DESAFIOS DO ENSINO-APRENDIZAGEM DE CIÊNCIAS: A (DES) MOTIVAÇÃO EM FOCO Edvaneide Leandro de Lima1, Patrícia Paula da Silva2 e Monica Lopes Folena Araújo3 Introdução As ciências naturais são parte integrante de nosso dia-a-dia, o ambiente que nos cerca e nosso próprio organismo é permeado por fenômenos naturais. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), o papel das Ciências Naturais é o de situar o educando como sujeito pertencente ao universo no qual está inserido e proporcionar a compreensão do mundo como também suas transformações [1]. O ensino de ciências tem crescido em importância com o passar dos anos. Antes o ensino de ciências tinha por objetivo a formação e identificação de uma elite, atualmente tem a função de formar cidadãos e não apenas um grupo de pessoas com posses [2]. Quando motivado o educando desenvolve capacidades intelectuais, sociais, culturais e até mesmo religiosa. Apresenta-se de fato como cidadão e agente ativo na sociedade. Esta motivação é intrínseca do ser humano, configurando-se na busca de exercitar suas próprias capacidades para gerar satisfação pessoal. Segundo o dicionário Aurélio, motivação é o ato ou efeito de motivar. Para alguns cientistas a motivação é um fator que determina o comportamento. É necessário, entretanto o sentimento de competência e autodeterminação. O indivíduo deve estar com sentimento de autonomia, bem estar social. Há uma estreita relação de motivação que pode ser estabelecida entre o educando e o professor. Este vai ocorrer na medida em que o professor tenha uma postura que vise o desenvolvimento pleno e que garanta uma relação segura, onde o professor esteja disponível para atender as necessidades e expectativas do seu alunado. A Teoria da Autodeterminação [3] afirma que existe três necessidades psicológicas para que ocorra a motivação intrínseca. São elas: a necessidade de se sentir autônomo, de competência e de criar vínculos [3]. O presente estudo tem como objetivo analisar quais os motivos que levam os alunos a não se interessarem por aulas de ciências identificando o que eles gostam ou não nessas aulas e quais são as causas que levam a esta desmotivação. Além de verificar se existe alguma relação entre o gostar ou não da disciplina e o professor. Também pretende analisar como são as aulas de ciências e como os alunos gostariam que as mesmas fossem. Material e métodos O presente estudo refere-se a uma pesquisa qualitativa. Segundo Neves (1996), na pesquisa qualitativa a obtenção de dados descritivos é mediada pelo contato direto e interativo do pesquisador com a situação objeto de estudo. Os participantes da pesquisa foram 22 alunos do 6º ano e 20 alunos do 7º ano do ensino fundamental II de uma escola pública do Recife, localizada na zona norte da cidade. A observação e o questionário contendo 8 perguntas, sendo duas fechadas e seis abertas, foram os instrumentos de coleta de dados. Resultados e discussão Quando questionados se gostavam da professora de ciências, 12 alunos responderam que sim e 04 disseram que gostavam de todos os professores. Isto mostra que há uma boa relação entre aluno e professor. Martinho e Pombo [4] obtiveram através de questionários aplicados a alunos entre 12 e 14 anos, com relação ao gostar do professor, 20 respostas positivas. Desse modo, é notório a existência de boa relação entre professor e alunado. Em relação ao que mais gostam nas aulas de ciências os mesmos responderam que gostam da matéria por falar do meio ambiente como disse um aluno A1: “Porque descobrimos coisas novas, também preservamos o meioambiente e os animais”. “Já o aluno A2 afirmou: “minha matéria preferida é ciências porque ela fala sobre os animais etc.”; e o aluno A3 alegou que gosta da “cadeia alimentar porque um bicho devora os outros”. O aluno A4 atestou que gosta “de tudo porque é a melhor matéria e a que mais ensina mais sobre tudo de doença”. Observamos com estas respostas que os alunos fazem uma relação do meio em que estão inseridos com o que foi construído na escola. Cerca de 12% dos entrevistados disseram que a professora fala muito rápido, no entanto todos os outros afirmaram que ela explicava bem e se preocupa com os alunos. Assim, identificamos que até o modo de falar de um professor pode levar os alunos à desmotivação. Com relação a prestar atenção às aulas, alguns alunos responderam que o faziam porque querem passar de ano, outros por acharem a disciplina interessante, ou por respeito ao professor. É importante ressaltar que houve ________________ 1. Primeiro Autor é Aluna do Curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Manuel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP: 52171-900. E-mail: [email protected] 2. Segundo Autor é Aluna de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, S/N, Recife – PE. CEP: 52171-900. E-mail: patrí[email protected] . 3. Terceiro Autor é Professora do Departamento de Educação, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, S/N, Recife – PE. CEP: 52171-900. E-mail: [email protected] . respostas como: “não presto atenção porque fico brincando”, “as vezes quando eu acho boa”. Existem de fato alunos que já vêm sem interesse de casa para a escola. Os alunos, quando perguntados sobre o que fazem quando a aula está ruim, mais da metade respondeu que ficam quietos como pode ser observado na figura 01. Com relação a como são as aulas de ciências, os alunos responderam que são boas: “é muito bom e interessante porque é para o meu futuro, porque quando crescer quero ter um bom emprego”. No entanto, alguns disseram que: “são legais, dá para até para chamar de agradável”, “bom dá para levar”, “o professor lê e copia muito”. Ao serem questionados sobre como deveria ser uma aula de ciências, os educandos disseram que: “eu queria que ela levasse a gente para o laboratório”, “queria saber tudo que não sei”, “com brincadeiras”, “abrir pessoas mortas, dissecar animais e fazer experiências”. Os alunos gostariam que a professora usasse na sala “brincadeiras de ciências”, “passeios, tarefas etc”, “brincadeiras, perguntas valendo nota para ver o nosso desenvolvimento, se nós prestamos atenção na aula dela”, “eu queria que ela ensinasse com mais dinâmicas”, “levar a gente para o Espaço Ciência que lá a gente ia entender melhor”. Desta forma, a motivação pode acontecer mediante a aplicação de técnicas e práticas que estimulem o aluno a vivenciarem as atividades, descobrindo o sentido delas no cotidiano, individualmente e em sociedade. Podemos pensar em atividades com a utilização de Tecnologia de Informação e de Comunicação (TCI), como computador, software multimídia, ferramentas de projeção [4]. Aulas de campo, visitas a museus, brincadeiras educativas e debates em sala de aula, também são boas opções motivadoras para o ensino. Frente aos dados encontrados, percebemos que os alunos encontram-se desmotivados por não terem aulas dinâmicas, que os instiguem sobre a utilidade da ciência em sua vivência cotidiana. Referências [1] [2] [3] [4] BRASIL. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS. ENSINO MÉDIO. MEC/SEB, 2000. KRASILCHIK, Myriam. 2000. Reformas e Realidade: O caso do ensino das ciências. São Paulo Perspectiva. [online], 14: 85-93. http://www.scielo.br/scielo. Acesso em 18 set. 2009. GUIMARÃES, S.E.R. 2004. O estilo motivacional do professor e a motivação intrínseca dos estudantes: uma perspectiva da teoria da autodeterminação. Psicologia: Reflexão e Crítica. 17: 143-150. http://www.scielo.br/scielo . Acesso em 18 set. 2009. MARTINHO, T. & POMBO, L. 2009. Potencialidades das TIC no Ensino das Ciências Naturais – Um Estudo de Caso. Revista Electrónica de Enseñanza de lãs Ciências, 8: 527-538. NEVES, J.L. 1996. Pesquisa qualitativa: características, usos e possibilidades. Caderno pesquisas em administração, V1 nº 3, 2º SEM. Opinião dos alunos em relação a forma como o professor ensina Explica bem Comportamento dos alunos quando a aula está ruim É mal humorado 4 2 Não se preocupa com o aluno 0 5 0 Preocupa-se com o aluno Outras características Chama o colega para conversar Fala com o professor 7 Fala muito rápido 13 39 37 Sai da sala 31 Joga no celular Fica quieto 4 4 Outros. Quais Figura 1. Gráficos das respostas dos alunos as questões 01 e 05. Os mesmos poderiam dar mais de uma resposta. Dados mostram os números de alunos que responderam tais perguntas.