Aula 16 O inversor TTL Introdução Toda família lógica possui o inversor (porta NOT). Como o nome sugere, um objetivo esta porta apresenta uma saída que é o inverso da entrada; O transistor bipolar na configuração emissor comum pode servir de inversor rudimentar, como mostra a figura A.16.1. VDD RC vI vI t t V0 RS vI Figura A.16.1 Um inversor com TBJ rudimentar Na prática um circuito lógico TTL é um mais elaborado que esse a fim de conseguirmos as características desejadas em uma porta digital, como veremos adiante. Lógica Transistor –Transistor (TTL) O circuito básico da porta TTL, mostrado na figura A.16.2, consiste de um transistor com múltiplos emissores de entrada T0 e de um transistor de saída T1. O transistor de entrada T0 contém de 2 a 8 emissores e é fabricado da maneira mostrada na figura A.16.3 a). Verifica-se, na prática, que este transistor de dois emissores comporta-se de forma muito próxima com a de dois transistores cujas bases e coletores estejam conectados como na figura A.16.3 b); entretanto, a configuração de dois emissores ocupa área muito menor de chip que a ligação em paralelo. VDD R RC VB0 T0 V0 A VB1 T1 B VA CL VB Cb1 Figura A.16.2 Porta TTL básica Emissor B Emissor A N+ N+ Base P Coletor N Figura A.16.3 a) Transistor com múltiplo emissores Coletor Base Emissor A Emissor B Figura A.16.3 b)equivalente com transistores em paralelo Funcionamento da porta Consideremos, inicialmente, que se o sinal de entrada VA estiver em nível baixo (0,2 V), a junção base emissor de T0 ficará diretamente polarizada e a corrente fornecida por VDD passará por R, pelar junção base emissor, e saindo pelo terminal de entrada A. Assim, a tensão de base do transistor T0 será VB0 = VBE + VA = 0,7 V + 0,2 V = 0,9 V Mostraremos que nessa situação T1 está cortado. Se T1 estivesse conduzindo, a junção base coletor de T0 estaria diretamente polarizada, de modo que pudesse ser fornecida corrente de base a T1. Para que esta condição fosse válida seria necessário que a tensão de base fosse VB0 = VBE1 + VBC0 = 0,7 V + 0,7 V = 1,4 V. Logo, a tensão real de VB0 = 0,9 V não é suficiente para polarizar diretamente as duas junções. Como T0 está saturado devido à sua grande corrente de base, sua tensão de coletor emissor é de, aproximadamente, 0,2 V. A tensão na base de T1 é, pois, igual à soma da tensão coletor emissor de T0 com a tensão de emissor VA. VB1 = VCE0sat + VA = 0,2 V + 0,2 V = 0,4 V Portanto, T1 está cortado e V0 ≅ VDD; ou seja, V0 está em nível ALTO. Este resultado permanece válido enquanto qualquer uma das entradas estiver em nível baixo. Consideremos, agora, todas as entradas em nível alto (VDD). As junções base emissor de T0 ficam reversamente polarizada e, conseqüentemente, não há corrente entrando (ou saindo) no emissor A nem no emissor B. A junção base coletor de T0, porém fica diretamente polarizada, o mesmo acontecendo com a junção base emissor de T1. Nessa situação VDD fornece corrente, através de R, para a base de T1. Essa corrente é suficiente para saturá-lo, de modo que a tensão de saída V0 assume o nível baixo (≅ 0,2 V). A lógica implementada por esta porta é a de um NE (NAND) com duas entradas, isto e, V0 = VAVB (A.16.1) Outra consideração importante é, quando todas as entradas passam de nível ALTO para BAIXO, o transistor T1 deve sair da saturação. Isso é realizado removendo-se as cargas armazenadas na sua base. A junção base emissor de T0 fica diretamente polarizada e a carga armazenada na base de T1 flui para o coletor de T0. A remoção dessa carga é rápida, pois ∆Q / ∆t = I C 0 , e essa corrente de coletor em T0 é elevada. Estágio de saída: O elevador ativo de nível Da seção anterior, vimos que uma vantagem da porta TTL da figura A.16.2 é a velocidade com que a carga da base do transistor de saída é removida, quando da comutação da saída de nível BAIXO para ALTO. Solucionado este problema, a principal limitação restante na velocidade é o carregamento capacitivo do transistor de saída, indicado, em linhas tracejadas na figura A.16.2, como CL. Essa capacitância engloba as capacitâncias das portas alimentadas, a capacitância de saída de T1 e as capacitância parasita do circuito. Para reduzir o tempo de carregamento desse circuito substituímos o resistor RC por uma carga ativa, denominada elevador ativo de nível. O circuito de uma porta NE de duas entradas, que concretiza isso, está mostrado na figura A.16.4. VDD = 5 V R= 4 kΩ RC =130 Ω R1 = 1,64 kΩ T2 T0 T3 A D1 B VA VB V0 T1 CL Cb1 R2 =1 kΩ Figura A.16.4 Porta NE de duas entradas com estágio de saída totempole. O transistor multiemissor T0 é o transistor de entrada. T3 atua como separador de fase, T2 e T1 formam um amplificador totem-pole, que além de possuir baixa resistência de saída age como préamplificador de potência ou como estágio separador (isolador) de saída. A função de RC nesse circuito é limitar o pico transitório de corrente, o qual ocorre quando V0 muda de estado, de BAIXO para ALTO. Observe que, quando V0 está em nível BAIXO, T2 está cortado e a corrente em RC é nula. Quando V0 está em nível ALTO, T2 conduz, mas a corrente é suficiente apenas para alimentar uma carga de saída típica de cerca de 0,5 mA. No entanto, V0 demora aproximadamente 0,5 a 0,9 ns para mudar de estado e, durante este tempo, a corrente atinge um valor de pico de 30 mA. O diodo D1 possibilita a margem de tensão necessária para garantir que T2 estará cortado quando T3 e T1 estiverem conduzindo. Os diodos ligados entre os terminais de entrada e o terra não influem nas condições DC, mas minimizam os indesejáveis transitórios negativos de ruído. Exercício: Para o circuito da figura A.16.4 determine a máxima corrente de pico quando a saída passa do nível lógico BAIXO para ALTO. Encontre também o nível lógico alto (VOH). Lógica E por fio Se a saída de duas ou mais portas TTL forem interligadas como mostra a figura A.16.5, é possível implementar a função E (AND) por fio. A X = AB B A C A V0 = XY Y = CD D A Figura A.16.5 Porta E por fio. Existem portas TTL com saídas em coletor aberto e que são adequadas para este tipo de ligação. A figura A.16.6 mostra uma porta NE de duas entradas e saída em coletor aberto. Na prática, todas as saídas em coletor aberto são interligadas e compartilham um mesmo resistor elevador RL, como indicado, em linhas tracejadas. O valor deste resistor depende do número de coletores abertos, da margem de ruído necessárias, etc. VDD = 5 V R= 4 kΩ RL R1 = 1,64 kΩ T2 T0 T3 A D1 B VA VB T1 Cb1 R2 =1 kΩ Figura A.16.6 Porta NE de duas entradas com saída em coletor aberto. Característica de transferência da TTL A característica de transferência típica da porta TTL da figura A.16.3 está mostrada na figura A.16.7. A forma da curva é determinada pela característica da saída em totem-pole e elevador ativo de nível. Consideraremos, em primeiro lugar, que a entrada VB esteja em 5 V e que a entrada VA seja menor que a tensão de entrada representada pelo ponto a na característica, isto é, VA < 0,7 V. Nesse caso os transistores T3 e T1 estão cortados, T2 conduzindo e a saída esta no nível lógico alto. A tensão de saída é, aproximadamente, (desprezando-se a pequena queda em R1) VOH ≅ VDD – VBE2 – VD1 = 5,0 – 0,7 – 0,7 = 3,6 V (A.16.2) Para esta faixa de saída ALTA, há corrente saindo do emissor A de T0, sendo seu valor determinado essencialmente por VDD e R. Em nosso exemplo, com VA = 0,2 V, IA = VDD − VBE 0 − VA 5 − 0,7 − 0,2 = ≅ 1mA R 4 x103 A saída da porta conectada ao emissor de A deve ser capaz de absorver este nível de corrente. A partir do ponto a começa a região de transição entre a saída alta e a saída baixa, podendo-se perceber que há dois segmentos de reta com declividades diferentes. Isso ocorre pelo seguinte motivo: quando VA < 0,7 V, IC = 0 e o transistor T0 está saturado; portanto, VCE0 ≅ 0,2 V. Deste modo a tensão de base de T3 é VB3 ≅ VA + 0,2 V. Quando VA cresce para cerca de 0,5 V, a tensão de base de T3 passa para VB3 ≅ 0,7 V e ele começa a conduzir, operando na região linear, com ganho de base para coletor da ordem de AV ≅ -R1/R2 . T1 ainda está cortado e o seguindo de emissor T2, conduzindo. Assim, a característica acompanha a curva de ganho de T3 e apresenta uma declividade de R1/R2 = 1,6 até atingir o ponto b. Neste ponto a tensão de entrada é VA ≅ 1,4 V, de modo que há injeção de corrente na base de T1, colocando-o em condução. Ao mesmo tempo, o coletor de T3 desce, cortando T2. À medida que a corrente de coletor deste transistor decresce simultaneamente com o aumento da corrente de base de T1, este é levado rapidamente à saturação. No ponto c, VA ≅ 1,5 V, T2 está cortado e a saída, baixa, isto é, na tensão de saturação de T1 (≅ 0,2 V). Além disso, T0 opera agora no seu modo invertido, já que seu coletor está grampeado em 1,4 V, enquanto sua tensão de emissor está em um potencial mais positivo (1,5 V). V0(V) 4 a 3,6 Declividade = -1,6 3,0 b 2,5 2,0 1,0 c 0,7 1,4 1,5 2,0 VI(V)= VA Figura A.16.7 Característica de transferência da TTL