Centro de Gestão e Estudos Estratégicos Ciência, Tecnologia e Inovação Fase I – Panorama Setorial TR 25 Tema: ACIARIA LD 2 André Luiz V. da Costa e Silva TR 25 Aciaria LD Aciaria LD ¶ ¶ ¶ ¶ ¶ ¶ ¶ ¶ ¶ ¶ ¶ André Luiz V. da Costa e Silva ¶ ¶ Rio de Janeiro Agosto, 2008 André Luiz V. da Costa e Silva 3 4 André Luiz V. da Costa e Silva TR 25 Aciaria LD SUMÁRIO 1. ESCOPO O roteiro de produção industrial dos aços é pouco usual, dentre os metais. Envolve dois processos complementares, um de redução, tipicamente realizado em alto-forno, produzindo gusa e um de refino, envolvendo oxidação controlada, seguida de desoxidação. O refino, em geral, emprega o gusa e, em maior ou menor escala, outras cargas metálicas tais como sucata e pré-reduzidos. Após o refino, uma etapa essencial é a solidificação (ou lingotamento). Em geral, as aciarias no mundo inteiro incluem os processos de refino e de lingotamento. Em muitas aciarias, o eventual “pré-tratamento” do gusa líquido, é incluído, também, na aciaria. O escopo deste estudo, portanto, inclui todas as atividades de refino após o vazamento do gusa do alto-forno: o refino propriamente dito, no conversor LD1, eventuais atividades de refino secundário fora do conversor e o lingotamento. 2. O ROTEIRO DE ELABORAÇÃO – COMPETIÇÃO ENTRE USINAS INTEGRADAS E NÃO-INTEGRADAS A produção de aço segue, basicamente, dois roteiros: a produção em usinas integradas “clássicas” que usam alto-forno para a produção de gusa e depois, processos de refino e as usinas não-integradas ou “mini-mills” que iniciam o processo com metálicos tais como sucata ou pré-reduzidos. Historicamente as usinas integradas utilizavam aciarias com conversores2 e os “mini-mills”, fornos elétricos a arco. Embora a tendência para os “mini-mills” continue inalterada (não é possível partir de carga 100% sólida com conversores) há usinas integradas optando por modernos fornos elétricos a arco ao invés de conversores. 1 Linz Donawitz, duas cidades da Austria onde a Vöest-Alpine desenvolveu, em meados do século XX o conversor com sopro de oxigênio sobre o banho, chamado LD ou, em inglês, Basic Oxygen Furnace- BOF. 2 Conversores diferem de fornos por não terem fontes externas de energia. A única fonte de energia são as reações exotérmicas associadas ao processo de refino por oxidação. Em alguns lugares do Brasil são chamados “convertedores”. André Luiz V. da Costa e Silva 5 Analisando o cenário mundial e a situação brasileira, pode-se afirmar, entretanto, que a participação da aciaria LD (ou com conversores, de uma forma geral) continuará muito importante até 2025, como mostram os gráficos a seguir. Figura 1 Participação estimada (share) da produção de aço por usinas integradas e por mini-mills3. 3 I. Hidalgo, L. Szabo, J. C. Ciscar, A. Soria, Technological prospects and CO2 emission trading analyses in the iron and steel industry: A global model, Energy 30 (2005) 583–610. 6 André Luiz V. da Costa e Silva TR 25 Aciaria LD Participação por processo em 2007 (fonte: IISI) Região LD-BOF FEA Mundo 65% 32% Brasil 73,9% 24,4% Figura 2 Participação dos principais processos de refino na produção mundial (e do Brasil) de aço. Fonte IISI, 2007. Assim, é efetivamente importante avaliar os desafios e oportunidades para a aciaria LD no período objeto do estudo. Não se antecipa que este processo venha a perder importância no período do estudo, embora diferentes oportunidades e desafios se apresentem nestas duas décadas que se aproximam. 3. MEIO AMBIENTE 3.1. Geração e Emissão de CO2 A produção de aço através do roteiro da siderurgia integrada, empregando carbono (do coque ou do carvão vegetal) como redutor é otimizada sob o aspecto econômico. Como a geração de gases de efeito estufa (principalmente CO2) não faz parte direta da avaliação econômica do processo (exceto sob o ponto de vista de aproveitamento energético do carbono empregado) é natural que o processo André Luiz V. da Costa e Silva 7 não seja otimizado sob o ponto de vista de emissão deste gás. A evolução dos processos de redução e refino dos aços, inclusive da aciaria LD, levou a redução significativa das emissões deste gás, historicamente, como mostram os dados a seguir. Estequiometria da redução pelo C 0,6 t/t Figura 3 Evolução da geração de gases de efeito estufa (GGE, notadamente CO2) com os processos de produção de aço. Incluída a estimativa limite da 4 estequiometria da redução pelo carbono . 4 8 SCAIFE, P., J. NUNN, A. COTTRELL, and L. WIBBERLEY, Towards Sustainable Steelmaking an LCA perspective. ISIJ International, 2002. 42(Supplement): p. S5-S9. André Luiz V. da Costa e Silva TR 25 Aciaria LD Figura 4 Geração de gases do efeito estufa por processo. A usina integrada é a opção BF-BOS 4. 3.1.1. A Situação atual Uma usina integrada, com conversor LD gera cerca de 2,1 t CO2/ tonelada de aço produzido. Na área de redução (alto-forno) vem ocorrendo redução da emissão como conseqüência da busca da redução do consumo de redutor (coque, gás redutor, etc.) causada por pressões econômicas associadas ao custo do redutor e não, necessariamente, com objetivo de redução de emissões. Na aciaria LD, o gás gerado, (gás de aciaria) é rico em CO. Duas alternativas econômicas são usadas: o uso de pós-combustão (maior queima do CO para CO2 no interior do conversor) para melhorar o balanço térmico do conversor, ou uso do gás de aciaria para geração de energia elétrica ou como combustivel em fornos, na própria usina. O uso do gás na geração de energia elétrica na usina pode estar associado a créditos de carbono. A força motriz das decisões é econômica. 3.1.2. Tendências Há várias opções para a alteração deste quadro, do ponto de vista de geração de dióxido de carbono. A opção por elas depende, diretamente, do “enforcement” de André Luiz V. da Costa e Silva 9 alguma a limitação formal a emissão de gases ou a alguma penalidade ou bônus econômico. 3.1.3. Oportunidades e Desafios Há uma importante oportunidade para a siderurgia brasileira com o aproveitamento integral dos mecanismos de crédito e compensação de créditos de carbono. Dentro de um cenário que assuma que, efetivamente, haverá a busca por redução das emissões de CO2 na aciaria LD, após todos os aproveitamentos dos possíveis créditos de carbono associados a geração, aquecimento, etc., a questão básica depende de quanto carbono será oxidado, no conversor, por tonelada de aço produzido5. Um desafio, portanto, é o desenvolvimento do uso de maiores quantidades de metálicos de baixo carbono (sucata e pré-reduzidos) no conversor. Isto implica na alteração do balanço térmico, com, por exemplo, o aumento da pós-combustão e/ou o uso de outros “combustíveis” através, por exemplo, do aumento do teor de silício carregado ou da aceitação de níveis de oxidação mais alto nas escórias vazadas (para os aços de baixo carbono (0,05%), hoje, as escórias têm cerca 2627% de óxido de ferro, considerado uma perda do processo. Os fornos elétricos a arco trabalham com este nível de oxidação com teores de carbono mais elevados (0,1%)) 3.1.4. Desafios Desenvolver o uso de novos metálicos no conversor LD (inclusive com alterações no balanço térmico). Manter as aciarias LD competitivas com os modernos Fornos Elétricos a Arco. 5 Uma observação paralela importante é que os fornos elétricos a arco vêm aumentando a quantidade de carbono queimado por tonelada de aço produzida, como forma de melhorar seu balanço econômico, reduzindo o uso de energia elétrica. 10 André Luiz V. da Costa e Silva TR 25 Aciaria LD As ações que se alinham com as alterações de balanço térmico no conversor estão ligadas, principalmente a (a) estudos sobre a viabilidade de aumento da pós-combustão (CO -> CO2) no interior do forno e a adição de outros combustíveis tais como silício e materiais contendo silício. Estas ações poderiam viabilizar um “mix” com maior fração de carga sólida (de mais baixo carbono, tais como sucata, ferro esponja, etc.) no interior do conversor, o que reduziria a geração de gás carbônico por tonelada de aço produzido. Esta análise deve ser realizada considerando o balanço energético global da Usina integrada assim como a geração total de gás carbônico da usina e não centrado, apenas, na aciaria LD. 3.2. Escória e outros efluentes sólidos da Aciaria LD A escória de aciaria LD não tem uso comercial significativo: atualmente é “estabilizada” ao tempo e já é possível utilizá-la como lastro em ferrovias ou rodovias, após esta estabilização. A “lama” de aciaria, os efluentes em pó coletados sob forma úmida no sistema de filtragem de gases representa um problema de reciclagem. Não pode ser usada de forma satisfatória na sinterização, pois pode agregar zinco a carga do altoforno. O principal desafio relevante consiste em desenvolver uso da lama como metálico em aciaria ou recuperar o zinco, simplificando seu re-processamento e mitigando seu impacto ambiental. 4. MATÉRIAS PRIMAS 4.1. Situação Atual Com as demandas associadas ao desenvolvimento e industrialização da China e da Índia, principalmente, todos os minérios e ferro ligas sofreram aumento significativo nos últimos anos. Não há expectativa de volta aos patamares anteriores, no horizonte estudado6. 6 A nota técnica foi escrita em agosto de 2008, antes, portanto, dos eventos de outubro de 2008. André Luiz V. da Costa e Silva 11 Associado a isto, há uma tendência, inclusive, da cobrança de “prêmio” em minério de ferro em função da qualidade, vinculado a economia que esta qualidade possa resultar para o usuário. Como minérios de baixo fósforo, por exemplo, permitem produzir gusa de baixo fósforo, que reduz o custo da aciaria LD, é prática usual, especialmente no oriente, diluir minérios de mais baixa qualidade com minérios de baixo fósforo, área em que o Brasil tem vantagem competitiva. No Brasil, em geral, não são usados minérios de mais baixa qualidade, em função da disponibilidade do minério de baixo fósforo. Com o aumento de preço das ferro ligas, há um movimento importante no sentido de melhorar a recuperação dos elementos oxidáveis presentes na sucata. Enquanto, tradicionalmente, cromo e manganês contidos em sucatas carregadas em conversor LD eram completa ou quase completamente perdidos, pela oxidação do processo, há uma busca por melhor controle de processo ou de condições de processo alteradas que possam levar a um aproveitamento destes elementos contidos na sucata. 4.2. Oportunidades e Desafios Fora da área da aciaria LD, há uma evidente oportunidade de mercado para que o Brasil passe a considerar preços diferenciados em seus produtos de pureza mais elevada, em função da economia que podem propiciar a seus usuários. Diretamente na aciaria LD, as medidas de controle do teor de fósforo podem se tornar cada vez mais críticas: com o mercado globalizado estima-se que os prêmios cobrados no exterior se reflitam nos custos brasileiros, também de modo que desenvolvimentos em controle do fósforo no aço, envolvendo pré-tatamento de gusa, diluição com outros metálicos e controle de processo, principalmente, devem se tornar mais importantes.. A área de modelamento e controle de processo enfrenta um importante desafio relacionado principalmente a recuperação de elementos de liga (Cr, Mn, etc.) em meio oxidante (no conversor) e, ainda, ao controle do rendimento das adições de 12 André Luiz V. da Costa e Silva TR 25 Aciaria LD cálcio: este elemento é cada vez mais empregado como adição, na faixa de ppm7, mas, em função de suas características, tem rendimento bastante oscilante, resultando em baixo rendimento da adição e incertezas quanto a resultado sobre a qualidade do produto final. 5. EFICIÊNCIA 5.1. Situação Atual 5.1.1. Conversão No conversor, o tempo tap-to-tap está “estagnado” entre 38 e 45 minutos há mais de 10 anos. O índice de vazamento direto e de acerto de fósforo e carbono, situa-se entre 75 e 90% também há mais de 10 anos. Estes dois indicadores são diretamente ligados à produtividade do conversor LD. Isto indica que esta produtividade vem se mantendo mais ou menos estável na última década, pelo menos, enquanto o forno elétrico a arco, maior competidor da Aciaria LD, vem fazendo progressos de produtividade notáveis. 5.1.2. Lingotamento Contínuo A tecnologia de lingotamento, principalmente de produtos de seções relativamente grandes (placas de 200-250mm de espessura, billlets de 100mm de lado e maiores) está praticamente estabilizada. A lingotabilidade e o seqüenciamento de corridas estão relativamente bem controlados, e o número de corridas produzidos em seqüências (indicador importante para o rendimento e eficiência do lingotamento contínuo) hoje é, praticamente, limitado pela quantidade de determinado grau de aço a ser produzido e não pela tecnologia de lingotamento. 5.2. Desafios e oportunidades: 5.2.1. Melhoria do índice de acerto e vazamento direto. O aproveitamento de técnicas em desenvolvimento para análise contínua (LIBS8, medidas contínuas de EMF9, etc) tanto para controle de conversor como para 7 Partes por milhão, em massa, equivalente a 0,0001%. 8 Laser Induced Breakdown Spectroscopy André Luiz V. da Costa e Silva 13 acompanhamento de lingotamento contínuo é, possivelmente, o caminho tecnológico para a melhoria deste índices e, até, para a melhoria do controle da qualidade dos aços produzidos no lingotamento convencional. Paralelamente, melhorias de controle e qualidade no processo podem ser obtidas através de esforços ligados a modelamento dos processos acoplando fluidodinâmica e termodinâmica. Estas ações podem ser muito importante na compreensão e controle de: Pós combustão, reações no conversor (substituição dos modelos “empíricos”), obstruções de válvula, limpeza interna dos produtos e na busca por roteiros de elaboração mais eficientes. 6. ENERGIA 6.1. Situação Atual Mais de 90% do aço brasileiro é lingotado continuamente (em lingotamento contínuo “clássico”). Isto representa notável economia de energia em relação ao lingotamento convencional, hoje restrito, praticamente, àquelas aplicações onde é a única solução econômica. Por outro lado, os gases de aciaria são bem aproveitados nas aciarias LD, como discutido acima. Em vários paises, entretanto, nota-se a tendência, especialmente na área de aços planos, que concentra o maior volume de aços produzidos em aciaria LD, para a produção de produtos de lingotamento continuo de espessura cada vez menor e a busca do enfornamento direto ou da produção contínua; isto é, ao invés de produzir placas que são esfriadas para inspeção ou estoque e, posteriormente, reaquecidas para a laminação, com significante perda de energia, há uma busca por processos em que o calor presente na placa, após lingotamento, seja aproveitado para o trabalho a quente, na laminação. 6.2. Oportunidades e Desafios Embora as máquinas de lingotamento contínuo de espessura elevada (250mm) sejam, de per se, mais eficientes, o lingotamento de espessuras menores conjugado a laminação direta permite um ganho significativo de energia. 9 Força Eletromotriz 14 André Luiz V. da Costa e Silva TR 25 Aciaria LD Esquema de instalação de laminação direta de produto de lingotamento contínuo10. Para tanto, além dos desafios de gerenciamento da produção (os processos contínuos, na siderurgia, nunca são acoplados, permitindo interrupções, reprogramações, etc. com relativa flexibilidade, resultanto, entretanto, em menor eficiência energética e de produtividade) há que se considerar alguns aspectos metalúrgicos: No caso de placas de menor espessura, não há necessidade de desenvolvimento tecnológico para o lingotamento. Em alguns casos, é necessário avaliar o efeito da diminuição do grau de redução total dos produtos, na laminação, sobre as propriedades finais, notadamente, textura. O ganho energético associado, entretanto, mais do que justifica tais estudos. No caso do lingotamento de tiras, há necessidades de desenvolvimento tecnológico tanto no processo de lingotamento em si, ainda não dominado para todos os aços (já há um protótipo de escala semi-industrial produzindo aços inoxidáveis) como no controle da estrutura do produto quando não é possível se introduzir deformações significativas (as tiras lingotadas tem menos de 10mm de 10 Birat, J.P., Sustainable steelmaking paradigms for growth and development in the early 21st century. Revue de Metallurgie, 2001(January): p. 19-40. André Luiz V. da Costa e Silva 15 espessura). A deformação a frio é, hoje, essencial para a obtenção da textura cristalográfica necessária nos aços de elevada conformabilidade, demandados pela indústria automobilística, por exemplo. 16 André Luiz V. da Costa e Silva TR 25 Aciaria LD André Luiz V. da Costa e Silva 17 2.1.2. Cabeçalho págs. pares (logomarca do CGEE) exibir/ cabeçalho 2.1.2. Cabeçalho págs. impares (título do documento) exibir/ cabeçalho 18 André Luiz V. da Costa e Silva TR 25 Aciaria LD 2.2. INSERIR Nº PÁGINAS 7. Número de páginas (externas, sem mostrar na 1ª página) Exibir/cabeçalho- rodapé/ nº de páginas 2.3 NOTA DE RODAPÉ (Arial, 8, sem justificar) Inserir/Referências/Notas Obs: Quando se tratar de nota de referência alinhar a esquerda (não justificar) 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. André Luiz V. da Costa e Silva 19 15. 2.4. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA (Espaçamento simples, alinhamento a esquerda) 20 André Luiz V. da Costa e Silva