REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA
ISSN 1519-5228
Volume 12 - Número 2 - 2º Semestre 2012
Aporte de serapilheira em fragmentos florestais na Fazenda Três Irmãos no município
de Ituiutaba-MG
Nicolas Fernandes Martins1; Vitor Antônio da Silva2
RESUMO
Durante o período de um ano, foram avaliadas a quantidade de serapilheira depositada e a
sazonalidade de sua queda em uma floresta estacional decidual, próximo ao município de ItuiutabaMG. . Para o estudo foram utilizados 20 coletores de madeira e de formato quadrado e circular,
tendo 50 por 50 cm de largura, sendo o chamado de EG, os de 25 por 25 cm chamados de G
formato quadrados sendo os circulares de 15 cm de raio chamados de M e os de 9 cm de raio
denominados de P. Foram distribuídos de maneira aleatória numa reserva permanente. O material
depositado foi coletado mensalmente, separado em diferentes frações, secado em uma estufa e
posteriormente pesado. O trabalho fora desenvolvido na fazenda Três Irmãos, localizado a 20 km do
Município de Ituiutaba (sentido a Uberlândia na BR-365). Dessa forma este estudo teve por
objetivos quantificar a produção anual de serapilheira e correlações com as variáveis climáticas. Os
resultados obtidos as folhas constituiu-se como o principal componente da serrapilheira, e os meses
maiores totais de deposição da serapilheira ocorreram nos meses de novembro e dezembro. O total
de serapilheira registrada em todos os coletores foi de 8975 kg.ha-1 e no coletor EG onde a
amostragem dos dados foram melhores obtivemos um decorrência de serrapilheira num total 4101
kg.ha-1, sendo 2611 kg.ha-1 (63,66%) de folhas, 704 kg.ha-1 (17,16 %) de caule, 453 kg.ha-1 (11,04
%) de frutos e 333 kg.ha-1 (8,12%) de material indiferenciado. A grande quantidade de serrapilheira
nos meses de novembro a dezembro pode ser justificada por uma perturbação na floresta estacional
decidual.
Palavras-chave: Floresta estacional decidual, Dinâmica de serapilheira.
Litter production in forest fragments in Três Irmãos Farm in the municipality
of Ituiutaba-MG
ABSTRACT
During the period of one year, we tested the amount of litter and its seasonal fall in a deciduous
forest near the city of Ituiutaba-MG. . For the study, 20 wood collectors and square-shaped and
circular, with 50 by 50 cm in width, with the call of GE, a 25 by 25 cm square format called G and
the circular of 15 cm radius called M and 9-cm radius called P. Were randomly distributed in a
permanent reserve. The deposited material was collected monthly, separated into different fractions,
dried in an oven and subsequently weighed. The work carried out in the Three Brothers Farm,
located 20 km from the city of Ituiutaba (meaning to Uberlandia BR-365). Thus this study aimed to
quantify the annual litter production and correlations with climatic variables.
The results obtained from the leaves was established as the main component of litter, and the
largest total months of litter deposition occurred in the months of November and December. The
total litter recorded in all of the traps was 8975 kg ha-1 and EG in the collector where the sampling
data, we obtained a better result in litter totaling 4101 kg ha-1, being 2611 kg ha-1 ( 63.66%) of leaf,
704 kg ha-1 (17.16%) of stem, 453 kg ha-1 (11.04%) of fruit and 333 kg ha-1 (8.12%)
82
undifferentiated material. The large amount of litter in the months November-December may be
explained by a disturbance in deciduous forest.
Keywords: Deciduous forest, Dynamics and Litter.
1 INTRODUÇÃO
Tentando compreender os processos
dinâmicos que envolvem a queda de serapilheira
no solo entre diferentes sucessões climáticas o
presente trabalho representa uma ferramenta
valiosa de investigação da dinâmica necessária
para um ideal de medidas mitigadoras que
atendam a relação custo e beneficio para os
sistemas perturbadores (exploração) pelo
homem moderno (FRANCO & CAMPELLO
1997).
A serapilheira é um componente de
suma importância em um ecossistema florestal,
pois responde pela ciclagem de nutrientes, além
de indicar a capacidade produtiva da floresta ao
relacionar os nutrientes disponíveis com as
necessidades nutricionais de dada espécie
arbóreas (FIGUEIREDO FILHO et al., 2003).
No presente trabalho, houve vários fatores
bióticos e abióticos afetam a produção de
serapilheira, tais como: vegetação, altitude,
latitude, precipitação, regimes de luminosidade
entre outros. Assim, as características de cada
ecossistema, determinam o fator pode
prevalecer sobre os demais (FIGUEIREDO
FILHO et al., 2003). A serapilheira é formada
por vários materiais vegetais que, depositados
no solo, são responsáveis pela liberação dos
nutrientes que serão utilizados pela planta para o
seu próprio desenvolvimento. A serapilheira é
de material decíduo constituído de folhas,
gravetos, sementes, flores, cascas, galhos, partes
vegetais não identificáveis, bem como restos de
animais e material fecal.
O estudo da ciclagem de nutrientes
minerais via serapilheira é de fundamental
importância para o conhecimento da estrutura e
funcionamento de ecossistemas florestais. Parte
do processo de devolução da matéria orgânica e
de nutrientes para a camada florestal se dá por
meio da deposição da serapilheira, sendo esta
considerado o meio mais importante de
transferência de elementos essenciais da
vegetação para o solo (VITAL et al., 2004).
Dessa forma a serapilheira controlam muitas das
propriedades físicas, químicas e biológicas do
solo, caracterizando-se como um grande fator na
manutenção de sistemas florestais e controle de
processos erosivos, tais como o fornecimento de
substâncias agregantes ao solo (FACELLI &
PICKETT 1991).
O presente estudo teve por objetivo a
avaliação temporal da deposição da serapilheira,
bem como a quantificação do material decíduo
aportado em formações florestais com diferentes
regimes de saturação hídrica numa região de
floresta Estacional Decidual.
A floresta Estacional Decidual é
caracterizada por ter duas estações climáticas
bem definidas, sendo uma chuvosa seguida por
um longo período de seca, sendo o estrato
predominante caducifólio tendo mais de 50 %
de indivíduos perdem suas folhagens em
períodos desfavoráveis (VELOSO et al.1991),
sendo as machas da Floresta
Estacional
Decidual no Brasil é distribuídas pelos estados
de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Bahia
(RIZZINI, 1979). A sua ocorrência sendo em
solos de origem calcária, sendo às vezes com
afloramentos rochosos típicos, podendo ocorrer
em solos de outras origens (RIBEIRO &
WALTER 1998). É de suma importância em termos
botânicos por apresentar fisionomia e florísticas
próprias (RODRIGUES, 1999). Estudos a respeito
da dinâmica de produção e ciclagem de serapilheira
ainda são escassos tendo poucas informações sobre a
estrutura e funcionamento dessas comunidades
(KRONKA, 1998). O trabalho tem como objetivos
quantificar a produção de serrapilheira na floresta
estacional decidual e a relação com as variáveis
climáticas, ao longo de um ano na fazenda Três
Irmãos no município de Ituiutaba-MG.
OBJETIVO
Identificar o padrão de deposição de
serapilheira em fragmentos de Floresta
Estacional Decidual, sendo quantificado o
83
material decidual e estabelecida sua relação com
as variáveis climáticas.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foram instalados aleatoriamente 20
coletores, sendo numerados de 1 a 20, os quais
foram divididos em quatro grupos, sendo 1 ao 5
denominados EG de forma quadrada cuja
medida eram 50 por 50 cm (0,250 m2), os
coletores numerados de 6 a 10 chamados de G
eram de forma quadrada de largura 25 por 25
cm(0,0625 m2), os de 11 a 15 eram M de forma
circular de seção circular de raio 15 cm
(0,0706m2) e os coletores de 16 a 20 o P de forma
circular de raio 9 cm de raio (0,0254 m2).
Mensalmente,
a
serapilheira
era
coletada, totalizando um ano de coleta que fora
nos períodos de agosto de 2009 a julho de 2010.
O material fora triado e seco em estufa nas
dependências do ECOZOOL (Laboratório de
Ecologia e Zoologia) da Faculdade de Ciências
Integradas do Pontal, unidade da Universidade
federal de Uberlândia em Ituiutaba-MG. A
triagem do material consistiu em separá-lo em
caule, folhas e frutos. Após esta, o material era
submetido a uma estufa a temperaturas de
aproximadamente 70 ºC por um período de três
dias e, após a secagem, pesado em uma balança
de precisão (em gramas, com duas casas
decimais).
A área amostrada está localizada na
Fazenda Três Irmãos, totalizando uma área de 3
hectares1 de reserva permanente, localizada na
região urbana do município de Ituiutaba, no
Pontal do Triângulo Mineiro, oeste do estado de
Minas Gerais.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os nutrientes podem retornar ao solo
através da queda dos componentes senescentes
das partes aéreas da planta e sua posterior
decomposição. Os fragmentos orgânicos, ao
caírem no solo, formam uma camada de
serapilheira que compreende folhas, caule,
frutos, flores e bem como os restos de animais.
O total de serapilheira registrada nos
coletores foi de 8975 kg.ha-1.Ano -1 no período
referido, os melhores resultados foram obtidos
com o coletor EG, mas os coletores G e M
obtivemos excelentes resultados.
A coleta de 8975 kg.ha-1.Ano -1 obtido
na floresta estacional decidual na fazenda Três
Irmãos ( Ituiutaba) foram diferentes dos
resultados obtidos em floresta semidecidual,
sendo valores menores
de Schlittler e
colaboradores (1993) obteve 6560 kg.ha-1.Ano -1
Werneck e colaboradores (2001 ) , obteve 6780
kg.ha-1.Ano -1, os maiores os resultados de
Meguro et al. (1979) 9.400 kg.ha-1.Ano -1;
Pagano (1989), Santos (1989) 9.014 kg.ha-1.ano1
e valores próximos na floresta estacional
semidecidual foram encontrados 8.643 kg.ha1
.Ano -1; Cesar (1993), 8.800 kg.ha-1.Ano -1;
Durigan et al. (1996).
Em trabalhos na floresta estacional
decidual (VOGEL, 2007) obtidos 7436 kg.ha1
.ano -1 e König et al. (2002) obtiveram uma
deposição de 9,2 Mg ha-1, já Cunha (1997) 5,8
Mg ha-1.
Dentre esses fatores, Mason (1980) e Bray
e Gorham (1964) propôs que o clima é um fator
importante para a queda de serrapilheira e as
temperaturas elevadas no maior período de
crescimento das plantas e maior quantidade de
insolação constituem dessa forma fatores relevantes
para a produção de serrapilheira, sendo a produção
de serrapilheira é relacionada a diferentes
ecossistemas florestais, ou seja, as deposições de
serrapilheira podem apresentar diferentes proporções
de frações de constituintes. O coletor EG obteve
um total 4101 kg.ha-1, sendo 2611 kg.ha-1
(63,66%) de folhas, 704 kg.ha-1 (17,16 %) de
caule, 453 kg.ha-1 (11,04 %) de frutos e 333
kg.ha-1 (8,12%) de material indiferenciado.
Figura 1 - Foto do Coletor G (0,0625 m2).
1 hectare = 10 000 m2
83
No referido período, o mês de fevereiro
apresentou a menor coleta de serrapilheira,
sendo 192 kg/ha-1 e dezembro a maior coleta,
sendo 551 kg/ha-1. A maior fração de folhas foi
obtida nos meses de novembro a janeiro (meses
de maior precipitação pluviométrica), sendo o
mês de dezembro obteve-se a maior fração de
folhas de 355 kg.ha-1.
No mês de maio, a menor fração de
folhas foi obtida (111 kg.ha-1). A menor fração
de caule ocorreu em janeiro, uma deposição de
20 kg.ha-1 e a maior em junho com 108 kg.ha-1.
A maior fração de fruto foi observada no mês de
dezembro com 99 kg.ha-1 e não houve coleta de
frutos no mês de fevereiro. A maior fração para
o material indiferenciado ocorreu no mês de
agosto com 79 kg.ha -1 e não houve coleta
referente ao material mês de maio.
Os maiores constituintes da serapilheira
são as folhas (PROCTOR, 1983). Em estudos
realizados em diferentes florestas do mundo,
identificaram-se uma grande quantidade (média
de 70%) de folhas na serapilheira e nossos
resultados estão em acordo com os desses
estudos. A produção máxima de folhas durante
a estação seca está de acordo com resultados de
outros trabalhos realizados em florestas
tropicais (BRAY e GORHAM, 1964, CUEVAS
e MEDINA, 1986).
400
90
350
80
300
70
60
250
50
200
40
150
30
100
20
50
10
0
0
Folhas
Temperatura (ºC)
Figura 2 - Variação mensal média na deposição de
serapilheira (kg.há-1), comparada com a precipitação
(mm) na fisionomia savânica do Cerradão.
A deposição média anual de serapilheira
encontrada demonstra a importância desta via
de ciclagem de nutrientes para manutenção da
produtividade dos nutrientes para o solo.
O grande pico de devolução de
serapilheira é do mês de dezembro e é associado
à fenologia predominante das espécies que
compõem a floresta em estudo, a qual, mesmo
sendo muito diversificada, obedece a um padrão
quase único referente à derrubada das folhas no
final do período da seca e verão.
Uma das causas para queda de folhas é
sua regulação estar relacionada à oferta de água
para a vegetação (BARBOSA e FARIAS,
2006), ou seja, a oferta de água para a vegetação
na estação inverno (maio a agosto), cujo índice
pluviométrico é menor quando comparado às
demais estações, temos abscisão foliar
representando uma estratégia para minimizar a
menor disponibilidade de água. Houveram
resultados semelhantes obtidos por Pagano
(1998) e César (1993) em florestas
semideciduais do estado de São Paulo e em
fisionomia do cerradão (PINHEIRO, 2006),
confirmando a maior produção de serapilheira
na estação de seca, influenciada, sobretudo, pelo
estresse hídrico.
Kg/ha
Os maiores totais de deposição da
serapilheira ocorreram nos meses de novembro
e dezembro, diferente dos dados obtidos por
Pinheiro (2006), cuja maior deposição ocorrera
em outubro.
Caule
Fruto
Material
Indiferenciado
Temp. media Max
Temp. media Min.
A S O N D J F M A M J J
Meses(2009 a 2010)
Figura 3 - Variação mensal média na deposição de
serapilheira (kg.há-1) do coletor EG (área: 0,250 m2).
Os vários estudos realizados em
formações florestais no Sudeste brasileiro, tendo
por objetivo a dinâmica da produção de
serrapilheira durante o ano, tem-se registrado
padrões semelhantes ao estudo, tendo a maior
deposição de serrapilheira no final da estação da
seca
(CESAR,
1993;
MARTINS
e
RODRIGUES, 1999; WERNECK et al., 2001).
Para a ciclagem de nutrientes, as folhas
representam a via mais rápida e mais rica de
84
reposição, a predominância da fração foliar
reflete a importância nutricional para
manutenção florestal, pois a fração foliar é mais
rápida para o processo de decomposição.
O clima exerce um grande influencia
sobre a produção de serapilheira, influenciando
a as plantas da florestas etacional em seus
processos de floração, brotação, crescimento
dos frutos e queda das folhas, sendo que cada
uma dessas fases necessita de uma quantidade
adequada de calor, água, luz para que a
produção de serrapilheira seja efetiva, uma das
possíveis causas para o aumento da produção de
serrapilheira na estação de verão é as plantas da
área de abrangência dos coletores terem suas
queda de folhas nesse período, diferentes dos
trabalhos de florestas estacionais deciduais que
aumento da produção de serrapilheira se dá nos
meses de seca e baixas precipitações
pluviométricas.
De acordo com a figura 3, o fator
principal para a queda da serapilheira da floresta
estudada fora a temperatura, onde no mês de
dezembro tivemos a maior temperatura, sendo
32,5 º C (máxima) obtendo a maiorpesagem
nesse mês. O trabalho continua para investigar
essa grande diferença que obtivemos de maior
produção de serrapilheira nos meses de outubro,
novembro e dezembro, comparados com outros
trabalhos de floresta estacional decidual.
muito trabalhos com números abaixos de 20
coletores. A outra possível causa para a
diferença nos resultados é a floresta estar
passando.
Trabalhos realizados por Lam e
Dudgeon (1985) há alguns fatores que podem
influenciar na dinâmica da queda de
serrapilheira,
tais
como:
precipitação,
temperatura, disponibilidade de luz e umidade
do solo e a distribuição dos vegetais, mas o que
pode ter representados elevadas quantidades de
serrapilheira nesses meses de dezembro é a
maturação das plantas ocorrerem nesse período
e alguma perturbação na floresta estudada.
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CONCLUSÕES
As folhas foram responsáveis pela maior
parte da serapilheira produzida pela floresta
estaciona decidual, seguidas de caule, frutos e
material indiferenciado. A deposição estacional
de serapilheira seguiu uma escala decrescente
em quantidade com as estações do ano de
primavera, inverno, verão e outono, nesta
ordem, e a deposição anual registrada mostrouse bem similar por outras formações florestais
estudadas na literatura.
Os resultados de queda de serrapilheira
no mês de dezembro foram diferentes de vários
trabalhos podem ser justificado pelo tamanho
dos coletores serem menores dos utilizados na
literatura, que recomenda o mínimo de 18 cm de
diâmetro (PROCTOR, 1983) e os números de
coletores foram menores que a literatura
recomenda de 20 coletores, sabendo que temos
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_____________________________________
[1] - Graduado pela Universidade Federalde UberlândiaCampus do Pontal. Aluno de Pós Graduação da
Universidade
Federal
de
São
Carlos(UFScar)
[email protected]
[2] - Graduando pela Universidade Federal de Uberlândia
- Campus do Pontal.
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