Boletim ActionAid Setembro 2009 ANO II • NÚMERO Em ação 7 Ativismo contra a pobreza ActionAid lança hotsite para mobilização social nacional © Mariana Leal/ActionAid/Brasil A ActionAid está lançando o hotsite: www.vencerapobrezajuntos.org.br. O objetivo é comemorar os 10 anos de atuação no Brasil, reunindo ativismo on line e materiais de divulgação para serem compartilhados livremente na internet. O hotsite convida os usuários a assinarem o manifesto pela aprovação do direito à alimentação na Constituição Federal. Desde o início de sua atuação no país, a ActionAid prioriza ações que ampliam a oferta de alimentos para as pessoas mais pobres. “É uma forma de mobilizar as pessoas para fazer valer um direito já reconhecido pelo Brasil em diversos tratados internacionais, mas ainda não consagrado na Constituição. Isso significa equiparar esse direito a outros fundamentais, como educação, saúde e habitação”, explica Marcelo Montenegro, coordenador da Campanha AlimentAÇÃO – Direito de Todos. A chamada para ação faz parte da campanha internacional HungerFree, que envolve mobilizações em mais de 30 países, com reivindicações nacionais e internacionais. A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 047 aguarda votação desde 2003, já foi aprovada no Senado e precisa ser votada na Câmara dos Deputados. Esse ano, no Brasil, a campanha está sendo realizada em parceria com o Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea) e diversas organizações da sociedade civil. Um campeonato contra a fome Quem participa das ações no hotsite pode convidar amigos para participar da reivindicação e, assim, classificar a si próprio e ao seu estado no ranking nacional da luta contra a fome. As redes sociais serão um instrumento poderoso de divulgação. Para dar voz a cada vez mais usuários, a ActionAid conta com o apoio da Dialeto Social Media. “As redes sociais são um ambiente fértil para levantarmos bandeiras e causas. Vamos utilizar o poder propagador boletim_actionaid_n7_set2009.pmd 1 24/8/2009, 18:24 www.actionaid.org.br Números da fome • O Brasil é o 9º país com maior número de pessoas com fome no mundo (FAO 2006) • Cerca de 21% da população brasileira vive com menos de 2 dólares por dia. (PNUD 2007/2008) • 45% das crianças brasileiras com menos de 5 anos sofrem de anemia crônica por falta de ferro na alimentação (Prog. Alimentar Mundial/ONU 2007) • Mais de 1 bilhão de pessoas passam fome no mundo (FAO 2009) • A cada dia, no mundo, o número de pessoas com fome sobe em 275 mil (ActionAid, 2009) de redes como Orkut e Twitter para disseminar a causa de combate à pobreza e levar usuários para o hotsite da campanha”, explica Tereza Cândida gerente de planejamento da Dialeto Social Media. Ações globais As assinaturas reunidas na petição serão entregues no Congresso em setembro. Mas a mobilização continua. No dia 16 de outubro, o Dia Mundial da Alimentação, acontece uma mobilização global pelo fim da fome. O objetivo é conscientizar a opinião pública sobre a importância de incluir a causa na agenda política mundial e influenciar os líderes no encontro da FAO (Organizações Unidas para a Agricultura e Alimentação), em novembro. “Os governantes de países ricos devem se comprometer com o envio de ajuda internacional de US$30 bilhões por ano para o desenvolvimento de uma agricultura sustentável. Nos países em desenvolvimento, é preciso criar um plano nacional de segurança alimentar para fortalecer a agricultura familiar e as mulheres no campo”, explica Marcelo. Acesse www.vencerapobrezajuntos.org.br Chegando perto Doadores visitam as comunidades apoiadas © Érico Hiller/ActionAid/Brasil Em um sábado chuvoso de junho, um grupo de doadores da ActionAid estava pronto para ter uma experiência transformadora. Eles participaram da I Visita de Doadores de 2009 à Unas (União de Núcleos, Associações e Sociedades dos Moradores de Heliópolis e São João Clímaco), organização parceira da ActionAid em Heliópolis, São Paulo. Muito mais do que uma simples visita, foi um dia em que pessoas que vivem em realidades diferentes se aproximaram. “Para nós é muito importante que os doadores vejam de perto como ajudam na transformação na vida das crianças e famílias. É uma maneira de prestar contas do nosso trabalho e agradecer pela solidariedade de apadrinhar crianças pela ActionAid”, diz Flávia Tenenbaum, coordenadora de Captação de Recursos. Essa foi a primeira das duas visitas de doadores a projetos de desenvolvimento que a ActionAid organiza a cada ano. Eles conversaram com as pessoas da comunidade, divertiram-se em uma festa junina e deixaram sua mensagem na rádio comunitária. Mas foi na visita à casa de duas famílias, que sentiram a força das pessoas para superar situações difíceis. “Neste sábado, compreendi verdadeiramente o significado da palavra COMUNIDADE = COM + UNIDADE, todos por um, e um por todos”, contou o doador Waldir de Souza (foto abaixo). Em Heliópolis, a ActionAid trabalha em parceria com a UNAS para garantir acesso à moradia, saneamento e educação para jovens e crianças. “Quem topa apadrinhar pela ActionAid, quer um mundo diferente. Dessa visita, fica uma semente que a gente vai guardar no coração”, disse Cleide Alves, presidente de Unas. Uma Expedição por um outro sertão A Expedição ActionAid ao sertão pernambucano será a segunda visita de doadores a projetos em 2009. De 9 a 13 de outubro, eles vão conhecer duas organizações parcerias da ActionAid no semiárido: a Associação Quilombola de Conceição das Crioulas e a Conviver no Sertão. A jornada começa em Petrolina com um passeio no Rio São Francisco, inclui uma visita a uma vinícola da região e termina em pleno semiárido. Os doadores verão como seus recursos estão sendo aplicados em projetos que melhoram o armazenamento e o abastecimento de água ao longo do ano, permitindo que os agricultores produzam alimentos para consumo próprio e vendam parte da produção. Também conhecerão as crianças que participam do Apadrinhamento. “Ensinamos as pessoas a trabalharem em grupo. O vínculo entre doadores e crianças é a porta de entrada de tudo isso! É uma forma de diminuir a desigualdade e a fome em nosso próprio país e de criar consciência nas pessoas”, diz Dorivaldo de Sá, coordenador executivo da Conviver. A Expedição ActionAid Pernambuco está sendo organizada em parceria com a agência Venturas & Aventuras. Para mais informações sobre como participar ligue para +(11) 3872 0362. Veja as fotos da visita a São Paulo em www.actionaid.org.br 2 boletim_actionaid_n7_set2009.pmd 2 24/8/2009, 18:24 A merenda escolar pode ficar mais saudável e ajudar a combater a pobreza. Essa é a expectativa em relação à lei que institui que 30% dos recursos destinados à alimentação escolar sejam usados na compra direta de produtos da agricultura familiar. São mais de R$660 milhões do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação. ”Com a medida, os agricultores familiares passam a ter a garantia de que vão ter mercado para seus produtos, o que tem impacto direto na melhoria da renda e da qualidade de vida para as famílias agricultoras”, afirma Celso Marcatto, coordenador do Programa de Direito à Alimentação da ActionAid e representante da organização no Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea). Nos 12 estados onde a ActionAid apóia projetos em áreas rurais, o desenvolvimento dos agricultores familiares é estratégico para combater a fome e a pobreza. A novidade pode melhorar a qualidade da alimentação de mais de 40 milhões de brasileiros. São alimentos mais frescos, diversificados e que valorizam a cultura alimentar de cada região. Segundo o Ministério da Educação, a atual merenda esAgricultura colar não atende às necessidaFamiliar produz des nutricionais dos alunos. • 70% dos alimentos “A quantidade de energia consumidos no Brasil; está adequada, mas em relação • 49% do milho; às vitaminas e sais minerais há • 46% do trigo; deficiências. O consumo de fru• 54% da pecuária de leite; tas e hortaliças é baixo. São jus• 40% das aves e ovos; tamente esses os principais pro• 67% do feijão; dutos da agricultura familiar”, • 58% dos suínos afirma Eliene Ferreira de Souza, • 84% da mandioca coordenadora da área técnica Fonte: Consea do Programa Nacional de Alimentação Escolar do MEC. As prefeituras poderão comprar da agricultura familiar sem concorrência de preços e até mesmo de grupos de agricultores que não estejam formalmente organizados. “São esses os que mais precisam ampliar os mercados: grupos produtivos informais comunitários, como os de mulheres e jovens.”, ressalta Carlos Eduardo de Oliveira Leite, coordenador do Sasop, organização parceira da ActionAid na Bahia que também integra o Consea. Mulheres com dinheiro na mão Às margens do Rio São Francisco, na Bahia, na Colônia de Pescadores de Remanso, 36 mulheres pescadoras administram o próprio dinheiro e planejam suas atividades produtivas. “Antes, a vida era só cuidar dos filhos, ir pescar e ajudar o marido. O dinheiro ficava todo na mão dele. Só o fato de poder decidir como usar o dinheiro de nosso trabalho, sem ter que dar satisfação, é uma transformação e tanto”, conta a pescadora Eliete Damião, 32 anos. © André Telles/ActionAid/Brasil Agricultura familiar vai à escola A mudança aconteceu em 2006 quando a cooperativa passou a fornecer para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que compra dos agricultores para distribuir em escolas, hospitais e creches. A cada mês, o grupo fornece cerca de 1800 kg de pescado prontos para o consumo para escolas, delegacias e centros comunitários, o que significa um volume de R$11.500,00. Com o trabalho, Eliete recebe cerca de R$200,00, parte significativa da renda total da família de R$900. Com a nova lei de merenda escolar, a possibilidade de ampliar o mercado para além do PAA e fornecer alimentos diretamente para a prefeitura faz com que as pescadoras de Remanso não parem de sonhar com uma vida melhor. “Estamos nos preparando para ampliar os produtos, melhorar nossa estrutura e fundar a nossa própria associação: a de pescadores e pescadoras de Remanso”, conta. Desafios locais e nacionais Para as organizações da sociedade civil, a lei é resultado de uma batalha antiga e vai gerar desenvolvimento se a sociedade civil participar ativamente. “O desafio é fazer o controle social e verificar se o recurso está sendo usado adequadamente. Os Conseas estaduais e municipais têm um importante papel, assim como os Conselhos de Alimentação Escolar”, ressalta Carlos Eduardo. O desconhecimento da lei pela sociedade e a infraestrutura precária de escolas para receber alimentos in natura que precisam ser beneficiados e processados também são desafios que precisam ser enfrentados. “As associações de pais de alunos e de agricultores familiares devem cobrar dos prefeitos e governadores o uso correto dos recursos e clareza sobre como participar do programa”, completa Carlos Eduardo. Leia mais em www.actionaid.org.br Em ação Boletim trimestral da ActionAid | ano II, nº Rua Morais e Vale, 111 5º andar - Centro 20021-260 Rio de Janeiro - RJ Brasil Tel.: +55 21 2189 4600 Fax: +55 21 2189 4612 [email protected] www.actionaid.org.br 7 | setembro 2009 | tiragem: 5.000 exemplares Equipe ActionAid Rosana Heringer Glauce Arzua, Flavia Tenembaum e Rosana Heringer COORDENADORA DE COMUNICAÇÃO Glauce Arzua JORNALISTA RESPONSÁVEL Mariana Leal (DRT 33860/99) COORDENADORA EXECUTIVA COORDENAÇÃO EDITORIAL Mais Programação Visual Master Print Gráfica e Editora PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO IMPRESSÃO 3 boletim_actionaid_n7_set2009.pmd 3 24/8/2009, 18:24 Doações ajudam vítimas da enchente O Dia das Mães foi marcado por uma inundação em uma das regiões mais pobres do Maranhão. Em Pedreiras e Trizidela do Vale, mais de 23 mil pessoas ficaram desabrigadas com a enchente do Rio Mearim. Diante da necessidade urgente dos moradores da região onde atua a Assema, organização parceira no local, dos 17.030 reais arrecadados com as doações especiais de Dia das Mães e de emergências para ActionAid, cerca de 93,5% foram enviados para a região. Os 6,5% restantes foram enviados para a organização parceria da ActionAid em Alagoas, que desenvolve projetos com mulheres trabalhadoras rurais e pescadoras. “Naquele momento, o Maranhão era onde havia maior necessidade de apoio”, avalia Flávia Tenenbaum, coordenadora de Captação de Recursos da ActionAid. Com esse recursos, a ActionAid e a Assema, juntaram suas forças à Defesa Civil para aliviar o sofrimento de 3960 desabrigados. Foram comprados e doados itens básicos de higiene pessoal como fraldas, sabonetes, creme dental, repelente, e limpeza. Também foram entregues materiais de limpeza como redes, mosquiteiros, lençóis e toalhas, considerados extremamente necessários para prevenir a proliferação de doenças e melhorar as condições sanitárias nos abrigos. O dinheiro foi usado da seguinte maneira: Produtos Quantidade Toalhas de banho 500 unidades 31,4 Lençóis 500 unidades 31,3 Mosquiteiros 178 unidades 12,8 Material higiene pessoal 2084 unidades 11,8 Sabão e desinfetantes 52 caixas 6,9 Recursos ainda não utilizados — 5,8 © Mariana Leal/ActionAid/Brasil www.actionaid.org.br Uma lei para matar a fome Desde 2007, a Campanha AlimentAÇÃO – Direito de Todos da ActionAid mobiliza jovens em mais de 30 países para reivindicar medidas concretas pelo fim da fome. Este ano, no Brasil, a Campanha é feita em parceria com organizações da sociedade civil e com o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e pede ao Congresso a inclusão deste direito humano na Constituição. Marcelo Montenegro, coordenador da Campanha na ActionAid explica o que significa essa conquista na prática. O que muda com a aprovação da PEC que inclui o direito à alimentação na Constituição? Essa aprovação vai fortalecer as atuais leis e políticas públicas de segurança alimentar – como os Restaurantes Populares, o Programa de Aquisição de Alimentos, o Bolsa Família, o crédito para a agricultura familiar, entre outras. O que hoje são políticas de governo tendem a se tornar mais estáveis como políticas de Estado. Como reivindicar esse direito e de que maneira? A reivindicação pode ser feita através da exigência do cumprimento da lei existente. Assim como acontece com o acesso a medicamentos e à educação, caberá ao Governo Federal, Estados e Municípios a criação de leis e programas que garantam alimentação de qualidade para quem necessita. Além disso, a inclusão do direito à alimentação na Constituição tende a fortalecer instâncias de diálogo, e de construção de políticas públicas com os Conselhos municipais e Estaduais de Segurança Alimentar e Nutricional, pois será o foro no qual sociedade civil e governo irão discutir a implementação de políticas voltadas para a alimentação. % Com a ajuda de especialistas internacionais, a ActionAid trabalha agora com a Assema em ações preventivas que evitem desastres como esse no futuro. A ActionAid agradece à solidariedade das pessoas que doaram e permitiram aliviar o sofrimento de quem perdeu quase tudo nas águas do Rio Mearim. Leia mais em www.actionaid.org.br Quais são os efeitos que uma lei como essa pode ter sobre o combate à pobreza? O direito à alimentação é o mais fundamental de todos. Para uma pessoa poder usufruir dos demais direitos, é preciso estar alimentada. Sem uma boa alimentação não há como produzir nem aprender. Segurança alimentar significa o acesso regular e permanente a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente. Queremos que os alimentos sejam realmente nutritivos e que sejam produzidos de forma sustentável pelos agricultores familiares, respeitando a diversidade cultural. Somente com a proteção, o respeito e a garantia do direito à alimentação por parte do governo é que iremos combater de forma eficaz a pobreza e a desigualdade social no Brasil. Seja uma empresa solidária! Divulgue em sua empresa e para seus colegas de trabalho o Programa Apadrinhe uma Criança – ActionAid. Com a participação dos funcionários é possível combater a pobreza e ajudar muito mais crianças e comunidades. Para participar ou obter mais informações, ligue para + (21) 2189.4645 ou envie um e-mail [email protected] 4 boletim_actionaid_n7_set2009.pmd 4 24/8/2009, 18:24