosseiro. Foi excluída da comparação uma paciente com todos os achados colposcópicos com características clínicas macroscópicas de carcinoma invasivo. O MO fino isolado foi o que menos se relacionou à malignidade (1,2%). Os vasos atípicos apareceram sempre associados com outros achados, não havendo possibilidade de avaliar seu significado isoladamente. O MO e PO grosseiros isolados apareceram apenas em uma paciente e, portanto, foi difícil avaliar sua importância. O primeiro não apresentou histologia alterada e o segundo, lesão de baixo grau. Discussão A citologia pelo método de Papanicolaou apresenta sensibilidade e especificidade altas quando utilizada em populações como método de triagem9. Neste estudo o valor da sensibilidade da citologia oncótica foi de 78% e da especificidade de 81%, já a correlação histológica foi de 85%. Diversos autores observaram que a sensibilidade da citologia oncótica convencional varia de 50 a 95%, com correlação histológica entre 70 a 85%21. O uso do tripé diagnóstico clássico é essencial para que haja uma conduta adequada e de melhor relação custo-benefício21. Em relação à citologia classificada como indeterminada, podemos perceber que o ASC-H é o que mais se relaciona à malignidade, apresentando 58% de exames histológicos alterados, sendo 50% de alto grau. ASC-US apresentou 20% de casos alterados, sendo 2% de alto grau enquanto o AGC apresentouse em 12,5% alterado e nenhuma lesão de alto grau. A citologia com lesão de baixo grau apresentou 54% de histologia alterada sendo 11,5% de alto grau; a Tabela 5. Relação dos achados colposcópicos com histologia alterada e de alto grau/carcinoma Histologia Achados colposcópicos MO fino MO grosseiro EAB tênue EAB denso PO fino PO grosseiro Vasos atípicos Iodo negativo EAB denso+MO fino MO fino+PO fino EAB tênue+PO fino EAB denso+PO grosseiro Alterada/Total (%) 7/84 (8,3) 0/1 47/357 (13,2) 26/64 (40,6) 5/24 (20,8) 1/1 (100) 1/3 (33,3) 1/4 (25,0) 3/14 (21,4) 2/4 (50,0) Alto grau – carcinoma invasivo/total/(%) 1/84 (1,2) 0/1 11/ 357 (3,0) 10/ 64 (15,6) 2/24 (8,3) 1/14 (7,1) 2/4 (50,0) Correlação citológica e histológica dos achados colposcópicos anormais Revista Brasileira de Genitoscopia citologia com lesão de alto grau, por sua vez, teve histologia alterada em 50%, sendo 42% de alto grau. Em relação ao AGC, é importante lembrar que apesar de os resultados não terem apresentado lesão de alto grau, é imprescindível dar continuidade à investigação, pois as lesões dentro do canal cervical nem sempre são visíveis ao exame colposcópico. A correlação entre a citologia oncótica e a colposcopia é mostrada também por outros estudos. No Hospital Universitário de Santa Maria no ano de 2002, foram avaliados 1008 prontuários de pacientes com citologia oncótica alterada. Desses, 92% eram negativos para malignidade, 6% células escamosas anormais (15 lesões intra-epiteliais de baixo grau e 14 lesões intraepiteliais de alto grau) e 2% amostra insatisfatória. Em 92% (54/59) foi realizado exame colposcópico e observou-se concordância entre os achados colposcópicos e citológicos em 50/54 casos (92%). Em 6% (3/54), o resultado citológico estava superestimado, sendo que no exame colposcópico não foi evidenciada alteração e em 2% a colposcopia foi insatisfatória, sendo que a citologia identificou adenocarcinoma, diagnóstico confirmado pela histologia de peça cirúrgica. O exame histológico foi realizado em 82% das pacientes. Houve concordância em 69% (33/48) entre citologia e histologia; em 10% (5/48) dos casos a citologia foi superestimada e em 21% (10/48), subestimada1. Em nosso trabalho, a concordância citohistológica foi de 77,7%, sendo que a citologia superestimou a histologia em 15,8% (101/ 638) e a subestimou em 6,4% (41/638). Já Asturizaga e David, em estudo prospectivo que comparou a colposcopia com a citologia e histologia em 115 pacientes, encontraram concordância citocolposcópica de 83,5% e citohistológica de 79,2 %22. Outros autores encontraram taxas de concordância citohistológica de 65,1%23 e 75,8%24. Superestimativa diagnóstica da citologia foi relatada em 7% e subestimativa em 17,2%24. Martinez et al.25 encontraram taxas inferiores de concordância citohistológica nas lesões de alto grau em comparação às lesões de baixo grau (42% versus 71%). Neste estudo, encontramos concordância citohistológica de 74% entre as lesões de baixo grau (49/66) e de 89% entre as lesões de alto grau (25/28). Entre colposcopia e citologia oncótica, Martinez et al.25 encontraram concordância de 72% para as lesões de baixo grau e de 40% para as lesões de alto grau. Quanto às alterações colposcópicas, estudo com 1.232 colposcopias, entre 1998 e 2004 em Israel, avaliou 359 biópsias e seus respectivos achados. O EAB foi o mais recorente, em 74,9% (269), seguido de vasos atípicos em 12% (43) e MO em 6,1% (22)26. Em relação a este trabalho, ESERIAN MC et al. também encontramos o EAB como o achado mais recorrente (67,3%), seguido do MO (16,2%). Os vasos atípicos são o achado menos recorrente (0,4%). Confirmando os resultados encontrados em nosso estudo, Hammes et al27, constatou que o EAB tênue é o achado colposcópico mais incidente e o que também mais se relaciona à lesão de alto grau. Semelhante ao achado do nosso trabalho, iodo negativo também não foi relacionado a qualquer lesão. Esse é fato discrepante à classificação da IFCPC, que o considera uma lesão de alto grau. Segundo De Palo28, o iodo negativo tem associação com a malignidade em menos de 1% dos casos. No presente trabalho, concluímos que os achados associados geralmente não aumentam o VPP para as lesões de alto grau; apenas a associação EAB+PO apresentou VPP de 14,3%, tendo EAB denso +PO grosseiro VPP de 50%. A metanálise encontrou valor de sensibilidade da colposcopia entre 87 e 99%, mas apresenta baixa especificidade (30,3%), resultando em grande número de falso-positivos27. A taxa de falso-positivo neste trabalho foi de 85,3%. Conclusões Podemos concluir que a tríade citologia, colposcopia e histologia ainda é o principal tripé para o rastreamento e diagnóstico das lesões precursoras do carcinoma de colo uterino. A citologia é o principal método de rastreamento, sendo complementada pela colposcopia, exame que fornece muitos resultados falso-positivos. A citologia ASC-H está muito relacionada à malignidade, necessitando de complementação cuidadosa da investigação. O EAB denso foi o achado colposcópico mais relacionado às lesões de alto grau e o iodo negativo não teve qualquer correlação. Existem poucos estudos na literatura que correlacionam cada achado colposcópico anormal com a histologia e citologia. A importância desse estudo é orientar o colposcopista a escolher os achados colposcópicos mais importantes para a biópsia, manter a sensibilidade e aumentar a especificidade do exame. Endereço para correspondência Maria do Carmo Eserian Rua Cardoso de Almeida, 1149, apto. 101 – Perdizes CEP 05013-001 – São Paulo (SP) E-mail: [email protected] 15 Revista Brasileira de Genitoscopia Referências bibliográficas 1. Stival CO, Lazzarotto M, Rodrigues YB, et al. Avaliação comparativa da citopatologia positiva, colposcopia e histopatologia: destacando a citopatologia como método de rastreamento do câncer do colo do útero. RBAC. 2005;37(4):215-8. 16. McCord ML, Stovall TG, Summitt RL Jr, et al. Discrepancy of cervical cytology and colposcopic biopsy: is cervical conization necessary? Obstet Gynecol. 1991;77(5):715-9. 2. Instituto Nacional do Câncer (Inca). Câncer do colo de útero (Online). www. inca.gov.br/estimativa/2008, acesso em setembro de 2008. 3. Vianna Jr I, Albernaz KE, Iglesias MLM. Patologia do trato genital inferior da mulher. Escobar A. Genitoscopia: patologia do trato genital inferior. Rio de Janeiro: Elsevier; 2007. p. 91-5. 17. Horn LC, Kuhndel K, Bilek K. 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Colposcopia e patologia do trato genital inferior. 2nd ed . Rio de Janeiro: Medsi Editora Médica e Científica; 1996. Correlação citológica e histológica dos achados colposcópicos anormais Artigo Original Perfil epidemiológico das mulheres com carcinoma de colo uterino invasor na grande Florianópolis Epidemiologic profile of women with invasive uterine cervical neoplasms in Florianópolis Cyntia Carvalho Magaton1 Edison Natal Fedrizzi2 Thiago Mamôru Sakae3 Resumo Objetivo: Analisar o perfil epidemiológico das mulheres com carcinoma de colo uterino invasor admitidas no Hospital Universitário da cidade de Florianópolis, Santa Catarina. Métodos: Realizou-se um estudo observacional de delineamento transversal com mulheres da grande Florianópolis com o diagnóstico histopatológico de câncer de colo uterino invasor no período de janeiro de 2003 a dezembro de 2007. Foram avaliados fatores de risco e co-fatores destas mulheres, tipo histológico, estadiamento e tratamento instituído. Resultados: Foram incluídas 53 mulheres com média etária de 45,13 anos. Quanto aos fatores de risco, 88,7% eram de etnia branca, 73,9% tiveram início das relações sexuais com idade superior a 15 anos e a paridade média foi de três gestações completas. Quanto aos co-fatores de risco, 43,5% eram tabagistas, 78,6% faziam o uso de anticoncepcional oral e 18,5% faziam uso de terapia hormonal. A maioria (83%) era portadora de carcinoma espinocelular (CEC) e 50% apresentaram o estadiamento tumoral entre IIb a IVb, segundo a classificação da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO). O tipo de tratamento mais utilizado foi a cirurgia (58%). O hábito de fumar esteve mais associado ao CEC (RP=1,14; IC 95%: 0,931,4; p=0,230). A etnia branca apresentou prevalência 13% menor de CEC (RP=0,87; IC 95%: 0,78-0,97; p=0,445) e as pacientes que apresentaram paridade de três ou mais filhos tiveram prevalência 30% maior de CEC (RP=1,28; IC 95%: 0,99-1,67; p=0,034). Conclusões: A paridade média de três filhos foi o único co-fator associado ao carcinoma de colo uterino. Metade dos casos foi diagnosticada em estádios inoperáveis (IIb a IVb). Palavras-chave: Câncer do colo do útero. Perfil de saúde. Fatores de risco. Abstract 1 Graduanda do Curso de Medicina da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) Professor de Ginecologia e Obstetrícia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) 3 Professor de Epidemiologia da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) 2 Objective: To examine the epidemiological profile of women with uterine cervix carcinoma admitted in the University Hospital in the city of Florianópolis, Santa Catarina, Brazil. Methods: An observational study with cross design was done. Women with histopathologic diagnosis of invasive cancer of the uterine cervix from January 2003 to December 2007 were evaluated. Histological type 17 Revista Brasileira de Genitoscopia and medical records, including epidemiological information about cofactors and risk factors were analyzed. Results: We included 53 patients with mean age of 45.13 years old. Regarding risk factors, 88.7% were of white ethnicity, 73.9% had their first sexual intercourse over 15 years-old and the mean parity was three full-term pregnancies. About risk cofactors, 43.5% were smokers, 78.6% were using oral hormonal contraceptive and 18.5% were using hormone therapy. Squamous cell carcinoma (SCC) was the most prevalent (83%) type of tumor. 50% of patients had tumor staging between IIb and IVb, according to the classification of the International Federation of Gynecology and Obstetrics. Surgery was the most frequent therapy in these cases (58%). The smoking habit was more associated with SCC (PR=0.87, CI 95% 0.78-0.97). The white ethnic group presented a 13% lower prevalence of squamous cell carcinoma (PR=0.87, CI 95%: 0.78-0.97) and the patients who had a parity of three or more children had a greater prevalence of 30% of squamous cell carcinoma (PR=1.28, CI 95% 0.99-1.67). Conclusions: The average parity of only three children was the cofactor associated with cervical carcinoma; half of the cases were diagnosed in advanced staging (IIb to IVb). Keywords: Uterine cervical neoplasms. Health profile. Risk factors. Introdução O carcinoma de colo uterino (CCU) representa grande problema mundial de saúde pública, com incidência anual de aproximadamente 500 mil casos novos e 230 mil mortes. Sua ocorrência apresenta maior risco na faixa dos 45 aos 49 anos, atingindo, dessa forma, mulheres economicamente ativas1. No Brasil, este câncer é a segunda neoplasia maligna mais comum no sexo feminino e a quarta causa de morte em mulheres. O número de casos novos de CCU esperados para o Brasil para o ano de 2008 é de 18.680, com taxa bruta de incidência de 19,18 casos novos por 100 mil mulheres. Para o estado de Santa Catarina e a sua capital, Florianópolis, a mesma taxa para o referido ano é 16,38 e 19,18 respectivamente1. Entretanto, esse resultado pode apresentar fatores confundidores em virtude da baixa notificação da doença, principalmente nas regiões norte e nordeste. A maior parte dos casos de CCU ocorre nos países em desenvolvimento, sendo esses responsáveis por 80% dos casos novos e 85% das mortes, evidenciando, assim, grande impacto na mortalidade2-5. Por outro lado, tem-se observado, nos últimos 50 anos, uma redução da incidência e mortalidade por esse câncer em países desenvolvidos em decorrência da eficácia dos programas de rastreamento das populações3,6,7. Atualmente, os estudos epidemiológicos têm mostrado que, apesar do CCU ser doença que pode ser prevenida e de bom prognóstico, a persistência de altas taxas de incidência e mortalidade está associada à falta de recursos dos serviços de saúde pública, corroborando assim para as falhas dos programas de prevenção e de diagnóstico 18 precoce para o tratamento adequado3,8. Em virtude disso, de 70 a 80% das mulheres nestes países apresentam a doença em fase avançada no momento do diagnóstico com diminuição da sobrevida livre da doença9,10. Geralmente, este câncer tem evolução lenta e é precedido por lesões pré-invasivas com período de evolução para o carcinoma invasor em aproximadamente 10 a 20 anos depois11. Está bem estabelecido que a infecção pelo HPV é o fator causal do CCU (DNA do HPV presente em mais de 99% dos casos)12,13. Os tipos virais mais relacionados são: HPV 16 (53% dos casos), HPV 18 (15%), HPV 45 (9%), HPV 31 (6%) e HPV 33 (3%). Os principais tipos histológicos de CCU são os carcinomas espinocelulares (CEC), geralmente associados ao HPV 16, e que representam entre 80 e 90% dos casos. Os adenocarcinomas, geralmente associados ao HPV 18, representam os 10 a 20% restantes. Os principais estudos em relação às vacinas anti-HPV tem levado em consideração a frequência dos tipos de HPV envolvidos no câncer10,14. Porém, sabe-se que somente a infecção pelo HPV não é o suficiente para o desenvolvimento do carcinoma de colo uterino. São necessários diversos outros fatores e/ ou co-fatores que, em conjunto, irão modular a evolução para a forma invasora12,13,15,16. Alguns desses fatores estão associados ao fumo, esteróides sexuais, estado imunológico, história reprodutiva e comportamento sexual (início da atividade sexual e número de parceiros), estando eles relacionados ao risco de contaminação pelo HPV ou ação direta na carcinogênese por ação imunológica17-20. Atualmente tenta-se diagnosticar mais precocemente a doença, aumentando a sensibilidade, associando o exame citopatológico convencional à detecção do DNA viral21-23. O conhecimento do perfil epidemiológico das mulheres com CCU poderá estabelecer metas de assistência, orientação, rastreamento e tratamentos mais adequados para os grupos de maior risco, havendo possibilidade de se estabelecer um programa de prevenção com acompanhamento periódico e diferenciado, uma vez que quanto mais precoce for a intervenção, maior a chance de sobrevida e menor o custo do tratamento. Este trabalho teve por objetivo analisar o perfil epidemiológico das mulheres com CCU invasor em Florianópolis no período de janeiro de 2003 a dezembro de 2007. Casuística e métodos Realizou-se um estudo observacional de delineamento transversal com análise de banco de dados secundários. A amostra consistiu em mulheres com carcinoma de colo uterino invasor de Florianópolis atendidas no Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina (HU/UFSC) no período de janeiro de 2003 a dezembro de 2007. Houve um total de 53 casos, levando-se em consi- Perfil epidemiológico das mulheres com carcinoma de colo uterino invasor na grande Florianópolis Revista Brasileira de Genitoscopia deração as estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA) de 40 casos novos de CCU por 100 mil mulheres em Florianópolis1. Foram incluídas todas as mulheres com o diagnóstico histopatológico definitivo de CCU invasor avaliadas e tratadas no HU/UFSC neste período. Foram excluídos do estudo os casos com diagnóstico incompleto, ou seja, sem exames histopatológicos (apenas citológico) e com CCU de acometimento endometrial cujo sítio primário da lesão não foi claramente definido. Foi utilizado um protocolo de pesquisa constituído por roteiro de informações estruturadas relevantes ao tema do trabalho, de caráter aberto e múltipla escolha, idealizado e preenchido pelos autores do estudo. O protocolo foi preenchido com base na análise dos prontuários e dos laudos histopatológicos de cada caso. As variáveis utilizadas foram idade, etnia, início das relações sexuais, paridade, tabagismo, uso de anticoncepcional oral (ACO), terapia hormonal (TH), tipo histológico (epidermóide, adenocarcinoma e outros), estadiamento Tabela 1. Distribuição das variáveis comportamentais e fator de risco das mulheres com CCU atendidas no HU/UFSC, 2003-2007 Variáveis Fumo Não Sim Total Etnia Branca Não branca Total Primeira relação sexual <15anos >15 anos Total Uso de anticoncepcional oral Não Sim Total Uso de terapia hormonal Não Sim Total Paridade 0 1-2 3-4 5-6 >7 Total MAGATON CC et al. n % 26 20 46 56,5 43,5 100 47 6 53 88,7 11,3 100 6 17 23 26,1 73,9 100 6 22 28 21,4 78,6 100 22 5 27 81,5 18,5 100 1 20 15 4 12 52 1,9 38,5 28,8 7,7 23 100 clínico (baseado na Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia23) e tratamento (cirurgia, radioterapia, quimioterapia e associações). Os dados foram estudados utilizando o programa Epidata versão 3.1 e a análise estatística foi realizada com o programa Epi Info 2002 versão 3.2.2. As variáveis qualitativas foram descritas por proporções e razões e as quantitativas, por medidas de tendência central e dispersão. Foram testadas associações através dos testes de qui-quadrado ou exato de Fisher para as variáveis qualitativas e análise de variância para as quantitativas, quando apropriadas. O nível de significância adotado foi α<0,05. O projeto em pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em seres humanos da UNISUL (nº. 07.375.4.01). Resultados A idade das pacientes no momento do diagnóstico variou entre 24 e 80 anos, com média etária de 45,13 anos. A faixa etária dos 35 aos 56 anos representou 64,1% das pacientes. Os resultados foram analisados de acordo com o número de prontuários que continham as informações desejadas. Quanto à presença de fatores de risco, o hábito de fumar foi avaliado em 46 prontuários que tinham essa informação, sendo que 20 (20/46) mulheres (43,5%) referiam atual ou prévio tabagismo (Tabela 1). Em relação ao uso de anticoncepcional, 78,6% (22/28) faziam uso atual ou tiveram uso prévio dessa medicação (Tabela 1). Investigando o uso ou não de terapia hormonal, observamos que 81,5% (22/27) não faziam o uso atual ou prévio de algum tipo de hormônio (Tabela 1). A grande maioria das mulheres, 88,7% (47/53), era de etnia branca. Foram encontradas diferenças de etnia de acordo com o tipo histológico, porém, sem significância estatística. A etnia branca apresentou prevalência 13% menor de CEC em comparação ao grupo de etnia não branca (RP=0,87; IC 95% 0,78-0,97; p=0,445). Analisando a paridade, 38,5% (20/52) das mulheres tiveram uma ou duas gestações completas. O número médio de gravidezes foi de três gestações a termo para cada mulher, sendo que houve variância de mínimo de zero (nulíparas) ao máximo de 12 gestações (Tabela 1). A grande maioria das mulheres, 73,9% (17/23), iniciou a atividade sexual com idade superior a 15 anos (Tabela 1). Analisando os tipos histológicos encontrados, 83% (44/53) foram de carcinoma espinocelular, seguido pelo adenocarcinoma em 11%. O fumo esteve mais associado ao adenocarcinoma (80%) do que ao CEC (51,3%), apesar de não ser encontrada diferença estatisticamente significativa (RP=1,14; IC 95% 0,93-1,4; p=0,230). 19 Revista Brasileira de Genitoscopia 6 18% 5 4 17% 13% 17% 13% 10% 3 2 3% 1 3% 3% 0 Ia1 Ia2 Ib1 Ib2 lla llb llla 3% lllb lVa lVb Gráfico 1. Distribuição quanto ao estadiamento tumoral nas pacientes com CCU atendidas no HU/UFSC, 2003-2007. O grupo das mulheres que faziam uso de ACO mostrou prevalência 25% maior de adenocarcinoma, porém esse achado não foi significativo (RP=0,75; IC 95% 0,58-0,97; p=0,235), da mesma forma que a associação entre o uso de terapia hormonal e tipo histológico (RP=0,93; IC 95% 0,51–1,69; p=0,61). A análise da distribuição do tipo histológico de acordo com a paridade apresentou diferenças estatisticamente significativas comparando-se a média de filhos de acordo com os tipos histológicos (p=0,044). A paridade alta (>3 filhos) apresentou prevalência quase 30% maior de CEC quando comparada às mulheres de paridade inferior a três filhos (RP=1,28; IC 95% 0,99-1,67; p=0,034) conforme Tabela 2. Os tipos histológicos, idade e paridade não estiveram associados ao estadiamento tumoral de forma estatisticamente significativa. Quanto ao estadiamento no momento do diagnóstico, apenas 30 prontuários possuíam essa informação, com 15 casos (50%) nos estadios Ia a IIa e 15 (50%) nos estadios IIb a IVb (Gráfico 1). As abordagens terapêuticas foram bastante diversificadas, sendo que nove casos (17%) não continham essa informação. A cirurgia foi a modalidade terapêutica mais utilizada, correspondendo a 58%, seguida pela quimioterapia em seis casos (11%). O tratamento combinado (cirurgia+radioterapia+quimioterapia) foi realizado em apenas um caso (2%) conforme Gráfico 2. Discussão Segundo o Ministério da Saúde, o câncer de colo uterino torna-se evidente na faixa etária dos 20 aos 29 anos, e o risco aumenta rapidamente, até atingir seu pico na faixa etária entre dos 45 aos 49 anos1. Observamos neste estudo um aumento gradativo no número de casos a partir dos 24 anos, sendo que 64,1% estavam na faixa dos 35 aos 56 anos. A freqüência dos carcinomas espinocelulares do colo uterino no mundo inteiro representa de 80 a 90% dos casos e os adenocarcinomas, os 10 a 20% restantes2. Esse 20 Sem inform ação Cirurgia Cirurgia+RT+QT RT+QT QT RT RT: radioterapia; QT: quimioterapia. Gráfico 2. Distribuição quanto ao tipo de conduta terapêutica aplicada nas pacientes com CCU atendidas no HU/ UFSC, 2003-2007. Tabela 2. Distribuição do tipo histológico segundo paridade nas pacientes com CCU atendidas no HU/UFSC, 2003-2007 Tipo histológico Carcinoma espinocelular Adenocarcinoma Diferença Paridade média 4,23 1,83 2,39 Variância 7,75 1,76 - p=0,044 número foi exatamente o encontrado neste estudo, sendo 83% do tipo histológico CEC e 11% adenocarcinoma. Muitos estudos mostram que o uso de ACO e principalmente o tempo de exposição a ele estão associados ao CCU, principalmente o adenocarcinoma24. No entanto, observamos em nosso estudo que as mulheres que faziam uso de ACO tiveram prevalência menor de CEC (28,6%) comparadas aos 71,4% que não faziam o uso (RP=0,75; p=0,235). Porém, em se tratando de adenocarcinoma, todas as seis mulheres que tiveram este diagnóstico não usavam ACO. Estudos epidemiológicos mostram que mulheres em regime de TH possuem risco maior que o dobro (RR=2,1) para adenocarcinoma comparada ao CEC25. Em nossa avaliação, apenas 18,5% das mulheres faziam uso de Perfil epidemiológico das mulheres com carcinoma de colo uterino invasor na grande Florianópolis Revista Brasileira de Genitoscopia terapia hormonal e, ao ser analisada a associação entre terapia hormonal e tipo histológico, não foi encontrada diferença estatisticamente significativa. Quanto ao hábito de fumar, os mecanismos pelos quais o tabaco levaria à indução de efeito sobre o epitélio cervical ainda são desconhecidos. Entretanto, foi constatada a presença de nicotina no muco cervical de fumantes, e essa substância poderia ocasionar dano ao DNA celular deste epitélio e induzir ao aumento na proliferação celular na zona de transformação17. Os efeitos imunossupressores do cigarro podem contribuir para a persistência da infecção pelo HPV, uma vez que o fumo diminui o número e a função das células de Langerhans, responsáveis pela imunidade celular local19. Em meta-análise, comparando os fatores de risco para adenocarcinomas e CEC, observou-se que o hábito de fumar estaria associado ao aumento do risco para CEC15. Esse fato não foi observado em nosso estudo, pois 56,5% das mulheres não tinha este hábito. Por outro lado, obtivemos resultado semelhante quando ao correlacionar com o tipo histológico, sendo o CEC mais associado às fumantes (51,3%) que às não-fumantes. Em estudo realizado com 251 mulheres com CCU no México, observou-se que a alta paridade, ou o alto número de gestações (definidos pelos autores como mais de 12 gestações ou partos), estiveram relacionados a uma maior incidência desse câncer26. De acordo com outros estudos, mulheres com número maior de gestações completas, teriam risco aumentado de desenvolver câncer cervical20. Neste estudo, ao analisar a paridade, observou-se que a paridade de três ou mais filhos apresentou prevalência de aproximadamente 30% maior de CEC quando comparada às mulheres de paridade baixa. Na Índia, foi realizado um estudo que demonstrou que o início precoce das relações sexuais aumenta a incidência de CCU27. Murta et al28, estudando um grupo de 615 mulheres, observaram que, dos casos que apresentavam sinais citológicos de infecção pelo HPV, 70% tiveram início precoce da atividade sexual, demonstrando relação de risco entre precocidade da coitarca e a infecção pelo HPV. Em nosso estudo, no entanto, a grande maioria das mulheres com CCU (73,9%) iniciou a atividade sexual com idade superior a 15 anos. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, mais da metade das mulheres apresentam o diagnóstico de câncer cervical em fase avançada29. Observa-se o mesmo resultado, com 50% dos casos com estadiamento maior ou igual a IIb e, conseqüentemente, inoperáveis no momento do diagnóstico. O tratamento cirúrgico do CCU está diretamente relacionado ao diagnóstico precoce da doença. Estudo realizado pela Liga Paranaense de Combate ao Câncer, de Curitiba divulgou que em 65,8% dos casos de CCU o tratamento estabelecido foi a cirurgia e em 13,2% a terapia combinada30. No presente estudo também foi a cirurgia o tratamento mais frequentemente utilizado (58% dos casos), sendo a terapia combinada em apenas 2%. Em conclusão, não foi observado nenhum co-fator associado aos casos de carcinoma invasivo de colo uterino, exceto a paridade média de três filhos. O carcinoma espinocelular, como esperado, foi o mais prevalente, e metade dos casos foi diagnosticada em estádios inoperáveis (IIb a IVb). Inúmeras estratégias devem ser instituídas em nosso meio para que se possa modificar a alta incidência de CCU, doença que pode ser completamente prevenida. Melhorar a cobertura do rastreamento citológico, incrementar sua sensibilidade e propiciar infra-estrutura adequada para manejo dos casos alterados à colpocitologia são ações possíveis de serem realizadas no momento. Espera-se, para um futuro não muito distante, que as vacinas anti-HPV possam reduzir esses números de maneira significativa, com eficácia maior e custo menor. Endereço para correspondência Edison Natal Fedrizzi Centro de Pesquisa Clínica Projeto HPV Hospital Universitário/UFSC, Campus Universitário – Trindade CEP 88040-970 – Florianópolis (SC) E-mail: [email protected] Referências bibliográficas 1. Ministério da Saúde do Brasil. Estimativa 2008 - Incidência de Câncer no Brasil. Rio de Janeiro (RJ): INCA; 2008. 2. 3. 4. Pisani P, Parkin DM, Ferlay J. Estimates of the worldwide mortality from eighteen major cancers in 1985. Implication for prevention and projections of future burden. Int J Cancer. 1993;55(6):891-903. Ferlay J, Bray F, Pisani P, et al. GLOBOCAN 2000: Cancer inicidence, mortality and prevalence worldwide. Version 1.0, IARC Cancer Base n. 5, Lyon: IARC Press; 2001. 5. Howlett RI, Marrett LD, Innes MK, et al. 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Curitiba (PR): LPCC; 2007. 22 Perfil epidemiológico das mulheres com carcinoma de colo uterino invasor na grande Florianópolis Artigo de Revisão Imiquimode tópico para tratamento da doença de Paget da vulva Topical imiquimod for the treatment of vulvar Paget’s disease Neila Maria de Góis Speck1 Julisa Chamorro Lascasas Ribalta2 Resumo A doença de Paget é neoplasia cutânea incomum que se manifesta por placas eritematosas na região anogenital. Existem várias formas de tratamento, porém com diferentes taxas de sucesso. É comum a recidiva, a qual ocorre em 30% dos casos, independente das margens cirúrgicas. Isto decorre da retrodisseminação das células de Paget pelos vasos linfáticos e ao longo da camada basal. O imiquimode é droga imunomoduladora, habitualmente usada para o tratamento de condilomas anogenitais. O mesmo induz a resposta imune inata e adquirida; aumenta a produção local de interleucina, interferons e fator de necrose tumoral. Relatos da literatura demonstram que seu uso na doença de Paget anogenital é efetivo na eliminação da lesão e diminuição das taxas de recidiva. Palavras-chave: Doença de Paget Extramamária. Doenças da vulva. Adjuvantes Imunológicos. Abstract Paget´s disease is an uncommon cutaneous neoplasia that presents as erythematous plaques in the anogenital region. Several modalities of treatment are available, each with variable effectiveness. Recurrence occurs in 30% of the cases, irrespective of surgical margins. It is caused by the Paget´s cells dissemination through lymphatic vessels and within the skin basal layer. Imiquimod is an immunomodulatory drug, usually used for treating anogenital condylomas. It stimulates the innate and cellular immune responses and increases the local production of cytokines such as interferon, interleukin, and tumor necrosis factor. Literature reports show that its use in Paget´s disease is effective in the complete healing with minor recurrence rates. Keywords: Paget’s disease, Extramammary. Vulvar diseases. Adjuvants, Immunologic. Uso de imunomodulador tópico em doença de Paget da vulva Doutora em medicina pela Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP, médica contratada chefe do ambulatório de colposcopia da UNIFESP 2 Professora livre-docente do departamento de ginecologia da UNIFESP, chefe do núcleo de prevenção em doenças ginecológicas da UNIFESP 1 A doença de Paget é neoplasia cutânea incomum que se manifesta por placas eritematosas na região anogenital. Ocorre mais frequentemente em mulheres brancas, menopausadas e acima dos 70 anos. Caracteriza-se histopatologicamente por proliferação de células apócrinas (células de Paget), localizadas na camada basal do epitélio, podendo atingir toda a sua espessura. Em 15 a 20% dos casos apresenta adenocarcinoma subjacente, da própria doença, ou da glândula de 23 Revista Brasileira de Genitoscopia Bartholin, ou sudorípara ou de origem extra-vulvar como útero, trato urinário, gastrointestinal e mama1. As formas de tratamento desta doença são: eletrodisssecção e curetagem, cirurgia a laser, excisão ampla com margens de segurança, ácido aminolevulínico e terapia fotodinâmica, radioterapia ou quimioterapia tópica. No entanto, é comum a recidiva, a qual ocorre em 30% dos casos, independente das margens pós-excisão. Isto decorre da retrodisseminação das células de Paget pelos vasos linfáticos e ao longo da camada basal. Em geral a borda livre da lesão é equivocada1-2. O imiquimode a 5% tem sido usado no tratamento da doença de Paget anogenital: representa droga imunomoduladora, a qual induz a resposta imune inata e a adquirida. Aumenta a produção local de interleucina, interferons e fator de necrose tumoral. O sache contém 250 mg de creme e 50 mg do princípio ativo3-8. É aprovado pelo FDA e ANVISA para o tratamento da ceratose actínica, carcinoma basocelular superficial e condilomas. Outras afecções nas quais tem sido usado, sem aprovação, são: o carcinoma de células escamosas in situ, o melanoma in situ ou lentigo maligno, e a doença de Paget extra-mamária4,7. O seu uso em doença de Paget foi descrito por: Zampogna et al. em dois casos de lesão perineal e perianal3; Qian et al. em um caso de lesão em pênis5; Berman, Perez, Zell em um caso de doença de Paget recidivante em pênis4; Cohen et al. um caso de doença de Paget supra-púbico em homen8; Sanchez-Carpintero, Martinez, Mihm em duas mulheres com hemangioendotelioma em face e doença de Paget mamário6. Todos os casos relatados tiveram erradicação clínica e histológica das lesões. Louis-Sylvestre, et al apresentam análise retrospectiva de 52 pacientes tratadas cirurgicamente de doença de Paget da vulva. Os autores mostraram que quando estas mulheres foram tratadas por excisão ampla, apresentaram recidiva em 23%; quando por vaporização a laser de CO2, 67% e excisão conservadora com vaporização das margens, 33%. Concluíram que o tratamento conservador preserva a anatomia, porém as recidivas são elevadas2. Assim nos parece que o imiquimode é droga de boa eficácia para casos recidivantes, principalmente quando é desejável a conservação da anatomia vulvar. No tratamento com imiquimode da doença de Paget, os diversos trabalhos recomendam o uso de um sachê inteiro, três vezes por semana sobre a área afetada, até a cura clínica que pode variar de quatro a 16 semanas (por no máximo 16 semanas). Efeitos colaterais são comuns, como eritema local, edema, ulceração, formação de crosta, ocasionalmente alteração da pigmentação da pele e sintomas sistêmicos que simulam gripe (flue like syndrome). Isto decorre de liberação de citocinas pró-inflamatórias. Algumas orientações são necessárias para a usuária do imiquimode: • aplicar o creme sobre a lesão na hora de deitar e lavar a área pela manhã • explicar sobre os efeitos colaterais, conseqüentes da resposta inflamatória • usar protetor solar na área tratada (caso exposta ao sol) • retornar após duas semanas do início do tratamento Orientações a serem seguidas pelo profissional responsável: • iniciar a terapia apropriada para lesão específica • se outro curso de tratamento for necessário, dar intervalo de quatro semanas • biopsiar a lesão se houver suspeita de invasão • se a resposta inflamatória for exacerbada, diminuir a freqüência da aplicação • não ocluir a área tratada7 Conclusão A presente revisão teve como objetivo analisar dados de literatura, para a aplicação do imiquimode em doença de Paget anogenital, por se tratar de doença de difícil controle, com altas taxas de recidiva. Acreditamos que seu uso seja satisfatório para casos que apresentam recidiva. Endereço para correspondência Neila Maria de Góis Speck Rua Barão do Triunfo, 550 Cjto 115 CEP 04602-002 – São Paulo (SP) E-mail: [email protected] Referências bibliográficas 1. 2. 3. 4. 24 Trindade ES, Polcheira PA, Basílio DB, et al. Doença de Paget invasiva da vulva e região perianal: relato de caso. RBGO 2004;26(4):329-35. Louis-Sylvestre C, Haddad B, Paniel BJ. Paget´s disease of the vulva: results of different conservative treatments. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol 2001;99(2):253-5. Zampogna JC, Flowers FP, Roth WI, et al. Treatment of primary limited cutaneous extramammary Paget´s disease with topical imiquimod monotherapy: two case reports. J Am Acad Dermatol 2002;47(4 Suppl):S229-35. Berman B, Perez OA, Zell D. Immunological strategies to fight skin cancer. Skin Therapy Lett 2006;11(5):1-7. 5. 6. 7. 8. Qian Z, Zeitoun NC, Shieh S, et al. Successful treatment of extramammary Paget´s disease with imiquimod. J Drugs Dermatol 2003;2(1):73-6. 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Este artigo de revisão comenta sobre esses compostos, suas funções e ações, e como podem ser utilizados para o tratamento de doenças relacionadas ao trato genital inferior. Palavras-chave: Doenças urogenitais femininas. Medicamentos fitoterápicos. Isoflavonas. Podophyllum. Thuya occidentalis. Abstract Some phytotherapic drugs, as isoflavones, chamomile, Podophyllum, Echinacea, and Thuya occidentalis, can be used in the treatment of several diseases. This review article comments about these compounds, their functions and actions, and how they can be used for the treatment of lower genital tract diseases. Keywords: Female urogenital diseases. Phytotherapic drugs. Isoflavones. Podophyllum. Thuya occidentalis. Introdução Professora-assistente Doutora do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Chefe do Setor de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo 2 Professora-assistente Doutora do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo 1 O ecossistema vaginal é dinâmico, podendo sofrer alterações em quantidade e composição, que dependem de fatores intrínsecos da mulher, tais como idade, fase do ciclo menstrual, gravidez, tipo de método contraceptivo, atividade sexual, hábitos de higiene, estado emocional, uso de drogas, entre outros1. Além disso, pode haver desequilíbrio da flora bacteriana local devido a mudança de hábitos, uso de medicamentos, mudanças hormonais, bem como modificações no trofismo local ocasionadas pelo hipoestrogenismo após a menopausa. Desta forma, diferentes tipos de doenças podem acometer o trato genital inferior, como processos alérgicos, inflamatórios, infecciosos (origens viral, bacteriana e micótica), pré-neoplásicos e neoplásicos. Existem diversos medicamentos já consagrados para o tratamento das várias condições que afetam o trato genital inferior; no entanto, há também opções entre elas os fitomedicamentos. O objetivo desta revisão foi apresentar alguns fitomedicamentos que podem ser utilizados no tratamento de doenças ou anormalidades locais no trato genital inferior. 25 Revista Brasileira de Genitoscopia Isoflavonas: Glycine max, Cimicifuga racemosa, Trifolium pratense Os fitoestrogênios são substâncias encontradas em diversos vegetais e apresentam estrutura química e atividades biológicas semelhantes aos estrogênios, agindo como agonistas ou antagonistas do estrogênio, conforme o local de atuação2. Entre os fitoestrogênios, as isoflavonas possuem a capacidade de se ligar aos receptores de estrogênio alfa e beta, com uma afinidade seis vezes maior pelo último. Essas substâncias competem por esses receptores, agindo como antiestrogênios, caso as concentrações séricas de estrogênios estiverem elevadas (inibição competitiva), mas agem como estrogênios se essas concentrações séricas estiverem baixas3. Em relação ao trato genital inferior, alguns estudos têm sido realizados utilizando essas substâncias na tentativa de melhorar o trofismo do epitélio vaginal e aumentar a lubrificação, podendo, assim, ser utilizada em casos de sintomas geniturinários relacionados ao hipoestrogenismo. No entanto, os trabalhos encontrados são discordantes: alguns reconhecem o efeito benéfico (melhora dos sintomas e dos índices de cariopicnose e maturação celular do epitélio vaginal)4-10 enquanto outros não o encontraram11-16. Dentre os fitoestrogênios, destacam-se a Glycine max, a Cimicifuga racemosa e o Trifolium pratense. Camomila Erva da família das Compostas, a camomila apresenta tipos variados de plantas17 com efeitos antiespasmódicos, antibacterianos, antiinflamatórios, anti-sépticos, sedativos e antipiréticos17,18. Esses efeitos medicamentosos são decorrentes de alguns princípios ativos que compõem o óleo essencial encontrado notadamente nos capítulos florais: o azuleno, o camazuleno, o óxido de bisabolol B, alfa-bisabolol, óxido de bisaboleno e óxido de bisabolol A, alfa-farneseno, óxido de cariofileno, dentre outros18. Estudos mostram efeito antibacteriano e tricomonicida em relação a microorganismos habituais e agressivos isolados de material de conteúdo vaginal e oral, como Staphylococcus aureus, Streptococcus mutans, Streptococcus grupo B, Streptococcus salivarius, Bacillus megatherium, Leptospira icterohaemorrhagiae, Staphyloccus epidermidis, Streptococcus faecalis, Trichomonas vaginales19. Também apresentou efeito inibitório dose dependente contra herpes simples vírus tipo 220. Em relação ao trato genital, essa substância pode ser utilizada na forma de infusões (banhos de assento), compressas e na forma de pomada. Existe, em nosso meio, pomada com a seguinte composição: cada grama de pomada contém extrato de flor de camomila padronizado 4 mg, correspondendo a 0,2 mg de óleo de camomila, contendo 0,004 mg de camazuleno e 0,07 mg de levomenol. 26 Suas principais indicações são: condições irritativas da pele, abrasões, arranhões, lacerações, fissuras, irritações consecutivas à radioterapia e aos raios ultravioleta, eczemas, manifestações inflamatórias da vulva e vagina, prurido, abscessos, furúnculos e dermatite das fraldas. Podophyllum O gênero Podophyllum conta com cerca de dez espécies perenes. A podofilina é uma mistura de resinas obtida a partir do rizoma seco e das raízes das plantas Podophyllum peltatum (mandrágora americana, limão-bravo) e Podophyllum emodi. É uma mistura complexa de vários componentes que são antimitóticos, sendo que o principal componente bioativo é a podofilotoxina. A podofilina inibe a mitose celular e produz vasoespasmo da região21. Tem efeitos antineoplásico e antiviral, induz as interleucinas 1 e 2, aumenta a proliferação dos macrófagos, suprime a resposta imune e inibe o metabolismo mitocondrial17,22. Em relação ao trato genital inferior, essa substância tem sido utilizada no tratamento de verrugas desencadeadas pelo papilomavírus humano (HPV). O uso é tópico, em forma de creme ou pomada22. Causa irritação local e, se absorvida em quantidades significativas, pode ser tóxica para o coração, rins e sistema nervoso. Por este motivo, não deve ser usada em locais que possibilitem grande absorção, como colo e vagina, devendo ser aplicada pelo médico e ter o local de aplicação lavado em quatro a seis horas após a aplicação. Freqüentemente, necessita de várias aplicações. Como é teratogênica, está contra-indicada durante a gestação e também em crianças17. Echinacea A Echinacea é planta arbustiva, com nove espécies diferentes, das quais três – Echinacea angustifolia, Echinacea purpurea e Echinacea pallida – são geralmente as mais utilizadas23. Apresenta amplo espectro no seu mecanismo, devido à diversidade de compostos ativos. Entre suas ações estão a estimulação do sistema imune e a promoção da cura em geral; apresenta ainda propriedades antiviral, antibacteriana e antimicótica, anti-séptica, antiinflamatória, imunoestimulante, depurativa, antioxidante, regeneradora de tecidos e fortificante23. O composto lipossolúvel 1,8pentadecadieno apresenta atividade antitumoral direta17. O extrato de Echinacea pode reduzir o crescimento de Trichomonas vaginalis e diminuir a recidiva por infecções por Candida albicans24. No trato genital inferior, pode ser utilizada como antiinflamatório e agente de cicatrização para abscessos, queimaduras, úlceras, eczemas ou outras afecções cutâneas vulvares e vaginais; imunoestimulante inespecífico para tratamento de suporte das infecções locais e neoplasias; prevenção de recidiva de infecções por Candida albicans e herpes simples. Uso de fitomedicamentos no trato genital inferior Revista Brasileira de Genitoscopia Deve ser utilizada por via oral (cápsulas, tintura e chás), por período não superior a oito semanas. Os efeitos colaterais não são freqüentes e incluem paladar desagradável, diarréia, elevação da temperatura corporal, acentuação de reações alérgicas, erupções cutâneas e aumento dos leucócitos17. Não deve ser utilizada em desordens auto-imunes, tuberculose, infecção por vírus da imunodeficiência humana (HIV) ou outras doenças sistêmicas graves e nem durante a gestação e em lactentes (segurança não estabelecida)17. Deve haver precaução com doentes que apresentam asma ou alergia a plantas da família da margarida (Asteraceae). Thuya occidentalis A Thuya é um gênero de conífera pertencente à família Cupressaceae e contém cinco espécies. A mais conhecida e utilizada é a Thuya occidentalis. Os componentes ativos são obtidos de suas folhas e brotos novos. Contém o óleo volátil tujona, tanino, glicosídeos flavonóides e a resina tujina. As ações da tuia parecem estar relacionadas ao seu óleo volátil. Exibe alguma atividade mitogênica, inibe os antígenos do HIV-1 e a transcriptase deste vírus, tem ação bactericida e fungicida. Também é indutora de subgrupo de células T e de várias citocinesinas in vitro e tem poder imunoestimulante constatado em estudos em animais17. No trato genital inferior, devido ao efeito imunoestimulante, tem sido utilizada para o tratamento de verrugas, papilomas, condilomas, excrescências de diversos tipos – principalmente aquelas relacionadas ao papilomavírus humano; apresenta índices de cura consideráveis, porém não existem estudos científicos que suportem essas observações. Também pode ser utilizada como anti-séptico genital pelo poder bactericida e fungicida. Pode ser empregada na forma oral (glóbulos, tintura mãe), banhos de assento, pomada tópica externa, gel ou óvulo de uso vaginal. As reações colaterais que podem ocorrer são: asma, convulsões, estímulo do sistema nervoso central, estimulação uterina (podendo resultar em aborto), flatulência, irritação gástrica e outras queixas gastrointestinais. Está contra-indicada durante a gravidez, em pacientes com distúrbios convulsivos, úlceras gastrointestinais e gastrite17. Conclusões Existem opções alternativas, como os fitomedicamentos, que podem ser utilizadas no manejo de doenças. Este artigo de revisão mostrou as ações e funções dos principais fitomedicamentos no trato genital inferior. Endereço para correspondência Adriana Bittencourt Campaner Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Ciências Médicasda Santa Casa de São Paulo Rua Cesário Mota Jr, 112 – Vila Buarque E-mail: [email protected] Referências bibliográficas 8. Wuttke W, Gorkow C, Seidlová-Wuttke D. Effects of black cohosh (Cimicifuga racemosa) on bone turnover, vaginal mucosa, and various blood parameters in postmenopausal women: a double-blind, placebo-controlled, and conjugated estrogens-controlled study. Menopause 2006;13(2):185-96. 9. Hidalgo LA, Chedraui PA, Morocho N, et al. The effect of red clover isoflavones on menopausal symptoms, lipids and vaginal cytology in menopausal women: a randomized, double-blind, placebo-controlled study. 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Freire2 paulo César Giraldo3 Maria José Penna Maisonnette de Attayde Silva4 José Eleutério Junior5 Resumo O carcinoma de células claras é um tumor de baixa incidência e, atualmente, é raramente observado. Os autores relatam o tratamento cirúrgico e os aspectos patológicos do carcinoma de células claras do colo uterino (estágio IB) em mulher de 21 anos de idade, sem exposição prévia ao dietilestilbestrol intra-útero e com citologia oncológica negativa. Palavras-chaves: Adenocarcinoma de células claras. Colo do útero. Esfregaço vaginal. Abstract The clear cell cervical carcinoma incidence has decreased and rarely occurs nowadays. The authors report the surgical and pathological aspects of cervical clear cell carcinoma (stage IB) found in a 21-year-old woman, without previous intrauterine exposure to diethylstilbestrol with a negative Pap smears. Keywords: Adenocarcinoma, Clear Cell. Cervix uteri. Vaginal smears. Introdução Professora adjunta, Doutora do Departamento de Tocoginecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) 2 Professora substituta do Departamento de Anatomia Patológica da UFRN 3 Professor livre-docente do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas. Responsável pelo Ambulatório de Infecções Genitais, Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (DTG/FCM/UNICAMP). Membro da Comissão Nacional Assessora de Doenças Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde do Brasil 4 Professora substituta, Mestre do Departamento de Tocoginecologia da UFRN 5 Professor adjunto, Doutor, Coordenador do Serviço de Patologia do Trato Genital Inferior da Maternidade Escola Assis Chateaubriand, Universidade Federal do Ceará (UFC) 1 O adenocarcinoma de células claras (ACC) é tumor muito raro encontrado em mulheres jovens cuja mãe foi exposta ao dietilestilbestrol (DES). Devido à baixa prevalência, seus estudos são limitados e sua etiologia, patogenia e prognóstico permanecem obscuros1,2. O ACC não relacionado à exposição intra-uterina ao DES pode ocorrer devido a modificações genéticas e outros fatores de risco exógenos que possam interferir no processo de diferenciação das células de reserva pluripotenciais do colo uterino3-5. Esses tumores apresentam comportamento agressivo e mau prognóstico. O crescimento é predominantemente endofítico com freqüente infiltração do corpo uterino, envolvendo ovários e linfonodos regionais1,2. Descrição do caso MLF, 21 anos, sexo feminino, GIPIA0, fez uso de anticoncepcional hormonal oral durante cinco anos, sem antecedentes de exposição ao DES durante vida intra-uterina. Parceiro único, nega tabagismo, nega etilismo e refere perda ponderal de três quilogramas no 29 Revista Brasileira de Genitoscopia transcorrer da doença. Procurou atendimento com queixa de sangramento transvaginal há cerca de quatro meses, de caráter intermitente associado à sinusiorragia. No momento da consulta, portava citologia oncótica com resultado inflamatório. Ao exame especular observouse: colo hiperemiado e sangrante apresentando lesão vegetante e friável, abrangendo todo o lábio anterior do colo. Realizou-se biópsia com pinça de saca bocado que identificou carcinoma de células claras, sem evidência de estruturas glandulares na amostra. Diante desse diagnóstico, a paciente foi encaminhada para tratamento cirúrgico, tendo sido realizada histerecto- mia total ampliada, com exérese de terço superior da vagina, linfonodos regionais e paramétrios (Figura 1). O diagnóstico anatomopatológico foi de adenocarcinoma de células claras (Figura 2) de 3cm em colo uterino, infiltrando até terço médio do miométrio, com margens cirúrgicas livres, não tendo sido identificada invasão vascular, mas tendo apresentado dois linfonodos com hiperplasia reativa em cada paramétrio. A paciente foi encaminhada para tratamento complementar, que se constituiu de radioterapia com braquiterapia de fundo vaginal e quimioterapia com cisplatina. A conduta complementar mais radical é justificada por tratar-se de uma paciente jovem com tumor bastante agressivo e com risco de recidiva. Após 28 meses de diagnóstico, a paciente encontra-se sem doença residual. Discussão A ínfima prevalência desse tipo de tumor tem limitado os estudos realizados, o que faz com que sua etiologia e patogênese permaneçam obscuras. Entretanto, o ACC parece advir da ascensão de células pluripotentes de reserva do colo uterino que, devido à diferenciação defeituosa, permanecem em estágio intermediário de desenvolvimento2,3. O ACC apresenta comportamento agressivo e prognóstico reservado. O crescimento é predominantemente endofítico, com infiltração freqüente do corpo uterino, comprometimento linfonodal e metástase ovariana2,3. Figura 1. Ampliação fotográfica da visão macroscópica da porção do colo uterino com diagnóstico de ACC após exérese da peça cirúrgica Comentários finais Este caso ilustra a possibilidade de o profissional de saúde se defrontar com raros tipos de tumores malignos, sem que tenha havido exposição prévia a fatores de risco sabidamente relacionados à doença, como no caso específico do DES4. Apesar de o exame de Papanicolaou ser ainda o principal método de rastreamento e diagnóstico precoce do câncer do colo uterino1, é importante lembrar que há a possibilidade de neoplasia no colo uterino em pacientes com citologia oncótica negativa. E, em todo caso que exista suspeita clínica de câncer cervical, torna-se imperioso o prosseguimento da investigação diagnóstica, pois essa abordagem possibilita o tratamento adequado das pacientes. Endereço para correspondência Figura 2. Fotografia de corte histológico de ACC, evidenciando células claras, preenchido por material amorfo em sua luz, revestido por epitélio atípico pseudo-estratificado e permeado por estroma de tecido conjuntivo 30 Ana Katherine da Silveira Gonçalves Rua Major Laurentino de Morais, 1.218, apto. 1.301 – Barro Vermelho CEP 59020-390 – Natal (RN) E-mail: [email protected] Adenocarcinoma mal diferenciado de células claras do colo uterino Revista Brasileira de Genitoscopia Referências bibliográficas 1. 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Dúvidas, dilemas e causas de erro em colposcopia Dr André Luis Ferreira Santos 3. Diagnóstico diferencial entre metaplasia, lesão de baixo grau e de alto grau Dr Julio César Teixeira Epidemiologia Colposcopia 2º Módulo 7º Módulo 1. Sistema imunológico e HPV Dra Adriana Bittencourt Campaner 2. Imunomodulação tópica é boa arma terapêutica? Dra Neila Maria de Góis Speck 3. Perspectivas com uso de vacinas Dra Elsa Pereyra 1. Diagnóstico das lesões vulvares intra-epiteliais e invasoras Dra Angelina Farias Maia 2. Outras dermatoses na visão do dermatologista Dr. Jefferson Barros 3. Sintomas vulvares inespecíficos: dor, prurido, úlceras, rágade. Dra Isabel do Val Imunidade Patologia vulvar 3º Módulo 8º Módulo 1. Binômio HPV/HIV Dra Julisa C Las Casas Ribalta 2. Carcinoma de colo uterino Dr Nelson Valente Martins 1. Como examinar o canal endocervical com o colposcópio e caracterizar as lesões intra-epiteliais e invasoras Dra Carmen Carvalho 2. Diagnóstico cito-histológico. Vantagens e desvantagens da escovagem e da curetagem endocervical. Dra Célia Regina Sakano 3. Conduta terapêutica em pacientes com AGC, adenocarcinoma in situ do colo uterino Dr Nelson Valente Martins HPV/HIV e Carcinoma de colo uterino 4º Módulo Diagnóstico cito-histopatógico e bio-molecular 1. Citopatologia convencional ou em meio líquido Dra Carla Guerra Martins Kemp 2. Histopatologia, quando não é padrão ouro? Dr João Stávale 3. Captura híbrida Dra Cecília Roteli Martins 5º Módulo Vacinas 1. Tipos de vacina Dra Luisa Lina de Villa 2. Quem deve ser vacinado Dra Julisa Ribalta 3. O HPV na era da vacina Dr José Focchi Patologia endocervical 9º Módulo Conduta terapêutica nas pacientes com ASC-US e com lesões de baixo e alto grau 1. Quando indicar vaporização com laser ou outra metodologia destrutiva Dra Neila Maria de Góis Speck 2. CAF ou cone clássico, indicações, contra-indicações, vantagens e desvantagens. E na gestante? Dr Nelson Valente Martins 3. Importância das margens cirúrgicas Dra Maricy Tacla 10º Módulo Patologia anal 1. Diagnóstico na visão do ginecologista Dra Cíntia Parellada 2. Diagnóstico na visão do proctologista Dr Sidney R. Nadal 3. Prevenção e orientação no grupo de risco Dra Cláudia Jacyntho Sócios da ABG quites com a anuidade terão acesso livre ao curso na internet. O valor da anuidade da ABG para o exercício de 2009 é de R$ 160,00, podendo ser paga através de seu capítulo ou solicitada à nossa secretária. Quem não for associado poderá também acessar o conteúdo pagando taxa de R$ 50,00 por módulo, ou R$ 400,00 por todos os módulos através do atendimento pessoal da Conexão Médica, no telefone 4003-5007 para capitais e regiões metropolitanas e telefone 0800-8881212 para outras localidades ou no site: www.conexaomedica.com.br 1. Envie a ficha cadastral (disponível na última página da revista ou na home page) junto com o comprovante de quitação da anuidade 2009 aos cuidados de Gleisa Munari no TELE/FAX (11) 5571 3025 ou as folhas digitalizadas por e-mail: [email protected] 2. A secretaria da ABG enviará para seu e-mail a senha e todos os detalhes necessários para acessar o conteúdo das aulas no site da conexão médica. 5. Descontos em livros de PTGI e Colposcopia Editor: Dr Nelson Valente Co-editora: Julisa C. L. Ribalta Ao longo de suas 1.040 páginas, amplamente ilustradas em quatro cores, e de seus 87 capítulos, o livro “Patologia do Trato Genital Inferior” apresenta abordagem dos aspectos morfológicos, fisiológicos e patológicos do TGI e dos mais modernos métodos para diagnóstico e tratamento das lesões induzidas por papilomavírus humano. Preço para não-sócios R$ 380,00 à vista + taxas de correio Preço para sócios R$ 310,00 à vista + taxas de correio Pedidos devem ser enviados por e-mail para [email protected] Autor: Dr Garibalde Mortoza Com 258 páginas,o objetivo do livro “Patologia cervical - da teoria à prática clínica” é fornecer, aos médicos que atuam na ginecologia, subsídios que possam ajudar na prevenção, no diagnóstico e no tratamento adequado das doenças do colo uterino. Está dividido em duas partes - uma teórica, abrangendo as ferramentas diagnósticas, os agentes etiológicos, as doenças benignas e malignas e os procedimentos terapêuticos; e outra clínica, com apresentação de casos e condução com base nas teorias apresentadas na primeira parte. Preço para não-sócios R$ 180,00 à vista + taxas de correio Preço para sócios R$ 155,00 à vista + taxas de correio Pedidos devem ser enviados por e-mail para [email protected] BENEFÍCIOS EXCLUSIVOS PARA SÓCIOS QUALIFICADOS SELO DE QUALIDADE Programa de Qualidade em serviços prestados na área de Genitoscopia, concedido ao médico qualificado pela ABG, que tenha conhecimentos atualizados desta área de atuação e realize os exames dentro dos requisitos padronizados pela ABG. O selo tem dois anos de validade e deve ser afixado junto da assinatura dada no laudo, exclusivamente pelo médico que realizou o exame. É de uso individual e intransferível. 1. Preencher o formulário disponível na home page http://www.colposcopia.org.br/selo.php ou solicitar o mesmo por e-mail 2. Encaminhar os seguintes comprovantes juntamente ao formulário preenchido pelo correio, FAX (11 5571-3025) e/ou por e-mail digitalizados ([email protected]): Comprovante Comprovante do Título de Qualificação da ABG. Comprovante de participação em pelo menos um evento científico da Associação ou correspondente nacional e/ou internacional nos 2 (dois) últimos anos. Comprovante de quitação da anuidade da ABG. Cópia ou modelo de laudo usado para colposcopia (roteiro de laudo disponível na home page - http://www.colposcopia.org.br/laudo.php) 3. O pedido mínimo é de 100 selos e a centena custa R$ 16,00 (200 selos= R$ 32,00 e assim em diante). Acima de 300 selos não é cobrada taxa de correio. 4. Os médicos com SELO DE QUALIDADE serão assim identificados na BUSCA DE MÉDICOS em Genitoscopia (Diagnóstico e tratamento da Doença Genital por HPV) disponível na home page para público leigo BUSCA DE MÉDICOS QUALIFICADOS EM PTGI e COLPOSCOPIA Campanha de valorização dos médicos qualifcados pela ABG junto aos meios de mídia – disponibilize seus dados na busca de médicos qualifcados 1. Acessar a home page www.colposcopia.org.br , clicar no menu lateral sócio 2. Se você não tem senha, clique em Crie sua senha de acesso ao conteúdo restrito 3. Depois de criar sua senha, clique em Cadastro de profissionais para “Busca de médicos” 4. Os seguintes campos estão disponíveis para consulta: nome do médico, endereço, telefone e tipo de atendimento (apenas diagnóstico ou consulta, diagnóstico e tratamento). Esta divisão permite que profissionais que trabalhem exclusivamente em laboratórios de diagnóstico também possam divulgar seus serviços. No item diagnóstico existem os seguintes campos: colposcopia, vulvoscopia, peniscopia, anuscopia de magnificação, coleta de citologia, captura híbrida/PCR, biópsia). O selo de qualidade também aparece em destaque para os médicos que o possuem. Revista Brasileira de Genitoscopia Agenda de eventos 2009 – Congressos / Jornadas / Reciclagens Abril 25 Julho 2a5 Simpósio de infecções e imunizações Capítulo Bahia Local: Salvador/BA ABM - Ondina Fone/FAX: (71) 3235-9491 E-mail: [email protected] Maio 14 a 16 28 a 30 CERVICOLP 2009 Capítulo São Paulo Local: São Paulo/SP Fone/FAX: (11) 3283-4121 E-mail: [email protected] Home page: www.colposcopiasp.org.br Junho 06 Agosto 27 a 29 I Simpósio de Genitoscopia do DF Capítulo DF Local: Brasília/DF Informações: Secretaria da UGON (61) 3325-4424 Reciclagem para prova de título de qualificação em Genitoscopia Capítulo Bahia Local: Salvador/BA ABM - Ondina Fone/FAX: (71) 3235-9491 E-mail: [email protected] XII Simpósio Brasileiro de Genitoscopia – PTGI e Colposcopia - Prova de qualificação em Genitoscopia Capítulo Maranhão Local: São Luís do Maranhão – MA Informações: Secretaria da ABG Capítulo Maranhão Fone/Fax: (98) 3232-0286 E-mail: [email protected] Home page: www.colposcopia.org.br IV congresso baiano de Patologia cervical uterina e Colposcopia Capítulo Bahia Local: Salvador/BA Hotel Othon Fone/FAX: (71) 3235-9491 E-mail: [email protected] 2010 – Congressos / Jornadas / Reciclagens Setembro 3a5 XIV Congresso Brasileiro de Genitoscopia Local: Gramado/RS Hotel Serrano Informações: [email protected] Home page: www.colposcopia.org.br 2011 – Congressos / Jornadas / Reciclagens XIV World Congress of Cervical Pathology & Colposcopy Local: Rio de Janeiro/RJ Ficha Cadastral PROPOSTA ( ) NOVO SÓCIO ( ) ATUALIZAÇÃO DE CADASTRO ( ) INSCRIÇÃO NO I CURSO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA À DISTÂNCIA ( ) SELO DE QUALIDADE EM GENITOSCOPIA POR QUAL CAPÍTULO (ESTADO) DESEJA SE FILIAR ? NOME ENDEREÇO RES. CIDADE UF CEP ESPECIALIDADE CRM TÍTULO - QUALIFICAÇÃO - ANO Número TEGO - ANO Número ENDEREÇO COM. CIDADE UF E-MAIL TEL. COM. ( ) CEP FAX ( ) TEL. RES. ( ) Onde deseja receber sua correspondência: TEL. CEL. ( ) Endereço Comercial Endereço Residencial Enviar aos cuidados de Gleisa Munari no TEL/FAX (11) 5571-3025 ou para o endereço: Alameda Santos, 1343 - cj 612 São Paulo - SP - CEP 01419-001