VESTIBULAR UFPE – UFRPE / 2000 2ª ETAPA NOME DO ALUNO: _______________________________________________________ ESCOLA: _______________________________________________________________ SÉRIE: ____________________ TURMA: ____________________ PORTUGUÊS 2 Texto 1 - Índios indolentes O europeu chegou ao Novo Mundo com uma bagagem repleta de superstições e preconceitos e atirou-se às conquistas, sob a justificativa de estar a serviço de Deus e de Sua Majestade. Embora defendendo a idéia de uma colonização pacífica e cristã, tratou os indígenas como povos bárbaros, escravizando-os e tomando-lhes as terras. Sob a alegação de que eles eram preguiçosos, sustentou durante séculos o mito do índio indolente, conceito que ainda hoje está presente na mentalidade da maioria dos brasileiros. Daquela época, herdamos a idéia de que o índio não tem a responsabilidade do homem "civilizado", portador de uma cultura superior e em condições de administrar as terras. Boa parte dos textos históricos e literários que têm o índio como personagem reforça apenas os aspectos folclóricos de sua cultura, tratando-os como irmãos estranhos. A imagem do índio continua a ser idealizada, longe de expressar uma realidade marcada (...) pelo duro trabalho e pela tentativa de adaptação à vida dita civilizada. Depois de tanto tempo o índio continua a ser considerado como outro, julgado pelos valores do homem branco. Carneiro, M. L. T. O racismo na História do Brasil. São Paulo: Ática, 1999, p. 9-10. 01. A análise do texto nos faz concluir que: 0-0) é historicamente defensável o argumento de que a colonização brasileira esteve isenta de julgamentos supersticiosos e discriminatórios. 1-1) a imagem que se herdou dos povos indígenas é falseada pela percepção mítica e idealizada de sua cultura. 2-2) a História e a Literatura desviaram-se da percepção estereotipada e redutora da cultura indígena. 3-3) é atávica a oposição entre 'índios' e 'homem branco'. 4-4) não parece aceitável a crença de que há um mundo civilizado em oposição a um outro não civilizado. As aspas usadas no final do primeiro parágrafo ("civilizado") sugerem esta restrição. 02. Observando os recursos de contrução desse texto, podemos afirmar que: 0-0) um indício da continuidade tópica do primeiro parágrafo é o fato de que as formas verbais do primeiro e do segundo períodos têm sujeito comum. 1-1) a oração concessiva com que se inicia o segundo período indica a oposição entre os argumentos de 'colonizar pacificamente' e 'escravizar'. 2-2) os pronomes sublinhados constituem uma cadeia coesiva já que todos se referem a 'indígenas', termo anteriormente mencionado. 3-3) o termo 'índio' ocorreu várias vezes, o que é coerentemente aceitável, dado o caráter informal do texto. 4-4) a forma verbal 'herdamos', com sujeito elíptico de primeira pessoa do plural, indica a intromissão do autor do texto entre os herdeiros da percepção mítica dos povos indígenas. 03. Os enunciados abaixo equivalem ao que está dito no segundo período do texto 1. 0-0) O europeu tratou os indígenas como povos bárbaros, escravizou-os e tomou-lhes as terras apesar de defender a idéia de uma colonização pacífica. 1-1) Conquanto defendesse a idéia de uma colonização pacífica e cristã, o europeu tratou os indígenas como povos bárbaros, escravizando-os e tomando-lhes as terras. 2-2) Tratando os indígenas como povos bárbaros, o europeu escravizou-os e tomou-lhes as terras já que defendia a idéia de uma colonização pacífica e cristã. 3-3) O europeu escravizou os indígenas, tomou-lhes as terras, tratando-os como povos bárbaros, se bem que defendendo a idéia de uma colonização pacífica e cristã. 4-4) Uma vez que defendia a idéia de uma colonização pacífica e cristã, o europeu tratou os indígenas como povos bárbaros, escravizando-os e tomando-lhes a terra. 04. Analise os enunciados abaixo e as observações que se fazem entre parânteses. 0-0) Índios e brancos: não se entenderão, sem que aprendam a língua comum. (A locução 'sem que' exprime idéia de condição). 1-1) Os brancos são responsáveis, sem que o saibam, pela extinção de muitas nações indígenas. (A locução 'sem que' exprime outra vez idéia de condição). 2-2) No Brasil, não se faz história sem que se inclua a influência dos povos indígenas. (A locução 'sem que' exprime a idéia de algo supostamente esperado). 3-3) Índios e negros intervieram na constituição da cultura brasileira, digam o que quiserem. (O segmento sublinhado tem valor concessivo). 4-4) Os disfarces, que fossem muitos, não atenuaram a crueldade do regime escravagista. (O segmento em destaque exprime idéia de condição). 05. As formas verbais dos enunciados a seguir estão corretamente empregadas. 0-0) Os nordestinos, por provirem de uma região estigmatizada, sofrem, em geral, muitos preconceitos por parte dos habitantes de outras regiões. 1-1) Os índios, ao sobreviverem nas cidades para onde se deslocam, descaracterizam-se culturalmente e se vêm estigmatizados pela origem étnica. 2-2) Ninguém nos argúi com mais perseverança do que a própria consciência, ao sermos preconceituosos. 3-3) As mulheres enterteram-se em seus trabalhos domésticos durante séculos e só recentemente foram à luta. 4-4) As mulheres poderão dá um grande contributo à sociedade, participando ativamente na luta pelos direitos humanos. Texto 2- Escravidão suave Em obras recentes, historiadores e sociólogos têm amenizado a escravidão no Brasil, apresentando-a como suave e enfatizando que os negros escravos recebiam dos senhores um tratamento humano. Discordamos. A realidade física e social da escravidão foi dura, cruel e deixou profundas cicatrizes. A idéia de uma escravidão suave acabou por reforçar o mito da democracia racial, que ainda hoje mascara o racismo no Brasil. Aqui reside a força dos mitos: a de nos levar a fazer uma leitura imaginária de um momento histórico ou de um grupo (seja ele étnico, religioso ou político), induzindo-nos a acreditar numa realidade que não é verdadeira. Os mitos permitem dar coerência a um mundo repleto de injustiças, onde se tem explicação para tudo: "O negro vive na miséria porque gosta!" Nos últimos anos da escravatura no Brasil, poucas eram as alternativas de trabalho e as oportunidades oferecidas aos negros e mulatos. Não se criaram condições para que a população negra se integrasse na nova ordem social. Os antigos escravos e seus descendentes continuaram a ser tratados como párias, discriminados pela cor e pela classe social. Carneiro, M. Luíza T. O racismo na História do Brasil. 8 ed. São Paulo: Ática, 1999, p.15. 06. A compreensão desse texto nos leva a concluir que: 0-0) o autor contrapõe-se à idéia de uma democracia racial brasileira, perdurável apenas na concepção mítica e dissimuladora de alguns historiadores e sociólogos. 1-1) a interpretação mítica dos fatos, a partir da qual "se tem explicação para tudo", nos faz perceber um mundo repleto de injustiças e crueldades. 2-2) à população negra foi facilitado o acesso à nova ordem social. 3-3) a expressão 'profundas cicatrizes', no final do primeiro parágrafo, pode receber uma interpretação metafórica e não-metafórica. 4-4) no segmento 'historiadores e sociólogos têm amenizado a escravidão no Brasil', o termo sublinhado justifica que se fale mais adiante em 'escravidão suave' e em 'mito da democracia racial'. 07. Em relação a aspectos morfossintáticos do texto 2, podemos afirmar que: 0-0) o terceiro período do primeiro parágrafo poderia ser introduzido por um conectivo coordenativo de valor 'explicativo'. 1-1) em "Aqui reside a força dos mitos:", os dois pontos indicam que se vai introduzir uma explicação, um esclarecimento. 2-2) em "um mundo repleto de injustiças, onde se tem explicação para tudo", também seria gramaticalmente correto substituir o 'onde' por 'em que' ou por 'nas quais'. 3-3) em "Não posso aceitar historiadores e sociólogos de quem discordo dos pontos de vista.", o trecho sublinhado está em acordo com a norma padrão. 4-4) no segundo parágrafo, os verbos 'levar' e 'induzir', que nesse contexto funcionam como sinônimos, têm regências diferentes. 08. Quanto à concordância entre verbo e sujeito, estão corretos os enunciados abaixo. 0-0) A divulgação de obras recentes, de autoria de historiadores e de sociólogos brasileiros, reforçaram a idéia de uma democracia social. 1-1) Não me falta argumentos de que, foi reforçado, durante séculos sucessivos, a ingênua percepção de uma escravidão suave e amena. 2-2) Cada um dos brasileiros devem sentir-se responsáveis pela sustentação do mito da democracia racial. 3-3) Haviam sido negadas oportunidades de acesso social à população negra. Haja vista sua ainda atual discriminação. 4-4) São para negros, índios, deficientes e outros grupos minoritários que a população deve estar voltada no combate à discriminação. Texto 5 Texto 3 SR.RUSGA E DR.RABUJO $& + 2 80 $ %6 8 5 '2 + $ 9( 5 * 8 (5 5 $6 4 8 (6 7 ¯ (6 QUEM ENTENDE ESSA LÍNGUA?!? DE HOJE EM DIANTE VOCÊS VÃO APRENDER LATIM! $ ,1 ' $ 32 5 e7 1 , & $ 6 ( 5 ( / ,* ,2 6 $ 6 & 2 1 & 2 5 '2 ( 8 32 5 (; (0 3/2 6 2 8 8 0 $5 ' 2 52 6 2 $' 0 , 7 2 '2 48( 4 8 (0 (NO V A IS, C. E. ; LO B O, C. História do Brasil para principiantes. De Cabral a Cardoso, 500 anos de novela. São Paulo: Ática, p. 80.) e (66( , 0 %( & ,/" $/ $ &® " 1 ®2 0( & 5 ,7 , 4 8 (0 325 ,662 ' ( 92 72 * 5 $ 1 ' ( $/ $& ® ( 5 ( 3 ,7 $ 6( )2 5 +2 0 (0" Calvin - Bill Watterson - JC 21/10/99 09. A partir do texto 3, são corretas as seguintes afirmações. 0-0) A abertura do diálogo sugere a inaceitação de decisões preconceituosas, mesmo em decorrência de questões ligadas a religião. 1-1) No decorrer do diálogo, cada um dos interlocutores aceitou partilhar dos pontos de vista do outro. Ninguém foi radical. 2-2) A condição imposta na ameaça feita pelo último interlocutor corrobora a percepção preconceituosa predominante no diálogo. 3-3) Os termos antecedentes do pronome 'isso' (no terceiro quadrinho) encontram-se no quadrinho anterior. 4-4) Pelo texto do primeiro quadrinho, não se pode concluir que as guerras por questões étnicas e religiosas existiram anteriormente. Texto 4 - Como evitar a discriminação lingüística ? Estamos iniciando uma era desafiadora para os Direitos Humanos: os direitos lingüísticos. Esse movimento universal objetiva, entre outras “missões”, advertir e orientar sobre um dos aspectos mais graves de nossa falibilidade comunicativa: o falar discriminatório. (...) O desafio de saber referir-se ao nosso próximo de maneira construtiva e dignificante ocorre particularmente no contexto escolar. Ali, nós educadores, precisamos saber evitar designações, expressões avaliativas (do desempenho dos alunos) que desumanizam as pessoas. GOMES de MATOS, Francisco. 10. A propósito do texto 4 e da charge acima, podemos afirmar o que segue. 0-0) No texto, subjaz a idéia da tolerância; na charge, subjaz a disposição de acatar-se as peculiaridades lingüísticas de cada povo. 1-1) Enquanto o texto procura envolver emocionalmente o interlocutor, usando expressões como 'nossa falibilidade', 'nosso próximo', a charge o constrange pela atitude de desprezo e imposição. 2-2) Ambos revelam uma preocupação purista com a língua: o texto, com o uso do vernáculo; a charge, com a língua latina. 3-3) O texto procura induzir o leitor a utilizar-se de eufemismos, quando propõe o cuidado com o uso de expressões avaliativas. 4-4) A charge leva o leitor a supor que a língua latina estava vinculada à vida religiosa. 11. Observe a constituição do texto 4 e julgue os enunciados abaixo. 0-0) Na introdução do texto, dois elementos contribuem para indicar um processo em andamento: a locução com o gerúndio do verbo 'iniciar' e o conteúdo semântico desse mesmo verbo. 1-1) O segmento 'falibilidade comunicativa' significa a possibilidade de erro em questões pertinentes à comunicação. 2-2) A utilização de verbos no presente do indicativo evidencia a disposição do autor de considerar universalmente válidas as afirmações que faz. 3-3) As palavras 'desafiadora', 'designações', 'desumanizam' são formadas com o auxílio do mesmo prefixo negativo. 4-4) O texto faz restrição aos direitos lingüísticos dos alunos. Texto 6 - Mulher eleitora MIETTA SANTIAGO loura poeta bacharel conquista, por sentença de juiz, direito de votar e ser votada para vereador, deputado, senador, e até Presidente da República. Mulher votando ? Mulher, quem sabe, Chefe da Nação ? O escândalo abafa a Mantiqueira, faz tremerem os trilhos da Central e acende no Bairro dos Funcionários, melhor: na cidade inteira funcionária, a suspeita de que Minas endoidece, já endoideceu: o mundo acaba. DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos (org.) 1992. Carlos Drummond de Andrade: poesia e prosa. Rio de Janeiro :Nova Aguilar. 12. A análise do texto nos faz concluir que: 0-0) há dois grandes tópicos no texto: o triunfo da mulher e o conservadorismo de Minas. 1-1) a expressão 'melhor' introduz uma ratificação ao que havia sido dito na oração anterior. 2-2) a gradação de sentido dos verbos 'abafar', 'tremer', 'acender' prepara o leitor para o final: 'o mundo acaba'. 3-3) o segmento 'por sentença de juiz' poderia ser substituído por 'pela sentença do juiz', embora se alterasse o caráter genérico da primeira expressão. 4-4) no verso "Mulher votando?", a pergunta é mais irônica que inquisitiva. 13. A propósito das vírgulas utilizadas no texto, pode-se afirmar o que segue. 0-0) Em 'conquista, por sentença de juiz', - separam um adjunto adverbial deslocado. 1-1) No verso 'para vereador, deputado, senador', - coordenam termos de mesmo valor sintático. 2-2) No verso 'Mulher, quem sabe, Chefe da Nação?' - separam uma oração explicativa. 3-3) Em 'O escândalo abafa a Mantiqueira, faz tremerem os trilhos da Central', - separam orações assindéticas. 4-4) Em 'a suspeita de que Minas endoidece, já endoideceu: o mundo acaba.' - separam orações de mesmo valor sintático. Texto 7 - Discriminação às avessas As mulheres têm reivindicado garantias de um percentual mínimo de participação no mercado de trabalho, apresentando o argumento de que pertencem a um segmento social discriminado. Os negros e deficientes exigem também tratamento diferenciado. (...) As tentativas de proteção têm sido crescentes ultimamente. Até mesmo imigrantes das mais variadas nacionalidades fazem suas reivindicações. Eles entendem que, num país como o Brasil, não pode haver discriminação como aquelas existentes em seus países de origem. (...) O aspecto mais interessante, todavia, reside no fato de que a Constituição não permite tal proteção às avessas, pois proíbe qualquer espécie de discriminação em função de idade, sexo, cor, estado civil, deficiência física ou qualificações curriculares. Assim, a Constituição fornece antídoto às pretensas reservas legais de mercado, já que todas essas reservas são necessariamente discriminatórias contra aqueles que a elas não têm acesso. Estou convencido de que a luta contra os preconceitos deve ser intensa, mas não à custa do princípio de igualdade, que proíbe reservas discriminatórias, e cujo desatendimento favorece a incompetência, retira a competitividade empresarial e fere a Constituição. A batalha do futuro exige competência. No setor empresarial, esta é a única meta capaz de permitir a evolução da economia. Todos os segmentos sociais, sem reservas, devem ter acesso, sem discriminações, às oportunidades existentes. Se o critério for o da “incompetência assegurada”, o país que adotar tal política perderá a corrida do futuro. MARTINS, Ives Gandra da Silva - EXAME.03/01/1996. 14. A análise desse texto nos faz concluir que: 0-0) a garantia da não-discriminação pode resultar discriminatória e anticompetitiva. 1-1) é possível estabelecer um paralelo em que 'reserva de mercado' está para 'discriminação' assim como 'competitividade' está para 'igualdade'. 2-2) o autor atribui um importante papel à reserva de mercado: o de evitar desigualdades. 3-3) o segundo parágrafo apresenta um tópico que faz oposição ao que vinha sendo dito anteriormente. 4-4) há, no último período do texto, uma relação de causa-conseqüência, envolvendo as idéias de 'incompetência assegurada' e 'perda da corrida do futuro'. 15. Sobre as relações desenvolvidas no texto 7, podemos afirmar o que segue. 0-0) A idéia de 'tratamento diferenciado' implica para o autor, 'proteção às avessas'. 1-1) 'Batalha do futuro' é uma expressão conotativa que confere ao acontecimento em apreço um caráter de luta. 2-2) Apenas no terceiro parágrafo o autor deixa transparecer sua opinião. 3-3) Em "Até mesmo os imigrantes", a expressão 'até mesmo' indica a quebra de uma expectativa. 4-4) Por apresentarem uma variação do prefixo 'dis'/'des' e manterem o mesmo sentido, os termos 'discriminação' ou 'descriminação' poderiam ser usados indiferentemente. 16. Os enunciados abaixo observam os critérios da contrução sintática padrão. 0-0) A criação da reserva de mercado resulta num processo inverso de discriminação, em vez de levar à eliminação de alguns preconceitos ainda não erradicados. 1-1) Se 30% dos empregos oferecidos deverão serem preenchidos por mulheres, os homens terão 70% do mercado de trabalho. 2-2) Os índios já conseguiram uma reserva constitucional, sendo hoje possuidores de 10% do território nacional, apesar de constituir uma população de cerca de 300.000 habitantes. 3-3) Cumpre a sociedade tomar medidas enérgicas contra a discriminação, evitando-se, assim, injustiças sociais. 4-4) Devem haver para todos oportunidades iguais de acesso ao mercado de trabalho.