Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste ISSN: 1517-3852 [email protected] Universidade Federal do Ceará Brasil Ramos Vieira Santos, Isabel Cristina; Cardozo Bezerra, Gleice; Leite de Souza, Claudiana; Coelho Pereira, Lidianna Pé diabético: apresentação clínica e relação com o atendimento na atenção básica Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste, vol. 12, núm. 2, abril-junio, 2011, pp. 393-400 Universidade Federal do Ceará Fortaleza, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=324027975024 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto Artigo Original PÉ DIABÉTICO: APRESENTAt;:AO CLÍNICA E RELAt;:AO COM O ATENDIMENTO NA ATENt;:AO BÁSICA DIABETIC FOOT: CL/NICAL PRESENTATION AND RELATIONSHIP WITH PRIMARY CARE ASSISTANCE PIE DIABÉTICO: PRESENTACIÓN CLÍNICA YRELACIÓN CON LA ASISTENCIA EN LA ATENCIÓN PRIMARIA Isabel Cristina Ramos Vieira Santos", Gleíce Cardoao Bezerraé, Claudiana Leite de Souza-, Lídfanna Coelho I'eretra- Estudo epidemiológico, do tipo transversal, realizado em um hospital público da cidade do Recífe, com os objetivos de: avaliar as lesóes dos pés de pacientes portadores de diabetes mellitus através de métodos clínicos e verificar a extsténcta de asscciacáo entre o risco de amputacáo e utilizacáo da rede básica de saúde. A amostra foí composta de 61 pacientes diabéticos com ulceracóes nos pés. Verifico u-se que 41(Yo (25/61) classifíccu-se como grau 4 e 80,3% caracterizo u-se como de alto risco para amputacác (49/61). A ausencia de sensfbllídade ao monofilamentc (44/51) e diapasáo (43/50), bem como ausencia de palpacáo dos pulsos dístaís (44/51 e 41/47) mcstraram-se assoctados ac risco de amputacáo. A nao realízacáo do exame dos pés apresentou um risco para amputacác de 1,9 vezes. O estudo mostrou a ímportáncia da avaliacáo e classffícacáo do pé diabético para a organízacáo de um aprcpriadc plano de rastreamento e prevencáo. Descrltores: Pé Diabético; Aten~ao Prtmárta á Saúde: Amputacáo: Cuidados de Enfermagem. Thls ís an epídemiologícal crcss-secttcnal study conducted in a publíc hospital in Recife, wíth the following objectives: to assess lesíons on the feet of patíents with diabetes mellitus by clinical methcds and verify the existence of an assocíatíon between the rísk of amputatíon and the use of primary health care. The sample conststed of 61 patíents wíth diabetic foot ulcers. It was found out that 41% (25/61) were classíñed as grade 4 and 803% were characterízed as high rtsk for amputatíon (49/61). The lack of sensitivíty to monofilament (44/51) and tuning (43/50) and absence of distal pulse palpatíon (44/51 and 41/47) were associated with rísk of amputatíon. Not performing foot examínatíon was showed as a rtsk for amputation of 1.9 times. The study showed the ímpor'tance of evaluatícn ami classífícatíon of diabetíc foot for the organizatíon of an appropriate level of screening and preventícn. Descrlptors: Diabetic Foot; Prímary Health Caro: Amputation; Nursing Careo Estudio transversal, epidemiológico, realizado en un hospital público de Recife, con los siguientes objetivos: evaluar las lesiones de los pies de pacientes con diabetes mellítus por métodos clínicos y verificar la existencia de asociación entre el riesgo de amputación y el uso de la atención primaria de salud. La muestra estuvo conformada por 61 pacientes diabéticos con úlceras en los pies. Se verificó que 41% (25/61) fue clasificado como grado 4 y 80,3% fue caracterizado como de alto riesgo de amputación (49/61). La falta de sensibilidad al monofllamentc (44/51) y diapasón (43/50) y la ausencia de palpación de pulsos distales (44/51 y 41/47) se asociaron con riesgo de amputación. Si no se realiza el examen de los pies, el riesgo de amputación es de 1,9 veces. El estudio demostró la importancia de la evaluación y clasificación del pie diabético para la organización de un plan adecuado de detección y prevención. Descriptores: Pie Diabético; Atención Primaria de Salud; Amputación; Atención de Enfermería. Artígo resultante de Protetc de Jníciacáo Científica do Programa Institucional de Bolsas de Iniciacáo Científica - PlBIC - CNPqíUniversidade de Pernambuco UPE, em 2009, 1 Enfermetra. Doutora em Ciencias pelo Centro de Pesquisas Aggeu Megalhñes [Fiocruz]. Professora Adjunto da Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Gracas (FENSG); Uníversidade de Pernambuco (UPE). Brasil. E-mail: tutcmadesyahoo.ccm.br 2 Académicas do Curso de Enferrnagem da FENSGíUPE. Recífe, PE, Brasil. Emails:[email protected];[email protected]; lidianna_pe@ hctmail.com Autor correspcndente: Isabel Cristina Ramos Vieira Santos Rua 'Ieles [unior; 475, Apto. 201. Rosarinho. CEP: 52050-040. Recite; PE, Brasil. E-mail: tutcrnadcsyahoo.com.br Rev Rene. Fortaleza, 2011 abr/jun: 12(2):393-400. 393 Santos ICRV; Bezerra Gc, Soma CL,Pereíra LC INTRODUl;:AO A avaliacáo das lesóes nos pés de portadores de diabetes quando admitidos no nível mais complexo de o pé diabético é uma das cornplícacóes crónicas atencáo pode trazer informacóes sobre a situacáo cor- mais freqüentes do Diabetes Mellitus (DM). Caracteriza- rente gerando subsidios para melhoria da atcncáo básica -se pela prcsenca de Iesócs nos pés em dccorréncía de em relacáo alteracoes vasculares periféricas e/o u neurológicas pe- Iídade de vida. a prevencáo deste agravo e melhoria da qua- culiares do DM, constitumdo-se pela tríade: neuropatía. O arttgo tem como objetivos: Avahar as lesñes dos doenca vascular periférica e infeccáo. Se este agravo nao pés de pacientes com diabetes mellítus pelos métodos for reconhecído prccocemente, pode evoluir para gan- clínicos e verificar a existencia de assocíacáo entre o ris- grena e até mesmo amputacáo do membrot-"! co de amputacáo e utilizacáo da rede básica de saúde, A presenca da neuropatia ocasiona perda da sensibilidade térmica e dolorosa contribuindo para a ocor- MÉTODOS réncía de traumas e ulceracóes, O aparecimento de processos infecciosos e a deficiente írrigacao dos membros Estudo transversal, realizado em um hospital inferiores contribuem para a evolucáo da gangrena. público da cidade do Recife. Foí utilizada amostra nao- Multas vezes a pessoa corn diabetes apenas percebe a -probabilística por conveniéncia. Os pesquisadores re- lesáo quando esta se encontra em um estagío avanca- alizaram, no período de seis meses [outubro de 2009 a do, fator que dificulta o tratamento e contribuí para a abril de 2010) urna busca atíva diária de pacientes com alta incidencia de amputacóes nesses pacientes(5J, que pés diabéticos internados e, após o consentímcnto des- varia de 7/100.000 habitantes/ano na Dinamarca e Grá ses, realizaram a coleta de dados (n=61), utilizando um Bretanha e 206/"JOO.OOO habitantes/ano nos Estados Unidos[6J. instrumento construido por eles a partir das recomendaeñes do Consenso Internacional sobre Pé Diabétíco'vl e Fatores de risco importantes para esse agravo do Ministério da Saúde[15J. cornpreendem: idade, tipo e tempo de diagnóstico, con- As variáveis investigadas corresponderam a: ca- trole inadequado da glicemia, tabagismo, alcoolismo, racterizacáo dos sujeitos [idade, anos de estudo, ren- obesidade, hípertensño e falta de bons hábitos higiénicos no cuidado com os pés P -BJ. da familiar, número de pcssoas no domicílio, tempo de diagnóstico de DM e glicemia plasmática á adnnssáo): Estudos vérn enfatizando a necessidade dos pro- aspectos clínicos: lesao inicial, sensibilidade ao mono- fissionais da saúde avaliarem os pés das pessoas com filamento Sernmes-Weínsteín de lOg, sensibilidade ao diabetes de modo sistemático, com a finalidade de re- diapasño de 128 Hz, avaliacáo dos pulsos tíbíal posterior conhecerern os fato res de risco que podem ser modificados estimulando o auto-cuidado, paralelamente a um e pedioso. A classíñcacáo de Wagner(16J é um dos sistemas adequado controle metabólico, que conseqüentemente de avaliacao mais vastamente utilizado em todo o mun- rcduzirá o risco de ulceracáo e amputa<;ao(9-12J. do para as lesóes do pé diabético. Urna vez utilizado para Em muitos países a incidencia de amputacoes de pacientes internados tanto se presta a ajudar na corre- membros inferiores tem diminuído nas últimas duas dé- lacáo do tratamento apropriado da lesáo com melhores cadas como resultado de acóes preventivas organizadas, avances nas técnicas cirúrgicas e cuidado multidiscípli- resultados, como pode ser aplicado como instrumento de avaliacáo do cuidado anterior a interna<;ao(1T). nar do usuário. Entretanto aínda exístem exemplos cm Deste modo, todas as lesoes foram classificadas que a incidencia continua inalterada a despeito das me- segundo o sistema de Wagner(16J e a partir daí rcclassi- didas específicas tomadas(13J. ficadas em relacáo ao risco de amputacáo. considerando- A literatura é escassa quanto ao levantarnento de -se como "baíxo risco" aquelas Iesóes correspondentes dados epidemiológicos sobre ocorréncia de pé diabético aos graus O e 1 da classificacáo de Wagner e de "alto ris- e amputacóes e, sobretudo no que diz respeito a Iatores relacionados a atencáo básica(7,14]. apresentado no quadro 394 Rev Rene, Fortaleza. 2011 abr/jun, 12[21'393-400. co", as lesñes correspondentes aos graus 2 a S, conforme :1. a seguir: Santos ICRY, Bezerra GC, Souza CL,Pereira LC Quadro 1 - Classifícacáo de Wagner e classífícacáo de risco de amputacáo, Recife, PE, Brasil, 2010 Classlñcacño de Wagner Grau Classlñcacño de risco de amputacño Características Categorias Lesáo pré-ulcerosa O Lesáo cicatrizada Presenr:a de deformidade óssea 1 Baixo risco Úlcera superficial sem comprometimento do tecido subcutáneo Penetracáo pelo tecido subcutáneo; pode expor osso, tendáo, ligamento ou cápsula 2 articular 3 Osteíte, abscesso ou osteomielite 4 Gangrena de um dígito 5 Gangrena exigindo amputacáo do pé As variáveis relacionadas Alto risco a utilizacáo da rede bá- Tabela 1 - Classificacáo das les5es de pessoas com pé sica de saúde corresponderam a: servíco utilizado para diabético segundo sistema de Wagner e categorias de ris- acompanhamento, n° de consultas no último ano, exames co para amputacáo, Recife, PE, Brasil, 2010 de glicemia plasmática no último ano, medicacáo usada, aquisicáo de medicamento, disponibilidade de medica- Classlñcacño n % O 08 13,1 1 04 06,6 de Student, para cornparacáo de médias entre pacientes 2 07 11,5 de baixo e alto risco. No caso de variáveis discretas, foi 3 11 18,0 utilizado o teste qui-quadrado, para avaliar a indepen- 4 25 41,0 dencia entre essas variáveis e a variável risco de amputacáo ao nível de 5%, estimando-se a razáo de prevalen- 5 06 09,8 Baixo 12 19,7 Alto 49 80,3 mento e exame dos pés durante as consultas realizadas. Com o objetivo de estudar as relacóes entre as va- Classíñcacáo de Wagner riáveis citadas e o risco de amputacáo do membro inferior, foi aplicado, no caso de variáveis continuas, o teste t cia (RP) e respectivos intervalos de 95% de confianca Risco para amputacáo (lC95%). O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comité de ética em pesquisa envolvendo seres humanos do respecti- n= 61 vo hospital em 26/04/2010 (CAAE - 0041.0.102.097-08). RESULTADOS As médias apresentadas pelos pacientes de alto risco para amputacáo, quanto a idade, anos de estudo, renda familiar, n° pessoas no domicílio, tempo de diagnóstico de DM (tempo DM) e glicemia plasmática a admíssáo mos- No período de seis meses, foram internados 61 pacientes diabéticos com ulceracóes nos pés. traram díferencas significativas (p<0,05) quando compa- A Tabela 1 apresenta os resultados referentes a classífícacáo das les5es segundo sistema de Wagner e classífícacáo de risco para amputacáo. Conforme se ve- médias encontradas para essas variáveis foram de: 71,8 anos de idade, 2,2 anos de estudo, renda familiar de R$ rifica, 41 % da amostra (25/61) apresentou lesáo de grau 4 e 80,3% caracterizou-se como de alto risco para amputacáo (49/61). radas aqueles de baixo risco. Desse modo, nota-se que as 536,8, existencia de 5,3 pessoas residindo em domicílio, diagnosticado há 13,6 anos e média de glicemia a admissao de 236,3 mg/dl, respectivamente (Tabela 2). Rev Rene, Fortaleza, 2011 abr/jun: 12(2):393-400. 395 Santos ICRV; Bezerra Gc, Soma CL,Pereíra LC Tabela 2 - Risco de amputacao segundo variáveis da pessoa. Recife, PE, Brasil, 2010 Médlas das varlávets Idade Anos de estudo Renda familiar N° pessoas no domícílío Alto 71;83 2,24 536,84 S,31 L1,63 236,33 Baíxc 63,61 5,08 953,83 3,58 06,25 181,58 vator de t 2;13 2,54 2,50 2;18 4,93 2)13 p-va!or 0,04 0,02 0,03 0,03 0,00 0,04 Risco de amputacáo TempoDM Gllcemla a admlssño A presenca de gangrena na lesáo inicial apresenta ano, quando aqueles que realízaram menos exames (1- probabilidade de arnputacáo de 1,4 vezes em relacáo a 4) apresentaram chance para arnputacáo de 1,8 vezes sua ausencia. A ausencia de scnsíbilidade ao monofila- quando comparados aqueles que rcalízaram cinco ou mento e a ausencia de palpacáo dos pulsos tibial poste- mais, Ovalor da glicemia á admissáo hospitalar tarnbém rior e pedioso entre os pacientes de alto risco mostram probabilidade de amputacáo de 1,7 vezes quando com- se apresentou significante estatistícamente (p<O,05) e parados aos de baixo risco. A ausencia de sensibilidade ao diapasáo tambérn Ioi estatisticamente significante sentaram probabilidade de amputacao de 1,9 vezes ern relacáo aos que apresentaram resultado inferior a este (p=0,05) indicando que este aspecto clínico durante o exarne físico leva a probabilidade de amputacáo de 1,6 valor. vezes maior que na sua presenca. controle do DM, o relato de que "as vezes" o medicamen- Ao se testar a presenca de alto risco de amputa<;:áo considerando Iatores relacionados a utilizacáo da to está disponível, mostrou assccíacáo corn o risco para amputacáo, com probabilidade de 1,5 vezes quando com- rede básica de saúde, o número de consultas no últi- parado aos que referíram: "sernpre estava disponível". aqueles que apresentararn glícemía 2:: 126 mg/dl apre- Quanto a disponibilidade do medicamento para mo ano "de urna a duas consultas" esteve associada a O informe da nao realizacáo de exame dos pés nas maíor probabilidade de amputacáo (1,5 vezes) quan- consultas realizadas no último ano mostrcu-se asscciada do comparado aqueles que havíam realizado de tres a á ocorréncia de arnputacáo (p<O,05), apresentando risco maís consultas. Comportamento scmelhante se observa de 1,9 vezes maíor cm relacáo aqueles que tivcram os pés ern relacáo ao número de exames de glicemia no último examinados. Tabela 3 - Risco de amputacao segundo aspectos clínicos. Recífe, PE, Brasil, 2010 p n Lesác inicial Gangrena 35 9:L,4 Úlcera 26 65,4 Ausente 5~ 86;3 Presente :0 50,0 so 86;0 Sensibilidade Sensibilidade 0.0 0.0 1,.10 l,ü4 - 1,88 0,027 monoñlamentc 0,028 1,73 dlapasñc Ausente Presente 1,58 0;91 - 2,74 0,050 :L,73 0,92 - 3,24 0,028 54,5 Pulso tibial posterior Ausente Presente s: :0 86,3 47 87,2 50,0 Pulso pedioso Ausente Presente 396 Rev Rene, Fortaleza. 2011 abr/jun, 12(21'393-400, 57,1 0,035 Santos ICRV, Bezerra GC; Scuza CL,Pereíra LC As variáveis: servico utilizado para acornpanha- radas aos graus de menor gravidade, correspondendo a mento, medicacáo usada para controle do DMe aquísicáo classificacáo de alto risco para amputacáo utilizada neste do medicamento, mostraram homogeneídade entre os estudo. deis grupos. Como se trata de amostra de pacientes hospitalizados se pensa a principio, sobre a qualidade da referén- Tabela 4 - Risco de ulceracáo e amputacáo e fato res relacionados a utilizacáo da rcde básica de saúde. Recife, PE, Brasil, 2010 p n Servícc utilizado para acompanhamentc Ambulatóno e outrns 38 B4,2 PSF 18 72,2 42 88,1 15 60,0 43 88,4 14 50;0 2'.126 mgjdl 52 B6,5 <126 mgjdl 09 44,4 Antidíabétícos oraís (AOJ 32 B1,3 Insulina 15 73,3 Ins ulína + AO 12 83,3 PSF 43 81,4 Compra 16 75,0 As vezes 41 B7;B Sempre 14 57,1 Náo 50 BB;O Sím 1' 45;5 OAB7 N° de consultas no último ano 2 3a+ 1,47 0,96-2,25 0,047 1,77 1,04--3,02 0,007 1,95 0,93--4,07 0,013 Exames de glícem¡a no último ano ·····4 5a + Gltcemta ,1 admissñc Medícacñc usada 0;77B Aqutsícñc medicamento 0,858 Dtspontbtlídade medicamento 154 0,96-2,45 0,0]7 1,94 ¡,(ll-3,73 0;005 Exame dos pés "RP + lC calculados para tabela 2X2 e valor de p .<.:.;0,05 cia da atencáo básica, encaminhando para internamento DlSCUSSAO Há que se considerar no inicio desta discussño hospitalar apenas os casos graves. No entanto, o que chama a atencáo o volume desses pacientes em situacáo que o estudo foi realizado com pacientes hospitalizados, grave, correspondenda a 80,3% (49/61). Alguns países intencionalmente, com o propósito de se avahar a gravi- como a Inglaterra e Dinamarca tern reportado reducáo dade da situacáo dos pacientes diabéticos com complica- significativa nas taxas de amputacáo por pé diabético e coes crónicas. atrihuern o resultado aos investírnentos feitos sobre o A classificacáo de Wagner mostrou-se útil como é conjunto de servicos: vascular, radiológico. microbioló- parámetro clínico, propiciando a identíficacáo de casos gico e ao trahalho de urna equipe multidíscipltnarfl'll. de menor e maíor risco de amputacáo, levando em con- A enferrnagem tern papel decisivo nas acóes de atencáo a profundi- básica tanto no que se refere ao rastreamento da doenca sídcracao a gravidade das lesoes em relacáo dadc, existéncia de infeccáo e de insuficiéncia vascular. Nota-se, pelos resultados apresentados a maíor proporcáo de pacientes nos graus 2 a 5 quando cornpa- quanto, a prevencáo dessa complicacáo. por meio de acáo macíca de idcntificacáo do quadro patológico, classífíca- cáo de risco e medidas pertinentes. Rev Rene. Fortaleza, 2011 abrjjun; 12(2J:393-400. 397 Santos ICRV; Bezerra Gc, Soma CL,Pereíra LC Apesar, da cornplicacáo pé diabético, ser bem de- ponsabilidade pelo exame completo do paciente diabéti- limitada quanto a faixa etária superior aos 60 anos tanto co, do qual deve fazer parte o exame dos pulsos, conside- em estudos nacíonais quanto internacionais(:L,19-20], o rando o corihecímento da associacáo da doenca vascular que chama atencáo nos resultados deste artigo, sao as di- na génese do pé diabético, que se exprcssa neste estudo ferencas de médias encontradas para variáveis que deli- pelas freqúéncias encontradas, implicando num risco de mítarn o quadro de risco de amputacáo quanto asítuacáo amputacáo de 1,7 vezcs. Das variáveis relacionadas a utilizacáo da rede bá- de vida. As diferencas de medias entre os grupos de risco sica de saúde, o número de urna a duas consultas realiza- quanto a: anos de estudo, renda familiar e n" pessoas no das no último ano, que associada ao fato da maíor pro- domicílio, todas significativas estatístícamente, sínalízam porcáo de participantes da amostra ser de alto risco para como indicadores de precária condicáo de vida e ínteres- amputacáo (1,5 vezes], náo corresponde ao preceituado sarn á salute pública tendo em vista que constituí sua de- por instrumento norteador da atencáo básica(15] que se- manda de atendimento. ria de quatro a seis consultas ao ano. Acrescenta-se a isto, A baixa escolaridade repercute diretarnente sobre o número de um a quatro exames de glicemia realizados o autocuidado, implicando em atencáo especial pela en- no último ano, o valor da glicemia igual ou superior a 126 ferrnagern por ocasiáo das orientacóes dadas para o cui- mg/dl a admissáo e a disponibilidade de medicamentos dado preventivo e curativo da clientela ern risco. para controle do DM informado pelos pacientes como A renda familiar precária. pouco superior ao sa- "as vezes" que apontarn para dificuldades no controle da lário mínimo para um quantitativo médio de cinco pes- docnca, aprescntando risco para amputacáo de 1,8; 1,9 so as no domicílio repercute sobre o controle da doenca e l,S vezes respectivamente em relacáo as categortas de em termos de necessidades básicas como alimentacáo cornparacáo. Segundo instrumento normativo do Ministério da [quantitativa e qualitativamente] e provimentos necessários á prevencáo do agravo do pé diabóucoí ", repre- Saúde(15] deve ser efetuado, nas consultas de retina de sentando um desafio para a enfermagem na atencáo pacientes diabéticos o exame detalhado e pesquisa de básica. Iatores de risco para pé diabético, atribuindo ao enferOs indicadores clínicos utilizados neste estudo, meiro tal rcsponsabilidade. Neste cstudo, 88% (44/50) todos signiñcativos estatistícamente, refletem as caracte- pacientes que relatararn náo ter seus pés examinados rísticas do grupo de alto risco para amputacáo. ou seja: nas consultas do último ano fazíam parte do grupo de pacientes com doenca vascular periférica e avancado alto risco para amputacáo, apresentando chance de 1,9 grau de profundidade da lesáo, associados concomitan- vezes para a ocorréncia de tal destecho. Embora a litera- ternente a neuropatia, evidenciada nesta pesquisa tanto tura científica a esse respeito seja escassa, os resultados pela insensibilidade ao monofilameuto quanto ao diapasao, dados coerentes com a literatura(B,21]. aquí encontrados sao concordantes com um estudo norte americano(22] de rcvísáo sistemática sobre prcvencao de O diagnóstico do paciente em risco para neuro- úlceras nos pés de pacientes diabéticos, ende os autores paria durante as consultas de ro tina da atencao básica afírmam que esta conduta corneca com o exame para per- requer um exame físico menos sofisticado que para o da da sensibilidade protetora, o qua! diagnóstico diferencial na atencáo secundária, O uso do na atencáo prirnária, é melhor realizado monofílamento de Semmes-Weínsteín de 10g e o diapa- Essas medidas combinadas com outros achados sáo de 128Hz seriam suficientes(:L9]. A nao observancia da historia e exarne físico permitern aos prcfissionais da de tal uso pela atencáo básica concorre para o caráter equipe de saúde estratificar os pacientes a partir do risco silencioso da afeccáo, possivelmente relacionado as íre- e determinar o tipo de intervencáo necessária, quéncias aquí encontradas de alto risco para amputacáo. No Brasil, estudo realizado no Ceará com o objeti- A pesquisa dos pulsos distais [tibial posterior e vo de identificar pés de risco para o desenvolvimento de pedioso) por sua vez, náo requer nenhum instrumental, ulceracóes e amputacóesl'fl, as autoras chamam a aten- mas apenas o conhecimento e a habdidade da palpa~áo. Médicos e enfenneiros, tanto no nível básico como nos de maior complexidade precisam tomar como sua a res- 398 Hev Hene, Fm'alen, 2011 ab"¡i,m; 12(21'393·400. ~áo sobre a responsabilidade dos profissionais de saúde para implement.a~áodas Inedidas de preven~áo. Santos ICRV, Bezerra GC; Scuza CL, Pereíra LC CONCLUSOES 4. Lepes CE Pé diabético. In: Pilla GB, Castra AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceró: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003. Os poucos artigos publicados sobre él temática aquí abordada utílízam modelo retrospectivo OH seja desenho de estudo cm que tanto a exposícáo quanto o desfecho já ocorreram, Pelo n0550 p.1-21. 5. primeiro estado sobre o tema a usar pesquisa transversal Olefsky R. Diabetic foot, In: Cecil H. Textbook ofmedicine. 21 'ed. Philadelphía: Saunders; 2000. p.1360-72. conhecimento este é o 6. Grupo de Trabalho Internacional sobre Pé Diabético. Consenso Internacional sobre Pé Diabético [Inter- no Brasil nesta última década. Con1O em qualquer método retrospectivo existe net]. Brasilia (DF): Secretaria do Estado do Distrito o risco de registros incompletos e perda de iníormacáo. Federal; 2001[citado 2010 jun 28]. Disponível cm: acredita-se que taís riscos sao aquí minimizados pela me- http.y/189.28.128.100 /dab/does/publicacoes/ge- todología utilizada. raljconcejnte rpediabetico. pdf Também sao pencas as publícacócs que abordam 7. Vieira Santos ICR, Silva ACFIJ, SilvaAP, Mela LCE Con- o risco de amputacáo por pé diabético e a atencáo básica, dutas preventivas na atencáo básica e amputacáo de tornando difícil a comparacáo dos resultados aquí encon- membros inferiores ern portadores de pé diabético. trados ao mesmo tempo cm que reforca seu caráter inédito. Rev Rene. 2008; 9( 4):40-8. O estudo mostrou a importancia da avaliacáo e classificacáo do pé diabético para a organízacáo de um 8. volvimento de ulceracóes e amputacñes em diabéticos. Rev Rene. 2009; 10(2):19-28. plano eficiente de rastrearnento e prevencáo, A equipe interdíscíplínar deverá avahar o risco, de modo que intervencóes apropríadas sejarn tomadas no Araújo MM, Alencar AMPG. Pés de risco para o desen- 9. Frykberg RG. Diabetic foot uleers: pathogenesis and management, Am Fam Physician, 2002; 66(9):1655-63. fundamental que o en- 10. American Diabetes Asscciatíon. Preventatíve foot fermeiro tome para si a responsabilidade de executar nas care in people with diabetes. Diabetes Careo 2003; momento adequado, Para isto, é consultas de ro tina o exame completo dos pés, examinando 26(Suppl. 1):78-9. os pulsos distais e na sua ausencia, comunicar ao médico 11. Ageney for Healthcare Research and Quality (AHRQ). da equipe para devida referencia a círurgia vascular para o Fcwer than half of adults with Diabetes get critically tratamento que muitas vezes evitará uma amputacáo, important yearly exams, News and Numbers [peri- Do mesmo modo, a pesquisa de neurcpatia, im- ódico na Internet]. 2006 [citado 2010 jun 28]; 7(1): plicará diretamente ern acoes importantes de educacáo, [cerca de 6 p]. Dispanível em: http://www.ahrq.gov/ considerando-se o grau de entendimento do paciente e news/ nn,'11110425 06.h tm, respectivos cuidadores, com conscqüentc monítoramcnto por meio de visitas domiciliares. 12. Doupís J, Veves A. Classification, diagnosis, and treatment of diabetic foot. ulcers. Wounds. 2008; 20(5):117-25. REFERENCIAS 13. Poljieanín T, Pavlí.e-Renar 1, Metelko Z, Coce F. Draft program of prevention of diabetic foot Development 1. 2. 3. Pitta GBB, Castro AA, Soares AMMN, Maeiel C]J, Silva and Iower extrernity amputatíon in Persons wíth dia- JDM, Muniz VMI. Perfil dos pacientes portadores de betes mellitus, Diabeto] Croat. 2005; 34(2):43-9. pé diabético atendidos no Hospital Escola José Car- 14. Ocho a-Vígo K, Torquato MTCG, Silvério lAS, Queiroz neiro e na Unidade de Emergencia Armando Lages, J FA, De La Torre Ugarte-Guanilo Me, Pace AE. 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