III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009 CONSIDERAÇÕES ACERCA DA LINGUAGEM NA CONSTRUÇÃO DE CONTEÚDOS HIPERTEXTUAIS PARA EAD1 Carlos Murilo da Silva VALADARES (SERPRO – Serviço Federal de Processamento de Dados) Resumo O artigo propõe uma reflexão acerca dos problemas relativos à transposição de tópicos técnicos complexos para ambientes ensino a distância, no formato hipertextual. A principal motivação é o reconhecimento das dificuldades dos estudantes na compreensão de textos técnicos, originadas por deficiências no ensino, pela abstração dos conteúdos, entre outros problemas. Em contextos de EAD, estas dificuldades se associam à necessidade do aluno exercitar autonomia cognitiva. A questão que orientará a discussão será: Que estratégias textuais podem ser aplicadas no sentido de auxiliar os aprendizes no entendimento dos conteúdos técnicos na modalidade EAD, considerando a autonomia do aluno e a complexidade dos temas? O domínio escolhido para esta discussão são os sistemas digitais, devido à sua complexidade e relevância nos cursos relacionados à computação. Espera-se, como resultado, o apontamento de procedimentos textuais que possam auxiliar os sujeitos no entendimento de conteúdos técnicos. Palavras-chave: Educação a distância, Transposição didática em hipertexto, Ensino de sistemas digitais. Introdução ou da incerteza da escrita Como auxiliar os aprendizes a adquirirem as habilidades de leitura e compreensão dos conteúdos que compõem representações complexas? A pergunta se baseia na percepção de que a linguagem, e a língua, são inexatas, campo de incertezas, não oferecendo nenhuma garantia acerca da efetividade de suas estruturas para a representação de elaborações mentais cuja origem o próprio pensador não pode determinar. Barthes fala da língua/linguagem como “... a área de uma ação, a definição e a espera de um possível” (BARTHES, 2004). Portanto, conceber um texto significa trabalhar na perspectiva de uma contínua transitoriedade, em um espaço movediço sem concessões para estabilidades duradouras ou realidades objetivas. Portanto, os formalismos simbólicos mais exemplares, como a matemática ou a linguagens de programação, não podem ser poupadas de infortúnios linguísticos. É preciso, portanto, investigar em que medida e condições aquelas escritas acentuadamente formalistas, como os símbolos técnicos/matemáticos, podem ser entendidos pelos estudantes dentro de seu 1 Trabalho apresentado ao Grupo de Discussão HIPERTEXTO, LITERATURA, HISTÓRIA E MEMÓRIA CULTURAL, no III Encontro Nacional sobre Hipertexto, Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009. 1 III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009 significado lógico pretendido. A linguagem matemática é uma construção social (LACERDA e SILVEIRA, 2008), consequentemente, seus símbolos assumem significados diversos, que podem variar em função do contexto em que são inseridos. Uma parte significativa das dificuldades dos alunos tem origem no modelo de ensino adotado pelas escolas, que impõem trajetórias escolares inconsistentes. O projeto de ensino adotado em nosso pais não privilegia o desenvolvimento da linguagem tecnico/cientifica nos estudantes, que são obrigados a aceitála sem questionamentos ou reflexões sobre seus significados e relações com o cotidiano. Por outro lado, dada a sua aceitação no contexto social, dificilmente temos oportunidade ou mostramos disposição de criticar a técnica. Não parecemos capazes de perceber, de imediato, seus desdobramentos. Galimbert (2006) atribui esta dependência à nossa insuficiente dotação instintiva. O instinto animal estabiliza a sua existência e a coexistência com os demais. Reproduzir, dormir e se alimentar lhes parece suficiente para suprir todos os seus espaços motivacionais. Mas os seres humanos precisam implementar artefatos complementares, que viabilizem atividades que não são necessárias a outros animais, como programar computadores, assistir filmes ou pintar quadros. O artigo propõe então uma reflexão sobre as estratégias de elaboração de conteúdos para EAD sobre a linguagem lógico-matemática dos sistemas digitais, particularmente o algoritmo denominado Mapa de Karnaugh. Este algoritmo está diretamente relacionado ao projeto de circuitos eletrônicos digitais, assunto sempre presente nas disciplinas de arquitetura de computadores. A linguagem matemática utilizada neste tópico pode oferecer grandes dificuldades para os alunos, pois seus símbolos e processos são muito particulares, constituindo para eles uma total novidade. Esperamos então construir uma discussão relevante sobre o uso de estratégias textuais e visuais para a construção de ambientes de aprendizagem para o ensino de conteúdos técnicos, no sentido de apontarmos caminhos para a aplicação em situações de ensino. O Mapa de Karnaugh Nesta seção, descreveremos o conceito e a utilização dos Mapas de Karnaugh. O principal componente de um computador é o seu processador, ou CPU2, dispositivo que recebe os dados, as instruções, e posteriormente, os processa. E, tanto a CPU como outros elementos dos computadores, são projetados e construídos por meio de circuitos lógicos. Estes 2 Central Process Unit, Unidade Central de Processamento. 2 III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009 circuitos lógicos são construídos por meio de portas lógicas, que são dispositivos eletrônicos capazes de implementar operações lógicas. Frequentemente, a configuração dos circuitos resulta em um desenho complexo e de difícil implementação. Devido a essa complexidade, os projetos de circuitos lógicos apresentam significativo grau de redundância. Muitas das portas lógicas mostram-se desnecessárias, e poderiam ser eliminadas. Esta redução pode ser efetuada pela utilização do Mapa de Karnaugh. Este mapa é na verdade um algoritmo, que pode ser utilizado para a redução de um circuito lógico. Existem outros algoritmos que executam a mesma tarefa, mas o Mapa de Karnaugh é um dos mais utilizados nos momentos iniciais da grande aprendizagem sobre sistemas lógicos, em razão de sua simplicidade. No entanto, mesmo constituindo um processo mais compreensível que os demais, a aprendizagem utilização do mapa é constitui um obstáculo ao avanço dos alunos. Sua aplicação é especialmente apropriada para circuitos que comportam até cinco variáveis. Por razões práticas, nos limitaremos a aplicar o mapa a circuitos de 4 variáveis. Vejamos então um exemplo da aplica3ção deste algoritmo. Seja o seguinte circuito lógico: S = A'BCD + ABC'D'+ABCD + A'B'C'D'+ A'BCD' (1) Esta é a expressão padrão de um circuito de 4 varáveis, que teria portanto quatro entradas, conectados por portas lógicas ou (símbolo +, ou porta OU). Para eliminarmos as redundâncias deste circuito, aplicaremos o mapa de Karnaugh de quatro variáveis. A primeira etapa do algoritmo consiste em construir um mapa de 16 casas, em que cada linha e coluna recebe um par de variáveis lógicas da expressão. Nas primeira coluna, representaremos as ocorrências das variáveis AB que encontrarmos na expressão 1 (A'B', A'B, AB, A'B'). Na linha 1, colocaremos as ocorrências possíveis de CD (C'D', C'D, CD', C'D'). O mapa resultante terá a seguinte configuração: C'D' C'D CD' CD A'B' A'B AB' AB Figure 1: Mapa de Karnaugh. A próxima etapa da construção do mapa consiste em verificar que ocorrências do mapa podem ser encontradas nos termos da expressão S. Tomemos o primeiro termo: A'BCD . Separando 3 Nesta notação, o apostrofe representa a variável negada. 3 III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009 as duplas presentes no termo, teremos A'B e CD. Devemos agora procurar no mapa da Figura 1 as linhas correspondentes a estas duplas, e marcar com o número 1 a confluência dos dois números. A leitura dos termos dentro do mapa sempre resultará em um quadro preenchido por termo. A expressão (1) possui 5 termos, portanto, serão preenchidos 5 quadros do mapa. Se duas expressões forem iguais, elas ocuparam apenas um quadro. Repetimos o mesmo processo para os demais termos. O mapa completo terá a seguinte configuração: C'D' C'D CD' CD A'B' 1 A'B 1 1 AB' AB 1 1 Figura 2: Mapa de Karnaugh com todas as inserções relativas aos termos da expressão (1) Neste ponto, o mapa já esta montado. O proximo passo é efetuar a leitura do mapa, no qual tentaremos encontrar as variáveis adjacentes, ou seja, aquelas que constituem vizinhança imediata. Essa vizinhança pode ser interpretada como números lada a lado ou diametralmente opostos. A leitura deve resultar na formação de grupos, que devem ser duplas, quartetos ou octetos. Grupo com números impares não são permitidos. No caso de nosso mapa, a leitura ficaria assim: C'D' A'B' C'D CD' CD 13 14 11 A'B AB' AB 12 15 Figura 3: Mapa de Karnaugh A Figura 4 mostra como as variáveis adjacentes são encontradas, nos quadros marcados em negrito. Os índices em cada número dentro das casas do mapa são apenas para efeito explicativo. Encontramos neste mapa 3 pares adjacentes. Feita esta leitura, devemos agora excluir os valores que não se repetem, de modo a ficarem apenas os valores repetidos de A, B, C e D. Então: - Para o par [11, 12] ficam as variáveis CD’, e saem A’B’ e AB; - Para o par [13, 14] ficam as variáveis C e A’B, e saem D e D’; 4 III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009 - Para o par [12, 15] ficam as variáveis AB e saem C’D’ e CD. A expressão resultante será: S = CD’ + A’BC + AB Este circuito executa a mesma operação que o seu equivalente original, que possuía 5 termos e 20 variáveis. O mapa de Karnaugh é um instrumento bastante prático para a redução de circuitos. Mas, como é possível perceber, este algoritmo carrega uma considerável complexidade em sua execução. Os obstáculos à sua aprendizagem pelos alunos encontram-se principalmente na extensão do algoritmo. Nesta seção, descrevemos a execução do mapa de Karnaugh para a redução de expressões algébricas que descrevem circuitos lógicos. Na próxima sessão, analisaremos algumas estratégias para a exposição de conteúdos complexos em ambientes de hipertexto para EAD, procurando então relacionar tais propostas ao algoritmo para os Mapas de Karnaugh. Estratégias para a abordagem de tópicos complexos para EAD Nesta sessão, apresentaremos algumas estratégias para o auxilio ao entendimento de conteúdos complexos, que parecem pertinentes para a utilização em ambientes de EAD. Salientamos que os procedimentos escolhidos para este trabalho integram as metodologias de ensino/aprendizagem adotadas pelo Serpro, para a implementação de cursos na modalidade EAD. O texto em formato explicativo Uma considerável variedade de artificio textuais e visuais têm sido testados em ambientes virtuais de aprendizagem, na tentativa de conduzir os estudantes na construção de conhecimento científico. Iniciaremos nossa busca pelo trabalho de Richard Mayer (1992). Em seu artigo, o autor discute um ponto chave para a construção de conteúdos em qualquer instancia educacional: Como podemos auxiliar os estudantes a compreender uma explicação científica? O autor propõe então a adoção de um arranjo instrucional denominado conhecimentos explicativos, que pode ser entendido como uma forma de exposição de conteúdos em um modo que efetivamente favoreça a compreensão de como um sistema funciona, permitindo ao aluno realizar uma aprendizagem profunda sobre um fenômeno. O conceito oposto, apontado pelo autor, é a ideia dos conhecimentos não-explicativos, definidos como aqueles que auxiliam o sujeito a apenas operar um determinado sistema, sem, no 5 III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009 entanto, contribuir para a compreensão sobre seu funcionamento. Mayer exemplifica o uso do conhecimento explicativo por meio de um problema relativo a uma bomba de ar, um instrumento tecnicamente simples mas de funcionamento complexo. O quadro abaixo exibe os dois modelos de informação (Mayer, 1992). Texto explicativo (a) Quando o pistão é puxado, o ar entre na bomba Texto Não Explicativo (b) Uma bomba para pneus é uma bomba de movimento alternado Quadro1. Exemplo de textos em modo explicativo e não explicativo. A formatação do texto não explicativo no Quadro1, na coluna (b), permite visualizar as possíveis dificuldades que os alunos encontrarão no entendimento do conteúdo. A sentença apenas define o tipo de bomba de ar em análise, mas não esclarece como ela opera. Este procedimento não permite ao aluno construir um modelo próprio e significativo sobre o funcionamento da bomba. A expressão (a), do mesmo quadro, possui propriedades que a tornam bem mais atraente para o aluno. Seu enunciado pode efetivamente auxiliar o aluno na compreensão e exploração do sistema. Em seu texto, o autor apresenta de estudos que envolveram a utilização de textuais explicativas. Em um experimento descrito em Mayer (1992), estudantes foram solicitados a ler passagens textuais sobre o funcionamento de um sistema de bombeamento. Foram também solicitados a memorizar e resolver problemas relativos à explicação do texto. Os alunos que tiveram desempenho mais elevado nas tarefas foram aqueles que se lembraram as informações apresentadas em modo explicativo, e não nas informações em modo não explicativo. O autor argumenta que tais resultados demonstram que a compreensão de explicações científicas, pelos estudantes, pode ser relacionada a conteúdos expostos em formato explicativo. Animações como modelos explicativos As animações computadorizadas são artefatos relativamente recentes. Sua utilização na educação deu-se a partir dos anos 90, momento em que as tecnologias multimídia, necessárias para a construção de simulações computacionais, chegaram à maturidade. Os aplicativos de construção de objetos de aprendizagem animados tornaram-se muito populares, por oferecerem uma perspectiva de enriquecimento das demonstrações científicas em sala de aula. A melhoria dos procedimentos de criação e exibição de imagens digitais em movimento favoreceu enormemente a expansão da utilização dos computadores nas escolas. Uma animação que simule os diversos estados do funcionamento de um sistema pode ajudar os 6 III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009 alunos a compreender como cada um destes estados contribuem para o resultado final. Diversos estudos confirmam a contribuição das animações para a aprendizagem de conteúdos complexos, que envolvem algum tipo de raciocínio algorítmico. Gomes e Mendes (1999) afirma que, entre as principais possibilidades da utilização de animações para o estudo de algoritmos, estão:(a) a construção de simulações de fenômenos não visíveis de outra forma; (b) o entendimento sobre as inter-relações entre as partes de um sistema; (c) a visualização do funcionamento de sistemas em tempo real; e (d) a evidente disposição que os alunos apresentam para assistirem e analisarem animações computadorizadas. Em outra perspectiva, alguns autores discutem argumentam que nem sempre os efeitos de animações em ambientes de aprendizagem resultam positivos. Schnotz e Lowe (2003) afirmam que a eficacia dos ambientes de aprendizagem que oferecem objetos visuais depende do modo como estes sistemas relacionam as representações internas, que são construídas na mente do aluno, e as representações externas, oferecidas pelos softwares. Evidentemente, esta não será uma preocupação que incidirá na construção de todos os artefatos cognitivos. Borges e Moreira (2007) argumentam que, embora não haja indícios suficientes para se afirmar que animações sejam superiores a figuras estáticas, algumas características dos objetos animados podem de fato auxiliar os alunos a construírem representações internas coerentes e úteis. Os autores argumentam, como exemplo, que animações que podem ser controladas pelos alunos (se puderem avançar, parar ou retroceder), podem oferecer resultados positivos. Mayer argumenta que, assim como os textos explicativos, as animações podem de fato constituir uma explicação científica (Mayer, 1992). As animações e simulações são recursos amplamente utilizado pela UniSerpro como instrumento pedagógico. São utilizadas, mais frequentemente, para a visualização das interações entre as partes de um objeto complexo, como por exemplo, a criação de um objeto a partir de sua classe. A complexidade dos conteúdos A complexidade dos conteúdos presentes em textos técnicos pode constituir um obstáculo para a sua compreensão. Portanto, é de fundamental importância a elaboração de formas de tratamento da complexidade nos ambientes de aprendizagem. O termo complexidade pode ser aqui entendido como o acumulo progressivo da carga de informações sobre um domínio de conhecimento e aumento das inter-relações entre os elementos envolvidos no processo. A complexidade pode estar presente em diversas situações. Pode ser encontrada nos textos e modelos explicativos, ou nas tarefas e problemas propostos no 7 III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009 ambiente de aprendizagem. Experimentos envolvendo a progressão da complexidade já foram testados e discutidos por LÓPEZ, QUINTERO e SANABRIA [2006]. Em seu trabalho, os autores sugerem que a complexidade seja oferecida em um modo progressivo, que permita aos estudantes caminharem a partir de níveis elementares até níveis bem mas complexos. Em um experimento de aplicação desta teoria, o grupo avaliou os efeitos da ordem de apresentação de um conjunto de exercícios de geometria, que variavam em seu grau de dificuldade. O objetivo era testar a efetividade da aplicação de exercícios em ordem de complexidade ascendente e em modo aleatório. Para isso, um grupo de alunos foi solicitado a solucionar seis destes problemas por meio da manipulação da posição e tamanho de figuras de um tangram (tradicional jogo chinês de formas geométricas). Alguns problemas solicitaram a aplicação do movimento de rotação e translação das figuras, bem como a construção de figuras geométricas irregulares, a partir de figuras mais simples. O estudo mostrou que o esforço cognitivo realizado pelos alunos na resolução de problemas em níveis de complexidade está relacionado ao número de variáveis e em suas inter-relações. Evidentemente, a complexidade pode ser abordada na exposição de conteúdos, e não apenas no contexto avaliativo. Uma recomendação dos autores é que os procedimentos de aprendizagem, que envolvam níveis de complexidade, devem começar sempre em níveis mais baixos, ou que seja dada aos alunos a liberdade de escolher por que nível começar. A principal estratégia de tratamento da complexidade, adoada nos projetos de EAD na UniSerpro, concentra-se no domínio da resolução de problemas, que são oferecidos em níveis de dificuldade progressivos. Precisamos então apontar uma diferenciação entre exercício e problema. Adotaremos aqui a definição oferecida por Echeverría e Pozo [1998] para quem um problema é: (a) uma situação para a qual não existe um procedimento automático para a sua solução, (b) que exige um trabalho de reflexão e busca de soluções, (c) e que seja uma situação nova, mas que possa ser resolvida pela aplicação de técnicas contidas em um curso. Os exercícios, segundo os autores, seriam aquelas tarefas que podem ser solucionadas apenas pela transposição direta ou quase direta de um procedimento anteriormente conhecido, de modo algo mecânico. Os testes de transferência de conhecimento do ambiente Fundamentos da Linguagem PHP formam elaborados em um modelo aderente à definição de problema exposta neste parágrafo. 8 III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009 Estratégias de ensino aplicadas nos Mapas de Karnaugh Nesta sessão, descreveremos Algumas possibilidades de aplicação das estratégias descritas na sessão anterior para a construção de conteúdos sobre Mapas de Karnaugh. As descrições representam as soluções atualmente adotadas para a construção de conteúdos nos cursos de EAD, na UniSerpro, com resultados favoráveis ao seu uso (Valadares, 2009). Textos em formato explicativo para os Mapas de Karnaugh Vejamos então como poderíamos construir textos explicativos sobre o algoritmo dos mapas de Karnaugh. O Quadro 1 apresenta um trecho de texto, em modo não explicativo, contendo uma instrução para a execução do procedimento ilustrado pela Figura 2 (sessão “O Mapa de Karnaugh). O objetivo do texto é explicar ao aluno como inserir um termo de uma expressão de um circuito dentro do mapa. Considere a seguinte expressão: S = A'BCD + ABC'D'+ABCD + A'B'C'D'+ A'BCD' Para reduzi-la, precisamos primeiramente inserir seus termos no mapa de Karnaugh. Após ser inserida, o mapa ficará assim: C'D' C'D CD' CD A'B' 1 A'B 1 1 AB' AB 1 1 Quadro 2. Conhecimento em formato não explicativo sobre Mapas de Karnaugh. Veja que a explicação contida no quadro não auxilia o aluno a compreender o procedimento de inserção dos termos no mapa, mas apenas indica o resultado da operação. Este tipo de abordagem é bastante comum em livros didáticos. O motivo para a utilização deste tipo de abordagem talvez seja a dificuldade do especialista no assunto em explicar o conteúdo de modo menos complexo. O Quadro 2 apresenta o mesmo tópico do Quadro 1, mas em conhecimento em formato explicativo. Considere a seguinte expressão: S = A'BCD + ABC'D'+ABCD + A'B'C'D'+ A'BCD' Para reduzi-la, precisamos primeiramente inserir seus termos no mapa de Karnaugh. O procedimento de redução de termos tem o seguinte passos: Passo 1: Separe cada termo em duplas, contendo os literais AB e CD. Para o primeiro termo, A'BCD, (que deve ser lido como A negado, B, C e D) teremos então as duplas A'B e CD. 9 III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009 Passo 2: Devemos agora procurar no mapa a linha e a coluna correspondentes a estas duplas, e marcar com o número 1 na casa correspondente à confluência dos dois números. Para a dupla A'B e CD, este quadro está na linha 2, coluna 4, marca em cinza. O mapa ficará assim: 1 C'D' 1 A'B' 2 A'B 3 AB' 4 AB 2 3 4 C'D CD' CD 1 Quadro 3. Conhecimento em formato explicativo sobre Mapas de Karnaugh. O Quadro 2 apresenta o texto construído em formato de conhecimento explicativo. O conjunto de instruções descreve claramente como tratar cada termo de uma expressão algébrica para a sua inserção no mapa de Karnaugh. Desta forma, os alunos compreenderão como cada etapa do processo contribui para o seu resultado final. Esta abordagem tem sido efetivamente adotada nos cursos de linguagem de programação e algoritmos da UniSerpro, com resultados positivos para o desempenho dos alunos (Valadares, 2009). Animações como modelos explicativos No contexto dos Mapas de Karnaugh, exemplificaremos a utilização de animações para a demonstração da leitura do mapa e redução do circuito. Diversos softwares de animação podem ser usados para esta finalidade, e existem alguns programas de utilização livre, que permitem sua adoção sem a necessidade de obtenção de licenças de uso. Retomando então o mapa totalmente preenchido (Figura 3), temos a seguinte distribuição. A animação poderia então demonstrar como efetuar a leitura do mapa, para a redução do circuito. A primeira demonstração evidenciaria a primeira dupla adjacente, celulas [1,1] e [1,4], que se encontram diametralmente opostas no mapa, como visto no Quadro 5. Feito isso, deve-se verificar que literais estão repetidos em cada linha, que não existe neste caso (A'B' na linha 1 e AB na linha 2). Portanto, de acordo com o algoritmo, os dois literais são eliminados. A leitura das demais celulas seria descrita de forma semelhante. 1 2 3 4 C'D' C'D CD' CD 1 A'B' 2 A'B 3 AB' 4 AB 1 1 1 1 1 Figura 4. Indicação da primeira dupla adjacente. 1 III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009 A complexidade dos conteúdos para os Mapas de Karnaugh A complexidade seria então abordada como um conjunto de problemas, que comportariam níveis de dificuldade crescentes. Teríamos então a oportunidade de conhecer como a elevação da complexidade se reflete no entendimento dos conteúdos e na resolução de problemas. Um problema em um nível de complexidade inicial, para os mapas de Karnaugh, teria ao seguinte enunciado: Reduza o seguinte circuito lógico, por meio de um Mapa de Karnaugh. S = A'BC+AB'C+ABC'+A'B'C A expressão apresenta somente três variáveis, A, B e C, o que reduz significativamente sua complexidade. Um segundo problema poderia oferecer a seguinte expressão: S = A'BCD+AB'CD+A'B'CD+ABCD Esta expressão comporta quatro variáveis, o que determina um grau de complexidade e maior dificuldade para a leitura do mapa. Um terceiro problema com um grau de dificuldade consideravelmente maior, poderia solicitar ao aluno que efetuasse a redução do circuito e 1 2 3 4 C'D' C'D CD' CD 1 A'B' 1 1 1 2 A'B 1 1 1 3 AB' 4 AB 1 1 1 1 1 Figura 5. Mapa com células previamente preenchidas. Este mapa apresenta um conjunto de 6 células adjacentes, o que gera muitas dúvidas no momento da leitura do mapa. Conclusões Neste trabalho, discutimos algumas estratégia linguísticas e visuais para a transposição de conteúdos complexos para ambientes de aprendizagem hipertextuais. A premissa adotada para a elaboração destas estratégias é a necessidade de se motivar a autonomia cognitiva dos alunos nos contextos de ensino à distância. A discussão apresentou então três possibilidades, 1 III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009 que são efetivamente aplicadas a ambientes de aprendizagem projetados pela Universidade Corporativa do Serpro. Primeiramente, discutimos a exposição de conteúdos textuais em formato explicativo, como um artificio para o esclarecimento de conteúdos complexos. Logo após, discutimos a utilização de animações como um recurso para a compreensão de algoritmos que apresentam resolução complexa, e que pode ser dividido em etapas. Por fim, apresentamos a aplicação da progressão da complexidade, como uma forma de promover a gradual compreensão de conteúdos. Estes três procedimentos têm sido aplicados a diversas situações nos cursos da modalidade EAD desenvolvidos ela UniSerpro. Evidentemente, tais artifícios não esgotam a busca por estrategias de aprendizagem em hipertexto. Na verdade, constituem mais uma contribuição para o aprimoramento das práticas de ensino/aprendizagem veiculados pela Internet. Os estudos acerca da modelidade de ensino tem se intensificado, mas muito ainda há por vir. Somente com o acumulo de experiencias poderemos determinar qual é, de fato, o papel das tecnologias da informação para a educação. Referências bibliográficas BARTHES, Roland. O grau zero da escrita. São Paulo: Martins Fontes, 2004. BORGES, Oto; MOREIRA, Adelson Fernandes. Ambiente de aprendizagem de Física mediado por animações. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, Vol. 7 N 1, 2007. GALIMBERT, Umberto. 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