Entrevista para o blog ‘Judô Pernambuco’
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06/03/2008
Hoje, publicamos uma entrevista com o Professor CARLOS AMC CUNHA, coordenador do site JUDOBRASIL –
http://www.judobrasil.com.br ; atleta da seleção brasileira de judô entre 1976 e 1981; campeão dos Jogos
Pan-americanos (Porto Rico/79); integrante da equipe olímpica em Moscou/80; bi-campeão sul-americano;
campeão pan-americano; integrante da 1ª equipe completa a estagiar no Japão; participante da 1ª Copa
Jigoro Kano (1978) com vários estágios de treinamento no Japão e Europa; economista formado pela
Universidade de Cambridge (Inglaterra); Master Degree em Economia pela Universidade de Cambridge;
auditor, programador e web designer.
Como o Professor analisa o desenvolvimento do Judô Nordestino em comparação com o Sul e
Sudeste do Brasil?
Muito aquém do real potencial que a região já demonstrou com, apenas, um pouco de incentivo. Podemos
analisar, em especial, dois estados que vão ilustrar bem o que quero dizer: Paraíba e Piauí.
O Piauí, todos sabem, é a, digamos, “base” da CBJ no nordeste; portanto, recebe especial atenção: sediando
e promovendo mais competições, cursos, treinamentos de campo, técnicos daquele estado dirigindo
seleções nacionais de base e por aí vai. Com isso vieram os resultados que eles, inquestionavelmente,
conquistaram.
Por questões políticas, a Paraíba, por sua vez, procurou outro caminho e acertou quando optou pelo
estabelecimento de uma parceria com a Federação Paulista. Gostemos, ou não, São Paulo ainda é,
disparado, o maior centro de desenvolvimento e treinamento de Judô do país.
Voltando, os estágios dos paraibanos tiveram como resultado os citados pelo presidente da federação
paraibana Simbaldo Pessoa, que vocês já entrevistaram.
Enfim, não há como evoluir sem se aprofundar; estudar e conhecer os fundamentos de ensino e
treinamento. Sem isso, fica muito difícil construir uma carreira sólida e duradoura. Por mais que treine, o
atleta limitado tecnicamente tem uma longevidade menor daquele que é técnico, que tem base. E isso não é
culpa dos técnicos ou dos professores. Você não tem como ensinar uma coisa que você não conhece. Por
mais que o técnico estude e se prepare, é indiscutível que ele crescerá muito mais se puder trocar idéias e
avaliar seu trabalho por comparação, quero dizer, colocando seus atletas a prova: treinando e competindo. E
isso, só o intercâmbio pode proporcionar: logo, logo você sente os resultados. Receber e ser recebido; ou
seja, visitar e ser visitado. Deu para entender?
Tem o pessoal “do gargarejo” que pode perguntar: “Mas só duas ou três semanas? Isso não vão mudar
nada”. Fosse isso, estágios internacionais que duram uma ou duas semanas não fariam toda a diferença
para um competidor de alto-rendimento. Guardadas as proporções, por que é, então, que estágios em
centros mais fortes não trariam resultados para equipes chamadas de base? Refiro-me, principalmente, ao
pré-juvenil e juvenil. Sobre as categorias inferiores, não há tanta necessidade de troca direta; bastaria que
os técnicos e professores fizessem estágios de aprendizagem e esclarecimento de dúvidas. Isso ajudaria
muito. Discutir e aprender são sempre coisas positivas. A Paraíba e o Piauí, entre mais dois ou três do nortenordeste, já comprovaram isso.
Nas classes infanto/pré-juvenil e juvenil, estamos vendo vários atletas do Nordeste,
notadamente do Maranhão, Rio Grande do Norte e Paraíba conseguirem vitórias expressivas
em Campeonatos de âmbito Nacional. A que se deve isto, e por que não conseguimos tais
resultados nas demais categorias?
Essa troca, que eu mencionei na resposta anterior, é a responsável. Os mais novos, portanto, na fase de
construção de suas bases são os primeiros a mostrar resultados. Recebendo informações atualizadas e,
digamos, “de ponta”, eles competem praticamente de igual para igual com os atletas dos grandes centros.
Repare que os juniores e seniores já encontram mais dificuldade. É triste dizer, mas, para eles, é quase
impossível alcançar uma vaga olímpica.
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(55+11) 3814-5580
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Para os mais novos a coisa é diferente: têm chances reais de brigarem daqui há duas olimpíadas. A coisa
não acontece assim, da noite para o dia. São Paulo, por exemplo, tem federação há exatos 50 anos. Mas o
Judô já era praticado nas colônias japonesas muito antes disso: há quase 90 anos, se não me falha a
memória.
Não existe segredo: é estudar, treinar e competir. Da mesma forma que um pai procura sempre a melhor
escola para seus filhos, os presidentes de federações do nordeste, conscientes de que foram escolhidos para
desenvolver o Judô dos seus estados, deveriam ampliar seus horizontes. E, hoje, só existem duas opções:
São Paulo ou a CBJ.
O problema com CBJ é o custo pessoal e político: muito alto. A Paraíba já demonstrou que é fácil se
aproximar de São Paulo. Eles têm muita opção: estrutura para receber, locais de treinamento com padrão
internacional, academias para serem visitadas, o Projeto Futuro, que revelou dezenas de campeões
internacionais, etc..
Ao mesmo tempo, São Paulo tem, também, um time enorme de professores e técnicos das mais variadas
áreas do Judô – base e fundamentos, competição de alto-rendimento, arbitragem, kata, condicionamento
físico, etc. – que estão disponíveis para viajar e ministrar cursos no norte-nordeste. Eles têm para todo
gosto: do iniciante ao olímpico. É só escolher. São Paulo é “um país”. E tem demonstrado que é “um país
amigo”.
O nordeste tem um potencial absurdo; só os nordestinos não enxergam isso. Ou enxergam e, daí, existem
duas classes diversas: os que têm medo e se calam e os que estão em guerra com as federações. Isso tudo
é muito ruim, só atrapalha o crescimento. Vocês têm que mudar a coisa no voto tomando cuidado para “não
trocar seis por meia-dúzia”: têm que colocar uma pessoa comprometida com essas idéias.
Pernambuco tem sofrido uma forte migração de atletas para outros Estados, enfraquecendo
mais ainda o tão combalido Judô Pernambucano. A administração Mota tem sido um desastre,
tanto no que se refere à prática do esporte, quanto no sentido filosófico do judô. Como o
Professor analisa o Judô de Pernambuco?
Dá vontade de “pular” essa pergunta; mas vamos lá. O Mota nem merece comentário: não vai entender
nada do que estamos falando. “Filhotinho de Mamede”, ele só entende a força, a violência e o interesse.
Enquanto essa cara continuar por aí, a coisa vai continuar complicada.
Para mim, a primeira (e maior) perda de Pernambuco foi o desligamento do Prof. Tadao Nagai da federação.
Mesmo distante, tenho certeza que a Liga Pernambucana tem um nível técnico e filosófico bem mais alto
que o da federação.
Quem sabe essa migração não seja dirigida só para outros estados; deve estar ocorrendo, também, para a
Liga. Sinceramente, se eu fosse pai de atleta iniciante em Pernambuco, optaria pela Liga para construir uma
base consistente para o meu filho. Quando chegasse na fase de competir, pensaria no que fazer. Talvez, a
migração fosse a saída. É triste, mas é assim.
Ou os técnicos e professores – que representam o colégio que elege o presidente – se conscientizam e dão
um jeito no Mota, ou, a médio prazo, vão sentir as conseqüências. As desistências e migrações vão direto
nos bolsos deles: menos praticantes, menos mensalidades, menos clubes e academias, menos receita. É
simples, não sei como é que eles não vêem isso. Há muitos anos só o Mota se dá bem. Isso precisa parar.
O JUDOBRASIL foi e é um forte instrumento de divulgação do Judô, bem como de combate às
irregularidades, injustiças que são cometidas. Que conselhos poderiam ser dados aos judocas,
pais e técnicos para mudar o quadro de Pernambuco?
Que procurem estudar e diversificar seus treinamentos. O intercâmbio que nós comentamos, até agora, é,
ao meu ver, a solução.
Enfim, que perspectivas os Pernambucanos pode esperar do Judô?
Tudo ou nada. Tudo – até atletas olímpicos – se o Mota sair. E nada se o Mota continuar; é só isso.
Muito obrigado pelo convite e parabéns pela iniciativa e coragem.
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