Jornal da Universidade Federal de Ouro Preto
Edição 191 - setembro e outubro de 2013
DESCARTE DE MEDICAMENTOS
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Entrevista:
Você sabe o que fazer com os remédios
vencidos ou que não
usa mais? Projeto da
Escola de Farmácia da
UFOP trata dos riscos
da automedicação e
do descarte incorreto
de medicamentos. A
iniciativa recolhe medicamentos da população e dá a destinação
adequada. Apenas no
primeiro semestre deste ano, já foram coletadas mais de 13 mil unidades.
Programa Prevenção e
Tratamento de Tendinopatias
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Ciência da Cachaça: melhoramento
e padronização do destilado
PÁGINA 5
Encontro de Saberes será
em novembro
PÁGINA 6
Conquistas e desafios do
Inconfidentes Rugby
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Hércules Tolêdo Corrêa: letramento
digital e educação a distância
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Cinco estrelas
Cursos de Farmácia e Engenharia Ambiental da UFOP recebem
conceito excelente do Guia do Estudante
Por Fernanda Marques
Desafios das universidades públicas
Buscar e definir o papel de uma universidade diante de rápidas transformações sociais e tecnológicas é
um desafio que se impõe não apenas a gestores, mas
a todos que pertencem a esse organismo social. Por
mais que tenhamos planos de desenvolvimento institucionais - aliás, fundamentais para colocar o vento a
nosso favor, facilitando sobremaneira os caminhos a
serem trilhados -, sempre nos surpreendemos com as
carências que ainda persistem em nosso País e, a todo
momento, nos perguntamos: o que podemos fazer
diante desses desafios?
Somos membros de uma academia, financiada
por uma sociedade que, de alguma forma, também
manifesta esse sentimento. Fazemos parte de um grupo que praticamente é responsável pela totalidade das
atividades de pesquisa e desenvolvimento no País: o
das universidades públicas. Produzimos conhecimento, insumo básico para a geração de riqueza e desenvolvimento social. Formamos anualmente pedagogos,
professores, engenheiros, médicos, cientistas sociais,
entre outros, que devem se perceber como elementos
catalisadores do desenvolvimento do Brasil e comprometidos com a melhoria das condições de vida de
nosso povo.
Longe de uma resposta aos desafios existentes - e
entendendo que a sustentação dessa busca se dá por
meio da diversidade, da pluralidade e da democracia
-, gostaríamos, nesta mensagem, de deixar uma simples provocação no sentido de que possamos refletir
um pouco sobre o nosso papel nessa sociedade, como
membros, por assim dizer, privilegiados de conhecimento, de capacidade de inserção social e de grande
capilaridade, quando nos colocamos para além do
nosso eu.
Marcone Jamilson Freitas Souza
Reitor
Dentre as graduações com a avaliação “excelente”,
está o curso de Farmácia da UFOP, que foi criado em
1839 e obteve cinco estrelas. A aluna Mariana Ribeiro
ressalta a importância dessa classificação para a UFOP.
“A atribuição dessa nota é mais uma demonstração do
reconhecimento de um ensino de qualidade, buscado e
aprimorado ao longo de mais de um século. Para nós,
alunos, é motivo de orgulho fazer parte desse histórico, e
isso nos incentiva cada dia mais a aproveitar as oportunidades que a Universidade oferece”.
Criado em 2000, o curso de Engenharia Ambiental,
instalado na Escola de Minas, também obteve a pontuação máxima. O chefe de Departamento de Engenharia
Ambiental da UFOP, José Francisco do Prado Filho,
comemora as cinco estrelas. “Estamos esperançosos com
o resultado dessa avaliação positiva tanto em evolução
e investimentos internos como para os nossos egressos.
Imagino que as empresas também acabam por conhecer
os melhores cursos oferecidos pelas instituições de ensino superior’’, aponta.
DEMAIS CONCEITOS - Os cursos de Sistema de
Informações, História, Letras, Ciência da Computação,
Ciências Biológicas, Direito, Engenharia Civil, Engenharia de Controle e Automação, Engenharia de Minas,
Engenharia Metalúrgica, Filosofia, Nutrição, Química,
Artes Cênicas e Turismo conquistaram quatro estrelas.
Os cursos que receberam nota 3 são Engenharia de
Produção (campus Morro do Cruzeiro, em Ouro Preto, e
campus João Monlevade) e Geologia.
Coluna do Museu
Viscosímetro Höppler
Pertencente ao Setor de Química do Museu de Ciência e Técnica da Escola de Minas, o Viscosímetro Höppler é um instrumento
para medir viscosidade de um líquido, por exemplo. Para isso,
mede-se o tempo de que uma esfera sólida precisa para percorrer
uma distância entre dois pontos de referência dentro de um tubo
inclinado com a amostra do líquido que se deseja determinar a
viscosidade.
Os setores de Química, História Natural, Mineralogia,
Mineração, Metalurgia, Física e Ciência Interativa estão
abertos à visitação pública de terça a domingo, das 12h
às 17h. Já o Observatório Astronômico funciona aos
sábados, das 20h às 22h. O Setor de Transporte Ferroviário está aberto à visitação pública de terça a domingo,
das 9h às 17h, na Estação Ferroviária de Ouro Preto do
Trem da Vale. O Setor de Siderurgia atende o público
de quarta a sexta, das 13h às 17h, no Centro de Artes
e Convenções da UFOP.
Escolas e grupos podem agendar visitas
(31)3559-3118 ou [email protected].
www.museu.em.ufop.br
PUBLICAÇÃO OFICIAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
Reitor: Prof. Dr. Marcone Jamilson Freitas Souza
Vice-Reitora: Prof.ª Dr.ª Célia Maria Fernandes Nunes
ACI: Fernanda Matias, Mariana Petraglia, Rondon Marques,
Verônica Soares
Coordenador de Comunicação Institucional: Chico Daher
Edição: Ana Paula Martins|MTb 12533
Projeto Gráfico: Mateus Marques
Ilustração de Capa: Mateus Marques
Diagramação: Cris Mendes, Ralf Soares
Redação: Ana Paula Martins, Bruna Sudário, Fernanda Marques,
Fernanda Mafia, Flávia Gobato, Roberta Nunes, Tamara Pinho
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Colaboração: Aldo Damasceno, Bruna Fontes, Brunello Amorim,
Isadora Faria, Júlia Cunha, Luiza Madeira, Nathália Nunes
Revisão: Magda Salmen e Rosângela Zanetti
Tiragem: 1.000 exemplares
Impressão: MJR Editora e Gráfica
Coordenadoria de Comunicação Institucional (CCI): Campus Morro
do Cruzeiro, Ouro Preto/MG, CEP 35400-000.
Telefone: (31) 3559-1222 • Site: www.ufop.br
Email: [email protected]
Edição 191 - setembro e outubro de 2013
Foto: Leonardo Homssi
EDITORIAL
Vinte cursos da Universidade Federal de Ouro Preto
(UFOP) foram classificados no último ranking da publicação Guia do Estudante, da editora Abril. A avaliação
2013 é feita por conceitos: excelente (5 estrelas), muito
bom (4 estrelas), bom (3 estrelas), regular, ruim e prefiro
não opinar. Dentre os cursos da UFOP analisados pela
revista, dois (Farmácia e Engenharia Ambiental) conquistaram a nota excelente, 15 receberam nota 4 e três cursos
ficaram com o conceito 3.
O que fazer com os remédios?
Projeto da Escola de Farmácia aborda proposta educacional para o descarte adequado de medicamentos
Por Flávia Gobato
O uso de medicamentos é a forma
mais comum de tratamento de saúde,
porém estudos alertam sobre os riscos da
automedicação, como a intoxicação pelo
uso de substâncias vencidas, e da poluição
do meio ambiente devido ao descarte incorreto. O projeto de extensão “Educação
para o descarte correto de medicamentos
no município de Ouro Preto”, desenvolvido pela Farmácia Escola da UFOP - em
parceria com a prefeitura, por meio da
Secretaria de Meio Ambiente - surgiu a
partir da preocupação com a destinação
dada aos medicamentos vencidos ou aqueles que não se utilizavam mais. A iniciativa
visa a proporcionar à população um meio
correto para a eliminação desses remédios, num trabalho de conscientização e
educação.
A Farmácia Escola da UFOP recolhe
os medicamentos descartados pela população. A farmacêutica responsável, que
também coordena o projeto, Wandiclécia
Ferreira, descreve que os itens recebidos
são todos separados e registrados pelos
alunos com informações sobre validade,
quantidade, princípio ativo, dentre outras
classificações. “Separamos em três categorias: comprimidos, cremes e pomadas,
líquidos e spray. Depois de recebidos, eles
são incinerados por uma empresa contratada pela Prefeitura de Ouro Preto.”
A auxiliar de biblioteca Mariana Oliveira conta que não conhecia o projeto,
mas já tinha ouvido falar sobre descarte de
medicamentos. “É muito importante. Não
paramos para pensar no assunto e nem na
consequência quando jogamos em um
lixo comum”. O estudante do 7º período
de Medicina da UFOP Pedro Miranda
considera a iniciativa muito positiva. “Os
medicamentos podem contaminar ainda
mais o lixo e as pessoas que têm contato
com ele. Dar o fim adequado pode evitar
acidentes com crianças e adultos”.
Os dados recolhidos pela Farmácia
Escola são divulgados para conhecimento da população e também utilizados
para elaboração de artigos científicos e
apresentações em congressos pelos discentes. Foram arrecadadas 13.139 unidades de medicamentos de janeiro até
julho de 2013, sendo que 85% estavam
vencidos.
Para participar, basta levar os remédios à Farmácia Escola, localizada no
Centro de Saúde, no campus Morro do
Cruzeiro, em Ouro Preto. Mais informações, ligue: (31) 3559-1298.
Riscos ao meio ambiente
A pró-reitora adjunta de Planejamento
e Desenvolvimento e professora da Escola
de Farmácia, Lisiane Silveira, salienta que
o descarte correto ajuda as pessoas e o
meio ambiente, que se beneficiam com a
iniciativa, evitando a intoxicação.
A diretora do Departamento de
Resíduos da Prefeitura de Ouro Preto,
Mariana Andrade, explica que o descarte
inadequado dos medicamentos pode trazer sérios danos ao meio ambiente. “Essa
é uma prática perigosa, pois são produtos
químicos e poluentes tóxicos e, quando
descartados em locais inadequados ou
lançados no esgoto sanitário, os fármacos
podem atingir o solo e contaminar o lençol freático. Essas substâncias danificam
as águas de rios, lagos e os peixes, que podem ser consumidos posteriormente por
animais e pelo homem.”
Legislação
O projeto de lei constitucional n°
595/2011 determina que farmácias e
postos de saúde devem receber da população os medicamentos que sobraram
dos tratamentos (vencidos
ou não) para devolvê-los
ao laboratório responsável
pela produção. Este deverá
descartá-los de maneira
segura, com o objetivo de
preservar a saúde e o meio ambiente. O descumprimento da
legislação por parte dos laboratórios
tem como consequência uma infração
sanitária grave.
O professor de Direito Ambiental da
UFOP, Alexandre Bahia, afirma que a iniciativa da Farmácia Escola de recolher os
medicamentos é muito importante. Tratase de prestação de um serviço público
fundamental. “Hoje, há uma lei que trata
do Plano Nacional de Resíduos Sólidos e
disciplina sobre descarte e correto armazenamento de diferentes tipos de lixo. Dentro desse contexto, a destinação adequada
é relevante não apenas por questões ambientais, mas também de saúde pública, já
que a manutenção de medicamentos com
os cidadãos representa um perigo à saúde
não apenas daquele que usou o medicamento, mas também de crianças que podem vir a ter contato com esses fármacos.”
Alerta!
Levantamento da Associação Brasileira das Indústrias
Farmacêuticas (Abifarma), de 2010, mostra que a automedicação é preocupante no Brasil, onde 80 milhões de
pessoas têm o hábito de tomar medicamentos por conta
própria. De acordo com a Organização Mundial da Saúde
(OMS), o percentual de internações hospitalares ocasionadas por reações ao mau uso de medicamento é superior a
10%.
O clínico geral do Centro de Saúde da UFOP, Ariosvaldo Figueiredo, explica que, ao fazer uso do medicamento vencido, o princípio ativo reduz sua eficácia, não
atingindo o objetivo de melhora. No caso dos antibióticos,
pode até aumentar a resistência da bactéria no organismo.
Se os devidos cuidados não forem tomados, os medicamentos, ao invés de curarem doenças ou aliviarem
os sintomas, podem causar grandes problemas. Então,
fique atento às dicas e dê uma conferida nos medicamentos de sua casa:
• verifique sempre o prazo de validade antes de usá-lo;
• não use medicamentos com embalagens danificadas;
• não misture medicamentos sem a devida orientação;
• use apenas medicamentos com a orientação de seu
médico, principalmente bebês, mulheres grávidas ou
que estejam amamentando;
• evite consumir bebidas alcoólicas;
• guarde os medicamentos em locais seguros, arejados,
secos e protegidos da luz, nunca em cima da geladeira,
no banheiro, embaixo de pias ou próximo de materiais
de limpeza, sempre longe do alcance de crianças e de
animais domésticos.
(Fonte: Ministério da Saúde)
Foto: Isadora Faria
Edição 191 - setembro e outubro de 2013
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Tendinopatias têm tratamento
Pacientes com doenças causadas por movimentos repetitivos recebem tratamento no SUS de Ouro Preto
pelo programa Preventt da UFOP
Por Roberta Nunes
Semanalmente, são realizados 16
atendimentos, com a projeção mensal de
64, nas duas Policlínicas de Ouro Preto
e no distrito de Cachoeira de Campo.
Diminuir a dor e promover a qualidade
de vida, contribuindo para a melhora
das atividades do dia a dia são alguns dos
objetivos do programa.
“O foco primário é reduzir a incidência das lesões do sistema musculoesquelético – que inclui ossos, articulações,
músculos, tendões e ligamentos – ocasionadas pelo trabalho repetitivo associado
ao esforço constante. Diminuindo essas
lesões, a iniciativa pretende devolver ao
mercado de trabalho as pessoas em idade
economicamente ativa”, afirma o coordenador Gustavo Benevides.
Afastamento
As aposentadorias por invalidez relacionadas às doenças do sistema osteomuscular representam mais de 26 mil no
País, de acordo com o Ministério da Previdência Social. Além disso, cerca de 380
mil auxílios-doença por essas patologias
crônicas são concedidos, somando mais
Foto: Natália Viégas
Na região de Ouro Preto, os pacientes que sofrem de tendinopatias crônicas
podem receber atendimento especializado pelo Programa Prevenção e Tratamento de Tendinopatias (Preventt), da
UFOP. Tendinite, bursite, sinoite, neurite e artrite ou artrose estão inseridas
nas enfermidades que afetam o sistema
osteomuscular, nos ossos, nos músculos
ou nas articulações. As causas são atribuídas aos movimentos repetitivos que acometem profissionais de diferentes áreas,
como em indústrias, mineradoras, além
de artesanato.
de R$405 milhões, conforme dados do
Anuário Estatístico da Previdência Social
de 2011.
Capacitação
Os cursos de capacitação oferecidos
aos agentes comunitários da Saúde e as informações compartilhadas com médicos e
enfermeiros promovem formação complementar e habilitação para identificar
e encaminhar pacientes. Outro viés são
os alunos de diversos cursos que são beneficiados ao se aproximarem da prática
profissional por meio da vivência junto à
população. Dentre as ações, está previsto
o curso de atualização sobre equipamentos de laser e ultrassom aos fisioterapeutas
da Prefeitura de Ouro Preto.
Prevenção
Os cursos de prevenção são proporcionados aos trabalhadores em atividades de
risco, de acordo com a demanda gerada
pelo Programa Saúde Família (PSF). Têm
o objetivo de alterar a relação do trabalho
por meio de questões ergonômicas, como
a postura e a interação com equipamentos e mobiliário. Para alcançar o fortalecimento e o alongamento muscular por
meio da ginástica laboral.
As causas das
tendinopatias
são atribuídas
aos movimentos
repetitivos
comuns em
profissionais de
diferentes áreas
Tratamento
O tratamento é realizado com diferentes tipos de laser e ultrassom, atendendo
aos pacientes encaminhados por cerca
dos 20 PSFs de Ouro Preto. Dentre os benefícios, está o de acelerar a cicatrização, facilitando a regeneração do tendão, para que a
velocidade de regeneração minimize o tempo
de tratamento e o uso de medicamentos.
“Essas patologias são gradativas e conduzem
a uma dor extrema, mesmo no repouso,
impossibilitando qualquer tipo de atividade
(profissional ou doméstica). Pacientes não
conseguem abotoar a própria camisa ou escovar os dentes. Para tratar esses pacientes,
introduzimos uma terapia que combina alguns tipos de laser conjugado ao ultrassom”,
afirma o coordenador.
Preventt
No levantamento realizado pelo programa Preventt, na espera por tratamento
no serviço de fisioterapia municipal de
Ouro Preto, aproximadamente 15% dos
pacientes estão com o diagnóstico de
tendinopatia crônica. O Preventt é um
programa de extensão da UFOP, que leva
o conhecimento a serviço da comunidade.
Ele é fomentado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais
(Fapemig) e pelo Ministério da Educação
(MEC), via Programa de Extensão Universitária (ProExt). Outra importante parceira
é a Prefeitura de Ouro Preto.
Três formas de atuação direcionam o
trabalho: a capacitação de profissionais
da saúde para reconhecer os sintomas e
direcionar para o tratamento. A prevenção
como forma de possibilitar mudanças de
hábito que evitem a doença e o tratamento
com lasers e ultrassom. Assim trabalha a
equipe multidisciplinar coordenada pelo
professor Gustavo Pereira Benevides, e
composta pelo co-orientador, Luiz Eduardo de Sousa, e 18 discentes dos cursos
de Educação Física, Farmácia, Medicina e
Serviço Social.
4
Foto: Natália Viégas
Foto: Natália Viégas
As aposentadorias
por invalidez
relacionadas
às doenças
do sistema
osteomuscular
representam mais
de 26 mil casos
Edição 191
Ciência da Cachaça
Pesquisa desenvolvida na UFOP busca o melhoramento e a padronização da qualidade da aguardente
Por Fernanda Mafia
Cachaça, aguardente, pinga ou até
caninha, para os mais íntimos, é uma
bebida tipicamente brasileira, conhecida no mundo inteiro graças à caipirinha. A cachaça é o terceiro destilado
mais produzido no mundo, porém, o
Brasil exporta menos de 1% da bebida.
O que dificulta a expansão para o mercado exterior é a falta de padronização.
Com o objetivo de garantir a qualidade,
no que diz respeito ao aroma e ao sabor
da cachaça, a Universidade Federal de
Ouro Preto (UFOP) desenvolve pesquisas nessa área.
Desde o ano 2000, a UFOP mantém
um sistema de isolamento e seleção de
leveduras, por meio de testes de propriedades, como temperatura, resistência ao
álcool, fermentação e outras substâncias. A partir disso, são selecionadas as
melhores leveduras para o processo fermentativo, o que, consequentemente,
leva à produção de uma bebida de maior
qualidade.
O professor da UFOP Rogélio Lopes
Brandão orienta pesquisas de mestrado
e doutorado que estudam formas de padronização do produto. Ele conta que já
desenvolvia projetos relacionados à fermentação de substâncias e leveduras, até
que um produtor de cachaça do distrito
ouro-pretano de Santo Antônio do Leite
o procurou para o melhoramento do
processo de produção do seu alambique,
o que o instigou a estudar o assunto. Porém a maioria dos pequenos produtores
ainda tem resistência às pesquisas, pois
acreditam que o modo tradicional de
produção deve ser mantido.
A pesquisa coordenada por Brandão
já foi patenteada pela Universidade.
“Metodologia para o isolamento de
cepas de Saccharomyces cerevisiae mais
adequadas à produção de cachaça de
Foto: Isadora Faria
alambique” é fruto da primeira dissertação
de mestrado desenvolvida da UFOP sobre
a cachaça, em 2003, pela aluna Maristela de
Araújo Vicente. Para o professor, ainda existe
preconceito em realizar pesquisas nessa área,
porém os alunos precisam enxergá-la como
uma oportunidade de trabalho, visto que a
área está em expansão, e a tendência é que a
bebida alcance o mercado externo.
Parceria importante
Rogélio explica que a transferência de
conhecimento ainda é um processo burocraticamente complicado, o que dificulta
que os pequenos produtores se beneficiem
efetivamente da pesquisa. “Em qualquer área,
é um desafio fazer o conhecimento acadêmico
chegar à ponta do mercado”, afirma. O atendimento aos pequenos
produtores acontece de
uma maneira amigável.
O professor tem acesso à
pesquisa aos alambiques
da região, recolhe amostras e fornece leveduras
para os produtores que
se interessam no melhoramento do processo,
como uma forma de
retribuição. “Ainda existem limitações em fazer
uma consultoria ágil e
contínua, que atenda os
produtores em todas as
safras, mas essa relação
ainda pode melhorar”,
conta. Parceria entre
a UFOP e o Instituto
Federal do Norte de
Minas Gerais (IFNMG)
já realiza a produção de
cachaça com leveduras
selecionadas.
De acordo com o professor do IFNMG
Thiago Moreira Santos, o projeto surgiu da
necessidade de fomentar pesquisas nessa
área, uma vez que ainda existem poucos trabalhos científicos sobre o assunto. O contato
entre as duas instituições permitiu a criação
do doutorado interinstitucional, apoiado
pela Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (Capes). “A troca
de conhecimento com a UFOP foi uma ótima oportunidade, pois aliou uma instituição
reconhecida no meio científico, a UFOP,
com o IFNMG, que possui uma excelente
infraestrutura na área da cachaça, com laboratórios de microbiologia sensorial, físico-
química e de fermentação piloto e, ainda, um
alambique escola em escala de produção”,
explica Santos. Dessa parceria, foi possível
a implantação do Polo em Excelência da
Cachaça em Salinas, que tem como objetivo
fortalecer o setor, já que a região é conhecida
pelo potencial de fabricação de cachaça.
A trajetória da cachaça
O Dia Nacional da Cachaça é celebrado
em 13 de setembro. A origem do “aperitivo”
é bastante controversa. Seu surgimento está
diretamente relacionado ao período colonial
no Brasil e ao início da atividade açucareira.
Uma das versões conta que a cachaça foi inventada por escravos, nos engenhos de canade-açúcar. Durante a fermentação, a bebida
evaporava, formava gotículas no teto do engenho e pingava. Daí o nome “pinga”. Outra
versão sugere que a denominação “aguardente” tenha surgido porque, ao pingar, a bebida
atingia as feridas dos escravos e provocava dor
e ardência.
Por muito tempo, a cachaça foi classificada
como um produto de baixa qualidade e consumido por marginais. Esse quadro mudou,
e hoje o destilado tem alcançado espaço e
destaque no mercado. Com grandes apreciadores, passou a ser servida como “bebida
oficial brasileira” em embaixadas e encontros
internacionais. Com um número cada vez
maior de sabores e estilos, as garrafas chegam
a custar R$350.
Algumas histórias dão conta de que a cachaça teria surgido no Rio de Janeiro; outras,
no estado da Bahia. Apesar de Minas Gerais
carregar a fama de possuir as melhores cachaças do Brasil, Rogélio garante que no estado
não existe nenhuma particularidade que altere a qualidade da cachaça. “A maior característica da cachaça de Minas é a tradição, porém
se você tiver um processo que força a predominância de uma determinada levedura, o
resultado final é bastante satisfatório”, afirma.
Pesquisa da
UFOP estuda
isolamento
e seleção de
leveduras no
processo de
fermentação
da bebida
setembro e outubro de 2013
5
SABERES EM FOCO
UFOP reúne estudantes, professores e pesquisadores no Encontro de Saberes
Por Tamara Pinho
Na busca pela troca de conhecimentos,
o Encontro de Saberes da UFOP chega a
sua quarta edição e será realizado de 6 a
8 de novembro, em Ouro Preto. Desde
2009, o Seminário de Iniciação Científica
(Seic), o Seminário de Extensão (Sext) e
a Mostra Pró-Ativa, que ocorriam separadamente, passaram a integrar um único
evento: o Encontro de Saberes, com vistas
a promover a interdisciplinaridade entre
os seminários e a mostra.
O Encontro é a reunião de conhecimentos em ensino, pesquisa e extensão,
e tem também o intuito de apresentar
ações à comunidade universitária e da
região. O evento é uma ação conjunta da
Pró-Reitoria de Graduação (Prograd), da
Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação
(Propp) e da Pró-Reitoria de Extensão
(Proex).
Entre apresentações de trabalhos,
minicursos, mesas-redondas e palestras, o
Encontro de Saberes visa a gerar conhecimentos, fortalecer o vínculo e o compromisso da Universidade com a população,
além de ampliar e aprofundar o diálogo
entre a academia e a comunidade, por
meio dos projetos expostos durante a
programação.
Além da sala de aula
Participar do Encontro de Saberes é a
oportunidade que os estudantes têm de
expor seus trabalhos e suas pesquisas, além
de ter contato com outros estudantes e seus
projetos, proporcionando uma troca de experiências entre os participantes.
Para a estudante de Serviço Social Ariane
Campos, que participou de todas as edições
do Encontro apresentando seu projeto no
Seic, fazer parte de eventos como este é sempre enriquecedor tanto para quem divulga
suas pesquisas quanto para quem participa
como avaliador e ouvinte. “Acredito que
esses espaços são essenciais para qualificar a
formação do aluno, pois permitem que ele
tenha contato com diversas áreas, o que amplia seus conhecimentos. Além de fornecer
o acesso a pesquisas, participar do Seic possibilita que sejam desenvolvidas habilidades
como a oratória, importante nos debates
acadêmicos.”
O Encontro de Saberes será realizado no
Centro de Artes e Convenções da UFOP
(situado na rua Diogo de Vasconcelos, 328,
Pilar, Ouro Preto). Interessados podem
participar gratuitamente como ouvintes,
conferindo apresentações nos seminários e
exposições de trabalhos.
Foto: Natália Viégas
SEIC - Aberto aos estudantes de
qualquer instituição, pública ou
privada, que tenham interesse em
expor os resultados de seus trabalhos
de iniciação científica. A professora
Lisandra Brandino, coordenadora
do XXI Seic, destaca a importância
do evento para os alunos tanto da
UFOP quanto de outras instituições.
“O Seic almeja mostrar ao jovem pesquisador a importância da pesquisa
para o desenvolvimento da sociedade,
além de permitir um maior enrique-
6
cimento intelectual dos discentes e
possibilitar o desenvolvimento do
pensamento crítico, sendo capaz
de vislumbrar perguntas e elaborar
caminhos para alcançar as respostas
às questões discutidas.”
SEXT - O objetivo é que alunos
e professores da UFOP possam
mostrar as ações extensionistas que
estão sendo desenvolvidas ao longo
de 2013 e que os resultados já têm
reconhecimento da comunidade
envolvida. É exclusivo a trabalhos
desenvolvidos na UFOP. Criado em
1996, o Sext passou por período de
descontinuidade,mas, desde 2006,
é realizado anualmente.
MOSTRA PRÓ-ATIVA - A fim
de estimular a capacidade pró-ativa
dos discentes e docentes da UFOP,
o programa Pró-Ativa, da Prograd,
busca desenvolver ações que contribuam para a melhoria da qualidade
da oferta dos cursos de graduação.
A Mostra Pró-Ativa é a ocasião para
o compartilhamento, com a comu-
nidade acadêmica, dos resultados dos
projetos desenvolvidos durante o ano.
Para o coordenador da mostra, Adilson Pereira dos Santos, a participação
de estudantes e professores é necessária e relevante para que, com os
resultados obtidos nas pesquisas, seja
mais fácil implantar as melhorias necessárias para aperfeiçoar a qualidade
dos cursos. Na VI Mostra Pró-Ativa,
serão apresentados 95 projetos que
estão em execução em 2013.
Edição 191 - setembro e outubro de 2013
Inconfidentes Rugby se prepara
para as próximas disputas
Time ouro-pretano participa de seleção brasileira nessa modalidade esportiva
Por Bruna Sudário
Um esporte que vem ganhando espaço
dentro da Universidade é o Rugby. O time
criado em 2010, em Ouro Preto, com o
nome Inconfidentes Rugby e que tem a
UFOP como apoiadora, prepara-se para
o seu próximo desafio: o IV Campeonato
Mineiro de Seven. A disputa começa em
outubro na cidade de Varginha e vai até
dezembro. É dividida em três etapas, com
fases classificatórias como oitavas de final,
quartas de final, semifinal e final.
Segundo o atleta Cléverson Eleutério
(conhecido como Sagat), 22, a equipe está
se preparando bem para esses jogos. “Estamos investindo muito nos treinos físicos.
Nossos jogadores são fortes e rápidos, estamos muito empenhados.” Há três anos
praticando o esporte, Cléverson – que
é aluno do curso de Educação Física da
UFOP – afirma que essa é uma modalidade completa e que qualquer pessoa pode
praticar. “Os valores desse esporte trazem
uma filosofia de não formar apenas jogadores, mas homens de bom caráter, além
disso, quando você entra para um time de
rugby, entra para uma família, na qual todos estão dispostos a ajudar dentro e fora
de campo.”
Uma grande conquista para o Inconfidentes neste ano foi a convocação de
Sagat para integrar a Seleção Brasileira
de Rugby. O atleta chamou a atenção dos
treinadores da seleção pelo seu vigor físico. Desde agosto, ele vem treinando e participando de disputas,
como os Jogos Mundiais de Rugby Sevena-Sde, que aconteceram
em Cali, na Colômbia,
em que o Brasil ficou
com o sexto lugar. As
próximas competições
de que Cléverson
participa pela seleção
serão o Circuito Brasileiro Super Sevens, no
mês de novembro, e a
preparação para fase
classificatória dos Jogos
Sul-Americanos,
em
dezembro.
Para o professor Alfio Conti, responsável
pelo time, a convocação do jogador foi
uma grata surpresa que fortalece o espírito da equipe. “Isso serve de exemplo para
todos os atletas, demonstrando que o empenho e o esforço são sempre premiados,
Edição 191 - setembro e outubro de 2013
premissa fundamental do nosso esporte.
As conquistas são fruto de sacrifício. Espero que isso sirva tanto para os novatos
quanto para os mais velhos”, aponta.
Sagat anseia que essas convocações
ajudem o grupo a crescer, em termos de
apoio e patrocínio,
além de conseguir
mais praticantes da
cidade e da UFOP.
“Essa é uma oportunidade de mostrar que
Ouro Preto agora é a
cidade do Rugby. Vou
tentar aplicar tudo o
que estou aprendendo
dentro do time, com
isso, além da evolução
tática e técnica, a equipe poderá ser conhecida nacionalmente”,
acrescenta.
O Inconfidentes
Rugby treina
no campo do
Cedufop e é
aberto a todos
as pessoas da
comunidade de
Ouro Preto e
região
Mais sobre o mundo
do Rugby
O esporte é praticado em mais de 120 países, sobretudo nos de colonização inglesa.
Segundo a Confederação Brasileira de
Rugby, é o jogo com o nível mais elevado
de contato físico, no qual o jogador tem
como objetivo levar a bola para além da
linha de gol dos adversários e apoiá-la contra o solo para marcar pontos.
Sua forma mais difundida ao redor
do mundo e a praticada no Brasil é a do
Rugby Union, que tem duas modalidades:
a tradicional com 15 jogadores de cada
lado, XV ou 15-a-Side, e a reduzida do
Seven-a-Side, Seven, Sevens ou 7s, disputada com sete jogadores em cada time.
O Inconfidentes Rugby pratica essa
última modalidade, a Seven, e conta com
os times masculino (adulto e juvenil) e feminino. As equipes treinam no campo do
Centro Desportivo da UFOP (Cedufop),
no campus Morro do Cruzeiro. Os grupos
são abertos a todos as pessoas da comunidade de Ouro Preto e região. Para fazer
parte, não é necessário ter conhecimento
prévio do esporte, apenas ter vontade de
treinar e participar da equipe. Os interessados podem comparecer diretamente em
qualquer treino em que será apresentada
a modalidade.
Mais informações sobre o Inconfidentes
Rugby estão disponíveis no www.inconfidentesrugby.com.br.
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ENTREVISTA
Educação Digital
Professor Hercules Tolêdo Corrêa
Por Ana Paula Martins
O que é o letramento digital?
Letramento digital é a capacidade de
uso que as pessoas têm sobre a tecnologia.
Um exemplo ótimo é a minha mãe que
tem quase 70 anos e quis aprender a usar
o computador. Já sabia mandar mensagem pelo celular, o que é uma forma de
letramento digital. Hoje, ela que nem sabia como ligar o computador, já tem Facebook, sabe compartilhar, responder às
pessoas, usa o Skype. Então, o letramento
digital é a pessoa se apropriar efetivamente
dessa tecnologia e utilizá-la dentro de sua
necessidade.
Como as novas tecnologias influenciam o letramento?
Temos a impressão de que todas as
crianças são “nativas digitais” como também estão envolvidas no processo de letramento digital adquirido, em geral, fora
da escola, mas isso é verdade apenas para
uma parcela da sociedade, que tem uma
condição financeira mais favorável. Temos
realidades muito distintas no País, onde
realmente temos crianças e adolescentes
que sabem utilizar as tecnologias digitais,
principalmente com os chamados smartphones, que convergem diferentes mídias,
mas podemos observar que ainda temos
um bom número de crianças que não têm
nenhum acesso a esse tipo de tecnologia.
Para aqueles que já têm acesso, precisamos pensar em práticas pedagógicas
de sala de aula que incorporem essa tecnologia; e, para aqueles que não têm, é necessário criar maneiras de inclusão dessas
pessoas. Não podemos negar o avanço e
a importância desses aparatos, eles vieram
para facilitar e ajudar na comunicação e
no aprendizado.
Como essas tecnologias mudaram a
sala de aula?
Eu diria que as tecnologias ainda não
mudaram a sala de aula, elas estão transformando de forma lenta e progressiva.
Temos a impressão de que algumas tecnologias, como o DVD, não foram muito
bem utilizadas dentro das salas de aula.
Relatos de professores da área de história
demonstram que usaram determinados
filmes para discutir, ilustrar e mostrar
uma reconstituição de época, fazendo
efetivamente um trabalho de “letramento
histórico” dos alunos a partir do cinema,
um letramento visual em movimento,
porém, há situações em que o professor
não foi dar aula e um filme qualquer foi
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utilizado para passar o vídeo.
E os docentes estão preparados?
De forma alguma. Os docentes estão
preocupados com isso. Nós temos o professor que se graduou há cinco anos, por
exemplo, já saiu da Universidade e não
teve a sua formação voltada para isso. Se
ele não participar de discussões e oficinas
que mostrem o que pode ser feito com as
tecnologias digitais dentro da sala de aula,
dificilmente conseguirá chegar a isso sozinho. Já para o professor que ainda está
se formando é um pouco diferente. Nos
cursos de licenciatura, há um grande contingente de jovens e pessoas que fazem o
uso dessas tecnologias. Talvez esses professores consigam levar para as salas de aula
essa maneira de ensinar, que não deve ser
chamada de nova, mas sim conjugada à
tradicional.
Qual importância da oportunidade
de se graduar via tecnologia, dentro
dos cursos de Educação a Distância da
UFOP?
Várias áreas já deram conta da
questão de mediação pela tecnologia.
Nesse sentido, podemos verificar que a
venda de livros pela internet alcançou
uma proporção tal que acabou levando
muitas livrarias a fecharem as suas portas.
Desde que foram criados os stands digitais,
podem ser encontrados livros “preciosos”
por um preço muito acessível. A venda
eletrônica funciona muito bem, então
como a educação pode não dar conta
da questão de mediação tecnológica? Há
muito a se aprender, porém as estratégias
adotadas têm surtido muito efeito.
Tivemos polos de formação na Bahia e
ainda temos diversos no interior de Minas
Gerais, onde pessoas que não tiveram
a oportunidade de migrar para cidades
como Ouro Preto ou Belo Horizonte têm
a chance de fazer um curso de graduação
gratuito e de qualidade. Portanto, uma
das maneiras de alcançar esse público é
por meio dos métodos de educação a distância. A partir disso, nós já conseguimos
mudar a trajetória de muitas pessoas.
Poderíamos dizer que seria uma alfabetização digital também dos professores?
É um paradoxo e um grande problema. O sujeito vai fazer o curso a distância e ainda não tem letramento digital;
outro problema é a estrutura tecnológica
nessas cidades-polos, que deve ser re-
solvida com o apoio das prefeituras que
são parceiros da Universidade Aberta.
Acredito que seriam necessários recursos
de alfabetização e letramento digital para
esses graduandos e pós-graduandos, talvez
presenciais e intensivos, porque existe a
disciplina de introdução às tecnologias
digitais de informação e comunicação,
mas se o aluno não sabe nem ao menos ligar o computador, como ele irá aproveitar
essa tecnologia? Nesse caso, a solução que
eu vejo seria a aplicação de um treinamento básico nessas cidades. Esse trabalho
deve ser constante, não somente com um
treinamento de 15 ou 20 horas, porque há
sempre demanda de investimento tanto
tecnológico quanto de pessoal.
Uma polêmica que está havendo é
a chamada de “lousa digital”, ela é uma
realidade?
A lousa digital é uma ferramenta excelente, sem sombra de dúvidas, é como
se fosse um grande computador onde o
aluno pode ter acesso a uma série de informações, mas parece que não há uma
formação do professor. Eu mesmo nunca
tive a oportunidade de participar de um
curso que mostrasse as vantagens de uma
lousa digital.
Há pouco tempo, eu fiz um minicurso
com uma professora da Unicamp que
afirmou que o livro didático impresso
possivelmente irá acabar nos próximos
anos, porque o livro digital, no tablet,
por exemplo, vai custar para o governo
cerca de 10% do valor da obra impressa.
Também podemos considerar que o livro
didático é descartável, porque tem o uso
cotidiano dele, o que faz com que ele
se desgaste, e as informações devem ser
atualizadas constantemente.
Quais os desafios e como evoluir na
educação a distância?
Os desafios como professor na área
de linguagem é que temos de criar mais
a cultura de ensino a distância. Não é
uma relação somente do aluno com a máquina, é preciso haver interação entre os
estudantes, eles precisam discutir os materiais utilizados pelos professores da mesma forma que os alunos da modalidade
presencial fazem. Eu acho que precisa de
uma formação. O grande segredo está na
palavra “formação”, porque as pessoas
precisam ser formadas.
Foto: Isadora Faria
Doutor em Educação e mestre em
Letras, ambos pela UFMG, Hércules
Tolêdo Corrêa é professor adjunto
da Universidade Federal de Ouro
Preto (UFOP) no Centro de Educação Aberta e a Distância (Cead), com
foco nas áreas de Letramento, Alfabetização e Novas Tecnologias para a
Formação do Docente.
Nesta edição, comemorando o
Dia das Crianças (12 de outubro) e
o Dia dos Professores (15 de outubro), o Jornal da UFOP aborda com
o professor Hércules questões como
letramento digital, educação a distância, uso das novas tecnologias na sala
de aula e o papel dos docentes nesse
processo.
A educação
a distância
pode mudar a
realidade de
muitas pessoas
que não teriam
a oportunidade
de cursar uma
graduação
ou uma pósgraduação
Edição 191 - setembro e outubro de 2013
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Jornal da UFOP nº 191 - setembro/outubro 2013