POLÍTICA DE INCLUSÃO SOCIAL DA UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO
SOB O OLHAR DOS ALUNOS COTISTAS
Bruno de Oliveira Jardim Pedrosa
Catarina Laíse da Costa Braz
Mayara de Alencar Alunos da Escola Superior de Educação Física ­ ESEF Maria Bernadete Leal Campo Professora da Escola Superior de Educação Física ­ ESEF
RESUMO
Este estudo tem como escopo conhecer as condições nas quais se encontram os alunos beneficiados pelo sistema de cotas da Universidade de Pernambuco (UPE), pioneira na adoção desta política no Estado. O trabalho consiste em uma comparação entre os primeiros cotistas, ingressantes em 2005.1 e os novos estudantes de 2008.1. do campus Santo Amaro em Recife; com uma amostra formada por 71 universitários cotistas. Pretendeu­se identificar o perfil socioeconômico; nível de satisfação com a universidade, curso, componentes do âmbito universitário, e com o próprio veículo promotor do ingresso na academia, bem como seu percentual oferecido; identificar seu vínculo com o mercado de trabalho e anseios profissionais. Encontrou­se, apesar da diferença entre os períodos, uma realidade bastante semelhante entre os estudantes. Uma verossimilhança no perfil de ambas as amostras já era esperada, visto que as origens socioeconômicas são equivalentes; 94,4% dos entrevistados têm renda entre um e sete salários mínimos e, devido ao maior vínculo com o mercado de trabalho, 35,7% dos alunos do sétimo período contribuem com a renda mensal, ao passo que 90,7% dos alunos do segundo período não exercem nenhuma atividade. Entretanto, constataram­se as mesmas dificuldades e visões sobre o sistema de cotas. Houve ainda, no decorrer do curso, uma diminuição no nível de satisfação com os itens avaliados – poucos são os alunos do sétimo período muito satisfeitos ­, embora este decréscimo não tenha interferido, consideravelmente, no reconhecimento das cotas como fundamental para ingresso ao ensino superior gratuito e de qualidade. Verificou­se, na trajetória dos estudantes do sétimo período, uma participação de 57,1% em pesquisas. Não obstante, este envolvimento ocorre um tanto tardiamente, pois 81,4% dos novos cotistas declararam não ter participado de pesquisa. A escolha do curso deu­se majoritariamente por afinidade (88,7%), uma provável explicação para o fato de muitos estarem satisfeitos com as notas, além de não encontrarem maiores dificuldades com o conteúdo programático. Entre os alunos do sétimo período, 75% declararam que o curso atende suas expectativas. Os alunos, no entanto, permanecem sem auxílio para custear os gastos diários e comuns no meio acadêmico, impedindo a conclusão do curso por grande parte deles. INTRODUÇÃO
A Universidade de Pernambuco, antes denominada FESP – Fundação do Ensino Superior de Pernambuco, instituição de direito público responsável pelas faculdades estaduais desde 1965 ­ completou 18 anos de existência como universidade. Reconhecida a partir de 1991, através da Lei Estadual nº. 10.518, de 29 de novembro de 1990, atualmente oferece 3.480 (três mil, quatrocentos e oitenta) vagas distribuídas por vinte e quatro cursos de graduação difundidos por diversas regiões do estado. Sabe­se que a universidade está voltada para a produção de conhecimentos, discussões e debates. Além disso, compete à instituição, formar novos profissionais, técnicos e intelectuais de nível superior, para atender as crescentes demandas sociais; e fornecer condições para efetivação de transformações, no âmbito econômico, político, tecnológico e cultural. Deverá, por conseguinte, contribuir para a erradicação das desigualdades sociais através de progressos nas diferentes áreas, as quais serão apropriadas pela sociedade, quer para sua manutenção, quer para sua modificação. O presente estudo tem como alvo os alunos beneficiados pelo sistema de cotas da Universidade de Pernambuco. Aprovada pelo Conselho Universitário (CONSUN) em reunião realizada no dia 27 de julho de 2004, e alterada pela Resolução Nº. 006/2007, a medida determina que 20% das vagas de todos os cursos de graduação serão destinadas aos alunos oriundos de escolas públicas da rede municipal e estadual, de Pernambuco, onde deverão ter cursado o ensino médio inteiramente e em regime regular. A declaração para concorrer ao percentual reservado às cotas deverá ser efetuada no ato da inscrição, não sendo aceita posteriormente. O candidato deverá comprovar as condições exigidas em locais e horários descritos no Manual do Vestibular. Para abordar o sistema de cotas é necessário fazer referência às políticas de ação afirmativa visando à igualdade dos desiguais. Ação afirmativa, também denominada Política Compensatória de Discriminação, é aquela que favorece minorias socialmente inferiorizadas e excluídas da eqüidade no acesso às oportunidades, para alcançar a igualdade. Pode ser tanto de ordem pública como privada, de caráter temporário ou compulsório, que visa combater a discriminação racial, de gênero, de classe social, de credo e de origem nacional. É uma questão bastante delicada, pois não convém excluir os demais, em função da inclusão de uns. O liberalismo clássico afirmava que a Igualdade de oportunidade é possível mediante a igual atribuição dos direitos fundamentais ‘à vida, à liberdade e à propriedade’. Abolidos os privilégios e estabelecida a igualdade de direitos, não haverá tropeços no caminho de ninguém para a busca da felicidade, isto é, para que cada um, com sua habilidade, alcance a posição apropriada à sua máxima capacidade. (BELLONI, 2003, p.456). Com aparato destes estudos de políticas compensatórias, especialmente no sistema de cotas, o projeto aponta para uma avaliação sobre a realidade acadêmica dos alunos cotistas da Universidade de Pernambuco; sua integração com os demais agentes do meio acadêmico; nível de satisfação e expectativas em relação à universidade, bem como suas perspectivas profissionais e vínculo com mercado de trabalho. De acordo com dados coletados entre os primeiros alunos cotistas inseridos no quadro discente em 2005.1, pretende­se uma comparação com os novos alunos, ingressantes em 2008.1.
O interesse em abordar a questão deve­se ao fato de ser um acontecimento recente nesta instituição, na qual ainda não há cotistas graduados; assim como no nosso Estado, visto que é a primeira universidade em Pernambuco a adotá­lo – daí seu caráter inovador. Carece, portanto, de estudos sobre a situação desses alunos provenientes de uma realidade socioeconômica distinta da grande maioria que integra o quadro discente da UPE, e que conseguiram chegar à universidade através de uma medida também diferenciada. Assim, espera­se contribuir para o entendimento da situação desses estudantes em seus respectivos cursos. A problemática central do estudo possibilitará uma análise sobre as reais condições do sistema de cotas sob a visão dos próprios beneficiados, permitindo uma leitura crítica­reflexiva sobre as mudanças ocorridas em benefício dos estudantes, constatando o que precisa ser modificado e/ou acrescentado para que eles consigam concluir o ensino superior. Tem como finalidade compreender a validade, impacto sócio­educacional e representatividade do tão polêmico sistema de cotas. De modo específico, a pesquisa objetivou analisar a integração desses alunos na universidade; sua satisfação com o curso; desempenho acadêmico; perspectiva profissional, bem como identificar vínculo com o mercado de trabalho. Quanto maior o conhecimento acerca destes alunos, maior a capacidade de aprimoramento funcional do sistema de cotas da Universidade de Pernambuco. Entretanto, falar em políticas de ação afirmativa, sobretudo em relação ao sistema de cotas universitárias, requer uma abordagem também sobre a universidade como um todo.
A UNIVERSIDADE
A primeira universidade brasileira foi instituída por decreto em 1920. Era meramente profissionalizante, elitista e alheia às necessidades da maioria da população, além de não incentivar o desenvolvimento da ciência e da tecnologia. Até meados de 1960, suas funções eram de “transmissão da cultura; ensino de profissões; investigação científica e educação dos novos homens de ciência”, caracterizando­se como Instituição Social. A partir do final da década de 60, os “três fins principais da universidade passaram a ser a investigação, o ensino e a prestação de serviços” (OLIVEIRA et al, 2006, p.9). Hodiernamente, as instituições de ensino superior têm diferentes finalidades, elas estimulam o pensamento cultural, reflexivo e científico; o desejo de expandir os conhecimentos por meio da prática de pesquisas; promove a extensão; e oferece serviços à comunidade através de programas e projetos universitários. Inclui­se também, na sociedade capitalista, a função de formar profissionais para atender as necessidades do mercado de trabalho, assumindo assim, um papel pragmático e funcional. Ao longo dos anos, sociedade e universidade sofreram várias transformações, e agora esta “tem não só o dever, mas também a responsabilidade social de reproduzir sua pesquisa, de forma aberta, a toda a sociedade”. (KUNSCH, 1992, p.27). A universidade pressupõe, portanto, qualificação profissional, investigação científica e tecnologias que o país necessita para um desenvolvimento favorável às mudanças sociais. Certamente, as instituições abrigam contradições geradas na sociedade, decorrentes de interesses dos distintos grupos sociais, em correlações de forças que geram crises, caracterizando os diferentes momentos históricos na qual se insere. Para Santos, há idéias­mestras que pautam o acesso à universidade, como: A universidade pública deve permanecer gratuita e aos estudantes das classes trabalhadoras devem ser concedidas bolsas de manutenção e não empréstimos. [...] Nas sociedades multinacionais e pluri­culturais, onde o racismo, assumido ou não, é um facto, as discriminações raciais ou étnicas devem ser confrontadas enquanto tal como programas de acção afirmativa (cotas e outras medidas) que devem visar, não só o acesso, como também o acompanhamento, sobretudo durante os primeiros anos onde são por vezes altas as taxas de abandono (2005, p.68­69). Mesmo com todas as mudanças, a universidade permanece elitista. No intuito de torná­la mais acessível foi criado o Sistema de Cotas, como tentativa de transformar essa realidade excludente na universidade brasileira. Todavia, não é modificando somente o ápice do problema que a educação brasileira progredirá. É preciso promover mudanças nas estruturas de base da educação nacional. Sabe­se que as condições socioeconômicas pesam negativamente na educação brasileira, o que contribui para que cerca de 21 milhões de pessoas, entre 25 e 64 anos de idade nunca tenham ido à escola. A população de 15 anos representa 13,3% dos analfabetos nesta faixa etária (IBGE, 2000). No setor de educação básica, há uma evasão alta, provocada por alguns motivos, tais como necessidade de ajuda na renda familiar, localização que dificulta o acesso, precariedade das instalações e dos equipamentos, assim como nível dos professores. Entretanto, para a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), há redução na taxa de analfabetismo e crescimento no acesso ao ensino superior. O número de estudantes nas universidades e faculdades do país vem aumentando, com a inclusão dos estudantes das camadas C e D; o acesso não mais se restringe as duas primeiras camadas sociais. Belloni (2003), por sua vez, ainda considera baixo o percentual de universitários na faixa de 17 a 24 anos no Brasil. A sociedade necessita de uma reforma universitária que atenda aos seus interesses, com um novo acordo de clareza entre o papel e a missão do ensino superior diante dos seus objetivos e interesses para o desenvolvimento econômico e social.
SISTEMA DE COTAS
São duas as origens das desigualdades socioeconômicas: herança e oportunidades sociais. Há fatores que levam à exclusão de indivíduos, dificultando ou impossibilitando a mobilidade social a partir de uma questão básica que é o acesso à escolaridade. Forma­se uma corrente que funciona como uma herança, ou seja, a escolaridade dos pais determina a escolaridade de seus filhos. No Brasil o acesso à universidade ainda é pequeno, já que “apenas cerca de 13% dos jovens entre 18 e 24 anos freqüentam cursos de nível superior”. (BELLONI, 2003, p. 461).
É evidente que o Brasil precisa de uma política de educação superior voltada para o desenvolvimento científico­tecnológico e comprometida com uma sociedade democraticamente igualitária. Segundo Campos (2008), a política de cotas introduz ações que favoreçam a igualdade de oportunidades educacionais no acesso à universidade, devendo estar associado a um programa de apoio financeiro e acompanhamento acadêmico, o que possibilitará a permanência do estudante até a conclusão do curso. Vale salientar que políticas compensatórias não resolvem todos os problemas sociais e raciais, mas poderão reverter algumas tendências injustas na estrutura social e cultural do país. É preciso quebrar a “lógica” da igualdade quando de fato esta não há, e implementar o princípio da isonomia que é o fundamento jurídico e filosófico da ação afirmativa. O Sistema de cotas tem origem na Índia, cujo pioneirismo na adoção dessa política foi instituído desde a sua Constituição de 1950, e até hoje favorece a casta mais baixa – “os intocáveis”. Em 1960, de acordo com Frazão (2007), os Estados Unidos adotaram as ações afirmativas (affirmative actions policies), promovendo a diminuição das diferenças entre negros e brancos através do ingresso dos afro­descendentes nas instituições de ensino superior. Na sociedade norte americana, “o repúdio é total a tudo o que vem dos negros; aqui, quase todos, mesmo os racistas, encantam­se com o que se considera ter vindo da África” (KAMEL, 2006, p. 22). No Brasil, continua o jornalista e cientista social, há relacionamentos inter­raciais sem barreiras institucionais. A importação das políticas afirmativas étnicas traz a solução de um problema com formato alheio à nossa sociedade. É inegável a existência da discriminação racial no nosso país; entretanto, sua presença é minoritária e não­declarada, uma vez que a própria sociedade condena sua prática. A democracia racial, há tempo defendida por Freyre (2006), identifica o papel fundamental do negro na formação da identidade nacional. A mestiçagem do nosso povo remota ao período colonial, sobre o qual a sociedade brasileira consubstanciou­se. Ainda que as cotas raciais não sejam consideradas inconstitucionais, as cotas sociais são mais apropriadas no caso do Brasil. É notória e indubitável a defasagem educacional da população negra; bem como coerente as suas reivindicações em defesa das cotas raciais, entretanto, para Bello “há de se reconhecer que o critério mais preciso para delinear as minorias discriminadas e sem acesso ao ensino superior gratuito é o sócio­econômico”. (2005, p. 47).
A nossa sociedade, na verdade, tem preconceito contra os pobres – “classismo”. A discriminação decorre da classe social a qual o sujeito pertence, esta é a nossa realidade. Embora ocorra universalmente, o Brasil possui características bastante peculiares. A pobreza brasileira reveste­se da ignorância, falta de acesso à educação e informação; tornando­se mais ostensiva do que em outros países, pela ausência de instrução e conhecimento dos direitos.
A preocupação é que as políticas de cotas raciais jamais eliminarão as bases de um preconceito que não é racial, mas social. Ao contrário, as cotas poderão criar no Brasil um racismo que até aqui não conhecíamos. Entre os pobres, cor não é nem privilégio nem demérito de ninguém (KAMEL, 2006, p.104).
Ademais, caberia às cotas raciais o preenchimento das vagas reservadas “pelos negros e pardos privilegiados economicamente advindos da rede particular de ensino médio e fundamental, na qual receberam maior grau de conhecimento” (BELLO, 2005, p. 46). A Universidade de Pernambuco não contempla diretamente a questão racial. A origem étnica é utilizada apenas como critério de desempate. Os defensores do sistema alegam que as cotas
São um instrumento para inclusão social a ser inserido em um planejamento de ações integradas que unam as possibilidades de universalidade e diversidade, a partir do princípio de que a educação é um direito de todos (FRAZÃO, 2007, p. 45­46).
O ideal seria uma renovação no ensino público que garanta condições para uma concorrência igualitária com os estudantes egressos da rede de ensino privada. Todavia, isto implicaria numa modificação da sociedade brasileira, essencialmente excludente e injusta com as minorias sócio­econômicas, conclui a autora. Seu caráter temporário, como solução imediata para antigos problemas, deverá estar paralelamente acompanhada de uma transformação de natureza ôntica na sociedade. Caso contrário, o Brasil estará fadado ao destino dos demais países que também adotaram as políticas. Para Kamel, o país não será exceção, porquanto Livrar­se das cotas será uma tarefa praticamente impossível numa democracia de massas como a nossa, em que a pressão de grupos organizados é decisiva na eleição de um parlamentar ou mesmo um presidente (2006, p. 90).
O sistema educacional brasileiro reproduz a dominação socioeconômica de uma pequena parcela da população, detentora de todo poder, em detrimento da maioria, cujo acesso à educação básica e superior é negado. O ensino público de nível fundamental e médio, portanto, é precário tanto quantitativa quanto qualitativamente em relação à rede particular, o que reflete na inacessibilidade dos alunos de pouco poder aquisitivo ao nível superior – tornando­o restrito às classes dominantes. O Brasil vem utilizando­se das cotas para ingresso no ensino universitário como alternativa emergencial, impedindo uma reprodução, no âmbito acadêmico, das diferenças existentes na sociedade enquanto se procuram outros meios para promover a igualdade ­ inclusive uma reforma no sistema educacional. Diversos países introduziram o sistema de cotas desde a segunda metade do século XX; encontramo­nos, destarte, com certo atrasado. Um aspecto relevante deste retardo é a agregação dos acertos e combate aos erros da experiência alheia. É importante salientar, não obstante, a necessária adaptação à realidade brasileira, visto que nosso povo constitui uma nação cujas peculiaridades não se registram nas demais. PROCEDIMENTOS METODÓLOGICOS
A pesquisa é de caráter qualitativo, partindo da análise dos resultados quantitativos. O instrumento utilizado para obtenção dos dados foi um questionário semi­fechado. O trabalho visou conhecer os novos cotistas, ingressantes em 2008.1, cursando, portanto, o segundo período, a fim de realizar um estudo comparativo com a amostra de 2005.1 (os primeiros alunos beneficiados com o sistema de cotas pela UPE, os quais se encontravam no sétimo período), para posterior análise das suas condições e expectativas em relação à realidade acadêmica. A amostra é não­probabilística intencional, formada por 71 cotistas. Para a coleta de dados foram selecionados os sujeitos/alunos os quais concordaram em participar da pesquisa; respondendo o questionário. No segundo momento foram discutidos os dados documentais, bibliográficos e os elementos dos questionários, possibilitando a análise e quantificação dos resultados, através do Programa SPSS for Windows, versão 13.0 e Microsoft Excel 2003. Utilizou­se para o tratamento dos resultados o método descritivo, uma vez que não foram utilizados instrumentos da estatística inferencial, e sim análise das freqüências diretas e das relações entre as variáveis do estudo. O procedimento para seleção da amostra consistiu de entrevista com todos os alunos cotistas que ingressaram na UPE através do vestibular de 2005.1 e 2008.1, localizados no Campus Santo Amaro. O escopo principal da pesquisa consistiu em avaliar a trajetória dos alunos cotistas da Universidade de Pernambuco para análise das suas condições gerais de vida, e expectativas em relação ao mundo acadêmico. A entrevista foi realizada com a permissão por escrito dos indivíduos, através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, não apresentando nenhum risco ao indivíduo participante. O estudo tem o aval do Comitê de Ética em Pesquisa, sob o número 147/07 e será assegurada confidencialidade ao indivíduo participante sobre as informações obtidas através do questionário.
RESULTADOS
A análise foi realizada com 71 (setenta e um) cotistas do campus Santo Amaro, sendo 43 (quarenta e três) estudantes do segundo período, enquanto os demais (vinte e oito) correspondem aos alunos do sétimo ­ primeiros beneficiados pela implantação das cotas nesta universidade. Foram entrevistados estudantes da Escola Superior de Educação Física (ESEF), Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças (FENSG), Faculdade de Ciências Médicas (FCM), e do Instituto de Ciências Biológicas (ICB). A Faculdade de Odontologia de Pernambuco (FOP) não participou da amostra, uma vez que somente no primeiro ano do curso encontram­se no campus de Santo Amaro; sendo, posteriormente transferidos para a unidade de Camaragibe. Em ambas as amostras predominaram estudantes de Educação física (Bacharelado e Licenciatura) e Medicina, visto que são os cursos com maior número de vagas oferecidas (duzentas e cento e cinqüenta, respectivamente). Além da diferença quantitativa entre os cursos, alguns alunos não devolveram o questionário enquanto muitos outros, principalmente do sétimo período, não mais mantém vínculo com a instituição.
Gráficos nº. 1 e 2 ­ Unidade de ensino
7º período
2º período
18,6%
17,9%
30,2%
30,2%
28,6%
28,6%
20,9%
25,0%
A crescente presença feminina no âmbito acadêmico é evidente na amostragem estudada, na qual 70,4% pertencem a este gênero. Quando analisados por períodos verifica­se tal aumento no decorrer do tempo, pois entre os estudantes do sétimo período as mulheres correspondem a 60,7% ; já com os novos cotistas o percentual sobe para 76,7%. Tabela n.º 1 ­ Gênero
2º Período 7º Período
F(a)
F(%)
F (a)
F (%)
Feminino
Masculin
o
33
76,7
17
60,7
10
23,3
11
39,3
Total
43
100,
0
28
100,0
Em ambos os períodos, verificou­se a importância do sistema de cotas na garantia do ingresso imediato à universidade. Cerca de 70% dos alunos do segundo período entraram na UPE com idade entre 17 e 20 anos. A maioria dos alunos do sétimo período (60,7%) possui entre 21 e 24 anos, o que demonstra um ingresso também antecipado quando comparados aos demais alunos oriundos de escolas públicas. Dos setenta e um alunos entrevistados, apenas quatro são casados – dois em cada período. Ou seja, 94,4% são solteiros e apenas 5,6% já constituem família. A renda familiar encontra­se, majoritariamente, entre um e sete salários mínimos – com importantes diferenças percentuais. Os alunos de segundo período, no geral, possuem uma renda mais baixa, pois 30,2% têm renda de até um S.M. enquanto 48,8% estão na faixa de dois a quatro. Já entre os alunos do sétimo período, a renda de 78,6% é entre dois e quatro S. M., e 14,3% de cinco a sete. O aumento da renda mensal no decorrer do curso ocorre em virtude do vínculo com o mercado de trabalho por parte de alguns alunos. Dos cotistas do sétimo período, 35,7% possuem fonte de renda que varia de um a quatro salários mínimos; contra 90,7% do segundo período que não possuem renda própria e, portanto, não contribuem com a renda familiar. Ainda que possuam participação na renda, isto é, maior integração com o mercado de trabalho, o salário não é suficiente para promover transformações profundas no lar, visto que tal contribuição não ultrapassa quatro salários mínimos – provavelmente utilizados para custear as despesas com transporte (81,7% utilizam ônibus como meio de locomoção) e alimentação. Quando indagados acerca dos eletrodomésticos que possuem em suas residências, obteve­se equivalência percentual. Apenas um aluno não possuía televisão, enquanto 53,5% possuem uma e 38% possuem duas. Quanto ao aparelho de DVD, somente 11,3% não o possuem. Alguns bens, cuja função não é prioritária e/ou podem ser substituídos, bem como aparelhos com alto custo, quando encontrados nas residências, não ultrapassam uma unidade. São eles: Tabela n.º 2 – Bens menos encontrados
Bens
Câmera digital
Máquina de lavar roupas
Microondas
Motocicleta
Sim
39,4%
38,0%
29,6%
5,6%
Não
60,6%
62,0%
69,0%
93,0%
O computador, equipamento fundamental no cotidiano universitário, encontra­se nas residências da grande maioria; 76% dos estudantes entrevistados o possuem. A sua significativa presença na casa dos alunos torna­se um instrumento ainda mais eficaz quando dispõe de acesso à internet. Dentre os locais de acesso mais freqüentados, 57,1% dos estudantes do sétimo período declararam utilizar a internet para fins de pesquisa em suas próprias casas; enquanto os do segundo período somam 44,1%. Dispor desta ferramenta de pesquisa em casa possibilita uma maior constância aos seus conteúdos e serviços. É o que se verifica na tabela abaixo, na qual o acesso é mais freqüente que outrora. As bibliotecas da universidade contribuem para a utilização deste recurso do mesmo modo, pois é o local de acesso de 32,1% e 29,6% dos alunos, do 7º e 2º períodos, respectivamente.
Gráfico n.º 3 – Acesso à internet
Fim de semana
16,9%
1 vez por semana
24,0%
40,8%
2 a 4 vezes por semana
Diariamente
1 8 ,3 %
Ao contrário do que ocorre com o acesso à rede mundial de computadores, são poucos os cotistas que têm oportunidade de freqüentar outros veículos culturais. Sabe­se do alto custo para obtenção de outras fontes de informação e lazer além da televisão. É devido a este e outros possíveis motivos, que a maior parte dos entrevistados declarou raramente ir ao cinema e ler revistas informativas. Há ainda aqueles que nunca assistiram a filmes em cinemas. Tabela n.º 3 e 4 – Freqüência ler revistas e Freqüência vai ao cinema
2º Período 7º Período 2º Período 7º Período Uma vez por semana
Uma vez por mês
Raramente
F(a)
F(%)
F(a)
F(%)
F(a)
F(%)
F(a)
F(%)
10
23,3
4
14,3
4
9,3
1
3,6
5
25
11,6
58,1
7
15
25,0
53,6
10
23
23,3
53,5
9
18
32,1
64,3
Nunca
Sem resposta
Total
2
1
43
4,7
2,3
100,
0
2
0
28
7,1
0,0
100,
0
5
1
43
11,6
2,3
100,
0
0,0
0,0
0,0
0,0
28
100,0
Já em relação à leitura de jornais, é mais freqüente na rotina dos entrevistados. Os que lêem de uma a quatro vezes por semana correspondem a 76,6% no segundo período; e no sétimo a 71,4%. Mesmo com um grande percentual de leitores, 27,9% dos alunos do segundo período e 25% do sétimo nunca lêem jornais. A satisfação com a universidade – seus componentes (funcionários, professores, demais alunos), estrutura e o curso – reflete­se no futuro profissional destes estudantes. O grau de interesse, de dedicação, afinidade com o curso e a carreira escolhida estão intimamente vinculados não somente à predisposição ao curso, mas também a serviços e condições oferecidos pela universidade, assim como o meio pelo qual os alunos egressos de escolas públicas entraram na universidade. De maneira geral, o nível de satisfação com a universidade é bastante elevado. Embora muitos alunos estejam satisfeitos com a instituição, houve uma queda no percentual dos “muito satisfeito” entre o segundo e o sétimo períodos, como mostra o gráfico. Gráfico n.º 4 – Nível de satisfação com a universidade
2º Período
7º Período
65,1% 64,3%
25 ,6 %
25%
7 ,1 %
Muito satisfeito 4,7%
Satisfeito
Pouco satisfeito
2,3% 3,6%
Insatisfeito
O mesmo ocorre com o nível de satisfação com o curso. Entre os alunos do sétimo período, apenas 7,1% encontram­se muito satisfeitos com o curso, estando a maioria, 71,4%, satisfeita. Já no segundo período, 55,8% declararam estar muito satisfeito com o curso, elevando, portanto, para mais da metade o percentual dos alunos bastante contentes com o curso. Gráfico n.º 5 – Nível de satisfação com o curso
2º Período
7º Período
71,4%
55 ,8 %
32,6%
14,3%
4,7%
7,1%
Muito satisfeito Satisfeito
Pouco satisfeito
4,7% 7,1%
Insatisfeito
A satisfação com o curso está vinculada ao motivo de sua escolha. É quase unânime (93%) a afinidade como razão pela escolha do curso entre os alunos do sétimo período. Este mesmo percentual declarou serem estes os cursos que realmente gostariam de ter feito. O reflexo disto encontra­se na satisfação de 75% com as notas obtidas, contra 21,4% que reconhecem necessitar de maior dedicação. Entretanto, os níveis de dificuldade com o conteúdo variam basicamente entre os níveis “nenhum”, “baixo” e “muito baixo”.
Entre os alunos do segundo período, a afinidade corresponde a 86% das respostas. No entanto, esta pequena queda percentual, quando comparada ao sétimo período diz respeito à influência dos pais e retorno financeiro dentre os motivos que levaram 9,4% dos estudantes a escolherem o curso. Por isto, 25,6% afirmaram não serem estes os cursos que gostariam de ter feito. Mesmo assim, 71,4% estão satisfeitos com as notas e julgam não encontrar muitas dificuldades com o conteúdo programático. Tabela n.º 4 – Nível de dificuldade do conteúdo
2º Período 7º Período
F(a)
F(%)
F(a)
F(%)
8
18,6
11
39,3
Nenhum
Muito baixo
Baixo
Alto
7
16,3
8
28,6
24
4
8
1
28,6
3,6
Total
43
55,8
9,3
100,
0
28
100,0
As dificuldades em relação ao conteúdo são menos preocupantes quando comparadas a outros tipos de impedimentos que os cotistas deparam­se ao longo do curso. Dentre os 32,1% dos estudantes do sétimo período que afirmaram ter outras dificuldades, 18% a relacionam com a questão financeira; eles não recebem ajuda de custo para manutenção na universidade. Dos 34,9% do segundo período, 16,3% confessam do mesmo modo a dificuldade de custear os gastos diários na universidade, enquanto outros, em equivalência percentual, relacionam as dificuldades com a infra­estrutura da instituição. A amostra dos primeiros cotistas da Universidade de Pernambuco já foi alvo de nossos estudos. Quando pertenciam ao segundo período, no ano de 2006, também foram entrevistados a fim de nos fornecer um perfil de suas origens socioeconômica e educacional. Portanto, na execução deste acompanhamento até a conclusão do curso, mantiveram­se presentes algumas informações, dentre as quais se destaca a expectativa em relação ao curso. Ao compará­los nestas duas etapas, obteve­se o seguinte resultado:
Gráfico n.º 6 – Expectativas em relação ao curso
Sim
Não
75 %
Sem resposta
77,8%
25 %
11,1% 11,1%
0%
7º Período
7º quando era 2º período
A estrutura oferecida pela universidade constitui um dos principais pontos de pouca satisfação. Apesar de 50,0% dos cotistas do sétimo período estarem satisfeitos, uma parcela considerável, quase quarenta por cento, encontra­se pouco satisfeita. No segundo período a pouca satisfação é ainda maior: 46,5%. Os alunos insatisfeitos apresentam­se numericamente equiparados em ambas as amostras (dois por período). Gráfico n.º 7 – Nível de satisfação com a estrutura da universidade
2º Período
50,0%
7º Período
46,5%
39,3%
32,6%
1 4 ,0 %
4,7%
3 ,6 %
Muito satisfeito Satisfeito
Pouco satisfeito
7,1%
Insatisfeito
No concernente ao nível de satisfação com os professores, os dados coletados também demonstram maior percentual de alunos satisfeitos, 65,1% no segundo e 67,9% no sétimo período. A quantidade de alunos do segundo período que afirmaram estar muito satisfeitos representa 30,2%, o que não ocorre com o 7º período, onde um único estudante encontra­se satisfeito com os professores. A insatisfação, neste item, não foi citada por nenhum dos períodos. Os cotistas, tanto veteranos como os novatos, não sofrem discriminação por parte dos colegas de sala nem da universidade. A maioria, em ambos os períodos, está satisfeita com os demais alunos. Gráfico n.º 8 – Nível de satisfação com os colegas de sala
2º Período
7º Período
53,5%
42,9%
35 ,7 %
30 ,2 %
14% 14,3%
0%
Muito Satisfeito Satisfeito
Pouco Satisfeito
7,1%
Insatisfeito
Quando indagados sobre o meio pelo qual ingressaram no ensino superior público, e sobre o percentual destinados a essa política inclusiva, a pergunta foi acrescida de um complemento: o porquê deste nível de satisfação. A investigação sobre o olhar que os próprios beneficiados têm pelo sistema, constitui um dos objetivos deste estudo. Os percentuais de satisfação permaneceram elevados em ambas as amostras, todavia apenas 7,1% dos alunos do sétimo período encontraram­se muito satisfeitos, enquanto no segundo período sobe para 30,2% dos estudantes. Gráfico n° 9 ­ Nível de satisfação com o sistema de cotas
2º Período
7º Período
67,9%
44,2%
30,2%
18,6% 17,9%
7,1%
Muito satisfeito 2,3% 3,6%
Satisfeito
Pouco satisfeito
Insatisfeito
Dentre os principais motivos pelos quais os alunos encontram­se satisfeitos com o sistema de cotas, 44,2% do segundo período afirmaram ser a “oportunidade de acesso a um ensino superior de qualidade”, embora 16,3% dos alunos não responderam. Já no sétimo período, esta oportunidade de ingresso à universidade foi declarada por 21,4% dos estudantes; enquanto 25,0%, respondeu pela “falta de condições para se manter na universidade”. Ainda no sétimo período, 32,1% preferiu não opinar. Tanto o sétimo como o segundo período citaram a necessidade de investimentos no ensino fundamental. Quanto ao nível de satisfação com os 20% de vagas oferecidas para alunos de escola pública, 67,9% dos universitários do sétimo período estão satisfeitos com esta quantidade oferecida, enquanto no segundo período o percentual de respostas cai para 46,5%, conforme gráfico nº 10. Os estudantes pouco satisfeitos defendem a idéia de que a quantidade de alunos oriunda de escolas públicas é consideravelmente maior que os alunos egressos da rede privada, por isso a porcentagem destinada a essa política de ação afirmativa deveria ser maior. Estes alunos correspondem a 18% no sétimo período e 28% no segundo. Muitos alunos, entretanto, reconhecem ser um percentual adequado pra promover a diminuição das disparidades. Ademais, alegam que os 20% são capazes de permitir a entrada daqueles alunos que estudam, e apenas não ingressam pelo sistema universal devido às deficiências do ensino público. Portanto, é uma quantidade suficientemente justa para 35,7% dos cotistas do sétimo e 25,6% do segundo período. Vale salientar que os universitários que não expressaram os motivos pelos quais estão ou não satisfeitos, somam 42,9% no sétimo, e 32,6% no segundo período. Gráfico n.º 10 – Nível de satisfação com os 20% oferecidos
2º Período
7º Período
67,9%
46,5%
27,9%
25%
1 1 ,6 %
3,6 %
Muito satisfeito 2,3% 0%
Satisfeito
Pouco satisfeito
Insatisfeito
Foram apresentados alguns possíveis projetos profissionais para após conclusão do curso. Quando pedido para responderem em ordem de prioridade, os resultados que se destacaram foi da continuidade aos estudos, e fazer outra graduação, para os alunos do segundo período. Enquanto os do sétimo período querem, preferencialmente ingressarem no mercado de trabalho, e estudarem para concurso público. Um percentual elevado deste mesmo período preferiu não responder. A comparação entre os planos profissionais pode se acompanhada nos gráficos seguintes. Gráfico n.º 11 – Primeiro projeto profissional
7º Período
2º Período
11,6%
Sem resposta
4,7%
Estudar para concurso público
21,4%
23,3%
25%
Ingressar de imediato no mercado de trabalho
Dar continuidade aos estudos
Fazer outra graduação
28,6%
39,5%
21,4%
20,9%
3,6%
Gráfico n.º 12 – Segundo projeto profissional
7º Período
2º Período
18,6%
Sem resposta
Estudar para concurso público
14,3%
27,9%
21,4%
25,6%
28,6%
Ingressar de imediato no mercado de trabalho
Dar continuidade aos estudos
Fazer outra graduação
28,6%
27,9%
0%
7,1%
Gráfico n.º 13 – Terceiro projeto profissional
7º Período
2º Período
20,9%
Sem resposta
Estudar para concurso público
Ingressar de imediato no mercado de trabalho
Dar continuidade aos estudos
Fazer outra graduação
Gráfico n.º 14 – Quarto projeto profissional
18,6%
17,9%
14%
1 7 ,9 %
9,3%
10,7%
28,6%
25%
37,2%
7º Período
2º Período
20,9%
Sem resposta
Estudar para concurso público
Ingressar de imediato no mercado de trabalho
Dar continuidade aos estudos
Fazer outra graduação
11,6%
10,7%
9,3%
7,1%
9,3%
3,6%
35,7%
48,8%
42,9%
DISCUSSÃO
O conhecimento acerca da realidade dos universitários, provenientes da rede pública de ensino, é essencialmente significante para repensar o modelo da política inclusiva adotado pela Universidade de Pernambuco. Para participação do sistema de cotas, a condição indispensável consiste na comprovação de curso do “ensino médio, integralmente, em regime regular e exclusivamente, em escolas públicas estaduais ou municipais, localizadas no Estado de Pernambuco” (MANUAL DO VESTIBULAR). Tal prerrogativa reafirma o compromisso desta instituição com a modificação da realidade social na qual está inserida. Ao contrário das demais redes de ensino superior, a Universidade de Pernambuco visa combater as desigualdades socioeconômicas existentes em nosso estado, através da verificação deste critério, viavelmente apurado. Em sentido oposto, a diferenciação racial encontra­se carregada de valores subjetivos, visto que sua mensuração através da cor da pele, da textura capilar, do formato do crânio, do nariz e dos olhos (traços étnicos), está fadada a classificações imprecisas, injustas e excludentes que ferem princípios fundamentais de um Estado Democrático de Direito. De tal modo, promove mais desigualdade e discriminação.
Os resultados obtidos esclarecem, portanto, algumas das principais dificuldades enfrentadas pelos cotistas para sua manutenção até o término do curso. Não obstante a facilidade no ingresso, estes estudantes necessitam de ajuda para custear a permanência no curso uma vez que a dedicação aos estudos, bem como as exigências do mercado impedem maiores vinculações com empregos e ocupações.
Não foram constatados relatos de discriminação por parte dos demais colegas de sala e de universidade. Muitas vezes, não há nem conhecimento de quem e quantos são os cotistas em cada turma. Os alunos, em geral, demonstraram­se satisfeitos com a nova realidade e reconheceram, no sistema de cotas, a única oportunidade de ingresso ao ensino superior gratuito e de qualidade; devido tanto à falta de recursos para estudar numa instituição particular, como pela facilidade proporcionada por esta política. No que concerne aos serviços oferecidos pela universidade, o acesso à internet para fins de pesquisa, através dos laboratórios localizados nas bibliotecas, merece destaque. Tendo em vista o considerável número de alunos usuários deste serviço, é importante rever os investimentos nesta área a fim de melhor atender essa demanda. Outros benefícios oferecidos pelas bibliotecas, entretanto, não fazem parte do cotidiano desses universitários. A leitura de revistas é seriamente defasada entre os entrevistados; assim como os jornais, que embora sejam frequentemente mais lidos, também são pouco utilizados, visto que estão disponíveis nas bibliotecas do campus Santo Amaro. A ida aos cinemas da cidade é raríssima. Entende­se que, do mesmo modo, poderia ser tarefa da universidade a promoção de eventos culturais fora do conteúdo normal dos cursos. Ainda que seja mais dificultoso intervir em eventos alheios à instituição, a experiência interdisciplinar com recursos não tão comuns é sempre proveitosa, ainda que numa instituição de nível superior, visando a melhoria na formação dos futuros profissionais que atuarão na sociedade. CONCLUSÃO
A aprovação social é primordial na legitimação dos processos de formulação e implantação do sistema de cotas. Estudos que versam as ações afirmativas no acesso à educação possuem, portanto, inquestionável relevância, uma vez que representam os meios pelos quais os órgãos competentes e a própria sociedade captam sua realidade; permitindo a reflexão de tais políticas, cujo modelo encontra­se distante do ideal. De acordo com outros estudos acerca do sistema de cotas em instituições de ensino superior brasileiras, os críticos apontam possíveis conseqüências negativas, as quais não foram encontradas neste trabalho. Jamais houve registro oficial de ocorrência fraudatória no processo de identificação dos beneficiados, o que favorece a integridade e legitimidade do sistema. Ao contrário do critério racial, cuja classificação étnica através de características físicas encontra­se sujeita a equívocos irremediáveis; promovendo mais desigualdade e preconceito. Também não foram identificados indícios de discriminação com os alunos cotistas, ainda que sua realidade socioeconômica seja atípica no âmbito universitário e suas notas de ingresso inferiores quando comparadas às do vestibular universal. Outro ponto sempre questionado em relação aos alunos cotistas e que não foi registrado, diz respeito a possível queda do nível de aprendizagem devido à carência intelectual e dificuldade em acompanhar o conteúdo programático por parte dos cotistas. O problema central do sistema de cotas implementado na Universidade de Pernambuco consiste na carência de auxílio financeiro a todos os alunos cotistas. Ainda que isentos de pagamento das taxas cobradas na instituição, não possuem recursos suficientes para custear transporte, alimentação, xérox, aquisição de livros e práticas de lazer. Boa parte dos cotistas relatou possuir dificuldade financeira para manter­se no curso. A UPE oferece a BIA ­ bolsa de iniciação científica para alunos cotistas ­, que representa um importante incentivo para envolvimento em pesquisas. No entanto, sua divulgação é insipiente e reflete a pouca participação e conhecimento dos cotistas sobre a existência desta oportunidade.
A política de cotas da UPE consiste na mais importante solução, a curto prazo, cujo objetivo é incentivar a mobilização social de setores antes nunca favorecidos com o acesso ao ensino superior. Seu compromisso, embora bastante significativo, necessita ainda de profundas modificações a fim de contribuir para manutenção destes alunos na instituição; uma vez que alguns alunos que abandonam o curso, comprometendo, assim, o motivo de existência da medida adotada com o programa: o combate às disparidades sociais. REFÊRENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BELLO, Enzo. Políticas de ação afirmativa no Brasil: uma análise da viabilidade de um sistema de cotas raciais para ingresso nas universidades. Direito, Estado e Sociedade, nº 26 p. 32­53. jan/jun, 2005. Disponível em: <http://www.puc­rio.br/direito/pdf/revista_vol_26. Acesso em: 26 de Dezembro de 2008.
BELLONI, Laura. Política de ação afirmativa para a democracia e a igualdade. In: Morhy, Lauro (org). Universidade em questão. Brasília: Ed. Da Universidade de Brasília, 2003.
CAMPOS, Maria Bernadete Leal Campos; et al. Um estudo sobre a realidade acadêmica, cultural e socioeconômica dos alunos cotistas da Universidade de Pernambuco. Universidade e Sociedade, Ano XVIII, nº 42, jun, 2008.
FRAZÃO, Thereza Jardim. Sistema de cotas e discurso da imprensa: o que é publicado e a reação da opinião publica. Recife: FCAP Books, 2007.
FREYRE, Gilberto. Casa­Grande e Senzala. Recife: Global Editora, 2006.
IBGE. Censo demográfico: características gerais da população: resultados da amostra. Rio de Janeiro: IBGE, 2000.
______. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), 1998. Disponível em: www.ibge.gov.br. Acesso em: 26 de fevereiro de 2006.
KAMEL, Ali. Nós não Somos Racistas: uma reação aos que querem nos transformar numa nação bicolor. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006. KUNSCH, Margarida Mª K. Universidade e Comunicação na Edificação da Sociedade. São Paulo: Edições Loyola, 1992.
OLIVEIRA, João Ferreira de; et al. Políticas de acesso e expansão da educação superior: concepções e desafios. MEC Ministério da Educação, INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aluísio Teixeira. Brasília, DF, 2006. Disponível em <www.lpp­
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SANTOS, Boaventura de Sousa. A Universidade no século XXI: para uma reforma democrática e emancipatória. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2005. 
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política de inclusão social da universidade de pernambuco