A construção do sistema de numeração decimal discutida em um grupo de professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental Dayana Machado Rosales Cerva¹ GD7 – Formação de Professores que Ensinam Matemática Resumo do trabalho: O presente trabalho apresenta pesquisa em andamento, vinculada à dissertação de um curso de Mestrado Profissional em Ensino de Matemática, que pretende investigar como a formação continuada, através de um grupo colaborativo, pode contribuir para o desenvolvimento profissional do professor que ensina Matemática no primeiro ciclo do Ensino Fundamental. Entendemos que a proposta de trabalho do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), tal como foi desenvolvida na Região Metropolitana de Porto Alegre, aproxima-se do conceito de colegialidade artificial conforme a descrição de Dario Fiorentini, visto que a participação dos professores que atuam no ciclo de alfabetização é obrigatória, que o material de trabalho foi produzido pelo Ministério da Educação, com objetivos estabelecidos pelo mesmo e foi explorado em um tempo determinado. Propomos a formação de um grupo de estudos para discutir os temas e materiais abordados no PNAIC. Esse grupo poderá se constituir como grupo colaborativo, já que a participação de professores, atuantes ou interessados no ensino de Matemática para o ciclo de alfabetização, é voluntária. Neste trabalho, relatamos os três primeiros encontros, onde realizamos discussões sobre a contagem, o conceito de número, os agrupamentos e os sistemas de numeração, fundamentados, principalmente, pelos conceitos e resultados de pesquisas apresentados nos trabalhos de Peter Bryant e Teresinha Nunes, e nos cadernos de Matemática do PNAIC. Acreditamos na formação continuada através de grupos colaborativos como uma possibilidade de desenvolvimento profissional docente e procuramos mediar o grupo, a fim de estimular sua potencialidade de colaboração. Palavras-chave: anos iniciais – matemática – grupo colaborativo – formação continuada – sistema de numeração decimal Trabalho colaborativo e pesquisa-ação colaborativa No desenvolvimento da dissertação do Mestrado Profissional em Ensino de Matemática, estamos investigando como a formação continuada, através de um grupo colaborativo, pode contribuir para o desenvolvimento profissional do professor que ensina Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Nossa investigação analisará o desenvolvimento profissional dos componentes de um grupo que se propõe a trabalhar colaborativamente. Buscando compreender práticas coletivas de trabalho e relacioná-las com a formação continuada de professores, Fiorentini (2006; 2012) e Nacarato et al. (2006) oferecem importantes contribuições sobre os conceitos envolvidos nessa atividade. Fiorentini (2012) entende que um trabalho coletivo pode ser cooperativo, colaborativo ou se tratar de uma colegialidade artificial. No caso do trabalho cooperativo, explica que todos trabalham para um mesmo fim, mas destaca que, nesse caso, o mais Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e-mail: [email protected], orientadora: Dra. Elisabete Zardo Búrigo frequente é que ele não tenha sido negociado entre os envolvidos, podendo haver relação de submissão entre os participantes. No trabalho colaborativo, o autor entende que todos trabalham para um mesmo fim, que é negociado e de interesse do grupo e para tanto não costuma haver hierarquia. Já a colegialidade artificial é um conceito desenvolvido por Hargreaves (apud FIORENTINI, 2012), em que há uma “colaboração não espontânea nem voluntária; sendo compulsória, burocrática, regulada administrativamente e orientada para objetivos estabelecidos em instâncias de poder; sendo previsível e fixa no tempo e espaço” (p. 115). Um dos nossos interesses é revisitar temas discutidos nos encontros de Matemática do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) sob a perspectiva de trabalho colaborativo. Entendemos que a proposta de trabalho do PNAIC, tal como foi desenvolvida na Região Metropolitana de Porto Alegre, se aproxima do conceito de colegialidade artificial, visto que a participação dos professores que atuam no ciclo de alfabetização, nos encontros, é obrigatória, que o material de trabalho foi produzido pelo Ministério da Educação, com objetivos estabelecidos pelo mesmo e foi explorado em um tempo determinado. Fiorentini (2006) destaca alguns aspectos que caracterizam o trabalho colaborativo: Voluntariedade, identidade e espontaneidade; Liderança compartilhada ou corresponsabilidade; Apoio e respeito mútuo. Nesse sentido, propomos a formação de um grupo de estudos que poderá se constituir como grupo colaborativo, já que a participação de professores, atuantes ou interessados no ensino de Matemática para o ciclo de alfabetização, é voluntária. Nos três primeiros encontros do grupo, discutimos contagem, agrupamentos, número e sistema de numeração, que constituem temas abordados nos Cadernos de Estudos de Matemática do PNAIC e compõem o bloco de conteúdos “Números e Operações”, privilegiado na ação docente dos professores dos anos iniciais. Além disso, realizamos a mediação dos encontros do grupo, mas os temas trazidos pelos participantes como relevantes são inseridos nas discussões, incentivando a responsabilidade dos membros do grupo na aprendizagem compartilhada e na produção de novos conhecimentos, sendo esse último, de acordo com Fiorentini (2006), o grande desafio do trabalho colaborativo. Acreditamos na formação de um grupo colaborativo como uma possibilidade de desenvolvimento profissional do professor que ensina Matemática. Entretanto, Fiorentini xxxxxx (2012) entende que a pesquisa colaborativa implica na participação dos componentes do grupo em todas as etapas, passando desde a etapa de concepção até a análise de dados e escrita de relatórios. Portanto, este trabalho não se trata de uma pesquisa colaborativa, já que nos propomos a analisar as potencialidades de reflexão e ação dos professores integrantes do grupo e os participantes não atuarão em todas as etapas mencionadas pelo autor. Entendemos que nossa pesquisa se caracteriza como pesquisa-ação colaborativa. A pesquisa-ação, de acordo com Fiorentini (2012), “é um tipo de pesquisa participante em que o pesquisador se introduz no ambiente a ser estudado não só para observá-lo e compreendê-lo, mas sobretudo para mudá-lo em direções que permitam a melhoria das práticas e maior liberdade de ação e de aprendizagem dos participantes”. Já Pimenta, Garrido e Moura (2001) nomeiam como pesquisa-ação colaborativa, aquela em que a “finalidade é a de criar uma cultura de análise das práticas nas escolas, tendo em vista suas transformações pelos professores, com a colaboração dos professores universitários” (p. 9). Quanto à pesquisa-ação colaborativa, Fiorentini (2006) entende que seu relatório deve apresentar a “descrição e análise do trabalho desenvolvido/produzido, destacando sobretudo os avanços obtidos tanto no âmbito da prática como no das ideias do grupo” (p. 72), como pretendemos desenvolver nesta pesquisa. Formação do grupo de participantes A proposta de grupo de estudos foi cadastrada como atividade de extensão da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com vinte e cinco vagas, com prioridade para professores dos três primeiros anos do Ensino Fundamental. Os encontros foram realizados em uma sala cedida pela Secretaria Municipal de Educação de Canoas, Rio Grande do Sul, às terças-feiras, das 18 às 20 horas, durante dez semanas, iniciando em 04 de agosto de 2015 e com previsão de término em 6 de outubro de 2015. A formação foi divulgada por redes sociais e pela Intranet da Prefeitura Municipal de Canoas, através de um banner informativo, e as inscrições foram realizadas através de um formulário elaborado no Google Docs. Os encontros foram registrados através de um diário, que foi proposto no primeiro encontro. Nossa proposta é de que cada encontro seja registrado por um participante. xxxxxx Chamamos este instrumento de Diário coletivo, assim como Godinho e Farias (2015). Além disso, registramos encontros em áudio e/ou vídeo. Encontros do grupo de estudos Nos três primeiros encontros, discutimos a contagem, os agrupamentos, o conceito de número e sistemas de numeração. No primeiro encontro tivemos nove participantes, no segundo onze e no terceiro, treze. No momento da apresentação, os participantes José e Eva já relataram ter dificuldade em Matemática e a participante Alessandra relatou gostar muito da disciplina. Na proposta do diário coletivo, inicialmente houve um silêncio no grupo, até que a participante Eva, questiona a possibilidade de anotar durante o encontro e depois passar a limpo. Decidimos que sim e ela candidatou-se a ser a primeira. No tópico "Eu e a Matemática" aconteceram discussões muito interessantes. Nesse momento, os participantes foram convidados a discutir algumas questões referentes a sua relação com a Matemática como aluno e como professor. Além disso, por contarmos com alguns professores que também participaram dos encontros de Matemática do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), os incentivamos a falar sobre a experiência, destacando, entre outros, o que eles consideram que precisaria ser retomado. As questões que serviram como base para a discussão seguem: Enquanto aluno, como era a sua relação com a disciplina de Matemática? Qual(is) conteúdo(s) de Matemática, dos anos iniciais, você acha mais fácil de trabalhar? Por quê? Qual(is) conteúdo(s) de Matemática, dos anos iniciais, você acha mais difícil de trabalhar? Por quê? Quais conceitos você considera importantes serem trabalhados em Matemática, nos anos iniciais? Quais assuntos relacionados a Matemática, que tenham sido trabalhados nos encontros do PNAIC, contribuíram para a sua prática? De que forma? xxxxxx Quais assuntos relacionados a Matemática, que tenham sido trabalhados nos encontros do PNAIC, você acredita que poderiam ser retomados? Quais assuntos relacionados a Matemática, que não tenham sido trabalhados nos encontros do PNAIC, você tem interesse que sejam discutidos? Alguns relataram a pouca familiaridade que tinham com a Matemática e que enquanto alunos, apenas memorizarem e não entenderam os porquês de muitos conceitos matemáticos. Já a participante Sônia trouxe a questão de que hoje há várias outras intervenções pedagógicas, mas parece a ela que as crianças sabem menos. Quando questionamos quais os conteúdos mais fáceis e mais difíceis de trabalhar no ciclo de alfabetização, tivemos outro diálogo importante, onde destaca-se a opinião divergente de alguns professores em relação à facilidade ou dificuldade da construção do número com as crianças até o 3º ano. Neste diálogo, destacamos as participantes Sandra e Alessandra, que trouxeram contribuições sobre a importância desta etapa ser bem constituída, sendo base para outros conhecimentos, e das expectativas de conhecimento que o professor tem em relação ao aluno que ingressa no segundo ano. Outro ponto que foi destacado é a Geometria, que a participante Alessandra considera difícil de trabalhar porque alguns conceitos também não foram bem ensinados para os professores e depois eles têm que ensinar para os alunos. Quando questionamos o que os professores consideram importante que os alunos saibam de Matemática nos anos iniciais, nos surpreendeu negativamente que só apareceram as quatro operações e o domínio da tabuada. Neste sentido, nos preocupa que muitos outros conceitos de Matemática do ciclo de alfabetização, como os pertencentes ao bloco “espaço e forma” e ao “grandezas e medidas”, não são vistos como importantes nos anos iniciais, mesmo sendo previstos no PCNs (1998). Sobre a Matemática trabalhada nos PNAIC, tivemos a contribuição da participante Sandra, que foi cursista; da participante Alessandra, que foi Orientadora e da Fernanda, representante da Secretaria de Educação, que participou do encontro e foi formadora de Orientadores. Sandra considera que a Matemática trabalhada foi muito básica e que servia como um grupo discussão, pois sempre surgia a dificuldade de algum professor e discutia-se a mesma. Destaca que se relacionava muito o ensino da Matemática ao processo de xxxxxx alfabetização e letramento, mas considera que para ela o PNAIC não contribuiu muito, pois ela já tinha um certo conhecimento proveniente da sua formação inicial. Outro ponto, foi a ampla sugestão de jogos, que ela considera importante. Contudo, destaca que a estrutura dos encontros era bem sistematizada. Fernanda trouxe o relato de que a formação para os Orientadores não era esta e que ela, enquanto formadora deles, trazia muitas sugestões de atividades que eles diziam usar nos encontros. Porém, destaca que o grupo de Orientadores que trabalhava não era da Região Metropolitana. Pedimos a contribuição dos professores, no sentido de sugerirem assuntos que eles acham importante discutir nos encontros, não houve participação, apenas a representante da Secretaria Municipal de Educação citou o tema das frações. A discussão sobre a contagem iniciou com a apresentação de três vídeos do site Youtube, publicados por pais, em que seus filhos estão contando até dez, por exemplo. A partir dos vídeos, questionamos se aquelas crianças sabem contar, o que é saber contar e em para que as crianças usam a contagem. Nesta discussão, foi consenso entre os participantes que as crianças não sabiam contar, mas os professores não mostraram clareza sobre o conceito de contagem. Não temos participantes que lecionam no primeiro ano, mas os que lecionam para o segundo ano relatam que nem todos os alunos chegam com o conceito da contagem bem constituído. Questionamos sobre a utilização de brincadeiras e músicas para trabalhar a contagem, mas não houve qualquer relato. Neste momento, apresentamos sugestões aos professores. Procurando relacionar número e cultura, comentamos sobre a tribo Pirahã, que habita a Amazônia e foi objeto de pesquisa de Daniel Everett e as etnias moçambicanas pesquisadas por Paulus Gerdes. Ambas possuem características muito particulares no seu sistema de numeração e indicam que o uso e a construção do número vêm da necessidade cultural de cada povo. A utilização dos números em diferentes culturas despertou bastante interesse em alguns participantes. Questionamos sobre o uso dos agrupamentos pelas crianças, mas não houve exemplos trazidos pelos participantes; os exemplos dupla, trio e dúzia, que trouxemos, eram conhecidos pelos professores, mas não explorados. A professora Sônia relatou que as xxxxxx crianças levam um bom tempo para constituir a ideia de número utilizando agrupamentos decimais. Propusemos duas atividades que buscam mostrar se a criança compreende a ideia de operar com agrupamentos. A primeira chama-se “Quem pode comprar mais balas?”, em que a criança deve comparar duas quantidades (quatro moedas de dez centavos e quatro moedas de cinquenta centavos, por exemplo) e dizer com qual delas pode comprar mais balas, e a segunda trata da composição de valores em dinheiro usando cédulas e moedas. Quando tratamos da atividade "Quem pode comprar mais balas?", a professora Alessandra trouxe um exemplo do bar da escola, onde um menino, depois de dar uma cédula de dez reais, não entende porque recebe várias cédulas, mostrando a falta de entendimento do valor do dinheiro. A participante Sandra traz o exemplo de crianças que acham que uma moeda de dez centavos dá para comprar muitos elementos. A participante Elen complementa, relatando o fato da criança não saber o valor monetário dos objetos de compra. Nas reflexões teóricas realizadas no encontro, pude perceber que os professores estavam bastante atentos e observei que vários deles realizavam anotações. Porém, nestes momentos não havia muita interação oral dos participantes. Para finalizar o encontro, cada professor recebeu um caderno com seu nome, em que deve registrar as atividades que será convidado a desenvolver na escola onde atua. Nesse primeiro encontro, os participantes foram convidados a escolher uma das três atividades trabalhadas no encontro, aplicá-la com sua turma, fazendo adaptações de acordo com a faixa etária. Deveriam registrar por escrito e, caso quisessem, poderiam acrescentar imagens ou as próprias produções dos alunos. A proposta de registrar no caderno individual foi bem aceita pelos professores e vários fizeram questionamentos sobre a tarefa a ser executada. No segundo encontro, o relato das atividades que os professores foram convidados a realizar foi um momento que trouxe discussões bem importantes. Todos os participantes trouxeram seu relato. Exceto as professoras Elen e Alessandra, que realizaram a atividade “Quem pode comprar mais balas?”, os demais aplicaram a atividade da carteira. A variação de materiais e metodologias que os participantes utilizaram na atividade da carteira foi bastante xxxxxx significativa e os relatos mostraram que a experiência foi produtiva para os professores, proporcionando que eles realizassem algumas reflexões. Sandra relatou a intensa participação dos seus alunos do segundo ano. José, que é diretor de uma escola e aplicou à atividade com uma turma de primeiro ano, afirmou que ficou surpreso com a atenção das crianças à atividade e acredita que a atividade desenvolve o cálculo mental. Lilian trouxe a experiência de ter desenvolvido outra atividade de cálculo mental, posterior à que sugerimos no encontro. Alessandra e Elen, que realizaram a atividade "Quem pode comprar mais balas?", também apresentaram seus relatos de maneira bastante detalhada. A professora Alessandra realizou uma reflexão importante sobre a atividade. Ela neste ano coordena o Programa Mais Educação na sua escola, mas relata que enquanto professora em sala de aula explorava pouco as potencialidades pedagógicas das cédulas e moedas e acredita que esse é um material com o qual deveria trabalhar mais. Percebe que as crianças têm muita dificuldade em realizar ações de compra e acredita que seu trabalho como professora desenvolveu pouco esta competência em seus alunos. Os relatos de ambas as atividades trouxeram as estratégias utilizadas pelos alunos na resolução das situações propostas, o que contribuiu muito para a discussão. A participante Eva relatou que iniciaria um trabalho de simulação de um supermercado com sua turma de segundo ano, aproveitando a ideia explorar as cédulas e moedas como um recurso pedagógico. A participação dos professores nesta etapa do encontro foi muito satisfatória, fazendo-nos acreditar que as propostas de atividades e a estratégia de mediação foram adequadas. A professora Eva leu o relato que redigiu no diário coletivo, trazendo de forma clara, porém resumida, a descrição do primeiro encontro. Chamou-nos a atenção o fato de que ela começou falando do lanche com o qual foram recepcionadas, mostrando que o acolhimento inicial foi significativo, como esperávamos. Seguimos com uma explanação sobre os agrupamentos decimais, que foram a continuidade da discussão do encontro anterior. As participantes Alessandra e Sandra relataram a exploração do tema nos encontros de Matemática do PNAIC, destacando um xxxxxx jogo que trabalha o agrupamento e outro que trabalha o "desagrupamento", ambos utilizando palitos, que preparam a criança para a adição e a subtração. A discussão e a utilização dos palitos e do material dourado contou com a atenção dos professores e alguns comentários interessantes. Lilian relata que teve o primeiro contato com o material dourado na escola em que trabalha este ano, pois não o havia conhecido na sua formação inicial, que foi de Licenciatura em Pedagogia. Mariana e Erica relatam que trabalharam com o material no Magistério e, na escola em que trabalham com turmas de extraclasse, afirmam que as caixas estão no mesmo lugar desde o início do ano. Sheila, que só trabalhou na Educação Infantil, afirma que conheceu o material dourado na graduação, mas que nas práticas de Estágio nunca viu professores o utilizando. Alessandra relata que quando ingressou na prefeitura de Canoas, houve uma formação, quando teve contato pela primeira vez com o material dourado. Sandra afirma que o utiliza todos os dias com seus alunos do segundo ano e acredita que é um material que auxilia muito o seu trabalho. Apresentamos alguns sistemas de numeração que foram ou são utilizados por diferentes povos. Eves (2004) classifica os sistemas de numeração, que podem ser de agrupamentos simples, de agrupamentos multiplicativos, de numerações cifradas e de numerações posicionais. Como sistemas de agrupamentos simples trouxemos como exemplos o egípcio, o mesopotâmico e o romano. O sistema de numeração chinês é um exemplo que utiliza agrupamento multiplicativo. Um sistema de numeração cifrado é o da Grécia antiga. A numeração Maia e a Indo-Arábica são sistemas de numeração posicional. Após apresentar os sistemas desafiamos os participantes a escreverem os números 574, 475 e 2308 nos sistemas de numeração Egípcio, Chinês e Grego. Nossa intenção era que os professores percebam que um sistema de numeração é uma estrutura complexa, com regras próprias. Isso faz com que o nosso sistema, que é o indo-arábico, não seja tão óbvio na compreensão de crianças nos primeiros anos de escolarização. Outra atividade solicitada, foi que os professores elaborassem e aplicassem uma atividade que investigasse o maior número que seus alunos conhecem e usam, independente do conhecimento escolar. xxxxxx No terceiro encontro, nos relatos da experiência de escrever números em outros sistemas de numeração, foi possível perceber que a maioria gostou da atividade, mas para alguns houve certo desconforto em ter que desacomodar a estrutura de sistema de numeração que já conhecem. Não foram todos os participantes que relataram suas impressões, contrariando o que esperávamos. A professora Sônia, que redigiu o segundo encontro, trouxe uma explanação muito clara do mesmo. Nas informações que trouxemos sobre o sistema de numeração indo-arábico, assim como nas demais reflexões teóricas, percebemos que os professores mostraram-se bastante atentos, fazendo anotações inclusive, mas interagiram pouco oralmente. O mesmo ocorreu na explanação sobre a composição aditiva. Isso, talvez, seja um aspecto que devemos buscar nos próximos encontros, uma maior participação nas discussões teóricas, assim como ocorre nos relatos de experiências. Outra possibilidade, também, é que os professores encarem estes momentos como aula e não como discussão. Já no relato da atividade em que os professores deveriam investigar qual é o maior número que seus alunos conhecem, a participação foi mais produtiva e eles conjecturaram possibilidades para a escolha dos alunos. Foi interessante que alguns trouxeram os registos das crianças, o que possibilitou certa interação com os demais participantes. Realizamos a exploração das fichas escalonadas. Neste momento, houve interessante interação. Alguns professores não conheciam o material e percebi que o manusearam bastante, testando possibilidades. Além disso, alguns participantes trouxeram questionamentos e uma relatou como já tinha usado o material. Quando falamos das representações, um participante trouxe a contribuição de que os conceitos da semiótica são discutidos na formação em Letras, que é a sua área. Para analisar as questões dos cadernos dos cadernos do PNAIC, as levamos em cópias para que os professores pudessem manuseá-las e solicitamos que formassem duplas ou trios. Foi possível perceber que em alguns grupos houve efetiva discussão, mas outros não tiveram a mesma autonomia para discutir ou tiveram dificuldade em compreender a tarefa. Foi possível perceber que os que estão participando desde o início mostraram mais desenvoltura para analisar as atividades. xxxxxx Ao contrário do que previa o planejamento, os professores não analisaram várias atividades, somente uma. Como tarefa para ser realizada fora do encontro, entregamos uma outra, diferente das que foram discutidas, para que eles analisassem individualmente a aplicação da mesma, similar ao que fizeram no encontro. Não solicitamos que a aplicassem. No início do quarto encontro, os professores relataram oralmente sua análise das atividades dos cadernos dois e três do PNAIC. Considerações finais Neste trabalho, relatamos os três primeiros encontros do grupo de professores que compõe nossa coleta de dados para a construção da dissertação do Mestrado Profissional em Ensino de Matemática. Já foi possível perceber que alguns professores realizaram reflexões sobre conceitos matemáticos e até mesmo sobre a sua prática no ensino deles. Acreditamos na formação continuada através de grupos colaborativos como uma possibilidade de desenvolvimento profissional docente. As várias formações, experiências e práticas que os participantes vêm trazendo ao grupo, mediadas por esta autora, buscam estimular suas potencialidades para que ele se torne colaborativo. Estamos discutindo conceitos que compõem os conteúdos matemáticos dos anos iniciais, pois acreditamos que eles devem estar constituídos pelo professor que ensina Matemática, para que ele desenvolva sua ação docente cada vez mais autônomo. REFERÊNCIAS BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997. EVES, Howard. Introdução à história da Matemática. Campinas: Editora da UNICAMP, 2004. xxxxxx FARIAS, Maria Eloísa. GODINHO, Janaína Dias. O Diário Coletivo como registro do grupo de discussão: uma estratégia reflexiva na formação continuada de professores. In: GROENWALD, Cláudia Lisete de Oliveira; GELLER, Marlise (Org.). Formação continuada de professores de Ciências e Matemática: do Projeto Observatório da Educação aos resultados da pesquisa. Canoas: Editora da Ulbra, 2015. FIORENTINI, D. Pesquisar práticas colaborativas ou pesquisar colaborativamente? In: BORBA, M. C.; ARAÚJO, J. L. (Org.). Pesquisa qualitativa em educação matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. FIORENTINI, Dario. LORENZATO, Sérgio. Investigação em Educação Matemática: percursos teóricos e metodológicos. 3. ed. Revisada. Campinas, SP: Autores Associados, 2012. NACARATO, Adair Mendes. Desenvolvimento profissional do professor que ensina Matemática: Uma meta-análise de estudos brasileiros. Quadrante. Lisboa. Vol. XV, Nº 1 e 2, p. 193-219, 2006. Disponível em: <http://www.apm.pt/portal/quadrante.php?id=70262&rid=70245>. Acesso em: 01 jul. 2015. PIMENTA, S. G.; GARRIDO, E.; MOURA, M. O. Pesquisa colaborativa na escola facilitando o desenvolvimento profissional de Professores. In: REUNIÃO ANUAL DA ANPED, 24, Caxambu, MG, 2001. Anais. Caxambu: 2001. xxxxxx