1 A CIÊNCIA E A ARTE Janaína Parentes Fortes Costa Ferreira Especialista em Direito Processual, advogada, professora da Faculdade das Atividades Empresarias de Teresina – FAETE, mestranda em Direito Constitucional pela UNIFOR “Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: ‘Navegar é preciso; viver não é preciso.’ Quero para mim o espírito desta frase, transformada a forma para a casar com o que eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar.” RESUMO A imaginação não como mera imagem fotografada; a imaginação imaginante, criadora, capaz de fazer no homem consciência de si e do mundo. O sonho de vôo: signo imaginativo da ascendência, da obrigação visceral do homem de crescer, elevar-se acima de si mesmo. A imaginação criadora na literatura: o poema, mais que devaneio e fuga do pensamento. A arte e a filosofia do belo: problemas que trazem em si mesmo suas soluções. O belo artístico e a questão do gosto. A idéia do belo em si como solução. Arte: criadora de unidade entre pensamento e imaginação. A arte como forma de revelação do mundo ao homem. Aproximação com a ciência, portanto. Palavras-chave: Imaginação. Pensamento. Idéia. Ciência. Arte. Filosofia. Belo artístico. Gosto. INTRODUÇÃO O saber é o movimento cultural do homem. Deve ser entendido esse saber em toda a possibilidade oferecida, em toda sua multiplicidade. Assim, podemos dizer que é a própria ciência, com o fim de abarcar tais possibilidades, que cria novas situações de investigação ou novas abordagens de objetos já conhecidos. A ciência é o feito e o por fazer, como potencial. Esse devir da ciência coincide com o próprio devir da humanidade; em sua busca incessante pelo saber, o homem conhece a si mesmo, no decorrer da história, através da religião, da política, da cultura – expressões de sua natureza, de sua razão, como também experiências deflagradoras de suas possibilidades. O homem, no entanto, é sua história em um sentido mais transcendente que propriamente concreto, pois, com a vida que lhe cerca, é capaz de criar, daí, outras 2 vidas, pelo pensamento. A história do homem é também a história de suas idéias e de suas experiências, do constante olhar racionalizado à coisa experimentada. O objeto, no entanto, impõe um obstáculo: não se apreende a coisa de forma completa, nem imediatamente. O homem, por meio do primeiro contato com o objeto, parte para o pensar, para a ciência, e retorna à experiência primeira, não para reafirmá-la, mas para refutá-la – ponto de partida e também caminho. Se a ciência não pode se abstrair da experiência comum, pois estaria a se afastar de seu próprio substrato – material da racionalização – , com essa experiência não se confunde, necessitando inevitavelmente de mediações para alcançar as expressões na sua verdade. A experiência natural só é por nós conhecida quando sobre ela desenvolvemos uma nova experiência: é a experiência da experiência, visando à compreensão. Por isso é que conectamos a toda experiência o vocativo “é”. A mediação é relação dialética inesgotável entre o mundo da essência e o mundo da aparência. O homem é e o homem expressa esse ser, com limitações, no entanto, próprias de qualquer expressão. Na arte, o homem também aparenta o que é, tenta expressar seu ser, e, algumas vezes, é capaz de alcançar a graça, a comunhão entre o que é e o que aparenta. Portanto, será a arte um dos vetores capazes de dar a compreensão, de ligar os dois mundos. Arte como expressão do mundo real é também produtora de sentido, de impressão, no mundo particular do homem; arte como expressão do mundo interior é produtora de modificação no mundo exterior: dois vetores entre os dois mundos. Nossa tentativa, nesse trabalho, será demonstrar, apesar dos argumentos em sentido contrário, a possibilidade de se ter a arte como forma de conhecimento – a arte como ciência – partindo-se, primeiramente, da imaginação. Isto é: o trabalho, travando alguns diálogos com os obstáculos que se apresentam, tentará chegar a uma Ciência da Imaginação, ou mais especificamente, a uma Ciência da Arte. 1.1ITUAÇÃO E CONCEITO DA IMAGINAÇÃO ARTÍSTICA 1.1.1 A IMAGINAÇÃO PARA A FILOSOFIA DE SZILASI A relação do homem com seu mundo circundante é o que se pode chamar de experiência, através da sensibilidade, da imaginação e da memória; mas, enquanto nesta última a imagem é retida e se refere diretamente a ela, na imaginação o que se apresenta é a capacidade de formar imagens, sendo um momento constitutivo da experiência natural, uma faculdade ontológica. A imaginação e o pensamento possibilitam a percepção sensível, por meio de ligações conjuntas, pois as impressões sensíveis sobre qualquer dos órgãos sensoriais nada operam isoladamente, por isso se pode dizer que essa impressão abarca tanto a passividade como também uma atividade, ou seja, é apenas quando entra a alma, o espírito, que as impressões se convertem em imagens. A 3 capacidade de imaginar é mesmo o que possibilita a percepção, pois coloca a imagem em movimento, que estaria estagnada pela simples apreensão dos sentidos. Nos animais, a percepção não está a serviço da sede de saber, mas sim dos instintos de vida; no homem, a percepção se coloca condicionada por esse impulso ao saber. Mas o entendimento das imagens se dá por representação, pois não é possível conceber uma imagem representada sem que lhe sejam dadas regras do pensar. Ora, não é demais afirmar que, na ânsia de pensar, e, portanto, na abertura às representações, tudo que se produz pelo homem tem em perspectiva uma imagem. Mas a representação de algo não é a simples imagem de uma coisa, porque imaginar uma espécie em particular é abrir mão de imaginar a própria coisa em toda a sua variedade, em toda a sua infinitude. Porque toda escolha é uma recusa universal. É a idealidade que serve de fundamento a todas as variações do objeto, abarcando todas as suas particularidades. A imagem que nós temos de uma borboleta não é somente de uma borboleta preta com bolinhas azuis pousada sobre o tronco de uma mangueira; temos na imaginação todas as borboletas que nos são possíveis, amarelas pequeninas, azuis triangulares, vermelhas com marrom arredondadas, imensa azul turquesa: a imagem de uma borboleta que nos foi dada pela vida experimentada e também imaginada. Não há como refutar a afirmação de que pertence à humanidade do homem a faculdade de imaginar, de criar objetos através da imaginação, de compor, separar, juntar, deformar imagens; o ato de imaginar contribui para a construção da experiência primeira, mas se situa também no transcendental, pois é o fundamento ordenador, inicial, da possibilidade do homem de se conhecer. A faculdade de imaginar não é mero subproduto de devaneios. A imagem retém o ser; mas, enquanto compreensão do ser é que deve ser tida como pressuposto da filosofia. Podemos, agora, definir o que vem a ser a filosofia diante da imaginação: exercício do saber, união da faculdade transcendente da imaginação com a investigação destinada a alcançar o conhecimento das coisas, imaginação e ciência misturando-se e desembocando numa unidade. A filosofia, na busca de sua plenitude, de sua unidade, entre a imaginação e o científico, pergunta-se sobre Deus e sobre a alma. A arte não pode deixar de ser tida como o despertar da alma, força de revelação. Existe também na arte o poder de fazer unidade do que antes era apartado: imaginação e pensamento se mostram como único objeto. Negar essas faculdades à imaginação e à arte é característico de uma resignação positivista que não é filosofia, que se distancia da filosofia especulativa. A arte, no seu potencial imaginativo, pode desvendar o mundo. Como exemplo: 4 Só vivo para os olhos. (...) Meus olhos abertos, à maneira de uma boca esfomeada, devoram a terra e o céu. Sim, tenho a sensação nítida e profunda de comer o mundo e de digerir as cores como digerimos as carnes e as frutas. (MAUPASSANT, 2005: 110) Bom, se o conhecimento é a própria investigação científica e ele pode se dá pela imaginação, que abarca tanto o conhecimento da natureza como também o da cultura, inclusive o da arte, tanto o pensamento quanto a poesia, a racionalidade e a imaginação formam uma unidade: a ontologia. 1. IMAGINAÇÃO COMO ASCENDÊNCIA E DINAMISMO O sonho de vôo, comum entre os homens, ganha o significado de desejos voluptuosos na análise psicológica, que, na ânsia de captar o sentido simbólico do vôo onírico, acaba por lhe dar um sentido estático, desconsiderando tanto seu caráter estético como o desejo de racionalização do ato de imaginar, tratando a imaginação como descanso do pensamento, distante da razão. O que designa mais apropriadamente o sonho de vôo é o sonho de se estar voando, pois já dá a idéia de movimento e oferece uma pergunta: como o homem retém a imagem do vôo para oferecê-la à volúpia onírica? Primeiramente, observa-se que o sonho de vôo não oferece grandes variações nas imagens, isto é, compartilhando com alguém esse tipo de sonho, é provável que o outro nos apresente uma versão bem parecida com a nossa. Esse é um indício já que aponta para uma racionalização nas viagens da imaginação. Vejamos, e aqui nos utilizaremos de um exemplo pessoal. Sonhando-se que se voa, de início, com um fio que lhe sai do umbigo, como se fora uma pipa, o vôo está justificado, racionalizado, ainda que, posteriormente, no sonho, não se tenha mais a necessidade de justificar a não-gravidade por um fio de pipa; voamos como que por um método evidente e descoberto naquele instante. A imaginação oferece mais que o simples vôo, mas também a mobilidade, fazendo com que sejamos nós, o sonhador, que voa, ainda que justificados inicialmente por um fio de pipa, pois há uma inteligência no próprio sonho, uma lógica do sonhador quando está sonhando. Não é um pássaro que voa, pois sentimos no sonho que somos nós, com nosso peso, e com o absurdo de estarmos voando, sem que precisemos bater asas para isso. É a graça de voar simplesmente. No próprio sonho, sentimos a grandiosidade do acontecimento, mas justificamos de alguma 5 forma, racionalmente: por que antes não me tomei por uma pipa para voar? Esse é o segredo! O segundo indício de racionalização no sonho de vôo é a consciência de que podemos ascender: o homem não apenas é homem, poderá ser um homem que voa. Ora, a idéia de que o homem não é somente o que é, mas também o que poderá ser, é a própria idéia de ascendência, de que podemos subir, de que há um movimento, que se dá num crescente. O homem conhece-se por meio desse sonho, por meio de uma imagem forjada por sua imaginação, ou seja, a consciência dada pela imaginação, pois, sem ela, impedido estaria o homem de conhecer a realidade. É deformando as imagens, por intermédio da imaginação no sonho de vôo, para se referir à própria realidade, que o homem demonstra o caráter vetorial do psiquismo, porque abarca a dialética das categorias: leve e pesado, ativo e passivo, esperança e desesperança, ser-homem e dever-ser-homem-ascendente. Essa dialética, unitária no sonho, permanece em sua ânsia de unidade quando o homem se faz desperto: continua a sonhar no dia, a desejar, porque a psicologia ascensional faz parte de sua natureza. E mais: o vôo daquele que sonha não é para se chegar a algum lugar, pois isso não é o mais importante, o objetivo é a ascensão. A viagem em si é que é o importante, pois satisfaz um dever inerente ao homem; é uma responsabilidade premente o crescer, superar-se, elevar-se. É a razão que sonha, pois há um intercâmbio entre a experiência onírica e a experiência real. As imagens dos sonhos são lembradas e deformadas para que possam ser expressas pela linguagem: o sonho é a própria razão e a razão torna o sonho linguagem. Essa afirmação fica clara quando lembramos que nesse sonho não voamos para chegar a algum lugar, não temos asas para voar; o vôo como ascendência faz com que o principal não seja ir a algum lugar, mas voar, e as asas, que porventura surjam, serão conseqüências do vôo, e não seu motivo. É porque no sonho nos libertamos da imaginação formal para que nos seja oferecida a imaginação dinâmica, exatamente porque estamos dormindo, não estamos falando, nem vendo, não estamos impregnados das imagens apreendidas pelos sentidos, senão das imagens já deformadas pela imaginação: o sonho é uma experiência sensível, dinâmica. A intuição de leveza, do filme Insustentável leveza do ser, oferece à mente o prazer do vôo. Esse sonho por acaso não terá a função de superar nosso medo de cair, o medo de falhar na obrigação que nos foi dada de verticalidade? O sonho não transforma o medo de cair em alegria? Uma imaginação das formas não tem como abarcar a explicação do vôo onírico, porque se o movimento não fenece, a substância, quando não se movimenta, morre. A imaginação dinâmica é a possibilidade de transformação e torna a força dinâmica 6 pequena frente à força estática; o poder da abstração se faz maior frente ao concreto imediato. 1.3. A FILOSOFIA DINÂMICA DE BACHELARD O estudo da mudança se realiza no conceito. A filosofia quer se explicar no movimento de si mesmo. Mas o movimento, se examinado apenas pelo seu aspecto mecânico, transporta no espaço um objeto que não se modifica. Acontece que há seres que se movimentam por vontade de mudança e o mero estudo visual do movimento não inclui a vontade de mudar que está presente no próprio movimento. A filosofia dinâmica se utilizará da imaginação dinâmica, ou seja, as imagens não são meras metáforas, para suprir a insuficiência da linguagem dos conceitos – as imagens se integram à própria vida, porque o conceito é movimento. Bachelard daí afirma que é a imaginação que resiste à dialética: o pesado e o leve, por exemplo, no sonho de vôo. “Assim, o problema essencial que se coloca para uma meditação que deve fornecer-nos as imagens da duração viva é, a nosso ver, o de constituir o ser ao mesmo tempo como movido e movente, como móbil e motor, como impulso e aspiração.” (2001: 267) A imagem eleva o psiquismo, ela o transforma. É nesse sentido que imaginação é a deformação de imagens pelo ato em que a imagem extrapola a mera representação. A idéia de mobilidade oferecida pelo belo é assim entendida por Immanuel Kant: “O entendimento é sublime, o engenho é belo.” (1995: 25). A imagem literária vive, ao mesmo tempo, a intimidade de quem fala e a expressão da linguagem: fala à alma por meio da linguagem objetivada, é pensamento e imaginação. Essa linguagem, a literária, terá então dupla eficácia, pois realiza o imaginário do homem e lhe oferece revelação, já que a linguagem é o ápice do desenvolvimento humano; impõe pela força de sonho a ascensão daquele que fala. Uma filosofia que se preocupe com o destino do homem é necessariamente uma filosofia da imaginação literária, para possibilitar a continuação do movimento daquela imagem. A filosofia não fotografa as imagens, porque se assim o fizesse, estariam elas mortas, estáticas; ela as revela, dá o tom das imagens, e a arte apreende tais imagens na sua linguagem viva. A literatura é pensamento e sonho. Imaginação não deve ser entendida como a propriedade de formar imagens – é a capacidade de deformar imagens, de transmudar as imagens primeiras, é a “ação imaginante”, como a chamou Bachelard. (2001: 01), por ser a imaginação aberta. Com a linguagem, a imaginação literária retrata a realidade, ao mesmo tempo que dela se 7 liberta, porque a imaginação está além das imagens. Um poema é o desejo de se fazer novo o homem, que não é plenamente satisfeito numa mera descrição das formas, mas sim pela do movimento, tornando a espiritualidade viva. Mas o poema não lida com as imagens tradicionais, porque essas perderam já seu significado imaginativo, daí se falar em deformação da imagem, em intenção de fazer-se através do poema. “O ser torna-se palavra” (BACHELARD, 2001: 03). A busca das palavras todas que podem acompanhar uma imagem é a urgência do poema, ou seja, é a linguagem, no seu papel imaginante, como criação de novas imagens. 2. IMAGINAÇÃO E ESTÉTICA EM HEGEL 2.1. O BELO NATURAL E O BELO ARTÍSTICO A estética é para Hegel a filosofia do belo artístico. Contrapõe-se à opinião comum de que o belo artístico não é tão grandioso quanto o belo natural, afirmando justo o contrário: o belo artístico é mesmo superior ao belo natural, por ser proveniente do espírito, que é superior à natureza, sendo também superiores os seus produtos, como a arte. Uma idéia qualquer de um homem seria já superior à maior das criações da natureza, porque por aquela perpassa o espírito. Podemos aqui fazer um paralelo ao pensamento de Bachelard quando pretende uma filosofia dinâmica contraposta à cinética. A criação da natureza só existe por causa das criações do espírito, pois a existência do que é inferior está submetida àquilo que lhe é superior. Se é no belo artístico que perpassa o espírito, é somente neste que a verdade pode existir, já que as coisas só existem enquanto espiritualidade. Fernando Pessoa, na pele de Alberto Caeiro acredita ver a verdade no belo natural (1969: 207): O mistério das coisas? Sei lá o que é mistério! O único mistério é haver quem pense no mistério. Quem está ao sol e fecha os olhos, Começa a não saber o que é o sol E a pensar muitas cousas cheias de calor. Mas abre os olhos e vê o sol, e já não pode pensar em nada, Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos De todos os filósofos e de todos os poetas. A luz do sol não sabe o que faz E por isso não erra e é comum e boa. 8 Mas o poeta não se esqueceu de seu contrário, falando como Álvaro de Campos (PESSOA, 1969: 302): Quando olho para mim não me percebo. Tenho tanto a mania de sentir Que me extravio às vezes ao sair Das próprias sensações que eu recebo. O ar que respiro, este licor que bebo, Pertencem ao meu modo de existir, E eu nunca sei como hei de concluir As sensações que a meu pesar concebo O belo natural de Alberto Caeiro só existe enquanto submetido ao espírito, ao poema; só aí ele se torna verdade. O belo artístico, ao contrário, é criação do próprio espírito, pois o poema submete a expressão, o sentimento e o pensamento. A filosofia é tida como domínio do belo, domínio da arte, sendo instrumento de realização das idéias e dos nobres interesses. Na arte é possível ter revelado o caminho da sabedoria e da religião, pois a idéia nasce no espírito e a arte é a forma que esse espírito se utiliza para tornar a idéia representação. 2.2. A VERDADE E A IDÉIA DO BELO A filosofia se posiciona para Hegel como teoria do conhecimento, frente ao problema da relação entre pensamento e objetividade. Há três posições distintas quanto a essa relação: na primeira, acredita-se, ingenuamente, que a verdade pode ser alcançada pela experiência imediata, a consciência teria o poder de representar a verdade das coisas. Opondo-se a essa primeira corrente, pode-se dizer que o pensamento possui seus limites, que impossibilitam chegar à verdade; a verdade dada pela consciência simplesmente é dogmatismo, fazendo crer que de duas proposições opostas, necessariamente uma é falsa e a outra é verdadeira. A segunda corrente tem como antíteses o empirismo, para quem a verdade deve ser alcançada pela percepção tãosomente, ou seja, a verdade estaria na realidade; e o idealismo crítico, para quem a investigação dos conceitos deve preceder o ato de lhes dar valor. O empirismo encontra um obstáculo: a possibilidade de o homem conhecer o supra-sensível por meio da abstração; e o idealismo faz oposição entre objetividade e subjetividade que não se 9 soluciona. A terceira corrente de pensamento inspira-se no saber imediato, para quem a consciência do infinito está na representação. Explicando: o objeto do conhecimento é sempre a verdade, Deus, o infinito, mas acontece que a consciência só apreende um objeto quando ele é colocado sob a forma de conceitos, que são finitos. Para a terceira corrente, o conhecimento do objeto infinito só se dá de forma imediata, negando qualquer importância à mediação que precedeu esse conhecimento. Já o empirismo, ao tratar a idéia como mero pensamento subjetivo, esquece-se que a idéia só pode se realizar por meio do ser, mas também o ser só se pode mostrar por meio da idéia. No dizer de Álvaro de Campos: “À porta do casebre, O meu coração vazio, O meu coração insatisfeito, O meu coração mais humano do que eu, mais exato que a vida.” (PESSOA, 1969: 373). A filosofia surge como expressão da realidade, suprimindo a separação antes operada entre a idéia e o real. O real é aquilo que é pelo homem racionalizado, fazendo com que a base seja a idéia, e não o particular; deve-se começar o conhecimento da arte pela idéia do belo. Em seu primeiro estado físico o homem aceita o mundo sensível de maneira puramente passiva, sendo plenamente uno com ele, e justamente por ser o próprio homem apenas mundo, não há ainda mundo para ele. Somente quando, em estado estético, ele o coloca fora de si e o contempla, sua personalidade se desloca, faz que o mundo lhe apareça, já que deixou de ser uno com ele. (KANT, 1993: 117). Kant entendeu o nascimento do belo como o conhecimento da verdade pelo homem, pois, pela idéia do belo, o homem pode ver a si mesmo, ver a sua verdade. Há uma questão que cabe nesse momento em que se fala do belo: qual a relação entre o belo natural e o belo artístico? 2.3. NECESSIDADE: PRESSUPOSTO DE UMA CIÊNCIA DO BELO Quer-se demonstrar que o belo existe. Nas ciências exatas a existência já está mostrada no mundo sensível, não é preciso demonstrá-la. Mas se a natureza do objeto é do mundo do espírito, ele somente existirá pela atividade espiritual. Hegel fala dessa atividade espiritual como um caminho que as representações internas têm que percorrer “até que possuam a vivacidade irresistível que nos arrasta à paixão.” (HEGEL, 1977: 29). Ora, tal vivacidade é alcançada numa representação artística. Mas para demonstrar 1 a existência da arte como objeto da ciência é preciso que se prove sua necessidade, que se faça a epistemologia do belo. A consideração filosófica de um objeto não se confunde com o senso comum que se tem desse objeto, então o método e as representações do belo não podem ser escolhidos arbitrariamente, senão pela necessidade, para que possa a filosofia do belo chegar a algum lugar. Demonstrar um objeto – a arte – é mostrar a necessidade desse objeto. O espírito pode apresentar várias formas de realização, uma delas é a arte, mas a manifestação se dá sempre num resultado. O conceito de arte não se vai olvidar das representações, pois são elas que vão dar o conteúdo desse conceito; mas serão premissas para o conhecimento do belo como idéia. É na idéia do belo que se pretende chegar. A beleza artística, partindo-se da idéia do belo, e não do belo em si, pode ser submetida ao estudo científico, mesmo sendo criação dos sentidos e da imaginação, pois não está apartada do pensamento e das regras. A arte tem a seu dispor as riquezas naturais, pois como criação do espírito, é-lhe superior; e mais: pode se expressar em criações nascidas de si mesma, através da imaginação imaginante, criadora, que deforma as imagens da beleza natural. Essa é a necessidade do belo, como potencial de criação. Fernando Pessoa, como ele mesmo (1969:182) Quem sabe o que é a alma? Quem conhece Que alma há nas coisas que parecem mortas? Quanto em terra ou em nada nunca esquece? Quem sabe se no espaço vácuo há portas? Ó sonho que me exortas A meditar assim a voz do mar, Ensina-me a saber-te meditar. 3. PARA UMA CIÊNCIA DA ARTE 3. CRÍTICA A UMA CIÊNCIA DA ARTE São aqui oferecidas algumas objeções quanto a uma ciência da arte. Antes se intercomunicam do que se excluem umas às outras, como veremos. A primeira objeção que se faz a uma Ciência da Arte é a infinita variedade do domínio da arte, ou mais, a infinitude do que se pode conceber como belo. A arte é a idéia do belo, apreciado em sua aparência com o gosto que se tem direcionado a uma obra de arte, ou seja, é com o gosto que se fará um juízo da arte, e não com a idéia em 1 si, porque essa não pode ser totalmente apreendida pela linguagem – limite inevitável á idéia de belo. Com tudo isso, esquecia-se um elemento de decisiva importância; esquecia-se que toda a gente introduz, nos juízos referentes às obras de arte e aos caracteres, às ações e aos acontecimentos, aquilo que possui de mais subjetivo: as opiniões e os sentimentos. (HEGEL, 1977: 73) Esse é o obstáculo apontado pelo próprio Hegel. O gosto é também de variedade infinita. Como se poderia chegar a um conceito então da arte baseado nessa multiplicidade, muitas vezes contraditória, de gostos? Porque não há no mundo nada que não possa agradar a pelo menos uma pessoa; o feio pra ti, bonito me parece. A outra objeção diz respeito ao método. A ciência, geralmente, parte das experiências para se chegar a uma teoria, dominam-se as formas particulares, classificam-nas em gênero. Acontece que a multiplicidade da arte afasta esse método, ficando então impossível de se dizer o que é belo e o que não é belo, pois dependeria do gosto – infinitamente também diverso. Não haveria regras gerais aplicáveis à arte. Teria a arte apenas a função de despertar nos homens sensações agradáveis. Ora, o belo seria então objeto do sentimento, sendo, portanto, outro obstáculo para que pudesse ser objeto da ciência e mesmo da especulação filosófica. Para os que entendem o belo como objeto do sentimento, a arte é a libertação do sombrio e maçante mundo dos pensamentos; com a arte, parte-se para o reino do descanso e da agradável beleza. O belo não poderia ser submetido às idéias, porque seria mesmo a doce fuga a qualquer tipo de racionalização, a qualquer tipo de idéia. A arte seria somente a encantada Passárgada de Manuel Bandeira, não seria a idéia que se coloca de elevação do espírito do homem. Se o belo é objeto do sentimento, não seria, portanto, objeto do pensamento, precisamente porque esse possui regras que não cabem no sentimento. Como seria possível a ciência tratar da arte se a ciência é feita pelo pensamento? O pensamento estaria, para essa objeção, em lado oposto ao da imaginação e de sua suposta acidentalidade. A arte, com a inspiração a lhe dar asas, pode criar formas extraídas de si, arbitrariamente, portanto, descartando o caráter de necessidade que marca a ciência, distante dos sentimentos e das intuições imaginativas. A filosofia, que teria regras de pensamento, não poderia tomar a arte como objeto seu. 1 A arte seria o escape ao conceito, pois incompatível com o pensamento, que nela (arte) não pode se imiscuir, para que não lhe destrua sua essência, seu material imaginado e incompreensível. As obras de arte só agiriam na imaginação e no sentimento, e não no pensamento. Isso ocorre porque aquilo que é real (a natureza e o espírito), quando apreendido pelo pensamento conceitual, restaria destruído. 3.2. O PROCESSO CIETÍFICO E A OBRA DE ARTE Kant oferece um conceito de gosto universal, inevitável na sua força: Nos domínios do gosto mesmo o gênio poderoso é forçado a submeter-se e descer, com gesto familiar, até o senso infantil. A força deixa-se prender pelas deusas da graça, o leão imperioso obedece às rédeas do Amor. (KANT, 1993: 134) É nesse sentido que se tentará chegar a um método científico para seu conhecimento. Há duas formas que se pode apresentar em busca de um método científico para a arte: entender a filosofia do belo abstraída das obras de arte, ou seja, uma filosofia do belo geral; ou tentar encontrar regras às obras de arte, o que teria o gosto como guia na escolha dos objetos. Nesse último caminho, somente o que serve à expressão essencial de um dado conteúdo deve entrar na obra de arte; o supérfluo deve ser eliminado, como quando dizemos com Arnaldo Vasconcelos “que não se deve colocar um revólver na cena se não vai ser ele usado”. Tanto num como noutro caminho não se pode negar que a essência da arte aparece na representação; é onde ela se revela. Mas se a ciência e a filosofia buscam a verdade, resta-nos perguntar onde reside a verdade da arte. Não estaria ela nas belas obras de arte, mas no belo puro e simples, descoberto pelo pensamento conceitual, que lhe dá consciência à idéia do belo. Deve o belo ser visto como mediação entre a metafísica e sua determinação real; entre a generalidade e a particularidade, numa tentativa conciliatória. Cabe aqui uma citação de Schiller: “o bom gosto é quase sempre acompanhado por clareza do entendimento, vivacidade no sentir, liberalismo e mesmo dignidade” (1963: 61). Essa clareza de entendimento retrata poeticamente o que se entende por tal conciliação. Essa conciliação deflagraria aos olhos do homem a própria verdade. 1 3.3. O FIM DA ARTE A arte revela a verdade, pois representa, de modo ao mesmo tempo concreto e figurado, o espírito do homem, o que faz esse homem sentir sua alma. Mas a arte não deve ser entendida como um meio somente, pois, se assim fosse, não poderia ser objeto nem da ciência nem da filosofia, já que o fim tornar-se-ia estranho ao meio. A arte traz já em si sua determinação, que não está limitada ao belo simplesmente como agradável ou como enobrecedor dos sentimentos humanos. A arte tem o fim de criar a unidade entre a razão e a imaginação, entre o espírito do homem e a natureza que lhe é dada, num todo livre e criativo. Se a arte tem seu próprio fim, é porque é essencial, e não acessória. “A arte desenvolve-se nesta mais elevada esfera, a da idéia da conciliação dos contrários.” (HEGEL, 1977: 80). Hegel nos lembra que o Deus do cristianismo é uma unidade, pois que pessoa como Jesus Cristo e também Espírito Santo. O que se faz concreto na arte é o seu essencial, e a criação artística deflagra a união entre a idéia e a obra de arte, entre o geral e o particular. Schiller, que afastou do belo qualquer obrigação moral de se fazer agradável, também fala dessa conciliação: “entre matéria e forma, entre passividade e ação, deva existir um estado intermediário, ao qual a beleza nos daria acesso.” (SCHILLER, 1963: 89). A arte torna acessível ao nosso entendimento a idéia do belo na sua verdade, de forma diferente da mediação do pensamento, porque faz vibrar a alma. 3. POR UMA EPISTEMOLOGIA DA ARTE O conceito da arte é assim dado pela idéia do belo como síntese, como formador de unidade entre razão e emoção, afastando qualquer derivação limitada aos objetos experimentados. O primeiro obstáculo anteriormente apresentado, referente à infinitude de objetos tidos como belos, fica afastado. Na música de Gilberto Gil, “A Bahia já me deu, graças a Deus, régua e compasso. Quem sabe de mim sou eu”, quem lhe deu as regras, a “régua” e o “compasso”, não foi o pensamento puro, mas a idéia da beleza da Bahia pensada, a espiritualidade baiana concretizada na sua vontade de saber de si por si mesmo. Ou seja, a arte é, para a filosofia hegeliana, em si e para si, pois mostra sua essência e disso tem consciência. A arte revela ao homem a verdade sobre o mundo e sobre si mesmo; sobre a Bahia e sobre ele mesmo, o baiano, conciliando abstrações (universal) com realidade (o contingente). Completar com o real o conceito da vida é a função da arte; abrir mão dessa função é se distanciar do conceito descoberto do mundo. 1 O espírito tem consciência e por isso pode pensar a si mesmo. “Porque o pensamento constitui a mais íntima e essencial natureza do espírito.” (HEGEL, 1977: 38). Portanto, para aqueles que dizem da impossibilidade da arte como objeto da filosofia e da ciência pela arbitrariedade e acidentalidade de suas criações, a arte em sua produção liberta, comporta-se de acordo com a natureza do espírito que a engendra. O que parece acidentalidade é consciência livre ao invés. “O espírito revê-se nos produtos da arte.” (Idem: 38) É próprio do espírito imiscuir de pensamentos os produtos de sua atividade, para tornar tais produtos verdadeiramente seus. “Por isso, a obra de arte, onde o pensamento de si se aliena, pertence ao domínio do pensamento conceitual, e o espírito, submetendo-a ao exame científico, satisfaz a exigência da sua mais íntima natureza.” (Idem: 38) A arte, no entanto, tornou-se o prazer pelo supérfluo, com o único fim de suavizar as preocupações dos homens. Se outro motivo não tivesse para dar à arte uma abordagem filosófica e científica, bastaria esse apresentado por Hegel: poder-se-á deplorar que a nossa atenção tenha sido absorvida por interesses mesquinhos e visões utilitárias que tiraram à alma aquela serenidade e aquela liberdade que proporcionam o gozo desinteressado da arte. Tal como é, a nossa cultura veio ficar inteiramente dominada pela regra geral, pela lei. (Idem: 39) Diz-se que a arte cria aparência, o que é verdade. Se considerada a aparência como aquilo que não deve ser, a arte será simplesmente ilusão. Não esqueçamos que, para não permanecer na pura abstração, toda a essência, toda a verdade, tem de aparecer. O divino deve ser uno, possuir uma existência diferente daquilo a que chamamos aparência. Mas a aparência não é inessente, pois, pelo contrário, constitui um momento essencial da essência (Idem: 40). Ora, a arte, por ter uma aparência, não é simplesmente essa aparência, porque fora engendrada pela verdade do espírito, que, com a aparência, aparece. É em si, porque essência, e para si, porque consciente aparência. A realidade a que chamamos os objetos 1 pode ser uma aparência mais enganadora que a aparência da arte, porque a verdadeira realidade não se confunde com a sensação imediata dos objetos. Só, com efeito, é verdadeiramente real o que existe em si e para si, o que constitui a substância da natureza e do espírito, o que, existindo no espaço e no tempo, não deixa de com uma existência verdadeira e real existir em si e para si. (Idem: 41) A arte torna sensíveis, aparentes, as manifestações de potência do homem. “Entre a aparência e a ilusão deste mundo mau e perecível e o conteúdo verídico dos acontecimentos, cava a arte um abismo para erguer tais acontecimentos e fenômenos a uma realidade mais alta, nascida do espírito.” (Idem: 41). A arte, com liberdade, satisfaz as exigências de conhecimento, pois se porta acima da representação da realidade finita: o espírito extrai de si as obras artísticas e faz a comunhão com a liberdade infinita do pensamento contemplativo. CONCLUSÃO Caso não houvesse nenhum desses argumentos para uma ciência da arte, teria sua finalidade ainda de vencer o sofrimento humano, que é busca incessante da ciência. Enfim, podemos constatar um hiato crescente entre o conhecimento objetivo (científico) e toda espécie de sentimentos ou de teoria dos valores. Por definição, a ciência ignora os valores. Portanto, não pode conhecê-los. Nem tampouco preocupa-se com a imaginação criadora. Por isso, não pode haver nem ética, nem estética objetivas. (JAPIASSU, : 64) Esse é o recado de Japiassu, que entende ter a atividade epistemológica a função de refletir sobre a significação cultural. Para Bachelard, que entende a epistemologia como o produto da ciência criticando-se a si mesma, o poder na atividade criadora poética não poderia se afastar de seu campo. Sobre essa perspectiva bachelardiana, Japiassu tece as seguintes considerações: 1 A liberdade poética enraíza-se na necessidade do ‘eu’, da mesma forma como a necessidade da ‘verdade’ científica só pode aparecer naquele que tomou uma liberdade, uma distância relativamente ao ‘eu’sonhador. A imaginação não é uma faculdade entre outras. Ela é o poder constitutivo radical que nos afirma como sujeitos e os fenômenos como objetos. (JAPIASSU: 76). Razão e imaginação, juntas, buscam a verdade do espírito na arte. “O mundo é a provocação do homem. Este se revela criador, fonte única, despertador de mundos: o da ciência e o da arte.” (JAPIASSU: 77). Para finalizar, um pensamento de McCluran: A ciência é imaginação. E é a carência de imaginação que tem feito com que ela se torne um instrumento para cometer crimes, fazer coisas estúpidas. E um erro pensar que poesia e ciência são coisas separadas. Poesia e ciência têm que estar juntas, mas é claro que isso requer imaginação, percepção, experiência. O que vemos nos jornais é um reducionismo, um retrato pobre do que a ciência está fazendo. A maioria dessas coisas é mantida financeiramente pelo governo. O homem da ciência é o homem desperto do sonho, que continua, no entanto, a engendrar suas criações artísticas. 1 RÉSUMÉ L’article présent une analyse de l’imagination tout a fait différente d’une très simple image photographier; l’imagination créatrice, capable de provoquer sur/au l’homme la conscience de soi meme et du monde. Le rêve de voler, signe imaginative de l’ascendance, de l’obligation viscéral de l’homme de croître et de s’elever plus que soi même. L’imagination créatrice dans la littérature: le poème, plus qu’ une divagation et une fuque de la pensée. L’art et la philosophie du beau: problème q’apporte en soi meme ses propres solutions. Le beau artistique et la question du gôut. L’art: créatrice de l’unité entre la penseé et l’imagination, une façon de revelation du monde pour l’homme. La proximité, donc, avec la science. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BACHELARD, Gaston. O Ar e os sonhos: ensaio sobre a imaginação do movimento. Tradução Antônio de Pádua Danesi. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método. Tradução Flávio Paulo Meurer. Petrópolis: Vozes, 1997. HEGEL, Friedrich Georg Wilhelm. Estética: a idéia e o ideal. In: Os pensadores. Tradução Orlando Vitorino. São Paulo: Nova Cultural, 1977. JAPIASSU, Hilton Ferreira. Introdução ao pensamento epistemológico. 7. ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1992. KANT, Emmanuel. Observações sobre o sentimento do belo e do sublime. Tradução Vinicius de Figueiredo. Campinas: Papirus, 1993. MAUPASSANT, Guy. As Grandes Paixões. Tredução Léo Schlafman. Rio de Janeiro: Record, 2005. PESSOA, Fernando. Obra poética em um volume. Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar Editora, 1969. 1 SCHILLER, Friedrich. Cartas sobre a educação estética da humanidade. Tradução Roberto Schwarz. São Paulo: Herder, 1963. SZILASI, Wilhelm. Fantasía y conocimiento. Buenos Aires: Amorrortu,1969.