O IMPACTO DA ADMINISTRAÇÃO DE ESTOQUES NA GESTÃO DE CUSTOS LOGÍSTICOS 1 Vanessa Ferreira Gomes de Sá 2 Marta Alves de Souza 3 Helder Rodrigues da Costa RESUMO Este artigo vem explorar a importância da gestão de estoque na estrutura dos custos logísticos, e mostrar como sua gestão eficaz pode impactar significativamente nos custos e na liquidez de uma organização, o que é vital para a saúde financeira da mesma. Mediante levantamento bibliográfico e pesquisa descritiva acerca de um estudo de caso em uma indústria de papel, foi apurado que a programação de materiais, definição de sistemas de controle e monitoramento de desempenho dos estoques contribuem fortemente para redução e melhor administração dos custos logísticos de uma organização. Além do ganho financeiro obtido com a redução do imobilizado, a empresa alcançou um melhor gerenciamento das informações e retomou o caminho para atingir metas estabelecidas pela gestão corporativa. Concluiu que o controle apurado alinhado a uma melhor programação de compras, mensuração de necessidades e maior disponibilidade de capital líquido circulando tornam-se vantagem competitiva frente à concorrência. Palavras-chave: Logística. Custo logístico. Gestão de estoque. Planejamento de materiais. 1 INTRODUÇÃO A logística é a última fronteira para a redução de custos das empresas. Ferramenta vital na definição de estratégias empresariais competitivas, ela visa reestruturar os procedimentos operacionais de forma a capitalizar todos os esforços na conquista do cliente. Suas principais funções passam pelos meios de transportes, manutenção de estoques e processamento de pedidos, com a finalidade de garantir um melhor nível de serviço ao cliente a um custo satisfatório para a empresa. As empresas estão, cada vez mais, buscando garantir a disponibilidade de seus produtos ou serviços ao seu cliente final, com os menores custos e com o menor nível de estoque possível. Então, para que se possa ter a correta definição dos 1 Administradora, pós-graduada em Gestão em Logística pela Faculdade Senac Minas / [email protected]. Mestre em Administração e Planejamento de Sistemas de Informação (PUCCAMP). Sócia Gerente da empresa ZAP Consultoria e Treinamentos / [email protected]. 3 Mestre em Ciências e Técnicas Nucleares (UFMG). Coordenador de curso de Tecnologia da Informação na Faculdade Infórium de Tecnologia / [email protected] 2 estoques, é necessário considerar dois fatores: quanto menor o estoque menor a necessidade de capital imobilizado em estoques e nunca deve faltar insumos para a produção e produto para venda. Hoje cada vez mais as empresas vêm querendo manter seus estoques em níveis baixos, pois as diversidades crescentes no número de produtos e o elevado custo de capital estocado, torna a posse e a manutenção dos estoques mais onerosos. Com a necessidade das empresas em ter um produto no mercado competitivo as mesmas buscam manter o foco na redução do capital circulante líquido com o objetivo em aumentar o valor econômico adicionado. Desta forma, quando se reduz o nível de estoques, aumenta o dinheiro disponível para a empresa investir em outros negócios, em máquinas e equipamentos, ampliando sua carteira de clientes e, assim, ela consegue aumentar o seu valor econômico no mercado, pois se torna mais lucrativa. Analisando a armazenagem, é possível observar que a administração de estoques impacta fortemente a liquidez e os custos logísticos de uma organização. Isto começa desde o processo de programação da compra dos insumos. Onde deve haver a preocupação em estabelecer regras para que as compras sejam efetuadas ao menor custo possível, observando os custos de se pedir, custo de manter estoque e o custo do produto. Em função da complexidade de suas relações e do número de variáveis e dados optou-se por realizar levantamento de dados bibliográficos e de um estudo de caso sobre as ações de gerenciamento de estoque de insumos em uma indústria papeleira. Como a gestão eficaz de estoque pode colaborar para uma melhor administração de custos? A criação de Grupos de Melhoria Contínua (GMC) como ferramenta de controle e monitoramento dos estoques mostrou-se eficaz ao ser implantada na indústria em questão. O artigo foi desenvolvido com o objetivo de entender a importância da gestão de estoques na estrutura dos custos logísticos, analisando as necessidades de estocagem, sua relação com a programação de compras, pesquisando ferramentas de monitoramento do desempenho e como este conjunto pode impactar na administração de custos de uma empresa. Pôde-se perceber a importância de se manter a quantidade certa de estoque no momento certo. Premissas básicas descritas por Robles (2001), na gestão logística de estoques. Redução de custos é a palavra chave para que as empresas do novo milênio possam estar em constante competição no mercado globalizado. O controle do estoque e a necessidade de melhor compô-lo, contribui fortemente para alcançar tal objetivo, assim como afirma Ballou (2006, p. 373) “as empresas fazem o uso de estoques para melhorar a coordenação entre oferta e procura e igualmente a fim de reduzirem seus custos totais...() a estocagem torna-se, mais do que necessidade, uma conveniência econômica”. A gestão eficaz de custos alavanca a competitividade na produção de bens e serviços. Ela traz melhorias de processos, minimização de desperdícios e auxilia a tomada de decisão na manutenção ou expansão do negócio, otimizando resultados. Esta gestão passa pela fabricação, movimentação, armazenagem e distribuição destes bens, abrangendo, portanto, toda a logística das organizações. Além da aquisição e armazenagem, o manuseio e movimentação interna do estoque também têm parcela importante na composição do seu custo. A combinação de fatores que afetam os níveis de estoques é gigantesca, e maior ainda são os impactos sobre a lucratividade e valor da empresa. Estoques mal administrados oneram o capital de giro da empresa, geram baixo nível de serviço aos clientes internos e externos e contribuem diretamente para a queda da lucratividade. Hoje é de suma importância que as empresas contem com estocagem e manuseio de materiais como parte do sistema logístico, pois a demanda não pode ser prevista com exatidão e vários fatores como disponibilidade de transportes podem afetar o abastecimento de insumos, o que prejudicará a produção e consequentemente o atendimento dos clientes. É estimado que os custos da estocagem e atividades de manuseio de materiais absorvem até 20% dos custos de distribuição física da empresa (BALLOU, 2006). Hoje se faz necessário que as empresas façam o controle da estocagem equilibrando a relação entre oferta e procura com vistas na redução destes custos. A guarda dos produtos e seu manuseio constituem as principais funções do sistema de estocagem, as atividades de movimentar e armazenar se repetem criando um sistema de distribuição em um nível micro. A gestão de estoques é competência ‘vital’ para qualquer empresa, e poderá trazer benefícios inimagináveis. O sucesso de uma boa gestão de estoques dependerá do apoio da alta gestão da empresa, da redução no número de itens comercializados, em ajustes nos leadstimes de fornecedores e na utilização de ferramentas para a gestão, tais como: classificação dos estoques, previsão de demanda, implantação de indicadores de desempenho e planejamento de compras. As informações fornecidas pelo gerenciamento de estoques são cruciais para que a organização consiga efetivar boas compras. E qualquer economia feita nas compras de materiais pode fazer muito para melhorar a lucratividade de uma empresa. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 LOGÍSTICA E ESTOQUES As principais atividades de logística compreendem processamento de pedidos e manutenção de estoques, serviços de clientes, previsão de demanda, comunicações de distribuição, manuseio de materiais e peças, serviços de suporte, escolha de locais para fábrica e armazenagem, embalagem, reciclagem de sucata, tráfego, transportes e estocagem. Ballou (2006) faz este detalhamento dividindo o serviço ao cliente, transportes, processamento de pedido e gestão de estoque como atividades principais e as demais como de suporte. De acordo com Moreira (2002) estoques são bens físicos conservados de forma improdutiva por determinado tempo e pode tratar-se tanto de produtos acabados quanto de matéria-prima e componentes aguardando utilização na produção. Segundo Corrêa; et al (2001, p.49) estoques são “acúmulos de recursos materiais entre fases especificas de processo de transformação”. Na visão de Ballou (2006) manter certo nível mínimo de estoques torna-se necessário para a empresa. Esta atividade tem a incidência de custo de armazenagem ou manutenção física e custo financeiro do investimento do capital de giro em estoques. Uma das principais atividades da logística, a estocagem tem uma função importante dentro das empresas. Compõe uma parcela dos custos operacionais e a administração eficiente dos níveis de estoque é necessária para a manutenção das atividades fins da empresa sem paradas repentinas. Além disso, o controle do nível de estoques proporciona a melhor decisão de quanto pedir no momento da compra. 2.2 PROGRAMAÇÃO DE COMPRAS Uma gestão eficiente de estoques inicia-se pela correta definição da quantidade a ser adquirida. Sendo necessário que as organizações se utilizem de sistemas de controle e gestão eficazes, que forneçam informações confiáveis sobre os níveis de estoque e permitam assim prever o fluxo de entrada e saída dos materiais. A demanda do consumidor é o ponto de partida para a previsão e provisão das necessidades de estoque. A disponibilidade do fornecedor deve ser considerada para o cálculo do tempo de ressuprimento, pois ele demandará tempo para confeccionar ou adquirir o suprimento e efetivamente entregá-lo. Estas afirmativas são confirmadas por Fleury; Wanke; Figueiredo (2000), que definem como sendo necessária a análise de quatro quesitos básicos para tomar decisões acerca da aquisição de materiais: quanto pedir, em que momento pedir, quanto manter em estoque de segurança e onde localizar. Ainda segundo eles, para um planejamento eficaz, toda a cadeia de suprimentos deve estar envolvida na atividade de obtenção. O processo de obtenção, complementam Gomes; Ribeiro (2004), é que dá início à logística interna e influencia fortemente o nível de serviço ao cliente, definido por ele como o produto da soma de todas as atividades logísticas, desde o abastecimento de insumos e matéria-prima até a distribuição de produtos acabados ao consumidor final. As decisões de compra, portanto, estão intrinsecamente ligadas à gestão dos custos de estoques. O custo de aquisição, assim como todos os custos logísticos, afirma Bertaglia (2003), é fundamental na definição de estratégias de administração de custos das organizações. A área de Planejamento e Controle da Produção (PCP) depende das informações de estoques para delinear a necessidade e capacidade de aquisição. Sendo estas informações cruciais para um bom planejamento de compras, administração de materiais e controle dos custos industriais. Com base no programa de produção, o PCP programa os materiais. São emitidas ordens de compra para que a área de Suprimentos planeje e execute a aquisição. Isto feito, a área de materiais/almoxarifado utiliza-se de requisições para abastecer os diversos setores ligados à produção. Ballou (1993) explica que um bom PCP coordena a movimentação de suprimentos conforme as exigências de operação. Ou seja, provisiona os materiais na especificação, quantidade, local, momento e condição necessários, ao menor custo possível. 2.3 INDICADORES DE DESEMPENHO DE ESTOCAGEM Tecnicamente, a administração de materiais bem aparelhada e administrada é com certeza uma das condições fundamentais para o bom andamento financeiro e econômico de uma empresa (FRANCISCHINI; GURGEL, 2002). Deste modo, este setor é de fundamental importância para a empresa, tornando-se assim uma espécie de peça central de equilíbrio entre os demais setores. Esta posição mostra quanto é necessária para o bom desempenho da mesma. A gestão responsável pelos estoques deve preocupar-se em manter e diminuir seus custos. Estando entre os principais: a) Custo do item - custo unitário; b) Custo do pedido – é o valor gasto para encomenda de um produto; c) Custo unitário de manutenção - inerente à necessidade de manter determinado produto no estoque por certo tempo. d) Custo de falta de estoque - é a consequência da falta de determinado produto em estoque. A acurácia de estoque, relação entre quantidade física e quantidade registrada nos controles (BERTAGLIA, 2003), configura importantes vantagens para a organização. Uma vez que garante ao cliente um nível de serviço adequado, à produção a matéria prima no momento necessário, ajuda na determinação do ponto de ressuprimento, eliminando excessos e controlando a obsolescência. Tendo informações corretas dos estoques, a análise financeira pode ser feita com maior eficiência e o custo melhor mensurado. A matriz de qualidade baseada na programação de materiais, ilustrada no quadro a seguir, traz indicadores importantes que auxiliam a gestão das informações e desempenho das atividades: Quadro 1 – Matriz de qualidade da programação de materiais. Fonte: indicadores adaptados de Picchi (1993, p. 353) e Oliveira et al. (1995, p.72) Da matriz acima, percebe-se que o Nível Médio de Estoque (NME) e o Giro de Estoque (GE) têm papéis significativos na mensuração do desempenho da programação de compras, pelas razões expostas a seguir: O NME elevado pode ser traduzido pela ineficiência da programação de materiais: no intuito de assegurar o fornecimento de materiais, o programador estabelece prazos mais longos de aquisição de materiais, e, por conseguinte, lotes maiores, o que determina um NME elevado (MACHLINE; et al., 1986). Ainda de acordo com MACHLINE (1986), o GE é definido pelo produto da divisão do consumo pelo estoque médio. Depreende-se de tal equação que NME elevado e um consumo reduzido, revelam, na programação de materiais, prazos e quantidades programadas elevadas, superiores, portanto, ao fluxo requerido de materiais. As duas situações acima são praticadas para permitir um estoque de segurança, perante situações imprevistas, todavia, as mesmas podem ser identificadas por falha de programação de materiais. A matriz do quadro 1 não assegura uma plena avaliação do desempenho da programação dos estoques. Outros indicadores podem contribuir para a avaliação, tais como: os custos da qualidade, decorrentes das falhas da programação de materiais (retrabalhos, esperas, nível de relacionamento com os fornecedores); acuracidade dos inventários e eficácia no abastecimento. 3 METODOLOGIA O método qualitativo foi adotado no desenvolvimento desta pesquisa, que é classificada como descritiva, tendo sido utilizado um estudo de caso de um projeto de redução de estoques e programação de compras, realizado em uma indústria papeleira, na unidade situada na cidade de Governador Valadares, estado de Minas Gerais. Foi realizado um levantamento de dados bibliográficos com o objetivo de entender a gestão de estoques e de que maneira ela pode influenciar na administração dos custos logísticos de uma organização. Esta ferramenta possibilitou conhecer as características da gestão logística de estoques, da programação de compras, os métodos de custeio de estocagem e as ferramentas de monitoramento de desempenho. Somado a este, levantou-se os resultados obtidos no projeto desenvolvido naquela empresa, que tinha como objetivo a redução de estoques com base na programação de materiais da indústria supracitada, aqui denominada ficticiamente como Indústria de Papel Higiênica S/A. O conteúdo do trabalho realizado naquela organização, bem como as análises, interpretações e inter-relações com o referencial teórico pesquisado neste artigo serão descritos na apresentação, análise e discussão dos resultados. 4 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A Fábrica de Papel Higiênica S/A está no mercado a 72 anos e tem como principal atividade a produção de papéis higiênicos e descartáveis, para uso residencial e industrial e outros papéis especiais para mercados específicos. Com o objetivo constante de inovar nos produtos e melhorar seus processos, investe em equipamentos de produção, pesquisa, sistemas de informação, capacitação de pessoas e otimização da cadeia logística. Possui quatro unidades fabris, com uma produção de papel que ultrapassa 200 mil toneladas/ano. O que a coloca no patamar das quinze maiores empresas do setor no mundo em capacidade produtiva. A Higiênica S/A prima pelo respeito ao consumidor e ao meio ambiente, com a preocupação constante de reduzir os impactos ambientais, através da inovação tecnológica e acompanhamento das mudanças no setor, buscando estabelecer sólidas parcerias para melhoria e expansão dos negócios. Para alcançar a excelência nos processos, a filial da organização na cidade de Governador Valadares-MG criou um grupo entre seus funcionários onde são realizadas pesquisas com este fim. Este Grupo de Melhoria contínua (GMC), como é denominado, descobriu através de relatórios do sistema de gestão e de pesquisas em campo que o estoque de insumos, matéria-prima e itens de manutenção encontrava-se com um nível médio muito elevado ou fora dos padrões desejados pela companhia. Sabe-se que estoques em níveis inadequados comprometem os custos logísticos de uma empresa. O custo, por exemplo, da oportunidade perdida de investir em outros negócios, em melhorias e expansão do próprio pode ser alto e irreversível. A imobilização excessiva de capital na forma de estoques reduz o capital circulante líquido, o que pode configurar-se em prejuízo. A empresa identificou itens em seu almoxarifado que não giravam há mais de dois anos. Também verificou que o giro dos insumos químicos e embalagens destoavam das metas estabelecidas pela gestão corporativa e da necessidade real. A partir destes levantamentos sobre o GMC da Higiênica S/A começou a estudar formas de reduzir os estoques, o desperdício e melhorar o sistema de acompanhamento da utilização dos materiais, conforme o planejamento da produção. Buscando conhecer melhor a demanda de itens consumidos no processo produtivo. Desenvolveu-se então o Planejamento de Compras e Redução de Estoques. Um projeto que visava não só a melhoria dos processos, como também a redução de custos e conseqüente aumento da receita líquida da organização. O projeto baseou-se principalmente na criação de parâmetros para a programação de compra e manutenção de informações acerca dos insumos de matéria-prima e itens/ equipamentos de manutenção. Onde se pretendia estabelecer as reais quantidades necessárias dos materiais, conforme o planejamento de produção. Evitando assim custos excessivos com itens parados sem girar no estoque e compras além do necessário. Foram desenvolvidas as normas e parâmetros: controle de giro de estoque, onde para o cumprimento das metas estabelecidas foi definido a realização de requisições diárias dos itens consumidos, feitas no sistema informatizado da empresa, controle em planilhas eletrônicas do recebimento e programação dos insumos e controle do estoque de insumos; controle de itens com saldo zero, normatizando a geração de relatórios três vezes por semana de ordens de compras confirmadas e não confirmadas, onde os itens com data de entrega em atraso deveriam ser cobrados dos respectivos fornecedores, e levantamento de itens zerados por grupo, realizados também três vezes por semana, onde seriam verificados os saldos de ordens e pedidos e a estrutura de cadastro para aplicar a tratativa necessária; controle de Itens paralisados, através de levantamento e acompanhamento dos itens que estão sem movimentação há mais de dois anos, onde estes seriam encaminhados à manutenção e outras unidades fabris por transferência; controle de itens obsoletos, onde os itens sem movimentação não usados em outras unidades seriam tornados obsoletos com o consentimento do setor responsável pelo material e posteriormente serão retirados de estoque; controle de itens críticos, com levantamento de itens críticos, também realizado três vezes por semana para que estes não faltem no almoxarifado; controle de atendimento de requisição, realizando em cada fechamento de mês um levantamento e análise da quantidade de requisições solicitadas e atendidas e por fim um controle de Inventário rotativo, realizando mensalmente inventários rotativos por grupo de itens para garantir a segurança do estoque, requisitando ou devolvendo ao sistema as divergências encontradas, garantindo o controle de ordem automática no almoxarifado. O projeto implantado e acompanhado mensalmente demonstrou resultados significativos, que vêm corroborar com a pesquisa bibliográfica desenvolvida neste artigo. Em cerca de seis meses, pôde-se observar mudanças substanciais com a tratativa dada aos estoques mencionados acima. As principais mudanças ficaram a cargo da redução expressiva dos valores imobilizados em estoque. Na tabela1 abaixo, têm-se os grupos de estoques de 01 a 05 que contemplam as fibras, químicos e embalagens: Tabela 1 – Redução de estoque: grupo de produtos 01 a 05. Gr01 Gr02 Gr03 Gr04 Gr05 REDUÇÃO DE ESTOQUE (R$) Grupo de produtos 01 a 05 mai/09 jun/09 Diferença 1.400.646,23 217.150,40 1.183.495,83 53.851,61 322.666,02 (268.814,41) 292.202,51 163.433,81 128.768,70 240.309,55 201.122,93 39.186,62 380.264,74 326.667,43 53.597,31 2.367.274,64 1.231.040,59 1.136.234,05 % 84% -499% 44% 16% 14% 48% Fonte: GMC – Higiênica S/A Governador Valadares No grupo 01, composto pelos estoques de fibras, vê-se que houve uma redução de mais de um milhão de reais. No somatório dos cinco grupos, que são compostos dos insumos de maior importância no processo e maior valor monetário, a redução em termos percentuais foi de 48%. Isto significa mais de um milhão de reais que deixaram de ser mantidos imobilizados em estoques sem necessidade. Os grupos de itens de manutenção e vestimentas, 06 a 15, apresentaram reduções menores de valores imobilizados no somatório geral. Foram vinte e sete mil, cento e dezoito reais e seis centavos, cerca de 4% do estoque em valor monetário que a empresa deixou de imobilizar em estoques, conforme ilustrado na tabela 2 a seguir: Tabela 2 – Redução de estoque: grupo de produtos 06 a 15 Grupo Gr06 Gr07 Gr08 Gr09 Gr10 Gr11 Gr12 Gr13 Gr14 Gr15 REDUÇÃO DE ESTOQUE (R$) Grupo de produtos 06 a 15 mai/09 jun/09 Diferença 29.815,16 22.416,68 7.398,48 104.052,74 96.877,50 7.175,24 4.787,12 4.153,32 633,80 51.169,66 50.837,95 331,71 361.857,28 358.084,71 3.772,57 17.830,29 18.590,79 (760,50) 85,07 1.283,13 (1.198,06) 131.003,37 113.551,75 17.451,62 51,57 580,51 (528,94) 10.564,45 17.722,31 (7.157,86) 711.216,71 684.098,65 27.118,06 % 25% 7% 13% 1% 1% -4% -1408% 13% -1026% -68% 4% Fonte: GMC – Higiênica S/A Governador Valadares Além das mudanças que resultaram na redução dos valores imobilizados em estoque, outra mudança importante foi o alcance de maior gerenciamento das informações acerca do atendimento das requisições de material. Com a implantação da ferramenta de controle de atendimento de requisições, houve um maior nivelamento entre solicitação e atendimento. Pode-se observar no gráfico 1 abaixo que nos meses de janeiro a junho do ano de 2009, foram atendidas quase 100% de todas as requisições de materiais feitas ao almoxarifado da Higiênica S/A: Gráfico 1 – Controle de Atendimento de Requisições Fonte: GMC – Higiênica S/A Governador Valadares O giro de estoque, consumo dividido pelo nível médio de estoque, teve melhoras. As mais expressivas foram quanto às embalagens (grupo 03) e químicos (grupo 05). É possível observar abaixo no gráfico 2 que as embalagens atingiram e foram ultrapassando gradativamente a meta de giro, que até o mês de março de 2009 estava fixada em 2 vezes. Este resultado levou a empresa a estabelecer uma meta mais agressiva, 4 giros, que já no mês de junho do mesmo ano foi alcançada, como ilustra o referido gráfico: Gráfico 2 – Giro de estoque de embalagens Fonte: GMC – Higiênica S/A Governador Valadares Os insumos químicos dobraram o seu giro entre janeiro e junho de 2009. No início do ano, a meta que era de 3 giros estava longe de ser alcançada. Com a implantação e controle rigoroso da norma de gestão de giro de estoque, as requisições de itens consumidos no processo passaram a ser feitas diariamente no sistema informatizado da empresa, a programação de recebimento de insumos passou a ser revisada diariamente. Estas ações elevaram o giro de químicos de 1,07 para 2,25 vezes, como mostra o gráfico 3 abaixo: Gráfico 3 – Giro de estoque de químicos Fonte: GMC – Higiênica S/A Governador Valadares Estas mudanças demonstram alinhamento à teoria de Ballou (2006) citado anteriormente, de ser a estocagem um regulador de oferta/demanda, uma conveniência econômica para a redução de custos, pois a redução do capital imobilizado em estoques foi uma iniciativa importante tomada na empresa e que trouxe ganhos expressivos, visto que a economia realizada significou aumento da liquidez corrente da empresa. A relação das decisões de compra com a gestão de custos defendida por Bertaglia (2003) corroboram com a prática aplicada nesta indústria, pois ao reavaliar seu processo de aquisição de materiais, implantar inventários rotativos, utilizando dos controles de itens críticos, parados, obsoletos e outros, a organização alcançou as melhorias desejadas no controle do processo e alavancou as medidas para retomar as metas definidas pelo corporativo. Os controles desenvolvidos no projeto de programação de compras e redução de estoques da Higiênica S/A trabalham como monitores do desempenho no tocante aos estoques e também ao financeiro. O entendimento de que o custo dos estoques e sua correta mensuração estavam diretamente ligados aos custos de produção, de acordo com a metodologia de custeio adotada pela empresa foi percebido com maior clareza pela área de programação de materiais. Uma vez que os insumos, embalagens e itens de manutenção são absorvidos na sua composição de custos. O desenvolvimento deste projeto trouxe ganhos para a organização, pois as informações relativas ao estoque tornaram-se mais confiáveis a partir da criação do Grupo de Melhoria Contínua e de suas contribuições no desenvolvimento das normas e parâmetros para o planejamento e controle dos estoques. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A gestão eficaz de custos aumenta a competitividade na produção de bens e serviços. Ela traz melhorias de processos, minimização de desperdícios e auxilia a tomada de decisão. Toda a logística das organizações é abrangida por esta gestão. Sendo a gestão dos estoques um dos mais importantes fatores de equilíbrio entre a relação oferta/demanda, e que mostra com mais transparência os ganhos de liquidez que podem ser obtidos através de sua correta administração. O estudo do projeto de redução de estoques e programação de compras realizado na Higiênica S/A através da criação do Grupo de Melhoria Contínua evidenciou que uma boa gestão de custos pode ser alcançada a partir de um melhor planejamento na programação de compras, definido com base no estudo dos níveis de estoque de insumos. A identificação dos grupos de estoque seguida da implantação de indicadores para o seu monitoramento contribuiu para a redução dos ativos nele imobilizados. Haja vista a diminuição expressiva principalmente do capital investido no estoque de fibras. Além do ganho financeiro com a redução do imobilizado, a empresa alcançou um melhor gerenciamento das informações ao desenvolver o controle de atendimento das requisições de material e retomou o caminho para atingir as metas de giro estabelecidas pelo corporativo para cobrir o capital investido. A gestão de estoque exerce papel importante na estrutura dos custos logísticos. O estoque é necessário para que se possa atender no momento e quantidades certas o processo de produção de bens e serviços de uma organização. O alinhamento destas necessidades a uma correta programação de compras permitiu à Indústria de Papel Higiênica S/A a criação e monitoramento de ferramentas de desempenho necessárias à administração desta importante parcela dos custos logísticos da organização. Estas ações não são as únicas possíveis e estão longe de esgotar o assunto. Mas levam ao entendimento de que controle apurado, compra eficiente e maior capital líquido em circulação tornam-se certamente vantagem competitiva frente à concorrência, pois os esforços passam a serem canalizados em novos projetos e desafios. REFERÊNCIAS BALLOU, Ronald H. Logística empresarial: transporte, administração de materiais e distribuição física. 5.ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. __________. BALLOU, R.H. Logística Empresarial: transportes, administração de materiais e distribuição. 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