1
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
A utilização das Histórias em Quadrinhos no Ensino de Ciências e
Biologia
Rafael Silva Banti
406.2274-6
São Paulo
2012
2
Faculdade Presbiteriana Mackenzie.
Centro de Ciências Biológicas e da Saúde.
A utilização das Histórias em Quadrinhos no Ensino de Ciências e
Biologia
Monografia apresentada ao
Centro de Ciências Biológicas e
da Saúde, da Universidade
Presbiteriana Mackenzie como
parte dos requisitos exigidos para
a conclusão do curso de Licenciatura
em Ciências Biológicas.
São Paulo.
2012
3
Dedico este trabalho aos meus pais
Waldir Renato Banti e
Dirce Maria Silva Banti
Eu os amo
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao Centro de Ciências Biológicas e da Saúde CCBS-UPM pela
excelência na qualidade de ensino que me fizeram capaz de alcançar esta
etapa de minha vida
Agradeço ao meu orientador, Prof. Dr. Waldir Stefano, pela paciência e
compreensão ao longo de nossa experiência e por acreditar de maneira
inabalável na minha competência para a realização deste trabalho.
Agradeço aos meus pais, que se esforçaram para este momento finalmente
chegar e seus exemplos sempre me alicerçaram para a formação do ser
humano que sou.
Agradeço aos meus irmãos, Mateus Silva Banti e Renato Silva Banti,
minha cunhada Lucila Garcia pelo amor e carinho que me foram
dedicados e minha sobrinha Laís Cortelazzi Banti que me enche os olhos de felicidade
toda vez que a encontro e ao meu sobrinho Benjamin Cortelazzi Banti que está a
caminho de se tornar mais uma felicidade em minha vida
Agradeço aos meus colegas de faculdade que tanto me ajudaram para este
momento chegar, assim como meus colegas de trabalho que pelos seus
ensinamentos tornaram possível minha formação como profissional.
Agradeço à minha namorada Daniela Christianini Komatsu e sua filha
Alana Komatsu dos Santos pela paciência e compreensão das minhas
ausências que foram necessárias para elaboração deste trabalho.
5
Se você acha que educação é cara,
experimente a ignorância.
(Derek Bok)
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Resumo
As Histórias em Quadrinhos (HQs) são um veículo comunicativo com enorme
potencial em atingir milhares de pessoas em todo o mundo. Isto é explicitado pelos
milhares de tiragens espalhadas pelo mundo, além de que as HQs possuírem os mais
variados temas.
Com a crescente popularização das HQs surgiram críticos contra a moralidade
das histórias e foi necessária uma reunião da associação de revistas de quadrinhos a fim
de garantir um selo de qualidade para as anedotas, o que favoreceu à decadência, não só
da qualidade das HQs, mas também das editoras que obtiveram sucessivos débitos
econômicos levando à falência muitas dela. Além do mais, isso promoveu para o
ressurgimento à resistência por parte das escolas e pais, à leitura das HQs bem como o
seu emprego no ensino.
Porém, esse cenário vem mudando atualmente e a utilização de histórias em
quadrinhos nas escolas vem em uma crescente por numerosos estudos sobre os
benefícios da leitura e da produção artística e educativa que as HQs promovem em seus
leitores e seus escritores.
Diversos autores relatam experiências práticas sobre a utilidade das Histórias em
Quadrinhos no ensino de Ciências, ao abordarem as linguagens utilizadas, tanto verbais,
quanto visuais; além de analisarem os termos científicos empregados nas HQs e de que
forma essa leitura lúdica contribui para professores e alunos.
Aliar a prática pedagógica empregando tecnologias educacionais lúdicas com
outros mais tradicionais, como o livro didático, evidencia no aumento do interesse dos
alunos ao temas abordados em sala de aula, além do incentivo à leitura e ao estímulo da
criatividade dos estudantes quando em contato com as Histórias em Quadrinhos.
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Abstract
The Comics (comics) are a communication vehicle with great potential to reach
thousands of people around the world. This is explained by the thousands of runs
around the world, and that comics have all kinds of subjects. With the growing
popularity of comics critics emerged against the morality of the stories and took a
meeting of the association of comic books in order to ensure a quality seal for the
anecdotes, which favored the decay, not only the quality of the comics, but also of
publishers who had debts successive economic bankrupting many of her. Moreover, it
promoted a resurgence of resistance by schools and parents to read the comics as well as
its use in teaching.
However, this scenario has changed now and the use of comics in schools is a
growing number of studies on the benefits of reading and art production and education
in promoting the comic book readers and writers. Several authors describe practical
experiences on the usefulness of comics in science teaching, to address the language
used, both verbal and visual, in addition to reviewing the scientific terms used in comics
and how this contributes entertaining reading for teachers and students.
Combine pedagogical practice using educational technologies play with other
more traditional, such as textbooks, evident in the increased interest of students to issues
addressed in the classroom, in addition to encouraging reading and encouraging the
creativity of students when in contact with the comics.
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Índice
Introdução..............................................................................................................9
Referencial Teórico..............................................................................................13
Objetivos............................................................................................................. 23
Metodologia........................................................................................................ 24
Resultados e Discussão........................................................................................25
Conclusão.............................................................................................................32
Referências Bibliográficas...................................................................................34
9
1-) Introdução
As Histórias em Quadrinhos (HQs) são um veículo comunicativo com enorme
potencial em atingir milhares de pessoas em todo o mundo. Isto é explicitado pelos
milhares de tiragens espalhadas pelo mundo, além de que as HQs possuírem os mais
variados temas.
Sua fama se deu em decorrência de sua produção ser em escala industrial, além
da capacitação de profissionais que a ela estão ligados, como roteiristas, desenhistas,
editores, entre outros. Ademais, as histórias em quadrinhos foram uma das pioneiras
nessa padronização no processo de produção globalizado em termos econômicos, o que
certamente favoreceu para sua fixação no âmbito comercial editorial (RAMA e
VERGUEIRO, 2004).
O uso da imagem gráfica é empregado desde que o Homem surgiu na Terra e
começou a utilizá-la para inscrição nas paredes das cavernas como meios de
comunicação para informações essenciais, do tipo: conquista de uma presa, demarcação
de território entre outros.
Com isso, dia após dia a cada conquista, cada conhecimento novo do mundo, o
Homem documentava essas notificações. Caso fosse possível unir essas marcações,
quadro a quadro, estaríamos montando uma história quadro a quadro (RAMA e
VERGUEIRO, 2004). Mesmo nos dias atuais, o ser humano sempre registra suas
impressões do mundo, desde pequeno, na forma de desenhos, com um único objetivo
simples: comunicar-se. Ainda que tivesse um resultado expressivo, a comunicação
somente pela linguagem gráfica apresenta limitações, mas principalmente otimiza o
tempo na comunicação.
É nessa obrigação que nasce o alfabeto fonético, que transforma a transmissão
de mensagens em algo que os desenhos não conseguem. Porém, no início o contato com
o alfabeto fonético somente era para classes mais altas da sociedade, fazendo com que a
imagem gráfica permanecesse como um dos principais elementos de comunicação
garantindo assim sua permanência. Ademais, mesmo com o surgimento da imprensa a
comunicação através de desenhos perdurou e manteve-se, ainda como uma dos mais
importantes e imponentes veículos de comunicação humana (RAMA e VERGUEIRO,
2004).
Mais tarde, na história da humanidade, surge a indústria tipográfica que com
sucesso conseguia conectar as linguagens gráfica e impressa, atingindo seus objetivos
10
comunicativos. Isto pode ser observado nos diversos folhetins publicados no século
XVIII e XI, além do humor britânico do século XVIII.
Com essa crescente evolução que a imprensa gráfica pegou carona nas
revoluções industrial, francesa e norte-americana, criou-se um cenário propício para o
seu estabelecimento como um meio de comunicação em massa, com seus fortes
elementos linguísticos que uma história em quadrinhos contém, foi nos Estados Unidos
que atingiu seu apogeu no final do século XIX, devido à disponibilidade tecnológica
que o país desfrutava e de sua cultura social consumista favoreceram para a
consolidação das HQs como um produto de consumo das massas (RAMA e
VERGUEIRO, 2004). Foi nas páginas dos jornais de domingo e focados nos imigrantes
e utilizando linguagens humorística e satírica aliada a desenhos de personagens
caricaturais, que as HQs norte-americanas ganharam cada vez mais espaço nos jornais,
vendo suas publicações diárias. Sob esse cenário nascem as famosas “tiras” dos jornais,
com histórias e temas diversos.
Ainda, Rama e Vergueiro (2004) relatam o forte enraizamento nos syndicates1
que as HQs focavam no padrão de vida norte-americano, assim como o cinema, o que
contribuiu para a globalização dos valores e cultura dos EUA. Isso também contribuiu
para o surgimento de HQs no mundo inteiro, por exemplo, no Brasil, onde surgiram os
gibis, com o aparecimento de super-heróis, principalmente com fortes histórias
temáticas vinculadas da Segunda Guerra Mundial.
Porém, a fama atual das HQs que no passado fora posta em questão devido sua
produção ser quase que exclusivamente às crianças e aos adolescentes, pais e
professores duvidavam de sua legitimidade em colaborar na capacitação de valores
culturais e morais, em razão de seu forte apelo comercial. Com isso, ficam explícitas as
razões pelas quais houve tanto preconceito e tantas limitações na veiculação escolar
(RAMA e VERGUEIRO, 2004).
Com essa crescente popularização das HQs surgiram críticos contra a
moralidade das histórias, foi necessária uma reunião da associação de revistas de
1
Os Syndicates são grandes organizações distribuidoras de notícias e material de entretenimento para
jornais de todo o mundo. Possuem os direitos autorais sobre as histórias em quadrinhos, bem como são
responsáveis pela distribuição; não só internamente, mas também para outros países. Os Syndicates
possuem um código de ética que relata sobre diversas regras a serem seguida, como por exemplo, as
tirinhas não devem conter preconceitos, palavras de ofensas, não ofender o leitor entre outros (RAMA e
VERGUEIRO, 2004; COSTA, 2012)
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quadrinhos a fim de garantir um selo de qualidade para as anedotas, o que favoreceu à
decadência, não só da qualidade das HQs, mas também das editoras que obtiveram
sucessivos débitos econômicos levando à falência muitas dela. Além do mais, isso
promoveu para o ressurgimento à resistência por parte das escolas e pais, à leitura das
HQs bem como o seu emprego no ensino (RAMA e VERGUEIRO, 2004).
No Brasil, não foi diferente. Os principais editores de revista decidiram realizar
um “Código de Ética dos Quadrinhos” 2 na qual era postulado uma série com 18
instruções de como se confeccionar as HQs, na qual basicamente:
1) HQs devem ser um instrumento educacional;
2) Não deve sobrecarregar a mente das crianças, servindo ao propósito de higienização
mental, não possuindo um caráter extensivo sob o ponto de vista curricular escolar;
3) As HQs não devem influenciar perniciosamente a juventude além de não aflorar
exageradamente os desejos de imaginação;
4) Devem exaltar o papel dos pais e professores sem a depreciação de quaisquer um
desses representantes sociais;
5) Não seja desrespeitoso às nenhum religião ou raça;
6) Exaltar a democracia e os representantes da pátria, sem lisonjear os tiranos e inimigos
do Estado e da liberdade;
7) Respeito à família, bem como não expressar o divórcio como a solução para os
problemas conjugais;
8) Não podem ser apresentadas nem sugeridas, quaisquer relações sexuais, cenas de
amor entre outros;
9) São proibidos pornografias, vulgaridades etc.;
10) É proibido o emprego de gírias e palavras de uso popular;
11) São inaceitáveis ilustrações provocantes, como nudez e a exibição de partes íntimas;
12) Deverá ser evitada a menção de defeitos físicos e deformidades
13) Não poderão ser veiculadas nas capas e afins histórias de terror, violência etc.;
14) As forças da lei devem triunfar sobre a perversidade e o mal, sendo o crime
apresentado como uma atividade sórdida e indigna e os criminosos sempre punidos e
não poderão ser apresentados com heróis;
2
Cabe ressaltar que esse código fora realizado durante o Regime Militar Brasileiro, em 1976 por um
conglomerado de editoras, as quais: Editora Gráfica O Cruzeiro, Editora Brasil-América Ltda, Rio
Gráfica e Editora Abril (Adaptado de SILVA, D da. Quadrinhos para quadrados. Por Alegre: Bels, 1976.
p. 102-104).
12
15) Não poderão ser vendidas figurinhas
16) Não poderão ser violados os códigos de bom gosto e de decência;
17) Todo o código deverá sem empregado não somente aos textos e desenhos, mas
também às capas;
18) As revistas deverão postar nas capas o selo indicativo deste código.
O emprego das HQs no Brasil durante o regime desse código dentro das editoras
prevaleceu à leitura pela classe “pensante” da sociedade, além de que a sua leitura ficou
vinculada ao afastamento dos jovens de “objetivos mais nobres” - como o conhecimento
do “mundo dos livros” e o estudo de “assuntos sérios”, Rama e Vergueiro (2004, p.
16) alertam para o prejuízo que as histórias em quadrinhos causavam ao rendimento
escolar, entre outros fatores cognitivos, como apreensão de idéias e relacionamento
social e afetivo. Com essa situação mal dita pela sociedade, as HQs tornaram-se as vilãs
para construção de uma sociedade justa e civilizada.
Porém, esse cenário vem mudando atualmente e a utilização de histórias em
quadrinhos nas escolas vem em uma crescente por numerosos estudos sobre os
benefícios da leitura e da produção artística e educativa que as HQs promovem em seus
leitores e seus escritores.
Diversos autores relatam experiências práticas sobre a utilidade das Histórias em
Quadrinhos no ensino de Ciências, ao abordarem as linguagens utilizadas, tanto verbais,
quanto visuais; além de analisarem os termos científicos empregados nas HQs e de que
forma essa leitura lúdica contribui para professores e alunos.
Aliar a prática pedagógica empregando tecnologias educacionais lúdicas com
outros mais tradicionais, como o livro didático, segundo os autores, evidencia no
aumento do interesse dos alunos ao temas abordados em sala de aula, além do incentivo
à leitura e ao estímulo da criatividade dos estudantes quando em contato com as
Histórias em Quadrinhos.
Tendo em vista a necessidade crescente que o emprego de tecnologias
educacionais lúdicas e assumindo que as histórias em quadrinhos têm essa função na
educação, faz-se necessário estudar e analisar os benefícios do uso das HQs no ensino
de Ciências e Biologia, de acordo com as técnicas que lhe são peculiares, como as
linguagens gráfica e escrita.
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2-) Referencial Teórico
Em diversos artigos, livros e outras referências lê-se muito sobre a CTS
(Ciência, Tecnologia e Sociedade) e de que forma essa interconexão da Ciência está
inserida na tecnologia, seja industrial ou na área de saúde (com novos medicamentos,
novas pesquisas, novos métodos curativos de diversas doenças) e principalmente de
como o estudante - como parte da sociedade – usufrui esse conhecimento.
Para Krasilchik e Marandino (2004), o ensino de Ciências sofreu mudanças,
desde sua aplicação inicial a qual limitava-se a ser expositiva, neutra e
descontextualizada e passou a ser contextualizada e analisada de como essa evolução
científica – de diversas formas – traz conseqüência à sociedade.
Dessa forma, o ensino de Ciências se alterou de papel na sociedade; antes vista
como uma espécie de salvadora na história da humanidade, tornando-se prejudicial, até
dela mesma, como em crises de caráter econômico, ambiental e culminando em crises
sociais (KRASILCHIK e MARANDINO 2004).
Sob esta óptica de que a produção científica afeta nosso meio ambiente, a
economia e por fim, a sociedade, a prática do ensino de Ciências se depara com uma
grande responsabilidade, de não só lecionar os conteúdos programáticos, mas de
levantar essas questões aos alunos provocando-os ao pensamento crítico de como ele
pode ser ou estar dentro dessa interface da CTS.
O aluno deve aprender a linguagem com o propósito de se tornar crítico e
responsável em seu posicionamento acerca de diferentes situações e de forma
construtiva, utilizar o diálogo para lidar com conflitos e na tomada de decisões. Além de
ser capaz de expressar suas opiniões, seus sentimentos e idéias, mas principalmente
também de saber interpretar e considerar as argumentações dos outros e, principalmente
sabendo discutir essas idéias (BRASIL, 2000)
É neste sentido que analisar o ensino de Ciências dentro da sala de aula torna-se
essencial para observar se o professor é capaz de provocar no aluno um olhar crítico do
desenvolvimento científico, tecnológico e social. Diferentes abordagens de ensino são
relevantes para essa incitação ao pensamento crítico e ao posicionamento social do
aluno, e cabe ao professor abrir novas possibilidades para a discussão entre os mesmos,
podendo, pois, os estudantes capazes de modificar a dinâmica da aula sendo eles os
principais agentes das suas construções de conhecimento (CANDELA apud: WINCH,
2007).
14
Porém, realizar atividades em grupo, aplicar novas metodologias de ensino não
esgota a forma de se ensinar Ciências caso o decente não se preocupar de que forma
ocorrerá a socialização de termos e do conhecimento científico. Cabe ao professor,
discutir de forma contextualizada e em qual momento de sua vida aquele determinado
tema abordado será aplicado. Mas não só, essa contextualização dos assuntos
disciplinares não deve ter somente um sentido de aplicabilidade, mas sim ter um sentido
em si próprio quando estudado e ensinado.
Para Lewontin (2000) o aluno descobre sua realidade a partir de suas próprias
experiências podendo determiná-la a partir da interação com o mundo externo e com
isso essa construção de conhecimento dar-se-á através da interação entre professor e
aluno. Conhecimento este que é as Ciências, a qual é intrinsecamente influenciada pelas
diversas instituições sociais, que também as influencia.
Nesse sentido de relação entre alunos e professor e na melhoria da qualidade
desses processamentos cognitivos por parte do aluno, Guedes (2007), afirma que um
trabalho em grupo aperfeiçoa também qualidades relacional e emocional, uma vez que
promove diferentes habilidades sócio-culturais como cooperação e integra ao ambiente
de trabalho descontração, preparando o estudante a se deparar com diversas culturas e
entrando em contato com a diversidade.
Porém, a utilização de apenas atividades que promovem essa ação conjunta de
debates entre os agentes educacionais, não garante que essa prática seja efetivamente
educacional e positiva para o desenvolvimento cognitivo. Ocorre nas escolas de Ensino
Fundamental o que a autora chama de “esvaziamento de conteúdos”, devido
principalmente pela desatualização e ausência de domínio por parte dos docentes, no
que diz respeito aos conceitos abordados. Pode-se perceber que o ensino de Ciências
está atrelado, portanto, não só pela forma como determinado conteúdo é abordado e
lecionado, mas também pelo domínio do assunto que o professor detém, sendo que este
último é também imprescindível ao ensino (WEISSMANN apud: TRENCHE, 2007).
A fim de superar essa deficiência no ensino, principalmente ao que tange do que
ser ensinado, Carvalho (2004) aborda alguns critérios de ensino que consigam interligar
três faces do processo de ensino aprendizagem, os quais: aspectos conceituais,
procedimentais e atitudinais.
O primeiro critério estruturante passa pelo que aborda as CTS, como dito
anteriormente, visando observar as evoluções que atravessa a sociedade e a produção
científica. No que diz respeito à face procedimental o ensino de Ciências não deve ser
15
mais um ensino de pura transmissão de conceitos e conteúdos científicos, mas de um
processo de “aculturação científica” (MATTHEWS apud: CARVALHO, 2004). Este
tipo de aspecto deve levar o estudante a ser o seu próprio construtor de conhecimento,
fornecendo-lhe condições para seu próprio “aculturamento científico” que seja capaz de
defender suas idéias a respeito de determinado assunto, trabalhando com aqueles
conceitos do PCN abordados anteriormente.
As propostas contidas no PCN para a renovação do ensino de Ciências Naturais
orientam-se pela necessidade de o currículo responder ao avanço do conhecimento
científico e às demandas pedagógicas geradas por influência de um movimento
denominado Escola Nova. (BRASIL, 1998).
Essa influência modificou a proposta pedagógica, até então puramente lógica,
para uma abordagem que considera os aspectos psicológicos, valorizando a participação
ativa do estudante no processo de aprendizagem. Não só a proposta pedagógica foi
alterada, como também os objetivos foram modificados, na medida em que aspectos
antes meramente informativos deram lugar a formativos. Com isso, as atividades
práticas passaram a representar importante elemento para a compreensão ativa de
conceitos abordados em sala, mesmo que sua implementação seja difícil, em escala
nacional.
Para tanto, o objetivo fundamental do ensino de Ciências Naturais passou dar
condições para o aluno vivenciar o que se denominava método científico, ou seja, a
partir de observações, levantar hipóteses, testá-las, refutá-las e abandoná-las quando
fosse o caso, trabalhando de forma a redescobrir conhecimentos. Neste modo, há
ligação com o proposto por Carvalho (2004) nos critérios conceituais, procedimentais e
atitudinais.
Uma das ferramentas que pode ser utilizada nessa construção do conhecimento
científico são as histórias em quadrinhos (HQs), devido a sua popularidade, fácil
linguagem empregada, ampla disseminação mundial, a utilização de desenhos,
expressões faciais; enfim, vários são os atrativos disponíveis em uma história em
quadrinhos (ARAÚJO; COSTA; COSTA, 2005; LUYTEN, 2011).
Ainda segundo a autora, as HQs representam a linguagem do século XX e
persistem no século XXI, pelos símbolos e terminologias empregados na construção
dessas que é considerada a “nona arte”. Elas se expressam, segundo Luyten (2011), a
partir de “códigos ideográficos” que não precisam ser interpretados, essa é a grande
16
vantagem das HQs; mesmo com a complexidade das imagens a compreensão é feita
naturalmente sem considerações posteriores.
A figura 1 mostra essa ideia da autora ao criar uma imagem que relata sobre a
produção industrial e suas consequências geradas na natureza, bem como se utilizando
de palavras, não para explicar a história, mas sim enfatizar a ideia inicial proposta:
Figura 1. Tirinha criticando o desenvolvimento industrial por promover a destruição do futuro da
Terra (DEPÓSITO..., 2012).
O espaço e o respeito às histórias em quadrinhos dentro das salas de aula está
aumentando, uma vez que seu emprego em um programa popular e criativo foca novos
leitores e incentiva a criação e a contextualização. Um forte aliado pedagógico, as HQs
propiciam ao aluno o contato com narrativas desde o começo do aprendizado até
aquisição de novas linguagens. Os alunos, tanto crianças quanto adolescentes,
acompanham as histórias do início ao fim, compreendem o tema central, os
personagens, a noção de tempo e espaço sem a necessidade daquela explicação ou
fechamento das idéias (LUYTEN, 2011). Para a autora, as imagens apoiam o texto e
dão aos alunos pistas contextuais para o significado da palavra. Os quadrinhos atuam
como uma espécie de andaime para o conhecimento do estudante (LUYTEN, 2011, p.
6).
17
A figura 2 retrata a união entre imagem e palavra que servem de apoio ao aluno,
como segue:
Figura 2. Tirinha relacionando um mesmo tema com abordagens diferentes. (DEPÓSITO...,
2012).
Além dessas características intrínsecas às histórias em quadrinhos, outra que
pode ser classificado como inerente à sua leitura, é que elas incentivam e estimulam
aqueles estudantes que se opõem à leitura e ao aprendizado. Há o envolvimento entre o
leitor com a história, devido ao estilo literário que é de fácil compreensão para o aluno,
é como se as HQs falassem a língua dos leitores, como se conhecessem, se
identificassem. Ademais, elas fornecem ao estudante um livro que combina diversos
atrativos, como imagem empregadas com texto para representar simbolismos, pontos de
vista, drama, humor, sátira, tudo isto num só texto (LUYTEN, 2011, p. 7).
Assumindo o papel das HQs como uma ferramenta de ensino tecnológica e nãoformal, ela mostra-se como um dos veículos auxiliares à contextualização do ensino de
ciências. A figura 3 pode ser utilizada como exemplo contextualização do ensino.
18
Figura 3. Tirinha podendo contextualizar a genética dentro da sala de aula. (DEPÓSITO...,
2012).
Alvo de tantas críticas em diversos trabalhos e discussão nas salas de formação
de professores, contextualizar o ensino de Ciências e Biologia faz-se necessário, uma
vez que por ser um modelo de tecnologia educacional e por estar inserida na sociedade
há séculos – como descrito anteriormente – pode-se considerar que as HQs se
enquadram nas CTS. Além de que as histórias em quadrinhos abordam ou podem em
suas anedotas situações cotidianas do uso das tecnologias (CARUSO; CARVALHO;
SILVEIRA, 2005; REIS e CICILLINI, 2001).
Os autores ainda acreditam que o emprego dessa tecnologia educacional auxilia
na transformação do ensino formal através do não-formal na medida em que as HQs
ultrapassam os muros formais e formalizantes da escola, principalmente pelo fato das
histórias em quadrinhos utilizarem fatores tão determinantes quanto os conteúdos
19
formais do ensino, como a diversão, o amor, a família além das características
explicitadas anteriormente.
Além do mais que ensinar Ciências e Biologia as HQs possibilitam a pesquisa
pedagógica ao analisar o emprego e as contribuições dessa tecnologia educacional no
ensino, somada às vantagem de sua aplicação em sala de aula, bem como a formação da
alfabetização científica nas séries iniciais escolares (PIZARRO e JUNIOR, 2009).
Ainda, diversas publicações citadas por Pizarro e Junior (2009, p. 1), incitam a
[...] leitura, construção de história em quadrinhos (HQ) por parte dos alunos,
análise de conteúdos científicos presentes em gibis comerciais, a contribuição
deste material para a divulgação científica, a imagem distorcida da Ciência
presente em seus enredos, o ensino de conteúdos conceituais de forma bem
humorada, dentre outras.
Segundo os autores Araújo, Costa e Costa (2008), Pizarro e Junior (2009)
mesmo que há essas possibilidades de pesquisa e uso das HQs, inexistem propostas
pedagógicas bem como delimitações das práticas, tampouco estratégias métodos
educativos e avaliativos do processo de ensino-aprendizagem de forma planejada e
organizada.
Algumas universidades brasileiras, através de seus professores e pesquisadores
em diversas áreas, como física, química e educação; promovem oficinas de criação,
leitura, interpretação de inúmeras histórias em quadrinhos (ARAÚJO; COSTA;
COSTA, 2005; CARUSO; CARVALHO; SILVEIRA, 2005). Dessas oficinas e
minicursos, Araújo, Costa e Costa (2008) perceberam as HQs são capazes de integrar
diversas disciplinas escolares, como história, geografia, biologia etc., promovendo
aquela interdisciplinaridade proposta pelos PCN+, além da contextualização
previamente estabelecida em parágrafos anteriores. A figura 4 demonstra que as HQs
podem conter elementos que promovam não só a interdisciplinaridade, mas também a
intradisciplinaridade como ressaltam os autores.
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Figura 4. Tirinha contendo caráter interdisciplinar e intradisciplinar. (DEPÓSITO..., 2012).
Ainda, a promoção de cursos, oficinas e minicursos floresceu o interesse de
alunos de outras disciplinas dentro da universidade como relata Araújo, Costa e Costa
(2005).
Caruso (2002) cita que as HQs ou as tirinhas (que são produções em menor
escala e também com estórias mais enxutas) ressaltam o papel fundamental das imagens
e linguagem utilizadas, além delas exigirem do autor três grandes desafios, não produzir
histórias que promovem a memorização do leitor; confeccionar histórias que desperte a
curiosidade e permitir ao aluno que reflita e aprenda sobre o tema abordado a partir de
suas próprias conclusões e dedução, mesmo que seja com auxílio do professor.
Isso mostra como as tirinhas e as HQs não devem ser óbvias, tampouco inibirem
a capacidade investigativa do estudante ao entrar em contato com as histórias em
quadrinhos.
De fato, muito mais que trazer consigo a diversão e lazer as HQs são
extremamente capazes de rechear suas histórias com conteúdos, nos quais seu principal
aliado são os personagens, em razão da sua fala familiar, a capacidade de aproximar-se
do leitor e dos diversos conceitos a ele embutidos, tornam-se um material muito
atrativo, para alunos e professores (PIZARRO, 2009; LYUTEN, 2011). Ainda,
21
Linsingen (2007), destaca a luta dos professores em busca de novos atrativos
pedagógicos com o propósito minimizar o hiato entre a linguagem docente e a
compreensão discente (LINSINGEN, 2007, p. 7).
Pizarro (2009) levanta uma questão interessante ao discursar sobre eventuais
erros conceituais presentes em HQs e que eles podem ser um aliado do professor, na
medida em que este pode mediar situações problemas versando entre os conteúdos
informais das histórias e os formais do livro didático. Podemos perceber nessa situação
uma possível prática dos critérios propostos por Carvalho (2004): aspectos conceituais,
procedimentais e atitudinais. Neste aspecto, Gonçalves e Machado apud: Pizarro (2009)
alertam quando dizem que as HQs podem ser um material capaz de formar
consciências (Pizarro, 2009, p. 29), na medida em que tornam-se um forte material
paradidático contextualizado. A figura 5 pode ser inserida nessa aspecto de criação de
situações problemas, na contextualização e nos aspectos propostos por Carvalho (2004),
além de formar consciências, como segue:
Figura 4. Tirinha apresentando um aspecto escolar. (DEPÓSITO..., 2012).
Focando-se agora na principal característica intrínseca das HQs, as suas
linguagens como veículo comunicativo aliada à velocidade como ocorrem as trocas de
informação nos dias atuais, responsabilidade dos avanços tecnológicos (em razão das
necessidades sociais, políticas e econômicas) aliada às Ciências – pois, como analisam
Reis e Cicillini, (2001, p.4.) consideramos a Ciência como uma atividade social e
dinâmica cujo objetivo consiste na produção do conhecimento sobre a natureza,
buscando soluções para satisfazer novas necessidades de ordem ideológica, econômica
e política.
Ainda mais, as produções tecno-científicas são norteadas à medida que surgem
as necessidades humanas e, portanto, são criações humanas, estas orientadas por
vontades ora políticas, ora sociais amparadas pelas inovações científicas (REIS e
CICILLINI, 2001).
22
Esses avanços facilitaram, pois, a disseminação das HQs consolidando cada vez
mais um público leitor fiel apresentando-se a eles com linguagens típicas de uma
manifestação artística e que vem sendo objeto de estudo científico (ARAÚJO; COSTA;
COSTA, 2005).
Sob esse cenário da crescente evolução das CTS aliada à sua constante
atualização e à facilidade de entrar em contato com as publicações da revolução
tecnológica que a sociedade atual vem passando e de que forma ela é inserida às
Ciências; fica evidente a necessidade de não só abordar essas inovações dentro da sala
de aula, mas também de empregar algumas dessas tecnologias promovendo a inserção
efetiva dos alunos a essas revoluções, a fim de possibilitar aos estudantes assimilar dos
conceitos tecnológicos presentes na sociedade do século XXI (REIS e CICILLINI,
2001).
Os autores ainda reforçam que as CTS no ensino de Ciências e Biologia ocorrem
de forma descontextualizada e descentralizada do seu propósito inicial, que é o de
conectar essa tríade. De fato, ao analisar as Ciências a Tecnologia e a Sociedade,
percebe-se que cada uma delas deve ser realizada de maneira que o aluno perceba o
porque ocorrem aquelas razões dos avanços tecnológicos, explicados anteriormente, no
ensino de Ciências e Biologia. Sob o olhar crítico de livros paradidáticos, Reis e
Cicillini (2001) observaram a baixíssima inserção contextualizada das CTS, por parte
dessas ferramentas didáticas. Assumindo que as HQs podem também exercer uma
função de material paradidático, sua utilização dentro da sala de aula pode suprir essa
escassez.
Aliar aqueles critérios propostos por Carvalho (2004) no contexto das CTS é
visar ao propósito final da educação: a democracia e a moral, pois ambos são essenciais
para a construção de argumentos de perguntas e respostas acerca do desenvolvimento
tecnológico e científico do país, ou seja, cedendo aos alunos condições necessárias a
participarem do desenvolvimento técnico e científico mundiais.
Nota-se, portanto, que as histórias em quadrinhos compõem um cenário
excepcional no auxílio ao professor para o processo de ensino-aprendizagem na escola
ao reunir esses diversos atributos.
23
3-) Objetivos
O presente trabalho tem como objetivo, além de identificar a ausência da
utilização das HQs dentro da sala de aula, mas também de que forma seu emprego pode
obter sucesso na relação de ensino-aprendizagem.
3.1-) Objetivos gerais:
Identificar os principais agentes causadores do preconceito e da rejeição das
histórias em quadrinhos como material de ensino.
3.2-) Objetivos Específicos
Analisar os benefícios que as HQs têm no ensino de Ciências e Biologia.
24
4-) Metodologia
Fez-se um levantamento documental de diversos artigos científicos, dissertações,
teses e trabalhos publicados de outra natureza, como debates entre autores publicados
em revistas. As publicações citadas cima foram encontradas em base de dados como
Scielo, Google acadêmico, portal da Capes e base de dados de diversas universidades,
como Unicamp, USP, Unesp, UFRJ, UERJ entre outras.
Após a busca sobre o referido tema, realizou-se leitura crítica das obras, bem
como discussão das mesmas com o orientador a fim de permitir a integração das idéias
dos textos lidos com as idéias do aluno para a realização do trabalho.
Assim, posteriormente à leitura e análise dos textos, pôde-se, enfim, elaborar o
presente projeto.
25
5-) Resultados e Discussão
Foi possível observar que o principal motivo que levou ao preconceito seguido
do desuso das Histórias em Quadrinhos nas salas de aula foi de que os pais e
professores terem achado que perderia a credibilidade e autenticidade no ensino, por
terem um forte apelo comercial junto a sua produção em larga escala. Ainda, a
linguagem verbal empregada nas estórias também era alvo de críticas por parte dos
patronos sociais que por ser de uma fácil e prazerosa leitura e direcionado ao público
infantil, as HQs não serviriam como material educacional limitando a capacidade dos
alunos em compreenderem leituras mais profundas, bem como o amadurecimento
intelectual dos alunos seria entardecido (RAMA e VERGEIRO, 2004).3
Essa ideia preconceituosa de que as HQs retardariam o desenvolvimento
intelectual e a compreensão do estudante a leituras de livros mais complexos foi sendo
derrubada ao passar do tempo pela insistência de alguns professores aliada à
característica marcante dos livros de tirinhas, sua distribuição comercial, sua presença
nos jornais impressos, revistas e etc.
Diversas propostas de Caruso (2002) e Luyten (2011) mostram que aplicar no
ensino de Ciências e Biologia as histórias em quadrinhos melhora na compreensão de
termos e conceitos em razão dos seus conteúdos, pois as tirinhas abordam e possuem
conteúdos formais de ensino de Ciências e Biologia e que pode servir como texto base
para o professor introduzir um tema que lhe é necessário; em outras palavras:
conteúdo específico curricular, contendo um determinado conceito de uma certa
disciplina que integre o currículo do ensino fundamental ou médio a ser explorado e
explicado Caruso (2002, p. 6).
3
Um dos responsáveis pelo crescente preconceito e mal-uso das HQs foi o psiquiatra alemão,
Fredric Wertham, o qual publicou um livro intitulado Seduction of the Innocent (Sedução do Inocente), no
ano de 1954. O autor denunciou - tendo seus pacientes com distúrbios mentais como base de seus estudos
- que as histórias em quadrinhos poderiam influenciar negativamente os jovens leitores com suas
histórias, como, por exemplo, um adolescente poderia se matar ao se atirar do alto de um prédio achando
que fosse o Superman ou que jovens viriam a se tornar homossexuais por lerem o Batman, pela amizade
entre os dois heróis da série, Batman e Robin. Esta obra polêmica influenciou a campanha para a censura
das publicações das histórias em quadrinhos (RAMA e VERGUEIRO, 2008).
26
Ademais, o autor analisa que as HQ trazem consigo, quase que de maneira
inerente à sua leitura, a inclusão de temas - não tradicionais - que os livros escolares não
abordam, como tecnologia e a discussão científica
[...] conteúdo específico extra-curricular, tendo como meta conceitos, fatos e
notícias de avanços científicos, tecnológicos e de outras áreas, que, muitas
vezes, só chegam ao aluno através da mídia impressa e televisiva e não
através de livros didáticos ou do ensino formal [...] (CARUSO, 2002, p.
6).
Em relação à interdisciplinaridade, tão exposta e sugerida nos PCN+, Caruso
(2002) alerta que o emprego das tirinhas como apoio didático reforça e contextualiza o
ensino de duas ou mais disciplinas, quando diz há conteúdo específico interdisciplinar,
enfatizando, através de situações exemplos que envolvem disciplinas curriculares, o
sentido e a importância da interdisciplinaridade. Porém, não somente da
interdisciplinaridade, mas como a intradisciplinaridade permite ao aluno que entre em
contato com algumas situações-problemas que o livro didático não aborda, pois as HQs
possuem um conteúdo interdisciplinar extracurricular, envolvendo áreas do
conhecimento não contempladas nos currículos (CARUSO, 2002, p. 7).
Aliando a este pensamento, tanto da interdisciplinaridade e da sua
contextualização, quanto da intradiscplinaridade, o autor incita algo interessante e pouco
abordado nos livros escolares, ao falar sobre que as histórias em quadrinhos podem
trazem consigo a história e evolução da Ciência, bem como seu impacto social
[...] contextualização histórica, mencionando alguma descoberta científica e
relacionando-a a algum outro fato histórico marcante ou apresentando
situações que reflitam relações entre ciência e sociedade [...] (CARUSO,
2002, p. 7).
Por fim, as histórias em quadrinhos - sejam elas por meio das tirinhas ou dos
gibis - promovem o desenvolvimento de habilidades e competências dos alunos,
objetivos propostos pelo Brasil (2000) sejam elas por meio da promoção da
[...] cidadania, focalizando as questões e os conceitos considerados pelo
grupo como indispensáveis para a alfabetização científica, para a formação
humanística básica do cidadão, incluindo conceitos ligados à prevenção de
27
doenças, saúde pública em geral, preservação de meio ambiente, dentre
outros, ou sejam pela ordem de grandeza, focalizando situações nas quais o
aluno terá idéia de ordem de grandeza, desde o infinitamente pequeno (o
mundo das partículas elementares) até o infinitamente grande (o cosmo) [...]
(CARUSO, 2002, p. 8).
Ou ainda, no âmago do método experimental, dando ênfase à descrição de
experimentos simples [...] método científico, discutindo-se os princípios gerais das
ciências e aspectos epistemológicos ligados à metodologia científica [...] (CARUSO,
2002, p. 9).
Caruso (2002) afirma que as tirinhas conseguem promover a contextualização do
ensino além de influenciarem nos critérios conceituais, procedimentais e atitudinais
propostos por Carvalho (2004), na medida em que se exploradas em sala de aula,
auxiliarão o professor na prática do ensino de Ciências. O docente por sua vez, deve ter
consciência de que o processo de aprender não é somente possuir domínio de um
determinado assunto, mas também ensinar – e aqui está o verbo certo para prática
escolar – o aluno o que fazer com esse novo conhecimento adquirido (se é que um
conhecimento se adquire, se comparar esse verbo a uma compra de um objeto em
particular). Além disso, o professor deve também mostrar para seus alunos que todo
conhecimento aprendido é passível de refutações e argumentações acerca do mesmo
(CARVALHO, 2004).
É sobe esse aspecto que o uso das HQs em sala de aula pode auxiliar o professor
em sala de aula, ao provocarem situações problemas seguidas, intencionalmente e
implicitamente, da resolução daquelas, ou seja, após o contato com o conteúdo
abordado, os alunos são provocados a solucionarem esses problemas, de acordo com a
mediação do professor.
Porém, a inserção nua e crua da leitura das tirinhas em salas de aula não garante
a promoção dos objetivos educacionais como propostos acima. Tal garantia poderá se:
As tirinhas representarão uma parte expressiva do material produzido pela
oficina, devido ao seu poder de concisão. Um desafio a ter sempre em mente
é a utilização de textos simples e curtos, ressaltando a linguagem da imagem.
Outro desafio é fugir de qualquer tipo de memorização e buscar produzir um
material que não apenas desperte a curiosidade do aluno, mas seja também
capaz de permitir que ele reflita e aprenda o conceito abordado através de
suas próprias deduções e conclusões, mesmo que para isso ele necessite da
ajuda de seu professor. Em outras palavras, as tirinhas não devem ser óbvias
28
ou conter explicações que não deixem espaço para que o aluno infira ou
deduza alguma coisa a partir de seu contato com a tirinha. (CARUSO;
CARVALHO; SILVEIRA, 2002, p. 6).
Ademais, ressalta-se o papel do professor como mediador dessas discussões de
situações problemas promovidos pelas histórias em quadrinhos, que atentarão os alunos
pela sua criatividade intrínseca, bem como por ser um material lúdico e não formal. Por
vezes, o professor poderá sortear uma estória que contenha algum erro conceitual e
trabalhar dentro da sala de aula além analisar os conteúdos procedimentais e atitudinais
explorados nas tirinhas.
Com isso, após os conceitos serem abordados e ensinados, caberá ao professor
ensinar aos estudantes o que poderão corrigir com esses equívocos preceitos e
posteriormente como utilizarão o novo conceito aprendido em suas vidas. Aqui, pois,
claramente pode-se observar os campos conceituais (o aluno enxergar o erro, seja dele
ou não) os procedimentais (o que fazer com esse erro) e os atitudinais (como empregar
o aprendido nas ações da sua vida).
E as tirinhas são um aliado muito forte para o professor afim dele trabalhar esses
critérios dentro da sala de aula. Ainda, se analisar sob o ponto de vista que, segundo
Caruso (2005), as tirinhas permitem uma rápida e dinâmica leitura da mensagem
transmitida. Essa velocidade está presente na vida do aluno do século XXI, em que as
redes sociais da internet e os vídeos clipes musicais aliados à mídia trazem consigo essa
rapidez da informação acompanhada de um exacerbado acúmulo de conteúdo que por
muitas vezes o aluno não sabe como lidar com isso, muito menos como organizá-los. E
é com esse intuito que as HQs podem ser utilizadas nas salas de aula, pois carregam
organização, sentido e lógica nas suas histórias, como analisa Eisner apud. Tavares,
p.11
comunicar ideias e/ou histórias por meio de palavras e figuras, envolve o
movimento
de certas imagens (tais como pessoas e coisas) no espaço. Para lidar com a
captura
ou encapsulamento desses eventos no fluxo da narrativa, eles devem ser
decompostos em segmentos sequenciados. Esses segmentos são chamados de
quadrinhos.
29
Ainda, cabe explicitar algumas palavras de Caruso (2009, p. 219):
A capacidade que têm as HQs de atrair o leitor jovem está fazendo com que
educadores aproveitem cada vez mais esse instrumento, cuja utilização
coaduna-se com o preconizado na Lei de Diretrizes e Bases: a valorização de
situações do cotidiano e da vivência das crianças e dos jovens. Não é à toa
que cresce o número de questões objetivas de vestibulares que usam charges
ou tirinhas.
Percebe-se que o emprego das HQs nas escolas cresce a cada ano, em razão
delas serem dinâmicas, de fácil acesso, fácil leitura, por serem contextualizadas e por
puxarem assuntos que carregam possibilidades de mudanças de atitude nos leitores.
Muito mais que isso, as HQs tornam-se para o professor um aliado quando Caruso
(2009) observa que para os alunos o professor não estimula seus estudantes para o
estudo, além de que para eles a escola não é um espaço aberto ao diálogo e que propicie
o diálogo e o debate de ideias, as o autor tirou de suas oficinas de construção de
Histórias em Quadrinhos, a Oficina de Educação Através de Histórias em Quadrinhos e
Tirinhas (Eduhq).
Os alunos participantes dessa oficina demonstraram como se sentem em relação
à escola, ao professor e a todo o processo de ensino-aprendizagem. Eles o fizeram
através de desenhos em tiras e notou-se que as tiras continham um conteúdo crítico
expressando o sentimento dos alunos a respeito tanto da escola, passando pela prática
do professor, culminando em todo o processo de ensino aprendizagem (CARUSO e
SILVEIRA, 2009).
Os autores viram que, na visão do aluno, a escola ainda o trata como externo ao
processo do ensino aprendizagem, em que o professor é o detentor do conhecimento e o
aluno um mero expectador da transmissão desse conhecimento. Portanto, nota-se aqui
mais uma vantagem de se utilizar as HQs na sala de aula, como um instrumento
informativo e avaliativo do professor sobre as visões do aluno sobre sua aula.
Sob a visão de Linsingen (2007) as HQs, em especial o mangá4, podem ser
utilizadas como ferramenta tecnológica de ensino, pois segundo a ótica das CTS que
surgiram:
4
Os mangás são as histórias em quadrinhos japoneses. Porém, afirmar isso não significa que são as HQs
“compradas do Japão”. Os mangás possuem certas características que as histórias em quadrinhos
ocidentais não oferecem quanto à manipulação das imagens, ao design dos quadrinhos, à narrativa e ao
30
como uma forma de ver o conhecimento como um todo socialmente
construído e como uma inspiração para uma postura escolar menos
impositiva e dogmática, que priorize a reflexão crítica e a construção do
conhecimento em um cidadão apto para intervir de forma consciente na
sociedade (Pinheiro; Westphal; Pinheiro, apud Linsingen, 2007, p.4).
Pode-se observar que as HQs se preocupam com esses aspectos formadores
sociais, além de utilizarem uma linguagem própria atingindo o leitor de forma
agradável, de fácil compreensão, dinâmica. A construção das histórias em quadrinhos da sua utilização de imagens até sua escrita - visa entre outros tantos outros objetivos, a
catarse e a cognição do leitor, no sentido que o mesmo se identifica com a estória ao
entrar em contato com ela (LINSINGEN, 2007). A autora ainda observa que os mangás,
pode ser um auxiliador no processo de ensino-aprendizagem por apresentarem em seu
plano de confecção alguns temas recorrentes à: Homem/Natureza (debate
ecológicotecnológico), Homem/Homem (debate moral-ético-tecnológico),
Homem/Futuro (debate futurista-tecnológico) (LINSINGEN, 2007, p. 4).
Assim como em diversas HQs a relação Homem/Sociedade/Natureza/Tecnologia
está presente em suas narrativas, em relação à dominação do Homem sobre os aspectos
do mundo, bem como sua forma agressiva de dominação ao meio ambiente ao empregar
as tecnologias criadas por ele. Temas estes que podem ser trabalhados sobre o panorama
dos temas transversais sugeridos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, incluindo
também a interdisciplinaridade com história, geografia, entre outros.
A incrível vantagem de introduzir as HQs no ensino de Ciências e Biologia é a
sua construção própria ao aliar imagem e escrita, no qual a primeira consegue expressar
uma ideia muito mais fácil e mais dinâmica que a escrita - no que diz respeito a
provocar o interesse do aluno, a demonstrar um pensamento e descrever um
acontecimento. Além de que a imagem, segundo Martins apud: Linsingen (2007), o
entendimento da imagem é mais imediato quando comparada ao emprego da linguagem
enredo e ao enfoque diferenciado de acordo com o tipo de público. A apresentação visual dos mangás se
distingue, portanto das HQs ocidentais, sob um olhar mais superficial, em dois aspectos. O primeiro, é
que se manuseia o mangá de trás para frente, em obediência ao costume japonês (a leitura dos quadrinhos,
por conseqüência, segue de cima para baixo e da direita para a esquerda). O segundo é a característica do
desenho, mantida de autor para autor independentemente da identidade artística, que se destaca pelos
olhos dos personagens, proporcionalmente maiores do que o nariz e a boca (LINSINGEN, 2007, p.1-2).
31
verbal-escrita, pois as linguagens gráficas parecem favorecer essa posição de que o
meio visual não só é mais „transparente‟ que a linguagem [escrita], mas também de que
ele impõe menos restrições à expressão de idéias (MARTINS apud: LINSINGEN, 2007, p.5).
Ainda, ao analisar o papel pedagógico das histórias em quadrinhos, percebese que elas ilustram um acontecimento, contextualizam a fim de explicar o fenômeno
para uma melhor compreensão do mesmo, motivam o leitor pelo fato de não
apresentarem nenhum prévia do assunto estimulando-o a acompanhar o enredo e, por
fim, as HQs instigam o leitor a refletir sobre cada quadrinho lido (LINSINGEN, 2007).
Para Testoni; Abib apud: Linsingem, 2007, as histórias em quadrinhos além
daqueles recursos didáticos pedagógicos, se apoderam também do lúdico, da linguagem
e da cognição; os quais servem como motivadores à leitura por parte dos alunos bem
como uma ferramenta para o professor.
Segundo Linsingen (2007) o primeiro recurso, o lúdico é intrínseco à
construção das histórias em quadrinhos, visto que consegue ao mesmo tempo provocar a
catarsia e o estímulo ao desafio. A primeira libera no leitor a sensação de
desprendimento dos acontecimentos tradicionais escolares, e também de que o lido faz
sentido em suas atividades cotidianas. Esta contextualização da leitura percebida pelo
leitor faz com que a aprendizagem seja efetiva concreta. Já o desafio provocado pelo
contato com as histórias em quadrinhos é um fator motivacional para a continuação da
leitura, pois empregam temas relacionados à realidade do aluno.
O segundo recurso, a linguagem, previamente explicitada anteriormente
auxilia na compreensão dos temas inseridos nas tirinhas, pois se complementam
imagens e palavras, ambos dando sentido à ação, em que a primeira apresenta a ideia de
movimento e da estória continuidade e a linguagem escrita denota e conceitualiza a
imagem. Essa associação entre imagem e escrita sobressai-se pelo dinamismo dado à
tirinha como resultado de sua construção, conferindo realismo ao leitor inserindo-o
efetivamente na narração (LINSINGEN, 2007).
O processo cognitivo, terceiro e último recurso é inerente à leitura de uma
HQ, por que para Linsingen (2007), a compreensão de uma estória é necessária sua
interpretação. Transpondo essa ideia às histórias em quadrinhos, traduzir daquelas
linguagens bem como a atenção dispensada para total assimilação do tema apresentado
pelas convenções exigidas e exploradas nas tirinhas. Ao passo que o aluno lê ele se
diverte, e isto estimula a criatividade a atenção e a capacidade crítica e analítica sobre o
tema, entre tantos outros valores mentais.
32
A fim de estimular essas habilidades e competências dos alunos, como ferido
nos PCN‟s, o emprego das histórias em quadrinhos dentro das salas de aula de Ciências
e Biologia surge como fortes aliados do docente, pois este certo de seus objetivos
pedagógicos tem em mãos uma ferramenta extremamente forte e lúdica ao mesmo
tempo acessível economicamente. Repletos de recursos embasados em duas linguagens
mais acessíveis na sociedade - ou que deveriam ser - as HQs formam um material
paradidático rico e contextualizado para ambos os participantes do processo de ensinoaprendizagem.
33
6-) Conclusão
O uso das HQs é uma das ferramentas auxiliares que o professor pode utilizar
como apoio à sua prática; mas isso não garante por si só o aprendizado e a conquista de
uma educação de qualidade. Assim, segundo Shank (2008) a acumulação de
conhecimentos e conteúdos não promove a educação efetiva, mas sim saber como usálos é que se encontra o verdadeiro valor educativo dos conteúdos, a fim de promover os
procedimentos de valores e atitudes das competências e habilidades de cada um.
Educar não é somente ensinar esses conteúdos ou transmiti-los, mas incentivar
leituras e posicionamento críticos com a intenção de ensinar ao aluno em que momento
esse treinamento mental poderá ajudá-lo. Ressalta-se aqui, que esse ensino
contextualizado não significa ser de aplicabilidade, ou seja, para que serve este tipo de
conteúdo ou em que momento irá servir; mas sim de base de uma educação formadora e
transformadora social.
A prática pedagógica baseada na transmissão e acumulação de conteúdos
desconsidera, portanto, o fazer do aluno bem como pune as habilidades de cada
indivíduo. Acumular conhecimentos sem um propósito concreto de transformação
social é o propósito da construção de máquinas que arquivam essas informações para
que sejam acessadas a quaisquer momentos (SHANIK, 2008).
Transpondo esse pensamento ao emprego das HQs nas salas de aula, pouco ela
servirá ao professor, da mesma forma que um livro didático ou uma aula meramente
expositiva recheada de conteúdos. As histórias em quadrinhos servem para um fim
maior além da informação de conceitos, mas também da divulgação científica e de seus
paradigmas sociais.
Refletir sobre a popularização da ciência e do método científico, aproximar o
lúdico do científico e o popular, disseminar a ciência com qualidade sem perder a
credibilidade e de forma informal parecem ser grandes desafios para os profissionais da
educação em atrair a atenção dos alunos para dentro da sala de aula, promovendo a eles
um ensino mais contextualizado e divertido.
Citando Caruso (2009, p.221)
Vencer esse quadro é o primeiro grande desafio. Nossa contribuição, nesse
sentido, parte de uma particular concepção de educador, a qual dificilmente
poderia ser mais bem expressa do que com as palavras de Rousseau (1762,
34
citado em Rónai, 1985, p.288): “Ousarei expor ... a mais importante, a maior,
a mais útil regra de toda a educação: é não ganhar, mas perder tempo”. Já é
hora de os cientistas saírem de seus laboratórios e „perderem tempo‟ com a
divulgação da ciência, discutirem o ensino de ciências e – por que não? –
contribuírem efetivamente para a alfabetização científica. Foi isso que fez a
equipe da Eduhq, para começar: todo o grupo decidiu „perder tempo‟!
além do ensino de Ciências e Biologia estar presente de fato na vida dos estudantes e de
maneira menos ortodoxa, a divulgação científica deve extrapolar o ambiente
enclausurado do laboratório, não somente com a intenção de expor ao mundo as
atividades realizadas dentro deste ambiente de trabalho - árduo e difícil, diga-se de
passagem - mas também podendo servir como auxiliar para o professor em demonstrar
o que se faz com o conhecimento científico adquirido na escola e o que a sociedade
pode fazer com ele.
Mostrar ao aluno que a Ciência produzida e lida na mídia é palpável e capaz de
compreensão pode ser um bom caminho para a melhor na qualidade do ensino dela nas
escolas. Além de que essa compreensão possa também ajudar na própria concepção do
que é Ciência e do que somos capazes de fazer com ela.
35
7-) Referências Bibliográficas
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A utilização das Histórias em Quadrinhos no Ensino de