Formadora: Elisa de Castro Carvalho http://cursosefa.do.sapo.pt Leia com atenção o texto que se segue. Tendo em conta o mesmo, assinale no friso cronológico os acontecimentos mais relevantes no que diz respeito à evolução da Educação Especial no nosso país. Percurso da Educação Especial em Portugal A educação de crianças deficientes em Portugal, iniciou-se na segunda metade do século XIX, orientado em duas vertentes: uma assistencial para a qual foram criados asilos, e outra orientada numa vertente educativa, sendo para o efeito criados institutos para cegos e surdos. Estes estabelecimentos eram financiados por beneméritos. Numa perspectiva evolutiva, podemos dizer que os primeiros passos foram dados em 1822, tendo como intenção a educação de surdos e cegos em Portugal. Para o efeito foi feita uma petição ao rei D. João VI por José António Freitas Rego, sendo por conseguinte contratado o sueco Aron Borg para organizar um Instituto de Surdos Mudos e Cegos que se localizou no palácio do Conde de Mesquitela e, posteriormente, transferido (1827) para a tutela da Casa Pia. Este estabelecimento acabaria por ser extinto. Depois de novas tentativas, reapareceria de novo em 1877 em Lisboa no palácio do Arneiro intitulado Instituto Municipal de Surdos-Mudos. Este instituto, através de um Decreto-Lei de 27 de Dezembro de 1905, passou a estar incorporado na Casa Pia. Entretanto, no ano de 1863, foi fundado o asilo de Cegos de Nossa Senhora da Esperança, em Castelo de Vide. Inicialmente destinado a cegos idosos, passa mais tarde a receber também crianças e adolescentes. Vinte e cinco anos depois, precisamente no ano de 1888, foi criado em Lisboa o Asilo-Escola António Feliciano de Castilho, pelas mãos de Madame Sigaud, para crianças de ambos os sexos e, mais tarde, só para meninas. Em 1893, um novo instituto para surdos é criado no Porto, existindo ainda nos nossos dias com o nome do seu fundador José Rodrigues Araújo Porto. Três anos mais tarde (1900), José Cândido Branco Rodrigues, funda em Lisboa um instituto para cegos a que é dado o seu nome e passa em 1913 para o Estoril. No Porto, em 1903, é fundado também um instituto com os mesmos fins ficando sob a dependência da Misericórdia e se intitulou Instituto São Manuel que ainda hoje existe. Demonstra-se assim que há uma preocupação em prestar assistência quer fosse caritativa ou educativa a este tipo de crianças. O provedor da Casa Pia, Jaime da Costa Pinto, mostrou essa mesma preocupação relativamente à educação dos alunos surdos e chegou a enviar mesmo dois professores para Paris, um dos quais Cruz Filipe exerceu uma acção pedagógica notável no estabelecimento casapiano. Em 1913, um outro pedagogo e provedor, António Aurélio da Costa Ferreira, veio dar um novo impulso à educação de surdos, organizando o primeiro curso de especialização de professores. Em 1916, funda um instituto que passaria a ter o seu nome – Instituto Aurélio da Costa Ferreira – e que tinha como finalidade inicial a observação de alunos que apresentavam também deficiência mental e que frequentavam a Casa Pia. Esta observação estendeu-se tarde a crianças que, para além de apresentarem deficiência mental, apresentavam perturbações na fala e que recorriam à consulta externa. Funcionou ainda como um centro de estudos e preparação de pessoal docente e auxiliar, responsabilizando-se ao mesmo tempo pela orientação das classes de aperfeiçoamento a funcionar junto de classes regulares. (…) Formadora: Elisa de Castro Carvalho http://cursosefa.do.sapo.pt Em Julho de 1935 toda a acção neste Instituto é interrompida. Iniciam-se obras de grande envergadura sob a orientação do professor Vítor Fontes, só reabrindo em 1942. No ano de 1945 são discriminadas as suas novas funções através do Decreto-Lei n.º 35401, de 27 de Dezembro, tais como: Dispensário de Higiene mental Infantil para todo o País, cabendo-lhe a observação e orientação pedagógica dos menores com anomalias mentais, assim como a formação de docentes e técnicos e o estudo nos campos médico-pedagógico e psicossocial. A partir de 1942, e em colaboração com o Instituto Aurélio da Costa Ferreira deu-se um impulso na educação de deficientes mentais e deficientes motores no nosso país. Reorganizaram-se antigos estabelecimentos hoje dependentes do Centro de Educação Especial de Lisboa, tais como o Instituto Adolfo Coelho, que ficou ligado à Casa Pia, e o Instituto Condessa de Rilvas. Um novo Decreto-Lei, datado de 3 de Agosto de 1946, estabelece a criação de classes especiais, junto das escolas primárias, cabendo ao Instituto a responsabilização e orientação das mesmas assim como a preparação do pessoal docente e auxiliar que, para o efeito criou um Centro de Estudos. A primeira classe especial iniciou a sua actividade em 1947 e logo outras se seguiram progressivamente até aos nossos dias. No ano de 1961, dão-se algumas alterações nas condições de funcionamento do Instituto Aurélio da Costa Ferreira e o seu dispensário fica sob a tutela do Instituto de Assistência Psiquiátrica, passando, em 1963, a ficar dependente da Direcção-Geral do Ensino Superior. Entretanto, ou mais precisamente entre o ano de 1942 e 1963, o mesmo instituto editou uma notável revista que adquiriu renome nacional e internacional sob a orientação do Prof. Vítor Fontes. Em 1956, a Liga Portuguesa de Deficientes Motores, inicia a sua actividade, criando uma escola dotada de serviços de reabilitação motora, com um lar anexo. Contudo, é na década de sessenta que começa a existir uma intervenção oficial na Educação Especial. O Instituto de Assistência a Menores, da Direcção Geral de Assistência Social (IAM), organiza estabelecimentos educativos especiais, serviços de apoio precoce e formação de professores. Inicia-se a integração escolar de crianças cegas em regime de sala de apoio, em 1968. Entre 1965 e 1970, o IAM cria novos estabelecimentos oficiais e remodela outros privados já existentes, com quem estabeleceu bases de apoio técnico e financeiro. Assim, o IAM criou: 8 estabelecimentos educativos para Deficientes Visuais 10 estabelecimentos para Deficientes Auditivos 11 estabelecimentos para Deficientes Mentais O IAM deu também apoio ao centro infantil Helen Keller, que foi a primeira escola em Portugal a tentar a educação conjunta de crianças cegas, amblíopes e com visão normal sendo também pioneiro na adopção da pedagogia Freinet. Recorde-se ainda que os primeiros alunos cegos que frequentaram em Portugal escolas regulares (1965), no Ensino preparatório e Secundário, são oriundos deste centro com a ajuda dos professores do mesmo. Esta experiência foi desenvolvida (1968) pelo IAM, que colocou ao serviço dos alunos integrados professores especializados em regime de sala de apoio inicialmente no Porto e em Coimbra e dois anos mais tarde, em colaboração com o Ministério da Educação, em várias escolas primárias de várias regiões do país. A par destas iniciativas, e devido à falta de educadores de infância e professores especializados no ensino de Deficientes Visuais e Auditivos, levou a que se organizassem cursos de especialização levados a cabo pela Direcção Geral de Assistência. Formadora: Elisa de Castro Carvalho http://cursosefa.do.sapo.pt A par destes serviços educativos outro tipo de estruturas vão sendo criadas e remodeladas, tais como: - um Centro de Observação Médica Pedagógica (o actual COOMP); - uma Comissão Permanente de Braille; - um Serviço de Orientação Domiciliária (SOD) para apoio de pais de crianças cegas entre os 0 e os 6 anos; - remodelação na imprensa Braille, com a finalidade de produzirem os livros escritos para os alunos cegos. Contudo, como os recursos ainda são insuficientes, surgem Grupos de Pais organizados em associações com carácter voluntário e não lucrativo, recebendo o auxílio da Assistência Social. Em 1960, um grupo de pais de crianças portadoras de paralisia cerebral, funda a Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral, que cria um primeiro centro, nesta mesma data em Lisboa, em Coimbra em 1970 e em 1975 um outro no Porto. Em 2 de Fevereiro de 1962, surge a Associação Portuguesa de Pais e Amigos das Crianças Mongolóides que, posteriormente, se começou a chamar Associação Portuguesa de Pais e Amigos das Crianças Diminuídas Mentais (APPACDM). Esta associação abriu o seu primeiro centro em 1965, totalizando trinta e seis em 1995. Para além de organizar jardins de infância, escolas, ensino pré-profissional e formação profissional, desenvolveu ainda actividades de despiste, observação e sensibilização do público, bem como, - e no sentido do atendimento, o mais completo possível, ao “homem no seu todo” -, iniciou, desenvolveu e promoveu a incrementação de CAO’s (Centros de Actividades Ocupacionais), Centros de Bem-Estar para Profundos, para além de Apoio Domiciliário e do Apoio à Integração no Ensino Regular. Surge também a Associação de Pais para a Educação de Crianças Deficientes Auditivas (APECDA) em 1973. Em 1971 também se forma a Associação Portuguesa para Protecção às Crianças Autistas, com um centro especializado em Lisboa. A partir de 1975, novos Grupos de Pais aparecem, formando por todo o país associações e cooperativas que criam escolas para deficientes metais em diferentes regiões. Surge assim a Cooperativa de Educação e Reabilitação para Crianças Inadaptadas, ou seja, todo o movimento CERCI, que organizou em cinco anos diversas escolas em regime de semi-internato, algumas das quais com anexos para a formação profissional. Com a Reforma de Veiga Simão, em 1973, o Ministério de Educação responsabiliza-se pela Educação Especial e, na legislação publicada referente à orgânica das Direcções Gerais do ensino Básico e Secundário, consta respectivamente: - uma Divisão de Ensino Especial; - uma Divisão de Ensino Especial e Profissional. Estas divisões, tinham como finalidade a organização das estruturas educativas para deficientes ou inadaptados. Podemos dizer que, com a reforma do Ensino, há uma maior responsabilização por parte do Ministério da Educação porque permite: - a extensão do ensino Básico às crianças deficientes; - a reestruturação do Ministério da Educação criando-se na Direcção Geral do Ensino Básico e Ensino Secundário as chamadas Divisões do Ensino Especial (DEE); - a criação de condições do ponto de vista orgânico, administrativo e de doutrina para a transformação do Ensino Especial. Formadora: Elisa de Castro Carvalho http://cursosefa.do.sapo.pt As DEE’s para além de organizarem as estruturas capazes de desenvolverem o ensino integrado de crianças e jovens deficientes auditivos, visuais e motores, orientaram também a sua actividade para a especialização de professores. A partir de 1975 a DEE da Direcção-Geral do Ensino Básico passou a apoiar escolas para deficientes mentais, criadas, como referimos, por iniciativa de Cooperativas e Associações de Pais. Sistematizando, podemos constatar que, em Portugal, a passagem da perspectiva assistencial para uma perspectiva predominantemente educativa, surge nos anos sessenta por iniciativa do MAS. São criados serviços de educação de deficientes (mentais, visuais e auditivos). Surgem ainda Associações de Pais e serviços como o COOMP e o SOD (Serviço de Orientação Domiciliária) e há uma preocupação na formação de pessoal especializado. Em 1973, começa a existir uma maior responsabilização por parte do Ministério da Educação, criando-se as DEE’s que começaram a intervir numa perspectiva de integração (…). M.ª Celeste Sousa Lopes, A Educação Especial em Portugal (1997) Formadora: Elisa de Castro Carvalho http://cursosefa.do.sapo.pt