A COMPARAÇÃO DOS ÍNDICES DO SARESP E DO IDESP E A PROFICIÊNCIA EM MATEMÁTICA NAS ESCOLAS DA REDE ESTADUAL DE SÃO PAULO Malon da Silva Oliveira1 - UNICID Grupo de Trabalho - Educação Matemática Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Este trabalho pretende realizar algumas observações sobre o processo de aprendizagem da Matemática, nos Anos Finais do Ensino Fundamental, nas escolas da Rede Estadual de Ensino de São Paulo, no período que equivale de 2009 a 2014. Durante o levantamento bibliográfico, percebe-se que alguns estudiosos afirmam que o ensino da Matemática tem vivido uma situação de crise, nas últimas décadas, nas escolas públicas brasileiras. Esta temática é muito complexa, não sendo possível ter um único culpado e nem tão pouco ser reduzido em uma única dimensão, nesse sentido, faz-se necessário compreender tal processo em seus múltiplos aspectos histórico, cognitivo, social, afetivo e cultural. Na rede estadual de São Paulo, o ensino da Matemática, também tem enfrentado dificuldades, pois não vem demonstrando índices desejáveis para uma educação de qualidade, conforme as metas estabelecidas pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo em concordância com o Ministério da Educação. A metodologia adotada neste trabalho pautou-se em estudo exploratório de natureza qualitativa, e se sustenta pelo referencial teórico obtido por meio da pesquisa bibliográfica e análise documental. Como fonte de consolidação dessas informações utiliza-se o Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo (Idesp), que é o indicador de qualidade elaborado pela SEE/SP, em consonância com o Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp). Com base nos dados estudados, foi possível detectar indícios de estagnação do processo de aprendizagem, especialmente no que se refere a proficiência em Matemática. E, com o intuito de verificar a situação das escolas públicas estaduais de São Paulo em relação as demais escolas estaduais do país, utiliza-se os índices de 2013 do Ideb e da Prova Brasil, podendo observar melhores resultados, com índices mais próximos da média seis, que é a meta estabelecida para 2021. Palavras-chave: Educação Matemática. Idesp. Saresp. 1 Especialista em Matemática pela Universidade Federal de São João del-Rei/UFSJ; Mestrando em Educação pela Universidade Cidade de São Paulo – UNICID. E-mail: [email protected] ISSN 2176-1396 29502 Introdução A Matemática é uma das ciências mais antiga a ser ensina e, atualmente ocupa lugar de destaque nos currículos. Entretanto, o ensino de Matemática nas escolas brasileiras tem vivido uma situação de crise nas últimas décadas. De acordo com Druck (2004), A sociedade passou e passa por várias transformações, porém a educação no país não consegue acompanhar esse ritmo, não atendendo as expectativas da maioria dos alunos, que parecem vivenciar outra realidade. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997, p. 22), o ensino de Matemática no Brasil tem enfrentado obstáculos desde a formação dos profissionais da educação, péssimas condições de trabalho docente, ausências de políticas educacionais efetivas, concepções pedagógicas equivocadas, hierarquização quanto a organização dos conteúdos, carência de metodologias e didática de ensino eficientes, isto, sem considerar os conhecimentos prévios do aluno, e também as experiências dos alunos perante a Matemática. O ensino da Matemática em nossas escolas tem provocado insatisfação tanto para quem aprende como para quem ensina, além de ser alvo de críticas da opinião pública. Assim, este trabalho procura relacionar os resultados obtidos, nos anos de 2009 a 2013, no Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) e no Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo (Idesp) ao ensino deficitário da Matemática na rede pública do estado de São Paulo. Para tal, utilizaremos como objeto de pesquisa os estudantes do 9º ano da rede pública do estado de São Paulo. O Ensino da Matemática na rede estadual de São Paulo Para a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (SEE/SP), um currículo escolar serve para delimitar o espaço existente do conhecimento, através das disciplinas, articulandoas e entrelaçando de forma harmoniosa e prazerosa. O Currículo Oficial adotado por pela Secretaria da Educação orienta o ensino da Matemática nas escolas da rede estadual de São Paulo, tendo como foco principal a transformação de informação em conhecimento. (SÃO PAULO, 2011). 29503 O mesmo documento afirma que o atual Currículo adotado pela SEE/SP entrou em vigor em 2008, como Proposta Curricular e, em 2009, torna-se o Currículo Oficial, abrangendo os Anos Finais Ensino Fundamental e o Ensino Médio. Assim, o Currículo de Matemática da SEE/SP foi organizado de forma a proporcionar a contextualização e a interdisciplinaridade, dispondo os conteúdos de modo a proporcionar uma articulação natural entre as disciplinas, possibilitando a interdisciplinaridade, evitando assim o excesso de fragmentação e contribuindo de forma incisiva para a construção do conhecimento matemático, assegurando uma base comum de conhecimento e de competências para que de fato funcionem como uma rede. O Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo (Idesp) e o Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) De acordo com o Programa de Qualidade da Escola (SÃO PAULO, 2014), O Idesp é um indicador de qualidade que propicia um diagnóstico das escolas públicas do estado de São Paulo, sinalizando os pontos que precisam melhorar e retratando sua evolução ano a ano. Utiliza como critérios complementares o desempenho dos alunos no Saresp e o fluxo escolar. O Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) é uma avaliação externa do sistema educacional paulista que teve seu início em 1996, sendo orientado por uma matriz de referência que traz descritores que evidenciam a interlocução com o Currículo do Estado de São Paulo. Seu objetivo é fornecer informações sobre a situação da escolaridade básica, tornando possível o desenvolvimento de políticas voltadas à melhoria da qualidade do ensino, permitindo acompanhar a evolução do desempenho e dos diversos fatores que influenciam a qualidade do ensino, além de ser um dos principais itens que compõe o Idesp. (SÃO PAULO, 2012). O Saresp é aplicado para os alunos do 3º, 5º, 7º e 9º anos do EF e da 3ª série do EM da rede pública estadual, contando com a adesão voluntária de escolas municipais e particulares, estas não são contempladas pelo programa de bonificação por resultados, só recebem essa bonificação as escolas da rede estadual. A avaliação do Saresp contempla as áreas de Língua Portuguesa (provas de Leitura e de Redação) e Matemática, com aplicação anual, Ciências da Natureza (Ciências, Biologia, Física e Química) e Ciências Humanas (História e Geografia), aplicados em anos alternados. (SÃO PAULO, 2012, p. 7). 29504 O principal objetivo do presente trabalho é fazer uma discussão a partir dos indicadores do Idesp e dos resultados das médias de proficiência do Saresp em Matemática, nos anos de 2009 a 2014. Metodologia Este trabalho pautou-se em estudo exploratório de natureza qualitativa, e se sustenta pelo referencial teórico obtido por meio da pesquisa bibliográfica e análise documental. Calado e Ferreira (2005) definem a metodologia qualitativa como o recolhimento de dados que podem ser utilizados como fontes de informação nas investigações qualitativas através de observações e análise de documentos. Segundo Vergara (2011) a pesquisa bibliográfica é o estudo sistematizado desenvolvido baseando-se em material publicado e acessível ao público em geral. A pesquisa bibliográfica deu-se por meio de levantamento, seleção e estudo de publicações existentes relacionadas á temática em pauta. Para Martins e Theóphilo (2009), a pesquisa documental é caracterizada pela utilização de documentos como fonte de dados e evidências. A principal diferença entre esse tipo de pesquisa e a bibliográfica refere-se à natureza das fontes. Discussão dos dados do Idesp e do Saresp Nesta seção apresentaremos algumas análises dos resultados do Idesp e do Saresp de 2009 a 2013 e uma rápida comparação com o Ideb e com a Prova Brasil. O objeto de pesquisa deste, é o Ensino Fundamental Anos Finais, sendo assim, utilizar-se-á a consulta aos dados referente ao 9ºano/8ªsérie da Rede Estadual da Educação. Para melhor compreensão das informações, no Saresp, faremos comparações com os resultados obtidos pela Rede Estadual, aqui denominado Estado, com a Região Metropolitana de São Paulo (que é composta pela Capital e as cidades circunvizinhas) e as cidades do interior paulista, aqui denominado apenas como Interior. 29505 Tabela 1 – Resultados do Idesp e das médias de proficiência do Saresp em Matemática – 9º ano Ensino Fundamental - 2009 a 2014 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Saresp - Região Metropolitana 245,9 28,7 239,9 236,9 242,9 237,4 Saresp - Interior 256,9 247,7 250,4 245,05 249,8 250,9 Saresp – Estado 251,5 243,3 245,2 242,3 242,6 243,4 2,57 2,5 2,5 2,62 Idesp 2,84 2,52 Fonte: Secretaria da Educação do Estado de São Paulo Nota: Dados trabalhados pelo autor. Gráfico 1 – Evolução Temporal do Saresp Fonte: Secretaria da Educação do Estado de SP Nota: Dados trabalhados pelo autor. Gráfico 2 – Evolução Temporal do Idesp Fonte: Secretaria da Educação do Estado de SP Nota: Dados trabalhados pelo autor. Percebemos inicialmente que há aproximação entre os dois indicadores utilizados neste trabalho, uma vez que ambos apresentam comportamentos semelhantes no período em análise. Observa-se uma oscilação, em patamares muito baixo, dos índices do Idesp e das médias de proficiência do Saresp em Matemática, o que sinaliza grande preocupação com a qualidade do ensino nas escolas da rede estadual, apontando praticamente para uma inércia do processo de aprendizagem desses alunos. Percebe-se ainda que no ano de 2014 há moderada elevação dos resultados apresentadas, contudo fica bem abaixo do melhor resultado obtido em 2009 e bem distante da nota 6 (numa escala de 0 a 10), que é meta para 2030. Essas observações vêm ao encontro de constatações presentes no documento “Fracasso escolar no Brasil: Políticas, programas e estratégias de prevenção ao fracasso escolar” do Ministério da Educação (BRASIL, 2005), o qual afirma ser necessário a compreensão das possíveis causas, em seus múltiplos aspectos, envolvendo as dimensões histórica, cognitiva, social, afetiva e cultural. 29506 Quando considerado as médias de proficiência do Saresp em Matemática, constata-se o baixo desempenho obtidos nas escolas da Região Metropolitana, quando comparadas às escolas do Interior. Em 2014, quando os indicadores apontam para uma melhora dos resultados, nas escolas da Região Metropolitana, esse índice permanece em declive. Para alguns educadores, o fator social seria uma das explicações para o melhor desempenho do interior, pois há maior proximidade da escola com a comunidade e com os alunos. Com o intuito de verificar a situação das escolas públicas estaduais de São Paulo em relação as demais escolas estaduais do país, organizou-se a tabela 2, com os índices mais recentes do Ideb e da Prova Brasil. Tabela 2 – Resultados do Ideb e da média de proficiência da Prova Brasil em Matemática das escolas públicas estaduais de São Paulo e de todo Brasil – 9º ano Ensino Fundamental - 2013 Prova Brasil Escolas estaduais de São Paulo Escolas estaduais do Brasil Fonte: INEP (2015) Nota: Dados trabalhados pelo autor. 245,08 244,75 Meta Prova Brasil 243,5 231,6 Ideb Meta Ideb 4,4 5,4 4,6 5 O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), é um indicador de qualidade da educação que utiliza como critérios o desempenho dos alunos nas avaliações do Ministério da educação e o fluxo escolar. A Prova Brasil é uma Avaliação Nacional da Educação Básica, avalia a qualidade do ensino fundamental brasileiro bienalmente. (SOARES, 2009). Considerando os índices da Prova Brasil do ano de 2013, verifica-se que o Estado de São Paulo atingiu a meta proposta e encontra-se num patamar acima dos demais estados da nação, assim como do resultado alcançado no Saresp do mesmo ano. No que se refere ao Ideb de 2013 é perceptível um indicador bem superior ao Idesp do mesmo ano, porém, além de não atingir a meta proposta, encontra-se num nível inferior ao Ideb alcançado pelas demais escolas estaduais do Brasil. Considerações Finais O ensino da Matemática tem vivido uma situação de crise nas últimas décadas nas escolas públicas brasileiras. Esse problema parte de uma temática extremamente complexa, não sendo possível ter um único responsável e nem tão pouco pode ser resumido em uma 29507 única dimensão. Nesse sentido, faz-se necessário compreender tal processo em seus múltiplos aspectos histórico, cognitivo, social, afetivo e cultural. Nas escolas estaduais do Estado de São Paulo, conforme dados do Idesp e das médias de proficiência do Saresp em Matemática, também é possível constatar essa crise. Os indicadores utilizados mostram uma oscilação dos índices, permanecendo em níveis bem abaixo das metas estabelecidas e inferiores dos resultados obtidos em 2009. Essa constatação aponta para um processo de quase estagnação da qualidade da educação, especialmente no que se refere a proficiência em Matemática. Quando comparados a nível nacional, percebemos uma melhora considerável dos resultados, com índices mais próximos da média seis, que é a meta estabelecida para 2021. Os indicadores empregados, aferem a qualidade da aprendizagem dos alunos, e no caso do Idesp e Ideb são compostos por dois indicadores com características bem diferentes (resultado nas avaliações e taxas de aprovação). Assim, avanços nos indicadores de aprovação são possíveis sem uma melhora da qualidade. Portanto, a leitura do Idesp e do Ideb deve sempre ser feita olhando-se também para os resultados desses dois componentes em separado. Um grande desafio em relação à qualidade é garantir equidade. E, de acordo com os dados apresentados, notamos uma discrepância desse indicador nas escolas estaduais da Região Metropolitana de São Paulo do Interior paulista. REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto nº 6.094, de 24 de abril de 2007. Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação. Brasília, 2007. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20072010/2007/decreto/d6094.htm. Acesso em: 01 ago. 2014. ______. Secretaria de Educação Infantil e Fundamental. Fracasso escolar no Brasil: Políticas, programas e estratégias de prevenção ao fracasso escolar. Brasília, 2005: MEC/DPE, 2005. Disponível em: http://www.oei.es/quipu/brasil/sistema_nacional_formacion_profesores.pdf. Acesso em: 03 ago. 2014. ______. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Matemática. 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