Diabetes Clínica JORNAL MULTIDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS Edição 1999, volume 3 · número 1, abril 99 · número 2, junho 99 · número 3, agosto 99 · número 4, outubro 99 · número 5, dezembro 99 Clique sobre o edição desejada para ter acesso ao índice. www.atlanticaeditora.com.br Diabetes Clínica JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS Índice (vol. 3 nº 1 - 1999) EDITORIAL Um jornal para todos os profissionais do diabetes, Fadlo Fraige Filho 3 A mortalidade no diabetes mellitus – dados coletados de uma região em desenvolvimento do globo, A. Hamid Zargar, A. Iqbal Wani, S. Rashid Masoodi, B. Ahmad Laway, M. Iftikhar Bashir 4 Elevada prevalência de tolerância anormal à glicose e de distúrbios metabólicos em parentes de primeiro grau de pacientes com DMNID. Um estudo em uma comunidade do Mediterrâneo, a Catalúnia, A.Costa, M. Rios, R. Casamitjana, R. Gomis, I. Conget 11 Uma lipoproteína de banda média aterogênica: fator de risco para doença arterial coronariana no diabetes mellitus com hiperlipidemia, Mikihiko Kawano, Maski Shinomiya, Tetsuto Kanzaki, Nobubiro Morisaki, Kohji Shirai, Yasushi Saito, Sho Yoshida 18 Efeito da acarbose no metabolismo pós-prandial dos lípides no diabetes mellitus do tipo 2, Seijiro Kado, Takehiko Murakami, Akira Aoki, Terumasa Nagase, Yoshiya Katsura, Masayuki Noritake, Takeshi Matsuoka, Naokazu Nagata 24 Neuropatias periféricas, hipertensão, úlceras de pé e amputações entre pacientes da Arábia Saudita com diabetes do tipo 2, J.V. Nielsen 29 Consulta de enfermagem à pessoa com diabetes mellitus, S. A. Alves Grossi 36 Considerações metodologicas da biomecanica para a avaliação da distribuição da pressão plantar, A. C. Amadio, I. de Camargo Neves Sacco 42 Obesidade e prevenção da doença arterial coronariana na prática clínica, P. F. Leite 50 Estudo clínico das alterações bucais de pacientes diabéticos insulino-dependentes - proposta de protocolo de tratamento odontológico, M.H.C.G. Magalhães, L.A Horno Netto, J. Fogaça Cristante, F. Fraige Filho, A. M. Gebara Carboni 56 Diabetes Clínica JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS (Sucessor de Diabetes&Metabolism, edição brasileira) Diabetes Clínica é um jornal multidisciplinar sobre os aspectos médicos, psicológicos e sociais do diabetes e dos distúrbios associados. Para os especialistas Diabetes Clínica é um veículo de informação e formação continuada sobre o conhecimento científico da doença, a atualidade da prática clínica no tratamento do diabetes e das patologias associadas. Diabetes Clínica edita artigos científicos internacionais selecionados de Diabetes Research and Clinical Practice, e artigos de especialistas e profissionais brasileiros, selecionados pela FENAD - Federação Nacional de Assistência ao Diabético e Atlântica Editora. Diabetes Research and Clinical Practice, publicação de Elsevier Science, edita revisões e artigos originais nas áreas da epidemiologia, biologia, nutrição e prática clínica. O objetivo do jornal é favorecer a discussão interdisciplinar e internacional em todas as questões relativas a diabetologia. Diabetes Research and Clinical Practice é o jornal oficial da Federação Internacional do Diabetes (Western Pacific Region). Diabetes Clínica Diabetes Research and Clinical Practice Direção científica : Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho Coordenação de Educação e Formação Continuada : Educadora Lilian Fanny de Castilho Editor : Dr. Jean-Louis Peytavin Editor-Chefe : C.S. Cockram, Hong-Kong (Western Pacific, Ásia) Co-Editor : N. Hotta, Japão (Ásia, Japão) Editors regionais : P.D. Home, Inglaterra (Europa, África), J.S. Skyler, EUA (America do Norte e America Latina), J.J. Hoet, Bélgica (Europa, África) ATLANTICA EDITORA Marketing Maurício Galvão Costa Anderson Rua Benjamim Garcez, 110 Jardim Maristela 12940-000 Atibaia – SP tel/fax: +55 11 7871 7629 cel: +55 11 9993 6885 E-mail : [email protected] FENAD (Federação Nacional de Associações de Diabéticos) Rua Eça de Queiroz, 198 Vila Mariana 04011- 031 São Paulo - SP Tel: (011) 572-6559 - Fax: (011) 549-6704 Site: http://www.netcomp.com.br/anad E-Mail: [email protected] Redação Jean-Louis Peytavin Rua General Glicério, 71/304 22245-120 Rio de Janeiro - RJ tel/fax: +55 21 557 73 04 E-mail : [email protected] © Diabetes Research and Clinical Practice, Elsevier Science Ireland Ltd. Todos os direitos reservados. Atlântica Multimídia para a tradução em português Assinatura R$ 100 – 6 números ao ano www.atlanticaeditora.com.br/assinaturas Copyright © Diabetes Research and Clinical Practice, Elsevier Science Ireland Ltd Copyright reserved. No part of this publication may be reproduced, stored in a retrieval system or transmitted in any form or by any means, electronic, mechanical, photocopying, recording or otherwise without permission in writing from the copyright owner, c/o Elsevier Science P.O Box 181, 100 BM Amsterdam The Netherlands. No responsibility is assumed by the Publisher for any injury and/ or damage to persons or property as a matter of products liability, negligence or otherwise, or from any methods, products, instructions or ideas contained in the material herein. Because of the rapid advances in the medical sciences, the Publisher recommend that independent verification of diagnosis and drug dosages should be made. Although all advertising material is expected to conform to ethical (medical) standards, inclusion in this publication does not constitue a guarantee or endorsement of the quality or value of such product or of the claims made of it by its manufacturer. Portuguese translation has been cared by Atlântica Editora, and is strictly for personal use. Diabetes Clínica EDITORIAL Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas Diabetes Clínica 1 (1999) Um jornal para todos os profissionais do diabetes Fadlo Fraige Filho Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho Estamos muito satisfeitos com a criação e o lançamento desta revista unicamente voltada para o Diabetes. Ela é a única publicação em seu gênero com uma abordagem clínica, visto que o que se tem hoje para publicação são apenas trabalhos e pesquisas de ponta, importantes, porém muito distante da prática médica diária em nosso país, onde a grande maioria dos diabéticos é tratada por profissionais não especializados e ainda temos como agravante a piora das condições de atendimento do sistema público de saúde. Esta sempre foi uma preocupação da FENAD (Federação Nacional de Associações de Diabéticos), que através de suas Associações promove atualização e reciclagem para os multiprofissionais que atuam na área do Diabetes. Assim, resolvemos então, alavancar a presente revista que sai da esfera médica para abranger o universo dos multiprofissionais, tais como os dentistas, biomédicos, farmacêuticos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, professores de educação física, fisioterapeutas e educadores, propiciando inclusive que cada um destes profissionais tenha a oportunidade de conhecer a prática dos outros para melhor atuar do ponto de vista global do atendimento ao seu paciente. Que esteja informado e capacitado não só para orientar o paciente nas outras áreas, mas também para encaminhá-lo aos demais especialistas. Entendemos que abordando temas básicos e objetivos, poderemos levar um interesse imediato à prática desses profissionais. Estaremos abertos à participação dos profissionais do Diabetes e recebendo trabalhos de todo o Brasil e de todos os multiprofissionais citados. Sua colaboração será muito bem recebida e analisada para constar de nossas próximas edições. Além da prática, daremos ênfase ao setor de educação, onde tanto tem sido feito através das 300 Associações de diabéticos do Brasil que hoje se congregam na FENAD. Queremos que esta revista possa ser um meio de divulgação de conhecimentos e reciclagem também dos aproximadamente 4000 multiprofissionais que atuam direta ou indiretamente nas Associações, Núcleos, Centros e Ligas de Diabetes. Diabetes Clínica Diabetes Clínica 1 (1999) 4-10 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas A mortalidade no diabetes mellitus – dados coletados de uma região em desenvolvimento do globo Abdul Hamid Zargar*, Arshad Iqbal Wani, Shariq Rashid Masoodi, Bashir Ahmad Laway, Mir Iftikhar Bashir Department of Endocrinology, Sher-i-Kashmi Institute of Medical Sciences, P.O.Box 1098, Soura, Srinagar 190 001, Kashmi, India Resumo Este estudo retrospectivo apresenta as tendências da mortalidade em pacientes diabéticos de uma região em desenvolvimento do globo. Os dados foram coletados através de uma triagem dos registros hospitalares de todos os pacientes diabéticos que faleceram durante o período de uma década no Instituto de Ciências Médicas, um centro médico em Kashmir Valley, Índia. Dos 133.374 pacientes admitidos no Centro, de janeiro de 1987 a dezembro de 1996, 9.627 pacientes faleceram, sendo que nos registros de 269 (151 homens e 118 mulheres) foi mencionado o diabetes mellitus. A média de idade ± S.D. à época do óbito foi de 51,61 ± 13,77 anos para homens e 51,50 ± 15,50 para mulheres. As causas que contribuíram para o óbito foram as infecções (33,83 %), a insuficiência renal crônica (30,85 %), a doença arterial coronariana (16,36 %), a doença cerebrovascular (13,75 %), a hipoglicemia (7,81 %), a cetoacidose diabética (6,69 %) e o coma hiperosmolar (2,23 %). Em 7,43% dos pacientes a causa do óbito não pode ser determinada. Em 60,22 % dos casos, o óbito foi atribuído a uma causa única, em 26,39 %, a duas causas e 5,95 %, a três ou mais causas. A maioria destes pacientes diabéticos (59,11 %) faleceu na primeira semana de hospitalização. Concluímos que a tendência da mortalidade no diabetes mellitus difere nas regiões em desenvolvimento, quando comparada a regiões desenvolvidas, refletindo uma política de saúde deficiente com relação ao cuidado geral como também ao cuidado do diabético em especial. Ao contrário do Ocidente, onde as principais causas do óbito em pacientes diabéticos são a doença arterial coronariana e a doença cerebrovascular, as infecções e a insuficiência renal crônica continuam a liderar as causas de óbito em pacientes com diabetes mellitus em regiões em desenvolvimento como a nossa. © 1999 Elsevier Science Ireland Ltd. Todos os direitos reservados. Palavras-chave: Diabetes mellitus, morbidade, mortalidade © Diabetes Research and Clinical Practice *Autor correspondente. Fax: +91-194-423470 Diabetes Research and Clinical Practice 43 (1999) 67–74 0168-8227:99:$ A. Hamid Zargar et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 4-10 1. Introdução Segundo o Banco Mundial, o fardo da doença nos países desenvolvidos difere do fardo nos países em desenvolvimento [1]. Na Índia, as doenças informadas afetam 50,5 % da população, comparado a 9,7 % em um país desenvolvido como os Estados Unidos; por outro lado, as doenças não informadas predominam nos países desenvolvidos [2]. As estatísticas que são publicadas em muitos países sobre a causa subjacente do óbito proporcionam uma fonte de dados pouco dispendiosa e permitem que as tendências e mudanças importantes nas causas de óbito (e, por conseqüência, a morbidade de várias doenças) sejam seguidas no próprio país e em outros países. No entanto, a confiabilidade destas estatísticas foram questionadas [3]. O diabetes mellitus é um transtorno clínico comum que causa uma significativa morbidade e mortalidade. Não é fácil obter os dados sobre as causas do óbito em pacientes diabéticos devido a heterogeneidade do diabetes, a uma possível classificação errônea da doença, e ao registro insuficiente do diabetes nas certidões de óbito. Os estudos sobre a mortalidade em indivíduos com diabetes mellitus em países ocidentais e no Japão mostram que as doenças cardiovasculares e cerebrovasculares são as principais causas de óbito [4]. Um estudo multinacional da Organização Mundial de Saúde sobre doenças vasculares em pacientes diabéticos (com idades entre 35-54 anos, dados compilados de dez países durante 10 anos) indica que em comparação com os países europeus, as taxas de mortalidade eram menores para os asiáticos com diabetes, e.g. idade ajustada Europa vs. Ásia 10,4 vs. 7,1 por população (mil) [5]. O estudo sobre a mortalidade no diabetes envolve muitas dificuldades. Estão disponíveis na literatura estudos de curto e longo prazo de diversos autores. A maioria dos dados epidemiológicos refere-se a países com sistemas de saúde mais avançados. No nosso país são escassos os dados bem coletados. Neste estudo, avaliamos o padrão das causas de óbito em indivíduos diabéticos, utilizando tanto as causas subjacentes como as causas que contribuíram para o óbito, em um centro de tratamento terciário em Kashmir Valley (Índia). Os dados se baseiam nos óbitos ocorridos em hospitais e não em óbitos ocorridos na comunidade. 2. Materiais e métodos Os dados para este estudo foram obtidos na divisão de registros do Instituto de Ciências Médicas, Soura, Srinagar, Kashmir, Índia – um centro de tratamento mé- 5 dico terciário com 650 leitos e equipado com o que há de mais moderno em equipamentos médicos. Na Índia, o sistema de saúde tem três níveis, a saber, o nível primário, o nível secundário e o nível terciário. Dentro do cenário indiano, o atendimento médico primário é feito pelos “Centros Primários de Saúde”, através de profissionais habilitados em várias técnicas e guias municipais de saúde. O atendimento secundário é feito em hospitais municipais e centros comunitários que servem como o primeiro ponto de referência. O atendimento terciário, tratando-se de um nível mais especializado, é feito por instituições estaduais e federais. Os dados de uma década (1987-1996) foram analisados segundo o total de admissões e óbitos neste centro. Presume-se que alguns óbitos ocorrem no atendimento secundário ou na comunidade carente, entretanto, os dados podem subestimar as causas do óbito. Durante o período do estudo, o número total de óbitos em pacientes diabéticos foi estimado usando-se o número real de óbitos em que o diabetes foi registrado como causa subjacente ou coadjuvante para o óbito. Foram recuperados todos os atestados de óbito que mencionaram o diabetes como um fator subjacente ou coadjuvante. Após a confirmação do óbito, o médico residente de plantão preenche o atestado de óbito que posteriormente é examinado por um dos membros da equipe médica do departamento competente. Todos os óbitos são revisados regularmente pelo “comitê de revisão de mortalidade” para legitimar os dados. Os dados foram analisados segundo a idade do paciente, sexo, tipo de diabetes, departamento em que o paciente foi admitido antes do óbito, duração do período de internação, qualquer complicação relacionada ao diabetes mencionada no atestado de óbito e qualquer enfermidade simultânea. Mereceu atenção especial a menção de infecção e o tipo de infecção, insuficiência renal, doença cardiovascular e cerebrovascular, cetoacidose diabética, hipoglicemia e coma hiperosmolar e cetótico. A análise comparativa dos dados obtidos foi realizada por sexo, tipo de diabetes, idade do paciente diabético, um ou mais causas que contribuíram para o falecimento, e duração da internação hospitalar. 2.1. Análise estatística O programa SPSS (Statistical Programme for the Social Sciences, versão 6,0 para PC Windows) foi usado para a análise dos dados. Além da estatística descritiva, o teste c2 foi utilizado para determinar a associação entre variáveis absolutas e o teste-t para estabelecer comparações entre variáveis contínuas. O dois valores de P foram determinados e um valor de P < 0,05 foi considerado estatisticamente significativo. 6 A. Hamid Zargar et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 4-10 3. Resultados Durante uma década, de janeiro de 1987 a dezembro de 1996, 133.374 pacientes foram admitidos no Instituto de Ciências Médicas, Srinagar, Kashmir. Neste período 9.627 pacientes (7,22 %) faleceram, sendo que em 269 (2,79 %) constava o registro de diabetes mellitus. Estes 269 óbitos relacionados com o diabetes constituíram o material fundamental para este estudo. A Fig. 1 representa a distribuição destes pacientes por idade e sexo. A média de idade destes pacientes foi de 51,61 ± 13,77 anos em homens e 51,50 ± 15,50 em mulheres. A tabela 1 mostra a distribuição por sexo e idade em relação ao tipo de diabetes. Sem dúvida os pacientes com diabetes mellitus não-insulino-dependente (DMNID) tinham mais idade do que os pacientes com diabetes mellitus insulino-dependente (DMID). As mulheres com DMNID morriam mais cedo do que os homens, embora a diferença não seja estatisticamente significativa. Dos 269 pacientes, 106 (39,40 %) foram admitidos no Setor de Endocrinologia, enquanto 163 (60,59 %) foram admitidos em outros setores como Nefrologia (55, 20,45 %), Medicina Interna (32, 11,89 %), Neurologia (24, 8,92 %), Cardiologia (21, 7,81 %), Gastroenterologia (13, 4,83 %) e outros departamentos (18, 6,69 %). A Tabela 2 apresenta os detalhes dos transtornos aos quais o óbito foi atribuído nestes pacientes diabéticos. As principais causas do óbito foram: infecções em 91 (33,83 %), insuficiência renal crônica em 83 (30,85 %), doença arterial coronariana em 44 (16,36 %), doença cerebrovascular em 37 (13,75 %), hipoglicemia em 21 (7,81 %) e cetoacidose diabética em 18 (6,69 %). Outras causas encontradas neste estudo foram a insuficiência renal aguda em 15 (5,58 %), malignidade em 12 (4,46 %), coma hiperosmolar e doença hepática crônica em 6 pacientes (2,23 %)respectivamente, hemorragia gastrointestinal em 5 (1,86 %), síndrome da angústia respiratória em quatro (1,49 %), tromboembolismo pulmonar em 3 (1,11 %) e doença cardíaca reumática, taquicardia atrial paroxística, coagulação intravascular disseminada e insuficiência hepática aguda em um paciente (0,37 %). Em 20 pacientes (7,43 %) os registros não esclareceram a causa do óbito. A tabela 3 apresenta os detalhes dos pacientes com uma , duas, três ou mais causas de óbito. Na maioria dos pacientes, o óbito foi atribuído a uma única causa. A infecção, combinada com outras causas, foi a causa de mortalidade encontrada com maior frequência em nossa população diabética. Entretanto, a insuficiência renal crônica, como causa única, foi o desencadeador mais importante do óbito. As várias infecções encontradas incluíam a septicemia em 37 (40,66 %), pneumonia em 26 (28,57 %), infecção do trato urinário em quatro, tuberculose pulmonar em quatro (4,40 %) e outras infecções em 20 (21,98 %). Um número significativo (29,7 %) de óbitos em decorrência do diabetes ocorreu em pacientes jovens (≤ 39 anos) ou de meia-idade (40-49 anos). As causas mais comuns do óbito nos jovens foram as infecções (47,22 %), cetoacidose diabética (13,89 %) e hipoglicemia (13,89 %). A causa única mais frequente em pacientes 60 Número de pacientes 50 40 30 20 Homens 10 Mulheres 0 < 20 20-29 30-39 40-49 50-59 60-69 70-79 ≥ 80 Idade (anos) Fig. 1. Frequência nos 269 pacientes em diversa faixas etárias em relação ao sexo A. Hamid Zargar et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 4-10 7 Tabela 1. Distribuição por sexo e idade dos 269 pacientes em relação ao tipo do diabetes Faixa etária (anos) DMID* Homens DMNID** Mulheres Total < 30 30–39 40–49 50-59 ≥ 60 14 5 7 3 – 10 4 2 1 – 24 9 9 4 – 1 2 18 36 65 1 4 12 42 42 2 6 30 78 107 Todos os grupos 29 17 46 122 101 223 Homens Mulheres Total * χ2 = 1.65, d.f. =3, P > 0.6. ** χ2 = 5.34, d.f. =4, P > 0.2. na faixa etária dos 40-49 anos foi a insuficiência renal crônica (42,86 %). A análise dos dados das principais causas de mortalidade não revelou uma diferença etária significativa entre homens e mulheres quanto a infecções, insuficiência renal crônica, doença arterial coronariana ou doença cerebrovascular. A Tabela 4 apresenta detalhes sobre o número e a idade dos pacientes com as causas principais de mortalidade analisadas em separado ou combinadas. Dos 269 pacientes, 159 (59,11 %) faleceram na primeira semana (105 nas primeiras 48 horas), 55 (20,45 %) na segunda semana, 20 (7,43 %) na terceira semana e 19 (7,06 %) mais de 3 semanas após a hospitalização. Em 16 pacientes (5,95 %) não foi possível avaliar a partir dos registros a duração da hospitalização. 4. Discussão A doença microvascular e macrovascular causa uma considerável mortalidade e morbidade entre os pacientes com DMNID e DMID. É difícil predizer a expectativa de vida nos pacientes diabéticos, uma vez que existem muitas variáveis tais como o tipo e gravidade do diabetes, idade no início da doença e estilo de vida. A avaliação dos dados a partir dos atestados de óbitos é uma forma relativamente simples de determinar as tendências de mortalidade quanto a uma doença em particular. As análises de várias séries indicam que o diabetes não é registrado nos atestados de óbito em mais de 40-50 % dos casos [6]. A determinação da causa do óbito é um processo complexo onde vários estágios podem explicar a razão da omissão do diabetes no atestado de óbito. Primeiramente, depende se o diabetes foi diagnosticado (que depende do estado geral de saúde e da análise), segundo, se o médico que preencheu o atestado de óbito conhece a história clínica do doente, terceiro, do diagnóstico e por último, do papel que o diabetes exerceu no óbito. Sendo o atestado de óbito uma fonte de informação, é evidente que existe uma dicotomia entre as causas subjacente e causas coadjuvantes do óbito [7]. Geralmente a causa imediata do óbito é considerada com mais freqüência em vez da causa subjacente, daí o motivo desta causa ser mais classificada do que a verdadeira causa da doença. Apesar do atestado de óbito subestimar o papel do diabetes [6, 8, 9], ele continua sendo um instrumento epidemiológico de fácil acesso para entender as tendências da mortalidade no diabetes mellitus em diferentes comunidades. Nos países em desenvolvimento onde não é comum a manutenção dos registros, esta é a única fonte disponível. A média da expectativa de vida do homem indiano é de 60 anos enquanto a da mulher indiana é de 61 anos [10]. Em nosso estudo, a média de idade para o óbito de um homem diabético foi de 51,61 ± 13,77 anos e o da mulher diabética foi de 51.50 ± 15.50 anos. Isto sugere que a expectativa de vida de um diabético é significativamente reduzida em nossa comunidade. O número mais alto de óbitos em nossos pacientes ocorreu na faixa etária de 60-69 anos e 50-59 nos homens e mulheres, respectivamente. Em um estudo americano, a taxa de óbito mais alta ocorreu na faixa etária de 65-74 anos, enquanto em um estudo francês ocorreu na faixa etária de 75 anos [11, 12]. Em um estudo indiano, a idade dos diabéticos à época do óbito foi de 55-61 anos [13]. Neste hospital, na última década, a taxa de óbito foi de 7,22 por 100 admissões e os óbitos por diabetes representaram 2,79 % de todos os óbitos. Dados extraídos do continente africano mostraram que o diabetes constitui 2,5 % a 10 % de todos os óbitos nos hospitais [2]. Em um estudo ocidental, o diabetes foi responsável por 2 % de todos os óbitos [14]. 8 A. Hamid Zargar et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 4-10 Um número significativo dos nossos pacientes (15,24 %)era de jovens (≤ 39 anos)e a maioria (80,5 %) era DMID. Para pacientes com DMID, o tratamento com insulina transformou uma doença fatal em uma doença que permite um tratamento promissor. Embora hoje em dia relativamente poucos pacientes com DMID morram em razão das conseqüências metabólicas do diabetes como a cetoacidose diabética e a hipoglicemia, um número significativo destes pacientes continua a padecer de morbidade e morte prematura especialmente nas áreas subdesenvolvidas. Em nosso estudo, 91 (33,83 %) pacientes apresentaram infecções, 83 (30,85 %) insuficiência renal crônica, 44 (16,36 %) doença arterial coronariana, 37 (13,75)doença cerebrovascular, 21 (7,81 %) hipoglicemia, 18 (6,69 %) cetoacidose diabética, 12 (4,46 %) neoplasia, seis (2,23 %) doença hepática crônica. Em um estudo, as principais causas de óbito em diabéticos foram as infecções (25,8 %), a doença cardiovascular (18,5 %), a doença cerebrovascular (11,3 %), a uremia (8.6 %) e a cetoacidose diabética (1,3 %) [15]. Outro estudo também revelou um alto percentual de óbitos por diabetes atribuídos a infecções [16]. Em um estudo japônes, os óbitos por infecções aumentaram em pacientes do sexo masculino, com idade relativamente alta, história anterior de doença cerebrovascular, índice de massa corporal relativamente alto e níveis plasmáticos de glicose em jejum altos [17]. Em nossas séries, a insuficiência renal crônica foi a “causa única” mais frequente do óbito. Um total de 42 % de nossos pacientes de meia idade (40-49 anos) sucumbiu prematuramente devido a esta complicação. Isto reflete provavelmente um controle glicêmico insuficiente. O estudo Diabetes Control and Complications Trial (DCCT) mostrou de forma inequivoca que um excelente controle glicêmico diminui significativamente a incidência da doença renal em DMID [18]. Os idosos mexicano-americanos apresentam um risco maior de morrer devido a DMNID e insuficiência renal do que os idosos não-hispânicos, o que sugere que algumas raças podem estar geneticamente predispostas a desenvolver doença renal no diabetes [19]. A excreção de albumina humana tem sido considerada um preditor de mortalidade a curto prazo do que era anteriormente considerada [20]. O desenvolvimento e progressão da nefropatia diabética tem sido associada ao fumo [21]. Pacientes diabéticos submetidos a diálise apresentam índices de sobrevida mais baixos do que os não-diabéticos [22]. Na maioria dos países desenvolvidos, as doenças cardiovasculares e cerebrovasculares constituem os transtornos mais comuns que contribuem para o óbito relacionado ao diabetes. Na nossa população de pacientes, estes transtornos foram muito menos comuns do que as infecções e a insuficiência renal crônica. Um estudo sugeriu que o diabetes aumentou de nove a dez vezes o óbito por doença cardíaca isquêmica em mulheres e de Tabela 2. Causas do óbito em 269 pacientesa Nº total Infecções Insuficiência renal crônica Doença arterial coronariana Doença cerebrovascular Hipoglicemia Cetoacidose diabética Insuficiência renal aguda Neoplasia Coma hiperosmolar Doença hepática crônica Hemorragia gastrointestinal Síndrome da angústia respiratória no adulto Tromboembolismo pulmonar Doença cardíaca reumática Taquicardia atrial paroxística Coagulação intravascular disseminada Coma hepático Causa não determinada Todas as causas a 91 (33.83) 83 (30.85) 44 (16.36) 37 (13.75) 21 (7.81) 18 (6.69) 15 (5.58) 12 (4.46) 6 (2.23) 6 (2.23) 5 (1.86) 4 (1.49) 3 (1.11) 1 (0.37) 1 (0.37) 1 (0.37) 1 (0.37) 20 (7.43) 269 (100) Abrange pacientes com mais de uma causa de óbito Nº de DMID (%) 16 (34.78) 13 (28.26) 1 (2.17) 2 (4.35) 8 (17.39) 12 (26.09) 0 1 (2.17) 0 0 1 (2.17) 1 (2.17) 0 0 0 0 0 5 (10.87) 46 (100) DMIND (%) 75 (33.63) 70 (31.39) 43 (19.28) 35 (15.69) 13 (5.83) 6 (2.69) 15 (6.73) 11( 4.93) 6 (2.69) 6 (2.69) 4 (1.79) 3 (1.34) 3 (1.34) 1 (0.45) 1 (0.45) 1 (0.45) 1 (0.45) 15 (6.73) 223 (100) Valor de P > 0.09 > 0.09 <0.01 <0.05 < 0.01 < 0.001 – >0.25 – – >0.9 – – – – – – >0.25 A. Hamid Zargar et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 4-10 9 Tabela 3 Proporção de pacientes com uma ou mais causas de óbito Causa única Duas causas Três ou mais causas Causa indeterminada Total (n = 269) nº (%) DMID (n = 46) nº (%) DMNID (n = 223) nº (%) Valor de P 162 (60.22) 71 (26.39) 16 (5.95) 20 (7.43) 27 (58.69) 13 (28.26) 1 (2.17) 5 (10.87) 135 (60.54) 58 (26.01) 15 (6.73) 15 (6.73) > 0.7 > 0.7 >0.2 >0.2 dois a três vezes nos homens [23]. Em pacientes diabéticos, a doença arterial coronariana e a doença cerebrovascular foram consideradas as duas causas mais importantes de óbito em países desenvolvidos. [14, 24]. Em um estudo japônes sobre a mortalidade em diabéticos, os óbitos por causas cardiovasculares tenderam a aumentar em pacientes do sexo masculino, com idade relativamente mais alta, doença arterial isquêmica anterior e proteinúria persistente [17]. Estudos na Inglaterra e País de Gales indicam que os pacientes diabéticos não estão experimentando a mesma queda na mortalidade cardiovascular como a experimentada pela população em geral [25]. A cetoacidose diabética é a primeira causa de mortalidade em crianças diabéticas com uma mortalidade geral de 7 % [26]. Em uma série, a cetoacidose diabética causou 1,3 % dos óbitos diabéticos [15]. O óbito decorrente de hipoglicemia foi observado com mais frequência em pacientes com DMID e o coma hiperosmolar observado em pacientes com DMNID. A hipoglicemia foi considerada a causa principal ou coadjuvante de óbito em mais de 4 % dos pacientes com diabetes [27]. O tratamento intensivo com insulina foi associado a um aumento de 2 a 3 vezes nos casos de hipoglicemia grave em indivíduos com DMID [18]. O coma hiperosmolar diabético apresentou uma taxa de mortalidade 50 % superior nos pacientes com idade mais avançada (>50 anos) [26]. As outras importantes causas de mortalidade em nossos 269 pacientes diabéticos foram neoplasias, doença hepática crônica e hemorragia gastrointestinal. Um pequeno número de pacientes morreu devido a síndrome da angústia respiratória no adulto, tromboembolismo pulmonar, doença arterial reumática e coagulação intravascular disseminada. Aparentemente estes transtornos não parecem ter relação com o diabetes mellitus. Em um estudo sobre as principais causas do óbito relacionado ao diabetes, as neoplasias com 12 %, a doença hepática com 5,4 % e a hemorragia gastrointestinal com 0,7 % foram consideradas as principais causas de óbito independentemente do diabetes subjacente [15]. Este estudo sugere que nesta comunidade as infecções e a insuficiência renal crônica contribuíram significativamente para a mortalidade nos indíviduos com DMNID bem como nos indivíduos com DMID. Isto contradiz grande parte da literatura ocidental onde as principais causas da mortalidade diabética são atribuídas às doenças cardiovasculares e cerebrovasculares. A presença de infecções na população diabética é um reflexo da alta prevalência deste transtorno nestas regiões [2]. O fato da doença renal crônica ter sido considerada a principal causa de mortalidade sugere um controle glicêmico insatisfatório como resultado do atraso econômico, pouco conhecimento da doença, não disponibilidade de cuidado especializado para a maioria dos pacientes dia- Tabela 4 Comparação da idade dos pacientes com uma ou mais causas de morte a Idade em anos (média ± S.D.) Infecções Insuficiência renal crônica Doença arterial coronariana Doença cerebrovascular Hipoglicemia Cetoacidose diabética a P* 1 causa 2 causas ≥ 3 causas Total 49.69 ± 15.85(35) 53.25± 12.12(55) 58.83 ± 9.26(23) 54.24 ± 8.55(15) 38.00 ± 20.33(8) 35.63 ± 20.96(8) 49.32 ± 17.43(43) 54.36 ± 10.69(22) 58.73 ± 10.61(17) 56.21 ± 13.41(14) 48.91 ± 17.60(11) 31.14 ± 20.13(7) 56.42 ± 6.78(13) 60.15 ± 5.32(6) 62.50 ± 5.0(4) 60.11 ± 7.94(8) 50.00 ± 0(2) 53.63 ± 3.18(3) 50.41 ± 15.74(91) 54.05 ± 11.44(83) 59.12 ± 9.42(44) 56.20 ± 10.48(37) 44.86 ± 18.16(21) 36.88 ± 19.73(18) Números entre parênteses indicam número de pacientes. * One-way ANOVA. > 0.3 > 0.3 > 0.7 > 0.4 > 0.4 > 0.2 10 A. Hamid Zargar et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 4-10 béticos. Existe uma determinação nestas regiões para a melhoria da documentação dos dados relacionados as causas da mortalidade devido ao diabetes. São necessários mais estudos sobre a mortalidade no diabetes, especialmente nas regiões em desenvolvimento. Estudos bem conduzidos sobre a mortalidade podem mostrar a relativa contribuição do diabetes para a mortalidade da população geral e proporcionar descrições importantes sobre as alterações nas causas e na freqüência da mortalidade do diabetes. Este tipo de análise pode sugerir medidas que podem reduzir as perdas precoces e desnecessárias de vidas devido ao diabetes, bem como medidas para a melhoria no tratamento do diabetes a longo prazo. Referências [1] World Development Report, Investing in Health, World Bank, Oxford University, NY, 1993. [2] M.M.S. Ahuja, Causes of death amongst diabetics, Int. J. Diab. Dev. Ctries. 14 (1994) 111–112. [3] I.M. Moriyama, Problems in measurement of accuracy of cause of death statistics, Am. J. Public Health 79 (1989) 1349–1350. [4] U. Muhammad, M. Ali, A. Panneerselvam, Mortality in diabetes, Int. J. Diab. Dev. Ctries. 14 (1994) 113–115. [5] J. Head, J.H. 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Diabetes Clínica Diabetes Clínica 1 (1999) 11-16 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas Elevada prevalência de tolerância anormal à glicose e de distúrbios metabólicos em parentes de primeiro grau de pacientes com DMNID. Um estudo em uma comunidade do Mediterrâneo, a Catalúnia. A. Costaa, M. Riosb, R. Casamitjanac, R. Gomisa, I. Congeta * a Endocrinology and Diabetes Unit, Hospital Cli´nic i Universitari de Barcelona, Villarroel 170, 08036Barcelona, Spain b Biostatistics Department, Faculty of Biology, Universitat de Barcelona, Villarroel 170, 08036 Barcelona, Spain c Hormonology Unit, Hospital Cli´nic i Universitari de Barcelona, Villarroel 170, 08036 Barcelona, Spain Resumo Nosso estudo teve por objetivo analisar as características clínicas e metabólicas dos parentes de primeiro grau de pacientes com diabetes nãoinsulino dependente (DMNID) na Catalúnia. Duzentos e cinco sujeitos (39,8 ± 14,2 anos de idade, 61 % mulheres) foram incluídos no estudo. Um teste de tolerância oral à glicose (OGTT) foi feito, obtendo-se a glicemia e insulinemia basais, para se calcular, %B (HOMA função das células ß) e %S (HOMA sensibilidade à insulina). Tolerância anormal à glicose foi observada em 30,7 % dos sujeitos, ou como tolerância prejudicada à glicose (IGT) (20,5 %) ou como DMNID (10,2 %). A glicemia depois do OGTT (120 minutos) foi determinada independentemente pela glicemia em jejum e idade (R2 = 0,50; P < 0,001). Como esperado, sujeitos com tolerância normal à glicose (NGT) eram mais jovens de forma significante do que os sujeitos IGT e DMNID. Os parentes com IGT e DMNID têm mais características da síndrome-X quando comparados aos NGT. Da mesma forma, parentes NGT eram menos sensíveis à insulina e seus níveis basais de insulina eram mais elevados quando comparados a um grupo controle sem história familiar de DMNID (log %S, 3,6 ± 0,4 versus 3,9 ± 0,4; P = 0,000; insulina-log 2,4 ± 0,4 versus 2,1 ± 0,6 um/l; P < 0,02). Em comparação com a população geral, de qualquer grupo etário, DMNID e IGT eram mais comuns naqueles sujeitos com história familiar de DMNID. Curiosamente, as taxas de tolerância anormal à glicose nos grupos com idade entre 55 e 64 anos e > 64 anos da população geral foram semelhantes àquelas observadas em parentes duas décadas mais jovens. Nosso estudo não somente confirma uma alta prevalência de tolerância prejudicada à glicose (IGT e DMNID) em sujeitos com história familiar de DMNID, mas também que estas anormalidades podem ser detectadas precocemente. Globalmente, estas informações corroboram o fato de que atenção especial e programas de detecção precoce devem ser dirigidos a parentes de pacientes com DMNID. © 1998 Elsevier Science Ireland Ltda. Todos os direitos reservados. Palavras-chave: DMNID, tolerância à glicose, parentes de primeiro grau © Diabetes Research and Clinical Practice Diabetes Research and Clinical Practice 41 (1998) 191–196 Autor correspondente. Tel.: +34 3 2275411; fax: +34 3 4516638; e-mail: [email protected] 0168-8227:98:$ 12 A. Costa et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 11-16 1. Introdução Uma história familiar de diabetes mellitus não-insulino dependente (DMNID) está associada a um risco aumentado de vir a ter diabetes [1]. Foi relatado que parentes de primeiro grau de pacientes com DMNID têm, durante a vida, 40 % de risco de desenvolver diabetes [2]. Existem evidências de que em tal grupo de sujeitos é possível identificar distúrbios metabólicos precoces antes mesmo de tornar-se clinicamente significativa a tolerância anormal à glicose [1, 3, 4]. Anormalidades da sensibilidade à insulina e secreção da insulina já foram descritas e provavelmente ambas são necessárias para o desenvolvimento do estado de tolerância prejudicada à glicose (IGT) [5-7]. Além disso, foi demonstrado recentemente que características da síndrome-X ocorrem mais freqüentemente em parentes de primeiro grau de pacientes com DMNID do que em indivíduos sem história familiar de diabetes [8]. Em todas as pessoas em que o diabetes se manifesta provavelmente passam por um estágio de IGT e esta condição confere um risco não negligível em termos de moléstia cardiovascular [9, 10], além de estar relacionada a uma alta taxa de progressão para o diabetes. Sob esta ótica, a eficácia de algumas medidas terapêuticas em sujeitos com IGT foi avaliada [11-13]. Considerando que o IGT é particularmente freqüente em parentes de primeiro grau de pacientes com DMNID, esta população merece atenção especial. O propósito de nosso estudo foi o de analisar as características clínicas e metabólicas de parentes de primeiro grau de pacientes com DMNID numa comunidade ao sul da Europa (Catalúnia, Espanha) para estimar a prevalência de anormalidades associadas ao diabetes e condições relacionadas nesse grupo de sujeitos. 2. Pacientes e métodos Depois da aprovação pelo comitê de ética médica local, 205 parentes em primeiro grau de pacientes com DMNID, não diabéticos, de 80 famílias foram incluídos em nosso estudo. Nenhum deles sabia previamente qual era seu estado de tolerância à glicose. Os parentes estavam relacionados aos membros da família com diabetes da seguinte forma: 144 eram filhos, cinco eram irmãos e 56 eram, ambos, filhos e irmãos. Consentimento informado foi obtido de todos os participantes. Depois de jejum de 12 horas, foram colhidas pela manhã três amostras basais de sangue (dez, cinco e zero minutos) para dosar insulina e glicose. Depois disso foi realizado um teste de tolerância com 75 g de glicose por via oral (OGTT). O teste foi precedido por pelo menos 3 dias de dieta sem restrições (mais de 150 g de carbohidratos diários) e atividade física usual. Nenhum dos sujeitos incluídos no estudo estava tomando qualquer droga que afetasse o metabolismo dos carbohidratos. As amostras basais foram usadas para calcular a sensibilidade à insulina (%S) e função das células ß (%B) usando o método de avaliação pelo modelo de homeostase solucionado por computador (HOMA) previamente descrito [14]. A glicemia aos 120 minutos no OGTT foi usada para classificar os sujeitos em: tolerância normal à glicose (NGT); IGT; ou diabetes (DM) conforme os critérios da OMS. Medidas antropométricas: altura, peso, índice de massa corporal (IMC), e pressão arterial sistólica/diastólica (triplicata) foram registradas pela mesma pessoa treinada usando os mesmos instrumentos em todos participantes. Ao mesmo tempo, 40 sujeitos que não tinham história familiar de DMNID, com antecedentes étnicos semelhantes e com NGT depois do OGTT foram usados como controles para os parentes com NGT. A glicose plasmática foi medida pelo método da glicose oxidase. A insulina foi determinada por IRMA (Medgenix Diagnostics, Fleurus, Bélgica) com um coeficiente de variação dentro e entre ensaios de 5,2 e 6,9 %, respectivamente. Nenhuma reação cruzada com a próinsulina foi detectada. Dados sobre a prevalência de DMNID (conhecida ou não) e de IGT na população geral adulta da Catalúnia foram obtidos do Departamento de Saúde do Governo Regional da Catalúnia. Este estudo populacional com base no OGTT foi feito numa amostra ao acaso de 3.839 sujeitos com idade entre 30 e 89 anos [15]. 2.1 Métodos estatísticos Os dados são apresentados como média ± DP e proporções. Para normalizar as variáveis não distribuídas normalmente elas foram todas transformadas em log. Um ANOVA com co-variáveis foi usada para estudar a possível influência das co-variáveis. O teste-t de Student ou a análise de variância e teste de Scheffe foram usados para comparar diferentes grupos de sujeitos. Uma análise de regressão múltipla progressiva foi usada foi usada para identificar as variáveis diretamente relacionadas à tolerância à glicose (glicemia aos 120 minutos). Comparações entre proporções foram feitas pelo teste exato de Fisher e teste do c2. As estatísticas foram feitas com o programa SPSS, versão 6.1.3 para Windows. Para todas análises estatísticas, significância foi definida como P < 0,05. 13 A. Costa et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 11-16 Tabela 1 Parâmetros clínicos e metabólicos de parentes em primeiro grau de pacientes com DMNID Faixa de idade <35 89 (43%) Idade (anos) 26.9 ± 5.6 25.2 ± 4.5 IMC (kg/m2) PA sistólica (mmHg) 108.1 ± 10.2 PA diastólica (mmHg) 73.6 ± 8.5 Glicemia em jejum (mmol/l) 5.1 ± 0.7 Insulina em jejum (um/l) 11.4 ± 4.6 %B 150.8 ± 51.2 %S 39.2 ± 13.6 FIR 1 (mmol· mU/l 2 ) 0.09 ± 0.04 35–44 42 (20%) 39.1 ± 2.8 25.1 ± 3.2 113.5 ± 11.2 76.8 ± 8.7 5.5 ± 1.0 13.6 ± 9.8 146.1 ± 63.6 36.3 ± 17.3 0.12 ± 0.10 45–54 36 (18%) 49.6 ± 2.8 27.4 ± 4.2 121.8 ± 15.6 81.8 ± 11.8 5.7 ± 0.7 15.8 ± 12.6 130.7 ± 64.4 37.0 ± 18.6 0.14 ± 0.11 55–64 26 (13%) 65–74 12 (6%) 59.3 ± 3.2 30.1 ± 4.7 128.5 ± 17.0 84.3 ± 7.8 5.8 ± 0.9 16.8 ± 11.8 141.6 ± 66.9 29.8 ± 14.2 0.16 ± 0.12 67.8 ± 1.9 30.4 ± 4.6 139.2 ± 2.8 83.3 ± 10.0 5.9 ± 0.9 12.3 ± 5.6 129.6 ± 1.0 32.5 ± 12.6 0.11 ± 0.05 Total sample 205(100%) 39.8 ± 14.2 26.5 ± 4.6 116.1 ± 16.3 77.6 ± 9.9 5.4 ± 0.9 13.4 ± 8.8 143.9 ± 59.5 36.6 ± 15.7 0.12 ± 0.08 Dados expressos como média ± DP Tabela 2 Características clínicas e metabólicas de NGT, IGT e parentes em primeiro grau de pacientes com DMNID n NGT IGT DMNID valores de P 142 42 21 NGT vs. IGT NGT vs. DM IGT vs. DM 0.001 NS 0.003 NS 0.001 0.001 0.001 NS 0.001 0.001 NS NS 0.008 0.001 0.001 NS 0.001 NS NS NS NS NS NS 0.001 NS 0.001 NS Idade (anos) 37.1 ± 13.5 Sexo (M/H) 64.0% / 36.0% IMC (kg/m2) 25.7 ± 4.4 PA sistólica (mmHg) 113.4 ± 16.0 PA diastólica (mmHg) 75.5 ± 9.9 Glicemia em jejum (mmol/l) 5.1 ± 0.6 Log insulina (mU/l) 2.4 ± 0.4 Log %B 4.9 ± 0.3 Log %S 3.6 ± 0.4 43.8 ± 14.0 59.0% / 41.0% 28.8 ± 4.9 120.0 ± 14.1 82.5 ± 8.2 5.9 ± 0.7 2.7 ± 0.5 4.9 ± 0.4 3.2 ± 0.5 50.0 ± 12.3 8.0% / 62.0% 28.2 ± 4.6 127.1 ± 16.5 83.0 ± 8.6 6.5 ± 1.2 2.5 ± 0.6 4.5 ± 0.6 3.4 ± 0.5 Dados expressos como média ± DP P < 0,05 foi considerado com estatisticamente significante. 3. Resultados A Tabela 1 mostra as características antropométricas, clínicas e metabólicas dos parentes em primeiro grau de pacientes com DMNID, globalmente e divididas por faixa de idade. O Índice de Massa Corporal (IMC), pressão arterial sistólica e diastólica, e glicemia basal tenderam a aumentar com a idade. Em média, os sujeitos acima de 45 anos tinham um IMC > 27 kg/m2 e uma glicemia basal > 5,7 mmol/l. De acordo com os critérios da OMS, parentes em primeiro grau de pacientes com DMNID foram classificados como NGT, IGT ou DMNID depois do OGTT (Tabela 2). Sessenta e três de 205 sujeitos (30,7 %) tiveram uma tolerância anormal à glicose, ou como IGT (20,5 %) ou como DMNID (10,2 %). Sujeitos NGT eram mais jovens de forma significante do que sujeitos IGT e DMNID. O IMC foi maior em ambos grupos patológicos, mas só alcança significância nos sujeitos IGT. Em ambos casos (IGT e DMNID) o IMC média estava acima de 28 kg/m2. Quando à pressão arterial, os valores da diastólica estavam mais altos nos sujeitos com tolerância anormal à glicose quando comparados aos valores dos NGT. Nenhuma diferença entre os sexos foi encontrada em qualquer das categorias de tolerância à glicose. A glicemia basal foi mais elevada não somente nos sujeitos DMNID mas também nos sujeitos IGT quando comparado ao grupo NGT. Quarenta por cento dos sujeitos DMNID recém diagnosticados tinham uma glicemia em jejum < 6,6 mmol/l, em 40 % ela estava entre 6,6 e 7,7 mmol/l e somente 20 % deles tinham uma glicemia basal acima de 7,8 mmol/l, sendo que nenhum deles era sintomático. Para normalizar esses valores, a insulina em jejum, %B e %S foram transformadas em log. Os níveis médios da insulina em jejum foram menores no grupo NGT, intermediários no grupo DMNID, 14 A. Costa et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 11-16 Tabela 3 Comparação das características clínicas e metabólicas de parentes NGT versus controles NGT n parentes-NGT 142 Idade (anos) 37.1 ± 13.5 Sexo (M/H) 64% / 36 IMC (kg/m2) 25.7 ± 4.4 PA sistólica 113.4 ± 16.0 (mmHg) PA diastólica 72.4 ± 6.5 (mmHg) Glicemia basal 5.1 ± 0.6 (mmol/l) Log insulina 2.4 ± 0.4 (mU/l) log %B 4.9 ± 0.3 log %S 3.9 ± 0.4 controles-NGT 40 P 35.3 ± 10.0 50% / 50% 24.4 ± 3.7 115.0 ± 12.4 NS NS NS NS 75.5 ± 9.9 NS 5.0 ± 0.7 NS 2.1 ± 0.6 0.02 4.8 ± 0.3 3.6 ± 0.4 0.006 0.000 Dados expressos como média ± DP e os mais elevados no grupo IGT; sendo que os valores somente tiveram diferença significante entre os sujeitos NGT e IGT. Apesar da gravidade maior da tolerância anormal à glicose, o menor %B foi estatisticamente significante nos sujeitos com DMNID comparado aos sujeitos NGT e IGT. Os parentes com IGT foram mais resistentes à insulina do que os sujeitos NGT quando avaliados pelo %S, e este achado ainda estava presente após correção para o IMC. Quando a sensibilidade à insulina foi avaliada pelo %S, ela somente representou 69 e 87 % do estado NGT em sujeitos IGT e DMNID, respectivamente. Parentes NGT foram comparados ao grupo controle (Tabela 3). Diferenças não foram encontradas em termos de idade, distribuição quanto ao sexo e IMC, pressão arterial sistólica e diastólica. A insulina em jejum e a função das células ß (log-transformada), foram mais altas em parentes NGT do que nos controles. A sensibilidade à insulina expressa como log do %S demonstrou uma redução significante deste parâmetro em parentes NGT comparada aos controles NGT. A comparação entre os parentes em primeiro grau e a população geral em termos de prevalência de IGT e DMNID é mostrada na Tabela 4. DMNID e IGT aumentaram com a idade em ambos grupos. Em qualquer grupo de idade, DMNID e IGT foram mais prevalentes naqueles sujeitos com história familiar de DMNID. Curiosamente, os percentuais de DMNID e IGT obtidos em parentes nos grupos de idade < 35 e 35-44 anos não foram diferentes de forma significante daqueles obtidos nos grupos de idade 55-64 e > 64 da população geral. A análise de regressão linear múltipla progressiva demonstrou que idade e glicemia em jejum determinaram independentemente o valor da glicemia de 2 horas no OGTT (R2 = 0,50; P < 0,001). 4. Discussão Neste estudo, demonstramos que os parentes em primeiro grau de pacientes com DMNID têm uma maior prevalência de tolerância anormal à glicose do que a população geral. Além disso, o distúrbio pode ser identificado mais cedo no primeiro grupo de sujeitos e alguns distúrbios metabólicos também são detectados mesmo nos parentes com NGT. Em nosso estudo, mais de 30 % de parentes em primeiro grau de pacientes com DMNID têm uma tolerância anormal à glicose, antes desconhecida, ou como IGT ou como DMNID. Esta taxa é mais alta do que aquela observada na população geral da Catalúnia (≈ 20 %) e de Aragon (≈ 14 %), sendo a última uma comunidade Tabela 4 Prevalência de IGT e DMNID na população geral e em parentes em primeiro grau População geral Parentes Idade DMNID conhecido DMNID desconhecido IGT Normal DMNID desconhecido IGT Normal < 35 35–44 45–54 55–64 > 64 — 1.33 3.92 8.58 15.70 — 1.30 3.15 4.27 7.90 — 6.71 9.56 10.65 17.04 — 90.66 83.37 76.50 59.36 3.44 10.80 15.20 12.00 — 13.79 18.90 24.20 40.00 — 82.75 70.30 60.60 48.00 — Todos dados estão expressos como porcentagens. Parentes mais velhos do que 64 anos (6 % do total da amostra) não são mostrados na tabela. Valores da população geral foram padronizados para idade e sexo de acordo com a população catalã (censo de 1991). A. Costa et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 11-16 espanhola autônoma próxima à Catalúnia (em termos geográficos, étnicos e de estilo de vida) [15, 16]. Devese notar que este é um achado interessante se considerarmos que mais do que 60 % dos sujeitos incluídos neste estudo tinham menos de 45 anos. Como era de se esperar, a presença de IGT e DMNID aumentou com a idade no grupo de parentes, e também na população geral. No entanto, é de especial interesse notar que ambas condições patológicas são identificadas 30 anos antes naqueles sujeitos com história familiar de DMNID do que na população geral. Neste contexto, foi recentemente demonstrado que anormalidades metabólicas já podem ser detectadas em filhos muito jovens de pacientes com diabetes de tipo 2 [17]. Quando sujeitos com tolerância normal à glicose foram analisados, eles mostraram ter um IMC mais alto, pressão arterial diastólica e resistência à insulina mais elevados do que o grupo NGT, características estas reconhecidas como associadas à síndrome-X [8, 18]. O estágio IGT estava relacionado a níveis altos de insulina e baixa sensibilidade à insulina; e aqueles sujeitos com DMNID mostraram um dano particular da função das células ß além de resistência à ação do hormônio. Analisando globalmente e apesar de: (i) as limitações da metodologia empregue para avaliar a função das células ß e sensibilidade à insulina; e (ii) o desenho do nosso estudo, nossos dados sugerem que ocorre uma exaustão progressiva das células ß incapaz de compensar a resistência à insulina, que pode explicar, pelo menos parcialmente, a transição de IGT para DMNID. O grupo de parentes IGT merece atenção especial. Surpreendentemente, apesar da idade relativamente jovem e IMC normal, sua sensibilidade à insulina foi mais baixa de forma significante do que a observada nos controles NGT. Contrastando, a insulina basal e a capacidade secretora de insulina foram mais altas nos parentes NGT. Este achado poderia indicar que a resistência à insulina vem primeiro na seqüência de eventos que levam às anormalidades da tolerância à glicose, como previamente relatado em outros estudos [1, 3, 19]. Como era de se esperar, a concentração basal da glicose foi diferente de forma significante em sujeitos diabéticos quando comparada aos grupos NGT e IGT. No entanto, somente 20 % dos sujeitos com diabetes recém diagnosticado (OGTT) tinham uma glicemia basal acima de 7,8 mmol/l (em 38 % a glicemia basal foi > 7,0 mmol/l). Conforme informações recentemente relatadas, estes dados sugerem às comunidades científicas a reconsiderar os critérios diagnósticos para anormalidades da tolerância à glicose [20-22]. Encerrando, nosso estudo lidou com a identificação de fatores que determinam a concentração plasmática 15 da glicose depois de 2 horas no OGTT. Idade e glicemia basal foram os determinantes independentes da tolerância oral à glicose. A utilidade desta informação deveria ser considerada para que se avalie primeiro parentes de pacientes com DMNID minimizando assim o número de OGTTs [23, 24]. Resumindo, este estudo confirmou a alta prevalência de tolerância anormal à glicose e outras alterações clínicas e metabólicas relacionadas em parentes em primeiro grau de pacientes com DMNID numa área do Mediterrâneo. Além disso, nós demonstramos que IGT e DMNID podem ser detectados em idades precoces, embora este não seja o caso na população geral. Globalmente, nossos dados sugerem que pessoas com história familiar de DMNID mereça especial atenção em programas dirigidos à detecção precoce e prevenção do processo mórbido. Referências [1] B.C. Martin, J.H. Warram, A.S. Krolewski, R.N. Bergman, J.S. 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Diabetes Clínica Diabetes Clínica 1 (1999) 18-23 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas Uma lipoproteína de banda média aterogênica: fator de risco para doença arterial coronariana no diabetes mellitus com hiperlipidemia Mikihiko Kawano*, Maski Shinomiya, Tetsuto Kanzaki, Nobubiro Morisaki, Kohji Shirai, Yasushi Saito, Sho Yoshida Segundo Departamento de Medicina Interna, Escola de Medicina, Universidade de Chiba, Japão Resumo Na eletroforese de lipoproteínas séricas em disco de gel de poliacrilamida (GPA), a(s) banda(s) que migram entre pré-ß- e ß-lipoproteínas foi(ram) mais freqüentemente observada(s) em hiperlipidêmicos com diabetes mellitus (73 %), do que naqueles sem diabetes mellitus (37 %) (p < 0,01). Estas bandas foram vistas em três posições entre preb- e ß-lipoproteínas. Uma incidência maior de doença arterial coronariana (DAC) foi observada em pacientes com banda média como um ombro de ß-lipoproteínas (44 %), do que naqueles sem banda média (11 %) (p < 0,05) após o balanceamento de outros fatores de risco. Estes resultados sugerem que a banda média como um ombro de ß-lipoproteínas pode ser um fator de risco para DAC em diabetes mellitus com hiperlipidemia. © 1998 Elsevier Science Ireland Ltda. Todos os direitos reservados. Palavras-chave: Lipoproteína banda média, lipoproteína aterogênica, doença arterial coronariana, diabetes mellitus. © Diabetes Research and Clinical Practice Diabetes Research and Clinical Practice 41 (1998) 45–48 * Correspondência para o autor. 1-847 Amanumacho, Omiya-shi, Saitama 330-8503, Japão. Tel.: +81 46 6472111; Fax: +81 48 6485188 0168-8227:98:$19.00 M. Kawano et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 18-23 1. Introdução É geralmente aceito que pacientes com diabetes mellitus freqüentemente têm aterosclerose avançada, especialmente doença arterial coronariana (DAC) [1-3]. Considera-se que isso é decorrente de alguns fatores de risco conhecidos originados de condições diabéticas. As lipoproteínas séricas são usualmente classificadas em quatro grupos de acordo com suas mobilidades eletroforéticas: quilomicrons, preb-, ß- e α-lipoproteínas. No diabetes mellitus, um aumento de preb ou/e ßlipoproteínas e uma diminuição de α-lipoproteínas, são freqüentemente observados. Estas mudanças constituem um risco para aterosclerose. Tem sido demonstrado pela eletroforese sobre disco de gel de poliacrilamida que algumas lipoproteínas, tais como a lipoproteína de baixa densidade oxidada (LDL) e a lipoproteína (a) {Lp(a)}, migram entre preb- e ß-lipoproteínas e são chamadas de lipoproteína(s) banda média (Lp-banda média) [4]. A Lp-banda média já tem sido referida como um fator de risco para aterosclerose independente de hiperlipidemia [4, 5]. Para esclarecer o papel da Lp-banda média como um fator de risco para DAC em diabetes mellitus, analisamos a freqüência da existência da Lp-banda média e examinamos a significância clínica da Lp-banda média em diabetes mellitus com hiperlipidemia. 2. Indivíduos e métodos 19 2.2 Eletroforese de disco GAP de lipoproteínas séricas e detecção de Lp-banda média O sangue foi coletado em um tubo EDTA-2Na após jejum de 12 horas. A eletroforese de lipoproteínas séricas GAP foi realizada de acordo com o método de Narayan et al. [7]. Resumidamente, 100 ml de sérico foram adicionados a 50 µl de 0,1 % de Sudan Black em água e incubado por 3 horas em temperatura ambiente. O tubo usado para eletroforese foi de 100 mm de comprimento e 5 mm de diâmetro interno. O gel era composto de 1 % de gel superior de acrilamida e 3 % de gel inferior de acrilamida. A eletroforese foi realizada por 60 min com 3 mA/tubo e foi considerada completa quando a banda de α-lipoproteínas alcançou 10 mm do final do tubo. O padrão da eletroforese foi analisado por densitometria. 2.3. Medição de lipídios, lipoproteínas, hemoglobina glicosilada e Lp (a) O colesterol total sérico (CT) e triglicerídeos (TG) foram medidos pelo método enzimático usando kits comerciais (Nippon Shoji, Osaka, Japão). Os níveis de colesterol LDL e HDL (LDL-C e HDL-C) foram medidos após ultracentrifugação [8]. A hemoglobina glicosilada (HbA1c) foi determinada pelo método HPLC (Auto Alc [HA-8111A], Kyoto Daiichi Kagaku, Kyoto, Japão). A Lp(a) foi medida usando Tint ELIZATM Lp(a) (Biopool, Suécia). 2.1. Indivíduos 2.4. Diagnóstico da doença arterial coronariana Oito indivíduos hiperlipidêmicos foram diagnosticados, de acordo com o critério atual da Organização Mundial de Saúde, para diabetes e tolerância reduzida à glicose [6]. Pacientes que apresentaram glicose sangüínea pós-carga de 11,1 mmol/l ou mais foram considerados como tendo diabetes mellitus. Os pacientes não receberam agentes hipolipidêmicos nem anti-oxidantes, ou tinham cessado o uso deles por 1-2 meses antes desta experiência por causa da pesquisa clínica sob consentimento informado. Porém, excluímos seis de 42 pacientes diabéticos em exame M3-banda média porque tinham apolipoproteina E2 isoforme ou hiperlipidemia acentuada. Dez dos diabéticos negativos para M3-banda média e oito dos diabéticos M3-positivos foram tratados apenas com dieta, cinco dos M3-negativos e seis dos M3-positivos foram tratados com agentes anti-diabéticos orais, três dos M3-negativos e quatro dos M3-positivos foram tratados com insulina. O diagnóstico da DAC foi baseado na presença de uma ou mais das seguintes doenças e sintomas: episódio de infarto do miocárdio; angina pectoris; alteração isquêmica (≥ 1 mm de depressão de ST-T em ponto 80 a mseg da junção ST) no ECG em repouso; teste de tolerância duplo Master positivo; e > 50 % de estenose da artéria coronariana no angiograma coronário. 2.5. Análise estatística Os dados relativos às lipoproteínas séricas são expressos como média ± S.D. O teste-t não pareado foi usado para comparar as lipoproteínas dos dois grupos e o teste χ² foi usado para comparar a incidência de Lp-banda média entre os dois grupos. O valor P de < 0,05 foi considerado significativo. 22 M. Kawano et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 18-23 3. Resultados e discussão A banda entre preb- e ß-lipoproteínas foi chamada de “lipoproteína banda média (Lp-banda média)” como relatado por Mead et al. [4] e Kameda et al. [5]. A fig. 1 mostra o padrão de Lp-banda média na eletroforese sobre disco GAP. Encontramos três tipos de bandas média: M1-banda média como um ombro do pico preßlipoproteínas; M2-banda média como uma banda no meio de preb- e ß-lipoproteínas; e M3-banda média como um ombro de pico de ß-lipoproteínas. Inicialmente, detectamos a Lp-banda média em pacientes diabéticos com hiperlipidemia sem a subdivisão em 3 tipos. A Tabela 1 mostra as características e incidência de Lp-banda média em pacientes hiperlipidêmicos com diabetes mellitus. A incidência de Lp-banda média em pacientes com disco GAP Banda média α (HDL) β (LDL) (–) pre β (VLDL) banda média M1 1.0 Rf 0.5 0.25 0 banda média (+) M2 1.0 Rf 0.5 0.25 0 banda média M3 1.0 Rf 0.5 0.25 0 Figura 1 Eletroforese em disco de gel de poliacrilamida (GAP). Foram observados três tipos de banda média: (-), negativo para banda média; M1, uma banda como um ombro do pico de preß-lipoproteínas; M2, uma banda entre preb- e ß-lipoproteínas; M3, uma banda como um ombro do pico ß-lipoproteínas. A seta mostra o pico de Lp-banda média. Tabela 1 Características dos indivíduos e incidência de lipoproteína banda média Diabetes Mellitus Caso (M:F) CT (mg/dl) TG (mg/dl) LDL-C (mg/dl) HDL-C (mg/dl) Lp(a) (mg/dl) HbA1c (%) Incidência de Lp-banda média (%) NS sem com 38 (16:22) 275 (41) 165 (84) 173 (54) 51 (17) 24,5 (10,2) 5,1 (0,3) 42 (20:22) 276 (38) 180 (12) 198 (33) 42 (14) 29,6 (12,8) 8.5 (1,9) NS NS NS NS NS - 37 73 < 0,001 Média (S.D.); NS: não significativa diabetes mellitus foi de 73 % e sem diabetes mellitus foi de 37 % (P < 0,001), quando o tipo e a severidade da hiperlipidemia foram comparáveis entre os dois grupos. Adicionalmente, sexo, idade, tabagismo e índice de massa corporal foram também comparáveis entre os dois grupos. Visto que já relatamos uma subclasse aterogênica de LDL, chamada de lipoproteína ß de migração lenta (ßLDL lenta) [9], presumimos que M3-banda média, um banda média como um ombro do pico de ß-lipoproteínas, deve ser mais aterogênica do que M1- e M2-banda média. Por isso, examinamos a incidência de DAC em 36 pacientes diabéticos hiperlipidêmicos com Lp-banda média. A incidência de DAC em pacientes diabéticos hiperlipidêmicos com M3-banda média (44 %) foi maior do que naqueles sem M3-banda média (11 %) (P < 0,05) mesmo quando sexo, idade, lipídios séricos e condições diabéticas foram comparáveis (Tabela 2). Além disso, hipertensão, tabagismo e índice de massa corporal também foram comparáveis entre estes dois grupos. Um dos pacientes positivo para M3-banda média tinha claudicação intermitente e nenhum tinha história de acidente vascular cerebral. As incidências de DAC nos pacientes diabéticos com M1-banda média (seis casos) e M2-banda média (seis casos) foram de 17 e 17 % respectivamente, apesar dos dados não terem sido mostrados por causa do pequeno número e níveis não comparáveis de lipídios séricos. As propriedades da Lp-banda média ainda não estão completamente entendidas. Porém, são candidatos a constituintes de Lp-banda média as lipoproteínas de densidade intermediária (LDI, 1,006 < d < 1,019) e lipoproteínas remanescentes, produtos de degradação de lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL) e/ou quilomicrons [3], pois o processo de degradação do VLDL M. Kawano et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 18-23 Tabela 2 Incidência de doença arterial coronariana em pacientes diabéticos hiperlipidêmicos com ou sem M3-banda média M3-banda média Caso (M:F) Idade (anos) CT (mg/dl) TG (mg/dl) LDL-C (mg/dl) HDL-C (mg/dl) Lp(a) (mg/dl) HbA1c (%) Incidência de DAC (%) NS sem com 18 (7:11) 55.7 (13.9) 240 (36) 203 (94) 151 (37) 43 (11) 28.8 (15,6) 9,0 (2,1) 18 (7:11) 57.3 (16.0) 242 (50) 208 (69) 159 (49) 42 (2.1) 30,2 (16,8) 9,0 (1,6) NS NS NS NS NS NS 11 44 < 0,05 Média (S.D.); NS: não significativa parece estar prejudicado no diabetes mellitus [10]. As LDI são consideradas aterogênicas porque hiperlipidêmicos tipo III freqüentemente têm doenças ateroscleróticas e as próprias LDI propriamente geram células espumosas in vitro [11]. Lp(a), uma das Lp-banda média, é também uma lipoproteína aterogênica, porém em nosso estudo não apresentou diferença significativa nos grupos M3-banda média positivo e negativo. Tashiro et al. [12] relataram que a Lp-banda média é um fator de risco independente para DAC em pacientes japoneses com hipercolesterolemia familiar, e que o efeito da Lp-banda média pode ser independente do efeito da Lp(a). Nosso estudo também sugere que a M3-banda média não é totalmente explicada pelo Lp(a). A origem da M3-banda média e o mecanismo pelo qual M3-banda média foi relacionado com DAC ainda não estão claros. Porém, estes resultados sugerem que a M3-banda média pode ser um fator de risco para DAC no diabetes mellitus mesmo na presença de hiperlipidemia. Muitos pesquisadores têm relatado que as bandas médias eram aterogênicas, apesar de muitos deles não classificarem as bandas médias na eletroforese de disco GAP. As incidências de DAC em pacientes diabéticos com M1- e M2-banda média eram um pouco maiores comparadas àqueles sem banda média no nosso estudo, mas não pudemos 23 achar diferença significativa entre eles. Porém, acreditase que M1- e M2-banda média podem ser também lipoproteínas aterogênicas e a sua aterogenicidade pode ser mais fraca do que a da M3-banda média. É necessário estudar mais propriedades da M3-banda média e talvez seja necessário um estudo prospectivo. Além disso, gostaríamos de recomendar o exame de eletroforese, que é fácil de ser realizado e útil para detectar a presença de M3-banda média, uma lipoproteína banda média aterogênica. Referencias [1] D.J. Betteridge, Lipids, diabetes and vascular disease. The time to act, Diabetic Med. 6 (1989) 195–203. [2] P.W.F. Wilson, K.M. Anderson, W.B. 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Diabetes Clínica Diabetes Clínica 1 (1999) 24-29 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas Efeito da acarbose no metabolismo pós-prandial dos lípides no diabetes mellitus de tipo 2 Seijiro Kado ª*, Takehiko Murakami b, Akira Aoki b, Terumasa Nagase b, Yoshiya Katsura ª, Masayuki Noritake ª, Takeshi Matsuoka ª, Naokazu Nagata b b ª Quinto Departamento de Medicina Interna, Faculdade de Medicina de Tokyo, Chuo 3-20-1, Ami, Inashiki, Ibaraki 300-0332, Japão Terceiro Departamento de Medicina Interna, Faculdade de Medicina da Defesa Nacional, Namiki 3-2, Tokorozawa, Saitama 359-0042 Japão Resumo O efeito da acarbose, um inibidor da α-glucosidase, na glicose pós-prandial e no metabolismo dos lípides foi investigado em pacientes com diabetes mellitus do tipo 2. Vinte pacientes (10 homens e 10 mulheres) com diabetes mellitus do tipo 2 foram estudados. Uma refeição de teste foi tomada com e sem 100 mg de acarbose. Os níveis de glicose plasmática, de insulina imunoreativa sérica, de lípides, de apolipoproteínas, e de RLP-colesterol (remnant like particles ou lipoproteinas remanescentes) foram investigadas. A acarbose inibiu o aumento pós-prandial tanto da glicose plasmática quanto da insulina imunoreativa sérica. A acarbose também suprimiu significativamente o aumento de triglicerídeos séricos aos 60, 90 e 120 min (P < 0,05 a P < 0,01) e do RLP-colesterol aos 60, e 120 min (P < 0,05). A acarbose inibiu o declínio pós-prandial da apolipoproteina C-11 e reduziu o nível pós-prandial da apolipoproteina C-III sérica. Esses resultados sugerem que a acarbose pode melhorar a hiperlipidemia pós-prandial assim como a hiperglicemia pós-prandial em pacientes com diabetes mellitus do tipo 2. © 1998 Elsevier Science Ireland Ltd. Todos os direitos reservados. Palavras-chave: Acarbose, diabetes mellitus, hiperlipidemia pós-prandial. © 1998 Diabetes Research and Clinical Practice Diabetes Research and Clinical Practice 41 (1998) 49–55 Autor correspondente. Tel.: +81 298 871161; fax: +81298 883463; e-mail: [email protected] 0168-8227:98:$19.00 S. Kado et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 24-29 1. Introdução Anomalias do metabolismo dos lípides são comuns em pacientes com diabetes mellitus do tipo 2 e essas anomalias parecem ser um dos fatores mais importantes na patogênese da arteriosclerose [1]. A deficiência relativa de insulina e a atividade reduzida da lipase da lipoproteína (LPL) levam a um aumento de lipoproteinas, incluindo quilomícrons, lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL), RLP (remnant-like particles ou lipoproteinas remanescentes) e lipoproteínas de baixa densidade (LDL) em pacientes com diabetes mellitus do tipo 2. Sabe-se que a hipercolesterolemia, a hipertrigliceridemia e a redução da lipoproteina colesterol-HDL sérica de alta densidade em jejum são fatores de risco para a arteriosclerose. Recentemente, foi registrado que a hiperlipidemia pós-prandial também é um fator de risco para doenças das artérias coronárias [2, 3]. Por esse motivo, a melhora da hiperlipidemia pós-prandial pode ser importante para prevenir a progressão das alterações arteroscleróticas. A acarbose é um inibidor da α-glucosidase que retarda a digestão de amidos e é usado para reduzir a glicose plasmáticas pós-prandial e os níveis de insulina dos pacientes diabéticos [4]. Como os carboidratos são precursores altamente lipogênicos [5], o retardo de sua digestão afeta provavelmente também o metabolismo dos lípides. Neste estudo, investigamos as alterações do lípides séricos em pacientes diabéticos aos quais foi administrada uma única dose de acarbose com a finalidade de determinar se a droga pode suprimir a hiperlipemia pósprandial assim como a hiperglicemia pós-prandial. 2. Indivíduos e métodos Vinte pacientes (10 homens e 10 mulheres) com diabetes mellitus do tipo 2, admitidos em nossa enfermaria, foram estudados. O peso corporal tinha se mantido estável em todos os indivíduos, por três meses no mínimo antes do estudo e nenhum dos pacientes estava sendo tratado com insulina. Nove pacientes foram mantidos somente em dieta e 11 estavam recebendo sulfoniluréias. O consentimento consciente foi obtido de todos os participantes. No dia posterior à admissão, estes pacientes receberam uma refeição teste (Okuno C, Okuno, Tokyo) para o desjejum após tomar 100 mg de acarbose. Foram colhidas amostras de sangue antes e aos 30, 60, 90, 120 e 180 minutos após a refeição. No dia seguinte, os pacientes receberam a mesma re- 25 feição teste sem a acarbose (refeição teste de controle) e amostras de sangue foram obtidas nos mesmos espaços de tempo da véspera. Os pacientes permaneceram em jejum durante a noite precedente às refeições teste. Determinou-se, em cada uma das amostras de sangue, a glicose plasmática e os níveis séricos da insulina imunoreativa (IRI), do colesterol total, dos triglicerídeos, do HDL-colesterol, das RLP-colesterol, das apolipoproteínas (apo) A-I, apo B, apo C-II, apo C-III e apo E. A refeição teste continha um conteúdo energético de 300 kcal e sua composição era de 21,2 % de proteína, 22,5 % gordura e 49,6 % de carboidratos. O conteúdo de colesterol da refeição teste foi de 75 mg, e a composição dos ácidos graxos foi de 42,4 % saturados, e 27,0 % de ácidos graxos mono-insaturados e 30,6 % poliinsaturados. Os carboidratos da refeição teste eram constituídas de arroz e milho. A glicose plasmática foi medida pelo método hexocinase, e a IRI sérico foi quantificada por rádio-imunoensaio (Phadeseph Insulin, Pharmacia, Uppsala, Suécia). Os níveis séricos do colesterol total e dos triglicerídeos foi determinado pelo método calorimétrico enzimático ( Kits de diagnóstico Determiner TC555 e TG555, Kyowa Medex, Tokyo). O colesterol sérico HDL foi determinado por um ensaio de inibição seletiva (HDL-C Auto “Daiichi” Daiichi Pure Chemicals, Tokyo, Japão). O apo sérico A-I, apo-B, apo C-II, apo C-III e apo E foram determinados por imuno-ensaios turbinométricos (Apo A-I Auto2, ‘Daiichi’, apo-B Auto2 ‘Daiichi’, apo C-II Auto ‘Daiichi’, apo C-III Auto ‘Daiichi’ e apo E Auto ‘Daiichi’, ‘Daiichi Pure Chemicals , Tokyo, Japão). As RLP-colesterol foram avaliadas de acordo com o método desenvolvido por Nakajima et al. [6] utilizandose um kit comercial (RLP-Cholesterol ‘JIMRO’ Immunoresearch Laboratories, Takasaki, Japão). Finalmente, 5µl de plasma foi adicionado a 300µl de uma suspensão mista de gel com imunoafinidade contendo anticorpos anti-apo B-100 e anti-apo A-I monoclonal. A mistura foi agitada suavemente por 60 min. à temperatura ambiente. Então o tubo de ensaio ficou em repouso por 10 min, após os quais 30 µl do material sobrenadante foi usado para o ensaio colorimétrico de colesterol. 2.1 Análise estatística Os resultados são apresentados como a média ± desvio padrão (S.E), com as alterações percentuais sendo apresentadas como relativas aos dados obtidos ao min. 0 da refeição teste. Diferenças entre min. 0 e dos outros pontos da refeição teste foram estimadas por análise de variantes 26 S. Kado et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 24-29 Tabela 1 Valores do estudo dos parâmetros aos 0 min no teste de refeição Valores aos 0 min no teste de refeição Com acarbose Glicose plasmática (mg/ml) IRI sérica (µU/ml) Colesterol total sérico (mg/dl) Triglicerídeos séricos (mg/dl) Colesterol HDL sérico (mg/dl) RLP-colesterol séricas (mg/dl) Apo A-I sérico (mg/dl) Apo B sérico (mg/dl) Apo C-II sérico (mg/dl) Apo C-III sérico (mg/dl) Apo E sérico (mg/dl) 155.8 ± 7.7 8.56 ± 0.72 194.6 ± 8.63 114.3 ± 10.8 48.0 ± 3.1 2.96 ± 0.23 120.0 ± 6.1 106.3 ± 6.5 4.63 ± 0.36 10.3 ± 0.70 4.89 ± 0.25 Valor P Sem acarbose 159.5 ± 9.6 8.55 ± 0.91 194.4 ± 9.53 97.8 ± 6.41 47.5 ± 3.2 2.87 ± 0.32 115.9 ± 5.8 105.1 ± 6.6 4.74 ± 0.40 9.57 ± 0.65 4.86 ± 0.29 NS NS NS NS NS NS 0.02 NS NS 0.008 NS Os valores são apresentados como valores médios ± S.E. Os valores P são calculados por t-teste pareado. NS = não significativo. utilizando-se o teste de Scheffe. As diferenças entre as refeições testes controle e as refeições testes com acarbose foram estimadas por teste-t pareado e P < 0,05 foi tomado como indicador do significado estatístico. 3. Resultados A idade média dos indivíduos foi de 56,9 ± 2,0 anos e a duração média do diabetes mellitus foi de 9,7 ± 1,9 anos. O índice médio da massa corpórea foi de 24,2 ± 4,9 e a hemoglobina A1C média de 10,7 ± 0,6 %. Oito dos indivíduos sofriam de retinopatia simples, e não havia retinopatia preproliferativa ou proliferativa. Foi detectada microalbuminúria em seis pacientes, e 16 pacientes sofriam de distúrbios moderados de sensibilidade nas extremidades inferiores bilaterais. Os valores dos parâmetros do estudo aos 0 min. de cada refeição teste são apresentados na Tabela 1. Um aumento significativo da glicose plasmática foi observada aos 30, 60, 90 e 120 min após tanto a refeição teste controle quanto a refeição teste com acarbose. O nível de glicose sérica foi significativamente suprimido pela acarbose aos 30, 60, 90 e 120 min (Fig 1A). A IRI sérica aumentou significativamente aos 30, 60, 90, 120 e 180 min. após ambas as refeições teste. Uma inibição significativa do aumento da IRI sérica pela acarbose foi observada aos 60 e 90 min. (Fig.1B). Embora os triglicerídeos séricos tenham aumentado significativamente aos 60, 90 e 120 min após as refeições testes de controle, não houve alterações significativas comparando com os valores aos 0 min. quando a refeição teste foi oferecida com acarbose. Foram observadas diferenças significativas nos triglicerídeos entre a refeição teste com e sem acarbose aos 60, 90 e 120 min.(Fig. 2A). As RLP-colesterol séricas aumentaram significativamente aos 60 min. após a refeições testes controle, mas não foram observados aumentos significativos após a refeição teste com acarbose. Comparando-se as modificações a cada ponto entre as refeições com e sem acarbose, observam-se diferenças significativas aos 60 e 120 min (Fig 2B). O nível sérico do apo C-II foi significativamente inferior ao do nível em jejum aos 30, 60, 90, 120 e 180 min após a refeição teste controle (Fig 3A). A acarbose inibiu o decréscimo pós-prandial do apo C-II aos 30 min. O nível sérico do apo C-III não se alterou após a refeição teste controle, mas a acarbose reduziu o nível sérico de apo CIII aos 60, 90, 120 e 180 min. comparado ao min.0. (Fig 3B). O nível de apo C-III aos 60 e 90 min. após a refeição tomada com acarbose foi significativamente inferior quando comparado com a refeição teste controle. Os níveis séricos do apo B, apo E e apo A-I também foram investigados, mas não foram encontradas diferenças entre os valores obtidos com ou sem acarbose (os dados não são apresentados). Não foram observadas diferenças nos resultados entre os sexos e não houve diferença significativa entre os pacientes em dieta e aqueles tomando sulfoniluréias. 4. Discussão Zilversmit [7] e Havel [8] sugeriram que a hiperlipidemia pós-prandial pode ser um fator de risco mais intimamente ligado à arteriosclerose das coronárias e dos vasos periféricos. S. Kado et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 24-29 (A) (B) 400 ** ** 80 ** ** 300 * IRI sérico (%) Glicose plasmática (%) 100 27 60 ** 40 ** 200 100 20 0 0 0 30 60 90 120 150 180 0 30 60 Time (min) 90 120 150 180 Tempo (min) Fig 1. Níveis de glicose plasmática (A) e IRI sérica (B) após a refeição teste com e sem acarbose. Os dados são apresentados ± S.E. (n = 20). *P < 0,01 vs. com acarbose. Círculos fechados indicam valores obtidos com acarbose e círculos abertos indicam aqueles obtidos sem acarbose (A) 15 Triglicerídeos séricos (%) Lipoproteínas pós-prandiais ricas em triglicerídeos captados por macrófagos mais facilmente do que VLDL de jejum [9]. Também foi relatado que os quilomicrons e o metabolismo VLDL pós-prandial é anormal em pacientes com diabetes mellitus do tipo 2, além dos distúrbios do metabolismo pós-prandial da glicose [10]. Conseqüentemente, levantamos a hipótese que a acarbose, que reduz a glicose sangüínea pós-prandial, suprimindo sua absorção no intestino delgado, pode também me- 10 lhorar o quilomicron pós-prandial e o metabolismo VLDL em pacientes com diabetes mellitus do tipo 2. Leonhardt et al. [11] relataram que a administração prolongada reduziu o colesterol total sérico e os triglicerídeos em pacientes diabéticos. Tendo como finalidade avaliar a ação redutora de lípides da acarbose, investigamos o efeito agudo da acarbose sobre o metabolismo de lípides e glicose. Utilizamos as RLP-colesterol como marcador do ní- (B) 50 RLP-colesterol séricas (%) 40 ** * 5 ** ** 0 -5 30 * 20 * 10 0 -10 -20 -10 -30 0 30 60 90 120 Tempo (min) 150 180 0 30 60 90 120 150 180 Tempo (min) Fig 2. Níveis de triglicerídeos séricos (A) e RLP-colesterol séricas (B) após a refeição teste com e sem acarbose. Os dados são apresentados ± S.E. (n = 20). *P < 0.05 vs. com acarbose. Círculos fechados indicam valores obtidos com acarbose e círculos abertos indicam aqueles obtidos sem acarbose. S. Kado et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 24-29 (A) 10 (B) 5 Apo C-III sérico (%) 28 0 Apo C-II sérico (%) 5 0 * -5 -10 -15 * ** -5 -10 -15 0 30 60 90 120 150 180 Tempo (min) 0 30 60 90 120 150 180 Tempo (min) Fig 3. Apo C-II sérica (A) e apo C-III sérica (B) após a refeição teste com e sem acarbose. Os dados são apresentados ± S.E. (n = 20). *P < 0.05 e **P < 0.01vs. com acarbose. Círculos fechados indicam valores obtidos com acarbose e círculos abertos indicam aqueles obtidos sem acarbose. vel sérico de tipos de lipoproteínas. De acordo com Campos et al.[12] e Nakajima et al [6], os principais componentes das RLP são lipoproteínas sem a apo A-I nem a apo B-100. Assim sendo, as RLP representam principalmente lipoproteínas contendo somente apo E e apo B48. O colesterol nessa fração de lipoproteína foi definido como RLP-C. Tanaka et al. também determinaram a concentração plasmática das RLP-colesterol e sugeriram o papel patológico das RLP-colesterol na arteriosclerose. O presente estudo confirma que a acarbose melhora a hiperglicemia pós-prandial e reduz a resposta à insulina pós-prandial, e estas observações são consistentes com as de diversos estudos prévios mostrando que a acarbose melhora o metabolismo anormal da glicose pós-prandial [14, 15]. Também observamos que a acarbose inibe o aumento pós-prandial dos triglicerídeos e das RLP-colesterol. Yoshino et al. [16] relataram que as RLP-colesterol tendem a decrescer em indivíduos diabéticos em jejum após a administração de acarbose (150 mg por dia) durante três meses. Como a acarbose não interfere com a absorção intestinal dos lípides, o mecanismo mais provável para a ação hipotrigliceridêmica é um ritmo hepático mais lento na captação de precursores da lipogênese. Permanece também a possibilidade que a supressão da lipogênese intestinal pela acarbose produza estas modificações. Carboidratos dietéticos são os precursores chave da lipogênese e a insulina tem um papel central no metabolismo pós-prandial dos lípides. Os indivíduos participan- do deste estudo foram considerados como estando sob a condição tanto de hiperinsulinemia crônica quanto de hiperglicemia crônica. Como a insulina estimula a secreção do fígado de VLDL durante a hiperinsulinemia, uma redução da insulina sérica pode ter levado a uma redução dos triglicerídeos e das RLP-colesterol após a administração de acarbose. Zavaroni e Reaven observaram que a acarbose reduzia os níveis séricos da IRI e dos triglicerídeos em ratos e que existia uma correlação significativa entre a secreção sérica de IRI e de triglicerídeos [17]. Embora não observássemos uma relação significativa entre as modificações da IRI e as dos triglicerídeos ou das RLP-colesterol, permanece a possibilidade que a melhora à resposta da insulina afete os níveis dos triglicerídeos e das RLP-colesterol. Picard e Dehaies relataram que a ingestão de acarbose era acompanhada de maior atividade LPL miocárdica e uma atividade LPL ligeiramente maior no músculo vastus lateralis dos ratos [18]. Murase e Itakura sugeriram que a diminuição da LPL e da atividade hepática da lipase dos triglicerídeos pode contribuir para a clearance retardada das RLP [19]. Por outro lado, acredita-se que as alterações da LPL induzidas pela ingestão de alimentos, contribuem para a elevação pós-prandial dos níveis da insulina, já que a insulina exerce ações na LPL que são quantitativamente paralelas àquelas da ingestão de alimentos [20]. O nível sérico do apo C-II diminuiu significativamente na refeição teste controle. Essas alterações parecem incomuns quando comparadas com as de um indivíduo saudável normal, mas é possível que as S. Kado et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 24-29 alterações pós-prandiais do apo C-II sérico em pacientes mal controlados com diabetes mellitus do tipo 2 sejam diferentes daquelas de um indivíduo normal saudável. Em nosso estudo, a acarbose inibiu o declínio pósprandial do apo C-II. Embora o nível de apo C-III ao 0 min. na refeição teste com acarbose foi significativamente inferior do que o teste com acarbose, o nível de apo C-III diminuiu significativamente na refeição teste com acarbose enquanto que o nível de apo C-III não se alterou na refeição teste com acarbose. Assim sendo, aparentemente a acarbose afeta a influência nos níveis de apo C-III nas refeições testes. A apo C-II é registrada como sendo um cofator da LPL [21], enquanto que apo C-III inibe esse enzima [22] e a captação hepática de lipoproteínas ricas em triglicerídeos [23]. Desta forma, nossos resultados indicam que a modulação da atividade da LPL por essas apolipoproteínas pode participar do efeito da acarbose na diminuição dos triglicerídeos e das RLP-colesterol. No futuro, será necessário investigar se as alterações pósprandiais das apolipoproteínas influenciam a atividade LPL pós-prandial em pacientes diabéticos. Em conclusão, investigamos os efeitos da acarbose no metabolismo pós-prandial dos lípides e observamos que a droga melhora o aumento agudo pós-prandial dos triglicerídeos e lipoproteínas RLP na fase aguda. Também notamos que a alteração dos níveis de apolipoproteínas pela acarbose pode contribuir para a regulação pós-prandial da atividade LPL. Embora mais estudos sejam necessários para elucidar seu mecanismo, nossas observações sugerem que a acarbose pode ter um efeito benéfico na prevenção da aterogênese do diabetes mellitus do tipo 2, melhorando o metabolismo tanto dos lípides quanto da glicose pós-prandial. Referências [1] G. Steiner, Diabetes and atherosclerosis. Diabetes 30 (Suppl. 2) (1981) 1–7. [2] F. Karpe, G. Steiner, K. Uffelman, T. Olivecrona, A. Hamsten, Postprandial lipoproteins and progression of coronary atherosclerosis, Atherosclerosis 106 (1994) 83–97. [3] J.R. Patsch, G. Miesenbo¨ ck, T. 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A sensibilidade à vibração foi testada usando-se um diapasão. Para a sensibilidade à picada de agulha, utilizou-se uma agulha na parte plantar e dorsal do pé. A neuropatia distal foi definida como sendo a ausência total de sensibilidade à vibração e/ou a picada de agulha numa extremidade. Sofrendo de diabetes durante 10 anos ou mais, a prevalência de neuropatias entre os 375 pacientes da Arábia Saudita foi de 38 % (95 % intervalo de confiança 30-45); hipertensão 19 % (13-25) úlceras atuais e anteriores 4,7% (1,3-8), amputações abaixo do tornozelo 3,4 % (0,56). No grupo selecionado com idade entre 46 e 69 anos, a prevalência de hipertensão (17 %), úlceras (2,3 %) e amputações (1%) foi significativamente menor entre os pacientes da Arábia Saudita do que entre os pacientes suecos. As freqüências registradas aqui são as primeiras registradas na Península Arábica. Os pacientes da Arábia Saudita com diabetes do tipo 2 têm a mesma prevalência de neuropatias distais do que outros grupos étnicos. A baixa prevalência de hipertensão é condizente com aquelas registradas em expatriados e grupos de árabes nativos com diabetes do tipo 2. A pequena ocorrência de úlceras e amputações pode ser explicada pelo estilo diferente de calçados. © 1998 Elsevier Science, Ireland Ltd. Todos os direitos reservados. Palavras-chave : Arábia Saudita, Diabetes mellitus, Neuropatia periférica, Úlcera de pé, Amputação, Hipertensão. © Diabetes Research and Clinical Practice Diabetes Research and Clinical Practice 41 (1998) 63–69 *Endereço : Rädhusgatan 19, 37436 Karlshamm, Suécia. Tel: +46 454 88316 Fax: +46 454 88316 0168-8227:98:$19.00 J. Vesti Nielsen / Diabetes Clínica 01 (1999) 30-35 1. Introdução Podem existir diferenças étnicas no padrão das complicações clínicas do diabetes. McGill et al. verificaram que um grupo de pacientes diabéticos árabes corriam um risco menor de desenvolver uma hipertensão e um risco substancialmente maior de desenvolver uma proteinúria do que os correspondentes anglo-celtas [1], mas a escassez de dados da Península Arábica não permitiu uma estimativa da prevalência de outras complicações do diabetes na população nativa. Este trabalho relata dados sobre a prevalência de hipertensão, neuropatias, úlceras e amputações numa população da Arábia Saudita (AS) acometida de diabetes tipo 2. A intenção foi avaliar a prevalência em geral e seu crescimento com a duração do diabetes. Estimativas confiáveis de neuropatias são relativamente escassas e as definições variam na literatura disponível. Por isso, o grupo de pacientes da AS é comparado com um grupo constituído de pacientes suecos com diabetes tipo 2. 2. Materiais e métodos 2.1 A população do estudo No período de junho de 1995 a fevereiro de 1996, um histórico médico padrão, um exame físico e uma investigação predeterminada, foram registrados para cada paciente que se apresentava, em decorrência da publicidade, a uma clínica de diabetes recém aberta num hospital particular de Riyadh. Desses pacientes, 375 eram nativos da AS com diabetes tipo 2 classificados por motivos clínicos no que diz respeito a excesso de peso, hereditariedade e resposta prolongada à exercício, dieta e/ ou tratamento oral. Todos eram pacientes externos, sem encaminhamento, todos desconhecidos do hospital. A maioria dos pacientes eram residentes na cidade de Riyadh, capital da Arábia Saudita que, com uma população de 2,5 milhões, está localizada na parte central leste do país. Todos os pacientes foram examinados pelo autor. Os relatórios dos 375 pacientes da AS foram analisados. Como a intenção era comparar dois grupos étnicos todos os pacientes foram selecionados obedecendo ao critério etário de 46 a 69 anos de idade e comparados com um grupo sueco similar. Duzentos e doze pacientes estavam dentro dessa faixa etária e foram incluídos. Os pacientes suecos foram os primeiros diabéticos do tipo 2 examinados consecutivamente na clínica e obedeciam ao critério de idade estabelecido. Eles não tinham procurado a clínica inicialmente para tratar de compli- 31 cações relativas à diabetes, como, por exemplo, úlceras de pé ou doenças cardiovasculares. A maioria foi encaminhado pelo seu clínico geral (CG) devido a um episódio de controle glicêmico deficiente e, por vontade própria, optaram por continuar seu contato com a equipe de diabetes da clínica. Os pacientes suecos foram tratados no período de novembro de 1996 a maio de 1997 e 79 pacientes estavam dentro do critério estabelecido. 2.2 Histórico e exames Os sintomas subjetivos de neuropatias da parte inferior da perna consistem de sensação de queimação no pé ou na parte inferior da perna, parestesia ou hiperestesia. A sensibilidade à vibração foi examinada usando-se um diapasão (120 Hz) na proeminência óssea do tornozelo. Analisou-se a sensibilidade à picada de agulha, utilizando-se uma agulha na parte dorsal e plantar do pé. Os pulsos dorsais do pé foram examinados por apalpação e registrados neste trabalho somente quando estes eram simetricamente ausentes. As úlceras foram classificados como curadas ou nãocuradas. Úlceras precedendo a amputações não estão registradas neste trabalho. Somente foram consideradas as amputações, realizadas no passado, abaixo do tornozelo. 2.3 Definições Neuropatias detectáveis: ausência total de sensibilidade à vibração e/ou picada de agulha em uma ou ambas as extremidades, registradas com ou sem sintomas subjetivos. Hipertensão: As definições de WHO foram usadas: Pressão arterial sistólica (PA) 160 mmHg ou mais e a pressão arterial diastólica 95 mmHg ou mais, ou sob tratamento anti-hipertensivo. 2.4 Estatística A idade média é apresentada com desvio padrão. A duração média é apresentada trimestralmente. Valores médios (por exemplo pressão arterial) são dados com intervalos de confiança de 95 % entre parênteses (média ± 2 S.E.M). Uma variação é utilizada para valores pequenos. Para as comparações são usados testes-t não pareados. O teste de Fischer é usado quando apropriado. A maioria dos valores da tabela são dicotômicos. Os intervalos de confiança foram calculados usando-se uma distribuição binômica. [2]. 32 J. Vesti Nielsen / Diabetes Clínica 01 (1999) 30-35 Tabela 1 Prevalência de sintomas e sinais de neuropatias em geral e em relação à duração do diabetes ente 375 pacientes da Arábia Saudita, acometidos de diabetes do tipo 2. Duração média (anos) Idade média (anos) Ausência de sensibilidade à vibração Ausência à picada de agulha Neuropatias detectáveis a Sintomas subjetivos Sintomas subjetivos e neuropatias detectáveis Ausência de pulso dorsal do pé Todas as úlceras b Amputações Amputações + úlceras c Hipertensão Os grupos 0 - 9 anos (n=227) > 9 anos (n = 148) Geral (n = 375) 3.5 (1–6) 46 (10.4) 15=7% (3–10) 6=2.6% (0.5–5) 18=8% (4–11) 20=8.8% (5–12) 8=3.5% (1–6) 4=1.7% (0.08–3) 2=0.8% (0–2) 0 2=0.8% (0–2) 20=9% (5–12) 15 (11–16) 56 (10.4) 50=34% (26–41) 24=16% (10–22) 56=38% (30–45) 59=40% (32–48) 36=24% (17–31) 171=1.5% (6–17) 7=4.7% (1.3–8) 5=3.4% (0.5–6) 10=7% (3–11) 28=19% (13–25) 8 (2–6) 50 (11.3) 65=17% (14–21) 30=8% (5–11) 74=20% (16–24) 79=21% (17–25) 44=12% (8–15) 21=5.6% (3.3–8) 9=2.4% (0.8–4) 5=1.3% (0.2–2) 12=3% (1.4–5) 48=12% (9–16) Os pacientes foram separados em dois grupos de acordo com o tempo de duração do diabetes: grupo 1, 0-9 anos, com duração de 9 a nos ou menos; grupo 2, > 9 anos com duração de 10 anos ou mais. a Ausência total de sensibilidade à picada de agulha e/ou vibração, em uma das extremidades ou em ambas. b Úlceras curadas e não curadas c Aqui registramos o número de pacientes, e não o número de úlceras. Um paciente amputado com úlceras atuais e/ou anteriores continua sendo contado como 1. 3. Resultados 4. Discussão A freqüência das neuropatias, hipertensão, úlceras e amputações aumentam com o tempo de duração do diabetes nos 375 pacientes da AS. (Tabela 1). No momento do diagnóstico, um dos pacientes tinha parestesia e dois sinais objetivos de neuropatias. A pressão arterial sistólica média em pacientes em tratamento anti-hipertensivo (n = 48) foi de 19 (Cl. 135-144); diastólica 88 (Cl. 85-91). A pressão arterial dos pacientes restantes foi : sistólica: 122 (Cl. 121-124) e diastólica 80 (Cl. 78-81). Tendências insignificantes são encontradas (Tabela 2) nos níveis de colesterol HBA 1c5 e de triglicerídeos. A duração do diabetes e a idade são menores no grupo dos não-neuropatas, e a proporção de fumantes é maior. A prevalência de hipertensão é menor entre os pacientes da AS quando comparado com os suecos. (Tabela 3). A pressão arterial média dos pacientes da AS é significativamente mais baixa, tanto para os pacientes hipertensos quanto os não-hipertensos. O HBA1c é mais alto. O restante dos fatores de risco não diferem. Comparações entre os grupos da Tabela 4 mostram uma incidência significativamente menor de úlceras e amputações entre os pacientes da AS. A hipertensão parece estar associada com diferentes riscos de úlceras e amputações nos dois grupos étnicos (Tabela 5), visto que 31 % dos pacientes suecos hipertensos tinham tido uma ocorrência em contraste com 6 % entre os pacientes de AS. A sensibilidade à vibração se correlaciona bem com o exame eletroneurográfico e com a presença de neuropatia periférica [3, 4]. Trinta e oito porcento dos 375 pacientes da AS com uma duração de diabetes maior do que 9 anos apresentaram disfunções nervosas. Isto é comparável com os dados de outras populações com diabetes tipo 2; do México , 40 % e do Reino Unido 36 % [4, 5]. A pequena diferença nos valores de HBA1c entre os dois grupos com ou sem neuropatias confirmam que a duração é o fator de risco mais importante para as neuropatias. Os 2,6 % de prevalência de úlceras diferem dos 5,3 % no Reino Unido [6] e dos 10 % em Sri Lanka [7]. A idade média e a duração do diabetes nos pacientes da AS com úlceras e amputações é maior do que em outros lugares [6-8]. A prevalência de hipertensão, 12 %, é baixa. No Reino Unido, num estudo prospectivo, 40 % sofriam de hipertensão no momento do diagnóstico [9]. A pequena prevalência de hipertensão entre os pacientes da AS com diabetes do tipo 2, tomada em conjunto com a pequena prevalência entre residentes da Austrália, árabes expatriados, assim como árabes do Kuwait, sendo ambos os grupos com diabetes do tipo 2, sugerem que existe uma diferença étnica, principalmente nesta complicação do diabetes tipo 2 [1, 10]. As diferenças J. Vesti Nielsen / Diabetes Clínica 01 (1999) 30-35 33 Tabela 2 Idade média, duração e características clínicas para uma população de pacientes da Arábia Saudita sofrendo de diabetes do tipo 2 com ou sem complicações. Neuropatias Idade Duração PA Sistêmica PA Diastólica HBA1c Colesterol HDL TG BMI Hipertensão Tabagismo Não (n = 301) Sim (n = 74) 47 (10.4) 6.6 (2–10) 124 (122–126) 80 (79–81) 8.6 (8.3–8.9) 5.7 (5.5–5.9) 1.3 (1.1–1.4) 2.8 (2.4–3.1) 27.5 (27–28) 36=12% (8–16) 48=16%(12–20) 59 (9.9) 13.5 (10–17) 125 (121–129) 78.5 (75–81) 9.2 (8.4–10) 5.9 (5.6–6.3) 1.4 (1–1.8) 2.4 (1.8–2.9) 26 (25–27) 12=16%(8–25) 4=5%(0–10) Pa Úlcerasb (n = 9) Amputaçãob (n = 5) <0.001 <0.001 0.6 0.1 0.1 0.1 0.3 0.1 0.1 0.4 <0.02 59 (55–65) 17 (9–23) 114 (100–130) 73 (0–80) 11 (6.1–13.8) 5.9 (4.4–7.8) 1.1 (0.9–1.59) 3.1 (0.7–7.4) 25.2 (23.8–27) 1=11% (0–32) 1=11% (0–32) 69 (58–80) 21 (17–30) 109 (90–125) 67 (60–70) 12.5 (11–13) 5.6 (5.4–5.9) faltante faltante 27.4 (25.4–31) 3=60%(17–100) 2=40% (0–83) a P valores calculados para as duas primeiras colunas Úlceras e amputações são apresentadas com a variação entre parênteses. Com exceção da idade (S.D) e duração (trimestres) todos os outros parênteses apresentam intervalos de confiança. b étnicas, entretanto, não podem ser sempre facilmente dissociadas dos fatore ambientais; expatriados árabes de primeira geração podem, por exemplo, continuar a aderir a sua cultura alimentar original. Existe uma forte associação entre a pressão arterial sistólica e danos na extremidade dos órgãos. Os níveis mais baixos de pressão arterial podem ter um peso importante na ocorrência de doenças cardiovasculares nos árabes da AS. O grupo de 212 pacientes da AS foi selecionado com limites de idade entre 46 e 69 anos. A percepção de vibrações diminui em pessoas com mais de 70 anos [13]. Por isso este limite superior de faixa etária foi escolhido a fim de excluir um pequeno grupo com grande freqüência de complicações que podem ser relacionadas com a idade. A população da Arábia Saudita é jovem devido ao rápido crescimento da população, um fato que se reflete na idade média da população diabética. É pouco provável que se encontre uma população sueca com diabetes tipo 2 com idade totalmente igual. O limite mais Tabela 3 Características básicas pacientes com diabetes do tipo 2 do grupo da Arábia Saudita e da Suécia O grupo Duração média (anos) Idade média (anos) Mulheres Hipertensão Fumantes de cigarros Pacientes com tratamento anti-hipertensivo Pressão arterial sistólica (mmHg) Pressão arterial diastólica (mmHg) Pacientes sem tratamento anti-hipertensivo Pressão arterial sistólica (mmHg) Pressão arterial diastólica (mmHg) HBA lc (%) Colesterol (mmol/1) HDL (mmol/1) Triglicerídeos (mmol/1) IMC (kg/m2) A faixa etária dos pacientes era de 46 a 69 anos P Da Árabia Saudita (n = 212) Sueco (n = 79) 9.8 (4–15) 55 (6.1) 81=38% (32–45) 35=17% (12–22) 15=7% (4–11) 11.5 (6.5–16) 58 (6.9) 28=35% (25–46) 32=40% (30–51) 9=11% (4–18) NS <0.001 NS 140 (135–145) 88 (84–92) 153 (147–160) 86 (83–89) <0.001 NS 125 (123–127) 79 (78–81) 8.8 (8.4–9.2) 5.8 (5.6–6) 1.2 (1.1–1.3) 2.6 (2.2–3) 26.8 (26–28) 154 (147–160) 86 (84–89) 7.4 (7–7.7) 6.0 (5.7–6.3) 1.3 (1.2–1.5) 2.2 (1.8–2.5) 28.5 (27.3–29.6) <0.001 <0.001 <0.001 NS NS NS NS 34 J. Vesti Nielsen / Diabetes Clínica 01 (1999) 30-35 Tabela 4 Prevalência de sintomas e sinais de neuropatias periféricas no grupo da Arábia Saudita comparado com o grupo de pacientes suecos com diabetes tipo 2. Grupos Ausência da sensação de vibração Ausência à picada de agulha Neuropatias detectáveisa Sintomas subjetivos Sintomas subjetivos e neuropatias detectáveis Ausência de pulso dorsal do pé Úlceras Amputações Úlceras + amputaçõesb P Da Árabia Saudita (n = 212) Sueco (n = 79) 50 = 24% (18–29) 24 = 11% (7–16) 56 = 26% (20–32) 60 = 28% (22–34) 33 = 16% (11–20) 18 = 8.5% (1.7–12) 5 = 2.3% (0.3–4) 2 = 1% (0–2) 6 = 2.8% (0.6–5) 12 = 15% (7–23) 9 = 11% (4–18) 15 = 19% (10–28) 19 = 24% (15–33) 7 = 9% (3–15) 7 = 9% (3–15) 9 = 11% (4–18) 5 = 6.3% (1–12) 10 = 12.5% (5.3–20) NS NS NS NS NS NS <0.01 0.05 <0.01 Os pacientes em ambos os grupos estavam na faixa etária de 46 a 69 anos. Todas as percentagens são apresentadas com intervalos de confiança de 95 % entre parênteses a Ausência de sensação de picada de agulha e/ou vibração em uma extremidade ou ambas b O número de úlceras e amputações se refere ao número de pacientes, e não ao número de úlceras e amputações em si. Um paciente amputado com úlceras atuais ou anteriores continua sendo contado como 1. baixo da faixa etária torna possível a comparação entre os dois grupos étnicos. Mesmo entre os pacientes da AS selecionados na faixa etária entre 46 e 69 anos, o nível da pressão arterial sistólica, a prevalência de hipertensão, úlceras e amputações é significativamente abaixo daquela encontrado no grupo sueco, cujas prevalências se harmonizam com dados da Europa e Sri Lanka [6-8]. As prevalência diferentes de úlceras e amputações poderiam depender de fatores étnicos, mas fatores tais como sub-nutrição, acesso a tratamento, costumes e moda (estilo de calçado) podem ser importantes. A hipertensão é um fator de risco em potencial para úlceras e amputações [14], mas se a hipertensão fosse o principal fator de risco diferindo para úlceras e amputações entre os pacientes da AS e os suecos, poderíamos esperar aproximadamente a mesma proporção de pacientes acometidos de problemas no pé entre os pacientes hipertensos de ambos os grupos. Isto não é o caso. A incidência entre pacientes hipertensos da AS é menor. Níveis de pressão arterial mais baixa entre os pacientes hipertensos podem ter contribuído para a diferença, mas explicações mais simples não devem ser descartadas. O calçado apertado contribui, em pacientes diabéticos, para úlceras nos pés, e deformações dos pés tais como artelho em martelo e hallux valgus. O calçado padrão da Arábia Saudita é uma sandália larga, dando amplo espaço ao pé e aos artelhos. As deformidades de pés eram totalmente ausentes nos pacientes da AS, um fato que sugere que o estilo de calçados da Arábia Saudita é uma determinante importante na baixa incidência de úlceras de pé nessa população. O grupo sueco selecionado na clínica pode ser considerado como representativo da população diabética geral, uma vez que a taxa de complicações é comparável com dados baseados nos estudos da população da Europa. O tratamento do diabetes na Arábia Saudita é gratuito assim como na Suécia para os cidadãos dos respectivos países. Entretanto, os pacientes das clínicas privadas de diabetes da Arábia Saudita estavam dispostos a pagar uma remuneração, embora modesta, por um serviço que normalmente é gratuito. Neste aspecto, não são representativos da população diabética em geral: uma consciência elevada fora do comum dos riscos do diabetes para a saúde pode ter encaminhado os pacientes à clínica particular. A consciência elevada pode induzir ao desejo do autotratamento (dieta e exercício que são partes integrantes do tratamento do diabetes), o efeito sendo presumivelmente benéfico para o controle glicêmico. Por esse motivo, pode haver uma incidência menor de complicações microvasculares do que na população diabética em geral. Úlceras de pé, entretanto, são obviamente complicações penosas que o paciente não pode ignorar. Como os pacientes sabiam que havia um quiropodista e tratamento especializado dos pés disponíveis, pode ter havido um acúmulo de pacientes com problemas nos pés na coorte estudada. Assim sendo, pode ser possível que os dados apresentados aqui superestimam a verdadeira prevalência das úlceras e amputações da população geral de pacientes da Arábia Saudita com diabetes tipo 2. J. Vesti Nielsen / Diabetes Clínica 01 (1999) 30-35 35 Tabela 5 Distribuição de úlceras e amputações entre pacientes da Arábia Saudita e da Suécia com diabetes do tipo 2 e tratamento anti-hipertensivo Os grupos Úlceras e amputações a P Da Árabia Saudita (n = 35) Sueco (n = 32) 2 = 6% (0–13) 10 = 31% (15–47) < 0.05 Número de pacientes com tratamento anti-hipertensivo. 5. Conclusão A incidência de neuropatias distais em todo o grupo da AS iguala a prevalência entre os diabéticos de outras partes do mundo. A pequena incidência de úlceras e amputações entre os pacientes da Arábia Saudita não pode ser explicada satisfatoriamente pela diferença nos lipídeos HBA 1c5 ou na pressão arterial. O estilo dos calçados pode ser a causa. A prevalência de hipertensão é baixa entre os pacientes da AS e os níveis de pressão arterial são baixos, sendo um possível fator étnico que pode afetar positivamente a mobilidade vascular nos indivíduos árabes com diabetes, fato desconhecido até o momento. Estas descobertas podem ter conseqüências na nossa compreensão da natureza heterogêna do diabetes do tipo 2. Referências [1] M.J. McGill, R. Donnelly, L. Molyneaux, D.K. Yue, Ethnic differences in the prevalence of hypertension and proteinuria in NIDDM, Diabetes Res. Clin. Pract. 33 (3) (1996) 173–179. [2] W. Hollander, Nonparametric Statistical Methods, John Wiley, New York, NY, 1973, pp. 23–24. [3] S. Gentile, S. Turco, G. Corigliano, R. Marmo, Simplified diagnostic criteria for diabetic distal polyneuropathy. Preliminary data of a multicentre study in the Campania region, S.I.M.S.D.N. Group, Acta Diabetol. 32 (1) (1995) 7–12. [4] M.J. Young, A.J. Boulton, A.F. Macleod, D.R. William, P.H. Sonksen, A multicentre study of the prevalence of diabetic peripheral neuropathy in the United Kingdom hospital clinic population, Diabetologia 36 (2) (1993) 150–154. [5] R.B. Paisey, G. Arredondo, A. Villalobos, O. Lozano, L. Guevara, S. 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AT L  N T I C A e d i t o r a Diabetes Clínica Diabetes Clínica 1 (1999) 36-39 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas Consulta de enfermagem à pessoa com diabetes mellitus Sonia Aurora Alves Grossi* Departamento de Enfermagem Médico-cirúrgica da USP 1. Introdução O diabetes mellitus é considerado uma das principais doenças crônicas da atualidade devido à sua alta prevalência e elevadas taxas de morbidade e mortalidade quaisquer que sejam os países ou raças considerados [1]. No Brasil, a ocorrência de diabetes na população urbana é de 7,6 % e sua prevalência está associada a história familiar, idade e obesidade. É similar à encontrada nos Estados Unidos, Itália e Israel, entre outros países, e parece estar aumentando nas últimas décadas em todos eles. As razões para estes aumentos podem ser explicadas pela melhoria dos critérios de diagnóstico ou pela maior longevidade da população, mas a incidência de mortalidade também mudou e parece estar crescendo. A doença está entre as dez maiores causas de mortalidade no Brasil e, no período de 1974 a 1975, representou 10, 8 % do total de mortes entre pessoas de 15 a 74 anos, no Estado de São Paulo [2]. A doença caracteriza-se como uma síndrome heterogênea, extremamente complexa cuja manifestação primária é a hiperglicemia crônica conseqüente à produção pancreática diminuída de insulina ou sua ação anômala ao nível de membrana celular [3]. O diabetes mellitus classifica-se em quatro subgrupos, ou seja: diabetes mellitus insulino-dependente (DMID) ou do tipo 1; diabetes mellitus não insulinodependente (DMNID) ou do tipo 2; outros tipos de diabetes associados à certas condições ou síndromes e o diabetes gestacional [4, 5]. O diabetes mellitus relacionado à má nutrição, embora raro, tem duas formas bem descritas especialmente nos países em desenvolvimento e tropicais ou seja, a fibrocalculose pancreática e a deficiência de proteína pancreática [4]. O DMID, hoje denominado diabetes do tipo 1, é a forma mais comum entre crianças e adultos jovens e caracteriza-se pela perda da capacidade do pâncreas em produzir insulina por destruição completa das células beta das ilhotas de Langerhans [6, 4, 7, 5]. A destruição autoimune das células beta é a causa mais comum de DMID, o que pode ser evidenciado pela presença de anticorpos antiilhotas (ICA), anticorpos contra a enzima descarboxilase do ácido glutâmico (GAD) e anticorpos contra a própria insulina (IAA). Os fatores responsáveis por esta destruição são pouco conhecidos e embora as viroses e agentes químicos estejam sendo considerados como agentes desencadeantes iniciais da reação autoimune, agentes específicos são raramente identificados como causa do DMID [4]. Nas pessoas acometidas deste tipo de diabetes, o tratamento insulínico é essencial durante toda a vida pois previne a cetoacidose [4, 7]. O DMNID, hoje denominado diabetes do tipo 2, caracteriza-se pela diminuição na secreção e ação da insulina à nível celular. Ocorre geralmente em adultos com antecedentes familiares e obesos sendo que, nestes, a resistência à insulina à nível tecidual é bastante favore- *Endereço : Prof. Dra. Sonia Aurora Alves Grossi, Departamento de Enfermagem Médico-cirúrgica da USP, Av. Dr Enéias de Carvalho Aguiar, 419 - 054013000 São Paulo SP, Tel: (011) 3066-7544, E-mail: [email protected] S.A. Alves Grossi / Diabetes Clínica 01 (1999) 36-39 cida [3, 5]. O tratamento insulínico não é necessário para a manutenção da vida ou prevenção da cetoacidose nestas pessoas, ainda que, muitas necessitem dele para obter controle adequado da glicemia. A presença de cetoacidose, raramente acontece espontaneamente, a menos que existam doenças graves associadas como infecções severas, trombose mesentérica, entre outras. O DMNID é também caracterizado por um período assintomático prolongado, o que pode retardar o diagnóstico e o tratamento em um grande número de pessoas [4]. A partir da instalação da doença, desenvolvem- se importantes distúrbios no metabolismo dos hidratos de carbono, lipídeos e proteínas que favorecem o aparecimento das complicações agudas e crônicas [8]. Cerca de 33 % dos pacientes com diabetes são hospitalizados durante os primeiros anos da doença por complicações agudas , passíveis de serem prevenidas com bom controle glicêmico. As condições de hiperglicemia, hipoglicemia e cetoacidose diabética representam 24 % das intercorrências, em pacientes diabéticos, nos serviços de emergência e podem se apresentar de forma extremamente grave levando à morte [9]. As complicações crônicas, passíveis de desenvolvimento ao longo do tempo da doença tais como, a macroangiopatia, a microangiopatia e as neuropatias periférica e autonômica, constituem-se um sério problema de saúde pública pois, são altamente incapacitantes para a realização das atividades diárias e produtivas, comprometem a qualidade de vida e o tratamento das mesmas é extremamente oneroso para o sistema de saúde [10, 11]. Na maioria das vezes, estas complicações estão mais relacionadas ao inadequado controle metabólico do que aos efeitos da doença propriamente dita. Evidências à partir de observações clínicas, epidemiológicas e bioquímicas indicam que a manutenção de parâmetros glicêmicos e da pressão arterial próximos à normalidade podem reduzir a incidência e a severidade das complicações neuropáticas, macro e microvasculares [12-15]. Um dos estudos mais significativos para testar a proposição de que as complicações do diabetes mellitus são relacionadas à elevação crônica da glicose no sangue foi o “The Diabetes Control and Complications Trial”(DCCT). A divulgação dos resultados deste trabalho representou um marco para o repensar sobre a terapêutica em diabetes a nível mundial [12, 16, 17]. As recomendações do DCCT como a automonitorização da glicemia capilar três a quatro vezes ao dia, múltiplas doses de insulina, alterações nos padrões dietéticos a partir de reeducação alimentar e realização de atividades físicas programadas no sentido de manter os níveis glicêmicos, implicam em mudanças importantes no comportamento dos pacientes [18]. Ape- 37 sar do entusiasmo, entre os profissionais de saúde, pela redução nos riscos de desenvolvimento e progressão das complicações crônicas do diabetes que o rígido controle proporciona, não se pode deixar de considerar que, é a pessoa com diabetes e seu cuidador que direcionam a terapêutica a longo prazo e, que os eventos de descompensação aguda ou crônica são geralmente resultantes da falta de adesão ao autocontrole, déficit de conhecimento relacionado à doença e comportamentos inapropriados de autocuidado. 2. Proposta de intervenção de enfermagem Ao longo dos últimos anos temos atuado como enfermeira e integrante da equipe de diabetes da Liga de Controle do Diabetes Mellitus do Ambulatório do HCFMUSP. A equipe é composta de médicos, enfermeira, nutricionista e psicóloga e o campo serve como local de atuação extra-curricular de alunos da Faculdade de Medicina da USP e da Escola de Enfermagem da USP. A clientela atendida no serviço constitui-se de portadores de diabetes mellitus tipo 1 e tipo 2. A atuação de enfermagem junto à esta clientela tem suas características determinadas pelos objetivos acadêmicos do serviço, é influenciada pelos padrões de trabalho de outros profissionais e estrutura-se na perspectiva da pessoa com diabetes. Tem como metas, oferecer suporte ao paciente e ao cuidador, na obtenção do controle metabólico visando a prevenção de complicações agudas e crônicas e no desenvolvimento de habilidades para o autocuidado auxiliando na modificação desejada do estilo de vida. A atuação de enfermagem junto aos pacientes com diabetes do tipo 1 é realizado com todos os pacientes inscritos no serviço e feito de forma individualizada e grupal, envolvendo também os familiares dos pacientes. O atendimento dos pacientes com diabetes do tipo 2 é individualizado, feito por meio de seleção dos que mais necessitam da atuação de enfermagem e tem como objetivo principal a educação em diabetes. A experiência acumulada durante nosso tempo de atuação junto à esta clientela permite-nos afirmar que, além dos distúrbios bio-fisiológicos provocados pela cronicidade do diabetes, os pacientes apresentam alterações importantes de comportamento que refletem o modo de enfrentamento pessoal às limitações impostas pelo processo da doença e de sua terapêutica. Compreender e aceitar tais comportamentos tem sido condição essencial para o estabelecimento do vínculo necessário para a adesão ao autocontrole. O diabetes mellitus causa estresse considerável entre os pacientes e seus cuidadores pois, a constatação da 38 S.A. Alves Grossi / Diabetes Clínica 01 (1999) 36-39 presença de uma doença, até então incurável, desintegra a noção de bem-estar e da auto-imagem favorecendo a perda da auto-estima [19]. Os esforços para a realização dos numerosos cuidados prescritos e para as alterações no estilo de vida visando o controle metabólico nem sempre são bem sucedidos pois, como se sabe, o diabetes comporta-se de forma imprevisível, os recursos de tratamento não são perfeitos, os esquemas terapêuticos são de difícil compreensão e implementação além do que as respostas ao tratamento são individuais e influenciáveis por inúmeros fatores. As dificuldades na obtenção de adequado controle metabólico, geram nos pacientes e seus cuidadores um processo de sofrimento intenso que podem ser observados através de comportamentos de negação, depressão, raiva, acomodação, culpa, dependência, impotência e desesperança [19]. Diante disto, o papel do enfermeiro não deve ficar limitado somente na avaliação do déficit de conhecimento sobre a doença, das condições para o controle e treinamento e sim ampliado no sentido de adotar estratégias de mudança de comportamento visando o melhor controle possível de ser conseguido. Frente aos desafios e variáveis que afetam o tratamento do diabetes é preciso concentrar esforços na construção do desejo de mudança, e isto só será possível a partir da compreensão sobre a susceptibilidade e severidade das complicações e dos benefícios advindos da prevenção das mesmas [9, 18]. Não se pode negligenciar que, sendo o diabetes mellitus uma doença crônica que requer toda uma vida de comportamentos especiais de autocuidado, dar liberdade ao paciente e cuidador de fazer opções no autocontrole é condição essencial para mudança efetiva de comportamento [19]. Neste sentido, o traçar de planos específicos e conjuntos, assume características de contrato entre todos, o que possibilita a cobrança do que foi acordado, o reforço da relação terapêutica e o compromisso familiar. É preciso considerar ainda que mudanças de comportamento tão significativas quanto as que se esperam do paciente diabético, não podem ser impostas e somente se fazem ao longo do tempo com a compreensão da necessidade de mudança. Sensibilizar os diabéticos para compreender essa necessidade de alterações pessoais no estilo de vida é papel fundamental dos profissionais envolvidos com diabetes. Considerar e aceitar mudanças gradativas, dando reforço positivo aos comportamentos de autocuidado realizados, ao invés de focalizar somente os que foram negligenciados, são atitudes que se deve ter para ajudar nas adaptações desejadas do estilo de vida [19, 18]. Por estes motivos, adotar uma postura de decidir junto com o paciente quais medidas são mais perti- nentes e passíveis de execução, por meio de um processo colaborativo e não essencialmente prescritivo, encoraja-os a assumirem a responsabilidade de seu próprio controle e acredita-se, que somente assim a adesão se concretize [9, 18]. Finalmente, é preciso ressaltar ainda que, o enfermeiro deve sempre ter prontidão para atender o seu paciente transmitindo-lhe segurança para a realização do autocontrole. Se o paciente ou cuidador sentirem que a proposta de atendimento não apresenta envolvimento do profissional com o que eles têm realizado, ou seja, que não existe parceria e responsabilidades compartilhadas no sentido de identificar soluções para os obstáculos inerentes ao controle domiciliar, aos efeitos adversos e ambigüidades do controle metabólico, torna-se extremamente difícil a mudança de comportamento. 3. Considerações finais Investir no adequado controle metabólico em pacientes diabéticos no sentido de prevenir e impedir a progressão das complicações inerentes à doença tem muitas implicações na prática clínica, nos programas educacionais, na condução do autocontrole, na qualidade de vida e no custo do tratamento e, a maioria dos serviços de atenção ao diabético não dispõem de recursos financeiros e profissionais capacitados para dar suporte a estes pacientes. Assim sendo, o desenvolvimento de centros regionais para o controle e pesquisa em diabetes, a expansão do número de especialistas através de escolas, maior esforço profissional na educação em diabetes, planejamento de recursos financeiros e melhor relacionamento entre especialistas e entre especialistas e cuidadores são estratégias que deveriam nortear o desenvolvimento de políticas gerais para a implementação de um programa efetivo de autocontrole da doença em nosso país. Referências 1. 2. 3. 4. 5. Chacra AR. O uso de inibidores da aldose-redutase no tratamento e prevenção da neuropatia. Terapêutica Diabetes 1994;2:1-4. Malerbi DA, Franco LJ. Multicenter study of prevalence of diabetes mellitus and impaired glucose tolerance in Brazilian population aged 30-69 yr. Diabetes Care 1992;15:1509-16. Setian N. Como aparece o diabetes mellitus.In: Setian N, Damiani D, Dichtchkenian V. Diabetes mellitus na criança e no adolescente: encarando o desafio. São Paulo, Servier, 1995,3-8. Bennett PH. Definition, diagnosis and classification of diabetes mellitus and impaired glucose tolerance. In: Kahn CR, Weir GC. Joslin’s diabetes mellitus, Philadelphia, Lea & Febiger, 1994, 193-200. Lerário AC. Nova classificação e critérios para o diagnóstico do diabetes mellitus. Diabetes Metab 1997;1:65-67. S.A. Alves Grossi / Diabetes Clínica 01 (1999) 36-39 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. Ginsberg BH, Parkes JL. Etiologia do diabetes mellitus insulinodependente. Terapêutica Diabetes 1993;1:1-4. Malone JI. Lessons for pediatricians from the diabetes control and complications trial. Pediatric Ann 1994;23:295-299. Beland IL, Passos JY. Clinical nursing: pathophysiological and psychosocial approaches. New York, MacMillan, 1981, 103777: Problems associated with diabetes mellitus. Clement, S. Diabetes self - management education. Diabetes Care 1995;18:1204-14. Vinicor F. Is diabetes a public-health disorder ? Diabetes Care 1994;17, sup 1:22-27. Dagogo-Jack S. DCCT results and diabetes care in developing countries. Diabetes Care 1995;18:416-417. Diabetes Control And Complications Trial Research Group. The effect of intensive treatment of diabetes on the development and progression of long-term complications in insulin-dependent diabetes mellitus. N Engl J Med 1993;329:977-986. Eastman RC, Gorden P. The DCCT implications for diabetes 39 treatment. Diabetes Reviews 1994;2. 14. Charbonnel B et al. Auto-surveillance glycémique chez le diabétique. Diabete Metab 1995;21:285-289. 15. Neuropatia diabética: um nuevo enfoque. Buenos Aires, Wyeth, s.d. 16. Diabetes Control And Complications Trial Research Group. Implementation of treatment protocols in the diabetes control and complications trial. Diabetes Care 1995;18:361-376. 17. Diabetes Control And Complications Trial Research Group. Resource utilization and costs of care in the diabetes control and complications trial. Diabetes Care 1995b;18:1468-78. 18. Lorenz RA. et al. Changing behavior: Practical lessons from the diabetes control and complications trial. Diabetes Care 1996;19:648-652. 19. Smeltzer SC, Bare BG. Tratado de enfermagem médicocirúrgica. Avaliação e conduta de pacientes com diabetes mellitus. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1993:873-915. INFORMATIVO III Encontro Nacional de Associação de Diabéticos A FENAD estará realizando em 09 de outubro de 1999, das 08h00 às 11h30, em Aracaju - Sergipe, o III Encontro Nacional de Associações de Diabéticos. Teremos quatro horas de atividades dirigidas às Associações, núcleos, ligas e centros de diabéticos, onde os trabalhos estarão dirigidos não só às diretorias e conselhos dessas instituições, como também aos profissionais que direta ou indiretamente atuam com elas. Serão discutidos temas tais como: • • • • • • • • • Políticas de Diabetes Padronização de normas e condutas 2ª Campanha Nacional Gratuita de Prevenção, Educação e Detecção em Diabetes Comitê Técnico Científico de Assessoramento e às ações de educação e controle do Diabetes Mellitus - Ministério da Saúde RENAME IDF Revisão de estatuto/regimento Atualização Debates e estudos Ficam portanto convidados todos os que tenham participação e/ou interesse em trabalhos com diabéticos em Associações, ligas, núcleos ou centro de Diabetes. Informamos que a FENAD passa a ser membro efetivo da IDF (International Diabetes Federation), que é o órgão máximo em Diabetes no mundo e é quem normatiza todas as ações da Associação de diabéticos. AT L  N T I C A e d i t o r Diabetes Clínica a Diabetes Clínica 1 (1999) 42-49 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas Considerações metodológicas da biomecânica para a avaliação da distribuição da pressão plantar Alberto Carlos Amadio, Isabel de Camargo Neves Sacco Laboratório de Biomecânica, Escola de Educação Física da Universidade de São Paulo 1. Introdução Biomecânica é uma disciplina, entre as ciências derivadas das ciências naturais, que se ocupa com análises físicas de sistemas biológicos, conseqüentemente, análises físicas de movimentos do corpo humano. A biomecânica se insere no contexto das ciências derivadas, cujo objetivo é estudar o movimento. Esta reivindicação científica apoia-se em dois fatos fundamentais: (a) a biomecânica apresenta claramente definido seu objeto de estudo, definindo assim sua estrutura de base do conhecimento; e (b) seus resultados de investigações são obtidos através do uso de métodos científicos próprios, envolvendo todas as etapas do trabalho científico. Naturalmente estes aspectos são amplamente dinâmicos e não devem sofrer soluções de continuidade em função do tempo, admitindo avanços científicos que colaborem para o crescimento da própria biomecânica. O atual desenvolvimento da biomecânica é expresso pelos novos procedimentos e técnicas de investigação, onde se reconhece a tendência crescente de se combinar várias disciplinas científicas na análise do movimento. Nos últimos anos o progresso das técnicas de medição, coleta, armazenamento e processamento de dados contribuiu enormemente para a análise do movimento humano. Em princípio deve-se considerar que a estrutura funcional de um sistema biológico passou por um processo organizacional evolutivo de otimização, que se diferen- cia sensivelmente do caminho de aperfeiçoamento técnico do movimento. Para entender melhor a complexidade do movimento humano e explicar suas causas, é necessário que outros aspectos desta complexa análise sejam também considerados. Para a investigação do movimento humano em biomecânica torna-se necessário, pela complexidade estrutural do mesmo, a aplicação simultânea de métodos de mensuração nas diversas áreas do conhecimento da ciência, denominado “Complexa Investigação” do movimento. Este procedimento deve envolver todos os métodos de pesquisa em biomecânica, determinados de acordo com as variáveis a serem observadas na análise do movimento. Todo estudo biomecânico depende da determinação de grandezas mecânicas (qualitativas ou quantitativas), as quais podem ser interpretadas como propriedades do corpo humano em análise comportamental ou mesmo entendidas no processo de desenvolvimento como passível de alterações. Dessa forma, as técnicas de medição de grandezas físicas aplicadas ao corpo humano são essenciais para o estudo tanto na biomecânica externa quanto na biomecânica interna. Invariavelmente no desenvolvimento de um processo de medição incorremos em erros metodológicos que necessitam ser controlados. Por isso, padronizar procedimentos de medida em biomecânica tornase uma tarefa difícil, pois o processo de coleta, armazenamento e digitação de dados depende muito dos avan- Endereço : Prof. Dr. Alberto Carlos Amadio, Laboratório de Biomecânica, Escola de Educação Física da Universidade de São Paulo, Av. Prof. Mello Moraes, 65, Cidade Universitária, 05508-900 - São Paulo, Brasil, Tel/Fax. (011) 818-3184, E-mail: [email protected] A.C. Amadio / Diabetes Clínica 01 (1999) 42-49 ços tecnológicos e de mudanças que têm ocorrido, o que impede que sejam traçadas técnicas definitivas. Os métodos utilizados pela biomecânica para abordar as diversas formas de movimento são: cinemetria, dinamometria, antropometria e eletromiografia [1, 2, 3]. Utilizando-se destes métodos e procedimentos o movimento pode ser descrito e modelado matematicamente, permitindo a maior compreensão dos mecanismos internos reguladores e executores do movimento do corpo humano, como descrito na fig. 1. Para a determinação de parâmetros cinéticos internos à estrutura biológica do corpo humano ou de seus segmentos há necessidade do desenvolvimento de um modelo mecânico para esta estrutura, com o objetivo de determinar, por exemplo, forças internas a esta estrutura (como é o caso das forças musculares) em situação dinâmica ou estática é altamente complexo, face à complexa natureza do fenômeno a ser modelado [4]. O modelo utilizado para a descrição deste fenômeno seria por demais complexo e, é então simplificado, podendo desta forma comprometer a exatidão ou resolução de parâmetros da Mecânica [5]. Quando se considera a determinação experimental de forças internas, as propostas existentes dependem de procedimentos invasivos, que consistem em implantar transdutores de força na estru- 43 tura anatômica de interesse e realizar as medidas “in vivo”, segundo Komi [6, 7]. Outra alternativa consiste na estimativa de forças internas, através de modelos físico-matemáticos, utilizando como dados de entrada as medidas de forças externas (mensuradas experimentalmente) e variáveis cinemáticas e antropométricas. Denoth [8] afirma que apenas uma estrutura ideal ou simplificada pode ser descrita por um modelo mecânico, físico, biológico ou matemático. Assim a estimativa das forças internas exige a idealização do corpo humano, de maneira a tornar possível a estimativa das variáveis relevantes a partir de uma série de variáveis diretamente mensuráveis. O desenvolvimento de modelos para a análise do movimento, particularmente da sobrecarga articular nos movimentos, requerem uma adaptação do sistema anatômico através de investigações comparativas com dependência às suas funções em relação ao segmento analisado. Com base nesta relação determina-se o momento da força muscular e também calcula-se a força articular sendo que, o conceito genérico suporta base teórica para que se determine que o “momento da força externa” é compensado através do “momento das forças internas”. Assim podemos usar a sistematização das equações de análise do movimento, representadas pelo princípio da dinâmica in- Cinemetria Dinamometria Antropometria EMG Posição e orientação dos segmentos corporais Forças externas e distribuição de pressão Parâmetros para o modelo corporal Atividade muscular Modelo Modelo Forças de gravitação Energia mecânica Inércia Momentos líquidos e forças internas Fig 1. Áreas para complexa análise biomecânica do movimento humano, adaptado de [17]. 44 A.C. Amadio / Diabetes Clínica 01 (1999) 42-49 versa, determinando a conservação mecânica de movimento. A força articular transferida da articulação distal para a proximal será, portanto, determinada por: Força articular = Σ forças externas + Σ forças musculares + Σ força de ligamentos Uma completa resolução metodológica de modelo para determinação de forças internas até hoje não existe, pois não há conhecimento sobre o princípio do recrutamento da força muscular humana e a função como ela se distribui. Portanto, pelo princípio da minimização de forças e tensões, procura-se testar as funções não lineares na resolução dos parâmetros de sobrecarga para o segmento inferior, de acordo com Glitsch [9]. Logo o problema central ainda reside na ausência de procedimentos para uma validação externa do modelo de cálculo. Apesar dessas limitações, um modelo de cálculo demonstra claros conceitos de possível aplicação clínicaortopédica e mesmo na prática esportiva. 2. Caracterização da distribuição da pressão plantar na locomoção humana Sob características biomecânicas a fase de apoio durante qualquer movimento de locomoção caracteriza um fenômeno complexo, pois muitas variáveis dinâmicas influenciam esta fase do movimento, ou seja, forças internas e forças externas [2]. A força muscular resultante conta com a ação de outras forças como força de frenagem, força de alongamento e impulso de aceleração. A marcha humana pode ser definida segundo parâmetros biomecânicos tais como forças internas e forças externas e dentre estas podemos destacar a Força Reação do Solo em suas componentes ortogonais e a distribuição da pressão plantar durante a fase de apoio. Estas variáveis podem ser quantificadas através de procedimentos e equipamentos da Biomecânica. Os primeiros estudos sobre dados dinâmicos da fase de apoio da marcha humana, ou seja, contato do pé com o solo, estão descritos nos trabalhos de Marey durante o último quarto do século XIX. Lord [10] afirma que estudos sobre medidas de distribuição de pressão entre a superfície do pé e o solo já foram desenvolvidas antes da passagem do século. Logo deduzimos que tais trabalhos caracterizamse pelo importante marco referencial nos estudos sobre medições dinâmicas de forças entre a superfície plantar e o solo, assim como medidas de distribuição de pressão, estudos estes que deram origem a tantas investigações subsequentes, nesta importante e significativa área da pesquisa. O primeiro artefato criado para localizar pontos acentuados de altas pressões foi o Harris mat criado por Harris e Beath [11] o qual funcionava de forma semelhante ao pedígrafo usado em exames ortopédicos: o sujeito apoia o pé sobre uma superfície com uma tinta especial que marca o papel com a impressão da superfície plantar. Müller [12] apresenta um relato sobre a natureza dos principais procedimentos para medição de pressão plantar em biomecânica: procedimentos de registro da impressão, ópticos, acústicos, pneumáticos, hidráulicos, indutivos, piezoelétricos, capacitivos e resistivos. Assim podemos observar o quanto diversificado tem sido o desenvolvimento tecnológico quanto a sistemas, princípios, componentes e dispositivos utilizados para medição da distribuição da pressão plantar. Realizou ainda o autor, medidas sincronizadas em diferentes situações, procurando determinar a precisão de medidas ao utilizar o sistema F-Scan para medição de distribuição de pressão plantar comparado com as medidas da Plataforma de Força Kistler. Demonstra o autor uma comparação de valores entre os sistemas para a determinação da força vertical de reação do solo. Embora a relativa diferença do valor da medida tenha sido grande (@10 %), pode-se verificar todavia uma concordância principal da forma das curvas para todos os testes. Foi investigado o efeito de uma posterior aferição com a ajuda de um fator de correção dinâmica. Outro sistema que pode ser utilizado para a avaliação das pressões exercidas na planta dos pés é o Podoscópio onde o pé pode ser fotografado ou filmado em situação estática ou dinâmica onde detecta-se diferenças nos contatos da superfície plantar durante o apoio. Este artefato permite a classificação do tipo de pé: plano, cavo, neutro, hiperpronado. O pé é apoiado sob uma superfície em “grade” onde é observado por diversos ângulos e em seguida fotografado. Viladot [13], em seus estudos sobre distribuição da pressão na superfície plantar durante a fase de apoio na marcha, concluiu que apesar de toda região anterior do pé ter contato com o solo durante a fase de apoio, a cabeça do 1o metatarso e o hálux são mais solicitados funcionalmente; e Shokes [14] afirma que a força registrada sob a cabeça do 1o metatarso é de aproximadamente 30 % do peso corporal, enquanto que na 2a cabeça, os valores caem para 10 %. Observamos os estudos desenvolvidos por Nicol e Hennig [15] onde, através de transdutores de força em forma de um tapete de borracha, com saída analógica direta, sem dúvida alguma foi um dos estudos referenciais para a observada evolução tecnológica dos sistemas hoje disponíveis. Ainda Cavanagh e Michiyoshi [16] também utilizando componentes transdutores, desenvolve- A.C. Amadio / Diabetes Clínica 01 (1999) 42-49 ram estudos importantes para o desenvolvimento de sistemas de medição da pressão plantar. Sendo que através dos resultados obtidos os autores salientam que durante o caminhar com sapatos, grandes picos de pressão não foram encontrados na região dos dedos, em contraste, com os achados durante o movimento de caminhar descalço. Através da fig. 2, os autores demonstram para a fase de apoio do andar, como a pressão na superfície plantar se distribui durante as etapas (seqüência temporal: 80 - 630 ms) deste movimento. Necessário se faz esclarecer sobre o estágio de desenvolvimento tecnológico dos sistemas comercialmente produzidos para investigação da distribuição de pressão na superfície plantar. Já há mais de uma década estes sistemas tem sido produzidos e com marcante desenvolvimento eletrônico e de processamento gráfico computacional. Desta forma as áreas de aplicação tem demonstrado um crescimento cada vez mais abrangente e significativo, com ações nas áreas de saúde (reabilitação e prevenção), esporte (características de regulação de equilíbrio e mecanismos de biofeedback) e tecnologia de calçados (propriedades mecânicas do solado e resposta dinâmica de materiais) [17]. Entre os sistemas hoje disponíveis comercialmente podemos relacionar: F-Scan System (Tekscan Inc.), EMED, Mikro EMED, Pedar (Novel GmbH), Paromed (Parotec System), ORMES System (Springer), COSINOS EDV System, Scram-Mel-Card System, Pedcad System, HALM System, entre outros. Naturalmente cada um destes sistemas para quantificar a distribuição da pressão plantar baseia-se em distintos tipos de sensores que apresentam diferentes resoluções no princípio da transdução do sinal e conseqüentemente na confiança da medida. Desta forma, a manipulação experimental com o sistema apresenta amplas possibilidades em acordo com o protocolo da investigação e os propósitos da pesquisa, entretanto sempre numa abordagem individual procurando uma descrição das respostas dinâmicas na relação do corpo com o meio. Entre os sistemas mais divulgados no Brasil, destaca-se o sistema F-Scan da Tekscan Inc, o qual consiste de uma palmilha flexível com aproximadamente 0.1 mm de espessura contendo 960 pontos de medição (4 sensores por cm2), que caracterizam os transdutores de pressão, que possui uma freqüência de amostragem máxima de 165 Hz. Essa palmilha está conectada a um sistema que alinha as áreas equivalentes dos sensores e de um “interface” dedicado computadorizado. Através do auxílio de um software específico pode-se gerenciar e manipular as informações captadas pelos sensores obtendo-se desta forma o output da análise gráfica e numérica do procedimento, ou mesmo, armazenamento ou análise on line das deformações ocor- 45 Figura 2: Representação gráfica da distribuição da pressão entre pé e calçado - superfície de apoio, adaptado de [16]. ridas em situação estática ou dinâmica durante a marcha ou em outro movimento qualquer. O sensor foi desenvolvido para circuitos impressos flexível e baseia-se numa combinação de tinta condutora, dielétrica e resistiva. O sensor é caracterizado por uma grade de linhas e colunas formadas por deposição de tinta condutora à base de prata. A resistência de cada célula sensora é inversamente proporcional à pressão aplicada na superfície. Assim, pela varredura da grade e medição da resistência em cada ponto da interseção, a distribuição de pressão na superfície do sensor pode ser determinada. 3. Análise da distribuição de pressão plantar na locomoção de diabéticos A literatura especializada considera que após um período de 10 a 15 anos de diagnóstico da diabetes 50 % dos indivíduos apresentarão a neuropatia diabética caracterizada inicialmente por uma diminuição da sensibilidade nervosa periférica que evolui, na maioria dos 46 A.C. Amadio / Diabetes Clínica 01 (1999) 42-49 casos, para ulcerações resultando freqüentemente na parcial ou total amputação do segmento lesado. Desta forma, a indicação de exames para avaliação da força de reação do solo e distribuição de pressão plantar, acompanhados de testes neurológicos e vasculares parecem ser os mais indicados para a identificação de indivíduos com risco evolutivo da neuropatia. A discussão sobre a gênese dessa patologia não está esgotada, existindo ainda hoje verdadeiras lacunas nas publicações científicas sobre o assunto. Entretanto, a combinação de fatores metabólicos, neuro-fisiológicos e mecânicos parece ser a responsável pelo quadro característico da lesão. A investigação da força de reação do solo na fase de apoio dos movimentos de locomoção, bem como da distribuição de pressão dinâmica na superfície plantar, traz importantes conhecimentos sobre a forma e características da sobrecarga mecânica sobre o aparelho locomotor humano e seu comportamento para movimentos selecionados. Por isso informações referentes a estas variáveis podem ainda revelar sobre a estrutura e função do pé, o controle postural, ou ainda sobre o controle do movimento. Em estudos com diabéticos, a medição dinâmica da força de reação e da pressão na superfície plantar tem demonstrado ser extraordinária ferramenta para a prevenção, diagnóstico e controle da terapia de portadores de “pés diabéticos”. A condição neuropática que rege a zona de ulceração do pé do indivíduo faz com que sua sensibilidade à dor seja praticamente neutralizada, crescendo, por outro lado, a possibilidade de exposição desta região a força externas de alta intensidade. Assim, a primeira característica fundamental do sistema para análise da distribuição de pressão é permitir a exata localização destes “picos de pressão”, cuja determinação permite uma individualizada e especializada intervenção técnico-ortopédica, que objetivará a redução destes “picos” localizados na superfície plantar [18]. A distribuição de pressão na superfície plantar pode revelar informações tanto sobre a estrutura e função do pé, em condições saudáveis ou patológicas, assim como sobre controle postural de todo o corpo. Padrões de distribuição de pressão na superfície do pé são portanto de relevância para diferentes grupos profissionais incluindo médicos ortopedistas, clínicos, engenheiros de reabilitação, desenhistas de prótese, fabricantes de calçados, fisioterapeutas e demais profissionais que se envolvem com pesquisa em biomecânica, em acordo com Arcan e Brull [19] e Lord [10]. De qualquer forma, parece estar claro que as deformidades nos pés dos diabéticos estão relacionadas a pontos identificados onde se produzem altas pressões e, naturalmente a constante exposição a essas altas pressões acaba por lesionar o tecido, provocando úlceras. Devido a neuropatia sensorial os diabéticos perdem a propriocepção e sensibilidade à dor, não se apercebendo das altas pressões, das lesões e assim a patologia evolui [20]. Duckworth et al. [21], discutem da importância da podobarografia que permitirá a localização dos pontos sujeitos a altas pressões e assim procurando formas para evitar a formação de lesões através de tratamentos que diminuam a pressão nesses pontos identificados. A identificação de indivíduos portadores de neuropatias diabéticas tem demonstrado alta incidência do quadro clínico caracterizado pelo “pé diabético”. Lang-Stevenson et al. [22], quantificaram a pressão plantar através de procedimento óptico durante a marcha à pé descalço com diabéticos com lesões nos pés, concluindo que as ulcerações coincidiam com as zonas de mais alta pressão. Da mesma forma, Duckworth et al. [21], demonstraram que as áreas de alta pressão, utilizando procedimento podobarográfico óptico, eram mais comuns nos pés de indivíduos diabéticos neuropatas. Observaram altas relações entre as áreas de lesões e os pontos de alta pressão, induzindo desta forma que áreas de pressão similares a essas, que normalmente são encontradas em diabéticos neuropatas que não apresentam história anterior de ulcerações devem ser áreas de futuras lesões. Pollard e Le Quesne [23] desenvolveram um estudo com diabéticos que apresentavam ulcerações nas superfícies plantares dos pés. Após a cura total dessas lesões mediram as forças que agiam nas respectivas superfícies plantares desses pacientes caminhando descalços e com diferentes tipos de calçados. A força foi mensurada utilizando-se de transdutores que eram colados na sola do calçado. Os autores demonstraram que os pontos de ulcerações coincidem com os pontos de maior incidência da força vertical bem como da força horizontal máxima, válido tanto para o caminhar descalço como com diferentes tipos de calçados. Muito tem-se estudado na tentativa de se explicar a causa do aparecimento de picos de pressão em indivíduos diabéticos. Stockes et al. [24] demonstraram que muito embora surgissem picos de pressão em indivíduos diabéticos, eles também apresentavam maior massa (obesidade) o que iria contribuir para o aumento de pressão. Já Boulton et al. [25] estudando a marcha de indivíduos neuropatas e portadores de úlceras plantares, constatou que a presença de picos de pressão poderia ser devido ao tempo de neuropatia, uma vez que as úlceras já estavam instaladas, muito embora estes mesmos indivíduos diabéticos também apresentavam maior massa corporal. Porém, Boulton et al. [26] observou que mesmo em indivíduos com grande massa corporal, as pressões plantares não são anormais e podem apresentar resultados completamente normais. A.C. Amadio / Diabetes Clínica 01 (1999) 42-49 47 Tabela 1 Valores médios dos picos de pressão plantar (kPa) por regiões anatômicas para os pés direito e esquerdo para os 3 grupos experimentais: GC, GD, GDN. Picos de pressão plantar (kPa) Áreas Hálux Grupos Dir GC GD GDN 80,3 ± 5,3 74,2 ± 8 66,6 ± 9,6 Esq 83,8 ± 6,4 73,2 ± 7,6 85 ± 12,3 Metatarso Medial Metatarso Lateral Calcanhar Dir Dir Dir 147,8 ± 8,7 143,3 ± 7,8 127,3 ± 9,5 Esq 164 ± 9,6 169,4 ± 10,1 165,8 ± 19,1 142 ± 8,5 151 ± 9,3 144,9 ± 14,7 Esq 128,1 ± 5,9 141,7 ± 8,1 127,3 ± 10,2 233,3 ± 7,8 222,4 ± 12,2 218,1 ± 12,4 Esq 248,2 ± 12,9 235,3 ± 9,9 267,7 ± 21,8 Tabela 2 Valores medianos para os testes de cronaxia sensitiva (ms) para os 3 grupos amostrais GC, GD, GDN nas 4 áreas consideradas nos pés direito e esquerdo. Medianas para a Cronaxia Sensitiva (ms) Áreas Metatarso Medial Metatarso lateral Meio - pé Calcanhar Grupos Dir Esq Dir Esq Dir Esq Dir Esq GC GD GDN 0,33 0,43 0,57 0,38 0,38 0,48 0,28 0,30 0,62 0,35 0,33 0,52 0,33 0,28 0,50 0,25 0,33 0,60 0,30 0,43 0,50 0,33 0,53 5,95 Tabela 3 Valores medianos para teste de tolerância à dor (mA) para os três grupos amostrais GC, GD, GDN para as 4 áreas consideradas nos pés direito e esquerdo. Medianas para o Teste de Tolerância à dor (mA) Áreas Metatarso Medial Metatarso lateral Meio - pé Grupos Dir Esq Dir Esq Dir Esq Dir Esq GC GD GDN 10,75 9,75 13,25 11 10,75 13,50 12 10,50 10,75 13 11,75 12,25 12,50 10,50 12,25 11,75 11,25 12,75 14,25 11,25 28,75 14,25 11,75 19 A partir destes estudos, a principal consideração a ser feita é que a própria neuropatia diabética causa deformações na estrutura do pé como a atrofia dos fat pads (coxins gordurosos) nas cabeças metatarsianas ou calcanhar, e este pode ser o fator principal, e não a massa corporal, relacionado aos picos de pressão plantar em diabéticos durante a marcha. Isto pode ser porque uma alteração estrutural ou funcional pode diminuir a área de contato e consequentemente os picos de pressão podem não estar relacionados com a razão força/área, ou seja, não relacionado à massa corporal e sua distribuição pela área de contato do pé. Assim, a estrutura do pé passa a ser um provável determinante da elevação na Calcanhar pressão plantar, e juntamente com outros fatores permissivos torna maior a probabilidade de desenvolver úlceras plantares. Duckworth et al. [21] constataram que durante a marcha dos sujeitos analisados, os picos de pressão estavam localizados nas cabeças dos primeiro e segundo metatarso, fato este também detectado por Cavanagh et al. [24] onde em 90 % dos seus sujeitos também apresentaram picos nas duas primeiras cabeças dos metatarsos e hálux. Coincidentes também foram os achados de Veves et al. [27], os quais detectaram maior incidência de úlceras e picos de pressão na cabeça do terceiro metatarso, e com menor incidência na segunda e no hálux. Des- 48 A.C. Amadio / Diabetes Clínica 01 (1999) 42-49 Tabela 4 Valores médios das variáveis da Força Reação do Solo vertical, em função do peso corporal, para os pés direito e esquerdo para os 3 grupos experimentais: GC, GD, GDN. Força reação do solo (relativa ao peso corporal) FRS Grupo F vertical máxima 1 Dir Esq F vertical máxima 2 Dir Esq F vertical mínima Dir Esq Crescimento F vertical (%) Dir Esq GC GD GDN 1,16±0,03 1,08±0,03 1,07±0,06 1,06±0,03 0,98±0,03 0,94±0,04 0,73±0,03 0,73±0,02 0,75±0,05 29,18±3,26 24,12±2,75 20,56±3,44 1,12±0,03 1,10±0,3 1,12±0,05 1,08±0,02 1,02±0,03 1,01±0,07 ta forma, isto pode nos indicar uma predominância de regiões anteriores para a apresentação de picos plantares de pressão durante a marcha, o que pode ser justificado pela maior magnitude de força nestas regiões durante a fase de propulsão na marcha. Duckworth et al. [21] determinaram ainda os limiares para pressão plantar anormal durante a marcha, qual seja: 1,75 kg/cm 2 para testes estáticos e 10 kg/cm2 para testes dinâmicos, e ainda acreditam estar subestimando alguns indivíduos com valores de pressão plantar anormais. Já Veves et al. [27] destacam como padrão anormal o limiar de 12,3 kg/cm2 em testes dinâmicos. Foram estudados em nosso laboratório pacientes diabéticos encaminhados do Serviço de Ambulatório do Hospital Universitário- USP, bem como da Associação Nacional de Assistência ao Diabético - ANAD, a fim de analisar a distribuição da pressão plantar com determi- Figura 3 Imagem da distribuição de pressão plantar em perspectiva tridimensional no pé esquerdo para o sujeito J.C.S. do grupo GDN, obtida pelo Sistema F-Scan. 0,65±0,02 0,75±0,02 0,68±0,05 39,14±2,79 25,65±2,65 31,37±4,68 nação simultânea da força reação do solo durante a marcha, associados à avaliação da cronaxia sensitiva e limiar de tolerância de dor. Para tanto, constituímos 3 grupos amostrais comparativos e interpretamos suas dependências para o comportamento da marcha. Os grupos constituídos foram: GC - grupo controle (n = 20); GD grupo diabéticos ausentes de complicações crônicas decorrentes da diabetes (n = 20); GDN - grupo diabéticos portadores da neuropatia diabética (n = 10). Para os procedimentos adotados utilizamos mapas de referência anatômica para a determinação da distribuição da pressão plantar, do limiar de tolerância à dor e sensibilidade, conforme Tabelas 1, 2 e 3. A Tabela 4 demostra os valores médios para a força reação do solo relativo ao peso corporal considerandose os parâmetros significativos na caracterização deste padrão dinâmico na marcha voluntária para os grupos constituídos. Figura 4 Imagem representando a relação Pressão por tempo por áreas anatomicamente selecionadas para o pé esquerdo para o sujeito J.C.S. do grupo GDN, obtida pelo Sistema F-Scan. A.C. Amadio / Diabetes Clínica 01 (1999) 42-49 Através da fig. 3 podemos observar a distribuição de pressão plantar em perspectiva tridimensional para o pé esquerdo do sujeito J.C.S. do grupo diabético neuropata (GDN) caracterizando assim importante auxilio diagnóstico na avaliação qualitativa da neuropatia diabética. Ainda na fig. 4, representamos a relação Pressão em função do tempo por áreas anatomicamente definidas para o pé esquerdo do mesmo sujeito. Dessa forma, como representado nos dados demostrados, podemos concluir que parâmetros biomecânicos dinâmicos na marcha de pacientes diabéticos, podem ser importantes ferramentas para o diagnóstico precoce de futuras alterações ortopédicas e tegumentares da superfície plantar o que pouparia enormemente o tratamento e recuperação destes pacientes acometidos pela neuropatia diabética. 101112131415161718- Referências 191- 2- 3456789- Baumann W. Métodos de medição e campos de aplicação da Biomecânica: estado da arte e perspectivas. Conferência apresentada no VI Congresso Brasileiro de Biomecânica, 1995, Brasília. Amadio AC. Fundamentos da Biomecânica do esporte: Considerações sobre a análise cinética e aspectos neuromusculares do movimento. Tese Livre Docencia São Paulo. 1989; EEFUSP, 119 p. Winter DA. 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AT L  N T I C A e d i t o r Diabetes Clínica a Diabetes Clínica 1 (1999) 50-55 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas Obesidade e prevenção da doença arterial coronariana na prática clínica Paulo Fernando Leite* 1 Introdução Obesidade representa importante fator de risco no aumento da morbidade em diversas condições clínicas, como doenças cardiovasculares, diabetes mellitus, osteoartrites, colecistopatias, câncer, disfunções respiratórias, distúrbios dermatológicos, complicações pós-operatórias e probabilidade aumentada para acidentes, além do que os obesos apresentariam maior prevalência de psicopatologias e problemas psicossociais [1]. O evoluir do conhecimento sobre a obesidade-epidemiologia, fisiopatologia, conseqüências – nos ensina que ela é uma doença crônica, com inúmeras causas, de crescimento em proporções epidêmicas e que, de acordo com o grau e sua distribuição ela é indubitavelmente um importante fator de risco cardiovascular [2]. Dentre as causas de mortalidade, na população obesa, destacam-se a doença cardiovascular, particularmente a etiologia aterosclerótica (doença arterial coronariana). Vários estudos epidemiológicos indicam que o aumento do risco cardiovascular decorre da associação entre a obesidade e a hipertensão arterial, alterações no metabolismo lipídico e glicídico. A distribuição de gordura parece ser mais importante que o aumento de peso. A predominância de depósito gordurosos na região intraabdominal visceral, habitualmente encontrado no sexo masculino, está associada à síndrome de resistência à insulina que, por sua vez induz alterações metabólicas (dislipidemia, diabetes mellitus), que favorecem o aparecimento de hipertensão arterial, condições determinantes e agravantes do processo aterosclerótico.[3] O último relatório de Task Force, recentemente publicado no European Heart Journal [4], listou várias características de estilo de vida, bioquímica ou fisiológica e pessoais associados com um risco elevado para futuros eventos cardiovasculares causados pela doença arterial coronariana (DAC) (Tabela 1). É interessante salientar que neste relatório a obesidade foi reconhecida como uma característica independente de fator de risco para a DAC. O estudo Framingham, famoso por seu escopo e longa duração, demonstrou que o risco de DAC aumenta com a obesidade por si só. O Task Force Report classificou a obesidade usando o índice de massa corpórea (IMC) conforme a Tabela 2: Segundo estes dados os pacientes que estão com sobrepeso apresentam um índice de massa corpórea de > 25 kg.m-2 e são obesos quando o IMC é maior > 30 kg.m2 . Um IMC superior a 30 corresponde a um peso relativo de cerca de 120 % acima do nível desejável. Estes pacientes apresentam maior risco cardiovascular comparados a população não obesa com IMC entre 19 e 25 kg.m2 . Neste relatório a circunferência abdominal foi também um índice clínico útil para classificar a obesidade e útil para monitorara a redução de peso. Uma circunfe- *Médico Cardiologista Tel: (031) 241 6101, Fax: (031) 344 1414, e-mail: [email protected] P. Fernando Leite / Diabetes Clínica 01 (1999) 50-55 Tabela 1 Fatores de Risco Cardiovascular-TASK FORCE - 1998 • • • • • • • • • • • • • • • • Estilo de Vida dietas ricas em calorias e gordura saturada ou colesterol tabagismo consumo excessivo de álcool inatividade física Bioquímicas nutricional ou fisiológica hipertensão arterial níveis plasmáticos elevados de colesterol total e/ou LDL-colesterol baixos níveis plasmáticos de HDL-colesterol hiperglicemia/diabetes obesidade fatores trombogênicos Características pessoais (não-modificáveis) Idade Sexo história familiar de DAC ou doença vascular aterosclerótica em idades precoces (<55 anos em homens e < 65 anos em mulheres) - história pessoal de DAC ou outra doença vascular aterosclerótica rência de ≥ 94 cm em homem e ≥ 80 cm em mulher é uma indicação para perda de peso e ≥ 102 cm em homem e ≥ 88 cm em mulher requer tratamento agressivo com suporte profissional para o emagrecimento. Há evidências que a distribuição, assim como a quantidade excessiva de gordura corpórea, apresenta riscos à saúde. Depósitos de gordura localizados principalmente na região abdominal, determinam uma alta relação da circunferência cintura/quadril (> 0,85). Este é um padrão de distribuição de gordura essencialmente masculino (as mulheres tendem a depositar gordura ao redor dos quadris e coxas). Em homens, uma relação de circunferência cintura/quadril > 0,85 está associada com um bem documentado aumento de risco de diabetes tipo 2, assim como de hipertensão e outras doenças cardiovasculares. Quando o mesmo padrão ocorre nas mulheres, ele é associado ao aumento de risco de carcinomas de mama e endométrio [3, 5]. Tabela 2 Categorias de Peso definido pelo Índice de Massa Corpórea (IMC) Índice de Massa Corpórea (kg.m-2) Classificação WHO Categoria < 18,5 18,5 – 24,9 25,0 – 24,9 30,0 – 39,9 > 40,0 (mórbida) Abaixo do peso Peso Normal Grau 1 Grau 2 Grau 3 Magro Normal Sobrepeso Obeso Obesidade Grave WHO = World Health Organization Expert Committee 51 Tabela 3 Cintura Abdominal e Nível de Ação Anti-obesidade Homem Mulher Não-obeso Nível 1 de Ação (Zona de Alerta) Nível 2 de Ação (Necessidade de Trat. Profissional) < 94 cm < 80 cm 94 – 101 cm 80 – 87 cm ≥ 102 cm ≥ 88 cm Fonte: Task Force Report, 1998 2 Prevalência e causas A prevalência da obesidade aumentou substancialmente nas últimas décadas, e há indicações de que essa tendência continuará. Estima-se que um terço dos Americanos está com excesso de peso e que têm um maior risco de desenvolver patologias, concomitantes, como diabetes do tipo 2, doença cardiovascular, doença da vesícula biliar, hipertensão arterial e certas formas de câncer. [6] O Censo Nacional de Saúde e Avaliação Nutricional (National Health and Nutrition Examination SurveyNHANES) de 1998-1999 considera atualmente novos valores de IMC para à obesidade: > 27,8 kg/m2 para homem e > 27,3 kg/m2. Considerando estes valores verificou-se que mais de um em cada três norte-americanos é obeso. A última década assistiu a um crescimento da ordem de 30 % no número de obesos nos países desenvolvidos. [7] O excesso de gordura corpórea ocorre quando o total de ingestão de energia (na forma de alimentos) excede o seu dispêndio (na forma de metabolismo em repouso e atividades físicas adicionais). Tanto a ingestão excessiva como o baixo dispêndio podem ser o fator causador, em muitos casos parecendo que ambos atuam conjuntamente.[4] Segundo o Task Force Report 1998 a atual prevalência aumentada da obesidade se deve principalmente ao elevado consumo de dietas ricas em gorduras ou alimentos de densidade energética elevada. Sabe-se que em casos de pouca ou nenhuma atividade física regular (muito baixa intensidade), as dietas ricas em gordura promovem a obesidade. Bessesen [8] acredita que: “o fator mais importante no crescimento da incidência da obesidade talvez seja o consumo de uma dieta rica em gordura. A prevalência da obesidade, nos Estados Unidos, vem aumentando, ao mesmo tempo em que aumento o conteúdo médio de gordura da dieta. Dados recentes sugerem que os indivíduos obesos tenham uma preferência aumentada por alimentos ricos em gordura e que, com a perda de peso, possam adquirir uma preferência por ali- 52 P. Fernando Leite / Diabetes Clínica 01 (1999) 50-55 mentos com alta densidade calórica. Uma dieta rica em gordura também produz obesidade em animais experimentais. Foi sugerido que a natureza da predisposição genética em relação à obesidade possa ser a tendência dos adipócitos em reter gordura, ou aumentar em número, principalmente impostas pela dieta rica em gordura dos países industrializados. Mesmo em países com dietas tradicionalmente “saudáveis”, como os países do sul da Europa, as pessoas estão comendo mais gordura do que no passado. Segundo Tataranni [4] a obesidade resulta de um desequilíbrio crônico entre a captação e o gasto de energia. Entretanto os mecanismos biológicos subjacentes às possíveis alterações no equilíbrio de energia ainda estão precariamente definidos. Progressos para compreender o controle de peso corporal nos seres humanos são representados pela descoberta de: a. fatores de risco metabólicos do aumento de peso corporal (isto é, baixo gasto de energia em repouso, baixo nível de atividade física, elevada taxa de oxidação de carboidratos para lipídeos); b. o papel do sistema nervoso autônomo no controle do metabolismo da energia e da distribuição dos nutrientes, e c. leptina, um hormônio anteriormente desconhecido produzido pelos adipócitos que parece estar bastante envolvido no complexo controle neuro-hormonal do equilíbrio de energia. O aumento do apetite também pode desempenhar um papel no desenvolvimento da obesidade, embora este fator, provavelmente, só explique parte do problema. A compreensão da neurobiologia do apetite é uma área que vem se expandindo rapidamente. Diversos neurotransmissores, incluindo a noradrenalina, a serotonina e os peptídeos neuropeptídeo-Y e colecistoquinina, agem dentro de núcleos cerebrais específicos e desempenham papéis importantes, regulando não somente a ingestão alimentar total, mas também a preferência por gordura, carboidrato ou proteína. As vias nervosas que regulam a ingestão alimentar estão presentes no hipotálamo, tronco cerebral e sistema nervoso periférico.[8] 3 Redução de peso e prevenção cardiovascular Há uma substancial quantidade de dados demonstrando que a perda de peso em pacientes obesos esteja associada à redução da pressão arterial, a uma melhora significativa no perfil lipídico, e diminuição da mortalidade cardiovascular. O Task Force Report reconhece que reduzir o excesso de gordura corporal não é uma tarefa fácil. O sucesso para o emagrecimento requer motivação, paciência do médico e do paciente, para resultados a médio e longo prazos e modificações no estilo de vida (exercícios e dieta, principalmente). Uma redução de peso de 0,5 a 1,0 kg por semana foi considerada uma velocidade ideal de perda de peso. No tratamento inicial da obesidade o relatório recomenda prática regular de exercícios adaptados a cada obeso e uma dieta hipocalórica, principalmente com redução de gordura saturada. Estas medidas não-farmacológicas reduziriam o risco cardiovascular da obesidade principalmente por provocar repercussões favoráveis do ponto de vista anti-aterogênico, como aumento da lipase lipoprotéica, diminuição dos triglicerídeos, aumento da subfração 2 do HDL-colesterol, diminuição do LDL-colesterol, aumento da sensibilidade à ação da insulina e perda de peso. 4 Medicamentos anti-obesidade e prevenção cardiovascular O interesse no uso de medicações no tratamento e controle da obesidade tem sido encorajado tanto pelo conhecimento crescente dos aspectos biológicos da doença como pela constatação de que os esforços usando somente a abordagem não farmacológica não têm conseguido frear a epidemia de ganho de peso em países desenvolvidos, principalmente nos Estados Unidos. Esses dois fatores têm provocado uma revalorização do tratamento farmacológico, dando legitimidade às pesquisas dos medicamentos como terapêutica adjunta à dieta, atividade física e tratamento comportamental [9]. Na atualidade existe uma série de novas drogas antiobesidade (ver Tabela 4). É curioso observar que o relatório Task Force 1998 sobre Prevenção Cardiovascular na Prática Clínica não incluiu a farmacoterapia para obesidade entre os medicamentos para prevenção cardiovascular. Este relatório cita vários fármacos que podem e devem ser usados na prevenção primária e secundária das doenças cardiovasculares. Entre as classes de fármacos citados incluem-se: antiagregantes plaquetários (aspirina, ticlopidina, etc), hipolipemiantes (estatinas, fibratos, ácido nicotínico, etc), antioxidantes, antidiabéticos e antihipertensivos [10]. Segundo Halpern, em editorial recentemente publicado [2], a síndrome metabólica associada a obesidade pode ser representada por um iceberg, na qual a parte clinicamente importante para a maioria dos médicos é representada pelo Diabetes Mellitus, a hipertensão arterial, a dislipidemia e as doenças vasculares e a parte escondida, maior, porém menos objeto de atenção dos colegas é a obesidade e suas conseqüências – a resistência P. Fernando Leite / Diabetes Clínica 01 (1999) 50-55 à insulina e a hiperinsulinemia. Esquecendo-se da parte oculta – embora bem visível clinicamente – que é a obesidade, tratam com inúmeras drogas a hiperglicemia, a dislipidemia, a hipertensão arterial, etc e colocam-se frontalmente contrários ao tratamento farmacológico – por vezes imprescindíveis – do paciente obeso. Sabe-se que a perda ponderal leva a uma diminuição acentuada da glicemia, dos triglicérides, do colesterol e da hipertensão arterial e, consequentemente, do risco cardiovascular. Este fato é marcante uma vez que a primeira tentativa no tratamento a ser instituída em um indivíduo com estas desordens é a perda de peso. Apenas dando um exemplo: um indivíduo hipertenso obeso tem 70 a 80 % de chance de se tornar normotenso com uma perda de 10 % do seu peso. 5 Sibutramina O modo de ação da sibutramina é claramente diferente das outras drogas usadas no tratamento anti-obesidade. A sibutramina é um inibidor da recaptação de noradrenalina e serotonina. Estes dois neurotransmissores permanecem por mais tempo na fenda sináptica e assim produzem os efeitos terapêuticos da acentuação da saciedade e da preservação da taxa metabólica basal. A perda de peso é gradual através da elevação dos níveis de saciedade. É indicada para o tratamento da obesidade, incluindo a perda de peso e a manutenção da perda de peso, e deve ser usado em conjunto com uma dieta de calorias reduzidas.[11]. A sibutramina é recomendada para pacientes obesos com IMC inicial ≥ 30 kg/m2, ou ≥ 27 kg/m2 (para alguns ≥ 25 kg/m2) na presença de outros fatores de risco (por exemplo, hipertensão arterial, diabetes, dislipidemia). Os estudos já publicados indicam que a sibutramina não apenas é eficiente para evitar o retorno de peso que freqüentemente ocorre ao término de uma dieta restrita, mas também produz uma perda de peso adicional significativa, que é, então, mantida. Em pacientes com diabetes tipo 2, a perda de peso induzida pela sibutramina foi acompanhada por melhor controle metabólico, e as reduções na glicose plasmática em jejum foram proporcionais ao grau de perda de peso [11]. Uma meta-análise recente dos estudos realizados com pacientes obesos modestamente hiperglicêmicos mostrou que mais pacientes tratados com sibutramina do que com placebo conseguiram perda de peso significante e que a melhora nas concentrações plasmática de glicose em jejum foi maior no grupo que recebeu o medicamento ativo [7]. Griffiths et al [12] relataram um estudo de 100 pacientes com diabetes do tipo 2 estabelecido, com um IMC basal mé- 53 Tabela 4 Drogas Usadas no Tratamento da Obesidade 1 APROVADAS PELO FDA - Sibutramina - Fentermina - Mazindol - Dietipropiona 2 DROGAS EMERGENTES - Orlistat - Leptina - b-3 agonista 3 NÃO-APROVADAS - Fluoxetina - Sertralina - Efedrina-caféina 4 AGENTES NÃO MAIS UTILIZADAOS (RETIRADOS) - Fenfluramina - Dexfenfluramina Fonte: Poston II et al. 1998 dio de 31 kg/m2, glicose plasmática em jejum média de aproximadamente 10 mmoles/l e hemoglobina glicosilada (HbA1) de 9,5 %. Prescreveu-se aos pacientes uma dieta deficiente de 500 kcal/dia, além de placebo ou sibutramina a 15 mg/dia. Assim como a maioria dos estudos que tentam reduzir o peso em pacientes com diabetes do tipo 2 estabelecido, a perda de peso conseguida foi muito menor do que a observada em indivíduos recém diagnosticados ou não diabéticos. O grupo tratado com sibutramina perdeu significativamente mais peso em cada ponto de 2-12 semanas, com uma perda de peso média final 2,4 kg abaixo do baseline, em comparação com uma diminuição média de apenas 0,1 kg no grupo de placebo. Embora não grande, esse grau de perda de peso estava associado a uma alteração no perfil de HbA1 no decorrer do estudo. Quinze dos 45 pacientes tratados com sibutramina tiveram uma queda > 1 % da HbA1, em comparação com apenas 2 de 41 pacientes tratados com placebo em 12 semanas. A HbA1 média caiu 0,4 %, e isso não foi significativamente diferente do grupo controle tratado com placebo, em que a HbA1 não se alterou. As alteração na HbA1 são consistentes com a melhora na sensibilidade à insulina que é esperada com esse grau de perda de peso. É importante salientar que a sibutramina deverá ser um fármaco anti-obesidade de grande eficácia, principalmente na prevenção primária da doença arterial coronária, uma vez que não o recomendamos em pacientes com história de doença coronariana estabelecida, insuficiência cardíaca congestiva, arritmias graves, acidente vascular cerebral e hipertensão arterial não controlada. 54 P. Fernando Leite / Diabetes Clínica 01 (1999) 50-55 O tratamento com sibutramina foi associado a um aumento de pressão arterial em alguns pacientes durante estudos clínicos. Ocorrem aumentos médios da pressão sistólica ou diastólica de até 4 mmHg durante o tratamento com a sibutramina. Portanto, pacientes hipertensos tratados em uso da sibutramina deverão ser monitorados durante o tratamento. Palpitações, que levaram à interrupção da terapia medicamentosa, foram experimentadas por 0,3 % dos pacientes tratados com sibutramina, ao passo que a taquicardia levou à suspensão de 0,4 % dos indivíduos tratados com sibutramina. Nos estudos clínicos a freqüência cardíaca média aumentou em aproximadamente 6 batimentos por minuto, durante o tratamento [11, 13]. 6 Orlistat Como já foi mencionado o consume excessivo de lipídios á amplamente considerado como causa de obesidade. A inibição da digestão dos triglicerídeos pela lipase pode ser uma forma de intervenção farmacológica. O orlistat oferece uma abordagem totalmente nova sobre o controle farmacológico da obesidade. É um agente que atua localmente, dentro do trato gastrintestinal, inibindo parcialmente a atividade da lipase, a enzima responsável pela distribuição e absorção da gordura da dieta. Quando administrado juntamente com alimentos que contem gordura, orlistat inibe parcialmente a hidrólise dos triglicerídeos, reduzindo assim a absorção subsequente de monoglicerídeos e ácidos graxos livres [19]. Um experimento de um ano para avaliar a eficácia do orlistat mostrou que o medicamento, quando usado com uma dieta saudável com baixo teor de gorduras e moderada restrição de energia, é vantajoso para controlar a obesidade a longo prazo [14]. A perda de peso foi significativamente maior no grupo tratado com orlistat do que no grupo placebo, com uma redução específica dos níveis séricos de colesterol total e LDL-colesterol. O controle da glicose também pode ser melhorado em diabéticos obesos, mas este efeito provavelmente resulta essencialmente da maior perda de peso induzida pelo orlistat [15]. Estudos indicam uma absorção sistêmica extremamente pequena, não se acumulando no plasma após tratamento de curto prazo. Em estudo no qual o orlistat foi administrado por longos períodos, nenhuma absorção sistêmica foi observada. Os estudos clínicos a longo prazo tem demonstrado que orlistat, o primeiro inibidor gastrintestinal da lipase: - Produz uma perda de peso significativa; - Mantém a perda de peso; - Ajuda a evitar a recuperação de peso, - melhora as condições de co-morbidade como a diminuição da tolerância à glicose (efeito antidiabético) e redução da hiperlipidemia (efeito hipolipemiante). Os eventos adversos gastrintestinais de orlistat diminuem em função do tempo, sugerindo que os indivíduos aprendem a reduzir a ingestão de gorduras. Portanto, orlistat age diretamente na prevenção da absorção de gordura e indiretamente através da adoção de uma dieta de baixas gorduras [15]. Nos ensaios já publicados a terapia com orlistat resultou na redução efetiva de peso, associada com a melhora dos fatores de risco obesidade-relacionados comparado com placebo, incluindo a redução do colesterol total, colesterol LDL, triglicerídeos, da relação de colesterol LDL/HDL, lipoproteína (a), pressão sangüínea diastólica, circunferência da cintura, glicose e insulina em jejum. Orlistat 120 mg três vezes ao dia foi a dose mais eficaz. Em um estudo verificou-se que os eventos adversos gastrintestinais associados com a terapia de orlistat podem contribuir com a educação dos pacientes em relação à nutrição e à ingestão de gorduras incentivando-os a adotar uma dieta de baixas gorduras. Orlistat aparenta ser um agente anti-obesidade bem tolerado e pode ser empregado no tratamento clínico a longo prazo de pacientes obesos com DMNID. A redução do risco cardiovascular é uma meta importante no tratamento de pacientes diabéticos obesos. Mesmo a perda moderada de peso pode causar melhoras clinicamente significativas dos fatores de risco. É importante salientar que orlistat é uma droga segura para pacientes cardiopatas, pois sua principal ação é a redução de peso, com conseqüente controle dos níveis pressóricos, da glicemia e dos lípides, além de não apresentar qualquer efeito conhecido até o momento sobre o sistema vascular. Ao contrário de outros fármacos anti-obesidade orlistat poderá ser uma grande promessa na prevenção primária e secundária de doença cardiovasculares, principalmente a doença arterial coronária. 7 Conclusão As doenças cardiovasculares constituem a maior causa de mortalidade no Brasil. A adoção de medidas estratégias que reduzem de maneira eficiente os fatores de risco relacionados com a doença cardiovascular é fundamental, incluindo-se, nesse contexto, a própria obesidade. Estamos aguardando evidências epidemiológicas que comprovem que a redução de peso isoladamente diminui a ocorrência de eventos cardiovasculares [6]. São P. Fernando Leite / Diabetes Clínica 01 (1999) 50-55 necessários ensaios de longo prazo, prospectivos e randomizados para esclarecer os benefícios e risco diferenciais, associados à redução de peso, das diferentes classes de fármacos anti-obesidade, sobre as evoluções cardiovasculares. Na farmacoterapia moderna para o tratamento da obesidade a sibutramina e orlistat poderão vir futuramente nos surpreender quanto às suas eficácias antiaterogênicas na população obesa. Portanto, junto as medidas não farmacológicas (dieta, exercícios e terapia comportamental) estes fármacos poderão ser de grande valor na prevenção primária e secundária da doença arterial coronária. Referências 12345- 67- Pi-Sunyer FX, Medical hazards of obesity. Ann Intern Med 1993; 119: 655-660. 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AT L  N T I C A e d i t o r Diabetes Clínica a Diabetes Clínica 1 (1999) 56-60 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas Estudo clínico das alterações bucais de pacientes diabéticos insulino-dependentes - proposta de protocolo de tratamento odontológico Marina H.C.G. Magalhães*, Luis Augusto Horno Netto**, Juliana Fogaça Cristante**, Fadlo Fraige Filho***, Ana Míriam Gebara Carboni**** * Profa. Dra. da Disciplina de Patologia Bucal da FOUSP e Vice Coordenadora do CAPE; ** alunos de graduação da FOUSP; *** Professor titular de Endocrinologia Fac. Medicina ABC – Presidente A.N.A.D. – Associação Nacional de Assistência ao Diabético ; **** Mestranda em patologia bucal FOUSP, cirurgiã dentista da A.N.A.D. e C.A.P.E. – Centro de Atendimento a Pacientes Especiais FOUSP Apoio financeiro para o projeto – Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico da FOUSP Resumo A proposta deste estudo foi verificar as alterações bucais de 28 pacientes diabéticos insulino-dependentes. Os resultados demonstraram que a hiposalivação foi a alteração mais encontrada (85,7 %), seguida por periodontite (60,7 %), gengivite (46,4 %), queilite angular (45,8 %), hálito cetônico (39,2 %), candidíase eritematosa (17,8 %), hiperplasia gengival (17,8 %) e aumento de parótida (3,5 %). Foram discutidas as condutas odontológicas apropriadas para cada alteração. Palavras-Chave: Diabete insulino-dependente, manifestações bucais, tratamento odontológico. Endereço : Profa. Dra. Marina H.C.G. Magalhães, Universidade de São Paulo, Faculdade de Odontologia, Disciplina de Patologia Bucal, Av. Professor Lineu Prestes, 2227, Cidade Universitária- São Paulo SP – CEP: 05508- 900, Tel: ( 011) 818- 7859 / 818- 7902/ 818- 7894 M.H.C.G. Magalhães et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 56-60 57 1. Introdução 3. Resultados Descrito há aproximadamente 3 mil anos no Egito, ainda hoje o diabetes é um grande problema de saúde mundial, atingindo nos EUA aproximadamente 13 milhões de pessoas e no Brasil alcançando um índice de prevalência de 7,6 % [1]. As alterações metabólicas da diabete, principalmente do diabete mellitus insulino-dependente, levam a várias complicações sistêmicas das quais destacamos em ordem de frequência a microangiopatia, neuropatia, nefropatia, macroangiopatia e retardo na cicatrização tecidual. Recentemente as doenças periodontais foram declaradas como a sexta maior complicação do diabete [1]. Devido a todas as alterações sistêmicas e bucais, o tratamento odontológico do paciente diabético deve receber uma atenção especial onde dois enfoques sempre devem ser considerados. O primeiro diz respeito ao estado geral do paciente no momento da consulta odontológica, principalmente quanto à sua glicemia. O segundo refere-se às complicações odontológicas diretamente relacionadas à doença primária. Os dois aspectos sempre caminham juntos e não devem ser menosprezados pelo cirurgião dentista em nenhum momento do tratamento [2, 3, 4]. Frente a crescente demanda de pacientes portadores de diabetes insulino-dependente, que tem procurado o CAPE à procura de assistência odontológica, nos propusemos a estudar as principais alterações bucais dessa população e estabelecer protocolos terapêuticos para cada situação clínica. Dos 28 pacientes examinados, 16 eram homens e12 mulheres. A idade média foi de 39,5 anos tendo o paciente mais novo 6 anos de idade e o mais velho 77 anos. Todos os pacientes eram diabéticos insulino-dependentes e os níveis de glicemia em jejum na semana do exame clínico de 24 pacientes, estão dispostos na Tabela 1. Dentre os 28 pacientes examinados, 26 exibiam pelo menos uma alteração bucal. As alterações bucais encontradas foram: periodontite, gengivite, diminuição do fluxo salivar, hálito cetônico, candidíase eritematosa, queilite angular, hiperplasia gengival e parotidite crônica (Tabela 2). A diminuição do fluxo salivar foi a alteração mais frequente, sendo encontrada em 24 dos 28 pacientes examinados. Conferia à mucosa um aspecto ressecado e levava à queixa de leve desconforto. A periodontite caracterizava- se por reabsorção óssea vertical acompanhada de supuração e mobilidade dental. 2. Material e Método Foram analisados 28 pacientes atendidos no CAPE, portadores de diabetes insulino-dependente, que estavam em tratamento odontológico. Os pacientes foram examinados por dois cirurgiões dentistas auxiliados por dois alunos da Faculdade de Odontologia da USP. Na primeira consulta foi realizada a anamnese abordando história médica e odontológica pregressa seguida do exame clínico extra e intra-bucal. O exame clínico extra bucal consistiu de palpação para pesquisa de linfonodos e alterações das glândulas salivares maiores. O exame clínico intra-bucal, foi realizado com o auxílio de espelho, explorador e sonda periodontal. Os exames complementares de citologia esfoliativa e biópsia foram executados quando necessários. As radiografias periapicais e panorâmicas auxiliaram principalmente no diagnóstico de periodontite. Tabela 1 Idade e taxa glicêmica dos pacientes no momento do exame bucal; Pacientes Idade Glicemia mg/dl M.L.P F.S.R C.E.P.A H.M C.P.S M.P.M C.S A F.A.B F.M.S K.A.L E.A.F C.M.B J.R.O.Y M.L.S E.T.F.S C.S.S J.C.A.L O,L.S L.R.C E.M.A A.E.F.C C.N.S J.G.F V.H.F.C E.H R.A.S M.J.M.N.P A.M.P.S 22 17 12 7 16 41 43 36 6 16 44 36 40 53 34 74 51 56 54 52 54 66 68 18 38 38 77 48 140 * Sem dado 95 101 78 180 * 335 * 342,2 * 79 357* 330 * 123 * Sem dado 110 221 * 168 * 50 208 * 150 * Sem dado 300 * 250 * 280 * 130 * 128 * 150 * 175 * Sem dado (*)Valores acima do índice nomal (70- 110 mg/dl). 58 M.H.C.G. Magalhães et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 56-60 Tabela 2 Alterações bucais encontradas nos pacientes diabéticos. Alteração bucal Nº de pacientes com a alteração % de pacientes com a alteração Método de diagnóstico Diminuição fluxo salivar Periodontite Gengivite Queilite angular Hálito cetônico Candidíase eritematosa Hiperplasia gengival Parotidite crônica 24 17 13 12 11 5 5 1 85,71% 60,71% 46,42% 45,85% 39,28% 17,85% 17,85% 3,57% Exame clínico Exame radiográfico e sondagem Exame clínico Exame clínico Exame clínico Citologia esfoliativa Biópsia Exame clínico - palpação Clinicamente a gengivite se caracterizava por edemaciamento e sangramento ao toque das papilas gengivais. A hiperplasia gengival foi encontrada em 5 pacientes e em todos eles ocorriam áreas de gengivite e periodontite associadas a hiperplasia. Ocorreu geralmente de forma localizada em um ou mais dentes, sendo que em um caso apenas, houve o acometimento total do rebordo. A queilite angular, encontrada em 12 pacientes, caracterizava- se por lesão ulcerada bilateral em comissura labial, causando discreta sintomatologia dolorosa. A candidíase intra-bucal encontrada em 5 pacientes, foi do tipo eritematosa. Destes pacientes, 3 exibiam queilite angular concomitantemente. Esses diagnósticos foram confirmados através da citologia esfoliativa, que evidenciou as hifas de Candida nos espécimes corados pelo PAS. Dos 27 pacientes,10 apresentavam hálito cetônico, no momento do exame clínico. Parotidite foi encontrada em uma paciente e caracterizada por aumento de volume e endurecimento assintomático e bilateral da parótida, detectado por palpação. 4. Discussão A alta incidência de alterações bucais evidenciada em nossos resultados demonstra claramente a necessidade do acompanhamento odontológico rigoroso para a manutenção da saúde geral do paciente diabético insulinodependente. A diminuição do fluxo salivar foi a alteração bucal mais freqüentemente encontrada neste estudo. Inicialmente acreditava-se que a xerostomia, freqüentemente encontrada em pacientes diabéticos, era apenas uma conseqüência da desidratação causada pela poliúria. Atualmente sabe-se que ocorrem alterações histológicas na glândula, afetando forma e função de células acinares e biológicas, diminuindo a atividade de várias enzimas das glândulas salivares. As duas complicações clássicas da diabetes, a microangiopatia e a neuropatia, também contribuem para as alterações salivares [5]. A anamnese e o exame clínico dos pacientes nos permitiu concluir que a diminuição do fluxo salivar geralmente causa leve desconforto não sendo portanto necessária a prescrição de saliva artificial. A principal referência do paciente com diminuição do fluxo salivar é sua associação com aumento da glicemia, sendo este um sinal “de aviso” importante para o paciente e também para o dentista. A diminuição do fluxo salivar aumenta a predisposição à candidíase, à cárie dental e à doença periodontal. As periodontopatias aparecem nesse estudo como as alterações de maior interesse ao cirurgião dentista, não só pela alta frequência, mas por serem responsáveis, muitas vezes, pelo controle metabólico do paciente diabético. Recentemente a doença periodontal foi declarada a sexta maior complicação do diabetes devido à sua alta incidência e severidade. Autores demonstraram que o paciente diabético é mais susceptível à doença periodontal, principalmente quando não compensados [4, 6, 7]. Várias teorias tentam relacionar o diabetes à doença periodontal. Distúrbio da atividade quimiotática dos neutrófilos, produção de colágeno gengival diminuida, aumento da atividade da colagenase, microflora patogênica favorecida pelo aumento da glicose no fluido gengival, são as teorias mais aceitas e discutidas atualmente [1, 8, 9, 10]. O manejo do paciente diabético insulino-dependente com periodontite vai ser orientado pela sua taxa glicêmica no momento da intervenção. De acordo com a taxa de glicose no sangue os pacientes diabéticos são divididos em risco pequeno - taxa de glicose sangüínea em jejum inferior a 200 mg/dl, moderado - taxa inferior a 250 mg/dl, sem história recente de hipoglicemia ou ce- M.H.C.G. Magalhães et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 56-60 toacidose, e elevado - taxa superior a 250 mg/dl, episódios freqüentes de hipoglicemia e cetoacidose. Pacientes com risco elevado não devem ser submetidos a raspasses cruentas ou cirurgias periodontais, devido ao alto risco de desenvolver quadros de hipoglicemia e de hiperglicemia, que podem culminar em choque e coma [11, 12, 13]. O tratamento inicial nesses casos, deve abranger irrigações e profilaxia, complementada por orientação de higiene bucal e bochechos com gluconato de clorexedine 0,12 %, 2 vezes ao dia, por pelo menos 10 dias. A utilização da irrigação de iodeto de sódio a 2 % com água oxigenada 10 volumes (1:1) tem levado ao alívio imediato da sintomatologia dolorosa e favorecido a resolução do processo infeccioso. O tratamento inicial para a periodontite aliado ao estabelecimento de nova dosagem de glicose e controle de dieta deve levar a taxa de glicemia do paciente à níveis inferiores. A partir daí podemos iniciar o tratamento mais efetivo com remoção de tártaro, placa, restos necróticos através de raspagem coronário radicular e cirurgia periodontal pertinente. Nesta fase o controle clínico do paciente deve ser semanal. Quando não forem alcançadas taxas glicêmicas adequadas, o cirurgião dentista deve optar pela intervenção em ambiente hospitalar. Com o paciente monitorado, possíveis episódios de hiperglicemia ou hipoglicemia poderão ser rapidamente percebidos e prontamente controlados. A remoção do foco infeccioso, no caso a periodontite, irá diminuir a glicemia do paciente e também a necessidade de insulina exógena. Nesse momento paciente e médico devem ser informados para que não ocorram quadros de hipoglicemia por manutenção da dose de insulina previamente prescrita. A gengivite foi a terceira manifestação mais incidente nos pacientes diabéticos deste estudo. Está presente até mesmo em pacientes diabéticos compensados mas à medida que o controle metabólico diminui pode culminar na periodontite [1, 6]. O tratamento empregado nesses paciente consistiu em remoção do cálculo gengival, orientação de higiene bucal e bochechos diários de gluconato de clorexedine a 0,12 %. A hiperplasia gengival manifestou-se clinicamente como um aumento de volume localizado ou generalizado da gengiva marginal. É uma resposta tecidual exacerbada relacionada ao pobre controle metabólico e condições precárias de higiene bucal [14]. O tratamento da hiperplasia gengival é cirúrgico e deve ser realizado para permitir a higienização correta dos dentes. Quando o paciente é de risco elevado esta também deve ser realizada em ambiente hospitalar. O paciente pode se submeter à cirurgia ambulatorial quando apresentar uma taxa 59 glicêmica inferior a 140 mg/dl, além de um ótimo controle metabólico. É recomendada a antibioticoterapia profilática e em certos casos a cobertura antibiótica por pelo menos 7 dias, a fim de se prevenir a septicemia [15]. A queilite angular, geralmente causada pela Candida albicans, foi encontrada em 12 pacientes estudados, sendo que em 3 estava associada à perda de dimensão vertical. O tratamento baseou- se no uso tópico de solução de nistatina uma vez ao dia por 10 dias. Quando necessário foi recuperada a dimensão vertical com tratamento protético. A candidíase na forma clínica eritematosa foi encontrada em 17 pacientes examinados. Em todos os casos o diagnóstico clínico de candidíase foi confirmado pela citologia esfoliativa. Um dos fatores de predisposição à candidíase oral no paciente diabético é a diminuição do fluxo salivar, uma vez que a saliva possui IgA e componentes secretórios livres que inibem a adesão da cândida às células epiteliais. Além disso, a habilidade oxidativa do neutrófilo com potencial de debelar a cândida, está suprimida pelas altas concentrações de glicose. O nível de glicose sangüíneo deve ser examinado em caso de candidíase oral e a supressão de função dos neutrófilos deve ser levado em consideração no tratamento [16]. Para o tratamento da candidíase utilizamos como primeira opção bochechos de nistatina, 5 ml de solução, 2 vezes ao dia por 7 dias, quando é realizada nova avaliação. O hálito cetônico, observado em 39,28 % dos pacientes, surge em decorrência da hiperglicemia elevada e desaparecerá a medida que a taxa de glicemia estiver retornando a normalidade. É um sinal importante pois revela ao cirurgião dentista o descontrole metabólico de seu paciente. A deficiência de insulina acarreta aumento na desintegração das gorduras ocasionando a formação de cetonas. Com a deficiência grave de insulina os corpos cetônicos podem se acumular acarretando cetoacidose [12]. Nesta situação a respiração destes pacientes apresenta-se exagerada e o hálito tem um odor de frutas caracterizando o hálito cetônico. Dentre as intercorrências durante o atendimento odontológico do paciente diabético destacamos a hipoglicemia e a hiperglicemia. A hipoglicemia necessita intervenção rápida e efetiva. Caracteriza-se pela queda da quantidade de açúcar no sangue à níveis que variam de 40 a 60 mg/dl. Por ser a glicose a principal fonte de energia para o cérebro e tecidos nervosos, os sinais e sintomas podem incluir confusão mental, letargia, taquicardia, náuseas, palidez, fome, suores, tremores, tonturas, visão dupla, dor de cabeça. Se não for tratada imediatamente, evolui para hipotensão arterial, hipotermia, seguido de perda de consciência, convulsões, coma hipo- 60 M.H.C.G. Magalhães et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 56-60 glicêmico e até mesmo a morte. Caso ocorra um quadro de hipoglicemia durante o atendimento odontológico, este deve ser interrompido e deve-se administrar carboidratos por via oral, ou glicose/glucagon por via endovenosa. Se não houver resposta, o paciente deve ser transportado imediatamente para um serviço hospitalar de emergência. Em caso da dúvida de se estar frente a um caso de hipoglicemia ou hiperglicemia elevada, o dentista deve agir como se estivesse frente a um quadro de hipoglicemia [2, 14, 17]. O risco de hiperglicemia elevada é definido como o aumento de glicose no sangue a níveis superiores a 200 mg/dl. Os sinais e sintomas podem incluir uma respiração rápida e profunda, pele quente e molhada, hálito cetônico, além do indivíduo apresentar-se desorientado. Agravando-se, o quadro pode evoluir para hipotensão arterial e perda de consciência, o que evidencia o coma diabético (este é associado a níveis entre 300 a 600 mg/ dl). Caso ocorra um quadro de hiperglicemia elevada, o paciente deve ser transportado para um hospital [14]. O stress, freqüentemente associado às consultas odontológicas, provoca uma descarga adrenérgica que além de reduzir a fabricação e ação de insulina, produz aumento de glicose liberada pelo fígado e quebra de gordura. Dessa forma podemos dizer que a adrenalina resultante de um estado emocional de stress é hiperglicemiante. Por esta razão é importante para o paciente diabético o condicionamento psicológico e um vínculo adequado com o cirurgião dentista, para que se garanta a tranqüilidade durante os procedimentos odontológicos necessários [11, 6]. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. Referências 1. 2. Iacopino AM. 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Diabetes Clínica edita artigos científicos internacionais selecionados de Diabetes Research and Clinical Practice, e artigos de especialistas e profissionais brasileiros, selecionados pela FENAD - Federação Nacional de Assistência ao Diabético e Atlântica Editora. Diabetes Research and Clinical Practice, publicação de Elsevier Science, edita revisões e artigos originais nas áreas da epidemiologia, biologia, nutrição e prática clínica. O objetivo do jornal é favorecer a discussão interdisciplinar e internacional em todas as questões relativas a diabetologia. Diabetes Research and Clinical Practice é o jornal oficial da Federação Internacional do Diabetes (Western Pacific Region). Diabetes Clínica Diabetes Research and Clinical Practice Editor científico : Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho Coordenação de Educação e Formação Continuada : Educadora Lilian Fanny de Castilho Editor : Dr. Jean-Louis Peytavin Administração : Claudiane Benavenuto Editor-Chefe : C.S. Cockram, Hong-Kong (Western Pacific, Ásia) Co-Editor : N. Hotta, Japão (Ásia, Japão) Editors regionais : P.D. Home, Inglaterra (Europa, África), J.S. Skyler, EUA (America do Norte e America Latina), J.J. Hoet, Bélgica (Europa, África) ATLANTICA EDITORA Marketing Maurício Galvão Costa Anderson Rua Benjamim Garcez, 110 Jardim Maristela 12940-000 Atibaia – SP tel/fax: +55 11 7871 7629 cel: +55 11 9993 6885 E-mail : [email protected] FENAD (Federação Nacional de Associações de Diabéticos) Rua Eça de Queiroz, 198 Vila Mariana 04011- 031 São Paulo - SP Tel: (011) 572-6559 - Fax: (011) 549-6704 Site: http://www.netcomp.com.br/anad E-Mail: [email protected] Redação Jean-Louis Peytavin Rua General Glicério, 71/304 22245-120 Rio de Janeiro - RJ tel/fax: +55 21 557 73 04 E-mail : [email protected] © Diabetes Research and Clinical Practice, Elsevier Science Ireland Ltd. Todos os direitos reservados. Atlântica Multimídia para a tradução em português Assinatura R$ 100 – 6 números ao ano www.atlanticaeditora.com.br/assinaturas Copyright © Diabetes Research and Clinical Practice, Elsevier Science Ireland Ltd Copyright reserved. No part of this publication may be reproduced, stored in a retrieval system or transmitted in any form or by any means, electronic, mechanical, photocopying, recording or otherwise without permission in writing from the copyright owner, c/o Elsevier Science P.O Box 181, 100 BM Amsterdam The Netherlands. No responsibility is assumed by the Publisher for any injury and/ or damage to persons or property as a matter of products liability, negligence or otherwise, or from any methods, products, instructions or ideas contained in the material herein. Because of the rapid advances in the medical sciences, the Publisher recommend that independent verification of diagnosis and drug dosages should be made. Although all advertising material is expected to conform to ethical (medical) standards, inclusion in this publication does not constitue a guarantee or endorsement of the quality or value of such product or of the claims made of it by its manufacturer. Portuguese translation has been cared by Atlântica Editora, and is strictly for personal use. Diabetes Clínica JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS Índice (vol. 3 nº 2 - 1999) EDITORIAL Notícias, cartas e novos produtos, Fadlo Fraige Filho 63 Quarto Congresso brasileiro multiprofissional em Diabetes (3 e 4 de julho de 1999) 64 Notícias do Diabetes no Mundo 67 Produtos e novidades 74 Os programas de educação em diabetes, L. M. Pagnozzi 75 O pé diabético : práticas e medidas preventivas, D. Malerbi 82 Benefícios imediatos e tardios da atividade física para os pacientes diabéticos, C. Cancelliéri 85 Irá a acarbose melhorar as anormalidades metabólicas do diabetes mellitus insulino-resistente tipo 2 ? R. Scott, C.J. Lintott, P. Zimmet, L. Campbell, K. Bowen, T. Welborn 90 Melhor controle glicêmico e redução das complicações diabéticas no diabetes de tipo 2: comparação com o DCCT, L.M. Molyneaux, M.I. Constantino, M. McGill, R. Zilkens, D.K. Yue 97 Acúmulo de gordura pré-peritoneal estimada através de ultra-sonografia em pacientes com diabetes mellitus não-insulino dependente, Kazumi Tayama, Toshihiko Inukai, Yohnosuke Shimomura 103 Eventos e reuniões 112 Diabetes Clínica Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas Notícias, cartas e novos produtos Fadlo Fraige Filho Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho Titular de Endocrinologia da Faculdade de Medicina ABC Presidente da FENAD e da ANAD Foi com grande entusiasmo que notamos a aceitação do lançamento do Diabetes Clínica, cuja proposta de atuação é inédita. Afinal, os médicos e multiprofissionais que militam no dia a dia com os diabéticos poderão ter uma referência de aproveitamento prático e atualizado no manuseio e tratamento do diabetes. A partir deste número estaremos introduzindo novas seções que irão dar um cunho mais adequado dentro de nossa proposta inicial de fazermos um jornal descontraído, rápido e com melhor comunicação possível. Assim, criei a seção “Notícias do Diabetes no Mundo” onde faremos resumos de publicações prévias e notícias recentes que sejam de interesse de nossos leitores. Isto, acredito, trará uma informação bem rápida e atualizada do que acontece no mundo do Diabetes, visto que publicações clássicas na maioria das vezes são de conhecimento posterior. Outra seção criada é a de “Produtos e Novidades”, onde serão inseridos tudo o que há de interesse para o diabético, assim novos equipamentos e produtos, bem como revisão e atualização dos já existentes. Procuramos enfocar os aspectos técnicos e suas aplicações e indicações. Outra seção será a “Cartas ao Editor Científico”, onde estaremos recebendo e publicando sugestões dos leitores. Esta seção visa a maior integração com os leitores, bem como o aprimoramento deste jornal, visto haver ampla liberdade de criação por parte dos leitores. Na certeza de nossa proposta e do que fazemos, desejo a todos um ótimo aproveitamento neste segundo número. Cartas ao Editor Científico Todas as sugestões, propostas, críticas devem ser enviados diretamente à redação de Diabetes Clínica, usando o meio o mais conveniente (correio, fax, ou e-mail): Jean-Louis Peytavin – Atlântica Editora Rua general Glicério, 71/304, CEP 22245-120 Rio de Janeiro RJ Tel/fax : (021) 557 73 04 – E-mail : [email protected] As cartas serão transmitidas ao Prof. Fadlo Fraige Filho para respostas. Cartas e respostas (ou resumos) serão publicadas no jornal, na edição seguinte à recepção, com o nome, função e cidade do remetente. Todas as sugestões referentes a tratamentos, educação, organização e vida das associações assim como propostas de artigos são bem-vindas. 64 Diabetes Clínica 01 (1999) QUARTO CONGRESSO BRASILEIRO MULTIPROFISSIONAL EM DIABETES O maior evento em Diabetes para multiprofissionais do Brasil O Congresso é aberto a todos os especialistas do diabetes : Médicos, Dentistas, Biomédicos, Farmacêuticos, Enfermeiros, Nutricionistas, Professores de Educação Física, Fisioterapeutas, Educadores, Profissionais de Saúde. A equipe e especialistas que compõe a Comissão Científica do Congresso vem trabalhando desde o ano passado na elaboração de um Congresso com abordagem absolutamente moderna onde a interação entre palestrantes e público seja completa com total participação nos workshops e nas mesas de debates. Vários especialistas de cada área específica estarão reunidos para apresentar cada tema possibilitando integração de conhecimentos para o entendimento da necessidade da abordagem multiprofissional no atendimento ao paciente diabético. Só um paciente assistido em regime de atendimento global e que receba educação continuada logrará êxito total no controle do Diabetes. Teremos 17 Simpósios, sendo cada um composto de 3 ou 4 palestras e mesas debatedoras multiprofissionais. Apresentaremos demonstrações práticas dos mais modernos equipamentos, tais como : bomba de insulina, aparelho de hemoglobina glicosilada, novas canetas aplicadoras de insulina, demonstração de softwares para controle de Diabetes, monitores e o que de mais moderno há no mercado para o tratamento do Diabetes. A exposição de produtos e alimentos será um ótimo referencial para a atualização dos profissionais presentes. Todos os grandes laboratórios Farmacêuticos que atuam na área estarão presentes, assim como as empresas de alimentos específicos. Data : 3 e 4 de julho de 1999 Conheça alguns participantes : Novo Nordisk, Merck, Servier, Eli Lilly, Bayer, Biobrás, Abbott, Becton Dickinson, Roche, Hoechst, Parke Davis, FURP, One Hundred Trading, Medical Service, Finn, Amor aos Pedaços, Halter, Vepê, Sorbee, Diabetes Express, Livraria Baliero, Dia a Dia, Lowçúcar, Barrene, Agita São Paulo. Recebemos apoios que muito nos honraram pela confiança em nós depositada. Veja alguns: FENAD, IDF (International Diabetes Federation), Secretaria de Estado da Saúde, Secretaria Municipal de Saúde, Conselho Regional de Bio Medicina, SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes), ABIAD (Associação Brasileira das Indústrias de Alimentos Dietéticos, ABESO (Associação Brasileira de Estudos sobre Obesidade), todos os Conselhos da área da saúde Regionais e federais, e os Sindicatos de classe, Lions, Rotarys, todos os parceiros de Agita São Paulo e todos os amigos em todo o Brasil que fizeram divulgação em hospitais, faculdades, assim como todas as Secretarias de saúde do país, que foram nossas multiplicadoras em informação. Os simpósios somente poderão ser freqüentados pelas pessoas regularmente inscritas. A exposição estará franqueada ao público. No Domingo das 9h às 18h, o laboratório Servier estará promovendo o DESG (Diabetes Education Study Group), que é um curso de técnica de sensibilização onde o profissional conhecerá como é “ser diabético”. Serão 100 vagas com inscrição prévia gratuita para os pré-inscritos no Congresso. Será uma atividade paralela e concomitante ao Congresso. Assim como o Fórum e Tribuna Livre para sugestões do Congresso ao Ano 2000 e a reunião FENAD. Local : Colégio Madre Cabrini Rua Madre Cabrini, 36 - São Paulo Metrô : estação Vila Mariana Inscrições : ANAD tel (011) 5726559 fax (011) 549 6704 Diabetes Clínica 01 (1999) 65 SIMPÓSIOS SÁBADO 9H00 – 12H00 01 - CONCEITUAÇÃO BÁSICA Diabetes Mellitus - Epidemiologia Impacto Sócio Econômico Classificação OMS - ADA - 1997 Diabetes Mellitus - Etiopatogenia Critérios de Diagnóstico Clínico e Laboratório Avaliação Crítica ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ SÁBADO 13H30 – 18H00 02 - NUTRIÇÃO Conduta Atual no Tratamento Nutricional do Diabetes Tipo 1 e 2 Índice Glicêmico dos Alimentos A Dieta para Diabéticos em Situações Especiais: viagens, festas, etc. Como obter Aderência à Dieta Prescrição de Produtos Dietéticos Aderência do Diabético tipo 2 à dieta Experiência da Clínica Joslin em Educação Nutricional ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ SÁBADO 13H30 – 18H00 03 - EDUCAÇÃO EM DIABETES MELLITUS A Importância da Educação em Diabetes Mellitus 0 Papel do Educador Atuação das Associações de Diabéticos Programas Educacionais em Diabetes Mellitus Plano de Educação e Controle do Diabetes Mellitus – PECDM Programa de Educação Lilly-Roche Programa Educacional Novo Nordisk Roche : Programa Educacional Latino-Americano em Diabetes Mellitus tipo 2 Servier : DESG (Diabetes Education Study Group) ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ SÁBADO 13H30 – 18H00 04 - ASPECTOS PRÁTICOS DA TERAPÊUTICA MEDICAMENTOSA Medicamentos Antidiabéticos Orais: Uso Clínico Insulinoterapias Associação Insulina-Antidiabéticos Orais Avanços no tratamento do Diabetes Mellitus tipo 2 – A importância do controle da hiperglicemia pósprandial – Acarbose ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ SÁBADO 13H30 – 18H00 05 - ATIVIDADE FÍSICA PARA O DIABÉTICO Fisiologia do Exercício Atividade Física - Benefícios e Riscos Atividade Física na Criança Procedimentos e Prescrição da Atividade Física Aspectos Nutricionais da Atividade Física Condicionamento Físico nos Coronarianos ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ SÁBADO 13H30 – 18H00 06 - COMPLICAÇÕES OFTALMOLÓGICAS E DERMATOLÓGICAS Etiopatogenia Diagnóstico - Meios Tratamento Aspectos práticos das Complicações macroangiopáticas Diabetes e Arteriosclerose Doença Coronariana Doença Vascular Periférica Acidente Vascular Cerebral ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ SÁBADO 13H30 – 18H00 07 - DIABETES NA CRIANÇA Terapêutica Insulínica Complicações Agudas Alimentação na Criança Diabética Crescimento e Desenvolvimento Impacto Psico-Social Educação: Monitorização e Controle - Exercícios ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ DOMINGO 8H30 – 12H00 08 - ALTERAÇÕES DOS PÉS EM DIABÉTICOS: DA PREVENÇÃO AO TRATAMENTO Clínica e Tratamento das Alterações Neuropáticas Fisiopatologia e Diagnóstico do Pé em Risco Cuidados e Classificação das Lesões Prevenção: Autocuidado – Podologia ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ DOMINGO 8H30 – 12H00 09 - DIABETES E GRAVIDEZ Gravidez na Diabética Diabetes Gestacional: Diagnóstico e Conduta Nutrição em Diabetes Mellitus na Gravidez Recém Nascido de Mãe diabética Cuidados de Enfermagem: da Admissão à Alta ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 66 Diabetes Clínica 01 (1999) DOMINGO 8H30 – 12H00 10 - NEFROPATIA Etiopatogenia - Diagnóstico Tratamento Medicamentoso Nutrição no Nefropata Insuficiência Renal: Diálises Transplantes Rim-Pâncreas: Indicações - Seguimento Tratamento do Diabetes em Transplantes Renais ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ DOMINGO 8H30 – 12H00 11 - ODONTOLOGIA EM DIABETES Etiopatogenia Diagnóstico das Complicações Agudas e Crônicas Tratamento e Prevenção ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ DOMINGO 8H30 – 12H00 12 – DIABETES E OBESIDADE Fisiopatologia da Obesidade no Diabético Hiperlipemias - Tratamento ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ DOMINGO 8H30 – 12H00 14 - LABORATÓRIO EM DIABETES Avaliação Técnica Laboratorial Diagnóstico Clínico Laboratorial da hipoglicemias no adulto Marcadores Genéticos e Imunológicos Aconselhamento Genético : Experiência na ANAD ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ DOMINGO 13H30 – 15H00 18 - NEUROPATIA DIABÉTICA Fisiopatologia Diagnóstico Clínico e Neurofisiológico Testes Sensoriais Quantitativos Neuropatia Autonômica Tratamento Reabilitação ○ ○ ○ DOMINGO 13H30 – 18H00 17 - 0 DIABÉTICO E HOSPITALIZAÇÃO Controle Clínico Pré, Intra e Pós-Operatório Alteração Metabólica do Paciente Cirúrgico Diabetes e Infecção Do Ponto de Vista Nutricional Controle de Enfermagem Atendimento Psicológico ao paciente Internado ○ ○ ○ DOMINGO 13H30 – 18H00 16 -SEXUALIDADE E DIABETES Planejamento Familiar Disfunção Erétil Relacionamento Conjugal Climatério - Menopausa na Diabética ○ DOMINGO 8H30 – 12H00 13 – IMPLICACÕES PSICO-EMOCIONAIS EM PACIENTES DIABÉTICOS Aspectos psicológicos no Paciente Diabético – Infância, Adolescência, Fase adulta, Terceira Idade, Família Estresse X Diabetes X Atividade Física Depressão Atuação do Psicólogo na Equipe Multiprofissional Abordagem Psicomusical no Autocontrole Experiência na ANAD Auto Conhecimento e Consciência Corporal – Experiência na ANAD ○ DOMINGO 8H30 – 12H00 15 – AUTOMONITORIZAÇÃO Insulinoterapia: Técnica e Equipamentos Automonitorização: Aderência - Correlação Terapêutica Bomba de Insulina: Fundamento, Indicação e Uso A Importância da Hemoglobina Glicosilada e da Micro Albuminúria Técnicas de Automonitorização: Demonstração Prática de glicosímetros, Novas canetas, Hemoglobina Glicosilada, Bombas de Insulina, programas de Automonitorização ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 19 – Reunião FENAD 20 – Fórum e Tribuna Livre para Sugestões ao Congresso Ano 2000 Diabetes Clínica 01 (1999) 67 Notícias do Diabetes no Mundo Junho de 1999 Testado novo tratamento para diabéticos Pesquisadores da Universidade de Miami revelaram que um novo medicamento combinado ao transplante de células responsáveis pela produção de insulina poderá permitir que diabéticos dispensem as injeções e exames de sangue aos quais se submetem diariamente. A droga anti-CD154, que previne a rejeição de tecido doado, foi injetada em sete macacos, logo depois de os animais serem submetidos ao transplante de células responsáveis pela produção de insulina no pâncreas, também conhecidas como ilhotas pancreáticas ou células b. A função celular apresentou melhoras à medida que os macacos recebiam as doses do anti-CD154. A droga foi administrada um dia antes do transplante, no dia da operação e outras quatro vezes nos 28 dias seguintes. A partir daí, eles receberam o anti-CD154 mensalmente. Três dos macacos estão há um ano sem receber insulina ou o medicamento e passam bem. A medicação dos outros animais será retirada quando completarem um ano do tratamento. De acordo com Norma S. Kenyon, que participou do estudo, os resultados da experiência representam o maior avanço que ela já constatou em 20 anos. “Pode representar uma possível cura, mas nós não queremos enganar as pessoas dizendo que temos uma resposta final para o problema”, ressaltou. Para a equipe de Miami, o ponto mais importante de sua experiência foi conseguir prevenir a rejeição com segurança usando somente uma droga e não um coquetel. Além disso, os animais cresceram normalmente e não desenvolveram infecções ou outras complicações. De acordo com o laboratório Biogen, de Massachusetts, testes em humanos já receberam a aprovação do comitê de ética da FDA e devem ser iniciados logo. Maio de 1999 Osteoporose em diabéticos começa após adolescência Pesquisadores da Universidade de Buffalo, ao determinar quando começa a perda de massa óssea que resulta na osteoporose em 19 % de mulheres diabéticas, descobriram que a média de densidade óssea começa a cair em algum tempo após a adolescência. O estudo com 15 adolescentes sofrendo de diabetes tipo 1 descobriu que medidas de densidade de osso mineral estavam ainda dentro dos limites normais, porém mais baixas do que os controles por faixa etária quando ajusta- 68 Diabetes Clínica 01 (1999) do pelo índice de massa corporal (IMC). “Osteoporose é bem descrita em mulheres adultas sofrendo de diabetes há longo tempo, porém não há muita informação sobre quando ela começa”, disse Teresa Quattrin, professor associado de pediatria da Universidade de Buffalo e pesquisador chefe neste estudo. “A habilidade para avaliar vários indicadores do metabolismo ósseo – formação óssea e reabsorção óssea – é totalmente nova, desta forma não temos um histórico natural de osteoporose no diabetes tipo 1,” ela disse. “Precisamos acompanhar mulheres jovens prospectivamente para que possamos determinar o mecanismo e talvez interceder para parar a perda óssea. Nosso estudo é apenas um começo”. Os adolescentes no estudo estavam todos na faixa etária entre 13 e 19 anos e eram tratadas para o diabetes por pelo menos cinco anos. Eles foram comparados com adolescentes da mesma idade que não tinham diabetes. A densidade óssea mineral e as medidas de conteúdo ósseo mineral foram retiradas da coluna vertebral, cabeça do fêmur, pulso e massa total através da absorciometria de energia dual, um dos mais precisos e avançados métodos de determinação do status ósseo. Resultados mostraram que a densidade óssea mineral em adolescentes diabéticos foi mais baixa do que os padrões, porém ainda dentro dos limites normais. Quando ajustado para o IMC, o qual era mais alto em adolescentes diabéticos do que os padrões, houve diferenças estatisticamente significativas na densidade óssea mineral na coluna vertebral e para o corpo total. Enquanto o controle da glicose foi menos que ótimo em mais da metade dos pacientes, este não foi um indicador de densidade óssea mineral mais baixa. Além disso, a densidade óssea mineral não foi influenciada por níveis de insulina mais altos. Abril de 1999 FDA recomenda Avandia® para o diabetes tipo 2 O Comitê do Conselho de Drogas Endocrinológicas e Metabólicas do FDA dos Estados Unidos apoiou com unanimidade o uso de Avandia da SmithKline Beecham (maleato de rosiglitazona). O Conselho recomenda a aprovação de Avandia para o tratamento do diabetes tipo 2, tanto em monoterapia quanto em combinação com a metformina. Avandia é uma tiazolidinediona (TZD) de nova geração, classe de agentes anti-diabéticos orais que agem diretamente sobre a resistência à insulina. “Avandia representa um significativo avanço no tratamento do diabetes e é altamente eficaz em reduzir de forma segura e significativa o açúcar no sangue”, disse Douglas A. Greene, chefe de endocrinologia e metabolismo, Centro Médico da Universidade de Michigan, Ann Arbor. A recomendação foi baseada em estudos clínicos envolvendo mais de 5.500 pessoas com diabetes tipo 2 que demonstraram que Avandia reduz significativamente a glicemia. Além disso, os pacientes mantiveram uma redução de até 1,5 % na taxa de Hemoglobina A1c (HbA1C) com uma dose de 8 mg, demonstrando uma melhoria estatisticamente significativa no controle glicêmico. Avandia age sobre a resistência à insulina : O problema fundamental no diabetes tipo 2 não é a falta de insulina, porém a insuficiência do organis- Diabetes Clínica 01 (1999) 69 mo em responder de forma apropriada à sua própria insulina. Este problema é conhecido como resistência à insulina. Ao contrário dos medicamentos tradicionais para diabetes tipo 2, a maior parte deles aumentando a produção de insulina no pâncreas ou reduzindo a produção de glicose através do fígado, Avandia sensibiliza o organismo a usar sua própria insulina natural, desta forma melhorando o controle de açúcar no sangue. Avandia recebeu recentemente aprovação para ser comercializado no México como monoterapia e em alguns regimes combinados para o tratamento do diabetes tipo 2. Avandia foi bem tolerado em estudos clínicos, sendo que os efeitos colaterais mais comumente relatados incluíram infecções do trato respiratório superior e cefaléias. Dados de todos os estudos clínicos com Avandia também mostraram que não houve casos de icterícia ou insuficiência hepática relacionados à droga. Abril de 1999 Diovan® reduz microalbuminuria em pacientes com diabetes tipo 2 Um novo estudo conduzido no Canadá indica que o bloqueador do receptor de angiotensina II Diovan (valsartan), administrado uma vez ao dia, reduz a microalbuminúria comparada a placebo em pacientes com diabetes tipo 2 normotensos e hipertensos sendo bem tolerado nessa população. A microalbuminúria (proteína na urina) é reconhecida como um indicador de progressão subseqüente da nefropatia, doença renal comum entre diabéticos. Em seus estágios iniciais, a nefropatia é caracterizada pela microalbuminúria que, caso não seja tratada, pode causar sérias complicações tais como insuficiência renal. “A nefropatia é uma séria preocupação da saúde para pacientes com diabetes. De fato, sem intervenções específicas, até 30 por cento dos pacientes com diabetes tipo 2 chegarão a sofrer de nefropatia avançada”, disse Norman Muirhead, Diretor de Diálise, Departamento de Nefrologia, Centro de Ciências de Saúde de Londres. “Os resultados deste estudo demonstram a capacidade de Diovan em reduzir a microalbuminúria, indicador chave da progressão da doença. Estas descobertas são muito encorajadoras e poderiam ter implicações importantes no tratamento futuro da nefropatia diabética”. Este estudo piloto, multi-cêntrico, randomizado, duplo-cego e controlado foi conduzido em quatro cidades canadenses. Um total de 122 pacientes normotensos e hipertensos com diabetes tipo 2 e nefropatia tratados foram randomizados para determinar o efeito de Diovan na excreção urinária de albumina, o qual é o nível de proteína presente na urina. Pacientes foram tratados com 80 mg ou 160 mg de Diovan, administrado uma vez ao dia por um período de 12 meses. Os dois grupos controlados receberam placebo ou o inibidor da ECA captopril, 25 mg três vezes ao dia. Tanto nos grupos de Diovan quanto no grupo captopril, uma redução na taxa de excreção urinária de albumina foi observada ao final do estudo, comparada a um aumento no grupo placebo. A diferença de tratamento foi estatisticamente significativa para Diovan 80 mg (P = 0,018) e captopril (P = 0,019) comparado a placebo. 70 Diabetes Clínica 01 (1999) Diovan, produzido pela Novartis, é uma das mais novas drogas da classe dos bloqueadores dos receptores de angiotensina II, atualmente indicados para o tratamento da hipertensão. Acredita-se que devido ao seu mecanismo de ação, Diovan pode promover benefícios além da redução da pressão arterial. Pressupõe-se que a ativação do sistema da renina-angiotensina (SRA) seja um fator de desenvolvimento e progressão da nefropatia. Atualmente, os inibidores da ECA são um tratamento reconhecido para a nefropatia em pacientes com diabetes tipo 2. Entretanto, Diovan poderia promover um bloqueio mais completo do SRA do que os inibidores da ECA. Abril de 1999 Regranex® aprovado nos EUA para úlceras em pés diabéticos A Comissão Européia concedeu autorização para comercializar o Regranex da Janssen-Cilag, primeira medicação tópica prescrita indicada para promover a granulação e desta forma a cura de úlceras diabéticas neuropáticas e crônicas. Esta decisão é valida em todos os 15 Estados Membros da União Européia. As úlceras em pés diabéticos são um dos tipos de ferimento mais difíceis de curar. Regranex é o primeiro medicamento estimulando ativamente o organismo para desenvolver novo tecido para curar estes ferimentos. O componente ativo do Regranex é a becaplermina, um fator de crescimento derivado de plaqueta sangüínea que imita uma proteína humana natural. O fator de crescimento estimula a migração de células ao local da úlcera, ajudando o organismo do paciente a desenvolver novo tecido para curar estes ferimentos abertos. A becaplermina é produzida pela tecnologia de recombinação em células de levedura e não é derivada do sangue. Estudos clínicos demonstraram que a aplicação tópica de Regranex, uma vez ao dia, acompanhada de cuidados com o ferimento, curou mais úlceras diabéticas do que placebo acompanhado do mesmo cuidado. Práticas de cuidados com os ferimentos, incluindo debridamento inicial (remoção do tecido morto), trocas diárias de curativo e tratamento de infecção são necessárias para atingir os melhores resultados com Regranex. Referências : Neel JV, Weder AB, Julius S. Type II diabetes, essential hypertension, and obesity as “syndromes of impaired genetic homeostasis”: the “thrifty genotype” hypothesis enters the 21st century. Perspect Biol Med,1998, 42:44-74, Neel JV. Diabetes mellitus: a “thrifty” genotype rendered detrimental by “progress”? Am. J. Hum. Genet, 1962, 14:353-362. Quando o diabetes era uma ajuda para sobreviver : a hipótese de Neel hoje A hipótese do “genótipo econômico” de Neel explica a persistência de genes para obesidade e diabetes tipo 2 em seres humanos por suas vantagens históricas: quando o suprimento de alimentos é escasso e instável, os indivíduos portadores desse genótipo foram mais capazes de conservar energia e oporse à inanição. Na sociedade ocidentalizada atual, esta vantagem está perdida, porém a tendência a estas “doenças da civilização” permanece. O “genótipo econômico” é universal e pode ser explicado pela regulação assimétrica de apetite resultando numa forte defesa contra a perda de peso e uma muito fraca contra o ganho de peso. Essa hipótese foi publicada pela primeira vez por Neel em 1962 para explicar a prevalência do diabetes nas populações isoladas das Diabetes Clínica 01 (1999) 71 ilhas do Pacífico, principalmente em Samoa. Nessas comunidades, a obesidade e o diabetes surgiram exatamente com a modernização que permitiu a emigração ou o abandono das práticas antigas da pesca, caracterizada por atividade física intensa e dieta frugal. Para a maior parte da história do homem, era melhor ser moderadamente obeso do que esbelto e efeitos potenciais tardios danosos da obesidade eram irrelevantes quando a vida era breve. Consequentemente, é improvável que qualquer cura milagrosa venha a ser descoberta para a obesidade e a educação alimentar precoce permanece como o caminho mais promissor. O diabetes, entretanto, não é universal, e sua freqüência é muito diferente entre as populações. Não há qualquer vantagem evolutiva, nem por sobrevivência nem por fecundação, em ser diabético. O diabetes é uma síndrome e não uma doença e pode ser causada por genes muito diferentes mesmo dentro da mesma população. É mais freqüente em comunidades isoladas e menos freqüente na Europa com sua história de muitas migrações e conquistas, fazendo os diabetogenes (recessivos) se espalharem mais, reduzindo porém, as chances de sua homozigosidade. Desta forma, a obesidade pode provocar o diabetes apenas em indivíduos predispostos geneticamente e como um fenômeno epigenético. Março de 1999 Rezulina®: casos de insuficiência hepática A controversa droga de diabetes Rezulina (troglitazona) deveria permanecer no mercado, segundo os peritos do FDA, após analisar os mais recentes dados nos benefícios e efeitos colaterais, incluindo casos de insuficiência hepática, vistos em 28 pacientes. A Rezulina, produzida pela divisão Warner-Lambert da Parke-Davis, causou pelo menos 40 casos de severa doença hepática – algumas tão graves que os pacientes tiveram que se submeter a transplantes do fígado. A Rezulina, a primeira de uma nova classe de medicamentos que ajuda o corpo a responder melhor à insulina, é atualmente indicada para o tratamento do diabetes tipo 2. Cerca de 1,4 milhão de pessoas já tomaram a droga desde que foi lançado em 1997. A Parke-Davis estima que o risco é maior para um em 45.000 pacientes. O número de acidentes relacionados com o fígado caiu desde o último ano, quando a empresa preveniu médicos e outros profissionais de saúde que a droga poderia causar dano ao fígado. Os pacientes agora devem fazer testes regulares de enzimas hepáticas. A Rezulina oferece benefícios importantes para o tratamento do diabetes tipo 2. A Rezulina é usada principalmente em combinação com outras classes de remédios para o diabetes tipo 2, com apenas 15% de seu uso em monoterapia. Fevereiro de 1999 Viagra® e a impotência relacionada ao diabetes Viagra (sildenafil) da Pfizer, é um tratamento eficaz e bem tolerado para a disfunção erétil em homens com diabetes, de acordo com um artigo do The Journal of the American Medical Association (JAMA). Marc Rendell, M.D., do Creighton Diabetes Center, em Omaha, e cole- 72 Diabetes Clínica 01 (1999) gas, estudaram a eficácia e segurança do citrato de sildenafil oral versus placebo em 268 homens com disfunção erétil e diabetes tipo 1 (insulinodependente) ou tipo 2 (não insulino-dependente). O estudo foi conduzido nas residências dos pacientes em 19 centros clínicos nos Estados Unidos de maio a novembro de 1996. Os pesquisadores descobriram que após 12 semanas de tratamento, 56 % dos pacientes no grupo de sildenafil relataram ereções melhores comparado a 10 % dos pacientes com placebo. A proporção de homens com pelo menos uma tentativa satisfatória de relação sexual foi de 61 % para o grupo de sildenafil versus 22 % para o grupo de placebo. “O tratamento com sildenafil melhorou significativamente a função erétil através de todas as três variáveis de eficácia, independente da idade do paciente, a duração da disfunção erétil e duração do diabetes”, segundo os autores. De acordo com os autores, a disfunção erétil é uma complicação comum em diabéticos. A disfunção erétil dos diabéticos é freqüentemente associada com nefropatia diabética e doença vascular periférica. Em diabéticos, ela ocorre mais cedo do que na população geral e muitos estudos demonstraram que a disfunção erétil afeta de 35 % a 75 % dos diabéticos. Março de1999 Chromax® eficaz para o tratamento do diabetes induzido por esteróides Resultados de um estudo clínico mostraram que o Chromax (picolinato de cromo, Ambi Inc.) reduz ou elimina os sintomas de diabetes em 41 de 44 pacientes com diabetes induzido por esteróides. O estudo foi conduzido por Alexander Ravina, MD, do Departamento de Diabetes do Linn Clinic em Haifa, Israel e foi relatado no British Journal Diabetic Medicine No estudo, os pacientes tomando Chromax puderam reduzir ou interromper sua medicação diabética, tal como insulina. Estes pacientes desenvolveram diabetes após tratamento com esteróides. Foram dados aos pacientes suplementos de Chromax, começando com 600 microgramas diariamente, gradualmente reduzindo para 200 a 400 microgramas diários dentro de uma semana. Nenhum dos pacientes tratados apresentou efeitos colaterais. “Os resultados deste estudo mostram a eficácia e segurança do picolinato de cromo em pacientes com diabetes induzido por esteróides”, disse Dr. Ravina. Estes pacientes não responderam à terapia tradicional. Agora precisamos conduzir estudos adicionais para avaliar o papel do picolinato de cromo no controle deste sério problema”. O diabetes induzido por esteróide pode ocorrer em indivíduos após curto ou longo tempo de administração de esteróides, como visto em pacientes com asma, alergias ou artrites O picolinato de cromo é uma das fontes biodisponíveis de cromo mineral essencial. O cromo é necessário para o metabolismo normal de gorduras, carbohidratos e proteínas. Sob certas condições e com a idade, muitas pessoas podem perder excessivas quantidades deste mineral essencial e podem beneficiar do uso de suplementos do cromo. Diabetes Clínica 01 (1999) Maio de 1999 73 Proteína pode levar à cura do diabetes tipo 1 Pesquisadores das Universidades de Calgary, Canadá, Ajou, Coréia do Sul e Yale, Estados Unidos, descobriram uma forma de bloquear uma proteína responsável por eliminar as células que produzem insulina, segundo artigo publicado por Science. A proteína responsável pela doença é a GAD, ou acido glutâmico decarboxylase. Em testes feitos com ratos diabéticos, o bloqueio da GAD preveniu danos que normalmente são causados pelo mal. O diabetes tipo 1, ou juvenil, é uma doença auto-immune, provocada pelo ataque do sistema de defesa contra as células ß, responsáveis pela produção de insulina. Os pesquisadores bloqueram o GAD nas células ß de ratos. Dessa forma, os animais não produziram as células de defesa, conhecidas como linfócitos T, que normalmente são responsáveis pelo ataque das células ß. De acordo com os pesquisadores, essa descoberta poderia ser a base para um tratamento da doença. 74 Diabetes Clínica 01 (1999) Produtos e novidades Bayer: Glucometer Elite Teste : Glicemia em sangue total Tamanho da amostra : 5 ml Volume da câmara de reação: 3 ml Alcance de medição : 20 – 600 mg/dl (1,1 – 33,3 mmol/l) Tempo de medição : 30 segundos Memória: armazena os últimos 20 resultados de teste Baterias: Baterias de lítio de 3 volts (DL ou CR2032) Duração das baterias : aproximadamente 1000 testes (em média, 1 ano de uso) Temperatura operacional : 10o – 40o C Umidade : 20 – 80 % Dimensões : 83,8 x 55 x 14,5 mm Peso aproximado : 50 g O Glucometer Elite, que a Bayer lançou no mercado brasileiro em maio de 1999, é um analisador de glicemia que agiliza o controle da glicemia no dia a dia. A principal inovação do Glucometer Elite é a tecnologia Sip-in, desenvolvida por Bayer, que facilita a aspiração e análise da gotícula de sangue e permite ler o resultado em 30 segundos. Os analisadores de glicemia convencionais necessitam da aplicação do sangue na tira reagente diferente do Glucometer Elite, no qual o usuário primeiramente insere o sensor e, simplesmente, toca a extremidade com a gota de sangue. Um capilar aspira automaticamente uma gotícula de sangue (3 ml) para a câmara de medição, e em 30 segundos o resultado aparece no visor. Do tamanho de um cartão de crédito, com capacidade para armazenar 20 resultados na memória, além de não possuir nenhuma tecla, o Glucometer Elite tem um intervalo de medição entre 20 e 600 mg/dl. Ele liga automaticamente quando se coloca o sensor no medidor. Bayer lançou a primeira versão do Glucometer Elite em 1992 em vários países. Ele é agora um dos instrumentos de medição de glicemia mais usados no mundo. A versão atual, disponível hoje no Brasil, apresenta um tempo de medição reduzido de 60 para 30 segundos e várias alterações para otimizar a memória, o tamanho do instrumento e a qualidade dos resultados. O glucometer Elite e os sensores são fabricados pela empresa japonesa KDK Corporation. Serviço de Atendimento ao Cliente: Tel (011) 5694 5165 Fax (011) 5694 5954 www.bayer.com.br Glucowatch: uma nova geração de glicosímetros Glucowatch é um relógio equipado com autosensor que avalia constantemente a glicemia, com técnica não-invasiva. Este glicosímetro desenvolvido pela americana Cygnus e fabricado no Japão pela Yamagouchi, teve seu protocolo clínico apresentado ao FDA em junho para avaliação em regime de urgência por ser considerado um produto revolucionário. Diabetes Clínica Diabetes Clínica 03 (1999) 75–79 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas Os programas de educação em diabetes Leda Marcia Pagnozzi* Levando em consideração que a Educação em Diabetes é uma atividade muito importante para o controle dos pacientes diabéticos, a Asta Medica – Boehringer Mannheim possui atualmente dois programas educacionais, sendo : 1. Ciclo de palestras Utilizamos um processo dinâmico e continuo de aprendizado onde o diabético e eus familiares reúnem os conhecimentos de que precisam. As palestras são realizadas para grupos onde podemos promover troca de conhecimentos e experiências entre os participantes. Fazer parte de um grupo facilita a maturação do diabético e seus familiares ajudando a aceitar o diabetes e favorece uma atitude ativa. As unidades temáticas utilizadas no ciclo de palestras são : - Noções gerais sobre o diabetes - Complicações agudas e crônicas - Cuidados com os pés - Automonitorização 1.1. Noções gerais sobre o diabetes O que é diabetes Tipos de diabetes Causas do aparecimento Ação da insulina Ação do glucagon Hipoglicemia Hiperglicemia A educação em diabetes 1.2. Complicações agudas e crônicas Complicações agudas: Tipos Causas Sintomas Conseqüências Prevenção Complicações crônicas: Como se manifestam Controle periódico Prevenção Cuidados com os pés: Importância na prevenção das complicações 1.3 . Automonitorização O que é automonitorização Vantagens da sua utilização Glicosúria (glicose na urina) Importância do seu controle Aparecimento Técnicas utilizadas para seu controle Interpretação de resultados * Educadora em diabetes, especialista de produtos, Laboratórios Roche, tel (11) 819 4916 76 L. M. Pagnozzi / Diabetes Clínica 01 (1999) 75–79 Cetonúria (cetonas na urina) Importância do seu controle Aparecimento Técnicas utilizadas para seu controle Interpretação de resultados Glicemia (glicose no sangue) Importância do seu controle Aparecimento Técnicas utilizadas para seu controle Interpretação de resultados As palestras como já foi mencionado são destinados aos pacientes diabéticos e seus familiares e têm a duração de duas horas cada uma. O local para a realização das mesmas são principalmente Associações e Centros de orientação ao paciente diabético. 2. PEDNID-LA – Programa latino-americano de educação de pacientes com diabetes não-insulino dependente O Brasil participa junto com outros países da América Latina do programa PEDNID-LA que tem como objetivo avaliar de forma prospectiva durante 12 meses as mudanças clínicas, bioquímicas e terapêuticas e seu correlato econômico obtidos em um grupo de pessoas com diabetes não-insulino dependente (DIND) que não se tratam com insulina, depois de participar em um programa grupal estruturado. O programa tem como coordenador geral Dr. Juan José Gagliardino e seus colaboradores do CENEXA (Centro de Endocrinologia experimental e Aplicada et centro Bernardo A. Houssay de La Plata, Argentina) e como coordenador do programa no Brasil Dr. Antônio Roberto Chacra da Escola paulista de Medicina, São Paulo. 2.1 O programa pretende: - Melhorar a qualidade do controle metabólico e o grau de adesão dos pacientes ao tratamento. - Diminuir os custos diretos relacionados com o diabetes - Promover a participação ativa no controle e tratamento de seu diabetes - Oferecer auto controle (clínico e monitorização da glicosúria), plano de alimentação, programa de atividade física e redução do peso corporal. O programa se desenvolve em forma de aulas grupais com a participação de até 8 pacientes por grupo, sendo convidado os familiares diretos para participarem das aulas. O programa consta de 4 aulas de 90 a 120 minutos de duração com parte teórica e atividade prática sendo realizadas consecutivamente uma vez por semana durante um mês nas Unidades Operativas. O Brasil está participando com cinco unidades operativas tendo de 15 a 20 pacientes cada uma. 2.2 As unidades operativas são : - Salvador: CEDEBA – Centro de referência para diabetes e endocrinologia do Estado da Bahia - Fortaleza : Centro integrado de Diabetes e hipertensão - Rio de Janeiro : IEDE – Instituto estadual de Diabetes e endocrinologia - São Paulo : Centro de diabetes – Escola Paulista de Medicina - São Paulo : Hospital das Clínicas – primeira Clínica Médica. 2.3 Programação das aulas Primeira aula : O que é diabetes Sintomas Tipos de diabetes Hipoglicemia Hiperglicemia Limiar renal; Orientação de alimentação hipocalórica Prática : teste de glicosúria, interpretação de resultados Segunda aula: Atuação da insulina Grupos de alimentos Alimentos / calorias Prática : Identificação dos alimentos em relação aos grupos, elaboração de um plane alimentar Terceira aula : Cuidados com os pés Importância na prevenção das complicações Prática : Exame das pernas e pés para identificação de locais de risco, Exercícios para os pés. Quarta aula : Complicações crônicas Controles periódicos Importância da atividade física Prática : orientação para exercícios físicos L. M. Pagnozzi / Diabetes Clínica 01 (1999) 75–79 2.4 Material Educativo Jogo de 25 lâminas coloridas (70x100 cm) Fichas estruturadas para o desenvolvimento das aulas Jogo de 60 fotos coloridas de alimentos Fichas com perguntas Agendas de controle de registro de cariáveis clínicas e bioquímicas Manual para o paciente : “Convivendo com o diabetes” Questionário para avaliação dos conhecimentos dos participantes 2.5 Características e seleção das amostras Pacientes DNID Obesos com IMC > 27 Não cetonúricos Não requerem insulina para seu controle metabólico Ambos sexos Mulheres não grávidas Idade 65 anos Sem complicações crônicas Sem incapacidade para executar as técnicas de autocontrole Que não tenham participado em cursos de educação. 2.6 77 Mudanças que se esperam obter Efeitos imediatos: Incremento dos conhecimentos sobre o diabetes (número de respostas corretas) Melhora ou desaparecimento dos sintomas clássicos (polidipsia, polifagia, poliúria, prurido, astenia). Diminuição do peso corporal Maior número de determinações e registro regular de resultados de glicosúrias. Diminuição da dose diária de hipoglicemiantes orais Prática regular de atividades físicas Diminuição ou abandono do consumo diário de cigarros. Efeitos mediatos: Diminuição de porcentagem de HbA1c, níveis de colesterol total e triglicérides, pressão arterial, ocorrência de hipoglicemia (que requerem atenção ou assistência), número de internações relacionadas com o Diabetes, custos de atenção e tratamento. Registro de variáveis Programa latino americano de Educação de pacientes com diabetes não-insulino dependentes (PEDNID-LA) – Brasil | Local | | Tel. Endereço | Paciente | data do curso | Endereço | Bairro | Cidade | UF | CEP | Tel. | Data de Nascimento | Idade atual | Sexo | | | Altura (m) | Quadril (cm) IMC (kg/m2) cintura (cm) | Proporção C/Q | Há quanto tempo é diabético ? | Data do Diagnóstico do diabetes | Associação médica | Associado número | Nome do Médico | Tel. | Endereço 78 L. M. Pagnozzi / Diabetes Clínica 01 (1999) 75–79 Questionário Início Final Respostas corretas Sintomas (sim/não) 0 inicial 1° mês 4° mês 8° mês 12° mês Polidipsia Poliúria Polifagia Prurido Astenia Última anterior 0 inicial 1° mês 4° mês 8° mês 12° mês Data Peso (kg) Pressão arterial Glicemia HbA1c Frutosamina Colesterol HDL Triglicérides Glicosúria (* última semana) Anterior 1a sem 2a sem 3a sem 4a sem Total 4o mês 8o mês 12o mês * * * Positiva Monitorização glicemia (sim/não) Anterior 4o mês 8o mês 12o mês Atividade física Qual ? Freqüência duração Anterior 1o mês ( )não ( )sim ( )não ( )sim 4o mês 8o mês 12o mês ( )não ( )sim ( )não ( )sim ( )não ( )sim L. M. Pagnozzi / Diabetes Clínica 01 (1999) 75–79 79 Fumante 1o mês Anterior ( )não ( )sim ( )não ( )sim 4o mês 8o mês 12o mês ( )não ( )sim ( )não ( )sim ( )não 8o mês 12o mês ( )sim Há quanto tempo ? Cigarros / dia observações Hipoglicemia Ano anterior Graves Ano pós-curso no Graves no Leves no Leves no Medicação 1o mês 0 nome no nome 4o mês no nome no nome no nome Hipoglic. oral Hipertensão Hipolipem. Internações ANO ANTERIOR causa ANO PÓS-CURSO Dias causa Dias Consultas médicas ANO ANTERIOR 4o mês 8o mês 12o mês causas Controles ANO ANTERIOR Fundo de olho Urina 24 hs. E.C.G. Nome do pesquisador ANO PÓS-CURSO no AT L  N T I C A e d i t o r Diabetes Clínica a Diabetes Clínica 03 (1999) 82–84 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas O pé diabético : práticas e medidas preventivas Domingos Malerbi* O “pé diabético” é uma complicação do diabetes que se origina de problemas em diversas áreas susceptíveis da doença, quais sejam os nervos, a pele, os vasos e o sistema músculo-esquelético-ligamentar dos pés. O conceito de pé diabético tem mudado ultimamente. Ele compreende hoje todas as situações de risco para o pé do paciente diabético passíveis de tratamento preventivo, diferentemente de que ocorria algum tempo atrás, quando o termo “pé diabético” era sinônimo de uma infecção grave do pé, resultado final de uma seqüência de eventos que geralmente terminavam com a perda do pé. Os problemas com os nervos dos pés capazes de gerar o pé diabético, constituintes da neuropatia diabética, são de três naturezas: - redução da sensibilidade - redução da umidade da pele - alterações da marcha e do equilíbrio A redução de sensibilidade, conseqüência da lesão nos nervos que conduzem para o cérebro os estímulos de tato, pressão, dor e temperatura provenientes da pele, fazem com que o indivíduo perceba menos (ou não perceba em absoluto) muito aquilo que possa machucarlhe o pé : pontas de pregos ou pedrinhas no interior dos sapatos, superfícies quentes demais pelo sol com praias ou bordas de piscinas, calçados apertados demais ou mal adaptados, temperatura excessiva provenientes de bolsas térmicas ou aquecedores, unhas encravadas, etc. A redução da umidade da pele é conseqüência da lesão nos nervos que comandam as glândulas cutâneas produtores de suor. A pele torna-se mais seca e quebradiça, havendo uma propensão para a formação de calos e calosidades. Estas anormalidades da pele facilitam a formação de fissuras e rachaduras por onde podem entrar infecções. As alterações da marcha e do equilíbrio são resultantes da lesão nos nervos que conduzem a propriocepção – noção de posição dos pés em relação ao resto do corpo. Isto resulta em um modo de pisar que favorece o atrito e a pressão excessiva em certas áreas do pé, forcando-as de encontro ao solo ou ao calçado e favorecendo a formação de calos e feridas nas plantas dos pés * Rua Dr. João Clímaco Pereira, 82, Itaim-Bibi 04532-070 São Paulo, Tel: (011) 820 6240, Fax (011) 829 7918. D. Malerbi / Diabetes Clínica 01 (1999) 82–84 (úlceras neuropáticas). Junto com a redução da propriocepção ocorre também, geralmente, uma certa atrofia nos pequenos músculos internos do pé – chamados de músculos intrínsecos do pé – que são inervados pelos mesmos tipos de fibras nervosas que conduzem a propriocepção. Com isto ocorre uma mudança do formato dos pés, originando protuberâncias ósseas, que acentuam os problemas de pressão e atrito excessivos durante a marcha. As articulações tornam-se também mais rígidas, prejudicando o amortecimento natural por elas exercido na transmissão do peso do corpo para os pés durante a marcha. Estas anormalidades nas funções dos nervos dos pés e a resultante propensão para o desenvolvimento do pé diabético podem ser avaliadas através de exames com instrumentos relativamente simples, tais como os filamentos de nylon, capazes de avaliar a redução na sensibilidade protetora dos pés, o biotensiômetro, capaz de avaliar a propriocepção, o goniômetro, usado para avaliar a mobilidade das articulações, o pedobarógrafo, que mostra pontos anormais de pressão na planta dos pés, o podoscópio, que dá imagem do apoio dos pés, etc. Porem, a parte mais importante da avaliação é o exame clínico dos pés propriamente dito. Através dele pode-se detectar não só a presença da neuropatia e pontos anormais de pressão e atrito como também a condição da pele e das unhas, a presença de micoses (que podem se infectar), a mobilidade articular, as alterações do formato do pé que podem condicionar uma pressão excessiva em certas regiões, a presença de processos inflamatórios, etc. Outro item importante a ser examinado é o calçado utilizado pelo paciente, uma vez que a grande maioria dos traumatismos aos pés que podem iniciar o processo do pé diabético provém de calçados de tamanho inadequado, excessivamente baixos ou pontudos, feitos com material inadequado ou com saltos muito altos. Além disso, os pontos de maior atrito e pressão acabam também sendo refletidos no revestimento interior do calçado, cujo exame pode facilitar a compreensão dos problemas. De forma não menos importante que a neuropatia e suas conseqüências na formação do pé diabético, há que se considerar também a contribuição dos fatores circulatórios, causados pela doença dos vasos, e reunidos sob a denominação de angiopatia (ou vasculopatia) diabética. Através da angiopatia ocorre uma redução do fluxo sangüíneo para todos os orgãos do corpo, e em particular para os pés dada sua posição distal ao coração. A falta de circulação nos pés (isquemia) manifesta-se através de sensações como câimbras, pés frios, dores ao deitar, etc, e de anormalidades ao exame clínico como 83 palidez ou arroxeamento da pele, queda de pelos, manchas vermelhas, etc. A isquemia, além de poder por si só comprometer a nutrição dos tecidos a ponto de gerar feridas (úlceras isquêmicas), influi negativamente na cicatrização de feridas de qualquer outra natureza surgidas nos pés, particularmente aquelas associadas à presença da neuropatia. A redução da circulação nos pés é outro fator a ser avaliado, pelo exame clínico ou por instrumentos tais como o doppler, quando se focaliza o risco de desenvolver o pé diabético. As alterações descritas acima, quer ligadas aos nervos, à pele, aos vasos ou ao sistema de estrutura (osso, músculos, ligamentos e articulações) do pé estão na origem da seqüência de eventos que podem levar às graves infecções e até a perda dos membros inferiores nos pacientes diabéticos. Um pequeno calo ulcerado, uma simples unha encravada, uma bolha causada por sapata apertado, uma “frieira”, podem servir de porta de entrada a infecções mais profundas que caminham até os ossos causando fraturas e reabsorções, situação conhecida come “pé de Charcot”, associada a grandes deformidades do pé. Uma situação de isquemia, detectada através do aspecto clínico ou pela presença de uma pequena úlcera isquêmica, pode gerar um quadro de gangrena, se não devidamente avaliada e tratada. Estes são alguns exemplos de como é possível, através de exames especializados e orientação preventiva, evitar as amputações tão freqüentemente associadas no passado ao “pé diabético”. Toda a parte preventiva começa com o esforço para manter uma boa compensação das taxas de glicemia e a identificação dos pacientes sob risco, através dos exames de sensibilidade, de estrutura e de circulação do pé a que nos referimos acima. Uma vez definido o risco para desenvolver o pé diabético, deve-se adotar uma série de medidas preventivas, cujo elenco inclui : - palmilhas de acomodação e calçados adequados fisioterapia e reabilitação muscular e articular cuidados por podólogos e pedicuros profissionais hidratação adequada da pele com produtos específicos - tratamento médico da neuropatia e da vasculopatia - tratamento médico das úlceras isquêmicas e neuropâticas - educação e informação do paciente sobre o diabetes. Para finalizar, acrescentamos a seguir, a título explicativo, uma série de cuidados que todos os pacientes diabéticos – particularmente aqueles com diminuição da sensibilidade nos pés – devem adotar na sua rotina de cuidados com a saúde. 84 D. Malerbi / Diabetes Clínica 01 (1999) 82–84 CUIDADOS GERAIS PARA PÉS INSENSÍVEIS 1. Examine seus pés diariamente: - Verifique se há rachaduras, bolhas, arranhões, calos, infecções, unhas encravadas ou mudanças na cor da pele. Se você não conseguir examinar os próprios pés, peça ajuda a um familiar ou use um espelho. - Com o dorso da mão, sinta se há áreas com temperatura elevada nas solas do pés. 2. Vista sempre meias limpas (preferencialmente de lã ou algodão) – troque-as diariamente e descarteas quando furarem. Certifique-se de que a costura da meia não está volumosa. Se estiver, troque-a por uma com costura menos saliente. 3. 4. Calce apenas sapatos que não lhe apertem, preferencialmente de couro. Não use sapatos apertados, bicudos ou que causem pontos de pressão nos pés. Uma forma de manter seus sapatos sempre secos é não usar o mesmo par em dias seguidos. Verifique se seus sapatos não estão precisando ser consertados na sola ou no salto. Antes de calçá-los verifique outra irregularidade que possa irritar sua pele. Não use sapatos sem meias. Use sempre sapatos e sandálias folgados. 5. Ao comprar sapatos, verifique se a largura e comprimento proporcionam suficiente espaço para os pés, evitando assim pontos de pressão. O interior do sapato deve ser macio, sem dobras ou qualquer saliência. A sola deve ser flexível, porém espessa suficiente para, ao andar, proteger e dar apoio. 6. Sapatos novos devem ser usados gradualmente. Não use um sapato novo por mais do que duas horas nos primeiros cinco dias. Examine seus pés após cada uso. Senão notar qualquer alteração, gradualmente aumente o tempo de uso. 7. Não use instrumentos pontiagudos, nem produtos químicos para remover os próprios calos. 8. Não ande descalço, nem em casa, nem fora. 9. Evite calor ou frio excessivo. Se estiver com os pés frios, calce meias quentes. Nunca use bolsas ou compressas de água quente para aquecer os pés. Proteja seus pés de queimaduras pela exposição ao sol. 10. Evite vestir algo apertado nas suas pernas que possa reduzir o suprimento de sangue para os seus pés. 11. Lave os seus pés diariamente, com água morna e sabão neutro. Teste a temperatura da água com as mãos. Evite o contato dos pés mergulhados em água por muito tempo, pois isto pode macerar a pele. Enxugue seus pés cuidadosamente com uma toalha macia, especialmente entre os dedos. 12. Após lavar os pés, aplique um hidratante a base de lanolina para evitar rachaduras (não passe creme entre os dedos). 13. Corte as unhas de forma reta (horizontalmente). Unhas encravadas e calos devem receber tratamento profissional. 14. Faça exercícios diariamente para estimular a circulação sangüínea. 15. Faça um exame podológico anualmente. Diabetes Clínica Diabetes Clínica 03 (1999) 85–88 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas Benefícios imediatos e tardios da atividade física para os pacientes diabéticos Claudio Cancelliéri Psic. Prof. Claudio Cancelliéri, Coordenador de atividades físicas para diabéticos da UNIEF A atividade física é uma das quatro grandezas –juntamente com as variantes medicamentosa, dietética e psicológica – importantes no tratamento do Diabetes. Ela surge como fator essencial na preservação e no tratamento do Diabetes tipo 2 e importante coadjuvante no tratamento do Diabetes tipo 1. Apesar do texto enfocar a atividade física para diabéticos tipo 1, com raras alterações abrange os diabéticos tipo 2. 1. Benefícios Podemos, didaticamente, dividir os benefícios da atividade física para o portador de diabetes em imediatos e tardios. Como imediatos, entendemos as alterações produzidas no momento do exercício e nos dias subsequentes. Os benefícios tardios se referem as vantagens que necessitam de algumas semanas para serem estabelecidas. As alterações imediatas são: · diminuição da taxa glicêmica · aumento da ação da INSL ou do hipoglicemiante oral · aumento da sensibilidade celular à INSL. Essas alterações se devem basicamente à elevação do metabolismo tendo como conseqüência a maior e melhor utilização do INSL – e à maior utilização de glicose pelos músculos, que continua durante a recuperação. Porém, esses benefícios têm pouca duração, variando entre dois ou três dias após a atividade física. Podemos citar como benefícios tardios da atividade física: Alterações metabólicas: · incremento das funções cardio-respiratórias. · Redução dos fatores de risco de doença arterial coronariana. · Diminuição do peso e da massa gorda corporal. · Incremento da força e da “endurance”. Alterações psicológicas: · decréscimo da ansiedade e da depressão · melhora do bem-estar. Como conseqüências destas alterações temos: · melhora da performance no trabalho, no esporte e no lazer. · Dieta menos restritiva. · Diminuição da morbidade e da mortalidade. · Menos necessidade do medicamento. · Diminuição dos sintomas do diabetes (poliúria, polidipsia, polifagia e glicosúria). É de suma importância salientar que alterações na dieta e no medicamento são de responsabilidade de médicos e nutricionistas. A taxa de mortalidade e de morbidade e os sintomas do diabetes se devem ao bom controle glicêmico e não exclusivamente à atividade física. Com isso quero deixar clara que a atividade física não cura mais auxilia muito no bom controle glicêmico. O DCCT ( Diabetes Control and Complications Trial) mostrou que o bom controle glicêmico proporciona 86 C. Cancelliéri / Diabetes Clínica 01 (1999) 85–88 diminuição dos riscos da seguinte ordem: · doença dos olhos – 76 % · doenças renais – 50 % · doenças dos nervos – 60 % · doenças cardiovasculares – 35 % Dessas complicações associadas ao diabetes, a atividade física é de especial importância para as doenças cardiovasculares. Mas a atividade física tem suas limitações. Alguns riscos são: hipoglicemias, hiperglicemias, cetose, isquemia e arritmia cardíacas, exacerbação das hemorragias na retinopatia diabética. Porém são prontamente reduzidos se os procedimentos descritos abaixo forem seguidos. Com relação aos benefícios tardios, cabe salientar que só são possíveis mediante atividade rotineira, no mínimo 2 vezes por semana. As atividades de final de semana não proporcionam tais alterações e aumentam os riscos descritos acima. 2. Fisiologia do exercício no diabetes Para melhor entender sobre os benefícios e sobre a prescrição da atividade física para diabéticos, faz-se necessário uma explanação – apesar de sucinto – sobre os constructos metabólicos que atuam durante e após atividade física. Os sistemas de fonte de energia que mais interessam são a glicólise aeróbica e o sistema aeróbico. Estes sistemas utilizam basicamente glicose e gordura, respectivamente, mas é necessária a presença de oxigênio para o metabolismo. Assim sendo, exercícios de intensidade muito baixa ou muito alta são inertes ou perigosos na prática de exercícios. A tabela 1 - baseada me pesquisa realizada no Instituto do Exercício e do Trabalho de Oslo - demonstra resumidamente as conseqüências da variação da intensidade. Está claro nesta tabela que, se houver baixa intensidade, nenhuma ou pouca alteração na glicemia será alTabela 1 Tabela 2 Hormônio Efeito No exercício Cortisol Eleva a utilização de AGL e conserva a glicose no sangue No exercício intenso existe aumento na produção deste hormônio Adrenalina Aumenta a glicose e a liberação de ácidos graxos Aumenta no exercício intenso Glucagon Promove a liberação de glicose pelo fígado e aumento do metabolismo da gordura Aumenta com o aumento do exercício cançada ; se houver alta intensidade ocorrerá hiperglicemia. Apesar de utilizar como fonte de energia apenas glicose no exercício intenso, a depleção de glicogênio pelo fígado se encarrega de elevar a glicose sangüínea, esta que não será utilizada pelo músculo. Este processo (principalmente em diabetes tipo 1) se deve a alterações hormonais. A tabela 2 mostra as alterações ocorridas nesse sistema durante a atividade. Do ponto de vista energético, a glicose é consumida predominantemente nos primeiros 15 a 20 minutos de exercício, sendo ultrapassado logo após pelo metabolismo das gorduras. Portanto para que haja benefícios, um mínimo de 20 minutos de atividade de intensidade moderada se faz necessário. Este tema será abordado novamente abaixo. Após atividade física, com o objetivo de recuperarse, o organismo continua a utilizar a glicose sangüínea, sendo utilizada predominantemente na síntese da glicogênio. O hormônio insulina detém especial atenção pois, apesar de ter sua produção diminuída, a insulina exógena e/ou os hipoglicemiantes orais podem proporcionar hipoglicemia durante ou após o exercício, motivo pelo qual a prescrição adequada e a dosagem glicêmica antes do exercício possuem especial importância. 3. Procedimento CF max % VO²max % duração efeito sobre glicemia 35 65 65-80 95 100 20 50 50-70 90 100 3h 45 min 1-2h 15 min sprint intenso s/alteração significativa diminuição significativa hipoglicemia eleva aumento de até 200% Antes de iniciar qualquer programa de exercícios, é importante que o diabético procure orientação médico-nutricional. Alguns pesquisadores desaconselham que se inicie atividade física se houver mal controle glicêmico. Assim sendo, o diabético deve ser orientado a realizar C. Cancelliéri / Diabetes Clínica 01 (1999) 85–88 exames para averiguação de qualquer dano renal, cardiovascular, dos nervos e dos olhos, o que pode limitar ou nortear a prescrição da atividade física. Apesar destes riscos serem aumentados nos diabéticos tipo 1, essa orientação também é válida para os diabéticos tipo 2. O próximo passo é uma avaliação física e funcional - esta sendo realizada por professor de Educação Física, fisiologista ou médico especializado. Base para a prescrição da atividade, esta avaliação permite descobrir o nível de aptidão física, a FC máxima e acompanhamento do desenvolvimento do diabético, entre outras. A prescrição da atividade física mais adequada é o passo que se segue, esta de responsabilidade do professor de Educação Física e com a segurança indispensável do glicossímetro, das fitas para medição de cetona e de um esfigmomanômetro. Das três variáveis da atividade física – freqüência, intensidade e duração - a intensidade, duração ou a própria realização do exercício dependem da taxa glicêmica e da presença ou ausência de cetona. Variação da glicemia indica variação na intensidade ou duração do exercício. Presença de cetona e glicemia superior a 250 mg/dl desaconselham a prática de exercícios, pois indica utilização de gordura como fonte de energia. Nesta situação a atividade física ocasionará elevação da glicemia, pois o organismo não utilizará essa fonte energética mas ela estará sendo produzida por glicogênese ou gliconeogênese. O mesmo ocorre com glicemias baixas. Praticar exercícios nesta condições é correr risco sério de hipoglicemia. A medição glicêmica deve ser realizada imediatamente antes a realização dos exercícios e, nas primeiras aulas, antes e após os exercícios. Este procedimento proporciona : · Compreender como o organismo responde a determinada atividade. · Evitar hipoglicemias · Auxiliar na determinação do lanche apropriado préexercício. 87 bos os tipos de diabetes, mais especificamente para o diabetes tipo 1. Exercícios diários e no mesmo horário proporcionam melhor controle das variáveis que afetam o controle glicêmico. A segunda variável – intensidade – é de extrema importância para prescrição da atividade física para o diabético. Se pouco intenso, nenhum ou muitos poucos benefícios serão alcançados; ao mesmo tempo, se a atividade física se torna extenuante, a hiperglicemia é inevitável, assim como o aumento dos riscos de complicações cardíacas. Para a determinação da intensidade dos exercícios devemos levar em conta: · Idade · Aptidão física – nível de “condicionamento”. · Complicações clínicas. · Freqüência cardíaca máxima. · Entre outras. O ideal é a realização de um eletrocardiograma de esforço, este realizado por fisiologista ou médico especializado. Como a utilização deste não é imprescindível, podem ser utilizados modelos para determinação indireta da intensidade de trabalho. Acredito ser de maior valia para nós a utilização da freqüência cardíaca de reserva como variável para a intensidade, pois individualiza a prescrição da atividade. Para tal necessitamos: · Freqüência cardíaca máxima (FC max.), utilizandose a formula 220- idade (para homens) ou 226 – idade (para mulheres). · Freqüência cardíaca de repouso (FC rep.), esta conseguida medindo-se os batimentos cardíacos logo ao acordar - antes mesmo de se levantar – ou após deitar por aproximadamente 20 minutos. Observar que, nestes dois modos, a pessoa deve estar tranqüila. Pois o contrário acarretará aumento da freqüência cardíaca. 4. A atividade física Com as medidas acima, aplica-se a fórmula: Como foi exposto acima, são três as variáveis na prescrição da atividade física: freqüência , intensidade e duração, todas de fundamental importância. Para a prescrição de primeira das valências – freqüência - devemos nos basear não só no tempo necessário para a pronta recuperação do organismo, mas também no controle da taxa glicêmica. A partir disto, podemos prescrever o mínimo de três dias por semana para am- FC rep. + 35% (FC max. – FC rep.) Esta é a intensidade inicial para o portador de diabetes, para o idoso ou para as pessoas com baixa aptidão. A intensidade aumenta conquanto se eleva a porcentagem, podendo chegar ao máximo de 70 % para atletas ou pessoas bem condicionadas. 88 C. Cancelliéri / Diabetes Clínica 01 (1999) 85–88 Outra variável é a duração do exercício, que está intimamente ligado com a intensidade. O exercício é mais rigoroso quanto mais se eleva a intensidade ou a duração. A prescrição de no mínimo três dias por semana ou diariamente. Além dos exercícios aeróbicos, a implantação de fortalecimento muscular é essencialmente útil para diabéticos. O trabalho de resistência muscular localizada – entre 40 e 60% de carga máxima – promove aumento da massa muscular, o que auxilia no aumento da taxa metabólica basal e, como conseqüência, diminuição da necessidade de medicamento (esta apenas com acompanhamento médico). Com relação às modalidades mais adequadas, podemos citar: natação, hidroginástica, caminhada, dança, ciclismo, entre muitos outros. O importante é escolher uma atividade que possa ser realizada de maneira relativamente estável. Esportes de contato ou de grupo como karatê, futebol, basquete, entre outros, favorecem o aumento da intensidade a níveis perigosos para pessoas descondicionadas, por serem atividades que proporcionam envolvimento em “competições” com adversários. A palavra chave para os diabéticos é lazer, enquanto esta enfoca o aspecto lúdico da atividade. 5. Questões comuns referentes à prática de exercícios físicos Dentre as dúvidas mais comuns com relação a atividade física estão: · Musculação e diabetes. · Aulas de educação física. · Esporte competitivo. Com relação a musculação, esta deve ser feito apenas em complemento de uma atividade física predominantemente aeróbica, sob pena de exacerbação do metabolismo protéico. As aulas de Educação Física devem ser estimuladas, mas com total conhecimento do professor sobre o andamento do diabetes do aluno. O esporte competitivo, a priore muito importante, não apenas por seu componente orgânico mas também pelo psicológico - deve ser realizado com acompanhamento rigoroso, pois os sistemas energéticos anaeróbicos (i.é, de intensidade máxima ou submáxima) são comuns. 6. Resumo Para que o diabético possa usufruir dos benefícios da atividade física, recomendamos: · Orientação médico-nutricional · Avaliação física e funcional · Monitoração da taxa glicêmica antes e após a atividade física por pelo menos duas semanas, para ambos os tipos de diabetes e após, antes da atividade física para os diabéticos tipo 1 e esporadicamente para os diabéticos tipo 2. · Acompanhamento rigoroso, de acordo com orientações médicas, se houver complicações secundárias associadas. · Freqüência: 3 vezes por semana ou diariamente. · Intensidade: 35 a 60 % da freqüência cardíaca de reserva. · Duração: mínima de 15 minutos na zona alvo (% da FC reserva). · Introdução de fortalecimento muscular como parte integrante do programa de exercícios, com carga de trabalho entre 40 e 60% da carga máxima. · O programa proposto por nós segue a seqüência abaixo: - Aquecimento – 5 a 10 minutos - Fortalecimento muscular – 15 a 20 minutos - Aeróbio – 15 a 30 minutos. - Esfriamento – 5 a 10 minutos. Referências 1. 2. 3. 4. 5. McArdle WD, Katch FI, Katch VL. Fisiologia do exercício: energia, nutrição e desempenho humano, Rio de Janeiro, Ed Guanabara Koogan,1992. Fox EL, Bowers RW, Foss ML. Bases fisiológicas da Educação Física e dos Desportos. Rio de Janeiro, Ed Guanabara Koogan,1991. Guyton AC. Tratado de Fisiologia Médica, Rio de Janeiro, Ed. Guanabara Koogan,1971. Gordon, NF. Diabetes: seu manual completo de exercícios, São Paulo, Ed Physis,1997. Setian N et al. Diabetes Mellitus na criança e no adolescente, São Paulo, Ed Savier,1995. Diabetes Clínica Diabetes Clínica 03 (1999) 90–95 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas Irá a acarbose melhorar as anormalidades metabólicas do diabetes mellitus insulino-resistente tipo 2 ? R. Scott a*, C.J. Lintott a, P. Zimmet b, L. Campbell c, K. Bowen d, T. Welborn e a Lipid and Diabetes Research Group, Hagley Building, Christchurch Hospital, Christchurch, New Zealand b International Diabetes Institute, 260 Kooyong Road, Caulfield, VIC 3162, Australia c Diabetes Centre, St Vincent ’s Hospital, 372 Victoria Street, Darlinghurst, NSW 2010, Australia d The Diabetes Education Centre, Royal Newcastle Hospital, Box 664J, Newcastle, NSW 2300, Australia e Department of Endocrinology and Diabetes, Sir Charles Gardner Hospital, Verdun Street, Nedlands, WA 6009, Australia Resumo Indivíduos com diabetes mellitus tipo 2 (n = 105; idade 36-71 anos) somente com terapia dietética, e com um bom controle glicêmico (média HbA1c @ 7,0 %) foram randomizados para receber acarbose (100 mg 3 vezes ao dia) ou placebo por 16 semanas, e foram monitoradas mudanças nos parâmetros clínicos e metabólicos indicativos de Síndrome X. Foram feitas medições de níveis de glicose, hemoglobina glicosilada (HbA1c), insulina, pró-insulina, fibrinogênio e lípides em jejum 4 vezes por semana, e as respostas de glicose, insulina, pró-insulina e triglicerídeos a um desjejum padronizado de 1,6 MJ foram determinadas nas horas 0, 1 e 2 após a refeição. A análise foi com base na intenção de tratamento. Os níveis de glicose (P < 0,0001), triglicerídeos (P = 0,03) e HbA1c (P = 0,003) em jejum foram reduzidos com acarbose após 16 semanas de tratamento. A diferença da mudança média de HbA1c da semana 0 para semana 16 foi de 0,4 % (P = 0,003) entre os dois grupos. As respostas da insulina (P = 0,06), pró-insulina (P = 0,07) e glicose (P < 0,0001) à refeição padrão foram reduzidas. Estes dados mostram que a acarbose reduz os de níveis de glicose e triglicerídeos em jejum, diminui a HbA1c e limita a resposta glicêmica e da insulina ao alimento em indivíduos com diabetes mellitus tipo 2 com Síndrome X. Agentes farmacológicos que melhoram o meio metabólico e reduzem a resistência à insulina têm potencial para limitar a evolução da aterogênese associada com diabetes mellitus tipo 2. © 1999 Elsevier Science Ireland Ltd. Todos os direitos reservados. Palavras Chave: Diabetes mellitus tipo 2, acarbose, síndrome X ® 1999 Elsevier Science Diabetes Research and Clinical Practice 43 (1999) 179-185 Correspondência para o autor: tel.: +64-3-3640449; fax: +64-3-3640457. PII: S0168-8227 (99) 00009-1 R. Scott et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 90–95 1. Introdução A resistência à insulina está associada com uma série de condições clínicas e metabólicas incluindo obesidade central, hiperglicemia, dislipidemia, hipertensão, hiperuricemia e obesidade [1-3]. Estes múltiplos fatores possivelmente contribuem para o aumento de eventos cardiovasculares observados em pacientes com diabetes mellitus tipo 2. A mortalidade total é aumentada em 2-3 vezes, comparada com pacientes não-diabéticos pareados quanto à idade/sexo [4, 5]. A redução da mortalidade e morbidade da doença cardiovascular em indivíduos com diabetes tipo 2 é uma importante meta de saúde. A melhora do controle da glicemia reduz o risco de neuropatia e complicações microvasculares. Porém, para doença macrovascular, a importância do controle glicêmico em relação a outras anormalidades metabólicas associadas de indivíduos com diabetes tipo 2 insulinoresistente continua indefinida, assim como a possibilidade da hiperinsulinemia ser aterogênica por si só. Foi observado que a acarbose melhorou o controle metabólico em indivíduos com diabetes mellitus tipo 2 [6-11]. A acarbose atua por inibição competitiva das a-glicosidases, um grupo importante de enzimas intestinais envolvidas na digestão de carboidratos. Isto permite que os carboidratos passem indigeridos ao íleo, retardando deste modo a absorção de carboidratos, atenuando o aumento pós-prandial do nível da glicose plasmática e reduzindo a hiperinsulinemia pós-prandial [12, 13]. A acarbose também melhora a sensibilidade à insulina [14, 15]. Em estudos clínicos envolvendo pacientes com diabetes mellitus tipo 2, a acarbose diminui os níveis da hemoglobina glicosilada (HbA1 ou HbA1c), os níveis de glicose plasmática em jejum e os níveis de insulina pós-prandial [16, 17]. O aumento da sensibilidade à insulina melhora a concentração e a composição das lipoproteínas, e de outras associações metabólicas da Síndrome X. 91 O propósito do atual estudo foi o de pesquisar o efeito da acarbose nos parâmetros metabólicos da resistência à insulina em pacientes com diabetes mellitus tipo 2. 2. Pacientes e métodos Este estudo duplo-cego, placebo-controlado, foi realizado em cinco centros na Austrália e na Nova Zelândia. A duração do estudo foi de 16 semanas com um período de pré-randomização de 6 semanas. Indivíduos com idade < 70 anos com diabetes tipo 2 e com duração do diabetes entre 3-60 meses foram selecionados, caso estivessem de acordo com o critério de inclusão. Os pacientes deveriam ter um índice de massa corporal (IMC) entre 25 e 35 kg/m², um nível de glicose plasmática em jejum < 10,0 mmol/l, HbA1c > 6 % mas não excedendo 11 %, e triglicerídeos em jejum de 1,0-4,0 mmol/l, na visita de randomização (semana 0). Os pacientes compareceram 6 semanas antes da randomização para revisão médica. Se alguma medicação hipoglicêmica oral estivesse sendo usada, foi retirada nesta visita. Todos os pacientes receberam orientação de dieta de acordo com as recomendações correntes para diabetes tipo 2. Os pacientes retornaram à clínica 2 semanas depois para nova avaliação médica e dietética. Na semana 0 havia 105 pacientes que se adequavam aos critérios de inclusão e foram randomizados para receber acarbose (n = 53) ou placebo (n = 52). A Tabela 1 mostra os dados demográficos basais da população randomizada. Todos os pacientes randomizados procederam a um teste de desjejum padronizado (1,6 MJ) antes da introdução do placebo ou acarbose. Amostras de sangue em jejum foram coletadas para determinações de glicose plasmática, insulina, pró-insulina, colesterol, colesterol HDL e triglicerídeos, fibrinogênio e HbA1c. Após a 1ª e 2ª hora do início do desjejum, amostras de sangue adicionais eram coletados para a medição da glicose, insulina, pró-insulina e triglicerídeos. A HbA1c Tabela 1 Dados comparativos dos pacientes no início do estudo (semana 0)a Número de pacientes Idade (anos) Peso (kg) IMC (kg/m²) Cintura/quadril Duração do diabetes (meses) Sexo masculino (%) a Acarbose Placebo P 53 56 (9) 91 (13) 31 (3) 0.93 (0.08) 21 (15) 62 52 57 (8) 84 (12) 29 (3) 0.92 (0.08) 26 (17) 65 0.62 (teste-t) 0.01 (Wilcoxon) 0.008 (teste-t) 0.45 (teste-t) 0.14 (Wilcoxon) 0.90 (χ²) Os resultados são a média (D.P.) exceto para distribuição do sexo. 92 R. Scott et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 90–95 foi medida usando o método DCA2000 (Bayer AG, Alemanha). A insulina foi analisada pela tecnologia de imunoensaio enzimático de micro-partículas (Laboratórios Abbott, IL, EUA) [18]. A pró-insulina foi determinada pela análise imunoradiométrica de dois pontos. A análise mostrou 100 % de reatividade/cruzada com pró-insulina 31,32 e pró-insulina 64,65, mas não houve reatividade-cruzada com insulina ou peptídeo-C em altas concentrações [19]. Inicialmente prescreveu-se acarbose aos pacientes, 50 mg, três vezes ao dia (t.i.d.) ou placebo idêntico. Eles retornaram à clínica 2 semanas depois para registrar quaisquer eventos adversos. Nesta visita, a dose de acarbose era aumentada para 100 mg t.i.d. Se os pacientes apresentassem eventos adversos, a dose era reduzida para 50 mg t.i.d. Os pacientes retornavam nas semanas 4, 8, 12 e 16 para revisão médica e dietética. Coletas de sangue em jejum e após refeição eram repetidas em todas essas ocasiões. Todos os pacientes tratados com placebo ou acarbose retornavam os comprimidos para contagem a cada visita e levavam suprimentos adicionais. A eficácia foi analisada pela medição dos parâmetros clínicos e bioquímicos da Síndrome X a cada visita. As medições clínicas eram peso corporal, IMC, relação cintura/quadril e pressão arterial (sistólica e diastólica). Os parâmetros bioquímicos eram HbA1c, glicose em jejum, insulina e pró-insulina, fibrinogênio, níveis de colesterol, triglicerídeo e HDL-colesterol, e níveis pós-refeição (1 e 2h) de triglicerídeos, glicose, insulina e pró-insulina. A resistência à insulina foi quantificada usando o modelo HOMA. A segurança e tolerabilidade foram analisadas através da avaliação de eventos adversos, desistências, dados laboratoriais clínicos e sinais vitais. 3. Procedimentos estatísticos A análise de intenção de tratamento (IT) foi realizada para todos os dados de segurança e eficácia dos pacientes randomizados (n = 105) que receberam pelo menos uma dose da droga ou do placebo. O princípio “último valor transportado” foi aplicado no caso de perda de dados durante a fase de tratamento ativo. A mudança do nível de HbA1c do início do tratamento para a semana 16 foi avaliada usando a análise de covariância (ANCOVA) com tratamento e centro como fatores, e o nível basal da HbA1c como co-variável. O tratamento pela interação do centro foi incluído no modelo inicial, parecendo não ser significante, e por isso excluído do modelo final. Todas as variáveis foram analisadas nas cinco visitas de avaliação (semanas 0, 4, 8, 12 e 16) usando análise de variância de medições repe- tidas (ANOVA) com tratamento e centro como fatores. A área sob a curva (ASC) (0, 1 e 2 h) foi calculada para as variáveis após teste-refeição da glicose, insulina, próinsulina e triglicerídeos, ajustando para o valor basal antes da análise estatística (ANOVA com medições repetidas). Os valores da insulina, da pró-insulina e do triglicerídeo foram transformados em logaritmos para análise estatística. Foram realizados testes-t de duas amostras para determinar diferenças de grupo entre tratamentos, a cada visita ou como especificado na Tabela 1. A partir dos resultados de relatórios anteriores, estimou-se que o tratamento com a acarbose poderia reduzir a HbA1c entre 0,65 e 1,7 %. Considerando-se uma diferença média de 0,89 % (± 1,07), foi calculado que um total de 48 pacientes (24 por grupo) poderia ser necessário para obter por significância com potência de 80 % e α = 0,05. 4. Resultados Os grupos tratados com acarbose e placebo foram semelhantes na avaliação basal, quanto às faixas etárias, distribuição por sexo, duração da diabetes e relação cintura/quadril. O IMC foi maior no grupo acarbose do que no grupo placebo (Tabela 1), e correspondentemente, os valores basais da insulina, pró-insulina e a determinação da resistência à insulina pelo modelo HOMA eram mais altos no grupo acarbose, porém não de modo significante. Durante a semana 16 do estudo, não houve diferenças em qualquer dos parâmetros clínicos medidos entre os grupos. A variável de eficácia primária foi uma mudança do nível basal da HbA1c para a semana 16. A análise de intenção de tratamento confirmou a significância estatística da acarbose sobre o placebo quanto à redução da HbA1c em 16 semanas (P = 0,003). A mudança na HbA1c no grupo acarbose foi 0,39 % maior do que no grupo placebo. Isto resultou de uma queda da HbA1c de 0,14 % no grupo acarbose, paralelamente a um aumento da HbA1c de 0,25 % no grupo placebo. Havia 83 pacientes que preenchiam o critério para análise segundo o protocolo, pois completaram o estudo obedecendo à adesão ao tratamento e a outros critérios do protocolo; 41 pacientes no grupo acarbose e 41 no grupo placebo. A análise da alteração do nível basal da HbA1c demonstrou uma diferença estatística significante (P = 0,001) de – 0,5 % entre os grupos acarbose e placebo (IC 95%: de – 0,82 até – 0,22 %). Isto ocorreu devido a uma redução média de HbA1c de 0,2 % no grupo acarbose, e um aumento médio de 0,3 % no grupo placebo entre as duas avaliações. A Tabela 2 mostra a mudança nos parâmetros bioquí- R. Scott et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 90–95 93 Tabela 2 Valores de jejum da semana 0 até a 16ª Semana de tratamento HbA1c (%) GJ (mmol/l) Insulina (pmol/l)c Pró-insulina (pmol/l)c Colesterol (mmol/l) Triglicerídeos (mmol/l)c Colesterol HDL (mmol/l) Fibrinogênio A P A P A P A P A P A P A P A P ANOVA (P) 0b 4 8 12 16 7.00 ± 0.87 6.89 ± 0.85 8.32 ± 1.78 7.71 ± 1.46 70.0 ± 1.79 56.8 ± 1.66 19.9 ± 2.01 18.1 ± 2.39 5.80 ± 1.37 5.86 ± 1.21 1.83 ± 1.73 2.08 ± 1.53 1.05 ± 0.26 0.99 ± 0.31 3.51 ± 2.16 3.24 ± 0.78 6.94 ± 0.80 6.93 ± 0.92 7.95 ± 1.64 7.74 ± 1.96 68.3 ± 1.79 55.7 ± 1.75 17.7 ± 2.06 16.6 ± 2.07 5.68 ± 1.18 5.94 ± 1.03 1.76 ± 1.51 2.17 ± 1.57 1.01 ± 0.28 1.00 ± 0.32 3.25 ± 0.57 3.12 ± 0.65 6.86 ± 0.74 7.05 ± 1.07 7.77 ± 1.42 8.01 ± 1.80 73.4 ± 1.83 56.0 ± 1.77 18.7 ± 2.14 18.4 ± 2.37 5.87 ± 1.26 6.06 ± 1.18 1.81 ± 1.76 2.08 ± 1.79 1.00 ± 0.28 1.03 ± 0.34 3.23 ± 0.60 3.15 ± 0.71 6.90 ± 0.76 7.06 ± 1.21 7.77 ± 1.63 8.25 ± 2.09 72.3 ± 2.00 56.0 ± 1.70 18.1 ± 2.05 18.2 ± 2.06 5.85 ± 1.28 5.96 ± 1.15 1.70 ± 1.65 2.11 ± 1.70 1.02 ± 0.26 1.01 ± 0.32 3.27 ± 0.51 3.12 ± 0.69 6.86 ± 0.79 7.14 ± 1.19 7.86 ± 1.83 8.61 ± 2.32 74.3 ± 1.91 56.5 ± 1.71 19.2 ± 2.09 16.6 ± 2.46 5.76 ± 1.17 6.14 ± 1.17 1.68 ± 1.71 2.23 ± 1.60 1.05 ± 0.25 1.05 ± 0.32 3.23 ± 0.54 3.10 ± 0.72 0.003 0.0001 0.89 0.96 0.25 0.03 0.16 0.99 a HbA , hemoglobina glicosilada; GJ, glicemia em jejum; A, grupo tratado com acarbose; P, grupo tratado com placebo. Valores de P são 1c relatados para análise de variância com medidas repetidas. b Diferenças não significativas (P < 0,05) entre os grupos para qualquer parâmetro na semana 0. c Média geométrica micos e hormonais em jejum nas 16 semanas de estudo. Em relação ao tempo, os níveis de glicose plasmática em jejum aumentaram no grupo placebo e caíram no grupo tratado com acarbose (P < 0,0001). Da mesma forma, a ASC para a glicose foi significativamente maior (P < 0,0001) no grupo placebo comparado com o grupo acarbose (Fig. 1). Foram observadas diferenças significantes para os níveis de triglicerídeos em jejum (logarítmicos) mas não para níveis de colesterol em jejum, HDL colesterol, fibrinogênio, insulina ou pró-insulina (Tabela 2). Não houve diferenças ao longo do tempo nas avaliações de resistência à insulina. A ASC logarítmica para triglicerídeos após os testes de refeição não foi significativamente diferente no grupo placebo comparado com o grupo acarbose ajustando para as diferenças basais. A ASC da insulina pós-prandial e da próinsulina quase alcançaram significância (P = 0,06 e 0,07, respectivamente) com variação reduzida da insulina e da pró-insulina nos pacientes tratados com acarbose. Noventa e seis por cento (51/53) dos pacientes que receberam acarbose relataram algum grau de eventos adversos, em comparação com 94 % (49/52) dos pacientes no grupo placebo. Em ambos os grupos, estes eventos ficaram restritos ao sistema gastrointestinal e não foram limitantes do tratamento. A flatulência foi o evento adverso mais comum tanto no grupo acarbose como no grupo placebo. Noventa e dois por cento (49/53) dos pacientes tratados com acarbose relataram flatulência em comparação a 37 % (19/52) dos pacientes que receberam placebo. Oito por cento (4/53) dos pacientes que receberam acarbose desistiram de participar do estudo e 8 % dos pacientes do grupo placebo (4/52) também desistiram, indicando como motivo eventos adversos. 5. Discussão O principal objetivo do estudo foi determinar se a acarbose melhorou o perfil metabólico dos pacientes obesos com diabetes mellitus tipo 2. Todos os pacientes selecionados demonstraram algumas ou todas as características da Síndrome X. Os principais componentes desta síndrome metabólica são intolerância à glicose, obesidade andróide, hipertensão, dislipidemia, hiperinsulinemia e resistência à insulina. A despeito da randomização, houve diferenças entre os níveis basais dos dois grupos. O grupo acarbose incluiu apenas caucasianos, enquanto que o grupo placebo incluiu cinco pessoas asiáticas e de outros grupos étnicos. O IMC também foi diferente entre os grupos, apesar da distribuição por sexo ter sido semelhante. Como uma conseqüência deste maior peso corporal no grupo acarbose, os níveis de insulina mostraram uma tendência para diferença estatística entre os grupos, que foi considerada nas análises pelo ajuste para as diferenças basais. A acarbose melhorou o controle metabólico, como 94 R. Scott et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 90–95 refletido pelos níveis de HbA1c, e de glicose em jejum e pós-prandial. Na semana 16 o nível de glicose em jejum foi de 0,4 mmol/l mais baixo do que o nível basal no grupo tratado com acarbose, enquanto que no grupo placebo os níveis foram de 0,9 mmol/l mais altos do que o nível basal. As respostas à glicose após refeição foram reduzidas em 37 % comparando a semana 16 com o nível basal do grupo acarbose, e não mostraram mudança no grupo placebo. Estas melhoras nos parâmetros glicêmicos são consistentes com os resultados de estudos clínicos anteriores com acarbose [6-11]. A magnitude da melhora na HbA1c no estudo atual, porém, foi menor do que o esperado. Isto pode ter sido devido ao bom controle do grupo de estudo como um todo (média HbA1c = 7,0 %), a duração de relativamente curta 16 semanas do estudo e ao fato de ter havido mais indivíduos obesos e resistentes à insulina no grupo acarbose. Além disso, mudanças pós-prandiais podem ser menos importantes do que níveis basais de glicose quanto à HbA1c. O último relatório da Associação de Diabetes Alemã [11], que tomou como base dados dos mais recentes estudos duplo-cegos biometricamente planejados, encontrou melhora média em HbA1c de aproximadamente um ponto percentual em pacientes sob tratamento com acarbose. Glicose Proinsulina (P<0,0001) 25 (P=0,07) 90 80 70 mmol / l.h mmol / l.h 20 15 10 60 50 40 30 20 5 10 0 0 4 8 12 0 16 0 semana 4 400 mmol / l.h mmol / l.h 500 3 200 1 100 4 8 semana 16 12 16 (P=0,06) 300 2 0 12 Insulina 600 (P=0,25) 5 0 8 semana Triglicérides 6 4 0 Acarbose (n = 53) Placebo (n = 52) 0 4 8 12 16 semana Fig. 1. Médias das ASCs com IC 95 % (0-2h) para níveis de glicose, insulina, pró-insulina e triglicerídeos durante os testes de tolerância à refeição nas semanas 0, 4, 8, 12 e 16; grupos de intenção de tratamento acarbose vs. placebo. Níveis significantes relatados são ANOVA (medidas repetidas) para ASC, ajustados quanto aos valores basais. R. Scott et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 90–95 As respostas à insulina pós-prandial para os grupos acarbose e placebo são diferentes. No grupo acarbose a ASC da insulina pós-prandial diminuiu e, em contraste, aumentou no grupo placebo. As mesmas tendências foram observadas para pró-insulina. Pode ser necessário um número maior de indivíduos para essas diferenças tornarem-se significantes. Com a redução nos níveis de glicose e nas respostas à insulina, a produção de VLDL pode ser reduzida resultando em uma diminuição das concentrações de triglicerídeos. Apesar de terem sido observados níveis de triglicerídeos em jejum mais baixos com acarbose, não foram encontradas diferenças significativas para mudanças pós-refeição. O nível basal do colesterol e do HDL-colesterol não foram estatisticamente diferentes entre os grupos na avaliação basal e não foram influenciados pela terapia de acarbose. Seria de esperar que uma redução dos níveis de triglicerídeos em jejum poderia mudar a composição do LDL, proporcionando um perfil lipídico mais favorável com aterogenicidade reduzida. A concentração plasmática de triglicerídeos é um fator determinante importante para a formação de pequenas partículas de LDL densas “tipo B” [20,21]. Acredita-se que o potencial aterogênico destas partículas é elevado por sua capacidade de sofrer oxidação mais prontamente do que partículas LDL “tipo A” maiores. Concluindo, os pacientes que receberam acarbose mostraram reduções nos níveis de HbA1c, glicose em jejum e triglicerídeos, e concentrações de glicose e insulina pós- refeição. Estes fatores hormonais e bioquímicos são considerados importantes para o aumento de eventos cardiovasculares observados nos indivíduos com diabetes mellitus tipo 2. Os resultados do presente estudo indicam que a acarbose foi capaz de melhorar muitos dos fatores metabólicos centrais da Síndrome X no diabetes mellitus tipo 2, a saber, hiperglicemia, dislipidemia e hiperinsulinemia, apesar de não ter sido observada mudança na sensibilidade à insulina. Estes efeitos são provavelmente uma conseqüência de ações primárias da acarbose no metabolismo intestinal dos carboidratos, apesar de outros efeitos específicos do medicamento não poderem ser excluídos. Novos estudos a longo-prazo são necessários para estabelecer se os efeitos glicêmicos, lipídicos e metabólicos secretórios de insulina da acarbose são sustentados e se o agente desempenha um papel farmacológico na redução de taxas de eventos cardiovasculares em indivíduos com diabetes mellitus tipo 2. Referências [1] G.M. Reaven, Role of insulin resistance in human disease, Diabetes 37 (1988) 1595–1607. [2] R.A. DeFronzo, E. Ferrannini, Insulin resistance: a multifaceted syndrome responsible for type 2 diabetes, obesity, hypertension, dyslipidemia, and atherosclerotic cardiovascular disease, 95 Diabetes Care 14 (1991) 173–194. [3] N.M. Kaplan, The deadly quartet: upper-body obesity, glucose intolerance, hypertriglyceridemia, and hypertension, Arch. Intern. Med. 149 (1989) 1514–1520. [4] G. Panzram, Mortality and survival in type 2 (non-insulin dependent) diabetes mellitus, Diabetologia 30 (1987) 123–131. [5] J. Head, J.H. 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Diabetes Clínica Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas Diabetes Clínica 03 (1999) 97–102 Melhor controle glicêmico e redução das complicações diabéticas no diabetes de tipo 2: comparação com o DCCT L.M. Molyneaux *, M.I. Constantino, M. McGill, R. Zilkens, D.K. Yue Diabetes Center of Royal Prince Alfred Hospital and Department of Medicine of The Uni6ersity of Sydney, 2nd Floor, QE 11Building, 59Missenden Road, Camperdown, NSW 2050, Australia Resumo Objetivo: Construir curvas dose-resposta relacionando o desenvolvimento das complicações diabéticas (retinopatia e microalbuminúria) com a exposição glicêmica média num coorte de pacientes de tipo 2 seguidos por um período de vários anos. Isto permite uma comparação com dados semelhantes em sujeitos com tipo 1 relatados pelo “Diabetes Control and Complications Trial” (DCCT) e fornece a base racional para se decidir que níveis de controle glicêmico devem ser atingidos para aconselhar pacientes individuais e na formulação das diretrizes para conduzir serviços de saúde. Desenho da pesquisa e métodos: Esta foi uma análise de dados colhidos prospectivamente em nosso banco de dados computadorizados de pacientes com tipo 2 que foram atendidos e acompanhados no Serviço de Avaliação das Complicações de nosso Centro de Diabetes. O desenvolvimento inicial da retinopatia e da microalbuminúria foi analisado com respeito à HbA1c média durante o período de acompanhamento. Procedimentos estatísticos idênticos aos empregues no DCCT foram usados para construir a curva dose-resposta. Resultados: Foi encontrada uma relação proporcional entre o desenvolvimento de retinopatia com o aumento da hiperglicemia. Para cada 10 % de diminuição da HbA1c, houve uma redução de 24 % (intervalo de confiança (CI): 16-32) do risco relativo, cerca de 2/3 do que foi relatado para pacientes com diabetes mellitus insulino-dependente (DMID). A relação entre albuminúria e HbA1c foi mais linear e menos inclinada com redução de 9 % do risco relativo (CI: -2 – 19 %) para cada 10 % de queda da HbA1c, cerca de 1/3 do que foi relatado para pacientes com DMID. Não pôde ser encontrado o limiar da HbA1c para o risco relativo de desenvolver complicações. Entretanto, mais casos de complicações são prevenidos pelo mesmo grau de melhora do controle glicêmico a níveis mais altos da HbA1c. Conclusões: O desenvolvimento da retinopatia diabética nos sujeitos com tipo 2 também está relacionado à magnitude da hiperglicemia embora o grau de dependência seja menor do que aquele do tipo 1. O controle glicêmico tem menor influência na microalbuminúria do tipo 2. Em termos de risco relativo, não pôde se achado o limiar de “HbA1c segura” mas em termos absolutos mais casos de complicações diabéticas podem ser prevenidos pela melhora do controle glicêmico dos pacientes muito hiperglicêmicos. © 1998 Elsevier Science Ireland Ltd. Todos os direitos reservados. Palavras-chave: Redução de risco; DCCT, retinopatia, microalbuminúria, diabetes do tipo 2 © 1998 Elsevier Science Diabetes Research and Clinical Practice 42 (1998) 77–83 * Autor correspondente. Tel.: +61 2 95159715, fax: +61 2 95159780, e-mail: [email protected] PII: S0168-8227(98)00095-3 98 L.M. Molyneaux et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 97–102 1. Introdução Os benefícios de se atingir a quase normoglicemia em sujeitos com tipo 1 foram estabelecidos sem equívoco pelos achados do DCCT [1, 2]. O que foi debatido na literatura é se existe um limiar abaixo do qual melhora adicional do controle da glicemia não resulta numa redução substancial das complicações diabéticas [3, 4]. Esta é uma importante questão porque a quase normoglicemia no diabetes de tipo 1 somente pode ser alcançada às custas do aumento de hipoglicemia. Portanto, levando em consideração a relação risco/benefício, é importante não só no aconselhamento de um paciente individual se ele/ela deveria submeter-se a tratamento intensivo com insulina, mas também na decisão de quanto dos recursos para saúde pública devem ser gastos no suporte desta filosofia de tratamento. Neste contexto, informações sobre a forma e inclinação da curva doseresposta relacionando o desenvolvimento de complicações diabéticas ao controle glicêmico é crucial. Enquanto o DCCT forneceu excelentes dados a esse respeito, uma abordagem semelhante para a análise para o diabetes tipo 2 é muito mais rara, embora nós sabemos que existe bastante evidência de que hiperglicemia está associada a mais complicações [5-9]. Portanto, estudamos dados de nosso banco de dados computadorizados para examinar a relação entre o desenvolvimento inicial das complicações diabéticas e controle glicêmico ao longo do tempo para pacientes de tipo 2 que compareceram em mais de uma ocasião ao nosso Serviço de Avaliação de Complicações. Empregando procedimentos estatísticos idênticos aos usados no DCCT [1-3], nosso objetivo foi o de comparar nossos dados com aqueles do DCCT para avaliar se melhora do controle da glicemia em pacientes de tipo 2 irá resultar no mesmo grau de redução do risco de complicações diabéticas [10]. 2. Materiais e métodos 2.1 Avaliação das complicações No sistema de cuidados ao diabético oferecido pelo nosso Centro de Diabetes, pacientes são encaminhados por médicos de cuidados primários, especificamente para avaliação das complicações do diabetes [11]. Isto inclui avaliação da acuidade visual, exame da retina por fundoscopia direta através de pupilas dilatadas, colheita de uma amostra de urina matinal para avaliação de microalbuminúria [12] e também exame da sensibilidade, reflexos e pulsos dos membros inferiores. Sangue é colhido para dosagem da HbA1c, bioquímica de rotina e determinação dos lípides. O exame de fundo de olho foi conduzido por um médico. A validade dos achados retinianos feitos pelo médico foi verificada por um oftalmologista. Os resultados mostraram uma sensibilidade de 100 %, especificidade de 80% e um valor preditivo positivo de 93 %, para a detecção de qualquer grau de retinopatia. A concordância entre os dois também foi medida e houve excelente acordo (κ = 0,85; P < 0,0001). Todos outros procedimentos foram feitos de acordo com um protocolo padronizado o qual não variou substancialmente durante o período de tempo coberto por este estudo e resultados de cada visita foram colocados num banco de dados computadorizados desenhado para o estudo [13]. Os pacientes são reencaminhados pelo médico de cuidados primários para outra avaliação de complicações, conforme um Protocolo De Cuidados Divididos a intervalos que variam entre 1 e 4 anos dependendo da gravidade e duração do diabetes [13]. Com o propósito de cálculo estatístico, retinopatia em nossos pacientes foi definida como o desenvolvimento de qualquer retinopatia diabética no exame do fundo de olho. Isto é comparável à classificação do DCCT “início mantido de retinopatia” em seu coorte primário [3]. Microalbuminúria em nossos pacientes foi definida como concentração urinária de albumina maior do que 30 mg/ l, semelhante à definição do DCCT que era maior do que 40 mg/dia. A HbA1c foi medida pelo HbA1c BIORAD, CA, USA; CV < 2 %) e a média das medidas seriadas da HbA1c foi usada para estimar a exposição glicêmica cumulativa. A albumina foi medida com o uso de um kit de radioimunoensaio disponível comercialmente pelo Diagnostic Product (UK). 2.2. Pacientes Novecentos e sessenta e três sujeitos tipo 2 (definido pelos critérios da OMS) [14] que não tinham retinopatia na visita inicial e que tinham feito visitas subsequentes para Avaliação de Complicações formou o coorte para esta análise. Na visita inicial a média das idades era de 57,5 anos (variação interquartil (VI) 50,0 – 64,6) e a duração média do diabetes 3,8 anos (variação VI 0,8 – 8,8). O percentuais de tratamento com dieta, agente oral e insulina eram 27 %, 63 % e 10 %, respectivamente, e sua HbA1c média era 7,8 % (variação VI 6,7 – 9,5, normal 4,0 – 6,0). Eles fizeram uma média de 3,5 visitas (variação 2 – 6) durante um período de 28 meses (variação VI 16,4 – 45,1). Um grupo de 399 pacientes que tinham concentração normal de albumina na urina na primeira visita foi analisado para o desenvolvimento de microalbuminúria. Em nosso Centro de Diabetes, 60 % dos pacientes compareceram à Avaliação da Complicações dentro do período de estudo de 4 anos. Compara- L.M. Molyneaux et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 97–102 99 40 Taxa por 100 paciente-anos 35 30 25 20 35% 15 10 35% 5 24% 0 24% -5 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 HbA1C (%) Fig. 1. Risco absoluto de retinopatia para sujeitos de tipo 2 e tipo 1. –––– Dados do tipo 2*; - - - - - Dados do tipo 1 (DCCT)**. *Modelo de regressão de Poisson: α = 8,63, β =2,62 (coeficiente de ln HbA1c). **Modelo de regressão de Poisson: α =11,68, β = 4,13 (coeficiente de ln HbA1c), β1 = 0,5*0,15 (coeficiente para grupo de tratamento). ção dos pacientes que retornaram contra aqueles que não retornaram não revelou diferença significante na clínica e complicações exceto que o primeiro grupo teve uma proporção mais alta de tratamento com agentes hipoglicêmicos orais na visita inicial (63 % versus 55 %). 2.3. Métodos estatísticos A relação entre a exposição à glicose ao longo do tempo e nova retinopatia ou microalbuminúria foi avaliada com o uso da HbA1c seriada. Para permitir a comparação dos dados com os de pacientes com diabetes mellitus insulino-dependente (DMID), foram usados os procedimentos estatísticos empregues pelo DCCT [3]. Os gradientes de risco para retinopatia e microalbuminúria em nossos sujeitos com diabetes mellitus não-insulino-dependente (DMNID) foram estimados a partir de um modelo de regressão de Poisson com o uso de log natural (ln) da média da HbA1c seriada. Uma relação linear entre ln (HbA1c) versus retinopatia e ln (HbA1c) versus microalbuminúria nos permitiu calcular a redução do risco de complicações para qualquer redução de 10 % da HbA1c. Esta redução permaneceu constante ao longo de todas variações da HbA1c, ([(0,9β - 1)*100], onde β é o coeficiente para ln (HbA1c). A relação entre ln (HbA1c) e o risco absoluto por 100 paciente-anos para o desenvolvimento de retinopatia ou microalbuminúria foi calculado a partir do modelo de regressão de Poisson. O risco absoluto de um evento por 100 pacienteanos foi apresentado nas unidades originais [exp(ln100)+ α + (β *ln HbA1c); onde α = intercepto e β = coeficiente de ln(HbA1c). Os intervalos de confiança foram calculados para os modelos de regressão de Poisson, (ainda que não por fazer as Figuras 1 e 2 muito complexas para serem representadas graficamente). O DCCT usou um ln (0,5) anos, uma vez que seus pacientes foram avaliados a cada 6 meses. Nosso coorte com pacientes do tipo 2 foi avaliado em diferentes períodos de tempo, portanto nossa definição para cada sujeito é a diferença de tempo ln em anos a partir da primeira visita. O DCCT [3] não encontrou limiar significante para os gradientes de risco da HbA1c ≤ 8,0 % e maior do que 8,0 % para retinopatia e microalbuminúria. Nós também analisamos nossos dados usando HbA1c menor ou igual a 8,0 % e maior do que 8,0 % como ponto de corte para permitir comparação com o DCCT. O modelo de Poisson foi definido com um limiar variável [≤ ln 8,0 % = 0 e se > 8,0 % = (ln HbA1c média – log 8,0 %)]. O limiar (≤ 8,0 % e > 8,0 %) foi testado com o uso de um teste Wald. 100 L.M. Molyneaux et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 97–102 Taxa por 100 paciente-anos 12 10 9% 8 9% 6 25% 4 2 25% 0 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 HbA1C (%) Fig.2. Risco absoluto de microalbuminúria para sujeitos de tipo 2 e tipo 1. –––– Dados do tipo 2*; - - - - - Dados do tipo 1 (DCCT)**. *Modelo de regressão de Poisson: α = 4,68, β =0,92 (coeficiente de ln HbA1c). **Modelo de regressão de Poisson: α =9,18, β = 2,79 (coeficiente de ln HbA1c), β 1 = 0,5*0,15 (coeficiente para grupo de tratamento). A análise estatística foi feita com o uso dos programas SAS e NCSS (Number Crunching Statistical System). Dados contínuos foram analisados com o uso do teste-U Mann-Whitney e expressos como mediana e CI. Dados categóricos foram analisados usando o teste qui quadrado e expresso como uma proporção com 95 % CI. Significância estatística foi aceita abaixo do nível 0,05. 3. Resultados A incidência anual de retinopatia e microalbuminúria no coorte tipo 2 foi 5,7 % (CI: 4,0 – 7,2) e 8,3 % (CI: 5,7 – 10,9), respectivamente. Houve uma relação linear encontrada entre ln (HbA1c) versus retinopatia e ln (HbA1c) versus microalbuminúria, a qual foi semelhante ao do DCCT. A percentagem de redução no risco de retinopatia e microalbuminúria para uma redução de 10 % da HbA1c é mostrada na Tabela 1. Valores correspondentes para a DCCT [3] também são mostrados para comparação. Houve uma diminuição significante do risco de retinopatia para uma redução de 10 % da HbA1c (χ² = 25,6; P< 0,0001), entretanto, a redução de risco correspondente encontrada para microalbuminúria em nossa população DMNID não alcançou significância es- tatística (χ² = 2,6; P < 0,1). A relação entre o risco absoluto (risco por 100 paciente-anos) de desenvolver retinopatia ou microalbuminúria diabética e a HbA1c média são mostradas nas Figuras 1 e 2, respectivamente. Dados semelhantes publicados pelo DCCT em pacientes do tipo 1 estão novamente incluídos para comparação. Como pode ser visto na figura 1, os resultados de nossos pacientes de tipo 2 mostram uma curva suave relacionada ao desenvolvimento da retinopatia diabética com o aumento da hiperglicemia. A Fig. 1 mostra também que para cada 10 % de diminuição da HbA1c (p.ex., de 11,0 % para 9,9 %), houve uma diminuição de 24 % (CI: 16-32) de redução do risco relativo no desenvolvimento de retinopatia e isto pode ser comparado ao do DCCT (início mantido da retinopatia) que foi de 35 % (CI: 29-41). Em termos absolutos, nestes sujeitos de tipo 2, uma redução da HbA1c de 11,0 % para 9,9 % reduziu o risco em três casos por 100 paciente-anos, enquanto para os mesmos 10 % de redução, o DCCT encontrou uma diminuição de 6,5 casos por 100 paciente-anos. Diminuindo a HbA1c de 8,0 % para 7,2 % reduziu o risco em pacientes de tipo 2 em um caso por 100 paciente-anos e no DCCT, 0,8 casos por 100 paciente-anos. O risco absoluto de redução do risco absoluto para retinopatia é maior quanto L.M. Molyneaux et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 97–102 Tabela 1 Reduções no risco de retinopatia e microalbuminúria para uma redução de 10% da HbA1c em Diabetes tipo 2 e pacientes DCCT Complicação Retinopatia (NIDDM) Retinopatia (DCCT)a Microalbuminúria (NIDDM) Microalbuminúria (DCCT)a % redução de risco 95% CI 24 35 9 (16–32)* (29–41)* (–2–19) 25 (19–32)* Modelo de regressão de Poisson *P<0,0001. a Modelo ajustado para tratamento intensivo vs. convencional. mais alta a HbA1c e o redução do risco relativo é cerca de 2/3 daquele relatado para os pacientes do tipo 1. A Figura 2 mostra que a relação entre microalbuminúria e HbA1c para os pacientes do tipo 2 foi mais linear e menos inclinada com uma redução do risco relativo de 9 % (CI: 2-19) para cada 10 % de queda da HbA1c, enquanto o DCCT encontrou uma redução do risco de 25 % (CI: 19-32). Considerado em termos absolutos, nestes sujeitos do tipo 2, uma redução da HbA1c de 11 % para 9,9 % reduziu o risco do desenvolvimento de microalbuminúria em 0,8 casos por 100 paciente-anos, enquanto que para a mesma redução, o DCCT encontrou uma redução de 2,1 casos por 100 paciente-anos. Diminuição da HbA1c de 8,0 % para 7,2 % reduziu o risco em 0,6 casos por 100 paciente-anos e no caso do DCCT 0,9 casos por 100 paciente-anos. Em nossos pacientes de tipo 2 não houve diferença significante nos gradientes de risco para HbA1c menor ou igual a 8,0 % e maior que 8,0 % com respeito à retinopatia (χ² = 0,6; P < 0,4) ou microalbuminúria (χ² = 0,5; P < 0,5). Achados semelhantes foram encontrados pelo DCCT. 4. Conclusões Estes dados mostram que o desenvolvimento de retinopatia em sujeitos com tipo 2 esta relacionado à magnitude da hiperglicemia, embora o grau de dependência seja menor do que no tipo 1 [1-3, 15-17]. No caso da microalbuminúria, a relação é mais fraca, presumivelmente refletindo que muitos outros fatores podem influenciar a excreção de albumina nos sujeitos com tipo 2 [18, 19]. A relação das complicações em pacientes diabéticos com tipo 2 com hiperglicemia e outros fatores de risco foi estudada por outros [20, 21]. Como nosso objetivo foi o de comparar nossos dados do tipo 2 com dados do tipo 1 do DCCT, nós não apresentamos os re- 101 sultados ajustando as variáveis confundidoras tais como a pressão arterial e níveis de lipídeos. Para ambas complicações examinadas, em termos de risco relativo, nenhum limiar para HbA1c “segura” pode ser encontrada. Em termos absolutos, entretanto, grau semelhante de melhora do controle da glicemia preveniria mais casos de retinopatia em sujeitos que são muito hiperglicêmicos. Klein et al. [5] e Ohkubo et al. [6] também têm amplos dados sobre o desenvolvimento de retinopatia e microalbuminúria em sujeitos do tipo 2. Os dados de Klein et al. foram baseados na observação de um grande coorte de pacientes. Os dados de Ohkubo et al. foram prospectivos, intervencionais e forneceram grande quantidade de informações muito necessárias nesta área. No entanto, por ter usado os mesmos procedimentos estatísticos e apresentação do que o DCCT, nossos resultados propiciam aos clínicos e planejadores de saúde pública uma comparação mais direta entre os sujeitos de tipo 1 e 2 para ajudá-los no aconselhamento de pacientes individuais e na distribuição dos recursos para saúde pública [10]. Como nós não tiramos fotografias da retina para permitir graduação, nós limitamos nossa análise ao desenvolvimento de retinopatia nova, mas não em sua deterioração, tal como a progressão mantida de três níveis incluída no DCCT. Nossos dados são somente observacionais por natureza enquanto aqueles do DCCT foram derivados de um ensaio randomizado intervencional. No entanto, nossos dados dão informações sobre a magnitude da relação entre as complicações diabéticas e controle da glicemia num grupo de pacientes razoavelmente representativo do paciente “médio” com tipo 2 [13]. O conhecimento disto é importante. Em pacientes com diabetes de tipo 2, especialmente aqueles com obesidade e resistência grave à insulina, o melhor controle do diabetes é freqüentemente conseguido com posologia mais elevada de agentes farmacológicos com ganho excessivo de peso. Para se tomar decisões racionais, clínicos e pacientes precisam saber o quanto eles ganham em termos de redução das complicações. Nós ficamos impressionados de observar que mesmo ao longo de um período relativamente curto de tempo, pior controle metabólico mostrou estar definitivamente associado com maior aparecimento de retinopatia. Isto indica a necessidade do controle da hiperglicemia dos pacientes de tipo 2, sem demora. 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Diabetes Clínica Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas Diabetes Clínica 03 (1999) 103–111 Acúmulo de gordura pré-peritoneal estimada através de ultra-sonografia em pacientes com diabetes mellitus não-insulino dependente Kazumi Tayama a *, Toshihiko Inukai a, Yohnosuke Shimomura b a Department of Medicine, Koshigaya Hospital, Dokkyo University School of Medicine 2- 1- 50 Minami-Koshigaya, Koshigaya, 343- 8555, Japan b Department of Medicine, Gunma Prefectural Medical College, Maebashi, 371- 0052, Japan Resumo A gordura pré-peritoneal é um indicador de acúmulo de gordura visceral, que está estreitamente relacionada a arteriosclerose e doença arterial coronariana em pacientes obesos. Avaliamos a relação do acúmulo de gordura peritoneal e as várias características clínicas em 90 pacientes com diabetes mellitus não-insulino dependente (DMNID). O acúmulo de gordura pré-peritoneal e subcutânea foi medido através de ultrasonografia. Tanto em homens diabéticos quanto em mulheres diabéticas, os níveis de gordura pré-peritoneal foram significativamente maiores do que em indivíduos saudáveis pareados por idade. Determinamos também a pressão arterial, a glicose plasmática em jejum, a hemoglobina glicosilada A1, lípides séricos, insulina imunoreativa em jejum (IIJ), peptídeo C urinário diário (CPR), leptina sérica, excreção urinária de albumina e índice de massa corporal (IMC). Destes parâmetros, IMC, IIJ, leptina e CPR urinária diária foram correlacionadas de forma positiva com o acúmulo de gordura pré-peritoneal. Os pacientes submetidos apenas a terapia a base de dieta apresentaram níveis de gordura préperitoneal significativamente maiores do que os que receberam insulina. No sexo feminino, os pacientes com aumento na gordura pré-peritoneal apresentaram uma maior prevalência de hipertensão do que aqueles com diminuição da gordura. Os pacientes macroalbuminúricos tinham menos gordura pré-peritoneal do que os pacientes microalbuminúricos e normalbuminúricos. Pacientes com retinopatia proliferativa apresentaram menos gordura pré-peritoneal do que aqueles que não apresentaram retinopatia. Os níveis de gordura pré-peritoneal foram relacionados de forma positiva com a velocidade de condução do nervo motor ou sensório. Conclusões: Estes achados sugerem que nos pacientes DMNID, o aumento no acúmulo de gordura pré-peritoneal está estreitamente associado a obesidade, hipertensão e hiperinsulinemia, e modula negativamente a microangiopatia diabética incluindo a nefropatia, retinopatia e neuropatia. ©1999 Elsevier Science Ireland Ltd. Todos os direitos reservados. Palavras Chave: Gordura visceral; insulina, leptina, DMNID © 1999 Elsevier Science Diabetes Research and Clinical Practice 43 (1999) 49–58 Autor correspondente. Tel.: +81-489-651111; fax: +81-489-651127 PII: S0168-8227 (98) 00118-1 104 K. Tayama et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 103–111 1. Introdução 2. Materiais e métodos A síndrome X é um estado de doença que inclui a hiperinsulinemia, tolerância a glicose prejudicada, hipertensão, níveis aumentados de triglicerídeos plasmáticos e diminuição do colesterol de lipoproteína de altadensidade (HDL), todos eles estão associados ao aumento do risco de doença arterial coronariana [1]. A obesidade também contribui para o desenvolvimento da doença arterial coronariana [2, 3]. Em humanos, a gordura visceral desempenha um papel significativamente maior do que a gordura subcutânea no desenvolvimento da arteriosclerose [4]. Embora os níveis de gordura visceral possam ser determinados de forma precisa pela tomografia computadorizada (TC), este método é caro, envolve exposição a radiação, e está disponível somente em um número limitado de instituições. Suzuki et al. [5] estabeleceram que a determinação dos níveis de gordura pré-peritoneal através de ultra-sonografia pode substituir a medição através da TC da gordura visceral. Esta abordagem pode ser realizada de forma fácil e rápida, e portanto, é de maior utilidade clínica. Estudos iniciais, entretanto, avaliaram o papel da gordura pré-peritoneal somente em pacientes com hiperlipidemia e intolerância a glicose, mas não em pacientes com diabetes mellitus. Embora a significância clínica do acúmulo de gordura visceral na obesidade tenha sido estabelecida [4], o papel do acúmulo de gordura pré-peritoneal em pacientes diabéticos ainda tem que ser esclarecido. Levantamos a hipótese de que a gordura pré-peritoneal estaria mais estreitamente envolvida no desenvolvimento da macroangiopatia diabética, do que na microangiopatia diabética. O objetivo do presente estudo portanto foi investigar a relação entre o acúmulo de gordura pré-peritoneal e a patogênese do diabetes mellitus não-insulino dependente (DMNID) e suas complicações associadas. O estudo incluiu 90 pacientes japoneses com DMNID (44 homens, 46 mulheres, média de idade: 54,4 ± 8,4 anos) e 258 indivíduos saudáveis pareados por idade (Tabela 1). A duração média do DMNID foi de 6,7 ± 4,8 anos, e a média do índice de massa corporal (IMC) foi de 24,2 ± 4,7 kg/m2. Os níveis de gordura pré-peritoneal e subcutânea foram determinados através de ultra-sonografia [5] utilizando-se instrumentos Toshiba SSA-270A (Tóquio, Japão). Com o paciente em posição supina, o raio linear (37,5 MHz) foi mantido em posição perpendicular a pele sobre a parte superior média do abdome, e a varredura longitudinal foi realizada do processo xifóide até o umbigo ao longo da linha branca. Os pacientes foram solicitados a inspirar, manter o ar preso para manter a superfície do fígado em posição paralela a pele. A espessura das camadas de gordura subcutânea e pré-peritoneal foram medidas diretamente na tela usando-se compassos eletrônicos. A espessura máxima da gordura pré-peritoneal e a espessura mínima da gordura subcutânea foram usadas como marcadores representativos. Cada valor foi calculado como a média das duas medidas. A fim de evitar a influência da condição respiratória ou tensão da parede abdominal, todos os indivíduos foram examinados em repouso e com relaxamento no abdome. Pacientes DMNID foram classificados em quatro grupos baseados no sexo e espessura da gordura pré-peritoneal calculada pela média ± 2 D.V. como a seguir: grupo A (n = 27) incluiu homens com gordura pré-peritoneal ≤ 8,1 mm; grupo B (n = 17) incluiu homens com gordura peritoneal ≥ 8,1 mm; grupo C (n = 23) incluiu pacientes do sexo feminino com gordura pré-peritoneal £ 8,4 mm; e grupo D (n = 23) incluiu pacientes do sexo feminino com gordura préperitoneal > 8,4 mm. Também determinamos os níveis da glicose plasmática em jejum (GPJ), reatividade do peptídeo-C (RPC) Tabela 1 Perfil dos pacientes DMNID e indivíduos controles saudáveis N.º Idade (anos) IMC (kg/m2) DM-Du (anos) HbA1c Gordura P (mm) Gordura S (mm) Homens DMNID Controles 44 123 51.6 ± 12.3 52.4 ± 4.2 25.8 ± 5.6 24.6 ± 1.3 6.0 ± 4.5 — 10.0 ± 2.6 — 11.1 ± 5.0* 7.3 ± 0.4* 10.4 ± 3.9 10.1 ± 0.5 Mulheres DMNID Controles 46 126 56.5 ± 5.4 55.3 ± 1.8 22.9 ± 3.8 23.8 ± 1.5 7.2 ± 5.0 — 10.9 ± 1.5 — 8.5 ± 3.4** 7.6 ± 0.4 12.2 ± 3.5** 14.4 ± 0.5 IMC, índice de massa corporal, DM-Du, duração do diabetes; HbA1c, A1c hemoglobina glicosilada. Gordura-P, gordura pré-peritoneal, Gordura S, gordura subcutânea. *P < 0.01 **P < 0.05 vs. controles saudáveis do mesmo sexo K. Tayama et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 103–111 Homa-I = GPJ (mmolA) x IIRJ (µU/ml)/22,5 As concentrações de leptina sérica foram medidas através do radioimunoensaio usando um kit comercial (kit de Leptina Humana RIA; Research, St. Charles, MO, USA) como descrito anteriormente [7]. Para determinar a presença da retinopatia diabética, os pacientes foram examinados pelo oftalmologista e classificados dentro de três grupos a saber: retinopatia não diabética (n = 44), retinopatia diabética simples (n = 8), e retinopatia diabética proliferativa (n = 38). A eliminação da albumina urinária foi determinada pelo imunoensaio enzimático [8] e expresso como a relação do nível da albumina urinária (mg) para o nível de creatinina urinária (gCr). A nefropatia diabética foi definida como eliminação da albumina urinária > 30 mg/gCr. Os pacientes foram classificados em três grupos de acordo com a eliminação da albumina urinária como segue: normo-albuminúria (n = 45) foi definida como eliminação da albumina urinária < 30 mg/gCr, micro-albuminúria (n = 21) como eliminação da albumina urinária entre 30 e 200 mg/gCr, e macro-albuminúria (n = 24) como eliminação de albumina > 200 mg/gCr. Para avaliar a presença da neuropatia diabética foram feitas medições da velocidade de condução do neurônio motor no nervo mediano e a velocidade de condução do nervo sensório no nervo sural. O coeficiente da variação do intervalo de R-R (CVR-R) no eletrocardiograma foi usado como um indicador da função do nervo autônomo. Todos os dados foram expressos como a média ± D.P.. As diferenças entre os grupos nos valores da média ou a prevalência da doença foram avaliadas pelo teste-t não pareado de Student ou c²-teste, respectivamente. As correlações foram determinadas pela análise de regressão linear múltipla. O nível de P < 0,05 foi aceito como significância estatística. acúmulo significativamente maior de gordura pré-peritoneal do que os indivíduos do controle. Inversamente, o acúmulo da gordura subcutânea foi significativamente menor nos pacientes DMNID do sexo feminino do que em indivíduos pareados por controle. Então comparamos as características clínicas dos diferentes grupos de pacientes (Tabela 2). Os pacientes do grupo B (homens com acúmulo elevado de gordura préperitoneal) eram significativamente mais jovens do que os pacientes do grupo A (homens com acúmulo normal de gordura pré-peritoneal). Não houve diferença significativa entre as idade do grupo D (mulheres com acúmulo elevado de gordura pré-peritoneal) e grupo C (mulheres com acúmulo normal de gordura pré-peritoneal). O IMC e o acúmulo de gordura subcutânea foram significativamente elevados nos grupos B e D comparados com os grupos A e C, respectivamente. Também avaliamos a relação entre os níveis de gordura pré-peritoneal e o tratamento anti-diabético administrado. Entre ambos os pacientes masculinos e femininos, a proporção daqueles que eram tratados com terapia alimentar ou com agentes hipoglicêmicos orais foi maior entre os pacientes com acúmulo elevado de gordura pré-peritoneal (grupos B e D) do que entre aqueles com acúmulo normal de gordura pré-peritoneal (grupos A e C). Além disso, o acúmulo de gordura pré-peritoneal foi significativamente maior nos pacientes masculinos e femininos tratados somente com dieta em comparação com os pacientes tratados com agentes hipoglicê- 40 gordura-P (mm) urinário diário, níveis séricos da hemoglobina glicosilada A1c (HbA1c), insulina imuno-reativa em jejum (IIRJ), colesterol total, triglicerídeos e HDL-colesterol dos pacientes. Como um indicador para resistência à insulina, usamos o índice para o acesso ao modelo de homeostase (HOMA-I) proposto por Matthews et al. [6]. O cálculo do HOMA-I foi feito através da seguinte fórmula: 105 30 P<0,05 P<0,05 P<0,05 P<0,05 P<0,05 20 10 0 Feminino Masculino Dieta AOH Insulina 3. Resultados Primeiro comparamos o acúmulo da gordura nos pacientes DMNID e controles de saúde pareados quanto à idade e IMC (Tabela 1). Ambos os pacientes DMNID do sexo masculino e do sexo feminino apresentaram um Fig. 1: Comparação do acúmulo da gordura pré-peritoneal (gorduraP) entre pacientes DMNID do sexo masculino e feminino tratados somente com dieta, agentes orais hipoglicêmicos (AOH) ou insulina. Todos os dados são apresentados como a média ± D.P. 106 K. Tayama et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 103–111 Tabela 2 Características clínicas dos pacientes DMNID classificados conforme o sexo e o acúmulo de gordura pré-peritoneala Masculino Grupo A No. Idade (anos) IMC (kg/m2) Du-DM (anos) Gord-S (mm) Terapia (D/AHO/I) GPJ (mg/ml) HbA1c IIRJ (µU/ml) PC-U (µg/dia) HOMA-I Leptina (ng/ml) CT (mg/ml) TG (mg/ml) HDL-C (mg/ml) Prevalência de HT Prevalência de PDR Prevalência de MaAU VCNM VCNS CVR R 27 60.5 ± 10.3 20.3 ± 2.4 6.7 ± 4.3 7.2 ± 1.8 1/9/7 206.8 ± 71.8 12.0 ± 3.2 6.6 ± 3.6 17.8 ± 13.7 3.4 ± 1.1 3.2 ± 2.1 215.7 ± 26.0 147.9 ± 47.6 50.7 ± 24.8 7/27 (26) 115/27 (56) 112/27 (44) 42.9 ± 1.7 37.0 ± 3.5 1.68 ± 0.82 Feminino Grupo B 17 44.0 ± 13.7* 30.5 ± 6.0** 5.4 ± 4.3 13.1 ± 4.4 * 3/10/4* 175.6 ± 49.9 8.3 ± 1.4* 7.4 ± 4.1 42.4 ± 24.5 3.2 ± 0.9 65 ± 4.0 183.4 ± 34.9 175.0 ± 86.0 42.7 ± 6.0 4/17 (24) 2/17 (12)* 0/17 (0)* 54.3 ± 1.7*** 49.4 ± 3.7 ** 3.18 ± 1.03 Grupo C 23 54.8 ± 4.5 20.8 ± 2.6 8.1 ± 4.9 10.8 ± 3.2 0/6/17 269.5 ± 66.8 11.2 ± 1.2 3.0 ± 1.6 23.3 ± 21.7 2.0 ± 0.6 3.6 ± 1.8 214.2 ± 48.3 116.8 ± 41.1 59.8 ± 19.5 6/23 (26) 14/23 (61) 9/23 (39) 48.7 ± 6.4 41.8 ± 3.3 1.54 ± 0.68 Grupo D 23 60.6 ± 6.5 28.1 ± 2.3*** 5.0 ± 4.4 15.6 ± 2.7* 3/13/7* 199.4 ± 35.8* 10.1 ± 1.8 9.2 ± 4.9** 66.5 ± 17.6** 4.5 ± 0.8** 9.0 ± 5.6** 222.6 ± 43.9 183.6 ± 68.5* 57.0 ± 19.2 11/23 (48)* 7/23 (39) 3/23 (13)* 56.8 ± 0.8** 49.0 ± 7.3* 2.26 ± 0.95 a IMC: índice de massa corporal; Du-DM: duração do diabetes; Gord-S: gordura subcutânea; D: somente dieta; AHO: agentes hipoglicêmicos orais; I: insulina; GPJ: glicose plasmática de jejum; HbA1c: hemoglobina glicosilada A1c; IIRJ: insulina imunoreativa de jejum; PC-U: peptídeoC urinário; HOMA-I: índice para avaliação do modelo de homeostase: CT: colesterol total; TG: triglicerídeos; HDL-C: colesterol de lipoproteína de alta densidade; HT: hipertensão; RBP: retinopatia diabética proliferativa; MaALU: microalbuminúria; VCNM: velocidade de condução do nervo motor; VCNS: velocidade de condução do nervo sensorial; CVR-R: o coeficiente do intervalo de tempo da variância de R-R; grupo A: pacientes diabéticos do sexo masculino com acúmulo de gordura pré-peritoneal £ 8,1 mm; grupo B: pacientes diabéticos do sexo masculino com acúmulo de gordura pré-peritoneal > 8,1 mm: grupo C: pacientes diabéticos do sexo feminino com acúmulo do gordura pré-peritoneal £ 8,4 mm; grupo D: pacientes diabéticos do sexo feminino com acúmulo de gordura pré-peritoneal > 8,4 mm. * P < 0,05 **P < 0,01 *** P < 0,001 vs. grupo A ou grupo C do mesmo sexo de acordo com o teste-t de não impedimento ou teste-c2 de Student. micos orais ou insulina (Fig. 1). Nos pacientes do sexo masculino, o aumento do acúmulo de gordura pré-peritoneal em pacientes com agentes hipoglicêmicos orais comparados com aqueles tratados com insulina também foi estatisticamente significativo. Não houve diferença significativa do IMC entre os pacientes do sexo masculino e os do sexo feminino que receberam diferentes esquemas de tratamento (dados não apresentados). O controle da glicose sangüínea foi menor nos pacientes do grupo A ou grupo C comparado com os pacientes do grupo B ou grupo D, respectivamente. IIRJ, RPC urinário diário, HOMA-I e níveis lipídicos séricos foram significativamente maiores no grupo D do que no grupo C. Com relação aos lipídios, os níveis de triglicerídeos séricos, foram significativamente mais altos em pacientes no grupo B do que no grupo C. Nos pacientes do sexo feminino, a prevalência de hipertensão foi sig- nificativamente mais alta no grupo D do que no grupo C, enquanto nos pacientes do sexo masculino e feminino, a prevalência da retinopatia diabética progressiva ou macro-albuminúria foi muito mais alta nos grupos A e C do que nos grupos B e D. Finalmente, as funções neurológicas periféricas, incluindo neurônio motor e velocidade de condução do nervo sensorial e CVR-R foram significativamente piores nos grupos A e C comparados com os grupos B e D. Em ambos os pacientes masculinos e femininos, os níveis de leptina sérica apresentaram uma correlação positiva significativa com IMC e o acúmulo de gordura pré-peritoneal (Fig. 2). O acúmulo de gordura pré-peritoneal também estava correlacionado de forma significativa com os níveis de IIRJ e com RPC urinário diário (P < 0,01) (Fig. 3). Entre vários marcadores, as maiores associações determinadas pela gordura pré-peritoneal leptina sérica (ng/ml) K. Tayama et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 103–111 30 20 N = 43 R = 0,807 P < 0,001 10 ças não foram estatisticamente significativas. Finalmente, com relação à neuropatia diabética, o acúmulo de gordura pré-peritoneal nos pacientes do sexo masculino e do sexo feminino mostraram uma correlação negativa significativa com a velocidade de condução do nervo sensório e neuromotor (Fig. 5), assim como em CVR-R (dados não apresentados). 0 10 30 20 40 50 IMC (kg/m²) eptina sérica (ng/ml) 107 30 20 N = 43 R = 0,21 P < 0,001 10 0 0 5 10 15 20 25 gordura-P (mm) 4. Discussão O objetivo principal deste estudo foi elucidar a relação da gordura pré-peritoneal, que foi escolhido como um marcador do acúmulo de gordura visceral, com a patogênese do DMNID. Demonstramos que os níveis de gordura pré-peritoneal foram significativamente mais altos nos pacientes diabéticos comparados com idade, sexo, IMC pareados em indivíduos saudáveis. Os pacientes tratados com agentes hipoglicêmicos orais tiveram um maior acúmulo da gordura pré-peritoneal comparados com pacientes tratados somente com terapia de dieta ou com insulina. Além disso, a extensão do acúmulo de gordura pré-peritoneal mostrou correlações positivas significativas com IMC, leptina sérica, IIR em Fig. 2. Correlações entre os níveis de leptina sérica e o índice de massa corporal (IMC) (painel inferior) ou acúmulo de gordura préperitoneal (gordura-P) (painel inferior) em pacientes do sexo masculino ( ) e feminino ( ) com DMNID. IIRJ (uUml) 20 N = 56 R = 0,545 P < 0,01 10 0 0 5 10 15 20 25 gordura-P (mm) 120 PRC-U (ug/dia) foram a leptina sérica (R = 0,821), o IIR de jejum (R = 0,545) e os níveis de RPC urinário diário (R = 0,544). Também pesquisamos a relação entre o acúmulo de gordura pré-peritoneal e a severidade da triopatia, retinopatia, nefropatia e neuropatia diabética. Com relação à retinopatia diabética, o acúmulo de gordura préperitoneal em pacientes do sexo masculino foi de forma significativa mais baixo naqueles com retinopatia progressiva do que naqueles sem retinopatia e retinopatia simples (Fig. 4). Em pacientes do sexo feminino, diferenças significativas no acúmulo de gordura préperitoneal somente existiram entre aqueles com retinopatia progressiva e aqueles sem retinopatia. O acúmulo de gordura pré-peritoneal também variou entre pacientes com graus diferentes de nefropatia diabética. Assim, o acúmulo de gordura pré-peritoneal foi significativamente menor nos pacientes do sexo masculino com microalbuminúria ou macroalbuminúria do que em pacientes com normoalbuminúria (Fig. 4). Os níveis de gordura pré-peritoneal apresentaram uma tendência mais baixa nos pacientes do sexo feminino com microalbuminúria comparados com aquelas com microalbuminúria ou normoalbuminúria, mas as diferen- 30 100 80 60 N = 64 R = 0,544 P < 0,05 40 20 0 0 5 10 15 20 25 gordura-P (mm) Masculino Feminino Fig. 3. Correlação entre o acúmulo de gordura pré-peritoneal (gordura-P) e insulina imunoreativa sérica em jejum (IIRJ) (painel superior) ou peptídeo-C urinário diário (PRC-U) (painel inferior) em pacientes do sexo masculino ( ) e feminino ( ) com DMNID. 108 K. Tayama et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 103–111 30 P<0,05 P<0,05 20 10 0 Masculino Feminino NND RDS RDP 30 gordura-P (mm) P<0,01 P<0,01 20 10 0 Masculino Feminino AUN MiAU os volumes de gordura subcutânea e visceral de todo o corpo. Estudos prévios sugeriram que o índice de gordura da parede abdominal (uma relação de gordura subcutânea/pré-peritoneal) pode ser um bom indicador de acúmulo de gordura visceral (5), comparável à relação S/V TC-derivado (9). Os índices de gordura da parede abdominal calculados a partir dos nossos dados, entretanto, variaram substancialmente e não se correlacionaram com qualquer dos marcadores diabéticos. Este resultado contrastava com os achados baseados nos níveis de gordura pré-peritoneal isolados. Consequentemente, os valores absolutos do acúmulo da gordura pré-peritoneal podem ser marcadores mais úteis no acúmulo de gordura visceral do que o índice da parede abdominal. Em consonância com relatórios anteriores [10-11], encontramos que a gordura pré-peritoneal, leptina sérica e IMC estavam intimamente correlacionados entre si nos pacientes DMNID. Os níveis de leptina sérica nos pacientes do sexo feminino foram significativamente mais altos do que nos pacientes do sexo masculino. Além disso, os níveis de gordura subcutânea eram substancialmente mais altos nos pacientes do sexo feminino do que nos pacientes do sexo masculino enquanto os níveis de gordura pré-peritoneal eram muito mais baixos nos MaAU Fig. 4: Comparações do acúmulo de gordura pré-peritoneal (gorduraP) entre pacientes DMNID do sexo masculino e feminino com vários graus de retinopatia diabética (painel superior) ou nefropatia (painel inferior). Todos os dados mostram a média ± D.P. NND: nefropatia não diabética; RDS: retinopatia diabética simples; RDP: retinopatia diabética proliferativa; AUN: albuminúria normal; MiAU: microalbuminúria; MaAU: macroalbuminúria. 70 VCNM (m/sec) gordura-P (mm) P<0,05 60 50 N = 73 R = 0,551 P < 0,01 40 30 0 5 10 15 20 25 gordura-P (mm) 70 VCNS (m/sec) jejum e RPC urinário diário. Em contraste, a gordura pré-peritoneal foi negativamente correlacionada à idade do paciente assim como aos marcadores para o metabolismo glicólico, tais como a glicose plasmática em jejum e HbA1c. Finalmente, o desenvolvimento e/ou progressão da retinopatia, nefropatia ou neuropatia diabética foi associada ao acúmulo substancialmente reduzido da gordura pré-peritoneal. O acúmulo de gordura pré-peritoneal e subcutâneo medido através de ultra-sonografia tem apresentado uma correlação positiva com a área da gordura visceral (V) e a área da gordura subcutânea (S), respectivamente, medido através de TC (5). Por isso nós hipoteticamente achamos que o acúmulo de gordura pré-peritoneal e subcutâneo conforme determinado por este método apropriado, não-invasivo, podem ser bons marcadores para 60 50 N = 61 R = 0,713 P < 0,001 40 30 0 5 10 15 20 25 gordura-P (mm) Fig. 5. Correlações entre o acúmulo de gordura pré-peritoneal (gordura-P) e velocidade de condução do nervo motor (VCNM) (painel superior) ou velocidade de condução do nervo sensorial (VCNS) (painel inferior) em pacientes do sexo masculino ( ) e feminino ( ) com DMNID. K. Tayama et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 103–111 pacientes do sexo feminino do que no masculino. Estes achados sugerem que os níveis elevados de leptina nos pacientes do sexo feminino são principalmente devidos ao aumento no acúmulo de gordura subcutânea do que no acúmulo de gordura pré-peritoneal. Estudos anteriores demonstraram que a hiperinsulinemia induz a liberação de leptina dos tecidos adiposos [12-14]. Devido ao aumento no acúmulo de gordura pré-peritoneal estar intimamente associado à resistência a insulina ou hiperinsulinemia [15-16], um aumento no acúmulo de gordura pré-peritoneal em DMNID pode contribuir, pelos menos em parte, para a ativação da secreção da leptina. Também pesquisamos a relação entre o esquema de tratamento do diabético e o acúmulo de gordura préperitoneal. Os pacientes tratados somente com dieta ou com agentes hipoglicêmicos orais (principalmente sulfoniluréia) apresentaram um acúmulo acentuadamente aumentado de gordura pré-peritoneal comparado com os pacientes tratados com insulina. Uma vez que os pacientes tratados com hipoglicêmicos orais também apresentaram um IMC elevado comparado aos pacientes tratados com insulina, o aumento do acúmulo de gordura pré-peritoneal observado naqueles pacientes pode resultar em um efeito farmacológico da sulfoniluréia no acúmulo de gordura. Esta hipótese é sustentada pelos achados de que a sulfoniluréia, a glibenclamida, aumenta a leptina circadiana e as concentrações de insulina [17], e podem contribuir para o ganho de peso nos pacientes. Em contrapartida, Groop et al. [18] enfatizaram que os pacientes com diabetes tipo 2 não demonstraram mudança no peso corporal durante a terapia com sulfoniluréia, apesar da massa corporal magra e a dependência de energia diminuírem significativamente. Esta observação sugere que a proporção da gordura visceral, incluindo gordura pré-peritoneal em todo o corpo pode aumentar durante o tratamento com sulfoniluréia. No estudo atual, os pacientes que receberam terapia com insulina tenderam a apresentar níveis baixos de gordura pré-peritoneal, possivelmente resultando na redução do IMC devido a deficiência de insulina. Consequentemente, os pacientes tratados com agentes hipoglicêmicos orais podem apresentar em grande risco de arteriosclerose comparado aos pacientes tratados com insulina. O acúmulo de gordura visceral tem demonstrado induzir a macroangiopatia, incluindo arteriosclerose [49]. Porém, a relação entre o acúmulo de gordura visceral e as microangiopatias diabéticas permanece obscura. No atual estudo, os pacientes com triopatia diabética progressiva (nefropatia, retinopatia e neuropatia) apresentaram valores menores de gordura pré-peritoneal do que os pacientes sem estas complicações. Estas observações sugerem que o acúmulo de gordura pré-perito- 109 neal é um modulador negativo para microangiopatias diabéticas. Também achamos que o metabolismo da glicose como indicado pela glicose plasmática em jejum e o glicosilado HbA1c era relativamente insatisfatório em pacientes com triopatia diabética do que em pacientes sem estas complicações. Um bom controle da concentração de glicose sangüínea tem demonstrado retardar ou prevenir muitas das complicações a longo prazo do diabetes [19]. Os resultados atuais sugerem que o metabolismo da glicose, porém não o acúmulo da gordura pré-peritoneal, está intimamente associado ao desenvolvimento da microangiopatia diabética. Estudos anteriores indicaram que a gordura visceral, e não a gordura subcutânea, reduz a disposição da glicose mediada pela insulina [20]. Em pacientes com microangiopatia, porém, o metabolismo reduzido da glicose é devido principalmente à deficiência de insulina mais do que à falta de sensibilidade à insulina induzida pelo acúmulo de gordura visceral. Finalmente, estudos epidemiológicos prospectivos estabeleceram a obesidade visceral como um fator de risco independente para o desenvolvimento de DMNID [21]. Estas observações sugerem que a microangiopatia e a macroangiopatia não se desenvolveram necessariamente de forma concomitante. No atual estudo, também demonstramos que nos pacientes DMNID, o acúmulo de gordura pré-peritoneal se correlaciona de forma positiva a IIR sérica e RPC urinário. O acúmulo de gordura pré-peritoneal tem sido considerado como a causa ou o resultado para a hiperinsulinemia [22] agravando a sensibilidade à insulina [23]. Além disso, a hiperinsulinemia estimula o aumento da glicose dentro dos tecidos e acelera o acúmulo de gordura através da ativação lipogênica [16, 20]. Até agora, a questão se a gordura pré-peritoneal ou a gordura subcutânea têm um papel primário na estimulação da secreção de insulina ainda não foi esclarecida. No atual estudo, as duas gorduras demonstraram uma correlação semelhante ao TRT e RPC urinário. Consequentemente, podemos distinguir entre o efeito da gordura pré-peritoneal e a gordura subcutânea na estimulação da insulina. Achamos que as pacientes do sexo feminino do grupo de maior de gordura pré-peritoneal mostrou HOMAI significativamente mais alto do que o grupo com menos gordura, o que sugere que o aumento do acúmulo de gordura pré-peritoneal está intimamente relacionado à resistência à insulina. Nossa observação é compatível com os relatórios anteriores de que a gordura visceral está envolvida na resistência à insulina [4, 9]. Ainda mais, considera-se que a gordura da parte superior do corpo está intimamente associada à arteriosclerose no quarteto mortal [2]. O atual estudo identificou 110 K. Tayama et al. / Diabetes Clínica 01 (1999) 103–111 vários pacientes diabéticos com acúmulo de gordura pré-peritoneal acentuadamente elevado que foram tratados com hipoglicêmicos oral, apresentaram hiperinsulinemia ou não experimentaram triopatia diabética. Entretanto, sendo o estudo cruzado e não longitudinal, não foi possível determinar se o acúmulo de gordura pré-peritoneal acelerou o desenvolvimento e/ou a progressão da arteriosclerose. O acúmulo de gordura intra-abdominal por si só pode ser importante na patogênese da hipertensão em pacientes obesos [24]. O atual estudo mostrou a alta prevalência significativa da hipertensão apresentada nos pacientes do sexo feminino diabéticos com mais acúmulo de gordura pré-peritoneal do que naqueles com menos acúmulo de gordura pré-peritoneal, o que pode com certeza sustentar suas teorias [24]. Conforme definição de Reaven [1], a Síndrome X inclui a hipertensão, a resistência à insulina, a tolerância prejudicada a glicose e metabolismo lipídico deficiente, mas não a obesidade. A patogênese do acúmulo excessivo de gordura pré-peritoneal é semelhante ao da Síndrome X; porém, estas diferenças entre os dois processos parecem existir quanto a presença ou não da obesidade. O estudo atual não detectou correlações significativas entre o acúmulo de gordura pré-peritoneal e triglicerídeos séricos, colesterol total e HDL-colesterol. Em contraste, Fujioka et al. [25] relatou que em indivíduos obesos, o metabolismo da gordura visceral foi mais severamente prejudicado do que o metabolismo da gordura subcutânea. A discrepância entre os dois estudos pode resultar das diferenças dos indivíduos estudados. Por exemplo, o atual estudo incluiu alguns pacientes DMNID obesos. Porém, no atual estudo a maioria dos pacientes recebeu medicamentos para diminuir os lípides para que seus níveis lipídicos séricos em condições basais não pudessem ser determinados corretamente. Um estudo anterior demonstrou que a síntese da lipoproteína de muito baixa densidade (VLDL) está aumentada no fígado de ratos obesos com lesões VHM [26]. Consequentemente, é possível que pacientes diabéticos obesos possam apresentar não somente acúmulo de gordura excessivo pré-peritoneal mas também fígado gorduroso rico em VLDL. Em resumo, os resultados atuais sugerem que o acúmulo de gordura pré-peritoneal é importante nas macroangiopatias, mas não nas microangiopatias dos pacientes DMNID, e demonstrou que a medição da gordura pré-peritoneal através da ultra-sonografia é extremamente útil e conveniente para a estimativa do acúmulo de gordura visceral. Mas precisamos especificar que a veracidade da técnica é relativamente limitada, comparada a outra técnica de medição de gordura visceral que usou TC abdominal, porque a técnica atual utiliza a medição de somente uma pequena área de gordura préperitoneal, que é muito sensível para o status respiratório e tensão da parede abdominal. Recentemente, um polimorfismo receptor b-adrenérgico foi usado como um marcador genérico para obesidade da gordura visceral e síndrome da resistência à insulina [27]. Quando a natureza do acúmulo de gordura pré-peritoneal em pacientes diabéticos puder ser pesquisada através de métodos biológicos moleculares semelhantes [28] ou novos modelos animais como camundongos C57BL/6J [29], sua significância clínica na patogênese do diabetes poderá ser esclarecida. Referências [1] G.M. Reaven, Role of insulin resistance in human disease, Diabetes 37 (1988) 1595–1607. [2] N.M. Kaplan, The deadly quartet: upper body obesity, glucose intolerance, hypertriglycedemia, and hypertension., Arch. Int. Med. 149 (1989) 1514–1520. [3] R.A. DeFronzo, E. Ferrannini, Insulin resistance: a multifaceted syndrome responsible for NIDDM, obesity, hypertension, dyslipidemia, and atherosclerotic cardiovascular disease, Diab. Care 14 (1991) 173–194. [4] Y. Matsuzawa, S. Fujioka, K. Tokunaga, S. Tarui, Classification of obesity with respect to morbidity, Proc. Soc. Exp. Biol. Med. 200 (1992) 197–201. [5] R. Suzuki, S. Watanabe, Y. Hirai, K. Akiyama, T. Nishide, Y. Matsushima, H. 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Contato: DOC/ AMMG/ ÍCARO, tel.: (031) 222-7266 / fax: (031) 222-7288 8/9 a 11/9 Regulación del Peso Corporal y Obesidad Pamplona, Espanha tel: 948425600, fax: 948425649 e-mail: [email protected] 9/9 a 11/9 IV Latin American Congress, 4th Argentinian Congress 6th Rioplatense Meeting on Obesity and Eating Disorders Buenos Aires, Argentina http://rri.sari.ac.uk/iotf/conferences/ 28/9 a 02/10 35 th Annual Meeting of the European Association for the Study of Diabetes Contact: Professeur Pierre Lefebvre Department of Medicine CHU Sart Tilman B-4000 Liege 1 - Belgium fax: +32 4 366 7068 OUTUBRO 08/10 a 14/10 XII Congresso Brasileiro de Diabetes VIII Encontro Nacional de Educação em Diabetes III Encontro Nacional de Associações de Diabéticos I Curso Brasileiro de Diabetes para Diabéticos e Familiares R. Guilhermino Rezende, 275- B. São José - Aracaju – SE tel/fax (079) 224-1013 e-mail: [email protected] NOVEMBRO 13/11 a 15/11 1o Encontro Brasileiro de Diabetes organização: APAD (Associação Paranaense Assistência ao Diabético) tel.: (041) 244-7711 Presidente: Maria Cecília M da Rocha Carneiro 14/11 (Dia Mundial e Nacional do Diabetes) Segunda Campanha Nacional Gratuita de prevenção, Educação e Detecção em Diabetes Informações: ANAD tel: (011) 549-6704 e 572-6559 14/11 a 18/11 1999 NAASO Annual Meeting Charleston Place, Charleston, SC. Contato: Office of CME, Medical University of South Carolina, 810 MUSC Complex, Suite 802, Charleston, SC 29425. DEZEMBRO 10/10 a 12/10 5th Meeting for the Implementation of the St Vincent Declaration “Health for All in Diabetes” Istanbul, Turkey Contact: The St Vincent Declaration , Regional office for Europe Scherfigsvej 8, 2100 Copenhagen 0, Denmark tel: +45 39 17 1325 / fax: +45 39 17 1864 e-mail: [email protected] 5/12 a 8/12 V Congresso Nacional da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição SBAN Centro de Convenções Rebouças, São Paulo, SP tel.: (011) 871-0728 / fax: (011) 871-2421 Diabetes Clínica JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS Índice (vol. 3 nº 3 - 1999) Editorial Ações para melhorar a atenção aos portadores de diabetes, Fadlo Fraige Filho 115 Notícias do diabetes no mundo 116 Produtos e novidades 126 Complicações agudas do diabetes: cetoacidose e coma hyperosmolar, O. Valente 128 Perfil dos associados da Associação Nacional de Assistência do Diabético, F. Fraige Filho, K. Falkas, J. Behar, C. Mecarelli, F. Simomura, F. Chavez 134 Avaliações das associações das insulinas N e R Humanas + Lispro (H) na terapia de diabéticos tipo 1, R. F. Oliveira 140 Aspectos psicológicos do diabetes, R. Manchon dos Santos 146 Manejo da alimentação do diabético em situações especiais, C. E. Viggiano 150 Metformina: Efeitos sobre os fatores de risco cardiovascular em pacientes com diabetes mellitus não-insulino dependente, P.J. Palumbo 155 Orlistat, controle de peso e redução de fatores de risco cardiovascular, P. F. Leite 167 Diabetes Clínica JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS (Sucessor de Diabetes&Metabolism, edição brasileira) Diabetes Clínica é um jornal multidisciplinar sobre os aspectos médicos, psicológicos e sociais do diabetes e dos distúrbios associados. Para os especialistas Diabetes Clínica é um veículo de informação e formação continuada sobre o conhecimento científico da doença, a atualidade da prática clínica no tratamento do diabetes e das patologias associadas. Diabetes Clínica edita artigos científicos internacionais selecionados de Diabetes Research and Clinical Practice, e artigos de especialistas e profissionais brasileiros, selecionados pela FENAD - Federação Nacional de Assistência ao Diabético e Atlântica Editora. Diabetes Research and Clinical Practice, publicação de Elsevier Science, edita revisões e artigos originais nas áreas da epidemiologia, biologia, nutrição e prática clínica. O objetivo do jornal é favorecer a discussão interdisciplinar e internacional em todas as questões relativas a diabetologia. Diabetes Research and Clinical Practice é o jornal oficial da Federação Internacional do Diabetes (Western Pacific Region). 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Hotta, Japão (Ásia, Japão) Editors regionais : P.D. Home, Inglaterra (Europa, África), J.S. Skyler, EUA (America do Norte e America Latina), J.J. Hoet, Bélgica (Europa, África) ATLANTICA EDITORA Marketing Maurício Galvão Costa Anderson Rua Benjamim Garcez, 110 Jardim Maristela 12940-000 Atibaia – SP tel/fax: +55 11 7871 7629 cel: +55 11 9993 6885 E-mail : [email protected] Redação Jean-Louis Peytavin Rua General Glicério, 71/304 22245-120 Rio de Janeiro - RJ tel/fax: +55 21 557 73 04 E-mail : [email protected] FENAD (Federação Nacional de Associações de Diabéticos) e ANAD (Associação Nacional de Assistência ao Diabético) Rua Eça de Queiroz, 198 - Vila Mariana 04011- 031 São Paulo - SP Tel: 11 572-6559 - Fax: 11 549-6704 Site: http://www.netcomp.com.br/anad E-Mail: [email protected] © Diabetes Research and Clinical Practice, Elsevier Science Ireland Ltd. Todos os direitos reservados. 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Although all advertising material is expected to conform to ethical (medical) standards, inclusion in this publication does not constitue a guarantee or endorsement of the quality or value of such product or of the claims made of it by its manufacturer. Portuguese translation has been cared by Atlântica Editora, and is strictly for personal use. Diabetes Clínica Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas Ações para melhorar a atenção aos portadores de diabetes Fadlo Fraige Filho Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho Titular de Endocrinologia Faculdade de Medicina ABC Presidente da FENAD e da ANAD O sucesso de uma idéia pioneira – 4o Congresso Brasileiro Multiprofissional em Diabetes - promovido pela ANAD com apoio da FENAD, reuniu 872 profissionais que em apenas dois dias receberam ensinamentos de 112 palestrantes e debatedores, em 92 horas/aula. Isto só foi possível pela concomitância e ampla abordagem do programa. Realmente foi uma grande rodada na instrução, preparo e atualização em Diabetes. Entendo que este fato é fundamental na melhoria do atendimento global ao paciente diabético, tão carente neste país. O apoio decisivo de todas as Associações, Sociedades, Secretarias de Estado e Municípios e da indústria farmacêutica, é que tornou possível o Evento, que ultrapassou as expectativas. Agora vamos a outro setor - público, para o qual está dirigida a 2a Campanha Nacional Gratuita em Diabetes, de Detecção, Orientação, Educação e Prevenção das Complicações. A estratégia já está pronta, e no fechamento desta edição, já contamos com cerca de 200 parceiros para o Evento. Acredito que até 14 de novembro - Dia Mundial e Nacional do Diabetes - estaremos com o dobro de parcerias. A todos que quiserem participar nas suas Instituições, mantenham contato para enviarmos o planejamento e estratégia. O diagnóstico precoce, a orientação inicial, a educação dos que já sabem ser diabéticos, são as principais armas para a prevenção das complicações. Nesta edição selecionamos notícias recentes e um trabalho de interesse básico na prática diária. Trouxemos do 59o Congresso da American Diabetes Association em San Diego, California (Junho de 99) as novidades em produtos para diabéticos. Cartas ao Editor Científico Todas as sugestões, propostas, críticas devem ser enviados diretamente à redação de Diabetes Clínica, usando o meio o mais conveniente (correio, fax, ou e-mail): Jean-Louis Peytavin – Atlântica Editora Rua General Glicério, 71/304, CEP 22245-120 Rio de Janeiro RJ Tel/fax : (21) 557 73 04 – E-mail : [email protected] As cartas serão transmitidas ao Prof. Fadlo Fraige Filho para respostas. Cartas e respostas (ou resumos) serão publicadas no jornal, na edição seguinte à recepção, com o nome, função e cidade do remetente. Todas as sugestões referentes a tratamentos, educação, organização e vida das associações assim como propostas de artigos são bem-vindas. 116 Diabetes Clínica 01 (1999) Notícias do Diabetes no Mundo Nicole Johnson, exemplo de bom controle diabético Nicole Johnson, Miss América 99, é diabética e usuária de Humalog com bomba de insulina. Ela está fazendo nos Estados Unidos uma campanha patrocinada pela Eli Lilly de conscientização sobre a necessidade do bom controle do Diabetes, para a prevenção das complicações crônicas, mostrando um corpo saudável e levando uma vida normal. Ela esteve no Meeting da American Diabetes Association, em San Diego (Junho de 1999), no estande da Eli-Lilly, onde concedeu inúmeras entrevistas. Freddy Goldbert Eliaschewitz Coordenador do programa Brasileiro de Transplante de ilhotas Instituto de Química da FAPESP Chefe do Serviço de Endocrinologia do Hospital Heliópolis O Diabetes na virada do milênio A questão do Diabetes torna-se um dos grandes desafios científicos, médicos e econômicos no início deste novo milênio. Um dos pontos prioritários da estratégia para enfrentar esta pandemia é a diminuição do número de casos mediante medidas preventivas aplicadas às populações suscetíveis. No caso do diabetes tipo 1 envolvem tentativas de indução de imunotolerância pela vacinação com DNA, RCT (receptores de célula T) ou pela administração profilática de insulina, por via parenteral, oral ou inalada. Admite-se que o desencadeamento da resposta auto-imune, nas populações geneticamente predispostas, depende também de fatores ambientais, entre estes, está em evidência a exposição precoce ao leite bovino. Por outro lado, a demonstração que a presença de descarboxilase do ácido glutâmico (GAD) nas ilhotas é condição essencial para a agressão auto-imune, abre a perspectiva de uma terapia gênica dirigida a prevenção. No diabetes tipo 2, existe uma forte associação com a obesidade. Isso torna essencial o desenvolvimento de tratamentos mais eficientes desta condição para uma abordagem preventiva. A compreensão dos efeitos neuroendócrinos da leptina, o desenvolvimento de antagonistas de neuropeptídeo Y e finalmente, a descoberta que a inativação (knock-out) de um único gene impede o desenvolvimento da obesidade e do diabetes tipo 2 em modelos experimentais, representam avanços promissores neste sentido. Além disso, Diabetes Clínica 01 (1999) 117 continuação apareceu, este ano, a primeira evidência clínica e experimental que o diabetes tipo 2 pode ser prevenido com o uso de medicação. Um inibidor da alfaglicosidase intestinal, a acarbose, se revelou eficiente em evitar a progressão de pacientes com intolerância à glicose para o diabetes tipo 2. A demonstração inequívoca que o bom controle da glicemia impede ou retarda o aparecimento das complicações crônicas no diabetes tipo 1 (estudo DCCT) e no diabetes tipo 2 (estudos de Okamoto e UKPDS), reforça a importância de um tratamento mais eficiente. Neste sentido, têm-se investido na introdução de novas insulinas como a Lispro, já em uso, a insulina aspartato, em desenvolvimento, e mesmo novas formas de administração, com a inalada, atualmente em fase III, e a hexil-insulina oral, em fase II. Em relação ao diabetes tipo 2, que representa um mercado bilionário para a indústria farmacêutica, o desenvolvimento de novos secretagogos da insulina, como a glimepiride e a repaglinida, ao lado de drogas capazes de aumentar a sensibilidade de tecidos periféricos à insulina como os ativadores de receptores PPRP-y, estão disponíveis há dois anos. Estão em desenvolvimento análogos da Amilina e do peptídeo “glucagon-like P-1”. Este último, chamado exendine-4, tem o atrativo adicional de ser capaz de inibir a apoptose das células β e de estimular a neogênese e a replicação destas células. Quanto ao tratamento das complicações crônicas em si, a compreensão do papel dos produtos avançados da glicosilação e a inibição de sua ação pela aminoguanidina, o papel do fator de crescimento NGF e do peptídeo C, no tratamento da neuropatia diabética trazem esperança de diminuir as seqüelas desta síndrome. Finalmente, perseguindo o objetivo mais ambicioso, ou seja, a cura do diabetes, o desenvolvimento do implante de células modificadas para produzir insulina, mas resistentes ao ataque auto-imune, como as células de “parsintermedia” da hipófise, e o transplante de ilhotas modificadas geneticamente ou imunoisoladas, representam a promessa mais concreta para a cura do diabetes na virada do milênio. San Diego, Junho de 1999 FDA aprova Actos™ para diabetes tipo 2 A FDA aprovou um novo tratamento oral para diabetes tipo 2, Actos™ (hidrocloreto de pioglitazona) fabricado pela Takeda e Eli Lilly. Actos™ é a nova aquisição para a classe de agentes sensibilizantes de insulina na diabetes conhecidos como tiazolidinedionas (TZDs) e é administrado sempre uma vez ao dia independente dos horários das refeições. Quando associado à dieta e à exercícios, Actos™ tem quatro indicações terapêuticas: a monoterapia e a combinação com as sulfoniluréias, as metforminas ou à insulina para um melhor controle glicêmico em pacientes com diabetes tipo 2. Actos™ produz alterações importantes da glicemia de jejum após apenas duas a quatro semanas de tratamento e reduz os níveis médios de hemoglobina glicosilada (HbA1c). A aprovação da FDA foi baseada numa revisão de seis estudos americanos de duplo cego, placebo-controlado que envolveram mais de 4500 pacientes diabéticos tipo 2. Actos™ foi estudado como monoterapia e em combinação com insulina, metformina ou sulfoniluréias. Em cada um dos ensaios houve redução estatisticamente significativa dos níveis séricos de glicose. Os pacientes com diabetes tipo 2 freqüentemente apresentam níveis ele- 118 continuação Julho de 1999 Diabetes Clínica 01 (1999) vados de triglicerídeos e baixos níveis de HDL. Estas duas alterações aumentam os riscos de doença cardíaca especialmente em pacientes com diabetes. O uso de Actos™ quando comparado ao uso de placebo, reduziu significativamente os níveis médios de triglicerídeos e elevou os níveis médios de HDL, tanto na forma de monoterapia como em associação com as sulfoniluréias, metformina ou com a insulina. Actos™ age reduzindo a resistência do organismo à insulina, o que significa que o organismo utiliza com maior eficácia a sua própria insulina. A maioria dos efeitos colaterais observados durante os ensaios clínicos foram leves. Os mais freqüentes foram sintomas de infeção do trato respiratório superior, cefaléia, sinusite, dores musculares, dor de garganta e alterações odontológicas. O número de pacientes que utilizaram Actos™ e que abandonaram o tratamento devido aos efeitos colaterais foi similar ou inferior ao dos que utilizavam placebo. Houve ganho de peso, da mesma forma que se observa com outros componentes desta classe de drogas. Além disso, foram relatados edema de leve à moderado e anemia durante o tratamento. Os pacientes que fazem uso de Actos™ associado à insulina ou a sulfoniluréias podem estar em risco de hipoglicemia, e pode ser necessário reduzir a dose de insulina ou de sulfoniluréia. A piora do diabetes ocorreu ocasionalmente durante a realização dos ensaios clínicos. O que ocorreu em menor freqüência com o uso de Actos™ do que com placebo. Não foram relatados casos de icterícia ou falência hepática relacionados ao uso de Actos™ em ensaios clínicos controlados com o uso de placebo nos Estados Unidos. Entretanto se observa toxicidade hepática com outras drogas da classe das TZD, recomenda-se monitorar os níveis de enzimas hepáticas dos pacientes antes do início do tratamento, a cada dois meses durante o primeiro ano de tratamento e a partir de então periodicamente. GlucoWatch, dispositivo-relógio para checar sem dor os níveis de açúcar no sangue Um dispositivo experimental que irá auxiliar às pessoas com diabetes à verificar os níveis de glicose de forma indolor, demonstrou ser tão eficiente quanto as técnicas habituais que exigem picar o dedo para obter amostras de sangue. “Esta nova técnica permite aos usuários checar os níveis de glicose a cada vinte minutos ao longo do dia.- sem fazer nada uma vez tendo sido colocado e sem sentir nada além de uma sensação de formigamento,” relatou Satish K. Garg, M.D, diretor do programa de diabetes para adultos do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Colorado em Denver. O novo dispositivo chamado GlucoWatch baseia-se em uma técnica chamada ionoforese reversa, que extrai fluido intersticial da pele. O fluido é absorvido por um pequeno adesivo, chamado de auto sensor, abaixo do monitor. O nível de glicose no fluido é medido eletroquimicamente. O processo requer a aplicação de uma pequena corrente elétrica à pele usando uma bateria AAA sempre que for necessário medir a glicose. Os dispositivos atuais de automonitoração exigem que o paciente pique o dedo com uma lanceta para retirar uma gota de sangue e colocar o sangue numa fita de reação que então é inserida num glicosímetro. O estudo realizado no Colorado envolveu 39 Diabetes Clínica 01 (1999) continuação San Diego, Junho de 1999 119 indivíduos com diabetes (média de idade 31anos) que apresentavam diabetes em média há 18 anos. Portanto todos tinham vasta experiência com automonitorização de glicose. Cada um deles utilizou dois dos dispositivos no antebraço. Os dispositivos devem ser posicionados com o sensor na metade interna do braço, a pelo menos três polegadas do cotovelo ou do punho, para evitar o excesso de pelos ou a movimentação. Na primeira parte do estudo eles permaneceram na clínica por 12 horas. Após as três primeiras horas os participantes também checaram os níveis de glicose duas vezes a cada hora utilizando outros analisadores de glicemia. Os resultados demonstraram que ele forneceu valores praticamente idênticos aos obtidos utilizando os dois monitores de glicose no sangue. O produto ainda necessita de aprovação pela Food and Drug Administration e não estará disponível comercialmente por um ano ou mais. O GlucoWatch deverá ser vendido por US$ 300,00 e os auto-sensores descartáveis (trocados diariamente) por cerca de US$ 4,00. Aumento dramático da incidência de diabetes tipo adulto em crianças e adolescentes Os médicos temem desastre no futuro: Doença cardíaca precoce, derrames, e outras complicações decorrentes do aumento da incidência de obesidade e do comportamento sedentário na juventude. Estudos realizados nos Estados Unidos, Canadá e Japão mostram que a forma de diabetes que normalmente ocorre em adultos vem acometendo um número cada vez maior de crianças e adolescentes, o que poderia ser um presságio de um futuro desastre. “Até há poucos anos o diabetes tipo 2 praticamente não ocorria em pessoas jovens, e o seu aparecimento é alarmante,” explica Robin S. Goland, vice-diretor do Centro de Diabetes Naomi Berrie do Columbia Presbiterian Center em Nova York. “Devido ao danos a longo prazo aos vasos sangüíneos provocados pelas altas taxas de glicose no sangue em todo o organismo, se não realizarmos o diagnóstico adequado e instituirmos precocemente o tratamento, vamos nos defrontar com as complicações devastadoras da diabetes muito precocemente, e dentre elas podemos citar: ataques cardíacos, derrames, cegueira e amputações em pessoas de 30 anos.” Todos os relatos, realmente, enfatizam que a obesidade na infância e adolescência tem papel fundamental no desenvolvimento precoce da doença. Os relatos se apoiam em estudos feitos em Nova-York (19 crianças com diabetes tipo 2), San Diego (58 jovens diabéticos tipo 2, dos quais 83% eram obesos) e Toronto (Canadá). San Diego, Junho de 1999 Diabetes e depressão se agravam reciprocamente As pessoas que tem diabetes e também são deprimidas sofrem muito mais do que as que têm apenas diabetes, com uma qualidade de vida pior, custos médicos bem mais elevados e mais complicações do diabetes tais como doenças cardíacas. 1 + 1 são muito mais que 2 quando se somam diabetes e depressão. Devido à interação psicológica e comportamental entre o diabetes e a depressão, ambos passam a ser de controle mais difícil, aumentando os riscos de doen- 120 Diabetes Clínica 01 (1999) continuação ça cardiovascular, retinopatia diabética levando à cegueira, neuropatia, e a outras complicações. Entretanto, como a depressão pode ocorrer em até 20 por cento das pessoas com diabetes, o tratamento pode melhorar a situação, criando um ciclo de feedback positivo. A depressão tem uma importância singular no diabetes devido aos relatos de sua associação à baixa aderência ao tratamento do diabetes, controle inadequado dos níveis de açúcar no sangue, e aumento do risco de complicações da doença micro e macrovascular. Os pacientes deprimidos tem maior dificuldade em controlar os níveis de glicose no sangue mesmo quando se considera o fato de que eles dificilmente tomam conta adequadamente de si mesmas. Também o impacto hormonal da depressão que afeta os níveis de cortisol possivelmente aumenta a resistência à insulina e potencializam os efeitos aterogênicos do diabetes. A depressão tende à ser um problema recorrente em pacientes com diabetes, atingindo uma média de um episódio por ano. Entretanto, no diabetes, diferentemente da depressão associada à outras doenças como câncer e ataques cardíacos, o tratamento específico da depressão altera a evolução da doença subjacente. San Diego, Junho de 1999 Os riscos de morte existem mesmo com níveis sub-diabéticos de glicemia Os riscos potenciais da hiperglicemia surgem muito antes que o indivíduo desenvolva o diabetes. “Há um aumento progressivo do risco de morte a medida que a intolerância a glicose aumenta, e este risco independe dos fatores de risco preestabelecidos para doença cardiovascular,” relata Frederick L Brancati, professor associado de medicina e epidemiologia da Universidade Johns Hopkins. “É extremamente importante que os médicos identifiquem indivíduos com níveis anormais de glicose, especialmente aqueles em quem o diabetes não foi detectado.” O estudo baseado em dados do segundo Levantamento Nacional de Saúde e Nutrição (NHANESII) e seu estudo sobre mortalidade, ambos conduzidos pelo Centro Nacional de Estatísticas na Saúde. No levantamento 9.250 adultos (idade entre 30 e 74 anos) submeteram-se a exames de saúde detalhados entre 1976 e 1980. Os participantes foram acompanhados até 1992 para avaliar o seu desenvolvimento e avaliar causas específicas de mortalidade. O estudo enfocava adultos selecionados de forma aleatória através do teste de intolerância oral à glicose. Os indivíduos apresentam intolerância à glicose quando o resultado de um teste de duas horas é igual ou maior do que 140 mg/dl, mas abaixo de 200 mg/dl. A maioria dos testes de tolerância à glicose foram normais, mas 496 apresentavam intolerância à glicose, 196 tinham diabetes não diagnosticado, e 262 tinham diabetes previamente diagnosticado. Em comparação com aqueles cujos níveis de glicose eram normais, os epidemiologistas encontraram uma taxa de mortalidade em média 42% maior em pessoas com intolerância à glicose, até 177% a mais de risco em pacientes com diabetes não diagnosticado e de até 211% a mais de risco em pacientes com diabetes diagnosticado. Um padrão semelhante de risco foi encontrado em relação à mortalidade por doença cardiovascular. Este risco aumentado 122 continuação San Diego, Junho de 1999 Diabetes Clínica 01 (1999) persiste depois que se tomou em consideração uma grande diversidade de outros fatores de risco de morte prematura, como obesidade, hipertensão, nível de colesterol elevado e o fumo. O Dr. Brancati explica que o maior risco entre os diagnosticados provavelmente relaciona-se ao fato de que muitas pessoas não tem o diabetes diagnosticado até que ele já exista por muito anos ou quando se torna grave. “Aos 75 anos, cerca de 35% dos americanos, já faleceram. Mas estas porcentagens aumentam quando a tolerância à glicose está prejudicada – chegando a 42% dos pacientes com IGT, 52% daqueles em quem o diabetes não foi diagnosticado e 77% daqueles cujo diabetes já foi diagnosticado”. Estes dados sugerem que o aumento do risco de morte devido a uma deficiência na tolerância da glicose merece atenção médica independente de outros fatores de risco de mortalidade associados ao diabetes, como obesidade, hipertensão e níveis anormais de lípides. Diabetes e aspirina “Menos de um em cada cinco adultos americanos com diabetes entre 1988 e 1994 fazia uso regular de aspirina”, confirma Deborah B. Rolka, especialista em estatística da divisão de diabetes do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) em Atlanta. Durante aquele período conclusivas evidências médicas haviam sido apresentadas corroborando a validade este tratamento barato e eficaz. Para reduzir a incidência de doença cardiovascular, a Associação recomenda que a aspirina em dosa diárias de 81 a 325 mg seja utilizada para proteção secundária de indivíduos que já apresentem evidencia de doença e para a prevenção primária entre aqueles que apresentem fatores de risco para doença cardíaca. O levantamento da CDC indicou que 98% dos adultos americanos com diabetes ou apresenta doença cardiovascular ou um ou mais fatores de risco e portanto, seriam elegíveis para o tratamento com aspirina, se não existirem contra-indicações como alergia à aspirina, tendência a sangramentos, sangramento gastrointestinal recente e doença hepática clinicamente ativa. Terapia genética para diabetes tipo 1 e 2 Diabetes Reviews 1999;7(2):124-138 Gil Leibowitz e Fred Levine Resumo A terapia genética para o diabetes pode ser dividida em quatro abordagens principais: 1) expansão de células ou precursores celulares; 2) engenharia de glicose responsiva à secreção de insulina; 3) alteração periférica da resistência da insulina no diabetes tipo 2; e 4) modulação imune para impedir a destruição autoimune de células pancreáticas durante os estágios precoces do diabetes tipo 1 e para proteger os enxertos de ilhotas contra um ataque imunológico. A fisiopatologia do diabetes tipo 1 e tipo 2 indica que algumas propostas de terapia genética podem ser aplicadas às duas variantes da doença, enquanto outras serão específicas para cada uma destas variantes. Por exemplo, a deficiência de insulina, um fator importante nas duas variantes, pode ser abordada pela inserção in vivo ou in vitro de genes que estimulem o crescimento de Diabetes Clínica 01 (1999) continuação 123 células pancreáticas ou precursoras. Está sendo descoberto um número cada vez maior de genes envolvidos no processo de crescimento e diferenciação celular. A indução da diferenciação em precursoras endócrinas precoces é uma abordagem atraente à expansão celular, embora complexa. Uma alternativa é o manejo de glicose responsiva à secreção de insulina na ausência de células. Grandes progressos tem ocorrido nesta direção; mas, na ausência de aparato secretor de insulina intacto, é difícil obter uma estreita ligação entre a estimulação da glicose e a secreção de insulina. No diabetes tipo 2, a resistência da insulina aumenta a demanda secretória de células deficientes. Os recentes desenvolvimentos da compreensão da regulação do peso corporal, adiposidade e resistência insulínica, bem como a interação entre resistência da insulina, hiperglicemia e disfunção celular, abrem uma nova perspectiva para estratégias terapêuticas genéticas visando reduzir a resistência da insulina e proteger as células pancreáticas. Finalmente, a terapia genética pode ser útil para a prevenção primária da destruição autoimune das células pancreáticas no diabetes tipo 1 e para a prevenção da rejeição imune, auto imunidade recorrente, e apoptose de ilhotas transplantadas. O papel das anormalidades dos receptores na patogênese e complicações crônicas do diabetes tipo 2 Clin Invest Med 1999;22(3):85-105 Wei Xiong, Jean Gray Resumo O diabetes mellitus tipo 2 é uma desordem poligênica com alterações bioquímicas complicadas. Vários pesquisadores têm examinado a implicação de anormalidades dos receptores na patogênese da desordem. Os autores revisaram o papel potencial de alguns receptores importantes, como o receptor de insulina, receptor B3 adrenérgico, receptor de leptina e receptor gama ativado por proliferador de peroxisoma, na patogênese do diabetes humano tipo 2. Enfatizam a importância de um controle glicêmico eficaz através da investigação de evidências que sugerem a associação de complicações crônicas do diabetes tipo 2 com anormalidades dos receptores para os produtos finais da glicação avançada, transformando o fator de crescimento B e fator de crescimento derivado de plaquetas. O conhecimento molecular das anormalidades dos receptores e alterações na sinalização de caminhos pós-receptor pode não apenas esclarecer a patogênese do diabetes humano tipo 2, e o desenvolvimento de complicações crônicas como também possibilitar a compreensão de regimes de drogas mais eficazes que têm estes receptores como alvo. 124 Diabetes Clínica 01 (1999) O DIABETES NA IMPRENSA • “Para quem passa mais de 30 horas semanais defronte à televisão, dobram os riscos de diabetes tipo 2, segundo uma pesquisa da Universidade de Harvard” Veja, 21 de julho de 1999. • “O consumo moderado de álcool é tão benéfico para os diabéticos quanto para as outras pessoas. De uma a duas doses diárias de vinho diminuem em 80% a possibilidade de morte por doenças cardíacas” Veja, 28 de julho de 1999. 126 Diabetes Clínica 01 (1999) Produtos e novidades ArtAssist para melhorar a circulação ArtAssist aplica uma forma singular de terapia de compressão progressiva por impulso, aumentando o fluxo arterial em cerca de 2,5 a 3 vezes. É um dispositivo de compressão pneumática externa desenvolvido por cirurgiões vasculares com o exclusivo propósito de aumentar o fluxo sangüíneo arterial. O aparelho aplica pressões de impulso para o pé, tornozelo e panturrilha. ArtAssist é portátil e apropriado para uso em residência, clínica ou hospital. ArtAssist é uma terapia coadjuvante para pacientes com doença isquêmica dos membros inferiores que não são bons candidatos a cirurgia. Estes incluem úlcera de pé diabético com insuficiência circulatória, claudicação intermitente, dor de repouso por isquemia ou úlceras em pacientes sem condições cirúrgicas. Medi-Jector: livre de agulhas A liberação de um êmbolo comprimido por molas de impacto força a dose de insulina através de um pequeno buraco em uma seringa livre de agulhas. Em apenas uma fração de segundos uma pequena coluna de insulina penetra na pele, e se dispersa no tecido subcutâneo. Medi-Jector pode ser utilizado com todos os tipos de insulina, e com este novo sistema de administração é fácil de misturar insulinas, aumentar de meia unidade, visualizar a insulina dentro da seringa livre de agulha. Medi-Jector garante a injeção completa em todos os tipos de pele e não há necessidade de limpeza ou manutenção. DRx: HbA1c em alguns minutos DRx é um sistema de auto-monitoração descartável (uso único), portátil e rápido. Informa entre 5 e 10 minutos, resultados comparáveis aos realizados em laboratório, de: creatinina (urinária) e HCG (sangue), e em futuro próximo, microalbumina/creatinina, HbAlc e lípides. O custo nos Estados Unidos é de US$ 10 a 14 por unidade. Diabetes Clínica 01 (1999) 127 AtLast AtLast é um novo sistema de dosagem da glicose sangüínea que permite o seu uso em partes menos sensíveis do corpo do que as polpas digitais. Pode ser usado no braço, antebraço e coxa, onde existe menor número de terminações nervosas do que nos dedos. A microtecnologia integrada ajuda a garantir resultados acurados de amostras sangüíneas de até 2 µl apenas. As fitas de teste reduzem o risco de leituras incorretas devido a amostras inadequadas de sangue. Sistema de calibragem única diminui o potencial de erro evitando o uso de fitas com validade vencida. Os novos produtos desta página, apresentados por empresas e laboratórios em congressos, não são todos comercializados até a o fechamento desta edição. Mais informações na ANAD, tel 11 549 67 04 Diabetes Clínica Diabetes Clínica 03 (1999) 128–132 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas Complicações agudas do diabetes: cetoacidose e coma hiperosmolar Orsine Valente Prof. Adjunto de Clínica Médica da Universidade Federal de São Paulo, Prof. Adjunto de Endocrinologia da faculdade ABC (Apresentação feita no 4º Congresso Brasileiro Multiprofissional em Diabetes, ANAD, São Paulo, Julho de 1999) 1. CETOACIDOSE DIABÉTICA A cetoacidose diabética é a principal complicação aguda que acomete predominantemente no Diabetes Mellitus tipo 1. O principal distúrbio hormonal causador da cetoacidose diabética é a deficiência de insulina associada ao aumento de glucagon [7]. Os principais fatores desencadeantes da cetoacidose são: infecção, parada da aplicação de insulina, stress cirúrgico e emocional, uso de drogas hiperglicemiantes como por exemplo os corticosteróides e as endocrinopatias de hiperfunção. 1.1. Fisiopatologia e quadro clínico Quando existe diminuição da insulina com o concomitante aumento dos hormônios hiperglicemiantes Orsine Valente Rua Itapeva, 518 / 12 01332-000, São Paulo-SP tel 11 5051 1904 ocorre ativação da lipase no tecido adiposo que atua sobre os triglicerídeos degradando-os em ácidos graxos e glicerol. Dos ácidos graxos que vão ao fígado em grande quantidade, uma pequena parte é transformada em triglicerídeos e a maior parte reage com a carnitina-acil-transferase, sofre beta-oxidação e resulta na formação de grande quantidade de acetilCoA [4]. O ciclo de Krebs não conseguindo utilizar o excesso de acetilCoA, este é desviado para a formação de dois ácidos fortes B-OH butirico e o acidoacético que por decarboxilação no pulmão e na bexiga forma a cetona. Ao mesmo tempo que ocorre a lipólise ocorre também a proteólise no músculo ocorrendo a quebra de protéina em aminoácidos que vão ao fígado resultando em uréia e glicose. Este processo é chamado de neoglicogenese. No organismo a diminuição de insulina provoca menor captação de glicose pelos tecidos que associada a produção hepática excessiva de glicose resulta em hiperglicemia. A hiperglicemia provoca poliúria com conseqüente polidipsia. À medida que se acentua a acidose metabólica o paciente começa a hiperventilar ocorrendo alcalose respiratória e hálito cetônico. A repercussão da acidose metabólica a nível cerebral provoca torpor, obnubilação e pode chegar ao coma. No aparelho gastrointestinal a acidose metabólica provoca o aparecimento de náuseas, vômitos e dor abdominal. Estando vomitando e não podendo manter a polidipsia, o paciente desidrata. O. Valente / Diabetes Clínica 01 (1999) 128–132 1.2. Diagnóstico Os exames mais importantes são: · Glicemia – Em geral varia de 300-600 mg %. Embora as cifras possam ser maiores a boa função renal da criança e do adulto jovem facilita a eliminação urinária de glicose. · Corpos cetônicos – A dosagem no sangue é de difícil execução porém a pesquisa na urina é feita na maioria das vezes usando fitas reativas. · Gasometria – Acidose metabólica (pH ¯, HCO3 ¯) com alcalose respiratória (PCO2 ¯) · Eletrólitos – o Na+ apesar da desidratação tende a ser baixo no inicio do quadro. Isto ocorre porque a glicose na ausência da insulina torna-se osmoticamente efetiva no liquido extracelular, desde que não pode penetrar na célula, induzindo movimento de água da célula para o compartimento extracelular e consequentemente diluindo a concentração de sódio. · K+ – está freqüentemente aumentado no início da cetoacidose, devido à troca a nível tecidual de H+ que está em excesso entrando na célula e saindo K+ do espaço intracelular. · A acidose diabética sempre se acompanha de déficit total de Na, K, Cl, P, Ca e Mg. Este déficit aguarda relação com a duração e a intensidade de poliúria eu precede o coma e com as perdas extrarenais (vômitos, diarréia, perspiração, hiperpnéia). · Uréia – pode esta aumentada por desidratação e pelo aumento de catabolismo protéico. · Acido úrico – Em geral encontra-se aumentado devido à inibição da excreção renal. Esta inibição é provocada pelos corpos cetônicos que são excretados pelo mesmo mecanismo tubular que o ácido úrico, inibindo competitivamente o transporte deste. · Hemograma – Pode ocorrer leucocitose importante sem indicar a presença de infecção. Isto pode ocorrer só pela acidose metabólica. · Urina I – Presença de glicosúria maciça e cetonúria poderá ser identificada. 129 1.3. Tratamento Os objetivos do tratamento [2, 5] (Tabela I) de emergência de cetoacidose diabética são: 1 – Reposição volêmica 2 – Correção dos distúrbios metabólicos 3 – Correção dos distúrbios eletrolíticos 4 – Detectar os fatores precipitantes 1.3.1- Hidratação O primeiro passo no tratamento da cetoacidose diabética é o estabelecimento de uma via para infusão endovenosa. Uma veia periférica satisfaz na maioria das vezes, porém em certas circunstâncias pode ser necessária uma veia central. A hidratação será feita com SF 0,9 % 20 ml/kg/peso na 1a hora e 2a hora e 10 ml/kg/peso nas horas subsequentes. A hidratação deve ser adequada a cada paciente individualmente observado os parâmetros cardiorespiratórios e renais. Durante a hidratação rápida os cetoácidos são eliminados. O déficit de HCO3 é substituído por Cl- devido à grande quantidade no soro fisiológico para corrigir a desidratação. Neste caso na maioria dos pacientes quando a cetoacidose vai desaparecendo durante a reposição de insulina eles mostram uma hipercloremia com HCO3baixo e ânion gap normal. Isto é uma condição benigna que reverte sozinha em 12 e 24 h quando a administração de solução salina vai diminuindo. 1.3.2 – Insulina Será usada a insulina regular (ação rápida), em pequenas doses horárias via intramuscular ou endovenosa quando pudermos contar com bomba de infusão. A dose utilizada em pacientes com peso maior que 60 kg é 10 a 20 unidades na 1a hora e 5 a 10 unidades de hora em hora até a glicemia chegar a níveis de 250 mg/% quando então deve-se iniciar soro glicosado a 5 % e só insulinizar 2 a 3 horas após, de acordo com a glicemia capilar e agora por via subcutânea. Com a administração da insulina e a introdução do soro glicosado a 5% estaremos evitando a hipoglicemia e a rápida queda da osmolalidade sérica e com isto o edema cerebral. Em pacientes com peso inferior a 60 kg, a dose inicial é de 0,25 unidades/kg/peso e a dose horária é de 0,10 unidades/kg/peso. 1.3.3 – KCl 19,1% Na cetoacidose diabética o K+ se apresenta elevado na fase inicial na maioria das vezes e isto se deve à saída de K+ intracelular na troca com H+. 130 O. Valente / Diabetes Clínica 01 (1999) 128–132 Tabela I Tratamento da cetoacidose diabética 1· · · · Hidratação 1a hora – solução salina isotônica – 20 ml/kg/peso 2a hora – solução salina isotônica – 10 a 20 ml/kg/peso 3a hora – solução salina isotônica – 5 a 10 ml/kg/peso 4a hora – solução salina isotônica – 5 a 10 ml/kg/peso Obs.: A hidratação deve ser adequada a cada paciente individualmente observado os parâmetros cardiorespiratórios e renais. 2 – Insulina regular Administração de insulina IM em pequenas doses Pacientes com peso > 60 kg · Dose inicial 10 a 20 U · Dose horária 5 a 10 U Pacientes com peso < 60 kg · Dose inicial 0,25 U/kg/peso · Dose horária 0,10 U/kg/peso A insulina IM será dada até a glicemia estar em torno de 250 mg% quando será ligado um SG 5% - 500 ml. O objetivo nesta fase é manter a glicemia de jejum ao redor de 250 mg% e negativar a cetonúria. Portanto manter o soro glicosado 5% e a insulinoterapia subcutânea de 2 em 2 horas conforme a glicemia capilar. cipalmente quando se faz muito rápido pode levar a algumas complicações: Hipoglicemia – pode ocorrer com a alcalinização já que o término da acidose o K+ retorna para o meio intracelular. Acidose paradoxal no liquor – Isto ocorre quando a acidose diabética é corrigida com altas doses de HCO3. Com a redução de estimulo dos quimioreceptores responsáveis pelo mecanismo de ventilação pulmonar há retenção de CO2 que se difunde rapidamente do plasma para o liquido cefalorraquidiano o que não ocorre com o bicarbonato levando a alteração do nível de consciência. Desvio da curva de dissociação da hemoglobina – A infusão rápida de HCO3- leva a desvio da curva para esquerda levando ao aumento da afinidade da Hg pelo O2 com diminuição da oxigenação tecidual. Antibioticoterapia – deve ser usado quando o fator desencadeante for uma infecção. 3 – KCl 19,1% · 15 a 20 mEq/h diluídos em SF 0,9% - 500 ml. · A partir da 3a hora de tratamento se o K+ inicial estiver alto, estando o paciente com diurese. · Imediatamente se o K+ inicial for normal ou diminuído. 1.4. Complicações 4 – Na HCO3· Se pH 7,0 e HCO3- 5 mEq/l · 1 a 2 mEq/kg – infundir em 2h · repetir se o pH e HCO3- não aumentarem Infecção – Processos infecciosos são os maiores responsáveis pelos quadros de cetoacidose. Desidratação, má perfusão periférica e acidose são condições que facilitam o aparecimento de infecção. As principais complicações da cetoacidose diabética são: 5 – Antibioticoterapia s/n À medida que a acidose metabólica vai desaparecendo o K+ tende a diminuir no plasma e deve ser reposto ainda quando a dosagem se apresenta normal com KCl 19,1% na dose de 10 a 20 mEq/hora diluídos em 500 ml de SF 0,9%. 1.3.4 – Bicarbonato de sódio Na grande maioria das vezes não há necessidade de ser usar HCO3- já que a hidratação e a insulinização tendem a acabar com a acidose metabólica. No entanto se a acidose for muito intensa com pH < 7,0 e HCO3- < 5 mEq/l deve-se utilizar na dose de 1 a 2 mEq/kg e infundir em 2h. Repetir se o pH e o HCO3- não aumentarem. É importante ressaltar que a infusão de HCO3- prin- Persistência da cetose – Em pacientes com várias descompensações anteriores, se o fígado é gorduroso, pode ocorrer persistência da cetose através da degradação dos triglicerídeos hepáticos em ácidos graxos. Isto faz com que a cetogênose continue por horas mesmo após os níveis de ácidos graxos no plasma terem retornado ao normal. Nestes casos, quando a glicemias cai antes da reversão da acidose, deve-se infundir glicose e insulina. Choque – As causas mais prováveis na cetoacidose são a desidratação e a acidose intensa. Se após hidratação a tensão arterial não normalizar pensar em septicemia ou IAM silencioso. Edema cerebral – Ocorre geralmente em crianças ou adultos jovens, aparecendo algumas horas depois de iniciado o tratamento da acidose, na ausência de qualquer O. Valente / Diabetes Clínica 01 (1999) 128–132 outra complicação capaz de justificar o quadro. Após a melhora clínica o paciente entra de novo em coma podendo apresentar manifestações neurológicas. Em um estudo realizado par Hale et al. foi tentado identificar alguma característica que poderia ser usado para predizer o desenvolvimento do edema cerebral em crianças com cetoacidose em relação a controles. Pacientes que desenvolveram edema cerebral tinham menores valores de sódio e menores osmolalidades do que os controles. O sódio plasmático e a osmolalidade declinaram progressivamente após a terapia inicial nos pacientes com edema cerebral, enquanto permaneceu estável nos controles. Este dados sugerem que crianças que desenvolvem edema cerebral durante o tratamento da cetoacidose diabética podem ter uma osmolalidade plasmática relativamente normal e subseqüentemente desenvolver progressiva hiponatremia e uma tendência de declínio do sódio plasmático antes do desenvolvimento do edema cerebral. Trabalho recente estudou a função da acidose, osmolalidade plasmática e sinais orgânicos na patogênese do edema cerebral em ratos diabéticos. O edema cerebral que ocorreu após o tratamento foi associado com diminuído conteúdo de sódio cerebral e nenhuma mudança dos osmois orgânicos cerebrais na cetoacidose diabética. Animais tratados com solução isotônica tinham significantemente menos edema cerebral e mais alto conteúdo de sódio de que aqueles tratados com fluído hipotônico. Neste estudo, o inchaço cerebral após tratamento da cetoacidose foi primeiramente devido a uma rápida redução da glicemia e da osmolalidade e não foi causado pelo movimento da sódio para dentro do cérebro. Acidose não pareceu ter uma função importante na patogênese do edema cerebral após tratamento da cetoacidose diabética. Estes estudos mostram que a hidratação com solução isotônica e velocidade de queda menor da glicemia podem impedir o edema cerebral [6]. 2. COMA HIPEROSMOLAR Ocorre geralmente em adultos particularmente nos mais idosos sendo que muitas vezes o paciente não sabe que é diabético. O coma hiperosmolar e caracteriza por uma desidratação grave, ausência de cetonúria, níveis glicêmicos sempre elevados, freqüentes sinais e sintomas neurológicos e alto índice de mortalidade. Os fatores precipitantes mais freqüentes são a infecção, drogas hiperglicemiantes, AVC, alimentação parenteral, diálise hipertônica e pancreatite. 131 2.1 Quadro clínico Além das poliúria, polidipsia e desidratação intensa predomina nas manifestações clínicas a alteração do nível de consciência com sinais neurológicos de disfunção do SNC, como confusão mental, estupor, convulsões focais, rigidez da nuca, nistagmo, hemiplegia e sinal de Babinski. O quadro de AVC pode levar ao coma hiperosmolar e o coma hiperosmolar algumas vezes pode causar hemiplegia. Se o quadro neurológico reverter rapidamente com a terapêutica pode-se concluir que se trata de um evento secundário ao quadro metabólico. 2.2 Fisiopatologia O coma hiperosmolar é semelhante ao cetoacidótico exceto por alguns aspectos como a ausência de acidose e cetose, níveis glicêmicos muitos altos e alteração do nível de consciência [1]. A ausência de acidose e cetose ocorre devido ao nível de insulina que é incapaz de evitar a descompensação diabética, mas suficiente para inibir a lipólise e evitar a cetose e a acidose. A hiperglicemia resulta de uma produção aumentada de glicose pelo fígado e uma menor utilização tecidual, como ocorre na cetoacidose diabética. O que realmente leva a glicemia a um nível extremamente alto é a menor capacidade de eliminação da glicose pelo rim que se concentras em um espaço extracelular já contraído pela grande desidratação. A ausência de acidose contribui para a continua elevação da glicemia já que estes pacientes não apresentam as manifestações emergênciais de uma cetoacidose que os levaria ao hospital precocemente com vômitos e respiração acidótica. A alteração do nível de consciência se deve essencialmente à grave desidratação, podendo os pacientes apresentar um déficit hídrico de 10 litros ou mais. 2.3 Diagnóstico Glicemia – em geral variando de 800 a 1200 mg/dl Cetonúria – ausentes ou em mínimas quantidades Gasometria – ausência de acidose metabólica a não ser em casos de acidose láctica concomitante. Na normal, ↓ ou ↑. K+ normal, ↓ ou ↑. Uréia e creatinina – estão freqüentemente aumentadas pela desidratação Osmolalidade plasmática 350 > mOsm/l Estes pacientes sempre se acompanham de déficit total de Na, K, Cl, P, Ca et Mg. Este déficit guarda relação com a duração e a intensidade da poliúria. 132 O. Valente / Diabetes Clínica 01 (1999) 128–132 2.4 Tratamento O tratamento segue os mesmos fundamentos da cetoacidose diabética, merecendo comentário especial a hidratação destes pacientes que deve ser iniciada com solução salina 0,9%. Esta solução substituirá o déficit hídrico, corrigirá a depleção de volume mais rapidamente do que a solução hipotônica a 0,45%, diminuirá a osmolalidade plasmática (desde que é ainda hiposmótico para o paciente) e reduzirá a concentração de glicose no plasma por diluição e por aumentar a perda urinária quando a perfusão renal é aumentada. Após 3 litros de SF 0,9% com Na > 155 mEq/l estando o paciente hemodinamicamente estável e a glicemia em torno de 250 a 300 mg% será introduzido SF 0,45% com 40 mEq de K+ adicionado a cada litro, esta solução contém 117 mEq de cátion e eqüivale a aproximadamente ¾ da concentração salina isotônica evitando com isto o edema cerebral. A hidratação deve ser adequada a cada paciente individualmente observado os parâmetros cardiorespiratórios e renais. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Ennis ED et al. The hyperosmolar hyperglycemis syndrome, Diabetes Review, 1994, 2:115-125 Foster DW et al. The metabolic derangements and treatment of diabetic keotacidosis, New England J Med, 1983;309:159-169. Hale PM et al. Factors predicting cerebral edema in young children with diabetic ketoacidosis and new onset type 1 diabetes. Acta pediatr, 1997;86:626-631. Mcgarry JD et al. Regulation of ketoacidosis and the renaissance of carnitine palmitoyltransferase. Diabetes metab rec, 1989;5:271-284. Rosenbloom LA et al. Diabetic ketoacidosis: Treatment Guidelines. Clinical Pediatrics, 1996;35:261-266. Silver SM et al. Pathogenesis of cerebral edema after treatment of diabetic ketoacidosis. Kidney Int, 1997;51:1237-1244. Unger RH. Role of glucagon in the pathogenesis of diabetes: the status of the controversy. Metabolism, 1878;27:1691-1709. Diabetes Clínica Diabetes Clínica 03 (1999) 134–139 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas Perfil dos associados da Associação Nacional de Assistência ao Diabético F. Fraige Filho** , K. Falkas, J. Behar, C. Mecarelli, F. Simomura, F. Chavez * Associação Nacional de Assistência ao Diabético - São Paulo - SP Resumo Objetivo: Sendo o diabetes mellitus um dos mais importantes problemas de saúde da atualidade, realizou-se um estudo com o objetivo de avaliar o perfil dos diabéticos que fazem acompanhamento em um centro de atendimento multiprofissional. Métodos : Foram estudados 86 associados através de um questionário aplicado entre 15 de junho e 30 de agosto de 1998 na Associação Nacional de Assistência ao Diabético (ANAD). Resultados : A análise dos resultados mostrou alta prevalência de associados com idade entre 60 e 80 anos (62,8%), com diagnóstico de diabetes tipo 2 (91%) e peso acima do ideal (62%). Identificou-se alta incidência de associados que fazem dieta (83%), porém apenas 53% afirmaram praticar atividade física. Os associados que relataram menos tempo de diabetes apresentaram mais complicações secundárias. Conclusões : Entre outros aspectos, concluiu-se que a adequada preparação dos profissionais de saúde para orientar os pacientes, e o incentivo para que as pessoas busquem essa orientação, torna-se cada vez mais importante visto a importância de se prolongar e melhorar a qualidade de vida do diabético. * Nutricionistas da ANAD ** Professor Titular de Endocrinologia da Faculdade de Medicina do ABC F. Fraige et al / Diabetes Clínica 01 (1999) 134–139 135 1. Objetivos Avaliar o perfil de diabéticos que fazem acompanhamento em um centro de atendimento multiprofissional através da análise do estado nutricional dos associados; verificação da prevalência do diabetes tipo 1 e 2; identificação da faixa etária, o nível de escolaridade e a prática de atividade física; análise da freqüência do uso de hipoglicemiantes orais e insulina; verificação da prevalência de complicações associadas ao diabetes; relação da existência de complicações com o tempo de diagnóstico de diabetes; observação da porcentagem de associados que fazem dieta e se obteve orientação profissional. 2. Métodos A pesquisa foi realizada na Associação Nacional de Assistência ao Diabético (ANAD) situada na rua Eça de Queiroz 198, Vila Mariana. A coleta de dados ocorreu entre 15 de junho a 30 de agosto de 1998, através de um questionário elaborado pelos autores da pesquisa, que foi aplicado a 86 associados da ANAD. A aplicação do questionário foi realizada sob forma de entrevista, nos dias em que os associados compareceram à Associação. Foram estudadas as seguintes variáveis: escolaridade, tipo de diabetes, ocorrência de familiares diabéticos, uso de hipoglicemiantes e/ou insulina, média glicêmica de 3 meses antecedentes à pesquisa, existência de complicações decorrente do diabetes. Ainda, se segue dieta, em caso afirmativo, com orientação de qual profissional, a pratica de atividade física e a freqüência. Foi considerado como atividade física qualquer exercício com freqüência mínima de três vezes por semana e com duração mínima de 30 minutos. Durante a entrevista também foram tomadas as medidas relativas ao peso e altura para o cálculo do Índice de Massa Corpórea (peso/ altura2). Tabela 1 Distribuição dos pacientes diabéticos segundo a faixa etária. ANAD, 1998. Faixa Etária (anos) nº % < 20 > 20 ≤ 40 > 41≤ 60 > 61 ≤80 > 81 Total 1 5 24 54 2 86 1,2% 5,8% 27,9% 62,8% 2,3% 100% 47% 53% Feminino Masculino Fig. 1. Prevalência de diabetes segundo o sexo. ANAD, 1998. O estado nutricional foi classificado segundo o IMC, de acordo com os critérios10: Subnutrição 3º grau < 16, subnutrição 2º grau 16 16,99, subnutrição 1º grau 17 - 18,49, eutrófico: 18,5 24,99, sobrepeso 2º grau 25 - 29,99, sobrepeso 1º grau 30 - 39,99, sobrepeso 3º grau ≥ 40. 3. Resultados e Discussão Neste capítulo serão apresentados e discutidos os resultados obtidos após a entrevista com 86 diabéticos associados à ANAD. Pode-se observar, na tabela 1, que 62,8% da população estudada estão na faixa etária entre 60 a 80 anos. Várias teorias têm sido propostas para explicar a hiperglicemia que ocorre com a idade, como, por exemplo, a diminuição da síntese de insulina, mudança nos receptores de insulina ou na composição do corpo9. A tolerância à glicose diminui com a idade, a secreção de insulina não se reduz com o envelhecimento, enquanto a resistência ao hormônio devido a um defeito pósreceptor na ação da insulina constitui um achado comum nas populações idosas. Certas variáveis relacionadas à idade, como dieta inadequada, aumento da adiposidade com diminuição da massa corporal magra e inatividade física, podem contribuir para este estado de resistência à insulina, apesar de o processo de envelhecimento em si também desempenhar um papel significativo9. No gráfico 1, observa-se que não houve diferença significativa entre a prevalência da doença nos diferentes sexos. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, a doença acomete igualmente homens e mulheres e aumenta de modo considerável com a idade 6. Nota-se no gráfico 2, que a maioria dos entrevistados (49%), em relação ao nível de escolaridade, apresentam o 1º grau completo. Este fato pode implicar na dificuldade de compreensão dos aspectos relacionados ao diabetes, o que pode 136 F. Fraige et al / Diabetes Clínica 01 (1999) 134–139 9% 16% 49% 35% 2º grau Superior Fig. 2. Distribuição de associados diabéticos segundo nível de escolaridade. ANAD, 1998. comprometer a aderência ao tratamento, dessa forma influenciando o controle glicêmico. Quanto a hereditariedade, observa-se no gráfico 3 que a maioria dos entrevistados tem casos de diabetes na família (65%). Apesar da forte evidencia de fundo genético, são atualmente conhecidos menos de 10% dos fatores de riscos genéticos para diabetes tipo 1, em comparação com 65% para diabetes tipo 2, isto parece ser devido à grande heterogeneidade clínica e genética do diabetes tipo 1 14. Os dados obtidos comprovam a susceptibilidade à doença, em indivíduos que têm familiares diabéticos, porém, 35% não referiram caso de diabetes na família, de seu conhecimento. É importante destacar que no Brasil estima-se que existam mais de 5 milhões de diabéticos, dos quais metade desconhece o diagnóstico 6. Neste estudo constatou-se que, 9% apresentam diabetes tipo 1 e 91% apresentam diabetes tipo 2. Segundo Consenso Brasileiro de Conceitos e Condutas para Diabetes Mellitus (1997), o diabetes tipo 1 corresponde a cerca de 5% do total de casos de diabetes mellitus. Dentre a população estudada, 62% apresentou peso acima do ideal. Como pode ser visto no gráfico 5, este resultado con- 35% Diabetes mellitus tipo 2 Diabetes mellitus tipo 1 Fig. 4. Incidência de diabetes tipo 1 e tipo 2 entre os entrevistados. ANAD, 1998. corda com a literatura que tem mostrado que a incidência de diabetes é mais alta em pessoas que apresentam o peso acima do desejável 9. Apenas 53% dos entrevistados praticam atividade física (vide gráfico 6), sendo este um dos fatores que podem estar influenciando na alta incidência de peso acima do ideal. Recomenda-se a prática regular de atividade física, desde que o paciente esteja devidamente compensado, por melhorar a ação da insulina, facilitar o controle de peso, entre outros. Dos associados entrevistados, 83% fazem dieta e 17% não fazem conforme pode ser visto no gráfico 7. Entre os que fazem dieta, 39% teve orientação de nutricionista, 38% de endocrinologista e 14% de ambos os profissionais, 1% teve orientação de cardiologista e 8,0% fazem dieta sem orientação (gráfico 8). Pode-se constatar, através da entrevista com os associados que para alguns a dieta consistia apenas na eli- 50 Pessoas (%) 1ºgrau 91% 37% 43% 14% 1% 5% 0 Subnutrido do 1º grau 65% Eutrófico Sobrepeso 1º grau Não tem familiares diabéticos Tem familiares diabéticos Fig 3. Prevalência da hereditariedade do Diabetes entre os entrevistados. ANAD, 1998. Sobrepeso 2º grau Sobrepeso 3º grau Fig. 5. Distribuição de associados segundo o estado nutricional. ANAD, 1998. F. Fraige et al / Diabetes Clínica 01 (1999) 134–139 14% 47% 137 8% 1% 39% 53% 38% Pratica atividade física Nutricionista Endocrinologista Nutricionista e Endocrinologista Cardiologista Sem orientação profissional Não pratica atividade física Fig. 6. Percentual de entrevistados que praticam ou não atividade física. ANAD, 1998. minação do açúcar, enquanto que para outros, a orientação recebida consistia em eliminar o açúcar, e os carboidratos complexos como o arroz, pães, batatas e massas, pequena parcela da população estudada obteve orientação adequada quanto a quantidade e qualidade dos alimentos a serem consumidos. Apenas uma minoria dos pacientes diabéticos seguem as dietas recomendadas. Em grande parte a falta de adesão decorre de uma inadequada compreensão por parte do paciente. É de suma importância incorporar o nutricionista à equipe de saúde. Não se pode simplesmente distribuir panfletos, instruções escritas e esquemas de refeição e, com isso, esperar que mesmo, os pacientes motivados sigam os esquemas necessários. É preciso uma orientação detalhada do nutricionista para adequar a dieta às necessidades especiais de cada paciente. O tratamento dietético é uma forma de tratamento a longo prazo, de modo que é importante ter um acompanhamento adequado9. Entre a população estudada, 83% apresenta complicações decorrentes do diabetes, sendo 31% dormência dos membros inferiores, 29% hipertensão arterial, 27% problemas de visão, 7% cardiopatia, 4% impotência sexual e 2% insuficiência renal (gráfico 9). Fig. 8. Percentual dos associados segundo o profissional que orientou a dieta. ANAD, 1998. O diabetes pode levar ao desenvolvimento de lesões nos vasos sangüíneos em geral e, em especial dos rins, retina, coração e dos membros inferiores, que podem causar retinopatia, problema circulatório, neuropatia, nefropatia e cardiopatia. O bom controle da doença pode evitar algumas complicações, diminuir outras e melhorar aquelas que já apareceram. Ao comparar o tempo que a pessoa tem a doença com a presença de complicações, os resultados mostraram que quanto menos tempo de diagnóstico da doença, maior a incidência de complicações (gráfico 10). Este resultado poderia suscitar as seguintes hipóteses: Detecção tardia do diabetes; alimentação inadequada; sedentarismo e falta de acompanhamento de uma equipe multiprofissional. O que demonstra a necessida- 7% 4% 2% 31% 27% 29% 17% 83% Faz dieta Não faz dieta Fig. 7. Percentual de associados em relação a conduta dietética. ANAD, 1998. Dormência dos Membros Inferiores Hipertensão Arterial Visão Cardiopatias Impotência Sexual Insuficiência Renal Fig. 9. Complicações mais comuns entre os entrevistados. ANAD, 1998. 138 F. Fraige et al / Diabetes Clínica 01 (1999) 134–139 70% 67% 60% 60% 50% 40% 37% 36% 33% 30% 33% 27% 26% 26% 21% 17% 16% 16% 12% 10% 20% 19% 19% 20% 7% 11% 11% 9% 9% 7% 8% 7% 20% 15% 7% 4% 0% Dormência dos Membros Inferiores Menos de 1 ano Hipertensão Arterial 2 a 5 anos Visão 6 a 10 anos Cardiopatia 11 a 15 anos Impotência Sexual Insuficiência Renal 16 a 20 Mais de 21 anos Fig. 10. Incidência de complicações secundárias em relação ao tempo de diagnóstico do diabetes mellitus. ANAD, 1998. de de realizar um trabalho reforçado em prevenção. A ANAD promove campanhas anuais de detecção, prevenção e orientação sobre o diabetes, porém falta uma ação globalizada que envolve vários setores da sociedade como governo, indústrias, serviços de saúde, de educação e veículos de propaganda. Os resultados apresentados no gráfico 11 mostram que, 54% fazem uso apenas de hipoglicemiante, 20% só utilizam insulina, 10% fazem uso de ambos e 16% não fazem uso de insulina e tampouco de hipoglicemiante. A porcentagem de indivíduos que utiliza hipoglicemiante é maior que a porcentagem de indivíduos que utiliza insulina, visto que prevalece o diabetes tipo 2 entre os associados. Observa-se que pequena porcentagem (16%) trata o diabetes sem uso de medicamentos. Como já foi dito anteriormente, a dieta e a prática de atividade física são fundamentais na prevenção e tratamento do diabetes. O exercício é um componente integral no tratamento de diabetes tipo 112. É um fator no controle de peso e já foi observado que diminui os níveis de glicose sangüínea a ponto de reduzir ou eliminar a necessidade de agentes hipoglicêmicos orais ou insulina 13. Caso houvesse 54% 60% 40% 20% 33% 16% 10% 20% 0% 67% Faz uso de Hipoglicemiante Faz uso de Insulina Não utlizam Medicamento Faz uso de Ambos Fig. 11. Porcentagem de associados que utilizam hipoglicemiantes e/ou insulina. Normoglicemia Hiperglicemia Fig. 12. Distribuição de associados segundo a glicemia. ANAD, 1998. F. Fraige et al / Diabetes Clínica 01 (1999) 134–139 uma conscientização maior do paciente em relação aos cuidados preventivos sobre a doença e suas complicações, o uso de medicamentos poderia ser reduzido. Na maioria dos casos, os associados comparecem à Entidade um vez por mês para o exame de glicemia. Os pacientes passam pelos profissionais, recebem orientação quanto a dieta e a medicação, mas nem sempre voltam para um acompanhamento adequado do tratamento, o que poderia explicar a grande porcentagem de pacientes hiperglicêmicos entre a população estudada (67%), conforme pode ser visto no gráfico 12. 139 os profissionais da área de saúde estejam preparados para orientar a população, pois de nada adianta ter uma população consciente que procure orientação e não a receba adequadamente. Devido ao fato da grande parte da população possuir hábitos alimentares inadequados, não praticar com regularidade atividade física, a expectativa do aumento da incidência de diabetes é cada vez maior. Frente a este cenário, a adequada preparação dos profissionais de saúde para orientar os pacientes, e o incentivo para que as pessoas busquem essa orientação, torna-se cada vez mais importante para se obter êxito em prolongar e melhorar a qualidade de vida do diabético. 4. Conclusão Através dos resultados obtidos pode-se constatar que a prevalência de diabetes é maior na faixa etária de 60 a 80 anos (62,8%) em ambos os sexos, sendo a grande maioria do tipo 2 (91%). Foi observado na amostra pesquisada, que 83% dos associados da ANAD fazem dieta, mas apenas 39% tiveram orientação do nutricionista. Em relação ao IMC verificou-se uma alta incidência de peso acima do ideal entre os associados (62%). Pode-se constatar também que 47% dos associados não praticavam atividade física e em relação nível glicêmico analisado, 67% encontravam-se acima dos limites de normalidade. Com relação as complicações, elas estiveram presentes em 83% dos casos, sendo que 31% apresentaram dormência nos membros, 29% HAS e 27% problemas de visão. Finalmente, observou-se que a relação entre a incidência de complicações secundárias e o tempo de diagnóstico do diabetes mellitus mostrou-se surpreendente, pois quanto menor o tempo de diagnóstico maior a incidência de complicações secundárias. Apesar da ciência ainda não ter alcançado a cura do diabetes, já se dispõe de conhecimento suficiente para a prevenção das complicações decorrentes dessa doença. No entanto, nota-se que pela falta de conscientização no sentido de se fazer exames de detecção e prevenção, aproximadamente metade da população diabética sequer sabe que possui a doença, enquanto que da outra metade, a grande maioria não toma os devidos cuidados, tais como: a prática de atividade física, alimentação adequada, consultas periódicas com profissionais de saúde, etc. É importante que haja uma iniciativa por parte do Estado e dos meios de comunicação para divulgar a necessidade do acompanhamento profissional para os casos de diabetes. Mas, primeiramente, é fundamental, que Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. Augusto ALP e col. Terapia Nutricional. 1a ed., São Paulo, Atheneu, 1995. Bloch, AS. Nutrition Facts Manual a Quick Reference. 1a ed. Waverly Company, 1986. Halpern A; Mancini, MC. Como Diagnosticar e Tratar Diabetes Mellitus. Rev. Brasileira de Medicina. Dez de 1997, no 54, pág. 15 à 20. Halpern A; Mancini, MC. Diabetes Mellitus Tipo 1. Rev. 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Oliveira* Clínica de Endocrinologia da Lagoa Resumo Duzentos e dois pacientes (81M) com diabetes mellitus tipo 1 foram avaliados no período de 30 de abril de 1997 a 30 de novembro de 1998 e divididos em três grupos: grupo A [n = 122] formado pelos que usavam insulinas N e R (44M), com idade de 32 ± 8,4 anos, IMC = 25,2 ± 3,6 kg/m2 e duração do diabetes 10 ± 7,4 anos, com 5,4 ± 4,2 hipoglicemias por semana, 456 durante o período - 85% com alarma e 15% sem percepção, necessitando de ajuda; os valores das glicosiladas, determinadas a cada 3 meses, foram de 7 ± 1,7% nos 82 pacientes que usaram o mesmo kit de HbA1c (valor de referência 4,4 – 6,4%), e 4,3 ± 1,2 das frutosaminas (1,87 – 2,87 ng/dl). Grupo B [n = 62] constituído pelos que usavam insulinas N, R e H (30 M), com idade de 24 ± 7,9 anos, IMC = 24,6 ± 3,2 kg/m2 e 14,6 ± 8,4 anos de diabetes, com 4,2 ± 3 hipoglicemias por semana, 228 durante o período, sendo que 4,6% sem alarma; os valores das glicosiladas foram de 6,3% ± 1,4 de HbA1c nos 42 pacientes que usaram o mesmo kit e 3,4ng/dl ± 0,9 de frutosamina. Já os 18 do grupo C (7M) usavam insulinas R e H e foram para esse grupo por apresentarem comas hipoglicêmicos, 38 ± 10,2 anos de idade, 25,5 ± 3,4 kg/m2, 32 ± 12,3 anos de diabetes, 3 ± 2 hipoglicemias/semana, 190 durante o período, agora todas com alarma, HbA1c de 5,8% ± 0,8 e frutosamina 2,7 ng/dl ± 0,5. A análise de variância usando o teste de comparações múltiplas de Tukey, foi aplicada para identificar quais as diferenças entre os grupos, e o teste de qui-quadrado foi utilizado para verificar se existe correlação entre a presença de alarma na hipoglicemia e o grupo. Foram feitas as seguintes observações: a) existe associação significativa (p < 0,0001) entre a presença de alarma na hipoglicemia e o grupo; b) a proporção de alarma no grupo C é significativamente maior que no A e no B; c) a proporção de alarma no grupo B é também significativamente maior que no grupo A. Concluímos que a lispro ajuda a perceber as hipoglicemias e, no grupo C, os 18 pacientes que não percebiam suas hipoglicemias passaram a fazê-lo. Em nossa experiência, a lispro, associada à N e à R, ou apenas à R, ajuda no tratamento dos diabéticos tipo 1, como o teste de comparações múltiplas mostra: as hemoglobinas glicosiladas e as frutosaminas são mais baixas nos grupos B e C, aqueles que usaram a lispro. Palavras-chave: DMID; insulina lispro; hipoglicemias sem alarma. *Rogério F. Oliveira Clínica de Endocrinologia da Lagoa Rua Maria Angélica, 15, Jardim Botânico 22470-200 Rio de Janeiro RJ tel: 21 535 4903 141 R. Oliveira / Diabetes Clínica 01 (1999) 140–145 1. Introdução O tratamento do DM1 torna-se difícil, pois, para se conseguir o controle desejado com as proteínas glicosiladas no máximo acima 10% dos valores de referência dos kits (7,0% para a hemoglobina glicosilada e 3,1 ng/ dl para a frutosamina), são necessárias doses múltiplas de insulina, norteadas pelas determinações das glicemias capilares, como demonstrou a pesquisa multicêntrica do DCCT [1, 2, 3] confirmou os esforços isolados de diversos terapeutas, como Joslin [4] White [5], Clement [6] , Arduíno [7] e Oliveira [8], entre outros. Para se conseguir esse resultado, são freqüentes as hipoglicemias, algumas sem alarma, o que dificulta ainda mais alcançar a meta do controle do DM1. No Brasil, o último censo, realizado em 1991, mostrou que 7,8% da população de 165 milhões de habitantes são diabéticos, o que equivale a cerca de 7 milhões de pessoas [9], e este número é crescente. Também vem aumentando a quantidade de recursos no campo da Medicina, para beneficiar os portadores da doença, inovações essas, que, apoiadas por programas de educação, estão possibilitando a melhoria do tratamento do diabetes [10]; a insulina foi descoberta por Banting e Best em 1921; de 1930 a 1940, começaram as formulações de insulinas prolongadas; de 1970 a 1980, surgiram as insulinas humanas por tecnologia do DNA; de 1980 a 1990, apareceram os análogos, com a primeira insulina de ação ultra-rápida. O presente trabalho mostra o controle do diabético tipo 1 com a associação de insulinas N, R Humanas e lispro (H). 2. Materiais e Métodos Duzentos e dois DM1 (81M) da Clínica de Endocrinologia da Lagoa foram avaliados de 30/4/97 a 30/11/ 98 (período de 19 meses). As características dos 3 grupos são mostradas na tabela 1. As determinações das hemoglobinas glicosiladas analisadas foram determinadas pelo ensaio de captura iônica [11]. Infelizmente, as diferenças dos valores de referência pelas diversas técnicas usadas pelos diferentes laboratórios e mesmo pelo mesmo laboratório torna difícil a comparação em trabalhos retrospectivos; por isso, não podemos comparar os resultados de 60 de nossos pacientes. A Frutosamina fica mais fácil de fazer testes comparativos, pois a maioria dos laboratórios usam a referência de 1,87 - 2,87 ng/dl [12]. A análise estatística foi realizada pelos seguintes testes: Tabela 1. Características dos 3 grupos A) N+R n 122 f 44 s 78 idade (anos) 32±8.4 IMC (kg/m²) 25.2±3.6 duração/anos 10.0±7.4 doses de insulina (U/kg/dia) fixas 0.5(N) variáveis 0.5(R) nºautomoni/dia 4 HbA1c 7.7±1.7 (4.4-6.4%) n=82 frutosamina 4.3±1.2 (1.87-2.87ng/dl) hipoglicemias por paciente semana 5.4±4.2 período 380 c/alarma 85% s/alarma 15% B) N+R+H C) R+H 62 30 32 24±7.9 24.6±3.2 14.6±8.4 18 7 11 38±10.2 25.5±3.6 32.0±12.3 0.6(N+R) 0.4(H) 6 6.3±1.4 n=42 3.4±0.9 0.6(R) 0.4(H) 8 5.8±0.8 n=18 2.7±0.5 4.2±3.0 304 95.4% 4.6% 3.0±2.0 228 100% 0 • análise de variância para verificar se existe diferença significativa nas variáveis entre os três grupos (A, B e C). O teste de comparações múltiplas de Tukey foi aplicado para identificar quais os grupos que diferem entre si; • teste de χ2, utilizado para verificar se existe correlação entre a presença de alarma na hipoglicemia e o grupo. O critério de determinação de significância foi o nível de 5%, ou seja, se o valor de p do teste estatístico for menor ou igual 0,05, existe diferença significativa. 3. Resultados 3.1 Objetivo 1 Verificar se existe diferença significativa na idade, IMC, duração, HbA1c, frutosamina e hipoglicemia entre os três grupos. A tabela 2 fornece a média, desvio padrão e o nível de significância da Análise de variância para cada variável, segundo o grupo. 142 R. Oliveira / Diabetes Clínica 01 (1999) 140–145 Tabela 2. Variável Grupo n Idade A B C 122 62 18 IMC A B C Duração D.P. Valor de p 32 24 38 8,4 7,9 10,2 < 0,0001 122 62 18 25,2 24,6 25,5 3,6 3,2 3,6 0,45 A B C 122 62 18 10,0 14,6 32,0 7,4 8,4 12,3 < 0,0001 HbAlc A B C 82 42 18 7,7 6,3 5,8 1,7 1,4 0,8 < 0,0001 Fruto A B C 122 62 18 4,3 3,4 2,7 1,2 0,9 0,5 < 0,0001 Hipoglicemia A B C 122 62 18 5,4 4,2 3,0 4,2 3,0 2,0 0,012 Conclusão : Observou-se que: 1. Existe diferença significativa na Idade entre os grupos (p < 0,0001). Pelo teste de comparações múltiplas, observou-se que a idade média do Grupo C é significativamente maior que a dos Grupo A e B; e a idade média do Grupo A é significativamente maior que a do Grupo B. Média 4. Existe diferença significativa na HbA1c entre os grupos (p < 0,0001). Pelo teste de comparações múltiplas, observou-se que o nível médio da HBalc do Grupo A é significativamente maior que o dos Grupo B e C; porém o nível médio da HBalc do Grupo B não difere significativamente do do Grupo C. A ≠ B, A ≠ C, B =C A ≠ B ≠ C 2. Não existe diferença significativa no nível médio do IMC entre os grupos (p = 0,45). A = B = C 3. Existe diferença significativa na duração entre os grupos (p < 0,0001). Pelo teste de comparações múltiplas, observou-se que a duração média do Grupo C é significativamente maior que a dos Grupos A e B; a duração média do Grupo B é significativamente maior que a do Grupo A. A ≠ B ≠ C 5. Existe diferença significativa na Frutosamina entre os grupos (p < 0,0001). Pelo teste de comparações múltiplas, observou-se que o nível médio da Frutosamina do Grupo A é significativamente maior que o dos Grupos B e C; porém, o nível médio da Frutosamina do Grupo B não difere significativamente do do Grupo C. A ≠ B, A ≠ C, B =C 6. Existe diferença significativa na Hipoglicemia entre os grupos (p < 0,0001). Pelo teste de comparações múltiplas, observou-se que o nível médio da Hipoglicemia do Grupo A é significativamente maior que o do Grupo C; porém o nível médio da Hipoglicemia do Grupo B não difere significativamente do dos Grupos A e C. A = B, A ≠ C, B = C 143 R. Oliveira / Diabetes Clínica 01 (1999) 140–145 Duração média segundo o grupo 3.2 Objetivo 2 45 Conclusão : Observou-se que existe associação significativa (p < 0,0001) entre a presença de alarma na hipoglicemia e o grupo. Isto é, observou-se que a proporção de alarma no grupo C é significativamente maior do que nos Grupos A e B; e que a proporção de alarma no Grupo B é significativamente maior que no Grupo A. Os gráficos a seguir ilustram as diferenças observadas nas variáveis: 40 média + 1DP (anos) Verificar se existe diferença na proporção de Alarma entre os três grupos. 35 30 25 20 15 10 5 0 N+R HbAlc média segundo o grupo média + 1DP (%) média +1DP (anos) Idade média segundo o grupo N+R N+R+H 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 N+R R+H Grupo p < 0,0001 R+H Frutosamina média segundo o grupo 30 7 25 média + 1DP (%) média + 1DP (kg/m²) N+R+H Grupo p < 0,0001 IMC médio segundo o grupo 20 15 10 5 6 5 4 3 2 1 0 0 N+R p = 0,45 R+H Grupo p < 0,0001 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 N+R+H N+R+H Grupo R+H N+R p < 0,0001 N+R+H Grupo R+H 144 R. Oliveira / Diabetes Clínica 01 (1999) 140–145 média + 1 DP Hipoglicemia /semana segundo o grupo 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 N+R N+R+H R+H Grupo p = 0,012 Hipoglicemia com alarma no período segundo o grupo 100 90 80 70 % 60 50 40 30 20 10 0 N+R N+R+H R+H Grupo p < 0,0001 com alarma sem alarma 4.Discussão O bom controle dos diabéticos é importante, a fim de proporcionar-lhes bem-estar, permitir-lhes vida sem limitações, fazendo, portanto, o que desejam e a que se sintam capazes, e diminuir seus gastos com a doença ao longo da vida. Trabalho publicado no “Decision Resources”[13] mostrou que o custo direto por ano do diabetes só é igualado ao gasto com a hipertensão arterial, o que é ilustrado a seguir : Hipertensão Diabetes Alzheimer Esquizofrenia Incontinência urinária Doença pulmonar obstrutiva crônica Insuficiência cardíaca congestiva Osteoporose Pós-infarto do miocárdio HIV $$$$ $$$$ $$$ $$ $ $ $ $ $ $ No caso do diabetes, os gastos da terapêutica inicial (cerca de US$ 220 mensais com dieta balanceada, insulinas humanas, fitas para determinações das glicemias 4 vezes ao dia) [13], aumentam muito com as complicações agudas e crônicas. O bom controle dos diabéticos ficou mais fácil com as determinações das glicemias capilares. Em nosso meio, as primeiras fitas para tal finalidade surgiram em 1976 (Dextrostix). Pouco depois, a monitorização laboratorial tornou simples averiguar a qualidade do controle da doença e possibilitou as determinações das hemoglobinas glicosiladas (que mostra a média das glicemias nos últimos 60 dias anteriores à coleta da amostra do sangue) e das frutosaminas (indicadoras da média das glicemias nos 21 dias anteriores à coleta) [12]. Consideram-se bem controlados os pacientes que mostrem valores menores que 10% acima do valor máximo de referência. Isso significa que as flutuações diárias das glicemias não significam bom ou mau controle; servem apenas para nortear o paciente em relação ao ajuste das doses das insulinas no período de 24 horas. Ou seja, a automonitorização é a chave para a correta insulinização Daí a necessidade de várias determianções de glicemias capilares no correr do dia e na dependência das circunstâncias, pois o diabético não pode esquecer que, nos dias de grande tensão ou de doenças outras, mesmo que se sinta inapetente, deve determinar sua glicemia pelo menos 6 vezes ao dia e tomar insulina de ação rápida para contrabalançar o excesso de hormônios catabolizantes liberados nessas condições estressantes, que o tornam tendente à hiperglicemia: se tais hormônios não forem neutralizados por doses extras de insulina, podem desencadear um quadro de cetoacidose. Trabalhos de Anderson [13] e de Heinemann [14] mostram que as excursões das glicemias pós-prandiais são muito menores com o uso da insulina lispro, quando comparada com o uso da insulina Regular humana, com significancia estatística de p < 0,001 e que ocorreu elevação maior sérica com a lispro que alcança 2,0 ng/ml e com pico em 60 minutos, começando a se elevar em 10- R. Oliveira / Diabetes Clínica 01 (1999) 140–145 20 minutos, enquanto a R começa a se elevar em 20-30 minutos, com um pico de 1,4 ng/ml em 90 minutos. Em nossa experiência com diabéticos tipo 1, a insulina lispro, quando associada com outras insulinas, ajuda a melhorar o controle da doença, embora torne quase obrigatória a auto-monitorização mais frequente, o que dá maior liberdade ao paciente. Em trabalho apresentado por Rejane Oliveira et al. [15] que estudaram 40 pacientes tipo 1 durante a IX Colônia de Férias DIA A DIA, avaliando as necessidades diárias de insulina e com uma alimentação individualizada e a programa variado de atividade física, dos pacientes, 9 utilizaram menos de 0,5 U/kg/dia, 11 ficaram entre 0,5-0,7 U/kg/dia, 13 entre 0,7-1,0 U/kg/dia e 7 com mais de 1,0 U/kg/dia. Destes últimos, 5 apresentaram HbA1c 40% acima do valor máximo da referência. Uma das conclusões do trabalho: aqueles que utilizaram mais de 1 U/kg/dia eram os cronicamente mal controlados. Em relação às hipoglicemias, Brunelle et al. [16] demonstraram que o uso da lispro, quando comparado ao uso da insulina humana Regular, indicou uma redução de 30% dos episódios de hipoglicemias severas. Em nossa experiência, em casos de hipoglicemias severas sem alarma, necessitando de ajuda e felizmente raros, o uso somente de insulina R permitia que eles passassem a perceber suas hipoglicemias, mesmo durante o sono (experiência apresentada em 3 congressos nacionais e um internacional) [17]. No presente trabalho, com nosso Grupo C de 18 pacientes constatou-se que as hipoglicemias severas, que tinham se transformado em transtorno para suas vidas, desapareceram totalmente com o uso de insulinas R e H, permitindo-lhes exercer novamente suas atividades sem medo dessas ocorrências. Um desses pacientes, músico profissional, estava ameaçado de perder o emprego, pois, em pleno trabalho orquestral, apagava, o que o deixava em situação insustentável e de desastrosas consequências. O diabetes do autor deste apresentava este quadro. O acréscimo da lispro à R permitiu maior flexibilidade e adaptação às necessidades de cada momento. Costumamos pautear as insulinas basais fixas de N + R em 0,5 U/kg/dia (2/3 da dose antes do desjejum e 1/3 antes do jantar - 50% de cada uma), sendo os acréscimos feitos com a insulina lispro de acordo com os resultados das glicemias capilares e em torno de 0.4 U/kg/dia. Como foi verificado em nossa análise estatística, as hipoglicemias ocorreram nos grupos que usaram a insulina lispro, mas houve queda significativa das hipoglicemias sem alarma, as quais desapareceram no grupo C, utilizando-se apenas a R + a lispro; além disso, a 145 monitorização laboratorial pelas determinações das HbA1c e das frutosaminas realizadas a cada 3 meses indicou que os valores destas glicosiladas mostraram-se significantemente menores nos grupos que usaram a insulina lispro. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 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Diabetes Clínica Diabetes Clínica 03 (1999) 146–148 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas Aspectos psicológicos do diabetes Rosana Manchon dos Santos* O diabetes juvenil é uma doença crônica de inquestionável necessidade de controle e dificuldade em consegui-lo. Dificuldade está, relacionada a complexidade e rigidez do tratamento e a interferência de inúmeros fatores biopsicossociais. O indivíduo com alguma doença crônica e sua família costumam reagir ao diagnóstico utilizando-se de algumas atitudes defensivas contra sua realidade até poder aceitá-la. Primeiramente, negando a situação. O mecanismo de negação é uma forma saudável de lidar com a situação dolorosa, desagradável e chocante. A maioria dos pacientes e seus familiares não se servem da negação por muito tempo, aos poucos vão podendo conversar sobre a situação e suas dificuldades e, de repente, demonstrarem capacidade de encarar o fato realisticamente. Quando não é mais possível manter a negação, muitas vezes ela é substituída por sentimentos de raiva, revolta, inveja e ressentimento. Então surge a pergunta : Porque eu ? Percebe-se, neste momento, a importância de aprendermos a ouvir nossos clientes e até suportamos alguma raiva irracional e o alívio decorrente de têla externado. Quando reagimos pessoalmente a esta raiva, retribuindo com uma raiva ainda maior, alimentamos o comportamento hostil do nosso cliente. O próximo estágio é a barganha, que na verdade é uma tentativa de adiamento. Estabelece uma meta autoimposta e inclui uma promessa implícita de que o dia- * Psicóloga clínica, rua Itapeva, 500 cj 10C Bela Vista 01332-000 São Paulo SP tel: (11) 289 1491 bético não pedirá um outro adiamento, caso o primeiro seja concedido. É a fase da busca por chás milagrosos, médicos que possam dar um diagnóstico diferente, benzedeiras, etc. A revolta e a raiva darão lugar a um sentimento de perdas passadas, perdas eminentes, culpa ou vergonhas irreais que freqüentemente acompanham a depressão. Assim que o indivíduo tiver o tempo necessário e recebido ajuda profissional e familiar para superar as fases anteriores descritas, podendo lidar de forma realística com sua doença, conseguirá começar aceitá-la aderindo ao tratamento de forma gradual e efetiva. A doença não obedece uma linha simples de causa e efeito, ela é conseqüência de ações e reações do paciente em seu meio ambiente, o seu passado, presente e futuro. Holisticamente falando, devemos perceber o todo do paciente, levando-se em consideração como sente, enfrenta e interpreta sua doença. O diabetes será vivenciado de diferentes formas dependendo da faixa etária na qual se instalou, podendo serem citados alguns elementos fantasiosos e inconscientes, produtos da dinâmica de cada paciente, sua história pessoal, do diabetes e seu tratamento. No momento do diagnóstico do diabetes as limitações e a disciplina impostas são muito bem aceitas pela maioria das crianças, pois estas sentem-se o centro das atenções, principalmente no meio familiar. Com o passar do tempo, a medida que percebem tais limitações com irreversíveis e duradouras, surge a sensação de serem diferentes das outras crianças e conseqüentemente o sentimento de inferioridade por ter uma doença crônica. R. Santos / Diabetes Clínica 01 (1999) 146–148 Sentido-se bem fisicamente, a criança não é capaz de compreender a série de cuidados aos quais se vê cercada, desse modo pode vivenciar sua doença e o seu tratamento como uma agressão ou punição. Com o objetivo de aliviar sua culpa procuram uma formulação mítica para a doença, isto é, as crianças se percebem castigadas com o diabetes por serem más, briguentas com os irmãos ou por terem comido demasiada quantidade de doces e açúcar. A angústia de morte encontra-se muito presente no dia a dia da criança diabética. Muitas vezes, a resistência da criança em fazer testes diários reside na dificuldade em lidar com os resultados insatisfatórios para um bom controle, vivenciado o medo das complicações agudas e crônicas e conseqüentemente o medo da morte. Não podemos nos esquecer que a criança tenta presentear a família e os profissionais que a assiste com um bom resultado nos testes, gerando em torno destes grande expectativa, decepções, frustrações e incapacidade. Grande parte dos problemas psicológicos e sociais da criança diabética podem ser minimizados a medida em que esta puder compreender os aspectos fundamentais da sua doença, ou seja, através da Educação em Diabetes a criança torne-se capaz de desmitificar e banir tabus relacionados ao diabetes e seu tratamento. A fase mais crítica do ponto de vista psicológico costuma ser a adolescência, etapa das grandes transformações físicas e emocionais, caracterizada por conflitos contraditórios de dependência e independência, autoestima, insegurança e medo. Com a intensificação de tais conflitos, o adolescente torna-se inacessível aos adultos e especialmente aos pais. A depreciação dos valores paternos deriva da necessidade de busca de identidade e senso da importância própria. Esse tipo de conduta leva o adolescente a rebeldia, negando a diabetes como uma doença que requer cuidados constantes e traduzindo-o como mais uma das restrições impostas pelos pais. Na adolescência, a incidência de problemas de comportamento é muito alta e a autodestrutividade é especialmente predominante no jovem diabético, pois além dos conflitos inerentes a adolescência somam-se cuidados e limites que uma doença crônica impõe. O trabalho educativo com grupo de adolescentes diabéticos é uma importante e adequada forma de propiciar troca de experiência, descobertas de novas soluções conjuntas, desenvolver um comportamento positivo com relação ao diabetes, facilitar a adaptação. O fenômeno grupal adquire uma importância fundamental, uma vez que o jovem transfere ao grupo parte da dependência que anteriormente mantinha com a estrutura familiar e principalmente os pais. 147 Com o diagnóstico do diabetes a família e especialmente os pais passam por um período de desequilíbrio e perturbação. De repente os pais estão diante de mudanças as quais são obrigados a adaptarem-se, desenvolvendo funções antes não desempenhadas e sentindo-se pressionados a agir de forma adequada e eficiente. A doença do filho põe a prova a função parental idealizada, protetora e poderosa, sendo esta doença a prova de que são maus pais. A doença é vivida pelos pais como um ataque ao próprio narcisismo. Impõe a morte da criança idealizada e a elaboração desse luto. Sentimentos de defesa, culpa e rebaixamento da auto-estima fazem parte das reações dos pais à doença infantil. Os pais tendem a lidar com esses sentimentos, muitas vezes, com atitude de rejeição, martírio e inabilidade para manter a disciplina necessária ao desenvolvimento da criança. Podendo acreditar que as injeções diárias e a restrição alimentar são insuportáveis para a criança cercando-se de cuidados extremos, de forma a trata-la de forma especial, dando-lhe um sentido irrealista da própria doença. Desta forma, os pais também não lidam de modo real e eficiente com o diabetes do filho. A extrema dedicação ao filho diabético gera um clima de inveja e ciúmes nos demais irmãos que passam a sentirem-se rejeitados e excluídos. Neste sentido, a criança diabética pode ser hostilizada pelos irmãos que se utilizam do fato de poder comer doces como forma de vingança pelo amor dos pais que sentem estarem perdendo para o irmão diabético. Sabe-se que tanto no momento do diagnóstico, quanto no decorrer do tratamento, os sentimentos dos pais frente ao diabetes, irão desempenhar importante papel nas reações da criança com relação ao seu diabetes. Isto quer dizer que as atitudes familiares irão influenciar de maneira direta e decisiva o comportamento de aceitação ou não aceitação do diabetes pela criança. A família vive intensos ajustes emocionais, situação que ativa sentimentos de ambivalência gerando angústia e culpabilidade, resultando nos pais uma atitude freqüente de excessiva permissividade para com a criança que, eventualmente explorando estas atitudes, poderá passar a manipular os adultos. Os pais que mostram-se demasiadamente preocupados com o bem estar do filho, fechando-o em casa, impedindo-o de exercer as atividades normais para sua idade, representam também expressão indireta de sentimento de culpa e ansiedade, podendo acarretar um prejuízo no desenvolvimento natural da criança, gerando ansiedade e medo e contribuindo para a formação de uma personalidade passivo-dependente. Podendo também adotar um controle perfeccionista, os pais poderão gerar na criança atitudes obsessivo-compulsivas ou de re- 148 R. Santos / Diabetes Clínica 01 (1999) 146–148 beldia contra os planos terapêuticos. Existem ainda famílias que rejeitam a doença a ponto de recusarem-se a contar que seu filho é diabético. Tal postura gera o descuido com o filho diabético, o desinteresse pelo tratamento e conseqüentemente cria um ambiente onde a criança sente-se rejeitada, inferiorizada vindo a causar rebeldia e fracasso no tratamento. Parece que tanto para a criança quanto para os pais, faz mais sentido ver que o diabetes não desequilibrou a estrutura familiar, mas ao contrário pode permitir que a família se adaptasse e se transformasse gradativamente. Os pais precisam mostrar-se compreensivos, ajudando a criança resolver os problemas que vão surgindo e logo que possível ir transferindo para criança parte da responsabilidade de seu tratamento, promovendo assim sua independência e senso de responsabilidade. Neste sentido, a aceitação da doença vai de encontro à adaptação, ao assumir-se dentro de uma realidade na qual o diabético está inserido a partir de seu diagnóstico. Neste momento surge a questão de como nós, profissionais de saúde, poderíamos facilitar este processo de aceitação. Creio que o primeiro passo está relacionado a própria atuação da equipe multiprofissional, uma vez que esta equipe atua como agente intermediário entre o diabético e as alterações de seu corpo e de sua psique. Por tanto, a equipe multiprofissional não deve se apresentar como um grupo estaticamente dividido por áreas, mas pela interação de seus saberes, proporcionando formas criativas e integradas de trabalho, facilitando crescimento mútuo da equipe e permitindo uma assistência eficaz ao diabético o que irá contribuir para uma melhor aceitação. Para que o ser humano possa viver plenamente sua condição humana ele deve estruturar-se como uma unidade biopsicossocial em constante evolução, isto é, corpo, mente e mundo externo convivendo harmoniosamente, propiciando o que chamamos de saúde mental que é a capacidade inerente ao ser humano de viver dentro dos limites impostos pelo seu corpo físico, em sociedade, produzindo e sentindo-se feliz. Referências 1. Alexander F. Medicina psicossomática: seus princípios e aplicações; tradução Célia Beatriz Fischmann, Porto Alegre, Artes Médicas, 1989. 2. Aberastury A, Knobel M. Adolescência normal, um enfoque psicanalítico, trad. Suzana MG Ballave, Porto Alegre, Artes Médica Sul, 1988. 3. Gayotto ML, Giffoni VL, Domingues I, Loch G, Dantas SD. Líder de mudança e grupo operativo, Petrópolis, Vozes, 1985. 4. Gayotto ML e colaboradores. A psicologia social de Enrique Pichon-Riviere, Publicação do grupo de psicologia social, PUC/ SP. 5. Kalina E. Psicoterapia de adolescente: teoria, técnica e casos clínicos, coordenação e revisão Sérvulo A Figueira, Rio de janeiro, Livraria Francisco Alves Editora, 1979. 6. Hauser Stuart T, Pollets Danish. Psychological aspects of Diabetes Mellitus: a critical review, Diabetes Care, march 1979, 2;2:227-231. 7. Krall PL. Manuel do diabetes de Joslin, São Paulo, Livraria Roca, 1983. 8. Zagury L. Aspectos psicossociais do Diabetes mellitus na Infância, adolescência e maturidade, 1987. 9. Maihhot GB. Dinâmica e Gênese dos grupos, São Paulo, Livraria Duas cidades, 1981. 10. Pichon-Rivière E. O processo grupal, trad. Marco Aurélio Fernandez, São Paulo, Martins Fontes, 1988. Diabetes Clínica Diabetes Clínica 03 (1999) 150–154 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas Manejo da alimentação do diabético em situações especiais Celeste Elvira Viggiano* A pessoa diabética suficientemente instruída e conscientizada da importância do tratamento com um todo para lhe proporcionar qualidade de vida, não terá grandes dificuldades em seguir sua prescrição dietética no dia a dia. Porém, em algumas situações sociais pode sentir dificuldades em conjugar seu padrão dietético ao desfrute de uma vida social normal. É importante, deste modo, que seja orientada quanto ao seu comportamento alimentar nestas situações especiais. 1. Viagens 1.1 Terrestres Ônibus – Deverá viajar preferencialmente em horários que permitam realizar as principais refeições em casa, ou já no seu destino. Caso não seja possível, deverá levar um lanche contendo carboidratos complexos (pão, biscoitos, etc), proteínas (carnes, queijos, iogurte ou leite) e fibras (verduras, legumes e frutas frescas ou secas). Também um suprimento extra de alimentos não altamente perecíveis e carboidratos de rápida absorção para serem usados caso haja uma eventualidade que atrase a chegada. Como balas, refrigerante não dietético e tablete de glicose. Automóvel – Se a pessoa diabética é o motorista, deverá efetuar paradas nos seus horários de refeições, planejando o percurso de forma a ter condições para isto. Na caso do carona, valem as recomendações de lanches já referidas. Trem – As mesmas recomendações, exceto que em algumas viagens ferroviárias há restaurante no trem, o que proporciona maior flexibilidade de horário. Neste caso é só ater-se ao cardápio. Havendo a chance do cardápio não ser viável, é melhor prevenir-se levando também um lanche, como já visto antes. 1.2 Aéreas * Nutricionista clínica, Salute Consultoria e Assessoria Nutricional, Pós-graduanda da Universidade de São Paulo Endereço para correspondência: Rua Desemb. Lauro de Souza Alves, 7 05771-480 São Paulo SP, fax: 11 3901 2771, e-mail: [email protected] Todas as empresas aéreas nacionais e internacionais fornecem refeições durante o vôo, desde que solicitadas antecipadamente na compra da passagem. Porém é importante certificar-se na apresentação ao balcão de embarque, se a dieta está confirmada. Não há necessidade de lanches suplementares, pois normalmente nos vôos há alimentos excedentes ao que será consumido pelos passageiros. De qualquer forma é seguro manter carboidratos de rápida absorção na bagagem de mão. C. Viggiano / Diabetes Clínica 01 (1999) 150–154 1.3 Marítimas Barcos – Não são recomendáveis, já que alguns imprevistos podem ser desastrosos para os diabéticos. Navios – As viagens transatlânticas trazem conforto que permitem ao diabético viajar sem temores, pois além de fornecer refeições, mantém atendimento médico. 2. Estadia em hotéis Ao hospedar-se em um hotel, pensão ou mesmo nas viagens de navio, a pessoa diabética deve procurar o responsável pelo restaurante e esclarecer sua situação, solicitando algumas alterações no cardápio, quando necessário. De qualquer forma, é recomendável certificarse a cada refeição, se o cardápio é compatível com sua dieta, já com alguma antecedência, para que haja tempo hábil para preparação de outros pratos. Um problema bastante freqüente, é o que se refere aos jovens que viajam com sua turma, hospedando-se em sítios, casas de praia ou acampamentos. É costume entre os jovens omitir refeições ou substituir almoço e jantar por lanches. Prática esta que pode por em risco o bom controle metabólico do jovem diabético. Portanto deve ser orientado a escolher previamente os gêneros alimentícios que levará para a viagem, de forma a serem de preparo rápido e simples, já que ele próprio deverá preparar suas refeições, independente de horário dos companheiros. 3. Festas 3.1 Infantis Hoje dispomos de muitos recursos, que permitem à criança diabética ter uma festa de aniversário, sem doces com açúcar (sacarose). Isto e, o bolo de aniversário e os doces podem ser preparados com adoçantes, obtendo-se aparência e paladar excelentes, além dos refrigerantes dietéticos disponíveis. E não haverá problema algum se os convidados consumirem e beberem produtos dietéticos. Já quando a criança diabética é a convidada, pode surgir o problema de não se dispor de alimentos que ela possa ingerir, o que pode ser raro, pois é hábito em nosso meio, servir em festas preparações salgadas como sanduíches, salgadinhos, pipoca, etc. Não é necessário que a criança se abstenha de comer algum alimento por seu alto teor de gordura, já que isto deverá ocorrer espo- 151 radicamente. Seria recomendável que os pais levassem alguns refrigerantes dietéticos para o consumo da criança. Devemos considerar que um grande problema em festas infantis, é o fato de que as crianças ficam agitadas e envolvidas em brincadeiras e correrias, esquecendose de comer. O que pode ser prevenido se a criança fizer um lanche antes de sair de casa e os pais estarem atentos à qualquer alteração de comportamento e também lembrando-a de se alimentar durante a festa. A criança deve ser conscientizada de que mesmo em festas deve manter sua disciplina alimentar. No início do processo educativo ou quando a criança é resistente, poderão ocorrer dificuldades na aceitação. A atitude dos pais frente a esta situação deve ser a mais tranqüila possível, sem recriminações, e sim aproveitando-se para demonstrar à criança, o quanto aquela atitude poderá lhe ser prejudicial, através do exame de sangue ou urina domiciliar que provavelmente estará alterado após esse episódio. 3.2 Juvenis Na festas de adolescentes é muito comum servirem refrigerantes e bebidas alcoólicas e poucos alimentos. O jovem está muito mais interessado em dançar, conversar e namorar do que se alimentar, o que se constitui de para hipoglicemia, pois junto à omissão de alimentos vem o exercício físico (dança) e o uso de álcool. Deve, portanto, ser orientado a alimentar-se antes de sair de casa, levando consigo carboidratos de absorção rápida e excluir o álcool. Se esta exclusão for permeada por resistência, pois o álcool pode ser uma forma de auto-afirmação do jovem, que então seja orientado a ingerir algum alimento quando beber. Estas recomendações são válidas também para quando for à bares e discotecas. 3.3 Adultos Da mesma forma que o jovem, o adulto pode se deparar com situações, onde não poderá se alimentar adequadamente, ou possa ocorrer atraso no horário da refeição. Seja um coquetel ou almoço/jantar em casa de amigos. É conveniente que o diabético sempre se alimente em casa antes de sair, reduzindo sua alimentação a 1/3 ou 1/2 do habitual para não correr riscos e participar normalmente da festa. Para os insulino-dependentes, o risco de hipoglicemia é uma constante, assim, mesmo que sejam alimentos não indicados, o melhor é comê-los (dando-se pre- 152 C. Viggiano / Diabetes Clínica 01 (1999) 150–154 ferência aos salgados), do que precipitar hipoglicemia. Devemos lembrar que as festas são encontros sociais importantes para o indivíduo inserir-se no meio, além do lazer e prazer que proporcionam. Festa não significa somente comida e bebida. E pensamentos contrários a este, fazem com que muitos diabéticos se sintam privados da vida social e discriminados pela sociedade. 4. Restaurantes e lanchonetes Assim como as festas e viagens, sair para comer é um evento social e uma forma de lazer, principalmente nas grandes cidades. Como nas demais situações já apresentadas, o diabético não deve se privar disto também. Porém, alguns cuidados devem ser tomados: - Não atrasar o horário de refeição em função do passeio; - Procurar os estabelecimentos que ofereçam um cardápio bastante variado, ou; - Optar também pelo serviço self-service ou por peso que oferece mais opções. - Informar-se com o garçom, o tamanho das porções e os ingredientes dos pratos; - Solicitar se necessário a retirada de molhos gordurosos e a redução do sal da preparação; - Lembrar-se das equivalências alimentares, para não fugir a dieta prescrita; - Lembrar-se que o couvert também fornece calorias, proteínas, carboidratos e gorduras; - Lembrar-se que os sanduíches freqüentemente fornecem mais calorias e gorduras que as refeições normais, com menor oferta de fibras e outros nutrientes. Isto também vale para pizzas e pasteis. Uma situação muito comum, é a do indivíduo que sai para compras, esquecendo-se de seus horários de refeições, ficando várias horas andando. Mesmo nesta situação, é importante seguir a prescrição dietética e as equivalências alimentares. Também aí, procurar as opções que melhor se adaptem as suas necessidades. social satisfatória, deve estar antes de tudo muito bem treinada em diabetes; conhecendo a ação do medicamento que utiliza, o valor nutritivo e calórico dos alimentos, e as trocas alimentares que deve proceder; - Esclarecer à todos com os quais convive, de que é diabético, e como poderão ajudá-lo durante uma descompensação de doença (hiperglicemia ou hipoglicemia); - Ter sempre a mão carboidratos de rápida absorção. - Ter sempre consigo o “cartão de identificação do diabético” com os nomes e telefones das pessoas que devem ser avisadas em uma emergência (parentes, médico); - Os insulino-dependentes devem portar, principalmente em viagens, uma carta de seu médico, declarando que é diabético e atestando sua necessidade do uso de insulina. Algumas vezes portar seringas e agulhas pode gerar uma situação desagradável para o diabético. 6. Em doenças 6.1 Infecções Muitas vezes a pessoa diabética, como qualquer outra, apresenta uma doença infecciosa, que orientada pelo seu médico poderá ser tratada em casa. Assim a dieta deve ser adaptada à esta situação. Na presença de infecção haverá alteração glicêmica, o que requer ajuste na dose de insulina ou medicação oral e da dieta. Se a doença não impede ingesta oral normal, deve-se manter a prescrição dietética normal, considerando que este indivíduo provavelmente diminuiu sua atividade física, o que pode requerer ajuste no valor energético da dieta. Aumentar o fracionamento das refeições pode otimizar a ação do medicamento para controle do diabetes e melhorar a ingesta alimentar, já que é comum inapetência nos quadros infecciosos. É importante aumentar a ingesta hídrica para melhorar a hidratação. Se houver dificuldade de deglutição, deverá ser modificada a consistência da dieta para líquida e/ou pastosa, porém sem alterar sua composição nutricional, de forma a oferecer alimentos de melhor aceitação. 6.2 Diarréias 5. Pontos importantes - Para que a pessoa diabética tenha total independência quanto a sua dieta e desfrute do lazer de uma vida No caso de diarréia, manter a alimentação normal, reduzindo alimentos irritantes e estimulantes da mucosa intestinal e aumentar consideravelmente a ingestão C. Viggiano / Diabetes Clínica 01 (1999) 150–154 hídrica, e reposição de eletrólitos através de sucos de frutas, água de coco e sal de cozinha (cloreto de sódio), exceto quando houver prescrição de eletrólitos via medicamentosa. Na presença de vômitos não haverá indicação para tratamento domiciliar. É importante lembrar que deverá haver monitorização freqüente da glicemia durante todo o período de doença. 7. Complicações agudas 7.1 Hiperglicemia Quando houver indicação médica para o tratamento de hiperglicemia no domicílio, os diabéticos insulinodependentes e não insulino-dependentes deverão receber as seguintes recomendações: - Manter a dieta habitual, pois é freqüente a noção de que a redução da alimentação acarretará melhora da descompensação diabética. Mas, devemos considerar que muitas vezes o descontrole metabólico pode estar ocorrendo devido a transgressão dietética, que teve início em uma festa ou viagem e que a polifagia também contribui e dificulta o seguimento da dieta. Portanto, é fundamental que na história clínica sejam identificados os fatores causais da hiperglicemia; - Aumentar a ingestão de líquidos, principalmente de água, para prevenir a desidratação; - A reposição do potássio perdido pela diurese poderá se dar pela ingestão de caldo de carne, sucos de frutas, como melão e laranja e água de coco; - Selecionar os alimentos e prepará-los de forma que facilitem a digestão. O fracionamento deverá também ser mantido, sobretudo se náusea estiver presente. 7.2 Hipoglicemia A hipoglicemia é mais freqüente nos diabéticos tratados com insulina, porém, pode também acontecer em uso de hipoglicemiantes orais. É uma complicação aguda que na maioria das vezes pode ser tratada pelo próprio diabético e pelas pessoas que o cercam. Para isto, é de fundamental importância saber como tratar e sobretudo como prevenir sua ocorrência. Dependendo do nível glicêmico, as recomendações serão diferenciadas: Hipoglicemia leve: O indivíduo mantém a consciência e apresenta sintomas leves como fome, náuseas, cefa- 153 léia, fraqueza. Deverá ser tratado com carboidratos complexos (pães, biscoitos salgados, arroz, batata, etc). As após 10 a 15 minutos os sintomas persistirem ou acentuarem-se, suplementar com carboidratos simples (açúcar, mel, água com açúcar, balas, refrigerante comum, suco de frutas, tablete de glicose ou geleia de frutas). Hipoglicemia intensa: mantém ainda a consciência, mas os sintomas são mais intensos: sudorese, taquicardia, tremor, confusão, distúrbio de comportamento (apatia, irritação, agressividade) e visão turva. Neste caso, a ação deve ser imediata, oferecendo ao indivíduo carboidratos simples, preferencialmente líquidos, pois a evolução rápida dos sintomas pode torná-lo inconsciente. Se apresentar dificuldade para levar o alimento à boca, deve ser auxiliado ou então, massagear açúcar ou mel nas gengivas e mucosa oral, até que apresente melhora. Em seguida, deve ser ministrado carboidrato complexo ou realizada uma refeição para que não haja reincidência do episódio. OBS: Se o diabético não puder deglutir, não deverá ser alimentado, pois poderá ocorrer aspiração do alimento. Neste caso ainda é válida a massagem de carboidrato simples nas gengivas. Hipoglicemia severa: Estando os níveis glicêmicos muito baixos, ocorrerá perda de consciência. Neste caso, as pessoas que cercam o diabético devem ser orientadas a massagear as gengivas e mucosa oral com açúcar ou mel e procurar atendimento médico imediatamente. - Alertamos que se a hipoglicemia não for adequada e prontamente corrigida poderá progredir, causando danos neurológicos com possíveis seqüelas e evoluir até o coma e morte. - Se a hipoglicemia ocorrer durante o pico máximo de ação da insulina ou em conseqüência de erros na dosagem ou no tipo de insulina, além dos alimentos mencionados, utilizar também alimentos protéicos (leite, queijo, iogurte, ovos, carnes) pois as proteínas podem fornecer glicose de forma mais lenta, evitando que o nível glicêmico atinja valores muito baixos novamente. Recomenda-se, pela mesma razão, incluir diariamente proteínas na última refeição, para prevenir hipoglicemias noturnas. Para evitar hipoglicemias - Fracionar a alimentação de acordo com o tempo de ação da insulina hipoglicemiante; - Não atrasar horários de refeições; 154 C. Viggiano / Diabetes Clínica 01 (1999) 150–154 - Não diminuir as porções de alimentos sem ajustar a medicação e intensidade dos exercícios físicos; 5. - Ajustar a alimentação à prática de exercícios físicos e atividades ocupacionais, especialmente àquelas não habituais: 6. - Evitar bebidas alcoólicas; 7. - Estar mais atento para sinais e sintomas de hipoglicemia se tiver alterações renais ou hepáticas. 8. 9. Referências 10. 3. 4. 11. 12. 13. INFORMAÇÃO PUBLICITÁRIA DIAPED, a proteção dos seus pés Divulgue este benefício, tenha Diaped em seu estabelecimento. O POR POD AD GOS DA ÓLO DIAPED é um creme desodorante e hidratante para os pés. Formulado à base de agentes queratolíricos e emolientes, que hidratam e suavizam a pele, evitando calos e rachaduras. Contém óleo essencial de lavanda que ativa a circulação e tem propriedades antissépticas e desodorante. O E APROV AD 2. Brand JC, Foste KA, Corman S, Truwell AS. The glycaemic and insulin indices of realistic meals and rye bread tested in healthy subjects. Diab Nutr Metab 1990;3:137-142. Brand Miller J. The importance of glycemic index in diabetes. Am J Clin Nutr 1994;59 Suppl: 747-752. Brand Miller J, Foster KA. International tables of glycemic index. Am J clin Nutr 1995;62 Suppl:871-893. Brown D, Tomlinson D, Brand Miller J. The development of AD TEST AN 1. low glycaemic index breads. Proc Nutr Soc Aust 1992; 17-62. Crapo PA, Reaven G, Olefsky J. Postprandial plasma-glucose and insulin responses to different complexes carbohydrates. Diab 1977;26:1178-83. D’Emden MC, Marwick TH, Dreghorn J, Howlett VI, Cameron DP. Postprandial glucose and insulin responses to different types of spaghetti and bread. Diab Res Clin Pract 1987;221-226. Frost G, Wilding JPH, Beecham J. Dietary advice based on the glycaemic index improves dietary profiles and metabolic control in Type 2 diabetic patients. Diab Med 1994;11:397-401. Holler H, pastors JG. 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Palumbo* Resumo O diabetes mellitus não-insulino dependente (DMNID)afeta aproximadamente 12 milhões de pessoas nos Estados Unidos. O DMNID coexiste freqüentemente com outras condições, como a obesidade, a dislipidemia, a doença vascular aterosclerótica, e a hipertensão, que contribuem para a morbidade e a mortalidade. Embora o principal objetivo clínico no tratamento do DMNID seja controlar a hiperglicemia, o objetivo a longo prazo é prevenir as complicações microvasculares e macrovasculares. A doença cardiovascular é a principal causa de óbito em pacientes DMNID. Embora a hiperglicemia possa ser controlada de forma adequada, os fatores de risco para doença arterial coronariana pode permanecer inalterados. O tratamento com metformina controla a hiperglicemia e pode apresentar efeitos positivos nos fatores de risco cardiovascular. Quando usada isoladamente ou em combinação com sulfoniluréias, a metformina tende a estabilizar ou diminuir o peso, mantém ou reduz os níveis de insulina, apresenta efeitos benéficos nos perfis plasmáticos dos lipídios, e pode também apresentar efeitos favoráveis na pressão arterial e no sistema fibrinolítico. ©1998 Elsevier Science Inc. Todos os direitos reservados. © 1998 Elsevier Science Inc. Journal of Diabetes and Its Complications 1998; 12:110–119 * Dr. P. J. Palumbo, Mayo Clinic, 13400 East Shea Blvd., Scottsdale, AZ 85259. Tel: +602-301-7217; Fax: +602-301-8918. PII S1056-8727(97)00053-6 156 P. Palumbo / Diabetes Clínica 01 (1999) 155–166 1. Introdução A prevalência total do diabetes nos Estados Unidos está estimada entre 2 % e 5 % da população (aproximadamente 12 milhões de pessoas). O diabetes mellitus insulino-dependente (DMID, ou diabetes tipo 1) é menos freqüente, afetando 5 %-10 % da população diabética, e geralmente se desenvolve no início da adolescência [1, 2]. O diabetes mellitus não-insulino dependente (DMNID, ou diabetes tipo 2) é a forma mais comum de diabetes, e 70 %-90 % dos pacientes são obesos ou apresentam sobrepeso. Em determinadas populações geneticamente isoladas, especialmente nos índios Pima, parece existir uma predisposição genética em relação a obesidade, e a incidência do DMNID em indivíduos obesos pode alcançar 60 %-80 %. Embora a obesidade não seja provavelmente um fator causador per se mas sim um fator agravante, a patogênese do DMNID envolve muito possivelmente determinantes genéticos que são comuns à obesidade bem como a outros distúrbios freqüentemente associados com o DMNID, como a aterosclerose, a hiperlipidemia e a hipertensão [3]. Predisposição genética Obesidade Idade Vida sedentária Resistência à insulina Hiperinsulinemia ↑ Glicose ↑ Mobilização FFA ↓ Secreção célula ß DMNID ↑ FFA ↑ Colesterol VLDL ↓ Colesterol HDL Dislipidemia ↑ Proliferação muscular suave ↑ Atividade do receptor LDL ↑ Síntese de lipídeos ↑ Atividade adrenergica ↑ Retenção de sódio ↑ Retenção de cálcio Arteriosclerose Hipertensão Fig. 1. Síndrome da resistência à insulina (Síndrome “X”). Fatores genéticos e outros fatores como a obesidade e o estilo de vida sedentário contribuem para o desenvolvimento da resistência à insulina. A resistência à insulina e a hiperglicemia levam à hiperinsulinemia compensatória, e podem eventualmente resultar no desenvolvimento do diabetes mellitus não-insulino dependente, dislipidemia, aterosclerose e hipertensão. Abreviaturas: AGL, ácidos graxos livres, HDL, lipoproteína de alta densidade; LDL, lipoproteína de baixa densidade; VLDL, lipoproteína de muita baixo densidade. O DMNID caracteriza-se por uma tríade de anormalidades metabólicas que inclui produção excessiva de glicose hepática, insulina pancreática deficiente, e resistência periférica à ação da insulina [4]. A maioria dos pacientes DMNID apresenta resistência e deficiência de insulina. Embora os níveis de insulina em jejum sejam freqüentemente normais e elevados, a maioria dos pacientes com hiperglicemia em jejum apresenta níveis de insulina abaixo do ideal em resposta a administração oral de glicose. Desta tríade de anormalidades, a resistência à insulina é um achado comum nos outros distúrbios (aterosclerose, hiperlipidemia e hipertensão) tipicamente associado à DMNID. Vários pesquisadores sugeriram que esta falha pode ser considerada a condição indispensável para este conjunto de distúrbios, que eles denominam de “síndrome X” [5, 6]. Por sua vez, a resistência a insulina promove um estado de hiperinsulinemia compensatória que leva a outras seqüelas desfavoráveis (Fig. 1). Uma vez que a hiperglicemia se desenvolve no paciente DMNID insulino-resistente, ocorre aumento da mobilização dos ácidos graxos, diminuição do metabolismo da glicose, a secreção de insulina é prejudicada e a resistência a insulina torna-se mais acentuada [3]. Se bem que esta teoria unificada seja atraente, ela não foi anda comprovada. Edelman e Henry [7] citam uma pesquisa que sugere que a secreção deficiente de insulina é o defeito predominante em pacientes DMNID não obesos. Além disso, Shamoon [8] formulou a hipótese de que tanto a resistência a insulina quanto a deficiência na secreção de insulina devem ocorrer para o desenvolvimento do DMNID. Embora o DMNID e o DMID se diferenciem consideravelmente no tocante às suas origens patogênicas, os objetivos do tratamento são quase os mesmos para ambas as formas de diabetes. A normalização dos níveis de glicose é o objetivo principal. Há uma concordância geral de que a maioria, se não dizer todas as complicações adversas a longo prazo do diabetes são o resultado do controle inadequado da hiperglicemia e das anormalidades metabólicas decorrentes da hiperglicemia crônica [3, 7, 9]. A terapia deve também ser direcionada no sentido de minimizar o risco de hipoglicemia, de reduzir o peso corporal, e de controlar a hipertensão e a dislipidemia. 1.1 Opções terapêuticas no DMNID. No paciente diabético obeso ou com sobrepeso, adota-se geralmente, como terapia de primeira linha, a modificação na dieta e um programa de exercícios, com o objetivo de reduzir o peso a níveis ideais. Em alguns pacientes, isto é altamente eficaz e resulta na normali- P. Palumbo / Diabetes Clínica 01 (1999) 155–166 zação dos níveis de glicose, no controle da hipertensão, na correção das dislipidemias, na redução do risco para complicações neuropáticas e complicações micro e macrovasculares. Entretanto, para a maioria dos pacientes, o controle metabólico é inadequado ou os pacientes são incapazes ou relutantes em aceitar as mudanças indispensáveis no seu estilo de vida. Para estes pacientes, é necessária a intervenção farmacoterapêutica. As drogas antidiabéticas orais são prescritas com maior freqüência e incluem sulfoniluréias, biguanidas, inibidores da absorção de carboidrato e tiazolenodionas. As sulfoniluréias têm sido frequente e extensivamente usadas no tratamento do DMNID nos Estados Unidos [9]. A metformina é a única biguanida aprovada para o tratamento da DMNID nos Estados Unidos [10-12]. O inibidor da absorção de carboidrato, a acarbose, foi recentemente liberado para o tratamento da DMNID [13]. A troglitazona, uma tiazolenodiona, foi recentemente aprovada e liberada para tratamento de pacientes com DMNID em tratamento com insulina, para melhorar o controle glicêmico [13, 14]. A terapia com insulina continua a ser usada para controlar a hiperglicemia naqueles pacientes nos quais a modificação nos hábitos alimentares e o programa de exercícios, ou os agentes hipoglicêmicos, tenham se mostrado inadequados. Nos Estados Unidos, aproximadamente 25% de todos os pacientes com DMNID são tratados com insulina [7]. 2. Complicações cardiovasculares associadas ao DMNID A associação entre o diabetes e o risco aumentado de doença arterial coronariana (DAC)e a aterosclerose arterial coronariana é bem conhecida [15, 16]. As taxas de mortalidade associadas a DAC são duas a três vezes mais alta em pacientes com DMNID [15-18]. Os pacientes com diabetes também apresentam valores mais altos de lípides e uma maior incidência de obesidade e hipertensão do que pacientes sem diabetes [15, 19, 20]. Os pacientes diabéticos apresentam um risco mais alto de desenvolver doença vascular periférica (DVP), com aproximadamente 8 % dos pacientes apresentando evidência clínica de DVP à época do diagnóstico do diabetes, e incidência cumulativa de DVP subsequente estimada em 15 % 10 anos e 45 % 20 anos após o diagnóstico [21]. Entretanto, são encontradas anormalidades semelhantes e significativas nos lipídios em pacientes com DVP, independentemente de eles terem ou não diabetes [19]. Além disso, embora o diabetes seja um fator de risco significativo para o desenvolvimento e progres- 157 são do DVP, a hipertensão, o fumo, e uma história de DAC em pacientes com diabetes são fatores de risco independentes no prognóstico da progressão versus não progressão da DVP [22]. Jarret [17] ponderou que o DMNID não está relacionado casualmente à DAC e a aterosclerose. Ao contrário, Jarret propôs que o DMNID se desenvolve em indivíduos que já possuem características que aumentam a tendência para DMNID. Reaven [5] propôs que a resistência à insulina seja responsável tanto pelo DMNID e DAC como pelos outros distúrbios associados a “síndrome X”. A resistência à insulina promove a hiperinsulinemia compensatória, levando a uma cascata de alterações metabólicas indesejáveis. Se a hiperinsulinemia ou a resistência à insulina per se estão casualmente associadas à doença aterosclerótica macrovascular permanece uma questão controversa. Até agora não há evidência de que as terapias que promovem ou mantêm a hiperinsulinemia como um meio de controlar a hiperglicemia aceleram a aterogênese e a doença macrovascular. Se bem que o controle da hiperglicemia em pacientes com DMNID continue sendo o principal objetivo terapêutico, o controle da dislipidemia e da hipertensão é igualmente importante. Os mecanismos pelos quais a resistência à insulina e a hiperinsulinemia agravam os fatores de risco cardiovascular permanecem desconhecidos e foram recentemente tema de várias revisões [3, 5, 23]. Os pacientes com hipertensão tratada ou não são resistentes a insulina, hiperglicêmicos e hiperinsulinêmicos, tendo sido observada uma correlação direta entre pressão arterial e concentração de insulina [5]. Os possíveis locais de ação da insulina incluem os rins e as glândulas supra-renais. Os níveis plasmáticos elevados de insulina parecem promover a reabsorção de sódio no túbulo renal e aumentar a reabsorção de volume nos túbulos proximais. A hiperinsulinemia também aumenta significativamente as concentrações plasmáticas de catecolaminas, aumentando a atividade simpática. A hipertensão essencial e o DMNID com características associadas de obesidade, hipertrofia ventricular esquerda e aterosclerose acelerada podem ser originados de uma única lesão, que afeta as concentrações intracelulares de cálcio [23]. O cálcio intracelular aumentado e a diminuição do magnésio livre podem de forma independente causar o aumento da vasoconstrição e da contratilidade no músculo cardíaco e no músculo liso periférico, resistência à insulina no músculo liso e gordura periférica, e hipersecreção de insulina pelas células beta do pâncreas. Níveis aumentados de insulina podem também atuar de forma isolada ou em conjunto com outros fatores de crescimento, tais como fatores de cres- 158 P. Palumbo / Diabetes Clínica 01 (1999) 155–166 cimento tipo insulina (IGF-1) , para induzir a proliferação do músculo liso nas paredes arteriais, iniciando ou agravando a doença macrovascular [3]. A hipertensão pode desenvolver-se se houver envolvimento de arteríolas menores. A hiperinsulinemia também estimula a hiperlipidemia e desequilíbrios significativos no perfil sérico dos lipídios. Os níveis de ácidos graxos livres aumentam em resposta à diminuição da atividade antilipolítica associada à resistência à insulina. Como resultado, a produção hepática de lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDLs) aumenta e síntese de lipoproteína de alta densidade diminui. Ocorre a redução do clearance de VLDLs como resultado da resistência a insulina, contribuindo para a condição dislipidêmica [3, 5]. A diminuição da fibrinólise e o aumento da agregação plaquetária estão fortemente envolvidos como fatores responsáveis de doença cardiovascular associada ao DMNID. A deposição de fibrina nas artérias contribui para o desenvolvimento progressivo da placa aterosclerótica e da formação do trombo, levando ao desenvolvimento da doença arterial coronariana (DAC) e a aumento do risco de infarto do miocárdio. A fibrina é um importante constituinte da placa aterosclerótica e pode contribuir para o crescimento da placa através da estimulação da proliferação da célula endotelial e pelo aumento de ligações e acúmulo de lipoproteínas de baixa densidade (LDL) [24]. Estudos recentes em pacientes com DAC mostraram que uma falha no sistema fibrinolítico pode estar envolvida na patogênese da DAC. Este defeito é caracterizado por hipofibrinólise devida ao aumento significativo dos níveis plasmáticos do inibidor-1 do ativador do plasminogênio (PAI-1), e pode haver também diminuição na atividade de ativador do plasminogênio (t-PA) e nos depósitos de t-PA mobilizável [25-28]. Os níveis de PAI1 estão associados de forma positiva a níveis séricos de triglicerídeos [25, 28, 29]. Estudos mostraram que os níveis de PAI-1 estão aumentados também em pacientes obesos não-diabéticos resistentes à insulina e em pacientes DMNID [24]. Além disso, foi demonstrado que a síntese do PAI-1 é estimulada nas células de hepatoma humano após a indução de um estado insulino-resistente [30]. A síntese de PAI-1 pelas células endoteliais não parece ser influenciada diretamente pela hiperinsulinemia, mas pode ser induzida nas células endoteliais da veia umbilical em cultura pelas VLDLs dos indivíduos hipertrigliceridêmicos [31]. Assim, permanece por definir a associação da hiperinsulinemia, resistência a insulina, e dislipidemia com o risco de DAC em pacientes DMNID. 3. Efeitos da metformina nos fatores de risco cardiovascular Além de suas propriedades antihiperglicêmicas, a metformina pode ter prováveis efeitos benéficos nos fatores de risco cardiovascular freqüentemente encontrados no DMNID. Daqui por diante, esta revisão enfocará estes prováveis efeitos da metformina. 3.1 Dislipidemia. A melhora do controle glicêmico, independentemente do modo de tratamento, está associada à melhora dos níveis de lipídios. A metformina apresenta efeitos na redução de lipídios independentes de seu efeito antihiperglicêmico (Tabela 1) [10, 32-44]. Muito deste efeito provavelmente é devido à diminuição das concentrações plasmáticas de triglicerídeos como resultado da diminuição da síntese hepática de VLDLs [12]. Em um estudo anterior, a metformina reduziu em uma média de 40 % os níveis séricos de triglicerídeos (TG) em pacientes com hipertrigliceridemia tipo IV [45]. Alterações não significativas na glicose plasmática foram observadas nestes pacientes não diabéticos, e os níveis de insulina não foram reduzidos exceto nos pacientes com hiperglicemia em jejum. Em um estudo similar, uma redução nos níveis de TG igual ou superior a 30 % foi obtida em 18 dos 30 pacientes com hipertrigliceridemia estável (tipos IIB e IV) tratados com metformina [46]. O efeito redutor de TG não foi correlacionado à diminuição de insulinemia, e sim provavelmente à secreção reduzida de lipoproteína. Vários outros estudos confirmaram que o tratamento com metformina pode reduzir significativamente os níveis de TG em 20 % - 45 % dos valores basais tanto em pacientes não diabéticos [32, 34] como em pacientes DMNID [37, 39, 41, 42, 44]. A extensão da redução é geralmente maior em pacientes que são claramente hipertrigliceridêmicos; pode também estar relacionada ao peso. Em um estudo de 35 pacientes DMNID que foram controlados de forma inadequada apenas através de dieta, a metformina não reduziu de forma significativa os níveis séricos de TG após 3 meses de tratamento no grupo como um todo [40]. Entretanto, a resposta do TG sérico variou com o índice inicial de massa corporal (IMC), com significativas diminuições nos níveis séricos de TG sendo observadas nos pacientes mais obesos. Reduções significativas nos níveis de colesterol total sérico, colesterol LDL, e colesterol VLDL, podem ser observadas com terapia com metformina em pacientes DMNID e não diabéticos. Uma revisão recente [11] resumiu os efeitos da metformina nos lipídios plasmáti- Tabela 1. Efeitos da metformina nos lipídios plasmáticos Alteração percentual em relação ao período basala População do estudo Nº de referência TG Colesterol total Colesterol LDL VLDL TG Colesterol VLDL Colesterol HDL 1,7 g/dia por 12 sem. 1,7 g/dia por 6 sem. – 27* – 24* – 18* – 15* — – 20* — — — — + 28* NS 2,55 g/dia por 6 meses. 2 g/dia por 9 sem. – 56* – 14 – 4* – 9* — – 12* — – 13 — – 15 — +4 até 2,55 g/dia por 29 sem. até 3 g/dia por 4 sem. 2,5 g/dia por 3 meses até 2,55 g/dia + SU por 8+sem. até 2,55 g/dia por 12 sem. até 3 g/dia por 3 meses até 2,5 g/dia +SU por 4 meses até 1,7 g/dia + SU por 3 meses até 2,55 g/dia por 4 meses até 2,5 g/dia por 4 meses –8 – 21c – 23* – 21* – 10* –1 – 22* – 29* – 12 — – 5* – 13c – 8* – 5c – 9* – 6* – 6* – 4* – 14* — – 8* – 15c –4 +2 – 10* – 9* – 9* –2 — NS — — – 27* – 24* — — — – 25* — — — — – 36* – 30* — — — – 41* — — +3 – 2c + 23* +2 –1 –3 –3 + 13* — — Alterações significativas (p ≤ 0,05) são indicadas por um asterisco; todos os outros números indicam alterações não significativas ou significância não determinada b Calculadas a partir de valores informados. c Significância estatística não determinada d Alteração percentual relativa a 12 semanas de tratamento com placebo. Abreviaturas: HDL, lipoproteína de alta densidade; LDL, lipoproteína de baixa densidade; mes, meses; NS, alterações não significativas; SU, sulfoniluréia; TG, triglicerídeos; VLDL, lipoproteína de muito baixa densidade; sem., semanas; mês, meses; DMNID, diabetes mellitus não-insulino dependente. ↑ = aumento significativo (p ≤ 0,05); ↓ = diminuição significativa (p ≤ 0,05; − = não determinada). a P. Palumbo / Diabetes Clínica 01 (1999) 155–166 Hipertensos não diabéticos 32 33 Hiperlipidemia não diabética 34b 35b DMNID 10b 36b 37b 38b 39bd 40b 41b 42b 43b 44 Esquema de tratamento 159 160 P. Palumbo / Diabetes Clínica 01 (1999) 155–166 cos em pacientes magros e com sobrepeso com DMNID, e mencionou estudos clínicos relatando reduções modestas porém significativas do colesterol total em até 17 % em comparação com valores basais, e reduções de 9 % - 24 % no colesterol LDL em comparação com valores basais. Estes resultados, corroborados pelos dados de outros estudos, encontram-se resumidos na Tabela 1 [10, 32-44]. Estudos cruzados comparando a metformina com a sulfoniluréia, gliburida, mostraram que a metformina pode melhorar os perfis do colesterol LDL e total, enquanto que melhoras semelhantes não foram comprovadas com terapia a base de gliburida [36,40]. Além disso, se a metformina é retirada da terapia combinada com sulfoniluréia em pacientes DMNID, os níveis séricos de colesterol LDL e total aumentam; este efeito é revertido pela reintrodução da terapia com metformina [40]. Níveis baixos de colesterol HDL, tipicamente associados a obesidade, a hipertensão, a aterosclerose e ao DMNID controlado de forma insatisfatória são considerados fatores de risco significativos para a DAC. No paciente com sobrepeso ou no diabético obeso, as medidas para o controle do peso que reduzem o peso corporal em no mínimo 10 % podem resultar em uma diminuição significativa nos níveis plasmáticos de TG e em um concomitante aumento nos níveis do colesterol HDL. Entretanto, o tratamento do DMNID com sulfoniluréias pode reduzir os níveis do colesterol HDL, levantando a preocupação que o tratamento com estes agentes pode na verdade aumentar o risco de DAC em uma população já predisposta a desenvolver doença cardiovascular [47-49]. A maioria dos estudos com metformina sugere que este não é o caso com essa droga. Vários estudos demonstraram que a metformina pode na verdade aumentar os níveis do colesterol HDL até 15 %-20 % em pacientes com DMNID, mas este aumento é pequeno em termos de valores absolutos (Tabela 1) [10, 32-44] 3.2 Obesidade O peso é um importante fator de risco para a DAC. Embora ainda existam controvérsias se o risco é secundário para níveis elevados de colesterol e hipertensão, os dados do Framingham Heart Study sugerem que é, de fato, um fator de risco primário independente para DAC. Uma vez que a grande maioria dos pacientes DMNID apresentam sobrepeso, o controle do ganho de peso pode reduzir de forma significativa o risco de DAC. Vários estudos mostraram que os pacientes com DMNID tratados com sulfoniluréias tendem a ganhar peso [40, 50-54]. Em um estudo, os pacientes diabéticos obesos tratados com clorpropamida por 12 meses ganha- ram uma média de 5,3 kg [53]. Em contrapartida, a estabilização do peso ou a sua perda foi observada com frequência com o tratamento com metformina. Enquanto alguns pesquisadores relataram pouco ou nenhum efeito da metformina no peso [39, 50, 55] outros relataram perda de peso com o tratamento com metformina. Uma ligeira diminuição no peso médio de 2,3 kg foi relatada em 254 pacientes hiperlipidêmicos tratados por 6 meses com metformina [34] e uma perda de peso média de 1,2 kg foi relatada em 77 pacientes diabéticos obesos tratados durante 12 meses com metformina [53]. Mais recentemente, dois estudos relataram perda de peso de aproximadamente 3,2 a 4,1 kg em pacientes com DMNID após tratamento com metformina por períodos de 16-29 semanas [10, 43]. Em um estudo cruzado, randomizado, duplo-cego, 20 pacientes diabéticos idosos ganharam um média de 1,6 kg após tratamento com tolbutamida por 3 meses, mas perderam um média de 2 kg quando tratados com metformina por 3 meses [52] Os mecanismos através dos quais ocorre a redução de peso com o tratamento com metformina não são conhecidos. A metformina pode produzir redução de peso através da melhora na utilização de carboidratos no trato gastrointestinal, efeitos colaterais gastrointestinais com doses mais altas, malabsorção de carboidratos, e/ ou através de anorexia associada [11, 12]. 3.3 Hipertensão A hipertensão é um importante fator de risco para a doença arterial coronariana. Estudos em pacientes hipertensos não obesos, não diabéticos, tratados com metformina, demonstrou uma redução significativa nas pressões arteriais sistólica e diastólica, de 40 mm Hg e 24 mm Hg, respectivamente. A pressão arterial permaneceu melhorada de forma significativa 2 meses após a interrupção da administração da droga, mas apresentou uma tendência de retorno aos níveis anteriores ao tratamento [33, 56, 57]. Efeitos similares na pressão arterial foram relatados em um grande estudo a longo prazo com pacientes não diabéticos hiperlipidêmicos tratados com metformina [34]. Neste estudo, as pressões arterial sistólica e diastólica diminuíram em 11,3 % e 13,3 %, respectivamente, em 254 pacientes que receberam metformina por um período de 6 meses [34]. Chan et al. mostraram um efeito benéfico da metformina em pacientes normotensos com DMNID não complicado que receberam gliburida ou metformina durante 4 semanas antes do cruzamento para tratamento alternativo por um período adicional de 4 semanas [36]. Resultados mostraram que as duas drogas diminuíram a pressão arterial em comparação com os valores basais. Entretanto, a pres- 162 P. Palumbo / Diabetes Clínica 01 (1999) 155–166 Ativador de plaminogênio tipo-tecido (t-PA) Uroquinase (U-PA) Inibidor 1 do ativador de plasminogênio (PAI-1) Inibidor 2 do ativador de plasminogênio (PAI-2) plasmina Plasminogênio α-2-Antiplasma fibrina Produtos da degradação de fibrinogênio (FDPs) Fig. 2. Principais componentes do sistema fibrinolítico. Níveis plasmáticos aumentados de PAI-1 com ou sem diminuição dos níveis plasmáticos de t-PA estão envolvidos na patogênese da doença arterial coronariana. são arterial diastólica após a terapia com metformina foi significativamente mais baixa do que os valores basais ou valores observados após o tratamento com sulfoniluréia. Além disso, a resistência vascular periférica foi significativamente maior com o tratamento com gliburida em comparação com os valores basais ou valores obtidos após o tratamento com metformina. Embora a metformina possa ser benéfica no controle da hipertensão, deve-se observar que os efeitos da metformina na pressão arterial, relatados em estudos clínicos, não são inteiramente consistentes. Nagi e Yudkin [39] e Dornan et al. [55] não relataram o efeito da metformina na pressão arterial de pacientes com DMNID tratados com metformina. 3.4 Agregação Plaquetária A agregação plaquetária desempenha um papel importante no desenvolvimento da trombose coronariana. No começo de 1980, Tremoli e colaboradores [58] observaram que a metformina poderia reverter completamente a hiperagregação plaquetária, iniciada com o ácido araquidônico ou colágeno, em coelhos hipercolesterolêmicos. Desde então, vários pesquisadores procuraram determinar se a metformina apresenta efeitos similares na agregação plaquetária na doença humana. Em um estudo com 24 pacientes não diabéticos com hiperlipidemia, o tratamento com metformina não apresentou efeito apreciável na contagem plaquetária ou na função da agregação plaquetária induzida in vitro pelo difosfato de adenosina (ADP), adrenalina, ou coláge- no[35]. Entretanto, Gin et al. observaram em pacientes com DMNID que o tratamento com metformina diminuiu de forma significativa a agregação plaquetária induzida pelo ADP in vitro, e este efeito pareceu ser independente de outros fatores metabólicos, tais como níveis sangüíneos de glicose, colesterol total, TG total e fibrinogênio [59]. Collier et al. estudaram os fatores da agregação plaquetária em 24 pacientes com DMNID, recentemente diagnosticados, após 3-6 semanas apenas com controle na dieta, e posteriormente então após 6 meses de terapia com metformina ou com sulfoniluréia, gliclazida [60]. Reduções significativas na densidade plaquetária, na beta-tromboglobulina intraplaquetária e na b-TG plasmática foram observadas tanto com o controle alimentar quanto com o tratamento. Os autores concluíram que a melhora no controle glicêmico por si só foi responsável pela maioria, se não por todos, os efeitos benéficos dos vários parâmetros estudados. Entretanto, um estudo cruzado mais recente em pacientes DMNID tratados com placebo ou metformina por período alternados de 12 semanas não demonstrou quaisquer alterações significativas nos níveis de fibrinogênio, agregação plaquetária espontânea, agregação induzida pelo ADP, ou marcadores plasmáticos de agregação in vivo, como b-TG e níveis plaquetários de fator 4 [39]. Assim, parece improvável que a metformina tenha um efeito direto na correção das anomalias da agregação plaquetária associadas ao DMNID. 3.5 Atividade fibrinolítica O sistema fibrinolítico envolve uma interação complexa de enzimas levando à conversão de plasminogênio em plasmina, que por sua vez atua para degradar a fibrina (Fig. 2). O inibidor 1 do ativador de plasminogênio (PAI-1)é sintetizado nas células vasculares endoteliais e não hepatócitos, e armazenado nas plaquetas. Ele age em conjunto com o ativador de plasminogênio tipotecido (t-PA) para regular a ativação do plasminogênio. No DMNID, a resistência a insulina é acompanhada por níveis aumentados de PAI-1, levando a uma redução da fibrinólise. Foi mostrado que a síntese de PAI-1 aumenta nas células de hepatoma humano dessensibilizadas pela insulina após estimulação com baixos níveis de insulina [30]. Além disso, ao adicionar concentrações farmacológicas de metformina a culturas de células, a síntese de PAI-1 foi reduzida aproximadamente aos níveis basais. Em estudos clínicos, os efeitos da metformina no sistema fibrinolítico são menos evidentes. Em um estudo com 11 homens não diabéticos e não obesos, com hi- P. Palumbo / Diabetes Clínica 01 (1999) 155–166 pertensão não tratada, os níveis de PAI-1 foram duas vezes maior nos pacientes hipertensos do que nos pacientes controle normotensos. O tratamento com metformina por 6 semanas não apresentou efeito nos níveis de PAI-1 ou t-PA [57]. Outro estudo, dos mesmos pesquisadores, com nove pacientes hipertensos não diabéticos, demonstrou um aumento significativo na atividade t-PA após o tratamento com metformina [33]. Neste estudo, a metformina não apresentou efeito apreciável nos níveis de fibrinogênio, e, embora os níveis de PAI-1 tenham diminuído em 18 %, a alteração não foi significativa. Todas as variáveis fibrinolíticas retornaram aos níveis anteriores ao tratamento no prazo de 2 meses após a suspensão da terapia com metformina. Em contrapartida, uma redução significativa nos níveis de PAI-1 foi relatada em pacientes obesos não diabéticos tratados com metformina, acompanhada por um aumento geral na atividade fibrinolítica [61]. Reduções consistentes e duradouras no PAI-1 e a melhora na função vascular periférica foram também relatadas em séries de pacientes com doença arterial tratados com dose baixa (1 g/dia) de metformina [62]. Da mesma forma, em um estudo com 38 pacientes DMNID, o tratamento com metformina por 6 semanas resultou em uma redução acentuada nas concentrações de PAI-1 no período basal e após a oclusão venosa [63]. Os níveis de fibrinogênio não foram afetados, e aumentos significativos na atividade t-PA foram observados somente em amostras de pós-oclusão venosa medidas após 3 semanas de tratamento. Um apoio adi- 163 cional ao efeito da metformina nos níveis de PAI-1 vem de um estudo cruzado randomizado, duplo-cego, controlado por placebo, em 27 pacientes com DMNID. Os pacientes receberam placebo ou até 2550 mg/dia de metformina por 12 semanas antes do cruzamento para o esquema alternativo de tratamento. Os resultados deste estudo mostraram uma diminuição significativa nas concentrações de PAI-1 com metformina em comparação com os valores basais ou valores obtidos após 12 semanas de tratamento com placebo. Os níveis plasmáticos de fibrinogênio não foram afetados pelo tratamento com metformina. A atividade de t-PA não foi acompanhada neste estudo [39]. As diferenças na redução induzida pela metformina nos níveis de PAI-1 observadas em pacientes com ou sem diabetes podem refletir diferenças nos níveis basais de PAI-1, a gravidade da resistência à insulina, o grau de hiperinsulinemia, ou o IMC. Foi relatada uma correlação significativa entre a redução de PAI-1 e a redução no IMC [39]. Da mesma forma, o nível médio basal de PAI-1 (26,5 U/ml) foi maior neste estudo do que os valores basais nos dois estudos [33, 57] com pacientes hipertensos não obesos (18,4 e 18,5 U/ml, respectivamente). Embora a terapia com metformina tenha reduzido significativamente o nível médio de PAI1 para 19,6 U/ml, este permaneceu ainda substancialmente acima da faixa normal. Embora estudos adicionais sejam necessários para determinar melhor o efeito das biguanidas nos sistema fibrinolítico, parece que o tratamento a longo prazo dos pacientes DMNID com Tabela 2 Efeitos vasculares qualitativos da metformina em modelos animais e em culturas de células Estudos Animais ↑ perfusão microvascular e vasomotricidade durante choque hemorrágico em hamsters normais ↑ dilatação microvascular e vasomotricidade em asas de morcegos diabéticos ↑ metabolismo do colesterol VLDL pelas paredes arteriais em coelhos alimentados com colesterol ↑ vasomotricidade arteriolar em hamster diabéticos ↓ absorção de colesterol VLDL pelas células arteriais em coelhos alimentados com colesterol ↓ no tamanho dos infartos do miocárdio em ratos após ligadura coronariana esquerda ↓ edema periférico após embolização experimental em ratos ↓ permeabilidade capilar em hamsters diabéticos ↓ neovascularização induzida artificialmente em córneas de coelhos ↓ formação de trombos nas arteríolas de ratos após lesão a laser ↓ desenvolvimento ateromatoso em coelhos alimentados com colesterol Estudos in vitro em linhas de células humanas ↓ crescimento de células arteriais da musculatura lisa e fibroblastos humanos ↓ proliferação de células endoteliais hipóxicas humanas ↓ síntese de PAI-1 associada a DAC pelas células humanas de hepatoma desensibilizadas pela insulina (Abreviaturas: DAC, doença arterial coronariana, PAI-1, inibidor 1 do ativador de plasminogênio, VLDL, lipoproteína de muito baixa densidade) 164 P. Palumbo / Diabetes Clínica 01 (1999) 155–166 Tabela 3 Efeitos da metformina no ECG e doença vascular periférica em 254 pacientes hiperlipidêmicos Número de pacientes ECGa Código 0 Minnesota Código 4 Minnesota Código 5 Minnesota Achados oscilopletismográficos de membro inferiorb Normal Anormal aχ²= bχ²= Basal Após 3 meses Após 6 meses 115 (45.3) 102 (40.2) 37 (14.6) 142 (55.9) 77 (30.3) 35 (13.8) 188 (74.0) 31 (12.2) 35 (13.8) 173 (68.1) 81 (31.9) 185 (72.8) 69 (27.2) 231 (90.1) 23 (9.1) 55,45 (2 graus de liberdade); p < 0,0001 42,06 (2 graus de liberdade); p < 0,0001 metformina não agrava a coagulopatia associada ao DMNID e pode reduzir o risco de trombose através deste efeito nos níveis de PAI-1. 3.6 Efeitos vasculares. Em estudos com animais e estudos conduzidos em culturas de células humanas, a metformina mostrou vários efeitos potencialmente benéficos direcionados para a reversão ou inibição do desenvolvimento dos eventos adversos no sistema vascular (Tabela 2) [62]. Em hamsters da Síria, a metformina é eficaz na promoção da vasomotricidade e de perfusão microvascular em arteríolas terminais após choque hemorrágico induzido [64, 65]. Além disso, a adesão de leucócitos às paredes das vênulas, conhecida por prejudicar a hemodinâmica e a função microvascular, foi também reduzida pela administração da metformina. Embora a droga aumentasse a pressão arterial média nestes animais, a vasomotricidade persistente foi observada mesmo quando a pressão arterial foi unida mais reduzida, sugerindo um efeito direto da metformina na estimulação do músculo liso [64]. Em um grande estudo clínico, 254 pacientes com hiperlipidemia foram tratados por até 6 meses com metformina. Aproximadamente dois terços dos pacientes com sinais oscilográficos ou pletismográficos de doença vascular periférica apresentaram evidência de uma melhor circulação periférica e de capacidade de marcha ao final do estudo (Tabela 3) [34]. Da mesma forma, 35 dos 42 pacientes com angina pectoris foram capazes de descontinuar o uso de nitroglicerina ao final do estudo, e foram observadas anormalidades do ECG (Minnesota Código 4 ou 5) em apenas 66 (26 %) dos pacientes versus 139 (54,7 %) pacientes no início do estudo [34]. Posteriormente, dois estudos controlados por placebo foram conduzidos em indivíduos não diabéticos com doença vascular periférica, e a administração de metformina foi associada a uma melhora de 20-30 % no fluxo arterial para as artérias periféricas após um período padrão de isquemia [66]. Os pacientes com DMNID são freqüentemente obesos ou com sobrepeso e hipertensos, além de serem resistentes à insulina e dislipidêmicos. Essa constelação dos desequilíbrios metabólicos contribui para um aumento de quase três vezes no risco de DAC nesta população. Embora a ingestão reduzida de calorias, a perda de peso, e os programas de exercício possam ser eficazes na correção destes desequilíbrios, a intervenção farmacêutica é freqüentemente necessária para controlar a hiperglicemia. A metformina é um dos agentes orais atualmente disponíveis para o tratamento do DMNID. Acredita-se que a metformina atue na redução da produção hepática da glicose e da resistência à insulina nos tecidos periféricos. Quando utilizada isoladamente ou em combinação com sulfonilúreias, a metformina tende a promover a perda de peso, apresenta efeitos benéficos no perfil plasmático de lipídios, e pode apresentar efeitos favoráveis na pressão arterial. Seu efeito no sistema fibrinolítico e na agregação plaquetária não é conclusivo. Assim sendo, a metformina parece ser um agente eficaz que pode ser usado para alcançar o objetivo primário de controlar a hiperglicemia nos pacientes DMNID, com efeitos potenciais adicionais na obesidade, dislipidemia, e hipertensão. É justificada uma avaliação adicional do efeito da metformina nos fatores de risco cardiovasculares, como hipertensão e fibrinólise diminuída, em estudos controlados mais amplos. Se estes efeitos benéficos da metformina nos fatores de risco cardiovascular, incluindo a hiperglicemia, estão associados a diminuição da morbidade e mortalidade cardiovascular, ainda está para ser determinado. P. Palumbo / Diabetes Clínica 01 (1999) 155–166 Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. Olefsky JM: Diabetes mellitus, in Wyngaarden JB, Smith LH (eds), Textbook of Medicine, 18 th edition. Philadelphia, WB Saundersm 1988, pp. 1360-1381. American Diabetes Association: Medicinal Management of NonInsulin-Dependent (Type II) Diabetes, 3rd edition. Alexandria, VA, American Diabetes Association, 1994. Karam JH: Type II diabetes and syndrome X: Pathogene- sis and glycemic management. Endocrinal Metab Clin North Am 21:329–350, 1992. 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Diabetes Clínica Diabetes Clínica 03 (1999) 167–169 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas Orlistat: controle de peso e redução de fatores de risco cardiovascular Paulo Fernando Leite* A obesidade é responsável por inúmeras alterações metabólicas que contribuem para a patogênese do diabetes melito e das doenças cardiovasculares e está associada a um risco maior de morbidade e mortalidade. O excesso de gordura abdominal (obesidade central) parece atuar no aumento do colesterol e triglicérides no plasma, elevação de colesterol e baixa densidade (LDL-C) e diminuição nos níveis de HDL-C. As intervenções não farmacológicas convencionais baseadas em dieta e exercícios possuem sucesso limitado a longo prazo na manutenção da perda de peso. Entretanto, na atualidade, parece que a intervenção farmacológica associada à dieta melhora significativamente a eficácia do controle de peso a longo prazo. Embora a perda de peso seja um desfecho importante do tratamento da obesidade, a principal preocupação no manejo clínico desta doença é a redução do risco de morbidade e mortalidade através do controle dos fatores de risco cardiovascular e metabólicos subjacentes, como hipertensão arterial, dislipidemia aterogênica e resistência à insulina. A publicação dos resultados do ensaio de Davidson et al. (Tabela 1) sobre o controle do peso e redução dos fatores de risco em indivíduos obesos tratados com orlistat durante dois anos, responde a várias questões sobre a eficácia de um agente antiobesidade em reduzir o risco cardiovascular da população obesa, além de significativamente controlar o peso. * Médico Cardiologista, Clínica Cardiológica/Belo Horizonte, rua Grão Pará, 454, 30150-340 Belo Horizonte Tel: (31) 241 6101, email: [email protected] O orlistat, um agente com absorção mínima (< 1%) que inibe a atividade das lipases pancreática e gástrica, bloqueia a absorção, pelo trato gastrointestinal, de aproximadamente 30 % da gordura ingerida. Dos atuais fármacos anti-obesidade parece ser o mais eficaz agente no tratamento da obesidade e na prevenção cardiovascular da população obesa. No estudo de Davidson quais foram os efeitos do orlistat nos níveis de insulina em jejum? Os níveis de insulina em jejum diminuíram durante o primeiro ano nos indivíduos tratados com orlistat, e esta redução foi mantida durante os dois anos do estudo. Por outro lado, no grupo placebo, os níveis de insulina em jejum aumentaram progressivamente a partir da 24ª semana de tratamento no primeiro ano e, após 52 semanas, excediam o nível de randomização. A redução mantida dos níveis de insulina no grupo do orlistat pareceu estar relacionada à maior perda de peso geral nesses indivíduos do que a um efeito independente da droga. O orlistat melhora de forma eficiente a constelação de fatores de risco metabólicos, que incluem a síndrome de resistência à insulina. Qual é o significado clínico da redução dos níveis de insulina na população obesa? Os resultados do estudo de Davidson são de grande importância uma vez que pacientes obesos, diabéticos ou não, com resistência à insulina, correm maior risco de desenvolvimento precoce de doença arterial coronariana. A redução da hiperinsulinemia na população dia- 168 P. Leite / Diabetes Clínica 01 (1999) 167–169 bética obesa através do orlistat poderá contribuir à redução da arteriosclerose coronariana nessa população. Orlistat apresenta algum efeito farmacológico liporredutor? Parece que sim. A melhora dos níveis de LDL-C e colesterol total no estudo de Davidson et al. foi independente da maior perda de peso atingida nos indivíduos tratados com orlistat, como indicado pelas análises de covariância, parecendo assim refletir um efeito farmacológico liporredutor do orlistat. A inibição da lipase pelo orlistat previne a absorção de aproximadamente 30 % da energia sob a forma de gordura. Uma redução da gordura efetiva absorvida desta magnitude, assumindo-se que a maior parte desta gordura é gordura saturada, contribuiria para a melhora dos níveis de LDL-C e colesterol total. Nos dois anos de estudo, como ocorreu a melhora do perfil lipídico nos obesos tratados com Orlistat ? Durante o período inicial de quatro semanas com placebo, a pressão arterial e os níveis séricos de lípides melhoraram apenas com a dieta. Isto é compatível com o impacto independente estabelecido da restrição de energia nas medidas metabólicas e cardiovasculares, mesmo antes da perda de peso significativa. Após a randomização, os indivíduos tratados com orlistat mantiveram a melhora dos níveis séricos de lípides. Os níveis de colesterol total no grupo placebo aumentaram progressivamente da randomização à 32ª semana de tratamento apesar da perda de peso contínua. O peso perdido em pacientes tratados com o orlistat é adequadamente mantido, no ano subsequente? Neste estudo o peso foi perdido e adequadamente mantido no primeiro ano enquanto os indivíduos estavam tomando orlistat e fazendo dieta com controle de energia. No segundo ano, quando o modelo do estudo deu enfoque à prevenção da recuperação do peso em vez de à indução de mais perda de peso, os indivíduos tratados com orlistat mantiveram cerca de dois terços da perda de peso, enquanto aqueles que tomaram inicialmente orlistat e depois trocaram para o placebo no segundo ano recuperaram a maior parte do peso perdido. Como o esperado, houve algum ganho de peso no grupo tratado com orlistat no segundo ano quando a dieta foi mudada para uma dieta de manutenção de peso. A maior perda de peso mantida nos indivíduos tratados com orlistat contrasta com a recuperação gradual do peso nos indivíduos que receberam o placebo no segundo ano. Tabela 1. Objetivo e Metodologia do Ensaio Controlado Randomizado sobre o Controle de Peso em Indivíduos Obesos Tratados com orlistat (Xenicalä) Objetivo: Testar a hipótese de que o orlistat associado à dieta é mais eficiente do que o placebo associado à dieta para a perda e manutenção do peso em dois anos. Modelo: Estudo randomizado, duplo-cego e controlado com placebo, realizado de outubro de 1992 a outubro de 1995. Local e Participantes: Adultos obesos com índice de massa corporal (peso em quilogramas divido pelo quadrado da altura em metros) 30-43 kg/m2, avaliados em 18 centros de pesquisa dos EUA. Intervenção: Os indivíduos receberam placebo associado a uma dieta com controle de energia durante um período inicial de quatro semanas. No primeiro dia do estudo, a dieta foi mantida e os indivíduos foram randomizados para receberem placebo três vezes ao dia ou orlistat, 120 mg três vezes ao dia, por 52 semanas. Após este período, os indivíduos começaram a fazer uma dieta de manutenção de peso e o grupo placebo (n = 133) continuou a receber o placebo três vezes ao dia (n = 138),orlistat 60 mg (n = 152) ou orlistat 120 mg (n = 153) três vezes ao dia, por mais 52 semanas. Principais Medidas de Avaliação: Alteração do peso corporal e alterações da pressão arterial e dos níveis séricos de lipídios, glicose e insulina. Fonte: Davidson et al, 1999. Quais foram os resultados obtidos no controle de peso em indivíduos obesos tratados com orlistat durante dois anos? Durante o primeiro ano, os indivíduos tratados com orlistat perderam mais peso (média = 8,76 ± 0,37 kg) do que os tratados com placebo (5,81 ± 0,67 kg) (P < 0,001). Os indivíduos tratados com orlistat 120 mg três vezes ao dia, durante os dois anos, recuperaram menos peso no segundo ano (3,2 ± 0,45 kg; 35,2 % de recuperação) do que os que receberam orlistat 60 mg (4,26 ± 0,57 kg; 51,3 % de recuperação) ou placebo (5,63 ± 0,42 kg); 63,4 % de recuperação) no segundo ano (P < 0,001). Este estudo demonstra que a inibição parcial da absorção de gordura em indivíduos obesos pode produzir perda de peso mantida. Quais foram os efeitos de orlistat comparado ao placebo na pressão arterial dos indivíduos obesos? Houve uma pequena redução, porém significativa, da pressão arterial sistólica entre a randomização e a 52ª semana de tratamento no grupo que recebeu 120 mg de orlistat contra o grupo placebo (119,4 ± 0,5 a 118,6 ± 0,6 mmHg versus 118,6 ± 0,9 a 119,6 ± 1,3 mm Hg; P = 0,002). A pressão diastólica também diminuiu mais no P. Leite / Diabetes Clínica 01 (1999) 167–169 169 grupo que recebeu 120 mg de orlistat em comparação ao grupo placebo (76,9 ± 0,4 a 75,9 ± 0,4 mm Hg versus 76,1 ± 0,6 a 77,4 ± 0,9 mm Hg; P = 0,009). Estes resultados não são importantes, uma vez que não se demonstrou elevação da pressão arterial durante uso prolongado de orlistat. um número duas vezes maior de indivíduos no grupo do orlistat: flatulência com diarréia (40,1 %), pontos de gordura nas fezes (32,7 %), urgência fecal (29,7 %), gordura nas fezes (19,8 %), evacuações esteatorréicas (14,31 %), incontinência fecal (11,8 %) e aumento da freqüência de evacuações (11 %). Neste estudo observou-se se o uso prolongado de orlistat afetou os níveis de vitaminas lipossolúveis? Conclusão Embora os níveis de vitamina D e E tenham diminuído mais no grupo do orlistat do que no grupo placebo, as alterações foram pequenas. Todos os valores médios de vitaminas e betacaroteno permaneceram dentro das faixas de referências. Os indivíduos que necessitaram de suplementação vitamínica atingiram valores normais no final do estudo. Foi necessária a suplementação em 14,1 % dos indivíduos tratados com 120 mg de Orlistat por dois anos contra 6,5 % dos que receberam placebo. De que maneira ocorreram os sintomas gastrointestinais (GI) indesejáveis no estudo? Com base na ação farmacológica do orlistat , a incidência de efeitos GI, em geral no início do tratamento, foi maior no grupo do Orlistat. É provável que a maioria desses efeitos tenha ocorrido em indivíduos incapazes de manter uma ingesta de gordura moderada na dieta. Os sintomas GI diminuíram com o tempo e o abandono do estudo em virtude de efeitos adversos foi semelhante em todos os grupos de tratamento no segundo ano. Setenta e nove por cento dos pacientes apresentaram pelo menos um evento GI no grupo do orlistat em comparação a 59 % dos indivíduos no grupo placebo. A maioria dos indivíduos tratados com orlistat apresentou um ou dois desses eventos GI, que ocorreram tipicamente no início do tratamento, foram de leve a moderada intensidade e em geral regrediram espontaneamente. Ocorreram sete tipos de eventos GI com uma taxa de incidência de pelo menos 5 % e em O ensaio controlado randomizado de Davidson et al. foi, até o momento, a maior intervenção controlada com placebo e duplo-cego em indivíduos obesos destinada a avaliar a farmacoterapia adjuvante para a perda e prevenção da recuperação de peso em um período de dois anos. O tratamento com orlistat e dieta durante dois anos promoveu uma perda de peso significativa, diminuiu a recuperação do peso e melhorou os níveis de lípides e insulina em jejum. É importante salientar que a obesidade é o principal fator que prejudica o tratamento efetivo na maioria dos diabéticos tipo 2 e nos portadores da síndrome de resistência à insulina. Vários achados apoiam e ampliam o ensaio europeu com orlistat publicado por Sjöstroöm et al. Orlistat traz aos médicos uma nova opção terapêutica para o tratamento de pacientes obesos. Estamos aguardando evidências epidemiológicas que comprovem que a redução de peso isoladamente diminui a ocorrência de eventos cardiovasculares. Referências 1. 2. 3. Davidson MH, Haupman J, DiGirolano M et al: Weight/Control and Risk Factor Reduction in Obese Subject Treated for 2 years with Orlistat: A Randomized Controlled Trial, JAMA 1999; 281: 235-242. Leite PF, Obesidade e prevenção da doença arterial coronariana na prática clínica; Diabetes Clínica, 3: 50-55, 1999. Sjöstroöm L, Rissanen A, Andersen T, et al. Randomised placebo-controlled trial of Orlistat for weight loss and prevention of weight regain in obese patients. Lancet, 1998; 352: 167-173. 170 Diabetes Clínica 01 (1999) Calendário de Eventos XIIo Congresso Brasileiro de Diabetes : Sejam bem-vindos a Aracaju ! Dr. Raimundo Sotero de Menezes Filho Presidente do XIIo Congresso Brasileiro de Diabetes 8 a 12 de outubro de 1999, Aracaju, Sergipe Mais informações: (79) 224 1013 A realização do Congresso do Diabetes em Aracaju é a concretização de um longo projeto e uma imensa motivação para todos os profissionais de nosso estado. O Sergipe é pequeno, mas temos uma proximidade e uma afinidade muito grande com nossos vizinhos do Nordeste, e poderemos proporcionar a todos um Congresso inesquecível. Nossa filosofia é reunir a melhor informação científica aliada a momentos de lazer, no Ginásio Esportiva Constâncio Vieira, que será transformado em um grande labirinto percorrido pelos participantes. Os principais pontos a serem discutidos no Congresso serão as complicações comuns relacionadas ao diabetes, come diabesidade, neuropatia, retinopatia, dislipidemia, síndrome plurimetabólica, atividade física para diabéticos, o pé diabético, o diabetes na gravidez e na terceira idade, assim como o controle intensivo do diabetes tipo 1. Também discutiremos os recentes avanços em medicações, insulinoterapia por bomba e recursos terapêuticos especiais. Além do Congresso, estarão se realizando o Io Curso Brasileiro de Diabetes para Diabéticos e Familiares, o III o Encontro Nacional de Associações de Diabéticos e o VIII o Encontro Nacional de Educação em Diabetes. Todos os participantes (diabéticos, familiares, estudantes, cientistas, profissionais) formam uma corrente única com um só objetivo: melhorar a qualidade de vida do diabético. É por isso que a educação é fundamental e que as associações têm um papel primordial. Elas ajudam a criar uma “consciência diabética”, promovendo campanhas de detecção, orientando o paciente ou oferecendo apoio psicológico. É importante que associações do Brasil inteiro possam trocar experiências e informações. Por isso, estamos abrindo espaço para eventos paralelos que, juntamente com a parte científica, possam cobrir todas as áreas relacionadas ao diabetes. Estamos dando o melhor de nós para que possam usufruir o que a cidade e o Congresso podem oferecer, sem contar com o clima, a tranqüilidade e com a hospitalidade do povo sergipano. Sejam bem-vindos a Aracaju ! Diabetes Clínica 01 (1999) IIIo Congresso Mineiro de Diabetes e Metabolismo Presidente: Dra. Maria Regina Calsolari 1 a 4 de setembro de 1999 Belo Horizonte, Minas Gerais Mais informações : (31) 222 7266 IIIo Congresso Mineiro de Diabetes e Metabolismo Minas Gerais realiza o seu Congresso Estadual de Diabetes pela terceira vez. O alvo do encontro é a difusão dos conhecimentos na área de diabetes tanto para os especialistas como clínicos e profissionais de saúde envolvidos com o assunto, além dos diabéticos. Nossa intenção é proporcionar além desses conhecimentos uma integração maior entre estas pessoas para que os diabéticos possam ter um atendimento cada vez mais adequado, qualificado e humanizado. A freqüência do diabetes a cada dia que passa tem aumentado assustadoramente. Presume-se que para 2010 haja cerca de 240 milhões de diabéticos em todo mundo. A maior parte dos diabéticos da América Latina está no Brasil. Em nosso país temos cerca de 8 a 10 milhões de diabéticos, a metade desconhece a sua condição e 24% dos que sabem não fazem qualquer tipo de tratamento. Todas estás situações permitem o aparecimento de complicações tardias que levam os diabéticos a uma piora gradativa das qualidade da vida e morte precoce. O mais importante é que estas complicações podem ser evitadas ou retardadas através de um diagnóstico precoce e controle adequado da moléstia. Em todo o Estado temos cerca de 200 endocrinologistas que em hipótese alguma darão conta de atender todos os diabéticos que aqui vivem. Daí a urgência e necessidade de transferir os conhecimentos dos especialistas para os clínicos e outros profissionais de saúde. Só assim, em conjunto, poderemos ter pacientes diagnosticados, bem informados, motivados a terem um bom controle e com alegria de viver. É o que esperamos que aconteça ! SETEMBRO 01/9 a 04/9 III Congresso Mineiro de Diabetes e Metabolismo II Teoria e Prática em Educação em Diabetes I Teoria e Prática de Pé diabético I Simpósio de Diabetes e Gravidez VII Simpósio Auto Pinto Viégas para Diabético Centro de Convenções da Associação Médica de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG. Contato: DOC/ AMMG/ ÍCARO, tel.: (31) 222-7266 / fax: (31) 222-7288 8/9 a 11/9 Regulación del Peso Corporal y Obesidad Pamplona, Espanha tel: 948425600, fax: 948425649 e-mail: [email protected] 171 9/9 a 11/9 IV Latin American Congress, 4th Argentinian Congress 6th Rioplatense Meeting on Obesity and Eating Disorders Buenos Aires, Argentina http://rri.sari.ac.uk/iotf/conferences/ 28/9 a 02/10 35 th Annual Meeting of the European Association for the Study of Diabetes Contact: Professeur Pierre Lefebvre Department of Medicine CHU Sart Tilman B-4000 Liege 1 - Belgium fax: +32 4 366 7068 172 Diabetes Clínica 01 (1999) OUTUBRO 08/10 a 14/10 XII Congresso Brasileiro de Diabetes VIII Encontro Nacional de Educação em Diabetes III Encontro Nacional de Associações de Diabéticos I Curso Brasileiro de Diabetes para Diabéticos e Familiares homepage: http://infonet.com.br/xiidiab/ineex.htm Tel/Fax 55.79.224 1013 Secretaria Executiva : Interlink - Cons.& Eventos - Rua Teixeira Leal, 107-A, Graça CEP: 401150-050, Salvador, BA, tel.: 71. 336 5644, fax 71.336 5633 http://e-net.com.br/interlink/ Agência de turismo Point - email : [email protected] 10/10 a 12/10 5th Meeting for the Implementation of the St Vincent Declaration “Health for All in Diabetes” Istanbul, Turkey Contact: The St Vincent Declaration , Regional office for Europe Scherfigsvej 8, 2100 Copenhagen 0, Denmark tel: +45 39 17 1325 / fax: +45 39 17 1864 e-mail: [email protected] 31/10 a 4/11 5th International Symposium os Insulin-like Growth Factors Local: Brighton, UK Informações: Jeff Holly, University Division of Surgery, Level 7, Bristol, Royal Infirmary, Marlborough Street, Bristol BS 871w, UK, fax: 0117 925-2736, e-mail: [email protected] NOVEMBRO 12/11 a 14/11 XII Curso Nacional de Atualização em Endocrinologia e Metabologia - Prova para Título de Especialista em Endocrinologia e Metabologia Local: Campina Grande, Paraíba Informações: Dra. Aline da Mota Rocha, tel.: (83) 341-5577, fax: (83) 341-5738 12 a 14 de novembro de 1999 Diabetes in Rio III ADCERJ (Associação dos Diabéticos Conscientes do Estado do RJ) Presidente: Dr. Rogério F Oliveira Principais temas: Diabetes, obesidade, terceira idade 14 de Novembro, Dia Internacional do Diabetes: - 08:00h – 12:00hs: Triagem de glicemia - 14:00h – 18:00hs: Complemento sócio esportivo com integração, diabéticos, obesos e pessos de terceira idade das associações et times organizados pelos diretores do local do evento, comn futebol de salão, vôlei, corrida e dança de salão. Informações: GRA, Rua Maria Angélica, 15, Jardim Botânica – 22470-200 Rio de janeiro RJ Tel/Fax: (21) 535-4902 e-mail: [email protected] Inscrições: Informed – Informações e eventos Rua Goethe, 55, Botafogo – 22281-020 Rio de Janeiro RJ Tel/fax: (21) 266-0105 / 266-7583 e-mail: [email protected] 13/11 a 15/11 1o Encontro Brasileiro de Diabetes organização: APAD (Associação Paranaense Assistência ao Diabético) tel.: (41) 244-7711 Presidente: Maria Cecília M da Rocha Carneiro 14/11 (Dia Mundial e Nacional do Diabetes) Segunda Campanha Nacional Gratuita de prevenção, Educação e Detecção em Diabetes Informações: ANAD tel: (11) 549-6704 e 572-6559 14/11 a 18/11 1999 NAASO Annual Meeting Charleston Place, Charleston, SC. Contato: Office of CME, Medical University of South Carolina, 810 MUSC Complex, Suite 802, Charleston, SC 29425. email : [email protected] 20 e 21/11 III Simpósio Diabéticos: Gente Mais Doce Local: Colégio Brasileiro de Cirurgiões, Rio de Janeiro, RJ Informações: Tel.: (21) 9161-5433, fax: (21) 567-3057, e-mail: [email protected] DEZEMBRO 5/12 a 8/12 V Congresso Nacional da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição - SBAN Centro de Convenções Rebouças, São Paulo, SP tel.: (11) 871-0728 / fax: (11) 871-2421 Diabetes Clínica JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS Índice (vol. 3 nº 4 - 1999) EDITORIAL Dia mundial do Diabetes, Fadlo Fraige Filho Campanha mundial do diabetes ...................................................................................................................................................... 175 ........................................................................................................................................................................................ 177 ....................................................................................................................................................... 178 ................................................................................................................................................................................... 190 NOTÍCIAS DO DIABETES NO MUNDO O DIABETES NA IMPRENSA AVANÇOS TERAPÊUTICOS E TECNOLÓGICOS ........................................................................................................................ PRODUTOS E NOVIDADES Humapen, Drew Comfort, Personal Lasette, Prothotics, Microlet Vaculance, Flax, SpectrX 191 ............................ 203 CONGRESSO DE ARACAJU Resumos de trabalhos .................................................................................................................................................................................................................. 206 ARTIGOS CIENTÍFICOS Diabetes e infecções, V. Amato Neto ............................................................................................................................................................................ 220 Transplante simultâneo de pâncreas e rim: resultados preliminares em 7 casos, F. Fraige Filho, A. T. Santomauro, J. Gama-Rodrigues, P. Engler P. Jr, R. A. Faduhl, D. L. Waitzberg, M. de Lourdes T. da Silva, P. L. Bertevello, M. Sapucahy, A. C. Radesca, A. Abrão, I. Ney B. Paes, A. P. Pantoja, A. C. Elias, A. Leme da Rocha. .......................................................................................................................................................................................................................... 223 Amamentação ao seio, amamentação com leite de vaca e o diabetes mellitus tipo 1: examinando as evidências, S. Godoy Agostinho Gimeno, J. M. Pacheco de Souza ................................................................................................ 232 NOTÍCIAS DAS ASSOCIAÇÕES ............................................................................................................................................................................ 241 ............................................................................................................................................................................... 243 CALENDÁRIO DE EVENTOS Diabetes Clínica JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS (Sucessor de Diabetes&Metabolism, edição brasileira) Diabetes Clínica é um jornal multidisciplinar sobre os aspectos médicos, psicológicos e sociais do diabetes e dos distúrbios associados. Para os especialistas Diabetes Clínica é um veículo de informação e formação continuada sobre o conhecimento científico da doença, a atualidade da prática clínica no tratamento do diabetes e das patologias associadas. Diabetes Clínica edita artigos científicos internacionais selecionados de Diabetes Research and Clinical Practice, e artigos de especialistas e profissionais brasileiros, selecionados pela FENAD - Federação Nacional de Assistência ao Diabético e Atlântica Editora. Diabetes Research and Clinical Practice, publicação de Elsevier Science, edita revisões e artigos originais nas áreas da epidemiologia, biologia, nutrição e prática clínica. O objetivo do jornal é favorecer a discussão interdisciplinar e internacional em todas as questões relativas a diabetologia. Diabetes Research and Clinical Practice é o jornal oficial da Federação Internacional do Diabetes (Western Pacific Region). Diabetes Clínica Editor científico : Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho Coordenação de Educação e Formação Continuada : Educadora Lilian Fanny de Castilho Editor : Dr. Jean-Louis Peytavin, faculdade de Medicina de Lyon (França) Administração : Claudiane Benavenuto Conselho Consultivo Psicóloga Ada Verônica da Silva Maciel (SP) Dr. Adolpho Milech (RJ) Dr. Airton Golbert (RS) Dra. Alcina Vinhais (BA) Dra. Ana Míriam G. Carboni (SP) Dr. Antônio Carlos Lerário (SP) Dr. Arual Augusto da Costa (SP) Dr. Balduíno Tschiedel (RS) Nutricionista Celeste Elvira Viggiano (SP) Educador Cláudio Cancelliéri (SP) Dr. Edgard D’Ávila Niclewicz (PR) Dra. Geisa Macedo (PE) Dra. Hermelinda Pedrosa (DF) Dr. João Roberto de Sá (SP) Dr. Leão Zagury (RJ) Dr. Marcos Tambascia (SP) Enfermeria Mônica Antar Gamba (SP) Dr. Nelson Rassi (GO) Dr. Orsini Valente (SP) Enfermeira Paula Pascali (SP) Dra. Reine Marie Chaves (BA) Dr. Saulo Cavalcanti da Silva (MG) Dr. Sérgio Atala Dib (SP) Redação Jean-Louis Peytavin Rua General Glicério, 71/304 22245-120 Rio de Janeiro - RJ tel/fax: +55 21 557 73 04 E-mail : [email protected] Diabetes Research and Clinical Practice Editor-Chefe : C.S. Cockram, Hong-Kong (Western Pacific, Ásia) Co-Editor : N. Hotta, Japão (Ásia, Japão) Editors regionais : P.D. Home, Inglaterra (Europa, África), J.S. Skyler, EUA (America do Norte e America Latina), J.J. Hoet, Bélgica (Europa, África) FENAD (Federação Nacional de Associações de Diabéticos) e ANAD (Associação Nacional de Assistência ao Diabético) Rua Eça de Queiroz, 198 - Vila Mariana 04011- 031 São Paulo - SP Tel: 11 572-6559 - Fax: 11 549-6704 Site: http://www.netcomp.com.br/anad E-Mail: [email protected] ATLANTICA EDITORA Marketing Maurício Galvão Costa Anderson Rua Benjamim Garcez, 110 Jardim Maristela 12940-000 Atibaia – SP tel/fax: +55 11 7871 7629 cel: +55 11 9993 6885 E-mail : [email protected] © Diabetes Research and Clinical Practice, Elsevier Science Ireland Ltd. Todos os direitos reservados. Atlântica Multimídia para a tradução em português Assinatura R$ 100 – 6 números ao ano www.atlanticaeditora.com.br/assinaturas I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes Copyright © Diabetes Research and Clinical Practice, Elsevier Science Ireland Ltd Copyright reserved. No part of this publication may be reproduced, stored in a retrieval system or transmitted in any form or by any means, electronic, mechanical, photocopying, recording or otherwise without permission in writing from the copyright owner, c/o Elsevier Science P.O Box 181, 100 BM Amsterdam The Netherlands. No responsibility is assumed by the Publisher for any injury and/or damage to persons or property as a matter of products liability, negligence or otherwise, or from any methods, products, instructions or ideas contained in the material herein. Because of the rapid advances in the medical sciences, the Publisher recommend that independent verification of diagnosis and drug dosages should be made. Although all advertising material is expected to conform to ethical (medical) standards, inclusion in this publication does not constitue a guarantee or endorsement of the quality or value of such product or of the claims made of it by its manufacturer. Portuguese translation has been cared by Atlântica Editora, and is strictly for personal use. Diabetes Clínica Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas Dia mundial do Diabetes Fadlo Fraige Filho ste evento foi instituído pela primeira vez em 1991 pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para chamar a atenção do mundo para a magnitude do problema do diabetes : a crescente prevalência, a gravidade de suas complicações, a falta de ações e programas de assistência aos portadores da doença, o despreparo de uma parte dos profissionais da saúde responsáveis pelo atendimento. Somada a esta situação, as características evolutivas da forma mais comum que é o tipo 2, permitindo uma evolução de sete até dez anos sem diagnóstico, sendo este feito numa grande parte por ocasião das manifestações das complicações tardias degenerativas que por vezes já irreversíveis. Do total estimado de portadores, 50% desconhece seu diagnóstico. Assim se justifica as campanhas de detecção populacional, acrescida de ações de orientação e encaminhamentos dos recém diagnosticados, bem como ações educativas para os já diagnosticados. Neste ano, sob coordenação mundial da OMS e da International Diabetes Federation (IDF), estaremos coordenando através da FENAD, ações a serem desenvolvidas em todo o Brasil, acrescidos às já citadas, a medida da pressão arterial, avaliação do fundo de olho (nos locais possíveis), inquérito dos pacientes diabéticos, quanto ao seu tratamento, avaliação da circunferência abdominal, avaliação dos pés. Estas avaliações constituem um projeto completo de ações para o Dia Mundial, feitos sob nossa orientação e distribuído a todos os parceiros que até o fechamento desta edição são de cerca de 400 Secretarias de Saúde municipais, além dos 286 associações, Ligas, Núcleos ligados à Fenad. Em 1999, o OMS e a IDF escolheram como tema o custo do diabetes. Como doença crônica, o diabetes requer contínuas medicações, seringas, materiais descartáveis, tiras diagnósticas de sangue e urina, adoçantes artificiais, alimentos especiais. As consultas freqüentes e hospitalizações, hemodiálises e cirurgias, amputações, laser terapia em pacientes não controlados que não receberam orientação e educação, oneram os orçamentos tanto familiar quanto do sistema de saúde, razão pela qual os portadores não eram aceitos individualmente nos planos de saúde até pouco tempo. Problema resolvido com a lei recente, porém com altos custos de manutenção em relação aos demais. Acrescente a E Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho Titular de Endocrinologia Faculdade de Medicina ABC Presidente da FENAD e da ANAD 176 Diabetes Clínica 03 (1999) isto os custos indiretos como : Faltas ao trabalho, auxílio doença, aposentadoria e mortalidade precoce. Nos Estados Unidos, estes custos giram em torno de 97 bilhões de dólares anuais. No Brasil, infelizmente, não dispomos destes valores de forma global. A intenção de referenciar o custo da doença é para alertar as autoridades governamentais e companhias particulares de saúde, para que desenvolvam ações preven- tivas, de custo infinitamente menor do que os tratamentos das complicações. A campanha do Dia Mundial, constitui-se numa das mais importantes ações de diagnóstico precoce, orientação, conscientização e, assim, prevenindo as complicações graves. Por incrível que pareça, existem profissionais e autoridades de saúde que não entendem esta verdade tão simples. Cartas ao Editor Científico Todas as sugestões, propostas, críticas devem ser enviados diretamente à redação de Diabetes Clínica, usando o meio o mais conveniente (correio, fax, ou e-mail): Jean-Louis Peytavin – Atlântica Editora Rua General Glicério, 71/304, CEP 22245-120 Rio de Janeiro RJ Tel/fax : (21) 557 73 04 – E-mail : [email protected] As cartas serão transmitidas ao Prof. Fadlo Fraige Filho para respostas. Cartas e respostas (ou resumos) serão publicadas no jornal, na edição seguinte à recepção, com o nome, função e cidade do remetente. Todas as sugestões referentes a tratamentos, educação, organização e vida das associações assim como propostas de artigos são bem-vindas. Diabetes Clínica 03 (1999) 177 14 de novembro: Dia Mundial do Diabetes 2ª Campanha nacional gratuita em diabetes, de detecção, orientação, educação e prevenção das complicações sta é a 2ª campanha de âmbito nacional que a FENAD realiza. Será um evento maior do que o do ano anterior, tendo em vista a adesão de Secretarias de Saúde e Associações de todo o Brasil. É uma campanha educativa e preventiva, já que busca descobrir os diabéticos que desconhecem sua condição e orientá-los, e também aos já sabidamente diabéticos orientar e educar para prevenir as complicações decorrentes do mau controle. A detecção é voltada para o público dos grupos de risco: familiares de diabéticos, obesos, terceira idade, hipertensos, coronariopatas, hiperlipêmicos, mulheres que tiveram diabetes gestacional e/ou filhos com quatro quilos ou mais. Os diagnosticados receberão orientação, participação em curso de educação em diabetes e sugestão de encaminhamento para tratamento. Para os já sabidamente diabéticos haverá cursos educativos para orientação e prevenção das complicações decorrentes de diabetes. Tendo em vista as patologias associadas, a abrangência da Campanha neste ano será maior, pois serão realizados: aferição de pressão arterial, medição de circunferência abdominal, mapeamento da retina,avaliações dos pés e audiometria. Estas são ações propostas pela FENAD e cada local fará a adequação de acordo com a sua realidade e possibilidades. Estas ações representam complementação das ações de detecção, pois já se incluem nas medidas preventivas para as complicações futuras. A meta é atingir 500.000 pessoas em todo o país, buscando o apoio e a participação de todos os segmentos da sociedade, enfatizando a participação da imprensa falada, escrita e televisiva para divulgação, não só da Campanha como da importância da detecção e tratamento da doença, e principalmente para conhecer os cinqüenta por cento de diabéticos que o são e desconhecem sua condição, além de alertar a população em geral dos riscos que correm no desenvolvimento da doença sem o tratamento adequado. A FENAD preparou o projeto e a estratégia de Campanha como um modelo de base das ações a ser desenvolvidas para que se consiga uma homogeneidade de atuação. As informações sobre a CamAo final da Campanha a FENAD panha podem ser obtidas na sede da ANAD/FENAD: estará recebendo os resultados para reRua Eça de Queiroz, 198 alizar a tabulação dos dados, divulgar Vila Mariana, São Paulo os números finais e encaminhá-los à Telefones: (11) 572-6559, IDF e à OMS, que é a grande promo549-6704, 549-6432, tora do Dia Mundial do Diabetes e da 5084-8322, 5084-8323 qual contamos com o apoio. E Realização Mundial: IDF (International Diabetes Federation) OMS (Organização Mundial de Saúde), Realização Nacional: FENAD (Federação Nacional de Associações de Diabéticos), Coordenação em São Paulo: ANAD (Associação Nacional de Assistência ao Diabético) Participação: Associações de diabéticos, Secretarias de Saúde, Grupos, núcleos, ligas, centros e serviços de Diabetes, Laboratórios de análises clínicas e outros parceiros. 140 milhões diabéticos no mundo – Previsão: 300 milhões em 2025 178 Diabetes Clínica 03 (1999) Notícias do Diabetes no Mundo Comunicado FENAD Dr. Fadlo Fraige Filho Setembro de 1999 Entidades de diabetes esclarecem dúvidas sobre o Aspartame A Federação Nacional das Associações de Diabetes (Fenad), Associação Nacional de Assistência ao Diabético (Anad) e Federação Paulista das Associações de Diabetes (Fepad) esclarecem aos diabéticos e consumidores de Aspartame em geral que as notícias que vêm circulando na Internet sobre o edulcorante não tem o menor fundamento e, principalmente, base científica. O artigo, assinado pela “suposta” Dra. Nancy Markle e que vem sendo propagado em diversos países, traz alegações falsas quando aponta que o uso do Aspartame pode causar doenças, entre elas esclerose múltipla. Mais ainda quando diz que o edulcorante é mortal para os diabéticos, por conter metanol, e que o ácido aspártico e a fenilalanina são neurotóxicos. Outra alegação, no artigo, dá conta que em temperaturas acima de 30 graus o Aspartame é altamente tóxico. Tudo sem fundamentação científica. Vale ressaltar também que “Nancy Markle’ não tem registro profissional reconhecido e nenhuma publicação que tenha acrescentado algo á literatura médica mundial. Como médico e presidente de três entidades representativas de diabetes no País, esclareço que, antes de sua aprovação pela Organização Mundial de Saúde (OMS), Food and Drug Administration (FDA) e pelos órgãos reguladores de mais de 100 países, o Aspartame foi exaustivamente testado. Com os diabéticos também foram conduzidos diversos estudos para se determinar os prováveis efeitos sobre a glicemia e insulina de seu sangue. O edulcorante não apresentou nenhum efeito adverso à saúde. Em todo o mundo, inúmeros trabalhos científicos foram realizados em universidades de renome, Universidade de Heidelberg (Departamento de Pediatria), na Alemanha; Harvard Medical School (Centro de Estudos da Nutrologia e Hospital da Criança), em Boston, Massachusetts, nos EUA; Johns Hopkins School of Medicine (Departamento de Obstetrícia e Ginecologia). em Baltimore, Maryland, nos EUA; Universidade da Pensilvânia (Departamento de Nutrição) nos EUA; Free University Hospital (Divisão de Pediatria Neurológica), em Amsterdã, Holanda; entre outras - e mais de 200 pesquisas controladas em animais e humanos comprovam a segurança do Aspartame, inclusive se consumido por mulheres grávidas e em fase de amamentação e por crianças (literatura técnica à disposição dos profissionais de Saúde pelo fabricante). 180 Diabetes Clínica 03 (1999) continuação O Aspartame é diferente de outros edulcorantes por que é metabolizado pelas enzimas do aparelho digestivo em três componentes naturalmente encontrados na dieta - os aminoácidos ácido aspártico e a fenilalanina e o metil éster, que forma uma pequena quantidade de metanol, em nada diferente do encontrado em frutas e legumes. Estes três componentes são utilizados exatamente como quando derivados de outras fontes de alimentação, tais como carne, leite, frutas e vegetais. Portanto, o Aspartame é uma fonte insignifiante destes três componentes comuns na dieta. A dieta normal contribui com níveis muito superiores destes três componentes se comparada ao Aspartame contido em produtos. Assim, tanto o diabético quanto a população em geral podem consumi-lo, sem preocupação. Os portadores de fenilcetonúria, rara doença genética, são os únicos que não devem usar o Aspartame, assim como qualquer alimento que contenha o aminoácido fenilalanina. Os portadores da doença têm inibida a capacidade do organismo de metabolizar o aminoácido. Todos os produtos que contém Aspartame levam no rótulo esta informação. Antes da aprovação de um aditivo alimentar, os órgãos reguladores determinam uma Ingestão Diária Aceitável (IDA), expressa em miligramas (mg) do aditivo/por quilo de peso corpóreo. A IDA representa o nível de um aditivo alimentar que pode ser consumido com segurança diariamente durante toda a vida. Com base em dados toxicológicos, a Organização Mundial de Saúde (OMS), incluindo o Brasil, estabeleceu uma IDA de 40 mg/kg/dia para o Aspartame. Uma pessoa de 70 quilos, por exemplo, poderia consumir diariamente até 73 saquinhos de adoçante ou metade da quantidade de um frasco de 75 ml de adoçante ou 47 latas de refrigerante de 350 ml. E pouco provável que uma pessoa consiga consumir quantidade tão grande de Aspartame em apenas um dia para atingir a IDA. O artigo que vem circulando na Internet me parece mais de fundo económico em detrimento de um edulcorante para promoção de outro. Setembro de 1999 New York Times A importância do diabetes reconhecida pelos cardiologistas dos Estados Unidos Numa nova estratégia para atacar o “predador número 1” dos Estados Unidos, a Associação Americana do Coração (AHA) afirmou pela primeira vez que o diabetes constitui um importante fator de risco de doenças cardíacas, situando-o no mesmo nível que a pressão arterial e o fumo. O anúncio é feito num momento em que surgem novas provas a respeito da relação entre as duas doenças. O envelhecimento da população, o crescimento da obesidade e o aumento no número de minorias que estão em maior risco nos Estados Unidos já começam a provocar um aumento no diabetes tipo 2. Isso sugere que os sucessos obtidos até agora no tratamento da doença cardíaca poderão ser revertidos se não for tomada alguma providência. “Este é o motivo predominante pelo qual a Associação Americana do Coração está dando atenção a essa área”, disse o médico Robert H. Eckel, presidente do Comitê de nutrição da associação. A declaração da Associação do Coração, considerando o diabetes um importante fator de risco modificável, é uma das três adições feitas pelo organismo desde 1992, - as outras duas são a obesidade e a vida sedentária. As Diabetes Clínica 03 (1999) 181 continuação adições anteriores ocorreram nos anos 60, quando a pressão alta e o colesterol foram incluídos. As autoridades sanitárias esperam que a indicação do diabetes como fator de risco concentrará as atenções dos pacientes e médicos na prevenção ou tratamento agressivo da doença e de suas complicações. Setembro de 1999 Diabetes 1999; 48:1881-1884 Defeito em gene ajuda os cientistas a entender o diabetes Espera-se que a descoberta de um defeito no gene associado à resistência à insulina ajude os cientistas a entender as causas do diabetes tipo 2 e possa levar à descoberta de novas drogas para seu tratamento. A resistência à insulina ocorre quando o corpo se torna menos sensível ao hormônio da insulina produzido pelo pâncreas. Para superar este problema, o pâncreas produz mais insulina, mas mesmo assim isto não resolve e o efeito da insulina no processamento do açúcar diminui, resultando em níveis mais altos de açúcar no sangue e consequentemente no diabetes tipo 2, a forma mais comum do diabetes. Encontrar a causa da resistência à insulina pode levar tempo para preveni-la ou encontrar novas maneiras de tratar o diabetes e suas complicações, incluindo a doença arterial e a insuficiência renal. Uma equipe de pesquisadores italianos e americanos observou uma ligação entre um defeito de um gene e a resistência à insulina. Eles observaram que os pacientes resistentes à insulina produzem concentrações muito altas de uma proteína chamada PC-1. Estudos anteriores mostraram que a PC-1 pode bloquear a insulina tornando-a “a principal suspeita na resistência à insulina”. A equipe de pesquisa, liderada pelo Dr. Antonio Pizzuti, da unidade de endocrinologia do Instituto Scientifico Ospedale Casa Sollievo della Sofferenza, Milão, Itália, estudou o gene que produz a PC-1 e observou que uma simples mutação no gene é três vezes mais comum nos pacientes resistentes à insulina e duas vezes mais comum em diabéticos do que em pessoas que não apresentem estas condições. Os pesquisadores observaram que o gene da mutação da PC-1 é o primeiro a estar associado à forma mais comum da resistência à insulina. Entretanto, é provável que mais de um gene esteja envolvido na causa do diabetes. “Além disso, a resistência à insulina e o conseqüente desenvolvimento do diabetes são atenuados pelo exercício, perda de peso e níveis hormonais. Estes fatores relacionados ao estilo de vida podem afetar a expressão do gene”, explicam os pesquisadores. A PC-1 parece estar associada à resistência à insulina de duas formas – através de sua forma normal em quantidades excessivas e também quando é apresentada em sua forma variante. Ele sugere que a descoberta do gene mutante pode ajudar os pesquisadores a desenvolver novas formas de tratar a resistência à insulina. A equipe de pesquisadores sugere também que testar os indivíduos para o gene mutante pode ajudar a identificar os indivíduos sob risco de desenvolver resistência à insulina, “uma condição que predispõe ao diabetes tipo 2 e à doença arterial coronariana”. 182 Agosto de 1999 JAMA, 1999; 282:730-734 Diabetes Clínica 03 (1999) Nível baixo de glicemia coloca em risco motoristas diabéticos Com freqüência os diabéticos insulino-dependentes dirigem quando o nível de açúcar no sangue está baixo, mesmo quando estão cientes que apresentam sintomas de hipoglicemia. Os sintomas incluem tontura, dificuldade de concentração, falta de coordenação, sudorese e tremor, podendo interferir na capacidade de direção. Relatos de diabéticos tipo 1 mostram que aproximadamente 40% deles dirigiriam mesmo se o nível de açúcar no sangue estivesse baixo. De acordo com um grupo de pesquisadores liderados pelo Dr. William L. Clarke, do Centro de Ciências Médicas da Universidade de Virgínia em Charlottesville, os dados “sugerem que as pessoas com diabetes tipo 1 não podem julgar corretamente quando a glicemia está muito baixa para permitir uma direção segura”. Ao passo que não há evidências de que os diabéticos sejam mais propensos a sofrer acidentes de carro do que outras pessoas, testes de direção simulados demonstraram que a capacidade de dirigir diminui quando a glicemia cai abaixo de um determinado nível. Para entender os tipos de decisões que os diabéticos tomam na direção, os pesquisadores usaram computadores portáteis para testar um grupo de 65 adultos com diabetes tipo 1. Dois anos depois eles testaram outros 93 diabéticos. Além de perguntar aos participantes se eles apresentaram sintomas de hipoglicemia, os computadores testaram as habilidades matemáticas básicas e os tempos de reação. O computador também pediu aos participantes para que estimassem seus níveis de açúcar no sangue e determinassem se eles dirigiriam com estes níveis. Depois, os participantes mediram seus níveis sangüíneos e mais um vez o computador pediu se eles poderiam dirigir. Quando os indivíduos estimaram que os níveis de açúcar no sangue estavam um pouco baixos, eles disseram que dirigiriam em 40 a 45% dos casos, observou o grupo de Clarke. Na verdade, em 18 a 38% dos casos, os participantes disseram que dirigiriam mesmo quando estimassem que seus níveis de glicemia caíram a níveis que os pesquisadores consideram “perigosamente baixos”. Mesmo depois de medir o açúcar no sangue, 60% dos participantes do estudo disseram que dirigiriam quando os níveis de açúcar no sangue estivessem suficientemente baixos para afetar sua capacidade de direção. A interpretação destes dados não significa que os indivíduos com diabetes tipo 1 devam ser proibidos de dirigir ou que seus privilégios devam ser restringidos. Entretanto, os diabéticos são encorajados a serem “cautelosos”. Além de portarem sempre o medidor instantâneo de glicose, no caso de que o açúcar no sangue diminua, os diabéticos devem “planejar suas viagens de forma a assegurar que não atrasem o horário de suas refeições.” Agosto de 1999 The Lancet 1999; 354:610-611, 617621, 622-625 Questionado os critérios da ADA para o diagnóstico do diabetes As regras da American Diabetes Association (ADA) para o diagnóstico do diabetes parecem subestimar o número de pessoas com risco de doença cardíaca e óbito relacionado ao diabetes, de acordo com dois estudos. As regras revisadas da ADA pretendem simplificar o diagnóstico do diabetes, confiando primeiramente em um teste que mede os níveis de açúcar no sangue. Os Diabetes Clínica 03 (1999) 183 continuação critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS) também inclui este teste, embora com um limite um pouco mais alto. O organismo internacional recomenda também um outro teste chamado teste de tolerância à glicose oral. Em comparação com as regras da OMS, os critérios da ADA não são tão eficazes no reconhecimento dos idosos com risco aumentado para complicações cardíacas do diabetes, relataram Dr. Jaakko Tuomilehto e colegas do National Public Health Institute em Helsinque, Finlândia. Em um estudo com mais de 25.000 homens e mulheres com 30 anos ou mais, as regras da ADA esquecem os 30% de indivíduos que são classificados como diabéticos pelos padrões da OMS. “As recomendações da ADA para o teste da glicose alta não são satisfatórias” diz Tuomilehto. Ele acrescenta que as regras da ADA não consideram a complicação mais grave, o óbito, como base para identificar as pessoas com anormalidades na glicose e que portanto necessitam de cuidado médico. “Em minha opinião, a ADA deve reconsiderar suas recomendações e critérios de diagnóstico do diabetes”, conclui Tuomilehto. No segundo estudo que compara os dois grupos de critérios, Dr. Joshua I. Barzilay da Kaiser Permanente, Tucker, Geórgia, e colegas, relatam que as regras da ADA subestimam a doença cardíaca associada ao diabetes. No estudo com 4.515 homens e mulheres com 65 anos ou mais, as regras da WHO classificaram como diabéticas o dobro de pessoas em comparação com os critérios da ADA. Entretanto, Barzilay e colegas suspeitaram que as regras da ADA não mencionam muitos casos de doença cardíaca relacionada ao diabetes, uma vez que os indivíduos classificados como normais pelos critérios da ADA são mais propensos a sofrer um ataque cardíaco ou AVC do que aqueles considerados normais pelas regras da OMS. Os resultados chamam a atenção para a aplicação dos critérios da ADA no diagnóstico do diabetes nos pacientes idosos. “O açúcar é uma indicação da doença, mas não é uma medida exata de doença cardiovascular,” explica Barzilay. Ele enfatiza a necessidade de se diagnosticar melhor a doença cardíaca relacionada ao diabetes, na medida que ela é a complicação mais comum do diabetes no idoso. Agosto de 1999 Archives of Disease in Childhood, 1999; 81:143-146 Bebês que nascem no verão podem apresentar um maior risco de diabetes Pesquisadores suecos reportaram que as crianças nascidas entre julho e agosto parecem apresentar um maior risco para o diabetes tipo 1 na infância que os nascidos no outono. De acordo com uma equipe de pesquisadores liderada pelo Dr. Ulf Samuelsson, da Universidade de Linkoping na Suécia, os achados fortalecem a teoria de que os fatores ambientais como a exposição às infecções virais no começo da infância, desempenham um papel no desenvolvimento do diabetes. Os pesquisadores coletaram dados do nascimento e da saúde de 1.248 crianças do sudeste da Suécia, diagnosticadas com diabetes tipo 1 antes dos 16 anos de idade. Compararam então esta informação com os dados de todas as outras crianças nascidas na mesma região entre 1962 e 1992. Eles detectaram uma “pequena porém significativa diferença” nos padrões sazonais de nascimento que foram mais pronunciados nos meninos. “Em outubro nasceu um número de crianças diabéticas menor que o espera- 184 Diabetes Clínica 03 (1999) continuação do”, assinalaram os autores, enquanto no mês de agosto nasceu um número maior do que o esperado. Estes padrões foram mais acentuados nas crianças que desenvolveram o diabetes tipo 1 durante a adolescência. De que forma a época do nascimento pode afetar o risco de diabetes? Os investigadores especulam que as mães grávidas podem ser mais vulneráveis a certos tipos de vírus em diferentes épocas do ano. A infecção viral durante a gravidez pode ter um efeito no sistema imunológico do feto, tornando as crianças mais vulneráveis ao diabetes tipo 1. Atualmente os pesquisadores estão acompanhando 24.000 crianças, da gravidez aos 5 anos de idade, para avaliar os efeitos das “infecções, da nutrição inicial e de outros fatores ambientais” no risco de diabetes. Agosto de 1999 Journal of the American College of Cardiology, 1999; 34:476-485 The New England Journal of Medicine, 1999; 341:319-327 A coagulação afeta os resultados da angioplastia em diabéticos Agosto de 1999 Diabetes Care, 1999; 22:1245-1251 A vitamina E demonstra ser uma promessa no tratamento do diabetes tipo 1 Um aumento no risco de coágulos sangüíneos pode explicar os resultados relativamente insatisfatórios dos pacientes diabéticos após a angioplastia. O achado “enfatiza a necessidade de novas estratégias desenhadas para prevenir (o coágulo) neste ambiente” relata Dr. Eric Van Belle e colegas na Universidade de Lille, França. Na angioplastia com balão, os cirurgiões usam pequenos balões infláveis para reabrir um vaso com estreitamento. Por razões que permanecem não esclarecidas, os pacientes diabéticos submetidos à angioplastia parecem estar propensos a um índice mais alto de ataque cardíaco pós-operatório em comparação com pacientes não diabéticos. Investigando este aspecto, a equipe francesa usou a angiografia por imagem detalhada para acompanhar durante seis meses os resultados cardiovasculares de 377 pacientes diabéticos que se recuperavam de angioplastia com balão. Eles encontraram um índice de 13% de bloqueio total da artéria durante este período de tempo – mais do dobro do índice de 3% a 6% observado na população em geral. Estes resultados insatisfatórios podem ser devido ao fato de que os diabéticos são relativamente “pró-trombóticos” – ou seja, propensos à formação de coágulo. Quase dois terços (62%) dos indivíduos experimentaram restenose. O alto índice de restenose pode estar associado a um aumento no risco de crescimento de tecido fibroso dentro das artérias de diabéticos. Várias tratamentos provaram sua eficácia na redução da incidência de bloqueio de vaso após cirurgia. Estes incluem o uso da droga abciximab (ReoPro) ou o uso do stent – implantação cirúrgica de minúsculas “molas” no interior das artérias. De acordo com Dr. George L. King do Joslin Diabetes Center em Boston e colegas, altas doses de suplementos de vitamina E podem ser úteis no tratamento do diabetes tipo 1. Ele relatou que o “tratamento oral com vitamina E parece ser eficaz na normalização de anormalidades na retina (fluxo sangüíneo) e na melhoria de sua função.” Neste estudo clínico, os pacientes receberam altas doses de vitamina E du- Diabetes Clínica 03 (1999) 185 continuação rante 4 meses. Os pesquisadores observaram que ao final do período de estudo, o fluxo de sangue na retina elevou-se a um índice quase normal melhorando também a função renal. Entretanto, King acrescenta que devido ao “pequeno número de pacientes e do (período relativamente pequeno de estudo) os resultados não são conclusivos.” Ele enfatiza a necessidade da realização de estudos mais amplos a título de acompanhamento. Dr. Sushil K. Jain da Faculdade de Medicina da Universidade do Estado de Louisana em Shreveport, observa que a dosagem de vitamina E administrada no estudo foi 60 vezes maior que a dose diária permitida, e atualmente pouco se sabe sobre os possíveis problemas que podem surgir com o consumo de um nível tão elevado de vitamina E. Devido à falta de entendimento sobre estes resultados, Jain adverte que “é prematura a recomendação para o uso indiscriminado de altas dose de vitamina E em pacientes diabéticos.” Julho de 1999 Revolução em bomba injetora de medicamento Cientistas desenvolveram uma pequena bomba impulsionada por bolhas que pode liberar para os pacientes, doses regulares, cuidadosamente calibradas de medicamentos durante longos períodos de tempo. O dispositivo pode representar um importante avanço no tratamento de pacientes com diabetes ou dor crônica. As atuais bombas injetoras de medicamentos, implantáveis ou portáteis, funcionam basicamente com um sistema de pequenas válvulas mecânicas. Segundo seu co-inventor, o Dr. Andrea Prosperetti, engenheiro e físico da Universidade Johns Hopkins em Baltimore, Maryland, a nova “bomba a bolha” é “bem diferente da bomba com uma válvula que tem que ser aberta e fechada muitas vezes”. Ele explicou que “sem partes móveis, a possibilidade de falha da bomba é mínima.” O pequeno aparelho consiste de dois tubos conectados por uma “abertura” em formato de cone. Cada extremidade é conectada a uma fonte de energia, e quando o aparelho é preenchido com solução salina, o circuito elétrico é concluído. Conforme a corrente elétrica percorre a bomba, ela gera um calor suficiente para formar uma bolha na extremidade estreita da abertura. Conforme a bolha se expande para a extremidade mais larga da abertura em forma de cone, o líquido é impelido conforme ele empurra para frente. Em outras palavras, “você bombeia o medicamento em direção da expansão da bolha”. Este processo se repete enquanto a fonte permanece ligada, permitindo a liberação da droga durante o tempo em que o dispositivo está em uso. De acordo com Prosperetti, sem partes móveis, a bomba representa um avanço no desenvolvimento de dispositivos injetores de substâncias de longa duração. E sendo pequena – aproximadamente o tamanho de um prendedor de papel (um clip) – a bomba mostra-se perfeita para uma variedade de tarefas especializadas, incluindo a injeção da substância para o paciente. Estas bombas podem inclusive ser preparadas para ficarem permanentemente embutidas nos corpos dos pacientes. Os pesquisadores patentearam a nova tecnologia, que foi desenvolvida com permissão do Serviço de Pesquisa Científica da Força Aérea Americana e da Agência de Projetos Avançados de Pesquisa de Defesa. 186 Diabetes Clínica 03 (1999) Julho de 1999 Journal of Clinical Investigation, 1999; 104:189-194 Vacina de DNA reduz diabetes em ratos Agosto de 1999 Symlin apresenta resultados positivos em estudo do diabetes tipo 2 Uma vacina experimental de DNA parece reduzir em 50% o diabetes tipo 1 em ratos. Ao contrário de muitas vacinas que contém um vírus morto ou enfraquecido, esta vacina contém um círculo de DNA que produz um fragmento de insulina, o hormônio que controla o açúcar no sangue e que é deficiente em pessoas com diabetes tipo 1. Pesquisadores no Scripps Research Institute em La Jolla, Califórnia, estudaram um tipo especial de rato que desenvolveu uma doença parecida com o diabetes quando infectados com um vírus conhecido como vírus da coriomeningite linfocitária (LCMV). Os ratos são geneticamente programados para carregar uma proteína do LCMV em suas células que produzem insulina – imitando o processo que acontece no diabetes tipo 1. A aplicação da vacina de DNA reduziu em 50% a incidência do diabetes nos ratos, reporta Dr. Bryan Coon. A vacina parece modificar o processo autoimunológico nos ratos, prevenindo assim o desenvolvimento do diabetes. De acordo com o relatório, tal estratégia pode ajudar a prevenir a enfermidade em indivíduos pré-diabéticos. Entretanto, não está claro se tal vacina seria segura em humanos ou eficaz na prevenção do diabetes. A Amylin Pharmaceuticals, Inc. anuncia que sua principal medicamento contra o diabetes, o Symlin (acetato de pramlintida), produziu uma redução estatisticamente significativa do principal parâmetro de controle da glicose em um estudo de um ano em indivíduos com diabetes tipo 2 que fazem uso da insulina. Além disso, os participantes do estudo que receberam Symlin experimentaram uma redução estatisticamente significativa do peso corporal. Na análise de intenção de tratamento, os pacientes que receberam Symlin além do tratamento habitual do diabetes, alcançaram em seis meses uma melhora estatisticamente significativa na hemoglobina glicosilada (HbA1c), em comparação com os do grupo controle, submetidos apenas ao tratamento habitual do diabetes. Aqueles que receberam uma dose de 120 microgramas duas vezes ao dia (BID) alcançaram em seis meses uma redução de 0,7% no parâmetro primário da HbA1c, em comparação com a redução de 0,3% no grupo controle (p = 0,003). Após um ano de tratamento, a redução na HbA1c foi de 0,7%, em comparação com uma redução de 0,1% para o grupo controle (p = 0,001). O grupo de dosagem mais baixa, Symlin 90 microgramas 2 vezes ao dia, não alcançou significância estatística no parâmetro primário (p = 0,057). No geral, as observações nos grupos do Symlin 120 e 90 microgramas 2 vezes ao dia são compatíveis com os resultados previamente relatados do estudo. Indivíduos com diabetes tipo 2 cujos esquemas de tratamento do diabetes compreendem a insulina com ou sem agentes hipoglicêmicos orais foram admitidos em mais de 75 centros de pesquisa nos EUA Pelo menos 90% dos admitidos no estudo usavam diariamente múltiplas injeções de insulina. Os participantes continuaram seus habituais esquemas de tratamento do diabetes e foram randomizados para receber Symlin 120 microgramas 2 vezes ao dia, Symlin 90 microgramas 2 vezes ao dia ou placebo. A HbA1c, um pa- Diabetes Clínica 03 (1999) continuação Diabetes, 1999; 48:1454–1458 Trevor J. Orchard et al. 187 drão clínico aceito, foi determinada para avaliar o controle de glicose durante um ano de estudo. O parâmetro primário foi alteração na HbA1c do período basal para 6 meses para os grupos de Symlin em comparação com o grupo controle. Symlin é um novo medicamento de investigação na Fase 3 de desenvolvimento para uso no diabetes tipo 1 e tipo 2 insulino dependentes. As autoridades responsáveis pela regulamentação não determinaram ainda a segurança ou a eficácia do Symlin. Anticorpos para LDL oxidado predispõe à doença arterial coronariana no diabetes tipo 1 A patogênese do risco cardiovascular excessivo no diabetes tipo 1 não está clara. O colesterol LDL é um predisponente débil, e sua concentração é quase sempre normal no diabetes tipo 1. Desta forma examinamos se os marcadores da oxidação do LDL como por exemplo anticorpos para o LDL oxidado (Ab-OxLDL) e os complexos imunológicos que contém LDL, em vez da concentração de LDL, foram predisponentes de doença arterial coronariana (DAC) no diabetes tipo 1. Este estudo caso-controle em série de um estudo de coorte epidemiológico inclui 49 casos de infarto do miocárdio (IM), angina ou morte por DAC e 49 indivíduos controles pareados por idade, sexo e duração. A Ab-OxLDL foi medida por imunoensaio de enzima e o conteúdo em apolipoproteina B (ApoB) dos complexos imunológicos (ApoB-IC) precipitado pelo polietilenoglicol pela imunoeletroforese em amostras basais armazenadas. A Ab-OxLDL foi inversa e a ApoB-IC diretamente relacionada à DAC subsequente. Em análises multi-variadas a Ab-OxLDL continuou sendo um predisponente significativo independente junto com os predisponentes previamente reconhecidos, hipertensão e escore de depressão de Beck. Concluindo, a oxidação da LDL e a resposta imunológica que ela evoca podem desempenhar um papel no prognóstico do desenvolvimento de DAC no diabetes tipo 1 e explicam pelo menos alguns dos riscos aumentados de DAC no diabetes tipo 1. Diabetes, 1999; 48:1353–1358 Kevin G. Becker Genética comparativa do diabetes tipo 1 e doença auto-imune - Loci comuns, vias comuns? A análise do genoma no diabetes tipo 1 resultou em vários loci de diferentes níveis de significância estatística. Em nenhum caso ficou provado que determinado gene é a fonte de uma ligação genética com um locus determinado. Uma análise comparativa da posição dos loci para o diabetes tipo 1 com os loci preferidos de outras doenças auto-imunes / inflamatórias apresenta uma superposição considerável. Isto sustenta a hipótese de que a suscetibilidade genética subjacente do diabetes tipo 1 pode ser compartilhada com outras doenças auto-imunes clinicamente distintas como o lúpus eritematoso sistêmico, esclerose múltipla e doença de Crohn. 188 Diabetes, 1999; 48:1389–1394 Outi Vaarala et al. Diabetes Clínica 03 (1999) A alimentação à base de fórmula de leite de vaca induz à imunização primária para insulina em crianças com risco genético para o diabetes tipo 1 Os auto-anticorpos da insulina (IAAs) sempre aparecem como o primeiro sinal de autoimunidade das células de ilhotas em crianças pré-diabéticas. Como o leite de vaca contém insulina bovina, acompanhamos o desenvolvimento de anticorpos em crianças alimentadas com fórmulas de leite de vaca. Foram analisadas por ensaio imunoenzimático os anticorpos de ligação à insulina bovina e à insulina humana, e por radio-imunoensaio o IAA em 200 crianças pequenas portadoras de HLA-DQB1*0302 mas sem alelos protetores, que participaram de um estudo de coorte na população finlandesa. Com base em informação registrada prospectivamente, as primeiras cem crianças admitidas no estudo que foram alimentadas com fórmula de leite de vaca antes de 12 semanas e as primeiras cem crianças admitidas no estudo que foram exclusivamente alimentadas com leite materno durante mais tempo do que as primeiras 12 semanas de vida foram selecionadas para o presente estudo. Além disso, foi realizado um estudo de natalidade em 11 crianças que desenvolveram pelo menos dois auto-anticorpos associados ao diabetes, 98 crianças com diabetes tipo 1 recentemente diagnosticadas, e 92 crianças saudáveis. Achamos que a quantidade de anticorpos de IgG ligados à insulina bovina foi maior aos 3 meses de idade em crianças que foram expostas à fórmula de leite de vaca que em crianças que foram alimentadas exclusivamente com leite materno naquela idade (média 0,521 vs. 0,190; P < 0.0001). Os anticorpos ligados à insulina bovina reagiram com a insulina humana. Nenhuma das crianças apresentaram resultados positivos para IAA. Os níveis de anticorpos ligados à insulina bovina decaíram nos dois grupos de 12 e 18 meses de idade, enquanto que nas 11 crianças com pelo menos dois anticorpos associados ao diabetes os níveis aumentaram durante o período de acompanhamento (P < 0,0001). Os anticorpos IgG são correlacionados com anticorpos IgG2 ligados à insulina bovina (r = 0,43, P = 0,004) e IAA (r = 0,27, P = 0,02) em crianças diabéticas, mas não em crianças saudáveis. A alimentação com leite de vaca é um fator ambiental desencadeante de imunidade para a insulina na infância o que pode explicar a ligação epidemiológica entre o risco de diabetes tipo 1 e exposição prematura às fórmulas a base de leite de vaca. Em alguns indivíduos a resposta imunológica à insulina pode mais tarde ser desviada para imunidade autoagressiva contra as células, conforme indicado por nossos achados em crianças com auto-anticorpos associados ao diabetes. (Ver também neste número de Diabetes Clínica o artigo “Amamentação ao seio, amamentação com leite de vaca e o diabetes mellitus tipo 1: examinando as evidências.”) Clinical Science, 1999, 96: 589-595 Peter J, Stubbs et al. Concentração de hormônio circulante do estresse e insulina nas síndromes coronarianas agudas: identificação da resistência à insulina na admissão Examinamos as concentrações plasmáticas do hormônio do estresse e da insulina em pacientes hospitalizados com síndromes coronarianas agudas. Foram retiradas amostras de sangue venoso antes do tratamento anti-trombótico em 148 pacientes com infarto do miocárdio (IM); foram também submetidos a estudo 76 pacientes com angina pectoris instável (AI), junto com 27 pacientes Diabetes Clínica 03 (1999) 189 continuação com dor no peito de origem não cardíaca (DNC). Houve aumentos progressivos significativos nas concentrações de catecolaminas, cortisol, glicose e insulina de pacientes com DNC a AI a IM. A hiperglicemia (glicose > 8 mmol/l) estava presente em mais de 50% dos pacientes com IM. Os níveis plasmáticos de cortisol e insulina foram ambos correlacionados significativa e positivamente com a concentração de glicose na admissão. Somente a concentração de cortisol foi relacionada com os níveis de pico da enzima cardíaca. Na admissão as concentrações de glicose e insulina em 141 pacientes com IM e AI foram relacionadas à resistência à insulina, conforme avaliação a partir das concentrações subsequentes de insulina e glicose determinadas em jejum e durante um teste de tolerância a glicose. O produto insulina de admissão x glicose (dividido por 25; o índice de resistência-insulina de admissão, ou IARI) foi correlacionado de forma significativa com os índices de resistência à insulina e foi significativamente maior (aproximadamente o dobro) no grupo do IM (7,81 ± 0,76) e no grupo de AI (6,88 ± 1,19) que no grupo controle DNC (3,59 ± 0,06; Kuskul-Wallis: P = 0,0001), sugerindo que os níveis de insulina nos dois primeiros grupos foram aproximadamente duas vezes mais altos que o indicado para os níveis de glicose. 20% dos pacientes era de origem étnica do subcontinente indiano; os níveis de admissão de insulina e glicose neste subgrupo foram mais altos que os dos não-asiáticos em todos os grupos com dor no peito. O cortisol foi o único hormônio do estresse que estava elevado em proporção à extensão do infarto e é provavelmente uma causa parcial da elevação na glicose sangüínea. Os níveis altos de insulina foram relacionados à prevalência da resistência à insulina e isto foi particularmente importante no subgrupo asiático que apresentava IM e AI. No entanto, parece possível identificar os pacientes com síndrome coronariana aguda que são insulino-resistentes em determinado período (na admissão), quando estratégias terapêuticas alternativas podem ser ainda instituídas no início. Digestive Diseases and Science, 1999, 44:6 Kenneth L. Koch Disfunção neuromuscular gástrica na gastropatia diabética no diabetes mellitus – Revisão dos sintomas, fisiopatologia e tratamento A gastropatia diabética é um termo que abrange várias disfunções neuromusculares do estômago, incluindo anormalidades da contratilidade gástrica, tônus e atividade mioelétrica em pacientes com diabetes. Estas anormalidades variam de taquigastrias a hipomotilidade antral e gastroparesia clinicamente evidente. As gastropatias diabéticas podem ser produzidas intensamente durante a hiperglicemia. Sintomas de gastropatia diabética crônica incluem náusea crônica, desconforto epigástrico indefinido, plenitude pós-prandial, saciedade prematura e vômito. Como estes sintomas não são específicos, outros distúrbios como obstrução mecânica do trato gastrointestinal, refluxo gastroesofágico, colecistite, pancreatite, isquemia do mesentério e efeitos dos medicamentos devem ser considerados. As anormalidades neuromusculares do estômago podem ser avaliadas de forma não invasiva com testes de esvaziamento gástrico, eletrogastrografia e ultra-som. Agentes gastrocinéticos como metoclopramida, cisapride, domperidona e eritromicina aumentam as contrações fúndica e antral e/ou erradicam disritmias gástricas. O controle alimentar e o controle da glicose são também importantes no manejo da gastropatia diabética. Como a fisiopatologia da gastropatia diabética tem sido melhor compreendida, tratamentos mais específicos e aperfeiçoados devem ser desenvolvidos. 190 Diabetes Clínica 03 (1999) O diabetes na imprensa Reuters, setembro de 1999 Banho de imersão é bom para diabéticos “Um estudo piloto indica que um banho de 30 minutos, três vezes por semana, pode reduzir os níveis de açúcar no sangue em 13%. O tratamento funciona tão bem que um dos oito voluntários estudados teve de reduzir em 18% sua dose de insulina diária para evitar que o nível de açúcar não caísse demais. O estudo, publicado no New England Journal of Medicina, foi feito por Philip Hooper, do McKee Medical Center, Loveland, Colorado. Hooper fez a pesquisa porque acreditou que o banho quente poderia ter sobre o diabetes o mesmo efeito positivo que os exercícios.” Isto É, 8 setembro de 1999 A causa da diabetes “Pesquisadores da Universidade de Yale (EUA) anunciaram ter descoberto a causa da diabetes tipo 1, caracterizada pela dependência diária de injeções de insulina. Em ratos preparados especialmente para desenvolver o distúrbio, os cientistas localizaram uma proteína que estimula o ataque do sistema de defesa às células do pâncreas responsáveis pela fabricação da insulina.” Isto É, agosto de 1999 Grandes esperanças para os diabéticos “Médicos britânicos descobriram como cultivar em laboratório células modificadas geneticamente para regular o fluxo da insulina. Procuram, agora, transplantar as células para o organismo dos diabéticos. Os cientistas da Universidade de Aberdeen, Escócia, acham que dentro de cinco anos podem iniciar testes em seres humanos.” Diabetes Clínica 03 (1999) 191 Avanços terapêuticos e tecnológicos San Diego, Junho de 1999 (American Diabetes Association, 59th Scientific Sessions) Rosiglitazona uma ou duas vezes ao dia melhora o controle glicêmico em pacientes com diabetes tipo 2 George Grunberger et al. A rosiglitazona (RSG), uma potente tiazolidinediona, é uma monoterapia eficaz para pacientes com diabetes tipo 2. Após um período inicial de 4 semanas com placebo, 959 pacientes previamente tratados apenas com dieta (25%) ou com agentes antidiabéticos orais (75%) foram randomizados para receber placebo (PBO) ou doses diárias de 4 mg ou 8 mg de RSG administradas uma vez ao dia (1 vez ao dia) ou dividida (2 vezes ao dia). No período basal, a média da glicose plasmática em jejum (GPJ) e os níveis médios de peptídeo C para a população de estudo foi de 227,3 mg/dl e 0,93 nmol/l, respectivamente. A HbA1c e a GPJ diminuíram significativamente sem elevações nos níveis de insulina sérica em todos os grupo da RSG. Os esquemas de 4 mg 1 vez ao dia e 2 mg 2 vezes ao dia foram terapeuticamente equivalentes com relação à redução da HbA1c. A RSG melhorou o controle glicêmico em pacientes que utilizavam medicamentos pela primeira vez e em pacientes tratados anteriormente. Em pacientes que recebiam medicamentos pela primeira vez, todas as doses de RSG produziram diminuições médias clinicamente importantes na HbA1c. Os ácidos graxos livres diminuíram em todos os grupos da RSG exceto no grupo de 4 mg 1 vez ao dia. As pequenas alterações na relação colesterol total/HDL não sugeriram aumento do risco cardiovascular. A proporção dos pacientes que apresentaram eventos adversos (EA) foram comparáveis entre os grupos da RSG e do PBO. A proporção de pacientes retirados do estudo devido a um EA foi maior no grupo PBO (10,8%) que em qualquer grupo da RSG (≤ 6,2%). Não houve evidência de toxicidade hepática em qualquer grupo de tratamento. A RSG em doses diárias totais de 4 mg e 8 mg, administradas uma vez ao dia ou divididas, foi bem tolerada e proporcionou melhora significativa o controle glicêmico em pacientes com DT2. Grupo de Tratamento HbA1c basal (%) Basal Diferença do PBO PBO (n=173) RSG 4 mg 1 x dia (n=180) RSG 2 mg 2 x dia (n=186) RSG 8 mg 1 x dia (n=181) RSG 4 mg 2 x dia (n=187) 8,9 ± 1,52 8,9 ± 1,59 8,9 ± 1,54 8,9 ± 1,52 9,0 ± 1,52 0,8 ± 1,10† 0,0 ± 1,40 -0,1 ± 1,42 -0,3 ± 1,24† -0,7 ± 1,37† -0,8†† -0,9†† -1,1†† -1,5†† *média±DP; †P < 0,001 vs basal; ††P < 0.0001 vs pbo 192 San Diego, Junho de 1999 (American Diabetes Association, 59th Scientific Sessions) Diabetes Clínica 03 (1999) Rosiglitazona não aumenta o risco de hipoglicemia induzida pelo álcool em diabéticos tipo 2 tratados com dieta Kathleen T. Culkin et al. A rosiglitazona, um potente sensibilizador de insulina a base de tiazolidinediona, é um eficaz agente redutor de glicose que se supõe, não induz à hipoglicemia. Para determinar se a Rosiglitazona aumentou o risco hipoglicêmico do consumo moderado de álcool, os diabéticos tipo 2 previamente tratados com dieta e exercício foram randomizados para receber 8 mg de RSG (n = 11) ou placebo (n = 12) uma vez ao dia por 8 semanas. Em duas ocasiões distintas durante a última semana, os indivíduos ingeriram aleatoriamente etanol (E) 0,6g/kg de peso corporal ou um controle não-etanol (NE) com uma refeição noturna padrão. A glicose plasmática foi determinada no intervalo de 14h após o início da prova E/NE. As concentrações de glicose foram analisadas pelo teste ANOVA, pontos estimados (PtEst) e intervalos de confiança de 90% (IC) obtidos para a proporção dos valores E:NE. A ausência de efeito foi definida prospectivamente caso o IC de 90% estivesse compreendido dentro de uma faixa de equivalência de 30%. Não houve episódios de hipoglicemia. Não houve reduções clinicamente expressivas na glicose plasmática associadas ao etanol na 4a. ou na 14a hora. Os perfis da concentração de glicose plasmática-tempo no intervalo da 14h foram semelhantes entre os esquemas. Não foram observadas alterações clinicamente expressivas nas proporções de cortisol urinário noturno: creatinina, outra indicação de hipoglicemia antes ou após as provas de etanol vs não etanol. Estes resultados demonstram que a Rosiglitazona não aumenta o risco de hipoglicemia associado ao consumo moderado ocasional de etanol com uma refeição. San Diego, Junho de 1999 (American Diabetes Association, 59th Scientific Sessions) Tratamento com rosiglitazona não está associado à toxicidade hepática Alan Salzman et al. A rosiglitazona (RSG),uma potente tiazolidinediona (TZD), reduz a resistência à insulina e melhora o controle glicêmico em pacientes com diabetes tipo 2. A troglitazona, a primeira TZD a ser comercializada, foi associada à níveis elevados de enzimas hepáticas, dano hepático e óbito em virtude de insuficiência hepática. No total, 3455 pacientes foram tratados com RSG, isolada ou em combinação com outros agentes antidiabéticos, em estudos controlados por placebo ou ativos duplo-cego. Foi permitida a admissão nos estudos clínicos, de pacientes com valores de ALT ou AST superior a 2,5 x o limite mais alto da faixa de referência (ULRR). Testes sobre a função hepática foram monitorados (TFHs) a cada 4 semanas nos primeiros três meses, a cada 6 semanas nos três meses seguintes e trimestralmente daí em diante. A proporção dos pacientes tratados com RSG com ALT > 3x ULRR foi semelhante à proporção dos pacientes tratados com placebo ou com comparadores ativos. Dos 6 pacientes em tratamento com RSG, com ALT > 3x ULRR, 4 apresentaram TFHs normais no período basal. Em todos os 6 pacientes, o valor de ALT voltou ao normal com a continuidade do tratamento com RSG, exceto em 1 deles cujo ATL foi > 3x ULRR, não apresentando agravamento durante o estudo. Os pacientes que concluíram os estudos duplo-cego eram escolhidos para receber tratamento com RSG em estudos aber- Diabetes Clínica 03 (1999) continuação tos de longa duração. Mais de 4500 pacientes foram tratados com RSG em estudos duplo-cego abertos: mais de 2700 por no mínimo 6 meses e mais de 1000 por no mínimo 12 meses. Durante o tratamento aberto, outros 7 pacientes desenvolveram ALT > 3x ULRR: 4 melhoraram ou normalizaram com a continuidade do tratamento, 2 não dispunham de dados, e 1 apresentou ALT > 3x ULRR antes do tratamento com RSG sem que houvesse agravamento durante o estudo. No geral, enquanto 5 pacientes com valores elevados de ALT no período basal apresentaram elevações > 3x ULRR, mais de 250 pacientes com elevações dos valores ALT basais não apresentaram ALT > 3x ULRR no tratamento com RSG. Dados de mais de 4500 pacientes indicam que a rosiglitazona não é hepatotóxica. N n (%) San Diego, Junho de 1999 (American Diabetes Association, 59th Scientific Sessions) 193 Todas as RSG Placebo SU ou MET 3455 6 (0,17%) 561 1 (0,18%) 828 4 (0,48%) Rosiglitazona melhora a glicose plasmática em jejum e pósprandial no diabetes tipo 2 Philip Raskin et al. A rosiglitazona (RSG),uma tiazolidinediona potente, reduz a resistência à insulina e melhora o controle glicêmico em pacientes com diabetes tipo 2. Comparamos os efeitos de 3 doses de RSG (2, 4 e 6 mg duas vezes ao dia [2 x dia] na glicose plasmática em jejum (GPJ) e pós-prandial (GPP) em 303 pacientes com diabetes tipo 2. Após um período inicial de 2 semanas com placebo, eles foram admitidos para um dos 4 tratamentos. No período basal e após um tratamento de 8 semanas, um subgrupo de 99 pacientes (~25/ grupo de tratamento) foram avaliados quanto aos níveis de GPP após uma refeição padrão. A RSG reduziu significativamente a GJ e a área sob a curva concentração GPP-tempo (AUC). A RSG 4 mg 2 x dia e 6 mg 2 x dia produziram efeitos similares. Reduções na AUC da glicose pós-prandial sem um correspondente aumento na AUC da insulina pós-prandial sugere uma melhor retenção de glicose periférica devido à ação de sensibilização à insulina da RSG. Nos grupos da RSG, os ácidos graxos livres diminuíram significativamente e a proporção de colesterol total/HDL não mudou. A proporção de pacientes com pelo menos 1 evento adverso foi semelhantes nos 4 grupos de tratamento. Nenhum paciente apresentou um nível de ALT > 3 x o limite máximo da faixa de referência. Em pacientes com diabetes tipo 2, a monoterapia com RSG é segura e bem tolerada em doses de até 6 mg duas vezes ao dia. Uma dose de 4 mg duas vezes ao dia parece melhorar a GPJ e a GPP. GPJ basal (mg/dl) DGPJ mg/dl DAUC-glicose (mg*min/dl) DAUC-Insulina (pmol*min/l) Placebo RSG 2mg 2x dia RSG 4mg 2x dia RSG 6mg 2x dia 229,0 ± 63,3 +19,2 +2811 -15,181 229,2 ± 70,1 -36,3* -8,633* -2,038 229,7 ± 67,4 -42,5* -10,624* -4,670 226,3 ± 60,3 -45,9* -10,498* -8,394 Os dados são apresentados como médias: *P < 0,0004 comparado com período basal & placebo 194 San Diego, Junho de 1999 (American Diabetes Association, 59th Scientific Sessions) Diabetes Clínica 03 (1999) Desenvolvimento de um teste para o diabetes, rápido, não invasivo, utilizando-se o espectroscópio de fluorescência Richard Bergenstal et al. Descrevemos um novo instrumento portátil destinado para medir de forma não-invasiva a fluorescência das lentes óticas. O instrumento é usado para detectar resíduos glicosilados avançados elevados (AGEs) no cristalino do paciente. Resíduos glicosilados avançados elevados são um sintoma significativo do diabetes. O cristalino do olho é estimulado com laser azul (473 nm) e a fluorescência e as intensidades difusas são medidas. Estas medidas requerem apenas 20 segundos e são usadas como registros para um modelo de rastreamento matemático, que gera uma resposta. A resposta é usada para determinar se o indivíduo examinado tem uma pequena ou grande probabilidade de sofrer de diabetes. O instrumento usa luz de baixa intensidade e sem risco para a visão para medir as mudanças na fluorescência e as propriedades difusas da lente relacionadas à glicosilação das proteínas na lente do olho. Estes resíduos da glicosilação desenvolvidos com maior rapidez em pacientes com níveis elevados de glicose, podem ser usados para distinguir os pacientes com diabetes. São apresentados os resultados dos estudos clínicos usando instrumentação pré-produção em uma população de 800 pacientes. É difícil o rastreamento do diabetes na medida que isto requer em geral um longo período de jejum e um coleta invasiva de sangue. Avaliando os produtos da fluorescência que se acumulam no cristalino, é possível rastrear um paciente com diabetes com sensibilidade e especificidade similares às abordagens de rastreamento já existentes. Não sendo necessária a coleta invasiva de sangue, muitos aspectos sobre o controle da doença perdem importância. Como com qualquer método de rastreamento, são necessários testes de acompanhamento para a confirmação do diagnóstico definitivo. San Diego, Junho de 1999 (American Diabetes Association, 59th Scientific Sessions) Farmacodinâmica e dose resposta da nateglinida no diabetes tipo 2 Yulia Hirschberg et al. A nateglinida (A-4166) é um novo regulador da glicose usado nas refeições, derivado de um aminoácido de ação rápida em desenvolvimento para o diabetes tipo 2. Perfis diários de glicose e de insulina são prognósticos úteis a curto prazo da resposta a longo prazo ao tratamento. Para explorar amplamente os efeitos da nateglinida (NAT) durante 24 horas, este estudo duplocego, cruzado, comparou os perfis glicêmicos diários após vários esquemas de dosagem. Os diabéticos tipo 2 (n = 10) receberam NAT (30, 60, 120 mg) de forma randomizada ou placebo 10 min antes das refeições, 3 vezes ao dia, cada um deles durante 7 dias. Um quinto tratamento se baseava em 120 mg 4 vezes ao dia, sendo a quarta dose administrada antes da ceia. No 7º dia, a glicose plasmática e a insulina foram medidas com freqüência durante 24 h. O desjejum, o almoço, o jantar e a ceia foram servidos às 8:00, 12:00, 17:00 e 22:00 hrs. A administração da NAT produziu uma liberação rápida e curta de insulina e neutralizou as variações de glicose durante a refeição. As diminuições significativas na glicose relacionadas à dose e os aumentos na insulina foram observados em vários momentos nas 24 horas. As doses de 60 e Diabetes Clínica 03 (1999) 195 continuação 120 mg de NAT foram igualmente eficazes na redução dos níveis médios de glicose. A média da alteração integrada (± erro padrão) do período basal (AUC-R) sobre os períodos de tempo estudados é apresentada abaixo (0h = dose no desjejum). Em comparação ao placebo, foram observados AUCs mais baixos de glicose e AUCs elevados de insulina na maioria dos intervalos. A quarta dose de 120 mg de NAT antes da ceia reduziu ainda mais a exposição de glicose durante as 24 horas. Concluindo, a administração de NAT antes de cada refeição foi segura e bem tolerada (não houve relato de hipoglicemia) e proporcionou de forma eficaz as variações de glicose durante a refeição. San Diego, Junho de 1999 (American Diabetes Association, 59th Scientific Sessions) A segurança da repaglinida administrada em combinação com insulina NPH em pacientes com diabetes tipo 2. Estudo multicêntrico, randomizado, semi-cego, grupo paralelo Johan G. Eriksson et al. A repaglinida (REP) é o primeiro tratamento regular da glicose prandial com propriedades de liberação de insulina de ação curta e rápida para o tratamento do diabetes tipo 2. Este estudo comparou a segurança e a eficácia da REP em combinação com a insulina NPH (NPH) versus placebo (PBO) com a NPH ou REP isolada. Na inclusão os pacientes eram controlados de forma inadequada com sulfoniluréia (SU) ou SU-metformina definida pela glicose sangüínea em jejum (FBG) > 8,0 mM. Um total de 96 pacientes participou no período inicial de 3 semanas com REP, 13 saíram no período inicial e 56 completaram o estudo. Foram randomizados 86 pacientes, duração média do diabetes de 11,9 ± 4 anos, HbA1c 9,4 ± 5% e glicose sangüínea em jejum (GSJ) 13,1 ± 9 mM. As retiradas após randomização REP/NPH (n = 4), PBO/NPH (n = 11) e REP (n = 12) foram em sua maioria devido à ineficácia do tratamento. Na randomização, os pacientes dos grupo REP/NPH (n=27) e PBO/NPH (n = 28) foram titulados com NPH durante um período máximo de 20 dias (8 UI – 28 IU ao deitar) de acordo com a GSJ. Isto foi acompanhado por um período de manutenção de 11-14 semanas. Em todos os três grupos, a dose de 4 mg de REP/ PBO foi administrada no período pré-prandial em cada refeição principal. Durante o período de estudo, o número de pacientes (n) que relatou eventos adversos (e) foi de REP/NPH (n = 12, e = 17), PBO/NPH (n = 12, e = 18) e REP (n = 8, e = 15). Após a randomização um total de 3 eventos adversos sérios foi relatado em que a relação com a droga de estudo foi considerada improvável em 2 eventos e, em um evento, impossível de ser determinada. Os episódios hipoglicêmicos foram relatados somente nos grupos REP/NPH e PBO/NPH. No grupo PBO/NPH 1 episódio hipoglicêmico severo ocorreu, sem necessidade de injeção de glicose. Os outros episódios (ep) foram todos leves, REP/NPH (n = 7, ep = 19) e PBO/NPH (n = 3, ep = 7). Em conclusão, este estudo demonstra que a REP administrada em combinação com a NPH não apresenta diferença significativa no número e intensidade dos eventos adversos em comparação com a PBO/ NPH e a REP isolada. Um número clinica e significativamente maior de episódios hipoglicêmicos leves no grupo REP/NPH foi relatado o que é esperado conforme o controle glicêmico neste grupo foi significativamente melhor comparado aos outros grupos. 196 San Diego, Junho de 1999 (American Diabetes Association, 59th Scientific Sessions) Diabetes Clínica 03 (1999) Eficácia e segurança da repaglinida utilizada como um regulador flexível da glicose prandial em pacientes com diabetes tipo 2: estudo multicêntrico, duplo-cego, randomizado, controlado por placebo. Kirstine Brown Frandsen et al. Uma das desvantagens para os pacientes com diabetes tipo 2 é a falta de flexibilidade dos atuais tratamentos. Os pacientes devem aderir aos padrões rígidos de alimentação impostos pelo tratamento, caso contrário o risco de hipoglicemia pode aumentar. A repaglinida (REP) é o primeiro regulador da glicose prandial a ser desenvolvido, apresenta um rápido início e ação de curta duração. O presente estudo foi realizado para avaliar a eficácia e a segurança das duas doses mais baixas (0,5 e 1,0 mg) de REP comparadas ao placebo quando utilizadas em pacientes diabéticos tipo 2 tratados com dieta que receberam permissão para uma alimentação mais flexível. 408 pacientes (média de idade de 57,4 ± 9 anos, IMC 30,3 ± 5 kg/ m2, duração do diabetes de 3,0 ± 5 anos, HbA1c de 7,7 ± 1,7%) foram randomizados para este período de tratamento de 16 semanas. Os pacientes foram tratados com placebo (n = 138) ou ajustados para REP 0,5 ou 1,0 mg (n = 270) conforme seus níveis de glicose sangüínea; 97 e 219 pacientes respectivamente completaram o estudo. O tratamento com REP reduziu a HbA1c de 7,8% para 6,6% (DHbA1c – 1,2%; ponto p < 0,001) comparado com uma redução no placebo de 7,6 para 7,4% ((DHbA1c -0,2%). Dada a oportunidade de uma alimentação flexível, 25% dos pacientes escolhem 2 refeições (pulando uma refeição) e 6% escolhe 4 refeições como o número mais freqüente de refeições. A redução na HbA1c não foi afetada pelo número de refeições. A REP foi igualmente eficaz na redução da HbA1c, quando analisada de acordo com o IMC (< 25, 25-30 e > 30 kg/ m2) e idade (< 65, ≥ 65 anos). O evento adverso mais comum foi a hipoglicemia, relatada por 17% no grupo da REP e 2% no grupo do placebo. Quase todos os episódios foram considerados mínimos e contornados pelo paciente; somente 3 pacientes (1%) apresentaram um episódio que necessitou da ajuda de terceiros. Nenhum destes episódios exigiu hospitalização ou injeções de glucagon. Em conclusão, o estudo demonstra que a repaglinida, o primeiro regulador eficaz da glicose prandial, melhora o controle metabólico e permite que os pacientes tenham um estilo de vida mais flexível independentemente da idade, IMC e padrão alimentar, sem aumento do risco de hipoglicemia séria. San Diego, Junho de 1999 (American Diabetes Association, 59th Scientific Sessions) Eficácia da repaglinida administrada em combinação com insulina NPH ao deitar em pacientes com diabetes tipo 2. Estudo multicêntrico, randomizado, semi-cego, grupo paralelo Mona Landin-Olsson et al. A repaglinida (REP) é o primeiro regulador de glicose prandial com propriedades de liberação de insulina de ação curta e rápida. Este estudo foi desenhado para comparar a segurança e eficácia da REP administrada em combinação com a insulina NPH (NPH), placebo (PBO) com NPH ou REP isoladamente em pacientes controlados de forma insatisfatória com Diabetes Clínica 03 (1999) 197 continuação sulfoniluréia (SU) ou SU-metformina (SU-MET). Um total de 96 pacientes com diabetes tipo 2 participaram, dos quais 13 deixaram o tratamento no período inicial e 56 completaram o estudo. Foram randomizados oitenta e três pacientes com uma duração média do diabetes de 11,9 ± 6,4 anos, HbA1c 9,4 ± 1,5% e glicose plasmática em jejum (GPJ) 13,1 ± 2,9 mM. Inicialmente, todos os pacientes foram tratados com REP por 3 semanas no período inicial. A randomização foi seguida de uma titulação de até 20 dias de NPH com um posterior período de manutenção de 11-14 semanas nos grupos de insulina e um período de tratamento de 14 semanas no grupo da REP. Os pacientes foram tratados com REP/NPH (n = 27), PBO/ NPH (n = 28) ou apenas REP. A dose (REP/PBO) foi de 4 mg administrada na fase pré-prandial em cada refeição principal em todos os três grupos durante todo o período de tratamento. A NPH foi titulada de acordo com a glicose sangüínea em jejum (GSJ) (8 UI para 28 UI, administrada ao deitar). Durante o período inicial houve 2 retiradas do total de 13, devido ao tratamento eficaz (GSJ < 8,0 mM). As retiradas após a randomização REP/ NPH (n = 4), PBO/NPH (n = 11) e REP (n = 12) foram em sua maioria devidas ao tratamento ineficaz. A mudança na HbA1c a partir da randomização para a última consulta mostrou um melhor controle glicêmico no grupo REP/NPH. A mudança média a partir do período basal na HbA1c (última observada realizada) na diferença REP/NPH-PBO/NPH foi de: média – 1,68 (0,32), 95% IC (2,33:-1,3), valor de p < 0,001* e REP/NPHREP foi de: média –1,90 (0,32), 95% IC (2,55:-1,25), valor de p < 0,001*. Nos perfis de glicose sangüínea no 8º ponto, os valores da GSJ (mM) na última visita foram a média REP/NPH (DV) 7,49 (1,91), PBO/NPH 9,67 (2,43) e REP 12,5 (3,08) confirmando o efeito observado na HbA1c. Em conclusão este estudo demonstra que a REP administrada em combinação com a NPH (conceito do bolus basal) melhorou significativamente o controle glicêmico nos pacientes tipo 2 com diabetes que são controlados de forma inadequada com SU ou SU-MET. San Diego, Junho de 1999 (American Diabetes Association, 59th Scientific Sessions) Comparação da regulação da glicose na refeição pela nateglinida e repaglinida em indivíduos sadios Jyoti Kalbag et al. A nateglinida (A-4166) é um novo regulador da glicose durante a refeição, de curta ação, derivado de aminoácido, em desenvolvimento para o diabetes tipo 2. A repaglinida (RPG) é um novo agente hipoglicêmico oral da classe da meglitinida que proporciona uma secreção maior e mais rápida que as sulfoniluréias. Este estudo comparou a glicemia durante as refeições em 14 indivíduos sadios após doses únicas orais de placebo, RPG (0,5 ou 2 mg) ou nateglinida (NAT) 120 mg 10 min antes de uma refeição de 800 kcal. As doses foram administradas aleatoriamente em intervalos de 48 horas. A glicose plasmática e a insulina foram medidas com freqüência durante 8 horas após a dose. As respostas integradas da glicose e insulina (AUC) nos vários intervalos após a dose, com base na mudança dos valores anteriores à dose, são apresentadas a seguir. A NAT neutralizou de forma mais eficaz a elevação de glicose durante a refeição (0-2 horas). Ao passo que a glicose após a NAT retornou ao nível pré-dose em 4 horas, a 198 Diabetes Clínica 03 (1999) continuação administração de 2 mg de RPG resultou em um efeito hipoglicêmico sustentado com a glicose alcançando níveis próximos ao nadir em 6 horas após a dose, sem o retorno aos níveis anteriores à dose até 8 horas após a dose. Todos os tratamentos ativos estimulam a secreção da insulina em comparação com o placebo. Embora a exposição à insulina durante 0-1 hora após a dose tenha sido similar à da NAT e RPG 2 mg, o pico de insulina pós-refeição ocorreu mais cedo após a NAT que após a RGT (0,78 vs 0,92 hora). A partir da 1,5 hora, os níveis de insulina após a NAT foram similares ao placebo. Em contraste, a RPG 2 mg foi associada a uma elevação persistente da insulina 4 horas após a dose apesar das concentrações médias de glicose < 70 mg/dl (3,9 mmol). Estes resultados sugerem que 120 mg NAT foi mais eficaz que 2 mg ou 0,5 mg de RPG na redução da glicemia nas refeições. A NAT apresenta uma duração de ação mais rápida e mais curta nas células bêta que a RPG, resultando em uma secreção de insulina mais fisiológica, uma menor exposição à insulina, e uma menor probabilidade de hipoglicemia. San Diego, Junho de 1999 (American Diabetes Association, 59th Scientific Sessions) Estudo dose-resposta de repaglinida, secretagogo de insulina não-sulfoniluréia, em pacientes diabéticos tipo 2 David R. Owens et al. A repaglinida é um derivado do ácido carbamoimetilbenzóico (CMBA). Objetivo: Examinar a farmacodinâmica e farmacocinética da repaglinida em pacientes tratados apenas com dieta. Desenho: Estudo dose-resposta, duplo-cego, cruzado, controlado por placebo. Após um jejum noturno de 10 horas, foram administradas doses únicas de placebo ou repaglinida (0,5, 1, 2 e 4 mg) em 16 diabéticos tipo 2 tratados com dieta [média de idade (DP): 58,3 ± 9,0 anos; IMC 28, 2 ± 2,6 kg/m2; HbA1c 8,7 ± 1,7%] 15 min antes de uma refeição padrão (500 kcal). Quatro horas depois foi fornecida uma segunda refeição teste. Resultados: Após a primeira refeição a média máxima das concentrações de glicose plasmática foi de 14,5, 13,3, 12,9, 13,1 e 12,0 mmol/l após placebo ou repaglinida (0,5, 1, 2 e 4 mg), respectivamente. Em 4 horas a repaglinida reduziu a média das concentrações de glicose em 1,4-2,6 mmol/l em relação à dose linear em comparação com o placebo. A área sob a curva de concentração plasmática-tempo (AUC) da hora 0 à 4 h foi menor para a glicose e maior para insulina e peptídeo-C após a administração de repaglinida do que para o placebo (P = 0,0001 em todos os casos, ANOVA). A secreção de insulina (0-4h) em todas as doses de repaglinida foi maior do que com o placebo (P = 0,0001) e ficou demonstrada uma relação dose-resposta log-linear. Com 4 mg de repaglinida houve um aumento de 150% na secreção de insulina em 30 min comparado ao placebo. Após a segunda refeição os efeitos farmacodinamicos da repaglinida não ficaram evidentes, o que é compatível com o achado farmacocinético que estabelece que os níveis plasmáticos de repaglinida não são significativos 4h após a administração. Não foram observadas anormalidades laboratoriais significativas. Conclusão: a repaglinida aumentou significativamente a secreção de insulina na forma dose dependente em pacientes com diabetes tipo 2. Este efeito insulinotrópico restringiu-se apenas à primeira refeição. Diabetes Clínica 03 (1999) San Diego, Junho de 1999 (American Diabetes Association, 59th Scientific Sessions) 199 Estudo clínico duplo-cego da acarbose em pacientes mais idosos com diabetes tipo 2 Carlos Arauz-Pacheco et al. O objetivo foi determinar a eficácia e tolerabilidade da dose baixa de acarbose (A) em pacientes idosos com diabetes tipo 2. Duração: 6 meses. Parâmetro principal: HbA1c em 6 meses. A dose inicial de acarbose foi de 25 mg 4 x dia e aumentada para a dose máxima de 50 mg 2 x dia, os pacientes que não toleraram a dose máxima continuaram no estudo de 25 mg 2 x dia, em caso de tolerância. Foi randomizado um total de 41 pacientes com idade superior a 60 anos (média de idade: 68 ± 6) com diabetes tipo 2 controlado de forma insatisfatória com sulfoniluréia ou metformina. Utilizou-se o teste t pareado para avaliar o efeito do tratamento na HbA1c e no IMC. O teste de Fisher foi utilizado para a análise das proporções. Um valor de p menor que 0,05 foi considerado estatisticamente significativo. Vinte pacientes receberam A e 21 receberam P. Pré-tratamento HbA1c: Grupo A: 9,3 ± 1,3, Grupo P: 8,7 ± 1,3. Resultados do estudo: 7 pacientes descontinuaram o estudo da droga devido aos eventos adversos de intensidade moderada antes do final da fase duplo-cega (3 no grupo A e 4 no grupo P). Três pacientes não participaram do acompanhamento (1 no grupo P e 2 no grupo A), 31 pacientes completaram o estudo (15 no grupo A e 16 no grupo P). A HbA1c diminuiu no grupo A (alteração média –0,8 ± 0,2, p = 0,003). No grupo P não foram observadas alterações significativas na HbA1c (alteração média –0,3 ± 0,2, p = 0,15, ns). Treze dos 16 pacientes do grupo da acarbose e 7 dos 15 pacientes do grupo placebo apresentaram reduções de pelo menos 0,5% (p = 0,07) na HbA1c. O IMC diminuiu no grupo A (de 29,4 ± 7,5 para 28,6 ± 7,1, p = 0,015), isto representa uma redução de 2,3 kg no peso. No grupo P não foram observadas alterações significativas no peso (IMC: 33,2 ± 4,9 no período basal vs 32,9 ± 4,9 em 6 meses, p < 0,1 ns). Os eventos adversos observados durante o estudo foram em geral de intensidade leve a moderada. Concluindo, A em doses baixas (25 a 50 mg 3 x dia) foi eficaz na redução da hiperglicemia do diabetes tipo 2 em um grupo de indivíduos com mais idade. A acarbose foi em geral bem tolerada e a descontinuação devido aos eventos adversos foi similar ao placebo. Neste estudo foi observada uma redução moderada no peso associada à acarbose. San Diego, Junho de 1999 (American Diabetes Association, 59th Scientific Sessions) Farmacocinética e farmacodinâmica de uma insulina análoga, a Insulina Aspart, em voluntários sadios Philip D. Home et al. A insulina sérica e os perfis de glicose da nova insulina humana análoga de ação rápida, a insulina Aspart, foram comparados aos níveis de insulina humana não modificada em 25 homens sadios após dose única por via subcutânea. Tanto a insulina Aspart como a insulina humana, 0,1/kg do peso corporal foram injetadas por via subcutânea e acompanhadas determinando-se dos perfis de concentrações de insulina circulante, glicose sangüínea e peptídeo C durante 8 horas. O primeiro parâmetro do estudo, o tempo médio na residência para insulina, foi significativamente mais bai- 200 Diabetes Clínica 03 (1999) continuação xo para a insulina Aspart que para a insulina humana regular [149 (26) ((DP) médio) versus 217 (30) minutos, respectivamente: p < 0,001]. O pico da concentração de insulina sérica foi duas vezes mais alto para a insulina Aspart que para a insulina humana regular [41 (11) versus 18 (4) um/l; p < 0.001] e o tempo para a concentração de insulina sérica foi significativamente menor [52 (23) versus 145 (93) minutos: p < 0,001]. Foi encontrada uma queda significativamente maior na concentração da glicose plasmática com a insulina Aspart que com a insulina humana [2,1 (0,6) versus 1,4 (0,4) mmol/l: p < 0.001]. O tempo para uma concentração mínima de glicose plasmática foi significativamente menor com a insulina Aspart que com a insulina humana [94 (45) versus 226 (120) minutos]. Após 3 horas, a concentração de glicose plasmática foi mais alta com a insulina Aspart que com a insulina humana, indicando uma duração de ação mais curta com a insulina análoga. Os resultados deste estudo em voluntários sadios mostram que após uma injeção subcutânea, a insulina análoga, a insulina Aspart, apresenta uma absorção significativamente mais rápida na circulação, alcança duas vezes mais a concentração no sangue em menos que a metade do tempo, e retorna mais rapidamente ao basal que a insulina humana. Isto resulta em um início de ação mais rápido comparado à insulina humana regular. San Diego, Junho de 1999 (American Diabetes Association, 59th Scientific Sessions) Comparação de pequenas doses pré-prandiais de insulina Lispro com a insulina humana regular no diabetes tipo 2 Waldemar Bruns et al. Uma resposta insatisfatória da insulina na primeira fase prandial é uma característica do diabetes mellitus tipo 2 precoce. Comparamos os efeitos metabólicos da administração de pequenas doses (4U) de insulina Lispro (LP) ou insulina humana regular (HR) ou nenhum tratamento (NT) antes de um desjejum em pacientes com diabetes tipo 2 precoce. O período de acompanhamento foi de 180 min. após o início do desjejum. Neste período, os níveis sangüíneos de glicose (GS), ácidos graxos livre (AGL), peptídeo C-plasmático (P-C), insulina sérica (Ins) e pró-insulina (PI) foram determinados em intervalos de 30 min. Vinte e nove pacientes diabéticos participaram (12 mulheres e 17 homens, média de idade de 58,4 ± 1,7 anos, duração do diabetes 30,8 ± 5,0 meses. IMC 28,3 ± 0,6 kg/m2. HbA1c 7,0 ± 0,14%). Os valores de GS foram significativamente menores 60-180 min após a administração da LP ou HR em comparação com o NT e significativamente menor 60-150 mm após a LP do que após a HR. A área sob a curva (AUC) para GS 0-180 min foi significativamente menor (p < 0,001) após 4U de LP em comparação com a HR, a LP e a HR foram mais eficazes que o NT (p < 0.001) (GS AUC:LP:1533 ± 47,2; HR: 1631 ± 50,7; NT: 1787 ± 61,5 (mmol/l)* 180 min). A administração da LP e da HR levou à uma diminuição no AGL-AUC (LP;64,5 ± 7,0; HR:73,7 ± 6.6; NT:81,2 ± 7,5 (mmol/l)* 180 min LP-NT: p < 0,001). Os valores de IP e P-C AUC foram significativamente mais baixos nas duas insulinas do que após o NT (AUC :IP 6565 ± 642,2; HR 6299 ± 599,8; NT 7165 ± 681,3 (pmol/l)* 180 min, p < 0.05; AUC P-C: LP 775 ± 53,6; HR 808 ± 48,3; NT 886 ± 55,3 ng/ml) 180 min, p < 0.001). Concluindo, Diabetes Clínica 03 (1999) 201 continuação pequenas doses pré-prandiais de insulina reduzem os níveis pós-prandiais de pró-insulina e peptídeo-C em pacientes com diabetes tipo 2. Quatro U de insulina Lispro antes do desjejum apresenta um maior efeito metabólico que a mesma dose de insulina regular humana em pacientes com diabetes tipo 2 precoce. San Diego, Junho de 1999 (American Diabetes Association, 59th Scientific Sessions) Satisfação com o tratamento e bem-estar psicológico dos pacientes com diabetes tipo 1, tratados com a nova insulina de longa ação, a glargina Clare Bradley et al. A insulina glargina, uma nova insulina de longa ação, proporciona liberação mínima constante de insulina e destina-se a uma única administração ao dia. A satisfação com o tratamento (Questionário sobre a satisfação com o tratamento do diabetes (QSTD) e o bem-estar psicológico (Questionário sobre o bem-estar (Q-BE) foram avaliados em um estudo aberto, multicêntrico, randomizado, controlado, conduzido nos EUA que comparou os efeitos da insulina glargina e da insulina basal humana NPH. Os questionários individuais foram aplicados no período basal, e pelo menos uma vez na 8a, 20a ou 28a semana para os 474 participantes (235 homens e 239 mulheres; média de idade 38,6 ± anos; duração média do diabetes 17,5 ± 10,8 anos; GHb média no período basal 7,7 ± 1,2%). Os escores basais do QSTD (média 28,8 ± 5,5; escore máximo possível = 36) e do Q-BE (média 51,6 ± 9,0; escore máximo possível = 66) foram mais altos nesta população. Enquanto a Satisfação com o Tratamento melhorou nos dois grupos de tratamento, a melhora foi mais acentuada com a insulina glargina em todos os períodos de tempo e no resultado final (última avaliação durante o tratamento). A diferença foi significativa na 20a semana (mudança do período basal +1,66 vs. +0,76 pontos; p = 0,0460). A freqüência observada de hiperglicemia e hipoglicemia melhorou acentuadamente nos pacientes que receberam insulina glargina. A diferença foi estatisticamente significativa para a Freqüência observada de Hiperglicemia na 8a semana (p = 0,01621). Houve também uma tendência estatisticamente não-significativa para os melhores resultados no bem-estar em pacientes tratados com insulina glargina. Nestes pacientes, os escores médios do Q-BE foi, na maioria das vezes, mais altos em comparação com o período basal embora no grupo NPH eles diminuíram a partir do período basal. A análise das sub-escalas do Q-BE mostra que os efeitos observados no Bem-estar Geral são atribuídos principalmente aos efeitos nos escores da sub-escala da Depressão e do Bem-estar positivo. Os resultados psicológicos observados neste estudo incluem pequenos efeitos no Bemestar geral o que pode refletir uma combinação do tratamento e dos efeitos do estudo. Foram observados efeitos mais substanciais na Satisfação com o Tratamento; houve uma tendência, que alcançou significância estatística em alguns períodos, para melhora com insulina glargina, junto com uma diminuição na Freqüência Observada de Hiperglicemia e Hipoglicemia comparada à NPH. 202 San Diego, Junho de 1999 (American Diabetes Association, 59th Scientific Sessions) Diabetes Clínica 03 (1999) A insulina humana análoga (Insulina Aspart, Iasp) é comparável à insulina humana no diabetes tipo 2 Philip Raskin et al. Estudamos a segurança e a eficácia da Iasp (insulina de ação rápida com um início mais rápido e uma duração de ação menor que a Insulina Humana) em um estudo clínico aberto de seis meses, multicêntrico, randomizado, em indivíduos com diabetes tipo 2 que necessitam de insulina. Todos os pacientes eram portadores de diabetes desde pelo menos 2 anos, e foram tratados com IH no mínimo por 12 meses. No período basal não houve diferenças significativas entre os grupos quanto à idade, duração do diabetes ou controle glicêmico (HbA1c = 8,1% ± 0,13% para Iasp e 7,9% ± 0,12% para IH). Após a randomização, todos os pacientes receberam injeções basais de insulina NPH antes de deitar, junto com bolus de Iasp (n = 91) ou IH (n = 91) relacionado à alimentação. (Em menos de 5% dos pacientes admitidos, foi necessário adicionar no desjejum uma dose extra de insulina NPH ao esquema anterior antes da randomização). A primeira avaliação da eficácia foi o nível de HbA1c após 6 meses de tratamento. O aumento médio da glicose sangüínea prandial (GS) após três refeições e a variabilidade de um perfil de GS de 8 pontos foram avaliações secundárias da eficácia. Após 6 meses de tratamento, os níveis de HbA1c foram os mesmos nos dois grupos (7,7% ± 0,1% para Iasp e 7,8% ± 0,1% para IH, p = 0,368). A Iasp foi também comparável à IH conforme determinada pelos perfis do ponto-8, aumentos e variabilidade na GS prandial, e dose de insulina diária. Não foi observada diferença estatisticamente significativa no risco de episódios hipoglicêmicos para os dois tratamentos. Quanto aos eventos adversos, a Iasp foi tão bem tolerada quanto a IH, com uma freqüência ligeiramente maior de eventos adversos sem gravidade. A maioria dos eventos adversos foram leves e não foram relacionados com o tratamento. Conclusões: A Iasp é comparável à IH no tocante ao controle glicêmico e ao risco de hipoglicemia em indivíduos diabéticos tipo 2 tratados com insulina. Como a Iasp pode ser administrada imediatamente antes das refeições, ela proporcionará uma maior flexibilidade de tratamento para os pacientes tipo 2. Diabetes Clínica 03 (1999) 203 Produtos e novidades Monitorização contínua da glicose com SpectrX SpectrX é um novo glicosímetro com monitorização contínua. Ele mede o nível de glicose pela tecnologia ISF (Skin Interstitial Fluid ou Fluído intersticial da pele). Este glicosímetro pode ser adherido em qualquer lugar do corpo. Ele vem com um painel destacável par leitura. As vantagens são: monitorização contínua, sem lancete nem necessidade de medida sangüínea, o que eliminam fitas, agulhas, etc. O aparelho está em fase de estudos clínicos. Prothotics lança palmilhas terapêuticas com Vygel Estas palmilhas terapêuticas foram desenvolvidas especialmente para os portadores de diabetes, artrite e outros enfermidades que resultam em pés sensíveis. As palmilhas são do tamanho do pé ou ¾ e são constituídas com uma combinação de plastazote e polyurethane. Elas oferecem uma grande capacidade de absorção devida ao calcanhar em Vygel. Microlet Vasculance Complemento do Glucometer Elite da Bayer, Microlet Vaculance é uma lanceta a vácuo que permite escolher outros lugares do que a ponta do dedo para colher amostras de sangue. Microlet pode ser usado em qualquer lugar do corpo. 204 Diabetes Clínica 03 (1999) Nova linha de calçados Drew Com 123 anos de experiência na produção de calçados, Drew acaba de lançar sua nova linha com 151 combinações diferentes de tamanho e largura (para adultos). Os calçados Drew, especialmente desenvolvidos para pés sensíveis (diabetes, artrite), estão a venda para pronto entrega e sob encomenda. Personal Lasette: amostras de sangue sem dor Personal Lasette substitui a lanceta clássica. Ela produz um facho de laser absorvido pela água da pele. A única sensação percebida é uma sensação de pressão no momento da vaporização. São disponíveis dez níveis de potência. - Selecione o nível de potência - Abra a porta do laser - Ligue o aparelho para carregar o laser - Coloque o seu dedo - Aperte o botão para disparar o laser Dakota Flax Gold: complemento alimentar anti-diabética e anti-colesterol Flax é uma semente cultivada nos Estados Unidos (Dakota) que tem vários efeitos positivos sobre as doenças crônicas. Composta de fibras solúveis, ela realiza uma redução do índice glicêmico, diminuindo assim a glicemia pós-prandial e as flutuações glicêmicas. Ela é também útil par reduzir as taxas de colesterol LDL e os triglicerídeos. Flax deve ser consumido todos os dias com suco de frutas ou alimentos. Humapen: uma caneta fácil de usar A Eli Lilly do Brasil está lançando a HumaPen durante o XIIo Congresso Brasileiro de Diabetes. A HumaPen é uma caneta aplicadora de insulinas Lilly e utiliza refil de 3 ml de Humalog / Humulin. A caneta apresenta um desenho anatômico facilitando a empuhadura durante a aplicação e o sistema de seleção de dose permite a sua correção sem perda de insulina. HumaPen é um produto que possibilita a pessoa usuária de insulina ter conforto, segurança e praticidade nas aplicações subcutâneas. Comprovadamente, a caneta aplicadora é um acessório importante no tratamento do diabetes, pois além da praticidade garante a aplicação correta das unidades prescritas. Os novos produtos desta página, apresentados por empresas e laboratórios em congressos, não são todos comercializados até o fechamento desta edição. Mais informações na ANAD, tel (11) 549 6704 206 Diabetes Clínica 03 (1999) XII Congresso Brasileiro de Diabetes 8 a 12 de outubro de 1999 Aracaju, Sergipe Resumos de Trabalhos Prof. Dr. Laercio Joel Franco Prof. Titular de Medecina Preventiva Universidade Federal de São Paulo Escola Paulista de Medicina Rua Botucatu 740 04023-038 São Paulo SP tel: 11 571 6934 e 576 4540 fax: 11 545 5159 e-mail: [email protected] Genética e ambiente no diabetes mellitus Prof. Dr. Alcides M. Temporal Professor Livre Docente em Endocrinologia da Faculdade de Medicina UFPE Rua Viscondessa do Livramento, 233 52010-060 Recife PE Tel: (81) 423 2811, Fax: (81) 423 1730 Diabetes na terceira idade O DM é um distúrbio heterogêneo nas suas duas formas predominantes (DM1 e DM2). Nos últimos anos, ocorreu um grande progresso na compreensão da fisiopatogenia do DM1, sua associação com antígenos leucocitários (HLA) e outros marcadores genéticos no cromossomo 6. O DM2 tem uma forte base genética, evidenciada pela concordância próxima de 100% em gêmeos monozigóticos e pela presença de anormalidades na tolerância à glicose em mais de 30% dos filhos de pais com DM2. Apesar das marcantes evidências para um componente genético, os fatores herdados que levariam a uma insulino-resistência permanecem não identificados. Existe um grande desafio para se conseguir identificar os principais genes que contribuem para a patogênese do DM2. A abordagem bioquímica tradicional tem fornecido importantes contribuições para a identificação de defeitos em quinases intracelulares, bem como de estímulos anormais pela insulina para o transporte de glicose. Entretanto, a dificuldade nesta abordagem é que existe uma cadeia de distúrbios metabólicos da glicose e lipopróteinas, que o defeito primário é camuflado pelas anormalidades secundárias. Estudos epidemiológicos com populações migrantes mostram duas importantes facetas do DM. Primeiro, a importância de fatores ambientais na etiologia do DM2 e sua contribuição para uma melhor compreensão de que certos aspectos do meio podem ser diabetogênicos. Segundo, estes estudos têm mostrado que certas populações apresentam uma maior susceptibilidade ao DM2, que parece ter uma base genética, e portanto, fornecem uma base potencial para uma melhor compreensão dos aspectos genéticos do DM2. O diabetes tipo 2 é uma doença cuja incidência é cada vez maior à medida que as pessoas se tornam mais velhas. As estatísticas mundiais mostram que o número de indivíduos maiores de 65 anos está aumentando assim com a expectativa de duração da vida. Isto significa que haverá um número crescente de diabéticos entre pessoas de faixas etárias mais altas. O diagnostico e o tratamento destes pacientes apresentam características especiais que serão analisadas e discutidas neste Simpósio. Diabetes Clínica 03 (1999) 207 Dr. Domingos A. Malerbi Médico diabetologista Doutor em Endocrinologia Faculdade de Medicina da USP Rua Dr. João Clímaco Pereira, 82 - 04532-070 São Paulo SP Tel: (11)820-6240, Fax (11)829-7918 Diabetes Autoimune Latente do Adulto (LADA) Prof. Dr. Alfredo Halpern R. Romilda Margarida Gabriel, 91 04530-090 São Paulo SP E-mail: [email protected] O tratamento do obeso diabético Prof. Dr. Nelson Rassi Chefe do Serviço de Clínica Médica do Hospital Geral de Goiânia Alberto Rassi Consultório- Av. Ismerino de Carvalho (antiga Z) nº 535 - Setor Aeroporto Obesidade mórbida e diabetes mellitus tipo 2: efeito da perda de peso no controle glicêmico O diabetes tipo 1 clássico pode raramente apresentar-se em indivíduos adultos, inclusive na 3a idade. No entanto, a maioria dos casos de diabetes auto-imune em adultos começa com quadro clínico às vezes indistinguível daquele do diabetes tipo 2. São indivíduos que possuem marcadores circulantes de auto-imunidade contra as células beta, geralmente anti-GAD, e que exibem instabilidade metabólica pouco tempo após o diagnóstico, tornando-se insulino-dependentes. As primeiras caracterizações desses casos foram publicadas no início dos anos 90, depois que as técnicas de determinação dos anticorpos anti-ilhotas tornaram-se rotineiras. Sua correta classificação quando do diagnóstico é difícil em termos puramente clínicos. Há uma tendência atual para incluí-los num sub-tipo do diabetes tipo 1 imunoinduzido, o assim chamado “Diabetes tipo 1 lentamente progressivo”, ou “Diabetes auto-imune latente do adulto” (LADA), sendo que até 10% dos pacientes inicialmente diagnosticados como tipo 2 podem pertencer a esta categoria. Os pacientes com LADA exibem algumas características clínicas diferenciais em relação ao tipo 2, tais como idade e peso menores, menor expressão de características da síndrome plurimetabólica, níveis de peptídeo-C mais baixos, associação com outras doenças auto-imunes, etc. Seu reconhecimento é importante para a definição do melhor tratamento, assim como para a compreensão daquilo que chamamos de “heterogeneidade” do diabetes tipo 2. Quando um diabético é obeso deve-se enfatizar a perda de peso. Com esta há, quase que invariavelmente, uma nítida melhora nos níveis glicêmicos, nos níveis tensionais (se há hipertensão associada), no perfil lipídico (com diminuição dos triglicérides e do LDL colesterol e elevação do HDL colesterol) e dos fatores de coagulação e de fibrinólise alteradas nos obesos e nos diabéticos (particularmente a perda de peso leva à uma diminuição dos níveis de PAI e de fibrinogênio). Todos estes eventos nos dão a certeza de que o primeiro objetivo no tratamento médico dos diabéticos obesos é a perda de peso (e frise-se que perda de peso de 5% a 10% já causa acentuada melhora do quadro metabólico). Este deve ser buscado de todas as maneiras: se o tratamento de base com planejamento alimentar e incentivo à atividade física falha, devemos utilizar os medicamentos anti-obesidade. Se mesmo assim os resultados não forem obtidos e a obesidade for grave (ex.: IMC > 35kg/m2) devemos pensar seriamente na possibilidade de cirurgia bariátrica. A relação entre obesidade e diabetes mellitus tipo 2 é cientificamente comprovada através dos estudos clínicos e epidemiológicos. Nas últimas décadas a prevalência e incidência de ambos têm aumentado. O National Health Interview Sur- 210 Diabetes Clínica 03 (1999) 74075-040 Goiânia GO Tel: 62-225 1764, Fax: 62-225 1763 E-mail : [email protected] vey (NHIS) mostrou um aumento de 17% na prevalência e de 48% na incidência de diabetes tipo 2 nos últimos 14 anos e o National Health and Nutrition Examination NHANES de 1988-1994 mostra que mais de 30% da população americana sofre de excesso de peso, sendo 22% clinicamente obesa (IMC > 30 kg/m2). O Nurses Health Study (Annals Intern Med 1995) mostra uma correlação fortemente positiva entre IMC e risco de diabetes tipo 2, indicando que após IMC de 24,9 pequenos aumentos de peso representam grandes riscos ao desenvolvimento de diabetes. No Brasil a Pesquisa Padrão de Vida realizada entre 1996-1997, mostra que 31,5% da população masculina, 26,6% da feminina possuem sobrepeso, enquanto 7% dos homens e 12,2 % das mulheres brasileiras são obesas. Calcula-se que o número de obesos mórbidos em nosso pais seja superior a 500.000 pessoas, sendo mais prevalente na população de baixa renda. O Hospital Geral de Goiânia Alberto Rassi serve como unidade de referência ao Programa de Prevenção e Controle de Obesidade (PPCO). Apresentamos os dados dos 70 primeiros pacientes com obesidade mórbida que ingressaram no programa. A prevalência de diabetes tipo 2 foi de 25,7% e de hipertensão arterial de 64,3%, números bem acima dos encontrados na população de peso normal e obesos não mórbidos. Modestas reduções de peso (5% a 10%) trazem benefícios significativos no controle das comorbidades, entretanto estas conclusões são baseadas em dados de curto prazo (6 a 12 meses). O estudo orlistat x placebo, 2 anos, mostra que reduções do peso inferior a 8% ao final do segundo ano de tratamento estavam relacionadas a recidiva das comorbidades. Os dados em relação a obesidade mórbida são escassos. O estudo SOS (tratamento cirúrgico x controles n- 600 2x) mostra que redução de 23% do peso no primeiro ano trouxe benefícios no controle do diabetes, hipertensão e outros fatores de risco. No final do sexto ano, com a redução do peso em torno de 19%, o bom controle glicêmico persistia, porem os níveis pressóricos voltaram ao basal com a necessidade do retorno ao tratamento antihipertensivo. Profa Dra. Leila Maria Batista Araújo Profa Adjunto da Universidade Federal da Bahia Chefe do Ambulatório de Obesidade do Hospital Universitário Professor Edgard Santos Av Reitor Miguel Calmon, 1210 / 615 40110-100 Salvador BA Tel: (71) 247 84 92 E-mail: [email protected] Intolerância à glicose e diabetes mellitus em obesos mórbidos A obesidade é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de diabetes tipo 2. A freqüência de diabetes mellitus e da intolerância à glicose em obesos mórbidos varia de 25 a 60% de ambas condições respectivamente e é maior do que em indivíduos pré-obesos ou com obesidade leve. Diversos fatores genéticos e ambientais contribuem para o aparecimento destes distúrbios: a idade mais avançada, o grau maior de obesidade, o tipo de distribuição andróide de gordura, a maior duração da obesidade, ganho adicional de peso em indivíduos já obesos, história familiar de diabetes mellitus, dieta rica em gordura e pobre em fibras, o sedentarismo e a diminuição da termogênese induzida pela alimentação. A hipótese do “thrifty gene” sugere que exista genes responsáveis pela concomitância dessas condições. A patogênese dos distúrbios do metabolismo glicídico está relacionada à resistência à insulina, cujos mecanismos não estão inteiramente esclarecidos. A nível celular, vários trabalhos sugerem diminuição do número e afinidade dos receptores de insulina em diversos tecidos e comprometimento da função de proteínas envolvidas na via de sinalização intracelular da insulina, como diminuição do número e da função de fosforilação dos receptores de insulina. A atividade da tirosina quinase do receptor de Diabetes Clínica 03 (1999) continuação 211 insulina está diminuída em obesos e diminui mais ainda no aparecimento do diabetes, alterando os transportadores de glicose para a célula e a atividade de enzimas responsáveis pela estocagem e/ou pela oxidação de gordura. O fator de necrose tumoral (TNFa) sintetizado pelo adipócito estimula a lipólise e aumenta os ácidos graxos não esterificados (NEFA) que contribuem para a resistência à insulina no fígado e no músculo esquelético. O grau de resistência à insulina e a capacidade de resposta da célula beta pancreática são variáveis e a interação destes fatores com outros genéticos e ambientais determinam os distúrbios do metabolismo do hidratos de carbono e a associação com as co-morbidades da síndrome metabólica. O objetivo maior do tratamento do diabetes à glicose em obesos mórbidos é reduzir o peso e aumentar a atividade física, com conseqüente melhora da tolerância à glicose. Drogas que auxiliam na perda de peso, como aquelas de ação catecolaminérgicas ou serotoninérgicas, e/ou de droga que age diminuindo a absorção de gordura, o orlistat, podem ser utilizadas. Quando não se consegue um controle glicêmico satisfatório, outras drogas como a metformina, as tiazolidinedionas, a acarbose ou miglitol, sulfonilureias, repaglinida ou insulina podem ser associadas. A cirurgia bariátrica é uma opção a ser considerada nestes pacientes. Referências Albu J, Pi-Sunyer FX. Obesity and diabetes. In Bray GA, Bouchard C, James WPT. Handbook of obesity. Marcel Dekker, INC, New York, 1998, pg. 697-707. Lev-Ran A. Thrifty genotype: how applicable is to obesity and type 2 diabetes? Diabetes Review, 7,1-2, 1999 Wannamethee SG, Shaper AG. Weight change and duration of overweight and obesity in the incidence of type 2 diabetes. Diabetes Care, 22, 1266-72, 1999. Scheen AJ, Lefébre PJ. Management of the obese diabetic patient. Diabetes Review, 7, 7793, 1999. Dr. Marco Antonio Vivolo Médico Endocrinologista da UNIFESP Trv. Ubirassanga, 41 - 04614-050 São Paulo, SP Tel: (11) 241-7088 ou 011 9978-1166 Fax: (11) 535-1602 E-mail: [email protected] Exercício para diabético Profa Dra. Sandra Roberta Gouvêa Ferreira Profa Adjunta Livre-Docente do Departamento de Medicina Preventiva Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Medicina Tratamento da Micro e Macroproteinúria A atividade física é parte integrante do dia a dia de qualquer pessoa, e é fundamental para o diabético. A abordagem desse tema foi dividida em três tópicos: primeiramente temos uma introdução às bases da fisiologia aplicada ao exercício, fundamental para compreensão dos mecanismos envolvidos tanto na prevenção da doença quanto no aparecimento das complicações agudas do diabetes. Em seguida, a apresentação de um trabalho de intervenção de muito sucesso realizado no estado que deu nome a ele, o programa “Agita São Paulo”, que tem por objetivo orientar a população sedentária, com alto risco de desenvolver diabetes tipo 2. E finalmente uma explanação geral de particularidades sobre o exercício para o indivíduo diabético de qualquer idade. O tratamento da nefropatia diabética (ND) se baseia no controle glicêmico, restrição dietética de proteína, controle da pressão arterial (PA) e uso dos inibidores da ECA. O papel do controle glicêmico foi demonstrado especialmente em estudos de prevenção primária de complicações diabéticas (DCCT em pacientes com diabetes tipo 1 e UKPDS com diabetes 212 Diabetes Clínica 03 (1999) Rua Botucatu, 740 CEP 04023-062, São Paulo, SP Tel: (11) 571-6934 Fax: (11) 549-5159 E-mail: [email protected] tipo 2). Estudos de prevenção secundária visaram retardar a evolução da microalbuminúria para fase clínica da ND. O DCCT e UKPDS compararam os efeitos do tratamento convencional e intensivo do diabetes. No DCCT observou-se que menor número de indivíduos normoalbuminúricos em terapia insulínica intensiva evoluiu para microalbuminúria após 10 anos de seguimento, em comparação com a convencional. Considerando os microalbuminúricos, a proporção daqueles que evoluíram para ND clínica foi 58% menor nos indivíduos intensivamente tratados. O UKPDS revelou que, também no diabetes tipo 2, esquemas intensivos resultam em redução significante no risco de complicações microvasculares, entre elas a insuficiência renal crônica (IRC). Há evidências na literatura dos benefícios da redução de proteína da dieta de pacientes albuminúricos em retardar a progressão da ND. Dietas de 0,6 g/ kg/dia obtém estabilização da taxa de filtração glomerular (TFG), enquanto há queda progressiva naqueles indivíduos mantidos em dieta normoprotéica. A hiperfiltração, implicada na gênese da esclerose glomerular, pode ocorrer em pacientes diabéticos sem ND clínica. Considerando que a ingestão protéica pode elevar a TFG, justifica-se a restrição de proteínas na dieta destes indivíduos. A comparação de dietas com diferentes conteúdos protéicos sugeriu que a normoprotéica às custas exclusivamente de carne de frango e peixe se associa a benefícios comparáveis aos da dieta hipoprotéica, reduzindo a TFG dos indivíduos hiperfiltrantes. A medida mais eficaz no tratamento da ND é o controle da PA. A terapia anti-hipertensiva reduz a queda da TFG e a albuminúria. Questionou-se benefício adicional de certos agentes e comprovou-se que os inibidores da ECA têm vantagens sobre os demais, particularmente no diabetes tipo 1. Pacientes diabéticos tipo 1 macroproteinúricos em fase inicial de IRC que receberam esquema anti-hipertensivo incluindo captopril menos freqüentemente evoluíram para morte ou diálise, quando comparados àqueles em uso de outros agentes. Também em fase mais precoce de ND (microalbuminúria), mesmo sem hipertensão, há benefícios dos inibidores da ECA. Metanálise comparando os efeitos de agentes anti-hipertensivos mostrou que para mesma redução da PA os inibidores da ECA se associam a maiores quedas na proteinúria e menores quedas na TFG. Os resultados no diabetes tipo 2 são menos consistentes. Apesar dos benefícios sugeridos em um estudo, dados do subestudo de Hipertensão do UKPDS não comprovaram tal sugestão. Este último mostrou que indivíduos sob controle mais rigoroso da PA tiveram menos eventos micro e macrovasculares, mas comparando-se os 2 agentes, captopril e atenolol, ambos foram eficazes em controlar a PA e minimizar complicações, não se detectando diferenças entre eles. Prof. Dr. Alberto José Santos Ramos Professor do Departamento de Medicina Interna da Universidade Federal da Paraíba Rua Sandra Borbirema, 61 58102-375 Campina Grande PB Tel: (83) 3415577 Fax: (83) 3415738 E-mail: [email protected] Dermopatias no diabético Cerca de 30% das pessoas portadoras de diabetes desenvolvem alterações cutâneas relacionadas com esta patologia. A pele íntegra é extremamente importante na manutenção da saúde. Pessoas com diabetes, principalmente se mal controladas e com complicações apresentam falhas nesta barreira. Algumas dermatopatias que vamos apresentar são específicas dos diabéticos mas, a maioria delas são observadas também em não diabéticos. Nos diabéticos po- Diabetes Clínica 03 (1999) continuação 213 rém são mais prevalentes e mais severas. Vamos discutir o quadro clínico, patogênese, tratamento e as complicações das patologias abaixo relacionadas. É importante salientar o papel das alterações cutâneas favorecendo infecções e seu papel nas amputações, principalmente de membros inferiores. MANIFESTAÇÕES CUTÂNEAS DO DIABETES Infecções cutâneas 1. Candidíase 2. Dermatofitoses 3. Ficomicoses 4. Eritrasma 5. Infecções bacterianas 6. Otite externa maligna Lesões neurológicas 1. Articulação de Charcot 2. Desidrose 3. Úlceras neuropáticas Doenças metabólicas 1. Porfiria cutânea tardia 2. Pele amarela 3. Xantomatose 4. Hemocromatose 5. Lipodistrofia 6. Síndrome do glucagonoma Prof. Dr. Bernardo Léo Wajchenberg Professor-pesquisador de endocrinologia Serviço de Endocrinologia Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo Tel: (11) 211 9592 Fax: (11) 816 0040 Condições cutâneas fortemente relacionadas com diabetes 1. Dermopatia diabética 2. Bolha diabética 3. Rubeosis 4. Vitiligo 5. Acantosis nigricans 6. Prurido Desordens do colágeno 1. Necrobiose lipoídica 2. Granuloma anular 3. Escleredema diabético 4. Pele cérea Condições associadas ao tratamento 1. Relacionadas à insulina a. Alergia b. Lipodistrofia 2. Hipoglicemiantes orais a. Reações de hipersensibilidade b. Reações disulfiram-like Insulinoterapia Entre os novos desenvolvimentos para o tratamento do diabetes estão o uso de análogos da insulina, de ação ultra-rápida como a insulina Lispro e o aerosol de insulina, e aqueles de ação lenta, como a insulina-albumina e a glargina. Em relação à insulina inalada, insulina regular em pó, é absorvida a nível pulmonar, de absorção mais rápida do que a mesma administrada por via subcutânea. A insulina Lispro, quando comparada com a insulina regular, ambas por via subcutânea, tem um início de ação mais rápido, efeito hipoglicemiante com um pico mais precoce e duração menor. Nestas condições, a insulina Lispro exige uma insulina basal provida adequadamente (por exemplo: NPH nas 3 refeições principais e ao deitar). Assim, a Lispro melhora o perfil glicêmico nas 24 horas e a hemoglobina glicosilada, em comparação com a insulina regular, injetada 30 minutos antes das refeições, sem aumento de frequência de hipoglicemias, com 1 ou 2 doses de insulina NPH ou ultra-lenta. A insulina de ação lenta, glargina, é a que mais se aproxima da secreção de insulina basal pancreática, sem pico evidente e com efeito continuo por 24 horas, administrada uma vez nas 24 horas e com início de ação 1-2 horas após a sua injeção subcutânea, com significativa redução das hipoglicemias noturnas em comparação com a NPH dada do mesmo horário noturno. Indica-se a insulina no diabético adulto magro com deficiência absoluta de insulina e no obeso resistente à insulina com dificuldade de controle diabético metabólico e na falência secundária aos hipoglicemiantes orais, em associação a estes últimos, provendo insulina de ação intermediária ao deitar. 214 Diabetes Clínica 03 (1999) Profa Dra Ingeborg Christa Laun Profa Titular de Endocrinologia de Metabolismo e Profa. Titular de Clínica Propedêutica Médica do Curso de Medicina da Universidade Severino Sombra Vassouras – Rio de Janeiro Chefe do Setor de Endocrinologia e Metabolismo do Hospital dos Servidores do Estado – MS – RJ Av. N.S. Copacabana, 978, sala 501 220600 - Rio de Janeiro RJ Tel (21) 521 9762 e (21) 295-7612 E-mail: [email protected], [email protected] Da concepção ao parto Prof. Dr. Edgar Niclewicz d’Ávila R. Manoel Eufrásio, 983 80540-010 Curitiba PR Tel: (41) 352 4930 [email protected] Diabetes e infecções Antes do advento da insulina, uma ocorrência eventual de diabetes gestacional representava risco de vida para mãe e filho. Os conhecimentos atuais sobre controle metabólico não só permitem que a diabética chegue à idade adulta sem, ou com mínimas, complicações micro e macrovasculares, tenha um estreito controle metabólico periconcepcional, evitando, assim, as malformações congênitas – hoje a principal causa de morte fetal em centros especializados – e, acompanhada pela equipe multidisciplinar, uma gestação tranqüila e filhos sadios. Gravidez programada e cuidadoso controle metabólico são as palavras de ordem. A elevada prevalência de diabetes gestacional faz com que, nos dias de hoje, a gestação diabética represente uma das principais causa de “gestação de risco”, exigindo atenção da equipe de saúde para os fatores de risco e o rastreamento desta situação. Rastreamento universal ? Rastreamento das portadores de fatores de risco ? De uma forma, ou de outra, é preciso rastrear. Como tratar as complicações pré-existentes durante a gravidez ? Como prevenir e tratar complicações inerentes à gravidez, mais freqüentes na diabética ? Como obter o controle metabólico nos diversos períodos da gestação ? Como tratar o diabetes gestacional ? Qual a importância da determinação de marcadores imunológicos no diabetes gestacional ? Como e quando deve ocorrer o parto e quais os paramêtros obstétricos mais importantes para decidir o momento ideal do mesmo ? Quais os cuidados com o recém-nascido ? Como cuidar de mãe e filho no periparto e no puerpério ? Quais os métodos anticoncepcionais mais indicados ? Seguramente os especialistas participantes do Simpósio, pela sua vivência e por suas pesquisas clínicas, responderão a todos estes questionamentos. É hoje aceito que pacientes diabéticos, principalmente mau controlados, são mais propensos a desenvolverem infecções, o que se constituiu em um fator precipitante de cetoacidose e coma hiperosmolar, além do risco de vida se tornar muito maior. Vários defeitos celulares e humorais são responsabilizados por esta maior prevalência. Assim, alterações da leucotaxia, fagocitose e “killing”, diminuição da atividade linfocitica além do aumento do conteúdo de glicose, alterações vasculares, neurológicas e manipulações urológicas, contribuem neste processo. Alguns dados epidemiológicos devem ser aqui lembrados: - 25% dos óbitos em cetoacidose diabética se devem a infecções. - A despeito do tratamento clínico cirúrgico adequado, o índice de mortalidade é alto. - Infecções mistas, com germens aeróbicos e anaeróbicos são comuns em diabéticos. Entre as infecções que mais comumente afetam a população diabética estão: infecções do trato urinário, tuberculose, otite externa maligna, mucormicose rinocerebral, pneumonias, infecções dos tecidos moles, infecções dos pés e outras tantas. No Congresso do Diabetes estaremos discutindo exaustivamente formas de prevenção e tratamento adequado desta situação peculiar entre os diabéticos. Diabetes Clínica 03 (1999) Dr. Domingos A. Malerbi Médico diabetologista Doutor em Endocrinologia Fac. Medicina da USP Rua Dr. João Clímaco Pereira, 82 04532-070 São Paulo SP Tel: (11)820-6240, Fax (11)829-7918 O pé diabético Dra. Geísa Macedo Rua Santo Elias, 64 / 1702 52020-090 Recife PE [email protected] Hipoglicemia em diabetes 215 As lesões dos pés em pacientes diabéticos constituem-se em entidades das mais importantes, dentro do universo das complicações crônicas do diabetes. Por um lado, porque trata-se de assunto complexo, onde ocorre a interação de vários mecanismos patogênicos, que envolvem a neuropatia – com suas consequências micro-circulatórias, somáticas e autonômicas – a macro-angiopatia, as alterações da glicação dos tecidos, as alterações biomecânicas, etc. Por outro lado, porque, apesar de sua complexidade científica, representam o exemplo mais incisivo de como se pode prevenir em diabetes através do emprego de recursos simples aliados à boa educação do paciente. Por último, porque, infelizmente, concretizam dia após dia ante os profissionais que lidam com pacientes diabéticos os resultados devastadores – tanto para o doente quanto para a “economia da saúde” – da falta de prevenção e educação. Hipoglicemia pode ser definida como qualquer nível de glicose abaixo de 50mg/dl. Esta definição não satisfaz, porque nos diabéticos tipo 1, vários episódios de hipoglicemia sem sintomas acontecem com glicemia abaixo de 50mg/dl, particularmente durante o sono, e também porque alguns pacientes apresentam convulsões ou sintomas neurológicos severos, com glicemias acima de 50mg/dl. É interessante utilizar uma classificação clínica da hipoglicemia: 1) assintomática, ou hipoglicemia bioquímica (necessita medir a glicemia). 2) Leve a moderada: há sintomas mas o paciente pode se auto tratar. 3) Severa: sinais e sintomas graves como afasia, convulsões e coma, e o paciente necessita de assistência de terceiros. É a percepção dos sintomas neurogênicos, especificamente os colinérgicos, que dão o “aviso” da hipoglicemia (sudorese, fome e parestesias). Eles usualmente precedem os sintomas neuroglicopenicos (fraqueza, dificuldade de se concentrar, mudança de comportamento, amnésia, visão turva, cefaléia). A hipoglicemia assintomática é frequente, particularmente à noite. A hipoglicemia noturna tem relação direta com a glicemia na hora de dormir (bedtime); se ela estiver menor que 108mg/dl, a probabilidade de hipoglicemia noturna é de 80% em media. O tratamento intensivo aumenta em 3 vezes o risco de hipoglicemia. As causas de hipoglicemia em diabéticos são: 1)excesso de insulina (dose, hora de aplicação, tipo inadequado). 2) deficiência na ingestão ou absorção de alimentos. 3)exercícios. 4) uso de bebidas alcoólicas. 5) interação de drogas. 6) insuficiência renal. Os mecanismos de contrarregulação de hipoglicemia são feitos inicialmente pelo glucagon seguido pela epinefrina, cortisol e GH. O controle intensivo da glicemia, hipoglicemias freqüentes e diabetes de longa duração, podem diminuir ou abolir os sintomas de aviso de hipoglicemia. Fatores de risco para hipoglicemia são: a) episódio anterior de hipoglicemia. b) mecanismo de contrarregulação comprometido. c) irregularidade na alimentação. d) Perda de peso. e) ausência de resíduo de peptídeo C. f) HBA1C< 8%. g) tratamento intensivo com insulina h) doses altas de insulina. i) uso de b-bloqueador. j) diabetes de longa duração. k) uso de inibidores da ECA. Sendo de tratamento simples, a hipoglicemia é um fator limitante no bom controle do diabetes, tornando-se um desafio conseguir adequar os níveis de HBA1C sem aumentar o número de hipoglicemias. 216 Diabetes Clínica 03 (1999) Anita Guiomar Franco Teixeira Profa Adjunta (aposentada) de Endocrinologia da UFBa Psicoterapeuta em Psicologia Humanista e Transpessoal fundadora da SBEM-Regional BA/SE Tel: (71) 334 6880 Implementando contratos de parceria Profa Dra. Denise Giacomo da Motta Curso de Nutrição Universidade Metodista de Piracicaba UNIMEP Piracicaba, SP Rua Prudente de Moraes, 1341, ap 32. 13400-301, Piracicaba, SP Tel/Fax: (19) 434-0903 E-mail: [email protected] Adesão ao tratamento de mulheres com diabetes tipo 2: Fatores que a predispõem, possibilitam e reforçam Todo contrato de parceria oferece um aprendizado de mão dupla, o profissional tanto ensina quanto aprende com o paciente. E quando estamos em sintonia com ele, o que é ensinado, é exatamente o que precisamos reaprender. Se exercitamos o desabrochar da responsabilidade em nosso paciente, precisamos já sermos tão responsáveis quanto queremos que ele seja. E o que é preciso desaprender ? Que o paciente é um diabético. Todo paciente portador de uma doença crônica e incurável apresenta medo, tédio, tristeza e/ou depressão. Ele precisa ser tratado nas cinco áreas de saúde: física, emocional, mental, profissional-financeira e espiritual. De início, pergunto-lhe sobre sua religiosidade. Comungo os ensinamentos de Jung que escreveu: “Todos aqueles meus pacientes que se diziam de pouca crença ou mesmo ateus, ao se curaram, voltaram a ter religiosidade”. (Ele chamou a atenção de que estava referindo-se à religiosidade e não ao pertencer a esta ou aquela igreja). Esta abordagem nos facilitará falar sobre o significado de cura e bem estar, da situação profissional, de seu trabalho e de sua situação financeira atual. Procuramos conhecer seus pensamentos e sentimentos sobre a doença e o adoecer, e de como se sentiu ao ouvir “que tinha diabetes” ou que “era diabético”. E, como são seus relacionamentos ? Consigo mesmo, com familiares, em casa, no trabalho, com amigos ? Como se percebe entre pessoas saudáveis ? E quando está com alguém com diabetes ? Aprender e reaprendrer a ser entusiasta, a celebrar a vida e o viver, a ter relacionamentos eficazes, a desenvolver projetos com metas alcançáveis e a sair de situações estressantes, de preocupações e problemas, são pontos primordiais e comuns tanto do médico quanto da pessoa, seu paciente. Ensinando e aprendendo a mudar de hábito e de atitude, o médico se percebe em uma constante auto-avaliação. Como cobrar do paciente aquilo que não praticamos ? Como sugerir exercícios, esporte, movimento e dança, lazer, viagens, ter um hoby, quando somos workalcoholic e trabalhadoressedentários ? O contrato de parceria deve ser efetuado com paciente adulto e economicamente independente. O contrato é baseado na confiança e responsabilidade mútuas; só assim poderemos orientar e educar o paciente, para que se torne co-participante de seu tratamento e de nossos conceitos de cura. Mudanças de hábitos e de atitude decorrem desta parceria e facilitam atingirmos a meta de ‘um bom controle do diabetes’. Pois, ao sentir-se considerado como pessoa, a chamado ‘paciente’ responde às prescrições com responsabilidade. O homem não se esgota em si mesmo...Sempre há a perspectiva de vislumbrar novos horizontes. Ao olharmos a pessoa com diabetes, podemos enxergar apenas a doença, ou então a pessoa total, com seus sentimentos, seus comportamentos e suas condições de vida. O modelo PRECEDE, proposto por Green & Kreuter (1991) contempla essa visão holística. Aplicando esse modelo em pesquisa qualitativa para direcionar programa de educação nutricional a mulheres com diabetes tipo 2, identificamos como fatores que predispõem positivamente à Diabetes Clínica 03 (1999) 217 adesão ao tratamento a atitude de busca de orientação, o desejo de melhorar e alguns conhecimentos já existentes. Dentre os fatores que predispõem negativamente à adesão, identificamos a falta de conhecimentos sobre os determinantes biopsicossociais da doença, a falta de apoio emocional para lidar com as reações de ansiedade, negação, depressão e medo, as orientações médicas inadequadas, restritivas e opressivas sobre alimentação, a renúncia ao prazer. Como fatores que limitam a possibilidade de adesão, identificamos as dificuldades financeiras, a baixa escolaridade, as responsabilidades domésticas e as condições físicas das mulheres do estudo. Finalmente, dentre os fatores que reforçam a adesão, identificamos o apoio familiar e social, a experiência de acolhimento e vínculo com o serviço, o estímulo à autoestima e à autonomia. Problemas familiares e sociais geradores de alto grau de tensão foram os limitantes mais observados. Os fatores positivos observados foram objeto de reforço. Os negativos, de ação transformadora (quando possível). Concluímos que o modelo PRECEDE pode contribuir para o planejamento de ações educativas que correspondam com eficácia às necessidades da clientela, dentro de uma abordagem biopsicossocial. Sementes de flax no tratamento do diabetes Michael L. Bennett, Pharm.D. Optimal Research, 2420 Grand Ave, Suite D1 Vista, CA 92083 EUA Tel: (760)597-0428, fax: (760)597-0430 email: [email protected] Para confirmar vários estudos já efetuados sobre os efeitos positivos do Flax em diabéticos, Michael Bennett estudou o efeito das sementes de Flax (Heintzman Farms, South Dakota) em um grupo de 14 diabéticos. Os pacientes foram instruídos a ingerir todos os dias cinco colheres de semente de Flax moída, durante 90 dias. A dose diária foi repartida de modo a ser consumida com água ou suco de frutas antes as refeições. A idade dos pacientes era 26-80 anos e todos foram instruídos continuar com os remédios habituais bem como suas respectivas dietas. Amostras de sangue foram colhidas no início e após 90 dias para análise. O teste principal foi o da hemoglobina glicosilada (HbA1c), que reflete os níveis da glicose em um período de 30-60 dias. Este teste avalia a quantidade de hemoglobina ligada ao açúcar do sangue. A reação é irreversível e depende da taxa da glicemia. Desde sua descoberta, o teste HbA1c tornou-se um teste básico para o controle glicêmico e é usado no mundo inteiro. O resultado desse estudo mostrou uma surpreendente redução media de 15% dos níveis de HbA1c. Vários fármacos hoje disponíveis não têm tanto efeito: alguns medicamentos promovidos para tratar o diabetes tipo 2 podem diminuir HbA1c em 1,5% e têm efeitos tóxicos no fígado. O uso do Flax pode ser preferido porque ele não é associado a problemas de fígado. Os testes mostraram também um aumento de 25% da Apolipoproteina A1, diminuição de 9% do fibrinogênio, diminuição de 10% do colesterol total, e 13% do colesterol LDL. O uso das sementes de Flax diminui significativamente os fatores de risco cardiovascular encontrados comumente em pacientes diabéticos. A semente de Flax contém vários componentes nutricionais e é recomendada para os pacientes diabéticos e cardiopatas. 218 Daniel Benchimol Endocrinologista, Centro Integrado de Diabetes do Rio de Janeiro Rua Francisco Sá, 23/807 -22080-010 Rio de Janeiro RJ Tel/fax: (21) 521-5021 E-mail: [email protected] Diabetes Clínica 03 (1999) O DCCT e a criança: possível? Tendo em vista as importantes repercussões do DCCT na abordagem do diabetes tipo 1, fica o questionamento sobre as diferenças possíveis do controle estrito (CE) na infância, visto que neste estudo não foram incluídas crianças. Destacam-se dois aspectos fundamentais na infância que seriam: 1) o difícil manejo numa faixa etária com menos maturidade para a adoção das medidas de auto controle; 2) as conseqüências neurológicas, uma vez que na infância existe uma maior suscetibilidade à injúria cerebral. O CE, a despeito da diminuição das complicações microangiopáticas, aumenta substancialmente a freqüência de comas hipoglicêmicos. Apesar dos dados documentados no DCCT de que isto não acarretaria em danos da função cognitiva, publicações mais recentes têm demonstrado o contrário. O conceito de que a faixa etária pré-puberal estaria protegida das complicações crônicas do DM tem sido colocado em dúvida; também parece não haver proteção contra as conseqüências da hiperglicemia a longo prazo nesta época da vida. Ou seja, o CE na infância, que deveria ter a sua máxima indicação por lidar com o grupo de maior expectativa de vida, teria os senões da difícil implantação e risco de lesão cerebral. Entretanto, novas tecnologias têm tornado o controle metabólico mais seguro, abrindo uma perspectiva de que os benefícios amplamente reconhecidos não sejam postos em risco. Alguns estudos utilizando programas intensificados de educação, insulinas com uma farmacocinética mais apropriada e o auxílio da micro eletrônica já têm demonstrado uma modificação no risco de hipoglicemia, a despeito da manutenção do grau de controle metabólico. Finalizando, ao observar o nível insatisfatório de controle glicêmico em grupos não selecionados de diabéticos tipo 1, concluimos que há muito o que avançar na direção segura do controle estrito na infância. Diabetes Clínica 03 (1999) Prof. Dr. Procopio do Valle Fundador e 1o Presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes (1970) Ex-Professor Titular de Endocrinologia da UFF E-mail: [email protected] 219 A informática: Novos horizontes ! Os computadores nos permitiram olhar o mundo como um incrível microscópio. Com ele vamos além das moléculas, dos átomos e das partículas. Enxergamos os números e as letras que formam tudo o que existe A existência sempre se reduz, em essência, à informação. Os modems e a Internet devem ser vistos mais como janelas do que telas. Os micros vistos como “janelas” ocorreram muito cedo. A Internet veio mais tarde, desenvolvendo-se a partir dos navegadores como o Netscape e o Explorer. A evolução criou a transferência do antigo texto (escrito em Word 2.0) para programas mais atuais, preservados pela reprodução e assim se transfere e transforma. A tela permite que o texto permaneça vivo, anos depois de ter sido escrito. A informática abriu numerosas portas para o estudo individual e coletivo. E é neste particular que desejamos fazer ênfase. Além de permitir o contato com as maiores bibliotecas do mundo, obter cópias escritas ou fotografias, facilitou os trabalhos em grupos feitos por pessoas reunidas pela Internet como se estivessem juntas numa sala. Em breve, a imagem acoplada ao navegador vai colocar estudiosos em lugares os mais diversos do globo num diálogo “vis-a-vis”, de extrema utilidade. Banda larga traz novo conteúdo para a Web. Mais rico em imagens e interativo, ele combina recursos da TV e a Internet em alta velocidade. O acesso à Internet em Banda Larga oferecida por serviços como o Ajato da TVA e o Virtua - em teste pela Globo Cabo - abre as portas da Web para um novo tipo de conteúdo, mais rico em imagens, som e, também, mais interativo. É possível, por exemplo, receber streaming (transmissão direta em tempo real) de filmes e programas de TV, com qualidade digital, participar ou fazer cursos à distância. Pode-se destacar a importância destas conquistas em projetos em grupos ou nos Congressos. A TV e a Internet vão se cruzar e criar uma nova mídia. A intenção da TV On Line é oferecer opções tanto para usuários da Banda Larga, em velocidades alta e altíssima, como estreita. No Brasil cresce o emprego da Internet como meio de comunicação científica ou educacional. A título de ilustração vamos citar três Home Pages de bom nível: • Dr. Walmir Ferreira Coutinho: Obesidade http://www.emagrecimento.com.br • Lieselote Ornellas, Zila Franco, Procopio do Valle: A Dieta do Diabético Dietas Coloridas http://sites.uol.com.br/diabetes_alimen/ • Procopio do Valle: Retinopatia diabética http://sites.uol.com.br/jprvlota Diabetes Clínica Diabetes Clínica 03 (1999) 220–222 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas Diabetes e infecções Vicente Amato Neto* Palestra proferida no 4o Congresso Brasileiro Multiprofissional em Diabetes, ANAD, Junho de 1999, São Paulo É indiscutível a maior suscetibilidade de diabéticos a infecções e cogitações de várias ordens procuram explicar essa condição. Sejam quais foram as causas, em tais pacientes o risco de surgirem comprometimentos infecciosos afigura-se, sem dúvida, digno de especial atenção, convindo destacar que o perigo aumento quando há descompensação. No decurso do diabetes ocorre diminuição da quimiotaxia e da fagocitose a cargo dos neutrófilos. Sucede também redução da imunidade celular, relacionada com linfócitos T e dependente da atividade de linfócitos e macrófagos. Os neutrófilos não atuam como nos indivíduos normais e, ainda mais, participam de forma pior se existe descompensação. Quanta à função dos macrófagos, têm lugar diversas opiniões, mas patógenos de longa persistência intracelular, considerando o que passa nesses componentes do sistema imunitário, acometem não excepcionalmente diabéticos e o Mycobacterium tuberculosis, causador da tuberculose, é exemplo disso. A vasculatura sofre alterações, advindo obstruções arteriais, inclusive de pequenos ramos. Podem, então, aparecer úlceras na pele, nas quais tornam-se viáveis contaminações e infeccões. Neuropatia por vezes faz parte do diabetes de longa duração, dele derivando problemas de diferente ordens, *Professor-Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Clínica de Imunizações Vicente Amato Neto, Alameda Monteiro da Silva, 429, São Paulo, tel.: 11 881 81 44, fax: 11 881 81 58. ilustrados por prejuízo a propósito do esvaziamento da bexiga com conseqüente infecção no trato urinário e, também, por diarréia crônica de difícil controle ou vômitos aptos a promover pneumonias aspirativas, decorrentes de anormalidade na motilidade do aparelho digestivo. Outro detalhe tem nexo com as injeções de insulina, eventualmente realizadas sem prévia e adequada limpeza da pele. Torna-se possível, portanto, instalação de infecção no local e, a partir dela, desencadeamento de lesões a distância. Infecção e descompensação andam juntas, exercendo prejuízos recíprocos. É necessário enfrentá-las bem e paralelamente. Na vigência de acometimento infeccioso grave conduta correta corresponde a trocar, por insulina, medicamento usado pela via oral, com retorno cuidadoso quando melhoras reveladas clínica e laboratorialmente surgirem, a fim de evitar hipoglicemia. No contexto do binômio diabetes-infecção são conhecidas muitas situações valendo a pena rememorar pelo menos algumas das mais comentadas. Infecção no trato urinário É mais comum em diabéticos do que nos indivíduos que não têm essa doença. Um tipo específico merece referência: refiro-me à cistite efisematosa, motivada por germes que produzem gás e praticamente só diagnosticada nos que sofrem de diabetes. Outrossim, constitui apanágio de diabetes uma forma grave de pielonefrite aguda, denominada necrose de papila. Infecção nesse setor coaduna-se com tratamento mais difícil através do emprego de antimicrobianos e descompensação cria obstáculo ainda maior. V. Amato Neto / Diabetes Clínica 03 (1999) 220–222 Infecção pulmonar Tuberculose e pneumonias bacterianas destacam-se e, mais uma vez, lembro a influência de descompensação. Pneumonia por Legionella é igualmente expressiva no que tange ao diabetes, se risco for levado em conta. Septicemia Freqüentemente começa em foco cutâneo e estafilococo participa como o principal agente causal. Fibrose cística A associação com diabetes, em adultos, não e incomum e chega a atingir a porcentagem de 15%. Vinculase às progressivas obturação e perda da função pancreática presentes na maioria dos enfermos com a cotada fibrose, sendo que a união das duas patologias dificulta suplementarmente a defesa contra infecções. Fasciíte necrosante Corresponde a intenso, além de incomum, dano infeccioso pertinente a tecidos moles subcutâneos, situado particularmente nas fascias superficial e profunda. Em geral manifesta-se agudamente e pode afetar qualquer parte do corpo, se bem que atinge mormente as extremidades, participando as pernas como sítios proeminentes. Outras aéreas preferidas são a parede abdominal, as partes perianais ou inguinais e feridas originadas de intervenções cirúrgicas. O início conecta-se com traumatismos, exemplificadas por laceração, abrasão, queimadura e picada de inseto, como ainda com laparotomia efetuada em função de ferimento penetrante abdominal ou viscera perfurada. Influem outrossim outros procedimentos cirúrgicos (hemorroidectomia, vasectomia), havendo além disso relação com abscesso perianal, úlcera de decúbito e perfuração intestinal, gerada por diverticulite, neoplasia em retossigmóide ou corpo estranho, representado eventualmente por osso de ave. Streptococcus sp., enterobactérias e microorganismos anaeróbios compõem flora polimicrobiana que habitualmente é responsável por essa grave infecção. Gangrena de Fournier Trata-se de modalidade de fasciíte necrosante, localizada em genitais masculinos. Escherichia coli, bactéria do gênero Klebsiella, enterococos e germes anaeróbios que estão entre Bacteroides, Clostridium, Fusobacterium e Streptococcus figuram como agentes etiológicos. Celulite necrosante sinérgica Tem também nexo com a fasciíte necrosante na qual há proeminente envolvimento de pele, subcutâneo, músculo e 221 fascia. Situação rotulada como gangrena de Fournier, com extensão para a parede abdominal, correspondem à celulite mencionada. Extremidades inferiores ou regiões próximas ao períneo são os territórios mais comumente lesados. É indispensável frisar que o diabetes figura como destacado fator predisponente. No determinismo sob o ponto de vista infeccioso atua associação de bactérias. Entre elas cito anaeróbias, como Bacteroides e Streptococcus, além de outras facultativas, dos gêneros Enterobacter, Escherichia, Klebsiella ou Proteus. O tratamento requer, paralelamente ao emprego de antimicrobianos, de maneira idêntica à adotada para tentar debelar a fasciíte necrosante, drenagem cirúrgica, debridamento radical e até amputação. Artrite bacteriana O diabetes é condição facilitadora, em adultos, desse acometimento séptico. São causadores apenas para referir os mais implicados: Staphylococcus aureus, 70%; Streptococcus sp., 17%; bacilos Gram-negativos, 8%. Candidiase Diabetes gera propensão, sendo de vários tipos a micose: vaginite, bálano-postite e forma crônica mucocutânea, entre outras. Mulheres diabéticas têm expressiva propensão a corrimento genital por Candida e a doença endócrina em questão favorece muito o surgimento de candidiase, da mesma maneira que a antibioticoterapia de largo espectro, a imunodepressão, o uso de glicocorticóide e o relacionamento sexual oral. Candidiase de repetição, antes da menarca ou depois da menopausa, devem levar à cogitação do diagnóstico de diabetes, desde que não esteja em curso utilização de estrogênios exógenos. Mucormicose A participação do diabetes no desencadeamento dessa afecção, sobretudo quando rinocerebral, é ponderável e a cetoacidose representa circunstância colaborativa. Criptococose Indícios levam a supor que diabetes facilita a instalação dessa enfermidade; não obstante, a relação não parece endossável sem restrições. Infecção crônica do pé Início é cabível depois de traumatismo, mesmo mínimo. Manipulação atinente a unha encravada, esporão e calosidade também possibilita desencadeamento. Distúrbios de graus variados instalados no pé atormentam comumente diabéticos e agregam anormalida- 222 V. Amato Neto / Diabetes Clínica 03 (1999) 220–222 des de múltiplos tipos. À insuficiência vascular arterial e à neuropatia periférica somam-se linfangite, celulite, úlceras, gangrena e osteomielite, só para citar alguns dos processos perceptíveis. A infecção habitualmente tem como componentes vários microorganismos associados, aeróbios e anaeróbios. Bacteroides fragilis, outros Bacteroides, enterobactérias, Peptostrepcococcus, Staphylococcus aureus, Streptococcus do grupo B e fungos constituem exemplos. Do local, em certas oportunidades tem origem processo infeccioso generalizado. Para estabelecer o diagnóstico etiológico convirá cultivar tecido retirado profundamente. Exame bacterioscópico pelo método de Gram e cultivo de material con- seguido por curetagem de base de úlcera ou de secreção purulenta são alternativas. Os resultados servirão para delinear bom tratamento, estipulado sensatamente, com antimicrobianos coerentes com conhecimento de que atuam geralmente germes congregados, enquanto informes laboratoriais não estão disponíveis ou, então, se não puderam ser providenciados. O conjunto de agressões que em certos doentes situam-se no pé só deixa a amputação como alternativa e essa medida, adotada em virtude da impossibilidade de confiar na utilidade de outros recursos, não raramente é motivo de grande decepção. Benefícios preventivos são proporcionáveis por imunizações, conforme explicitado no quadro abaixo. Vacinas recomendáveis para diabéticos Em muitas doenças crônicas, como por exemplo no diabetes, pode estar presente deficiência de imunidade. As alterações imunológicas por vezes comportem a resposta às vacinas e imunoglobulinas. Entretanto, elas também favorecem a aquisição de enfermidades graves. Dessa maneira, é preciso avaliar os riscos e benefícios das imunizações ativa et passiva em tais pessoas. Salientamos que os imunógenos atualmente disponíveis não são contra-indicados quando pacientes encontram-se acometidos de diabetes. As vacinas contra tétano e difteria, usadas rotineiramente na população adulta, devem ter seus usos rigorosamente atualizados nos diabéticos, uma vez que ferimentos, sobretudo nas extremidades, decorrentes de comprometimento vascular ou de neuropatia, são freqüentes, podendo servir de porta de entrada para o bacilo causador do tétano. Por outro lado, as vacinas que previnem doença motivada por pneumococo ou a gripe, não usadas costumeiramente por todos os adultos, podem ser recomendadas para os que sofrem de diabetes. Isto porque eles têm freqüência maior de infecção por pneumococo e o processo infeccioso, por seu turno, é apto a promover a indesejável descompensação do diabetes. Desta maneira, torna-se necessária não só a vacina referente à doença devido ao pneumococo, mas igualmente a contra a gripe, já que o quadro gripal facilita a instalação de processos bacterianos respiratórios. Outra vacina que deve ser considerada quanto aos adultos é a preventiva da hepatite B, atualmente com indicação de uso universal. Habitualmente são administradas três doses, por via intramuscular, na região do músculo deltóide. Afigura-se conveniente que diabéticos vacinados com este imunizante sejam submetidos a exame sorológico para determinação quantitativa de anticorpos referentes ao antígeno de superfície do vírus B (anti-HBs). Esta medida proporciona maior segurança em relação à eficácia da vacinação, porquanto identifica os níveis de anticorpos protetores e àqueles com quantidades inadequadas convirá aplicar uma quarta dose. Além destas vacinas costumeiramente consideradas para os adultos, lembramos que todos eles, e os diabéticos em particular, que não tiveram a doença na infância ou não foram previamente vacinados, deverão ter seus esquemas vacinais atualizados a propósito do sarampo, da caxumba, da rubéola, da varicela e da hepatite A. Quanto às crianças diabéticas é imperioso cumprir o esquema rotineiro obri- gatoriamente adotado e que, na atualidade, em nosso meio, compreende as vacinas capazes de prevenir as seguintes moléstias: tuberculose (BCG), hepatite B, difteria, coqueluche, tétano, poliomielite, infecção por Haemophilus influenzae tipo b, sarampo, caxumba e rubéola. Além destas, é recomendável, para crianças diabéticas, a partir dos dois anos de idade, vacinar contra doença atribuída ao pneumococo. Embora não estejam incluidas no calendário usualmente proposto, as vacinas concernentes à varicela e à hepatite A igualmente requerem cogitação ao serem consideradas estas crianças. A vacinação clássica concernente à difteria, à coqueluche e ao tétano, com a tradicional DTP, entre as demais hoje usadas é responsável por razoável quantidade de efeitos adversos, em geral motivados por constituintes pertusis. Presentemente, porém, podem ser utilizadas vacinas acelulares, nas quais estão componentes antigênicos da Bordetella pertusis e não o bacilo inteiro. Com o emprego delas sucedem mais raramente manifestações colaterais indesejáveis, fazendo que, por medida de segurança, mereçam preferência. (Orientação elaborada por Marta Helisa Lopes e Vicente Amato Neto) Diabetes Clínica Diabetes Clínica 03 (1999) 223–231 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas Transplante simultâneo de pâncreas e rim: resultados preliminares em 7 casos Fadlo Fraige Filho, Ana Tereza Santomauro, Joaquim Gama-Rodrigues, Paulo Engler P. Junior, Ricardo A. Faduhl, Dan L. Waitzberg, Maria de Lourdes T. da Silva, Pedro L. Bertevello, Manuela Sapucahy, Armando C. Radesca, Ademir Abrão, Ivaldo Ney B. Paes, Ana Paula Pantoja, Ana Claúdia Elias, Anita Leme da Rocha* 1. Introdução Há evidências de que o controle rigoroso dos níveis glicêmicos influenciem favoravelmente as progressões da nefropatia diabética, retinopatia e polineuropatia. O tratamento com insulina exógena, por mais meticuloso que seja, não consegue atingir o estado euglicêmico [1, 17, 23, 50]. O Transplante de Pâncreas (TxP) sendo, até o presente momento, o único tratamento que possibilita atingir esta meta, oferece maiores possibilidades de controlar as complicações secundárias e melhorar sensivelmente a qualidade de vida do paciente diabético insulino-dependente. Desde 1966, mais de 12000 transplantes de pâncreas estão referidos na literatura (1997). Os índices de sobrevida do enxerto após 5 anos atingem 80% [42]. No Brasil, Pinotti et al. (1969) publicaram diversos experimentos clínicos em cães e Teixeira (1969) o primeiro Transplante de pâncreas clínico no mesmo ano. Duro Garcia et al. realizaram 9 TxP, sendo 8 simultâneos e 1 isolado, a partir de 1987. Finalmente Gama Rodrigues et al., em 1996, iniciaram um novo programa, objeto deste trabalho. Nos últimos trinta e três anos ocorreram notáveis avanços relacionados ao controle da rejeição, melhoria da técnica operatória e cuidados pós-operatórios envolvendo a profilaxia de infecções por bactérias, vírus e fungos. No contexto do transplante pancreático, foi marcante o impacto do esquema quádruplo de imunossupressão seqüencial com anticorpos linfocíticos, esteróides, azatioprina, ciclosporina neoral, além de outras drogas como o micofenolato-mofetil e tacrolimus [11, 43]. A baixa oferta de órgãos de cadáver em todo o mundo priorizava o transplante de órgãos essenciais para a vida. Neste aspecto, a retirada do fígado inviabilizava a utilização do pâncreas devido à particularidade de seu pedículo arterial. Esta questão foi resolvida com a interposição de enxerto vascular, em geral a artéria ilíaca do doador, que transforma a artéria mesentérica superior e a artéria esplênica em tronco arterial único e mais calibroso, o que facilita a anastomose com os vasos ilíacos * Os autores agradecem à Diretoria da Real e Benemérita Sociedade de Beneficência Portuguesa de São Paulo - Hospital São Joaquim, particularmente ao seu presidente Dr. Antônio Ermírio de Moraes, ao diretor clínico João Carlos Salvestrim, ao Serviço de Anestesia SEMESP, ao corpo de enfermagem do Centro Cirúrgico e das unidades de internação, na pessoa da enfermeira chefe Sueli Ciosak, ao Laboratório de Análises Clínicas, chefiado pelo Dr. João Carlos Beringelli e à MED-IMAGEM, Drs. Carlos Costa, Frederico Mendes e Guilherme de Souza Mourão, cujo apoio mostrou-se imprescindível à viabilização do programa cujos primeiros resultados aparecem descritos neste trabalho. 224 F. Fraige Filho et al / Diabetes Clínica 03 (1999) 223-231 do receptor [8, 32, 53]. Pode-se também utilizar como alternativa o tronco bráquio-cefálico do doador para unificar os troncos arteriais [7]. A utilização de curto segmento de duodeno em monobloco com o pâncreas a ser transplantado em muito facilitou a drenagem da secreção exócrina do pâncreas. O duodeno do doador pode ser anastomosado à bexiga [33, 34, 43] ou à alça do intestino delgado [35, 46]. A indicação principal do transplante pancreático se faz simultaneamente com o transplante renal em diabéticos tipo 1, os dependentes de insulina, em fase de diálise ou pré-diálise, que apresentam variados graus de retinopatia ou neuropatia. Neste procedimento a imunossupressão necessária para o controle do transplante renal deve ser apenas intensificada para o pâncreas [11, 16, 34, 37]. A realização simultânea do transplante duplo aumenta a morbidade pós-operatória, porém pouco influi na mortalidade [37]. O benefício torna-se bastante evidente quando se verifica a tendência de estabilizar a retinopatia diabética [31] e melhorar as complicações decorrentes da neuropatia [1, 47, 51]. Além disso, o transplante duplo propicia melhor qualidade de vida devido ao controle fisiológico da glicemia, libertação da diálise e suspensão da restrição dietética do paciente diabético e urêmico [39]. O Transplante isolado de células pancreáticas (transplante de ilhotas), embora seja bastante promissor, alcançou independência da insulina em pequeno número de pacientes diabéticos, por períodos curtos, sob regime de imunossupressão [19]. O Transplante pancreático bem sucedido é o único tratamento capaz de levar o paciente diabético insulinodependente a um estado euglicêmico com normalização da hemoglobina glicosilada [37]. Todavia não é um procedimento essencial para a vida humana, portanto as indicações e seleção dos pacientes devem ser muito criteriosas [30]. O presente trabalho tem por objetivo apresentar os resultados preliminares dos sete primeiros pacientes submetidos ao Transplante Simultâneo Pâncreas-Rim (TxSPR) pela equipe destes autores. 2. Casuística e métodos No período de janeiro de 1996 a junho de 1999, seis pacientes portadores de Diabetes mellitus tipo 1 com insuficiência renal avançada foram submetidos ao Transplante Simultâneo Pâncreas-Rim (TxSPR), no Hospital São Joaquim da Real e Benemérita Sociedade de Beneficência Portuguesa de São Paulo. Fig. 1. Fotografia do Enxerto Pancreático ao término da Cirurgia de Mesa, pronto para o Implante do Enxerto Quatro eram do sexo feminino e três do sexo masculino. A idade média foi de 34,7 anos, variando de 21 a 47. O tempo médio de doença era de 21 anos (11 a 31). Quatro dos pacientes apresentavam insuficiência renal em fase pré-diálítica e três já se encontravam sob suporte dialítico. Todos eram portadores de algum grau de retinopatia e 4 apresentavam neuropatia autônoma e/ou periférica. Na avaliação laboratorial pré-operatória os pacientes com os seguintes valores médios: creatinina = 5,15mg% (2,3 a 9,1), glicemia = 201,42mg% (130 a 310) e clearance de creatinina = 16,82ml/min (0 a 39,8). O consumo médio de insulina no pré- Tx era de 29,28 unidades/dia (16 a 50). O tempo médio de evolução após o TxSPR destes 7 casos é de 16 meses,o primeiro já com 3 anos e 5 meses e o último, apenas com um mês,com mortalidade nula e sobrevida dos enxertos pancreático e renal de 100% e 85,71% respectivamente. Os doadores foram selecionados após a constatação de morte cerebral e doação dos órgãos pelos familiares. Amostras de linfonodos ingüinais dos doadores foram retiradas para realização do crossmatch pré-transplante sob tratamento com Ditiotreitol e soro anti-globulina. Os transplantes foram realizados dentro do mesmo grupo sangüíneo pelo sistema ABO/Rh e crossmatch negativo. Em todos os casos o pâncreas foi retirado em conjunto com os outros órgãos. Os doadores foram monitorados para manutenção de condições hemodinâmicas estáveis com a mínima quantidade de drogas vasopressoras, adequação da volemia e acidose metabólica, avaliação laboratorial completa das funções hepática, pancreática e renal e rigoroso rastreamento sorológico para F. Fraige Filho et al / Diabetes Clínica 03 (1999) 223–231 moléstias transmissíveis. A idade média foi de 30,28 anos (19 a 47). Não apresentavam passado de alcoolismo, pancreatite ou cirurgia abdominal prévia do abdome superior. 2.1 Extração do pâncreas e técnica cirúrgica de mesa Realizou-se laparotomia ampla do doador, seguida da inspecção da cavidade abdominal e do órgão. Após a dissecção e canulações para perfusão praticadas pela equipe responsável pela retirada do fígado, realizou-se a dissecção e reparo das artérias mesentérica superior e artéria esplênica. Tomou-se o cuidado de clampear a artéria mesentérica superior e a artéria esplênica após a perfusão pela aorta com 1 litro de solução UW (solução de preservação da Universidade de Winsconsin) a 4oC para evitar edema do órgão [8]. O pâncreas foi removido juntamente com o baço, no sentido da cauda para a cabeça em conjunto com o duodeno. Seccionou-se a veia porta a cerca de 1 cm da bifurcação espleno-mesentérica, após a ligadura da artéria gastro-duodenal e da artéria esplênica a 1 cm do tronco celíaco. A artéria mesentérica superior foi seccionada cranialmente ao nível da aorta, e o tronco artério-venoso mesentérico grampeado e seccionado ao nível da borda inferior do pâncreas. O duodeno foi seccionado com grampeador linear cortante (TLC-55) logo abaixo do piloro e ao nível do ângulo de Treitz, após descontaminação por infusão pela sonda naso-gástrica de solução contendo: Neomicina, Anfotericina e Iodopovidine. Após a retirada do órgão, este foi reperfundido com um litro de solução UW pelas artérias mesentérica superior e esplênica. Infundiu-se novamente a solução descon-taminante. Na cirurgia de mesa, preparou-se o órgão imerso em solução de preservação a 4oC. Realizou-se a retirada do baço, com múltiplas ligaduras de seu pedículo e a seguir removeu-se o excesso de tecido gorduroso praticando-se ligaduras ao redor de todo o pâncreas. Ressecou-se o excesso de duodeno, deixando-se apenas cerca de 6 a 8 cm de extensão. Nesta manobra o colédoco foi cateterizado, para se identificar a papila duodenal e evitar sua lesão; o colédoco foi ligado junto ao pâncreas. As extremidades do duodeno foram seccionadas e ocluídas com emprego de grampeador linear cortante, seguido de dupla sutura invaginante com fio monofilamentar inabsorvível 4-0. O local do grampeamento do pedículo da artéria e veia mesentérica superior foi reforçado com sutura contínua com o mesmo fio. O coto da veia porta foi dissecado, deixando-o preparado para anastomose com o vaso do receptor. Finalmente realizou-se 225 a interposição do enxerto vascular em Y entre a artéria mesentérica superior e a artéria esplênica transformando a irrigação arterial do pâncreas em tronco único. O órgão foi novamente colocado em solução de preservação gelada à 4oC, até o momento do implante (Fig. 1). Durante o ato cirúrgico os pacientes foram monitorizados hemodinamicamente com cateter central para aferição da pressão venosa central que foi mantida entre 12 e 15 mm Hg com infusão de cristalóides e Albumina Humana. Dopamina, Furosemide e Manitol foram utilizados sistematicamente para aumentar a perfusão renal e reduzir o edema dos dois órgãos após a reperfusão. A glicemia foi controlada em intervalos de 15 ou 30 minutos e a Insulina foi administrada por infusão contínua visando manter níveis glicêmicos entre 100 e 140 mg/dl. O tempo de isquemia do pâncreas transplantado (entre o clampeamento da aorta do doador e o início das anastomoses vasculares (isquemia fria) do pâncreas foi, em média, de 13,16 h (7 a 17,7) e, do rim, de 10,39 h (3,5 a 15,8). 2.2 Técnica cirúrgica da implantação do pâncreas e rim / Imunossupressão / Antimicrobianos Foi realizado acesso extra-peritoneal aos vasos ilíacos através de dupla incisão ingüinal bilateral. Implantou-se o rim na fossa ilíaca esquerda, realizando-se seqüencialmente as anastomoses da veia renal com fio monofilamentar inabsorvível 4-0, anastomose da artéria renal com o mesmo fio 5-0, e após a reperfusão do órgão, anastomose do ureter à bexiga, com fio absorvível 3-0, pela técnica de Politano. O pâncreas foi implantado na fossa ilíaca direita, utilizando-se o mesmo acesso anteriormente mencionado. Realizou-se inicialmente anastomose da veia porta à veia ilíaca do receptor e, a seguir, o tronco arterial, constituído pelo enxerto vascular em Y, à artéria ilíaca do receptor. Após a reperfusão do órgão e revisão da hemostasia, em 6 casos, efetuou-se derivação vesical da secreção exócrina pancreática utilizando-se o coto do duodeno do doador e a bexiga do receptor com sutura contínua em dois planos com fio absorvível 3-0 (Figura 2). O acesso à bexiga foi feito após abertura do peritôneo parietal e colocação do pâncreas dentro da cavidade peritoneal na fossa ilíaca direita. No outro caso (paciente nº 6) a drenagem foi entérica, realizando-se anastomose latero-lateral do duodeno do doador com o jejuno do receptor, também em dois planos e com o mesmo fio. Em todos os casos, as lojas foram drenadas com drenos de aspiração contínua. 226 F. Fraige Filho et al / Diabetes Clínica 03 (1999) 223-231 Imediatamente após a obtenção de resultados compatíveis dos testes imunológicos entre doador e receptor, no pré-operatório, iniciou-se a indução da Imunossupressão Quádrupla Seqüencial e a introdução dos Agentes Antimicrobianos. Aplicou-se Metil-Prednisolona, 500 a 1000 mg IV, Azatioprina 5 mg/kg, ou Micofenolato-mofetil 2g. No intra-operatório administrou-se OKT3 (5 mg/dia), por 15 dias,em seis casos e ATG (1,5 mg/kg/dia) em um paciente, por 10 dias, por ter apresentado choque anafilático na 2ª dose de OKT3. O corticóide foi reduzido progressivamente, no período de trinta dias, de 200mg/dia para 30 mg/dia. A Azatioprina foi mantida em 5 mg/kg/d durante 5 dias, passando para 1 a 2 mg/kg/d conforme a leucometria e o MicofenolatoMofetil, 3g/dia por 6 meses. Entre o 4º e o 11º PO, introduziu-se a Ciclosporina neoral, na dose média de 9mg/kg/d (6,5 a 13.5) com a creatinina ≤ 2,5 mg%, visando a concentração sérica de 300 a 500 hg/ml (pico de vale). Por ser o pâncreas o mais imunogênico dos órgãos sólidos, foi introduzido o Micofenolato-Mofetil tão logo disponível no mercado brasileiro, substituindo a Azatioprina nos cinco primeiros casos, dada sua maior potência imunossupressora, o menor efeito mielossupressor e a isenção de toxicidades renal e hepática, reduzindo sobremaneira os episódios de rejeição celular aguda além de sua atuação no combate à rejeição crônica e de seu caráter não diabetogênico. O diagnóstico de Rejeição Celular Aguda baseou-se em critérios clínicos, laboratoriais, de imagem (US com Doppler Duplex) e evidências histológicas. Os critérios clínicos consitiram na constatação de elevação da temperatura (média de 1,34o C), adinamia, fraqueza muscular, diminuição de apetite, desconforto abdominal com aumento e dor no enxerto à palpação, sinais notados em 100% dos casos. Em 85% das crises, observou-se ascenção média dos níveis pressóricos de 45,5 mm Hg e ganho médio de peso de 1,2 kg. Em 71% dos casos, a elevação da creatinina foi sentinela da rejeição, aumentando 2,7mg% em média. A redução da amilasúria não ocorreu na instalação da rejeição, mas, sim, após 2 a 3 dias. Mediante estes sinais o paciente foi submetido ao Ultrassom com Doppler-Duplex para quantificar a resistência vascular dos enxertos. Se o índice de resistividade (RI) do pâncreas ou rim fosse > 0,8 ou índice de pulsatilidade (PI) renal fosse > 1,6, realizava-se uma biópsia percutânea dirigida por US ou uma citologia aspirativa do órgão suspeito. Conforme a gravidade da rejeição, iniciava-se pulso de Metilprednisolona (500 a 1.000/ IV, 3 a 5 d) mesmo antes da obtenção dos resultados histológicos. Os agentes antimicrobianos empregados em paralelo à indução imunossupressora desde o pré-operatório imediato foram: Vancomicina 1g (dose única), Clindamicina 1200 mg/d, Ceftazidime 2 g/d e Fluconazole 200 mg/ d, mantidos durante todo o período de uso dos AC mono ou policlonais; Sulfametoxazol-trimetropim 800 mg/d/ 30d, Ganciclovir 2,5 – 5 mg/kg/d/14d seguido por Aciclovir 800 mg/d por 6 a 12 meses, e, na derivação entérica, acrescentou-se Metronidazol 1,5 g/d/14d. Depois do término dos AC Monoclonais linfocíticos introduziu-se uma Quinolona ou Nitrofurantoina, uso profilático para vias urinárias. 3. Resultados O tempo cirúrgico médio de implantação de ambos os órgãos foi de 5h e 42 min; realizou-se drenagem da secreção exócrina pancreática na bexiga em 6 pacientes e, no delgado, em 1 caso. Os drenos foram removidos entre o 5º e 7º PO e a sonda vesical foi retirada no 10º PO. O enxerto arterial utilizado para reconstituir em tronco único as artérias mesentérica superior e esplênica foi proveniente da artéria ilíaca em 5 casos e do tronco bráquio-cefálico em 1 caso. Um paciente apresentou anomalia anatômica, em que a artéria esplênica desembocava diretamente na artéria mesentérica superior, portanto não necessitou de interposição arterial. Ocorreu trombose da artéria do enxerto renal no 4º caso (16º PO). Este paciente foi submetido, imediatamente, à trombectomia da artéria renal, havendo restabelecimento da revascularização renal, que não foi efetiva para normalização da função do órgão. Realizou-se a transplantectomia no 42º dia, remanescendo o enxerto pancreático; em fevereiro de 98, dezesseis meses do transplante duplo, o paciente recebeu novo enxerto renal. O 2º paciente apresentou no 19º PO trombose venosa profunda de membro inferior direito (ilíaca externa e femural) resolvida com heparina e dicumarínicos. O 6º caso foi reoperado ( 3º P0 ) por apresentar hematoma peri-renal, diagnosticado por abaulamento com dor na fossa ilíaca esquerda e queda das taxas de hemoglobina. Todos cursaram com acidose metabólica de graus variados, necessitando de 2 a 20g de bicarbonato de sódio/dia (3 a 20 meses). Dos 7 pacientes, 5 apresentaram episódios de rejeição celular aguda (incidência de 71,42%), confirmados por evidências histológicas. A rejeição ocorreu por 2 vezes no 5º e 6º pacientes, totalizando 7 episódios; três destes foram resistentes à Metil-Prednisolona e o resga- 227 F. Fraige Filho et al / Diabetes Clínica 03 (1999) 223–231 Tabela 1 Dias PO Diagnóstico de Rejeição Aguda e Imunossupressão de Resgate [29] Imunossupressor Paciente Rejeição M-P OKT3 ALG A B C E 20º PO 17º PO 17º PO 24º PO 93º PO 14º PO 29º PO NR R NR R NR R R R – R – – – – – – – – R – – F Fig. 2: Fotografia do Enxerto Pancreático, após a Reperfusão. te foi realizado através do Anticorpo monoclonal OKT3 (5mg/dia - 5 a 10d) em 2 casos ou do Anticorpo policlonal ALG (13,5mg/kg/d/10d) em 1 caso, com Reversão da Rejeição e Recuperação funcional total dos enxertos. O esquema imunossupresor utilizado no resgate e sua resposta estão referidos na Tabela 1. Nos 6 pacientes nos quais se realizou a anastomose do duodeno à bexiga, as taxas de amilasúria não contribuiram para o diagnóstico precoce do fenômeno de rejeição aguda do pâncreas. No pós-operatório imediato, quatro pacientes tornaram-se euglicêmicos ab initio. Três pacientes necessitaram de suplementação de insulina exógena, respectivamente até o 9º, 22º e 53º PO; o sétimo caso utilizou insulina, em média 7ui/d, do 23ª ao 36o PO; atualmente todos permanecem euglicêmicos, Hb glicosilada média de 5,78% (4,1 a 6,0). Os pacientes tiveram permanência hospitalar média de 42,5 d ( 35 a 50). O esquema de imunossupressão atual é tríplice, consistindo de Ciclosporina neoral 4,40 mg/kg/d, mantendo concentração sérica média no pico de vale de 307 hg/ ml e Prednisona 7 mg/d, para os 7 pacientes. Seis deles fazem uso de Micofenolato-Mofetil 2,0 g/d, e o paciente nº6 retornou à Azatioprina 1,9 mg/kg/d por problemas de ordem econômica. O caso nº5 fez uso de Tacrolimus, 0,13mg/kg, de março a junho de 99 (4 meses),por elevação da creatinina ( de 1,8mg para 2,8mg ) com biópsia do enxerto renal mostrando toxicidade por Cya e a do enxerto pancreático evidenciando rejeição crônica. A suspensão do FK506 foi necessária pelos efeitos colaterais desta droga , como vômitos e diarréia com emagrecimento importante. M-P = Metil-Prednisolona OKT3 = Anticorpo monoclonal ALG = Globulina anti-linfocítica policlonal R = reversão ; NR = não reversão 4. Discussão Desde o início da década de 80, após introdução da Ciclosporina, as Globulinas anti–linfocitárias e, mais recentemente, o Tacrolimus e o Micofenolato-mofetil somados aos avanços da técnica cirúrgica e dos métodos diagnósticos (Doppler - Duplex e biópsia) aumentaram a sobrevida do Transplante Pâncreas–Rim, assemelhando-se atualmente às cifras dos transplantes dos demais órgãos, atingindo 80% em 5 anos. Os dois órgãos, pâncreas e rim, exercem entre si um efeito protetor mútuo neste procedimento; a instalação da Glomeruloesclerose diabética é evitada pela função pancreática normal e o enxerto renal funciona como sentinela da rejeição, conferindo também um efeito imunomodulador. A Rejeição Celular Aguda constitui a principal causa de perda do enxerto pancreático, ocorrendo em mais de 80% dos casos. Sua deteccção precoce aumenta substancialmente a sobrevida dos enxertos com a introdução pronta dos agentes imunosupressores para o seu resgate. É necessária, portanto, vigilância acirrada pelo staff transplantador, discernindo e valorizando sinais que possam ser indicadores da instalação de um eventual episódio de rejeição: palpação alterada do enxerto comprometido, aumento de temperatura, peso, pressão arterial e ascenção da creatinina. Mediante qualquer “suspeita” deve realizar-se um ultrassom com Doppler Duplex e, se os índices de resistividade e/ou pulsatilidade se mostrarem alterados, procede-se a uma biópsia imediatamente, posto que inexiste um indicador seguro que, isoladamente, permita o diagnóstico preciso e rápido da imunoativação [29]. 228 F. Fraige Filho et al / Diabetes Clínica 03 (1999) 223-231 Nos 7 transplantados duplos, aqui relatados, a elevação da creatinina ditou o diagnóstico da rejeição e manobras terapêuticas em 71% dos episódios, com reversão de 100%, isto é, recuperação total dos enxertos. A introdução dos AC monoclonais anti-CD3 e AC policlonais, as Globulinas antitimocítica e antilinfocítica, na indução imunossupressora seqüencial profilática e no resgate das rejeições esteróide-resistentes aumentaram sobremaneira a reversão destes episódios mas propiciaram infecções por agentes oportunistas e maior incidência de doenças linfoproliferativas a longo prazo. Nos 7 casos aqui relados as infecções não representaram situações de risco e foram debeladas sem maiores dificuldades. Nesta casuística a incidência de CMV foi de 71,4%; o diagnóstico da infecção citomegálica foi feito através da seroconversão do IgM, quadruplicação do título de IgG pré-existente, positivação da antigenemia ou, ainda, PCR qualitativo positivo para CMV. O tratamento curativo utilizado foi igual ao profilático (Ganciclovir2,5 a 5 mg/kg/d/14d) seguido de Aciclovir 800 mg/d por 3 a 12meses) com cura clínica e laboratorial em 100%. O caso nº 5 cursou com 2 episódios de rejeição. O segundo episódio, cuja instalação ocorreu no 93º PO foi diagnosticado por hipertermia, aumento do enxerto renal com dor à palpação, leucopenia, seroconversão de IgM para citomegalia e biópsia demonstrando imunoativação. Pode-se inferir uma provável indução de imunoativação do CMV sobre o enxerto neste caso. Aqui e em todos os cursos terapêuticos anti-rejeição foi introduzido o antiviral Ganciclovir (14d ) seguido do Aciclovir, (por 3 a 12 meses). Todos cursaram com infecção urinária por Gram negativo e/ou Candida, debeladas com Quinolonas, Nitrofurantoina e/ou Fluconazole por 2 a 6 meses. A drenagem exócrina do pâncreas para a bexiga preconizada pela grande maioria dos centros transplantadores norte-americanos se embasa na facilidade de diagnóstico da rejeição através das dosagens de amilase urinária e na abordagem segura do pâncreas para biópsia pelo acesso uroscópico transduodenal. Na experiência em relato, a amilasúria não foi indicadora de rejeição, sua queda deu-se no decorrer do episódio (rejeição já instalada, sob tratamento específico) e quanto às biópsias dos enxertos suspeitos, estas foram percutâneas, dirigidas por Ultrasson Doppler duplex a cores que, por individualizar com nitidez os vasos, propiciaram a biópsia percutânea convencional e/ou citologia aspirativa mais segura e sem intercorrências. A drenagem pancreática entérica (jejunal), adotada pelos grandes centros europeus de transplante e por alguns dos norte americanos, evitaria os efeitos deletérios da drenagem vesical, como depleção hidrossalina, acarretando acidose metabólica grave, desidratação e hipotensão, além das complicações urológicas como a hematúria e lesão vesical pela ação das enzimas pancreáticas. A drenagem venosa do enxerto pancreático no Sistema Porta ao invés da sistêmica, nos vasos ilíacos, utilizada rotineiramente, evita a hiperinsulinemia e a dislipidemia pela 1º passagem no fígado, que é o encarregado da captação e degradação. A evolução clínica do caso com derivação entérica (6º paciente) não necessitou de reinternação nos 2 anos e 5 meses de evolução. 0s 5 pacientes restantes (drenagem vesical) reinternaram de 1 a 4 vezes no 1º ano por depleção hidrossalina e acidose metabólica grave. Os efeitos hipertensígenos, dislipêmicos e diabetogênicos dos Esteróides e Ciclosporina foram contornados com o manuseio correto e dose adequada destas drogas. No paciente no 7, a dose de Predinisona foi reduzida para 20 mg/d a partir do 30o PO em virtude da ação hiperglicemiante do corticóide. Com o advento da Ciclosporina neoral resolveu-se os problemas de absorção desta droga, visando-se no Tx duplo, concentrações séricas (pico de vale) 50% maiores às preconizadas em um Tx renal isolado. Houve dificuldade para se atingir o nível sérico desejado em apenas 1 caso que apresentava gastroparesia diabética severa. Foi feito estudo farmacocinético da Ciclosporina neste paciente e, baseados nos tempos/valores da Cmáx, dividiu-se a dose total diária em 4 e, a seguir, em 3 tomadas ao invés de 2 durante seis meses; com a recuperação da neuropatia autônoma e normalização do esvaziamento gástrico, voltou-se à posologia convencional do neoral (cada 12 h). Até o momento não existem relatos científicos demonstrando vantagens do Tacrolimus sobre o Neoral no transplante combinado pâncreas- rim. Cerca de 90% dos transplantes de pâncreas realizados internacionalmente são simultâneos aos de rim (TxSPR) [16]. Esta constitui a melhor opção porque a sobrevivência do enxerto pancreático aumenta se comparada às demais categorias, TxPAR ou TxPI, quando analisada num período de 5 anos de evolução [3, 24, 27]. O TxSPR pode ser realizado com segurança em pacientes diabéticos em fase pré-dialítica, com nefropatia avançada caracterizada por proteinúria significativa e/ ou diminuição do clearance de creatinina (≤40 ml/min). O Transplante Isolado de Pâncreas (TxPI) constitui terapêutica definitiva para os pacientes portadores de diabetes tipo 1 hiper-lábil, em que o controle metabólico não é factível com episódios frequentes de perda súbita de consciência por hipoglicemia grave. Com o estado euglicêmico no pós transplante, os pacientes recupe- F. Fraige Filho et al / Diabetes Clínica 03 (1999) 223–231 ram totalmente a percepção da hipoglicemia. Os resultados são melhores quando doador e receptor apresentam elevado grau de semelhança antigênica, com dois ou menos antígenos incompatíveis no sistema HLA-A,B,DR [16, 38, 41, 45]. No Brasil ainda não se realiza a classificação antigênica dos doadores. Neste estudo, 4 pacientes tornaram-se euglicêmicos imediatamente após a realização do TxSPR, todavia, em 3 outros houve retardo para a recuperação integral da função endócrina do pancreas (9 a 53 dias), permanecendo sob administração de insulina exógena. [12] A insulina, ainda que administrada meticulosamente, mostrou-se incapaz de igualar-se à insulina produzida pelo tecido insular funcionante transplantado, até porque a obtenção de metabolismo glicídico otimizado depende da integração com outros hormônios produzidos pelas ilhotas pancreática, de modo que possa obterse a desejada normalização das diversas alterações bioquímicas e metabólicas que ocorrem no Diabetes Mellitus. A alternativa do desenvolvimento de sistema implantável computadorizado fornecedor de insulina, mediante sensor para a taxa glicêmica, é promissora, porém se esbarra na dificuldade mencionada de substituir completamente a função metabólica das ilhotas [14, 19]. 229 No presente estudo todos os enxertos pancreáticos evoluiram sem complicações, entretanto ocorreu trombose da artéria renal em um paciente que levou à perda do rim transplantado. O TxSPR está plenamente justificado porque a sobrevida de 5 anos é equivalente à do tranplante de rim isolado, além de estabilizar ou melhorar as complicações secundárias do diabetes e qualidade de vida dos pacientes. Os resultados atuais obtidos com o transplante do pâncreas total ou de ilhotas, serão melhorados em futuro próximo com a introdução de imunossupressores mais específicos e de menor toxicidade. O desenvolvimento da tolerância imunológica, meta e objeto de estudos que buscam o bloqueio da cascata imunológica logo após sua emergência, resultará num estado de anergia, dispensando ou minorando a imunossupressão. 5. Conclusões A complexidade do TxSPR impõe coesão de equipe médica multidisciplinar e infraestrutura hospitalar de alto nível como pré-condição para seu sucesso. 230 F. Fraige Filho et al / Diabetes Clínica 03 (1999) 223-231 O TxSPR consegue liberar o diabético da administração exógena de insulina, evitar a progressão da nefropatia e suporte dialítico, reverter as neuropatias periférica e autônoma, estabilizar a retinopatia, melhorar o metabolismo lipídico e as lesões cardiovasculares além de eliminar as restrições alimentares e de ingesta hídrica. Posto de outra forma, o sucesso do TxSPR implica na reintegração social do paciente. Evidente que o sucesso do TxSPR é diminuido à medida em que se permite o agravamento das seqüelas associadas ao seu postergamento1. Com efeito, os ganhos substanciais e imediatos em termos de qualidade de vida para os pacientes deveriam balizar as controvérsias com relação ao timing para a realização do procedimento (estado nutricional e complicações secundárias). Os resultados preliminares dos Transplantes Combinados Pâncreas/Rim aqui relatados coadunam-se aos evidenciados na literatura. Logrou-se a normalização da Hemoglobina glicosilada e da Função renal com boa evolução clínica. 1 Adotou-se como função renal limite um clearance de 40 ml/min, equivalente a valores de creatinina ≥ 2,8 mg%. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. The Diabetes Control and Complications Trial Research Group. The effect of intensive treatment of diabetes on the development and progression of long-term complications in insulin-independent diabetes mellitus. N Engl J Med, 329:977, 1993. Belzer FO, Ploegr RJ, Kuechtle SJ, D’alessandro AM, Pirsch JD, Kalayoglu MM, Sollinger HW. Clinical pancreas preservation and transplantation. Transpl Proc, 26:550-551, 1994. Bentley FR, Garrison RN. Superior results with combined kidney-pancreas transplants. Am. Surg, 58:136-40, 1992. Bilous RW, Mauer SM, Sutherland DER, Steffes MW. Glomerular structure and function following successful pancreas transplantation for insulin-dependent diabetes mellitus. Diabetes, 36:43, 1987. Bohman SO, Tyden G, Wilezek A. 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Em 1984, Borch-Johnsen e colaboradores sugeriram, com base nos resultados de um estudo caso-controle, que o leite materno seria um fator de proteção para o DM1; esse efeito se daria devido às propriedades antiinfecciosas desse tipo de leite, ou pelo fato de que a amamentação ao seio evitaria que as crianças pudessem ser precocemente expostas a outros agentes etiológicos contidos nos substitutos do leite materno. Esses mesmos achados foram posteriormente encontrados em diversos estudos, mas o papel do leite materno no aparecimento do DM1 ainda permanece controverso. Em 1992, Karjalainen e colaboradores, ao compararem os soros de indivíduos com e sem DM1, observaram, entre os diabéticos, altas concentrações de anticorpos anti-albumina bovina. Os autores postularam a hipótese de que a albumina bovina poderia atuar como desencadeadora do processo destrutivo das células β do pâncreas e, conseqüentemente, do diabetes. Resultados conflitantes foram observados nas publicações que se sucederam a essa. Neste artigo, resumem-se e discutem-se os achados de diferentes pesquisadores que investigaram a importância desses fatores dietéticos para o aparecimento do DM1. Palavras-chave: Diabetes mellitus tipo 1, leite de vaca, amamentação, epidemiologia do diabetes mellitus, fatores dietéticos Agradecemos ao Prof. José da Rocha Carvalheiro e aos autores por autorizar a reprodução deste artigo já publicado em Rev. Bras. Epidemiol., vol1, no 1, 1998. (1) Profa. Adjunta do Departamento de Medicina Preventiva da UNIFESP/EPM, Universidade Federal de São Paulo, Departamento de Medicina Preventiva, Rua Botucatu, 740; 04023-900, São Paulo - SP, Fax: (011) 844.8814 E-mail: [email protected] (2) Prof. Titular do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP, Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, Departamento de Epidemiologia, Av. Dr. Arnaldo, 715; 01246-904, São Paulo - SP 234 S. Gimeno et al / Diabetes Clínica 03 (1999) 232–240 1. Introdução 2. As hipóteses O diabetes mellitus tipo 1 ou dependente de insulina (DM1) ocorre em indivíduos geneticamente susceptíveis, como conseqüência direta de um processo autoimune, que leva à destruição das células β das ilhotas de Langerhans no pâncreas. É um processo crônico, com um período médio provável de latência de 10 anos [1]. O pico de incidência da doença ocorre na faixa etária de 10 a 14 anos. Indivíduos com risco de desenvolver essa doença podem ser identificados pela presença, no soro, de auto-anticorpos anti-células das ilhotas, anti-insulina, anti-ácido glutâmico dexcarboxilase, anti-tirosina fosfatase e por uma diminuição da capacidade de produzir insulina [1, 2]. Genes do sistema HLA, localizados no cromossoma 6, especialmente os DQA, DQB e DRB, conferem aos indivíduos proteção ou predisposição ao DM1. Mesmo com essa base genética, 80 a 90% dos casos de DM1 representam o único caso da família, sugerindo que fatores ambientais podem estar implicados na etiopatogenia desse tipo de diabetes [2-5]. Drash e colaboradores [6] comentam que diferentes fatores ambientais podem estar envolvidos na iniciação e manutenção do processo autoimune, entre eles, as viroses, especialmente aquelas relacionadas ao vírus Coxsackie B, ao citomegalovirus, ao da varicela, ao da rubéola e ao do sarampo [7-15]. As relações entre o DM1 e 1) algumas toxinas, como por exemplo as nitrosaminas, 2) o estresse emocional e 3) diferentes componentes da dieta, como o leite materno (LM), o leite de vaca (LV), o leite de soja, as carnes defumadas, a água com alto teor de nitrato (efeito tóxico), a idade da introdução de alimentos sólidos na dieta infantil e o consumo de café e de açúcar pela mãe durante a gestação, também têm sido investigadas [16-25]. Uma dificuldade para interpretar, como causais, as associações encontradas entre o DM1 e os diferentes fatores de risco é que a destruição das células β pancreáticas pode ter sido iniciada muitos anos antes do aparecimento clínico da doença, incluindo o período intra-uterino; essas associações podem refletir a presença de certos fatores precipitantes da doença e não, necessariamente, a de promotores da destruição das células β [3, 26]. Focalizam-se, neste artigo, as evidências que apontam o leite materno e o leite de vaca, respectivamente, como fator de proteção e de risco para o DM1. Utilizaram-se as publicações sobre o tema, identificadas a partir de 1980, com a utilização das base de dados Medline e Lilacs, cuja localização e obtenção de cópia, integral ou sob a forma de abstract, foi possível. A autoimunidade do DM1 pode ser desencadeada por um processo conhecido como mimetismo molecular. Em tal processo, um antígeno externo, por exemplo um vírus, provocaria uma resposta imune normal em qualquer parte do corpo. Se este antígeno tiver conformação similar ou for quimicamente semelhante a um componente das células β, o antígeno poderia também estimular um ataque contra as células pancreáticas [27]. Mayer e colaboradores [28] e Bognetti e colaboradores [29] comentaram que o aleitamento ao seio poderia ser capaz de modificar a história natural do DM1, protegendo a criança contra doenças viróticas, evitando ou retardando o aparecimento da doença. Além disso, o LM compensaria a deficiência na produção de imunoglobulinas e protegeria a criança contra infecções do trato gastrointestinal [30]. Por outro lado, a amamentação exclusivamente ao seio durante o período em que o trato gastrointestinal ainda é imaturo, evitaria, como conseqüência, a introdução precoce de outros alimentos na dieta infantil, tais como o LV, que poderiam ter ação diabetogênica. A semelhança observada entre uma dada seqüência de amino-ácidos da albumina bovina (AB) e a proteína p69, encontrada na superfície das células β pancreáticas, cuja presença é mediada pelo gama-interferon, sugere que o LV poderia ser um desencadeador do DMDI [20]. Segundo Karjalainen e colaboradores [31], o sistema imune identificaria na AB uma seqüência de 17 amino-ácidos diferente daquela observada na mesma proteína em humanos, produzindo anticorpos contra ela. Esses anticorpos seriam capazes de reagir com a proteína p69, cuja expressão na superfície celular ocorreria a partir de sucessivos eventos infecciosos e não relacionados, que levariam à produção de gama-interferon. O longo período de latência da doença seria explicado, segundo os autores, pela natureza temporária de tais episódios. 3. As evidências Em 1984, Elliot & Martin [32] relataram que a substituição, no momento do desmame, da proteína do leite de vaca (LV) por proteína semi-sintética levou a importante redução na incidência de DM1 em animais de laboratório. Posteriormente, em 1987, Daneman e colaboradores [33], confirmaram os achados de Elliot & Martin [32]. Martin e colaboradores [20], em 1991, observaram que ratos diabéticos tinham titulação aumen- S. Gimeno et al. / Diabetes Clínica 03 (1999) 232–240 tada de anticorpos anti-AB quando comparados com os animais controles, confirmando os achados anteriores de Beppu e colaboradores [34]. Scott e colaboradores [35], ao examinarem os resultados de experimentos com animais, comentaram que, apesar de diversos estudos terem confirmado a associação entre o LV e o DM1, esses achados não foram consistentes e, em alguns casos, como o de Hoofar e colaboradores [36], os pesquisadores encontraram evidências de que outras proteínas, tais como a da soja, também poderiam desencadear o diabetes em animais geneticamente susceptíveis. Estudos ecológicos realizados em diferentes partes do mundo têm também sugerido que o LV pode ser um fator de risco para o DM1 [24, 37-39]. Dahl-Jorgensen e colaboradores [37] mostraram que 94% da variação geográfica observada na incidência do DM1 poderia ser explicada por diferenças no consumo de leite nos países estudados. Muntoni e colaboradores [40] não conseguiram reproduzir os achados de Dahl-Jorgensen e colaboradores [37], especialmente para a região da Sardenha, na Itália, onde a incidência esperada para o DM1, com base no consumo de leite, foi notadamente inferior a observada. Os resultados de estudos ecológicos têm que ser interpretados com cautela; as informações utilizadas referem-se a grupos e não a indivíduos. No caso especial do consumo de LV, os dados são relativos a indivíduos em diferentes faixas etárias e não refletem, necessariamente, a dieta na infância. De qualquer forma, estudos ecológicos são úteis como geradores de hipóteses. Em humanos, a principal evidência de que o LV pode ser diabetogênico é retrospectiva e indireta, baseada em diversos estudos caso-controle sobre o aleitamento ao seio e o DM1 [35]. A partir das observações feitas por Borch-Johnsen e colaboradores [17], em 1984, de que crianças com DM1 tinham sido amamentadas por um período de tempo menor que aquelas sem a doença, outros estudos foram conduzidos com o objetivo de conhecer a relação entre o DM1 e a duração do aleitamento ao seio e a idade da introdução do LV na alimentação infantil (quadro 1), com resultados nem sempre coincidentes. Recentemente, três estudos caso-controle foram apresentados, sob a forma de abstract, no 16th International Diabetes Federation Congress [54-56], confirmando os achados anteriores de Borch-Johnsen e colaboradores [17]. Berdanier [57] afirma que, dadas as dificuldades para a implementação de estudos epidemiológicos prospectivos, as investigações tipo caso-controle têm sido bastante úteis. Esses estudos são uma boa opção para investigações sobre a etiologia de doenças com baixa in- 235 cidência, tais como o DM1 [58, 59]; suas limitações incluem a possibilidade de introdução de vícios 1) na seleção dos indivíduos (casos e controles), 2) na lembrança de eventos distantes que, em algumas situações não pode ser validada e 3) pela ação de confusão exercida por outros fatores [60]. Tais vieses podem afetar a validade, a magnitude e a direção das associações encontradas. Norris & Scott [61] afirmaram que as associações observadas na maioria dos estudos sobre o DM1 e o LV, por serem de pequena magnitude [odds ratio (OR) < 2,0], podem ser resultantes de vieses. Sempre que possível, estudos caso-controle deveriam incluir, como casos, apenas indivíduos com diagnóstico recente da doença; porém, em áreas onde a incidência da doença é moderada ou baixa, pode ser impraticável o desenvolvimento de investigações que incluam exclusivamente casos novos da doença. Além disso, quando a exposição a um determinado fator não está relacionada com a duração da doença, casos prevalentes podem ser utilizados [58]. Como pode ser observado na Tabela, resultados não coincidentes foram observados entre as pesquisas que utilizaram casos prevalentes de DM1 [17, 18, 22, 41, 42, 47, 49, 52, 53]. Situação semelhante foi também observada em relação àqueles que utilizaram casos com diagnóstico recente da doença [25, 26, 28, 42-46, 48, 50, 51]. Norris & Scott [61], após meta-análise dos estudos publicados sobre a relação entre o DM1 e o LV, observaram que a significância estatística da associação entre essas variáveis desapareceu quando foram agrupados os resultados dos estudos que utilizaram casos prevalentes (OR: 1,36; IC 95%: 0,93-1,98), feitos em áreas com prevalência de aleitamento ao seio inferior a 85% (OR: 1,41; IC 95%: 0,90-2,20) ou com baixa incidência de DM1 (OR: 1,72; IC 95%: 0,88-3,37) sugerindo, segundo esses autores, possibilidade de viés nos resultados desses estudos. Na Tabela 1, observa-se que a maioria dos estudos utilizaram, como controles, indivíduos vindos da população geral; Gerstein [61], após meta-análise que incluiu treze artigos, afirmou que, apesar das vantagens da utilização desse procedimento, os ORs encontrados nesses estudos podem estar subestimados pois certamente foram incluídos, como controles, indivíduos sem predisposição genética para o DM1. Variável porcentagem de participação de casos (62 a 100%) e de controles (55 a 100%) foi também constatada, dificultando a interpretação dos resultados (quadro 1). Nos estudos feitos por Mayer e colaboradores [28] e Verge e colaboradores [51] observaram-se as menores porcentagens de participação de casos e controles. As associações entre o DM1 e o LM e o LV encontradas em 236 S. Gimeno et al / Diabetes Clínica 03 (1999) 232–240 ambos os trabalhos, apesar de terem o mesmo sentido, mostram-se contraditórias em relação à significância estatística (p<0,05). Norris & Scott [61) observaram que o possível efeito protetor do LM (duração do aleitamento materno < 3 meses vs ≥ 3 meses) foi mantido quando foram reunidas aquelas pesquisas com porcentagem de participação, de casos e controles, maior que 75% (OR: 1,27; IC 95%: 1,06-1,52); situação semelhante foi observada para o LV (exposição ao LV antes dos 3 meses vs a partir dos 3 meses de idade: OR: 1,32; IC 95%: 1,08-1,60), sugerindo que a associação entre o DM e esses fatores pode ser causal. Nos três estudos onde a validade ou reprodutibilidade do instrumento utilizado para a coleta dos dados foi verificada [17, 18, 53], o efeito protetor para o DM1 do LM e de risco do LV foram confirmados. Contudo, as pesquisas que utilizaram registros existentes [22, 47] não encontraram associação entre as práticas alimentares na infância e o DM1; esse fato não invalida os demais achados, dado que esses registros não foram sistematicamente coletados e, dessa forma, podem também ser questionados quanto à sua validade. Boa reprodutibilidade das informações referentes à alimentação da criança, nos primeiros dias de vida, têm sido encontrada por diferentes pesquisadores [63, 64]. Esse fato sugere que, apesar das dificuldades para a determinação, com precisão, do período crítico de risco, é pouco provável a existência de viés nos resultados, para os primeiros dias de vida, encontrados nas diferentes pesquisas. Além disso, Kostraba e colaboradores [18] afirmaram que é pouco provável a ocorrência de viés diferencial de memória entre as mães das crianças diabéticas, pois, raramente, são inquiridas sobre as práticas alimentares e, dessa forma, não associam o aparecimento da doença com esse fato. Destaca-se ainda que, na presença desse tipo de viés em ambos os grupos (casos e controles), os ORs obtidos estariam subestimados, tendendo à unidade, fortalecendo, dessa forma, as hipóteses de existência de efeito protetor do LM e de risco do LV. Em dez estudos [18, 25, 28, 43-46, 49-51, 53], encontrou-se referência ao controle, na análise dos dados, do possível efeito de confusão exercido por outras variáveis (Tabela 1). Destaca-se que, em sete deles [18, 25, 46, 49-51, 53], os ORs ajustados, para o LM ou LV, foram estatisticamente significantes (p<0,05), sugerindo que essas associações podem ser causais. As observações de que crianças com diagnóstico recente do DM1 têm níveis aumentados de anticorpos antiAB têm sido utilizadas como evidência do elo causal entre o LV e o DM1. Segundo Rennie e colaboradores [65] e Drash e colaboradores [6], a presença de anticor- pos anti-AB é bem tolerada pelo homem, porém, em crianças predispostas ao diabetes, o mecanismo aparentemente fracassa, desencadeando o processo autoimune. Karjalainen e colaboradores [31], Savilahti e colaboradores [66, 67], Cheung e colaboradores [68], Miyazaki e colaboradores [69] e Pardini e colaboradores [70] encontraram, no soro de indivíduos diabéticos, maiores concentrações de anticorpos anti-AB, quando comparados com àqueles sem a doença. Porém, Atkinson e colaboradores [71] e Lorini e colaboradores [72, 73] não conseguiram reproduzir esses achados. Essas inconsistências podem ser reflexo das diferenças nas técnicas utilizadas nos testes para mensuração dos anticorpos e das características dos indivíduos estudados (idade e tempo de diagnóstico, especialmente). A redução da resposta imune contra a AB, observada algum tempo após do diagnóstico do DM1, fortalece, segundo Sheard [74], a existência de relação causal entre o diabetes e o consumo do LV. A albumina é a proteína plasmática mais abundante; é encontrada no sangue de todos os mamíferos e uma pequena parte, aproximadamente 1% do total de proteínas, está presente no leite. Fórmulas baseadas em LV são freqüentemente consumidas por ocasião do desmame ao seio. Concentrações de AB (como porcentagem do total de proteínas) iguais ou superiores àquelas encontradas no LV foram observadas por Monte e colaboradores [75] em três produtos lácteos infantis; como advertem os pesquisadores, se a AB é um desencadeador do DM1, sua presença em alguns produtos é particularmente perigosa, dado que, em geral, são consumidas em uma fase da vida em que o sistema digestivo ainda está imaturo. Apesar das evidências existentes até o momento, não se pode afirmar que o desmame precoce e a conseqüente introdução do LV na alimentação infantil sejam causa de DM1; a importância desses fatores e da reatividade à AB para o desenvolvimento do DM1 permanece controversa. À luz do conhecimento atual, acredita-se ser indicado, como forma de prevenir o aparecimento do DM1, a amamentação exclusiva ao seio por pelo menos três meses, evitando-se a introdução precoce, na alimentação infantil, do leite de vaca e de seus derivados. O desenvolvimento de estudos epidemiológicos prospectivos, tais como o que está sendo coordenado por Äkerblom e colaboradores [30], talvez possa, nos próximos anos, esclarecer alguns aspectos sobre a relação desses fatores de risco e o DM1. Além disso, é também necessário o desenvolvimento de investigações que examinem a relação entre o diabetes e a exposição precoce aos outros substitutos do LM, tais como a soja e o trigo. S. Gimeno et al. / Diabetes Clínica 03 (1999) 232–240 237 Tabela 1 - Estudos caso-controle que investigaram a existência de associação entre o DM1 e a duração do aleitamento ao seio e a idade da introdução de LV na alimentação infantil. Resultados LM** LV*** Autores (ref) Casos (% de participação) Controles (% participação) Histórico alimentar Ajuste (confusão) Borch-Johnsen e col., 1984 (17) 266 (82), prevalentes, < 18 anos no diagnóstico (1967-1982) 230 (?) irmãos Questionário (validade verificada) – Negativa* – Nigro e col., 1985 (22) 396 (?), prevalentes (clínicas médicas) 6702 (?), populacional, emparelhados por sexo, idade e região Registros existentes – Positiva – Fort e col., 1986 (41) 95 (?), prevalentes, com idade média de 14,8 anos 95 (?) amigos, emparelhados por sexo e idade Questionário (pais) – Negativa – Mayer e col., 1988 (28) 268 (62), incidentes, < 18 anos no diagnóstico (1984-1985) 479 (74), consultórios e populacional, emparelhados por sexo e idade Questionário ou entrevistas Ano do nascimento, idade e escolaridade da mãe, raça, sexo e renda familiar Negativa – Glatthaar e col., 1988 (42) 194 (99), incidentes e prevalentes, idade de 5 a 18 anos 733 (?) companheiros de classe, emparelhados por sexo e idade Entrevista – Negativa* – Dahlquist e col., 1989-91 (43, 44) 339 (84), incidentes, < 14 anos no diagnóstico (1985-1988) 528 (?), populacional, emparelhados por idade, sexo e cidade Questionário Escolaridade da mãe Negativa – Siemiatycki e col., 1989 (45) 161 (100), incidentes, < 18 anos no diagnóstico (1983-1986) 321 (?) amigos, emparelhados por sexo e idade Questionário (telefone) Escolaridade da mãe Negativa – Virtanen e col., 1991 (46) 103 (85), incidentes, < 7 anos no diagnóstico (1988-1989) 103 (?), populacional, emparelhados por sexo e idade Questionário (principalmente mães) Escolaridade da mãe Negativa* Positiva Kostraba e col., 1992 (18) 211 (73), prevalentes; <17 anos no diagnóstico (1965-1989) 211 (?) emparelhados por raça, idade, ordem de nascimento e vizinhança Questionário (mãe) (validade verificada) Idade da mãe, duração do aleitamento ao seio Negativa/Positiva (negros) Negativa*/Negativa (brancos) Virtanen e col., 1992 (25) 426 (85), incidentes, 7 a 14 anos no diagnóstico (1988-1989) 426 (?) populacional, emparelhados por sexo e idade Questionário (principalmente mães) Escolaridade e idade da mãe, peso ao nascer e ordem de nascimento Negativa* Positiva* Kyvik e col., 1992 (47) 76 homens (64), prevalentes, nascidos 1959-1964 154 (?) homens, emparelhados por idade Registros existentes – Positiva – continua na página seguinte 238 S. Gimeno et al / Diabetes Clínica 03 (1999) 232–240 Tabela 1 continuação Resultados LM** LV*** Autores (ref) Casos (% de participação) Controles (% participação) Histórico alimentar Ajuste (confusão) Metcalfe & Baum, 1992 (48) 1009 (63), incidentes, < 15 anos no diagnóstico em 1988 3754 (?) crianças nascidas em 1980 Censo (controles) e questionário (pais) – Negativa* – Kostraba e col., 1993 (49) 164 (68), prevalentes, < 18 anos no diagnóstico (1978-1988) 145 (?), populacional, emparelhados por idade, sexo e raça Questionário (próprio ou pais) Ordem de nascimento, renda e raça Negativa Positiva* Virtanen e col., 1994 (50) 697 (88), incidentes, com idade <= 14 anos (1986-1989) 501 (82) irmãos e da população emparelhados por sexo e idade Questionário Peso ao nascer, prematuridade, ordem de nascimento Negativa Positiva* Verge e col., 1994 (51) 217 (92), incidentes, com idade < 14 anos 258 (55), população, emparelhados por sexo e idade Questionário (pais) Idade da mãe Negativa* Positiva* Soltèsz e col., 1994 (26) 130 (80) incidentes em 1990, com idade < 14 anos 175 (79) emparelhados por sexo, idade e vizinhança Questionário (pais) – Negativa Positiva Mijac e col., 1995 (52) 40 (?) prevalentes, < 18 anos anos no diagnóstico 40 (?) crianças atendidas em diferentes hospitais Questionário (pais) – Positiva Negativa Gimeno & Souza, 1997 (53) 346 (91), prevalentes, com idade < 18 anos 346 (100) vizinhos emparelhados por sexo e idade Entrevista (mãe) (reprodutibilidade verificada) Antecedentes familiares de DMDI, ordem de nascimento, escolaridade da mãe, idade do diagnóstico, história materna de rubéola Negativa* Positiva* * Associação estatisticamente significante (p < 0,05) ** Associação positiva: quanto > duração do aleitamento, > a probabilidade de DM1; associação negativa: quanto < duração do aleitamento, > a probabilidade de DM1 *** Associação positiva: quanto mais nova a criança ao receber LV, > a probabilidade de DM1; associação negativa: quanto mais nova a criança ao receber LV, < a probabilidade de DM1 LM - leite materno , LV - leite de vaca Referências 01. 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N Engl J Med, 329: 1853-8, 1993. 72. Lorini R, Avanzini MA, Vitali L. Follow-up of antilactoglobulin antibodies in children with type 1 (insulindependent) diabetes mellitus. Diabetologia, 36: 683-4, 1993. 73. Lorini R, Avanzini MA, Vitali L. Anti-beta lactoglobulin antibodies in newly diagnosed children with IDDM and their sibilings. Diabetes Care, 17: 780-1, 1994. 74. Sheard NF. Cow’s milk, diabetes and infant feeding. Nutr Rev, 51: 79-81, 1993. 75. Monte CW, Johnson CS, Role LE. Bovin serum albumin detected in infant formula is a possible trigger for insulindependent diabetes mellitus. J Am Diet Assoc, 94: 314-6, 1994. Diabetes Clínica 03 (1999) 241 Notícias das Associações Curitiba, 13-15 de Novembro de 1999: 1o Encontro Brasileiro de Diabéticos A APAD (Associação Paranaense do Diabético Juvenil) organiza do 13 ao 15 de Novembro o 1o Encontro Brasileiro de Diabéticos na sede da Associação Médica do Paraná. O paciente e seus familiares poderão assistir a várias palestras : história do diabetes, importância do bom controle (resultados dos estudos DCCT e UKPDS), perspectivas futuras no tratamento do DM e conhecer melhor as novidades para o tratamento das complicações ou das patologias associadas. No dia 15, uma grande caminhada está prevista, com 700 pessoas, que irá angariar fundos para o desenvolvimento da pesquisa pela cura do diabetes e melhoria da qualidade de vida dos diabéticos carentes do país. Informações: Associação Paranaense do Diabético Juvenil, Av. Iguaçu, 4263 – 80240-031 Curitiba PR, www.apad.org.br, Tel: (41) 244 7711 e 332 3525 São Paulo : novas leis em tramitação para os portadores de diabetes José Resende, deputado estadual (PL) de São Paulo, é um defensor ativo dos portadores de diabetes na Assembléia legislativa. O seu objetivo é obter a aprovação do projeto de lei 169/99, de autoria do Deputado José Pimentel, que concede isenção do Imposto de Importação e do Imposto sobre Produtos Industrializados incidentes sobre equipamentos e medicamentos destinados ao tratamento de diabetes. Também os diabéticos poderão beneficiar-se do projeto de lei 1050/99, de autoria do Deputado Domiciano Cabral, concedendo prerrogativa aos portadores de diabetes. A propositura desta lei é o fornecimento gratuito e regular de equipamento e remédios, como insulina, antidiabéticos orais, tiras reagentes, seringas, adoçantes, lancetas e tratamentos das complicações. 242 Diabetes Clínica 03 (1999) Liga de diabetes e hipertensão de Itatiba Presidente : Antonio José de Souza Rua Antonio Galvão de Sá, 285 13250-000 Itatiba SP Itatiba : Merenda escolar diferenciada para os diabéticos Associação de diabetes de Sorocaba Presidente : Claudemir José Justi Rua Profa. Maria de Almeida, 528 18060-130 Sorocaba, SP Tel: (15) 224 4004 Sorocaba: trabalho constante e contínuo da Associação de diabetes Antonio José de Souza lembra os inúmeros sucessos já obtidos em Itatiba, apesar das dificuldades, nos quais ele destaca “os grandes aliados que sustentam o trabalho da associação : o poder judiciário, que nos fornece através do Jecrim, seringas, fitas, etc, e a câmara municipal de Itatiba que aprovou a lei que obriga o fornecimento de merenda diferenciada aos alunos da rede pública municipal.” Segundo esta lei, promulgada em Abril de 1998, “todas as escolas e creches municipais ficam obrigadas a manter, em sua merenda escolar, alimentação diferenciada e adequada para os diabéticos.” Podemos notar também que o SUS de Itatiba formou um grupo de jovens diabéticos que recebe insulina humana por parte do poder público. Claudemir José Justi, presidente da Associação de diabetes de Sorocaba entregou à Fenad seu relatório anual de ações e atividades, mostrando a importância da ação da comunidade de Sorocaba para prevenir e detectar a doença. Dentre as atividades de 1998, destacamos o esforço da associação para integrar os adoçantes na cesta básica e a promoção do controle de qualidade dos remédios usados pelos portadores de diabetes tipo 2. Diabetes Clínica 03 (1999) 243 Calendário de Eventos OUTUBRO DE 1999 NOVEMBRO DE 1999 1 e 2 de Outubro 1o Diet Light Expo 12 a 14 de novembro Diabetes in Rio III Clube Monte Libano Av. Borges de Medeiros, 701, Leblon – Rio de Janeiro Tel: (21) 239-2399 – 512-8833 ADCERJ (Associação dos Diabéticos Conscientes do Estado do RJ) Presidente: Dr. Rogério F Oliveira Principais temas: Diabetes, obesidade, terceira idade 14 de Novembro, Dia Internacional do Diabetes: - 08:00h – 12:00hs: Triagem de glicemia - 14:00h – 18:00hs: Complemento sócio esportivo com integração, diabéticos, obesos e pessoas de terceira idade das associações e times organizados pelas associações. Informações: GRA, Rua Maria Angélica, 15, Jardim Botânica – 22470-200 Rio de janeiro RJ Tel/Fax: (21) 535-4902 e-mail: [email protected] Inscrições: Informed – Informações e eventos Rua Goethe, 55, Botafogo – 22281-020 Rio de Janeiro RJ Tel/fax: (21) 266-0105 / 266-7583 e-mail: [email protected] 10 a 12 de Outubro 5th Meeting for the Implementation of the St Vincent Declaration “Health for All in Diabetes” Istanbul, Turkey Informações: The St Vincent Declaration Regional office for Europe Scherfigsvej 8, 2100 Copenhagen 0, Denmark Tel: +45 39 17 1325, fax: +45 39 17 1864 E-mail: [email protected] 23 de Outubro 1o Simpósio Interativo sobre Tratamento da Obesidade São Paulo - Centro de Eventos Hotel Maksoud Plaza Informações: São Paulo (11) 852-2298, fax (11) 280-4332 E-mail: [email protected] Rio Grande do Sul (51) 330-8905 (Sílvia Néglia) E-mail: [email protected] 31/10 a 4 de Novembro 5th International Symposium os Insulin-like Growth Factors Brighton, UK Informações: Jeff Holly, University Division of Surgery, Level 7, Bristol, Royal Infirmary, Marlborough Street, Bristol BS 871w, UK fax: +44 117 925-2736, e-mail: [email protected] 12 a 14 de Novembro XII Curso Nacional de Atualização em Endocrinologia e Metabologia - Prova para Título de Especialista em Endocrinologia e Metabologia Campina Grande, Paraíba Informações: Dra. Aline da Mota Rocha Tel.: (83) 341-5577, fax: (83) 341-5738 13 a 15 de Novembro 1o Encontro Brasileiro de Diabetes Organização: APAD (Associação Paranaense Assistência ao Diabético) Presidente: Maria Cecília M da Rocha Carneiro Tel.: (41) 244-7711 244 Diabetes Clínica 03 (1999) 14 de Novembro (Dia Mundial e Nacional do Diabetes) Segunda Campanha Nacional Gratuita de prevenção, Educação e Detecção em Diabetes SETEMBRO DE 2000 Informações: ANAD Tel: (11) 549-6704 e 572-6559 17 a 21 de Setembro 36th Annual Meeting of the European Association for the Study of Diabetes 14 a 18 de Novembro 1999 NAASO Annual Meeting Jerusalem Informações: Secretariat POB 50006, Tel Aviv 61500 Israel Tel: +972 3 514-0000 Fax +972 3 517 5674 E-mail: [email protected] Charleston Place, Charleston, SC. Contato: Office of CME, Medical University of South Carolina, 810 MUSC Complex, Suite 802, Charleston, SC 29425. email : [email protected] 20 e 21 de Novembro III Simpósio Diabéticos: Gente Mais Doce Colégio Brasileiro de Cirurgiões, Rio de Janeiro, RJ Informações: Tel.: (21) 9161-5433, fax: (21) 567-3057 e-mail: [email protected] DEZEMBRO DE 1999 5 a 8 de Dezembro V Congresso Nacional da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição - SBAN Centro de Convenções Rebouças, São Paulo, SP Tel.: (11) 871-0728, fax: (11) 871-2421 NOVEMBRO DE 2000 5 a 10 de Novembro 17th International Diabetes Federation Congress Cidade do México, México Informações: Keith Richardson, Congress Secretariat, Congress World, Blenheim House, 120 Church Street, brighton BN1 1WH, United Kingdom 18 a 23 de Novembro 24o Congresso Brasileiro de Endocrinologia e Metabologia Rio Centro Informações JZ Congressos Tel: (21) 286-2846, fax: (21) 539-1299 E-mail: [email protected] Diabetes Clínica JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS Índice (vol. 3 nº 5 - 1999) EDITORIAL O sucesso no Dia mundial do Diabetes, Fadlo Fraige Filho .................................................................. 247 ....................................................................................... 248 .......................................................................................................... 258 AVANÇOS TERAPÊUTICOS E TECNOLÓGICOS Artigos sobre rosiglitazona, pioglitazona, nateglinida, repaglinida, insulina glargina .............................. 260 PRODUTOS E NOVIDADES Glucagen Hypokit (Novo Nordisk), Innovo (Novo Nordisk), DermaTemp Infrared Scanner (Smith Nephew), Pedography for Diabetic feet, Nycocard HbA1c (Nycomed) ............................................... 276 O ASPARTAME EM DEBATE : DÚVIDAS E ESCLARECIMENTOS ............................................ 278 RESUMOS DE CONGRESSOS Entre outros: Fisiologia do exercício, Marcelo de Castro Cesar Neuropatia diabética: diagnóstico clínico e eletroneuromiográfico, Paula Marzorati Kuntz Puglia O diabetes e a doença vascular periférica, Bonno van Bellen Diabetes Mellitus, prevalência e grupos de risco na população de servidores da secretaria especial de editoração e publicações do Senado Federal, Maria Silva Sucupira et al ................................................ 280 ARTIGOS CIENTÍFICOS Caracterização do padrão de herança genético do diabetes mellitus tipo 2 (tardio): estudo realizado em 119 famílias na Associação Nacional de Assitência ao Diabético, (ANAD) em São Paulo, D. Camerlingo, L.L. Fonseca, L.B. Gallinaro, M.P. Milazzoto, R. Monezzi, F. Fraige Filho, H.B. Rosário ....................................................................................................................................................... 292 NOTÍCIAS DAS ASSOCIAÇÕES 297 INFORMES DO DIABETES NO MUNDO O DIABETES NA IMPRENSA ............................................................................................................................................................................ Diabetes Clínica JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS (Sucessor de Diabetes&Metabolism, edição brasileira) Diabetes Clínica é um jornal multidisciplinar sobre os aspectos médicos, psicológicos e sociais do diabetes e dos distúrbios associados. Para os especialistas Diabetes Clínica é um veículo de informação e formação continuada sobre o conhecimento científico da doença, a atualidade da prática clínica no tratamento do diabetes e das patologias associadas. Diabetes Clínica edita artigos científicos internacionais selecionados de Diabetes Research and Clinical Practice, e artigos de especialistas e profissionais brasileiros, selecionados pela FENAD - Federação Nacional de Assistência ao Diabético e Atlântica Editora. Diabetes Research and Clinical Practice, publicação de Elsevier Science, edita revisões e artigos originais nas áreas da epidemiologia, biologia, nutrição e prática clínica. O objetivo do jornal é favorecer a discussão interdisciplinar e internacional em todas as questões relativas a diabetologia. Diabetes Research and Clinical Practice é o jornal oficial da Federação Internacional do Diabetes (Western Pacific Region). Diabetes Clínica Editor científico : Dr. Fadlo Fraige Filho Coordenação de Educação e Formação Continuada : Educadora Lilian Fanny de Castilho Editor : Dr. Jean-Louis Peytavin, faculdade de Medicina de Lyon (França) Administração : Claudiane Benavenuto Conselho Consultivo Psicóloga Ada Verônica da Silva Maciel (SP) Dr. Adolpho Milech (RJ) Dr. Airton Golbert (RS) Dra. Alcina Vinhais (BA) Dra. Ana Míriam G. Carboni (SP) Dr. Antônio Carlos Lerário (SP) Dr. Arual Augusto da Costa (SP) Dr. Balduíno Tschiedel (RS) Nutricionista Celeste Elvira Viggiano (SP) Educador Cláudio Cancelliéri (SP) Dr. Edgard D’Ávila Niclewicz (PR) Dra. Geisa Macedo (PE) Dra. Hermelinda Pedrosa (DF) Dr. João Roberto de Sá (SP) Dr. Leão Zagury (RJ) Dr. Marcos Tambascia (SP) Enfermeria Mônica Antar Gamba (SP) Dr. Nelson Rassi (GO) Dr. Orsini Valente (SP) Enfermeira Paula Pascali (SP) Dra. Reine Marie Chaves (BA) Dr. Saulo Cavalcanti da Silva (MG) Dr. Sérgio Atala Dib (SP) Redação Jean-Louis Peytavin Rua General Glicério, 71/304 22245-120 Rio de Janeiro - RJ tel/fax: +55 21 557 73 04 E-mail : [email protected] Diabetes Research and Clinical Practice Editor-Chefe : C.S. Cockram, Hong-Kong (Western Pacific, Ásia) Co-Editor : N. Hotta, Japão (Ásia, Japão) Editors regionais : P.D. Home, Inglaterra (Europa, África), J.S. Skyler, EUA (America do Norte e America Latina), J.J. Hoet, Bélgica (Europa, África) FENAD (Federação Nacional de Associações de Diabéticos) e ANAD (Associação Nacional de Assistência ao Diabético) Rua Eça de Queiroz, 198 - Vila Mariana 04011- 031 São Paulo - SP Tel: 11 572-6559 - Fax: 11 549-6704 Site: http://www.netcomp.com.br/anad E-Mail: [email protected] ATLANTICA EDITORA Marketing Maurício Galvão Costa Anderson Rua Benjamim Garcez, 110 Jardim Maristela 12940-000 Atibaia – SP tel/fax: +55 11 7871 7629 cel: +55 11 9993 6885 E-mail : [email protected] © Diabetes Research and Clinical Practice, Elsevier Science Ireland Ltd. Todos os direitos reservados. Atlântica Multimídia para a tradução em português Assinatura 6 números ao ano www.atlanticaeditora.com.br/assinaturas I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes Copyright © Diabetes Research and Clinical Practice, Elsevier Science Ireland Ltd Copyright reserved. No part of this publication may be reproduced, stored in a retrieval system or transmitted in any form or by any means, electronic, mechanical, photocopying, recording or otherwise without permission in writing from the copyright owner, c/o Elsevier Science P.O Box 181, 100 BM Amsterdam The Netherlands. No responsibility is assumed by the Publisher for any injury and/or damage to persons or property as a matter of products liability, negligence or otherwise, or from any methods, products, instructions or ideas contained in the material herein. Because of the rapid advances in the medical sciences, the Publisher recommend that independent verification of diagnosis and drug dosages should be made. Although all advertising material is expected to conform to ethical (medical) standards, inclusion in this publication does not constitue a guarantee or endorsement of the quality or value of such product or of the claims made of it by its manufacturer. Portuguese translation has been cared by Atlântica Editora, and is strictly for personal use. Diabetes Clínica Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas O sucesso no Dia Mundial do Diabetes Fadlo Fraige Filho P ara chamar a atenção das autoridades governamentais e de saúde, dos profissionais de saúde, a Organização Mundial da Saúde (OMS) criou o Dia Mundial do Diabetes, em conjunto com a Federação Internacional do Diabetes (IDF). Em todo 14 de novembro são solicitadas ações para a melhora da atenção aos diabéticos no mundo todo. A nossa parte fizemos, e bem. No dia 14 último tivemos a felicidade de coordenar a segunda campanha de detecção, orientação, educação e prevenção das complicações do diabetes no Brasil, que foi a maior ocorrida em conjunto nesse país, e possivelmente pelas dimensões do Brasil, uma das maiores de todos os países. Iniciamos nosso trabalho em fevereiro de 1999 na busca de incentivo e participação de parcerias, comunidades, municípios, associações, ligas, centros, clubes de serviços, todos envolvidos com diabetes. Informamos os motivos e objetivos da campanha bem como nossa estratégia, apoiando-se na experiência de 15 anos de campanhas populacionais feitas pela ANAD. Chegamos de modo completo a 400 cidades de 18 estados da Federação, tendo sido feitos cerca de 450.000 exames de detecção, ações educativas, orientações, usando-se de diferentes formas, como aulas, palestras, conferências, entrevistas na mídia em geral, tudo para detectarmos no grupo de risco que é portador da doença e não sabe, o que infelizmente atinge a vergonhosa cifra de 50 %. Também uma oportunidade para alertarmos os já sabidamente diabéticos e motivar o bom controle da doença. Em São Paulo a campanha se desenvolveu no Colégio Madre Cabrini no dia 14 de novembro, e do dia 16 ao dia 19 em 40 postos da Secretária de Saúde do Estado. No colégio oferecemos 10.000 testes de detecção, mesas de multiprofissionais para orientação e encaminhamentos, medidas de pressão arterial., exames especializados dos pés, exames de fundo de olho, exames bucais e audiometria. Tivemos 400 profissionais à disposição das 10.000 pessoas que por lá passaram. Aqui ficam nossos agradecimentos à UNISA Biomedicina, às escolas de enfermagem da UNIFESP, Maria Gorete, Beneficência Portuguesa, Odontologia da USP e Oftalmologia da UNIFESP. Os dividendos pós-campanha são enormes, pois o assunto ficará como informação na população em geral, que certamente estará mais ciente do diabetes e como controlá-lo. Estaremos nos próximos dois meses trabalhando nos números das ações desenvolvidas para podermos compilar os dados e o impacto destas ações nesse imenso “continente”. Ao Laboratório Roche e seus representantes na área de diabetes, nosso respeito e reconhecimento não só pelo patrocínio da campanha aqui em São Paulo mas também para as despesas de coordenação no Brasil. Dr. Fadlo Fraige Filho Titular de Endocrinologia da Faculdade de Medicina ABC Presidente da FENAD e da ANAD 248 Diabetes Clínica 03 (1999) Informes do Diabetes no Mundo American Journal of Clinical Nutrition, 70 4,466-473, Outubro de 1999, James W Anderson et al. Efeitos do psílio nas respostas da glicose e lípides séricos em homens com diabetes tipo 2 e hipercolesterolemia Fibras solúveis em água diminuem as concentrações de glicose pós-prandial e colesterol sérico. Este estudo examinou os efeitos da administração de psílio (plantago) em homens com diabetes tipo 2. O objetivo foi avaliar a segurança e eficácia do fibra da casca de psílio usada como suplemento de uma dieta tradicional para o diabetes no tratamento de homens com diabetes tipo 2 e hipercolesterolemia leve a moderada. Após uma fase de estabilização à dieta de 2 semanas, 34 homens com diabetes tipo 2 e hipercolesterolemia leve a moderada foram escolhidos aleatoriamente para receber 5,1 g de psílio ou placebo de celulose duas vezes ao dia durante 8 semanas. Os índices lipídicos e glicêmicos foram avaliados duas vezes por semana em ambulatório e em balanço metabólico nas semanas 0 e 8. O grupo do psílio apresentou melhoras significativas nos valores de lípides e glicose em comparação com o grupo placebo. As concentrações séricas de colesterol LDL e colesterol total foram 8,9% (P < 0,05) e 13,0 (p = 0,07) menores, respectivamente no grupo do psílio que no grupo placebo. As concentrações de glicose pós-prandial após almoço e durante todo o dia foram 11,0% (P < 0,05) e 19,2% (P < 0,01) mais baixas no grupo do psílio que no grupo placebo. Os dois produtos foram bem tolerados, sem que houvesse eventos adversos sérios relacionados ao tratamento reportado em qualquer grupo. A adição do psílio a um dieta tradicional para pessoas com diabetes é segura, bem tolerada, e melhora o controle glicêmico e o controle lipídico em homens com diabetes tipo 2 e hipercolesterolemia. Diabetic Medicine, 16, 755-761, outubro de 1999, B. Willms e D. Ruge Comparação da acarbose e metformina em pacientes com diabetes mellitus tipo 2 mal controlados com dieta e sulfoniluréias: estudo randomizado, controlado por placebo Objetivos: Comparar a eficácia e segurança da acarbose e metformina quando adicionadas ao tratamento com sulfoniluréia em pacientes diabéticos mal controlados apenas com sulfoniluréias. Métodos: Um estudo de 12 semanas, centro único, controlado por placebo, com 89 pacientes randomizados para receber acarbose (100 mg), me- Diabetes Clínica 03 (1999) 249 continuação tformina (850 mg/dia) ou placebo em adição ao tratamento com sulfoniluréia. O estudo foi duplo-cego com relação ao acarbose/placebo e simples cego para metformina/acarbose e metformina/placebo. Os pacientes iniciaram um esquema rigoroso de dieta 1 semana antes de receber a primeira dose de acarbose, metformina ou placebo. Este esquema foi ajustado individualmente para o padrão metabólico e necessidades de energia. Resultados: O parâmetro principal, a HbA1c, diminuiu em todos os três grupos após 12 semanas. A diminuição foi maior nos dois grupos que receberam tratamento ativo comparado com placebo (acarbose – 2,3 ± 0,32%; metformina – 2,5 ± 0,16%; placebo –1,3 ± 0,34%). Não houve diferença significativa entre a acarbose e metformina ( P = 0,65). As diferenças entre os tratamentos ativos e placebo foram estatisticamente significativas (acarbose P < 0,01; metformina P ≤ 0.004). Foram observadas reduções no peso corporal durante o período de tratamento em todos os três grupos e foram maiores no grupo da acarbose (redução média do peso: acarbose 3,5 kg; metformina 1,0 kg; placebo 1,4 kg). Não houve diferenças significativas na incidência de efeitos colaterais gastrointestinais entre os três grupos e todos os esquemas de tratamento foram em geral bem tolerados. Conclusão: Os resultados do estudo demonstraram a equivalência da acarbose e metformina na melhora do controle glicêmico em pacientes controlados de forma insatisfatória com dieta e sulfoniluréias. Experimental Eye Research, 69, 5, 533-538, Novembro de 1999 Stefania Banditelli et al. Um novo método contra a catarata diabética através dos inibidores da aldose redutase A inibição da aldose redutase é uma das estratégicas terapêuticas proposta para prevenir ou melhorar as complicações diabéticas a longo prazo incluindo a retinopatia e a catarata diabética. Os ratos foram alimentados com uma dieta rica em galactose e o inibidor da aldose redutase Tolrestat foi usado topicamente através de instilação ocular. Os níveis de atividade de aldose redutase, galactitol e o início da catarata foram avaliados durante e após o tratamento com o inibidor. A aplicação tópica de 1-3% de Tolrestat (10 ml) quatro vezes ao dia resultou, após 9 dias, em uma redução significativa da atividade da enzima. Logo após a interrupção do tratamento com o medicamento, a atividade da enzima foi reduzida e a catarata induzida pela galactose foi prevenida. Nossos resultados podem representar a base para os planos terapêuticos para prevenir a catarata diabética através de tratamentos cíclicos a longo prazo com inibidores da aldose redutase, com redução nas doses do medicamento e dos efeitos adversos. International Journal of Obesity and related metabolic disorders, 23, 10, 1047-1056, outubro de 1999, D.M. Ezell et al. Oxidação do substrato e disponibilidade durante exercício agudo em mulheres sedentárias não-obesas, obesas e pósobesas Objetivo: Este estudo comparou os índices de oxidação da gordura durante o exercício com bicicleta ergométrica (E) típicos de oxidação gordurosa progressiva em mulheres saudáveis, porém sedentárias, com diferentes histórias de obesidade. 250 Diabetes Clínica 03 (1999) contimuação Desenho: Cinco mulheres não obesas (NO) (média de idade = 25±3 anos, média de gordura corporal=25,0±2,8, cinco obesas (O) (26±3 anos, 44,4±1,7%) e cinco pós-obesas (PO) (22±1 anos, 32,2±3,0%) fizeram exercício na bicicleta por 60 min no pico de 60-65% VO2. Para identificar os efeitos específicos da E, um estudo controle consistindo de 60 min de repouso sentado (R) foi também realizado. Os estudos E e R foram contrabalanceados um mês a parte da fase folicular e conduzidos após um dieta eucalórica, normalizada de 3 dias. Medições: A absorciometria de raio-x de dupla energia (DEXA) foi usada para determinar a composição corporal, e todas tinham um peso estável pelo menos seis semanas antes do estudo. Durante ambos os estudos as medições de VO2 foram feitas para determinar a oxidação do substrato e consumo de energia. As amostras de sangue foram colhidas para análise de hormônio e metabólito antes, e a cada 15 min durante o exercício ou repouso. Resultados: Todos os três grupos mostraram uma troca semelhante e progressiva com relação à oxidação da gordura, com o progresso do exercício. Não foi observada nenhuma diferença entre os grupos para o consumo de energia E ou oxidação da gordura. O glicerol (P < 0,0001) e ácidos graxos livres (P < 0,0001) aumentaram de forma semelhante em todos os três grupos, mas o grupo PO manteve o nível de ácido graxo livre mais elevado durante o exercício (efeito do grupo; P < 0,01). E e R diminuíram (P < 0,001 para ambos) os níveis de insulina nos grupos, com níveis mais baixos observados no grupo PO e mais altos no grupo O. A adrenalina (P < 0,0001) e noradrenalina (P < 0,001) plasmáticas aumentaram de maneira semelhante durante E em todos os três grupos. Os níveis de hormônio de crescimento plasmático (GH) eleveram (P < 0,05) durante E, com um aumento pronunciado observado no grupo PO. Conclusão: Concluímos que o exercício de intensidade relativamente igual fez surgir índices de oxidação de gordura semelhantes entre mulheres NO, O e PO, a despeito de diferenças do grupo na disponibilidade do ácido graxo livre. Os níveis persistentemente mais baixos de insulina e de GH plasmáticos mais altos de mulheres PO podem ter agravado a disponibilidade do ácido graxo livre. International Journal of Obesity and related metabolic disorders, 23, 10, 1016-1024, outubro de 1999, D.L. Hansen et al. O efeito da sibutramina no consumo de energia e apetite durante o tratamento crônico sem restrição dietética Objetivo: Avaliar a contribuição de um efeito termogênico de perda de peso induzido por um tratamento de oito semanas com sibutramina (15 mg/ dia) vs. placebo em indivíduos obesos. Desenho: Trinta e dois (7 homens e 25 mulheres) indivíduos saudáveis obesos com índice de massa corporal (IMC) 33,9±0,5 kg/m² completaram o estudo. Medições: O consumo de energia (EE) foi medido através de calorimetria indireta durante uma permanência de 32h em um câmara de respiração antes e após 8 semanas de tratamento. Foram completadas escalas analógicas visuais para a avaliação de sensação de apetite. Não foi feita nenhuma restrição dietética. Resultados: A sibutramina causou uma perda significativa de peso em comparação com placebo (-2,4 kg vs.+0,3 kg, P < 0,001). Apesar da perda maior de peso após 8 semanas, o EE de 24 horas não diminuiu mais no grupo sibutramina do que no grupo placebo (-2,6% vs. –2,5%, P=ns). Diabetes Clínica 03 (1999) 251 contimuação Quando as mudanças no EE de 24 horas foram ajustadas para mudanças no peso corporal, o EE de 24 horas diminuiu significativamente menos no grupo sibutramina do que no grupo placebo (0,8% vs. 3,8%, P < 0,02). A sibutramina diminuiu significativamente o apetite e o consumo antecipado de comida, e aumentou os escores de saciedade. Conclusões: O efeito da redução de peso da sibutramina em humanos causado por um mecanismo duplo: redução de consumo de energia através do aumento da saciedade e diminuição do apetite e prevenção do declínio no EE que segue a perda de peso. European Journal of Clinical Investigation, 29, 758-769, Novembro de 1999, G. Paolisso et al. A idade avançada e a resistência à insulina: novos fatos sobre uma história antiga The Lancet, 354: 1604-07, Novembro de 1999 Peter M. Jehle et al. Boa técnica de mistura de insulina melhora o controle glicêmico A relação entre a idade avançada e a resistência à insulina é amplamente conhecida, mas a(s) causa(s) de tal(is) associação(ões) não é(são) bem entendida(s). As mudanças relacionadas com a idade nas características antropométricas e fatores ambientais (mudanças nos hábitos alimentares e declínio da atividade física) têm sido concluídas por hipótese como estando entre as principais causas. Mais recentemente, o papel do fator de crescimento plasmático I semelhante à insulina (IGF-I), concentrações de sulfato de dehidroepiandrosterona (DHEAS) e fator de necrose tumoral (TNF-α) assim como o grau de stress oxidativo têm sido também avaliados. No que diz respeito às mudanças antropométricas, uma diminuição na massa livre de gordura e um aumento relativo ou absoluto na massa de gordura são resultados comuns nos pacientes idosos. Tais mudanças são combinadas com um declínio na concentração do plasma DHEAS e IGI-I e uma elevação nas concentrações do plasma TNF-α e stress oxidativo, que, por sua vez, podem interagir com as mudanças antropométricas determinando a piora na percepção da glicose mediada pela insulina. Finalmente, os fatores ambientais relacionados com a idade (mudanças na qualidade alimentar e declínio no grau de atividade física) podem ser fatores comuns permitindo fatores antropométricos e de reconstrução relacionados com a idade para acelerar seu impacto negativo na ação da insulina. Peter Jehle e colaboradores do Hospital Universitário, Ulm, Alemanha, relatam que é comum a resuspensão inadequada de insulina nas canetas de insulina. Eles também concluíram que os pacientes que melhoram suas técnicas para misturar a insulina antes da injeção têm menores episódios hipoglicêmicos. As canetas de insulina são agora os aparelhos mais usados para aplicar insulina. Uma das insulinas mais usadas, a protamina de Hagendorn Neutra (NPH), está na solução de duas fases e precisa ser resuspensa, tanto sacudindo, girando ou inclinando a caneta antes de usá-la. Os pesquisadores colecionaram cartuchos da caneta dos pacientes, mediram a proporção da insulina NPH, e pediram aos pacientes que preenchessem os questionários sobre sua 252 Diabetes Clínica 03 (1999) contimuação técnica de injeção. Uma amostra aleatória dos pacientes foi re-avaliada após ensino adicional sobre a resuspensão de insulina. Os pesquisadores também usaram um aparelho mecânico para inclinar um cartucho contendo NPH para avaliar a mistura da insulina NPH. Os pesquisadores concluíramque somente 38 (35%) dos 109 cartuchos tinham valores próximos ao valor ideal (+/- 20%). Muitos poucos pacientes (9%) inclinaram e giraram suas canetas mais de dez vezes. Vinte ciclos de inclinar a caneta através de aparelhos mecânicos foram necessários antes de haver completa resuspensão da insulina NPH - um número substancialmente mais alto do que mostrado em protocolos padrão para o uso da caneta. Dos 44 pacientes que foram avaliados após o ensino adicional, os erros de suspensão diminuíram em 35 pacientes. Apesar de não ter tido mudança nas concentrações da hemoglobina glicosilada nos 35 pacientes com suspensão de insulina NPH melhorada, estes pacientes tiveram episódios hipoglicêmicos significativamente menores do que no período anterior. As inconsistências da dosagem de insulina podem ser prejudiciais à saúde. A hipoglicemia é uma barreira para atingir o bom controle da glicemia em alguns pacientes, e pode ser especialmente perigosa em pacientes idosos e em pacientes que não têm conhecimento de suas hipoglicemias. A recomendação é que os pacientes usando as canetas de insulina com preparações NPH, inclinem a caneta pelo menos 20 vezes, já que a mistura inadequada pode impedir o controle do diabetes. Diabetes Care 22:1245-1251, Setembro de 1999 Sven-Erik Bursell et al. Alta dose de suplementação de vitamina E normaliza o fluxo sangüíneo retiniano e a depuração de creatinina em pacientes com diabetes tipo 1 Objetivo: Determinar a eficácia do tratamento com vitamina E na normalização do fluxo sangüíneo retiniano e função renal em pacientes com < 10 anos de diabetes tipo 1. Desenho do estudo e métodos: Um estudo cruzado, randomizado, duplocego, controlado por placebo de 8 meses avaliou 36 pacientes diabéticos tipo 1 e 9 indivíduos não diabéticos. Os indivíduos foram selecionados aleatoriamente tanto para 1.800 IU de vitamina E/dia quanto para placebo por 4 meses e acompanhados, após o tratamento cruzado, por mais 4 meses. O fluxo sangüíneo retiniano foi medido usando a angiografia videoscópica com fluoresceína e a função renal foi avaliada usando a depuração de creatinina normalizada a partir de coletas de urina programadas. Resultados: Após o tratamento com vitamina E, os níveis séricos de vitamina E foram significativamente elevados (P < 0,01) em ambos os pacientes diabéticos tipo 1 e controles. A HbA1c não foi afetada pelo tratamento com vitamina E. O fluxo sangüíneo retiniano dos pacientes diabéticos (29,1±7,5 pixel2/s) foi significativamente reduzido (P = 0,030) em comparação com o dos indivíduos não-diabéticos (35,2±7,2 pixel2/s). Após o tratamento com vitamina E, o fluxo sangüíneo retiniano dos pacientes diabéticos (34,5±7,8 pixel2/s) foi significativamente elevado (P < 0,001) e foi comparável com o dos indivíduos não-diabéticos. Adicionalmente, o tratamento com vitamina E normalizou significativamente (P = 0,039) a depuração da creatinina inicialmente elevada nos pacientes diabéticos. Conclusões: O tratamento oral com vitamina E parece ser eficaz na nor- 254 Diabetes Clínica 03 (1999) contimuação malização das anormalidades hemodinâmicas retinianas e na melhora da função renal dos pacientes diabéticos tipo 1 de doença de curta duração sem induzir uma mudança significativa no controle glicêmico. Isto sugere que a suplementação de vitamina E pode proporcionar um benefício adicional na redução dos riscos para desenvolver a retinopatia ou nefropatia diabética. Diabetes Care, 22:1296-1301, Setembro de 1999 Dan Ziegler et al Tratamento de polineuropatia diabética sintomática com o ácido alfa-lipóico antioxidante - um estudo controlado randomizado multicêntrico de 7 meses (Estudo ALADIN III) Objetivo: Avaliar a eficácia e segurança do ácido alfa-lipóico administrado via I.V., seguido de tratamento oral em pacientes diabéticos tipo 2 com polineuropatia sintomática. Desenho do estudo e Métodos: Em um estudo multicêntrico, randomizado, duplo-cego, controlado por placebo (Ácido Alfa-Lipóico em Neuropatia Diabética (ALADIN) Estudo III), 509 pacientes foram selecionados aleatoriamente para tratamento seqüencial com 600 mg de ácido lipóico uma vez ao dia I.V., por 3 semanas, seguido por 600 mg de ácido lipóico três vezes ao dia via oral, por 6 meses (A-A; n = 167); 600 mg de ácido lipóico uma vez ao dia I.V. por 3 semanas, seguido por placebo três vezes ao dia via oral, por 6 meses (A-P; n = 174); e placebo uma vez ao dia I.V., por 3 semanas, seguido por placebo três vezes ao dia via oral, por 6 meses (P-P; n = 168). As medidas dos resultados incluíram o Escore Total do Sintoma (TSS) para sintomas neuropáticos (dor, queimação, parestesia, e dormência) nos pés, e o Escore de Impedimento Neuropático (NIS). A análise dos dados foi baseada na intenção de tratamento. Resultados: Não foi observada nenhuma diferença significativa entre os grupos para as variações demográficas e para os parâmetros da função do nervo a nível basal. O TSS nos pés diminuiu do início para o dia 19 (mediano [limite]) de 3,7 (-12,6 para 5,0) pontos no grupo usando ácido lipóico IV e de -3,0 (-12,3 para 8,0) pontos no grupo placebo (P = 0,447), mas a área sob a curva na base diária foi significativamente menor no grupo ativo em comparação com o grupo placebo (85,6 [0-219] vs. 95,9 [5,5-220]); P = 0,033). Após 7 meses, as mudanças no TSS inicial não foram significativamente diferentes entre os três grupos estudados, que poderiam ter sido devidas ao aumento da variabilidade no TSS durante o estudo. O NIS diminuiu após 19 dias em -4,34 ± 0,35 pontos (média ± SEM) no A-A e A-P e -3,49 ± 0,58 pontos no P-P (P=0,02 para -ácido lipóico versus placebo) e após 7 meses de -5,82 ± 0,73 pontos no A-A, -5,76 ± 0,69 pontos no A-P, e -4,37 ± 0,83 pontos no P-P (P=0.09 para A-A vs. P-P). Os índices de eventos adversos não foram diferentes entre os grupos durante todo o estudo. Conclusões: Estes resultados indicam que um tratamento de 3 semanas com ácido lipóico I.V., seguido por um tratamento oral por 6 meses, não teve efeito nos sintomas neuropáticos diferentes do placebo para um grau clinicamente significativo, possivelmente devido ao aumento da variabilidade no escore do sintoma durante o estudo. Porém, este tratamento foi associado com um efeito favorável no déficit neuropático sem causar reações adversas significativas. Os estudos a longo prazo que focalizam os déficits neuropáticos ao invés de sintomas como o critério primário de eficácia são necessários para ver se o tratamento oral com ácido lipóico por vários anos pode diminuir ou reverter a progressão da neuropatia diabética. Diabetes Clínica 03 (1999) Diabetes Care 22: 1266-1272, Setembro de 1999 S. Goya Wannamethee et al. 255 Mudança no peso e duração do excesso de peso e obesidade na incidência do diabetes tipo 2 Objetivo: Examinar a relação entre a mudança no peso e a duração do excesso de peso e obesidade e a incidência do diabetes tipo 2 em um coorte de homens ingleses de meia-idade. Desenho do Estudo e Métodos: Conduzimos um estudo prospectivo de doença cardiovascular em homens com idade entre 40-59 anos na ocasião da seleção (1978-1980), extraídos de uma clínica geral em 24 cidades Britânicas, que completaram um questionário via correio 5 anos depois (Q5) e para os quais os dados do IMC no ano 1 (Q1) e Q5 estavam disponíveis (n = 7.100). Homens com diabetes no Q1 e Q5 e homens com hiperglicemia no Q1 foram excluídos do estudo (n = 184). A principal medição de resultado foi o diabetes tipo 2 (diagnosticado pelo médico) durante um período médio de acompanhamento de 12 anos começando no Q5 (1983-1985). Resultados: Nos 6.916 homens sem história ou evidência de diabetes, houve 237 casos incidentes de diabetes tipo 2 durante o período médio de acompanhamento de 12 anos, um índice de 3,2/1.000 pessoa-ano. O ganho substancial de peso (> 10%) foi associado com um aumento significativo no risco de diabetes tipo 2 em comparação com aqueles homens com peso estável (risco relativo (RR) 1,61 (IC 95% 1,01-2,56) após ajuste para idade, IMC inicial, e outros fatores de risco. Excluindo os homens que desenvolveram diabetes dentro dos 4 anos após o período de mudança de peso, aumentou o risco adicional (1,81 [1,09-3,00]). Após o ajuste e a exclusão de homens que desenvolveram diabetes precoce no período de acompanhamento, a perda de peso (≥ 4%) foi associada com uma redução no risco de diabetes tipo 2, em comparação com aquele do grupo estável, que alcançou significância marginal (0,65 [0,42-1,03], P = 0,07). Um teste para tendência que ajustou a mudança de peso como uma covariante contínua mostrou o risco do diabetes aumentar significativamente da perda de peso máxima para o ganho de peso máximo (P = 0,0009). O risco mais baixo associado com a perda de peso foi observado nos indivíduos obesos (≥ 28 kg/m2) e nos indivíduos não obesos e nos homens com níveis de glicose sangüínea sem jejum normal (<6,1 mmol/l) e alta (≥ 6,1 mmol/l). Apesar de não ser estatisticamente significativo, isto é consistente com um benefício de perda de peso. O risco de diabetes tipo 2 aumentou progressivamente e significativamente com níveis elevados de IMC inicial e também com a duração do excesso de peso e obesidade (P < 0,0001) Conclusões: Este estudo confirma a importância crítica do excesso de peso e obesidade, e particularmente de longa duração, no desenvolvimento do diabetes tipo 2. Os dados apoiam as recomendações da saúde pública atual para reduzir o risco de diabetes tipo 2 prevenindo o ganho de peso em homens de meia idade que não estão com excesso de peso e encorajando a perda de peso nos homens com excesso de peso e obesos. Br J Ophthalmol 1999: 1042-1045, Setembro de 1999, Line Kessel et al. Visão para cores de diabético versus não-diabético após a cirurgia de catarata Objetivos: Examinar se as anormalidades da visão para cores encontradas em pacientes fáquicos com diabetes mellitus são preservadas após a remoção das lentes através da cirurgia de catarata. 256 contimuação Diabetes Clínica 03 (1999) Métodos: 21 pacientes diabéticos (16 tipo 1 e cinco tipo 2) e 19 indivíduos não-diabéticos com idade, acuidade visual pós-operatória, e distribuição por sexo, comparáveis, todos afáquicos ou pseudofáquicos após a cirurgia de catarata, tiveram sua visão monocular para cores examinada usando o teste de Farnsworth-Munsell 100 hue. A situação do exame de fundo de olho dos pacientes diabéticos variou de não retinopatia para retinopatia diabética proliferativa tratada por fotocoagulação. Os pacientes com edema macular foram especificamente excluídos do estudo. Resultados: Os pontos de erro de ambos os pacientes diabéticos (média 146 (DP 94)) e não-diabéticos (83 (79)) não desviaram significativamente do limite normal relacionados com a idade. A margem de erro no grupo diabético foi significativamente maior do que no grupo não diabético (p = 0,02) mas a amplitude de diferença foi pequena em comparação com os estudos anteriores dos pacientes fáquicos. A margem de erro no grupo diabético não foi correlacionado com o grau de retinopatia (p > 0,2). Conclusão: Após a cirurgia de catarata existe somente uma pequena diferença entre os escores de visão para cores de pacientes diabéticos e nãodiabéticos. Isto indica que o amarelado acelerado das lentes nos diabéticos é a causa predominante da anomalia da visão para cores encontrada em pacientes diabéticos fáquicos. 258 Diabetes Clínica 03 (1999) O Diabetes na Imprensa O Estado de São Paulo, 09/10/99 Estudo revela que técnicas de relaxamento auxiliam a baixar nível de açúcar Depois de ensinar técnicas de relaxamento aos pacientes que dependem do consumo de insulina, cientistas da Faculdade de medicina de Ohio, nos Estados Unidos, concluíram que os que sofriam de depressão, ansiedade e estresse tinham mais dificuldade em reduzir o nível de açúcar no sangue. Os médicos examinaram 18 adultos com esse tipo de diabetes. Metade dos pacientes recebeu cuidado médico, enquanto a outra metade aprendeu uma terapia de relaxamento conhecida como biofeedback, técnica que ajuda a pessoa a aliviar a dor, mudando o foco de atenção. Após examinar os pacientes, quatro semanas depois do término do tratamento, os cientistas descobriram que aqueles que não sofriam de depressão e ansiedade conseguiram reduzir os níveis de açúcar com técnicas de relaxamento. Entre os que praticaram métodos de relaxamento, aqueles que não sofriam de depressão diminuíram o nível de açúcar na sangue em 9%, enquanto os que não eram ansiosos tiveram redução de 12%. As pessoas que não praticaram técnicas de relaxamento não tiveram alterações no nível de glicose. Folha de São Paulo, 17/10/99 Diabetes mal tratado facilita infecção oral O diabetes não diagnosticado ou mal controlado afeta a saúde oral e o tratamento dentário, levando ao desenvolvimento de infecções periodontais (gengivais e alvéolos dentários), assinala estudo publicado no “Journal of periodontology” deste mês. Veja, 08/10/99, cartas dos leitores Adeus a seringa A reportagem “Adeus a seringa” (29 de setembro) contém incorreções capazes de induzir pacientes diabéticos a ações perigosas para sua saúde. A insulina não apresenta “efeitos colaterais como diarréia e problemas hepáticos”. Justamente porque é inegável o incômodo de injeções, quando o médi- Diabetes Clínica 03 (1999) 259 contimuação co receita a insulina é porque as outras formas de tratamento não foram suficientes para o controle: as injeções são necessárias ainda que em complementação a outras práticas e medicamentos. A eventual redução de doses de insulina (por vários fatores, temporários ou permanentes) não significa a eliminação de injeções, mas sim menor volume injetado. Receitada pelo médico, a insulina deve ser usada como prescrita para permitir ao diabético uma vida normal, com o adequado controle da glicemia, evitando as sérias complicações resultantes de um controle mal feito. Há muitos anos são disponíveis no Brasil medicamentos orais que promovem a melhor absorção da insulina endógena, secretada pelo próprio pâncreas do usuário, na maioria diabéticos do tipo 2 (...). Roberto Melo Carvalho, Diretor-presidente da Biobrás S/A Veja, 24/11/99 A mancha do diabetes Uma forma simples de fazer o diagnóstico precoce de diabetes em crianças, segundo médicos da Universidade do Texas, é observar se elas apresentam uma mancha clara que vai escurecendo e ficando áspera aos poucos. Essa mancha costuma aparecer principalmente no pescoço. Folha de São Paulo, 28/11/99 Substituto da insulina Estudos iniciais indicam que o elemento metálico vanádio, em pequenas doses, pode tratar o diabetes como substituto da insulina, relatam pesquisadores do instituto Weizmann de Israel, no Journal of biological Chemistry. Veja, 01/12/99 O fim da picada e os “remédios inteligentes” Em reportagem, a Veja apresenta a nova geracão de equipamentos que promete facilitar a vida do paciente diabético - tais como o Glucowatch, a seringua sem agulha, ou a bomba de infusão. “Os equipamentos e a variedade de alimentos dietéticos hoje existentes melhoraram sensivelmente a qualidade de vida do diabético”, constata Fadlo Fraige Filho, chefe do departamento de endocrinologia do Hospital Beneficência Portuguesa, et presidente da ANAD. Para não falar dos medicamentos que chegarão em breve ao mercado brasileiro. “São remédios inteligentes”, diz Fraige. Eles são assim considerados porque levam o organismo do diabético a trabalhar como o de uma pessoa saudável.Ou seja, reduzem a necessidade da aplicação de doses de insulina. 260 Diabetes Clínica 03 (1999) Avanços terapêuticos e tecnológicos American Society of Nephrology, 32nd Annual Meeting and Scientific Exposition, Miami, Novembro de 1999 Pimagedina tem potencial na prevenção de complicações diabéticas A Alteon Inc. anuncia os primeiros dados da Fase III do Estudo multicêntrico, duplo-cego, ACTION I, que examinou a capacidade da pimagedina em preservar a função renal em pacientes com diabetes tipo 1 e nefropatia diabética iminente. A fase III do estudo envolveu 690 pacientes de 56 clínicas da América do Norte. Os pacientes receberam inibidores de ECA, placebo ou pimagedina em doses baixas ou altas (300 mg ou 600 mg 2 x dia, titulada para função renal). Alteon reportou em novembro de 1998 que o tratamento com pimagedina resultou em uma redução estatística e clinicamente significativa da excreção da proteína urinária. Entretanto, os resultados também mostraram que enquanto a pimagedina reduziu o risco de duplicar a creatinina sérica, o principal parâmetro do estudo, os resultados não alcançaram significância estatística para este parâmetro. A pimagedina também reduziu a uma extensão estatisticamente significativa, os triglicerídeos e o colesterol LDL bem como a progressão da retinopatia. A pimagedina reduziu o nível de proteína urinária total de uma maneira alta e estatisticamente significativa (dose baixa p < 0,001, dose alta p = 0,001, associada p < 0,001) em pacientes submetidos a tratamento médico ótimo. Foi alcançada significância estatística com uma dose baixa em cada visita do 6º ao 36º mês. A pimagedina também retardou a progressão da doença renal diabética, especialmente em pacientes com nefropatia pouco avançada e naqueles que demonstraram uma redução na proteína urinária total. A progressão da retinopatia, medida como um aumento de 3 ou mais pontos na escala do Estudo sobre o Tratamento Precoce da Retinopatia Diabética (ETDRS), foi observada em 16% dos pacientes que receberam placebo, comparado a 11% em pacientes com baixa dose (proporção 0,58, p = 0,112), 8% em pacientes sob alta dose (proporção 0,46, p = 0,044), e 10% no grupo de tratamento associado (proporção 0,53, p = 0,030). A redução para os grupos placebo, dose baixa, dose alta e tratamento associado para colesterol total foi de 5,2, 21,3 (p < 0,001), 18,3 (p = 0,008), e 19,8 (p < 0,001) 22,9 (p = 0.002) respectivamente. Contudo, a pimagedina retardou a progressão da retinopatia e diminuiu os níveis lipídicos em pacientes com diabetes mellitus tipo 1 tratados de forma satisfatória. Eventos adversos relevantes relacionados com a pimagedina incluíam sín- Diabetes Clínica 03 (1999) 261 contimuação drome transitória parecida com a gripe, anemia e indução de auto-anticorpos. Os autores concluem que a pimagedina foi bem tolerada no tratamento com dose baixa com um perfil de segurança comparável ao braço placebo. Setembro de 1999 DIAB II, um novo sensibilizador de insulina A Biotech Holdings Ltd., anunciou os resultados dos estudos clínicos com DIAB II da Biotech, recentemente concluídos no Brasil. O DIAB II, uma droga oral para o diabetes, é um sensibilizador receptor de insulina, uma nova classe de medicações para o controle do nível constantemente alto de açúcar no sangue. O DIAB II atua melhorando a capacidade do paciente utilizar insulina endógena e injetada. O desenho do estudo foi examinado pela Biotech e pela Biobrás. O estudo avaliou o efeito nos pacientes diabéticos tipo 2 com a substituição das medicações atualmente em uso para o diabetes com o DIAB II. Admitidos no estudo, os pacientes continuaram sua atividade normal e seus padrões de alimentação enquanto os esquemas de medicação dos pacientes foram trocados para o DIAB II duas vezes ao dia. Os parâmetros determinados incluem insulina plasmática, colesterol HDL e LDL, triglicerídeos e hemoglobina glicosilada (HbA1c). O monitoramento da toxicidade e o acompanhamento do peso, pressão arterial, temperatura e freqüência arterial foram realizados durante múltiplas visitas durante um período de oito semanas. Durante o tratamento com DIAB II, nenhuma toxicidade hepática ou a algum órgão foi detectada em testes de laboratório e não houve qualquer relato de evento clínico adverso. A insulina plasmática, a relação HDL/LDL e os triglicerídeos foram muito bem controlados com o tratamento com o DIAB II assim como com a medicação que os pacientes estão acostumados. A mais importante medida, a HbA1c, mostrou níveis reduzidos durante o curso do estudo, para uma média de 5,85%, indicando um excelente controle diabético. Observou-se que, na média, os pacientes também experimentaram perda de peso no decorrer do tratamento. Dossiê Pioglitazone EASD (European Association for the Study of Diabetes), 35th Annual Meeting, Bruxelas, 28 de setembro de 1999, Gerald Reaven, Stanford, EUA A resistência à insulina: hiperglicemia, dislipidemia e doença arterial coronariana no diabetes tipo 2 Os resultados do Estudo Prospectivo sobre o Diabetes no Reino Unido (UKPDS) enfatizaram a dificuldade da prevenção da doença macrovascular com programas de tratamento cujo propósito era principalmente a redução das concentrações de glicose plasmática e/ou pressão arterial em pacientes com diabetes tipo 2. Um explicação para este achado é que nem o grau do controle glicêmico, nem a queda alcançada na pressão arterial, foram suficientes para reduzir a aterogênese acelerada associada ao diabetes tipo 2. De forma alternativa, é possível que outros fatores além da hiperglicemia e hipertensão contribuam para o risco de doença macrovascular no diabetes tipo 2. Por exemplo, anormalidades no metabolismo da lipoproteína são comuns em pacientes com diabetes tipo 2 e contribuem para o aumento na prevalência da doença arterial coronariana nestes indivíduos. Entretanto, a dislipide- 262 contimuação Diabetes Clínica 03 (1999) mia em pacientes com diabetes tipo 2 não é caracterizada pela hipercolesterolemia, mas em vez disso por: 1) um perfil aterogênico da lipoproteína que consiste de altas concentrações de triglicerídeos e baixa concentrações de HDL; 2) partículas de LDL menores e mais densas; 3) aumento da lipemia pós-prandial. Nenhuma destas anormalidades foi levantada no UKPDS. O perfil aterogênico da lipoproteína descrito acima não está limitado a pacientes com diabetes tipo 2, mas é o achado característico em indivíduos não diabéticos, resistentes à insulina (Síndrome X). Além disso, existe evidência que células mononucleares isoladas de indivíduos resistentes à insulina, se ligam com mais avidez ao endotélio em cultura, associada com aumentos nas concentrações plasmáticas das moléculas de aderência celular – alterações envolvidas nos estágios iniciais na aterogênese. Com relação a estes achados, e devido ao fato de que a grande maioria dos pacientes com diabetes tipo 2 são resistentes à insulina, independentemente do grau da hiperglicemia, uma abordagem completamente diferente da prevenção da doença macrovascular seria enfocar os esforços para aliviar a resistência à insulina em pacientes com diabetes tipo 2. O surgimento dos compostos a base de tiazolidinediona que exercem seus efeitos na redução da glicose plasmática melhorando a sensibilidade à insulina, torna agora possível avaliar este tratamento alternativo. A provável utilidade destes novos sensibilizadores de insulina será sustentada pela apresentação de dados que mostram a relação entre a resistência à insulina e: 1) um perfil altamente aterogênico da lipoproteína; 2) ligação intensificada da célula mononuclear ao endotélio; 3) aumento da oxidação do LDL; 4) maiores concentrações circulantes de moléculas de adesão celular. Com base nesta informação, é possível que o tratamento da resistência à insulina possibilite uma abordagem eficaz para a redução da doença microvascular e macrovascular em pacientes com diabetes tipo 2 e possa mudar nossas estratégias de tratamento no futuro. Dossiê Pioglitazona EASD (European Association for the Study of Diabetes), 35th Annual Meeting, Bruxelas, 28 de setembro de 1999, David Matthews, Oxford, RU O que exigimos de uma nova medicação para o tratamento do diabetes? O atual manejo do diabetes tipo 2 enfoca o estrito controle glicêmico através do uso de agentes antidiabéticos orais das classes da sulfoniluréia e biguanida, isoladamente ou em associação. Resultados recentes do estudo UKPDS indicam que esta abordagem certamente beneficia a doença microvascular, e provavelmente reduz as complicações macrovasculares. As sulfoniluréias aumentam a função da célula β, mas grande parte do atual tratamento falha em atacar a resistência à insulina, uma anormalidade fundamental associada ao desenvolvimento do diabetes tipo 2. O tratamento convencional com compostos a base de sulfoniluréia au- Diabetes Clínica 03 (1999) contimuação 263 menta os níveis de insulina plasmática estimulando a liberação de insulina do pâncreas. Isto aumenta o estresse da célula bêta, e a função destas células diminui inexoravelmente. A hiperinsulinemia ocorre nos estágios iniciais da doença e pode estar associada ao aumento no risco aterogênico. As biguanidas, como por exemplo a metformina, são agentes eficazes para reduzir a glicose plasmática, mas estão associadas a significativos problemas de tolerabilidade e são contra-indicadas para alguns pacientes diabéticos. Uma nova abordagem para o manejo do diabetes tipo 2 foi anunciada com a descoberta das tiazolidinedionas, uma classe de agentes sensibilizadores de insulina. A base molecular de ação das tiazolidinedionas é via ativação do receptor nuclear de PPAR-g, e subsequente alteração na expressão dos genes envolvidos no metabolismo dos lípides e hidratos de carbono. À luz de nossas limitações com os atuais agentes antidiabéticos orais na prática diária, torna-se agora vital a necessidade de novos agentes. O perfil da medicação ideal deveria incluir: • segurança no uso; • controle glicêmico durável; • boa tolerabilidade e esquema de dosagem de fácil administração; • ampla variedade de uso em um amplo espectro de pacientes diabéticos tipo 2; • uso no tratamento isolado ou com associação; • nenhuma hipoglicemia. Porém o mais importante, a marca de um agente de sucesso seria a existência de benefícios significativos a longo prazo na redução das complicações teciduais e melhora na longevidade e qualidade de vida. Dossiê Pioglitazona EASD (European Association for the Study of Diabetes), 35th Annual Meeting, Bruxelas, 28 de setembro de 1999, Burkhard Göke, Berna, Suíça Estratégias práticas de manejo Quando o diabetes tipo 2 é diagnosticado, são consideradas primeiramente e antes de qualquer coisa, medidas relacionadas ao tratamento não-medicamentoso. Isto significa treinamento intensivo cujo objetivo principal é realizar uma mudança nos hábitos alimentares e no estilo de vida. Entretanto, a experiência mostra que estas medidas não são suficientes para alcançar um bom controle metabólico na maioria dos pacientes. As medidas relacionadas ao tratamento farmacológico compreendem várias classes de substâncias que se baseiam em uma variedade de modos de ação. Se o paciente ainda apresenta secreção de insulina, o tratamento com medicamentos antidiabéticos orais é indicado. São eles os inibidores da alfaglicosidase, as sulfoniluréias e a biguanida metformina. As sulfoniluréias aumentam a secreção de insulina pelo pâncreas e por conseguinte aumentam a disponibilidade do hormônio. Isto leva a uma diminuição pronunciada do açúcar no sangue. Entretanto, os níveis de insulina que já estão altos, especialmente na fase inicial da doença, aumentam ainda mais. A ocorrência de episódios hipoglicêmicos, especialmente com as antigas sulfoniluréias, apresenta outros efeitos prejudiciais. Estes podem seguir um curso com poucos sintomas apresentando porém conseqüências clínicas desastrosas para a função cerebral principalmente em pacientes idosos. Espera-se que cerca de 10% dos pacientes por ano apresentem uma não-reposta secundária, ou seja, falta de eficácia do tratamento. 264 contimuação Diabetes Clínica 03 (1999) A biguanida metformina atua primeiramente inibindo a gliconeogênese hepática. Além disso, estão em discussão os efeitos sobre a resistência periférica à insulina. Entretanto, a falta de uniformidade em estudos clínicos e a incerteza sobre seu mecanismo de ação torna difícil qualquer avaliação. Pensase que a inibição da glicogênese hepática dura tanto quanto a atividade da medicação. A boa eficácia da metformina, em comparação com outros antidiabéticos orais e a insulina, foi recentemente confirmada no estudo UKPDS. Sintomas de intolerância gastrointestinal e a rara, porém freqüentemente séria, acidose láctica deveriam ser mencionados como efeitos colaterais potenciais. Existem várias contra-indicações para a metformina, como por exemplo, idade avançada, disfunção hepática, insuficiência circulatória e disfunção renal, bem como, cirurgia e testes com meios de contraste. Estas limitam muito o uso desta medicação. Os inibidores de alfa-glicosidade retardam a absorção entérica dos dissacarídeos e assim reduzem principalmente os níveis elevados de glicose pósprandial. Reclamações gastrointestinais como diarréia e flatulência, entretanto, limitam seu uso e dificultam a adesão do paciente. A resistência à insulina, bem como a deficiência obrigatória da secreção de insulina, podem ser detectadas na maioria dos casos de diabetes tipo 2. Esta resistência sempre existiu durante anos antes do diagnóstico e pode até ser observada em diabéticos que recebem insulina. Uma desvantagem dos medicamentos antidiabéticos disponíveis agora é que eles influenciam a resistência à insulina somente como um efeito secundário da redução dos níveis elevados de glicose. Um modo de ação direto fisiopatologicamente orientado está agora disponível com a nova classe das glitazonas. As glitazonas, como a pioglitazona, diminuem não somente o açúcar no sangue como também a insulina e os níveis de peptídeo C uma vez que elas aumentam a eficácia da insulina endógena e exógena. Isto demonstra sua ação principal como sensibilizadores de insulina e abre amplas possibilidades tanto na monoterapia como no tratamento associado a outros antidiabéticos orais e insulina. O tratamento inicial com glitazona, faz sentido devido à importância fisiopatológica da resistência à insulina mesmo na fase pré-diabética. Os pacientes que não apresentam um controle satisfatório com sulfoniluréias ou metformina são também candidatos adequados. A necessidade de doses crescentes de insulina é uma clara indicação de resistência à insulina em pacientes que recebem insulina. Neste caso, um melhor controle metabólico com redução da necessidade de insulina e uma menor freqüência de aplicação pode ser alcançada com o tratamento com glitazona. A pioglitazona é um membro da nova classe das glitazonas que apresentam várias características especiais. Estudos clínicos mostram que, apesar da diminuição nos níveis de glicose em jejum e pós-prandial, ocorre uma melhora acentuada no perfil dislipidêmico durante o tratamento com pioglitazona: ácidos graxos livres e triglicerídeos diminuem, enquanto o colesterol HDL aumenta e o colesterol LDL permanece inalterado. Tanto quanto a redução do açúcar no sangue, isto promete um efeito benéfico adicional no perfil de risco aterogênico. A pioglitazona pode ser administrada um vez ao dia independentemente dos horários das refeições. Da mesma forma, a idade avançada e a função renal comprometida não requerem qualquer redução na dose. Não existem interações conhecidas até agora. Diabetes Clínica 03 (1999) Dossiê Pioglitazona EASD (European Association for the Study of Diabetes), 35th Annual Meeting, Bruxelas, 28 de setembro de 1999, A.L.Mathisen et al. 265 O efeito da pioglitazona no controle da glicose e o perfil lipídico em pacientes com diabetes tipo 2 Objetivos: Estudar o efeito da pioglitazona (PIO), uma nova tiazolidinediona, no controle da glicose e perfil lipídico em pacientes com diabetes tipo 2. Materiais e Métodos: Estudo multicêntrico, duplo-cego, controlado por placebo. Os pacientes foram admitidos para um período de rastreamento de 1 semana seguido por 5 semanas com dose única de placebo. Os pacientes foram então randomizados para PIO 30 mg (n = 101) ou placebo (n = 96) por 16 semanas. Foram reportados os valores basais, média mínima ao quadrado da alteração a partir do período basal (basal D) e média mínima ao quadrado da alteração do placebo (placebo D). Os respondedores foram definidos como diminuição > 0,6% na HbA1c ou diminuição de > 30 mg/ dl na glicose plasmática em jejum (GPJ). Resultados: HbA1c (%) GPJ (mg/dl) Triglicerídeos (TG) (mg/dl) Colesterol-HDL (mg/dl) Tratamento Basal D basal P PIO P PIO P PIO P PIO 10.28 10. 54 270.1 272.6 335.1 400.4 39.3 37.7 0.76* -0.60 7.7 49.8* -18.5 103.8* 0.3 5.3* D placebo 1.37** -57.5** -85.2** 5.0** * p ≤ 0.05 vs basal (teste pareado t); ** p ≤ 0.05 vs basal (teste de Dunnett) PIO reduz significativamente a HbA1c e a GPJ. Além disso um número maior de pacientes que receberam PIO foram classificados como respondedores quanto a HbA1c (48% vs. 11%) e GPJ (61% vs. 23%). Além disso os níveis de GP em jejum estavam reduzidos de forma significativa enquanto os níveis de colesterol HDL estavam significativamente aumentados em resposta a PIO. Os níveis de colesterol total e colesterol LDL não diferiam de forma significativa do placebo. Conclusões: A monoterapia com PIO melhora o controle glicêmico e o perfil lipídico em pacientes com diabetes tipo 2 Dossiê Pioglitazona EASD (European Association for the Study of Diabetes), 35th Annual Meeting, Bruxelas, 28 de setembro de 1999, J.M. Kortboyer et al. Pioglitazona causa poucas interações medicamentosas Objetivo: A pioglitazona (PIO) é um agente antihiperglicêmico eficaz para o tratamento do diabetes tipo 2. É altamente ligada à albumina. Estudos in vitro não mostraram inibição da isoenzima citocromo P450 pela PIO. O objetivo deste estudo foi investigar a influência da PIO na farmacodinâmica e farmacocinética das medicações comumente prescritas para o tratamento do diabetes tipo 2 e as complicações associadas a elas. Materiais e Métodos: A PIO (dose única e doses repetidas de 45 mg/dia) foi co-administrada com varfarina, fenoprocumona, glipizida, metformina ou digoxina em voluntários saudáveis. Resultados: A PIO não causou alterações farmacocinéticas ou farmacodinâmicas significativas na medicação co-administrada. Além disso, a co-ad- 266 Diabetes Clínica 03 (1999) contimuação ministração de PIO com qualquer destas medicações foi segura e bem tolerada. A PIO passa por extenso metabolismo hepático pela hidroxilação dos grupos metileno alifático, predominantemente via enzimas citocromo P450 CYP3A4, CYP2C8/9 e CYP1A1/2. A varfarina-R e seu enantiômero ativo varfarina-S são metabolizadas pela CYP1A1/2 e CYP2C9, respectivamente. Os perfis farmacocinéticos da varfarina-R e da varfarina-S não foram afetados pelas doses repetidas da PIO. Isto sugere que a medicação não inibe nem induz estas enzimas P450. A exposição de voluntários sadios à PIO não faz efeito na relação 6-beta-hidrocortisol urinário/cortisol (um marcador geralmente aceito da CYP3A4), sugerindo que a CYP3A4 não é induzida. Conclusão: Estes dados sugerem que a PIO não produz efeito na farmacocinética e farmacodinâmica da varfarina, fenoprocumona, glipizida, metformina ou digoxina, e não parece induzir ou inibir o sistema isoenzima P450. A PIO apresenta apenas um pequeníssimo potencial para interações medicamentosas em pacientes com diabetes tipo 2. Comentário: A pioglitazona não induz a isoenzima CYP-3A4, que é responsável por metabolizar 40% das substâncias atualmente disponíveis. É depurada predominantemente pelo fígado, o que significa que não precisa ajuste de dose no caso de insuficiência renal, porque não terá qualquer efeito sobre os rins, mesmo em pacientes com idade mais avançada. Em várias medidas de farmacocinética, a pioglitazona não apresentou mais efeitos que o placebo quando testada com várias outras substâncias. A princípio, os pesquisadores não observaram interações medicamentosas com os pacientes porque não seria ético desenhar estudos clínicos com tal resultado. Portanto, as alegações de que a pioglitazona não causa interações medicamentosas são baseadas nas concentrações urinárias de uma substância conhecida como betahidrocortisol e hidroxicortisol, e que são consideradas como marcadores substitutos para a indução da insoenzima CYP3A4. Estima-se que mais de 150 substâncias comumente disponíveis, incluindo a pioglitazona, são metabolizadas pela CYP3A4. Houve relatos também que certas substâncias como o antifúngico cetoconazol inibiria o metabolismo pela pioglitazona pela CYP 3A4 e isto, poderia apresentar interações potencialmente perigosas. Poderia também anular o benefício da pioglitazona e levar a concentrações potencialmente perigosas da pioglitazona no fluxo sangüíneo do paciente. As TZDs são os primeiros agentes orais que tratam o diabetes promovendo a captação de glicose no tecido adiposo e muscular. A resistência à insulina é causada quando a gordura e as células musculares são incapazes de absorver glicose no fluxo sangüíneo, mesmo com ajuda da insulina. As glitazonas sintetizam a gordura e as células musculares através da ligação a um determinado receptor celular, conhecido como PPAR-gama, que “ensina a célula a depender do genes para promover a ação da insulina.” Dossiê Rosiglitazona EASD (European Association for the Study of Diabetes), 35th Annual Meeting, Bruxelas, 28 de setembro de 1999, M. Rendell et al. A rosiglitazona melhora o controle glicêmico sem afetar adversamente a função cardíaca no diabetes tipo 2 Objetivo: A rosiglitazona (RSG) é uma tiazolidinediona potente que reduz a resistência à insulina e melhora o controle glicêmico em pacientes com diabetes mellitus tipo 2 (DMT2). Em estudos com animais, todas as tiazolidinedionas produziram hipertrofia cardíaca. As doses de RSG maior Diabetes Clínica 03 (1999) contimuação 267 que 100 vezes a dose terapêutica humana produziram aumentos reversíveis no peso cardíaco em ratos e em cachorros sem efeitos histopatológicos significativos. Este estudo pesquisou o efeito do tratamento a longo prazo sem que fosse usada a dose terapêutica máxima de RSG na estrutura cardíaca e função em pacientes sem DMT2 e também avaliou mudanças no controle glicêmico. Materiais e Métodos: Duzentos e três pacientes foram selecionados aleatoriamente para receber gliburida (GLB) (dose média 10,5 mg/dia) ou RSG 4 mg/dia por 52 semanas. As mudanças no índice de massa ventricular esquerda (IMVE), fração de ejeção (FE), volume diastólico final ventricular esquerdo (VDFVE) foram avaliados através do ecocardiograma Modo-M. O controle glicêmico foi avaliado através da HbA1c e glicose plasmática em jejum (GPJ). Resultados: a RSG e GLB apresentaram pequenos efeitos, clinicamente insignificantes, no IMVE. Nenhum paciente mudou de IMVE baixo ou normal no nível basal para IMVE alto no tratamento. A FE não mudou nos dois grupos de tratamento. Ambos os grupos apresentam aumentos clinicamente insignificantes no VDFVE. A RSG reduziu significativamente a pressão arterial (2,3 mmHg; P = 0,0016) quando avaliada na monitorização ambulatorial de 24 horas. A mudança média do valor basal na HbA1c foi de -0,9 ± 1,4 em ambos os grupos GLB e RSG. A mudança do valor basal na GPJ na semana 52 foi de -3,11 mmol/l no grupo GLB em comparação com -3,61 mmol/l no grupo RSG. Conclusão: O tratamento com RSG 4 mg por 52 semanas melhorou o controle glicêmico e não afetou adversamente a estrutura ou a função cardíaca nos pacientes com DMT2. IMVE Gliburida RSG 4 mg bd HbA1c (%) Gliburida RSG 4 mg bd Valor Basal (N) 28ª Semana (N) 52ª Semana (N) 75±19,0 (97) 75±20,2 (104) 76±17,2 (71) 78±17,9 (72) 78±16,5 (63) 79±17,9 (58) 9,5±1,59 (99) 9,1±1,68 (104) 8,1±1,46 (77) 8,2±1,60 (74) 8,4±1,46 (68) 8,0±1,73 (61) Todas os valores representam a média ± D.P. Dossiê Rosiglitazona EASD (European Association for the Study of Diabetes), 35th Annual Meeting, Bruxelas, 28 de setembro de 1999, R. Gomis et al. Baixa dose de rosiglitazona melhora o controle glicêmico quando associada às sulfoniluréias no diabetes tipo 2 Objetivos: Investigar a eficácia das baixas doses de rosiglitazona (RSG) quando adicionada ao tratamento com sulfoniluréia (SU) no diabetes tipo 2 (DT2). Materiais e métodos: Estudo duplo-cego, randomizado, de seis meses, de 574 pacientes com DT2 que receberam RSG (2 ou 4 mg divididas em 2 doses) ou placebo (PBO), em associação à SU. Todos os pacientes tinham recebido glicazida, glibenclamida ou glipizida por > 6 meses. Resultados: A RSG produziu reduções clínica e estatisticamente significativas na HbA1 e GPJ, com os maiores efeitos na titulação de 4 mg/d. As melhoras na HbA1c foram as mesmas, independentemente do uso de SU. Foram observadas diminuições na FFA (c. 15%) e aumentos no HDL (c.10%) e LDL (C.5%) com a RSG 4 mg/d. A incidência de eventos adversos foi similar em todos os 3 grupos, sem que houvesse hipoglicemia ou hepatoxicidade significativas. 268 Diabetes Clínica 03 (1999) contimuação HbA1c (%) Média basal Média D a partir do período basal ± DP Diferença da SU isolada % com redução GPJ (mmol/l) Média basal Média D a partir do período basal ± DP Diferença da SU isolada % com redução> 1,7 mmol/l SU Isolada (n=192) SU + RSG 2 mg/d (n=199) SU +RSG 4 mg/d (n=183) 9.2 9.2 9.2 +0.2 ± 1.11 NA 19% -0.5 * ± 1.05 -0.6* 39% + -0.9* ± 1.10 -1.0* 60% + 11.5 11.3 1.4 0.3 ± 2.7 NA 21% –0.9* ± 2.7 –1.3* 38% + –2.1* ± 2.6 2.4* 56% + *P < 0,0001; B P < 0,0001 para comparação com SU isolada Conclusões • Rosiglitazona 4 mg/dia foi eficaz na redução da HbA1c, na glicose plasmática em jejum e na frutosamina em pacientes com diabetes tipo 2 que já estavam recebendo sulfoniluréia como suporte. • Foram observadas diminuições significativas na FFA (c.15%) em pacientes recebendo RSG 4 mg/dia + SU; níveis elevados de FFA estão envolvidos na patogênese do diabetes tipo 2 (Paolisso 1998). • A incidência de sintomas de hipoglicemia foi muito baixa em todos os grupos de tratamento. • Nenhum evento adverso relatado ou avaliação laboratorial no grupo de dosagem de RSG indicou toxicidade hepatocelular. A RSG associada a SU foi segura e bem tolerada em pacientes com diabetes tipo 2. • Quando associada ao tratamento com SU, a RSG 4 mg/dia foi aproximadamente duas vezes mais eficaz que a RSG 2 mg/dia. Houve uma pequena diferença no perfil de segurança benigno das duas doses. O estudo sustenta a utilidade clínica e investigação adicional de doses mais altas de RSG em associação com SU. • A adição de RSG ao tratamento com SU oferece melhoras significativas no controle glicêmico sem aumentar a incidência de hipoglicemia. Dossiê Rosiglitazona EASD (European Association for the Study of Diabetes), 35th Annual Meeting, Bruxelas, 28 de setembro de 1999, M. Kreider Rosiglitazona é eficaz e bem tolerada em pacientes com mais de 65 anos e com diabetes tipo 2 Objetivos: Examinar as evidências da eficácia e segurança da rosiglitazona (RSG) em pacientes com diabetes mellitus tipo 2 (DMT2) com idade > 65 anos Materiais e Métodos: Dados coletados de dois estudos randomizados, duplo-cegos e controlados por placebo da RSG como monoterapia para o DMT2. Resultados: Em dois estudos de 26 semanas, a RSG 4 mg/d e 8 mg/d produziram efeitos de tratamento similares na glicose plasmática em jejum (GPJ) e na HbA1c em pacientes com idade < 65 anos e naqueles ≥ 65 anos, com diminuições de até 4,4 mmol/l na GPJ e até 1,6 pontos percentuais na HbA1c em pacientes que receberam 8 mg/d. Dos 2.526 pacientes que receberam a monoterapia com RSG em estudos duplo-cegos, 33% tinham > 65 anos. Entre estes pacientes, a incidência de eventos adversos (EA) foi simi- Diabetes Clínica 03 (1999) contimuação 269 lar à reportada em pacientes < 65 anos. Ocorreu edema em 3,5% dos pacientes < 65 anos e 7,5% dos pacientes > 65 anos no grupo da RSG isolada e em até 1,7% dos pacientes do grupo PBO. Ocorreu anemia em 1,7% e 2,5% dos pacientes < 65 anos e > 65 anos, respectivamente, no grupo de RGA isolada e em até 1% dos pacientes no grupo PBO. Ocorreu hipoglicemia em < 1% dos pacientes na monoterapia com RSG, independentemente da idade. Incidência de Eventos Adversos RSG Monoterapia Placebo Evento Adverso < 65 (n=1694) > 65 (n=832) < 65 (n=494) > 65 (n=197) Infecção respiratória superior Dano Infecção do trato urinário Dor nas costas Hiperglicemia Cefaléia Edema dependente Fadiga Dor Artralgia Infecção Viral Anormalidade Visual Sinusite 11,1% 7,7% 3,2% 3,7% 3,7% 6,7% 1,5% 3,5% 2,7% 3,0% 3,9% 2,4% 4,4% 7,6% 7,5% 4,9% 4,7v 4,4% 4,2% 4,1% 3,8% 3,5% 3,2% 1,9% 1,4% 1,0% 9,4% 4,7% 2,7% 3,2% 5,4% 5,0% 0,7% 4,7% 4,0% 3,7% 3,7% 3,2% 5,4% 7,1% 3,6% 3,6% 5,1% 6,1% 5,1% 0,5% 5,6% 5,1% 4,6% 4,6% 4,1% 2,5% Conclusões: • A rosiglitazona foi segura e bem tolerada em pacientes idosos, com uma incidência semelhante de eventos adversos observada em pacientes com < 65 anos de idade e naqueles com ≥ 65 anos de idade. • A maioria dos eventos adversos relatados em ambos os grupos foram classificados como “leves” ou “moderados” e raramente levou à descontinuação do medicamento do estudo. • A monoterapia com rosiglitazona resultou em melhoras semelhantes no controle glicêmico em ambos os grupos de idade. Os perfis de segurança e eficácia da rosiglitazona torna-o uma opção de tratamento atrativo para pacientes idosos com diabetes tipo 2. Dossiê Rosiglitazona EASD (European Association for the Study of Diabetes), 35th Annual Meeting, Bruxelas, 28 de setembro de 1999, H. Cranner et al. Rosiglitazona é eficaz em pacientes obesos e não obesos com diabetes tipo 2 Objetivos: Avaliar a eficácia da rosiglitazona (RSG) em pacientes obesos e não obesos com diabetes tipo 2 (DT2). Materiais e Métodos: Os dados foram agrupados de estudos duplo-cegos, multicêntricos, da RSG, usada como monoterapia no DT2, nos quais um total de 1985 pacientes previamente tratados com dieta e exercício ou tratamento com hipoglicêmico oral apresentavam glicose plasmática em jejum (GPJ) e índice de massa corporal (IMC) avaliáveis. Nestes estudos, os pacientes foram randomizados para receber: RSG 4 mg, 8 mg, ou glibenclamida (1 estudo); RSG 4 mg, 8 mg, ou placebo (2 estudos). A mudança do valor basal na GPJ após 6 meses de tratamento foi anali- 270 contimuação Diabetes Clínica 03 (1999) sada de acordo com a categoria do IMC (obeso: ≥ 27 kg/m2; não obeso: < 27 kg/m2). Resultados: Estão tabulados abaixo. Placebo Rosigilitazona 4 mg/d Rosiglitazona 8 mg/d Glibenclamida Não obeso (IMC ≥ 27 kg/m2) Não obeso (IMC < 27 kg/m2) N Média ± D.P. N Média ± D.P. 227 532 515 124 +0,76 ± 0,20 -2,04 ± 0,12 -2,86 ± 0,13 -2,51 ± 0,22 103 195 210 79 +0,67 ± 0,33 -1,34 ± 0,19 -2,46 ± 0,18 -2,52 ± 0,26 Conclusões: • Apesar da tendência da resistência à insulina ser maior em pacientes obesos, a rosiglitazona (4 mg/dia ou 8 mg/dia) é eficaz na melhora do controle glicêmico em pacientes obesos e não obesos com diabetes tipo 2. • A rosiglitazona diminui a glicose plasmática em jejum e as concentrações de insulina sérica, indicando aumento na sensibilidade à insulina nos tecidos periféricos. A diminuição na insulina sérica é mais pronunciada nos pacientes com IMC ≥ 27 kg/m2. • A monoterapia com rosiglitazona reduz as concentrações de ácido graxos livres nos paciente obesos e não obesos. Beth Dunning, Membro associado principal, Farmacologia do Diabetes, Novartis, Summit, EUA Nateglinida melhora o controle da glicose durante a refeição, graças à recuperação da secreção precoce de insulina As variações excessivas de glicose no período de refeição constituem um fator de risco independente para as complicações macrovasculares do diabetes devido, pelo menos em parte, à secreção excessiva reativa (pós-refeição) da insulina. As variações excessivas de glicose são também contribuição importante para a exposição glicêmica total e as complicações microvasculares associadas. A causa subjacente da variação excessiva de glicose no período de refeição em todas as formas de diabetes tipo 2 é a redução da liberação precoce de insulina (alteração da cinética da secreção de insulina). As alterações da cinética da secreção de insulina são manifestadas como uma ausência de liberação precoce de insulina durante os testes intravenosos de tolerância à glicose, liberação de insulina postergada e prolongada durante os testes orais de tolerância à glicose ou refeições, liberação de insulina anticipatória alterada (fase cefálica) em pacientes obesos. Desde que se sabe que bloqueando a liberação precoce de insulina em indivíduos saudáveis irá alterar a tolerância à glicose e, ao contrário, repondo a liberação precoce de insulina com insulina exógena em pacientes com diabetes irá melhorar a tolerância à glicose, um agente oral que repõe ou restaura a cinética normal da secreção de insulina deverá proporcionar o controle glicêmico ótimo no momento da refeição enquanto minimiza a exposição total de insulina e as comorbidades associadas com insulina. O derivado de D-fenilalanina, nateglinida, é um agente insulinotrópico de início rápido/curta duração que estimula preferencialmente a liberação precoce de insulina de modo sensível à glicose, remanescente de outros aminoácidos. Os efeitos da nateglinida foram comparados com aqueles do agente de ação rápida, a repaglinida, em um modelo primata não-humano de diabetes leve. Um Diabetes Clínica 03 (1999) contimuação 271 esquema de super alimentação crônico, consistindo de acesso ad-libitum a uma dieta de alta-gordura e suplementos diários de alimentos altamente saborosos de alta caloria, em macacos Cynomolgus masculinos adultos, produziu um modelo com as características do diabetes tipo 2. Comparações pareadas antes e após ~1 ano de super alimentação demonstrou que estes macacos tinham obesidade abdominal, elevações de glicose em jejum e insulina, tolerância à glicose prejudicada (TGP), sensibilidade à insulina reduzida, liberação precoce de insulina e liberação de insulina reativa exagerada. A administração oral de doses equipotentes de nateglinida e repaglinida trouxe diferentes perfis acentuados em macacos Cynomolgus. Quando administrados por via oral a macacos levemente diabéticos em estado de jejum, observou-se aumentos máximos de insulina similares nos animais tratados com nateglinida e repaglinida. Porém, após a administração de nateglinida, os níveis de insulina próximos aos máximos ocorreram dentro de 10 minutos e os níveis retornaram ao nível basal dentro de 1 hora, enquanto após a administração com repaglinida os níveis máximos de insulina não ocorreram até 70 minutos pós-dose e foi observada hiperinsulinemia essencialmente no estado estacionário por 3 horas. Ao manter seus diferentes perfis de insulina, os efeitos da repaglinida de reduzir a glicose foram substancialmente diferentes. Picos de glicose semelhantes ocorreram nos 60 e 90 minutos após a administração oral da nateglinida e repaglinida, respectivamente. Porém, os níveis de glicose voltaram ao nível basal dentro de 3,5 horas da administração da nateglinida, a hipoglicemia no estado-estacionário após a administração de repaglinida não foi resolvida dentro do período de amostra de 3,5 horas. Assim, a nateglinida, mas não a repaglinida, mostrou ser um agente insulinotrópico verdadeiramente de início rápido/curta duração. A relação farmacocinética/farmacodinâmica para a nateglinida e repaglinida em macacos levemente diabéticos ilustra as propriedades cinéticas e dependente da glicose da nateglinida. Os níveis de pico da droga foram atingidos ~20 e ~30 minutos após a administração da nateglinida e repaglinida, respectivamente. Os níveis de insulina aumentaram imediatamente após o aparecimento dos níveis mensuráveis da nateglinida, o pico da insulina e os níveis da droga ocorreram simultaneamente, e os níveis de insulina caíram rapidamente com relação ao nível basal antes do desaparecimento da droga, presumidamente como um resultado da hipoglicemia resultante. Em contraste, os aumentos de insulina deixaram para trás os níveis plasmáticos da repaglinida, os níveis de pico da insulina foram alcançados 20 minutos após os níveis de pico da droga, e a hiperinsulinemia foi sustentada por > 2 horas após a eliminação da repaglinida circulante, apesar da hipoglicemia. Daí, apesar da farmacocinética semelhante, a farmacodinâmica da nateglinida é mais rápida e transitória e mais sensível à glicose do que da repaglinida. Quando administrado aos macacos TGP 10 minutos antes de uma refeição líquida, a nateglinida estimulou somente a liberação de insulina precoce (versus controles tratados com placebo) enquanto que a repaglinida aumentou a resposta da insulina a uma refeição por todo o período de observação pós-refeição de 3,5 horas. Apesar da nateglinida ter produzido hiperinsulinemia mínima, foi mais eficaz do que a repaglinida na supressão das variações de glicose no período de refeição. A nateglinida reduziu acentuadamente a geração das variações enquanto que a repaglinida afetou somente a eliminação da glicose (i.e. a nateglinida reduziu os níveis de pico de glicose enquanto que a repaglinida não). O efeito líquido da nateglinida foi reduzir o aumento AUC da glicose em ~80% enquanto que só modestamente reduz o aumento da a área sob a curva de (AUC) insulina (com relação aos controles tratados com placebo). Em contraste, a repaglinida reduziu o aumento da AUC da glicose em ~50% enquanto que dobrou o aumen- 274 Diabetes Clínica 03 (1999) contimuação to AUC da insulina. Portanto, em virtude desta farmacodinâmica única, a nateglinida é mais eficaz no controle das variações da glicose no período da refeição, mas minimiza a exposição total à insulina. Um estudo de farmacologia clínica semelhante comparou os efeitos de doses equipotentes de nateglinida e repaglinida nas respostas à insulina e à glicose após uma refeição sólida em voluntários sadios. Como prognosticado pelos resultados em primatas não-humanos, a nateglinida aumentou os níveis de insulina mais prontamente e por um tempo mais curto do que a repaglinida, mas foi mais eficaz do que a repaglinida na redução das variações de glicose no período de refeição com menos hipoglicemia reativa. Concluímos que a nateglinida é o regulador mais eficaz de glicose no período de refeição. Em vista de sua cinética singular e dependência da glicose, predizemos que a nateglinida irá minimizar a hipoglicemia hiperinsulinemia reativas e comorbidades associadas, e assim assegurar uma posição única no arsenal terapêutico para o tratamento do diabetes tipo 2. EASD (European Association for the Study of Diabetes), 35th Annual Meeting, Bruxelas, 28 de setembro de 1999, K. B. Frandsen et al. Estudo sobre a eficácia e segurança da repaglinida, um regulador flexível da glicose prandial, em pacientes com diabetes tipo 2 Objetivos: A eficácia e a segurança da repaglinida (REP), o moderno regulador da glicose prandial, foram comparadas com o placebo em pacientes diabéticos tipo 2 que nunca receberam OHA e que foram considerados como controlados de forma insatisfatória com dieta e que adotaram um esquema flexível de refeições. Materiais e métodos: O estudo apresentou um desenho duplo-cego, multicêntrico, randomizado, controlado por placebo. Foram randomizados pacientes (média de idade de 57,4 ± 9 anos, IMC 30,3 ± 5 kg/m2, duração do diabetes de 3,0 ± 5 anos, HbA1c 7,7 ± 1,7%) para placebo (n = 138) ou REP 0,5 mg (n = 270) nos horários das refeições. Após 4 semanas de tratamento, a dose de REP foi aumentada para 1,0 mg nos horários das refeições caso os níveis de glicose sangüínea em jejum estivessem acima de 7,8 mmol/l. Resultados: Após um total de 16 semanas, o tratamento com REP reduziu a HbA1c de 7,8% a 6,6% (DHbA1c – 1,14%; p < 0,001) em comparação com a redução de 7,6% a 7,4% com placebo DHbA1c – 0.15%; NS). A diminuição na HbA1c não foi afetada pelo padrão da refeição (2,3 ou 4 refeições diárias) escolhida pelos pacientes. A REP foi igualmente eficaz na redução da HbA1c quando a análise foi feita em função do IMC (< 25, 25-30 e > 30 kg/m2) e idade (<65, ≥ 65 anos). Não houve alteração significativa no peso corporal em pacientes tratados com REP (média 83,4 kg no período basal e 83,7 kg após 16 semanas). Houve relato de hipoglicemia mínima em 17% no grupo da REP e em 3% no grupo do placebo, e não houve relação com o padrão da refeição. Conclusões: A dosagem de REP nas refeições é eficaz na melhora do controle glicêmico em pacientes com diabetes tipo 2 que não alcançaram um controle satisfatório apenas com dieta. Com esta estratégia, os pacientes podem alcançar uma flexibilidade no padrão da refeição sem comprometer o controle glicêmico ou aumentar o risco de hipoglicemia severa. Diabetes Clínica 03 (1999) contimuação 275 Conclusões • A repaglinida melhorou de forma acentuada a glicose plasmática em jejum e a HbA1c em pacientes controlados de forma insatisfatória com dieta. • Muitos pacientes com controle glicêmico insatisfatório ou limítrofe alcançaram um bom controle com repaglinida. • A resposta ao tratamento com repaglinida foi similar em indivíduos magros e obesos, e foi independente de idade > 65 anos. • Não houve ganho de peso significativo no grupo da repaglinida. • A incidência da hipoglicemia foi baixa, sem que houvesse episódios que necessitasse de glicose intravenosa ou glucagon. • A melhora na HbA1c e no risco de hipoglicemia não esteve relacionado com a escolha do padrão de refeição. • A regulação da glicose prandial com repaglinida permite aos pacientes personalizar seus hábitos alimentares de 2 para 4 refeições, mantendo ainda assim o controle. • A repaglinida apresenta ampla utilidade no diabetes tipo 2. 276 Diabetes Clínica 03 (1999) Produtos e novidades Pedar – Programa de medição das alterações de pressão no pé diabético A pedografia é uma técnica de reconhecimento precoce da alteração dos padrões de pressão no paciente diabético. O sistema Pedar permite registrar a pressão no pé neuropático, mostrando claramente a diferença para o pé saudável. Este novo sistema de medição, desenvolvido pela Novel, mostra que durante o processo diabético a parte anterior do pé apresenta uma carga aumentada e mais longa do que os pés saudáveis. Unistik 2 – Coletor de amostras Coletor de amostras simples e fácil de manusear. A agulha é protegida até ser utilizada. Recolhe automaticamente, reduzindo muito qualquer risco de ferimento ou problemas de manejo. Como o Unistick 2 é descartável, não há porque se preocupar com infecções – uma preocupação vital especialmente no tratamento de pacientes imunocomprometidos. Seu tamanho discreto o torna prático para uso em ambulatórios. NycoCard HbA1c – Hemoglobina glicosilada em alguns minutos Medir a hemoglobina glicosilada é importante para determinar a qualidade do controle metabólico em pessoas com diabetes. Utilizando o NycoCard® HbA1c, isto pode ser realizado diretamente pelo paciente, usando apenas 5 µl de sangue. Baseado na afinidade de ligação – ligação do ácido de boro à configuração cis-diol da glicose, Nycocard mede a hemoglobina glicosilada total, reportando um valor de HbA1c padronizado. Procedimentos: 1. Adicionar 5 µl de sangue ao tubo de teste com reagente. Misture bem. Incubar por no mínimo 2 minutos e máximo de 3 minutos. 2. Misturar de novo. Aplicar 25 µl da mistura de reação ao dispositivo de teste. 3. Adicionar 25 µl de solução. 4. Ler o resultado de teste em 5 minutos. Diabetes Clínica 03 (1999) 277 Innovo - Primeiro dosador de insulina do mundo Aplicar insulina pode ser uma tarefa difícil, especialmente para novos pacientes. Innovo é um moderno sistema de aplicação de insulina que ajuda os pacientes a superar suas preocupações. Innovo é fácil de transportar e discreto de usar. O tamanho de seu mostrador facilita a leitura da dose. A troca do refil é simples. O sistema inclui um dosador de insulina Innovo, cartuchos de Penfill 3 ml e agulhas NovoFine de 6 e 8 mm. DermaTemp - Scanner infravermelho DermaTemp (Smith Nephew Inc.) é um scanner infravermelho termográfico portátil de alta precisão desenhado para detectar as súbitas variações de temperatura relacionadas com as variações de perfusão subjacente. O instrumento mede instantaneamente a temperatura em qualquer superfície do corpo humano sem contato com o tecido. A temperatura é um indicador precoce de problemas nos pés de pacientes diabéticos e foi incorporada aos protocolos de rotina do pé diabético. Usar o DermaTemp para monitorar a temperatura no exame do pé diabético pode determinar imediatamente a geografia térmica da área em envolvida, identificar pontos quentes e localizar áreas frias. Glucosensor – Monitoramento contínuo de glicose A Minimed Inc. está lançando no mercado um novo sistema de monitoramento contínuo de glicose, o Glucosensor, já aprovado pela FDA para o uso diagnóstico. Glucosensor deve ser utilizado pelo paciente durante três dias e é colocado dentro do tecido subcutâneo. Ele registra as médias de glicose a intervalos de 5 minutos. Equipado com um monitor ao estilo de um bip, o Glucosensor destina-se ao uso profissional. O sensor é um pequeno eletrodo com menos de um milímetro de espessura. Fica dentro de uma pequena agulha e, uma vez inserido na pela, o sensor continua dentro do tecido subcutâneo enquanto a agulha é removida e descartada. O sensor é preso a um pequeno disco plástico, afixado à pele com uma fita. Um cabo conecta o sensor ao monitor, que registra e arquiva os valores da glicose. O sensor envia um sinal contínuo ao monitor, que estoca um valor médio da glicose a cada 5 minutos. Em um período de três dias, podem ser registrados 864 valores de glicose, que são passados automaticamente a um computador para serem analisados. O Glucosensor estará disponível no Brasil em Junho de 2000 (somente para médicos). Novo Advantage da Roche Diagnostics A Roche Diagnostics está disponibilizando o seu novo sistema de dosagem da glicose sanguínea, o novo Advantage, cujas características visam facilitar o dia-a-dia do paciente diabético. Prático de usar, Novo Advantage liga automaticamente ao colocar a tira teste, permite maior intervalo de medição (10 a 600 mg/dl), funciona com 2 pilhas comuns (AAA) e contém memória para 100 resultados com data e hora. A tira reagente não sofre interferência de 120 substâncias e permite a colocação de uma segunda gota de amostra na mesma tira. Os resultados obtidos no Novo Advantage podem ser transferidos para o software Camit Pro. 278 Diabetes Clínica 03 (1999) O aspartame em debate: dúvidas e esclarecimentos (Fórum de discussão Aspartame, The Imperial Hall, São Paulo, 29 de outubro de 1999) No início deste ano foram veiculadas nos Estados Unidos, através de mensagem eletrônica, informações alarmantes que atribuam ao aspartame a ocorrência de inúmeras doenças. Entre elas a esclerose múltipla e o lúpus sistêmico. Embora estas informações tenham sido prontamente rebatidas pelo FDA, a notícia correu o mundo chegando ao consumidor brasileiro Em vista da dimensão que o assunto alcançou e, havendo dúvidas por parte dos consumidores com relação ao uso do aspartame, a Diretoria de Alimentos e Toxicologia da Agência Nacional de Vigilância Sanitária promoveu um encontro de especialistas das áreas de toxicologia, bioquímica, endocrinologia e neurologia, para discutir aspectos à segurança de uso do aspartame. A partir das discussões, foi elaborado o presente documento, que visa esclarecer as dúvidas existentes com relação ao aspartame, permitindo desta forma que o consumidor faça a sua opção de consumo com informações adequadas sobre a segurança do produto. • O aspartame é seguro? Sim, existe consenso entre inúmeros comitês internacionais sobre a segurança do aspartame. • O que acontece com o aspartame no nosso organismo? Ele é metabolizado no trato gastrointestinal, liberando dois aminoácidos, o ácido aspártico e a fenilalanina, e o metanol. • O ácido aspártico liberado pelo aspartame representa risco à saúde? Não. Doses de aspartame acima da dose diária recomendada resultam em aumento pequeno de ácido aspártico no sangue, bem abaixo de doses consideradas como prejudiciais à saúde. Alimentos em geral podem conter ácido aspártico. Por exemplo, um hambúrguer de 100 g pode conter até 40 vezes a quantidade de ácido aspártico presente em uma lata de refrigerante (350 ml adicionado de aspartame). • A fenilalanina liberada pelo aspartame representa risco à saúde? Não. Após uma dose única de aspartame equivalente a 20 latas de refrigerante com este adoçante, o nível de fenilalanina no sangue permanece dentro da faixa normal, bem abaixo de níveis que possam causar toxicidade. Mesmo Diabetes Clínica 03 (1999) 279 para indivíduos com capacidade reduzida de metabolizar a fenilalanina (portadores heterozigotos de fenilcetonúria), uma dose semelhante não eleva os níveis plasmáticos de fenilalanina a valores que possam ser considerados um risco à saúde. • O metanol liberado pelo aspartame representa risco à saúde? Não. A quantidade de metanol proveniente do aspartame contido em uma lata de refrigerante (350 ml) eqüivale à quantidade liberada pelo mesmo volume de suco de laranja e de maçã, sendo de 4 a 6 vezes inferior àquela presente no suco de tomate e de uva. • Quem não deve consumir o aspartame? Os portadores de uma deficiência rara, fenilcetonúria, não metabolizam o aminoácido fenilalanina, devendo evitar o consumo de aspartame. Esses indivíduos também, são incapazes de metabolizar a fenilalanina de qualquer alimento, devendo ser submetidos a uma dieta rigorosa. A legislação brasileira obriga que os alimentos que contém aspartame tragam no rótulo a seguinte advertência em destaque e negrito: CONTÉM FENILALANINA. • O aspartame pode ser consumido por grávidas e crianças? Sim. O metabolismo do aspartame já foi estudado nestes grupos da população, não havendo até o presente evidências científicas de que gestantes e crianças metabolizem o aspartame diferentemente de um adulto normal. • Existe alguma relação entre o consumo de aspartame e esclerose múltipla, Lúpus sistêmico, mal de Alzheimer ou aparecimento de tumor cerebral? Não. Esclerose múltipla é uma doença causada por muitos fatores, não existindo qualquer associação entre sua ocorrência e o consumo de aspartame. Também não existem evidências científicas associando o aspartame com lúpus sistêmico, mal de Alzheimer e ocorrência de tumor cerebral. • O aspartame prejudica o diabético? Não. Estimativas de ingestão de aspartame por diabéticos indicam um consumo considerado seguro pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Foram realizadas pesquisas para verificar o efeito do aspartame no organismo humano? Sim. Há inúmeras dados na literatura sobre ensaios clínicos realizados em indivíduos normais, diabéticos e indivíduos com problemas no metabolismo da fenilalanina, não tendo sido evidenciados danos à saúde. • Qual a quantidade de adoçante a base de aspartame que pode ser ingerida diariamente? A quantidade máxima de aspartame que um adulto com 60 kg pode ingerir diariamente, com segurança. É de 2400 mg, o que eqüivale, aproximadamente, ao consumo de 48 envelopes de 1g de um adoçante dietético com 5% de aspartame. Ou a 4 litros de refrigerante adoçado apenas com aspartame. No caso de uma criança com 30 kg, as quantidades máximas correspondem a 24 envelopes do mesmo adoçante ou a 2 litros de refrigerante. 280 Diabetes Clínica 03 (1999) Resumos de Congressos EASD (European Association for the Study of Diabetes), 35th Annual Meeting, Bruxelas, 28 de setembro de 1999, David Matthews, Oxford, RU Insuficiência da Célula β atinge quase todos os diabéticos tipo 2 Os médicos devem evitar dizer a seus pacientes recentemente diagnosticados com diabetes tipo 2, que eles “têm apenas diabetes leve” e que podem ser tratados com comprimidos. Ao contrário, devem mostrar que o paciente pode não apresentar a forma mais severa da doença, o diabetes mellitus insulino-dependente, porém está sob risco considerável de complicações diabéticas. David Matthews, presidente do Centro para o Diabetes, Endocrinologia e Metabolismo de Oxford disse que os médicos prestam um desserviço a seus pacientes ao minimizar os riscos associados ao diabetes tipo 2. Dr. Matthews também participou do grupo do Estudo Prospectivo sobre o Diabetes no Reino Unido (UKPDS). Este estudo referência que contou com mais de 6.000 pacientes com diabetes tipo 2 começou a recrutar pacientes nos final da década de 70 mantendo um rigoroso acompanhamento por um período de 10 anos. Os resultados foram liberados somente no último ano, e estão ainda em discussão por especialistas em diabetes. Além disso, as implicações do estudo para os médicos de família permanecem sob observação: “O que nós temos que reconhecer no tratamento do diabetes tipo 2 é que há uma insuficiência insidiosa das células β, e reconhecendo isto, nós podemos ter em mente quando os pacientes terão que ser novamente examinados. Nós temos que fazer um acompanhamento longitudinal dos pacientes porque eles, inexoravelmente, vão piorar,” disse David Matthews A deterioração da célula β é virtualmente inevitável. No estudo UKPDS, todos os pacientes alcançaram níveis aceitáveis de glicose plasmática na randomização, mas seus níveis de GPJ regrediram gradualmente durante o andamento do estudo. Os níveis de glicose nos indivíduos que estavam recebendo glibeclamida aumentaram para 165-170 mg/dl; os que receberam clorpropramida aumentaram para 150 mg/dl, e os que receberam insulina apresentaram o menor aumento - até 144 md/dl. Independentemente do grupo de tratamento para o qual eles foram randomizados, os resultados mostram que os pacientes apresentaram uma piora. Originalmente, os pesquisadores acreditavam que esta deterioração era devido a um problema no tratamento, mas aos poucos eles compreenderam que isto foi, na verdade, devido à insuficiência da célula β. Mesmo sob circunstâncias mais favoráveis, os pacientes com a doença Diabetes Clínica 03 (1999) 281 contimuação podem esperar uma perda do controle glicêmico e, portanto, todos os pacientes requerem acompanhamento contínuo, provavelmente permanente, para se conscientizarem de qualquer complicação que possa surgir. “Você deve dizer aos pacientes que suas células β se deteriorarão na proporção de cerca de 4% por ano. E você não pode culpar as sulfoniluréias. Isto faz parte do processo patológico que é o diabetes. Este não é um agente farmacológico que falhou. Algo acontece com o paciente, e isto precisa de monitoramento longitudinal.” David Matthews explicou que esta deterioração está relacionada à insuficiência da função da célula β e não à sensibilidade a insulina, observando que os pacientes randomizados para receber glibenclamida falharam de forma significativamente mais rápida que os randomizados para clorpropramida. E aqueles pacientes cuja HbA1c é menor que 6,6% terão uma perda da função da célula β mais lenta que aqueles cuja HbA1c é maior que 8,1%. Ultimamente, disse ele, 70% dos pacientes com idade inferior a 45 anos necessitarão de outros agentes adicionados às sulfoniluréias, enquanto os de idade superior a 45 anos (cerca de 55%) não necessitarão da adição de outros agentes. Os pacientes cujas GSJ são maiores que 10 mmol/l, falharão mais rápido que aqueles cujas GSJ são menores que 7,8 mmol/l. David Matthews aconselhou que os médicos iniciem um tratamento agressivo tão logo a deterioração da célula β torne-se visível – não apenas quando a função já tiver se esgotado. Mesmo uma diferença percentual de um ponto entre os níveis de HbA1c – usando 8% como ponto considerado “controle adequado” em vez de 7% – significaria possivelmente iniciar cinco anos mais tarde o tratamento com agentes orais adicionais, com o risco concomitante de seqüela, como complicações microvasculares, que existe ao ignorar a HbA1c. “Se você disser que eles têm uma doença leve e tudo o que eles precisam é ingerir um comprimido, na próxima consulta que eles forem, a taxa de açúcar no sangue estará maior, eles vão achar que o problema é deles. E é claro que eles não falharam, o que falhou foram as células β.” EASD (European Association for the Study of Diabetes), 35th Annual Meeting, Brussels, 28 de setembro de 1999. Luís M. Ruilope Que papel desempenha o tratamento com associação de antihipertensivo na proteção de pacientes diabéticos? *O texto completo das diretrizes da Organização Mundial da Saúde, “Manual da Sociedade Internacional de Hipertensão para o Manejo da Hipertensão”, encontra-se no Jornal Electrônico da Hipertensão, no site da Atlântica Editora, no seguinte endereço na Internet: www.atlanticaeditora.com.br/eJH (Cortesia de Boehringer Ingelheim Linha Cardiovascular) O rigoroso controle da pressão arterial (PA) é obrigatório em pacientes com diabetes mellitus. Neste sentido, as diretrizes recentemente publicadas (JNCVI e OMS-ISH*) estabeleceram um novo limite e objetivo a ser considerado para a PA em qualquer paciente diabético. De acordo com estas diretrizes, a PA sistólica tem que ser mantida dentro de certos valores e abaixo de 130 mmHg enquanto que a PA diastólica tem que permanecer abaixo de 85 mmHg nestes pacientes. Por outro lado, a publicação dos resultados dos estudos HOT e UKPDS nos ensinou que para alcançar o controle adequado da PA, a monoterapia não é suficiente em mais de dois terços dos pacientes. Nestes dois estudos o controle da PA sistólica em diabéticos estava ainda, sem dúvida, acima do objetivo alvo, indicando que a proporção de pacientes que necessitavam do tratamento com associação era ainda maior. Estes achados indicam que a utilização de associações fixas em pacientes diabéticos deveria ser amplamente estendida. Duas são as razões principais para estender seu uso: o efeito sinérgico das associações proporciona um melhor controle da PA e a melhor adesão do paciente ao tratamento antihipertensivo deve-se à boa tolerabilidade destas associações e reduções no número de comprimidos necessá- 282 Diabetes Clínica 03 (1999) contimuação rios com as associações fixas. Os inibidores de ECA são recomendados como o tratamento antihipertensivo de primeira escolha em pacientes diabéticos, especialmente quando a microalbuminúria está presente. Dados recentes mostraram que a associação de uma medicação deste tipo com o bloqueador do canal de cálcio (BCC) verapamil é tão eficaz quanto uma associação com diurético inibidor de ECA. Além disso, esta associação de um BCC e um inibidor de ECA permite um melhor controle glicêmico mantendo um grau similar ou até maior de proteção renal. Tal combinação deve ser usada no começo do tratamento de pacientes diabéticos com aumento da PA. EASD (European Association for the Study of Diabetes), 35th Annual Meeting, Bruxelas, 28 de setembro de 1999, Tina Fischer, Soren E. Skovlund, Coordenador de qualidade de vida Novo Nordisk, Bagsvaerd, Copenhagen, Dinamarca Dificuldades do dia a dia e o desgaste psicológico no diabetes tipo 1 e tipo 2 Atualmente os aspectos psicológicos e a qualidade de vida desempenham um papel cada vez mais importante na pesquisa do diabetes e em seu manejo. Fatores psicológicos são conhecidos por influenciar de forma significativa a qualidade de vida, os comportamentos relacionados à saúde, a regulação da glicose sangüínea e os efeitos na saúde em um prazo mais longo em pacientes diabéticos tipo 1 e tipo 2. Psicologia no diabetes O diabetes é uma doença crônica, que requer atenção constante e autocuidado. Mais de 95% do real cuidado com a doença é proporcionado pelo paciente no dia a dia. Isto exige muito do paciente e pode ser a causa do significativo desgaste psicológico. Os diabéticos tipo 1 e tipo 2 experimentam desgaste emocional a curto prazo e diariamente se preocupam com a hipoglicemia e a hiperglicemia. Além disso, eles podem também experimentar a longo prazo ansiedade ou depressão, causadas pelo receio de complicações e pela responsabilidade de controlar os efeitos da doença a curto e a longo prazo. O estresse, a ansiedade ou a depressão podem afetar não somente a qualidade de vida e recuperação física dos pacientes diabéticos – como também a motivação e a capacidade de seguir os esquemas de tratamento. A condição psicológica é o determinante principal do auto-cuidado e controle metabólico e assim pode afetar o risco de complicações a longo prazo e assim diminuir a qualidade de vida do indivíduo a longo prazo. A introdução de novos esquemas de tratamento, incluindo os novos dispositivos e os melhores sistemas de educação, pode melhorar de forma significativa a qualidade de vida e a satisfação com o tratamento, bem como melhorar os comportamentos relacionados à saúde, para diminuir o fardo da doença. As medidas relacionadas à qualidade de vida estão relacionadas ao: • Conhecimento e percepção sobre a condição; • Atitudes e convicções sobre a condição; • Manejo e auto-cuidado; • Satisfação com o manejo e tratamento; • Lidando e agindo psicologicamente com a condição. As medidas relacionadas com a qualidade de vida são usadas para refletir o impacto geral da doença nos indivíduos, e revelar o impacto do manejo e Diabetes Clínica 03 (1999) contimuação 283 tratamento sobre suas experiências da doença. Se as principais consequências da doença como a hipo e a hiperglicemia devem ser evitadas – então as limitações relacionadas ao estilo de vida são uma realidade para os pacientes com diabetes tipo 1 e 2. Recentes avanços na regulação da insulina, através de injeção e controle farmacêutico da liberação de insulina e os modernos dosadores têm um provável impacto benéfico sobre as medidas a curto e a longo prazo do impacto psicológico e qualidade de vida. A literatura sobre o impacto do diabetes sobre a qualidade de vida e o desgaste psicológico é extensa e diversa. Uma revisão foi realizada em 187 artigos. Setenta e dois deles abordavam a qualidade de vida no diabetes tipo 1 e 53 no diabetes tipo 2 e foram examinados quanto aos efeitos do manejo do diabetes nas medidas relacionadas à qualidade de vida. Além disso, foram examinados 17 artigos sobre o desenvolvimento dos questionários para a qualidade de vida no diabetes, seis artigos revisados, além de outros 40. O primeiro resultado desta revisão foi examinar a correlação entre medidas de controle da glicose e medidas relacionadas à qualidade de vida. Resultados • Existe uma variação considerável da qualidade de vida entre os estudos e diferenças potencialmente importantes entre os indivíduos com diabetes tipo 1 e tipo 2. A variação pode em parte refletir diferenças metodológicas entre estudos bem como diferenças na população de pacientes. • Essencialmente todas as quatro combinações de alta e baixa qualidade de vida, com boa ou insatisfatória regulação da glicose sangüínea são observadas em pacientes diabéticos. Isto ressalta a complexa interação que existe entre estes parâmetros. • Resultados do estudo UKPDS mostraram que um esquema de tratamento intensivo, eficaz na prevenção das complicações a longo prazo em diabéticos tipo 2, não diminuiu a qualidade de vida dos pacientes em comparação com aqueles que receberam tratamento tradicional. No mesmo estudo, a presença de complicações esteve significativamente relacionada à qualidade de vida insatisfatória. Por isso, também no diabetes tipo 2, existem fortes evidências para sugerir que os esquemas de tratamento intensivo podem melhorar a qualidade de vida a longo prazo sem comprometer a qualidade de vida a curto prazo. • Resultados recentes do Estudo Hvidore Grupo de Crianças/Adolescentes com diabetes tipo 1, mostraram uma relação significativa entre baixa HbA1c e qualidade de vida três anos depois, embora haja variação significativa. Estudos adicionais devem determinar o impacto a longo prazo da manutenção de baixa HbA1c na qualidade de vida. • Devido à natureza dos sintomas e as medidas a longo prazo do controle glicêmico, especialmente nos pacientes tipo 2, não parece haver uma relação direta entre melhora no controle glicêmico (a longo prazo) e qualidade de vida. • Vários fatores parecem intervir no controle glicêmico e na qualidade de vida, incluindo: - Sintomas de hiperglicemia - Sintomas de hipoglicemia - Tipo de tratamento - Satisfação com o tratamento - Presença de complicações - Características psicossociais 284 contimuação Diabetes Clínica 03 (1999) • A intensidade dos sintomas da doença podem levar a diferenças no comportamento inicial e final. Alguns pacientes podem trocar a liberdade inicial pelo bem estar imediato sem compreender as complicações posteriores. • Existe uma relação complexa entre controle glicêmico e qualidade de vida, o que justifica investigação adicional. Desgaste a longo prazo e dificuldades do dia a dia • A depressão prevalece três vezes mais em pacientes diabéticos que na população em geral. No diabetes, a depressão está também ligada à obesidade, inatividade física, fumo, auto-cuidado insatisfatório, e aumento na ocorrência de incidência cardiovascular. • No diabetes tipo 1 e tipo 2 as mulheres apresentam escores de ansiedade, depressão e preocupação mais altos que os homens. • Certos efeitos psicológicos a curto prazo e dificuldades a longo prazo são diferentes nos diabéticos tipo 1 e tipo 2. Entender estas diferenças pode no futuro melhorar o cuidado do diabetes. • Esquemas médicos complexos e/ou inconvenientes representam uma fonte diária de estresse e pode prejudicar o auto-cuidado. O auto-cuidado é também afetado de forma negativa pela auto-eficácia insatisfatória. Em contraste, dispositivos convenientes e atraentes, capacidade de adesão e bem estar estão associados com a melhora no auto-cuidado e no controle glicêmico. • Os sistemas de liberação de insulina melhoram o conforto do paciente e a flexibilidade do estilo de vida, e portanto proporcionam uma influência positiva para a qualidade de vida do paciente. • A sensação de controle oferecida pelos dispositivos de aplicação de injeções é a principal contribuição para o sucesso de canetas e novos dosadores de insulina, uma vez que elas reduzem a incapacidade – motivo principal de desgaste psicológico no diabetes. • Ao iniciar os novos tratamentos, as melhoras sintomáticas são muito importantes. Os tratamentos que melhoram os aspectos não sintomáticos da doença têm pouco efeito na qualidade de vida. Melhoras sintomáticas, como eventos hiper e hipoglicêmicos, podem melhorar as estimativas subjetivas da qualidade de vida. Novas abordagens são necessárias para motivar os pacientes a aderir a comportamentos que reduzem o risco a longo prazo, mesmo se eles não proporcionarem um benefício imediato ao paciente. • Os diabéticos tipo 1 estão preocupados principalmente com o potencial impacto do diabetes em suas carreiras e na capacidade de planejar sua rotina diária. Em comparação, os diabéticos tipo 2 estão mais preocupados com o cansaço e em não poderem participar da vida social e frequentarem restaurantes. Alguns estudos indicam que os diabéticos tipo 1 estão mais preocupados em encontrar formas de lidar com sua doença para ajustála a seu atual estilo de vida, ao passo que os diabéticos tipo 2 tendem a reduzir as atividades de forma a ajustá-la às exigências comportamentais da doença. Estas diferenças podem ser, em parte ou totalmente explicadas, pelas diferenças de idade para estes grupos. • O desgaste psicológico é muito similar no diabetes tipo 1 e 2 mas as dificuldades diárias são diferentes. 286 Diabetes Clínica 03 (1999) Diferenças do Diabetes Tipo 1 e tipo 2 nos problemas diários e no desgaste psicológico Inconvenientes diários e desgaste psicológico nos diabéticos tipo 1 1-Conhecimento e cognição 2- Atitudes & Benefícios 3-Manejo e Auto-cuidado 4-Satisfação com o Tratamento 5-Desgaste psicológico Dificuldades no trabalho Cansaço Concentração Desejo de flexibilidade e liberdade Trabalhos & Tarefas que pensam não poder executar Evitar refeições fixas Adequar o tratamento às atividades Liberdade nas atividades de lazer Evitar muitas injeções Evitar hipoglicemia Evitar a síndrome da hiperglicemia Evitar monitorização da GS Medo de complicações tardias Depressão/ Ansiedade. Instabilidade emocional Distúrbios sociais Irritabilidade Transtornos diários e desgaste psicológico em diabéticos tipo 2 Conhecimento e cognição Atitudes & Benefícios Manejo e Auto-cuidado Satisfação com o tratamento Desgaste psicológico Cansaço Evitar o estigma da doença Recusa em aderir ao estilo Mitos sobre a insulina Evitar complexidade Restrições na vida social Não poder se alimentar sempre que sentir vontade Evitar técnicas de aplicações das injeções Preocupação com a morbidade Receio de complicações Depressão. Instabilidade emocional Distúrbios sociais. Hostilidade. Irritabilidade Conclusões As dificuldades diárias e os transtornos relacionados ao auto-cuidado do diabetes contribuem de forma significativa para o desgaste psicológico, que independe da ansiedade e depressão a longo prazo, relacionados à cronicidade da doença. Dificuldades diárias Através de melhores esquemas de tratamento, como dispositivos para aplicação da injeção e sistemas de controle da saúde, os pacientes podem ser motivados a melhorar o auto-cuidado e o controle metabólico sem contudo sacrificar o bem estar. Tais intervenções podem beneficiar o paciente no tocante às complicações e portanto levar a uma melhor qualidade de vida. Ansiedade e desgaste a longo prazo Embora a maioria dos pacientes diabéticos conviva muito bem com a doença, e não demonstre estar intensamente desgastada por ela, estudos mostram um aumento substancial no desgaste psicológico e na prevalência do sintoma psiquiátrico neste grupo de paciente. Os pacientes relatam sensação de derrota em virtude da demanda de conviver com o diabetes, um sentimento de incapacidade, pensando que o “diabetes pode controlar minha vida”, e impotência com relação às chances de prevenir complicações sérias. Além de oferecer os melhores dispositivos para a aplicação da injeção e esquemas de tratamento para reduzir os transtornos diários, intervenções educativas baseadas em princípios de “capacitação” deveriam ser desenvolvidas para auxiliar os pacientes a criar melhoras constantes na qualidade de vida. Diabetes Clínica 03 (1999) 4º Congresso Brasileiro Multiprofissional, FENAD, SP, julho de 1999 Dr. Marcelo de Castro Cesar Especialista em Medicina do Esporte e mestre em Reabilitação pela Universidade Federal de São Paulo Escola Paulista de Medicina sócio-proprietário da Academia Performance em Piracicaba Rua Independência, 1916 13416-225 Piracicaba SP 287 Fisiologia do exercício 1. Bioenergética O trifosfato de adenosina (ATP) e um composto que armazena a energia dos alimentos ingeridos e a libera para todos os processos das células que necessitam de energia, inclusive a energia mecânica necessária para contração muscular e realização de trabalho. A alta energia livre da hidrólise da ligação terminal de fosfato do ATP é utilizada para mudanças na conformação das moléculas de actina e miosina musculares, ocasionando a contração muscular [1]. A concentração intramuscular de ATP e rapidamente depletada durante a contração muscular, como mostrado na seguinte equação: ATP —> ADP + Pi + Energia A regeneração imediata de ATP é necessária para a contração muscular continuar, o que ocorre por três mecanismos [2]: sistema ATP-CP ou anaeróbio aláctico; metabolismo anaeróbio ou sistema do ácido láctico; metabolismo aeróbio ou oxidativo. 2. Sistema ATP-CP A creatina, uma amina nitrogenada, e uma importante fonte de energia química para a contração muscular, pois ela pode se sobrepor á fosforilação, com formação de creatina fosfato (CP), e reversivelmente, com a doação do grupo fosfato para a adenosina difosfato, formando trifosfato de adenosina. Esta reação é uma fonte rápida de fosfato de alta energia para atividades físicas de alta intensidade e curta duração [3]. Como os estoques intramusculares de ATP e CP são limitados, podendo suportar exercícios de intensidade muito alta por poucos segundos, e a concentração dos estoques de CP diminui progressivamente durante o exercício, é necessário o catabolismo dos alimentos ingeridos para manutenção da concentração de ATP intramuscular [1]. 3. Metabolismo Anaeróbio A molécula de glicose proveniente dos carboidratos sofre uma série de reações químicas num processo chamado de glicólise. que resulta em um ganho de duas moléculas de ATP e forma duas moléculas de ácido pirúvico por mol de glicose. A glicólise não depende de oxigênio para ocorrer, sendo que quando a quantidade de oxigênio é insuficiente o ácido pirúvico é convertido em ácido láctico [4]. 4. Metabolismo Aeróbio Por outro lado, na presença de oxigênio o ácido pirúvico penetra na mitocôndria do músculo e é convertido em uma forma de ácido acético, o acetilCoA, sendo desintegrado e oxidado no Ciclo de Krebs e na Cadeia Respiratória, liberando energia para ressíntese de um total de 36 ATP por mol de glicose [4]. Por não dependerem de oxigênio, a creatina fosfato e a glicólise predominam no início das atividades físicas, na chamada fase de “déficit” de oxigênio, pois mesmo nos exercícios aeróbios o consumo de oxigênio aumenta gradualmente até atingir a necessidade energética e se estabilizar, na chamada “fase estável” [2]. 288 contimuação Diabetes Clínica 03 (1999) Nos exercícios de altíssima intensidade e curta duração (poucos segundos) a fonte predominante de ATP é a creatina fosfato, sendo que a depleção dos estoques de CP o fator determinante da exaustão. Em um exercício de alta intensidade e moderada duração (poucos minutos) a fonte predominante passa a ser o metabolismo anaeróbio, de forma que a acidose láctica inibe as enzimas da glicólise impedindo a manutenção do exercício. Nos exercícios de intensidade até moderada e de longa duração, o metabolismo aeróbio é a fonte energética predominante para a ressíntese do ATP utilizado no mecanismo da contração muscular, sendo a depleção dos estoques de glicogênio a principal causa de fadiga [4]. 5. Utilização dos substratos energéticos no exercício O metabolismo aeróbio utiliza como substrato energético não apenas carboidratos, mas também gorduras, proteínas e acido láctico. que na presença de oxigênio é reconvertido em ácido pirúvico e oxidado nos músculos esqueléticos e cardíaco [4]. As gorduras são responsáveis pela liberação da maior quantidade de energia em repouso e nos exercícios de longa duração, pois nestes casos o metabolismo predominante é o aeróbio. Glicerol e ácidos graxos são liberados pela hidrólise dos triglicerídeos em uma reação denominada lipólise, e esses ácidos graxos penetram nas mitocôndrias sendo transformados em acetilCoA num processo chamado oxidação beta. O acetil-CoA proveniente do catabolismo dos ácidos graxos entra no Ciclo de Krebs combinando-se com o ácido oxalacético. que depende do ácido pirúvico para se formar, de modo que a desintegração dos ácidos graxos parece depender de um nível prévio e continuo de catabolismo de glicose, caso contrário o acetil-CoA e convertido em corpos cetônicos [4]. O ácido láctico inibe a lipólise [5], de modo que os carboidratos são os substratos energéticos predominantes no inicio das atividades físicas e nos exercícios de alta intensidade. Nos exercícios de intensidade leve ou moderada, à medida que o exercício se prolonga, os estoques de glicogênio muscular e hepático diminuem, o ácido láctico formado na fase de “déficit” de oxigênio é reconvertido em ácido pirúvico e oxidado, e a participação de gorduras como substrato energético aumenta progressivamente. A fadiga do exercício de duração prolongada não ocorre por depleção dos estoques de gordura, e sim dos estoques de carboidratos, pois, conforme explicado anteriormente, os ácidos graxos dependem da glicose para serem oxidados As proteínas têm menor importância como substratos energéticos. a não ser na depleção dos estoques de carboidratos. como no jejum prolongado ou nas atividades de muito longa duração. Além de serem oxidados os aminoácidos das proteínas, assim como o glicerol dos lípides e o ácido láctico, também são utilizados como substratos energéticos após serem convertidos em glicogênio e glicose no fígado, num processo denominado gliconeogênese [6]. Finalizando, e importante ressaltar que as fontes de ATP, assim como a utilização dos substratos energéticos, são processos contínuos e que interagem em repouso e no exercício, não ocorrendo uma interrupção abrupta de uma fonte de ATP ou de um substrato energético para o inicio de outro, e sim uma contribuição relativa de acordo com a intensidade e duração do exercício [2]. 6. Consumo máximo de oxigênio e limiar anaeróbio Estes dois índices constituem-se nos principais indicadores da limitação funcional cardiorrespiratória, sendo determinados por testes de esforço com medida direta do consumo de oxigênio O consumo máximo de oxigênio e o Diabetes Clínica 03 (1999) contimuação 289 limiar anaeróbio aumentam com o treinamento físico e são utilizados para quantificar a aptidão física cardiorrespiratória desde pacientes com severa limitação funcional [1, 7] até atletas de elite [1, 8]. O consumo máximo de oxigénio (VO2 max) corresponde ao maior volume de oxigênio por unidade de tempo que um indivíduo pode consumir respirando ar atmosférico durante o exercício [9], tendo sido considerado o principal padrão de referência da aptidão cardiorrespiratória [2]. O limiar anaeróbio constitui a intensidade máxima de esforço sem acúmulo de ácido láctico, constituindo um importante indicador do exercício aeróbio, podendo ser determinado de forma direta, mas invasiva, por amostras de lactato sanguíneo. Entretanto, Wasserman & McIlroy [10] desenvolveram um técnica não invasiva de determinação do limiar anaeróbio por medida das trocas gasosas durante um teste de esforço de cargas crescentes. A ventilação pulmonar aumenta proporcionalmente ao aumento do consumo de oxygênio no exercício até moderado. No exercício intenso ocorre um aumento exponencial da ventilação pulmonar (hiperventilação) em resposta a uma produção excessiva de CO2 resultante do tamponamento do ácido láctico formado pela aceleração do metabolismo anaeróbio. Este ácido láctico é tamponado pelo bicarbonato de sódio, na seguinte reação: H+La-+ Na+HC03- —>Na+La- + H2O + CO2 ácido láctico + bicarbonato de sódio —> lactato de sódio + água + “CO2 não metabólico” O consumo de oxigênio da intensidade de exercício imediatamente abaixo da hiperventilação foi chamado de limiar anaeróbio, pois amostras seriadas de sangue revelaram aumento concomitante na concentração plasmática de lactato [10]. O limiar anaeróbio, além de um importante indicador da aptidão cardiorrespiratória, representa uma intensidade prática e segura de exercício que pode ser utilizada no treinamento aeróbio com baixa incidência de lesões e prejuízos funcionais [2]. Referências 1. Wasserman K, Whipp BJ. 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Am J Cardiol, 14:844-852, 1964. 290 Diabetes Clínica 03 (1999) 4º Congresso Brasileiro Multiprofissional, FENAD, SP, julho de 1999 Dra Paula Marzorati Kuntz Puglia Rua Capote Valente, 985 – 05409-002 São Paulo SP E-mail: [email protected] Neuropatia diabética: diagnóstico clínico e eletroneuromiográfico 4º Congresso Brasileiro Multiprofissional, FENAD, SP, julho de 1999 Dr. Bonno van Bellen Chefe do Serviço de Cirurgia Vascular e Angiologia do Hospital da Beneficência Portuguesa de São Paulo Rua Maestro Cardim 925 01323-001 São Paulo SP Tel: (11) 283-3955 E-mail: [email protected] O diabetes e a doença vascular periférica O Diabetes Mellitus é a causa mais freqüente de neuropatia no mundo ocidental, e a neuropatia é uma complicação sem dúvida tão freqüente que, até metade do século passado, imaginava-se que a causa do diabetes era a neuropatia. O diagnóstico de neuropatia periférica (NP) em paciente diabético é ainda um desafio para o médico, de qualquer especialidade. A dificuldade encontra-se geralmente nos casos limítrofes, porém pode também estar no âmbito do diagnóstico diferencial. Da falta de critérios satisfatórios para estabelecer o diagnóstico vem a disparidade nos dados sobre prevalência de NP em diabéticos: de 5 até 100% em alguns estudos. O critério mais aceito atualmente é o proposto por Dyck et al., segundo o qual devem estar alterados pelo menos 2 dos seguintes parâmetros: sintomas, sinais, eletroneuromiografia (ENMG), testes autonômicos ou teste quantitativo de sensibilidade, desde que um deles seja a ENMG ou o teste autonômico. Deve-se lembrar que as neuropatias diabéticas são um grupo de patologias heterogêneo, e comumente são classificadas em 1) simétricas (polineuropatia sensitivomotora e suas variantes e neuropatia motora proximal simétrica de membros inferiores), e 2) focais ou multifocais (de nervos cranianos - mais comumente o III e o VI -, de membros - p.ex. Síndrome do túnel do carpo -, neuropatia motora proximal assimétrica de membros inferiores, e radiculopatia diabética). Deve-se sempre avaliar o paciente com suspeita de NP objetivando encaixá-lo em uma das classificações propostas, pois daí advém dados importantes, como evolução, prognóstico, possibilidade e tipo de tratamento a ser instituído. A polineuropatia sensitiva (ou sensitivo-motora) é a forma mais freqüente de neuropatia diabética, e tem tipicamente predomínio sensitivo, distal e em membros inferiores. Os sintomas (parestesias, hipoestesia, dor neuropática) e sinais (alterações de reflexos e detecção de alterações sensitivas) devem ser avaliados nos quatro membros, considerando a distribuição habitual de cada tipo de neuropatia. A ENMG é método objetivo, reprodutível, e semi-quantitativo, lembrando-se que não existem alterações ENMG patognomônicas do diabetes mellitus. Geralmente existe correlação satisfatória entre a intensidade dos sintomas e o nível de acometimento ENMG, porém existem exceções. Diagnósticos diferenciais sempre devem ser considerados, levando-se em conta que existem numerosas causas possíveis para NP, e que esta pode não ser responsável pelos sintomas apresentados, e sim, por exemplo, uma compressão radicular por hérnia discal. A doença oclusiva aterosclerótica compromete o sistema arterial em determinadas regiões preferenciais, muitas vezes bem definidas: o sistema arterial dos membros inferiores, o sistema coronariano, os sistema carotídeo e o sistema visceral. Quanto ao membros inferiores, os setores mais freqüentemente comprometidos são o aorto-ilíaco e o fêmoro-poplíteo. No paciente diabético, há preferência adicional pela instalação da doença no setor infra-poplíteo, ou seja, nas artérias tibiais e na artéria peroneira. Tal peculiaridade se associa ao freqüente comprometimento de outras artéria musculares de distribuição, cujo representante mais importante é a artéria femoral profunda. Esta distribuição Diabetes Clínica 03 (1999) contimuação 291 peculiar do comprometimento arterial empresta à doença aterosclerótica do diabético uma conotação particularmente grave. Ademais, a história natural da doença aterosclerótica é mais acelerada no diabético, ou seja, ela se instala mais precocemente e se desenvolve mais rapidamente. Em contrapartida a este aspecto mais grave da mencionada macro-angiopatia, a chamada micro-angiopatia diabética, que por muito tempo foi tida como um agravante da doença aterosclerótica no diabético, parece não desempenhar a importância fisiopatológica que a ela vinha sendo emprestada. Manifesta-se por um espessamento da membrana basal capilar arterial. Tal espessamento, no entanto, não interfere com a troca de oxigênio e parece interferir pouco com a troca de moléculas maiores. Esta desmistificação da micro-angiopatia, aliado ao fato de que com o desenvolver das técnicas operatórias tem-se conseguido realizar restaurações arteriais para vasos cada vez menores, tem feito com que os cirurgiões vasculares tenham realizado tentativas de salvação de membro que até há alguns anos não eram suspeitadas. Desta forma um número cada vez menor de pacientes são submetidos a amputações primárias de membro inferior. É importante salientar que, dentro do esforço para salvar membros, os demais fatores que determinam o chamado “pé diabético”, quais sejam, a neuropatia e suas conseqüências e a facilidade de instalação de processos infecciosos, não podem ser negligenciados já que desempenham papel fundamental no processo degenerativo e, por isso, limitante, da tentativa de restauração vascular. É por isto de fundamental importância que o paciente diabético seja encarado como portador de uma afecção multidisciplinar, em que o profissional sob cuja responsabilidade ele está, esteja capacitado para identificar o processo fisiopatológico como um todo sempre pronto para interagir com as demais especialidades que se fazem necessárias. Diabetes Clínica Diabetes Clínica 03 (1999) 292–296 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas Caracterização do padrão de herança genética do diabetes mellitus tipo 2 (tardio): Estudo realizado em 119 famílias na Associação Nacional de Assistência ao Diabético (ANAD) em São Paulo R. M. J. Oliveira1, M. P. Milazzoto1, L. B. Gallinaro1, L. L. Fonseca1, D. Camerlingo1, F. N. S. Borges1, F. Fraige Filho2, H. B. Rosário3 (1) Biólogos Geneticistas – Universidade Presbiteriana Mackenzie (2) Professor titular de Endocrinologia da Faculdade de Medicina ABC e Presidente da Associação Nacional de Assistência ao Diabético (3) Professor Titular das disciplinas de Genética e Evolução da Universidade Presbiteriana Mackenzie Resumo Esta pesquisa relata principalmente o estudo do provável padrão de herança genética do Diabetes mellitus tipo 2 em pacientes previamente diagnosticados, assim como, estatísticas que determinam o perfil do paciente diabético em relação à idade de manifestação da doença, sexo e origem dos pacientes. 1. Introdução O diabetes é uma alteração metabólica generalizada e crônica, que atualmente acomete de 7 a 8 % da população adulta mundial, decorrente de uma lesão das células β das ilhotas de Langerhans, responsáveis pela produção do hormônio insulina. Tal lesão pode advir de diversos fatores como o estresse, o fator alimentar, o fator químico (através de drogas como o Aloxano e a Estreptozotocina) e até fatores fisiológicos como a gravidez e estados de hipertensão; dentre os fatores que desencadeiam o processo diabético estão ainda os fatores genéticos, que desempenham um papel complexo e ainda não totalmente compreendido (Bate & Colman, 1996), sendo que tal complexidade e certa incompreensão chamou a atenção deste gru- po de estudos, servindo como um estímulo para a realização deste trabalho. Aprofundando-se no estudo genético do diabetes mellitus, já é possível se calcular o risco de gerações futuras desenvolverem a doença, isto em famílias com histórico anterior da enfermidade, sendo que, além disto, é conhecido que indivíduos que possuam antecedentes maternais de diabetes mellitus possuem um risco maior de desenvolverem a doença; porém, este mecanismo ainda não está completamente compreendido, constituindo-se, dessa forma, um amplo alvo de pesquisas. Com o advento da Biologia Molecular foram encontradas inúmeras mutações genéticas que podem estar relacionadas ao diabetes mellitus, sendo que as principais foram detectadas no gene receptor do glucagon R.M.Oliveira et al / Diabetes Clínica 03 (1999) 292–296 (GRG) (Hansen et al, 1996; Jaksch et al, 1995; Odawara et al, 1996), no gene do receptor β-3 adrenérgico (β3AR) (Sigal et al, 1996), no gene da enzima metilenotetrahidrofolato redutase (Brulhart et al, 1997), no gene da glicogênio sintase (Barbetti et al, 1996; Gambino et al, 1996) no gene da glicoquinase hepática (Chiu & McCarthy, 1996) e no gene do receptor da sulfonilurea (SUR) (Inoue et al, 1996). Além destas mutações que podem estar relacionadas ao diabetes mellitus já se descobriu que mutações no gene GIP, o gene do receptor do polipetídeo inibitório gástrico, que estimula a secreção de insulina, não está relacionada a doença (Kubota et al, 1996). Ainda na área molecular, estão sendo descobertos novos mecanismos que podem estar relacionados ao diabetes mellitus. Alguns trabalhos já identificaram expansões de repetições trinucleotídicas (Aoki et al, 1996; Orho et al, 1996; Wu et al, 1996), polimorfismos no gene HK2, gene da exoquinase II que catalisa a fosforilação da glicose (Ardehali et al, 1996) e nos genes da enzima angiotensina convertase e do angiotensinogênio (Ohno et al, 1996), além de microsatélites marcadores (Iwasaki et al, 1996). Mais recentemente se desenvolveram técnicas para o estudo de mutações do DNA mitocondrial, no qual já foram achadas várias mutações que podem estar envolvidas com o desencadeamento do processo diabético (Chuang et al, 1995; Gebhart et al, 1996; Hirai et al, 1996; Oshima et al, 1996). 2. Objetivos - Estudo do provável padrão de herança genética do diabetes mellitus tipo 2; - Análise do perfil do paciente diabético tipo 2 da ANAD, Associação Nacional de Assistência ao Diabético : determinação da idade de manifestação da doença, sexo e origem. 293 estatísticos, expressos em gráficos, que visavam traçar um perfil do paciente diabético tipo 2. Além disso, foram elaborados heredogramas segundo Lima, C.P., 1996, de onde foram extraídas as respectivas informações para análise do tipo de herança. Foram excluídos os laudos que caracterizavam o diabetes mellitus tipo 1 (juvenil), segundo a literatura. O resultado desta análise foi retornado ao paciente em forma de um relatório contendo um aconselhamento genético baseado nas probabilidades de riscos dos descendentes manifestarem o diabetes mellitus tipo 2, bem como a sugestão de encaminhamento ao serviço médico. Para o cálculo da média de manifestação da doença foi utilizado o método de média aritmética, seguindo a fórmula: Σ idade n n = número total de pacientes S= somatória 4. Resultados Do total de 132 entrevistas aplicadas aos associados da ANAD, 119 famílias (genealogias) com um total de 1261 indivíduos e média de 4 indivíduos por família, apresentaram características do diabetes mellitus tipo 2 (Lima, 1996). Destas, foram elaborados laudos que continham heredogramas que provavelmente caracterizavam o padrão de herança autossômica recessiva da patologia. As características obtidas em relação ao sexo, idade de manifestação e origem, foram expressas sob a forma de gráficos. O gráfico (Fig.1) de distribuição do sexo em pacientes diabéticos, demonstrou uma incidência de 53 % em mulheres e 47 % em homens. 3. Material e método O grupo realizou uma pesquisa na Associação Nacional de Assistência ao Diabético – ANAD, com atendimentos semanais, no período de maio a agosto de 1998. Foram elaborados questionários que foram respondidos pelos associados. Os questionários foram aplicados através de entrevistas, nas quais foram solicitadas informações sobre a origem, idade de manifestação da doença, sexo, uso de medicamentos e/ou insulina e dieta, tanto nos pacientes diabéticos como em seus familiares, sendo que, a partir destas informações foram obtidos dados Distribuição do sexo em pacientes diabéticos 53% Masculino 47% Feminino Fig. 1: Representação percentual da incidência da Diabetes mellitus tipo 2 294 R.M.Oliveira et al / Diabetes Clínica 03 (1999) 292–296 Idades (anos) Agrupamento das médias das idades de pacientes diabéticos 100 80 60 40 20 0 39,3 35-45 51,5 46-55 70,5 60,4 56-65 66-75 78,4 76... Distribuição dos pacientes diabéticos por origem outros (6%) Alemão (3%) Espanhol (9%) Italiano (18%) Português (19%) Libanês (3%) Faixas etárias Fig.2: Representação da incidência do Diabetes mellitus tipo 2 segundo as médias obtidas por faixa etária Agrupamento em faixa etária de indivíduos diabéticos 66-75 (9%) 76... (3%) 35-45 (26%) 56-65 (28%) 46-55 (34%) Fig.3: Representação percentual da incidência do Diabetes mellitus tipo 2 por faixa etária Os gráficos que expressam os resultados referentes ao agrupamento das médias das idades e da faixa etária de indivíduos diabéticos, cuja idade não era menor que trinta e cinco anos, foram relacionados, indicando maior incidência de idade de manifestação do diabetes tipo 2 em indivíduos na faixa etária de 46-55 anos (34%) tendo como média 51,5 anos. A menor incidência, correspondente a 3%, foi representada por indivíduos que manifestaram a doença com mais de 76 anos com média de 78,4 anos. Entre os dois extremos, encontramos 28% dos diabéticos na faixa etária de 56-65 anos, com média de 60,4 anos; 26% entre 35-45 anos com média de 39,3 anos, e apenas 9% incluíram-se na faixa etária de 66-75 anos, com média de 70,5 anos. (Fig.2 e 3) O gráfico de distribuição dos pacientes diabéticos por origem (Fig.4), mostrou que 42% dos pacientes entrevistados, apresentaram origem brasileira, 19% apresentaram origem portuguesa, 18% origem italiana, 9% de origem espanhola, 3% de origem alemã, 3% de origem Brasileiro (42%) Fig.4: Representação percentual da incidência do Diabetes mellitus tipo 2 por origem dos entrevistados libanesa, e finalmente, 6% dos pacientes de outras origens. Entre eles encontram-se: poloneses, chilenos, árabes, ingleses, sírios e japoneses. 5. Discussão Entre as entrevistas realizadas, foram excluídos deste trabalho os casos em que o paciente apresentava o diabetes mellitus tipo 1 ou juvenil, caracterizada pela manifestação da doença antes da idade adulta (NDDG,1979). Embora a literatura descreva o diabetes tardio a partir da idade adulta (20 anos ou mais), os diabéticos entrevistados possuiam idades iguais ou superiores a 35 anos. Os 119 casos apresentados foram caracterizados como provável herança autossômica recessiva, já que, segundo a literatura, os dois sexos foram aproximadamente afetados, sendo que os indivíduos afetados geralmente são filhos de pais normais; dentre os irmãos do paciente, os indivíduos normais e afetados distribuem-se na proporção de 3:1. Não foram descartados entre estes casos analisados a provável presença de mutações do DNA mitocondrial, que podem desencadear o processo diabético como já foi observado em várias pesquisas recentes (Chuang et al, 1995; Gebhart et al, 1996; Hirai et al, 1996; Oshima et al, 1996). Alguns laudos apresentaram interpretação ambígua, pois a observação dos heredogramas, além de caracterizarem uma provável herança autossômica recessiva, também apresentaram indícios de herança mitocondrial que é caracterizada por indivíduos que apresentam a mãe afetada, uma vez que a mitocôndria é herdada apenas por esta via. Apesar disso, a ocorrência desses casos é rara pois apenas 1% aproximadamente dos casos de R.M.Oliveira et al / Diabetes Clínica 03 (1999) 292–296 MIDD apresenta ligação com disfunções mitocondriais (Maassen, 1996). O diagnóstico correto deve ser feito a partir de exame clínico e laboratorial, pois nesse caso ocorre a manifestação de diversos outros sintomas não característicos do MIDD associada a herança autossômica recessiva. Dentre eles a presença de miopatia mitocondrial, encefalopatia, acidose lática e episódios de (acesso/ataque) strokelike (MELAS) já foram descritos (Onishi, 1998). Associado a este, exames de sangue são utilizados para a pesquisa de mutações pontuais no DNA mitocondrial caracterizadas como polimorfismos no caso da utilização de técnicas moleculares como RFLPs. Na abordagem das relações dos parâmetros sexo, origem e idade de manifestação em indivíduos diabéticos, observou-se, no primeiro caso, que não há discrepância entre a incidência entre homens e mulheres diabéticos, sendo este mais um indício de se tratar de uma herança autossômica, já que esta significa a existência dos mesmos em cromossomos autossômicos. Em relação a origem, os dados observados mostraram a mesma incidência da literatura: um maior número de diabéticos tipo 2 de origem ocidental, principalmente ítalo-ibérico, em relação a indivíduos de origem oriental. Uma das prováveis explicações, pode estar relacionada ao fato de que nos países ocidentais, a maioria das calorias são obtidas a partir de alimentos gordurosos, fato este que pode contribuir para a ocorrência da doença. Quanto aos intervalos de idade de manifestação, o fato de ter sido encontrado uma maior incidência de indivíduos diabéticos entre 46–55 anos é compatível a premissas aventadas pela literatura, que coloca o diabetes mellitus tipo 2 como um distúrbio complexo da idade adulta, quando geralmente há a manifestação da sintomatologia característica da patologia. Este fato incorre na procura de um serviço clínico que procederá o diagnóstico. 6. Conclusão A partir da análise dos dados coletados, podemos inferir que o provável padrão de herança genética do diabetes mellitus tipo 2 seja mesmo o de uma herança autossômica recessiva, corroborando o descrito anteriormente pela literatura. Os pacientes estudados acometidos por esta doença apresentaram-se igualmente distribuídos entre ambos os sexos, com idades de manifestação superior à 35 anos e, em sua maioria, de origem ocidental, principalmente ítalo-ibérico. 295 Agradecimentos À todos os funcionários da Associação Nacional de Assistência ao Diabético (ANAD), sua Diretora executiva, Sra. Lilian Fanny de Castilho, pela paciência, apoio e atenção dedicada a este grupo no período de realização deste trabalho. Referências Aoki M, Koranyi L, Riggs AC, Wasson J, Chiu KC, Vaxillaire M, Froguel P, Gough S, Liu L, Donis-Keller H. Identification of trinucleotide repeat-containing genes in human pancreatic islets. Diabetes;45(2):157-64, 1996. 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O próximo encontro deste programa estará promovido pela Associação de diabéticos de Vitória da Conquista, em Março de 2000 Programa (Palestrante: Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho) - Epidemiologia - Nova classificação e novos conceitos diagnósticos - Aspectos críticos do tratamento Distribuição estadual de insulina De acordo com informações enviadas pelo Ministério da Saúde (Diretoria de Programas Estratégicos – Coordenação de Planejamento e Programação de Medicamentos – COPMED), a distribuição de insulina é realizada em escala nacional, por estado e tipo de insulina. Ela é feita direitamente nas CMB (Coordenadoria de Medicamentos Básicos) estaduais. Para qualquer informação, as associações podem entrar em contato com a CMB de seu estado, nos endereços seguintes. CMB do Acre CMB do Alagoas Coordenador: Dr. Marcos José Absalão Brito Silva Administradora : Dra. Fátima Rua Travessa Avenida Getúlio Vargas S/N – Vila Ivonete 69914-000 Rio Branco AC Tel.: (68) 220 3868 / 220 1387 / 985 0079 Fax: (68) 224 0809 Coordenador: Dra. Francisco René Leite Gondim Av. da Paz, 978 - Jaraguá 57025-050 Maceió AL Tel.: (82) 326 5057 / 326 4084 / 326 2044 Fax: (82) 221 9579 Almoxarifado da CMB – SE (local de recebimento de medicamentos) Rua Goiás, 830 - Farol 57055-050 Maceió AL Tel.: (82) 351 6149 298 Diabetes Clínica 03 (1999) CMB do Amazonas CMB do Amapá CMB do Amazonas Coordenador: Dr. Cristionor Argemiro de Souza Kzam Av. Pedro Teixeira, S/N - D. Pedro I 69040-000 Manaus AM Tel.: (92) 656 3381 Fax: (92) 656 8134 Coordenador: Dr. Mário Monteiro Chaves Rodovia BR 156 Km 0 número 353 68900-000 Macapá AP Tel.: (96) 212 06116 Fax: (96) 212 6187 E-mail: [email protected] CMB da Bahia Coordenador: Dra. Juliane Passos Avena 4a avenida Plataforma 06 Lado B - Centro Administrativo 41746-900 Salvador BA Tel/Fax: (71) 370 4191 Almoxarifado da CMB – BA (local de recebimento de medicamentos) Anildo Teixeira Montes Júnior Farmacêutico Av. Luiz Viana Filho, S/N - Complexo do Alcen Mussurunga 41510-190 Salvador BA Tel.: (71) 394 1513 / 370 4191 Fax: (71) 377 7460 / 7161 CMB do Ceará Coordenador: Dra. Isabel Cristina Cavalcante Carlos Av. Perimetral Guilherme Wlassen, 7605 - Perimetral Messejana 60841-030 Fortaleza CE Tel.: (85) 259 1111 Ramal 256 271 2373 Fax: (85) 274 2264 CMB do Distrito Federal CMB do Espírito Santo CMB de Goías CMB de Maranhão Coordenador:Dra. Ana Márcia Yunes Salles Galdardi Setor Cemitério Sul, Área Especial, Anexo a Funerária 70390-150 Brasília DF Tel.: (61) 245 1277; 233 8097 Ministério da Saúde Serviço de distribuição de medicamento – SEDIME Resp.: Carlos Gonzaga de Souza SGCV Quadra 2 – Lote 22 Próximo ao Carrefour Sul 71215-100 Brasília DF Tel/Fax: (61) 233 1658 / 233 1574 Coordenador: Dra. Rúbia Karine Av. Marechal Mascarenhas de Moraes, 2025 - Bento Ferreira 29052-120 Vitória ES Tel.: (27) 381 2397 / 381 2326 / 972 7735 (Dra Rosane Magesti) Fax: (27) 324 1820 / 381 2426 Coordenador: Luiza Gomes de Paula Rua 26, número 10 - Santo Antonio 74140-020 Goiânia GO Tel.: (62) 249 0439 / 285 3899 Fax: (62) 282 2583 Coordenador:’Dra. Mary Jane Limeira de Oliveira Av dos Franceses, S/N - Vila Palmeira 65036-280 São Luiz MA Tel.: (98) 243 1522 / 246 5567 Fax: (98) 246 6238 / 9204 / 6415 / 5567 Diabetes Clínica 03 (1999) CMB de Mato Grosso CMB de Mato Grosso do Sul CMB de Minas Gerais CMB do Pará CMB da Paraíba CMB de Pernambuco CMB do Piauí CMB do Paraná Departamento Geral de Insumos Básicos do Rio de Janeiro CMB do Rio Grande do Norte 299 Coordenador: Dr. Faustino Gomes da Silva Av. Jurumirim, 3366 - Carumbé 78050-300 Cuiabá MT Tel.: (65) 653 2209 Coordenador: Dr. João Bosco Rasslan Câmara Parque dos Poderes, Bl. 07 79031-905 Campo Grande MS Tel.: (67) 726 4071 Fax: (67) 726 4078 / 726 4076 Coordenador: Dr. Carlos Alberto Pereira Gomes Rua Tupinambás, 351 - Centro 30120-070 Belo Horizonte MG Tel.: (31) 248 6352 / 248 6123 Fax: (31) 248 6245 / 371 9446 Almoxarifado da CMB – MG (local de recebimento de medicamentos) Resp: Rosa Maria da Conceição e Silva Rua Conde Pereira Carneiro, 80 - Gameleira 30150-010 Belo Horizonte MG Tel.: (31) 332 5988 / 248 6352 Fax: (31) 371 9446 Divisão de medicamentos e materiais técnicos Pará Diretor: Dr. Paulo Sérgio Ferreira Soares Av. José Bonifácio, 1836 - bairro Guamâ 66063-010 Belém PA Tel.: (91) 249 2224; 249 0882; Fax: (91) 249 4456 Coordenador: Dr. Francisco Medeiros Rua Capitão José Pessoa, S/N - Jaguaribe 58040-900 João Pessoa PB Tel.: (83) 241 2046 Fax: (83) 222 0187 Coordenador: Dra. Élida Maria de Alencar V. Arruda Av. Noret, 6485 - Casa Amarela 52081-000 Recife PE Tel.: (81) 412 6195 Fax: (81) 268 6644 / 268 6088 Coordenador: Dr. Alcides Barbosa Rua 19 de Novembro, 1865 - Primavera 64002-570 Teresina PI Tel.: (86) 222 1935 Coordenador: Dra. Lore Lamb Av. prefeito Lothário Meissener, 102 - Jardim Botânico 80210-170 Curitiba PR Tel.: (41) 262 9311 Fax: (41) 264 5029 Coordenador: Gilmar Martins Pacheco Rua Dr. Luiz Palmier, 762 - Barreto 24110-310 Niterói RJ Tel.: (21) 628 9002 R. 223/224 Fax: R, 202/203 Coordenador: Dr. Rui Freire Amaral Rua Nilo Bezerra Ramalho, 1691 - Tirol 59015- 300 Natal RN Tel.: (84) 221 2974; 221 3910; 221 2886; Fax: (84) 221 2974; 211 1246 300 Diabetes Clínica 03 (1999) CMB de Rondônia CMB de Roraima CMB do Rio Grande do Sul CMB de Santa Catarina CMB de Sergipe Coordenador: Dra. Ângela Maria de Medeiros Santos Rua 03, S/N - Meu Pedacinho de Chão 78914-270 Porto Velho RO Tel/Fax: (69) 222 3225 / 983 6289 Coordenador: Hildete Carneiro Gomes Av. Mário Homem de melo, 4491 - Caimbé 69312-000 Boa Vista RR Tel.: (95) 625 4336 Fax: (95) 625 5888 Coordenador: Silvia Czermaimsgi Av. Ipiranga, 6113 - Bairro Partenon 90610-010 Porto Alegre RS Tel.: (51) 336 3710; 339 3654; Fax: (51) 336 1112 Coordenador: Dr. Flávio Betti da Cruz Av. Rio Branco, 152 Térreo Centro 88015-200 Florianópolis SC Tel.: (48) 251 7800; 225 1411; Fax: (48) 221 2301; 251 7803 Coordenador: Dr. Antonio Carvalho da Paixão Dra. Sonia Maria Dantas Franca Seabra Praça General Valadão, 32 49000-000 Aracaju SE Tel.: (79) 222 53 15; 213 1073; 213 1074; 211-9565; Fax: (79) 221 1369; 224-1172 Almoxarifado da CMB – SE (local de recebimento de medicamentos) Rua Porto da Folha, 345 49055-540 Aracaju SE Tel.: (79) 224 7601 Resp.: Hilton Dias Barreto Filho CMB de São Paulo Coordenador: Dr. Harue Ohashi Av. Dr. Enéas Carvalho de Aguiar, 188 / 409 05403-000 São Paulo SP Tel.: (11)3061 0406; 3061 5700 ramal 8678; 8679 Fax: (11) 852 5136; 853 4987 Almoxarifado da CMB – SP (local de recebimento de medicamentos) Rua Andres, 1800 07043-902 Guarulhos SP Tel.: (11) 6423 6116 / 6423 6163 / 6423 6000 Resp.: Madson César Gadelha de Nóbrega CMB de Tocantins Coordenador: Dra. Maria Coelho Burlamak AANE 40, QI 12, LT.06 77000-000 Palmas TO Tel.: (63) 218 1769; 218 1749; Fax: (63) 218 1790; 218 1791