Física Geral I – EF, ESI, MAT, FQ, Q, BQ, OCE, EAm Protocolos das Aulas Práticas – 2003 / 2004 DF - Universidade do Algarve FORÇA CENTRÍFUGA 1. Resumo Um corpo descreve um movimento circular uniforme. Faz-se variar a sua velocidade de rotação e a distância ao eixo de rotação, medindo-se a força centrífuga em função destes dois parâmetros. 2. Tópicos teóricos m r (Fig 1) Considere-se um corpo sobre uma calha, a qual executa um movimento circular uniforme (ver fig. 1). Devido a encontrar-se ligado a um referencial não inercial, esse corpo fica sujeito a uma força centrífuga de inércia. Obviamente essa força será dependente das grandezas físicas que caracterizam o sistema. Prova-se, mediante aplicação adequada das leis de Newton a sistemas de referência não inerciais, que o módulo da força centrífuga é dado por: Fc = mω 2 r , (1) onde m representa a massa do corpo, ω a velocidade angular do movimento de rotação da calha e r o raio de rotação, isto é, a distância a que o corpo se encontra do eixo de rotação. A força centrífuga tem linha de acção radial e aponta sempre do centro para o exterior da trajectória circular descrita pelo corpo no referencial fixo do laboratório. 3. Problemas propostos FC - 13 Física Geral I – EF, ESI, MAT, FQ, Q, BQ, OCE, EAm Protocolos das Aulas Práticas – 2003 / 2004 DF - Universidade do Algarve Pretende-se verificar experimentalmente a relação teórica (1), através de dois passos: 3.1. 3.2. Velocidade variável: mantendo a massa e a distância ao eixo de rotação constantes pretende-se verificar que a força centrífuga é directamente proporcional ao quadrado da velocidade angular do movimento. Distância variável: mantendo a massa e a velocidade angular constantes verificar que a força centrífuga é directamente proporcional à distância a que o corpo se encontra do eixo de rotação. 4. Material Calha com suporte giratório. Motor eléctrico de velocidade regulável com correia de transmissão. Carro com suporte para massas marcadas. Massas marcadas. Detector fotoeléctrico. Relógio electrónico. Régua graduada. Dinamómetro. Bases, suportes e roldanas. Fios eléctricos de ligação. 5. Procedimento experimental Tenha o cuidado de anotar os erros de leitura de escala associados a todos os aparelhos de medida que usar. Efectue as convenientes ligações eléctricas (ver fig. 2). Calibre o dinamómetro de forma que, quando o sistema está em repouso e não há tensão no fio, a leitura nesse instrumento seja de 0 N. Se durante o movimento de rotação do sistema o fio ficar torcido deve esperar que ele se destorça antes de efectuar a medida da força no dinamómetro. FC - 14 Física Geral I – EF, ESI, MAT, FQ, Q, BQ, OCE, EAm Protocolos das Aulas Práticas – 2003 / 2004 DF - Universidade do Algarve 1 Calha com suporte giratório. 2 Motor eléctrico. 3 Carro com suporte para massas. 4 Massas marcadas. 5 Detector fotoeléctrico. 6. Relógio electrónico. 4 2 3 1 5 6 (Fig. 2) O relógio está configurado para medir o período do movimento de rotação da calha. Como o movimento é uniforme espera-se que os valores obtidos para o período do movimento sejam aproximadamente iguais. Verifica-se, no entanto, que as primeiras voltas imediatamente após o início do movimento do motor não têm o mesmo período. Torna-se portanto necessário esperar que o movimento de rotação estabilize antes de começar a efectuar qualquer experiência. Com o valor do período de rotação pode calcular a velocidade angular do movimento através da expressão: ω= 2π T (2) Tenha o cuidado de usar sempre o mesmo sentido de rotação para o motor, porque ele apresenta características diferentes dependendo do sentido. Mantenha-se afastado da calha rotatória quando a puser em movimento para evitar acidentes. 5.1. Velocidade angular variável. 5.1.1. Pese o carro e coloque-o sobre a calha rotatória com uma massa adicional de 100 g. 5.1.2. Com o sistema em repouso e o carro tão próximo quanto possível do eixo de rotação desloque o dinamómetro de forma que indique uma leitura de 0 N (não se esqueça de verificar que não há tensão no fio). Marque a posição indicada pela marca presa no fio sobre a régua graduada. (Nota: na posição indicada para o carro o seu centro de massa está a uma certa distância, d, do eixo de rotação. Meça essa distância). 5.1.3. Ponha o sistema em movimento (escolha uma velocidade de rotação relativamente baixa). Verificará que a marca sobre a escala se desloca e que a força medida pelo dinamómetro deixou de ser nula. Desloque novamente o dinamómetro (agora com o sistema em movimento) até que a marca sobre a escala se desloque 15-d cm. Desta forma, a distância do centro de massa do carro em relação ao eixo de rotação será de 15 cm. Marque esta nova posição sobre a escala. FC - 15 Física Geral I – EF, ESI, MAT, FQ, Q, BQ, OCE, EAm Protocolos das Aulas Práticas – 2003 / 2004 DF - Universidade do Algarve 5.1.4. Faça 10 determinações do período de rotação da calha para poder calcular a velocidade angular do sistema. 5.1.5. Meça o valor da força centrífuga indicada pelo dinamómetro. 5.1.6. Aumente ligeiramente a velocidade de rotação do motor. Deixe o sistema estabilizar e faça 10 determinações do período do movimento. 5.1.7. Reponha a marca ligada ao fio na mesma posição sobre a escala (desta forma manterá uma distância constante de 15 cm) e meça a força no dinamómetro. 5.1.8. Repita os procedimentos anteriores até perfazer 6 valores distintos para velocidade angular do sistema. 5.2. Raio de rotação variável. 5.2.1. Coloque o carro sobre a calha rotatória com uma massa adicional de 100 g. 5.2.2. Proceda como em 5.1.2.. 5.2.3. Ponha o sistema em movimento (escolha uma velocidade de rotação relativamente elevada e não a altere durante o decorrer desta experiência). Verificará que a marca sobre a escala se desloca e que a força medida pelo dinamómetro deixou de ser nula. Desloque novamente o dinamómetro (agora com o sistema em movimento) até que a marca sobre a escala se desloque 2 cm (d’). Desta forma, a distância do centro de massa do carro em relação ao eixo de rotação será de d+2 cm. 5.2.4. Faça 10 determinações do período de rotação da calha para poder calcular a velocidade angular do sistema. Anote-as numa tabela. 5.2.5. Meça o valor da força centrífuga indicada pelo dinamómetro. Anote-o noutra tabela. 5.2.6. Desloque o dinamómetro de forma que o raio de rotação do carro passe a ser de d+4 cm. 5.2.7. Meça a força centrífuga no dinamómetro e anote o resultado na tabela construída em 5.2.5.. 5.2.8. Repita a experiência aumentando o raio de rotação de 2 em 2 cm até perfazer 6 valores distintos. 6. Análise dos resultados obtidos 6.1. Velocidade angular variável 6.1.1. Calcule os valores médios e estime os erros associados aos diferentes valores medidos para os períodos de rotação do sistema. Escreva os resultados na tabela construída em 5.1.4.. FC - 16 Física Geral I – EF, ESI, MAT, FQ, Q, BQ, OCE, EAm Protocolos das Aulas Práticas – 2003 / 2004 DF - Universidade do Algarve 6.1.2. Construa uma tabela com os valores de ω2, e Fc indicando também os erros associados a cada um dos valores. 6.1.3. Usando os valores da tabela anterior elabore um gráfico de Fc x ω2 e ajuste-lhe uma recta de regressão linear. 6.1.4. Compare os valores dos coeficientes da regressão linear com o que se espera teoricamente e tire conclusões. 6.2. Raio de rotação variável. 6.2.1. Calcule o valor médio e estime os erros associados aos valores medidos em 5.2.4. e, a partir deles, determine o valor da velocidade angular do sistema e o erro que lhe vem associado. 6.2.2. Construa uma tabela com os valores de r, e Fc indicando também os erros associados a cada um dos valores. 6.2.3. Usando os valores da tabela anterior elabore um gráfico de Fc x r e ajuste-lhe uma recta de regressão linear. 6.2.4. Compare os valores dos coeficientes da regressão linear com o que se espera teoricamente e tire conclusões. FC - 17 Física Geral I – EF, ESI, MAT, FQ, Q, BQ, OCE, EAm Protocolos das Aulas Práticas – 2003 / 2004 DF - Universidade do Algarve Apêndice Força centrífuga sobre um corpo num referencial em movimento circular uniforme r ω r N r T r m r Fc r P Fig. A.1 Considere-se uma calha que descreve um movimento circular uniforme de velocidade r angular ω em torno de um eixo fixo (ver figura A.1). Sobre a calha encontra-se um corpo de massa m. Considere-se que o corpo está em repouso relativamente à calha. Do ponto de vista de um observador (não inercial) ligado à calha, a lei de Newton do movimento terá de se escrever na forma: r r r r r T + P + N + Fc = 0 , (A.1) r uma vez que o corpo, do ponto de vista desse observador, se encontra em repouso. Fc é a chamada força centrífuga de inércia. Este tipo de forças (de inércia) não tem a mesma origem física das forças que correntemente se encontram na Natureza. Surge como uma forma de modificar a 2ª lei de Newton para que seja aplicável mesmo relativamente a observadores não inerciais. r r A partir da equação anterior, e atendendo a que P (peso do corpo) e N (reacção normal da superfície sobre a qual o corpo se encontra) se anulam entre si, pode-se concluir que Fc = T . (A.2) T representa o módulo da força de tensão do fio que impede o corpo de se deslocar sobre a calha e Fc o módulo da força centrífuga. Para determinar Fc torna-se portanto necessário calcular o valor de T. A melhor forma de o obter em função das grandezas que caracterizam o sistema é estudar o movimento do corpo do ponto de vista de um observador ligado a um referencial inercial (por exemplo: o laboratório em relação ao qual a calha se desloca). Do ponto de vista deste observador a lei de Newton do movimento assume a forma: r r r r T + N + P = ma , FC - 18 (A.3) Física Geral I – EF, ESI, MAT, FQ, Q, BQ, OCE, EAm Protocolos das Aulas Práticas – 2003 / 2004 DF - Universidade do Algarve r sendo a a aceleração do corpo. Note-se que, em relação a este referencial, o corpo está em movimento. Sendo esse movimento circular e uniforme, pode-se escrever (recordando que o peso e a reacção normal se anulam entre si): v2 T = mac ⇔ T = m r (A.4) r r r v =ω xr , (A.5) v =ω r, (A.6) Atendendo a que r r e ω ⊥ r tem-se: de onde se pode concluir que T = mω 2 r , ou seja: Fc = mω 2 r . (A.7) FC - 19