Com a devida vénia transcrevemos artigo publicado na edição do Jornal de Negócios
Richard Pelly: "Damos um pequeno contributo para
reconstruir a confiança entre governos e bancos
Maria João Gago | [email protected]
Presidente do Fundo Europeu de Investimento defende que garantir empréstimos dos bancos
portugueses a PME ajuda a reduzir problema da falta de crédito à economia e do seu elevado
custo.
O acordo fechado entre o Fundo Europeu de Investimento (FEI) e o BPI, em que a entidade europeia
vai garantir metade da linha de crédito de 60 milhões de euros para PME inovadoras, é "um pequeno
contributo para o esforço de reconstruir a confiança entre governos e bancos", sublinha Richard Pelly.
O presidente do FEI acredita que, no atual contexto económico europeu, as iniciativas do fundo de
apoio ao microcrédito, cujo orçamento pode duplicar para 400 milhões em 2014, ajudarão a responder
ao crescimento do desemprego na Europa.
Como é que o protocolo com o BPI pode ajudar a assegurar o financiamento à economia,
numa altura em que a falta de crédito é um dos principais obstáculos à recuperação
económica?
Este acordo assegura que o BPI poderá decidir sobre a tomada de riscos com a tranquilidade de
ter a garantia do FEI para 50% desse financiamento. Isto funciona como catalisador da decisão de
tomada de risco que o banco poderia não assumir de outra forma, mas também permite repassar para
as empresas alguns dos benefícios financeiros, designadamente através de taxas de juro mais baixas. Há
uma dupla vantagem para as empresas: conseguir que os projetos tenham apoio financeiro, com um
custo de financiamento mais baixo. Este é um mercado em que já há evidências de procura de novo
crédito por parte de empresas inovadoras e em crescimento.
Esta linha ajudará a resolver o problema do elevado custo do crédito?
É um dos objetivos que temos ao garantir 50% do risco total. Esse benefício tem de ser partilhado
com as empresas e o banco está comprometido com esse objetivo.
Recentemente, o primeiro-ministro português expressou preocupação relativamente ao
financiamento da economia por parte dos bancos. Este acordo é uma resposta a essa crítica?
É um pequeno contributo para o esforço de reconstruir a confiança entre governos e bancos. É
uma forma de contribuir com ingredientes para esse projeto. Mas é apenas um dos ingredientes.
Em Portugal, há um debate permanente entre as empresas que dizem que não têm acesso
a crédito e os bancos que argumentam que as empresas não procuram financiamentos. Quem
tem razão?
Não é um tema exclusivamente português, nem específico deste ciclo económico. Fui banqueiro
35 anos e sempre assisti a esta discussão. Ambos estão certos e ambos estão errados, na medida em que
a procura [de crédito] é inegavelmente mais baixa por causa da aversão ao risco por parte dos
empreendedores para comprometerem o seu próprio capital e da falta de oportunidades de mercado.
Tudo isto tem afetado a procura de crédito e o investimento das empresas. Mas os bancos também têm
passado por dificuldades e por isso os seus critérios de avaliação do risco estão mais exigentes, havendo
também um reforço dos pedidos de colaterais. Estes ingredientes têm tido um impacto negativo no
mercado do crédito. Nós procuramos desempenhar um papel no sentido de reduzir este fenómeno.
Sentamo-nos ao lado dos bancos e partilhamos parte dos riscos, para que estes possam reduzir as
exigências de colateral e o preço do crédito.
O FEI prevê estabelecer acordos semelhantes com outros bancos portugueses para
multiplicar este efeito?
Este instrumento conta com o apoio da União Europeia, através da Direção-geral de Investigação
e Inovação, e está a correr tão bem que estou convicto de que, no âmbito das novas perspetivas
financeiras da União Europeia (UE), que entram em vigor no início do próximo ano [e vigoram até
2020], o projeto prosseguirá com um apoio financeiro semelhante. Há uma janela aberta para os bancos
portugueses se candidatarem. O BPI foi muito rápido a responder a algo que é relativamente novo.
Estamos abertos à possibilidade de outros bancos virem ter connosco trabalhar da mesma forma.
Os bancos portugueses têm disponibilizado várias linhas de crédito a PME que ficaram
por usar. Não se repetirá?
Este instrumento é fruto de anos e anos de experiência sobre o que funciona e não funciona. A
área comercial e de marketing do BPI tem de ser capaz de atrair empresas elegíveis.
Estão disponíveis para apoiar o crédito a PME com outras características?
Este instrumento está especificamente direcionado para as empresas inovadoras. Mas em Portugal
também apoiamos a Sociedade Portuguesa de Garantia Mútua (SPGM), que é uma das instituições
comerciais nacionais mais fortes na Europa, pelo seu foco nas PME e na disponibilização de garantias a
bancos para o financiamento de PME. Assinámos novo acordo com a SPGM em Janeiro que reforça a
sua capacidade de conceder garantias aos bancos para financiarem empresas de todas as áreas de
atividade. O FEI concede contragarantias à SPGM, o que é uma atividade complementar à concessão de
garantias diretas à banca. E também estamos a financiar microempresas.
Outra das áreas de atuação é o apoio ao microcrédito.
Temos um instrumento especificamente direcionado para o apoio ao financiamento das
populações mais desprotegidas, de desempregados que queiram desenvolver pequenos negócios e criar
o próprio posto de trabalho.
Este apoio irá crescer na Europa para responder ao crescente desemprego?
Absolutamente. Trata-se de um mecanismo muito recente, apoiado pela Direção-geral do
Emprego, Assuntos Sociais e Inclusão da UE, o que permite perceber a orientação política. Tem uma
capacidade financeira de 200 milhões de euros, que já permitiu fechar 30 a 40 contratos [de apoio ao
microcrédito disponibilizado pela banca], incluindo dois em Portugal. Antevejo que este orçamento
será reforçado no próximo ano com as novas perspetivas financeiras da UE, porque há um forte desejo
de apoiar a microfínança, as microempresas e também os fundos de investimento sociais para colocar
capital neste tipo de projetos.
Como poderá evoluir o orçamento do FEI para iniciativas de microcrédito?
Temos de aguardar pelo orçamento comunitário, mas certamente que conseguiremos duplicar a
capacidade atual para continuarmos a assegurar um fluxo de apoio aos bancos que lhes permita
continuar a disponibilizar linhas para projetos de microcrédito.
O objetivo é criar condições para que as pessoas possam criar o seu próprio posto de
trabalho?
Sim. Já há muitos exemplos em Portugal. Os bancos olhavam para estas pessoas como estando
fora do sistema bancário, mas começaram a financiá-las no âmbito de iniciativas de responsabilidade
social, trazendo-as para dentro do sistema. Será sempre uma realidade de pequena dimensão.
2013-04-18
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