EDUCAÇÃO AMBIENTAL: uma análise no Ensino Médio e no Ensino Superior. 1 1 1 Renilma de Sousa Pinheiro (IC)*, Sinara de Fátima Freire (PG), Cássio da Silva Dias 1 2 (PG), Sergiane de Jesus Rocha Mendonça (PG), Hilton Costa Louzeiro (PG), Gilza Maria 1 Piedade Prazeres (PQ). *[email protected] 1 2 Departamento de Química - UFMA, São Luís – MA; Universidade Federal da Paraíba – UFPB, João Pessoa - PB 1. Introdução A Educação Ambiental está relacionada com a preservação e a conservação do meio ambiente e com o alerta à sociedade para os grandes males que causam a este meio. Na Conferência sobre Educação Ambiental realizada em Tbilisi, Geórgia no ano de 1977 ficou estabelecida que: Entende-se por educação ambiental os processos por meio do qual o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. (CONFERÊNCIA INTERGOVERNAMENTAL DE TBILISI, Geórgia, 1977). Um programa de Educação Ambiental (EA), para ser efetivo, deve promover, simultaneamente, o desenvolvimento de conhecimento, de atitudes e de habilidades necessárias à preservação e melhoria da qualidade ambiental. Somente fomentando a participação comunitária, de forma articulada e consciente, um programa de EA atingiria seus objetivos. Para tanto, ele deve prover os conhecimentos necessários à compreensão do seu meio, de modo a suscitar uma consciência social que possa gerar atitudes capazes de afetar comportamentos (BRASIL, 1998). O objetivo deste trabalho é verificar a compreensão dos alunos do Ensino Médio do Colégio Universitário da Universidade Federal do Maranhão e do Ensino Superior dos cursos de Química da Universidade Federal do Maranhão sobre as questões ambientais. 2. Educação Ambiental nas escolas e sua interdisciplinaridade. No âmbito escolar, a interdisciplinaridade deve ser a tônica no processo da EA, ou seja, onde todos os professores possam fazer a ligação meio ambiente versus a disciplina na qual lecionam, motivando o aluno a pesquisar, a se interessar pela preservação do ambiente. Deve voltar-se para a formação de uma sociedade consciente das inter-relações entre os processos ambientais, capaz de prever, resolver e preveni-los, motivados para participar ativamente de ações e decisões destinadas à proteção do ambiente (CURRIER, 1998). De acordo com a bióloga Maria de Jesus da Conceição F. Fonseca - Coordenadora do Núcleo de Educação Cientifica, Ambiental da Universidade do Estado do Pará, a experiência é muito rica porque se baseia nas necessidades cotidianas da população e as insere na ação pedagógica. Daí a importância da EA ser trabalhada em sala de aula, com consistência e dinamismo para que a definição seja entendida e praticada pelos alunos e a comunidade em geral. (MENEZES, 2007). Uma outra questão que se faz necessário destacar aqui é a relacionada com as tarefas desse trabalhador da educação, ou seja, o professor. Apesar do notório pessimismo em relação à educação e ao papel do professor, ou até mesmo o fato de se colocar em dúvida a intensidade da sua contribuição para a transformação da sociedade, o professor deve ter como tarefas: • Decidir e organizar o trabalho pedagógico (TANNER, 1988); • Trazer para a sala de aula as grandes questões do cotidiano (TANNER, 1988). Em vários estados brasileiros a EA é inserida no cotidiano dos alunos. Os temas abordados, são todos relacionados ao ambiente na qual estão inclusos, com isso os contagiam e o trabalho funciona. “As escolas são espaços privilegiados de formação e a Educação Ambiental é a forma de interagir diretamente com a comunidade e operar mudanças na sociedade”, diz a antropóloga Lucila Pinsard Vianna - Coordenadora da Câmara Técnica de Educação Ambiental de São Paulo – (MENEZES, 2007). Os trabalhos realizados em sala de aula não beneficiam apenas a comunidade escolar, e sim tudo que estar ao seu redor, pois se o estudante torna-se consciente dos problemas ambientais que estão mais próximo do seu cotidiano, logo se torna um “sujeito ecológico”, ou seja, beneficia tudo e todos que estão ao seu redor. 3. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) As normas constitucionais relativas ao meio ambiente compreendem o Título da Ordem Social, no Art. 225. Diga-se de passagem, um dos capítulos mais importantes e avançados do texto da Constituição Brasileira. Este seu avanço ao que diz respeito à proteção do meio ambiente, supera, inclusive, Constituições de países desenvolvidos e/ou de grande extensão territorial. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional traz no seu bojo, na parte ligada ao meio ambiente e ensino, a determinação de que a Educação Ambiental será considerada na concepção dos conteúdos curriculares de todos os níveis de ensino, sem constituir disciplina especifica, implicando desenvolvimento de hábitos e atitudes sadios de conservação ambiental e respeito à natureza, a partir do cotidiano da vida na escola e da sociedade, incluídos no Projeto de Divulgação de Informações sobre Educação Ambiental, elaborado em conjunto pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), Secretaria do Meio Ambiente (SEMAM), e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), os temas que abordam Meio Ambiente foram adicionados como temas transversais, com o intuito de desenvolver a prática educativa relacionada com o cotidiano, para que tenham uma visão geral da questão ambiental. Além do Meio Ambiente os outros temas transversais são: Ética, Pluralidade Cultural, Saúde, Orientação Sexual e Trabalho e Consumo. Trabalhar de forma transversal significa buscar a transformação dos conceitos, a explicitação de valores e a inclusão de procedimentos, sempre vinculados à realidade cotidiana da sociedade, de modo que obtenha cidadãos mais participantes. (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1998, p. 193). É necessário que os docentes insiram em suas disciplinas temas relacionados com EA, independendo da disciplina em que lecionam, pois sua inclusão nas diversas áreas do saber é decisiva. Um dos principais objetivos do PCN, em ter Meio Ambiente como tema transversal é poder proporcionar o interesse da prática ambiental, podendo mostrar a relação sociedade/natureza e mostrando as inúmeras atividades ligadas à EA. 4. Metodologia A perspectiva metodológica adotada para o desenvolvimento deste trabalho foi à pesquisa documental e de campo utilizando como instrumento questionários aplicados a alunos do Ensino Médio e Superior, onde foram avaliados o nível de compreensão sobre os problemas relacionados com o meio ambiente. Avaliação do nível de conscientização ambiental de estudantes do Ensino Médio e Ensino Superior. Utilizou-se um questionário com questões de múltipla escolha e questões que permitiam ao entrevistado emitir sua opinião espontaneamente. O questionário foi aplicado a alunos da 1°, 2°, e 3° séries do Ensino Médio do Colégio Universitário da Universidade Federal do Maranhão (COLUN) durante as aulas de Química e nos cursos de Química da Universidade Federal do Maranhão. Após a coleta, os dados foram analisados. Análise dos questionários As questões objetivas do questionário foram contabilizadas e os resultados obtidos foram tabelados e permitiram a construção de gráficos para sua apresentação. 5. Resultados Um questionário foi aplicado a alunos das três séries do Ensino Médio do Colégio Universitário da Universidade Federal do Maranhão localizado na cidade de São Luís. Na Tabela 1 estão mostradas as quantidades de alunos que responderam ao questionário por série. Tabela 1. Quantidade de alunos do ensino médio entrevistados. Série ALUNOS ENTREVISTADOS 1° 79 2° 56 3° 71 Total 206 Outro questionário foi aplicado aos alunos dos cursos de graduação em Engenharia Química, Química Industrial, Química Bacharelado e Química Licenciatura, matriculados na disciplina no primeiro semestre letivo de 2007 da Universidade Federal do Maranhão. A Tabela 2 apresenta a quantidade de alunos entrevistados no Ensino Superior. Tabela-2: Quantidade de alunos do ensino superior entrevistados por cursos. Cursos Quantidade de alunos entrevistados Engenharia Química (EQ) 32 Química Industrial (QI) 28 Química Bacharelado (QB) 5 Química Licenciatura (QM) 0 Total 65 5.1 Análise dos dados obtidos a partir da opinião de alunos do Ensino Médio do COLUN – UFMA. Foi perguntado aos alunos se seus professores costumam falar sobre meio ambiente durante as aulas. As respostas dadas estão apresentadas na Figura 1 que mostra que 77% dos estudantes entrevistados, disseram que seus professores “às vezes” falam de meio ambiente, 17,18% nunca falam sobre o assunto e que somente 5,82% sempre falam de meio ambiente com seus alunos. Figura 1. Freqüência com que os professores falam sobre meio ambiente na sala de aula Os alunos foram questionados sobre formas de obter informações sobre questões ambientais, além da escola. De acordo com os dados mostrados na Figura 2, somente 14,08% dos alunos entrevistados obtiveram informações sobre as questões ambientais somente na escola e 85,92% dos entrevistados já obtiveram essas informações de outra forma. Figura 2. Os alunos entrevistados tiveram informações sobre meio ambiente além da escola? Os alunos foram perguntados se acham importante que a escola discuta o meio ambiente. Dos 206 alunos entrevistados, 202, cerca de 98,06%, disseram que é importante que as questões ambientais sejam discutidas nas escolas (Figura 3) e justificam suas respostas afirmando que a discussão na escola contribui para a conscientização da preservação, e aprendizagem sobre os problemas ambientais. facilita a Figura 3. Importância de discussões sobre das questões ambientais nas escolas. Os entrevistados responderam sobre o nível de consciência da população em relação aos problemas ambientais (Figura 4). Para 48,54% dos entrevistados afirmaram que poucas pessoas estão conscientes dos danos ambientais causados pela poluição e 33,98% disseram que a maioria da população tem consciência e completaram que não fazem nada para mudar a situação. Os 17,48% dos entrevistados disseram que a população não tem consciência ambiental. Figura 4. Consciência da população sobre problemas ambientais causados pela poluição segundo os alunos do ensino médio do COLUN. 5.2 Análises dos dados obtidos a partir da opinião dos alunos do Ensino Superior dos cursos de Química da UFMA. A análise dos questionários aplicados a alunos do primeiro período dos cursos de Química mostrou que 77% dos entrevistados afirmaram que durante o ensino básico os seus professores “às vezes” falavam sobre algo relacionado ao meio ambiente, 20% sempre falam de meio ambiente com seus alunos e 3% nunca falam sobre o tema, as respostas estão apresentadas na Figura 5. Figura 5. Freqüência com que professores do ensino médio falavam sobre meio ambiente. De acordo com os dados apresentados na Figura 6, 60% dos estudantes entrevistados disseram que “às vezes” os professores universitários falam sobre meio ambiente e 31% afirmaram que os professores nunca falaram sobre o tema, e 9% disseram que alguns professores da universidade sempre falam sobre as questões ambientais. Figura 6: Os professores universitários falam sobre meio ambiente? Quando abordados se achavam importante as questões ambientais serem discutidas nas universidades, felizmente 100% dos alunos responderam que sim e justificaram suas respostas afirmando que ampliam o conhecimento a respeito do assunto, pois tomariam consciência para preservação do ambiente, já que na universidade é mais fácil ampliar seus conhecimentos. Por fim os estudantes foram questionados a respeito de que forma o profissional de Química pode contribuir para a conscientização da população sobre os problemas ambientais. 90,77% dos entrevistados afirmaram que o profissional de Química pode contribuir na conscientização, assim como qualquer profissional que se interesse pelo assunto que ficou com 9,23% da porcentagem. 6. Conclusão Com base nos estudos constatou-se a deficiência no tratamento da educação ambiental na escola e na universidade, por falta de qualificação dos professores e por essas instituições não terem projetos na área. De acordo com os dados dos questionários pode se detectar que o tema em estudo não é tratado em sala de aula como deveria ser Dos 206 alunos entrevistados no ensino médio e dos 65 do ensino superior, constatam a falta de comprometimento da escola com as questões ambientais, pois a maioria dos alunos tem essa informação fora dela, o que caracteriza um problema que pode ser solucionado, mais que não existe um grande número de profissionais qualificados para solucionar tal problema. Os 65 alunos do ensino superior entrevistados afirmaram que os problemas ambientais devem ser discutidos nas universidades, por ser um local de formação de profissionais que devem está qualificados e informados sobre tudo ao seu redor, não necessariamente precisa ser biólogo ou geógrafo para tratar de tais problemas. E quando questionados a respeito do profissional de química e sua relação com o ambiente, as opiniões foram unânimes ao afirmarem que os químicos por serem conhecedores dos danos que podem causar ao ambiente, devem tomar os cuidados necessários para minimizar os impactos que causam ao trabalhar de forma errada. Após realizada todas as análises, pode-se confirmar o descumprimento da escola e da Universidade com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), pois traz no seu bojo a determinação de que a Educação Ambiental deve está inserida na educação sem necessariamente constituir uma disciplina específica para o desenvolvimento de hábitos e atividades para conservação e respeito à natureza. REFERÊNCIAS BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos. Brasília: MEC/SEF, 1998. CURRIER, K. L. Meio Ambiente: interdisciplinaridade na prática. Campinas: Papirus, 1998. MENEZES, Débora. Em defesa do planeta. Revista Nova Escola. São Paulo. n. 202, p. 44-51, maio 2007. TANNER, R. Thomas. Educação ambiental. São Paulo: Summus / EDUSP, 1988.