Caso Clínico: ATAXIA Júlia Torres Vanessa Cândido Coordenação: Luciana Sugai Escola Superior de Ciências da Saúde/SES/DF www.paulomargotto.com.br Identificação JPFS, masculino, 1 ano e 1 mês, natural de Ceilândia – DF, residente e procedente de Ceilândia. Acompanhado pela mãe. Queixa Principal Parou de andar há 6 dias HDA Há 14 dias a criança apresentou febre aferida em 40°C, que se tornou constante, melhorando apenas durante o tempo de efeito de paracetamol. Nega diarréia, vômitos, tosse, dispnéia, espirros e alterações urinárias. No dia seguinte, apresentou convulsão e foi levado ao HRC, onde ficou internado em observação e foi feito decepam. No dia seguinte recebeu alta médica, ainda com febre. HDA A mãe trouxe ao HRAS, onde a criança permaneceu em investigação por 5 dias. Foram feitos exames de líquor, sangue e urocultura. Como todos vieram normais, recebeu alta novamente, com amoxacilina. Há 6 dias (dois dias após alta), a mãe notou que a criança estava andando com dificuldade, como se estivesse embriagado, chegando a cair algumas vezes, sem preferência para algum lado. Evoluiu com dificuldade para se sentar e ficar em pé, o que fez a mãe trazê-lo novamente ao hospital, onde ficou internado. Revisão de Sistemas Enantema jugal, bolhas em palma das mãos e plantas dos pés 1 dia antes da febre. Mãe refere que já teve lesões de pele várias vezes, que são tratadas como escabiose, mas não melhoram; Antecedentes Pessoais Mãe G3P3(C2)A0. Fez pré-natal e ficou internada 3 vezes no fim da gestação por sangramento vaginal, ameaça de parto prematuro e suspeita de diabetes gestacional. Nasceu de parto cesariano a termo. Peso de nascimento:4200g E:52cm PC: 37cm APGAR: 8-9 Nega internações prévias, cirurgias, alergias, hemotransfusões. Vacinação atualizada. Crescimento normal. DNPM: sentou-se aos 5 meses, andou aos 9 meses. Hábitos de Vida Reside em casa de alvenaria, com 4 moradores e 5 cômodos. Possui água encanada, rede de esgoto e luz elétrica; 2 primos, que moram no mesmo lote, são fumantes; Dieta predominantemente Láctea, rica em biscoitos; Antecedentes Familiares Mãe, 31 anos, refere “excesso de hormônios”; Pai, 35 anos, tinha IRC, fazia hemodiálise desde os 32 anos e faleceu há 7 meses de leucemia; Avô paterno e 3 tios paternos (todos) possuem IRC; Irmão de 7 anos tem artrite reumatóide juvenil; Avô materno tem HAS, avó paterna tem DM; Nega câncer e cardiopatias na família; Exame Físico BEG, corado, acianótico, anictérico, hidratado, afebril, eupnéico, ativo. ACV: RCR 2T BNF, sem sopro; AR: MVF, sem ruídos adventícios; ABD: Globoso, normotenso, indolor. RHA+. Ausência de visceromegalias. Ext: Perfundidas e sem edema. S. Nervoso: Ausência de sinais meníngeos. Sem alterações de coordenação motora em extremidades. Sem alterações de pares cranianos. Reflexos presentes. Marcha atáxica. Exames Complementares Cultura de líquor (26/07/07): sem crescimento de microorganismos; Bacterioscopia de líquor (26/07/07): ausência de bactérias (Gram); Rx de tórax (31/07/07): Normal; EAS (31/07/07): Normal Data 31/07/07 Hb 11,1 Ht 33,2 Leuco 8600 Seg 59 Bast 02 Linf 28 Mono 08 Eosin 03 Baso 00 Plaq 326000 VHS 30 Lista de Problemas Febre; Convulsão – febril? Ataxia Ataxia Vestibular Cerebelar Cordonal posterior Como diferenciar? Hipóteses Diagnósticas Síndrome de Dandy-Walker? Malformação de Chiari? Encefalocele? Hipóteses Diagnósticas Síndrome de Dandy-Walker? Malformação de Chiari? Encefalocele? Anomalias congênitas da fossa posterior que levam à destruição ou substituição do cerebelo Hipóteses Diagnósticas Agenesia do vermis cerebelar? Hipóteses Diagnósticas Agenesia do vermis cerebelar? Hipotonia ↓reflexos tendíneos Atraso nos marcos motores; Períodos de hiperpnéia/apnéia; Retardo mental; Movimentos oculares anormais Hipóteses Diagnósticas Causas tóxicas? Alcool, tálio, anticonvulsivantes... Distúrbios metabólicos? Abetalipoproteinemia: esteatorréia, atraso no crescimento, sinais neurológicos apenas no fim da segunda infância; Hipóteses Diagnósticas Doenças degenerativas? Ataxia-telangiectasia: ataxia começa aos 2 anos e evolui para perda da deambulação na adolescência; Ataxia de Friedreich: início posterior ao da ataxia-telangectasia, lentamente progressiva, reflexos tendíneos ausentes; Doença de Roussy-Levi: atrofia muscular. Hipóteses Diagnósticas Tumores? Cerebelo; Lobo frontal (destruição das fibras de associação que conectam ao cerebelo); Neuroblastoma: espasmos mioclônicos e opsoclono; Hipóteses Diagnósticas Infecciosa? Abscesso cerebelar; Labirintite aguda; Ataxia cerebelar aguda INFECÇÕES POR VÍRUS COXSACKIE INFECÇÕES POR VÍRUS COXSACKIE Enterovírus; Per. Incubação: 1-14 dias (3-5d) Q.C.: diverso - Infecção inaparente; - GECA; - Meningite asséptica; - Miocardite do RN; - Quadros paralíticos; - Herpangina; - Pleurodínia; - Exantemas; - Pericardite Aguda Benigna; - Faringite linfonodular aguda. INFECÇÕES POR VÍRUS COXSACKIE Diagnóstico: Q.C. + epidem. + isolamento viral + ↑ Ac específico. Tto: sintomático MENINGOENCEFALITES VIRAIS MENINGOENCEFALITES VIRAIS Inflamação aguda que envolve as meninges e, em graus variados, o tecido encefálico. Etiologia variada (80% enterovírus). - VZV pode causar infecção do SNC em uma relação temporal estreita com a varicela, causando como quadro mais comum ataxia cerebelar. MENINGOENCEFALITES VIRAIS Patogenia: multiplicação no sist. Linfático e disseminação para corrente sanguínea infecção de outros órgãos. - Lesão neurológica: invasão direta e destruição dos tecidos neurais por vírus em multiplicação ativa. MENINGOENCEFALITES VIRAIS Quadro Clínico: a intensidade varia desde uma doença leve e auto-limitada com envolvimento meníngeo primário à encefalite grave com morte e seqüelas significativas. - Quadro neurológico geralmente precedido por doença febril inespecífica que dura alguns dias; pode ser: estacionário, progressivo ou flutuante; precedido ou acompanhado por exantema. MENINGOENCEFALITES VIRAIS - Apresentação: • Cças maiores: cefaléia (frontal ou generalizadas) e hiperestesias • Lactentes: irritabilidade e letargia • Adolescentes: dor retrobulbar - Febre, náuseas, vômitos, fotofobia e dor na nuca, dorso e pernas. MENINGOENCEFALITES VIRAIS Diagnóstico: Q.C.( pródromo inespecífico sintomas progressivos do SNC) + exame do LCR (predomínio de mononuclear discreto). - Isolamento viral não comprova, apenas sugere o diagnóstico. MENINGOENCEFALITES VIRAIS Tratamento: Antibiótico até que seja excluída causa bacteriana por cultura do sangue e LCR. - Inespecífico, exceto pelo uso de aciclovir para HSV. Prognóstico: na maior parte dos pacientes a recuperação é completa. Prevenção: a vacinação contra poliomielite, sarampo, caxumba, rubéola e varicela reduz significativamente as chances de complicações neurológicas. OBRIGADA !!!