PRIMEIRO CONTRIBUTO PARA 0 CONHECIMENTO DA FAUNA DE TARDIGRADOS DOS ACORES wr A. PAUL0 FONTOURA * RESUMO Niio siio conhecidos, at& e' data, quaisquer elementos referentes h fauna de Tardigrados dos A~ores.Este trabalho represmta pois a primeira contribuig%io para o seu conhecimento. Faz-se a cita@o das cinco primeiras espkcies para o Arquipdago das quais uma 6 nova para Portugal. Tendo como objectivo aurnentar os conhecimentos sobre a fauna de Tardigrados de Portugal, estudaram-se amostras de Musgos e Liquenos provenientes do ArquipClago dos A~ores. * Institute d e Zoologia uDr. Augusto Nobre,,, Facddade d e Cibncias d o Porto. Este trabalho nHo teria sido possivel sem a colabora@o de Alzira Luis, alum desta Faculdade, e do Centro de Jovens Naturalistas, dos Asores, que colherarn amostras na ilha do Pico, em Dezembro de 1980, e na ilha de Santa Maria, em Fevereiro de 1983, respectivamente (fig. 1). Para a extrac~iiodos exemplares utilizou-se a tkcnica descrita por Ramazzotti (1972): os musgos e liquenes foram colocados em hgua para que os animais abandonassem o estado criptobi6tico. Ao fim de 24 horas o material vegetal foi espremido, como se se tratasse de uma esponja, e a Agua residual observada ao estereoscltrpio. - . FIG= 1 Ilhas em que se rulizou a prospecgdo de Xardigrados no arquipdago dos A~ores Corvo B OF1ores Graciosa ' " ,, * t L O S.Jorge FaialQ& . b gTercei ra Pico . S.Migue1 '=z ". Apds a extracsiio, os exemplares f ~ r a mobservados posteribrmente montados em plyvinyl-lactofend ao qua1 se adicionou arose de lignine,, observados ao microscopio e desenhados com a ajuda da. c h a r a -clara. ..+ . Estas .amostras mostraqam-nos uma fauna bastante interessante embora nZio muito rica. De notar que.dgumas ~ V O Se PRIMEIRO CONTRIBUTO .PARA 0-CONWEOI-ME-NTO DOS TARDIGRBDOS amostras provenientes da ilha de Santa Maria se deterioraram impossibi.litando. a extrac~80das organismos. Estudaram-se cinco espbcies, as primeiras para os A~ores,.das quais uma nova para a fauna de Tardigrados de Portugal. LISTA E DESCRICAO DAS FORMAS ENCONTRADM ORDEM - HETEROTARDIGRADA (Ehrenberg, 1853) Eckniscus (Echiniscus)canademis ( J . Murray, 1910) Espkcie de gkmde variabilidade no que diz respeito ao niunero e cumprimento dos apCndi,ces (fig. 2). Aspcto .FLGURA 2 de Echiniscus (Echiniscus) canadensis Estudaram-se dois exemplares de 18Op e 38% de comprimento (Xavier da Cunha, 1941, indica dimens6es da ordem dos 30m). Estes exemplares possuiam somente o cirro A e Cd. Dd era um espinho relativamente curto e D e E, quando existiam, espinhos muito reduzidos. Cornprimento 38% 180p A 33y, 62. Ca Dd 75y 4 (impar) 129g - D E 8y. 5 (impar) 1 6 ~ Cor vermelha acastanhada. Olhos vermelhos. Escultura das placas dupla, constituida por pontuag6es bastante nitidas. Quarto par de pQ com papila e colar denteado. Garras internas com espordes recurvados. D~istribuigiio geogriifica: Europa (numerosas localidades), Coreia e AmCrica do Norte. Em Portugal foi encontrada em S. Giiio (Beira Aha) e agora em liquenes das Lages do Pico (ilho do Pico, Asores). Echiniscus (Echiniscus) quadrispinosos cribrosus (J. Murray, 1907) Encontramos um s6 individuo de 144p de comprimento e possuindo os seguintes apendices: A - w ; G3W; D-22p; E-26p; 'Cd-9p e Dd.curto espinho. &or vermelha e olhos igulalmente vermelhos. A escultura 6 dupla constituida por pontuasSes finas alternando corn fmetas de tamanho relativamente grande. Na placa terminal hzi uma banda transversal e outra longitudinal, formando ulna cruz, sem escultura (fig. 3). Garras internas corn espordes e colar denteado no quarto par de pCs. Foi, tamb6m, encontrada uma larva de duas garras corn 96y. de comprimento. PRIMEIRO CONTRIBUTO PARA 0 CONHECIMENTO DOS TARDIGRADOS FIGURA 3 Aspecto geral de Echiniscus (Echiniscus) quadrispinosus cribrosus D<istribui@ogeogrifica: Europa, Gronelkdia, Madeira e A~ores(musgos da iIha do Pico). Em Portugal continental Xavier da C d a (1941) citm Echiniscus (Echiniscus) quadrispinosus quadrispinosus, que encontrou pr6ximo de Coimbra. No entanto, estas duas sub-espCcies diferem peIa aus6ncia do apkndice B em Echiniscus (Echiniscus) quadrispinosus cribrosus. Echiniscus (Echiniscus) viridis (J. Murray, 1910) 0 s exemplares estudados apresentavam comprimentos compreendidos entre 144 e 2 5 6 ~(Ramazzotti, 1972, indica (fig. 4). 250p como cornprimento m-o) Foi, tambem, encontrada urna lama de duas garras com 96p. A. PAUL0 FONTOURA Aspect0 g FIGURA 4 d de Echiniscus (Echiniscus) viridis 0 corpo C largo e robusto. 0 cirro A, tinico presente, apresenta dirnensdes bastante reduzidas (28 a 3 2 ~ ) . A cor das plaoas 6 verde azeitona. A escultura e a delirnita~iio das placas siio bastante nitidas. A placa mediana I11 C bastante reduzida. 0 quarto par de pCs apresenta papila e colar denteado. Garras internas sem esporiio. Dfstribuigiio geogriifica: Escbcia, Brasil, Hawai e ilhas Galapagos. Em Portugal C citada, pela primeira vez neste trabalho, na ilha do Pico nos Agores . PRINEIRO CONTRIBUTO PARA 0 CONHECIMENTO DO6 TARDIGRADOS Echiniscus (Pseudechiniscus) suillus (Ehrenberg, 1853) Individuos de corpo alongado e peqqenas dimensBes, entre 124 e 2 0 8 ~ .Rarnazzotti indica 2 8 5 ~como comprimento m u o . Cuticula de colora@o vermelha. Apresenta manchas oculares bem nitidas e de cor preta (fig. 5). A courap, como C tipico do subgknero, apresenta uma placa suplementar entre a 3." mediana e o escudo terminal, a placa pseudosegmentar. A ornamenta~tiodas placas C ccrnstituida por pontua@es finas e regularmente distri.. buidas. No escudo terminal ha duas incisbes'bem nitidas. AlCm dos cirros cefdicos, entre os quais ha uma papila sensitiva bastante volumosa, apenas aparece o cirro A, tendo na base uma clava. 0s p&s sgo compridos e finoi, com &na banda ornamentada. No pC quatro hA uma pequena papila. Garras internas corn esporiio c m o . . . Distribui@o geogrhfica: EspCcie cosmopolita. Foi citada na Europa, AmCrka do Norte e do Sul, Africa, Asia, Nova Zelbdia, regiBes Articas e Anth-ticas. Em Portugal foi encontrada em Coimbra, Pen~la,Soure, Guarda e Serra da Estrela, Amarante, Mondim de Basto e Serra do Margo. Foi tanbCm citada para a ilha da Madeira. Nos A~oresfoi encontrada na ilha do Pico. ORDEM - EUTARDIGWA (Marcus, 1927) Macrobiotus- hufelandii hufelandii (Schultze, 1833) Individuos de dimensBes bastante grandes. As fkimeas podem atingir 1 2 0 0 ~ .0 s machos s8o geralmente mais pequenos, 27%. Forarn encontrados individuos com comprimentos cornpreendidos entre 154 e 6 2 4 ~(figs. 6 e 7 ) . FIGURA 5 Echiniscus (Pseudechiniscm) suillm . PBS IV Ooulado, ocupando as manchas oculares uma posi@o paralela ao bolbo faringeo. A cuticula 6 lisa, corn pequenos pontos brilhantes regularmente distribuidos. PRIMEIRO CONTRIBUTO PARA 0 CONHECIMENTO DOS TARDIGRADOS FIGURA 6 Macrobiotus hufelandii hufelandii Abertura bucal larga, rodeada de lamelas peribucais, seguida de urn vestibule com estrangulamentos anulares. Tubo buoal medianamente largo, ou largo (4 a 5 ~ ) . Bolbo faringeo ligeiramente ovalado com dois macroplacbides em forma de bastonete e um microplacbide, bem visivel. 0 primeiro bastonete C mais longo do que o FIGURA 7 Macrobiotus htEfeIarrdii hufdandii, ovo. segundo e apresenta, a meio, urn ligeiro estrangulamento. 0 segundo bastonete termina por uma dil.at~a@omais cm menos esferica. Garras cmact&sticas constituidas por dois ramos unidos em ccYn. o ram0 interno c maior do que 0 e x t e m e tem duas pontas acess6rias. Na base das garras ha uma lljnula bem visivel. 0s ovos s%opostos isoladamente. 0 ovo 6 esferico de 64 a 80p, incluindo as ornamenta@es. Estas ornamenta$des s%oconstitufdas em forma de cAlice invertido com o disco distal liso. Distribui~Hogeogrfica: I2 m a espkie cosmopolita. Em Portugal foi encontrada em q w e todtas as localidades onde se pesquisaram os Tardigrados. Nos Asores f o i encontrada tanto na iIha do Pico como na de Santa Maria. PRIMEIRO CONTRIBUTO PARA 0 CONHECIMENTO DCS TARDIGRADOS CONCLUSOES Emboaa as colheitas niio tenham sido abundantes aurnentaram-se consideravelrnente os conhecimentos sobre o fauna de Tardigrados de Portugal. Com efeito, fez-se a cita~iiode uma nova espCcie para Portugal, E. (E.) viridis, aumentando para 50 o n h e r o de espdcies conhecidas. Por outro lado, este C o primeiro trabalho realizado no Arquipdago dos A~oresem que s20 descritas as primeiras cinco espCcies para aquela regiiio. Cremos que ha ainda muito para descobrir pois existem ainda muitas regides niio exploradas. Esperamos assim ter dado um incentivo e um contributo importantes para o estudo deste interessante grupo de animais que siio os Tardigrados. BIBLIOGRAFIA CUNHA, A. Xavier (1941) -Tardigrados da fauna portuguesa. Mem. Est. Mus. ZooL Univ. de Coimbra. 120. - (1943)-Un Tardigrade nouveau du Portugal. Mem. Est. Mus. 2002. Univ. de Coimbra. 143. - (1944) -Tardigrados da fauna portuguesa 11. Mem. Est. Mus. Zool. Univ. de Coimbra. 155. -((1944)-Echiniscus multispinosus sp. n. Mem. Est. Mus. 2001. Univ. de Coimbra. 159. - (1947) -Tardigrados da fauna portuguesa 111. Mem. Est. Mus. Zool. Univ. de Coimbra. 1 . A. PAUL0 FONTOURA - (1947) -Description d%l Tardigrade nouveau de la f a m e portugaise: Parechiniscus unispinosus sp. n. Mem. Est. Mus. Zool. Univ. de Coimbra. 180. - (1948) -Tardigradas da fauna portuguesa IV. Mem. Est. Mus. 2001. Univ. de Coimbra 188. CUNHA, A. Xavier e NASCIMENTO RODRIGUES, I?. 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