DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E AFETIVIDADE: RELEVÂNCIAS DO
PROJETO A RÁDIO DA ESCOLA NA ESCOLA DA RÁDIO E USO DAS
GEOTECNOLOGIAS E TIC PARA UMA EDUCAÇÃO CIENTÍFICA
Esiel Pereira Santos1
Adelson Silva da Costa2
Resumo: O presente trabalho apresenta resultados e discussões a respeito das atividades
realizadas no projeto “A Rádio da Escola na Escola da Rádio: Resgate e Difusão de
Conhecimentos Sobre os Espaços da Cidade de Salvador/Ba” realizado através da
parceria interinstitucional entre a Universidade do Estado da Bahia (UNEB) através do
Grupo de Pesquisa Geotecnologia, Educação e Contemporaneidade (GEOTEC) e o
Colégio da Polícia Militar da Bahia (CPM) voltados para estudantes do Ensino Médio.
Traz uma breve discussão e exposição do contexto da Educação Científica no Brasil e
na Bahia, para assim dar foco ao contexto mais específico do projeto em questão nos
espaços relacionados. A discussão segue com a verificação do Desenvolvimento
Cognitivo a partir das perspectivas de Jean Piaget (1967, 1974, 1993) e Lev S.
Vygotsky (1991, 1998), e a Afetividade a partir de parte do pensamento de Henri
Wallon (1968, 1978). Como metodologia foram adotados os procedimentos de
Aprofundamento Teórico para as discussões, e a Análise de Discurso para possibilitar a
emergência das categorias de análises através dos materiais de registro coletados. Como
resultado emergiram duas grandes Categorias de Análise, a Cognição e a Afetividade,
bem como subcategorias decorrentes destas.
Palavras Chave: Educação Científica; Geoteocnologias; TIC; Cognição; Afetividade.
Introdução
O Grupo de Pesquisa Geotecnologia, Educação e Contemporaneidade (GEOTEC),
ancorado no Grupo de Pesquisa Tecnologias Inteligentes e Educação do Programa de
Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade (PPGEduC) da Universidade do
1
Mestrando em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade
(PPGEduC). Universidade do Estado da Bahia (UNEB);
2
Mestrando pelo Programa de Mestrado Profissional Gestão e Tecnologia Aplicadas à Educação
(Gestec). Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
979
Estado da Bahia (UNEB), Campus I, desde 2010 mantém uma parceria com o Colégio
da Polícia Militar da Bahia (CPM) no desenvolvimento de projetos de Educação
Científica para estudantes do Ensino Médio e cursos de capacitação de curta e média
duração para professores do colégio parceiro, ambos voltados para o uso das novas
geotecnologias na Educação e a reflexão destas no cotidiano das pessoas, sendo estas
atividades apenas algumas desenvolvidas pelo referido grupo.
Desde 2010, através desta parceria institucional, tem havido esforços para
concretizar a revitalização da rádio na escola (CPM – Unidade Dendezeiros), e tais
esforços seguem apresentando muitos resultados satisfatórios como o desenvolviento do
Portal GEOTEC, realizado por um grupo de estudantes da citada instituição de ensino
básico, juntamente com pesquisadores da pós-graduação; realização de pesquisas, tanto
em caráter teórico (em revistas, sites especializados, artigos acadêmico-científicos, entre
outros), quanto prático (pesquisa de campo e entrevistas com moradores de
determinados bairros); além da escrita de resumos científicos, confecção de pôsteres
para participação e exposição de seus trabalhos em diversos eventos científicos voltados
para o público jovem e acadêmico. Todo o ressultado das pesquisas realizadas pelos
jovens pesquisadores acaba se transformando em conteúdo para a rádio do colégio, que
também é coordenado pelos próprios estudantes pesquisadores, uma vez que todo este
trabalho está associados ao projeto “A Rádio da Escola na Escola da Rádio: Resgate e
Difusão de Conhecimentos Sobre os Espaços da Cidade de Salvador/Ba”, coordenado
pela profª Drª Tânia Maria Hetkowski, e aprovado e financiado pela Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB) através do Edital 029/2010 –
Popularização da Ciência – Educação Científica, atendendo a sua principal exigência:
Os projetos devem ter como objetivo incentivar o ensino de ciências,
utilizando atividades experimentais na didática escolar, por meio de uma
metodologia investigativa e indagadora, em que o aluno deixa de ser um
mero observador – receptor e passa a participar da construção do seu
conhecimento. (FAPESB, 2010)
Deste modo, através do citado edital, foi possível dar o ponta-pé incial para o
desenvolvimento do projeto no Colégio da Polícia Militar (unidade Dendezeiros) e,
mesmo não tendo mais o financiamento do mesmo edital, continua ativo e funcionando
devidamente até os dias atuais, graças a forte parceria institucional que se formou, e a
vontade explícita por parte dos estudantes pesquisadores em dar continuidade ao
980
trabalho. Sendo assim, o GEOTEC vem desenvolvendo junto aos estudantes um
trabalho de pesquisa e aproximação dos jovens da ciência através da associação de
conteúdos da Geografia, da utilização de recursos gerados pelas novas Geotecnologias e
das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) com o cotidiano de suas vivências
e das experiências vividas por diferentes pessoas em suas histórias de vida, conforme
descrito no referido projeto:
Diante do esforço do grupo na consolidação das parcerias com a Rede
Pública, com o objetivo de ampliar o desenvolvimento de ciência e
tecnologia e com a experiência no que se refere às discussões, reflexões,
usos, potencialidades e redimensionamento das tecnologias de informação e
comunicação, o grupo vem ampliar suas expectativas no que se refere o
entrelaçamento das possibilidades das geotecnologias no mapeamento e
registro das histórias e memórias da cidade de Salvador para mobilizar a
revitalização da Rádio Escolar do Colégio da Polícia Militar - Unidade
Dendezeiros, bem como na criação de uma rádio on-line junto aos alunos da
Educação Básica.
A intenção desta proposta é desenvolver atividades teóricas, de campo e
experimentais, potenciais a didática escolar, por meio de uma metodologia
investigativa e indagadora, neste caso, inicialmente, o GEOTEC dispõe de
mapeamentos a partir da década de 50 e 60, documentos marcos para a
exploração, registro e resgate dos bairros da Cidade de Salvador. Aliado a
esta dimensão cartográfica, os participantes da pesquisa também se
envolverão com métodos que valorizam os modos de narração, fundados em
discursos da memória a partir da centralidade do sujeito narrador, assim,
entra a necessidade de interlocução dos alunos com a comunidade dos bairros
em busca de uma aproximação entre escola e comunidade, bem como uma
busca de sentidos entre os saberes formais da escola com os saberes da vida
cotidiana na composição, na vivência na percepção da identidade dos bairros
e da cidade de Salvador. Desta forma, o aluno deixa de ser expectador da
dinâmica de seu espaço vivido e passa a ser observador, interventor e
mediador das estruturas do espaço. (HETKOWSKI, 2010)
Discussão
A partir da situação exposta, levando em consideração todo o processo de
construção do conhecimento de maneira coletiva e colaborativa, uma vez que todos
participam do processo conjuntamente em um clima de mútua colaboração (professores
orientadores e estudantes), foi possível perceber como esse trabalho de iniciação
científica Jr com a utilização das TIC’s e das tecnologias cartográficas, influencia no
processo de desenvolvimento cognitivo, levando em consideração as várias questões
que o envolvem (cultura, linguagem, percepção, sociedade, atenção, memória, entre
outros), e afetivo (levando em conta as questões interpessoais como desejos,
expectativas, frustrações, entre outros), compreendendo também como as atividades de
pesquisa e manutenção da rádio pelos jovens pesquisadores do GEOTEC pôde
981
potencializar este desenvolvimento (cognitivo e afetivo). Para tal análise, tomamos
como base teórica parte dos estudos da gênese psicológica do pensamento humano a
partir dos pressupostos levantados por Jean Piaget (1967, 1974, 1993) para o
desenvolvimento
cognitivo;
em
contraste
e
comunhão
com
a
abordagem
Sociointeracionista de Lev S. Vygotsky (1991, 1998) para conceituar interação,
mediação e desenvolvimento de conceitos (científicos e espontâneos); e para a
afetividade toma-se por base parte das concepções de Henri Wallon (1968, 1978), que
considera os trabalhos desenvolvidos por Piaget e Vygotsky, mas acrescenta a
afetividade como uma característica importante para o desenvolvimento humano e não
desassociada do desenvolvimento cognitivo, assim como de mesma importância.
Tal
abordagem
abordagem
possibilitou
construir
procedimentos
que
proporcionaram maiores e melhores resultados para o desenvolvimento cognitivo e
afetivo buscando, de maneira sensível, os possíveis benefícios ou contraindicações à
cognição e afetividade geradas pelas atividades realizadas em comparação com a média
habitual ao ensino formal. Paralelo a este movimento (ensino-aprendizagem construção colaborativa do conhecimento), internamente, os(as) pesquisadores(as)
graduandos,
professores(as)
formadores(as)/pesquisadores(as),
pessoal
da
pós
graduação e professores(as) Doutores(as), buscaram aprofundar as discussões a respeito
da cultura científica no ensino formal básico, principalmente através das atividades de
extensão realizadas a partir dessa parceria interinstitucional, e os pesquisadores autores
deste trabalho em especial buscaram compreender o desenvolvimento dos conceitos
científicos entre os estudantes envolvidos no projeto a partir das atividades
desenvolvidas pelo GEOTEC, partindo do ponto de vista cognitivo e afetivo dos
estudantes envolvidos no processo para proporcionar novas discussões acerca da
produção de conhecimento e de experimentações sobre as potencialidades das
Geotecnologias e das TIC’s, trabalhando os conteúdos da geografia humana,
representação do espaço vivido e da história oral em específico;
A importância política-pedagógica do desenvolvivmento do trabalho de Educação
Científica para a Educação Básica
Ao menos na última década, o Brasil tem se dedicado a aproximar os jovens à
cultura científica. Podemos perceber esse movimento a partir dos editais publicados
982
pelos órgãos de financiamento de projetos com esta finalidade, além do aumento do
número de propostas que concorrem a tais editais. Essa política de fomento e incentivo
a aproximação dos jovens à ciência se iniciou a partir do pioneirismo de algumas
instituições, conforme expõe em seu portal o Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPQ):
A partir de experiências positivas com estudantes do Ensino Médio, em
algumas instituições brasileiras, e do sucesso do Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação Científica - PIBIC na formação de profissionais e
pesquisadores, o CNPq ampliou o programa para os estudantes de escolas
públicas do Ensino Médio, criando, em 2003, a Iniciação Científica Júnior.
As experiências com este tipo de trabalho vêm trazendo resultados tão positivos,
que o próprio CNPQ, em 2010, criou outra iniciativa para tornar os jovens cada vez
mais próximos do fazer científico e do mundo acadêmico.
[...] o CNPq lança uma nova formatação da Iniciação científica Junior por
meio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica no Ensino
Médio (PIBIC-EM), vigência 2010/2011, com a disponibilização de um total
de 8.000 bolsas de Iniciação Científica para os estudantes do Ensino Médio.
Além do objetivo de popularizar a ciência e a cultura científica entre jovens do
sistema público do ensino básico, em concordância com o movimento nacional neste
sentido,
o
trabalho
desenvolvido
pelo
GEOTEC
proporciona
contribuições
significativas no âmbito curricular dos jovens pesquisadores que integram ao processo.
Estas atividades poderia ser considerada como uma "transgressão" do currículo, uma
vez que foge completamente da proposta original do currículo escolar (CPM) onde o as
atividades foram produzidas, no entanto, deve-se enfatizar o foto das atividades serem
propostas em parceria interinstitucional, ou seja, a escola também é propositora de um
novo currículo, mesmo que não esteja, necessariamente, dentro das atividades
oficialmente curriculares.
Nunca se tratou na história da educação uma tamanha impotância atribuída às
políticas e propostas curriculares, diria mesmo, um tamanho empoderamento
do currículo enquanto definidor dos processos formativos e suas concepções.
Podemos considerar que o currículo é o novo príncipe, constituindo, por
consequência, um novo principatu produzido nos cenários da educação
institucionalizada. (MACEDO, 2008, p. 13)
983
Neste sentido a discussão curricular se faz necessária, uma vez que as atividades
de pesquisa desenvolvidas pelos estudantes com orientação dos professores graduados,
mestrandos, mestres, doutorandos e doutores, em caráter extraescolar, em um processo
de educação não formal, tratando de conteúdos que deveriam ser melhores abordados
pela própria escola e pela disciplina correspondente (geografia), acaba por proporcionar
a estes estudantes uma compreensão diferenciada dos conteúdos e experiências
educativas e de pesquisa jamais abordados no espaço formal da escola, não
necessariamente por incapacidade do profissional docente ou da própria escola, mas por
conta de um sistema enrijecido e pouco flexível impostos pelo sistema educacional de
ensino.
Quem põe seu filho na escola espera que ela cumpra com o seu papel mais
importante que – ao contrário do que muita gente pensa, professor inclusive –
não é apenas “transmitir conteúdos”, mas sim ensinar a aprender.
Ensinar a aprender é criarpossibilidades para que uma criança chegue
sozinha às fontes de conhecimento que estão à sua disposição na sociedade.
A vida de hoje é caracterizadapor um verdadeiro bombardeio de informações.
(BAGNO, 2007, p. 14)
Outro diferencial considerável das atividades desenvolvidas pelo referido projeto,
é a sua capacidade de fazer com que os estudantes verdadeiramente se envolvam com as
atividades, tanto com relação às pesquisas teóricas, que exigem muitas leituras, e muitas
dessas em textos com linguagem técnica específica, quanto às pesquisas de campo, onde
os jovens pesquisadores vivenciam a dimensão real dos conteúdos trabalhados e ainda
prestam grandes contribuições à medida que produzem trabalhos criativos, inéditos e
inovadores com características acadêmicas. Tal procedimento não teria tanto sucesso se
não “tocasse” no interior de cada estudante, ou seja, afetasse as questões subjetivas de
seu ser, deste modo sendo uma atividade lúdica e propulsora da ludicidade.
quando estamos definindo ludicidade como um estado de consciência, onde
se dá uma experiência em estado de plenitude, não estamos falando, em si,
das atividades objetivas que podem ser descritas sociológica e culturalmente
como atividade lúdica, como jogos ou coisa semelhante. Estamos, sim,
falando do estado interno do sujeito que vivencia a experiência lúdica.
Mesmo quando o sujeito está vivenciando essa experiência com outros, a
ludicidade é interna; a partilha e a convivência poderão oferecer-lhe, e
certamente oferece, sensações do prazer da convivência, mas, ainda assim,
essa sensação é interna de cada um, ainda que o grupo possa harmonizar-se
nessa sensação comum; porém um grupo, como grupo, não sente, mas soma e
engloba um sentimento que se torna comum; porém, em última instância
quem sente é o sujeito. (LUCKESI, 2002)
984
Todo esse trabalho se faz importante e necessário, tanto para o contexto localregional, quanto a nível nacional para a compreensão daquilo que é o principal objetivo
de qualquer atividade educativa, o salto qualitativo do educando em processo, e para
além deste, o salto afetivo (relativo à subjetividade do educando e a sua autoestima,
perspectivas e desejos), e os ganhos sociais para estes sujeitos, quiçá para toda a
sociedade, isto sem deixar de levar em consideração que se trata de um processo
educativo científico e tecnológico diferenciado, com procedimentos didáticopedagógicos peculiares, em atividades extracurriculares e caráter não formal mantido
pela parceria entre duas instituições públicas de ensino, a Universidade do Estado da
Bahia (Ensino Superior) e o Colégio da Polícia Militar da Bahia (Nível Básico). Deste
modo debruçou-se a entender de que modo às atividades de pesquisa científica
realizadas pelos estudantes do Ensino Médio da Rede Pública de Ensino, através do
projeto A Rádio da Escola na Escola da Rádio: Resgate e Difusão de Conhecimentos
Sobre os Espaços da Cidade de Salvador/Ba, realizado pelo PPGEduC/UNEB Campus I, em parceria como Colégio da Polícia Militar da Bahia (CPM) - Unidade
Dendezeiros, Contribuem para o seu desenvolvimento cognitivo e afetivo
Procedimentos metodológicos adotados
A metodologia adotada para a realização da presente exposição de pesquisa levou
em consideração os seguintes procedimentos metodológicos:
Aprofundamento teórico: se dará pela leitura de materiais pertinentes à
pesquisa, também pelos debates e discussões a serem realizados, tanto pelo
orientador, pelas disciplinas, quanto pelos membros do grupo de pesquisa ao
qual se direcionam este trabalho. Deste modo, o aprofundamento teórico se dará
por todo o processo de investigação e concretização da pesquisa.
Análise de Discurso: como todo o material de pesquisa será arquivado em
forma de texto (relatórios e questionários), vídeo e fotografia, todo o material
em vídeo, ou das partes mais relevantes, será transcrito para facilitar a análise.
A análise de discurso:
não leva em conta somente o texto disposto, explícito (neste caso o escrito,
gravuras ou qualquer outro tipo de ilustração, bem como outras formas de
representação da informação), mas, além deste, o não escrito, a situação
(contexto) e o próprio sujeito (quem), os modos como se expressa (como),
985
sua motivação e sua intenção, que dão origem ao curso/percurso da palavra
em movimento na prática da linguagem que gerou o Discurso a ser analisado
(ORLANDI, 2007 Apud SANTOS, 2011)
E sem deixar de considerar que, em relação à análise de discurso, há uma
combinação de três elementos fundamentais para garantir a execução deste
procedimento metodológico.
Para trabalhar o sentido – definido não como algo em si mas como “relação
a”, segundo Canguilhen (1980) – a Análise de Discurso reúne três regiões de
conhecimento em suas articulações contraditórias: a. a teoria da sintaxe e da
enunciação; b. a teoria da ideologia e c. a teoria do discurso que é a
determinação histórica dos processos de significação. Tudo isso atravessado
por uma teoria do sujeito de natureza psicanalítica. (ORLANDI, 2007, p. 25)
Ainda pretende-se realizar um inventário das atividades realizadas com as suas
respectivas propostas didático-pedagógicas, bem como os resultados obtidos, tudo
através dos materiais de registro realizados (relatórios, filmagens, fotografia, diário de
campo). A partir desta etapa da pesquisa foi possível perceber alguns saltos no âmbito
cognitivo e afetivo, possibilitando perceber a emergência do contexto observado essas
duas categorias de análise para aprofundamento teórico, a Cognição e a Afetividade.
Categorias e subcategorias emergidas da análise
A partir da emergência das duas categorias de verificação ao se debruçar nos
materiais de registro coletado, que foram os conceitos de "Cognição" e "Afetividade".
Categoria Cognição
Para esta primeira grande categoria, buscou-se aprofundamento teórico e empírico
de maneira autônoma e criativa, entendendo a Cognição não como um produto da ação
humana, ou um campo de estudos, mas sim como um processo de aquisição do
conhecimento intercalando pontos estratégicos das concepções teóricas tecidas por Jean
Piaget (1967, 1974, 1993) no que tange aos processo de Assimilação e Acomodação em
sua Teoria da Equilibração, e Lev S. Vygotsky (1991, 1998), com suas contribuições a
respeito do desenvolvimento do pensamento através das interações sociais, e o papel
fundamental da mediação pelos próprios sujeitos e entre os sujeitos.
986
A cognição como um processo e o conhecimento como um resultante desse
processo, ambos são subjetivos, pois localizam-se no interior do sujeito em questão que
envolve campos diversificados como a linguagem, sentidos e percepção, memória,
raciocínio, pensamento, entre outras. Considerando o conhecimento como algo interno e
inerente ao sujeito, este não pode ser medido, contudo, a percepção de seu
desenvolvimento é passível de ser observado através de habilidades em progressão
demonstradas pelos estudantes das mais diversas formas possíveis (linguagem,
representações, diálogos, escritas, etc...). Emergiu-se então as subcategorias:

Apropriação de conceitos científicos;

Ressignificação de conceitos científicos e populares;

Desenvolvimento de pesquisa nos moldes acadêmico-científico;

Desenvolvimento da capacidade de exposição dos trabalhos desenvolvidos por
meios orais, escritos e outras formas de divulgação e difusão.
Categoria Afetividade
Para a afetividade tomamos por base parte do pensamento de Henri Wallon (1968,
1978) no que diz respeito à importância da afetividade juntamente com a cognição, não
considera-se irrelevante a parte de sua teoria que diz respeito a atividade motora,
contudo, como os estudos de Wallon foi voltado para crianças no estágio inicial do
desenvolvimento, não aplica-se no contexto do estudo aqui apresentado, uma vez que
está focado em estudantes do ensino médio e não ligado as questões motoras. Wallon
considerava as questões relativas à afetividade (emoções, sentimentos e as próprias
relações afetivas, como por exemplo, a amizade), como algo potencial e que faz parte
do desenvolvimento integral da pessoa humana, tal qual aos aspectos cognitivos.
Para Wallon (1968, 1978), a afetividade, não está desassociada das questões
relativas à cognição, muito pelo contrário, tem uma participação fundamental na
constituição e funcionamento da inteligência, uma vez que esta direciona, internamente,
os interesses e necessidades individuais, logo, o "objeto" de conhecimento do indivíduo,
sobre "o que" ele ou ela está aprendendo será melhor associado se atender minimamente
aos seus interesses e desejos prévios ou despertados em meio ao processo. Para a
categoria Afetividade foi percebida a emergência das seguintes subcategorias:
987

Desejo pela pesquisa;

Satisfação pelo trabalho realizado;

Frustração por não alcançar de imediato objetivos traçados;

Tempo de permanência na condução das investigações;

Aumento do desejo e capacidade de trabalhar junto (laços de solidariedade);
Considerações finais
Os estudos e discussões apresentados brevemente neste artigo representam
campos específicos, contudo complexos no que tange a Educação Científica (mais
especificamente no educar pela pesquisa) numa discussão específica a respeito do
desenvolvimento cognitivo e afetividade através dessa ação, em um campo também
específico que foi a observância desse processo com os estudantes e pesquisadores no
contexto do projeto A Rádio da Escola na Escola da Rádio no Colégio da Polícia
Militar da Bahia - Unidade Dendezeiros (2012-2013), mas que não podem e não
puderam estar deslocados do contexto histórico, social, político, ideológico e
educacional
no
qual
as
ações
foram
se
desenrolando,
possibilitando,
concomitantemente, a realização dessa investigação.
A observação desse fenômeno possibilitou compreender processos mais
subjetivos em torno da objetividade dos processos educacionais aplicados no referido
processo, permitindo perceber, através da observação atenta e sensível dos
investigadores no processo de pesquisa e reflexão, o desenvolvimento dos estudantes
partícipes do projeto de Educação Científica e com uma peculiaridade bastante
significativa da proposta de se trabalhar com as Geotecnologias e Tecnologias da
Informação e Comunicação. Percebeu-se, não só o desenvolvimento desses estudantes
no que diz respeito à aprendizagem, mas também em sua formação humana e cidadã,
além de demonstrarem novas aspirações em relação aos seus novos caminhares
profissionais e a ampliação do preso pelos estudos e da Educação de um modo mais
amplo que o contexto de sala de aula nos moldes institucionais.
988
Tal observância permitiu perceber a emergência e importância da Cognição e
Afetividade no contexto apresentado, transformando-se, nesse trabalho, as duas
principais categorias de análise e discussão, e as subcategorias igualmente emergentes
de cada uma delas ampliam as percepções e a necessidade de aprofundamento teórico e
prático a fim de configurar, não apenas novas discussões, mas novas práxis, uma vez
que o projeto em questão ainda prossegue em atividade, ampliou as suas ações a outras
instituições do Ensino Básico e até comunitário, atendendo também ao público da
terceira idade, e para além do próprio projeto, repensar a Educação Científica tanto no
Estado da Bahia, quanto para novas propostas de educação nesse segmento em todo e
qualquer parte do território nacional brasileiro.
Nesse sentido, provoca-se (provocações essas também emergidas pelo contexto de
realização da práxis e pesquisa que originaram tal texto), o aprofundamento e discussão
contínua a respeito da temática abordada e correlativas no intuito de afinar concepções e
práticas a respeito da Educação Científica (no campo político, filosófico, ideológico,
social e suas objetivações), do uso das Geotecnologias (não apenas como recurso
didático para trabalhar a representação do espaço, mas como meio de significação e
ressignificação do espaço e também de si mesmo como parte fundamental do espaço
vivido), das TIC's como possibilidade tanto de instrumento para aquisição de novas
informações para a construção do conhecimento, quanto como veículo de divulgação,
difusão e popularização das novas produções resultados das novas significações
produzidas pelos jovens estudantes pesquisadores.
Referência
AUSUBEL, D. P. Psicología Educativa: un punto de vista cognoscitivo. 2ª. Ed.
México:
Trillas
1983
(46-85).
Disponível
em:
http://cadel2.uvmnet.edu/portalPLE/asignaturas/mesxxi/contenido/unidad5/psico.pdf.
Acesso em: 15 ago. 2014.
CNPQ. Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica para o Ensino
Médio – PIBIC EM. Disponível em:
<http://memoria.cnpq.br/programas/pibic_em/index.htm>. Acesso em: 15 ago. 2014.
FAPESB. Edital 029/2010 – Popularização da Ciência – Educação Científica.
Disponível em: <www.fapesb.ba.gov.br/?page_id=4088>. Acesso em 28 set 2014
989
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4a.. ed. São Paulo: Atlas,
2002. v. 1. 171 p. Disponível em:
<http://www.ziddu.com/download/11969469/ComoElaborarProjetosdePesquisa.pdf.htm
>. Acesso em agosto de 2011
HETKOWSKI, Tânia Maria. A Rádio da Escola na Escola da Rádio: Resgate e
Difusão de Conhecimentos Sobre os Espaços da Cidade de Salvador/Ba: UNEB, 2010.
(Projeto apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado da Bahia - FAPESB).
LUCKESI, Cipriano Carlos Ludicidade e atividades lúdicas: uma abordagem a partir
da experiência interna, Coletânea Educação e Ludicidade - Ensaios 02, GEPEL,
Programa de Pós-Graduação em Educação, FACED/UFBA, pág. 22 a 60. Educação e
Ludicidade. Ensaios, Salvador, Bahia, n. 02, p. 22-60, 2002.
MACEDO, Roberto Sidnei. Currículo: campo, conceito e pesquisa. 2ª ed. Petrópolis,
RJ: VOZES, 2008. v. 2000. 140p.
ORLANDI, ENI, P. . Análise do discurso: princípios e procedimentos/ Eni P. Orlandi.
7ª Edução, Campinas, SP: Pontes, 2007.
PIAGET, S. J. W. F. A Evolução Intelectual da Adolescência à Vida Adulta.
Trad. Fernando Becker e Tania B.I. Marques. Porto Alegre: Faculdade de Educação,
1993. Traduzido de: Intellectual Evolution from Adolescence to Adulthood. Human
Development, v. 15, p. 1-12, 1972.
__________. Epistemologia Genética e a Pesquisa Psicológica. Rio de Janeiro:
Freitas Bastos, 1974.
__________. Seis Estudos de Psicologia. Trad. Maria A.M. D'Amorim; Paulo S.L.
Silva. Rio de Janeiro: Forense, 1967. 146 p.
VYGOTSKY, Lev Semenovitch. A formação social da mente: o desenvolvimento dos
processos psicológicos superiores/ Lev Semenovitch Vygotsky. 4ª Ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1991.
__________. Pensamento e Linguagem/ Lev Semenovitch Vygotsky; tradução
Jefferson Luiz Camargo; revisão técnica José Cipolla Neto. – 2. ed. – São Paulo:
Martins Fontes, 1998. – (Psicologia e Pedagogia)
WALLON, H. A evolução psicológica da criança. Lisboa: Edições 70,1968.
__________. Do acto ao pensamento. Lisboa: Moraes Editores,1978.
Download

desenvolvimento cognitivo e afetividade: relevâncias do