MANEJO INTEGRADO DE NEMATÓIDES EM SISTEMA DE PLANTIO DIRETO NO CERRADO Roberto G. Torres(1), Neucimara R. Ribeiro(2), Carlos Adriano Boer(3), Odnei Fernandes(4), André G. Figueiredo(5), Antonio Ferreira Neto(6), Edson Corbo(7) Introdução Em países com clima tropical e subtropical os nematóides encontram condições como umidade e temperaturas ideais para reprodução e alimentação. Tais fatores são agravantes no controle destes patógenos, os quais após terem se estabelecido em uma área, são de erradicação muito difícil. No Brasil, as espécies que causam os maiores danos às grandes culturas como soja, algodão, cana-de-açúcar e milho são Meloidogyne javanica, Meloidogyne incognita, Heterodera glycines, Pratylenchus brachyurus e Rotylenchulus reniformis. Obrigatoriamente, o controle de nematóides em culturas extensivas, que possibilitem a redução populacional para tornar viável o cultivo de determinadas culturas, deve ser planejado e sistematizado de modo a integrar vários métodos e apresentar baixo custo. De um modo geral, são considerados os princípios fitopatológicos da: - Exclusão (evitar a infestação de áreas indenes por espécies ou novas raças, na propriedade ou numa região geográfica maior, ou seja, evitar a introdução e a disseminação); - Erradicação (rotação de culturas com espécies de verão e de inverno não hospedeiras e/ou antagonistas, objetivando a redução da densidade populacional do nematóide); - Regulação (modificação do ambiente e nutrição das plantas); - Imunização (utilização de cultivares resistentes a determinadas espécies ou raças). Métodos culturais, a exemplo da rotação de culturas com espécies não hospedeiras e/ou antagonistas, têm sido efetivos como prática de manejo de nematóides (Santos e Ruano, 1987; Costa e Ferraz, 1990). Alguns trabalhos também mostram que o cultivo de plantas não hospedeiras apenas na entressafra (maio a agosto) não apresentou ser uma boa opção para redução da população de nematóides e que apenas a semeadura de cultivares resistentes não deve ser a única opção de controle de nematóides. Logo, a rotação de culturas não deve ser substituída pela sucessão de culturas e tampouco deve-se trabalhar também com a rotação de culturas de cobertura (Fotos 1,2,3 e 4) em sistema de plantio direto (SPD = Sistema em Equilíbrio = M.O elevada + inimigos naturais). Com isso, o controle de nematóides não se dá apenas por meio de uma única ação, mas através de um conjunto de boas práticas agronômicas que irá manter as populações dos nematóides abaixo do limiar de dano econômico, elevando a produtividade da cultura sem oferecer riscos ao meio ambiente, promovendo no campo uma relação de convivência com estes patógenos. Já que sua eliminação em áreas infestadas é muito difícil e existem as particularidades de cada gênero de nematóides a serem respeitadas e tratadas diferencialmente para o seu manejo, deve-se conhecer melhor sua ocorrência, biologia, formas de dispersão, sobrevivência, hospedeiros e forma de manejo de cada uma delas e assim melhorar essa relação de convivência. - Alternativas de culturas de coberturas para o cerrado brasileiro. Foto 1: B. ruziziensis Foto 2: Mulch de B. ruziziensis Foto 3: Crotalária spectabilis Foto 4: Cober Crop (Híbrido de sorgo) 1) Nematóide de Cisto da Soja (Heterodera glycines) J2 infestando o hospedeiro eclosão e saída dos juvenis J2 iniciando a alimentação J2 J2 livres para futuras infestações Ciclo Biológico: Heterodera J3 formação dos juvenis (J1) na fêmea morta Adultos fêmea morta cheia de ovos Fêmea alimentando-se na raiz e realizando postura J4 começando a produzir ovos abandonando a raiz abandonando a cutícula do estágio anterior J4 Desenho: Patrícia Milano \ Cistos de H. glycines Ovos de H. glycines 1.1- CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS do nematóide H. glycines. 1. Ovo: Depositado pela fêmea no estado unicelular. Desenvolvimento embrionário (J1) 2. J1: Sofre primeira ecdise no interior do ovo (J2) 3. J2: Eclode livremente e assume forma infectiva, passando por mais duas ecdises (J3 e J4) 4. J3 e J4: (forma salsichóide) passa para a quarta ecdises (adulto). - Macho: Retorna a forma vermiforme, sai da raiz e fecunda a fêmea - Fêmea: aumenta de tamanho, endoparasito sedentário, corpo exteriorizado para que haja fecundação. Seu CICLO pode ter duração de aproximadamente três semanas, produzindo de 5 a 6 gerações do nematóide/ciclo da soja. Sua REPRODUÇÃO se dá por reprodução cruzada (Anfimixia obrigatória). Quando a fêmea é fecundada, apenas 20-30% dos ovos ficam na matriz gelatinosa e o restante é retido no interior do corpo. Logo após a produção dos ovos torna-se coreáceo e morre. Cada Cisto poderá conter em média 300 ovos. Os Ovos entram em diapausa natural, ou seja, não eclodem bem nos meses de março a agosto (em locais onde as temperaturas são baixas no inverno). Alguns fatores podem interferir no seu ciclo de vida, tais como, temperaturas abaixo de 10ºC e baixa umidade do solo (< 40% da capacidade de campo). Tem PREFERÊNCIA por solos arenosos, temperaturas em torno de 20 a 30ºC e umidade do solo entre 40 e 60% da capacidade de campo. O pH do solo não deve ser elevado, pois nessa condição a população do NCS sempre permanece mais alta e os danos são maiores (Garcia et al., 1999). Há uma elevada DIVERSIDADE GENÉTICA para este nematóide, o que ocorre sob pressão de seleção, favorecendo a ocorrência de novas raças através da reprodução anfimixia e diferenciadas pelos cultivares do hospedeiro que ela infecta. No Brasil já foram encontradas 11 raças do NCS (1, 2, 3, 4, 4+, 5, 6, 9, 10, 14 e 14+). Com o objetivo de identificar as raças, utiliza-se para soja hospedeiras diferenciadoras sendo: Peking, Pickett, PI88788, PI90763, Lee = suscetível a todas, Hartwig* = resistente a todas (* 4+ e 14+ quebraram a resistência de Hartwig). A OCORRÊNCIA do nematóide de cisto da soja (NCS) foi detectado pela primeira vez no Brasil na safra 1991/92. Atualmente, está presente em 10 estados brasileiros (MG, MT, MS, GO, SP, PR, RS, BA, TO e MA), cobrindo mais de 2.500.000 ha (Dias et al., 2007). Em solos arenosos, esse nematóide causa perdas de 10% a 30% quando em baixas infestações, podendo chegar a 70% ou mais quando em alta incidência (Inomoto – ESALQ). - Distribuição de Raça de Heterodera glycine no Brasil ,10 - Tabela 1. Distribuição de Raça de Heterodera glycine no Estado de Mato Grosso. Municípios Alto Garças Alto Taquari Campo Verde Campos de Júlio Campo Novo do Parecis Deciolândia Diamantino Dom Aquino Guiratinga Itiquira Jaciara Juscimeira Nova Mutum Nova Ubiratã Pedra Preta Primavera do Leste Santo Antônio do Leste Sapezal Sorriso Tangará da Serra Tapurah Raça 3 e 14 3,4,10 e 14 1,2,3 e 5 5,6 e 9 3e9 3 3 2,3 e 5 3 e 14 3 2e5 2e3 3 3 2 1,2,3 e 5 3 3,5 e 6 1,2,3,4+,5,14 e 14+ 1,3,4 6 Em áreas onde o NCS já foi identificado, o produtor deve conviver com o mesmo, uma vez que sua erradicação é difícil e economicamente inviável. Algumas medidas ajudam a minimizar as perdas, destacando-se a rotação de culturas com plantas não hospedeiras e o uso de cultivares resistentes. O planejamento da rotação de culturas e de culturas de coberturas para controle do NCS é relativamente simples, em função da sua limitada gama de hospedeiros. (Tabelas 3 e 4). Entretanto, a adoção dessa prática é muitas vezes limitada pela viabilidade econômica das culturas em determinadas regiões, porém extremamente necessária. Avaliações sobre o impacto do cultivo de espécies botânicas de verão, não hospedeiras de H. glycines, (milho, sorgo, arroz, algodão, mamona e girassol) na população do nematóide, mostraram que a substituição da soja por uma delas, em uma safra, geralmente reduz a população a nível que permite o retorno da soja na safra seguinte. Com um único cultivo de soja suscetível, a população do NCS volta a crescer, havendo a necessidade de, na safra seguinte, retornar à rotação com a espécie não hospedeira ou semear uma cultivar de soja resistente. Por sua vez, com dois ou três anos seguidos de milho, pode-se, na maioria das vezes, voltar com a soja suscetível por dois anos consecutivos, sem riscos de perda. O cultivo de plantas não hospedeiras na entressafra (maio a agosto) não mostrou ser boa opção para redução da população do nematóide. Assim, a rotação de culturas não deve ser substituída pela sucessão de culturas. Por outro lado, a presença de soja voluntária (“tigüera”) ou de espécies hospedeiras na área, durante a entressafra, contribui para aumentar o inóculo para a safra de verão seguinte (Garcia et al., 1999). Além da rotação de culturas com espécies não hospedeiras e da utilização de cultivares resistentes, recomenda-se ainda, nas áreas infestadas com o NCS, a adoção da semeadura direta. Esse modo de cultivo potencializa a ação de inimigos naturais do nematóide e dificulta a dispersão dos cistos, em função da redução da movimentação de máquinas e, principalmente, de solo. A utilização dessa prática também reduz o risco de disseminação pelo vento, sobretudo nas regiões dos chapadões, onde grandes quantidades de solo são carregadas na época do preparo convencional do mesmo. Tabela 2. Cultivares de soja com resistência ao nematóide de cisto H. glycines, indicadas para cultivo no Estado do Mato Grosso. Embrapa Soja, outubro de 2006 Raças Variedade Spring RR (NK7054RR) TMG123RR ANTA 82 RR M7639RR M-SOY8001 P98Y11 TMG113RR M8230RR M8336RR TMG131RR P98Y40 P98Y51 BRS MT Pintado TMG132RR TMG133RR TMG115RR P98Y70 M-SOY8757 FMT Tabarana AS8380RR R 3 e 14 1e3 3 1e3 1e3 1e3 1e3 1e3 1e3 1e3 3 1e3 1e3 1e3 1e3 1e3 3 1e3 1e3 3 MR 2,5,6,9 e 14 14 GM 5,3 7,4 7,4 7,6 8,1 8,2 8,2 8,2 8,3 8,3 8,4 8,5 8,5 8,5 8,5 8,6 8,7 8,7 8,7 8,3 Tabela 3. Plantas hospedeiras dos principais gêneros de nematóides M. javanica (Galha) M. > 2000 espécies Arroz Aveia Batata Beldroega Cana-de-açucar Caruru Corda-de-viola Feijão Frutíferas Fumo Gerânio Guanxuma Hortaliças Joá-bravo Mentrasto Soja Tomate Trigo incognita (Galha) H. > 2000 espécies Algodão Acerola Algodoeiro Batata Beterraba Cafeeiro Cana-de -açucar Cenoura Cravo Feijão Figueira Fumo Mamoeiro Melão Pepino Pessegueiro Quiabo Soja Tomate Videira glycines Caupi Crotalária juncea Ervilha Ervilhaca Feijão de Fava Feijoeiro comum Guandú Soja Tremoço (Cisto) Pratylenchus (Lesões) Abacaxizeiro Algodão Amendoim Batata Brachiaria spp. Cafeeiro Cana-de-açucar Ervas daninhas Feijão Labe-labe Milheto Milho Mucuna Preta Mucunas Panicum maximum Pessego Quiabeiro Soja Rotylenchulus reiniformes Abacaxizeiro Algodoeiro Bananeira Cafeeiro Feijão Mamoneira Maracujazeiro Soja Tomateiro Tabela 4. Plantas NÃO E MÁ hospedeiras dos principais generos de nematóides (Rotação/Suscessão) M. javanica (Galha) M. Algodão Amendoim Brachiaria spp. Crotalária juncea Crotalária spectabilis Crotalárias spp. Mamona Milho Mucuna Preta Nabo Forrageiro Panicu,m maximum Sorgo incognita (Galha) H. Amendoim Brachiaria spp. Crotalária juncea Crotalária spectabilis Crotalárias spp. Milheto Milho Mucuna Preta Nabo Forrageiro Sorgo glycines Algodão Amendoim Arroz Aveia Brachiarias Cana-de açucar Cevada Crotalária Girassol Mamona Mandioca Milheto Milho Mucuna Sorgo Trigo (Cisto) Pratylenchus (Lesões) Aveia Preta B. decumbens Crotalaria breviflora Crotalaria juncea* Crotalaria mucronata Crotalaria ochroleuca Crotalaria spectabilis Girassol Guandu Rotylenchulus reiniformes Amendoim Arroz Brachiaria spp. Forrageiros Milheto Milho Nabo forrageiro Pé-de-Galinha Sorgo * má hospedeira FR = 1,2 Quanto à SINTOMATOLOGIA observam-se sintomas diretos e sintomas reflexos. No direto o sistema radicular fica muito pobre ou deficiente. Já os reflexos são: o Nanismo Amarelo da Soja (o mais comum), plantas de tamanho reduzido e cloróticas, geralmente ocorrendo em reboleiras, deficiência nutricional (nitrogênio), redução na nodulação por bradirhyzobium e redução na produção. Normalmente pode estar associado a outros organismos como Fusarium solani f.sp. glycines e apresentar a Síndrome da morte súbita, causado por Fusarium oxysporum e Macrophomina phaseolina. Fotos: Jaime Maia dos Santos - UNESP A DISSEMINAÇÃO do Heterodera glicynes pode ser ativa (ineficiente) ou passiva (dispersão dos cistos) através do vento, água, maquinários, movimentação do solo, sementes, sapatos, sacaria e aves migradoras. Como MEDIDAS de CONTROLE pode-se optar pelo método da exclusão, adotandose ações quarentenárias, bem como através da utilização de variedades resistentes. O controle químico tem apresentado alto custo e resultados insatisfatórios, além de promover contaminação do solo, lençol freático, intoxicação de homens e de animais, por se tratarem de produtos que apresentam em sua composição os ingredientes ativos Aldicarb, Carbofuran, Oxamil e Fenamifós. Das opções de controle encontradas, as mais eficientes são a rotação de culturas e a associação de rotação de culturas ao sistema de plantio direto, com a utilização de variedades resistentes, plantas não hospedeiras e plantas antagonistas. (Plantas antagonistas: são as plantas nas quais o nematóide penetra, mas não se desenvolve e/ou apresenta efeito estimulatório sobre a eclosão dos ovos dos nematóides. Exemplo: Crotalária Spectabilis e Mucuna). Na Tabela 5, observam-se algumas opções economicamente viáveis para a rotação de culturas dentro do contexto de plantio direto, de acordo com os principais seguimentos de mercado, como também pelo nível de infestação e de novas raças de H. glicynes. Tabela 5. Sistemas de plantio em rotação/sucessão de culturas para controle de NCS Sistema I: Baixa Infestação para H. glicynes VERÃO I SAFRINHA/COBERTURA Soja Resistente Soja Resistente Soja Resistente Soja Resistente Soja Resistente Soja Resistente Soja Resistente Milho SP Milho Milho / B. ruziziensis Sistema II: VERÃO I Algodão Cober Crop Crotalaria Crotalaria Crotalaria Milheto Milho Milho Milho Milho Milho Milho / B. ruziziensis Sorgo B. ruziziensis Cober Crop Milho Milheto Crotalária Algodão Crotalária ILP - Int. Lavoura Pecuária VERÃO II Algodão Soja Resistente Milho Soja Resistente Soja Resistente Soja Resistente Milho Soja Resistente Soja Resistente Soja Resistente Alta Infestação e novas raças para H. glicynes SAFRINHA/COBERTURA Manejo de pós-colheita Algodão Sorgo Milho / B. ruziziensis Milho Algodão Mucuna Algodão Crotalaria Cober Crop ILP - Int. Lavoura Pecuária VERÃO II Milho Milho Milho Crotalaria Crotalaria Milho Algodão Milho Algodão Algodão Algodão 2) Nematóide de Galhas (Meloidogyne spp.) J2 livres a procura do hospedeiro realizando postura juvenil eclodindo J2 infestando a raiz J2 iniciando a alimentação Ciclo Biológico: Meloidogyne J2 Adultos permanece no interior da galha rompe a cutícula e abandona a galha Desenho: Patrícia Milano J4 desenvolvimento do aparelho reprodutor - CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS dos nematóides do gênero Meloidgyne spp. Com seu CICLO de aproximadamente 25 a 40 dias este nematóide compreende as fases de ovo em quatro estádios juvenis e um adulto, sendo: 1. Ovo: massa de ovos colocadas no solo ou no córtex da raiz; 2. J1: primeira ecdise no interior do ovo; 3. J2: fase infectiva (sai do ovo e inicia sua movimentação no solo em busca de alimento, penetra as raízes até atingir a região central (estelo) daí começa a sua alimentação (4 a 8 células nutridoras); 4. J3 e J4: o nematóide cresce e perde a mobilidade, trocando de pele por mais três vezes; 5. Fase Adulta: - Macho: Filiforme, vive aproximadamente 7 dias sem se alimentar na planta e sem função sexual, já que a maioria das espécie de Meloidogyne é de reprodução partenogenética. A fêmea globosa leitosa, três dias após atingir a fase adulta inicia a oviposição. Cada fêmea oviposita cerca de 50% dos ovos, ficando o restante retido no útero após sua morte. A fêmea pode colocar de 200 a 1000 ovos (média 400 ovos). OVO J 2 J 2 a J3 FÊMEA \ Fases do ciclo: de ovo a adulto do Meloidogyne spp. Foto: Monsanto Penetração de Juvenis J2 nas raízes. Fêmea Juvenis do 2o Estádio Massa de ovos ( OOTECA ) Juvenis do 2º Estádio Fêmea de Meloidogyne na raíz Deposição de ovos para dentro da OOTECA Massa de ovos Fêmea de Meloidogyne na raiz com Ooteca Galhas com massa de ovos Fêmea com ovos e região perineal de Meloidogyne O gênero Meloidogyne compreende um grande número de espécies. Entretanto, M. javanica e M. incognita são os que mais limitam a produção das grandes culturas como a soja e o algodão (Tabela 6). No Brasil a OCORRÊNCIA do M. javanica (soja) é generalizada, enquanto M. incognita predomina em áreas cultivadas anteriormente com café ou algodão (PR, SP, MG, MS, MT, BA). O nematóide Meloidgyne spp. tem PREFERÊNCIA por solos arenosos ou médio-Argilosos ( > 25% de argila ). As maiores PERDAS, da ordem de 10% a 40%, são observadas em soja cultivada em solos arenosos. (Prof. Dr. Mario Inomoto, ESALQ/USP). A DISSEMINAÇÃO dos nematóides de galha se deu inicialmente através de mudas de café, estacas enraizadas, mudas de frutíferas, ornamentais e batata semente (tubérculos). Hoje pode-se contar com sementes e mudas fiscalizadas e certificadas, porém a disseminação ainda continua sendo um dos grandes entraves no controle destes parasitas, pois são facilmente levados através de máquinas e implementos agrícolas (terceirizados/emprestados/ transferidos), movimentações excessivas de solo, sementes, calçados, sacarias e até mesmo enxurradas ou erosões. Sua SOBREVIVÊNCIA pode variar de 6 a 12 meses e se torna menor em condições de plantio direto, pois há maior teor de matéria orgânica e conseqüentemente maior presença de inimigos naturais no solo. Além das características do solo, temperatura e umidade também interferem na sobrevivência dos nematóides de galha. Tabela 6. Suceptibilidade de algumas culturas ao ataque de nematóides do genero Meloidogyne , por 4 espécies Nome cientifico Nome comum M. incognita M. hapla M. javanica M. arenaria Crotalaria spectabilis crotalaria 0 (1) 0 0 0 Cucurbita pepo Lectuca sativa Medicapo sativa Gossypium hirsutum Arachis hypogaea abóbora alface alfafa algodão amendoim 4 4 0 4 4 4 3 0 0 4 3 0 4 Avena sativa aveia 4 (5) 4 3 3 0 (2) 1 0 1 1 Musa caverdishii Solanum tuberosum banana batata 3 4 3 3 Impomoea batatas Beta vulgaris Saccharum officinarum Allium cepa Daucus carota batata-doce beterraba cana-de-açucar cebola cenoura - (6) 4 (3) 2 4 4 4 3 (4) 0 4 4 4 3 0 3 4 4 4 4 2 2 1 2 0 4 3 3 4 0 4 3 4 4 1 4 0 4 0 4 4 0 4 0 4 3 0 3 4 4 4 4 0 2 0 1 3 4 3 Phaseolus vulgaris Pelargonium sp. Cajanus cajan Ricinus communis Arracacia xanthorrhiza Citrullus vulgaris Zea mays Fragaria sp. Hibiscus esculentus Apium graveolens Glycine max Lycopersicum esculentum Triticum aestivum feijão gerânio guandu mamona mandioq. Salsa melancia milho morangueiro quiabo salsão soja tomate trigo Fonte: "Nematóides das Plantas Cultivadas" L. G. E. Lordello. Legenda (1) Grau 0 = não houve infestação; no caso de terem as larvas pré-parasita penetrado nos tecidos não se desenvolveram até o estado de fêmeas maduras produtoras de ovos. (2) Grau 1 = infestação extremamente leve, tendo apenas uma ou outra fêmea com massa de ovos sido verificada no interior da raiz. (3) Grau 2 = infestação leve, com fêmeas maduras com massas de ovos facilamente vistas, meso ao olho nú. (4) Grau 3 = infestação moderada, sendo as fêmeas maduras e massas de ovos moderadamente abundantes. (5) Grau 4 = infestação severa, sendo muito abundantes não só femeas maduras mas também ootecas. (6) - = a ausência de um numero significa que a susceptibilidade não foi testada ou verificada em amostra coligada na natureza Quanto a sua SINTOMATOLOGIA pode-se observar a partir do florescimento os sintomas reflexos, como a redução na área foliar, deficiências minerais e murchamento temporário nos horários mais quentes do dia, clorose internerval, diferentemente da que ocorre com Heterodera glicynes, e em populações mais elevadas até mesmo um avermelhamento nas folhas, crestamento generalizado (Carijó) e conseqüentemente baixa produtividade. Os sintomas diretos apresentam redução e distúrbios no sistema radicular, através do engrossamento das paredes celulares nas raízes promovendo baixa eficiência na absorção e translocação de água e nutrientes. Fotos: Monsanto - Sintomas de galhas nas raízes da soja – Meloidogyne spp. Foto: Guilherme L. Asmus, Embrapa – CNPAO, Sintoma de M. incógnita em raiz de algodão Para o CONTROLE do nematóide de galhas podem ser utilizadas, de modo integrado, várias estratégias. Primeiramente devem-se interromper os mecanismos de dispersão que ocorrem entre e dentro das propriedades rurais. A rotação/sucessão com culturas não ou más hospedeiras e a utilização de cultivares resistentes são as mais eficientes. A rotação de culturas para controle do nematóide de galhas deve ser bem planejada, uma vez que a maioria das espécies cultivadas podem ser atacadas. Quase todas as plantas daninhas também possibilitam a reprodução e a sobrevivência desses nematóides. Assim, deve ser realizado o controle sistemático dessas plantas principalmente nas reboleiras. A escolha da rotação adequada deve-se basear, também, na viabilidade técnica e econômica da cultura na região, sendo bastante variável de um local para outro. Para recuperação da matéria orgânica e da atividade microbiana do solo e possibilitar a manutenção populacional de inimigos naturais, também é importante incluir, na rotação/sucessão, espécies de “adubos verdes” resistentes. Como existe variação dentro das espécies vegetais com relação à capacidade de multiplicar as diferentes espécies de Meloidogyne spp., somente a partir do conhecimento da reação de cultivares e híbridos a esta espécie, é que se pode desenvolver um planejamento eficiente de rotação/sucessão de culturas. Em soja a presença de galhas é positivamente correlacionada com maior reprodução do nematóide e maior dano na planta. Há casos de formação de galhas incitadas por Meloidogyne spp. em alguns híbridos de milho, mas a regra é a ausência, mesmo quando ocorre o parasitismo. Os danos em milho são raros também. Mesmo em reboleiras de elevada infestação, o milho apresenta desenvolvimento normal. Desta forma pode-se dizer que os genótipos de milho possuem elevada tolerância a danos causados por espécies de Meloidogyne presentes no Brasil e podem ser de fundamental importância para a redução da população desses nematóides. A escolha de híbridos de milho e soja resistentes para rotação auxiliam na manutenção da população dos nematóides em níveis baixos, evitando perdas de produtividade (Tabela 7). Tabela 7. Reação dos híbridos de milho e sorgo ao Meloidogyne javanica GENÓTIPOS Soja cv. Conquista Soja cv. Pintado Tomateiro Soja cv. DOKO Volumax DKB390 Flash AG7040 AG2040 AG6040 DKB393 DKB350 DKB455 AG7000 DKB215 DKB747 AG9010 DKB979 DKB466 AG6018 DKB330 AG5020 AG2060 Sara DKB599 AG8060 AG9020 AG1018 DKB214 AG8021 DKB566 Crotalaria spectabilis AG1051 CULTURA # ENSAIOS Soja Soja Tomate Soja Sorgo Milho Milho Milho Milho Milho Milho Milho Milho Milho Milho Milho Milho Milho Milho Milho Milho Milho Milho Sorgo Sorgo Milho Milho Sorgo Milho Milho Milho Adubação Verde Milho 1 9 2 2 2 2 8 3 4 1 1 7 2 3 4 3 3 2 2 8 2 3 1 2 2 2 8 2 1 2 4 9 1 ESALQ - 2004 / 2005 / 2006 ( 7 ensaios ) EMBRAPA CNPsoja ( 1 ensaio ) UFU - Universidade de Uberlândia ( 1 ensaio ) FR REAÇÃO 128,8 76,1 41,4 32,3 15,2 3,8 3,6 3,4 3,2 3,2 2,6 2,5 2,4 1,9 1,8 1,6 1,6 1,5 1,4 0,9 0,9 0,8 0,8 0,7 0,7 0,7 0,6 0,5 0,3 0,2 0,2 0,0 0,0 R (FR>1) T (FR<3 >1) S ( >3 ) S S S S S S S S S S T T T T T T T T T R R R R R R R R R R R R R R Resistente Tolerante Suscetível Os incrementos da população (FR) de M. javanica em soja são maiores do que aqueles observados em milho mesmo em cultivares de soja resistentes, como Pequi, Conquista e Garimpo. Em cultivares de soja suscetíveis, o incremento da população foi ainda mais elevado. (João Flávio Veloso Silva – EMBRAPA Soja). O método de controle mais eficiente, barato e de fácil assimilação pelos produtores, é o uso de cultivares e híbridos resistentes. Atualmente, cerca de 80 cultivares de soja com níveis variados de resistência aos nematóides de galhas estão disponíveis no Brasil. Todas descendem de uma única fonte de resistência: a cultivar norte-americana Bragg. Como os níveis de resistência destes cultivares não são muito altos em situações de populações elevadas do nematóide, antes de semear uma cultivar resistente (Tabela 9), o agricultor deverá fazer rotação de cultura com uma espécie vegetal não ou má hospedeira. É preciso destacar que quanto maior a infestação do nematóide, mais difícil é seu controle, ou seja, será necessário utilizar por mais tempo o milho, o sorgo ou outra cultura resistente para que a população do nematóide fique suficientemente baixa para não causar perdas à cultura subseqüente de soja. O milho também pode ser utilizado em rotação ou sucessão com a soja para o controle dos nematóides das galhas. Três ações são importantes para se obter o controle dos nematóides das galhas por meio de rotação ou sucessão de culturas (Tabela 8). 1- identificar a espécie de Meloidogyne spp.; 2- conhecer as cultivares ou os híbridos que são resistentes à espécie identificada; 3- verificar a população do nematóide no final da safra (Prof. Dr. Mário Inomoto, ESALQ/USP). Tabela 8. Sistemas de plantio em rotação/sucessão de culturas para controle de Meloidogyne spp. Sistema I: Baixa Infestação para Meloidogyne spp. VERÃO I SAFRINHA/COBERTURA Soja Resistente Milho Resist. / Toler. Soja Resistente Milho Resist. / Toler. Soja Resistente Soja Resistente Soja Resistente Soja Resistente Soja Resistente Milho Res.-Tol. / B. ruziziensis Algodão* Sorgo Resistente Crotalária ILP - Int. Lavoura Pecuária Milho Resist. / Toler. Cober Crop Milheto Resistente Manejo de Pós-colheita Sistema II: VERÃO I VERÃO II Algodão* Soja Resistente Soja Resistente Soja Resistente Soja Resistente Soja Resistente Soja Resistente Soja Resistente Soja Resistente Alta Infestação e novas raças para Meloidogyne spp. SAFRINHA/COBERTURA VERÃO II Milho Resist. / Toler. Manejo de pós-colheita Algodão* Cober Crop Algodão* Milho Resist. / Toler. Crotalaria Sorgo Milho Resist. / Toler. Crotalaria Milho Res.-Tol. / B. ruziziensis Crotalaria Crotalaria Milho Resist. / Toler. Crotalaria Milheto Resistente Algodão* Milho Resist. / Toler. Milho Resist. / Toler. Mucuna Algodão* Milho Resist. / Toler. Sorgo Algodão* Milho Resist. / Toler. Crotalaria Milho Resist. / Toler. Milho Resist. / Toler. Cober Crop Algodão* Milho Resist. / Toler. ILP - Int. Lavoura Pecuária Algodão* * Quando identificado Meloidogyne incognita no talhão, não rotacionar com Algodão (hospedeiro) Os sistemas apresentados na Tabela 8 sugerem algumas recomendações de manejo de acordo com o sistema produtivo e o nível populacional dos nematóides de galha. Tabela 9. Cultivares de soja resistentes (R) ou moderadamente resistentes (MR) aos nematóides de galhas (Meloidogyne incognita e/ou M. javanica) indicadas para o cultivo no Mato Grosso. Embrapa/Soja, outubro de 2006. M . javanica M . incognita Variedade Spring RR MR M7578RR MR M7908RR MR MR BRS Valiosa RR R MR MG/BR-46 Conquista R R BRS Favorita RR R MR TMG103RR MR MR BRS850GRR MR R M8527RR MS MR AS7307RR MR GM 5,3 7,5 7,9 8,2 8,2 8,2 8,3 8,5 8,5 7,3 Tabela 10. Reação das cultivares de soja ao Nematóide de Galhas, M. javanica e M. incognita. Meloidogyne javanica Genótipo BRS 133 Embrapa 20 (Doko RC) BRSMT Pintado GOBR99-464007 M-Soy 8001 BRS 230 Tropical BRS 232 CD 217 BRSGO Paraíso CD 201 BRS 233 CD 208 Bragg MG/BR 46 (Conquista) BRSGO 204 [Goiânia] 1 FR Meloidogyne incognita 1, 2 26,4 32,6 39,4 29,1 24 42,6 30,4 21,2 27,1 22,8 18,2 12,5 17,7 23 20,5 11,5 Média de 10 repetições. FR (Fator de reprodução) população final/população inicial. 2 1,2 Genótipo FR Embrapa 20 (Doko RC) BRSMT Pintado BRS 133 GOBR99-464007 BRS 232 BRS 230 M-Soy 8001 MG/BR 46 (Conquista) CD 201 Tropical BRS 233 CD 208 Bragg BRSGO 204 [Goiânia] BRSGO Paraíso CD 217 12,4 12,3 15,6 17,7 13,9 31,6 13,1 12,4 9,1 9 7,8 12,9 4,8 5,2 6,4 7,8 3) Nematóide Reniforme (Rotylenchulus reniformis) Fêmea realizando postura Adultos sexualmente imaturos J2 eclodindo J2 J3 J4 livres no solo livres no solo livres no solo (2) Adultos sexualmente imaturos e Ciclo Biológico: Rotylenchulus (2) (3) macho permanece no solo sem se alimentar em cópula Fêmea madura sexualmente pronta para o acasalamento (3) Fêmea adulta (formato de rim) (1) (1) Fêmea iniciando a alimentação no hospedeiro Fêmea sedentária Desenho: Patrícia Milano - CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS do nematóide Rotylenchulus reniformis: Este nematóide apresenta tipicamente quatro fases juvenis e sua primeira ecdise acontece ainda dentro do ovo (J1). 1- J1: Primeira troca de pele (dentro do ovo); 2- J2: Eclosão (sai do ovo e entra em movimentação no solo); 3- J3 e J4: Adultos imaturos (Não se alimentam nesta fase); 4- Fase Adulta: - Macho: comuns no solo, aparentemente não se alimentam e permanecem móveis no solo; - Fêmeas imaturas: esbeltas e infectivas. Penetram a parte anterior do corpo no córtex radicular, onde estabelecem um sítio de alimentação e atraem os machos. Tornamse sedentárias, aumentando de tamanho (forma semelhante a um Rim). Cada fêmea coloca em média 100 ovos (massa gelatinosa recobrindo as fêmeas). O ciclo se completa em 17 a 23 dias. Fotos: Guilherme L. Asmus, Embrapa CNPAO – Rotylenchulus reniformis na raíz Muito embora o algodão seja a cultura mais afetada por R. reniformis, este também tem parasitado a cultura da soja, feijão, abacaxi entre outras, conforme listado na tabela 3. Sua OCORRÊNCIA está localizada principalmente nas regiões tropicais e subtropicais, em especial na região Centro-Sul do Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. No Brasil Central apresenta PREFERENCIA por solos médio-argilosos a argilosos (25 a 35% de argila) a (> 35% de argila) respectivamente. Nestas condições tem-se verificado perdas de 10 a 30% na cultura da soja. Apresenta alta capacidade de SOBREVIVÊNCIA na ausência de hospedeiros, pois quando em condições de baixa umidade no solo entra em estado de Anidrobiose (mecanismo de natureza fisiológica pelo qual a escassez de umidade, induz o nematóide a reduzir drasticamente seu metabolismo, quase ametabolismo), suportando melhor a dessecação que outras espécies de nematóides (Dr. Guilherme Lafourcade Asmus, EMBRAPA – CNPAO). Há relatos que mencionam sua sobrevivência por tempo acima de 29 meses. Quando em estado de anidrobiose sua DISSEMINAÇÃO pelo vento é facilitada, além das demais práticas de dispersão, como qualquer prática que movimente o solo através de máquinas e implementos agrícolas (terceirizados/emprestados e/ou transferidos). Em campos infestados, durante operação de plantio e cultivo, foram encontrados nos pneus do trator 1.200 nematóides/200cm3 de solo aderido, e durante a operação de colheita, nos pneus da máquina foram encontrados 52 nematóides/200 cm3 de solo aderido. Suas SINTOMATOLOGIAS diferentemente dos demais nematóides não apresentam galhas ou fêmeas visíveis a olho nu (NCS), porém, como sintoma direto mostram um sistema radicular pouco desenvolvido, caracterizado por apresentar em alguns pontos da raiz uma camada de terra aderida às massas de ovos do nematóide, que são produzidas externamente, deixando com aspecto de raiz suja de terra mesmo depois de lavada em água corrente. Como sintomas reflexos apresentam reboleiras muito grandes, difíceis de serem percebidas por um observador com pouca experiência. O porte das plantas ficam menores que as normais (semelhante à compactação de solo) e sem apresentar cloroses, plantas “Carijó”, somente em altas populações e conseqüentemente baixas produtividades na cultura. O Nível de Dano: EUA – 600 nematóides/200cm3, porém no Brasil ainda não há uma determinação. Rotylenchulus reniformis Foto: Guilherme L. Asmus Foto: Jaime Maia dos Santos CARIJÓ TÍPICO Foto: Jaime Maia dos Santos Para se efetuar um manejo adequado de R. reiniformis, é imprescindível que se adote medidas integradas, não se limitando a apenas uma ação, mas a um conjunto de ações. Primeiramente deve-se interromper os mecanismos de dispersão deste parasita, através da lavagem dos equipamentos e máquinas, antes e após sua utilização; em seguida procurar deixar as áreas mais infestadas serem trabalhadas por último e adotar medidas culturais que neste caso são altamente eficientes, como a rotação/suscessão com culturas não hospedeiras optando por qualquer cultivar ou híbrido de milho, sorgo, soja resistente. Trabalhar o sistema de plantio direto associado à rotação de culturas, pois a maioria das culturas de coberturas, tais como: braquiarias, sorgo, sorgo forrageiro, milheto, pé-degalinha, mesmo em sucessão apresentou redução deste nematóide. Dentro deste manejo integrado a escolha do método de imunização é altamente interessante, pois é facilmente assimilado pelo agricultor, através da adoção de cultivares e variedades resistentes. 4) Nematóide das Lesões Radiculares (Pratylenchus brachyurus) Fêmea infestação no hospedeiro Fêmeas adultas em busca de novos hospedeiros Fêmea dentro do hospedeiro, ovipositando Ciclo Biológico: Pratylenchus J4 J3 J2 Juvenil eclodindo Desenho: Patrícia Milano - CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS do nematóide Pratylenchus brachyurus: Seguindo praticamente as mesmas características do R. reniformis durante sua fase juvenil o nematóide das Lesões Radiculares se diferem basicamente na sua fase adulta e seus ovos podem ser colocados dentro das raízes e no solo. 1- J1: ocorre à primeira troca de pele ainda dentro do ovo; 2- J2: Eclosão e início da sua alimentação; 3- J3 e J4: continuam a crescer e passa por outras trocas de ecdise; 4- Estádio Adulto: nesta fase o P. brachyurus é composto basicamente por fêmeas, já que o macho é muito raro para esta espécie e sua reprodução é do tipo partogênica. - Fêmeas: completam o ciclo dentro da raiz. Após alimentar-se das raízes ou por excesso de ocupação das mesmas, caminha no solo em busca de raízes em melhores condições. Uma fêmea chega a colocar cerca de 80 ovos dentro das raízes. No geral seu CICLO é completado em 45 -65 dias. No Brasil, as espécies de nematóide do gênero Pratylenchus, conhecidas como “nematóides das lesões radiculares”, figuram em segundo lugar em termos de importância para a agricultura, sendo superadas apenas pelos chamados “nematóides de galhas”, do gênero Meloidogyne. Dentro do gênero Pratylenchus, a espécie P. brachyurus (Godfrey) Filipjev & S. Stekhoven é uma das mais destacadas em todo o mundo. Tal relevância está associada a algumas características mostradas por esse nematóide, entre as quais: i) ampla distribuição geográfica, ocorrendo na maioria dos países das regiões tropical e subtropical; ii) alto grau de polifagia, ou seja, capacidade de parasitar e multiplicar-se em grande número de plantas hospedeiras, filiadas a diferentes famílias botânicas; e iii) ação patogênica pronunciada no caso de várias culturas de grande interesse agronômico, anuais e perenes, podendo causar danos marcantes e perdas econômicas vultosas. Nos estados de Mato Grosso e no Norte do Mato Grosso do Sul, tornou-se mais favorável a este nematóide, pois apresentam solos de textura média e sucessões constantes de culturas suscetíveis (soja, milho e algodão), o que tem levado ao aparecimento de populações elevadas nestas regiões. Levantamento feito em áreas produtoras de soja e algodão no estado do MT apresentou 94% das amostras com Pratylenchus brachyurus (Silva, 2003), o que denota importância subestimada deste parasita. Contudo, quase não existem estudos sobre os efeitos do seu parasitismo nas diversas culturas. (Tabela 3). Sua PREFERENCIA é por solos médio-arenosos (15 a 25% argila) e tem-se beneficiado muito com as culturas de soja e algodão, além daquelas áreas degradadas, onde anteriormente eram pastagens e foram incorporadas para lavouras de soja. Quando é único nematóide presente na cultura da soja, pode causar PERDAS de 10 a 25%, porém pode ocorrer associado com outros nematóides (NCS e Galha). O Pratylenchus brachyurus tem baixa capacidade de SOBREVIVÊNCIA na ausência de hospedeiros, porém consegue sobreviver em restos culturais, tornado seu controle um pouco mais complicado, pois é favorecido pelas áreas com sistema de plantio direto e cultivo mínimo, nos quais a formação da palhada assegura no solo a manutenção do teor de umidade adequado à sobrevivência e boa atividade deste nematóide durante boa parte do ano. É muito comum e abundante em culturas irrigadas, onde há presença constante de hospedeiros. Sua DISSEMINAÇÃO é umas das formas mais importantes para inibir sua dispersão, pois é facilmente levado por máquinas e implementos, além das enxurradas e outros meios. A SINTOMATOLOGIA causada por este nematóide apresenta o sistema radicular da planta menos volumoso, pouco desenvolvido, e as raízes presentes mostram áreas parcial ou totalmente escura, resultantes da coalescência das muitas lesões necróticas causadas internamente pelo nematóide. Essas anomalias provocadas no sistema radicular limitam a absorção e o transporte de água e de nutrientes, levando a planta atacada a exibir diferentes sintomas reflexos na parte aérea, em especial enfezamento, nanismo, murcha nas horas mais quentes do dia, clorose e outros indicativos de distúrbios nutricionais, como a desfolha, queda na produtividade, etc. O ataque costuma ocorrer em reboleiras, nas quais os níveis populacionais do nematóide são elevados e o porte das plantas é menor que o normal. A interação com outros fungos agrava a murcha por Verticillium (algodão, batata, morango e tomateiro), murcha por Fusarium e agrava problemas com Rhizoctonia, Phytophthora e Pythium Foto: Jaime M. dos Santos – UNESP Foto: Neucimara R. Ribeiro – APROSMAT Foto: Neucimara R. Ribeiro - APROSMAT Foto: Prof. Dr. Mário Inomoto – ESALQ/USP Pratylenchus brachyurus Foto: Jaime Maia dos Santos – Pratylenchus na cultura do algodão Há várias medidas de MANEJO que podem ser cogitadas visando à solução de um determinado problema de natureza nematológica, porém para Pratylenchus brachyurus a maioria delas não se mostra tecnicamente eficaz ou economicamente exeqüível, ficando as opções bastante restritas. O emprego do controle varietal, por exemplo, embora fosse o ideal, não está ao alcance no momento, pois não se dispõe de cultivares de soja altamente resistentes a P. brachyurus, haja visto que, nos últimos anos, as pesquisas nacionais na área de melhoramento genético têm visado principalmente à resistência ao nematóide de cisto e aos nematóides de galhas, assim como os estudos referentes aos híbridos e variedades de milho e sorgo. O controle químico também encontra objeções, em especial pelo fato de que os produtos nematicidas, embora eficientes, não erradicam o nematóide, mas apenas reduzem-lhe as populações temporariamente, aspecto conflitante com os objetivos do plantio direto e que, ao longo do tempo, poderia onerar a produção. A técnica que vem sendo mais indicada ao manejo de P. brachyurus é a rotação de culturas, alternando plantios de soja com outras culturas de verão e de inverno que sejam resistentes a esse nematóide (Tabela 11). A eficácia da técnica está ligada ao fato de que, embora a lista de hospedeiros de P. brachyurus seja extensa, encontram-se ainda algumas plantas nas quais a sua multiplicação não ocorre ou a taxa de reprodução é extremamente baixa. Portanto, o cultivo de tais plantas, dentro de esquema bem planejado, poderá ensejar ao produtor a redução da população desse nematóide na área a níveis toleráveis, a exemplo do que, já se tem buscado fazer em relação aos nematóides de galhas e ao nematóide de cisto. Tabela 11. Sistemas de plantio em rotação/sucessão de culturas para controle de Pratylenchus brachyurus Sistema I: Alta Infestação de Pratylenchus VERÃO I SAFRINHA/COBERTURA Crotalaria spectabilis B. decumbens Milheto BN2 Milheto BN2 ILP - Integ. Lavoura-pecuária B. decumbens VERÃO II B. decumbens Crotalaria spectabilis Crotalaria spectabilis Além da soja e algodão, P. brachyurus pode parasitar a aveia, o milho, o milheto, o girassol, a cana-de-açúcar, o amendoim, dentre outras, alguns adubos verdes e a maioria das ervas daninhas. Entretanto, existe variabilidade entre e dentro das culturas ou espécies utilizadas em cobertura ou adubação verde, com relação à capacidade de multiplicar o nematóide (Tabela 12). Espécies, cultivares e híbridos resistentes ou que multiplicam menos o parasita, devem ser preferidas para semeadura em rotação/sucessão com as grandes culturas do cerrado, nas áreas infestadas. Tabela 12. Fatores de reprodução (FR) de P. brachyurus em algumas espécies vegetais. Médias de seis repetições. Embrapa Soja, março de 2007. Espécies Vegetais Aveia preta Crotalaria spectabilis Crotalaria breviflora Crotalaria mucronata Crotalaria ochroleuca Crotalaria junceae Brachiaria decumbens Brachiaria brizantha Milheto „ADR Lab 04-208‟ Milheto „ADR 300‟ Milheto „BN2‟0,0 Milheto „ADR 500‟ Mucuna cinza Mucuna anã Mucuna preta FR* 0,9 0,0 0,0 0,0 0,0 1,3 0,6 1,7 0,2 0,2 0,0 1,8 2,6 3,3 11,4 Espécies Vegetais Guandu Fava Larga Guandu anão „IAPAR 43‟ Milho „BRS 2114‟ Milho „BRS 3123‟ Milho „P 30F80‟ Girassol „Hélio 251‟ Girassol „Hélio 358‟ Girassol „BRS 122‟ Girassol „IAC Uruguai‟ Girassol „Catissol‟ Labe-labe Sorgo „IG 150‟ Quiabo „Santa Cruz‟ Soja „Peking‟ Soja „Essex‟ FR 0,4 0,6 0,7 0,7 2,9 0,2 0,4 0,7 1,1 0,2 2,2 2,2 6,6 1,6 4,9 *FR= população final de nematóides recuperada em cada planta/população inicial (600 espécimes). Algumas cultivares norte-americanas foram relatadas (www.soybean.ncsu.edu/soyvar) como sendo resistentes (Cook, Davis, Deltapine 417, Essex, McNair 600, NK Coker 338 e Ransom) ou moderadamente resistentes (Hutton, NK Coker 136, Pickett, Asgrow A5979 e Bragg), porém o controle genético da resistência não foi esclarecido. O comportamento dos cultivares brasileiros de soja em áreas infestadas com P. brachyurus, não tem indicado a existência de materiais resistentes ou tolerantes. Todavia, avaliações em casa-de-vegetação mostraram que as cultivares recomendadas no Brasil Central diferem bastante com relação à capacidade de multiplicar o nematóide (Tabela 13). Tabela 13. Fatores de reprodução (FR) de P. brachyurus em cultivares de soja recomendadas no Brasil Central. Médias de seis repetições. Embrapa Soja, março de 2007. Cultivares BRSGO Chapadões M-SOY 8378 M-SOY 8360RR Conquista M-SOY 8800 Goiânia BRS Aurora M-SOY 8384 CD 219RR M-SOY 8585RR TMG 103RR BRS Valiosa RR M-SOY 8045RR M-SOY 8998 M-SOY 8757 BRS Celeste M-SOY 8248 M-SOY 8000RR Robusta M-SOY 8352RR M-SOY 8329 FMT Kaíbi Vencedora BRSGO Iara ADR Topázio BRS Favorita RR FR* 1,2 2,2 2,3 3,3 3,3 3,5 3,7 3,7 3,8 4,0 4,2 4,2 4,2 4,3 4,5 4,5 4,5 4,8 5,2 5,5 5,8 6,3 6,3 6,3 6,5 6,5 Cultivares FMT Tucunaré M-SOY 8925 M-SOY 8411 M-SOY 9001 M-SOY 7908 RR M-SOY 7878 RR M-SOY 8008 FMT Tabarana M-SOY 8336 FMT Perdiz Nobreza M-SOY 9030 M-SOY 8787RR BRS Pirarara BRS Sambaíba BRSMT Pintado M-SOY 8527 DM 309 M-SOY 8870 M-SOY 8400 CD 217 P 98N31 M-SOY 9010 Luziânia P 98N71 (Xingu) FR* 6,7 6,7 6,7 6,8 6,8 7,0 7,2 7,2 7,3 7,5 7,5 7,7 7,8 8,0 8,0 8,2 8,2 8,5 8,7 8,8 9,2 9,3 9,3 9,7 9,7 9,8 Cultivares M-SOY 9056 RR Uirapuru BRS Gralha BRS Jiripoca M-SOY 8550 M-SOY 8199 RR M-SOY 8222 M-SOY 8914 TMG 106 RR M-SOY 8001 M-SOY 8211 M-SOY 8287 RR M-SOY 8866 TMG 121 RR M-SOY 8849 Paraíso TMG 108 RR M-SOY 6101 M-SOY 9350 TMG 113 RR M-SOY 109 Embrapa 20 Raíssa Ipameri TMG 115 RR TMG 117 RR FR* 9,8 9,8 10,0 10,0 10,3 10,5 10,7 10,8 11,0 11,2 11,2 11,5 11,7 11,7 12,3 12,5 12,7 12,8 13,0 13,7 13,8 14,7 15,3 15,7 16,8 29,3 *FR= população final de nematóides recuperada em cada planta/população inicial (800 espécimes). Conclusões/Recomendações O controle dos nematóides no cerrado não se faz através de ações isoladas e sim trabalha-se um conjunto delas, buscando um bom planejamento técnico, sistemas produtivos e estratégias adequadas que viabilizem a convivência econômica com estas pragas. Para tanto, só se consegue ser assertivo no manejo dos nematóides começando por sua identificação e quantificação das espécies presentes na lavoura, através de coletas de amostras de solos e raízes, a uma profundidade de 0 a 30 cm, acondicionadas em sacos plásticos bem amarrados e acondicionadas em caixas térmicas para que as amostras se mantenham frescas e úmidas. Em seguida encaminhar ao laboratório de sua preferência para as análises o mais rápido possível. A rotação de culturas não deve ser substituída pela sucessão de culturas, esta é uma das ferramentas mais eficientes no combate ao nematóide. E para alguns gêneros, raças e/ou altas populações, esta ação é imprescindível para redução de nematóides. O cultivo de plantas não hospedeiras na entressafra (maio a agosto) não mostrou ser boa opção para redução da população de nematóides, ainda assim se faz necessário à rotação de culturas no verão. A utilização de cultivares, variedades e híbridos resistentes no sistema produtivo é um dos métodos mais seguros e econômicos, porém não deve ser a única opção de manejo de nematóides, pois poderá haver quebra de resistência em situações de alta população dos mesmos. Nestes casos antes de semear uma cultivar resistente, o agricultor deverá fazer rotação de cultura com uma espécie não hospedeira. A rotação de culturas é um forte componente do Sistema de Plantio Direto e um agente que auxilia na menor disseminação dos nematóides, além de todos os demais benefícios encontrados no sistema. Nematóides do gênero Pratylenchus brachyurus podem e devem ser manejados em Sistema de Plantio Direto com a adoção de culturas botânica resistentes, além de se buscar variedades, cultivares e híbridos resistentes na recomendação da cultura subseqüente. Como pode-se observar, o manejo de nematóides é bastante complexo e tornou-se imperioso e inadiável. Por se tratar de pequenos vermes microscópicos, a percepção das perdas pelo produtor é bastante lenta e com isso facilita ainda mais sua dispersão e incremento populacional. Somente com este conjunto de ações e atitudes é que os agricultores conseguirão aumentar suas produtividades e conseqüentemente sua receita. Autores e co-autores: (1) Coordenador de Desenvolvimento Tecnológico, Monsanto do Brasil Ltda, Rondonópolis, MT (2) Gerente de Pesquisa em Nematologia, Dra. em Nematologia, APROSMAT, Rondonópolis, MT (3) Coordenador de Desenvolvimento Tecnológico, Monsanto do Brasil Ltda, Rio Verde, GO (4) Gerente Técnico em Biotecnologia, Dr em Entomologia, Monsanto do Brasil Ltda, Piracicaba, SP (5) Gerente Regional Desenvolvimento Tecnológico, Monsanto do Brasil Ltda, Goiânia, GO (6) Gerente Nacional Desenvolvimento Tecnológico, Monsanto do Brasil Ltda, São Paulo, SP (7) Coordenador de Desenvolvimento Tecnológico, Monsanto do Brasil Ltda, Sorriso, MT - Andréa Luciana Sari Sampaio, Revisora, Graduada em Letras e Especialista em linguagem e práticas de ensino da Língua Portuguesa, UNIR/FAIR, Rondonópolis, MT REVISÃO DE LITERATURA: [1] DIAS, W.P.; SILVA, J.F.V.; GARCIA, A.; CARNEIRO, G.E.S. Nematóides de importância para a soja no Brasil. In: Boletim de Pesquisa de Soja 2007. Rondonopólis, Fundação MT (org.), 2007. p.173-183. [2] INOMOTO, M. M; ASMUS, G. L.; SILVA, R. A.; MACHADO, A. C. Z. Nematóides uma ameaça a cotonicultura brasileira, 2007. [3] DIAS, W.P; RIBEIRO, N.R.; LOPES, I. O. N.; GARCIA, A.; CARNEIRO, G. E.S.; SILVA, J. F. V. Manejo de nematóides na cultura da soja. 2007. [4] CAMPOS, H. D. Manejo de nematóides na cultura da soja e do milho. FESULV, Rio Verde, 2006. [5] FERRAZ, L. C. C. B. O nematóide Pratylenchus brachyurus e a soja sob plantio direto. Piracicaba: ESALQ/USP, Revista Plantio Direto, 2006.p. 26-27. [6] INOMOTO, M. M. Principais nematóides na cultura da soja e seu manejo. Piracicaba: ESALQ/USP, 2006. [7] FERRAZ, L. C. C. B. As meloidogynoses da soja: passado, presente e futuro. In: SILVA, J.F.V. (Org.) Relações parasito-hospedeiro nas meloidogynoses da soja. Londrina: Embrapa Soja/Sociedade Brasileira de Nematologia, 2001. p-15-38. [8] SILVA, J.F.V.; DIAS, W.P. et all Controle de nematóides de galhas em soja: O uso de híbridos de milho na rotação. Embrapa Soja, 2001. [9] GARCIA, A.; SILVA, J.F.V.; PEREIRA, J.E.; DIAS, W.P. Rotação de culturas e manejo do solo para controle do nematóide de cisto da soja. In: Sociedade Brasileira de Nematologia (Ed.) O Nematóide de cisto da soja: a experiência brasileira. Jaboticabal: Artsigner Editores, 1999. p-55-70. [10] ROBBINS, R.T.; RAKES, L. Resistance to the reniform nematode in selected soybean cultivars and germplasm lines. Journal of Nematology, 28 (4S): 612-615, 1996. [12] TOWNSHEND, J.L. Methods for evaluating resistance to lesion nematodes, Pratylenchus species. In: STARR, J.L. (ed.). Methods for evaluating plant species for resistance to plant-parasitic nematodes. Hyattsville: The Society of Nematologists, 1990. [13] LORDELLO, L.G.E. Nematologia das plantas cultivadas.