RELAÇÃO ENTRE ÍNDICES DE VFC DE REPOUSO E REATIVAÇÃO PARASSIMPÁTICA APÓS UMA SIMULAÇÃO DE LUTA DE JUDÔ. Alenise Duarte dos Santos (Araucária-UEL) Thiago A. Siqueira Pereira, Fábio Yuzo Nakamura (Orientador), e-mail: [email protected]. Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Educação Física/Londrina, PR. Linha de Pesquisa: Ciências Biológicas/Educação Física-Bacharel. Palavras-chave: judô, VFC, reativação vagal. Resumo: Durante uma competição de judô é comum que os atletas realizem várias lutas, de modo que a recuperação entre elas é um fator importante para a manutenção do desempenho durante a competição. Um dos fatores que têm sido relacionados com a recuperação após as lutas de judô é a aptidão aeróbia. No entanto, a medida do VO2max exige uma grande demanda de esforço por parte dos atletas e desse modo pode não ser adequada a determinados períodos da periodização. Os índices de VFC de repouso, especialmente os relacionados à atividade parassimpática, parecem ser maiores em atletas e apresentam correlação com o VO2max. Desse modo, o objetivo desse estudo foi o de verificar as relações entre os índices de VFC de repouso com índices de recuperação autonômica após a simulação de uma luta de judô. Oito atletas de judô do sexo masculino, da categoria juvenil participaram do estudo. A FC de repouso foi obtida por meio de um cardiofreqüêncímetro (Polar® RS800) durante 10 min e os índices de VFC de repouso foram determinados por meio do HRV Kubios Software. A reativação parassimpática após a luta foi mensurada por meio de índices relacionados à recuperação da FC (FC60s, RFC60s e T30). As correlações entre as variáveis foram analisadas por meio dos coeficientes de correlações de Pearson e Spearman, utilizando-se o software SPSS for Windows, versão 17.0. Os resultados do estudo demonstraram que os judocas com maior VFC de repouso apresentaram melhor reativação parassimpática após a luta de judô. Introdução Durante uma competição de judô é comum que os atletas realizem várias lutas, de modo que a recuperação entre elas é um fator importante para a manutenção do desempenho durante a competição. Um dos fatores que têm sido relacionados com a recuperação após as lutas de judô é a aptidão aeróbia (FRANCHINI et al., 1998). Porém, a realização da medida de potência aeróbia (VO2max) exige testes nos quais os atletas realizam um grande esforço físico e desse modo, nem sempre é possível de ser realizada durante a periodização do treinamento dos atletas. Neste sentido, uma alternativa seria a utilização da variabilidade da freqüência cardíaca (VFC). A VFC é um método não invasivo de monitoramento da atividade autonômica cardíaca (TASK FORCE, 1996). Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. 1 Os índices parassimpáticos de VFC de repouso têm sido associados com o VO2max e são maiores em atletas, quando comparados a indivíduos sedentários (AUBERT et al., 2003; BUCHHEIT e GINDRE, 2006). Por sua vez, o T30 e a recuperação de freqüência cardíaca 60 segundos após o esforço (FCR) são índices que indicam uma melhor reativação vagal após o esforço, e desse modo refletem uma melhor recuperação autonômica ao estresse proporcionado pelo exercício (IMAI et al., 1994; COLE et al., 1999). Desse modo, o objetivo desse estudo buscou verificar se as medidas de VFC de repouso, especialmente as ligadas ao ramo parassimpático do sistema nervoso autônomo, estariam relacionadas com índices de reativação vagal após uma luta de judô. Materiais e métodos Sujeitos Participaram deste estudo oito atletas de judô do sexo masculino da categoria juvenil, com idade de 14,2 ± 1,6 anos, 1,66 ± 0,1 m, 61,9 ± 16,4 kg e IMC de 22,2 ± 4,7 (kg/m2). Todos os indivíduos assinaram um termo de consentimento livre esclarecido, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Londrina. Simulação da Luta. A simulação da luta teve uma duração de 4 minutos e foi feita em um tatame com dimensões de 14mx14m. Não houve o desenvolvimento do combate no solo, e a simulação não era paralisada quando ocorria ippon de um dos atletas, diferente do que as regras da Confederação Brasileira de Judô estabelecem. Análise da VFC. Auxiliado por um cardiofrequencímetro (Polar® RS800), verificou-se a freqüência cardíaca de repouso dos sujeitos. Os mesmos foram orientados a permanecerem sentados por 10 minutos, para a análise da VFC, realizada por meio do software Polar Pro trainer. O cálculo dos parâmetros no domínio do tempo foi realizado a partir dos índices de RR médio (média dos intervalos R-R normais), RMSSD (raiz quadrada da média das diferenças sucessivas ao quadrado, entre intervalos RR adjacentes) e o desvio padrão dos intervalos R-R normais (SDNN). O RMSSD é considerado como indicador parassimpático e o R-R médio e SDNN como indicadores globais da atividade autonômica pela VFC (TASK FORCE, 1996). No domínio da frequência foram estimados os componentes de baixa frequência (LF: 0,04 – 0,15 Hz) como indicador simpático e parassimpático, e de alta frequência (HF: 0,15 – 0,4 Hz) como indicador parassimpático. Tanto LF quanto HF foram expressos em valores absolutos (ms2) e em unidades normalizadas (un). O balanço simpatico-vagal foi expresso pela razão entre LF/ HF (TASK FORCE, 1996). A determinação dos componentes espectrais e temporais foi realizada por meio do HRV Kubios Software. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. 2 Análise da reativação parassimpática. A reativação parassimpática foi mensurada por meio dos índices de recuperação de freqüência cardíaca após 60 segundos (RFC60s) e do T30. A RFC60s foi calculada a partir da diferença entre o valor de freqüência cardíaca final e 60 s após o término da luta (FC60s) (COLE et al., 1999). O T30 foi determinado a partir da queda linear da freqüência cardíaca após o esforço em 30 s (IMAI et al., 1994). Análise estatística. A normalidade dos dados foi verificada por meio do teste de Kolmogorov-Smirnov com correção de Lilliefors. As relações entre os índices de VFC de repouso, reativação vagal após a simulação de luta, foram obtidas por meio do coeficiente de correlação de Pearson, ou de Spearman, para os dados que não apresentaram distribuição normal. A significância das análises foi assumida quando P < 0,05. As análises foram realizadas perlo software SPSS for Windows, versão 17.0. Resultados e Discussão Os resultados de correlação são apresentados na tabela 1. Os índices parassimpáticos de VFC de repouso, com base no domínio o tempo (SDNN e RMSSD) apresentaram correlações fortes e negativas com a FC60s e com o T30 e correlações fortes e/ou moderadas com a FCR60s, indicando que os judocas com maior atividade parassimpática recuperam-se melhor do esforço da luta. Resultados semelhantes foram encontrados para os índices do domínio da freqüência (com exceção dos índices normalizados) de ambos os ramos do sistema nervoso autônomo (LF e HF) e para os índices de atividade autonômica global (RRm e HF+LF). Esses resultados demonstraram que tanto os índices relacionados ao sistema nervoso simpático, quanto parassimpático, influenciaram positivamente a recuperação, sugerindo que uma maior atividade autonômica global é um fator importante para a recuperação dos judocas após a luta. Tabela 1: Correlação entre os ínidces de VFC de repouso, freqüência cardíaca de recuperação (FCR) e T30 após Luta de Judô. FC60s (bpm) FCR60s (bpm) T30(s) RRm (ua) SDNN (ua) RMSSD (ua) LF (Hz) HF (Hz) HF+LF (Hz) LF/HF (Hz) LFnu (Hz) HFnu (Hz) -0,81 -0,83 -0,88 -0,58 -0,81 -0,77 -0,09 0,16 -0,16 0,70 0,78 0,68 0,67 0,44 0,70 0,07 -0,03 0,03 -0,57 -0,87 -0,74 -0,83 -0,52 -0,87 -0,40 -0,18 -0,18 Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. 3 Conclusões Os dados do presente estudo sugerem que os judocas com maiores valores de VFC de repouso parecem se recuperar melhor do esforço da luta. Isso é importante visto que na competição de judô é comum que o atleta realize várias lutas, muitas vezes com um pequeno espaço de tempo entre elas. Além disso, devido a VFC ser um método não invasivo e que pode ser realizada em repouso, ela pode servir para o monitoramento da capacidade dos judocas de se recuperarem das lutas durante as diversas etapas do treinamento. Referências AUBERT, A. E.; SEPS, B. e BECKERS, F. Heart rate variability in athletes. Sports medicine. 2003, 33, 889-919. BUCHHEIT, M. e GINDRE, C. Cardiac parasympathetic regulation: respective associations with cardiorespiratory fitness and training load. American Journal of Physiology- Heart and Circulatory Physiology. 2006, 291, H451. COLE, C. R.; BLACKSTONE, E. H.; PASHKOW, F. J.; SNADER, C. E. e LAUER, M. S. Heart-rate recovery immediately after exercise as a predictor of mortality. New England Journal of Medicine. 1999, 341, 1351. TASK FORCE. Heart rate variability: standards of measurement, physiological interpretation and clinical use. Task Force of the European Society of Cardiology and the North American Society of Pacing and Electrophysiology. Circulation. 1996, 93, 1043-65. FRANCHINI, E.; TAKITO, M. Y.; LIMA, J. R. P.; HADAD, S.; KISS, M. e REGAZZINI, M. Características fisiológicas em testes laboratoriais e resposta da concentração de lactato sanguíneo em três lutas em judocas das classes juvenil-a, júnior e sênior. Revista Paulista de Educação Física. 1998, 12, 5-16. IMAI, K.; SATO, H.; HORI, M.; KUSUOKA, H.; OZAKI, H.; YOKOYAMA, H.; TAKEDA, H.; INOUE, M. e KAMADA, T. Vagally mediated heart rate recovery after exercise is accelerated in athletes but blunted in patients with chronic heart failure. Journal of the American College of Cardiology. 1994, 24, 1529. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. 4