UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL
ANA CARLA LIMA DO NASCIMENTO
A TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA DOS CONTEÚDOS DE
MITOSE E MEIOSE NO ENSINO MÉDIO
BEBERIBE - CEARÁ
2013
ANA CARLA LIMA DO NASCIMENTO
A TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA DOS CONTEÚDOS DE MITOSE E
MEIOSE NO ENSINO MÉDIO
Monografia apresentada ao Curso de
Graduação em Ciências Biológicas do
Centro de Ciências da Saúde da
Universidade Estadual do Ceará, como
requisito parcial para obtenção do Título
de Licenciado em Ciências Biológicas.
Orientadora: Profª Ms. Maria Márcia Melo
de Castro Martins
BEBERIBE-CEARÁ
2013
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Universidade Estadual do Ceará
Biblioteca Central Prof. Antônio Martins Filho
Bibliotecário(a) Responsável – Giordana Nascimento de Freitas CRB-3/1070
N244t
Nascimento, Ana Carla Lima do
A transposição didática dos conteúdos de mitose e meiose no ensino
médio / Ana Carla Lima do Nascimento. – 2013.
CD-ROM. 37 f. il. ; 4 ¾ pol.
“CD-ROM contendo o arquivo no formato PDF do trabalho
acadêmico, acondicionado em caixa de DVD Slin (19 x 14 cm x 7 mm)”.
Monografia (graduação) – Universidade Estadual do Ceará, Centro
de Ciências da Saúde, Curso de Ciências Biológicas a Distância,
Beberibe, 2013.
Orientação: Profa. Ms. Maria Márcia Melo de Castro Martins.
1. Transposição didática. 2. Divisão celular. 3. Livro didático. 4.
Ensino de Biologia. I. Título.
CDD: 574.07
O ensino dos sábios é fonte de vida e afasta o homem das armadilhas da
morte.
Provérbios 13:14
Dedico este trabalho àqueles que acreditam que a educação
é o caminho para o desenvolvimento do país.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, que me acompanhou durante esta caminhada;
A minha filha, que é fonte de inspiração e minha fortaleza para não desistir da caminhada.
Ao meu marido, pela paciência e amor;
Aos meus familiares que me deram força e coragem durante este percurso;
As amizades construídas durante o curso e que jamais serão perdidas com o passar do
tempo;
Aos alunos que participaram do projeto, por tudo o que aprendi, e continuo aprendendo até
hoje;
Aos professores formadores, que propiciaram e orientaram o desenvolvimento deste
trabalho, e ainda pela forma como acreditam em seus alunos, sempre oportunizando a
abertura de novos horizontes.
À Profa. tutora à distância Lydia Dayanne Maia Pantoja, pelo incentivo, amizade virtual na
plataforma e disciplinas presenciais construídos ao longo de uma caminhada;
À Profa. Márcia Melo por ter acreditado neste trabalho e ter me orientado, cuidadosamente.
Aos professores Flávia Roldan e Ivo Conde, pelas valiosas sugestões ao aprimoramento
deste trabalho.
À Profa. Coordenadora de Curso, Germana Costa Paixão, pela paciência e carinho não só
por mim como também pela turma;
Aos professores que lecionam Biologia nas escolas do município de Cascavel, que
contribuíram com suas preciosas entrevistas para a pesquisa.
RESUMO
O conteúdo de Divisão Celular, mitose e meiose, é considerado por muitos professores o mais
complexo para o aluno assimilar e na maioria dos livros esse conteúdo é visto no 1º ano do Ensino
Médio. Também tem se apresentado como conteúdo de difícil abordagem tanto por professores
iniciantes, como por docentes mais experientes. Nesse sentido o presente trabalho investiga a
Transposição Didática e as metodologias de ensino utilizadas por professores relacionadas à mitose
e meiose. Tem por objetivo geral identificar a percepção dos professores em torno do tratamento das
informações em relação aos conteúdos de mitose e meiose nos livros de Biologia do Ensino Médio. E
os objetivos específicos são conhecer como os conteúdos de mitose e meiose são tratados nos livros
de Ensino Médio; verificar a percepção do professor no tocante ao aprendizado do aluno em relação
à esses conteúdos; conhecer os tipos de metodologias e linguagens utilizadas pelo docente para a
abordagem desses processos; destacar as dificuldades de aprendizado do aluno em torno do
conteúdo em questão. O presente trabalho caracteriza-se como um estudo de natureza qualitativa e
tem por método o Estudo de Caso. A coleta de dados se deu por meio de entrevista e análise de
livros didáticos de Biologia. Os sujeitos são três professores de Biologia das turmas de 1º ano das
escolas da rede estadual de ensino localizadas no município de Cascavel. O tratamento e a análise
de informações dos referidos conteúdos nos livros didáticos utilizados por esses profissionais foram
realizados traçando-se um paralelo entre o livro e as entrevistas realizadas com os docentes no
intuito de saber como esses professores transmitem esse saber científico e quais são suas
percepções em relação aos saberes adquiridos pelos alunos e sua reflexão quanto ao livro didático
utilizado por eles nas aulas. A partir da análise das falas dos professores entrevistados e do conteúdo
de divisão celular nos livros didáticos, concluiu-se que as metodologias adotadas pelos docentes
associadas à forma como o assunto é apresentado no livro são fatores que concorrem para a
dificuldade do aluno em compreender o conteúdo de mitose e meiose no 1º ano do Ensino Médio,
pois embora os professores tenham nos relatado que há uma preparação para ministrar tal conteúdo,
entendemos que a compreensão deste requer a leitura do aluno do material didático, mediado por
intervenções do docente embasadas por conhecimento de como tornar os conteúdos mais
acessíveis, de como tornar o saber sábio (do cientista) em saber escolar. O estudo apontou para a
necessidade de os cursos de formação discutirem a transposição didática como um conhecimento
importante e essencial que o professor deve deter para o exercício da docência.
Palavras-chave: Transposição Didática; Divisão Celular; Livro Didático; Ensino de Biologia
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...........................................................................................
7
2 REFERENCIAL TEÓRICO.........................................................................
10
2.1 Transposição Didática...........................................................................
10
2.2 Transposição Didática e o Ensino de Biologia no Ensino Médio.....
12
2.3 O livro didático e os conteúdos de Divisão Celular...........................
13
2.4 Metodologias dos professores em sala de aula.................................
14
3 METODOLOGIA.........................................................................................
18
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................
20
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................
29
REFERÊNCIAS.............................................................................................
31
APÊNDICE I..................................................................................................
34
APÊNDICE II.................................................................................................
36
ANEXO...........................................................................................................
37
7
1 INTRODUÇÃO
Atualmente há uma diversidade de metodologias de ensino de Biologia à
disposição dos docentes, com o objetivo de contribuir com o aprendizado do aluno. Os
procedimentos metodológicos devem estimular uma postura reflexiva e investigativa sobre
os fenômenos estudados, sendo o professor o mediador entre o conteúdo apresentado no
livro e sua apropriação pelo aluno. Esse processo é denominado por Chevallard (1985),
como Transposição Didática. Esse termo foi, primeiramente, utilizado no ensino da
Matemática e posteriormente passou a ser objeto de estudo em outras disciplinas para se
investigar a qualidade das metodologias e da linguagem utilizada pelos docentes na
abordagem dos conteúdos escolares.
No ensino de Biologia, os livros didáticos constituem um recurso de fundamental
importância, já que representa, em muitos casos, o único material de apoio didático
disponível para os alunos. A linguagem utilizada nesses livros é de natureza técnicocientífica, de difícil compreensão para os estudantes. E o professor durante seu curso de
formação inicial, geralmente, não aprende como trabalhar com essa linguagem e finda por
reproduzi-la em sala, o que dificulta o reconhecimento e a aprendizagem dos conteúdos
pelos alunos.
O livro de Biologia é um instrumento que tem um diferencial em relação aos
demais, pois aplica os métodos científicos, analisa os fenômenos propostos, testa as
hipóteses formadas e também a formulação de conclusões, propiciando ao aluno uma
compreensão científica, filosófica e estética de sua realidade (VASCONCELLOS, 1993).
Oferece suporte no processo de formação dos indivíduos estabelecendo um elo entre o
conteúdo com o cotidiano. Nesse processo deve buscar atender às propostas pedagógicas
da escola, não fugindo da interdisciplinaridade, da transversalidade de temas e as
adaptações do conteúdo ao meio em que o aluno vive.
E foi nesse sentido que me senti motivada em pesquisar a respeito da
transposição didática de conteúdos de Mitose e Meiose. Esse conteúdo é ensinado durante
o 1º ano do Ensino Médio, e muitos alunos ainda não conseguem abstrair o conhecimento
mais complexo e técnico no que se refere à reprodução celular, e o professor em sala de
aula, na maioria das vezes, utiliza a mesma linguagem trazida nos livros didáticos, o que se
torna fator complicador na aprendizagem desses alunos.
De acordo com Jotta (2013) a linguagem é um meio de expressar e comunicar
ideias (abstrações com significado), para isto ocorre uma representação por signo, e estes
se organizam em códigos, através dos quais é possível realizar a mediação por um canal
8
entre locutor e receptor, assim ocorre à recepção-interpretação da mesma. Desta forma, a
educação é construída basicamente por mecanismos de linguagens e códigos. Quando a
linguagem ordinária não é suficiente para construir as ideias que são objetivadas num canal
de comunicação, por razões diversas, tais como desconhecimento do vocábulo, objeto não
existente na estrutura cognitiva, são necessárias estratégias diferentes de assimilação.
Portanto, o processo de ensino e aprendizagem de Biologia é um processo
contínuo e processual, onde muitas informações são adicionadas e complementadas pelo
professor, levando em consideração que o aluno possa apreender o conteúdo de forma
prazerosa, e que segundo Braga (2009), embora sejam processos contínuos, a meiose e a
mitose são, para efeito de estudos, divididas em fases e subfases que costumam ser
apresentadas de maneira detalhada e ricamente ilustrada nos livros.
É preciso, no entanto ficar atento aos efeitos que tal formatação tem produzido
sobre a aprendizagem e a compreensão desses processos. De fato, parece que para a
maioria dos alunos a impressão mais duradoura a respeito da meiose, por exemplo, é a de
uma sucessão de quadros com diferentes posições de cromossomos, que culmina com a
formação de quatro células que possuem a metade do número de cromossomos da célula
mãe. Tal visão é reforçada, inclusive, pela maneira como a meiose é, de forma resumida,
definida na maioria dos livros didáticos: tipo de divisão celular em que uma célula dá origem
a quatro células com a metade do número de cromossomos da célula original.
Esta forma de definir a meiose, que enfatiza mais o resultado do que o processo
em si, dificulta a aprendizagem significativa deste conteúdo e enfraquece o seu caráter de
conhecimento subsunçor. Ela limita o estabelecimento de relações cognitivas com outros
temas afins levando a uma compreensão fragmentada e pouco significativa dos tópicos
envolvidos. Adiante também apresentaremos como a mitose é apresentada nos livros
didáticos.
Diante da situação posta, nosso questionamento gira em torno das metodologias
de abordagem desses conteúdos junto aos alunos do 1º ano do ensino médio e como o livro
é utilizado para transpô-los nesse processo, de forma que o aluno possa entendê-los e
assimilar a linguagem presente no material didático.
Essas inquietações deram origem ao objetivo geral do nosso estudo: Identificar
a percepção dos professores em torno do tratamento das informações em relação aos
conteúdos de mitose e meiose nos livros de Biologia do Ensino Médio. O qual se
desmembrou em objetivos específicos, a saber: Conhecer como os conteúdos de mitose e
meiose são tratados nos livros de Ensino Médio; verificar a percepção do professor no
tocante ao aprendizado do aluno em relação a esses conteúdos; conhecer os tipos de
9
metodologias e linguagens utilizadas pelo docente para a abordagem desses processos;
destacar as dificuldades de aprendizado do aluno em torno do conteúdo em questão.
No Referencial Teórico, será abordado o que é Transposição Didática e seus
conceitos acerca do ensino, relacionando também o mesmo com o ensino de Biologia no
Ensino Médio, levando em consideração o conteúdo de Mitose e Meiose nos livros didáticos
e como eles estão sendo abordados de acordo com os PCNEM (Parâmetros Curriculares
Nacionais do Ensino Médio) e as metodologias do docente em sala de aula. Na seção de
Metodologia do presente trabalho apresentamos o Estudo de Caso como método de
pesquisa. Os Resultados desta foram discutidos no tocante à como os conteúdos de mitose
e meiose são abordados no Ensino Médio, e por fim as Conclusões desta pesquisa.
Passemos ao próximo capítulo, onde apresentamos o caminho metodológico
percorrido para atender nossos objetivos.
10
2. REFERENCIAL TEÓRICO
A transposição didática deve ser apreciada pelos futuros professores durante a
vida acadêmica, principalmente em conteúdos mais complexos da Biologia, para se
conhecer como viabilizar a apropriação dos conhecimentos pelos alunos. Aqui serão
abordados os referenciais teóricos para a construção da presente pesquisa.
2.1. Transposição didática
Ao ministrar os conteúdos escolares, o docente precisa não somente dos
saberes biológicos, mas também de metodologias no uso da linguagem para abordar os
conhecimentos, de forma que favoreça o processo de aprendizagem do aluno. É o que
chamamos de Transposição Didática. Esse conceito foi desenvolvido por Michel Verret em
1975, mas em 1991 Chevallard estudou mais a fundo esse conceito no ensino da
Matemática, para o autor:
A transposição didática é entendida como um processo, no qual, um
conteúdo do saber que foi designado como saber a ensinar sofre a partir
daí, um conjunto de transformações adaptativas que vão torná-lo apto para
ocupar um lugar entre os objetos de ensino. (CHEVALLARD, 1991, p. 39).
O professor necessita saber mais, buscar e pesquisar sobre como transpor os
conteúdos de divisão celular para os alunos, pois pouco adianta conhecer o conteúdo de
divisão celular, se durante a aula, o docente utiliza-se da mesma linguagem técnicocientífica do livro para o aluno e de um vocabulário alheio aos aprendizes. Dessa maneira, o
aprendizado se torna monótono e desmotivante para o aluno durante os exercícios, que não
raro trazem questões descontextualizadas.
Nessa direção, Chevallard (1991) nos informa que o conhecimento acadêmico
deverá ser “adaptado” ao ambiente das salas de aula para que tenham melhor percepção do
conteúdo. Isso pode sugerir a ideia de que o Saber a Ensinar e o Saber Ensinado sejam
pouco diferentes daqueles presentes nos laboratórios e grupos de pesquisa universitários.
Sendo assim, a transposição didática pode ser definida como um conjunto de
ações que podem transformar um saber sábio (conhecimento científico) em saber ensinável,
como destaca ALVES (2000, p. 21):
No ambiente escolar, o ensino do saber sábio se apresenta no formato do
que se denomina de conteúdo ou conhecimento científico escolar. Este
conteúdo escolar não é o saber sábio original, ele não é ensinado no
formato original publicado pelo cientista, como também não é uma mera
simplificação deste. O conteúdo escolar é um “objeto didático” produto de
um conjunto de transformações. [...]. Após ser submetido ao processo
transformador da transposição didática, o “saber sábio” regido agora por
11
outro estatuto, passa a constituir o “saber a ensinar”.
Nesse caso, o professor além de ter domínio dos conhecimentos específicos da
área da Biologia, necessita também saber adequar a linguagem para o ambiente escolar,
pois o conteúdo biológico não é pronto para ser ensinado da mesma forma que se encontra
nos materiais didáticos. Deve ser transformado por meio da utilização de metodologias
diferenciadas, para que o aluno possa ser contemplado no processo de ensinoaprendizagem.
É necessário que o conhecimento científico escolar esteja fundamentado nos
saberes produzidos pelos cientistas. O ensino de Biologia tem como princípio o estudo da
vida, e o mesmo tem se mostrado mutável, pois surgem novas descobertas que modificam
as teorias já estabelecidas. Assim, os materiais didáticos e as teorias propostas devem ser
atualizadas, e o saber acadêmico deve ser adaptado à realidade dos estudantes no
ambiente escolar.
Dessa maneira, pode até surgir a ideia que o Saber a Ensinar e o Saber
Ensinado sejam conceitos diferentes daqueles que estão presentes nos laboratórios de
pesquisa. Nesse sentido o ensino traz embutida a ideia de simplificação do saber. Para
ALVES-FILHO (2000 p.13), esta visão simplificada “é equivocada e geradora de
interpretações ambíguas nas relações escolares, pois revela o desconhecimento de um
processo complexo de transformação do saber”.
Segundo Pietrocola (2005), é preciso deixar claro que a “simplificação” aqui
tratada precisa ser diferenciada da escolha consciente de modelos simplificados, que
remetem ao processo de modelagem científica. Ou seja, que a ciência é modelável e
adaptável podendo ser usada linguagens simplificadas para o aprendizado de um conteúdo
ou unidade proposta, e o professor é o responsável direto por essa flexibilidade na
linguagem dos conteúdos para o aluno.
Com isso, neste processo, abstrações, simplificações e idealizações são
esquecidas, ficando o modelo condicionado às mesmas. Para Krasilchick (2008, p. 83):
a modelagem científica é imprescindível para a construção da ciência e,
também, para seu ensino. [...] O aspecto “modelador” do saber ensinado é,
assim, ocultado do aluno e os autores dos livros didáticos não informam ao
aluno-leitor sobre a necessidade da modelagem dos saberes científicos .
Para Miglio e Terán (2011), historicamente, a escola, dentre suas principais
funções, tem tido o papel da transmissão de conhecimentos produzidos pela humanidade. E
nem sempre os livros trazem a realidade que corresponde a esse papel. Nesse sentido, os
materiais deveriam ser específicos e propor trabalhos que contemplassem o dia-a-dia do
12
aluno, proporcionando-lhe uma aula prazerosa e, ao professor, planejamentos diversificados
que colaborassem facilitando a mediação adequada da linguagem técnico-científica dos
livros à realidade do aluno em sua comunidade.
Nessa direção é que Moraes (2007 p.170) compreende que “o conhecimento se
dá fundamentalmente no processo de interação, de comunicação”. Para ocorrer a
transmissão ou comunicação, se faz necessário que o conhecimento seja transformado. Os
conhecimentos científicos, na medida em que são elaborados, passam por processos de
codificação, sendo que os processos didáticos devem considerar os códigos científicos.
Contudo, tais códigos devem passar por uma decodificação ou transposição para ser
apreendida pelos alunos.
2.2. Transposição Didática e o Ensino de Biologia no Ensino Médio
De acordo com as Orientações Curriculares para o Ensino Médio da Área de
Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias, o ensino de Biologia deveria ser
pautado na alfabetização científica, implicando este conceito em três dimensões: a
aquisição de um vocabulário básico de conceitos científicos, a compreensão da natureza do
método científico e a compreensão sobre o impacto da ciência e da tecnologia sobre os
indivíduos e a sociedade (BRASIL, 2006).
Assim, o ensino deverá ser desenvolvido de forma que possibilite ao aluno a
apropriação do conhecimento científico, reconhecendo sua relação com o cotidiano e
sabendo aplicar os conhecimentos em diferentes situações do dia-a-dia. Para que esta
proposta seja concreta, se faz necessário a mediação do professor, no sentido de realizar a
transposição didática dos conteúdos de forma a viabilizar esse processo.
Já os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio - PCNEM
(BRASIL, 2006) consideram que há um conjunto de conhecimentos que são necessários ao
aluno para que ele compreenda a sua realidade e possa nela intervir com autonomia e
competência.
Esses conhecimentos constituem o núcleo comum do currículo, onde os
conteúdos de Biologia devem possibilitar que os alunos compreendam a vida como
manifestação de sistemas organizados e integrados, em constante interação com o
ambiente físico-químico (MIGLIO; TERÁN, 2011).
O professor de Biologia durante seu planejamento de aulas, rotineiramente, se
depara com alguns questionamentos como, por exemplo, quais conteúdos deve priorizar, e
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quais os objetivos de aprendizagem a serem alcançados. Neste momento, deve se centrar
no processo de transposição didática onde o docente, a partir do plano de curso do livro
didático, e outras fontes, seleciona o que é importante ou faz recortes, analisa e organiza o
processo de ensino, buscando recursos didáticos e metodologias que viabilizem a
transmissão de conhecimento e obtenham melhor compreensão dos conteúdos.
De acordo com Miglio e Terán (2011), é por meio da transposição didática que a
proposta curricular se concretiza, pois os objetos de conhecimento (saber científico) ao se
inserirem no contexto escolar se transformam em objetos de ensino, ou seja, em conteúdo
curricular, em saberes ensináveis. Evidencia-se neste contexto que, uma disciplina escolar
não é o conhecimento científico, mas uma parte modificada deste, no entanto, constituem-se
mais do que o todo deste, uma vez que, abarca também os procedimentos para o seu
ensino. Por exemplo, a Biologia escolar, não se confunde com a Biologia Ciência, mas é
uma parte dela, somada daquilo que a Biologia Ciência não possui, ou seja, fundamentos
didático-pedagógicos sobre como se ensina e se aprende Biologia.
2.3. O livro didático e os conteúdos de Mitose e Meiose
Quando falamos em livro didático, remetemo-nos à sua função principal, que é
guiar o aluno na apreensão do mundo exterior (RICHAUDEAU, 1979). Para o professor, o
livro é importante para a escolha dos conteúdos a serem estudados, na organização de
planos de aula, e, em muitas escolas, já se constitui no principal referencial para o trabalho
em sala de aula. Para Silva (2005), o livro didático tornou-se um dos únicos recursos
utilizados pelo professor em sala de aula, como apoio para o aluno.
Sobre o livro didático, o Programa Nacional do Livro do Ensino Médio (PNLEM)
orienta que o conteúdo deve apresentar a compreensão do fenômeno vida como
manifestação de sistemas organizados e integrados, em constante interação com o
ambiente físico-químico e cultural, abordando a diversidade dos seres vivos, no nível de
uma célula, de um indivíduo, e de organismos interagindo no seu meio (BRASIL, 2012). Ou
seja, o conteúdo deve trazer à tona a realidade do aluno, o meio em que ele vive e a cultura
que ele vivencia, sabendo também abordar a diversidade da vida e importância desse
conteúdo para a vida dos alunos.
No caso de nosso estudo, entendemos que o livro também deve servir de “fio
condutor” para a compreensão dos fenômenos ligados a Divisão Celular, apresentando o
conteúdo em torno de temas estruturadores do conhecimento biológico, tais como: origem e
evolução da vida; identidade dos seres vivos e diversidade biológica; transmissão da vida,
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ética e manipulação genética; interação entre os seres vivos e destes com o ambiente; e
qualidade de vida das populações humanas (BRASIL, 2012) que estão intimamente
interligados a Mitose e Meiose.
Desse modo, nessa pesquisa, realizamos também a análise do livro didático de
Biologia que é utilizado nas escolas públicas do município de Cascavel, pois o livro deve
ajudar o aluno na apreensão do mundo, da vida. Assim, partimos do pressuposto de que
este recurso didático, em conjunto com as metodologias e as diversas linguagens usadas
pelo professor em ambiente escolar, deve contribuir para transposição didática dos
conteúdos, ou seja, “traduzir” saberes científicos levando em consideração a realidade do
aluno.
2.4. Metodologias dos professores em sala de aula e o conteúdo de divisão
celular
Muito se fala sobre a autonomia da Biologia, uma das disciplinas que se
correlaciona com outras disciplinas, mas que possui leis próprias. Recentemente, soube-se
que a história da biologia não foi escrita fielmente e novos estudos e pesquisas comprovam
que algumas informações foram ocultadas ou simplesmente modificadas, contudo os
documentos originais não foram destruídos e foi possível se realizar uma releitura, assim
esclarecendo muitos pontos obscuros, possibilitando uma nova abordagem dos fenômenos.
Com base em Krasilchik (2008), a formação biológica contribui para que cada
indivíduo seja capaz de compreender e aprofundar as explicações atualizadas de processos
e de conceitos biológicos, a importância da ciência e da tecnologia moderna, enfim [...]
esses conhecimentos devem contribuir, também, para que o cidadão seja capaz de usar o
que aprendeu ao tomar decisões de interesse individual e coletivo.
De acordo com Guzella e Taschetto (2008), percebe-se, ao longo da história da
biologia, que ela foi abordada das mais variadas maneiras pelos pesquisadores, cada um
dando o enfoque histórico da sua época ao fenômeno ocorrido (DCNEM, 2006). Por essa
razão, faz-se necessária uma mudança na forma de ver, abordar e avaliar os conteúdos de
Ciências e Biologia em sala de aula, uma vez que a maioria das descobertas é fruto das
necessidades humanas e não apenas uma invenção que deva ser aprendida.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio, o
aprendizado da Biologia visa a compreensão da natureza viva e dos limites dos diferentes
sistemas explicativos, a contraposição entre os mesmos e a compreensão de que a ciência
não tem respostas definitivas para tudo. Precisa, ainda, possibilitar a compreensão de que
15
os modelos na ciência servem para explicar tanto aquilo que podemos observar
diretamente, como também aquilo que só podemos inferir (BRASIL, 1998).
Segundo Hazen e Trefil (2005), os seres humanos constituem uma espécie
obstinada e curiosa e a ciência constitui o meio mais poderoso para a compreensão do
universo físico, sendo ainda uma grande aventura do espírito humano, repleta de desafios
formidáveis e de prêmios inigualáveis, de oportunidades fantásticas e de responsabilidades
sem paralelo. De acordo com Andery (1988 apud DCE, 2006, p. 26), “a biologia deve ser
entendida e compreendida como processo de produção do próprio desenvolvimento
humano”.
Desde então, percebe-se que há uma crescente necessidade de se trabalhar os
conteúdos da Biologia, baseando-se em seu histórico, porém, contextualizando-os e
conciliando com a interdisciplinaridade exigida e sempre aliando com os acontecimentos
contemporâneos. Assim, facilitando o trabalho pedagógico e a apreensão do conteúdo pelos
alunos.
Nessa direção, sinaliza Guzella e Taschetto (2008, p.3) “os conteúdos de
Biologia são considerados relativamente complexos e de difícil compreensão, necessitando
uma abordagem contextualizada para que haja uma aprendizagem satisfatória”. Para Boneti
(2006 p. 18): “os temas, os conteúdos, as relações entre conteúdo e disciplina, o sistema de
avaliação, a metodologia, enfim, as aprendizagens oferecidas são, muitas vezes,
incoerentes, desatualizadas, fragmentadas e seletivas”.
Pensando nessa perspectiva, faz-se necessário repensarmos as metodologias e
atuação do professor em sala de aula, e revermos a forma de trabalhar os conteúdos, para
que isso ocorra, faz-se necessária uma mudança de postura por parte dos educadores.
Alguns materiais didáticos trazem o tema divisão celular, numa abordagem ampla, com
desenhos e definições claras e textos complementares abordando temas atuais e
contextualizados, o que vem a facilitar o entendimento do tema pelos alunos. Assim,
indagamos: como o professor procede para transpor esse conteúdo para o aluno?
Essa indagação nos remete à Guzella e Taschetto (2008), quando nos dizem
que é primordial que os alunos percebam a importância da reprodução celular no seu
cotidiano, uma vez que a mitose é um tipo de reprodução em que a sua principal função é a
de produzir células para o crescimento do indivíduo, bem como a reposição de células
perdidas ao longo da sua existência.
Para Lopes e Rosso (2005) a principal característica da mitose é ser um tipo de
divisão celular em que uma célula dará origem a duas novas células com o mesmo número
16
de cromossomos da célula inicial. É o tipo de divisão que ocorre quando há reprodução
assexuada.
Além disso, é importante no crescimento do organismo e na regeneração de
tecidos dos multicelulares. Segundo Junqueira e Carneiro (2000) a principal característica
da meiose é a de ser um tipo de divisão celular especial, pois essa permite reduzir à metade
o número de cromossomos nas células germinativas. Além disso, esse processo pode ser
considerado como o responsável por uma grande fonte de variabilidade genética, devido à
troca de material genético entre os cromossomos homólogos durante a prófase I (crossingover) e a segregação dos cromossomos homólogos durante a anáfase I para um dos pólos
da célula, independentemente deles terem origem paterna ou materna. Portanto, é evidente
a importância da meiose ao possibilitar às espécies uma grande diversidade genética
durante o processo evolutivo.
A mitose e a meiose constituem dois importantes processos no que se refere à
reprodução das células, à evolução dos seres vivos e à reprodução e perpetuação da
espécie. Portanto, a compreensão dos referidos processos é fundamental no ensino de
Biologia, devido a sua grande importância tanto na esfera educacional quanto no intelecto
do aluno aprendiz e, principalmente, correlacionado com outras disciplinas na área das
Ciências da Natureza e suas tecnologias, pois para Krasilchik (2008) quando os estudantes
aplicam
o
conhecimento
e
as
habilidades
adquiridas,
relacionando-os
com
os
conhecimentos de outras áreas, para resolver problemas reais.
Considera-se que, para a aprendizagem efetiva de conteúdos complexos da
Biologia, especialmente em relação à importância e ao desenvolvimento dos eventos
responsáveis pelos processos de reprodução celular, faz-se necessário o uso de
metodologias eficazes. Deste modo, é necessário criar condições em sala de aula para
encetar o interesse no aluno, para que o mesmo aprenda e apreenda os conceitos que
abordam a reprodução celular, sua importância e sua aplicação na vida cotidiana dos seres
vivos em geral.
E a Transposição Didática mostra em torno dessas metodologias do ensinar que
a forma de relacionamento entre o Saber Ensinado (o que o professor é capaz de transmitir
para os seus alunos, o seu conhecimento, a sua aula preparada e planejada) e o Saber
Sábio (o que está contido nos livros) é um dos pontos fundamentais em toda a didática,
sendo o professor o agente responsável de transmissão de conhecimento entre livro e
aluno, sendo esse elo o professor também pode ser mutável em suas linguagens e seus
níveis de conhecimento durante suas aulas, onde um aluno do Ensino Médio possui um
vocábulo de fala e língua completamente diferente de um aluno do Ensino Superior. Que
17
segundo Pietrocola (2005), estas relações ocorrem dentro de um ambiente que configura
um contexto escolar (o Sistema Didático); um pequeno universo que se encontra dentro de
um ambiente externo (o Sistema de Ensino). Este último é tido como “algo” mais amplo. O
Sistema de Ensino, seria, por exemplo, o sistema educacional e/ou as escolas de um país e,
que acabam sempre por influenciar o Sistema Didático.
Segundo Zóboli (2002), a escola precisa ensinar os estudantes a viverem, a
trabalharem e a conviverem uns com os outros, objetivando introduzi-los na vida social. Se a
escola e o professor cumprirem suas funções, o aluno tende a se motivar e agir por vontade
própria, o que desperta o interesse e o esforço do aluno para aquilo que ele precisa
aprender, deixando para trás a obrigação do saber e as decorebas.
De acordo com Penteado (1979), para que o processo de aprendizagem seja
eficiente, é necessário que o ensino da escola deixe de considerar apenas o conhecimento,
a transmissão e a assimilação do saber. Deve almejar a formação e o desenvolvimento de
hábitos e atitudes diante dos valores humanos. Dessa forma, o aluno não estará somente
aprendendo sobre fatos, mas estará formando sua capacidade de resolver problemas
propostos pelos fatos.
Diante da importância do assunto Divisão Celular e do processo de transposição
didática desse conteúdo, nos propomos a desenvolver o presente estudo e esperamos que
o mesmo possa nos ajudar a compreender a importância desse processo, tendo em vista o
entendimento do desenvolvimento e reprodução das várias espécies de seres vivos do
planeta, inclusive da espécie humana.
Disto isto, passemos ao caminho metodológico que percorremos para o
desenvolvimento dessa investigação.
18
3 METODOLOGIA
A abordagem da presente pesquisa é predominantemente qualitativa, onde o
método de pesquisa utilizado é o Estudo de Caso, no qual utilizamos como técnica de coleta
de dados a análise documental e a entrevista semi-estuturada.
Nossa pesquisa caracteriza-se como uma pesquisa de abordagem qualitativa,
tendo como método o Estudo de Caso e a análise documental.
Segundo Bogdan e Biklen (1982) a pesquisa qualitativa tem o ambiente natural
como seu principal instrumento, onde é feito o contato direto e prolongado com os sujeitos
da pesquisa. Os autores estabeleceram cinco características básicas que configuram o
estudo de caso, mas o que foi utilizado nesse trabalho foi o de dados descritivos, onde os
materiais são ricos em descrições de pessoas, situações, acontecimentos, e o utilizado
neste as descrições de entrevistas, que são citações freqüentes usadas para subsidiar uma
afirmação ou esclarecer um ponto de vista. E todos os dados são considerados importantes,
pois o pesquisador deve atentar para o maior numero possível de detalhes nas situações
estudadas.
Sobre a entrevista, como técnica de coleta de dados, caracteriza-se como uma
forma de analisar todos os detalhes e principalmente todas as emoções e críticas que o
entrevistador presencia do entrevistado, e são esses pequenos detalhes que são
minuciosamente observados durante a transcrição das entrevistas.
Para Lüdke e André (1986, p. 33):
a entrevista representa uma dos instrumentos básicos para a coleta de
dados, dentro da perspectiva de pesquisa que estamos desenvolvendo [...]
ela desempenha um importante papel não apenas nas atividades científicas
como em muitas outras atividades humanas [...] é preciso para tanto
reconhecer seus limites e respeitar as suas exigências.
Quanto à análise documental, Lüdke e André (1986) afirmam que pode se
constituir numa técnica valiosa de abordagem de dados qualitativos, seja complementando
as informações obtidas por outras técnicas. Em nossa pesquisa, a análise do livro didático
complementou informações obtidas nas entrevistas. Para essas autoras, os documentos
constituem também uma fonte poderosa de onde podem ser retiradas evidências que
fundamentam afirmações e declarações do pesquisador representando uma fonte “natural”
de informação.
Para tornar a pesquisa possível fomos a campo adquirir os exemplares de livros
didáticos de Biologia mais utilizados no Ensino Médio, nas escolas públicas do município de
19
Cascavel, com foco principal no tratamento de informações, em especial no conteúdo de
Divisão Celular, onde foram analisados três livros de Biologia que foram denominados livros
A, B e C.
Logo após a análise dos livros didáticos fomos a campo novamente para
entrevistar os professores, para verificarmos sua percepção, como docente, em relação ao
aprendizado do aluno e acerca do conteúdo de Divisão Celular, uma vez que a fala desse
profissional seria fundamental para responder as inquietações que motivaram a realização
desse estudo. A entrevista foi a técnica de coleta mais adequada para nos aproximar das
dificuldades de aprendizagem em torno desse conteúdo.
Num total de oito professores convidados a participar de nossa pesquisa, três se
dispuseram a colaborar com nosso estudo, constituindo-se os sujeitos de nossa
investigação. Atuam em uma mesma escola no município de Cascavel, a única escola que
oferta Ensino Médio.
Sobre a condução das entrevistas, nos aportamos nas considerações de Bardin
(1997), segundo a qual o entrevistador deve, pois, manter-se em escuta ativa e com a
atenção receptiva a todas as informações prestadas, intervindo com pequenas
interrogações que favoreçam a compreensão da fala do entrevistado ou o estímulo à
mesma.
Nossa escolha pela análise do livro didático foi instigada pela concepção de
Krasilchick (2008) sobre o livro didático, segundo a qual os livros, especialmente os de
Biologia, precisam: apresentar linguagem coerente para os alunos; atender a exigências
quanto ao formato (boa impressão, durabilidade, facilidade no manuseio); apresentar
figuras, ilustrações e imagens que ajudem o aluno a compreender o texto e relacionar a
Ciência com o cotidiano do aluno. Interessou-nos, particularmente analisar a forma como os
conteúdos de Mitose e Meiose são apresentados nos livros didáticos de Biologia utilizados
pelos professores, sujeitos da pesquisa.
20
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os livros de Biologia deverão atender a proposta pedagógica da escola e as
necessidades socio-culturais dos alunos. Nesse sentido, buscamos analisar e identificar a
percepção dos professores em torno do tratamento das informações em relação ao
conteúdo de Divisão Celular: Mitose e Meiose nos livros de Biologia do Ensino Médio e
como este estudo está contribuindo para o aprendizado dos estudantes.
No entanto, a partir desse princípio, elaboramos algumas questões que
utilizamos como ponto de partida para se chegar às respostas para o presente trabalho.
Como os conteúdos de Divisão Celular são tratados nos livros de Ensino Médio? Qual a
percepção do docente em relação ao aprendizado do aluno em relação a esse conteúdo?
Quais são os tipos de metodologias e linguagens utilizadas pelos docentes em sala para
ministrar esses conteúdos? E quais dificuldades de aprendizado desse aluno em torno do
aprendizado no conteúdo em questão? A partir dessas indagações, elaboramos dois
diferentes tipos de questionários, o primeiro direcionado para a análise do tratamento de
informações do referido conteúdo no livro didático e um segundo direcionado
especificamente para os professores.
Os professores X e Y utilizam o livro A que é organizado em três volumes, um
para cada série do ensino médio, sendo um capítulo do volume um destinado ao assunto de
divisão celular mitose e meiose. O professor Z utiliza o livro B que é volume único, no qual o
referido conteúdo é apresentado de forma resumida em relação ao livro A (ver Figura 01).
Os livros são utilizados na mesma escola, porém em turnos diferentes, pois no turno
noturno, os conteúdos são mais resumidos e a maioria dos materiais utilizados pelos
professores são volumes únicos. Com relação à formação dos professores e ao tempo de
docência, X e Y são graduados em Biologia e especializados em Gestão Ambiental, ambos
com quatro anos de magistério. Já o professor Z é graduado em Pedagogia com
Especialização no Ensino de Química e Biologia e tem maior tempo de docência na
instituição, nove anos.
Ao realizarmos uma análise do tratamento das informações sobre mitose e
meiose nos referidos livros didáticos, pudemos perceber que tratam alguns aspectos dos
conteúdos de Mitose e Meiose de diferentes formas, enquanto outros convergem, como
mostramos no quadro a seguir:
21
Quadro 1: Análise do tratamento da informação nos livros relacionados aos conteúdos de Mitose e
Meiose.
ANÁLISE DO TRATAMENTO DAS INFORMAÇÕES DO LIVRO DIDÁTICO.
QUESTÕES
LIVRO A
LIVRO B
A interdisciplinaridade está presente nesse conteúdo?
Sim
Não
A unidade faz links com outros conteúdos da Biologia?
Sim
Não
O conteúdo do livro nesta unidade está contextualizado?
Sim
Não
A linguagem utilizada é técnico-científica?
Sim
Sim
Os termos técnico-científicos são esclarecidos por meio de Sim
Sim
caixas explicativas ou glossário no final do livro?
Fonte: elaboração da autora.
Figura 1: Texto sobre Telófase. Livro B em relação ao Livro A
Fonte: Livro B (à esquerda) e Livro A (à direita)
Os livros analisados trazem muitas informações sobre o conteúdo em
questão. A linguagem rebuscada (que em muitas obras são destacadas em negrito)
pode ser esclarecida a partir da leitura do glossário ao seu final, o que poderá
ampliar seu vocabulário em termos de linguagem científica para conteúdos diversos
no campo da Biologia.
22
Figura 2: Explicação sobre Ciclo Celular e Interfase
Fonte: Livro A
Conhecer as características do livro didático, faz-se necessário na medida
em que, segundo Jotta (2005), constitui-se em um recurso bastante utilizado nas
salas de aula, o qual se constitui, em muitas ocasiões, como referente exclusivo do
saber científico, ao qual o aluno pode ter acesso em qualquer momento. Nesse
sentido, deve apresentar todas as explanações que se fazem necessárias à
compreensão do conteúdo.
A comunicação oral entre professor e aluno durante suas aulas é
importante, pois influencia no aprendizado e contribui na compreensão das ideias,
ao passo que a incompreensão desse vocábulo para o aluno torna-o inviável para o
aprendiz, fazendo com que o professor tenha uma postura perceptiva de falta de
aprendizado desse aluno, pois segundo Krasilchik (2008), o excesso de vocábulo
técnico que o professor usa em suas aulas leva muitos alunos a pensar que a
Biologia é só um conjunto de nomes de plantas, animais, órgãos, tecidos e
substâncias que devem ser memorizados. O professor tem o papel de desmistificar
para o aluno que a Biologia não restringe a memorização é uma ciência a ser
estudada em sala de aula.
Na entrevista realizada com os três professores, direcionamos o seguinte
questionamento: O livro influencia na sua prática? E, você complementa essa prática
com algum outro recurso? Ao que nos informa o professor X:
23
O livro é de suma importância porque é fundamental a busca a pesquisa do aluno.
Ele vai no livro só mesmo para tirar as dúvidas, mas acredito que nem só eu, mas
nenhum professor se prende só ao livro, mas incentivo a pesquisar em outros
meios.
Já a Professora Y afirma:
É bom a gente complementar o livro, é um apoio pedagógico, geralmente é o que
os alunos tem ali, esse apoio, com as questões e tudo mas sempre peço que eles
pesquisem em outras fontes.
E para o Professor Z:
O livro é essencial, pois para elaborar uma simples aula como mitose e meiose ele
tem que ler no mínimo três ou quatro vezes para assimilar o conteúdo, pois tem
livros que possuem atividades e experiências diferentes e tento associar com as
atividades de sala de aula onde eles irão demonstrar se aprenderam ou não.
Uma das observações feitas também está relacionada à metodologia que
o docente utiliza para expor o conteúdo de mitose e meiose. Os professores Y e Z
responderam que não tem dificuldades para ministrá-lo, mas o uso excessivo do
método expositivo, torna essa aula rotineira, como a maioria dos professores
responderam. Entendemos que aulas práticas poderiam tornar a abordagem desse
conteúdo mais interessante, assim como o estímulo à leitura do livro, pois este tem
sido utilizado apenas como apoio didático. Nesse sentido, entendemos que tem sido
subutilizado.
As metodologias utilizadas pelo professor podem ser diversas, desde que
a linguagem usada por eles possa esclarecer as dúvidas do aluno. Cada professor
comentou sobre sua metodologia em sala de aula. O professor X nos diz:
Inicio com a parte teórica, depois eu preparo um slide e vou mostrando como isso
acontece e vou mostrando as etapas e os períodos G1, síntese, G2, entender que
antes da duplicação cromossômica, e entender que pra haver a divisão seja ela
mitose ou meiose tem que acontecer a duplicação desse material genético e da
estrutura de uma célula como um todo e com as imagens e eles começam a ter, a
saber o interesse, tipo, imagine você que um dia foi uma célula invisível e hoje
você possui aproximadamente cem trilhões de células. Vamos supor que você
levou um corte e você conseguiu repor esse material genético explicar pra ele que
as células que não foram danificadas vão repor as células que foram danificadas
você mostrar pra eles que mitose que uma célula-mãe pode gerar duas célulasfilhas e essas células filhas são geneticamente iguais ao das células-mãe e a
meiose vai produzir os gametas e eles começam a ter interesse a buscar mais
sobre o conteúdo.
A esse respeito a professora Y informa:
24
A multimídia é uma das metodologias o laboratório e questões de interpretação
textual que já engloba a interdisciplinaridade que seria bem melhor pra eles.
Considero importante a interação no grupo envolvendo as duas coisas: teoria e
prática, Principalmente momentos dinâmicos, pois alunos gostam de novidade em
sala de aula para a aula não ficar muito monótona. (Professor Z).
O conjunto de metodologias e estímulos necessários à abordagem do conteúdo
de mitose e meiose, o qual é considerado um dos mais complexos da Biologia e, em
especial, nas turmas de 1º ano, nos instigou a direcionar as seguintes perguntas: Qual o
ponto de partida para introduzir esse conteúdo aos alunos? Como proceder para que os
alunos apreendam o referido conteúdo, uma vez que, via de regra, possuem pouco nível de
abstração?
Ao que nos responderam:
quando se trabalha Meiose e Mitose com os alunos você tem que passar a
importância das divisões celulares que a mitose é utilizada para repor o tecido ou
células perdidas ou talvez danificadas e a meiose na importância da reprodução
ou melhor na perpetuação da espécie. (Professor X).
[...] primeiramente uma aula explicativa logo depois uma aula expositiva
mostrando os slides relacionadas às etapas de divisão celular e também pra
melhorar o conhecimento desses meninos eu traria para o laboratório de ciências
onde tem as etapas que eu ia mostrar a eles e a prática [...] a prática eu acho que
era bem melhor deles aprenderem. (Professora Y).
[...] gosto de pegar a prática do dia a dia, as coisas que eles têm em casa que
podem representar a célula e utilizo o livro nos últimos casos, ou seja, uso como
apoio. (Professor Z).
Nesse contexto, o livro é utilizado mais como apoio didático, embora
entendamos que poderia estar mais presente no ensino dos conteúdos em questão. Vem
sendo utilizado mais como fonte de pesquisas e para a realização de atividades. Talvez pelo
fato de os professores serem direcionados a preparar os alunos para avaliações, como por
exemplo, o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), o qual exige por conter questões
contextualizadas. Nesse sentido, o grupo gestor da escola “obriga” o docente a pesquisar e
elaborar TD’s e simulados direcionados para que o aluno esteja afinado com o estilo de
prova que eles irão fazer. Nesse contexto, lembramos que o livro B, de acordo com nossa
análise, os conteúdos de mitose e meiose não são apresentados de forma contextualizada,
não identificamos interdisciplinaridade na apresentação dos mesmos, nem links com outros
conteúdos da Biologia.
25
Figura 3 – Exercícios sobre Divisão Celular.
Fonte: Livro B
Para Vasconcelos (2013), o papel do livro didático é vincular o conhecimento
científico à realidade, possibilitando ao estudante um novo olhar sobre o mundo da vida, na
medida em que é importante instigar a curiosidade do aluno, despertando-lhe o desejo de
aprender, mostrando que a Biologia é uma ciência extremamente ligada a sua vida. E a
maioria dos docentes não reconhecem o verdadeiro papel do livro didático para o aluno,
como foi respondido por todos eles a partir da seguinte questão: Qual o papel do livro
didático relacionado ao conteúdo de mitose e meiose?
Para o Professor X:
auxilia o aluno na hora da dúvida o aluno busca, é um material de apoio.
Para a professora Y:
Ele é muito bom, é um livro bem técnico, é um livro bem completo ele traz todo o
apoio pro aluno em uma linguagem bem ampla bem cientifica que esse livro traz,
se eles forem em busca de palavras mais simples vai favorecer o aluno.
26
E para o professor Z:
[...] o livro possui uma linguagem muito técnica e muito científica e se torna um
conteúdo um pouco complicado para o aluno assimilar. Isso explica o fato de o
aluno não se interessar pela essência do conteúdo em questão, por não se sentir
estimulado pela leitura e interpretação do conteúdo, a partir daí entra a
interdisciplinaridade com a língua portuguesa, pois esse trabalho não se convém
somente ao professor de Português, mas também de disciplinas que exigem a
leitura e interpretação do aluno das informações dos livros de Biologia, História e
Geografia.
A análise do livro também é fundamental na escolha das obras que serão
utilizadas pelo professor, a maioria das escolas na região utilizam apenas duas obras como
foram descritas anteriormente. Segundo o PNLEM 2012, o livro deve abranger todas as
disciplinas do Ensino Médio, fato que se constitui em um aspecto importante no
fortalecimento dessa etapa da Educação Básica.
Para Perrenoud (2013), assim sendo sua escolha é outro aspecto bastante
importante, pois ao aliá-la ao projeto pedagógico de sua escola, ao conhecimento que o
professor tem de seus alunos, aos espaços e culturas das quais eles e elas participam,
certamente você terá mais condições de desenvolver um ensino de Biologia mais
sintonizado com a sua escola, seus sujeitos e seus tempos, abrindo um espaço de diálogo
com professores e professoras, de forma a contribuir com a melhoria das condições de
ensino e de aprendizagem escolar.
Já quanto aos aspectos didáticos, o livro deverá ser contextualizado, interligando
os conteúdos entre si e à outros assuntos, ou até mesmo estabelecendo intercâmbio com
outras disciplinas. Para os professores, sujeitos de nossa pesquisa, o livro tem uma
linguagem muito técnica, sendo também um livro muito bom, pois ele é bem amplo em
conhecimento na unidade em questão.
A percepção do aluno em relação ao conteúdo também é importante para definir
estratégias de utilização do livro didático, particularmente em relação à linguagem científica
proposta no livro, uma vez que para Jotta (2008), a linguagem técnico - científica para o
estudante é considerada erudita, ou seja, de difícil compreensão por parte do aluno. Nesse
sentido, entendemos que a essa linguagem deve ser aproximada da realidade dos alunos,
contudo concordamos com Barrass (1991) quando nos diz que essa é uma tarefa difícil. O
autor expõe também que não se pode libertar uma palavra empregada na ciência de toda a
carga de significados a ela associados, acrescenta também que os termos técnicos podem
transformar-se num obstáculo para a comunicação eficiente e que muitas vezes o autor não
se dá conta de que está utilizando palavras que a maioria não entende.
27
De acordo com Garcia (2002), todos os falantes de cultura mediana dispõem de
quatro tipos de vocabulário: o vocabulário da linguagem coloquial, que se usa diariamente e
é relativamente pequeno; o vocabulário da modalidade escrita (técnico-científica ou literária),
de emprego ocasional, constituído de palavras do primeiro tipo e de outras de ocorrências
coloquiais raras; o vocabulário de leitura, composto de palavras pouco empregadas, “cujo
sentido nos é familiar”; e o vocabulário de contato, que “abrange considerável número de
palavras ouvidas ou lidas em situações diversas, mas cujo significado preciso nos escapa”.
A literatura também nos explica muito mais do que o esperado sobre a
percepção de aprendizado e linguagem. Mortimer (1998) reitera as diferenças entre a
linguagem científica e a cotidiana. Na primeira, os processos transformam-se em nomes ou
grupos nominais e os verbos expressam relações, e não ações, como: a rapidez de uma
reação orgânica irá influenciar outra reação química. Outra desigualdade entre as duas
linguagens é que os relatos de experimentos, as descrições e as definições, inseridos em
textos didáticos, evidenciam neutralidade e universalidade aparentes, que não se encontram
no mundo real. Por exemplo, utiliza-se, como recurso para obter esta característica, a voz
passiva – analítica ou sintética –, ao invés da voz ativa, encontrada na linguagem diária.
Para a realidade do aluno, o conteúdo foge do nível coloquial de linguagem e
fala daquele aluno, pois em sua maioria nunca tiveram sequer nem contato com o nível de
linguagem que o aluno de ensino superior tem. Para isso, o professor precisa em suas aulas
adotar uma linguagem teórica mais acessível ao aluno.
O nível de percepção dos professores é diferente quando comparado ao do
aluno, pois o docente mantêm constantemente contato com a linguagem científica, por isso
o professor tem construído duas diferentes percepções relacionadas aos conteúdos de
Divisão Celular, a primeira com relação a sua percepção própria. A saber:
Eu acho muito interessante. Eu me identifico bastante e eu vejo a maravilha
dessas células que é a base da vida, e a gente passar essa ideia pra eles, que a
célula, é a vida, que não vai existir ser vivo sem essa célula. (Professor X).
É um conteúdo um pouco mais complexo relacionado aos outros conteúdos do 1º
ano. As etapas da divisão celular é um pouco mais difícil pra eles compreenderem,
tem que aderir bem a teoria à pratica porque ele não é um conteúdo simples como
os outros conteúdos do 1º ano, mas conseguem. (Professora Y).
É meio complicado falar em relação a isso porque, querendo ou não, um aluno só
tira o foco da sala inteira, mas uma sala 100% atenciosa todas as aulas saem
dinâmicas e os alunos assimilam o conteúdo. (Professor Z).
28
Uma segunda percepção diz respeito à postura do aluno diante desse conteúdo,
os professores afirmaram existir dois tipos de alunos, os alunos que se interessam pelo
conteúdo e que tem a curiosidade de aprender, que vão em busca, e o outro, que não tem
muito interesse pelo conteúdo, que apenas escuta. Este, o professor dificilmente tem como
identificar se aprendeu ou não a questão da reprodução, a regeneração dos tecidos, que
são questões importantes a serem levadas para a vida dele.
Os achados nos permitem inferir que as aulas poderiam ser mais atrativas, uma
vez que a escola dispõe de materiais didáticos para esse fim, particularmente em se
tratando do conteúdo de divisão celular, como os modelos representando a mitose e a
meiose. Contudo, a maneira como o professor transmite esse conhecimento ao aluno, de
forma excessivamente expositiva, sinaliza para a necessidade de implementação de novas
metodologias de transposição didática, para que as aulas de divisão celular sejam mais
atrativas e interessantes, visando a compreensão dos conteúdos de mitose e meiose pelos
alunos do 1º ano do Ensino Médio.
Nesse processo, o livro, como recurso didático, também precisa ser revisto sob
alguns aspectos, uma vez que os conteúdos analisados são tratados de forma técnica e os
autores também utilizam como referência escritores de volumes de livros acadêmicos, do
Ensino Superior, que em nossa concepção, estão distantes do nível do Ensino Médio.
Desse modo, entendemos que o professor precisa mediar a apropriação, pelos
alunos, do conhecimento apresentado no livro, desenvolvendo estratégias para amenizar as
dificuldades geradas pela grande quantidade de termos técnicos, especialmente aqueles
relacionados aos conteúdo de mitose e meiose. Ao mesmo tempo em que entendemos que
o livro didático poderia ser um recurso melhor explorado pelo professor, junto aos alunos,
uma vez que os mesmos o tem utilizado apenas como apoio didático.
Nesse sentido, acreditamos que ao estimular a leitura e interpretação dos textos
e questões apresentados no livro, o professor estaria colaborando para que o aluno
estivesse desenvolvendo maior familiaridade com o conteúdo, tendo em vista também que o
professor pode ser flexível em sua linguagem para transpô-lo didaticamente.
Dito isto, passemos às considerações finais.
29
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da análise das falas dos professores entrevistados e do conteúdo de
divisão celular nos livros didáticos, foi-nos possível concluir que as metodologias adotadas
associado à forma como o assunto é apresentado no livro são fatores que concorrem para
a dificuldade do aluno em compreender o conteúdo de mitose e meiose no 1º ano do Ensino
Médio, pois embora os professores tenham nos relatado que há uma preparação para
ministrar tal conteúdo, entendemos que a compreensão deste requer a leitura do aluno do
material didático, mediado por intervenções do docente embasadas por conhecimento de
como tornar os conteúdos mais acessíveis, de como tornar o saber sábio (do cientista) em
saber escolar.
Esse é um aspecto pouco discutido nos cursos de formação de professores, ou
seja, como desenvolver a transposição didática dos conteúdos de biologia, especialmente
os trazidos nos livros didáticos, considerando que em se tratando de muitos conteúdos,
como mitose e meiose, os alunos apresentam dificuldade de abstraí-los, ação essencial
para apreendê-los.
Os cursos de licenciatura e habilitações para o ensino na área das Ciências
Biológicas, ainda negligenciam durante as disciplinas didáticas o conhecimento sobre o
processo de transposição didática que o professor precisa deter. Docentes se formam sem
sequer ouvirem falar sobre esse processo, que consideramos tão importante na mediação
da apropriação do conhecimento pelos alunos. Desse modo, reproduzem a linguagem
técnico-científica, tal qual é apresentada nos livros didáticos. E embora considerem o livro
um bom material para trabalhar os conteúdos de biologia, o utilizam apenas como apoio
didático.
O domínio dos conteúdos em questão, pelos professores, é algo que precisa ser
revisto tanto no curso de formação quanto no decorrer da pratica profissional docente, pois
são considerados muito complexos pelos professores, o que requer destes também várias
leituras para o melhor entendimento desse conteúdo. Nesse sentido, a utilização de uma
linguagem mais flexível poderá aproximar a linguagem técnica em sala de aula, juntamente
com a utilização de outros recursos aliados ao livro didático.
A leitura também é muito importante para o aprendizado do aluno, mas cabe ao
professor ser um agente mediador de conhecimento, repensando sua postura didática
diante dos conteúdos que irá ministrar. Um elo entre aluno e conhecimento que o professor
poderá estabelecer ao utilizar uma linguagem mais prazerosa e compreensível ao
estudante, tirando dúvidas, estimulando a leitura do livro e do glossário que está presente
30
em todos os volumes dos livros analisados. Já que o livro é considerado “excelente” pelos
sujeitos, porque não explorá-lo mais? Precisamos refletir sobre essas questões pois os
conteúdos relacionados à Divisão Celular são de extrema importância para o aluno, uma vez
que estão imbricados com os diversos processos vitais, essencial para a compreensão das
mutações gênicas, da reprodução humana, na velocidade de reprodução dos tecidos, das
origens dos diversos tipos de câncer, da diversidade da vida.
Desse modo, esperamos que o estudo que realizamos possa colaborar para
suscitar uma discussão sobre essa demanda formativa nos cursos que formam os
professores de Ciências e Biologia.
31
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Brasil. São Paulo, 1979.
PERRENOUD, P. Formar professores em contextos sociais em mudança Prática
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Acesso em: 02 mar. 2013.
33
RICHAUDEAU, F. Conception et production dês manuels scoleires: guide pratique.
Paris: Unesco, 1979.
SANTOS, S. C. S. et al. Analogias em livros didáticos de biologia no ensino de
zoologia. Disponível em: <http://www.if.ufrgs.br/ienci/artigos/Artigo_ID251/ v15_n3_a
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Bauru: Anais...Bauru: Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, 2005,
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VASCONCELOS, D. C. de; ARAÚJO, M. L. F.; FRANÇA, T. L. de. Livro didático de
biologia na apreensão do mundo da vida. Disponível em: <http:// www.
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ZÓBOLI, G. B. Prática de Ensino: subsídios para atividade docente. Ática. Décima
primeira edição. São Paulo,2002.
34
APÊNDICE I - INSTRUMENTAL DE ANÁLISE DOS LIVROS
Escola:_____________________________________________________________
Livro:______________________________________________________________
Autor:______________________________________________________________
Editora/Ano:_________________________________________________________
Quesito 01: Há interdisciplinaridade? Quais são essas disciplinas?
( ) Sim
( ) Não
__________________________________________________________________________
____________________________________________________________
Quesito 02: A unidade faz links com outros conteúdos da Biologia?
( ) Sim
( ) Não
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
_____________________________________________________
Quesito 03: Os termos utilizados no livro são puramente científicos?
( ) Sim
( ) Não
Quesito 04: Na unidade os termos científicos são explicados em um glossário ou caixas de
texto explicativas?
( ) Sim
( ) Não
Quesito 05: O livro traz figuras em design tridimensional com legendas explicativas?
( ) Sim
( ) Não
Quesito 06: De que forma essas legendas explicam as figuras?
(
) Explicam resumidamente como ocorre esses processos biológicos
(
) Somente nomeia a fase ou organela celular
(
) Somente o nome sem explicação dos processos que ocorrem
Quesito 07: A unidade em questão traz textos midiáticos?
( ) Sim
( ) Não
Quesito 08: A unidade em questão traz textos extraídos de artigos científicos?
( ) Sim
( ) Não
Quesito 09: Os guias de estudo ou atividades são contextualizadas?
( ) Sim
( ) Não
Quesito 10: Quais são os tipos de questões predominantes em suas atividades?
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
35
Quesito 11: A unidade propõe atividades complementares e/ou pesquisas de investigação?
( ) Sim
( ) Não
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
36
APÊNDICE II - INSTRUMENTAL DE ENTREVISTA COM O DOCENTE
Identificação do Docente
Nome: ________________________________________________________________
Formação: _____________________________________________________________
Tempo de Docência: _____________________________________________________
Livro que utiliza: ________________________________________________________
Pergunta 01: Em relação ao conteúdo de Divisão Celular: Mitose e Meiose. Qual o seu
ponto de partida para se trabalhar esse conteúdo com os seus alunos?
Pergunta 02: Quais são as suas metodologias aplicadas por você em relação a esse
conteúdo?
Pergunta 03: Como você descreveria a sua percepção em relação ao conteúdo de Divisão
Celular?
Pergunta 04: E na sua opinião como descreveria a percepção do aluno no aprendizado do
conteúdo de Divisão Celular?
Pergunta 05: O livro influencia na sua prática? Ou você complementa essa prática com
algum recurso a mais?
Pergunta 06: Você tem dificuldades para ministrar suas aulas em relação a esse conteúdo?
Pergunta 07: Qual o papel do livro em relação a esse conteúdo?
Pergunta 08: Como você analisa o livro como o qual trabalha? Em especial ,em relação ao
conteúdo Divisão Celular: Mitose e Meiose?
Pergunta 09: Em sua opinião, você acha que o livro é contextualizado?
37
ANEXO - TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE IMAGEM E ENTREVISTA
Eu, _________________________________________residente e domiciliado no
endereço_______________________________________, AUTORIZO, a título gratuito o
uso da minha imagem e voz através de gravadores e anotações para os trabalhos
relacionados à pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso em Licenciatura em Ciências
Biológicas da Universidade Estadual do Ceará, intitulado A TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA E
OS CONTEÚDOS DE MITOSE E MEIOSE NO ENSINO MÉDIO: O que pensam os
professores da Educação Básica, a ser apresentado e/ou publicado em eventos científicos
com fins exclusivamente acadêmicos ou de divulgação em páginas da internet e afins, cujos
responsáveis são: Ana Carla Lima do Nascimento e Maria Márcia Melo de Castro Martins
(orientadora) podendo tal trabalho vir a ser publicado ou apresentado parcial ou
integralmente em palestras, eventos científicos, periódicos, livros (sem limite de tiragem),
revistas acadêmicas, anais, revistas, CD-rom ou outro suporte multimídia, ou qualquer
veículo de informação e pesquisa, inclusive a Internet, para todos os fins científicos e
educacionais que aqui não estejam expressamente mencionados. Por esta ser a expressão
da minha vontade, declaro que autorizo o uso acima descrito sem que nada haja a ser
reclamado a título de direitos conexos à minha ou a qualquer outro e assino a presente
autorização.
Como garantia de aceso aos resultados obtidos e aos pesquisadores, e sempre que
considerar necessário tirar dúvidas e acessar informações recorrerei à pesquisadora pelo
endereço eletrônico: [email protected].
Sendo assim, consinto participar da pesquisa como está explicado neste documento.
_____________________________________
Cascavel, __de ___________de 2013
Testemunha:
Nome__________________________ Assinatura________________________
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