Um texto com textura! O conjunto pictórico que Ana Velez revela na presente exposição patente no Centro de Arte Contemporânea da Amadora, tranporta-nos a um universo profuso de sensações visuais e materiais que nos impelem a tactear cada obra do princípio ao fim, em encontros de linhas, pontos, machas crómaticas e incisões que compõem uma plasticidade corpórea de relevos e texturas, ilusoriamente emergentes do suporte bi-dimensional. O público mais ávido e curioso, não ficará indiferente às qualidades matéricas da obra de Ana Velez e ao triunfo da textura visual sobre o plano, acreditando que será para muitos uma dificuldade, restringir um certo ímpeto de tocar na própria obra e disfrutar de uma experiência estética em toda a sua plenitude. Porém, o convite nesta mostra remete-nos, antes de mais, a deambular o olhar pelas criteriosas impressões que a artista inflige no papel, compondo formas tão comuns na natureza que nos rodeia como, uma pedra ou a superfície de uma parede. Por detrás do corpus final, a obra de Ana Velez mantém uma estreita relação com o processo criativo que lhe dá origem, quase sempre, tomando por base a percepção de uma determinada textura, o seu entendimento e representação, na busca incessante de uma correspondência plástica, do modo como visualmente interpreta elementos constituintes da natureza, através de uma multiplicidade de pontos de vista reunidos em si enquanto artista. A riqueza e profusão volumétrica das suas composições, com milhares de pontos e linhas confluentes, harmoniosamente dispostos no espaço e admiravelmente precisos, são uma comunhão perfeita entre o objecto real e a sua representação que nos confere ainda, num olhar mais atento sobre a obra, a possibilidade de nos confrontarmos com universos extremamente complexos, de texturas com uma infinidade de rugosidades, muitas vezes invisíveis num olhar periférico do elemento representado, mas que, porém, numa observação micro ou nano, Ana Velez enfatiza dramaticamente, evidenciando, afinal, que também estas pertencem às propriedades materiais do objecto. Toda a reinterpretação da cor, forma e textura que Ana Velez revela nos seus trabalhos, proporcionará, com toda a certeza, uma fantástica experiência estética junto do público que visitar esta mostra. Áspera ou aveludada, visual e formal, poucos sãos os artistas que têm abordado um tema como a textura de uma forma tão directa e consistente. Resta-nos dar a conhecer o potencial desta jovem artista, já premiada este ano com o Prémio Vespeira de Desenho [2008]. Seguramente um nome a não esquecer. Luis André Agostinho, 2008